MENSAGEM DO SANTO PADRE LEÃO XIV PARA O IX DIA MUNDIAL DOS POBRES
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XXXIII Domingo do Tempo Comum
16 de novembro de 2025

Tu és a minha esperança (cf. Sl 71,5)
- «Tu és a minha esperança, ó Senhor Deus» (Sl 71,5). Essas palavras emanam de um coração oprimido por graves dificuldades: «Fizeste-me sofrer grandes males e aflições mortais» (v. 20), diz o Salmista. Apesar disso, o seu espírito está aberto e confiante, porque firme na fé reconhece o amparo de Deus e o professa: «És o meu rochedo e a minha fortaleza» (v. 3). Daí deriva a confiança inabalável de que a esperança n’Ele não decepciona: «Em ti, Senhor, me refugio, jamais serei confundido» (v. 1).
No meio das provações da vida, a esperança é animada pela firme e encorajadora certeza do amor de Deus, derramado nos corações pelo Espírito Santo. Por isso, ela não decepciona (cf. Rm 5, 5) e São Paulo pode escrever a Timóteo: «Pois se nós trabalhamos e lutamos, é porque pomos a nossa esperança no Deus vivo» (1 Tm 4, 10). O Deus vivo é, verdadeiramente, o «Deus da esperança» (Rm 15, 13), que em Cristo, pela sua morte e ressurreição, se tornou a «nossa esperança» (1 Tm 1, 1). Não podemos esquecer que fomos salvos nesta esperança, na qual precisamos permanecer enraizados.
- O pobre pode tornar-se testemunha de uma esperança forte e confiável, precisamente porque professada numa condição de vida precária, feita de privações, fragilidade e marginalização. Ele não conta com as seguranças do poder e do ter; pelo contrário, sofre-as e, muitas vezes, é vítima delas. A sua esperança só pode repousar noutro lugar. Reconhecendo que Deus é a nossa primeira e única esperança, também nós fazemos a passagem entre as esperanças que passam e a esperança que permanece. As riquezas são relativizadas perante o desejo de ter Deus como companheiro de caminho porque se descobre o verdadeiro tesouro de que realmente precisamos. Ressoam claras e fortes as palavras com que o Senhor Jesus exortou os seus discípulos: «Não acumuleis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os corroem e os ladrões arrombam os muros, a fim de os roubar. Acumulai tesouros no Céu, onde a traça e a ferrugem não corroem e onde os ladrões não arrombam nem furtam» (Mt 6, 19-20).
- A pobreza mais grave é não conhecer a Deus. Recordou-nos isso o Papa Francisco quando escreveu na Evangelii gaudium: «A pior discriminação que sofrem os pobres é a falta de cuidado espiritual. A imensa maioria dos pobres possui uma especial abertura à fé; tem necessidade de Deus e não podemos deixar de lhe oferecer a sua amizade, a sua bênção, a sua Palavra, a celebração dos Sacramentos e a proposta dum caminho de crescimento e amadurecimento na fé» (n. 200). Há aqui uma consciência fundamental e totalmente original sobre como encontrar em Deus o próprio tesouro. Realmente, insiste o apóstolo João: «Se alguém disser: “Eu amo a Deus”, mas tiver ódio ao seu irmão, esse é um mentiroso; pois aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê» (1 Jo 4, 20).
É uma regra da fé e um segredo da esperança: embora importantes, todos os bens desta terra, as realidades materiais, os prazeres do mundo ou o bem-estar económico não são suficientes para fazer o coração feliz. Frequentemente, as riquezas iludem e conduzem a situações dramáticas de pobreza, sendo a primeira dessas ilusões pensar que não precisamos de Deus e conduzir a nossa vida independentemente d’Ele. Vêm-me à mente as palavras de Santo Agostinho: «Seja Deus todo motivo de presumires. Sente necessidade d’Ele para que Ele te cumule. Tudo o que possuíres fora d’Ele é imensamente vazio» (Enarr. in Ps. 85,3).
- A esperança cristã, à qual a Palavra de Deus remete, é certeza no caminho da vida, porque não depende da força humana, mas da promessa de Deus, que é sempre fiel. Por isso, desde os primórdios, os cristãos quiseram identificar a esperança com o símbolo da âncora, que oferece estabilidade e segurança. A esperança cristã é como uma âncora, que fixa o nosso coração na promessa do Senhor Jesus, que nos salvou com a sua morte e ressurreição e que retornará novamente no meio de nós. Esta esperança continua a indicar como verdadeiro horizonte da vida os «novos céus» e a «nova terra» (2 Pe 3, 13), onde a existência de todas as criaturas encontrará o seu sentido autêntico, visto que a nossa verdadeira pátria está nos céus (cf. Fl 3, 20).
Consequentemente, a cidade de Deus compromete-nos com as cidades dos homens, que, desde agora, devem começar a assemelhar-se àquela. A esperança, sustentada pelo amor de Deus derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo (cf. Rm 5, 5), transforma o coração humano em terra fértil, onde pode germinar a caridade para a vida do mundo. A Tradição da Igreja reafirma constantemente esta circularidade entre as três virtudes teologais: fé, esperança e caridade. A esperança nasce da fé, que a alimenta e sustenta, sobre o fundamento da caridade, que é a mãe de todas as virtudes. E precisamos de caridade hoje, agora. Não é uma promessa, mas uma realidade para a qual olhamos com alegria e responsabilidade: envolve-nos, orientando as nossas decisões para o bem comum. Em vez disso, quem carece de caridade não só carece de fé e esperança, mas tira a esperança ao seu próximo.
- O convite bíblico à esperança traz consigo o dever de assumir, sem demora, responsabilidades coerentes na história. Com efeito, a caridade é «o maior mandamento social» (Catecismo da Igreja Católica, 1889). A pobreza tem causas estruturais que devem ser enfrentadas e eliminadas. À medida que isso acontece, todos somos chamados a criar novos sinais de esperança que testemunhem a caridade cristã, como fizeram, em todas as épocas, muitos santos e santas. Os hospitais e as escolas, por exemplo, são instituições criadas para expressar o acolhimento aos mais fracos e marginalizados. Eles deveriam fazer parte das políticas públicas de todos os países, mas as guerras e as desigualdades frequentemente ainda o impedem. Hoje, cada vez mais, as casas-família, as comunidades para menores, os centros de acolhimento e escuta, as refeições para os pobres, os dormitórios e as escolas populares tornam-se sinais de esperança: são tantos sinais, muitas vezes ocultos, aos quais talvez não prestemos atenção, mas que são muito importantes para se desvencilhar da indiferença e provocar o empenho nas diversas formas de voluntariado!
Os pobres não são um passatempo para a Igreja, mas sim os irmãos e irmãs mais amados, porque cada um deles, com a sua existência e também com as palavras e a sabedoria que trazem consigo, levam-nos a tocar com as mãos a verdade do Evangelho. Por isso, o Dia Mundial dos Pobres pretende recordar às nossas comunidades que os pobres estão no centro de toda a ação pastoral. Não só na sua dimensão caritativa, mas igualmente naquilo que a Igreja celebra e anuncia. Através das suas vozes, das suas histórias, dos seus rostos, Deus assumiu a sua pobreza para nos tornar ricos. Todas as formas de pobreza, sem excluir nenhuma, são um apelo a viver concretamente o Evangelho e a oferecer sinais eficazes de esperança.
- Este é o convite que emerge da celebração do Jubileu. Não é por acaso que o Dia Mundial dos Pobres seja celebrado no final deste ano de graça. Quando a Porta Santa for fechada, deveremos conservar e transmitir os dons divinos que foram derramados nas nossas mãos ao longo de um ano inteiro de oração, conversão e testemunho. Os pobres não são objetos da nossa pastoral, mas sujeitos criativos que nos estimulam a encontrar sempre novas formas de viver o Evangelho hoje. Diante da sucessão de novas ondas de empobrecimento, corre-se o risco de se habituar e resignar-se. Todos os dias, encontramos pessoas pobres ou empobrecidas e, às vezes, pode acontecer que sejamos nós mesmos a possuir menos, a perder o que antes nos parecia seguro: uma casa, comida suficiente para o dia, acesso a cuidados de saúde, um bom nível de educação e informação, liberdade religiosa e de expressão.
Promovendo o bem comum, a nossa responsabilidade social tem o seu fundamento no gesto criador de Deus, que dá a todos os bens da terra: assim como estes, também os frutos do trabalho do homem devem ser igualmente acessíveis. Com efeito, ajudar os pobres é uma questão de justiça, muito antes de ser uma questão de caridade. Como observa Santo Agostinho: «Damos pão a quem tem fome, mas seria muito melhor que ninguém passasse fome e não precisássemos ser generosos para com ninguém. Damos roupas a quem está nu, mas Deus queira que todos estejam vestidos e que ninguém passe necessidades sobre isto» (Comentário à 1 Jo, VIII, 5).
Desejo, portanto, que este Ano Jubilar possa incentivar o desenvolvimento de políticas de combate às antigas e novas formas de pobreza, além de novas iniciativas de apoio e ajuda aos mais pobres entre os pobres. Trabalho, educação, habitação e saúde são condições para uma segurança que jamais se alcançará com armas. Congratulo-me com as iniciativas já existentes e com o empenho que é manifestado diariamente a nível internacional por um grande número de homens e mulheres de boa vontade.
Confiemos em Maria Santíssima, Consoladora dos aflitos, e com Ela entoemos um canto de esperança, fazendo nossas as palavras do Te Deum: «In Te, Domine, speravi, non confundar in aeternum – Em Vós espero, Meu Deus, não serei confundido eternamente».
Vaticano, 13 de junho de 2025, memória de Santo António de Lisboa, Patrono dos pobres
LEÃO PP. XIV
Fonte: https://www.vatican.va
Quinta-feira, 13 de novembro-2025. 32º Domingo do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Deus de poder e misericórdia, afastai de nós todo obstáculo para que, inteiramente disponíveis, nos dediquemos ao vosso serviço. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 17, 20-25)
Naquele tempo, 20Os fariseus perguntaram um dia a Jesus quando viria o Reino de Deus. Respondeu-lhes: O Reino de Deus não virá de um modo ostensivo. 21Nem se dirá: Ei-lo aqui; ou: Ei-lo ali. Pois o Reino de Deus já está no meio de vós. 22Mais tarde ele explicou aos discípulos: Virão dias em que desejareis ver um só dia o Filho do Homem, e não o vereis. 23Então vos dirão: Ei-lo aqui; e: Ei-lo ali. Não deveis sair nem os seguir. 24Pois como o relâmpago, reluzindo numa extremidade do céu, brilha até a outra, assim será com o Filho do Homem no seu dia. 25É necessário, porém, que primeiro ele sofra muito e seja rejeitado por esta geração. - Palavra da salvação.
3) Reflexão
O evangelho de hoje traz uma discussão entre Jesus e os fariseus sobre o momento da vinda do Reino. Os evangelhos de hoje e dos próximos dias tratam da chegada do fim dos tempos.
Lucas 17,20-21: O Reino no meio de nós
“Os fariseus perguntaram a Jesus sobre o momento em que chegaria o Reino de Deus. Jesus respondeu: "O Reino de Deus não vem ostensivamente. Nem se poderá dizer: Está aqui ou: está ali, porque o Reino de Deus está no meio de vocês". Os fariseus achavam que o Reino só poderia vir depois que povo tivesse chegado à perfeita observância da Lei de Deus. Para eles, a vinda do Reino seria a recompensa de Deus pelo bom comportamento do povo, e o messias viria de maneira bem solene como um rei, recebido pelo seu povo. Jesus diz o contrário. A chegada do Reino não pode ser observada como se observa a chegada dos reis da terra. Para Jesus, o Reino de Deus já chegou! Já está no meio de nós, independente do nosso esforço ou mérito. Jesus tem outro modo de ver as coisas. Tem outro olhar para ler a vida. Ele prefere o samaritano que vive na gratidão aos nove que acham que merecem o bem que recebem de Deus (Lc 17,17-19).
Lucas 17,22-24: Sinais para reconhecer a vinda do Filho do Homem
"Chegarão dias em que vocês desejarão ver um só dia do Filho do Homem, e não poderão ver. Dirão a vocês: 'Ele está ali' ou: 'Ele está aqui'. Não saiam para procurá-lo. Pois como o relâmpago brilha de um lado a outro do céu, assim também será o Filho do Homem”. Nesta afirmação de Jesus existem elementos que vem da visão apocalíptica da história, muito comum nos séculos antes e depois de Jesus. A visão apocalíptica da história tem a seguinte característica. Em épocas de grande perseguição e de opressão, os pobres têm a impressão de que Deus perdeu o controle da história. Eles se sentem perdidos, sem horizonte e sem esperança de libertação. Nestes momentos de aparente ausência de Deus, a profecia assume a forma de apocalipse. Os apocalípticos, procuram iluminar a situação desesperadora com a luz da fé para ajudar o povo a não perder a esperança e para continuar com coragem na caminhada. Para mostrar que Deus não perdeu o controle da história, eles descrevem as várias etapas da realização do projeto de Deus através da história. Iniciado num determinado momento significativo no passado, este projeto de Deus avança, etapa após etapa, através da situação presente vivida pelos pobres, até à vitória final no fim da história. Deste modo, os apocalípticos situam o momento presente como uma etapa já prevista dentro do conjunto mais amplo do projeto de Deus. Geralmente, a última etapa antes da chegada do fim costuma ser apresentada como um momento de sofrimento e de crise, do qual muitos tentam se aproveitar para iludir o povo dizendo: “Ele está ali' ou: 'Ele está aqui'. Não saiam para procurá-lo. Pois como o relâmpago brilha de um lado a outro do céu, assim também será o Filho do Homem” Tendo olhar de fé que Jesus comunica, os pobres vão poder perceber que o reino já está no meio deles (Lc 17,21), como relâmpago, sem sombra de dúvida. A vinda do Reino traz consigo sua própria evidência e não depende dos palpites e prognósticos dos outros.
Lucas 17,25: Pela Cruz até à Glória
“Antes, porém, ele deverá sofrer muito e ser rejeitado por esta geração”. Sempre a mesma advertência: a Cruz, escândalo para judeus e loucura para os gregos, mas para nós expressão da sabedoria e do poder de Deus (1Cor 1,18.23). O caminho para a Glória passa pela cruz. A vida de Jesus é o nosso cânon, é a norma canônica para todos nós.
4) Para um confronto pessoal
1) Jesus diz: “O reino está no meio de vós!” Você já encontrou algum sinal da presença do Reino em sua vida, na vida do seu povo ou na vida da sua comunidade?
2) A cruz na vida. O sofrimento. Como você vê o sofrimento, o que faz com ele?
5) Oração final
O Senhor é fiel para sempre, faz justiça aos oprimidos, dá alimento a quem tem fome. O Senhor livra os prisioneiros. (Sl 145, 6b-7)
Por que o Vaticano nega supostas aparições de Jesus na França: ‘Parece enganoso’
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Nova instrução aprovada pelo papa Leão XIV afirma que o conteúdo das supostas mensagens levanta ‘questões teológicas delicadas que merecem esclarecimento’
Papa Leão XIV durante audiência na Praça de São Pedro, no Vaticano. Foto: ALBERTO PIZZOLI/AFP
O Vaticano publicou na última terça-feira, 3, uma carta ao bispo de Bayeux-Lisieux, na França, na qual o Dicastério para a Doutrina da Fé considera definitivamente “não sobrenatural” o fenômeno envolvendo as supostas aparições de Jesus na cidade de Dozulé, ligadas à figura de Madeleine Aumont.
A nova instrução aprovada pelo papa Leão XIV afirma que Jesus pode responder a orações, mas não fez aparições na região. “Parece enganoso, tanto do ponto de vista teológico quanto pastoral-simbólico, comparar a “Cruz Gloriosa” de Dozulé com a de Jerusalém”, diz o texto assinado por dom Víctor Manuel Fernández.
As aparições teriam ocorrido entre 1972 e 1978, segundo Madeleine. A mensagem principal incluiria o pedido de construir uma cruz luminosa, com 738 metros de altura. Segundo o texto publicado, “o conteúdo das supostas mensagens, embora contenha exortações à conversão, à penitência e à contemplação da Cruz, levanta algumas questões teológicas delicadas que merecem esclarecimento, para que a fé dos fiéis não seja exposta ao risco de distorções”.
A carta afirma que “qualquer outro sinal, por mais devoto ou monumental que seja, não pode ser colocado no mesmo plano”.
O Dicastério reforçou ainda que, embora a veneração da cruz seja legítima e importante como “meio de conversão” e aprofundamento da fé, ela não deve apoiar-se em aparições privadas que assumam “autoridade sobrenatural” sem o adequado discernimento eclesial.
Na última semana, o Vaticano instruiu os católicos do mundo a não se referirem a Maria como “corredentora”. Segundo o decreto, a Igreja reconhece que Maria “cooperou” na obra redentora de Cristo, mas não atuou como uma mediadora.
O decreto apontou que o título de “corredentora” carrega um risco de “obscurecer a única mediação salvífica de Cristo”, podendo causar “confusão e desequilíbrio na harmonia das verdades da fé cristã”. Fonte: https://www.estadao.com.br
O ‘Agente Secreto’ secreta a gente
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Vá ao cinema. Você vai ver um Pernambuco como não imaginava ser possível, durante um horror difícil de conceber, numa obra sem paralelos
Por Eugênio Bucci
A viatura da polícia sai da estrada perrengue e passa a rodar no chão sem calçamento, para contornar o posto de gasolina que é uma biboca, um desterro. Estamos no meio do nada, sob o sol esturricante. Na bomba de gasolina, um Fusca amarelo acaba de ser abastecido. O motorista, camisa branca de manga curta, bem abotoada, tinha ordenado ao frentista barrigudo e suarento: “Pode completar”. Metros adiante, sobre a areia empedrada, um cadáver de pernas abertas, coberto por um papelão, atrai moscas sem rumo e cães sem dono. Fora isso, fede, empesteia o agreste. O ano é 1977. O lugar é Pernambuco.
A radiopatrulha estaciona. Descem dois agentes da lei. Óculos escuros. Nenhum deles dá a mínima para o defunto. O objetivo é outro. O sargento vai até o Fusca, pede a habilitação do moço e começa a implicar. Pergunta do extintor. Avisa que terá de entrar no carro para inspecionar alguma coisa lá dentro. Vai achacar. O tempo se arrasta, morno e seco. A fedentina avança. Quando o sargento fica de costas para a câmera, podemos observar que o cinto de couro escuro foi afivelado às pressas, estirado por cima de um ou dois dos passadores da calça cáqui.
Assim começa O Agente Secreto, o novo filme de Kleber Mendonça Filho, que estreou faz uma semana. Como o cinturão do sargento, o roteiro nem sempre se acomoda bonitinho sob todos os passadores: não cumpre o itinerário protocolar e não obedece às fórmulas narrativas do cinemão comercial. Aqui e ali, passa por fora, deriva, desvia, suprime escalas. Nem tudo é explicado didaticamente, mas tudo flui magistralmente. Você não vai desgrudar o olho da tela. Sua respiração vai ficar presa numa passagem. Seu espírito vai se enternecer na outra. Vá ao cinema. Você será recompensado com uma das maiores proezas do cinema brasileiro, ganhadora dos prêmios de Melhor Diretor e Melhor Ator no Festival de Cannes de 2025.
Os passadores da calça que são deixados por debaixo do cinto, tanto no figurino quanto na trama, não atrapalham, até ajudam. Mais ainda: são necessários. As explicações que ficam para depois acentuam o fio do sentido. A aventura (ou a desventura) é tão bem montada que chega a hipnotizar.
O filme narra a luta de um sujeito (ele mesmo, o motorista do Fusca amarelo) para escapar de uma sentença de morte e fugir do Brasil com o seu filho ainda criança. A mãe do menino está morta. Como foi exatamente que ela morreu, disso a plateia não fica sabendo. Não importa. O protagonista será apoiado por uma senhora rica que pretende salvar-lhe a pele. De onde surgiu a benfeitora? Também não importa.
A vida era irrazoável naqueles tempos de arbítrio. Era uma vida de sombras e omissões. O que menos importava era a congruência. Os esquadrões da morte se misturavam com os destacamentos policiais. Uns e outros faziam “passeios” noturnos em camburões opacos para espancar ou apagar prisioneiros indefesos. O crime e as forças de segurança pública se mesclavam, enquanto a repressão política apadrinhava a corrupção empresarial. Economia estatizada, Estado privatizado. O meganha aparecia na sua frente e tudo o que você queria era chamar um ladrão, mas o ladrão era parte do regime. Os fatos não tinham explicações públicas nem justificativas compreensíveis.
Um acontecimento fatal podia muito bem brotar de uma parede e sumir pela outra, numa noite sem brisa e sem salvação. Era um mundo assombrado, fantasmagórico e endemoniado como um inferno – ou como uma câmara de tortura.
Não surpreende, portanto, que o filme de Kleber Mendonça Filho alcance seu apuro plástico justamente ao jogar com vazios, com elipses tão gritantes quanto as imagens esmeradas e chocantes. Alegorias fantásticas evoluem uma ambiência de realismo mágico. Tiradas surrealistas – como as notícias jornalísticas da “perna cabeluda” açoitando os homossexuais que se beijam na praça durante a madrugada – dialogam com cenas de uma carga erótica espantosa.
Como bem anotou José Geraldo Couto no portal do IMS, O Agente Secreto tem um andamento de thriller político com elementos de gêneros díspares que vão “da comédia de erros ao terror gore (sangue e vísceras), passando pela crônica social e pelo drama familiar”. Tudo isso sem saltos de estilo, sem ranhuras, sem emendas perceptíveis. O efeito final é de uma integridade artística de rara coesão.
Entre outros acertos, o longa-metragem de quase três horas de duração tem a virtude estética e ética de não ter feito concessões de formato. Os tipos humanos são únicos: não se parecem com nada além de si mesmos e não reproduzem padrões industriais de beleza. O que se vê na tela não presta reverência a nenhuma gramática, a não ser aquela que já estava nos filmes anteriores do diretor (muito bons). O modo de encadear o enredo (a voz fílmica que conta a história) tem uma personalidade que não hesita um segundo.
Repito: vá ao cinema. Você vai ver um Pernambuco como não imaginava ser possível, durante um horror difícil de conceber, numa obra sem paralelos, que desconcerta, desnorteia, encanta e sintetiza o que fomos e ainda somos. Fonte: https://www.estadao.com.br
"Vitima de Depressão" Nota de falecimento do Padre Claudiano Quirino
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O Padre Claudiano Quirino, da Paróquia São Bernardo, em Baldim, Minas Gerais, foi encontrado enforcado na casa paroquial.
Os fiéis estavam na igreja a espera da missa das 19 horas. Com o atraso, alguns foram até a casa paroquial e o encontraram enforcado, dependurado por uma corda enforcado.
A polícia investiga.
A comunidade católica de Sete Lagoas (MG) se reúne nesta segunda-feira (10) para a despedida do Padre Claudiano Quirino, sacerdote da Diocese de Sete Lagoas, que faleceu neste sábado (08) em Baldim, onde atuava como pároco da Paróquia São Bernardo.
O corpo do religioso foi inicialmente velado na igreja onde exercia seu ministério, em Baldim, com celebração exequial presidida por padres da diocese e participação expressiva de fiéis locais. Em seguida, o corpo foi trasladado para Sete Lagoas, onde continua sendo velado na Paróquia do Divino Espírito Santo, localizada no bairro Montreal.
Uma nova celebração exequial está sendo realizada no local, reunindo sacerdotes, autoridades religiosas e civis, além de dezenas de fiéis que foram prestar suas últimas homenagens ao padre, conhecido por sua dedicação pastoral e simplicidade no convívio com a comunidade.
Após as celebrações, o sepultamento ocorrerá no Cemitério Parque Boa Vista, em Sete Lagoas.
Em nota oficial, a Diocese de Sete Lagoas destacou a importância da trajetória de Padre Claudiano e pediu orações pelo descanso eterno de sua alma:
“Roguemos a Deus que conceda ao Padre Claudiano o repouso eterno e conforte com sua graça todos os que sofrem sua partida.”
A morte do padre gerou grande comoção entre os fiéis e nas redes sociais, onde diversas mensagens de despedida e gratidão vêm sendo publicadas desde o anúncio de seu falecimento.
Fonte: https://www.noticiasguariba.com.br
Cardeal Tempesta: somos chamados a superar o ódio, a vingança e a indiferença
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O arcebispo do Rio de Janeiro, cardeal Orani João Tempesta emitiu uma nota sobre os últimos acontecimentos na capital fluminense. “Diante dessa dolorosa realidade, como Pastor desta Igreja, não posso deixar de expressar minha dor por tanto sofrimento e de reafirmar que a vida e a dignidade humana são valores absolutos”.

Silvonei José – Vatican News
Um fato sem precedentes sacudiu nesta terça-feira a cidade do Rio de Janeiro. Uma grande operação envolvendo todas as forças de segurança do Rio de Janeiro prendeu mais de 80 suspeitos de integrar o CV (Comando Vermelho) e resultou na morte de ao menos 64 pessoas.
As pessoas foram mortas durante ação realizada nos complexos do Alemão e da Penha, sendo quatro policiais (dois militares e dois civis), segundo a Polícia Civil. De acordo com informações da imprensa local, outras nove pessoas foram baleadas, sendo três moradores e seis agentes, quatro civis e dois militares. Entre os mortos, estão lideranças da facção em outros estados que estavam refugiados na região.
Ação mobilizou 2.500 policiais militares e civis para cumprir mandados de busca e apreensão nos dois Complexos na capital fluminense. A ação - segunda a imprensa - é resultado de um ano de investigação envolvendo, também, o Ministério Público do Rio de Janeiro na tentativa de atingir lideranças do CV.
O arcebispo do Rio de Janeiro, cardeal Orani João Tempesta emitiu uma nota sobre o que ocorreu. Eis a íntegra da mesma:
“Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9)
Amados irmãos e irmãs em Cristo,
Hoje vivemos um dia muito difícil no Rio de Janeiro. Com profundo pesar, acompanhamos os trágicos acontecimentos deste dia, em que tantas vidas foram ceifadas. A violência e o medo têm ferido o coração da nossa cidade e tirado a paz de muitos lares. Diante dessa dolorosa realidade, como Pastor desta Igreja, não posso deixar de expressar minha dor por tanto sofrimento e de reafirmar que a vida e a dignidade humana são valores absolutos. A vida humana é dom sagrado de Deus e deve ser sempre defendida e preservada.
Quero elevar minhas preces e minha profunda solidariedade às famílias que choram a perda de seus entes queridos. Que Cristo, o Príncipe da Paz, envolva cada coração ferido com Sua ternura, restaure a esperança e faça brotar, mesmo entre as lágrimas, a certeza de que o amor é mais forte do que a morte. Que Ele transforme a dor em fé e a saudade em semente de vida nova.
Somos chamados, como discípulos de Cristo, a ser construtores da paz, a superar o ódio, a vingança e a indiferença que corroem o tecido social. É urgente que unamos nossas forças pela reconciliação, pelo respeito mútuo e, sobretudo, pela proteção da vida, pela promoção da justiça e pela construção de uma sociedade pacífica, que promova a dignidade de cada pessoa, especialmente dos mais pobres e vulneráveis.
Mesmo diante do caos, creio firmemente que o amor e o bem são mais fortes que qualquer violência. Peço a cada um que seja instrumento dessa paz. Não podemos alimentar o ódio, nem responder com indiferença. O Rio de Janeiro nasceu com vocação para a alegria e a acolhida. Que, com fé e perseverança, possamos devolver à nossa cidade o brilho da paz e a força da fraternidade. E, como diz o hino da nossa cidade: “Que Deus te cubra de felicidade — Ninho de sonho e de luz.”
Convido a todos a permanecerem firmes na oração e na construção da paz. Que nossas palavras e atitudes sejam sementes de reconciliação, e que cada gesto de amor seja um passo rumo a uma cidade mais fraterna e justa. Que o Senhor da vida converta nossos corações, cure as feridas da violência e nos faça instrumentos de Sua PAZ. Que Maria, Rainha da Paz, interceda por nossa cidade, por nossas autoridades e por todas as famílias atingidas pela tragédia de hoje.
Invoco, sobre todos, a bênção de Deus, sinal de esperança e consolo neste momento de dor.
Orani João Cardeal Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro
Fonte: https://www.vaticannews.va
Congresso Carmelita- Apontamentos da Conferência da Teresa Matos de Sousa
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1º - Congresso da Família Carmelitana do Brasil. 2-3 de agosto 2025, Aparecida, São Paulo.
Apontamentos da Conferência da Teresa Matos de Sousa, irmã do Sodalício da Vila Kosmos- Vicente de Carvalho/RJ. Tema: Rumo ao Monte Carmelo em Comunidade: Um olhar para a vida fraterna na Espiritualidade da Ordem Terceira do Carmo.
“O Carmelita que não ora é falso Carmelita”.
“A contemplação tem que me levar ao encontro do próximo”.
“Na contemplação eu encontro o meu próximo”.
“Se a contemplação não me leva ao encontro do irmão, isso não é contemplação”
“O Carmelita tem que juntar, não separar”
“O amor ao próximo é um caminho que nos ajuda a encontrar Deus”.
“Se você deixar o Espírito Santo agir na vida, você faz coisa que até você dúvida e se pergunta: Será que fui eu mesmo que fiz isso”?
“Se a Palavra de Deus não me faz uma pessoa melhor, essa Palavra é nula”.
“A Eucaristia tem que ser constante, se ela for diária, Graças a Deus”.
“A oração sai e vai ao encontro do nosso próximo, ela não é estática”.
“Não é possível sermos orantes e contemplativos sem ficarmos sensíveis as pessoas”.
“Na vida muitas vezes temos que engolir as desavenças da vida e depois de engolir aproveita e faz uma oração”.
“Se os nossos filhos se tornassem carmelitas não ficaríamos preocupados com o futuro do nosso Sodalício”.
“Não somos carmelitas apenas na Igreja, nas reuniões ou nos congressos. Em casa temos que provar a nossa carmelitíssima”.
Por que o Brasil está perdendo padres?
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Secularização, celibato e descrédito institucional explicam desinteresse pelas vocações religiosas no País, segundo especialistas
Por Edison Veiga e José Maria Tomazela
Há uma queda no número de padres no Brasil, tendência que ecoa o que ocorre em boa parte do mundo, incluindo a América Latina, onde o papa Leão XIV passou três décadas anos da sua vida religiosa (no Peru). Segundo especialistas, a perda do interesse pelas vocações sacerdotais será um dos desafios do novo pontífice.
Maior país católico do mundo em termos absolutos, o Brasil tem um número de padres proporcionalmente baixo se comparado à Itália, coração tradicional do catolicismo. Conforme os dados da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), são 22,1 mil religiosos ordenados no País — um para cada 9,5 mil brasileiros. Na Itália, a cada mil habitantes, há um padre.
O cenário é de queda. Em 1970, eram 13 mil sacerdotes, mas uma população de pouco mais de 93 milhões. Cada padre, portanto, tinha potencialmente 7,1 mil fiéis para atender. Em 2010, eram 22 mil padres — pela população à época, cada um dava conta de 8,7 mil brasileiros.
“Isso se deve principalmente à crescente secularização (desinteresse geral pelas religiões) e à ideia, hoje amplamente aceita, de que é possível viver uma vida santa como leigo”, disse ao Estadão o padre jesuíta americano James Martin, consultor do Vaticano.
O historiador e teólogo Gerson Leite de Moraes vê a tendência como um problema a ser enfrentado pelas religiões no mundo contemporâneo, processo que avança gradualmente desde o Iluminismo.
Ou seja: a Igreja enfrenta um cenário que combina desinteresse com descrédito.
“Existem lugares onde a Igreja perdeu espaço ou o cristianismo católico é pouco efetivo. Há menos padres do que a Igreja gostaria para o trabalho de evangelização”, analisa Moraes, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Também afastam os jovens os escândalos de abusos sexuais no clero, seguidos de denúncias de omissão nos níveis mais altos da hierarquia. Segundo o padre Eliomar Ribeiro, diretor nacional da Rede Mundial de Oração do Papa e do Movimento Eucarístico Jovem, essa é uma “preocupação da Igreja”.
Ribeiro diz ainda que Francisco cobrava “que fossem levados a Roma os casos, sobretudo os ligados à pedofilia, e que os bispos não negligenciassem a questão em suas dioceses.”
Leão XIV já disse que o “silêncio não é a resposta” para esses casos e defendeu transparência e sinceridade para lidar com esse problema. Ele, porém, já foi acusado de omissão sobre denúncias do tipo na Diocese de Chiclayo, onde atuou, pela Rede de Sobreviventes de Abusos por Padres (Snap). Tanto a conferência dos bispos peruana quanto a diocese negam que houve negligência e dizem ter investigado os casos.
Por fim, há a questão do celibato obrigatório, “definitivamente um obstáculo para muitos homens que desejariam entrar no sacerdócio”, afirma padre Martin.
O papa Francisco permitiu, em 2014, que as igrejas de rito oriental tivessem padres casados no Ocidente. Trata-se de uma tradição que sempre existiu nos territórios de origem dessas igrejas. Ainda não se sabe se o papa Leão XIV fará mais mudanças em relação ao celibato de sacerdotes.
O padre Ribeiro, também diretor geral da Edições Loyola, ainda atribui a crise à diminuição do número e de filhos nas “famílias católicas”. Para ele, o ideal seria um sacerdote para cada 5 mil pessoas.
Escassez de seminaristas
Conforme o Anuário Pontifício, publicado em março pela Igreja, o número global de seminaristas caiu de aproximadamente 108 mil para pouco mais de 106 mil de 2022 para 2023, último ano registrado pelas estatísticas oficiais.
Em todo o planeta, há 407 mil padres, distribuídos em 3.041 circunscrições. A queda global é de 0,2% ao ano. A Igreja cresce na África e na Ásia e diminui no resto do planeta, com destaque para a Europa — recuo anual de 1,6%.
Padre Martin acredita que essas diferenças regionais possam ser explicadas porque algumas áreas experimentam “maior secularização” e “em comparação a outras. E há “lugares onde os abusos sexuais foram mais generalizados”, deixando a instituição em maior descrédito social.
Os europeus ainda são maioria dos sacerdotes do mundo. As maiores demandas estão nas seguintes regiões:
Europa: 38,1% do total, onde há 20,4% dos católicos
América do Sul: 12,4%, onde há 27,4% de católicos
África: 13,5%, onde há 20% dos católicos
América Central: 5,4%, onde há 11,6% dos católicos
Desejo de formar família dificulta formação
A vida solitária e o desejo de constituir família dificultam a formação de novos padres, segundo o ex-seminarista Mário Hugo Furlan, de 43 anos. Ele cita ainda a necessidade de renunciar às facilidades da vida comum, como o celular.
Após sete anos de estudo em um seminário de frades franciscanos da Ordem dos Capuchinhos Menores, Furlan abriu mão da vocação sacerdotal. Morador de Santa Bárbara d’Oeste (SP), ele hoje é casado e pai de um menino de 10 anos.
Optou pelo seminário motivado pela vida religiosa que levava com a família, especialmente os avós, indo a missas e participando de ações pastorais. Mas foi uma mudança drástica para o então jovem de 19 anos.
“No seminário, você vai contra as facilidades que o mundo oferece. É como estar no mundo, mas fora dele. Vive a realidade que todos vivem e tem de ser um sinal de luz, dedicação diária ao estudo, reflexão, muita oração e jejum.”
Os religiosos franciscanos e os agostinianos, como o papa Leão XIV, fazem votos de pobreza, castidade e obediência. Isso faz com que o acesso a tecnologias seja restrito. “A exigência de renunciar a celular e computador, entrando agora na inteligência artificial, é outro agravante que impede muitos seminaristas de chegarem ao final e serem ordenados”, diz.
A renúncia ao chamado para ser padre foi refletida por um ano. “Observava que a vida religiosa, solitária, embora comunitária, não fazia mais sentido para mim do ponto de vista existencial. Analisei que, constituindo família, seria mais realizado. Tive a ajuda dos freis para resolver esses questionamentos e deixei o seminário.”
Pesou também o fato de seu pai ter morrido na época. “Mexeu muito comigo e reforçou o desejo de constituir família. Hoje considero que foi a melhor decisão.”
Furlan conta que o aprendizado com os frades, de cuidados com o próximo e a natureza, será levado para a vida toda. “Ter sido religioso franciscano capuchinho por sete anos foi gratificante. Minha formação humana e científica me deu bagagem enorme.”
Mário cursou Engenharia de Produção e trabalha como líder de produção em uma indústria metalúrgica. Também é professor tutor em uma faculdade no interior.
Na periferia, padre mais distante impulsiona evangélicos
Católica e coordenadora do União dos Movimentos de Moradia de São Paulo, Sheila Cristiane Nobre atua em mais de dez comunidades no extremo sul da capital e na maioria delas não existe Igreja Católica. “Para ir à missa, confessar, comungar, os fiéis precisam pegar condução e muitas vezes não têm dinheiro”, reclama.
“Antigamente o padre era pessoa do povo. Hoje não é fácil o acesso, a gente sente falta. Nos locais em que piso, a maioria não tem Igreja Católica e a gente vai perdendo vez para as evangélicas, que vão ocupando espaço dentro da favela”, diz ela, de 49 anos, que faz trabalhas em regiões como Parelheiros e Grajaú.
O Brasil tinha, em 2019, cerca de 109,5 mil igrejas evangélicas de diversas denominações, ante cerca de 20 mil em 2015. O predomínio é das pentecostais (48.781 templos).
É superimportante que a Santa Igreja Católica adote medidas para voltar a ocupar espaço nas periferias. Senão daqui a pouco vai virar religião de nicho, perdendo cada vez mais espaço para esse pessoa. Fonte: https://www.estadao.com.br
Vai com Deus Chico.
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Vai com Deus Chico!
Frei Petrônio de Miranda, O. Carm. Padre Carmelita e Jornalista da Ordem do Carmo.
Comunidade Carmelitana da Vila Kosmos- Vicente de Carvalho- Rio de Janeiro.
Segunda-feira, 21 de abril- 2025. www.instagram.com/freipetronio
Vai com Deus Chico! Ele esteve do teu lado nas noites escuras e dor, em favor dos Migrantes e das vítimas das Guerras e Ditaduras.
Vai com Deus Chico! Ele estive do teu lado na luta incansável pelo planeta através dos Documentos Laudato Si e Laudate Deum- A nossa casa em Comum.
Vai com Deus Chico! Ele te inspirou na defesa de uma Igreja “hospital de campanha, não um posto alfandegário", onde os pobres- indígenas, quilombolas e famílias em situação de vulnerabilidade- fossem amados e os idosos fossem amparados.
Vai com Deus Chico! Tu nos ensinaste a sermos sacerdotes com os pés no chão e sem “renda da vovó”, mas apaixonados pelo Evangelho em uma Igreja Sinodal e Peregrinos de Esperança.
Vai com Deus Chico! No Documento Gaudete et exsultate, indicastes o caminho da santidade para o povo de Deus, e não apenas para um grupo seleto atrás dos muros Monásticos, Conventuais e Seminarísticos.
Vai com Deus Chico! Apontaste para os jovens os novos areópagos da Evangelização das Mídias Sociais e da Inteligência Artificial.
Vai com Deus Chico! Tu olhaste para o ser humano e não para opções sexuais, porque a Igreja é de todos, DE TODOS! DE TODOS! Papa Francisco, vai com Deus Chico!
Bispa de Washington que peitou Trump fala em honrar quem pensa diferente
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Reverenda Mariann Budde diz à Folha que nacionalismo cristão distorce ensinamentos de Jesus e lança livro no Brasil
A reverenda Mariann Edgar Budde e o presidente Donald Trump, em janeiro - Kevin Lamarque/REUTERS
São Paulo
A reverenda Mariann Edgar Budde começou a escrever "Como Aprendemos a Ser Corajosos", livro que lança nesta segunda-feira (31) no Brasil, quando foi sua vez de absorver essa lição.
Em 2020, ela teve o que define como seu primeiro grande ato de coragem. Donald Trump, no fim do seu primeiro mandato, posou com uma Bíblia em frente à sua igreja. Budde criticou o "uso de símbolos sagrados" com propósitos políticos. Na mesma praça em Washington, a polícia havia desmantelado um protesto contra a morte de George Floyd, homem negro morto por um agente branco semanas antes.
Em 2025, num culto com presença de Trump, recém-empossado para sua segunda rodada como presidente dos Estados Unidos, a reverenda pediu ao convidado "misericórdia das pessoas em nosso país que estão assustadas agora". Fez menções a imigrantes e à comunidade LGBTQIA+.
Trump disse depois que aquele "não foi um bom culto".
Em entrevista à Folha, a bispa episcopal de Washington reconhece o avanço do nacionalismo cristão, "uma distorção da mensagem cristã", e enxerga falhas no campo democrata, visto com suspeita por muitos americanos que se sentiram escanteados pela elite intelectual.
É preciso estender a mão a quem pensa diferente, insiste Budde. "Eu preciso honrar [essas pessoas] e tratá-las com dignidade, mesmo que não concorde com elas. E tentar ver se podemos criar uma sociedade em que possamos ter conversas sem transformar as pessoas que discordam de nós em monstros."
Como a sra. relaciona sua fé com a decisão de confrontar Trump?
Não sei se eu diria que o confrontei. Falei com ele no contexto do sermão, que foi sobre unidade. Não estou certa de que ele absorveu a mensagem. Mas quis trazê-la como uma lembrança de que a misericórdia é algo do qual todos precisamos.
Alguns evangélicos diriam que a compaixão não tem sido muito mainstream em boa parte do cristianismo dos EUA e também do Brasil. Concorda?
Há uma interpretação da cristandade que não tem tanto a ver com os ensinamentos de Jesus. Dizer que é cristão expulsar pessoas que são diferentes ou tratar os que são estrangeiros tão mal é o contrário do que Jesus ensinou.
Não sou uma seguidora perfeita dos ensinamentos de Jesus, mas acho importante ser clara sobre como ele nos encorajou a nos tratarmos de forma digna, com paciência e amizade. Isso não significa que não temos leis e que as pessoas não precisam segui-las. Mas que podemos partir de uma posição um pouco mais gentil do que o que estamos experimentando agora com líderes cristãos mais influentes no governo.
Por que o nacionalismo cristão cresce tanto nos EUA?
O alinhamento de religião e poder político é tão antigo quanto a humanidade. Mas nós estamos testemunhando o crescimento disso por muitas razões. Muitas pessoas têm medo das mudanças que veem na sociedade.
Também acho que é um movimento financiado por mídias sociais que beneficiam certos grupos sociais. É uma distorção da mensagem cristã com um grande apelo para muitos que se consideram cristãos.
O que move esse lobby cristão a que a sra. se refere?
Dinheiro, poder, influência. A capacidade de elaborar leis percebidas como parte de uma agenda social cristã, para proteger certos grupos de pessoas.
Há uma crença forte, que volta à nossa fundação, de que há um plano particular de Deus para os EUA, mas essa sociedade é tipicamente definida como branca, com compreensões muito restritivas sobre o papel das mulheres e a natureza da família. [Essa visão] não fala para o bem de todos e para o tipo de sociedade multicultural que somos. E certamente não mantém os valores do evangelho cristão. Isso não é o que Cristo ensinou.
Como falar com esse EUA que a sra. apresenta?
Quero entender e conversar com as pessoas que têm essa visão. Preciso honrá-las e tratá-las com dignidade, mesmo que não concorde com elas. E tentar ver se podemos criar uma sociedade em que possamos ter conversas sobre essas coisas sem transformar as pessoas que discordam de nós em monstros e, portanto, deslegitimá-las como parte do diálogo.
O que aprendeu até agora com essas conversas?
As pessoas estão apoiando o presidente e sua agenda por muitas razões diferentes. Muitas estão preocupadas com o futuro financeiro, o aumento da imigração e a nossa capacidade de absorver tantos que querem vir para esse país. Há muito medo, e esses movimentos [nacionalistas cristãos] são construídos em cima do medo.
Vê uma forma de recolocar a misericórdia no centro no cristianismo americano?
Claro que sim. Não sei como... Mas, mesmo se eu não fosse bem-sucedida, eu ainda assim tentaria. E não estou dizendo que não há misericórdia entre os nacionalistas cristãos, mas ela é reservada para um grupo específico de pessoas.
No Brasil, fala-se sobre como a esquerda deixou de representar alguns grupos sociais. Isso acontece nos EUA?
Com certeza. Política e socialmente. Há suspeitas profundas em relação às classes educadas, com diplomas universitários e que vivem principalmente na costa leste ou oeste [como Nova York e Califórnia]. Há uma sensação de que muitos americanos se sentiam como se fossem menos valorizados, que seus empregos não eram importantes, que suas visões sobre como educar seus filhos estavam sendo desreguladas.
Esse descontentamento foi construído e encorajado. Temos um pouco de trabalho a fazer para reconstruir o tecido da nossa sociedade.
O que a Bíblia diz sobre imigrantes?
Você pode encontrar quase tudo que quiser na Bíblia. É complicado. Há partes dela muito tribais, nas quais as tribos não interagem com outras, e Deus parece feliz quando as pessoas fazem isso. Essa é uma compreensão mais antiga sobre como Ele se sente sobre as diferenças entre seres humanos.
E há passagens muito claras, como quando Deus diz ao povo de Israel, e Jesus aos seus seguidores, para antes de tudo se lembrarem de que fomos todos estrangeiros uma vez. Então devemos tratar o imigrante com amizade e respeito.
Sobre a comunidade LGBTQIA+, é comum ouvir nas igrejas o discurso sobre "amar o pecador, não o pecado".
A tradição a qual eu pertenço chegou a uma aceitação total de um espectro da sexualidade humana. Homossexuais e transgêneros são expressões saudáveis da vida cristã.
Como a sra., como líder evangélica, navega em tempos tão polarizados?
Com cuidado e com humildade. É importante [...] tratar aqueles que experimentam a fé de uma forma diferente com respeito. É direito deles como filhos de Deus.
Raio-x | Mariann Edgar Budde, 64
Bispa da Diocese Episcopal de Washington desde 2011, é uma das líderes religiosas mais influentes dos EUA. Conhecida por sua defesa da justiça social e dos direitos humanos, criticou publicamente Donald Trump em 2020 por usar a Bíblia como símbolo político. Formada em história pela Universidade de Rochester, obteve mestrado em divindade pela Escola de Teologia da Virgínia. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Obrigado a Venerável Ordem Terceira do Carmo- Sodalício de Diamantina/MG.
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Queremos de público agradecer aos irmãos e irmãs da OTC do Carmo de Diamantina, na pessoa do seu prior Davi e do articulador da região Marcione, que se colocaram à disposição para colaborar na caminhada da OTC do Serro.
Em reunião ontem, dia 20 de março de 2025 com o Prior, Paulo Júnior e os irmãos e irmãs daquele Sodalício, foi acolhida com alegria a proposta de “1 Ano de Missão” ou, acompanhamento, formação, animação e Espiritualidade Carmelitana naquela cidade. Tal proposta é uma tentativa de reanimar e suscitar novas vocações, uma vez que aquele sodalício passa por sérias dificuldades.
Um ponto positivo do nosso encontro foi – finalmente- a aprovação do Estatuto enquanto marco de organização jurídica, uma vez que o grupo necessita zelar e cuidar do templo, e para tal é necessário uma maior organização e aquisição de recursos.
Proposta concreta:
1-Todos os meses promover uma tarde- ou manhã- de Espiritualidade Carmelitana aberta aos paroquianos e simpatizantes do Carmelo. (Agendar, divulgar e convidar em todas as Missas da Paróquia)
(Formação, Animação, Adoração ao Santíssimo, Oração, Lectio Divina... ). Na medida do possível, convidar os frades de Belo Horizonte para se fazerem presentes.
2- Visitar os irmãos que estão afastados do Sodalício
3- Motivar para o Encontro da Família Carmelitana em Aparecida em agosto próximo.
Que a nossa Mãe, a Virgem do Carmo e nosso Pai e Guia, Santo Elias, nos ajude e não nos deixe esmorecer em nossa caminhada afinal, todos nós estamos CAMINHANDO RUMO AO MONTE CARMELO ENQUANTO PEREGRINOS DE ESPERANÇA. Boa Missão e conte sempre com as nossas orações
Frei Petrônio de Miranda, O. Carm., Delegado Provincial para Ordem Terceira do Carmo e Paulo Daher, Coordenador da Comissão Provincial.
Comunidade Carmelitana de Vicente de Carvalho, Rio de Janeiro. 21 de março-2025.
A renovação católica se desprende do PT, partido que a Igreja ajudou a fundar
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Há um movimento de ressurgimento na religião, mas ao invés de buscar proximidade, o dogma petista está tão desvirtuado de sua origem, que parece cada vez mais impossível esse reencontro
Igreja Católica: em 1989, católicos representavam 83%, hoje, mesmo sem os dados oficiais do Censo, atrasado pelo IBGE, as pesquisas de opinião apontam para uma média de 50% Foto: Werther Santana/Estadão
Por Bruno Soller
Cada vez mais distante do título que ostentou por décadas, o Brasil deixou há muito de ser a grande potência católica do mundo. O País caminha a passos largos para se tornar mais evangélico do que católico e as projeções menos otimistas, mostram que em uma década essa já deve ser a realidade. Essa mudança religiosa é a grande transformação sociológica brasileira no que concerne a sua essência de pensamento. Trazendo a análise para números, os evangélicos eram 9% nas eleições de 1989, enquanto os católicos representavam 83%, hoje, mesmo sem os dados oficiais do Censo, atrasado pelo IBGE, as pesquisas de opinião apontam para uma média de 35% de evangélicos e 50% de católicos.
Essa queda vertiginosa da população católica encontra guarida em diversos argumentos. O principal deles, medido qualitativamente, é a necessidade por respostas mais rápidas e o engessamento da estrutura ritualística da Igreja. As diferentes ramificações do protestantismo, sejam elas as reformistas clássicas ou as pentecostais e neopentecostais, têm cultos mais dinâmicos, cheios de musicalidade e uma interação entre pastor e rebanho mais próxima e menos protocolar. A alta presença dessas igrejas nas mídias são um outro ponto de contato que atrai a conversão de fiéis. Cultos na madrugada acabam por fisgar pessoas que se sentem desoladas por seus problemas cotidianos e enxergam um caminho para sua consolação.
A Teologia da Prosperidade é uma outra e importante razão pela qual muitos acabam por abandonar o catolicismo, que dogmaticamente defende o voto de pobreza, por uma linha de que é possível alcançar o crescimento material e que isso tem fundamento Bíblico para justificar a vontade de Deus para a vida de quem adere. Esse motivo traz uma reflexão para um embate que é o que muda por completo a percepção social dos fiéis. A Santa Sé propõe que a vida aqui é passageira, que o benefício final está após a morte, enquanto as igrejas protestantes, que ramificaram do Calvinismo, mostram que a recompensa já pode ser recebida em vida, em um mundo em que a materialidade tem grande importância e representa a vitória, dentro do sistema capitalista.
O crescimento em outra ponta do progressismo e a afirmação de direitos minoritários têm feito com que as religiões de matrizes africanas tenham dado um salto de presença na sociedade. Encobridas pelo catolicismo, principalmente pelo histórico de sincretismo religioso, muitos fiéis da umbanda, do candomblé, da quimbanda e das demais denominações têm se assumido publicamente como pertencentes a essas vertentes. Por muitos anos, questionados sobre qual a sua religião, praticantes desses dogmas, respondiam que eram católicos, com receio de julgamentos e preconceito. Vale lembrar que durante a Era Vargas, 40 anos após o fim da escravidão, a prática de religiões africanas sofreu uma grande repressão, sendo extraoficialmente proibida no País.
Com o conservadorismo da Igreja Católica, regida por homens brancos e de origem europeia, as ações afirmativas de comunidades negras e LGBTQIA+ têm encontrado cada vez mais guarida nas religiões de matriz africana, que têm entre suas adorações os orixás, com características humanas, tendo mais identidade com os percalços dos fiéis, do que a figura das santidades imaculadas do catolicismo. A culpa que é um dos pilares do catolicismo é uma outra vertente que tem afastado fiéis. Ao iniciar uma missa, o padre exige dos fiéis que peçam perdão pelos seus pecados e confessem suas culpas. Há um protocolo para aceitação, que com as políticas afirmativas do progressismo moderno parecem não mais ornar.
Com essa perda de fiéis, a Igreja Católica tem tido ramificações internas que buscam se renovar. Em um mundo que vive o maior dilema da sua história entre a clássica guerra do antropocentrismo e do teocentrismo, as religiões têm precisado serem mais imperativas e defender pautas do que apenas se apoiar em seu histórico para sobreviverem. Essa talvez seja a explicação para que no mundo do mais radicalizado conhecimento com tantas inovações tecnológicas e científicas, vemos um crescimento vertiginoso do islamismo e dentro do cristianismo uma substituição paulatina do catolicismo pelo protestantismo.
Mesmo com o sucesso midiático de alguns padres como Marcelo Rossi ou Fábio de Melo, a Igreja Católica tem visto uma diminuição considerável de novos batismos e o envelhecimento do seu rebanho. Como experiência social, vale observar a média de idade do público que vai regularmente às missas dominicais, por exemplo. Para conter isso, alguns padres têm buscado as redes sociais para alcançar novos fiéis ou pelo menos preservá-los. Frei Gilson, que tem sido acusado por petistas de ser simpatizante de Jair Bolsonaro, por algumas declarações dadas, é um fenômeno de popularidade em tem conseguido atrair milhões de seguidores na madrugada, às 4 horas da manhã, rezando o Santo Rosário, no que tem sido chamada de Quaresma Digital, em função do período entre carnaval e Páscoa, que é de suma importância para o catolicismo.
Com um discurso mais afirmativo e realçando um certo conservadorismo, que é dogmático da Igreja Católica, mas com a característica da solidariedade, algo que é muito caro aos fiéis dessa religião, Frei Gilson tem sido um instrumento de renovação dessa fé. O período quaresmal e a própria situação crítica de saúde do sumo pontífice, o Papa Francisco, parecem criar uma liga ainda mais propícia para esse movimento de resgate do catolicismo. O Partido dos Trabalhadores, no entanto, que foi formado com apoio de setores relevantes da Igreja, principalmente aqueles que defendiam a Teologia da Libertação, além das Comunidades Eclesiais de Base, com teólogos como Leonardo Boff, D. Pedro Casaldaliga e Frei Beto, por exemplo, não tem conseguido dialogar mais com esse público.
Preso ao assistencialismo e aí se encontrando com o catolicismo envelhecido, muito presente nos bolsões de pobreza do País, principalmente no sertão nordestino, onde há a maior concentração de classe D, do Brasil, onde 48,3% dos habitantes vivem nessa faixa social, o PT tem se afastado do público religioso. Com muita dificuldade de diálogo com os evangélicos, presentes em sua imensa maioria na periferia dos grandes centros urbanos e de ramificação social mais ativa na classe C2, que corresponde a 26,3% de todo o País, o novo embate parece se dar em um terreno em que o PT já teve dominância. A perda dos novos católicos pode ser o solapamento final do partido, que sobrevive muito ainda da figura de seu líder máximo, o presidente Lula.
Enquanto instituição, o PT mesmo com Lula na Presidência da República, foi apenas o nono partido em números de prefeituras nas últimas eleições. Fazendo um comparativo com 2012, ainda sob o efeito dos primeiros governos lulistas, o PT desabou de 625 prefeituras para 252, em 2024. Além disso, o partido não tem qualquer nome, hoje, que tivesse condições ou tamanho para sequer se aproximar da representatividade de Lula. Com o fracasso de Dilma, com Fernando Haddad, que desde que foi derrotado ainda em primeiro turno para prefeito de São Paulo, em sua reeleição, já foi testado em todas as posições e nunca mais emplacou nenhuma vitória, e com governadores de perfil mais técnico, que ainda não têm dimensão nacional, o partido está envelhecendo junto do catolicismo que o ajudou lá atrás. Há um movimento de ressurgimento na religião, mas ao invés de buscar proximidade, o dogma petista está tão desvirtuado de sua origem, que parece cada vez mais impossível esse reencontro. Fonte: https://www.estadao.com.br
Exercícios Espirituais no Vaticano, 10ª Meditação: "Deixar-se transformar"
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O pregador da Casa Pontifícia, Pe. Roberto Pasolini, fez na manhã desta sexta-feira, 14 de março, a décima meditação no âmbito dos Exercícios Espirituais da Quaresma à Cúria Romana sobre o tema "A esperança da vida eterna: Deixar-se transformar". Publicamos a síntese da reflexão.

Vatican News
A vida, com sua beleza e suas dificuldades, nos coloca diante de uma pergunta crucial: qual é o sentido de nossa peregrinação neste mundo quando tudo está destinado a acabar? Sem a esperança na eternidade, o peso da realidade pode nos esmagar ou nos tornar cínicos, levando-nos à resignação. São Paulo propõe que fixemos nosso olhar nas coisas invisíveis, que são eternas.
A humanidade é marcada pelo declínio físico, mas há uma renovação interior que ocorre dia após dia. Tudo o que parece desaparecer tem, na verdade, um destino maior: Deus nos criou para a ressurreição, e isso não é um sonho utópico, mas a lógica natural de uma existência chamada à plenitude.
No mistério da cruz e da ressurreição de Cristo, Deus completou seu desígnio de amor. A aparente derrota do Crucificado é, na verdade, a revelação de um Pai que não desiste de seus filhos. Isso significa que nossa vida não é deixada ao acaso, mas faz parte de um projeto de adoção e redenção que nos torna filhos amados e destinados à eternidade. Tudo o que experimentamos - alegrias, tristezas, conquistas e fracassos - faz parte de uma transformação contínua, semelhante à de uma semente que, ao morrer, gera uma nova vida. Assim, também nós, mesmo atravessando o limite da morte, estamos destinados a uma vida nova e gloriosa.
Essa transformação não é apenas futura, mas já começa agora. Na Eucaristia, de fato, ocorre uma troca misteriosa: oferecemos a Deus nossa vida e recebemos em troca o próprio Cristo, que nos transforma em seu amor. Em cada missa que celebramos, tudo o que somos é assumido na vida de Cristo, que o leva consigo perante o Pai. Não se trata de um rito simbólico, mas de um processo real de transformação de nossa pessoa, que nos torna partícipes da vida eterna já no presente.
Não sabemos exatamente o que vai acontecer no final, mas sabemos que o que seremos já está germinando dentro de nós. Não somos destinados ao nada, mas a um futuro cheio de esperança. Esta certeza muda tudo: nossa vida não é um filme sem sentido, mas uma obra escrita e dirigida por um Diretor extraordinário, que nos convida a fixar o olhar na eternidade e a caminhar em direção a Ele com confiança. É um fato real: Deus gerou filhos, e entre esses filhos estamos também nós. O futuro permanece diante de nós como um desenho de amor apenas parcialmente revelado. Entretanto, o que vemos hoje já é maravilhoso: somos filhos amados, cidadãos do céu, vivendo para Deus e para sempre. Fonte: https://www.vaticannews.va
Apresentação da Campanha da Fraternidade 2025
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Em 2025, o tema escolhido para a Campanha da Fraternidade 2025 é: “Fraternidade e Ecologia Integral” e o lema: “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31).
A Campanha busca promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra.
Objetivos Específicos:
1) Reconhecer o caminho percorrido e as ações já iniciadas com a Encíclica Laudato Si’ (LS) e o Sínodo da Amazônia, em vista do seu fortalecimento e continuidade;
2) Denunciar os males que o modo de vida atual impõe ao planeta e que tem gerado uma “complexa crise socioambiental” (LS 135), dado que em nossa Casa Comum “tudo está interligado” (LS 16);
3) Apontar as causas da grave crise climática global, a urgência de alteração profunda nos nossos modos de vida e as “falsas soluções” (LS 54) fomentadas em nome da transição energética;
4) Aprofundar o conhecimento do “Evangelho da Criação” (LS, Cap. II), valorizando a dimensão trinitária da fé cristã e recuperando o horizonte bíblico da aliança universal que envolve todas as criaturas (Gn 8-9);
5) Explicitar a Doutrina Social da Igreja e assumir o compromisso com a conversão integral, para a superação do pecado, em todas as suas manifestações;
6) Vivenciar as propostas do Ano Jubilar em vista de novas relações do ser humano com Deus e suas criaturas, consigo mesmo e com o próximo;
7) Propor a Ecologia Integral como perspectiva de conversão e elemento transversal às dimensões litúrgica, catequética e sociotransformadora do compromisso cristão;
8) Incentivar as pastorais e os movimentos socioambientais, em articulação com outras Igrejas e Religiões, sociedade civil, povos originários e comunidades tradicionais, em vista da justiça socioambiental e da atuação socioeducativa;
9) Promover e apoiar ações efetivas que visem à mudança do modelo econômico que ameaça a vida em nossa Casa Comum;
10) Apoiar os atingidos por catástrofes naturais e as vítimas dos crimes ambientais em sua busca por reparação e justiça;
11) Celebrar os 10 anos da Encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, acolhendo a Laudate Deum e avançando com as temáticas socioambientais que já foram abordadas nas Campanhas da Fraternidade. Fonte: https://www.cnbb.org.br
A ESPIRITUALIDADE DE SANTA TEREZINHA DE MENINO JESUS
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Frei Carlos Mesters, Carmelita
Dia 1 de outubro é a festa de Santa Terezinha. É difícil você encontrar no Brasil um católico que nunca ouviu falar de Santa Terezinha ou uma capela por menor que seja, onde não se encontre uma imagem da Santa. Quem foi essa Terezinha para chegar a ser tão conhecida no Brasil inteiro? Ela era uma jovem francesa do fim do século 19 que aos quinze anos de idade entrou num convento carmelita e, nove anos depois, aos 24 anos de idade, após longos meses de muito sofrimento, morreu de tuberculose no dia 1 de outubro de 1897. Nunca saiu do convento. Quando ela morreu, uma irmã da comunidade dizia não ter encontrado nada de extraordinário na vida dela. Qual é então o segredo dessa santa carmelita para chegar a ser conhecida e amada de tanta gente até hoje? Qual o caminho que ela abriu para nós?
São dois os caminhos de Deus até nós e de nós até Deus. O primeiro é este: Deus, na sua bondade, tomou a iniciativa e, sem mérito algum da nossa parte, chegou até nós, nos acolheu e nos abraçou. É o caminho da gratuidade do amor. O outro caminho é este: Uma vez aceito o amor de Deus, nós devemos dar a nossa resposta e realizar o que o amor pede de nós. É o caminho da observância dos mandamentos. Gratuidade e Observância! Dois caminhos, dois lados da mesma medalha: dom de Deus e esforço nosso; providência divina e eficiência humana; festa e luta; fé e política; sonhar e planejar, graça e lei. Um lado só, sem o outro, tornaria incompleto nosso relacionamento com Deus. No passado, em algumas épocas da história da igreja, insistia-se mais na gratuidade: "Deus nos ama!" E às vezes, o povo caía num ritualismo vazio sem compromisso. Em outras épocas, insistia-se mais na observância: "Temos que cumprir a Lei!" E às vezes, se caía num legalismo exagerado que gerava nas pessoas o medo de Deus.
No fim do século 19 na França, época em que vivia Teresinha, o acento caía na observância, no legalismo, com prejuízo para a vivência da gratuidade do amor. O rigor e o medo marcavam a piedade do povo, mostravam um Deus distante e exigente. Tudo parecia pecado. Era proibido comungar todos os dias. Insistia-se mais nas práticas da penitência, ameaçando o povo com o castigo do inferno. Teresinha nasceu e cresceu neste ambiente burguês e conservador. No mosteiro carmelita, em que acabava de entrar, a espiritualidade era de observância e de rigor. O ideal da santidade eram as práticas de penitência, jejum rigoroso, grandes sacrifícios, longas orações. Não se lia a Bíblia. Na biblioteca do convento só havia um único exemplar da Bíblia. Para uma irmã poder ler a Bíblia precisava da licença da superiora. Então, como Teresinha conseguiu romper com este modo tão rigoroso de viver a vida? Como ela conseguiu vencer o medo de Deus e alcançar essa sabedoria tão grande a ponto de tornar-se doutora da Igreja, mestra de todos nós?
Em Teresinha transparece uma nova imagem de Deus. Ao longo dos poucos anos de sua vida, escondida num convento, ela redescobriu o rosto amado de Deus como nosso Pai, que tinha sido esquecido. O seu jeito de lidar com Deus era diferente. A frase de Terezinha que melhor resume a mensagem da sua vida é esta que ela dirige a Deus no fim da sua vida: "No crepúsculo desta vida aparecerei diante de vós com as mãos vazias!" Ela entrou no convento para tornar-se uma santa. Ela pensava que a santidade devesse ser fruto do seu próprio esforço. Ela ouvia falar dos grandes santos e santas, das duras penitências e das longas orações que eles faziam, das virtudes que praticavam, dos sacrifícios e gestos heróicos. Assim eles acumulavam méritos para poder merecer o céu. Terezinha sentia-se pequena e frágil, cheia de defeitos, incapaz de alcançar esse ideal de santidade, pois ela dormia durante a longa meditação de manhã, não gostava muito do terço, sentia antipatias de certas irmãs, e quando fazia uma penitência maior ficava doente. E pensava: “Eu, do jeito que eu sou nunca vou alcançar a santidade. Sou pequena demais e sem força. Sou uma criança. Como é que faço para ser santa?”.
Ela encontrava uma luz nas coisas pequenas e grandes que tinham acontecido com ela na história da sua vida: a experiência do amor do próprio pai que ela experimentou, sobretudo depois do trauma que viveu com a perda da mãe aos 4 anos de idade; a experiência vivida na noite de Natal em que de repente, sem esforço algum da parte dela mesma, ela conseguiu superar o seu problema afetivo do choro e ter um domínio maior de si mesma. De tudo isto ela foi tirando a seguinte conclusão: Deus conseguiu realizar em mim coisas que eu mesma não era capaz de realizar; se Deus é Pai, como meu pai aqui na terra, ele deve gostar de crianças pequenas e frágeis como eu; a mãe gosta quando a criança dorme tranqüila no colo.
Terezinha soube viver as pequenas e grandes experiências da vida à luz da sua fé em Deus como Pai. Aos poucos, através de muito sofrimento, ela foi descobrindo quem é Deus. Deus, na sua infinita bondade e misericórdia, ele me acolhe e me carrega nos seus braços. Amor não se merece. Amor se recebe de graça! Não adianta a gente querer acumular méritos para poder merecer o amor. No fim da sua vida, Terezinha já não observava a lei de Deus para merecer o céu, mas só e unicamente para agradecer o amor recebido de Deus. Perto da morte, ela se encontra de mãos vazias: "No crepúsculo desta vida aparecerei diante de vós com as mãos vazias!" Terezinha não acumulou nada. Pelo contrário! Esvaziou-se e entregou-se. Foi se doando, sem se preocupar com a sua própria salvação. Não acumulou méritos nem sabedoria. Não quis crescer para o alto. Ela dizia: "É descendo que se sobe! É diminuindo que se cresce!"
Pelo seu testemunho, ela nos revelou um novo rosto de Deus! A sua vida, tão curta e aparentemente tão insignificante, é uma prova viva de que Deus, ele mesmo na sua bondade imensa, é a maior Boa Notícia para nós, seres humanos. Terezinha tem uma mensagem muito atual para nós que vivemos neste sistema neoliberal em que a acumulação é a lei mais forte que governa o mundo. Viver como ela viveu obriga a gente a andar na contramão e cria o espaço para uma nova convivência humana. Tudo isto não eram apenas idéias bonitas. Nem idéias não eram. Eram vivências que aos poucos foram brotando revelando seu conteúdo para a própria Teresinha que mais vivia as coisas do que as sabia.
Como jovem, ela sentia impulsos grandes e desejos enormes de ser santa. Ela se dizia: “Um desejo tão grande, se Deus o coloca em mim, então Ele também deve indicar como realizá-lo. Ela queria ser tudo ao mesmo tempo: santa, doutora, profetisa, sacerdotisa, mártir, e percebia que isto não era possível. Mas por outro lado pensava: se este desejo existe em mim, deve haver um caminho para realizá-lo, pois um desejo assim vem de Deus. Lendo a Bíblia, ela descobriu: “Sem o amor nada sou!” Aí ela concluiu: “No coração de minha mãe a Igreja, eu serei o amor! Aí posso ser tudo ao mesmo tempo: santa, doutora, profetisa, sacerdotisa, mártir, pois sem o amor eles não funcionam”.
Dezoito meses antes da sua morte, a escuridão baixou sobre Terezinha. Era como se Deus não existisse, como se o céu fosse uma ilusão, como se a fé fosse o maior engano da história da humanidade. Como Jesus na cruz, ela rezou muitas vezes: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” Mas a sua fé era maior que a escuridão. E ela repetia: “Deus está comigo! Ele não me abandonou. O amor é maior” Assim ela viveu na escuridão total durante a terrível doença da tuberculose, irradiando alegria e paciência, tendo por dentro a crise da escuridão, contra a qual ela resistia agarrando-se à fé, até à a hora da morte. Tudo isto revela uma pessoa muito madura, apesar de ter apenas vinte e poucos anos. Como diz o livro de Sabedoria: "Amadurecida em pouco tempo, ela atingiu a plenitude de uma vida longa!" (Sb 4,13)
Papa a sacerdotes: o amor por Deus e pela Igreja não podem ser pretexto para a autocelebração
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A formadores de seminários da França, Francisco indicou aspectos essenciais para a formação dos candidatos ao sacerdócio, como a missão e a humildade.
Bianca Fraccalvieri – Vatican News
O tema da formação dos futuros sacerdotes esteve no centro do discurso do Papa aos reitores dos Seminários Maiores e Propedêuticos da França, recebidos em audiência na manhã deste sábado.
Presentes em Roma para a peregrinação jubilar, Francisco citou uma frase de São Paulo VI, que dizia que o homem contemporâneo ouve de bom grado mais as testemunhas do que os mestres. E se ouve os mestres é porque são testemunhas.
Isso, disse Francisco, vale certamente para os formadores nos seminários, que devem cuidar da qualidade e da autenticidade das relações humanas neste período de amadurecimento dos candidatos ao sacerdócio.
Em seguida, o Pontífice fez uma análise do perfil dos seminaristas de hoje, cuja característica é a diversidade, seja por idade, seja por experiência de vida e de fé. Para Francisco, o importante é que os formadores aceitem essa diversidade sem medo, concentrados no principal objetivo: formar discípulos missionários apaixonados pelo Mestre, pastores com o cheiro das ovelhas, que vivam no meio delas para servi-las e levar-lhes a misericórdia de Deus.
Não se trata de formar clones. Todavia, há regras a serem respeitadas e o Pontífice ofereceu algumas indicações como, por exemplo, a formação de uma “verdadeira liberdade interior”, de modo que o futuro sacerdote saiba raciocinar com a própria cabeça, iluminado pela fé e movido pela caridade, para fazer escolhas às vezes contracorrente, sem alinhar-se a respostas pré-confeccionadas.
Outro aspecto importante apontado por Francisco é o amadurecimento de uma humanidade equilibrada e capaz de relações humanas. Isso inclui imitar as próprias atitudes de Deus, que são a ternura, a proximidade e compaixão, sem temer personalidades muito frágeis ou rígidas ou desordens de caráter afetivo. “O homem perfeito não existe e a Igreja é composta por membros frágeis e por pecadores”, disse o Papa, pedindo paciência e prudência aos formadores. “Não tenham medo das fraquezas e dos limites de deus seminaristas. Não os condenem apressadamente e saibam encorajá-los. É o martírio da paciência.”
Outro aspecto desenvolvido por Francisco é a missão: "O sacerdote é para a missão. Um sacerdote que faça o 'senhor abade' não é para a missão. Isso não pode". Mesmo que ser sacerdote comporte uma realização pessoal, não é para si mesmos que são ordenados, e sim para o Povo de Deus. Isso pressupõe gratuidade, desprendimento de si e humildade.
Não é raro que, durante o percurso, alguns sacerdotes acabem servindo a si mesmos. "Atenção, sobretudo com o dinheiro. Minha vó sempre dizia que o diabo entre pelo bolso. Por favor, a pobreza é algo muito belo. Servir os outros. E cuidado com o carreirismo. Cuidado com a mundanidade, do ciúme e da vaidade."
Deste modo, analisou o Papa, o amor por Deus e pela Igreja nada mais são que um pretexto para a autocelebração. "Quando se encontra algum eclesiástico que parece mais um pavão é feio. Que o amor por Deus e a Igreja não seja um pretexto", exortou o Pontífice, concluindo seu discurso com um agradecimento pela difícil missão que desempenham a serviço da Igreja. Fonte: https://www.vaticannews.va
Ré- encantar-se com a Esperança: Passar os olhos no álbum das fotografias das idosas e dos idosos do Povo de Deus
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Frei Carlos Mesters, O. Carm.
Mensagem de um velho para os jovens
“Ah!, jovens! Se vocês soubessem o que eu vivi!”
Qo 11,7 a 12,8
Qohelet, no fim do seu livro, deixou para os jovens uma mensagem. O amor pela vida o levou a partilhar sua experiência com os mais jovens. Ele o faz não como professor que ensina, mas como irmão mais velho que partilha. Ele descreve as limitações que vem com a idade. Mas na maneira de descrevê-las, você sente uma pessoa que, mesmo limitada pela velhice, soube crescer em direção a Deus dentro destas limitações inevitáveis da vida e graças a elas.
Esta mensagem é a síntese, não só do livro, mas também da experiência que ele ou ela quer partilhar conosco e na qual mostra como a luz da sua descoberta conseguiu iluminar e transformar sua vida. É a mensagem vivida e agradecida dos cabelos brancos que se despedem da vida, para os jovens na flor da idade. Ouçamos:
Doce é a luz, e agradável para os olhos ver o sol.
Se você viver muitos anos, alegre-se em todos eles,
mas lembre-se de que são muitos os dias sombrios.
Tudo quanto sucede é vaidade.
Jovem, alegre-se na sua juventude,
e seja feliz nos dias da sua mocidade.;
Siga os impulsos do seu coração e os desejos dos olhos;
mas saiba que de tudo isso Deus te pedirá contas.
Expulse a melancolia do seu coração
e afaste do seu corpo a dor,
porque juventude e cabelos bonitos são coisas que passam.
Lembre-se do seu Criador nos dias da sua mocidade,
antes que venham os dias maus,
e cheguem os anos dos quais dirá:
“Não sinto mais gosto para nada!”;
antes que se escureçam o sol e a luz, a lua e as estrelas,
e que voltem as nuvens depois da chuva;
no dia em que tremerem os guardas da casa, ,
e se curvarem os homens outrora fortes,
e cessarem os moedores, por já serem poucos,
e se escurecerem seus olhos nas janelas;
e as portas da rua, se fecharem;
e diminuir o ruído do moinho até parece-ser um canto de pássaro
e todas as canções emudecerem;
quando você ficar com medo das alturas,
e levar susto pelo caminho,
quando embranquecer como a amendoeira,
e o gafanhoto lhe for um peso,
e o tempero perder o sabor;
é porque você já está a caminho da sua morada eterna,
e os que choram a sua morte já andam rodeando pela praça;
antes que se rompa o fio de prata,
e o copo de ouro se quebre,
antes que o jarro se quebre na fonte,
e se parta a roldana no poço,
então você voltará à terra, de onde veio,
e o sopro de vida voltará a Deus, que o concedeu,.
Tudo passa, diz o Qohelet, Tudo!
Mensagem de um sábio
para os filhos sobre os velhos pais
Eclo 3,12-16
Meu filho, cuide de seu pai na velhice,
e não o abandone enquanto ele viver.
Mesmo que ele fique caduco,
seja compreensivo e não o despreze,
enquanto você está em pleno vigor,
pois a caridade feita ao pai não será esquecida,
e valerá como reparação
pelos pecados que você tiver cometido.
No dia do perigo,
o Senhor se lembrará de você,
e seus pecados se derreterão
como geada ao sol.
Quem despreza seu pai
é um blasfemador,
e quem irrita sua mãe
será amaldiçoado pelo Senhor.
Idosos, Respeitar pai e mãe, Ser idoso,
Quatorze fotografias de pessoas idosas do Antigo Testamento
1- Adão e Eva, imagem e resumo de todos nós
Adão e Eva somos todos nós, seres humanos, independente de idade ou de raça, de condição social ou de grau de cultura, de gênero ou de religião. Os dois representam a nossa pequenez e a nossa grandeza como seres humanos: tropeçando, caminhamos em direção a Deus. Todos e todas nascidos de Deus e querendo voltar para Deus: “Tu nos fizeste para Ti, e o nosso coração está inquieto até que não descanse em Ti”. O coração nos diz e a Bíblia confirma (Gn 3,22-24) que o paraíso não foi destruído e pode ser alcançado. O velho Adão e a velha Eva que existem em todos nós (Rm 6,6; Col 3,9) devem ser renovados segundo a imagem do novo Adão e da nova Eva (Ef 4,16.22). A tarefa básica da nossa vida é renovar, passar do antigo para o novo testamento. Nascemos velhos e velhas, e vamos morrer novos e novas. Graças a Deus!
Oração: Salmo 8: que valor imenso não deve ter o ser humano!
2-Matusalém, avô de Noé
Matusalém é o mais velho dos velhos. A Bíblia diz que ele chegou à idade abençoada de 969 (novecentos e sessenta e nove) anos (Gn 5,25-27). Como todos os patriarcas e matriarcas de antes do dilúvio, Matusalém gerou filhos e filhas. Um dos seus filhos é Lamec que aos 182 anos de idade gerou Noé (Gn 5,28), cujo nome significa “este nos consolará” (Gn 5,29). Quando Noé completou 500 anos, gerou três filhos: Sem, Cam e Jafé (Gn 5,32). Depois veio o dilúvio (Gn 6,1 a 8,14). Após o dilúvio, Noé viveu mais 350 e morreu com a idade de 950 anos. Foi com o velho Noé, como representante de toda a humanidade, que Deus concluiu a aliança de nunca mais destruir a terra pelas águas (Gn 9,9-11), e colocou o arco-íris como sinal e lembrança desta aliança em favor da vida de todos nós (Gn 9,12-17). Deus fez esta aliança em favor da vida e da conservação do Universdo, quando sentiu o cheiro do sacrifício que o velho Noé estava oferecendo (Gn 8,20-22). A oração dos idosos e das idosas deve ter muito valor diante de Deus.
Oração: Salmo 104(103): cantar e celebrar a beleza e o esplendor da criação de Deus.
3- Sara e Abraão
Os dois já eram bem idosos quando foram chamados por Deus, ou melhor, quando descobriram o chamado de Deus que estava dentro de suas vidas. Abraão, chamado para ser pai de um povo, não conseguia acreditar na promessa de Deus, nem em Sara que era estéril. Inicialmente, só acreditava nos projetos que ele mesmo elaborava e propunha a Deus como alternativa. Como Abraão, também Sara, quando chamada, deu risada (Gn 18,12; 17,17). Risada de incredulidade. Também não foi capaz de crer na promessa, nem em si mesma, nem em Abraão. Era difícil crer, pois ela já era de idade avançada e estéril. Como crer que poderia ser mãe! (Gn 18,9-15). Crer em Deus até que não era tão difícil. Mas crer nos outros, crer em Sara, crer em Abraão: esta era e continua sendo a prova de fogo. Ao longo dos anos, Deus ou a própria vida foi tirando o tapete de debaixo dos pés dos dois. Cada vez de novo, eles eram obrigados a refazer a vida,. Assim, após três ou quatro tentativas frustradas, os dois conseguiram crer e se entregaram (Gn 12,1-3;15,1-6;17,15-22;22,1-18). A entrega valeu a pena, pois as três grandes religiões da humanidade, judaísmo, cristianismo e islamismo, têm a sua origem nesta entrega de Abraão e Sara. Os fundadores destas três religiões, Moisés, Jesus e Maomé, são alunos de um casal de velhos que souberam aprofundar as perdas e ganhos do envelhecimento e firmar-se, cada vez de novo, no rumo da sua vida. Isto faz pensar, ou não?
Oração: Salmo 77(76): A mão de Deus mudou. Ele passou pela minha vida sem deixar rastro.
4- Isaque, vítima da sua velhice, mas fiel
De Isaque se fala pouco na Bíblia. Ele é filho de um grande pai, e pai de um grande filho. Está entre Abraão e Jacó. Isaque teve dois filhos com a esposa Rebeca. Esaú, o mais velho, num momento de muita fome, vendeu por um prato de lentilhas seu direito de primogenitura a Jacó, seu irmão mais novo, (Gn 25,29-34). Quando Isaque ficou velho, seus olhos não enxergavam mais. Querendo dispor todas as coisas antes de morrer, mandou Esaú preparar um prato gostoso, para que ele lhe pudesse dar a benção da primogenitura (Gn 27,1-4). Rebeca, escutou a conversa e, aproveitando-se da cegueira de Isaque, deu um jeito para que Jacó pudesse receber a bênção da primogenitura. Esaú queria que o Pai voltasse atrás, mas Isaque, apesar de sentir-se vítima da sua cegueira, manteve a palavra (Gn 27,6-45). Esaú ficou sem a bênção, pois, uma vez dada, a bênção é irreversível.
Oração: Salmo 38(37): Súplica de um velho cego e enfraquecido que quer ser fiel
5- Moisés e Miriam
Irmão e irmã, ambos filhos de Amram e Joquebed (Ex 6,20). Miriam, a irmã mais velha, é chamada pelo seu próprio talento e pela necessidade do momento. Moça experta, ela soube salvar a vida do irmão Moisés e conseguiu que Joquebed, a mãe de Moisés, fosse paga pela princesa, filha do faraó, para criar o próprio filho (Ex 2,1-10). Assim, graças à esperteza da irmã, Moisés foi salvo das águas, foi criado pela mãe e recebeu sua formação na casa do faraó. Aos quarenta anos de idade, Moisés sentiu o chamado de Deus. Vendo de perto a opressão do seu povo, o sangue foi nele mais forte que a formação recebida na casa do faraó e ele chegou a matar um egípcio. Diante da crítica dos seus próprios companheiros, sentiu medo e fugiu (Ex 2,12-15). Quarenta anos depois, já aos oitenta anos de idade, mais amadurecido, recebe novo chamado para libertar o povo. E, novamente, o medo tomou conta. Moisés arrumou várias desculpas, mas no fim a vocação foi mais forte que a resistência medrosa, e ele acabou aceitando a missão (Ex 3,11.13; 4,1.10.13). A Moisés foram revelados o Nome Javé (Ex 3,7-15) e a compaixão infinita do nosso Deus (Ex 34,1-19). No momento mais crítico da saída do Egito, quando estavam sem saída diante das águas do mar, Moisés rezou a Deus. Deus respondeu: “Por que você está clamando por mim? Mande o povo dar um passo!” (Ex 14,15). O povo deu um passo, o mar se abriu e o povo pôde escapar para a liberdade. Neste momento, Miriam, também já bem idosa, convoca as mulheres para celebrar a vitória depois da travessia do Mar Vermelho (Ex 15,20). O Cântico de Miriam é um dos textos mais antigos da Bíblia. Ao redor dele foi se acrescentando o resto como cera ao redor do pavio (Ex 15,21). A Bíblia informa que Miriam, por castigo de Deus, ficou coberta de lepra por ter tida a coragem de criticar a liderança excessiva de Moisés (Num 12, 1-16). Depois da ressurreição, assim espero, vamos ficar sabendo se Miriam não tinha um pouco de razão em levantar a crítica que lhe mereceu um tão grande castigo.
Oração: Cântico de Miriam e Moisés (Ex 15,1-21): Javé é a minha força e o meu canto
6- O velho Eli, e Ana a mãe de Samuel
Eli era um sacerdote idoso que tinha dois filhos que não prestavam (1Sm 2,12-17; 8,3-5). Eli tomava conta do pequeno santuário de peregrinação em Silo, onde o casal Êlcana e Ana todos os anos faziam sua romaria (1Sm 1,3). Ana não podia ter neném. Era estéril. Num momento de grande tristeza, entrou no santuário e derramava sua alma na presença do Senhor. Fazia sua prece não em voz alta como era o costume, mas apenas suspirando e movendo os lábios (1Sm1,10-11). Eli foi mal educado com ela. Ele disse: “Até quando você vai ficar embriagada? Acabe primeiro com essa bebedeira!”. Mas Ana soube manter sua dignidade e respondeu com muita educação: "Não, meu senhor. Eu sou uma mulher que sofre; não bebi vinho, nem bebida forte. Eu estava apenas me derramando diante de Javé. Não pense que esta sua serva seja vadia. Falei até agora, porque estou muito triste e aflita". (1Sm 1,15-16). Através de Eli ela recebeu o chamado de Deus para ser mãe: "Vá em paz. Que o Deus de Israel conceda o que você lhe pediu". Em ação de graças, por ter recebido a graça de ser mãe, ela fez um cântico bonito, no qual expressa a alegria do reencontro com o ideal da sua vida (1Sm 2,1-10). Foi neste Cântico de Ana que Maria, a mãe de Jesus, se inspirou para fazer o Magnificat. Por isso, a tradição diz que o nome da mãe de Nossa Senhora, a avó de Jesus, era Ana.
Oração: Cântico de Ana (1Sm 2,1-10): A mulher estéril dá à luz sete filhos
7- Samuel, o filho de Ana
Samuel, o filho de Ana, não percebia o chamado de Deus e precisou da ajuda de uma pessoa bem idosa para orientá-lo no discernimento da vocação. O velho Eli orientou o menino e mandou que dissesse: "Fala, Senhor, teu servo escuta!" (1 Sm 3,1-18). Samuel foi o último Juiz. Durante muitos anos guiou o povo e o ajudou na difícil e duvidosa transição política do sistema tribal para o novo sistema da monarquia. Bem idoso, fez uma bonita revisão da sua vida diante de todo o povo (1Samuel 12,1-5).
Oração: Salmo 71(70): um velho de cabelo branco pede para não ser abandonado por Deus na velhice
8- Enoc e Elias, os dois que não morreram
A Bíblia não conta a morte deles. Para o povo, os dois não morreram. Foram levados para o céu. De Henoc se diz: “Henoc viveu 365 anos. Ele andou com Deus e desapareceu, porque Deus o arrebatou” (Gn 5,23-24). Elias foi arrebatado ao céu num carro de fogo e deixou o seu manto para Eliseu (2Rs 2,1-18). De Elias não se sabe o nome da mãe nem do pai. Ele apareceu de repente, proclamando: “Vivo é o Senhor, em cuja presença estou!” (1Rs 17,1). De uma viúva recebe o título de Homem de Deus (1Rs 17,24), que é o título mais bonito para um profeta ou profetisa: Homem de Deus! Mulher de Deus! Elias é o modelo do profeta. Ele é conhecido como o homem sempre disponível para a ação do Espírito (1R 18,12). Após a grandiosa vitória sobre os 450 profetas de Baal no Monte Carmelo (1Rs 18,20-40), Elias teve medo, fugiu, desanimou por completo e quis morrer (1Rs 19,1-4). Teve uma profunda crise de fé, mas reencontrou Deus, para além de todas as imagens e representações, na brisa leve, “voz de calmaria suave” (1Rs 19,5-14). Na opinião do povo, Elias vai voltar para reconduzir o coração dos pais para os filhos e o coração dos filhos para os pais, isto é, para refazer as relações humanas na base e reconstruir a vida em comunidade (Eclo 48,10).
Oração: Salmo 27(26): Os dois lados da fé: luminoso e escuro
9- Ezequias, o rei que não queria aceitar sua velhice
A conjuntura política internacional favorável levou Ezequias (716 a 687 aC) a promover uma reforma profunda nos vários setores da vida da nação: social, político, cultural e de infra-estrutura. Queria evitar que no Reino de Judá no Sul acontecesse o mesmo desastre que, cinco anos antes em 722 aC, tinha destruído por completo o Reino de Israel no Norte (2Rs 18,1-8). Ficando velho e doente, Ezequias não aceitou a velhice nem a doença. Reclamou com Deus. Deus atendeu ao pedido dele. O profeta Isaías funcionou como médico, arrumou um emplastro para a ferida do Rei e conseguiu mais quinze anos de vida ou sobrevida para ele (2Rs 20,1-11). Ezequias foi um grande construtor, um pouco vaidoso e muito centrado em si mesmo e nas coisas da sua grandeza como rei (2Rs 20,12-21).
Oração: Salmo 30(29): oração de Ezequias que teve sua vida prolongada por mais quinze anos
10- Jeremias, seduzido por Deus desde a sua juventude
Na hora de tomar consciência do chamado de Deus em sua vida, Jeremias levou susto, ficou meio gago e se desculpou: "Sou apenas uma criança!". Mas assumiu sua vocação (Jer 1,4-10). Sofreu a vida inteira por causa da vocação assumida (Jr 20,7-18). Deve ter ficado muito velho, pois nasceu em torno de 650 e foi morrer no Egito depois de 580 aC. Como nós nos séculos XX e XXI, Jeremias atravessou toda uma curva da história. Digo como nós, pois quem hoje está com mais de 75 anos, atravessou uma curva da história como nunca houve antes, 1940 até 2008. Jeremias viveu num período que abrange o longo e corrupto governo de Manasses (687 a 642), passando pela reforma fracassada do governo de Josias (640 a 609), pela primeira deportação do povo para o cativeiro da Babilônia em 597 aC e pela total destruição de Jerusalém e a segunda deportação para a Babilônia em 587, até o seu próprio seqüestro para o Egito em torno de 583. No momento mais trágico e mais triste da história, foi ele, Jeremias, que sustentou a esperança do povo. Já bem idoso, abriu a mente do povo para fundamentar sua segurança e sua esperança, não na observância perfeita da Lei, mas sim na gratuidade infinita da presença de Deus que se manifesta na criação para além de tudo aquilo que nós fazemos por Deus (Jr 33,19-26). Ele nos ensina a observar a lei de Deus não para merecer, mas para agradecer. Foi ele com sua vida tão sofrida e tão fiel que inspirou aos discípulos e discípulas de Isaías a figura do Servo de Javé, imagem do povo sofrido, descrita nos quatro cânticos do Servo (Is 42,1-9; 49,1-6; 50,4-9; 52,13 a 53,12).
Oração: 1º e 3º Cântico do Servo de Javé (Is 42,1-9 e 50,4-9): imagem do povo humilde, teimoso na fé
11- Noemi e Rute
Duas mulheres, uma bem idosa, Noemi, e a outra bem jovem, Rute. Noemi é da tribo de Judá e migrou para o estrangeiro junto com o marido e seus dois filhos. Rute, estrangeira de Moab no outro lado do Jordão, casou com um dos filhos da Noemi. Morreram tanto o marido de Noemi como o filho dela, marido da Rute. Ambas viúvas, sem filhos, humanamente sem futuro, serão elas que vão conduzir a história, orientando-se pela reflexão sobre os acontecimentos à luz da Palavra de Deus. É delas que vai nascer o futuro do povo e que surgirá o Messias. A novela tão envolvente das duas é uma crítica viva à política clerical de Esdras e Neemias e da elite de Jerusalém que queriam expulsar as mulheres estrangeiras e isolar o povo no conjunto das nações. Rute, estrangeira, através da sua solidariedade com Noemi, tornou-se a bisavó do futuro rei Davi. É muito bonita a maneira como Rute expressou a sua opção pela pobre e velha Noemi que gerou um novo futuro para o povo de Deus (Rute 1,15-18).
Oração: Opção de Rute por Noemi (Rt 1,15-18): Opção pelos pobres gera o futuro do povo
12- Jó e os amigos de Jó
Jó é o modelo do sábio. O sábio costuma ser apresentado como idoso, cabelo branco, portador de experiência humana acumulada. O livro de Jó é um teatro. O ensino oficial que dizia: “Sofrimento é castigo de Deus”, dava complexo de culpa aos sofredores. O teatro verbaliza a tensão entre o ensino oficial e a consciência rebelde dos sofredores. Jó representa a consciência rebelde dos sofredores. Os três amigos representam a visão tradicional. A cabeça de Jó, formada pela ideologia dominante, dizia: “Você sofre porque é pecador!” Mas o coração, a consciência, lhe dizia: “Deus é injusto comigo! Não pequei!”. Jó critica os três amigos, que identificam Deus com o nível econômico das pessoas: “Vocês usam mentiras para defender a Deus!” (Jó 13,7). “Vocês são capazes de leiloar um órfão e vender seu próprio amigo!” (Jó 7,27). A chave do teatro está na frase final. Jó se dirige a Deus e diz: “Eu te conhecia só de ouvir falar de Ti, mas agora meus olhas te viram. Por isso me retrato e me arrependo sobre pó e cinza” (Jó 42,4-6). A luta não era contra Deus, mas sim contra a imagem de Deus que falsificava a consciência das pessoas e destruía a convivência humana. É a rebeldia profética de um velho sábio.
Oração: Salmo 39(38): Desabafo de Jó, dos Jós da vida
13- O velho Eleazar
Eleazr era um senhor bem idoso com mais de 90 anos. Tinha muita liderança na comunidade, fruto da sua sabedoria acumulada ao longo dos anos. Na época da sangrenta perseguição de Antíoco contra os judeus (167-166 aC), Eleazar foi convidado pelo representante do Rei Antíoco para comer carne de porco e, assim, levar o povo a transgredir a lei e favorecer a política do governo helenista. Eleazar resiste, não aceita a proposta e morre torturado aos noventa anos de idade deixando um exemplo para a juventude (2Macabeus 6,18-31)
Oração: Salmo 49(48): Tudo passa na vida e ninguém pode resgatar a vida da morte
14- A mãe dos sete filhos macabeus
Na mesma perseguição em que foi torturado e morto o velho Eleazar, esta mãe foi presa com seus sete filhos. Mulher forte, teve de presenciar a tortura até à morte de seus sete filhos pelo rei Antíoco. Mas não se deixou intimidar pela dor. Ficou firme e soube animar seus filhos a perseverar na fé dos pais até à morte (2Mac 7,1-42).
Oração: Salmo 34(33): uma mãe de família transmite sua fé para seus filhos e netos
Doze fotografias de pessoas idosas do Novo Testamento
1- Isabel e Zacarias
Zacarias não foi capaz de crer no chamado e ficou mudo (Lc 1,11-22). Isabel era idosa e estéril, mas acreditou no chamado, concebeu e tornou-se capaz de reconhecer a presença de Deus em Maria (Lc 1,23-25.41-45). Isabel era da tribo de Levi, descendente de Aarão. Era Levita (Lc 1,5).
Oração: O Cântico de Zacarias (Lc 1,68-79) e a prece de Isabel: Ave Maria
2- José, esposo de Maria
Os apócrifos dizem que ele era velho e viúvo com uma porção de filhos que seriam os irmãos e as irmãs de Jesus (Mc 6,3). José, chamado a ser o esposo de Maria, era justo (Mt 1,19) e sua justiça já era maior que a justiça dos fariseus (Mt 5,20). Por isso, graças à justiça de José, Maria não foi apedrejada, e Jesus continuou vivo. Esta justiça maior levou José a romper com as normas do machismo da época. Ele não mandou Maria embora e Jesus pôde nascer (Mt 1,18-25).
Oração: Salmo 119(118),41-56: parece paixão pela lei, mas é paixão pelo Autor da lei
3- Maria, a mãe de Jesus
Uma tradição diz que Maria, depois da morte de Jesus, foi com São João para Éfeso. Ela morreu por lá já bem idosa com mais de 90 anos de idade, e depois foi assunta ao céu. Uma outra tradição diz que ela não morreu, mas que foi levada diretamente ao céu. Na pietà de Miguelangelo, Maria aparece bem jovem, mais jovem que o próprio filho crucificado, quando já devia ter no mínimo perto dos 50 anos. Perguntado porque tinha esculpido o rosto da Maria tão jovem, Miguelangelo respondeu: “As pessoas apaixonadas por Deus não envelhecem nunca”. Na Bíblia, se fala muito pouco de Maria, e ela mesma fala menos ainda. Ao todo, Bíblia conservou apenas sete palavras de Maria. Só! Nada mais: duas no encontro com o Anjo Gabriel; uma no encontro com Isabel; uma no encontro com Jesus no Templo; duas no encontro no casamento em Caná, e a última palavra é o silêncio ao pé da cruz, mais eloqüente que mil palavras. Cada uma destas sete palavras é como uma janela que permite olhar para dentro da casa de Maria e descobrir como ela se relacionava com Deus. Acostumada a ruminar os fatos (Lc 2,19.51), ela percebeu e acolheu a Palavra de Deus, trazida pelo anjo Gabriel, a ponto de encarná-la em seu seio, em sua própria vida (Lc 1,26-38). A chave para entender tudo isso é dada por Lucas nesta frase: “Felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática." (Lc 11,27-28)
1ª Palavra: "Como pode ser isso se eu não conheço homem algum!"
2ª Palavra: "Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra!"
3º Palavra: "Eles não tem mais vinho!"
4ª Palavra: "Fazei tudo o que ele vos disser!"
5ª Palavra: "Meu filho porque nos fez isso? Teu pai e eu, aflitos, te procurávamos"
6ª Palavra: "Minha alma louva o Senhor, exulta meu espírito em Deus meu Salvador!"
7ª Palavra: O silêncio ao pé da Cruz, mais eloqüente que mil palavras!
Oração: Cântico de Maria (Lc 1,46-56): A minha engrandece o Senhor
4- O velho Simeão e a profetisa Ana
Estas duas pessoas, ambas bem idosas, aparecem no evangelho de Lucas por ocasião da apresentação de Jesus no Templo (Lc 2,22-38). O olhar dos dois era um olhar de fé, capaz de distinguir o salvador do mundo num menino trazido por um casal pobre de camponeses lá da Galiléia, no meio de muitos outros casais que traziam suas crianças para serem apresentadas a Deus no Templo. Os dois tinham dentro de si uma convicção de fé que lhes dizia que não iriam morrer antes de ver a realização das promessas (Lc 2,26). Este é, aliás, o desejo de todos nós. Cada ser humano traz dentro de si uma promessa de séculos. Simeão fez um cântico bonito de agradecimento (Lc 2,29-32). Ana era uma viúva de 84 anos de idade que também reconheceu o sinal de Deus no menino (Lc 2,38).
Oração: Cântico de Simeão (Lc 2,29-32): Agora posso morrer em paz
5- Os doze homens discípulos
Foram chamados para estar com Jesus, para anunciar a palavra e para combater o poder do mal (Mc 3,13-19). Nas pinturas e figuras eles sempre aparecem como idosos. O único jovem é João. Na realidade eram todos jovens, casados ou solteiros, com em torno de 30 anos de idade. Apesar de jovens, eles eram os “mais velhos” (presbíteros) nas primeiras comunidades. De certo modo eles continuam vivos até hoje, pois nossa fé é apostólica, vem dos apóstolos e tem no testemunho deles o seu fundamento. Vale a pena ver de perto a figura de cada um deles, o seu jeito de ser e de se relacionar com Jesus e com o povo. Eles são um pequeno álbum dentro deste álbum maior dos idosos e idosas. Olhando este pequeno álbum dos doze, a gente se consola e cria coragem, apesar de todos os nossos defeitos. Pedro era pessoa generosa e entusiasta (Mc 14,29.31; Mt 14,28-29), mas na hora do perigo e da decisão, o seu coração encolhia e voltava atrás (Mt 14,30; Mc 14,66-72). Jesus rezou por ele (Lc 22,31). Por isso ficou firme. Ele era pedra de apoio (Mt 16,18) e pedra de tropeço (Mt 16,23). Apoio e tropeço! Os dois, até hoje! Graças a Deus. Depois que ficou velho não era mais livre em fazer o que queria e um outro o conduzia. Tiago e João eram dois irmãos conhecidos como os “filhos de Zebedeu”. Estavam dispostos a sofrer com Jesus (Mc 10,39), mas eram violentos (Lc 9,54). Jesus deu a eles o apelido de filhos do trovão (Mc 3,17). João pensava ter o monopólio de Jesus e não permitia que os outros usassem o nome de Jesus para expulsar demônios. Jesus o corrigiu (Mc 9,38-40). João ficou muito velho. Havia gente que achava que ele não fosse morrer (Jo 21,23). A tradição diz que João era o discípulo a quem Jesus amava e que, no fim da sua vida, já bem velhinho, o sermão dele se resumia a uma única frase: “Amai-vos uns aos outros”.
Oração: Salmo 2 do jeito que foi rezado pelos apóstolos na hora da perseguição (Atos 4,23-32).
6- As sete mulheres discípulas
No grupo que seguia Jesus havia homens e mulheres. Elas seguiam Jesus (Lc 8,2-3; 23,49; Mc 15,41). A expressão seguir Jesus tem aqui o mesmo significado que quando é aplicado aos homens. Elas eram discípulas que seguiam Jesus, desde a Galiléia até Jerusalém. O evangelho de Marcos define a atitude delas com três palavras: Seguir, Servir, Subir até Jerusalém (Mc 15,41). Os primeiros cristãos não chegaram a elaborar uma lista destas discípulas que seguiam a Jesus como o fizeram com os homens. Mas os nomes de sete destas mulheres estão espalhados pelas páginas dos evangelhos. Um começo da lista está em Lucas 8,1-3: (1) Maria Madalena (Lc 8,2), (2) Joana, mulher de Cuza (Lc 8,3), (3) Suzana (Lc 8,3), (4) Salomé (Mc 15,40), (5) Maria, mãe de Tiago (Mc 15,40), (6) Maria, mulher de Cléofas (Jo 19,25), (7) Maria, a mãe de Jesus (Jo 19,25). Depois da páscoa, foram as mulheres a quem Jesus apareceu por primeiro e que receberam de Jesus a ordenação de anunciar aos outros a Boa Nova da Ressurreição (Jo 20,17; Mt 28,10). A tradição eclesiástica posterior não valorizou este dado com o mesmo peso com que valorizou as aparições aos homens e o seguimento de Jesus por parte dos homens (cf 1Cor 15,4-8).
Oração: Cântico do Amor (1Cor 13,1-13): o amor jamais passará.
7- Nicodemos e José de Arimatéia
Os dois, ambos pessoas importantes da elite da cidade, eram discípulos de Jesus meio às escondidas (Jo 3,2; 19,38). Nicodemos era membro do Sinédrio, o Supremo Tribunal da época. Ele aceitava a mensagem de Jesus, mas não tinha coragem de manifestá-lo publicamente (Jo 3,1). Aos poucos, sua sinceridade levou vantagem sobre o medo e a timidez e criou mais força interior. Teve a coragem de discordar publicamente da opinião dos outros no sinédrio e foi vaiado (Jo 7,50-51). José de Arimatéia era uma pessoa de posse que chegou a arriscar seu status pedindo licença a Pilatos para poder enterrar Jesus, um marginal crucificado, condenado à morte pelo sinédrio e pelo tribunal romano. Os dois, Nicodemos e José de Arimatéia, cuidaram da sepultura de Jesus (Jo 19,39). Ficando mais idosos, os dois foram ficando mais coerentes e mais corajosos.
Oração: Salmo 63(62): a busca de Deus
8- “Eu, Paulo, velho e prisioneiro”
Foi com estas palavras de Paulo se dirige ao seu amigo Filemon para fazer um pedido em favor de Onésimo, o escravo que fugiu da casa de Filemon e que foi acolhido por Paulo e por ele levado a abraçar a fé em Jesus (Flm 1,9). O significava ser “velho” naquele tempo? Alguns acham que Paulo devia ter em torno de 55 anos. Conforme alguns estudiosos apuraram, podemos distinguir quatro períodos na vida de Paulo:
1) do nascimento até 28 anos de idade: o judeu praticante;
2) dos 28 aos 41 anos: o convertido fervoroso;
3) dos 41 aos 53, o missionário ambulante, e
4) dos 53 até à morte, o prisioneiro amadurecido. Ficou preso dois anos em Cesareia e mais dois em Roma.
Oração: Salmo 16(15): Salmo do levita que, como Paulo, consagrou toda a sua vida a Deus
9- Eunice, Lóide e as avós e os avôs das comunidades
Na segunda carta a Timóteo, Paulo conservou os nomes da mãe e da avó de Timóteo, Eunice e Lóide (2Tm 1,5). Foram elas que transmitiram a Timóteo a fé e ensinarem a ele o amor pela Palavra de Deus (2Tm 3,14-15). Isto faz a gente se lembrar das avós e avôs dos doze apóstolos, dos 72 discípulos e discípulas, do povo das primeiras comunidades, tantos e tantas. Todos eles e elas pessoas anônimas. Mas Deus conhece e conserva os nomes. Foram estas pessoas anônimas que transmitiram a fé. Também vale a pena lembrar os homens e as mulheres que foram indicados para coordenar as comunidades e que eram chamados de presbíteros ou presbíteras, os mais velhos ou as mais velhas. Eram elas e eles que ensinavam as crianças a rezar e os jovens a cantar. Foi para eles e elas que Paulo fez aquele sermão tão bonito em Mileto (At 20,17-35). Os cânticos espalhados pelo Novo Testamento eram transmitidos por eles nas comunidades: cântico de Maria, de Zacarias, de Simeão, tantos outros.
Oração: Cântico das Comunidades sobre Jesus (Flp 2,6-11
10- Os Anawim, os pobres de Javé
No tempo de Jesus havia muitos movimentos, muitas maneiras de se viver e transmitir a fé. Cada um achando que a sua maneira de viver era melhor que a dos outros: essênios, zelotes, fariseus, saduceus, discípulos de João Batista. Todos eles esperavam o Messias Glorioso: alguns como Juiz, outros como Rei, Doutor, General ou Sumo Sacerdote. Mas havia a piedade resistente da fé dos pequenos, do povo pobre que incluía jovens e velhos, homens e mulheres, casados e solteiros. Os Anawim. Maria e tantos outros faziam parte deste grupo. Não era um grupo organizado. Era um jeito de ser e de viver sem que eles mesmos saibam como. Eles também esperavam o Messias, mas não um messias glorioso. Eles esperavam o Messias Servo, vivido por Jeremias e pelo povo pobre do cativeiro e anunciado por Isaías. Quando o anjo fez o anúncio a Maria, ela respondeu: “Eis aqui a Serva do Senhor!” Quando Jesus definiu sua missão ele disse: “Não vim para ser servido, mas para servir!” (Mc 10,45). Aprendeu da mãe.
Oração: Salmo 146(145): o salmo das oito bem-aventuranças, fonte de onde Jesus bebeu
11- A Jerusalém Celeste
É a idosa jovem noiva do Cordeiro. Ela desce do céu enfeitada para o seu noivo. Ela é bonita e superou todas as limitações das idades. Chegou ao destino da sua viagem e acolhe a todos nós. (Apc 21,1-7; 21,24-27; 22,3-5)
Oração: Canto da vitória sobre o Império neoliberal (Apc 18,1 a 19,8).
12- Jesus, o novo Adão, imagem de todos nós
Jesus morreu muito jovem. Tinha apenas 33 anos. Ressuscitado, ele não morre mais e sustenta a fé todos nós, velhos e jovens, homens e mulheres de todas as idades. Dele falamos pouco neste álbum, porque ele está em todos e em todas, ele é a raiz, o tronco, os ramos, o fruto. “Eu sou a videira, vocês são os ramos”. Falando dos outros falamos dele, de Jesus, o filho de Maria, o novo Adão. Os três títulos mais antigos de Jesus estão nesta frase do evangelho de Marcos: “O Filho do Homem não veio para ser servido mas para servir e dar sua vida em resgate para muito“ (Mc 10,45). Filho do Homem, Servo de Deus e Libertador dos irmãos. Filho do Homem indica a humanidade e a atitude humanizadora de Jesus. Servo indica a sua abnegação total a serviço dos outros, realizando assim a profecia de Isaías. Libertador ou Goêl, indica a sua atitude de acolher os excluídos. Goêl significa parente próximo, irmão mais velho, advogado, defensor, consolador,
Em Jesus, o amor é o princípio e o fim de tudo. Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão. Jesus imitou o Pai e revelou o seu amor. Cada gesto, cada palavra de Jesus, desde o nascimento até à hora de morrer na cruz, era uma expressão deste amor. Foi um crescendo contínuo. A manifestação plena foi quando na Cruz ofereceu o perdão ao soldado que o torturava e matava. O soldado, empregado do império, prendeu o pulso de Jesus no braço da cruz, colocou um prego e começou a bater. Deu várias pancadas. O sangue espirrava. O corpo de Jesus se contorcia de dor. O soldado, mercenário ignorante, alheio ao que estava fazendo e ao que estava acontecendo ao redor, continuava batendo como se fosse um prego na parede da casa para pendurar um quadro. Neste momento Jesus dirige ao Pai esta prece: “Pai, perdoa! Eles não sabem o que estão fazendo!” Por mais que quisessem, a desumanidade do sistema não conseguiu apagar em Jesus a humanidade. Eles o prenderam, xingaram, cuspiram no rosto dele, deram soco na cara, fizeram dele um rei palhaço com coroa de espinhos na cabeça, flagelaram, torturaram, fizeram-no andar pelas ruas como um criminoso, teve de ouvir os insultos das autoridades religiosas, no calvário o deixaram totalmente nu à vista de todos e de todas. Mas o veneno da desumanidade não conseguiu alcançar a fonte da humanidade que brotava de dentro de Jesus. A água que jorrava de dentro era mais forte que o veneno que vinha de fora, querendo de novo contaminar tudo. Olhando aquele soldado ignorante e bruto, Jesus teve dó do rapaz e rezou por ele e por todos: “Pai perdoa!” E ainda arrumou uma desculpa: “São ignorantes. Não sabem o que estão fazendo!” Diante do Pai, Jesus se fez solidário com aqueles que o torturavam e maltratavam. Era como o irmão que vem com seus irmãos assassinos diante do juiz e ele, vítima dos próprios irmãos, diz ao juiz: “São meus irmãos, sabe. São uns ignorantes. Perdoa. Eles vão melhorar!” Era como se Jesus estivesse com medo que o mínimo de raiva contra o rapaz pudesse apagar nele o restinho de humanidade que ainda sobrava. Este gesto incrível de humanidade foi a maior revelação do amor de Deus. Jesus pôde morrer: “Está tudo consumado!” E inclinando a cabeça, entregou o espírito (Jo 19,30). Dizia o Papa Leão Magno: “Jesus foi tão humano, mas tão humano, como só Deus pode ser humano”
Oração: Pai nosso (Mt 6,9-13).
Festa da Sagrada Família
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Dom Antonio Carlos Rossi Keller
Bispo de Frederico Westphalen (RS)
A Festa da Sagrada Família, celebrada no primeiro domingo após o Natal, nos convida a refletir sobre a importância da família na vida cristã. Este momento especial nos lembra que a família é um espaço sagrado onde a fé é vivida e transmitida. Em 2025, o Ano Santo terá como tema “Peregrinos de Esperança”, ressaltando a necessidade de vivermos a esperança em nossas famílias e comunidades, especialmente em tempos desafiadores. Este tema nos inspira a buscar a presença de Deus em nossas famílias, promovendo um ambiente de autêntico amor e compreensão, como testemunho de esperança para o mundo.
A celebração da Sagrada Família nos lembra que Jesus, Maria e José são modelos de amor, respeito e unidade familiar. Essa festa nos convida a valorizar a vida familiar como um espaço de crescimento espiritual e humano, onde a fé é vivida e transmitida. A Sagrada Família nos ensina que, apesar das dificuldades e desafios, a união e o amor são fundamentais para a construção de lares que refletem a luz de Cristo.
A 1a Leitura (Eclesiástico 3, 3-7. 14–17) destaca a importância da honra e do respeito aos pais, enfatizando que a obediência e o cuidado com a família são fundamentais para a vida em comunidade. O texto nos lembra que “quem honra seu pai terá alegria em seus filhos” (Eclesiástico 3, 6), ressaltando a promessa de bênçãos para aqueles que cuidam de seus pais. Essa passagem é um lembrete do valor da família na tradição judaico-cristã, onde o amor e o respeito são pilares essenciais para a convivência harmoniosa, através do cumprimento do 4o Mandamento da Lei de Deus.
O Salmo 128 celebra a felicidade da vida familiar e a bênção que vem de Deus. Ele destaca que aqueles que temem ao Senhor e seguem seus caminhos experimentarão a paz e a prosperidade em suas casas. A afirmação de que “feliz é todo aquele que teme ao Senhor” (Salmo 128, 1) reforça a ideia de que a fé é a base de uma família feliz, onde o amor e o respeito são cultivados diariamente.
Na 2a Leitura (Colossenses 3, 12-21) São Paulo exorta os cristãos a viverem em harmonia, praticando a compaixão, a bondade e a paciência. Ele também fala sobre o papel de cada membro da família, incentivando a submissão mútua e o amor, o que é essencial para a construção de um lar cristão. A exortação de Paulo para que “as mulheres sejam submissas a seus maridos” (Colossenses 3, 18) e que “os maridos amem suas mulheres” (Colossenses 3, 19) reflete a necessidade de um amor que se expressa em respeito e cuidado mútuo, promovendo um ambiente familiar saudável e acolhedor.
No relato do Evangelho (Lucas 2, 41-52), vemos Jesus, aos doze anos, no templo, demonstrando sua sabedoria e compreensão das coisas de Deus. A passagem nos ensina sobre a importância da educação religiosa e do diálogo familiar, além de mostrar que a busca por Deus deve ser uma prioridade na vida da família. A resposta de Jesus a Maria e José, “Não sabíeis que eu devia estar na casa de meu Pai?” (Lucas 2, 49), nos convida a refletir sobre como a fé deve ser central em nossas vidas e na educação de nossos filhos.
Para viver o Ano Santo de 2025, as famílias podem:
Participar de peregrinações locais: buscar fortalecer a fé em comunidade, visitando, seja em família, seja em Comunidade, as Igrejas Jubilares da Diocese, participando das celebrações litúrgicas.
Realizar momentos de oração em família: dedicar tempo para refletir sobre a esperança em suas vidas, rezando juntos e compartilhando intenções.
Envolver-se em ações de caridade: auxiliar os necessitados e promover a solidariedade, ensinando aos filhos a importância do serviço ao próximo, levando a esperança cristã a quem muitas vezes está desesperançado.
Criar tradições familiares que celebrem a fé: Como a leitura da Bíblia em conjunto, a oração do terço em família, a participação em celebrações litúrgicas, fortalecendo os laços familiares através da espiritualidade.
A Festa da Sagrada Família e o Ano Santo de 2025 nos convidam a refletir sobre a importância da família como um espaço de esperança e fé. Ao seguirmos o exemplo de Jesus, Maria e José, podemos construir lares que sejam verdadeiros santuários de amor e esperança, contribuindo para um mundo mais justo e solidário. Que a Sagrada Família interceda por todas as famílias, para que vivam na paz e na união.
Sagrada Família: Jesus, Maria e José, cuidai de nossas famílias. Fonte: https://www.cnbb.org.br
MEDITAR NA LEI DO SENHOR E VIGIAR EM ORAÇÃO- Retiro da Ordem Terceira do Carmo
- Detalhes
Província Carmelitana Fluminense
Venerável Ordem Terceira do Carmo
Sodalício de Saquarema, Rio de Janeiro
Retiro. 30 de novembro-2024
Frei Petrônio de Miranda, O. Carm e Paulo Daher

MEDITAR NA LEI DO SENHOR E VIGIAR EM ORAÇÃO
Frei Bruno Secondin O. Carm. Adaptação para Ordem Terceira, por Frei Petrônio de Miranda, O. Carm
Eis o grande tema carmelita: até as pessoas menos instruídas sabem que o ideal carmelitano é o da vida de oração. E em torno deste ponto focal deveriam convergir todas as outras coisas: o trabalho, a convivência familiar e as nossas opções- sejam amorosas, sociais, políticas ou religiosas- a formação espiritual, o sentido da maturidade humana e psicológica, a direção espiritual, o apostolado.
Uma tradição de conflitos e de hipocrisias: Se é grande a glória para o Carmelo neste campo – e disto ninguém duvida – é preciso também reconhecer que as hipocrisias não faltam. E também são abundantes as manipulações. A primeira hipocrisia é a de uma vida real que na verdade não parece dar esta importância à oração e à meditação assídua da Palavra, da qual nasce o vigiar nas orações.
Uma releitura das intenções originais do carisma nos ajuda a superar razões de polêmica e a reencontrar um sentido novo para esta característica do Carmelo. Na releitura nova da Regra os capítulos 10-17 formam um bloco único, e representam o modelo de Jerusalém. E, por consequência devem ser interpretados numa unidade dinâmica. Se assim fizermos, veremos bem como a Palavra ouvida e meditada na solidão floresce em oração vigilante e em louvor sálmico, mas também em partilha dos bens e dos sentimentos do coração. E tudo encontra o seu vértice na celebração eucarística, que é plenitude do que a Palavra anuncia e promete, e fermento para que a vida se transforme em koinonia e seja transfigurada na sobriedade e na solidariedade em nome da Palavra (R 17).
A oração como vigilância: Não pode ser interpretada como um tempo noturno roubado ao sono para rezar. Mas antes como uma gramática do desejo: acende-se no coração a certeza de uma presença e de um projeto, cujos contornos se procuram na práxis (louvor, partilha, páscoa diária, reconciliação, luta espiritual, ascese flexível, etc.) Mas também se propõe fazer de toda a existência uma espera vigilante, um estar de sentinela, apaixonados e implorantes. Não é, portanto, a quantidade ou o método que faz do Carmelo uma comunidade orante. Mas este coração que vibra e espera, perscruta e implora, purifica-se e põe em prática a Palavra.
Orar como Igreja e em nome da Igreja: este é na realidade o verdadeiro sentido da vocação carmelita à oração. Uma oração não de horários e de tamanho, mas de coração que ama e que implora, de paixão pelo Reino que trabalhosamente se faz luz na história. Orar como Igreja é principalmente deixar-se amar e convocar. falar ao coração e salvar por meio da Palavra e da mesa eucarística, da solidão e da corresponsabilidade, do trabalho e do silêncio, da fidelidade à sabedoria dos séculos e da abertura ao novo que vai chegando. Se relermos os nossos grandes mestres sob esta perspectiva, encontraremos muitas confirmações, mas também um convite a mudar de esquema.
Uma oração teologal e não só orações: olhando-se bem para a Regra, mas ainda para a nossa história e a nossa espiritualidade, descobrimos que a oração nunca se desprende da história, antes está entrelaçada dentro da história, impregnada de história. Reconhecemos que Deus está fazendo crescer os seus desígnios dentro da história: rezamos desde dentro da nossa experiência de Filhos, e Cristo primogênito reza conosco e em nós. Verdadeiramente rezamos antes de tudo com esta consciência, nele reconhecendo misericórdia, perdão, ternura, fidelidade. A síntese é a oração do Pai Nosso, que justamente vale tanto quanto o breviário inteiro.
Uma oração eclesial: enquanto fruto do Espírito, que anima a Igreja, conhece os seus gemidos e aspirações, e os eleva em nosso favor até onde está o Pai (Rm 8,26). Trata-se certamente de uma experiência pessoal autêntica, que nasce do coração e da interioridade, mas não se fecha sobre si mesma, exprime ao mesmo tempo a comunhão dos irmãos, dos filhos de Deus, do edifício espiritual que vai crescendo sob a guia do Espírito. Não percamos de vista a função central da capela dedicada a Maria: a oração, que nasce na interioridade de cada um, tende por sua natureza a se manifestar em expressões compartilhadas por todos, como expressão coral de uma família, de uma comunidade.
Uma oração que é via para crescimento em humanidade: retenhamos que hoje é muito importante colocar a nossa atenção sobre o dinamismo do crescimento na autoconsciência cristã através da oração e o orar. Para que todos nos demos conta de que aqui justamente está uma das grandes dificuldades da nossa oração: que ela se torne não só um problema de quantidade e de tempo, de fórmulas e de gestos, mas sobretudo de crescimento dinâmico, de maturidade global. A Regra propõe-nos uma experiência unificada e unificante com o mistério da salvação, que se realiza no tempo e caminha para a plenitude do Reino escatológico. O escopo final é uma existência transfigurada, em que tudo vem à luz em síntese: Se, pelo contrário, a nossa preocupação é a de ensinar as descrições metodológica e psicológicas dos nossos mestres, nós nunca formaremos orantes de coração vigilante.
A palavra é uma lâmpada para os nossos passos [cf. Sl 118 (119) 105]. Queremos completar esta nossa exposição mais uma vez com um texto bíblico, que talvez raramente tenhamos lido. São alguns versículos do Sirácide 35,9-18. Limito-me a algumas anotações para ajudar na interpretação.
A hipocrisia do culto sem justiça: não se pode separar o culto a Deus do modo de viver, seguindo uma moral dupla. Deus não se deixa enganar pelas aparências quando se oferece os frutos de ações perversas. Não basta rezar pessoalmente com intensidade, é preciso saber distinguir a desonestidade em tantas situações e não concordar com a hipocrisia.
O semblante alegre , com ânimo bem disposto: não há verdadeiro diálogo com Deus se não existe amor e alegria ao fazê-lo, desejo de encontrá-lo. No constrangimento e no medo não floresce verdadeira oração. Mas a alegria nasce também da resposta de Deus, gratuita e generosa. “Bela é a misericórdia no tempo da aflição: é como nuvens que trazem a chuva no tempo da seca (Sr 35,24)”.
Deus ouve a prece do oprimido: A Escritura toda no-lo testemunha. Deus conhece e escuta a súplica e o desabafo. Quer dizer que é lícito desabafar-se e gritar; mas também que aquele que ama a Deus deve aguçar os próprios ouvidos e abrir o próprio coração para escutar como Deus e a reagir como Ele, “restabelecendo a equidade”.
Rezar com o corpo: Notemos a ênfase corpórea deste modo de orar. Reforça o sentido da luta, da fadiga, da solidão; é também expressão de uma fé tenaz e confiante. É o corpo todo e a vida que se fazem oração; não é apenas um dizer orações de qualquer maneira.
Caminho de crescimento: Seja para quem implora e desafia as nuvens para se fazer escutar , seja para a história da humanidade, a oração do humilde torna-se graça que abala as injustiças e faz realizar a justiça e a misericórdia. Bartolomeu de las Casas foi justamente lendo este texto que se converteu de clérigo conquistador em profeta dos oprimidos.
Para meditar e orar
1-Nós, Sodalício da Ordem Terceira do Carmo de Saquarema, estamos convencidos de que devemos repensar o sentido da nossa vocação para a oração?
2- Segundo Frei Tito Brandsma- Santo Carmelita, “A oração é vida, não um oásis no deserto da vida”. Como tornar-se Igreja orante e não só fazer orações?
3- Impossível ser um homem e uma mulher de oração da Ordem Terceira do Carmo e fechar os olhos para a pobreza, as Guerras e as diversas injustiças sociais do Brasil e do mundo. Como crescer em humanidade e solidariedade rezando?
O Silêncio no Carmelo
Frei Petrônio de Miranda, O. Carm
A simplicidade falou, o amor foi escutar, era a brisa do Carmelo, com o Profeta a contemplar.
1- Zelo zelatus sum, pro Domino Deo exercituum/ Eu me consumo de zelo, dia e de noite, pelo Senhor (bia)
2- No barulho da grande cidade, na agitação do metrô/ Quem caminha sem o silêncio, jamais encontra, o meu Senhor. (bis)
3-Tem gente que grita aqui, fala alto em todo lugar/ Esse não é o carmelita, aqui o silêncio veio habitar. (bis)
4-Deus não está surdo, não adianta jamais gritar/ Ele ouve a nossa prece, atende o clamor, do pobre a chorar. (bis)
5-No rádio e na tv, no jornal ou no celular/São palavras e mais palavras, e o vazio, sempre a reinar. (bis)
6- Com Teresa e Teresinha, eu quero silenciar/ Com Madalena de Pazzi, buscando essa paz, eu vou me encontrar. (bis)
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