Cena, que aparenta ter sido produzida por Inteligência Artificial, foi publicada sem texto nas redes do presidente americano e no perfil oficial da Casa Branca

 

Por Redação

presidente dos Estados Unidos e o perfil oficial da Casa Branca no X (antigo Twitter) publicaram na sexta-feira, 2, nas redes sociais, uma imagem em que Donald Trump aparece vestido como papa, sentado em uma cadeira de estrutura dourada.

A imagem foi divulgada na plataforma TruthSocial, de propriedade do presidente, e mostra Trump em trajes papais, incluindo uma mitra e um cordão dourado com uma cruz, sentado em uma cadeira de estrutura dourada e com o dedo indicador direito apontando para o céu.

Na última terça-feira, Trump afirmou, em tom de brincadeira, que gostaria de ser o próximo papa. “Eu seria minha escolha número 1″, disse Trump a repórteres.

Apesar da piada, ele disse que não tem uma preferência. “Temos um cardeal de um lugar chamado Nova York que é muito bom. Vamos ver o que acontece”, afirmou.

O cardeal Timothy Dolan, arcebispo de Nova York, não está entre os principais cotados, mas outro americano aparece na lista: o cardeal Joseph Tobin, arcebispo de Newark, em Nova Jersey. Nunca houve um papa dos Estados Unidos.

O caixão do papa Francisco é carregado à frente de dignitários, incluindo o presidente Donald Trump, ao centro, e a primeira-dama, Melania Trump, durante funeral na Praça de São Pedro, no Vaticano, em 26 de abril  Foto: Cecilia Fabiano / LaPresse via AP

O presidente dos Estados Unidos e a primeira-dama, Melania, participaram, em Roma, do funeral do papa Francisco, em 26 de abril.

A postagem ocorre poucos dias após a morte do Papa Francisco e às vésperas do início do conclave no Vaticano, onde 133 cardeais se reunirão na Capela Sistina a partir de quarta-feira, 7, para eleger o novo pontífice. Fonte: https://www.estadao.com.br

A trajetória do ‘caçador de marajás’ até a prisão é uma espécie de inventário das mazelas políticas brasileiras, mas também serve para mostrar a força institucional do País

Fernando Collor de Mello, primeiro presidente eleito pelo voto direto no Brasil depois da ditadura militar, agora é um presidiário, condenado por corrupção. Seu nome já estava na História como o primeiro presidente a sofrer um processo de impeachment, também sob acusação de corrupção. Sua trajetória, portanto, é uma espécie de livro-texto para os que quiserem estudar as mazelas políticas brasileiras desde o renascimento da democracia. E serve também – porque nem tudo é tragédia, afinal – para simbolizar a capacidade institucional brasileira de punir quem conspurca a República. Não é pouca coisa.

Primeiro, às mazelas. Collor foi condenado em maio de 2023 a oito anos e dez meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava Jato. Na ocasião, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou que, entre 2010 e 2014, Collor usou sua influência sobre a presidência e a diretoria da BR Distribuidora, então subsidiária da Petrobras, para direcionar contratos de construção de bases de distribuição de combustíveis para a UTC Engenharia em troca de propina. O caso, portanto, ilustra com perfeição como as numerosas estatais do País são vulneráveis aos mercadores da política, que cavoucam cargos, oportunidades e contratos para se locupletarem.

Collor era apenas um dos tantos usufrutuários do monstruoso escândalo do petrolão, que foi a dilapidação da Petrobras pelos governos petistas de Lula da Silva e Dilma Rousseff. Com isso, acabou se associando à corrupção do PT, o partido que ele mesmo combateu com denodo ao se tornar presidente, em 1989, derrotando Lula da Silva no segundo turno.

Não é a única ironia da trajetória de Collor, que foi afastado da Presidência em meio a um escândalo de corrupção depois de ter chegado ao poder prometendo moralizar a vida pública e caçar os “marajás” do Estado. Como este jornal sublinhou à época, Collor traiu os brasileiros que acreditaram em suas promessas de prosperidade e honestidade no trato da coisa pública, e “renunciou não em aras da Pátria, mas pensando no seu futuro político pessoal”, desejando que, “em breve ou a médio prazo, seus malfeitos sejam esquecidos e ele possa voltar ao cenário político”.

O vaticínio do Estadão foi certeiro: o alívio viria dois anos depois, quando o STF o inocentou da acusação de corrupção passiva, e logo o ex-presidente voltaria à ribalta política. Não se encerraram ali, entretanto, os problemas de Collor com a Justiça. Durante as três décadas seguintes, ele continuamente enfrentou processos criminais – e saiu-se livre de todos eles, elegendo-se senador em 2006. Foi nessa condição, e fazendo parte da base de “aliados” de Lula e Dilma, que Collor manteve seus tentáculos políticos destinados à obtenção de dividendos, vamos chamar assim, singulares. Segundo a denúncia que o levou à condenação, o ex-presidente recebeu R$ 20 milhões em propina, dinheiro que supostamente “apareceu” do nada em sua conta, enquanto ele dizia não fazer “a menor ideia” de sua origem, de acordo com entrevistas que concedeu durante o processo.

Mas nem tudo nessa história são mazelas. Collor, afinal, está preso, depois de um processo em que teve amplo direito de defesa. Isso significa que as barreiras republicanas erguidas pela Constituição de 1988 estão em vigor e, bem ou mal, funcionam. No caso de Collor, aliás, isso já havia ficado claro logo no primeiro teste da Constituição recém-promulgada, com seu processo de impeachment. O Congresso, estimulado pelas manifestações de cidadãos indignados nas ruas, abreviou o mandato de quem estava transformando a Presidência em balcão de negócios escusos. Tudo dentro da lei.

Ademais, as reinações lulopetistas (e colloridas) levaram o Congresso a aprovar, em 2016, uma lei para pôr cobro à exploração política (e pecuniária) das empresas estatais. Trata-se de um avanço gigantesco, que se mantém mesmo diante de manobras espertas dos petistas para enfraquecê-la.

Collor estará preso até decisão definitiva do plenário do STF. Seja qual for seu destino, no entanto, o Brasil sairá melhor. Fonte: https://www.estadao.com.br

Correndo por fora da batalha das tarifas, a grande pauta global dos alimentos precisa vir à tona

 

Por Fernando Gabeira

O centro das discussões mundiais são as tarifas de Trump. Não poderia ser diferente: envolvem a economia do planeta e a sorte de bilhões. No entanto, há uma decisão de Trump que foi pouco discutida, com efeito arrasador sobre os mais pobres do mundo. Trata-se do corte de 83% dos programas norte-americanos de ajuda humanitária e ao desenvolvimento. O balanço do estrago dessa decisão foi feito nas primeiras semanas após o anúncio, mas ainda assim ele pode surpreender pela sua carga negativa.

O jornal Le Monde cita a primeira avaliação de março, divulgada na revista Nature: a suspensão da ajuda arrisca privar 1 milhão de crianças de acesso ao tratamento vital contra a desnutrição e a provocar 160 mil mortes anuais. Essas análises se apoiam no fluxo de financiamento e na mortalidade constatada quando não se combate a desnutrição.

O problema não se limita ao corte americano. Com a nova configuração política e o abalo da Otan, os principais países europeus começam a destinar mais dinheiro para armamento. A Alemanha, por exemplo, flexibilizou suas rígidas regras fiscais para destinar verbas ao setor militar. Países como a França e o Reino Unido reduzem sua ajuda ao desenvolvimento de países pobres. A França cortou 37%; a Inglaterra, 40%. Se somamos a renúncia americana com os cortes europeus, cerca de 2,3 milhões de crianças não serão tratadas e abre-se a possibilidade de mais 370 mil mortes de crianças por ano. É como se a tragédia de crianças morrendo pelas bombas em Gaza fosse multiplicada por 30.

Ao anunciar o desmantelamento da Usaid, Elon Musk afirmou que ninguém morreria por causa de um corte para controlar a ajuda estrangeira. As estimativas o desmentem.

A organização humanitária Helen Keller afirma que somente em Bangladesh, Nigéria e Nepal cerca de 21 milhões de pessoas ficaram sem ajuda nutricional, entre elas 11 milhões de crianças. A questão alimentar já era problemática, e ficou dramática a partir da retirada dos EUA, que eram responsáveis por 30% da ajuda mundial.

Nos dias 27 e 28 de março, a França organizou um encontro internacional, uma espécie de conferência da nutrição. O tema era também qual resposta deveria ser dada pela comunidade internacional a esta nova situação, em que os EUA se demitem e os europeus, antes dos americanos, já começam a deixar o campo. Os organizadores reconhecem que o debate sobre nutrição não se limita à comida, ele se estende às mudanças climáticas. Até a obesidade crescente em algumas áreas do mundo era parte da agenda. O Brasil participou desse encontro. A representante brasileira foi Janja. Lula lançou no Rio a Aliança Global contra a Fome. Abriu-se, com essa renúncia americana, não só um campo de crítica a Trump, como uma necessidade de redobrar o esforços diante de uma situação calamitosa. Lula tem não só a chance, mas também a necessidade de avaliar o novo quadro e ampliar os esforços que culminaram com o consenso no Grupo dos 20. Antes de tudo isso, eu já tinha escrito um artigo sobre a questão dos alimentos, mostrando que o alto preço momentâneo no Brasil, na França e nos Estados Unidos é apenas a ponta do iceberg.

Inspirei-me no livro do jornalista Paul Roberts The End of the Food, no qual analisa as cadeias globais de abastecimento e fez previsões sombrias sobre o futuro dos alimentos no mundo. Ele menciona três variáveis que podem definir esse futuro: energia, mudanças climáticas e crise hídrica. Muitos países já não produzem alimentos para economizar água. E os mais competitivos, como o Brasil, exportam milhões de litros de água gratuitamente, por meio da produção de carne de frango e porco. O livro de Roberts começa com as questões de saúde que a produção em grande escala traz, como a contaminação dos alimentos, mas examina também algumas das aspirações de países mais pobres, como por exemplo a de comer mais carne. Isso traria melhorias na saúde, mas é uma forma pouco eficiente de obter calorias. Em média, são necessários dois quilos de cereais para produzir um quilo de carne.

Aos poucos, a complexidade da alimentação diante do crescimento mundial vai subindo na agenda. Dois presidentes, por exemplo, falaram do preço do ovo nas últimas semanas.

Lula, no Brasil, reclamou dos aumentos causados por questões climáticas, preço de rações e conjuntura de maior consumo de ovo por causa da Quaresma. Devastada pela gripe aviária, a produção norte-americana elevou os preços de forma assustadora. Em Nova York, os ovos estavam sendo vendidos por unidade ou em caixas de três. Trump mencionou o tema no dia em que anunciava a questão das tarifas, o que mostra a importância estratégica que uma crise alimentar pode ter para os governos ao redor do mundo.

Aliás, a importância do tema da escassez é indiscutível, pois já derrubou vários governos. A questão é prever as consequências de uma crise durável, provocada pela escassez de água, ausência de energia abundante e empobrecimento irreversível dos rios e oceanos.

Correndo por fora da batalha das tarifas, a grande pauta global dos alimentos precisa vir à tona. Naturalmente, temos de começar pela emergência da fome e pela realidade assustadora de existirem 80 milhões de crianças necessitando de tratamento contra a desnutrição. Mas há amplo caminho pela frente, um pouco ofuscado pelas tarifas, em que os alimentos são uma espécie de coadjuvantes no debate que envolve preço de carros, máquinas de lavar e iPhones. Fonte: https://www.estadao.com.br

Após virar réu no STF, Jair Bolsonaro inflacionou o preço a cobrar dos possíveis candidatos da direita em 2026, que precisam optar entre a moderação ou o apoio a um evidente golpista

No discurso de 50 minutos que fez após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de torná-lo réu por tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito, o ex-presidente Jair Bolsonaro deixou ainda mais difícil a tarefa dos líderes da direita brasileira que tentam se credenciar como candidatos à Presidência em 2026. Ao dobrar a aposta no tom político de sua defesa, atacando a legitimidade do STF para julgá-lo, retomando a sua ofensiva contra o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas e creditando seu julgamento a uma suposta tentativa de tirá-lo do jogo no ano que vem, Bolsonaro deixou claro ao País: qualquer liderança que pretenda herdar seus votos precisará estar umbilicalmente ligada a ele e afinada com o mais puro tom do bolsonarismo raiz.

Não foi apenas um discurso de defesa de si mesmo ou um exercício do sagrado direito de espernear permitido pelas boas democracias, mas a montagem definitiva da armadura bolsonarista para a disputa presidencial. “Parece que tem algo pessoal contra mim”, disse Bolsonaro, mais uma vez disposto a se apresentar como vítima de perseguição política. Afirmou não haver “crime nenhum não passar a faixa” ao presidente Lula da Silva, como se seu golpismo e reconhecido desapreço à democracia se restringissem à ausência na posse do sucessor. Negou ter havido uma trama golpista. Declarou que o Tribunal Superior Eleitoral “influenciou, jogou pesado contra eu (sic) e a favor do candidato Lula”. E voltou a sugerir, sem provas, fraudes nas urnas eletrônicas, afirmando que não é obrigado a “confiar em um programador”.

Foram 50 minutos de improviso – mas espertamente calculado – em que Bolsonaro pôde inflacionar o preço cobrado dos governadores Tarcísio de Freitas (São Paulo), Ronaldo Caiado (Goiás), Romeu Zema (Minas Gerais) e Ratinho Júnior (Paraná), listados como seus possíveis herdeiros. Até mesmo Caiado, o único do grupo que é mais crítico ao ex-presidente, moderou sua fala sobre a decisão do STF, deplorando, como Ratinho Júnior, o fato de a decisão ter ficado restrita à Primeira Turma, e não ao plenário, e pregou o óbvio, isto é, a garantia do direito à ampla defesa. Zema derramou-se em elogios (“o maior líder da oposição ao governo do PT”) e desejou-lhe a recuperação dos direitos políticos.

Mas o maior desafio recai mesmo sobre Tarcísio de Freitas, não só por ser o favorito, como também por ser o mais dedicado e enfático defensor de Bolsonaro, enquanto tenta se apresentar como moderado e democrata – o exato oposto do que o padrinho é. Nas últimas semanas, Tarcísio esteve ao lado do ex-presidente em entrevistas e no ato de defesa da anistia aos golpistas, reafirmou apoio ao ex-presidente tanto em relação ao julgamento do STF quanto à eleição de 2026 e declarou que o padrinho provará inocência, enquanto o ouviu dizer que há três opções da direita para a candidatura de 2026: “Jair, Messias ou Bolsonaro”. Em contrapartida, fez elogios à Justiça Eleitoral, definindo-a como “garantidora da democracia”, tipo de discurso que costuma ser tratado como heresia pelos bolsonaristas mais empedernidos.

Tarcísio parece ter feito o cálculo de que estar com Bolsonaro não tira necessariamente votos do eleitorado anti-Lula e anti-PT, mas se afastar do ex-presidente o inviabiliza entre os eleitores mais fiéis do bolsonarismo. Como Bolsonaro já está inelegível e provavelmente será condenado e possivelmente preso, é muito remota a hipótese de ser ele mesmo o candidato. Desse modo, Tarcísio se apresenta como leal a Bolsonaro num momento de agonia política e se candidata a ser o ungido do bolsonarismo. Trata-se de um cálculo de lógica eleitoralmente razoável.

Há momentos na História, entretanto, que exigem coragem de lideranças para escapar do mero oportunismo eleitoral. É este o caso. Para o bem do Brasil, qualquer candidato da direita deveria cumprir uma obrigação moral: não só se afastar do golpismo, como condená-lo nos mais duros termos, censurando o extremismo que Bolsonaro representa. Sem meios-termos. Sujeitar-se à arapuca que Bolsonaro montou é negar ao País a possibilidade de recobrar a moderação, a qualidade do debate público, a pacificação e a esperança de uma política exercida com lentes liberais e republicanas. Fonte: https://www.estadao.com.br

Presidente percebe que a segurança é tema que dá e tira votos e resolve finalmente endurecer o discurso contra bandidos – aqueles que o PT sempre considerou vítimas de ‘injustiça social’

 

Tisnado pela impopularidade, com índices de aprovação empurrados ladeira abaixo e lá permanecendo, o presidente Lula da Silva parece que finalmente descobriu o quão grande é a sensação de insegurança na população brasileira – e que esse não é um problema restrito apenas ao eleitorado mais conservador. A segurança pública, como se sabe, é uma área na qual nem o governo nem a esquerda nem muito menos o PT têm o que mostrar. Recentemente, porém, durante evento no Ceará, em que protagonizou uma de suas muitas inaugurações palanqueiras, Lula afirmou que não permitirá que a “república de ladrões de celular comece a assustar as pessoas nas ruas deste país”.

A retórica de vingador mascarado, própria de gibis de super-heróis, não orna bem nem com um presidente da República, que não tem entre suas atribuições cuidar da segurança dos cidadãos, nem com um integrante do PT, partido que jamais se preocupou de verdade com isso. Ademais, a “república de ladrões de celular” já é conhecida de todos os brasileiros que vivem nas grandes metrópoles. Logo, Lula chegou tarde ao debate.

Roubo e furto de celulares são hoje os crimes que mais preocupam os cidadãos quando questionados sobre violência urbana, crimes esses que ocorrem de forma democrática, afetando todas as classes sociais. Em alguns casos, como o de São Paulo, há também um notável crescimento nos índices de latrocínio (roubo seguido de morte).

Já faz tempo que o roubo e o furto de celulares resultavam apenas em prejuízo financeiro. Especialistas lembram que os aparelhos viraram fonte de devassa na vida da vítima. Enquanto esta perde um patrimônio de valor e o seu sigilo bancário, bandidos acessam dados pessoais e podem realizar movimentações financeiras e realizar compras com cartões cadastrados. Tudo isso amplifica a sensação de insegurança. Além de São Paulo, números crescentes são registrados em capitais como Salvador e Rio de Janeiro.

Lula descobriu o que sucessivas pesquisas já apontavam desde o ano passado: a maioria dos brasileiros vê piora na segurança pública. Em março de 2024, 79% dos entrevistados em enquete da Quaest sentiam que a violência no Brasil havia piorado nos 12 meses anteriores. O Datafolha também registrou, ao longo daquele ano, a volta da segurança pública ao topo das preocupações nas capitais. Não se viu reação governamental significativa, apenas uma tentativa tímida do ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, de transmitir algum movimento na área. Até aqui, deu no que deu: em nada.

Agora há registros na imprensa descrevendo o esforço de auxiliares do presidente para convencer o chefe de que, assim como a inflação, a segurança pública é um problema que também prejudica a imagem do seu governo, ainda que seja atribuição dos Estados. Como o único problema que Lula de fato conhece é a sua popularidade (e a próxima eleição à vista), ele resolveu agir – ao seu estilo: com bravatas e campanha publicitária. No mesmo palanque no Ceará, o presidente disse que “lugar de bandido não é na rua assaltando, assustando e matando as pessoas”, numa fala calculada para tentar convencer o eleitorado de que pode enfrentar a direita nesse terreno. Além do discurso, o governo também promete, ora vejam, mais uma campanha, provisoriamente focada no “Celular Seguro”, aplicativo do Ministério da Justiça que ajuda a bloquear e localizar celulares perdidos ou roubados.

Ao jornal O Globo, o deputado Jilmar Tatto, secretário nacional de Comunicação do PT, escancarou a estratégia: “O PT até agora não achou embocadura para esse tema, mas o governo, depois de muitos debates, não está mais tendo essa confusão. Bandido tem que ser julgado e ir para cadeia, cara que rouba tem que ser julgado e pagar pelo que fez, sendo pobre ou rico. Essa é a mudança conceitual e de comportamento do ponto de vista de como tratar o tema e a linguagem”. Bem, antes tarde do que nunca: para um partido que sempre atribuiu o crime às “injustiças sociais”, chamar bandido de bandido é um progresso e tanto. Fonte: https://www.estadao.com.br 

Álvaro Lins Pereira de Lira, o Alvinho, ocupa cargo de gestor administrativo em Barra de São Miguel, com salário de R$ 8.000

 

Álvaro Filho, o Alvinho, é filho de Arthur Lira e competiu em vaquejada no ano passado com sua égua Jocarta Two - Itawi Albuquerque - 30.nov.24/Folhapress

 

Josué Seixas

Maceió

Aos 18 anos, Álvaro Lins Pereira de Lira, conhecido como Alvinho, foi nomeado para o cargo de gestor administrativo em Barra de São Miguel (AL) no início deste mês, com salário de R$ 8.000. Filho do ex-presidente da Câmara dos DeputadosArthur Lira (PP), ele é apontado como o herdeiro político da família.

Questionada, a prefeitura informou que a atribuição do cargo é prestar assessoria do gabinete do prefeito junto aos secretários e debater as demandas da administração.

Ao assumir o cargo, Álvaro disse que esta era "uma forma de retribuir, com trabalho e dedicação, a confiança que a população depositou em seu avô" nas últimas eleições municipais.

Benedito de Lira, que morreu em janeiro deste ano, havia sido reeleito prefeito do município. Agora, o gestor é seu vice, Luiz Henrique Lima Alves Pinto (PP), que tem salário de R$ 12 mil. Durante a campanha, Álvaro foi ponto-chave ao preencher lacunas que o avô, à época com 82 anos, não conseguia.

Ele discursava em eventos, acompanhava as passeatas e agia como suporte de Benedito, como visto pela Folha em comício em setembro do ano passado.

No "Arrastão do Biu", foi elogiado durante o discurso do avô, que também brincou ao chamá-lo de "um menino" e "um bebê", e por meio dele agradeceu a Arthur Lira, que estava em agenda política em outra cidade.

Em Alagoas, Álvaro é visto como o sucessor natural do ex-presidente da Câmara dos Deputados. Embora seja o caçula, ele é o filho que escolheu participar das atividades políticas da família. Já estavam no seu dia a dia compromissos como conversas com moradores, visitas a obras e participações em agendas políticas.

Filiado ao PP, ele é visto como um candidato em preparação. Por causa da idade, o jovem poderia ter concorrido ao cargo de vereador no pleito do ano passado.

Álvaro completa 21 anos somente em 17 de março de 2027. Essa é a idade em que poderia concorrer para deputado federal, estadual, prefeito ou vice-prefeito.

Por isso, o planejamento inicial era que assumisse a Prefeitura de Barra de São Miguel após o segundo mandato de seu avô. O anúncio da reeleição, por exemplo, tinha Álvaro e Henrique Alves Pinto gesticulando o 11, com Benedito ao centro.

Com Alves Pinto no comando do município, a tendência é que a presença de Álvaro na administração continue constante. Eles estiveram juntos no dia 30 de janeiro, data que marcou o início do ano letivo da rede pública de ensino de Barra de São Miguel, com direito a discurso do filho de Arthur Lira.

O jovem também é a face do Parque Arthur Filho, que promove vaquejadas e homenageia o filho mais velho do deputado federal alagoano. Álvaro, inclusive, competiu na 17ª vaquejada do Parque Arthur Filho em novembro do ano passado.

O evento teve a presença de diversos políticos de Alagoas e de estados vizinhos. Lira, o atual presidente da Câmara dos Deputados Hugo Motta (Republicanos) e o senador Ciro Nogueira (PP) estiveram juntos em uma das noites.

No dia 1º de janeiro deste ano, quando Benedito já estava hospitalizado e não conseguiu comparecer à posse como prefeito, Arthur Lira o representou e discursou, citando a importância do filho na eleição.

"Eu dizia a ele [Álvaro] que ele era meus olhos e meus ouvidos e as pernas do meu pai durante a campanha. Junto a todos vocês, fez um papel muito importante", afirmou.

Com o atual salário, o filho de Arthur Lira supera os vencimentos dos secretários municipais e também do procurador-geral do município —para eles, o valor é de R$ 6.800, o maior praticado até então. O cargo foi criado no dia 31 de janeiro deste ano, conforme lei delegada.

Não há menção a esse cargo nas alterações do dia 24 de março de 2023, em que o município estava sob o comando de Benedito de Lira, nem em 15 de dezembro de 2016, quando o gestor era José Medeiros Nicolau, conhecido como Zezeco. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Registro em certidão dos mortos pelo regime alerta para importância da preservação das instituições democráticas

 

Eunice Paiva, viúva de Rubens Paiva, durante entrevista ao lado da foto do marido em 1986 - Jorge Araujo - 4.set.86/Arquivo Folhapress

 

No dia 20 de janeiro de 1971, Rubens Beyrodt Paiva foi sequestrado em sua casa, preso, torturado e assassinado por agentes do regime militar. O corpo do ex-deputado, cujo mandato havia sido cassado em 1964, nunca foi encontrado.

Após uma luta hercúlea por informações sobre o marido, Eunice Paiva obteve, em 1996, uma certidão de óbito que registrava só o desaparecimento.

Agora, o poder público corrige esse erro. No documento passa constar que a morte de Paiva foi "não natural; violenta; causada pelo Estado brasileiro no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política do regime ditatorial instaurado em 1964".

Mesmo tardia, a retificação tem expressivo papel simbólico. Foram muitos os desaparecidos pela brutalidade da ditadura militar, e a ausência de um documento oficial que ateste não só o óbito como as causas funestas apenas perpetua a dor de parentes.

A trágica história da família foi contada no filme "Ainda Estou Aqui", dirigido por Walter Salles. A obra foi indicada ao prêmio Oscar nas categorias de melhor filme, melhor filme em língua estrangeira e melhor atriz para Fernanda Torres, já vencedora do Globo de Ouro, que interpreta Eunice. A película se baseia no livro homônimo do escritor Marcelo Rubens Paiva, filho do político assassinado.

As outras famílias que viveram casos semelhantes, embora menos conhecidos do grande público, poderão igualmente ter as certidões de óbito de seus entes queridos retificadas.

Em dezembro, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) determinou que os cartórios do país devem atualizar os documentos de centenas de mortos e desparecidos durante a ditadura para constar que foram vítimas do regime. "É um acerto de contas legítimo com o passado", afirmou o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do CNJ e do Supremo Tribunal Federal.

Os parentes, inclusive de Paiva, deverão receber as novas certidões em sessões organizadas pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos e pelo Ministério de Direitos Humanos.

Segundo levantamento realizado pelo Operador Nacional do Registro Civil de Pessoas Naturais, há 202 casos de retificação de certidões e 232 novos registros de óbito a serem produzidos.

Documentar os crimes da ditadura militar é uma reparação histórica que evidencia a importância da preservação das instituições democráticas. Em tempos de polarização política e populismos, tal alerta torna-se ainda mais necessário. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Segundo PF, migrantes chegaram algemados a Manaus em voo americano; FAB fará transporte até Belo Horizonte

 

Constança Rezende Victor Lacombe

Brasília e São Paulo

O ministro Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública) determinou às autoridades e a representantes do governo americano a imediata retirada das algemas de migrantes brasileiros deportados dos Estados Unidos que chegaram em Manaus na sexta-feira (24).

De acordo com nota divulgada neste sábado (25) pela pasta, Lewandowski informou ao presidente Lula (PT) "sobre uma tentativa de autoridades dos Estados Unidos de manter cidadãos brasileiros algemados durante o voo de deportação" até Belo Horizonte, destino final. Segundo nota da Polícia Federal, os brasileiros chegaram algemados em Manaus.

A situação foi comunicada ao ministro pelo diretor-geral da PF, Andrei Passos Rodrigues. Lewandowski disse ao presidente que houve "flagrante desrespeito" aos direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros.

"Ao tomar conhecimento da situação, o presidente Lula determinou que uma aeronave da FAB fosse mobilizada para transportar os brasileiros até o destino final, de modo a garantir que possam completar a viagem com dignidade e segurança", diz a nota. O avião americano parou em Manaus para reabastecer, mas uma falha técnica impediu a continuidade do voo até Belo Horizonte.

Ministério da Justiça e Segurança Pública afirmou ainda que a dignidade da pessoa humana é um princípio basilar da Constituição Federal e um dos pilares do Estado Democrático de Direito, configurando valores inegociáveis.

Já a PF afirmou que os brasileiros que chegaram algemados foram recebidos e imediatamente liberados das algemas, na garantia da soberania brasileira em território nacional e dos protocolos de segurança no país. O órgão também proibiu que os brasileiros fossem novamente detidos pelas autoridades americanas.

Procurada pela Folha, a embaixada dos EUA em Brasília limitou-se a dizer que "os cidadãos brasileiros do voo de repatriação estão sob custódia das autoridades brasileiras" e que a representação diplomática está em contato com as autoridades do país.

Segundo a polícia, os passageiros foram acolhidos e acomodados na área restrita do aeroporto. No local, receberam bebida, comida, colchões e foram disponibilizados banheiros com chuveiros. "Os brasileiros serão acompanhados e protegidos pelos militares da FAB e policiais federais brasileiros", disse.

O grupo de 158 migrantes deportados desembarcou em Manaus após o avião americano que os levaria até Belo Horizonte apresentar um problema técnico. O voo com o deportados, dos quais 88 são brasileiros, decolou na sexta-feira (24) da cidade de Alexandria, no estado da Virgínia, e pousou em Manaus para reabastecer.

A FAB (Força Aérea Brasileira) informou que fará o transporte dos migrantes deportados. Segundo a Força, o avião saiu de Brasília às 13 horas e tinha chegada prevista em Manaus às 15h30 (14h30 no horário local). Profissionais de saúde acompanharão os deportados durante o trajeto até Belo Horizonte. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Líder religiosa apelou ao presidente para que fosse mais brando com população LGBT e estrangeiros

 

AFP

O presidente dos Estados UnidosDonald Trump, qualificou, nesta quarta-feira (22) como "desagradável" uma bispa de Washington e exigiu desculpas dela por ter dito que o republicano estava semeando o medo entre os migrantes e as pessoas LGBTQ.

"A chamada bispa que falou na terça-feira no Serviço Nacional de Oração é uma esquerdista radical que odeia Trump. Ela teve um tom desagradável, não foi convincente nem inteligente", escreveu o mandatário em sua rede, a Truth Social.

O presidente compareceu na terça a uma missa na Catedral Nacional de Washington dirigida pela bispa Mariann Edgar Budde, da Diocese Episcopal de Washington.

Em seu discurso, a religiosa sermoneou o novo líder pelos decretos assinados contra as pessoas LGBTQ e os migrantes após assumir seu segundo mandato presidencial.

"Peço que tenha piedade, senhor presidente", disse a bispa, que falou do "medo" que, segundo ela, se sente em todo o país.

"Há crianças gays, lésbicas e transgênero em famílias democratas, republicanas e independentes", afirmou.

Também defendeu os trabalhadores estrangeiros que "podem não ser cidadãos ou não ter a documentação adequada, mas a grande maioria dos migrantes não são criminosos."

O presidente, que anteriormente se limitou a dizer que a missa "não foi muito emocionante", atacou duramente a bispa em sua rede social.

"Além de seus comentários inapropriados, o sermão foi muito chato e pouco inspirador. Ela não é muito boa em seu trabalho. Ela e sua igreja devem desculpas ao público", publicou.

Entre as dezenas de ordens executivas assinadas na última hora de segunda-feira por Trump estão medidas para suspender a chegada de solicitantes de asilo e expulsar os migrantes que estão no país ilegalmente.

Trump também decretou que apenas serão reconhecidos dois sexos: masculino e feminino, mas não o transgênero. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Marte é o deus da Guerra. Portanto, é Marte acima de tudo e Trump, seu marechal, acima de todos

 

Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Donald Trump tomou posse como presidente de MarteElon Musk, o homem mais rico do Universo e com grandes interesses no Planeta Vermelho, será o seu mentor, o cérebro por trás do trono, quase um presidente putativo. Com isso, podemos ter certeza de que Trump cumprirá suas promessas de campanha: "Vamos fazer Marte grande de novo!", "Marte em primeiro lugar!", "Vamos nos orgulhar, vamos ser fortes, vamos vencer como nunca!" Perguntado sobre a sua relação com a Lua, foi taxativo: "Não precisamos dela!"
Com Trump no comando, Marte pode esperar por um governo marcial. Trump vai taxar todo o Sistema Solar. Planetas estéreis, como Saturno, Urano e Netuno, com suas organizações inúteis e parasitárias que vivem às custas de Marte, não perdem por esperar. Trump vai ocupar pela força os vizinhos Mercúrio e Vênus, retomar o Canal de Júpiter —afinal, foram os marcianos que o construíram— e, principalmente, construir um muro para isolar a Terra. Chega de terráqueos bigodudos, traficantes de drogas e cheios de filhos barrigudinhos e de nariz sujo continuando a passar pela fronteira e empesteando Marte. Os que já tiverem entrado serão deportados. Filhos de terráqueos ilegais terão sua cidadania revogada. O slogan oculto é: "Vamos fazer Marte louro de novo!"
Trump promete acabar de furar a Terra por todos os lados em busca de combustíveis fósseis. Se isso provocar mais secas, chuva, tsunamis, incêndios ou terremotos, a culpa será do Partido Democrata, que não trabalhou direito nos últimos quatro anos.
Em Marte só haverá homens ou mulheres, uns ou outros, sem opções extra ou intermediárias. As mulheres serão obrigadas a usar o chapéu do Zorro. As fake news serão a nova verdade, e acredite quem quiser. Com o indulto aos condenados pela invasão do Capitólio em 2021, o Poder Judiciário se tornará mero subscritor das decisões imperiais. Fica liberado dar calços em policiais, roubar-lhes o quepe e passar a mão em suas bundas e sair correndo.

Como todos sabem, Marte, na mitologia, é o deus da Guerra. Portanto, é Marte acima de tudo e Trump, seu marechal, acima de todos. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Medida altera uma política de longa data que vetava batidas de fiscalização em locais designados como 'áreas sensíveis'

 

Por O Globo

Autoridades da agência de Imigração e Fiscalização Aduaneira dos EUA (ICE, em inglês) serão autorizados a realizar batidas de fiscalização em locais como igrejas e escolas, anunciou o governo de Donald Trump nesta terça-feira, um dia após a posse do republicano. A medida altera uma política de longa data que evitava ações do tipo em locais considerados "'áreas sensíveis".

Em comunicado emitido nesta terça, o secretário interino de Segurança Interna, Benjamine Huffman, anunciou o fim de duas diretrizes, dando aos agentes mais autoridade para fiscalizações e acabando com um caminho de regularização para migrantes que buscam entrar nos Estados Unidos.

“Os criminosos não poderão mais se esconder nas escolas e igrejas dos Estados Unidos para evitar a prisão. O governo Trump não vai amarrar as mãos de nossos corajosos agentes da lei e, em vez disso, confia que eles usarão o bom senso”, diz a declaração.

Em 2011, o ICE estabeleceu uma política que impedia os agentes de efetuar prisões em locais sensíveis. Grupos defensores dos direitos dos imigrantes manifestaram seu temor diante da retirada da política, afirmando que isso alimentaria o medo nas comunidades. Como efeito, imigrantes podem tirar seus filhos da escola e muitos ficarão com receio de buscar atendimento médico em hospitais.

A segunda medida anunciada elimina de forma gradual os programas de liberdade condicional que permitiam que determinados imigrantes vivessem e trabalhassem temporariamente nos Estados Unidos enquanto aguardassem audiência no tribunal de imigração, o que pode levar meses ou até anos.

Partidários do Partido Republicano têm acusado o governo anterior, do ex-presidente Joe Biden, de ter abusado do programa, estendendo a autorização a várias nacionalidades — pessoas de países em crise, como Venezuela, El Salvador e Ucrânia, por exemplo, foram beneficiados com a política nos últimos anos. A declaração não esclarece quais programas serão eliminados, mas diz que as avaliações voltarão a ser feitas caso a caso.

“O governo Biden-Harris abusou do programa de liberdade condicional humanitária para permitir indiscriminadamente que 1,5 milhão de migrantes entrassem em nosso país. Tudo isso foi interrompido no primeiro dia do governo Trump", disse o texto. "Essa ação fará com que o programa de liberdade condicional humanitária retorne ao seu propósito original de analisar os imigrantes caso a caso." Fonte: https://oglobo.globo.com

Há ainda candidatos eleitos que, no entendimento da Justiça Eleitoral, estariam prestes a assumir um terceiro mandato, o que é proibido pela legislação

Por O Globo — Rio de Janeiro

 

Prefeitos eleitos no Ceará ficaram impedidos de assumirem cargos por investigações policiais — Foto: Reprodução

 

Nesta quarta-feira, aconteceu a cerimônia de posse dos prefeitos eleitos nas eleições municipais de 2024. Nem todos, no entanto, puderam assumir os cargos por força de decisões judiciais. Dois desses casos aconteceram no Ceará e envolvem políticos suspeito de ligações com facções criminosas e compra de votos.

Reeleito prefeito de Santa Quitéria (CE), José Braga Barrozo (PSB) foi preso pela Polícia Federal e a Polícia Civil instantes antes da cerimônia de posse. Barrozo é investigado por suspeita de envolvimento com a facção Comando Vermelho. Investigado no mesmo processo, o vice Francisco Gardel Mesquita Ribeiro (PSB) também foi impedido de assumir, apesar de não ter sido preso. A função de interino coube a Joel Barroso, filho de José Braga e presidente da Câmara de Vereadores.

O Ministério Público Eleitoral (MPE) alega que Barrozo foi favorecido por membros do Comando Vermelho durante as eleições municipais de 2024, segundo a TV Verdes Mares. Eleitores do candidato adversário teriam sido ameaçados e coagidos a votar no prefeito. O MPE pediu a cassação da chapa de Barrozo e Ribeiro.

"Destacamos que toda essa discussão na mídia reflete ações orquestradas por grupos que não aceitaram sua derrota nas últimas eleições. Alegações semelhantes têm sido apresentadas desde 2020, sempre sem qualquer comprovação", disse o prefeito reeleito em nota divulgada no início desta semana.

A Justiça Eleitoral também suspendeu a posse do prefeito de Choró (CE), Carlos Alberto Queiroz Pereira, o Bebeto Queiroz (PSB), e do vice Bruno Jucá Bandeira (PRD). Alvo de um mandado de prisão preventiva, Bebeto já se encontrava foragido das autoridades quando a suspensão foi determinada.

Bebeto Queiroz foi alvo de duas operações. Uma delas é a "Ad Manaus", deflagrada pelo Ministério Público do Ceará em novembro deste ano. O MP investiga a suspeita de fraude em contratos envolvendo o abastecimento de veículos da prefeitura do município, segundo a TV Verdes Mares.

Outra é a Operação 'Vis Occulta', da Polícia Federal, que investiga a compra de votos em dezenas de municípios do Ceará, entre eles Choró. Em uma das mensagens obtidas pelos invesetigadores, o prefeito reeleito reclama do preço de um voto. "Mas só para votar... ele é doido, é caro demais, mano... ele consegue quantos votos?", diz Bebeto a um interlocutor, segundo o jornal Estado de São Paulo.

 

'Terceiro mandato'

Em Itaguaí, o prefeito eleito Dr. Rubão (Podemos) ficou impedido de assumir o cargo após uma decisão da Justiça Eleitoral. O Tribunal Regional Eleitoral entendeu que, caso o político ocupasse o cargo, estaria configurado um terceiro mandato consecutivo. Em 2020, quando era presidente da Câmara de Vereadores, ele assumiu o cargo após o impeachment de Carlo Busatto Júnior, o Charlinho, e do vice. O caso será julgado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 4 de fevereiro.

A situação semelhante aconteceu Presidente Kennedy, no Espírito Santo. No final de dezembro, o TSE manteve o entendimento do Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TRE-ES) de que Dorlei Fontão (PSB) buscava o terceiro mandato consecutivo, o que é proibido por lei. Ele assumiu o cargo em 2019 quando era vice-prefeito. A prefeita Amanda Quinta Rangel foi afastada por suspeita de envolvimento com esquema de fraude em licitações e pagamento de propina. Em 2020, ele se reelegeu para o cargo.

Em Bandeirantes, no Mato Grosso do Sul, o prefeito Álvaro Urt (PSDB) também foi impedido de tomar posse no cargo. Em 2020, enquanto era prefeito do município, Urt foi cassado pela Câmara de Vereadores e ficou inelegível por oito anos. Ele recorre da cassação e tenta assumir o mandato. Um novo julgamento deve ocorrer em 2025. Fonte: https://oglobo.globo.com

A polícia do Jerônimo

A polícia da Bahia, estado governado pelo PT, tem uma política de genocídio

 

Aline Bispo/Folhapress

 

Djamila Ribeiro

Mestre em filosofia política pela Unifesp e coordenadora da coleção de livros Feminismos Plurais.

 

Os números do feminicídio e a violência generalizada que acomete o Brasil são desesperadores e é triste não ver uma saída realmente satisfatória para essa situação. Porém, neste texto, gostaria de abordar a violência em série cometida pela polícia do estado da Bahia: um verdadeiro descalabro, uma política de genocídio. E é uma vergonha ainda maior considerando que, há quase duas décadas, o governo da Bahia é liderado pelo Partido dos Trabalhadores (PT), um fato que não deveria impedir a crítica necessária e urgente.

Afinal, quando a polícia de São Paulo joga um jovem de uma ponte, apontamos com razão que se trata da polícia do Tarcísio —inclusive escrevi sobre isto recentemente na Folha, sobre as necessárias responsabilizações do governador e de seu secretário de segurança. Mas o que pergunto é: por que não devemos apontar que a polícia baiana, que mata mais do que toda a polícia dos Estados Unidos, é a polícia do Jerônimo, do Rui Costa, do Jaques Wagner?

Sou uma das poucas escritoras a enfrentar esse tema de forma franca. Em agosto de 2023, quando do assassinato brutal e inaceitável de Mãe Bernardete, liderança de terreiro morta no interior de sua própria casa em circunstâncias longe de serem devidamente esclarecidas, escrevi o seguinte nesta Folha:

"Somente nesse estado da Bahia, em um ano, a polícia matou mais do que toda a polícia dos Estados Unidos, segundo dados do Anuário de Segurança Pública. Em qualquer governo estadual e federal isso é uma vergonha. Em um governo progressista, então, me faltam palavras para definir. A polícia de governos estaduais de direita matam, as de esquerda também. Se um ex-governador do Rio de Janeiro afirma que é para 'mirar na cabecinha', um outro na Bahia diz que policiais são artilheiros na frente do gol. Partidarizar essas mortes endêmicas no país por proselitismo político deveria envergonhar quem se diz intelectualmente honesto".

Destaco a citação pois, ainda que seja atual e pertinente, penso também que é necessário ter coragem e, sobretudo, memória num país de gente covarde, que não só partidariza esse proselitismo como ainda mente a meu respeito. Eu me orgulho de ser uma intelectual negra independente, no sentido descrito por bell hooks, que, entre muitas coisas, afirma que, como vivemos numa sociedade fundamentalmente anti-intelectual e difícil para os intelectuais comprometidos e preocupados com mudanças sociais radicais, é preciso afirmar sempre que o trabalho que fazemos tem impacto significativo.

Nesse sentido, fico pensando em como um tema tão grave e urgente como o genocídio cometido pela polícia baiana pode concorrer com a indignação seletiva diante da substituição do nome de Iemanjá pelo de Rei Yeshua por uma cantora em uma letra de música. Foi com essa indignação que me vi bombardeada de notícias e textões pseudorrevolucionários a respeito. Ora, que fique claro: o que Claudia Leitte fez é um desrespeito inegável. Mas, convenhamos, há algo mais óbvio que isso?

O problema não está na troca dos nomes; o problema é que Claudia Leitte tenha sido validada como cantora de axé em primeiro lugar. A troca foi apenas a cereja do bolo de uma narrativa que já estava fora do eixo havia muito tempo. Bolo esse sobre o qual muitos de seus confeiteiros se dizem agora surpresos com o resultado.

Pessoas que adularam, incensaram, financiaram, quando não fizeram a mesma coisa e cantaram músicas e/ou bajularam autores de "hinos racistas" em um ritmo negro, agora se dizem revoltadas. Para além de muita indignação, há uma indústria que se reorganiza e deixa seus bois de piranha de tempos em tempos. Lucram com o axé e o gospel e, ainda assim, como os governadores, se livram de responder por seus crimes.

Feita esta breve digressão, pois o Brasil não é para iniciantes, mas sim para iniciados, por que não voltamos ao que realmente importa?

Há uma urgência em apontar os crimes de uma política pública que tem acumulado taxas estratosféricas de homicídios sob governos que deveriam ser responsabilizados. Sim, é necessário que governadores e seus antecessores sejam levados ao banco dos réus. Que um promotor, como um artilheiro diante do gol –a infeliz analogia emprestada por um ex-governador baiano–, os acuse pelos crimes contra sua própria população e marque seu golaço.

Os dados falam por si. Segundo o Anuário de Segurança Pública (sempre importante citar), a polícia da Bahia é a que mais mata no Brasil. Trata-se de um dado insuperável e que, por si só, exige perguntas, respostas, mudanças e consequências aos agentes responsáveis na máquina estatal. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Mundo secular, com seus valores líquidos e oportunistas, não parece páreo para comunidades religiosas coesas férteis

 

Luiz Felipe Pondé

Escritor e ensaísta, autor de "Notas sobre a Esperança e o Desespero" e “A Era do Niilismo”. É doutor em filosofia pela USP.

 

Fundamentalismo religioso é uma expressão que na passagem do século era muito usada pela mídia e pelas universidades. Livros e artigos foram escritos fazendo uso dela para chamar a atenção para o fenômeno identitário que ameaçaria o modo secular de sociedade.

Mas a expressão saiu de moda. O mundo das ideias, como tudo no século 21, é coisa arrastada pelas modas de comportamento e pelo oportunismo. Um fenômeno que atravessou a discussão das identidades antimodernas foi a crítica decolonial e a afirmação de que algumas identidades vítimas poderiam matar por que seriam "resistentes ao colonialismo" —caso emblemático é a carta branca dada ao Hamas pela ONU.

Essa virada teórica da esquerda implicou o abandono do uso da expressão "fundamentalismo religioso" porque ela carregava consigo um valor negativo, do ponto de vista ideológico, quando aplicado a populações "subalternizadas". No caso do Brasil, o termo era utilizado em grande parte para se referir aos evangélicos.

Vale salientar que, no início do século 20, nos Estados Unidos, evangélicos usavam o termo para si mesmos com valor positivo —viver segundo os fundamentos do cristianismo e recusar a secularização, o feminismo e o darwinismo.

Quase três décadas depois, os evangélicos despontam como o maior grupo religioso do país e, portanto, como um mercado imenso de votos e influência lobista. Há que se tratar bem deles, afinal de contas a democracia é um regime de competição por votos.

Aqueles "ainda" mal comportados recebem o nome de "extrema direita" e ficam ainda na berlinda, por conta de seu mau comportamento eleitoral. No entanto, os grupos descolados entre os evangélicos, e portanto de esquerda, são recebidos com honras pela elite da mídia. Sua missão: convencer os evangélicos a votar na esquerda em 2026. Pois bem.

Recentemente, na Bélgica, um livro sobre o fundamentalismo islâmico teve seu lançamento cancelado sob acusação de difamar o islamismo —esses fundamentalistas são chamados pelo termo "islamiste" em francês, para designar o movimento de teor político ideológico que visa colonizar a Europa secular e impor um islamismo radicalizado à sua população, a começar pelos jovens de fé muçulmana.

A obra dos jornalistas Laurence D’Hondt e Jean-Pierre Martin se constitui numa série de entrevistas com professores francófonos de escolas entre França e Bélgica. "Allah n’a Rien à Faire dans Ma Classe" é o título — "Alá nada tem a fazer na minha aula", com um sentido de que Alá não deve se meter na minha aula.

Os autores citam um professor de história de um "collège" francês, Iannis Roder, que afirma algo essencial: "Se entregarmos à extrema direita a exclusividade do real, deixamos para eles o real". É o que muitos de nós têm feito —negando o fenômeno descrito pelos autores na sua obra a fim de passar uma imagem de "cool".

Os autores não são de forma nenhuma reacionários, mas jornalistas que fazem sua lição de casa e dão voz a professores que sofrem com a pressão de alunos fundamentalistas e que não encontram nem na direção da escola, nem nas instâncias superiores responsáveis do governo, espaço ou apoio mínimo para seus impasses dentro da sala de aula.

Todos têm medo de ser acusados de serem de extrema direita ou de sofrer violências cotidianas. Enquanto isso, os fundamentalistas colonizam o ensino francófono. O árabe vai se tornando a língua franca em algumas escolas. A estratégia do fundamentalismo islamita mudou —o terrorismo pode ser substituído por formas mais brandas de impor sua visão religiosa de mundo, fazendo o uso da educação, cuja entrada está aberta para eles.

Uma professora, Adeline — os nomes são fictícios— narra que, logo após o evento da Charlie Hebdo em 2015, um professor muçulmano afirmou que os cartunistas mereceram e ninguém teve coragem de criticá-lo.

Ela o fez e sofreu inúmeras represálias. Em uma delas, um colega, quando era obrigado a sentar no lugar que ela havia sentado, cobria o assento com um plástico, para mostrar todo o nojo que sentia por ela. Os valores da República —como se fala na França— se tornaram insalubres, quando grande parte dos alunos são profundamente refratários.

Estado laico, secularismo, igualdade de gêneros, crítica das tradições, ciência, Darwin. Os alunos se ofendem com esses assuntos. Professoras mulheres são desrespeitadas. Mas o tema vai além da colonização islamita. O que se revela é algo anterior e grave. O mundo secular, com seus valores líquidos e oportunistas, seu egoísmo, sua infertilidade, não parece páreo para comunidades religiosas coesas férteis. O Sapiens é religioso, antes de republicano. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br 

Seja qual for o destino penal do general Braga Netto, sua prisão preventiva mostra a extensão da vergonha que o bolsonarismo causou às Forças Armadas

 

O País acordou ontem com a notícia da prisão de um general quatro estrelas da reserva, um desdobramento dramático do caso da suposta trama golpista contra o presidente Lula da Silva, investigada pela Polícia Federal (PF). É evidente que tudo ainda carece de maiores esclarecimentos, mas o episódio em si mesmo ilustra com clareza meridiana a dimensão da vergonha causada pelo bolsonarismo às Forças Armadas.

Por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), após consulta à Procuradoria-Geral da República (PGR), a Polícia Federal (PF) prendeu preventivamente o general de Exército da reserva Walter Braga Netto. O militar, segundo a PF, é suspeito de ser um dos líderes da tentativa de golpe de Estado urdida nos estertores do governo de Jair Bolsonaro para impedir a posse de Lula da Silva, plano que teria envolvido até o assassinato do atual mandatário, entre outras autoridades.

Moraes decretou a prisão preventiva de Braga Netto porque, ainda de acordo com a PF, ele estaria destruindo provas e, principalmente, coagindo testemunhas para tomar conhecimento do teor sigiloso do acordo de colaboração premiada firmado pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

A serem verdadeiras essas acusações, haja vista que a prisão de Braga Netto foi ordenada por Moraes em grande medida pelos supostos novos elementos de prova que Mauro Cid teria fornecido ao STF em seu depoimento mais recente, prestado no dia 21 de novembro, está-se diante, de fato, de condutas típicas para a decretação da prisão preventiva. Por essa razão, Braga Netto foi mantido no cárcere após ser submetido à audiência de custódia, ocasião em que são verificadas as eventuais ilegalidades de uma prisão.

De todos os suspeitos de participar da intentona, Braga Netto, sem dúvida alguma, é o mais graduado a ser preso até agora. Acima dele só haveria o golpista maior, Jair Bolsonaro, o grande beneficiário do eventual sucesso daquele plano nefasto que teria sido colocado em marcha após sua derrota nas urnas em 2022, como aponta a PF. A regra no Brasil, como o passado demonstra, sempre foi o acobertamento de militares, da ativa e da reserva, suspeitos de terem cometido crimes comuns – à exceção, por óbvio, daqueles delitos cobertos pela Lei da Anistia, de 1979.

A prisão preventiva de Braga Netto, portanto, quebra essa rotina de leniência, para dizer o mínimo, com a apuração de crimes comuns envolvendo militares, fardados ou não, em que pese se tratar – e é fundamental frisar isso – de uma prisão cautelar, ou seja, decretada em sede de investigação, e não de antecipação de culpa nem muito menos de cumprimento de pena. Mas só isso, porém, já é algo inédito ao menos desde a redemocratização do País.

Se a prisão de outros militares de alta patente suspeitos de envolvimento na tentativa de golpe já não foram triviais, a de Braga Netto é histórica, na mais estrita acepção do vocábulo. Afinal, além de ele ser um general com quatro estrelas nos ombros a ir para a cadeia, sobretudo por suspeita de ter liderado uma tentativa de golpe de Estado, Braga Netto foi chefe do Estado-Maior do Exército, ministro da Casa Civil e da Defesa no governo Bolsonaro, candidato a vice na chapa do ex-presidente e, ademais, interventor na Segurança Pública do Rio de Janeiro, uma elevada posição de poder, malgrado o fiasco operacional da intervenção militar.

A prisão de um personagem como Braga Netto, alguém que, além de possuir o currículo acima, foi uma figura central na política brasileira nos últimos anos, é reveladora do desassombro com que membros do alto escalão do governo anterior parecem ter agido para se manter no poder a despeito da derrota eleitoral. Como sublinhamos nesta página há algumas semanas, o Brasil só terá paz quando todos os suspeitos de ter urdido o golpe de Estado forem julgados de acordo com as leis do mesmo Estado Democrático de Direito que tentaram abolir (ver Traidores da Pátria, 20/11/2024).

Desde a manhã de ontem, o general da reserva Walter Braga Netto viu consideravelmente reduzida a distância que o separa desse inevitável acerto de contas com a Justiça. Fonte: https://www.estadao.com.br 

A encruzilhada histórica da Síria

Ninguém cioso dos direitos humanos deixará de se alegrar com a queda de um dos maiores criminosos da nossa era. Mas o novo capítulo pode ser mais brutal e dilacerar a Síria por gerações

 

Na manhã de ontem, enquanto o ditador sírio Bashar al-Assad voava de Damasco para Moscou, os extremos se tocaram no coração dos sírios: por um lado, alívio com a derrocada de uma tirania sanguinária de mais de 50 anos; por outro, angústia com um futuro absolutamente imprevisível.

Entre muitos protagonistas internacionais envolvidos no conflito, a Turquia, que apoia grupos rebeldes no norte da Síria, foi o mais óbvio vencedor. Os sustentáculos do regime de Assad – Rússia e Irã (e o Hezbollah, a milícia xiita libanesa apoiada por Teerã) – foram os maiores derrotados. Israel e os EUA podem celebrar a queda da dinastia alauita ante a maioria sunita. Mas a perspectiva de um governo jihadista em Damasco não permite otimismo, nem para eles, nem para as minorias curdas ou cristãs na Síria, nem para os Estados árabes sunitas do Golfo.

A dinastia Assad foi responsável por assassinar mais de 500 mil sírios. Desde o início da guerra civil, após a brutal repressão de protestos na onda da Primavera Árabe, 600 mil sírios morreram, 13 milhões foram deslocados, 6,8 milhões fugiram do país e, dos 15 milhões remanescentes, 90% vivem na miséria.

O regime já estava em frangalhos em 2012, quando uma coalizão heteróclita – que envolve desde fanáticos islâmicos ligados à Al-Qaeda, o Estado Islâmico, paramilitares apoiados pela Turquia até milícias curdas apoiadas por Estados ocidentais esperançosos de estabelecer uma democracia – se rebelou. Mas os Assads eram aliados próximos da Rússia desde a guerra fria, e Vladimir Putin não abandonaria suas bases navais na costa mediterrânea síria. Assad tornou-se o mais importante aliado da teocracia iraniana na região. Juntos eles perpetraram os maiores massacres no Oriente Médio nos tempos modernos, sob a leniência da comunidade internacional, marcadamente dos EUA sob Barack Obama, que viu suas “linhas vermelhas” serem rompidas uma após a outra, sem reação.

Uma Rússia distraída pela guerra na Ucrânia e o “Eixo de Resistência” liderado por um Irã debilitado pelos golpes de Israel nos últimos meses foram de longe o fator decisivo para o fim de Assad. Em duas semanas, suas forças fugiram em debandada ante os avanços fulminantes dos rebeldes. Sua queda marca uma mudança sísmica no equilíbrio de poder na região.

Uma prioridade para a comunidade internacional é garantir que os estoques de armas químicas na Síria não caiam nas mãos dos jihadistas. A Força Aérea israelense já bombardeou uma delas ontem.

Muito do que acontecerá na sequência dependerá do Hayat al-Sham (HTS), o grupo que liderou a recente ofensiva. Ele vem governando com alguma competência, dadas as circunstâncias, a província de Idlib, pediu moderação aos seus correligionários e prometeu tratar com dignidade as minorias cristãs e curdas e até os alauitas. Mas até 2017 o HTS era filiado à Al-Qaeda, e suas relações com outros rebeldes são convolutas. Ele tem rusgas ideológicas com o Exército Nacional Sírio apoiado pela Turquia, tem um histórico de hostilidade aos curdos e é classificado como uma organização terrorista tanto por Estados árabes quanto ocidentais, o que complica quaisquer negociações. A Turquia é agora um protagonista-chave, e todos os olhos e esforços diplomáticos devem se voltar a Ancara.

É certo que a partir de agora se abriu um novo capítulo para a história da Síria e do Oriente Médio, mas qualquer previsão é temerária. A queda de Assad e a humilhação de Teerã e do Hezbollah podem levar a uma Síria e a um Líbano mais tolerantes? Não é impossível, mas o caminho é tortuoso, e a porta para a paz é estreita. E ela pode ser facilmente trancada pelas disputas intestinas dos rebeldes. O próximo capítulo pode ser muito mais brutal e a Síria pode ser dilacerada e sangrar por gerações.

Qualquer pessoa ciosa dos direitos humanos não pode deixar de sentir uma ponta de alegria com a derrocada de um dos maiores criminosos de nossa era. Mas as palavras de Henry Kissinger a propósito da Guerra Irã-Iraque nos anos 1980 repercutem com extraordinária atualidade: é uma pena que ambos os lados não possam perder. Fonte: https://www.estadao.com.br

Deus, a Pátria e a Família estão horrorizados com o baixo nível dos generais que dizem defendê-Los

 

Bolsonaristas presos em 8 de janeiro – Reuters

 

Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Deus está chocado. A Pátria e a Família, então, nem se fala. Pois não é que justo aqueles que vivem falando em Seus nomes demonstraram que, ao querer passar os adversários na bazuca, no punhal e no veneno, estão pouco ligando para os valores que os ditos Deus, Pátria e Família defendem? Deus, a Pátria e a Família se referem aos áudios descobertos outro dia, que mostram generais espumando de patriotismo e pregando ódio e ranger de dentes.

E que gente grosseira e desbocada, meu Deus! Se é assim que eles conversam em família ou nas igrejas que frequentam, eu não gostaria de vislumbrar meus sobrinhos ou os filhos pequenos dos meus amigos, das minhas amigas, ao alcance de tanta boca suja. Para eles, palavrão é vírgula. Dúvida?

"O senhor me desculpe a expressão, mas quatro linhas é o caralho. Quatro linhas da Constituição é o caceta!" "Kid Preto, porra, por favor, o senhor tem que dar uma forçada de barra com o Alto Comando, cara. Tá na cara que houve fraude, porra. Não dá mais pra gente aguentar essa porra. Tá foda! Tá foda!" "Vai agora esperar virar uma Venezuela para virar o jogo, cara? Democrata é o cacete! Não tem que ser democrata mais agora. Acabou o jogo, pô!" "O presidente tem que fazer uma reunião com o petit comitê. Esse pessoal acima da linha da ética não pode estar nessa reunião. Tem que ser a rataria!"

Ah, está explicado. Eles são a rataria, a turma abaixo da linha da ética. Mas Deus, a Pátria e a Família se perguntam: foi isso que aprenderam nos cursos que fizeram no quartel e lhes renderam aquelas chapinhas no peito? E o mais inacreditável vem agora: "Olha, general", diz um da rataria, "eu sou capaz de morrer, cara, pelo meu país, sabia? Pelo meu presidente, cara. Eu não consigo vislumbrar, né, meus sobrinhos, né, os filhos pequenos dos meus amigos, das minhas amigas, vivendo sob o julgo [sic] desse vagabundo [Lula]. Aprendi na caserna a honrar o meu presidente [Bolsonaro]. E eu tô pronto a morrer por isso".

Deus, que é Onisciente, avisa: "Vá devagar, meu rato. O ratão por quem você se dispõe a morrer vai te deixar na rua assim que as coisas apertarem para ele". Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Ao que tudo indica, o golpe não foi para a frente porque parte da Cúpula das Forças Armadas evitou a acompanhar o presidente e seus assessores marginais numa aventura inconsequente

 

Após ser indiciado por tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) desembarcou em Brasília na noite desta segunda-feira (25) Foto: Wilton Junior/Estadão

 

*Por Fabiano Lana

Essa não é uma coluna sobre questões jurídicas. Mas sobre merecimento. Sobre os castigos adequados como aprendizado para condutas inadequadas das figuras públicas. Nesse sentido, o que merece um ex-presidente da República que cogitou dar um golpe militar para continuar ilegalmente no poder por meio da força bruta a não ser a cadeia? Atualmente o ex-presidente e seus asseclas nem negam mais quais eram suas intenções, apenas tentam colocar o crime dentro de outras molduras, como a de ter cogitado um “estado de sítio”, algo assim. Mas o que fizeram, ou mesmo tiveram a intenção de fazer, além de começarem a executar, é algo que obriga ao castigo, a enviar a todos por um longo tempo para o xilindró.

Mas vivemos no Estado de Direito. Nesse sentido Bolsonaro deve ter acesso a toda defesa possível e pode ser que escape ileso, em hipótese. Pulularam uma série de juristas para dizer que, apesar do plano para destruir a democracia brasileira ser repudiável, etc., na verdade o que houve não pode ser tipificado como um crime. É como se admitissem, veja, que o direito pode ser o refúgio dos canalhas. Numa adaptação aqui da frase do escritor inglês Samuel Johnson, que na verdade se referia ao uso cínico do patriotismo para justificar o injustificável.

Mesmo com o risco de cair na satírica lei Godwin - que considera toda a referência ao nazismo numa discussão como uma carta apelativa – vale agora lembrar do livro “Eichmann em Jerusalém - um relato sobre a banalidade do mal”, de Hannah Arendt. Durante seu julgamento, o responsável por gerir toda a deportação em massa para operar o extermínio dos judeus, Adolf Eichmann, alegou inocência. Agia dentro do ordenamento jurídico de seu país e cumpria ordens. Homem cumpridor de seus deveres, podia até ser considerado um homem de bem pelos autodenominados patriotas brasileiros. Aliás, sempre desconfie de quem alega “cumprir ordens” ou seguir as regras quando tenta defender algo reprovável.

Estamos agora numa espécie de epidemia de desculpas para justificar o malfeito de Bolsonaro. “Olha, tentar um golpe e não ir à frente é o mesmo que tentar que matar alguém e desistir”, dizem uns, trocando as bolas nas tipificações do Código Penal. “Veja bem, o artigo 142 da Constituição permite a intervenção militar”, afirmam outros, distorcendo que a intenção do texto era proteger a República, e não a desmantelar. “A tentativa de execução do golpe é menor do que o atentado ao Direito que ocorre hoje no Brasil”, lamentou outro, sem ir à conclusão lógica de que o golpe tem como fim aniquilar esse mesmo Estado de Direito que ele diz querer proteger.

E tem a frase clássica: “Ah, mas o Lula, que roubou bilhões, está solto”, dita por uma daquelas senhoras com a Bíblia na mão da qual não se deve duvidar das boas intenções. Sem entrar no mérito da questão, a resposta aqui não vai agradar a seita petista. Ora, imaginemos uma cidade com dois bandidos soltos. Pelo menos um estar preso é melhor do que ambos soltos. Dito isso sabemos que Lula não foi absolvido, mas que os casos foram arquivados, prescritos em decisões que parecem ter algo de tramas político-jurídicas. Essa é uma lacuna de nossa história.

Mas por um segundo vamos nos imaginar na cabeça desses infelizes que estavam nos acampamentos que terminaram no vandalismo do dia 8 de janeiro de 2023. Para eles a eleição foi fraudada com a anuência da nossa Suprema Corte para que uma quadrilha com tendências comunistas voltassem ao poder. A tentação de chamar a todos de zumbis políticos é enorme, o que segura é saber que ainda são milhões. De qualquer maneira foram instigados por Bolsonaro a agir assim. E, também por isso, ele merece a prisão.

O ex-presidente, hoje sem direitos políticos, merece o cárcere de um ponto de vista moral, não exatamente do Estado de Direito (pelo qual pode até ser absolvido, o que teríamos que aceitar). Nunca percamos de vista, entretanto, que, ao que tudo indica, o golpe não foi para a frente porque parte da Cúpula das Forças Armadas evitou a acompanhar o presidente e seus assessores marginais numa aventura inconsequente – essa lacuna também ainda precisa ser melhor preenchida.

O ponto é: Jair Bolsonaro, o mesmo que saiu do Exército após a acusação de querer explodir o sistema de abastecimento de água do Rio de Janeiro, agora precisa sair definitivamente da vida pública, e da vida com os cidadãos livres, ao querer explodir a democracia. No primeiro caso, escapou e o país paga o preço de um reincidente no crime. Não merece perdão duas vezes. Existe até alegação cínica: “Mas aparecerão outros Bolsonaros”. Ok, faz sentido dizer que Bolsonaro, assim como Lula, é uma ideia. Mas se esse novo Bolsonaro transgredir deverá ser preso também, para evitar um mal pior. Fonte: https://www.estadao.com.br

*Fabiano Lana é formado em Comunicação Social pela UFMG e em Filosofia pela UnB, onde também tem mestrado na área. Foi repórter do Jornal do Brasil, entre outros veículos. Atua como consultor de comunicação. É autor do livro “Riobaldo agarra sua morte”, em que discute interseções entre jornalismo, política e ética.

É perturbador o número de generais suspeitos de apoiar a trama golpista investigada pela PF. Isso mostra que a formação militar precisa deixar mais claro que respeito à lei não é opcional

 

Ainda há muitas dúvidas a respeito do suposto golpe para manter Jair Bolsonaro no poder, mas uma coisa parece certa: se realmente houve, a conspiração provavelmente não prosperou porque a maioria dos chefes militares do País se manteve fiel à Constituição, em particular o Alto Comando do Exército. Caso seja confirmado que houve mesmo um complô – que, conforme as investigações, incluía o assassinato do presidente eleito Lula da Silva, de seu vice, Geraldo Alckmin, e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes –, é seguro afirmar que o Brasil escapou de ser tragado por uma das mais graves crises de uma história já bastante marcada por golpes e insurreições.

Pode-se especular quais teriam sido as motivações dos chefes militares legalistas, mas a rigor elas são irrelevantes. Seja pela convicção democrática de seus membros, seja por pragmatismo – afinal, não havia, como não há, “clima” para um golpe militar no País –, o fato é que os militares suspeitos de participar do tal complô foram afinal frustrados e o governo federal legitimado pelas urnas em 2022 aí está, acumulando erros e acertos até a prestação de contas no próximo ciclo eleitoral, como acontece em qualquer democracia constitucional.

Dito isso, não deixa de ser perturbadora a informação de que a Polícia Federal (PF) identificou que a trama golpista contou com uma rede de apoio composta por ao menos 35 militares, entre os quais há nada menos que 10 generais e 16 coronéis do Exército, além de um almirante. Como se sabe, quatro oficiais das Forças Especiais do Exército, os chamados “kids pretos”, e um policial federal foram presos pela PF, por ordem de Moraes, pela gravíssima suspeita de terem planejado aquele triplo homicídio.

O simples fato de os nomes desses 35 militares terem sido citados no curso das investigações não significa, necessariamente, que todos tenham feito parte da suposta conspiração para impedir a posse de Lula da Silva. Não se pode descartar que alguns possam ter sido citados como bravata, a indicar um apoio à intentona que, na realidade, não houve. Há diligências em curso e só a denúncia que a Procuradoria-Geral da República decerto apresentará ao STF individualizará as condutas dos suspeitos, civis e militares, de tramar a permanência de Bolsonaro na Presidência a despeito da derrota eleitoral.

Mas, independentemente do transcurso jurídico do caso, é espantoso que tantos militares, e tão graduados, sejam suspeitos de conspirar contra a democracia – reconquistada à custa de muita dor para os brasileiros – em plena segunda década do século 21. Todos os coronéis e generais da ativa foram formados para o alto oficialato após a redemocratização do País. A esmagadora maioria deles já sob a égide da Constituição de 1988, que, a despeito da exegese picareta que muitos fizeram do art. 142, define claramente o papel das Forças Armadas no regime democrático, principalmente a submissão do poder militar armado ao poder político civil.

A sociedade sabe apenas superficialmente como se dá a formação dos militares, mas a luz dos fatos permite enxergar que algo não vai bem nessa formação quando dezenas de oficiais de alta patente da ativa e da reserva são citados como participantes de um plano de golpe de Estado.

Mais bem dito: o Brasil não pode ficar à mercê dos humores dos senhores membros do Alto Comando do Exército, que hoje, ao que tudo indica, são legalistas. Mas poderiam não ser, como vários de seus colegas de farda mencionados como envolvidos na trama golpista. Por isso, é importante enfatizar que o respeito à Constituição e ao Estado Democrático de Direito não é uma escolha e que as escolas militares devem ter o especial cuidado de incutir esses valores nos corações e mentes dos soldados desde o primeiro passo que eles dão em um quartel. Amar e servir à Pátria, afinal, é antes de tudo respeitar suas leis, em especial a maior de todas.

A Operação Contragolpe e outras antes dela, além das que estão por vir, devem levar as Forças Armadas, em particular o Exército, a um profundo reexame de uma mentalidade segundo a qual os militares seriam uma espécie de “tutores” da República. Nunca foram e jamais serão, ao menos não enquanto aqui vigorar uma democracia digna do nome. Fonte: https://www.estadao.com.br

Embora já esperado, o indiciamento de Bolsonaro e de seus principais assessores pela PF dá contornos dramáticos às revelações de que o País esteve supostamente à beira da ruptura

 

A Polícia Federal (PF) indiciou ontem 37 pessoas por uma suposta tentativa de um golpe de Estado a fim de impedir a posse do presidente Lula da Silva, legitimamente eleito em 2022. Somadas, as penas máximas cominadas à miríade de crimes que compuseram essa desabrida sedição chegam a 30 anos de prisão.

Entre os indiciados estão muitos ex-ocupantes de altos cargos da República durante o governo de Jair Bolsonaro, o que torna ocioso apontar a gravidade e o ineditismo da conclusão dessa minuciosa investigação policial. Basta dizer que, além do próprio Bolsonaro, que obviamente seria o maior beneficiário do eventual sucesso de um golpe, terão de prestar contas à Justiça os generais da reserva Braga Netto, Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, que foram os principais assessores do então presidente no Palácio do Planalto.

Embora já fosse esperado, dado o andamento das investigações da PF, o indiciamento da alta cúpula do governo Bolsonaro e do próprio ex-presidente mostra que a trama golpista, se realmente houve, provavelmente não se circunscreveu a um punhado de oficiais de segundo escalão em conluio com agentes policiais. A ser verdade o que a PF diz ter descoberto, o País esteve à beira da ruptura e esse movimento contou, na hipótese benevolente, com a omissão de Bolsonaro, já que parece ser impossível que nem ele nem os generais que o assessoravam não tivessem conhecimento do complô. Tudo ganha contornos ainda mais dramáticos quando se imagina a hipótese menos benevolente: a de que Bolsonaro não só sabia, como jamais desestimulou a sedição, o que comprovaria de vez seu já notório golpismo.

Outro que se vê mais uma vez enredado por uma espessa teia criminosa é o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, um habitué de inquéritos policiais. O deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), que chefiou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no governo Bolsonaro, e Anderson Torres, que foi ministro da Justiça naquela gestão, também estão entre os indiciados por suspeita de participação na intentona.

Agora que essa suposta tentativa de golpe passou a ter, oficialmente, nome e sobrenome, cabe ao Ministério Público e ao Poder Judiciário processar e julgar cada um dos acusados, na medida exata de sua responsabilidade. Os que forem considerados culpados, sem distinção, devem ser punidos com todo o rigor da lei, pois é este, e somente este, o instrumento de que dispõe o Estado Democrático de Direito para repelir os ataques de seus inimigos e desencorajar audácia semelhante no futuro.

As investigações mostram que o planejamento do suposto golpe foi realizado durante reuniões com oficiais da cúpula das Forças Armadas. É estupefaciente. Conclui-se que só não foi concluído porque o Alto Comando do Exército, em sua maioria, assim não quis. Há provas documentais da conspiração. Não há perdão possível para quem se lança em uma empreitada delinquente como essa. Se já era inaceitável falar em anistia para os que tramaram acintosamente contra a Constituição antes que esse suposto complô fosse revelado em contornos tão vívidos, espera-se que agora ninguém mais ouse condescender com quem, por meio da força bruta, tentou subverter a soberania da vontade popular.

Ficou claro a partir do relatório de indiciamento de Bolsonaro et caterva que a dicotomia entre legalidade e ilegalidade, natural para qualquer cidadão decente, jamais fez parte do léxico dos militares golpistas. Para essa turma, imperava uma mentalidade absolutamente distorcida que opõe “moralidade” à “imoralidade”, sendo “imoral”, para essa súcia de sediciosos, dar posse ao “vagabundo”, como se referiu ao presidente Lula da Silva o general reformado Mário Fernandes, preso no dia 19 passado por suspeita de ter tramado o seu assassinato com outros “kids pretos”, como são conhecidos os militares das Forças Especiais do Exército.

O indiciamento pela PF é apenas o primeiro passo para que o golpismo que grassou neste país com espantosa naturalidade tenha uma resposta institucional à altura da ameaça que representou. Fonte: https://www.estadao.com.br