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"O declínio quantitativo das ordenações desenha, há dois séculos, uma curva descendente diante da qual se fecham os olhos, especialmente aqueles que estão sob uma mitra episcopal".
Alguns grandes ciclos históricos terminaram com eventos estrondosos. Outros, ao contrário, encerraram-se quase despercebidamente, embora não menos importantes do que aqueles aos quais a ereção de um monumento ou uma linha de texto num manual escolar concedem eterna glória. No silêncio exauriu-se um grande ciclo: a do padre. Esta formidável invenção do século XVI, que moldou a cultura e a política, a psicologia e a vida interior, a arte e a teologia do Ocidente e das suas antigas colônias não desapareceu (são cerca de 420 mil padres no mundo), mas, há mais de três séculos, está em crise: na Itália, em noventa anos passamos de 15 mil para cerca de 2.700 seminaristas.
Isso é tão grave que nem mesmo o Papa Francisco fala. O próximo Sínodo, na verdade, tem um tema genérico-geral como o do "jovem": como se até mesmo o infatigável Papa reformador quisesse uma pausa às polêmicas. E se a "próxima encíclica, como se diz, será sobre a religiosidade "popular", terá também esta o mesmo limite.
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"Pequenas paróquias, padres em idade avançada, quase nenhuma ordenação de novos sacerdotes. Decide-se pela fusão de paróquias com um único pároco e alguns sacerdotes colaboradores. Mas não é possível apagar por decreto mais de mil anos de história de tantas realidades e identidades paroquiais"
Levantamentos estatísticos, portanto, que devem ser analisados com cautela. Também porque "a questão de quantos realmente frequentam à igreja no domingo é, de longe, a mais controversa no âmbito da pesquisa sociológica mundial.
Modelo que entrou em crise, com a paróquia que "por um lado, já não tem mais a capacidade de fomentar e administrar a religião dos grandes números, e pelo outro lado, não é capaz de satisfazer a demanda de identidade de que precisam as formas religiosas dos pequenos números". E isso "ficou claro desde o início dos anos 1970"
E a diminuição do número de sacerdotes?
O professor Borghesi está convencido de que a chave para reverter o curso pode, de alguma forma, ser representada por Francisco.
Mérito de Bergoglio? "Eu não digo que depende apenas do Papa, é claro. Mas algo foi posto em movimento. Realmente, depende muito do pároco: as pessoas voltam para a missa no domingo, quando encontram párocos que têm humanidade e coração". Muitas vezes, as realidades paroquiais "mais vivas" são aquelas guiadas pelos movimentos, mesmo que, comenta Borghesi, "não é justo pensar que as paróquias coordenadas por movimentos sejam as únicas vivas ou destinadas a sobreviver. É preciso, é claro, que o pároco também esteja aberto a essas experiências, especialmente (e principalmente) por seu próprio interesse. Mais uma vez, é preciso sair de dentro de si mesmo e questionar-se sobre as necessidades do ambiente que vive à nossa volta"...
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Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco recebeu, na manhã desta quarta-feira, dia 29 de Março de 2017, às 9,00 horas de Roma, na pequena sala da Aula Paulo VI, no Vaticano, os participantes à reunião da Comissão permanente para o Diálogo entre o Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso e as Super-intendências iraquianas: xiita, sunita, e aquela para os cristãos: Yazidi, Sabei/Mandei.
Às 10 horas de Roma, Francisco presidiu a habitual Audiência Geral na Praça de S. Pedro, hoje , mais uma vez repleta de fiéis e peregrinos vindos das diversas partes da Itália e do mundo inteiro para assistir a catequese do Santo Padre. Tema da catequese deste ano é a esperança cristã. Hoje Francisco, apoiando-se na carta aos Romanos do Apostolo Paulo (Rm 4,16-25), falou de modo particular da “esperança contra todas as formas de esperança”.
O passo da Carta de S. Paulo aos Romanos que acabamos apenas de escutar, faz-nos um grande dom. De facto, somos habituados a reconhecer em Abraão o nosso pai na fé; hoje o Apóstolo nos faz compreender que Abraão é para nós também Pai na esperança e isto porque na sua história, nós podemos colher um anúncio da Ressurreição, da vida nova que vence o mal e a morte.
No texto, prossegue o Papa, se diz que Abraão acreditou no Deus que “dá a vida aos mortos e chama à existência as coisas que não existem, como se existissem”; Ele “ sem vacilar na fé não tomou em consideração o seu próprio corpo, já sem vigor por ser quase centenário, nem o seio de Sara, já sem vida”.
Esta é a esperança que também nós somos chamados a viver. O Deus que se revela à Abraão é o Deus que salva, o Deus que faz sair do desespero e da morte, o Deus que chama à vida. Na história de Abraão tudo se torna um hino ao Deus que liberta e regenera, tudo se torna profecia. E se torna profecia para nós que reconhecemos e celebramos o cumprimento de tudo isso no mistério da Páscoa. Deus, de facto, “ressuscitou Jesus dos mortos” para que também nós possamos passar por intermédio d’Ele da morte à vida. E então, realmente, Abraão pode muito bem ser chamado “pai de muitos povos” enquanto resplandece como anúncio de uma humanidade nova, resgatada por Cristo do pecado e da morte e introduzida uma vez por todas no abraço do amor de Deus.
Abraão é portanto, para nós hoje, observa o Santo Padre, não só o nosso pai na fé, mas é também, o nosso pai na esperança. Pois «foi com uma esperança, para além do que se podia esperar, que Abraão acreditou».
Estas palavras do apóstolo Paulo, acrescenta o Pontífice, mostram-nos a ligação íntima que existe entre a fé e a esperança. Esta não se apoia em raciocínios, previsões e certezas humanas, conseguindo ir mais além do que humanamente se pode esperar. É o caso de Abraão que acreditou na promessa divina de que haveria de ser pai de muitos povos, quando já nada o fazia esperar: a morte já o espreitava e a sua esposa, Sara, era estéril.
De facto, sublina ainda Francisco, a esperança teologal é capaz de subsistir no meio da derrocada de todas as esperanças humanas, porque não se funda numa palavra nossa, mas na Palavra de Deus. É uma esperança apoiada sobre uma promessa que, do ponto de vista humano, parece insegura e fora de todas as previsões; e contudo vemo-la resistir à própria morte, se quem promete é o Deus da Ressurreição e da Vida.
Eis então que somos chamados, a seguir o exemplo de Abraão: não obstante a sua vida já votada à morte, ele fiou-se de Deus, «plenamente convencido que Ele tinha poder para realizar o que tinha prometido». Peçamos a graça de viver apoiados, não tanto nas nossas seguranças e capacidades, mas sobretudo na esperança que brota da promessa de Deus, como verdadeiros filhos de Abraão. Só então a nossa vida assumirá uma luz nova, com a certeza de que Aquele que ressuscitou o seu Filho nos há de ressuscitar também a nós, para nos tornarmos verdadeiramente um só com Ele e com todos os nossos irmãos e irmãs na fé.
Finalmente, não faltou uma saudação especial do Papa aos peregrinos de língua oficial portuguesa presentes na Praça de S. Pedro: “Com particular afeto, disse o Santo Padre, saúdo o grupo de «Amigos dos Museus de Portugal» e também os professores e os alunos do «Colégio Cedros», desejando a todos os peregrinos presentes de língua portuguesa e as respetivas famílias, uma renovada vitalidade espiritual na fiel e generosa adesão a Cristo e à Igreja. Olhai o futuro com esperança e não vos canseis de trabalhar na vinha do Senhor. Vele sobre o vosso caminho a Virgem Maria. Fonte: http://br.radiovaticana.va
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Milhares de fiéis durante a Missa de Francisco no Parque de Monza, em Milão - AFP
Na tarde desta sexta-feira (25/03/2017) o Papa Francisco presidiu a uma Missa campal no grande Parque de Monza, onde milhares e milhares de fiéis aguardavam desde cedo a sua chegada. De entre eles muitos migrantes, e também argentinos, nessa Cidade multicultural e multiétnica, como se dizia no encontro com o Clero e os Consagrados. Na sua homilia, comentando o Evangelho do dia, Francisco referiu-se antes de tudo às duas anunciações de que fala S. Lucas: a anunciação de João Batista, quando Zacarias estava em plena liturgia no Santuário do Templo, e a anunciação de Jesus, num lugar apartado, a Galileia, cidade periférica e no anonimato da casa de Maria.
O contraste entre as duas anunciações – explicou Francisco – diz-nos que o novo templo de Deus, o novo encontro de Deus com o seu povo acontece em lugares inesperados, nas margens, na periferia, e que é na periferia onde Deus se encontrará com o seu povo, Deus se fará carne para caminhar connosco desde o seio de Maria sua mãe.
E é o próprio Deus – prosseguiu Francisco – que toma a iniciativa e escolhe de inserir-se, como fez com Maria, nas nossas casas, nas nossas lutas quotidianas, cheias de ânsias e também de desejos; e é dentro das nossas cidades, das nossas escolas e universidades, das praças e dos hospitais que acontece o anúncio mais belo que possamos escutar: “Alegra-te, o Senhor está contigo!”, uma alegria que se torna solidariedade, hospitalidade e misericórdia para com todos.
Mas como Maria – observou ainda Francisco - podemos também nós estar perturbados e, em tempos de ritmo vertiginoso e cheios de especulação, como os nossos, podermos dizer:
"Como vai isso acontecer" em tempos assim tão cheios de especulação? Se especula sobre a vida, o trabalho, a família. Se especula sobre os pobres e os migrantes; se especula sobre os jovens e o seu futuro. Tudo parece estar reduzido a números, deixando, por outro lado, que a vida quotidiana de muitas famílias se colore de incerteza e insegurança. Enquanto a dor bate à porta de muita gente, enquanto em muitos jovens cresce a insatisfação por falta de oportunidades reais, a especulação abunda em toda parte”.
Como é possível viver a alegria do Evangelho, hoje, nas nossas cidades? É possível a esperança cristã nesta situação, aqui e agora? – se perguntou Francisco.
Estas duas perguntas tocam a nossa identidade, a vida das nossas famílias, dos nossos países e dos nossas cidades; elas tocam a vida dos nossos filhos, dos nossos jovens e exigem de nós um novo modo de situar-nos na história - explicou Francisco, que também acrescentou:
“Se continuam a ser possíveis a alegria e a esperança cristã, não podemos, e não queremos permanecer perante tantas situações dolorosas como meros espectadores que olham para o céu esperando que "páre de chover". Tudo o que acontece exige de nós que olhemos para o presente com audácia, com a coragem de quem sabe que a alegria da salvação toma forma na vida quotidiana da casa de uma jovem de Nazaré”.
E perante as nossas perturbações, o Papa mencionou três chaves que o Anjo nos oferece para nos ajudar a aceitar a missão que nos é confiada: evocar a memória, a pertença ao povo de Deus e a possibilidade das coisas impossíveis.
Sobre a memória, o Papa frisou que também nós, hoje, somos convidados a fazer memória, a olhar para o nosso passado para não esquecer de onde viemos; para não esquecer os nossos antepassados, os nossos avós e de tudo aquilo por que passaram para chegar onde estamos hoje. A memória, disse ainda Francisco, ajuda-nos a não ficar prisioneiros de discursos que semeiam fracturas e divisões como único modo de resolver os conflitos.
Mas faz-nos bem recordar ainda que somos membros do povo de Deus, disse Francisco falando da importância da pertença ao povo de Deus:
“Milaneses, sim, Ambrosianos, certamente, mas parte do grande povo de Deus. Um povo formado por mil rostos, histórias e proveniências, um povo multicultural e multiétnico. Esta é uma das nossas riquezas. É um povo chamado a hospedar as diferenças, a integrá-las com respeito e criatividade e a celebrar a novidade que vem dos outros; um povo que não tem medo de abraçar os confins, as fronteiras; um povo que não tem medo de dar acolhimento a quem dela necessita, porque sabe que lá está o seu Senhor”.
E sobre a possibilidade das coisas impossíveis, o Papa advertiu que quando pensamos que tudo depende apenas de nós continuamos prisioneiros das nossas capacidades, da nossa força e dos nossos horizontes míopes, mas quando nos deixamos ajudar, aconselhar, e quando nos abrimos à graça, parece que o impossível começa a tornar-se realidade.
E Francisco concluiu recordando que, como ontem, Deus continua a procurar aliados, continua a procurar homens e mulheres capazes de crer, capazes de fazer memória, de sentir-se parte do seu povo para cooperar com a criatividade do Espírito. Deus continua a caminhar nos nossos bairros e nas nossas ruas, e em todos os lugares em busca de corações capazes de ouvir o seu convite e fazer que que se torne carne, aqui e agora – rematou Francisco. (BS). Fonte: http://br.radiovaticana.va
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O Papa Francisco quebrou o protocolo durante a sua visita neste final de semana a Milão ao entrar em um banheiro químico em um bairro marginal, um gesto espontâneo que foi captado pelas câmeras e o público ali presente para ver o Pontífice.
A informação é publicada por Religión Digital, 25-03-2017. A tradução é de André Langer.
Francisco chegou neste sábado, 25 de março, pela manhã, ao aeroporto de Milão para visitar o bairro popular de Casas Brancas, situado na periferia dessa cidade italiana. “A Igreja necessita sempre ser restaurada, porque é feita por todos nós, que somos pecadores. Deixemo-nos restaurar por Deus, por sua misericórdia. Deixemos que limpe o nosso coração”, disse o Pontífice.
A primeira etapa da sua visita à capital financeira da Itália começou na periferia mais marginalizada e Francisco agradeceu “o dom da acolhida na entrada de Milão, encontrando rostos, famílias e uma comunidade”. Neste bairro, Francisco passou cerca de uma hora saudando os moradores e depois entrou na casa de três famílias.
Trata-se de Dori Falcone, de 57 anos, e de seu marido Lino Pasquale, de 59 anos, que sofre de epilepsia, o que o deixou com graves sequelas físicas e neurológicas. Também visitou a casa de Mihoual Abdel Karin e sua esposa Tardane Hanane, que moram no segundo andar do número 40 com seus três filhos de 17, 10 e 6 anos, e vieram do Marrocos em 1989.
De maneira privada, sem a presença das câmeras, Francisco também esteve alguns minutos na casa do casal formado por Nuccio Oneta, de 82 anos e gravemente doente, e Adele Agogini, de 81 anos, praticamente cega.
Jorge Bergoglio recordou novamente que a Igreja não deve ficar “no centro, à espera”, mas precisa ir ao encontro de todos “nas periferias, aos não cristãos e aos não crentes”. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
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Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba, MG
Sentimos que os contrários se tocam na nova cultura. Não é fácil encarar o que está acontecendo no Brasil, no meio de tantas situações, que criam insatisfação nos cidadãos, e certa “revolta” em relação às práticas daqueles que deveriam defender a liberdade das pessoas. Parece que vivemos totalmente exilados, com a liberdade ferida e cada vez mais pressionados e condenados à prisão.
O povo brasileiro não pode perder a esperança diante dos desafios atuais, porque isso desestimula a força de trabalho e de produtividade. Foi o que aconteceu com o povo hebreu quando exilado na Babilônia, que viveu longo tempo no “fundo do poço” e sem forças para agir. Sua saída dessa situação aconteceu quando conseguiu recuperar a liberdade até então perdida.
O dom do Espírito Santo é força de libertação, porque revigora o coração deprimido pelos condicionamentos sociais e econômicos. Quando Deus habita no coração das pessoas, as situações de desânimo e de morte temam outros rumos. Elas conseguem se refazer, se transformam, se fortalecem e passam a lutar pela construção de uma realidade de vida nova.
Diante do momento político brasileiro e da preocupação com as reformas no cenário nacional, parece que o povo vive numa profunda e generalizada crise. Basta dizer da insatisfação em relação à atuação de muitos dos nossos atuais políticos, porque não estão preocupados com as necessidades dos mais pobres e desamparados. Apesar do direito de manifestação, reina uma liberdade tolhida.
O erro aprisiona a pessoa. Ninguém pode viver na liberdade e na escravidão ao mesmo tempo. Todos nós fomos criados para viver na liberdade (cf. Rm 5,1). Muitas das obras realizadas hoje são motivadas pelo contexto capitalista, que ludibria nossa consciência e nos leva a ser desonestos. Esse não é o melhor caminho para a conquista de uma identidade totalmente livre e feliz.
Os brasileiros têm encontrado muitas barreiras que impedem sua plena realização. Para as pessoas de fé, o conforto está em Jesus Cristo, porque veem nele Alguém que é capaz de lhes dar dignidade e liberdade. Os mecanismos humanos, quando mal conduzidos, amarram as pessoas deixando-as em situação de opressão e de exílio, incapazes para realizar suas potencialidades.
Fonte: http://www.cnbb.org.br
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Crime aconteceu na noite deste domingo no bairro Santo Antônio
RIO - Um pastor foi morto a tiros dentro de uma igreja evangélica em Itaboraí, na Região Metropolitana, na noite deste domingo. O crime aconteceu no bairro Santo Antônio por volta das 20h30m, segundo informações do 35°BPM (Itaboraí).
A vítima, identificada como Custódio Gonçalves, era membro da igreja Assembleia de Deus Ministério Apascentando Ovelhas. Ele foi atingido por pelo menos três tiros enquanto ministrava um culto. Ainda não há informações sobre o que motivou o crime. A Divisão de Homicídios da região assumiu as investigações. Durante a madrugada desta segunda, os agentes fizeram a perícia no local e ouviram testemunhas. Um homem acusado de ser o mandante do crime também teria sido conduzido à delegacia.
Fonte: http://oglobo.globo.com
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A avenida Monsenhor Paulo Chiaramont percorre por quatro quadras o centro de União da Serra (a 214 km de Porto Alegre). Nenhuma delas, no entanto, tem o poder concentrado na região da praça central. De um lado, a prefeitura do pequeno município. De outro, a Paróquia Santo Antônio.
União da Serra (RS) é o município mais católico do Brasil, segundo o IBGE (99,4% da população). Apenas 12 pessoas se declararam evangélicas em 2010, ano do último Censo, entre seus 1.620 habitantes. Seu pároco, Osmar Burille, 51, também tem um título único: o brasileiro que conseguiu a anulação do casamento para exercer o sacerdócio. Por dez anos ele viveu com uma mulher e tem uma filha, Samara, 24.
Essa autorização do Vaticano, de certa forma, antecedeu uma declaração do papa Francisco dada há duas semanas. O sumo pontífice, na ocasião, disse cogitar permitir que homens mais velhos casados sejam transformados em padres em comunidades isoladas. "Temos que pensar se os 'viri probati' [homens casados, de fé comprovada, que podem se tornar padres] são uma possibilidade. Então depois precisamos determinar quais tarefas eles poderiam assumir, como em áreas isoladas, por exemplo", disse ao jornal alemão "Die Zeit". O papa, no entanto, descartou abrir o sacerdócio a todos os homens casados ou acabar com o compromisso do celibato entre os padres.
A cidade gaúcha passou pela dificuldade citada pelo argentino. Mesmo em um universo que contempla quase que só católicos, as duas paróquias do município (além da de Santo Antônio, a de Nossa Senhora do Rosário, no distrito de Pulador) estavam vacantes. O padre adoeceu, e outro representante era enviado às igrejas apenas em casos de morte ou de festa de padroeiros.
Burille, separado da mulher desde 1999, só pôde ser ordenado padre dez anos depois da decisão, quando o Tribunal Eclesiástico da Santa Sé declarou nulo seu casamento, o que o deixou livre para o sacerdócio --homens casados podem celebrar rituais da Igreja Católica, mas apenas como diáconos, o que os impedem de celebrar missas e consagrar hóstias.
"O papa Francisco é um sábio", afirma o pároco de União da Serra. "Portanto, não descarta essa possibilidade. Sou a favor de padres casados por se tratar de uma vocação. Atualmente há uma grande necessidade de sacerdotes no Brasil e no mundo. A igreja não tem de ter medo de correr risco em ordenar homens casados. Somos humanos, e tanto o padre celibatário quanto o padre casado são formados homens de Deus, mas que vivem as circunstâncias do mundo em evolução."
Samara, recém-formada em políticas públicas pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), compartilha da opinião do pai. "Acho interessante dar oportunidade aos padres casados e espero que, apesar de a Igreja Católica ser conservadora, a adesão das mulheres seja o próximo passo. Acredito que a orientação dele seria a mesma, independentemente de ser padre, pois ele sempre foi muito católico. O que influencia são as pessoas que me caracterizam como a filha do padre, como se eu tivesse feito os mesmos votos que ele, e isso me incomoda um pouco."
"Sou a favor de padres casados por se tratar de uma vocação. A Igreja Católica não tem de ter medo de correr risco em ordenar homens casados. Somos humanos"
O pároco é de uma família de 13 irmãos. Dois deles optaram pelo sacerdócio. "No tempo de minha infância, o padre vinha uma vez por mês rezar missa e eu gostava de sentar sempre no primeiro banco da frente para escutar o momento da consagração [da hóstia]. Havia decorado o rito", diz.
Antes de casar, aos 22 anos, Burille trabalhou em uma fábrica de vitrais para igrejas, em outra de calçados, lavou carros e atendeu em um mercadinho. Em 1985, passou a fazer parte formalmente da igreja, ao ser convidado para ser ministro da Comunhão Eucarística, cujo mandato estendeu até 2008, ano em que recebeu a ordenação diaconal, anterior à consagração como padre.
Depois de separação, foi orientado a habilitar o processo de nulidade do matrimônio --pedido que passou pelo bispo da diocese de Passo Fundo, que atende as paróquias de União da Serra.
"Tenho muito respeito e sou feliz porque ela me deu uma filha. É pena que muitos matrimônios possam ser declarados nulos [e], pela falta de interesses e de orientação por parte da igreja, não utilizem essa possibilidade de recomeçar uma relação com a bênção e o acompanhamento espiritual. O casamento é um sacramento e sempre terá seu valor reconhecido. Nem Deus quer que os casais vivam de aparências sociais. É preciso encontrar um caminho menos penoso para cada situação."
"Vocês estão na minha agenda"
Na outra ponta do país, em São Luís (MA), o português João Tavares, 76, diz nunca ter deixado de ser padre, embora esteja casado desde abril de 1979 e tenha duas filhas --de 32 e 33 anos-- e uma neta, de 10.
"Não abandonamos o sacerdócio que, segundo a teologia católica, é um sacramento que imprime caráter, como o batismo e o crisma e, portanto, é para sempre. Os que decidimos casar deixamos o ministério, o exercício clerical. Não por nossa vontade, mas porque essa era a condição para podermos casar na igreja. Infelizmente, a Igreja Católica do Ocidente ainda liga ministério sacerdotal com o celibato obrigatório. Mas isso vai mudar. Não sei quando, mas vai."
Membro e ex-presidente do Movimento das Famílias dos Padres Casados do Brasil, Tavares tem mantido contato permanente com os setores da igreja. "Pelo que sei, de fontes oficiais e oficiosas, inclusive de nossos colegas em Buenos Aires, [o papa] Francisco sabe da existência dos grupos de padres casados. E tem mandado recados: 'Fiquem unidos, vocês estão na minha agenda, mas ainda tenho assuntos muito grandes urgentes a tratar'."
Segundo o sacerdote, o papa visitou em Roma um grupo de famílias de padres casados e respondeu, em carta manuscrita, a um colega argentino sobre a "sensação de abandono por parte da hierarquia". "Essa carta deu origem a um livro com mais uma dúzia de cartas de padres casados argentinos ao papa: 'Querido Hermano'", diz.
Tavares permaneceu 11 anos celebrando missas, até decidir pelo matrimônio, em 1979. "Sofri por deixar o ministério. Gostava do que fazia. Mas a decisão foi muito bem amadurecida, por dois anos. Aceitei deixar o ministério, não porque não gostasse do sacerdócio e do meu trabalho na pastoral, mas porque o Vaticano, quando dá a dispensa para casar, obriga o padre a deixar o ministério."
"O papa Francisco sabe da existência dos grupos de padres casados. E tem mandado recados: 'Fiquem unidos, vocês estão na minha agenda", disse João Tavares, do Movimento das Famílias dos Padres Casados do Brasil.
"Nossa luta é por um celibato opcional"
A Prelazia do Xingu é a maior do país. A área ocupada pela região diocesana é de 368.092 km², equivalente ao território da Alemanha. O tamanho não é a única dificuldade encontrada pela religião na região: é uma área de floresta amazônica, de garimpo, rios de difícil travessia e aldeias indígenas.
Segundo apurou a reportagem, o pedido para que o papa Francisco intercedesse para que homens casados pudessem celebrar missas partiu da prelazia, que passou o recado para o arcebispo emérito de São Paulo, dom Claudio Hummes, que o fez chegar até o Vaticano. A reportagem contatou Hummes e o bispo emérito do Xingu, dom Erwin Krautler, com quem conversou por telefone e enviou, a seu pedido, as perguntas por e-mail, não respondidas até a publicação deste texto.
Membros da prelazia queixaram-se com o papa da falta de padres para cuidarem das inúmeras comunidades e solicitaram a autorização para ordenar homens casados. A resposta foi a de que o assunto seria estudado e que dependeria da pressão dos bispos. "Infelizmente poucos bispos do Brasil e do mundo se interessam pelos padres casados das suas dioceses. Salvo poucas e honrosas exceções", diz Tavares, do Movimento das Famílias dos Padres Casados.
"Antes de permitir o casamento dos atuais padres ou o casamento dos que vão se ordenar nestes próximos anos, haveria outras possibilidades mais fáceis e imediatas: readmitir padres que casaram e que estivessem dispostos a voltar ao ministério, ordenar homens casados de boa vivência humana e cristã e bem aceitos em suas comunidades e ordenar padres os diáconos casados. Nossa luta é por um celibato opcional: antes da ordenação, quem quiser casa. Quem não fica solteiro."
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Ele é amado por muitos, mas não por todos - principalmente os conservadores.
A oposição ao papa Francisco se faz cada vez mais presente e visível. Há quem minimize esse movimento, mas outros acreditam que o papa possa estar no centro de uma trama política sofisticada com objetivo de enfraquecê-lo.
O episódio mais recente - e talvez o mais teatral - se deu no mês passado, quando bairros próximos ao Vaticano amanheceram tomados por cartazes apócrifos com críticas ao pontífice. Um jornal falso que zombava do pontífice também foi enviado a cardeais da cidade.
Os cartazes traziam uma foto do papa com expressão fechada, e textos com referências a problemas que Francisco teve com setores mais conservadores da Igreja Católica.
"Francisco, você destituiu os chefes das congregações, removeu sacerdotes, decapitou a Ordem de Malta e a dos Franciscanos da Imaculada, ignorou cardeais. Onde está sua misericórdia?", dizia o texto, coberto horas depois pela Prefeitura de Roma com a inscrição "publicidade ilegal".
Na mesma época, cardeais de Roma receberam uma versão falsa do jornal do Vaticano, o L'Osservatore Romano. Na capa, em um ataque irônico ao pontífice, havia uma lista de perguntas ao papa feitas por cardeais conservadores em que a resposta era sempre sic et non (sim e não).
Eleito em março de 2013 após escândalos que abalaram a imagem do Vaticano, o papa tomou medidas e fez declarações de impacto que polarizam opiniões dentro e fora do mundo católico.
Reestruturou, por exemplo, as confusas finanças do Vaticano, criou comissão para combater abuso sexual de crianças na Igreja, fez duras críticas ao capitalismo e ajudou a reaproximar Cuba e EUA. Também chama a atenção sua defesa de uma Igreja mais tolerante em questões de família - já pediu a sacerdotes que não tratem divorciados como excomungados e procurem acolher católicos homossexuais.
Para seus detratores, porém, ele age de forma autoritária e centralizadora.
"O Papa é o vigário de Cristo na Terra, mas não é Cristo. Pode errar, pecar e até ser corrigido. Não concordo com seu modo de governar. A Igreja está hoje imersa em confusão e desorientação: os fieis precisam de certezas, mas não conseguem encontrá-las. Corremos o risco de uma cisão", diz Roberto De Mattei, presidente da Fundação Lepanto, que faz campanha pela "defesa dos princípios e instituições da civilização cristã".
De Mattei e sua fundação sempre foram duros com o para argentino, e chegaram a ser apontados como suspeitos de estar por trás da ideia dos cartazes - os responsáveis não foram identificados.
"Não sei quem são os autores (dos cartazes), mas não fomos nós. Em Roma você percebe um clima de medo, típico de regimes totalitários. Estamos diante de uma monarquia absoluta que usa a colaboração de cardeais e bispos, mas lhes dá pouca autonomia. O papa ama nomear comissários especiais para muitos assuntos, assim, ao final, ele sempre pode decidir", disse De Mattei à BBC Brasil.
Tipos de oposição
Para o historiador Massimo Faggioli, professor de Teologia na Villanova University (EUA), é possível identificar três tipos de oposição ao papa Francisco: teológica, institucional e política.
"A teológica parte de alguns setores na Igreja que acham que o papa é muito moderno em questões como casamento e família. É uma oposição pequena, que age de forma respeitosa", diz o professor.
Entre esse setor estão quatro cardeais ultraconservadores que em setembro de 2016 pediram, em carta pública, que o papa corrija "erros doutrinários" da encíclica Amoris Laetitia (Alegria do Amor), um guia para a vida em família que prega a aceitação, pela Igreja, de certas realidades da sociedade contemporânea.
Burke acredita que o papa esteja fazendo ajustes perigosos na tradição de mais de 2 mil anos do Cristianismo
Na oposição institucional, afirma Faggiolo, há pessoas que querem manter o status quo. "Alguns cardeais têm medo de perder privilégios ou da mudança de mecanismos para a nomeação dos bispos", diz.
O historiador vê a oposição política como a mais forte. "O papa fala sobre vivermos juntos, de construir pontes em vez de muros. São questões 'inconvenientes' para a política global da atualidade, pois contrastam com ideias da direita francesa, italiana e americana. São tidas como uma ameaça. O papa pode lidar com as duas primeiras oposições, mas a política é a mais difícil", afirma.
A reação contra o papa não se concentra apenas na Itália e na Europa. Autor do livro "Os inimigos de Francisco" (com lançamento previsto no Brasil para o segundo semestre), o jornalista italiano Nello Scavo diz que há grupos nos EUA que trabalham pelo enfraquecimento da liderança de Jorge Bergoglio, o nome de batismo do papa.
"Há grupos financeiros, fabricantes de armas e multinacionais que querem que o papa perca poder. Sua retórica é muito anti-establishment. Ele afirmou que a nossa economia mata, condenou o capitalismo e se fez escutar em questões ecológicas", diz Scavo, citando críticas à Francisco feitas pelo centro de estudos conservador American Enterprise Institute (AEI).
O AEI conta em seus quadros com vários ex-integrantes do governo George W. Bush (2001-2008), entre eles o ex-vice-presidente Dick Cheney. "Cheney faz parte do AEI, foi membro do conselho da Lockheed Martin, principal fabricante de sistemas de defesa no mundo, e a AEI tem a Halliburton entre seus principais financiadores", afirma o jornaista, citando a multinacional de serviços para exploração de petróleo.
Jornalista da emissora católica canadense Salt and Light, Matteo Ciofi diz que a oposição teológica é, de fato, a que menos deve preocupar o papa. "Não é possível que um cardeal africano e um europeu possam ter a mesma visão sobre a família. Faz parte das diferenças culturais, é normal que haja críticas. O problema, dentro da Igreja, se concentra naqueles que não querem perder privilégios", diz.
Papa e política
Um dos cardeais que assinaram a carta pública contra a encíclica Amoris Laetitia, o americano Raymond Leo Burke teve reunião recente com Matteo Salvini, líder do partido de extrema-direita italiano Liga do Norte.
Com discurso anti-imigração, Salvini fez duras críticas ao papa quando o pontífice visitou um campo de refugiados na ilha grega de Lesbos, em abril de 2016.
"Com todo o respeito, o papa está errado. Parece-me que a catástrofe ocorre na Itália, não na Grécia. Ele quer convidar outros milhares de imigrantes para a Itália? Uma coisa é acomodar os poucos que escaparam da guerra, outra é incentivar e financiar uma invasão sem precedentes. Tem pobres na Grécia, mas também a dois minutos do Vaticano", afirmou o político, que já foi fotografado usando camiseta com a frase "Meu papa é Bento", referência ao antecessor de Bergoglio.
Para Roberto De Mattei, da Fundação Lepanto, não é a direita que se opõe ao papa, mas é a esquerda que quer torná-lo um símbolo. "Os movimentos de esquerda querem fazer dele um anti-(Donald)Trump porque não dispõem de outras. Fonte: http://www.bbc.com
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As leituras deste Domingo propõem-nos o tema da “luz”. Definem a experiência cristã como “viver na luz”.
No Evangelho, Jesus apresenta-se como “a luz do mundo”; a sua missão é libertar os homens das trevas do egoísmo, do orgulho e da auto-suficiência. Aderir à proposta de Jesus é enveredar por um caminho de liberdade e de realização que conduz à vida plena. Da ação de Jesus nasce, assim, o Homem Novo – isto é, o Homem elevado às suas máximas potencialidades pela comunicação do Espírito de Jesus.
ATUALIZAÇÃO (EVANGELHO – JO 9,1-41)
Considerar, na reflexão, as seguintes propostas:
-Nós, os crentes, não podemos fechar-nos num pessimismo estéril, decidir que o mundo “está perdido” e que à nossa volta só há escuridão… No entanto, também não podemos esconder a cabeça na areia e dizer que tudo está bem. Há, objetivamente, situações, instituições, valores e esquemas que mantêm o homem encerrado no seu egoísmo, fechado a Deus e aos outros, incapaz de se realizar plenamente. O que é que, no nosso mundo, gera escuridão, trevas, alienação, cegueira e morte? O que é que impede o homem de ser livre e de se realizar plenamente, conforme previa o projeto de Deus?
-A catequese que João nos propõe hoje garante-nos: a realização plena do homem continua a ser a prioridade de Deus. Jesus Cristo, o Filho de Deus, veio ao encontro dos homens e mostrou-lhes a luz libertadora: convidou-os a renunciar ao egoísmo e auto-suficiência que geram “trevas”, sofrimento, escravidão e a fazerem da vida um dom, por amor. Aderir a esta proposta é viver na “luz”. Como é que eu me situo face ao desafio que, em Jesus, Deus me faz?
- O Evangelho deste domingo descreve várias formas de responder negativamente à “luz” libertadora que Jesus oferece. Há aqueles que se opõem decididamente à proposta de Jesus porque estão instalados na mentira e a “luz” de Jesus só os incomoda; há aqueles que têm medo de enfrentar as “bocas”, as críticas, que se deixam manipular pela opinião dominante, e que, por medo, preferem continuar escravos do que arriscar ser livres; há aqueles que, apesar de reconhecerem as vantagens da “luz”, deixam que o comodismo e a inércia os prendam numa vida de escravos… Eu identifico-me com algum destes grupos?
- O cego que escolhe a “luz” e que adere incondicionalmente a Jesus e à sua proposta libertadora é o modelo que nos é proposto. A Palavra de Deus convida-nos, neste tempo de Quaresma, a um processo de renovação que nos leve a deixar tudo o que nos escraviza, nos aliena, nos oprime – no fundo, tudo o que impede que brilhe em nós a “luz” de Deus e que impede a nossa plena realização.
Para que a celebração da ressurreição – na manhã de Páscoa – signifique algo, é preciso realizarmos esta caminhada quaresmal e renascermos, feitos Homens Novos, que vivem na “luz” e que dão testemunho da “luz”. O que é que eu posso fazer para que isso aconteça?
-Receber a “luz” que Cristo oferece é, também, acender a “luz” da esperança no mundo. O que é que eu faço para eliminar as “trevas” que geram sofrimento, injustiça, mentira e alienação? A “luz” de Cristo que os padrinhos me passaram no dia em que fui batizado brilha em mim e ilumina o mundo? Fonte: http://www.dehonianos.org
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A Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva do Sistema Prisional e Direitos Humanos do Rio de Janeiro instaurou procedimento para apurar a validade do acordo feito entre o governo estadual e a Igreja Universal do Reino de Deus para a construção de templos nos presídios do estado. Segundo o Ministério Público do Rio, também será verificada a garantia do caráter ecumênico dos templos.
"A Promotoria instaurou procedimento para apuração da validade do instrumento de cooperação porventura firmado diante da previsão do art. 19, I da Constituição da República, bem como verificação das condições de garantia do caráter ecumênico e adequação dos espaços para a prática de cultos pelas entidades de assistência religiosa credenciadas no sistema prisional fluminense", diz a nota.
O governo do Rio autorizou a Igreja Universal a construir templos em todos os 43 presídios do estado. Na última segunda-feira foram inaugurados os dois primeiros, na Cadeia Pública Joaquim Ferreira e no Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho, ambos no Complexo de Gericinó, em Bangu, Zona Oeste do Rio.
Estavam presentes no evento apenas pastores e os diretores das unidades. O governo afirmou que não foi gasto dinheiro público nas construções e garantiu que, mesmo sendo totalmente financiados pela Igreja Universal do Reino de Deus, os templos serão ecumênicos, "onde poderão acontecer cultos de outras igrejas evangélicas, católicas ou espiritualistas".
No entanto, a falta de participação de representantes de outras crenças na elaboração e na inauguração fez com que o ecumenismo do projeto fosse questionado por representantes de outras religiões. Para o babalorixá Ivanir dos Santos, a autorização é 'lamentável'.
- Isso é uma violação do Estado Laico. Você não pode construir um templo religioso dentro de um complexo de prédios públicos. Além disso, como é possível te um templo ecumênico sem conversar com outras religiões? Havia representantes de outras religiões? Isso não foi conversado. Não sou contra a assistência aos presos. Mas não pode haver privilégios dentro de um espaço público como é o caso. Como um grupo específico cria um templo ecumênico sem dialogar com ninguém? E como o Estado permite isso? Nunca vi o estado ceder terreno para uma religião de matriz africana abrir uma casa de candomblé, por exemplo. É lamentável - disse o babalorixá.
Para o Cônego Manuel Manangão, da Arquidiocese do Rio, a administração dos espaços pode ser um problema se não for bem organizada.
- Não sabemos como foi feito esse acordo e o que ele inclui. Não participamos disso. Para mim, a maior dificuldade é como organizar o espaço desses lugares para o atendimento de todas as religiões. São quase oitenta entidades inscritas para levar a Palavra de Deus aos presos e se não for algo organizado de forma bem feita, cria um problema - disse.
De acordo com a Secretaria de Administração Pública (Seap), a autorização da utilização dos espaços ficará a cargo do diretor de cada unidade prisional. No dia 14 de fevereiro deste ano, o governador Luiz Fernando Pezão e o secretário estadual de Administração Penitenciária, Erir Ribeiro da Costa Filho, se reuniram com líderes da Igreja Universal para tratar da construção dos templos, que, segundo a Seap, "têm o objetivo de auxiliar no processo de ressocialização dos presos".
Procurada pelo EXTRA desde segunda-feira, a Igreja Universal do Reino de Deus não respondeu os e-mails ou atendeu as ligações. De acordo com o artigo 19 da Constituição Federal, é vedado à União e Estados "estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público".
Esses não são os primeiros templos da Igreja Universal do Reino de Deus em presídios brasileiros. Em março deste ano foi inaugurado um templo na Penitenciária Feminina de Sant'Ana, no Carandiru, Zona Norte da Capital Paulista. Esta semana também foi inaugurado um templo no Presídio do Ceará. Fonte: http://extra.globo.com
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Neste dia 24.03.2017, veja o vídeo da Audiência aos Chefes de Estado e de Governo da União.
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Papa Francisco durante a Missa em Santa Marta (23/03/2017 12:06) Escutar a Palavra de Deus para evitar o risco de que o coração se endureça – disse o Papa durante a Missa, na manhã desta quinta-feira (23/03), em Santa Marta. Francisco ressaltou que, quando nos afastamos de Deus nos tornamos católicos infiéis ou mesmo "católicos ateus”.
Quando o povo não escuta a voz de Deus e vira as costas para Ele, acaba por se distanciar d’Ele. Baseando-se num trecho do Livro do Profeta Jeremias, o Papa desenvolveu a sua meditação sobre a escuta da Palavra de Deus.
“Quando não paramos para ouvir a voz do Senhor, nos distanciamos d’Ele, viramos as costas para Ele. E quando não ouvimos a voz de Deus, ouvimos outras vozes.”
Se não ouvimos a Palavra de Deus, ouvimos os ídolos do mundo
“No final”, constatou amargamente o Pontífice, “fechamos os ouvidos e nos tornamos surdos à Palavra de Deus”.
“Se hoje todos nós pararmos um pouco e olharmos para o nosso coração, veremos quantas vezes fechamos os ouvidos e quantas vezes nos tornamos surdos. Quando um povo, uma comunidade, mas também uma comunidade cristã, uma paróquia, uma diocese, fecha os ouvidos e se torna surda, não ouve a Palavra de Deus, procura outras vozes, outros senhores e acaba por seguir os ídolos, os ídolos que o mundo, a mundanidade, a sociedade lhes oferece. Se distancia do Deus vivo.”
Quando o coração se endurece, tornamo-nos católicos ateus
“Quando nos distanciamos do Senhor”, prosseguiu o Papa, “o nosso coração se endurece”. Quando não ouvimos, o coração se torna mais duro, mais fechado em si mesmo. Duro e incapaz de receber alguma coisa. Não só fechamento, mas dureza do coração. Vive então naquele mundo, naquela atmosfera que não lhe faz bem, que o distancia cada dia mais de Deus”.
“E estas duas coisas – não escutar a Palavra de Deus e ter o coração endurecido, fechado em si mesmo – fazem perder a fidelidade. Perde-se o sentido da fidelidade. O Senhor diz na Primeira Leitura: ‘A fidelidade desapareceu’ e nós nos tornamos católicos infiéis, católicos pagãos ou pior ainda, católicos ateus, porque não temos uma referência de amor ao Deus vivo. Não escutar e virar as costas – que nos endurece o coração – que nos conduz ao caminho da infidelidade”.
“Esta infidelidade, como se traduz esta infidelidade?”, perguntou o Papa. “Traduz-se com a confusão: não se sabe aonde está Deus, aonde não está, se confunde Deus com o diabo”. Francisco fez referência ao Evangelho do dia e observou que “a Jesus, que faz milagres, que faz tanto pela salvação e as pessoas estão felizes, as pessoas dizem: ‘E o faz isto porque é um filho do diabo. Faz o poder de Belzebu’”.
Escutamos realmente a Palavra de Deus?
“Esta – disse o Papa – é a blasfêmia. A blasfêmia é a palavra final deste percurso, que começa com o não-escutar, que endurece o coração, que ‘causa confusão’, que faz esquecer a fidelidade... e no fim, vem a blasfêmia”. Ai daquele povo que se esquece da surpresa do primeiro encontro com Jesus:
“Hoje, podemos todos nos perguntar: Eu paro para ouvir a Palavra de Deus, pego a Bíblia, que fala a mim? Meu coração se endureceu? Eu me afastei do Senhor? Perdi a fidelidade ao Senhor e vivo com os ídolos que a mundanidade me propõe todos os dias? Perdi a alegria da maravilha do primeiro encontro com Jesus? Hoje é um dia para ‘escutar’: ‘Escutem hoje a voz do Senhor’, rezamos antes. ‘Não endureçais o vosso coração’. Peçamos esta graça. A graça de escutar, para que nosso coração não se endureça”. Fonte: http://br.radiovaticana.va
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Chegou a hora de os bispos pararem de esperar por um aumento nas vocações sacerdotais celibatárias e reconhecer que a Igreja necessita de padres casados para servir o Povo de Deus. Não se pode ter uma Igreja Católica sem sacramentos, e um padre é necessário para a Eucaristia, a Confissão e Unção.
Na Santa Ceia, Jesus disse: “Façam isto em memória de mim”, não “tenham um sacerdócio celibatário”. A necessidade eucarística excede a necessidade do sacerdócio celibatário. O comentário é de Thomas Reese, jesuíta e jornalista, publicado por National Catholic Reporter, 16-03-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Por pelo menos 50 anos, a Igreja Católica nos EUA tem visto uma queda no número dos padres. Segundo relatórios do Centro de Pesquisa Aplicada para o Apostolado – CARA, na sigla em inglês, em 1970 havia 59.192 padres nos EUA; em 2016, havia somente 37.192. Enquanto isso, o número de fiéis aumentou de 51 milhões para 74.2 milhões. Isto significa que a proporção pessoas/padre cresceu de 861 católicos para cada sacerdote em 1970 para 1.995 a cada um em 2016. Estes números incluem todos os padres, religiosos e diocesanos, junto dos que já estão aposentados. Quando morrerem os padres que hoje estão acima dos 65 anos, estes números vão piorar ainda mais.
Em muitas regiões dos EUA já vemos o impacto do número declinante de padres. Paróquias estão se fundindo enquanto outras fecham as portas. Poucas paróquias têm mais de um padre. Padres africanos e asiáticos tornaram-se missionários nos EUA. Em zonas rurais, os padres dirigem centenas de quilômetros nos fins de semana visitando paróquias em municípios pequenos que não contam mais com um padre residente. Algumas paróquias rurais veem um padre uma vez por mês. O número de paróquias sem padre aumentou de 571 em 1970 para 3.499 em 2016.
Este problema não acontece só nos EUA; na verdade, ele é mais grave em outros lugares. Em 2014, havia 414.313 padres para 1.2 bilhão de católicos no mundo, numa proporção de fiéis/padre na casa dos 2.896 por um.
Na América Latina, por motivos históricos, existe uma escassez de padres há mais de 100 anos. Eis um dos motivos por que os evangélicos pentecostais vêm tendo sucesso na região. Se não há padre algum na cidade, as pessoas vão aonde houver uma celebração.
A África e a Ásia são apontados como lugres onde as vocações são abundantes, mas mesmo nessas regiões não há padres o suficiente. E as vocações já estão começando a quedar em alguns lugares destes continentes.
Por que as vocações estão em declínio?
Há várias teorias. Os conservadores tendem a culpar a cultura secular e a geração atual de jovens que são vistos como consumidores autocentrados, pessoas que carecem de disciplina e espírito de autossacrifício necessários para se ser um padre.
Os sociólogos apontam para as mudanças demográficas. As famílias são menores. Numa família grande, os pais apoiam a ideia de um dos filhos se tornar padre, mas se só tiverem um ou dois, preferirão netos a sacerdotes.
O acesso universal à educação também faz a diferença. Historicamente, tornar-se padre era uma das poucas maneiras de conseguir estudar, especialmente uma criança que não vinha de família rica. O padre era frequentemente a pessoa com maior formação na comunidade, o que lhe dava um status adicional. Hoje, a formação está mais prontamente disponível. O padre não possui o status que teve no passado.
Em suma, muitas vocações no passado vieram de famílias grandes onde o padre era o primeiro membro delas a conseguir entrar para a faculdade e onde a família vivia numa comunidade em que o pároco era figura respeitada. Na medida em que este mundo desaparece, o mesmo ocorre com as vocações. Mesmo em partes da Índia, onde os católicos têm formação, pertencem à classe média e estão tendo menos filhos, já vemos um declínio nas vocações.
Nada indica que o mesmo não continuará acontecendo na África e na Ásia quando os católicos se tornarem mais prósperos.
Têm havido igualmente mudanças na própria Igreja e que afetaram as vocações. O Concílio Vaticano II enfatizou o papel dos leigos e a importância do matrimônio como caminho à santidade. O sacerdócio e a vida religiosa foram tirados de seus pedestais.
Além disso, após o Concílio, muitos ministérios que antes eram abertos somente para padres tornaram-se possíveis aos leigos. Existem agora teólogos leigos, agentes pastorais, diretores espirituais, professores, assim como leigos trabalhando em chancelarias e organizações caritativas católicas. Tecnicamente, um leigo pode fazer quase tudo que um padre faz – exceto presidir a Eucaristia, ouvir confissões e ungir os enfermos. Os que se sentem chamados a servir as Igreja viram que poderiam se casar e fazer muitas coisas sem ser padres.
O sociólogo americano Dean Hoge pesquisou os jovens que trabalhavam na pastoral universitária e descobriu que números significativos deles se interessavam em ser padres caso pudessem se casar. Na verdade, alguns sustentam que não houve um declínio nas vocações; o que acontece é que os bispos não estariam reconhecendo que Deus está chamando homens casados e, até mesmo, mulheres ao sacerdócio.
No começo deste mês, o Papa Francisco falou sobre as vocações e da possibilidade de ordenar viri probati, isto é, homens casados de fé comprovada.
“Um problema é a falta de vocações, um problema que a Igreja deve resolver”, disse Francisco. “Devemos pensar sobre se os viri probati são uma possibilidade, mas temos também que discutir quais tarefas eles poderiam assumir em comunidades remotas. Em muitas comunidades neste momento, mulheres comprometidas estão preservando o domingo como dia de culto realizando celebrações da Palavra. Mas uma igreja sem a Eucaristia não possui força”.
Em artigo que escrevi semana passada, observei que uma das maiores realizações de Francisco é a sua abertura ao debate na Igreja. Ainda que o Papa Paulo VI tenha considerado brevemente a ideia, sob os últimos dois papados não foi permitido discutir o tema de padres casados. Eu não poderia ter escrito este presente artigo aqui quando fui editor da revista America (1998-2005).
Mesmo quando era arcebispo, Jorge Bergoglio levantou a questão dos padres casados na Igreja. No Capítulo de seu livro “Sobre o céu e a terra”, ele reconheceu que há padres casados na Igreja Católica de tradições orientais (bizantina, ucraniana e grega), e notou que eles eram bons sacerdotes. A Igreja Católica de Roma, ou ocidental, tem a regra do celibato, mas as igrejas católicas orientais, que estão em união com Roma, sempre tiveram padres casados. Nos Estados Unidos, nós também temos ex-padres anglicanos e luteranos que estão casados e trabalham como padres na Igreja Católica hoje.
Durante os primeiros mil anos de sua existência, a Igreja contou com clérigos casados. Nos últimos mil anos, estamos tendo a regra do celibato. Esta nem sempre é bem observada. Bergoglio odiava a prática dos padres que não viviam plenamente o compromisso antes assumido. Ele poderia perdoar caso o sacerdote mudasse de modos, mas disse que preferia um bom leigo a um mau padre. Se um padre gerasse um filho, Bergoglio falou que o padre deve sair [da Igreja] porque o direito de a criança ter um pai era maior do que a obrigação de um homem permanecer no sacerdócio.
Creio que Francisco seja a favor do celibato opcional, porém ele não vai de repente anunciar da Praça de São Pedro que a Igreja terá padres casados a partir da semana que vem. Não é assim que ele faz as coisas. O papa acredita numa Igreja que trabalha de forma colegiada, onde as decisões são tomadas por ele juntamente com o Colégio Cardinalício.
Erwin Kräutler, bispo brasileiro, falou com o papa sobre ter padres casados em sua imensa diocese na floresta amazônica, onde existem 700 mil pessoas para 27 padres. A resposta do papa foi instá-lo a voltar-se à sua conferência episcopal e fazer que eles – os bispos – peçam isso. Esta é maneira mais provável em que os padres casados serão reintroduzidos na Igreja romana. Será a pedido das conferências dos bispos por padres casados em lugares remotos, onde há grande necessidade. Mas assim que padres casados forem introduzidos, rapidamente irão se espalhar para outros lugares.
Se o Povo de Deus quer padres casados, ele precisa fazer com que os bispos saibam. O papa está esperando que os bispos peçam. As pessoas precisam pressionar os seus bispos nesse sentido. FONTE: http://www.ihu.unisinos.br
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Uma criança foi filmada "roubando" o solidéu usado pelo papa Francisco, que em seguida cai na risada.
O usuário do Twitter Mountain Boutorac, morador de Roma, na Itália, postou o vídeo dizendo que havia levado a afilhada para conhecer o pontífice na audiência geral do Vaticano.
A criança, que veio dos EUA com os pais, se aproveitou do momento em que o papa se inclinou para lhe dar um beijo no rosto, seguida pegou o solidéu.
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Dom Edney Gouvêa Mattoso
Bispo de Nova Friburgo (RJ)
Caros amigos, a Quaresma nos convida à conversão, e, consequentemente, à oposição aos nossos pecados cotidianos. A verdadeira radicalidade nesta batalha é a paciência, que muda as realidades próprias e alheias pela tenacidade e persistência no amor.
Esta virtude é necessária em todos os campos de nossa vida, na oração cotidiana até nos mais ativos trabalhos, nas casas, hospitais, escolas, em tempos difíceis e sempre com alegria, e também nas comunidades e pastorais de nossas Paróquias. Pois, o desejo de fazer o bem deve persistir apesar dos obstáculos. São Paulo quando escreveu o belíssimo hino à caridade (Cfr. ICor 13) quis começar, sob inspiração de Deus, dizendo que “o amor é paciente” (v.4).
Muitos são os desafios desta paciência cristã. Pensemos em primeiro lugar na “impaciência”, que costumamos traduzir como irritabilidade e mau humor, mas que isso não seja sinônimo de “desistência”.
Uma boa penitência para esta Quaresma poderia ser a de perseverar pacientemente, evitando toda a murmuração nas tarefas que Deus nos confia. Um ditado que ouvi certa vez diz: “Fazer o que é devido e estar no que é feito”. E o apóstolo São Paulo acrescenta: “Fazei tudo sem murmurar nem questionar, para que sejais irrepreensíveis e íntegros, filhos de Deus sem defeito, no meio de uma geração má e perversa, na qual brilhais como luzeiros no mundo, apegados firmemente à palavra da vida” (Fl 2, 14-16a). Partindo deste entendimento, podemos concluir que a paciência é uma virtude de homens e mulheres fortes na fé.
Na audiência de 16 de novembro de 2016, o Papa Francisco recordou que é fácil perceber uma presença que nos incomoda. Disse: “Olhemos sobretudo a Jesus: quanta paciência teve que ter nos três anos da sua vida pública! (...) Ele nos ensina a ir sempre ao essencial e a olhar mais longe para assumir com responsabilidade a própria missão”.
Gostaria de terminar esta reflexão quaresmal pensando neste exemplo que o Senhor nos dá. Ele foi paciente nos anos de sua vida oculta, trabalhando e crescendo em companhia de Maria e José, em seu magistério público, nas perseguições que finalmente o levaram à morte de cruz e, depois da ressurreição, acompanhando os discípulos e repreendendo-os em sua falta de fé. Diante deste modelo que nos é proposto, resta-nos pedir: ‘Jesus manso e humilde de coração, fazei o nosso coração semelhante ao vosso!’.
Fonte: http://www.cnbb.org.br
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Gregorio Rosa Chávez está prestes a viajar para Roma com todos os bispos de El Salvador e leva uma carta do Presidente Salvador Sánchez Cerén ao Papa apoiando a moção de que Romero seja declarado santo o quanto antes possível. A data poderia ser - de acordo com o desejo dos viajantes - em agosto, no centésimo aniversário do nascimento do atual beato Oscar Arnulfo Romero V.
Dom Rosa Chávez também espera que isso aconteça, mas não se ilude e propõe uma outra possibilidade: em 2019, quando o Dia Mundial da Juventude acontecerá no Panamá. "Isso nos daria tempo para trabalhar duro para conseguir o que eu chamo de 'o milagre da paz' ", pois consagraria Romero como o santo da América Latina e não acrescentaria mais viagens às que o Papa já tem programadas. Explica todos os seus argumentos junto com algumas outras coisas inéditas ou pouco conhecidas sobre o futuro santo e o candidato a beato, Rutilio Grande. A entrevista é de Alver Metalli, publicada por Tierras de América, 17-03-2017. A tradução é de Henrique Denis Lucas.
Eis a entrevista.
Monsenhor, o que você esconde na mala?
[risos] É muito pequena para esconder grandes coisas...
O que você espera desta viagem?
A visita "ad limina" é protocolar, mas todos os bispos de El Salvador juntos terão um diálogo coletivo com o Papa. Estou fascinado pela nova forma de realizar este tipo de visitas, especialmente a respeito do momento do encontro com ele. Pelo que sei da experiência dos bispos da Costa Rica e Chile que já a realizaram, é algo que realmente vale a pena.
Existe alguma novidade sobre Romero?
A novidade é o encerramento do estudo sobre um suposto milagre. Foi realizada uma sessão solene do Tribunal Eclesiástico da Arquidiocese de San Salvador, com a presença do arcebispo, do núncio apostólico e dois outros bispos. Aqueles que conhecem o caso de perto estão muito otimistas.
Será que no próximo mês de agosto, no centenário do seu nascimento, falaremos do Beatificado Romero ou de São Romero?
Imagine como esperamos por esta notícia! Para o Papa - basta ver sua carta ao arcebispo que foi lida no final da cerimônia de beatificação -, o maior milagre de Romero seria que o país conquistou a paz. A receita do Santo Padre é conhecer o pensamento de Romero, imitar o seu testemunho e pedir sua intercessão com autêntico fervor. Meu maior medo é que esperamos uma canonização "grátis", que não tenha nenhum custo; bastando que o suposto milagre que acaba de ser apresentado em Roma fosse aprovado. Meu sonho é ver, pouco a pouco, que todo o país se coloque neste movimento. O principal sinal exterior seria as peregrinações aos lugares sagrados de Romero, incluindo a pequena cidade onde ele nasceu há quase cem anos, Ciudad Barrios.
Mas o senhor espera a notícia da canonização?
Pessoalmente, acho que não vai acontecer nada em 2017. Gosto da data de janeiro de 2019, data da Jornada Mundial da Juventude, que se realizará no Panamá. Já existem precedentes, por exemplo, quando o Papa João Paulo II visitou o Canadá, a Guatemala e o México em 2002, e no primeiro país canonizou Juan Diego e no segundo o irmão Pedro de San José de Betancourt. Uma data como esta nos daria tempo de trabalhar duro para alcançar o que eu chamo de "o milagre da paz".
Se o milagre humano acontecer...
É verdade, mas há também um milagre que eu chamaria de "moral", do qual não se fala, que é de quando houve uma enxurrada de conversões assim que o Monsenhor Romero foi beatificado. Muitos vêm se desculpar porque odiavam Romero ou ficaram felizes com sua morte... é algo silencioso, mas real. E muitos admitem que formaram um julgamento negativo sobre ele sem nunca tê-lo escutado com base em coisas ditas por terceiros e que agora sabe-se que eram mal-intencionadas.
Houve um caso que me ocorreu quando fui a uma escola católica para administrar a confirmação. Quando a missa terminou, um homem se aproximou de mim para perguntar se poderia falar comigo. Ele disse que seu pai, um notável professor da Universidade Nacional de El Salvador, militante da esquerda, tinha sido assassinado. Muito depois supus que Romero tivesse denunciado esse crime. E ele havia lido a homilia em que fez a denúncia. Ele disse: "Se ele defendeu um homem justo como meu pai, ele mesmo deve ser justo." A partir daquele momento, ele se converteu.
Há muitos casos como esse e muitos outros continuarão acontecendo. Em uma escola católica, um militar me abordou e ajoelhou-se diante de mim. Pediu perdão dizendo que ele "tinha desejado a morte de Romero", mas que agora compreendia que "era um homem de Deus".
Romero tem causado um verdadeiro terremoto espiritual com fortes abalos sísmicos, como se diz no jargão. E isso é importantíssimo para o processo de canonização. Eu não tenho pressa.
O senhor acredita que seja necessário aguardar pelo Padre Rutilio Grande?
A relação que o Papa estabelece entre as duas figuras é clara, pelo menos em seu coração, inclusive a ideia de canonizar Romero e beatificar Rutilio na mesma ocasião. No México, ele fez duas beatificações na mesma viagem, a de João Batista e de Jacinto dos Anjos. De qualquer forma, Roma tem toda a documentação, ampla, interessante e bem verificada, e uma excelente biografia de Rutilio, como homem de Deus, como pastor.
Se o senhor, que conhece tão bem a Rutilio, diz...
Ele era meu professor e mentor. Rutilio é um jesuíta atípico. Sua postura é de um excelente pastor. Sua visão da Igreja e do ministério foi marcada por um curso realizado no IPLA (Instituto Pastoral para a América Latina) em Quito, no Equador, com um grupo magnífico de professores. Ao voltar a El Salvador, ele se propôs a trabalhar para que os campesinos recuperassem a palavra e sua dignidade, na perspectiva dos documentos de Medellín.
Há um fato que poucos conhecem e que mostra seus dons extraordinários como pastor: refiro-me ao campo-missão organizada e conduzida por ele na paróquia de Ciudad Barrios, com todos nós, que na época éramos estudantes de teologia. Curiosamente a Ciudad Barrios é a cidade onde nasceu Dom Romero. Quem poderia imaginar que estas duas vidas poderiam se cruzar dez anos depois?
Por que enfatiza a pastoralidade de Rutilio?
Ele tinha uma capacidade impressionante de falar com os camponeses, sabia levar a mensagem de Cristo às pessoas simples e sempre dentro de um horizonte de busca por justiça. Aprendeu com Dom Proaño, bispo de Riobamba, no Equador, que concorreu ao Prêmio Nobel da Paz. Foi um dos poucos latino-americanos que participaram do Concílio Vaticano II. Como eu disse, Rutilio foi para o Equador para participar de um curso de Proaño em Quito e depois foi com ele para sua diocese de Riobamba, na Cordilheira dos Andes. Isso marcou-o profundamente. Sem Proaño, o apóstolo dos índios, não se compreende Rutilio, suas habilidades pedagógicas e, especialmente, sua extraordinária capacidade de inculturar o Evangelho no mundo dos pobres e dos camponeses.
... e sem Rutilio não se compreende Romero...
Encontramos a melhor resposta na homilia fúnebre que o arcebispo mártir proferiu na catedral de San Salvador. Na introdução, o D. Romero disse que considerava Rutilio "como um amigo". Logo depois ele explicou o porquê: "em momentos decisivos da minha vida, ele estava muito perto de mim e esses gestos jamais se esquece". Em seguida, traçou o perfil de Rutilio com as três características que Paulo VI menciona na "Evangelii Nuntiandi" sobre a contribuição da Igreja para a luta de libertação: os verdadeiros libertadores têm "uma inspiração de fé, uma doutrina social que é a base de sua prudência e sua existência... e, especialmente, uma motivação de amor".
A forma como Romero usa esses traços para falar de seu amigo é comovente. Mas gostaria de acrescentar outro elemento em resposta à sua pergunta: não se compreende Romero sem Pironio. Pironio pesa mais do que Rutilio na vida de Romero. Romero liderou o semanário Orientación e era muito reticente com a Conferência de Medellín e muito crítico a respeito da Teologia da Libertação. Romero começou a compreender Medellín quando Pironio, secretário adjunto do Secretariado Episcopal da América Central e do Panamá, pregou um retiro para os bispos da América Central na Guatemala em 1974...
Romero estava presente?
Sim, e ele ficou muito surpreso com o que ouviu. No diário de Romero, pode-se ver que sempre que vai a Roma para as audiências com o Papa, ele visita Pironio. Em Roma, como se sabe, Romero teve de enfrentar várias acusações falsas e sofreu muitos mal-entendidos e era sempre Pironio que o confortava e iluminava seu caminho. Em seu diário, Romero detalha seus encontros com Pironio depois de ver o Papa. Quase sempre ele carrega um grande peso em sua alma. Em uma ocasião, Pironio conforta-o dizendo que ele também foi acusado e que estava circulando um panfleto em Roma intitulado "Pironio piromaníaco". Pode-se dizer que entre Pironio, no processo de beatificação, e Romero, em vias de canonização, havia uma aliança santa.
Foi feita justiça com Romero? Refiro-me à ação judicial, que deve encontrar, julgar e condenar os autores do assassinato.
Este é um ponto importante. Foi D. Rivera y Damas, grande amigo e primeiro sucessor de Romero, que denunciou à Corte Interamericana de Direitos Humanos que o assassinato nunca foi investigado a fundo pelo governo. O governo rejeitou a denúncia e nunca assumiu responsabilidade explícita e pública. Depois de anos de litígio, na última sessão que presenciei juntamente com María Julia Hernández (que trabalhou com Romero e dirigiu a Tutela Legal até sua morte, N.d.R.), o governo, através de seu representante, concluiu mais ou menos nestes termos: nos reconciliamos, firmamos um acordo de paz, o caso prescreveu, existe anistia, portanto, arquiva-se. Afirmamos a necessidade de perdoar, mas com verdade e justiça.
A partir desse ponto de vista, acreditamos que a mensagem de João Paulo II, em 1997, "receba o perdão e ofereça a paz" é um documento chave para uma Igreja como a nossa, que promove a reconciliação. Ele argumenta que há duas linhas: uma fala de perdão e esquecimento, a outra de verdade, justiça e perdão. Na América do Sul, ambas têm sido aplicadas; onde se seguiu a linha de perdão e esquecimento, foi um fracasso; onde se seguiu - como no Chile - uma linha de justiça e perdão, obtiveram-se os melhores resultados. Pessoalmente eu acrescentaria um quarto termo: a reconciliação, como no esquema colombiano.
E no caso de Romero?
Houve uma anistia decretada pelo Presidente Cristiani em 1993, a critério do perdão e do esquecimento. Esta anistia acaba de ser revogada. Abriu-se novamente espaço para investigação. Estamos nesse ponto. Mas continua uma dívida pendente. A sentença da Organização dos Estados Americanos (OEA) pedia três coisas fundamentais: em primeiro lugar, que o Presidente da República reconhecesse publicamente a responsabilidade do Estado de El Salvador no assassinato de Romero, o que foi feito pelo presidente Mauricio Funes; segundo, que fossem concedidas honras públicas em nome de Romero, o que também foi aconteceu, por exemplo, dedicando o Aeroporto Internacional de San Salvador a ele; e em terceiro que a história verdadeira de Romero fosse ensinada às crianças nas escolas, mas justamente aqui nos deparamos com a necessidade de esclarecimentos.
Na Comissão da Verdade, um grupo de advogados peruanos associados ao monsenhor Bambaren e fortemente motivados em seu trabalho promoveu grandes avanços. Os três vieram até mim e disseram: "sabemos de tudo, agora precisamos cruzar as informações". Eu tinha uma carta de uma pessoa envolvida de várias maneiras nos esquadrões da morte, em que ela contava tudo o que sabia, como, entre outras coisas, o seu modus operandi. Entreguei uma cópia da carta a este grupo de advogados. Alguns dias depois, eles disseram que tudo o que tinha sido investigado foi confirmado pelo documento. A carta era de uma pessoa que havíamos ajudado a sair do país. D. Rivera y Damas também tinha uma cópia. O tempo passou, o homem voltou para El Salvador em segredo e concordou em falar com os advogados peruanos. No diálogo verbal só faltava um ponto: quem cometeu o disparo. E isto ainda não foi esclarecido.
O irmão mais novo de Romero, Gaspar, fez uma declaração, desconcertante em certo sentido, em uma conversa recente que tive com ele: "se meu irmão estivesse vivo hoje, eles teriam o assassinado novamente...".
Também estou convencido disso. Embora o ambiente seja diferente, Romero falaria em alto e bom tom, como nos anos terríveis da nossa história...
*Oscar Arnulfo Romero nasceu em agosto de 1917 numa família modesta em Ciudad Barrios (El Salvador). Aos 14 anos, ingressa no seminário, mas seis anos depois afasta-se para ajudar a família que estava com dificuldades. Passa a trabalhar nas minas de ouro com os irmãos. Retoma os estudos e é enviado para Roma para estudar teologia, na Universidade Gregoriana. Romero é ordenado sacerdote em 1942, regressa a El Salvador e assume uma paróquia do interior. Foi depois transferido para a catedral de San Miguel, onde fica por 20 anos. Sacerdote dedicado à oração e à atividade pastoral, dedica-se a obras de caridade, mas sem nenhum particular empenho reconhecidamente social.
Em 1970 é nomeado Auxiliar de San Salvador. O Arcebispo Luis Chávez y Gonzalez busca atualizar a linha pastoral de acordo com o Concílio Vaticano II e a Conferência de Medellín. Mas Romero não se identifica integralmente com a linha pastoral proposta. Em 1974 é nomeado bispo da diocese de Santiago de Maria no meio de um contexto político de forte repressão, sobretudo contra as organizações camponesas.
No ano seguinte, a Guarda Nacional executa cinco camponeses e D. Romero celebra missa pelas vítimas. Ele não faz uma denúncia explícita do crime, mas escreve uma carta severa ao presidente Molina.
Em 1977, D. Óscar Romero é nomeado Arcebispo de San Salvador. Pouco tempo depois, é assassinado o jesuíta padre Rutílio Grande, empenhado na luta do povo e ligado a D. Romero. Esse é o momento em que ele reavalia a sua posição e coloca-se corajosamente junto dos oprimidos, denunciando a repressão, a violência do Estado e a exploração imposta ao povo pela aliança entre os setores político-militares e económicos, apoiada pelos Estados Unidos da América. O Arcebispo denuncia também a violência da guerrilha revolucionária. As suas homilias são transmitidas pela rádio católica dando esperança à população e provocando a fúria dos governantes.
Em outubro de 1979, um golpe de Estado depõe o ditador Humberto Romero. Uma junta de civis e militares assume o poder, e nesse cenário, exército e organizações paramilitares assassinam centenas de civis (entre eles sacerdotes). A guerrilha responde com execuções sumárias.
Em fevereiro de 1980, D. Romero escreve ao presidente dos EUA, Jimmy Carter, um apelo para que ele não envie ajuda militar e econômica ao governo salvadorenho e para não financiar a repressão ao povo. A 24 de março do mesmo ano, D. Oscar Romero é assassinado por um franco-atirador, enquanto celebrava a missa na capela do Hospital da Divina Providência em S. Salvador.
Para inúmeras comunidades cristãs do continente americano, Oscar Romero passou a ser considerado santo desde o dia do seu martírio. Chamam-lhe S. Romero da América Latina pelo seu empenho em favor da paz, sua luta contra a pobreza e a injustiça.
Fontes; http://pt.radiovaticana.va; http://www.ihu.unisinos.br
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