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A informação precisa sobre o suicídio assistido convida a sociedade a refletir – e essa reflexão interessa ao aperfeiçoamento do Estado de Democrático de Direito
Por Eugênio Bucci
Jornalista e professor da ECA-USP, Eugênio Bucci escreve quinzenalmente na seção Espaço Aberto
“A morte também tem arte.” Esse verso de Antonio Cicero fecha o poema La Capricciosa, que faz parte do livro Porventura (Ed. Record, 2012). Quando termina, a gente tem vontade de ler uma segunda vez. E, então, lê uma terceira. Não basta.
E não importa. O soneto em redondilhas maiores, sem rimas, não quer nos agarrar pelos cabelos, apenas quer ser sentido e guardado. Sem alarde. Tudo que o verso almeja, e tem, é altivez estética – e, nisso, reflete a elegância límpida que marcou a biografia de seu autor.
O poeta, que era também filósofo, evidentemente, cerrou os olhos pela última vez na semana passada, no dia 23 de outubro. Viajou para Zurique, na Suíça, e lá se submeteu ao suicídio assistido – um procedimento legal naquele país. Tinha 79 anos e sofria do mal de Alzheimer. Na carta que deixou aos amigos, definiu como “insuportável” seu estado de saúde. Decidiu partir enquanto ainda conservava algum domínio sobre a existência que se desprendia de sua consciência em ocaso. Escolheu morrer como viveu: “com dignidade”, nas suas palavras exatas.
O jornalismo costuma tratar o suicídio com parcimônia, seguindo o protocolo publicado no ano 2000 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Glorificações devem ser evitadas, assim como deslizes ou excessos sensacionalistas. A OMS recomenda que as mensagens deixadas pelos suicidas não sejam divulgadas. Se não houver como evitar a notícia, os órgãos de imprensa devem fornecer “informações sobre números de telefones e endereços de grupos de apoio e serviços onde se possa obter ajuda”.
Todos esses cuidados primam pela correção. Se convertidas em espetáculos chamativos, as mortes voluntárias poderiam promover um efeito de contágio que vitimaria sobretudo os que enfrentam crises pessoais agudas e têm a saúde mental fragilizada. Não há como discordar. Não consta que algum jornalista tenha reclamado de censura quando seus veículos se esforçam para não dar destaque aos detalhes das histórias dos que se matam. Temos aqui uma das únicas situações em que o silêncio jornalístico encerra uma virtude.
No passamento de Antonio Cicero, porém, a carta de despedida foi publicada em toda parte e a cobertura foi além dos padrões de discrição. Não enveredou por tons apelativos, não romanceou nem glamorizou os fatos, mas não se limitou às balizas estabelecidas. Quando o cineasta Jean-Luc Godard morreu por meio de expedientes semelhantes, em 2022, a postura jornalística seguiu a mesma direção.
O que explica a atitude espontânea das redações profissionais, aparentemente contrária a regras tão sensatas? A resposta é simples. O suicídio assistido e a eutanásia não são a mesma coisa que um suicídio comum: são recursos legítimos, cercados de todos os cuidados médicos, que são oferecidos como um direito a pacientes que padecem de uma enfermidade terminal ou incurável e que estão prestes a perder os últimos resquícios de autonomia física e moral. O problema é que quase nenhum país reconhece esse direito. Por quê? Essa pergunta é do mais alto interesse público – ela explica e justifica a extensa cobertura jornalística.
O jornalista Hélio Schwartsman, da Folha de S. Paulo, em sua coluna de quinta-feira passada, argumentou com propriedade: “Diante de quadros irreversíveis de sofrimento, como era o de Cicero, cabe ao Estado liberal assegurar que cidadãos tenham (...) a liberdade de antecipar a própria morte”. Godard ou Cicero não enfrentavam atribulações passíveis de superação, eles se encontravam nos estertores da sanidade, sem nenhuma perspectiva de melhora.
Em suma, noticiar o que se passou com os dois artistas e pensadores não tem nada a ver com explorar sentimentalmente um doloroso drama pessoal. A informação precisa, nesses casos, convida a sociedade a refletir – e essa reflexão interessa ao aperfeiçoamento do Estado Democrático de Direito. Seguir interditando o debate apenas prolonga o sofrimento de quem precisa, racionalmente, seguir essa escolha, além de tornar mais torturante a angústia de seus amigos e familiares.
Antonio Cicero, que morava no Rio de Janeiro, deu seu último suspiro em Zurique. Seus entes queridos compreenderam e acolheram o gesto. Com dignidade, como ele queria. E o que dizer de quem não tem dinheiro para cruzar o Atlântico e pagar pelos serviços? Com que dignidade poderá fazer a escolha derradeira? A busca das melhores respostas é tarefa de todas as pessoas que acreditam em solidariedade.
Por sinal, ou por acaso, está em cartaz o novo filme de Pedro Almodóvar, O Quarto ao Lado, ganhador do grande prêmio do Festival de Veneza, que trata magistralmente desse mesmo tabu. A obra mostra a dor de quem morre e, acima disso, expõe a provação daqueles que, além de fazer companhia a quem morre, precisam se esmerar em mentir para a polícia.
O recado calmo de Almodóvar também não nos quer agarrar pelos cabelos, apenas pretende nos lançar um convite ao pensamento. Que o filme nos ajude a espantar a insensibilidade. Que a filosofia nos desconcerte. Há arte na morte, porque precisa haver dignidade. Fonte: https://www.estadao.com.br
*JORNALISTA, É PROFESSOR DA ECA-USP
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A remoção de conteúdos sem análise judicial criteriosa pode silenciar discursos legítimos e prejudicar o debate público
Por Jamil Assis
O julgamento do artigo 19 do Marco Civil da Internet pelo Supremo Tribunal Federal (STF) pode definir os limites da responsabilidade das plataformas digitais no Brasil. Atualmente, as plataformas só são responsabilizadas por conteúdos de terceiros após decisão judicial, o que protege contra a censura privada. Contudo, com a crescente pressão de setores da sociedade e do governo, discute-se a possibilidade de responsabilizar as plataformas com base em notificações extrajudiciais ou até exigir o monitoramento ativo das redes.
O artigo 19 busca equilibrar a liberdade de expressão e a responsabilidade das plataformas, garantindo um espaço plural na internet. No entanto, a demora no combate a discursos de ódio, fake news e fraudes tem gerado pressões por mudanças. Em casos claros, como exploração infantil ou terrorismo, a ilegalidade é evidente e uma atuação mais proativa das plataformas faz sentido. No entanto, em temas mais sensíveis, como discursos políticos, relações de consumo ou crimes contra a honra, a fronteira entre o legal e o ilícito se torna mais nebulosa. A remoção de conteúdos sem uma análise judicial criteriosa pode silenciar discursos legítimos e prejudicar o debate público.
Um exemplo relevante envolve postagens críticas a figuras públicas ou instituições. Imagine que uma plataforma, temendo responsabilização, remova uma postagem que acusa um ministro de corrupção. Mesmo com evidências ou no exercício do direito de crítica, essa remoção poderia ocorrer sem análise judicial, silenciando um debate essencial para a democracia.
Juristas como Ronaldo Lemos e Lenio Streck já alertaram para o risco de as plataformas adotarem censura preventiva para evitar sanções, removendo conteúdos antes de qualquer avaliação judicial. Quando grandes empresas decidem o que pode ou não ser dito, há o risco de que essas decisões sejam pautadas mais por interesses econômicos do que pela defesa de valores democráticos.
O direito à liberdade de expressão não se destina a proteger discursos já aceitos e predominantes. Sua verdadeira missão é garantir espaço para aquelas manifestações que erguem as sobrancelhas dos poderosos, sejam políticos ou executivos das próprias plataformas. Sem a mediação do Judiciário, as redes sociais assumiriam o papel de árbitros do que pode ou não permanecer online, colocando em risco a diversidade de opiniões e silenciando vozes dissidentes.
O STF deve agir com cautela ao decidir o futuro do artigo 19. Monitoramento ativo e responsabilização após simples notificação podem parecer soluções rápidas, mas o custo pode ser alto demais para a democracia brasileira. Embora a remoção rápida de conteúdos nocivos seja importante, isso não deve ocorrer à custa de garantias fundamentais como a liberdade de expressão e o direito à informação. Delegar às plataformas a análise do que é ilícito pode parecer eficiente, mas oculta o risco de terceirizar para advogados cautelosos a defesa da pluralidade e do debate livre.
Além disso, há também a discussão de que um conteúdo só seria removido sem ordem judicial se “manifestadamente ilícito”. Esse ponto levanta outra discussão sobre o significado desse termo. Por sua abrangência, muitas opiniões legítimas podem ser removidas do debate público, afetando diretamente a liberdade de expressão e o direto à informação dos cidadãos. Regras que dependem de interpretações subjetivas são prato cheio para arbitrariedades e decisões inconsistentes.
Um exemplo dessa complexidade é o discurso sobre imigração nos Estados Unidos e na Europa. Para alguns, associar imigração a aumento de criminalidade ou ao colapso de serviços públicos é visto como discurso de ódio. Outros, no entanto, consideram que essas críticas fazem parte de um debate legítimo sobre políticas públicas. Remover esse tipo de conteúdo pode ser entendido como uma tentativa de suprimir discussões importantes, silenciando vozes legítimas.
Lidar com os desafios da internet e da tecnologia na democracia contemporânea é uma tarefa complexa, especialmente ao equilibrar o enfrentamento da desinformação e o direito à liberdade de expressão e à informação. No entanto, a liberdade de expressão é um dos pilares de uma democracia saudável. Sem ela, não é possível que a verdade apareça, já que o debate público e o confronto de ideias dependem de um ambiente em que todas as vozes possam ser ouvidas.
É preciso que haja a defesa de uma abordagem que preserve a liberdade de expressão, assegurando que a moderação de conteúdos ocorra de maneira justa, transparente e sujeita ao controle judicial e social, evitando excessos e garantindo um ambiente democrático e plural. O verdadeiro problema talvez esteja na incapacidade das instituições judiciais de responder com a rapidez exigida pelo mundo digital. Mas para isso existem outras soluções menos arriscadas. Por exemplo, até hoje não temos visto juizados especializados para causas digitais. Isso sem contar com as potenciais inovações que os empreendedores brasileiros e sua criatividade certamente são capazes de gerar.
*DIRETOR DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS DO INSTITUTO SIVIS
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Teóloga mostra como controle de favelas espelha israelitas e pagãos convertidos
Repórter de ciência e colunista da Folha. Autor de "Homo Ferox" e "Darwin sem Frescura", entre outros livros
A associação entre a expansão das igrejas evangélicas e a atuação de algumas facções criminosas no Rio de Janeiro decerto parece contraintuitiva para muita gente. Uma das explicações mais interessantes do fenômeno está no livro "Traficantes Evangélicos" (editora Thomas Nelson Brasil), que tive a oportunidade de ler em preparação para uma mesa-redonda na Bienal de São Paulo. O que mais me impressionou no livro da teóloga e historiadora Viviane Costa é como esse processo basicamente repete a lógica histórica que vemos no início da Idade do Ferro do Oriente Médio (há cerca de 3.000 anos) ou no mundo pós-romano na Europa há 1.500 anos: a adoção de novos deuses como estandartes de batalha.
É lógico que estou simplificando um bocado a discussão do livro da pesquisadora (cuja leitura, aliás, recomendo vivamente). Mas, em linhas gerais, Costa documenta bastante bem a transição religiosa que acontece em diferentes comunidades pobres do Rio sob influência do crime organizado e do tráfico.
Até mais ou menos o fim dos anos 1990, havia um predomínio, nessas favelas, de uma lógica sincrética do catolicismo e das religiões afrobrasileiras em que imagens de são Jorge (talvez ainda o santo católico mais popular do Rio) e/ou sua contraparte no candomblé, Ogum, bem como terreiros ou centros de umbanda associados a esse culto, eram vistos como forças sobrenaturais protetoras da comunidade (e também da chefia do crime organizado).
A expansão evangélica, inclusive entre membros do tráfico (processo que tem seu auge, por ora, na formação do chamado "complexo de Israel"), tem levado a uma substituição religiosa em que esses símbolos anteriores de poderio espiritual são destronados por uma linguagem e uma simbologia agressivamente purista e "cristã". E há, é claro, uma associação desse novo poderio bélico com o Deus de Israel do Antigo Testamento.
Por um lado, é como se os vitoriosos nesse confronto se enxergassem como sucessores de deuses israelitas guerreiros como David. E a própria vitória em combate é vista como um sinal da benção divina: Deus se mostra poderoso por ser um deus da guerra. No fundo, trata-se também da mesma lógica que levou o imperador romano Constantino ou chefes pagãos como Clóvis, rei dos francos, no mundo pós-romano, a justificarem sua adoção do culto ao Deus cristão.
E, coincidência ou não, tanto nos casos antigos e medievais quanto nos modernos, é um processo que acontece principalmente na tentativa de legitimação de poder num cenário em que o poder do Estado não vale mais ou aonde ele nunca chegou. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
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Tema do 30.º Domingo do Tempo Comum
A liturgia do 30.º Domingo do Tempo Comum exorta-nos a viver com esperança. A nossa vida não tem de ser uma experiência sombria, sem horizontes e sem perspetivas; Deus dispõe-se, a cada passo, a libertar-nos da escuridão e a conduzir-nos em direção a uma vida livre e plenamente realizada. Basta que, da nossa parte, haja disponibilidade para aceitarmos os desafios e indicações de Deus.
A primeira leitura é um convite à alegria. Para o Povo que caminha pelos vales sombrias da vida e da história, Deus é um Pai que acompanha, que ampara e que cuida. Ele não deixará ninguém para trás, nem sequer os mais débeis – o cego, o coxo, a mulher grávida e a que tem dificuldade em manter o ritmo da caminhada pois transporta o seu bebé nos braços. Guiados pelo amor paternal e maternal de Deus, todos chegarão à terra sonhada, à meta da Vida verdadeira.
Na segunda leitura um catequista cristão – o autor da Carta aos Hebreus – apresenta-nos Jesus como um sumo-sacerdote que compreende as nossas fraquezas e que nos leva até Deus. Podemos confiar n’Ele e segui-l’O sem hesitações. Ninguém encontra a Vida verdadeira sem caminhar com Jesus, sem escutar as suas indicações, sem viver ao seu estilo. É uma mensagem destinado a acordar crentes adormecidos, conformados com uma fé morna, sem exigência e sem compromisso.
O Evangelho, através da história do cego Bartimeu, propõe-nos uma parábola sobre a passagem da escuridão para a luz, da vida velha para a vida nova. O encontro com Jesus é sempre uma oportunidade para abraçar uma existência com horizontes mais amplos, uma vida plena de luz e de sentido. Bartimeu, o homem que encontrou Jesus à saída de Jericó e O seguiu no “caminho” de Jerusalém, é o modelo de todos os discípulos.
EVANGELHO – Marcos 10,46-52
A situação inicial do cego Bartimeu – encerrado numa escuridão paralisante, acomodado à sua vida de hábitos e comportamentos velhos, aos seus medos, às suas hesitações, à sua vergonha – evoca um quadro que talvez não nos seja estranho… É a condição do homem que não consegue levantar os olhos do chão, que vive a prazo, que navega sempre à vista de terra, que se conforma com horizontes limitados e é incapaz de olhar para mais longe e mais alto; é a situação do homem prisioneiro do egoísmo, do orgulho, da ambição, dos bens materiais, da preguiça, que vive preso a preocupações rasteiras e materiais; é a realidade do homem refém dos seus vícios, hábitos e paixões, que “deixa correr” as coisas porque não se sente com capacidade para romper, com as suas frágeis forças, as cadeias que o impedem de construir uma vida mais digna e mais ditosa. A Palavra de Deus que escutamos neste domingo garante-nos que a vida não tem de ser vivida desta forma. Estamos conscientes disso? Estamos dispostos a vencer a tentação do imobilismo, da acomodação, do facilitismo, das apostas fáceis em “conquistas” que nunca saciam a nossa fome de vida eterna?
Para o cego Bartimeu, o momento decisivo para a transformação da sua vida foi o encontro com Jesus. Bartimeu sentiu, nesse instante, que Jesus lhe oferecia perspetivas novas de vida e de realização; percebeu que Jesus lhe trazia uma proposta irrecusável e que não podia deixar escapar a oportunidade que lhe era oferecida. Em Jesus, Bartimeu viu a oportunidade de deixar a escuridão e de nascer para a luz. O encontro com Jesus, se é verdadeiro, é sempre desafiante e transformador. Ora, esse mesmo Jesus que Se cruzou com o cego Bartimeu à saída de Jericó continua a cruzar-Se hoje, de forma continuada, com cada homem e com cada mulher nos caminhos da vida e a oferecer-lhes, sem cessar, a possibilidade de agarrarem uma vida nova, uma vida cheia de sentido, uma vida plenamente realizada… E isto diz-nos respeito: a salvação que Jesus oferece também é para nós. Ousaremos sair do nosso egoísmo, da nossa indiferença, da nossa autossuficiência para escutar e abraçar a proposta de Jesus?
Bartimeu confiou e colocou toda a sua vida nas mãos de Jesus. Atirou fora, sem hesitação, a vida que conhecia até aí, deu um salto qualitativo que alterou os seus horizontes e partiu para a aventura de seguir Jesus. Bartimeu apostou tudo em Jesus; e, ao fazer essa opção, deixou de estar sentado “à beira do caminho” para “ir com Jesus no caminho” ou para “fazer caminho com Jesus”. Jesus passou a ser a sua referência, o seu “mestre”, o seu “guia”, o seu “Senhor”. E nós? Quem é a nossa referência no caminho da fé? Vivemos a fé como seguimento incondicional de Jesus, ou como o simples cumprimento de rituais que herdamos dos nossos antepassados e que vivemos de forma desleixada, morna e pouco comprometida? Sentimo-nos discípulos decididos, que não querem perder Jesus de vista porque sabem que Ele é Caminho, Verdade e Vida?
Na história do encontro de Bartimeu com Jesus, aparecem diversos figurantes, com papéis vários. Uns são obstáculo ao encontro entre Bartimeu e Jesus (“muitos repreendiam-no para que se calasse”); mas outros apresentam-se como intermediários entre Jesus e Bartimeu e transmitem ao cego o “chamamento” de Jesus (“coragem! Levanta-te, que Ele está a chamar-te”). Este facto serve para nos tornar conscientes do papel daqueles que nos rodeiam no nosso caminho da fé. Ao longo da nossa caminhada, encontraremos pessoas que nos levam até Jesus e que nos ajudam a tornarmo-nos discípulos; mas encontraremos também pessoas que, muitas vezes com ótimas intenções, tentam impedir-nos de nos comprometermos com Jesus e com o Reino de Deus. Assim, neste processo de aproximação a Jesus, temos de tentar perceber, com sentido crítico, a quem dar ouvidos, que indicações e conselhos devemos acolher ou rejeitar… Entre as pessoas que encontramos no nosso caminho, quem é que nos pode ajudar, genuinamente, a chegar a Jesus e a estabelecer contacto com Ele?
As pessoas que encorajam Bartimeu a aproximar-se de Jesus representam aqueles homens e mulheres genuinamente preocupados com o sofrimento dos seus irmãos, que não conseguem ficar indiferentes ao apelo de quem procura a luz, que têm um coração capaz de se compadecer com as lágrimas e as dores dos que vivem em dificuldade. Esses são, no meio do mundo, sinais vivos da misericórdia, da ternura e do amor de Deus; esses são filhos verdadeiros de um Deus que ama. Como nos posicionamos diante dos gritos dos nossos irmãos que sofrem? Preocupamo-nos em cuidar das feridas dos homens e mulheres que encontramos caídos nas estradas da vida e procuramos levá-los a Jesus a fim de que Ele os cure?
Quando alguém abandona a vida velha e decide tornar-se discípulo de Jesus, não tem todos os problemas resolvidos. Enfrenta desafios novos, fica fora da sua zona de conforto e tem de se adaptar a novas realidades, perde a segurança que os velhos hábitos davam, tem de enfrentar as críticas e as incompreensões de quem não compreende a sua opção… Aquele caminho de Jerusalém para o qual Jesus convoca os discípulos, é um caminho que passa pela cruz e pelo dom de si próprio. Não esqueçamos, no entanto, que esse caminho conduz à Vida nova, à ressurreição, à Vida definitiva. Jesus não arrasta os seus discípulos para um beco sem saída, mas leva-os ao encontro da Vida verdadeira, segundo o projeto do Pai. Quando avaliamos tudo isto, sentimo-nos com coragem para escolher Jesus e para O seguir? Estamos seguros de que vale a pena seguir Jesus, apesar de todas as dificuldades que teremos de enfrentar?.
*Leia a reflexão na íntegra. Clique ao lado o link- EVANGELHO DO DIA.
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Cena caótica foi registrada em frente a padaria na cidade Deir al-Balah, no centro do território, nesta quinta-feira (24). Um dia antes, o mesmo cenário ocorreu em Khan Yunis, no sul, com crianças chorando por causa da fome.
Homens se espremem em frente a padaria em Deir Al-Balah, na Faixa de Gaza — Foto: REUTERS/Ramadan Abed
Por g1
Palestinos sofrem para conseguir comprar pão em várias regiões da Faixa de Gaza
Cenas caóticas vem sendo registradas em frente a padarias na Faixa de Gaza. Nesta quinta-feira (24), um fotógrafo da agência de notícias Reuters flagrou o momento em que homens e mulheres se espremiam em Deir Al-Balah, na região central do território, na tentativa de garantir pão para si e suas famílias.
Khalil Al-Shannar, que fugiu de Jabalia, onde Israel faz uma ofensiva intensa nas últimas semanas, era um deles e contou que estava esperando desde o início da manhã para conseguir um pouco de pão:
“Eu tenho 14 pessoas na minha família - 14 pessoas! -, e até agora não consegui nada. E qual é a razão? A razão é a falta de farinha, a falta de fornecimento de farinha para a Faixa de Gaza. Se não morrermos pela guerra, morreremos de fome”, lamentou.
Conseguir comida suficiente para os 2,3 milhões de habitantes de Gaza, quase todos deslocados, tem sido uma das questões mais difíceis da guerra. As agências de ajuda humanitária vem, constantemente, renovando seus avisos sobre o aumento da desnutrição e o perigo de fome.
Um dia antes, em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, cenas similares foram registradas. Crianças que também estavam na fila foram fotografadas chorando de fome, próximas à janela por onde os pães eram entregues.
Ataque de Israel a escola em campo de refugiados em Gaza deixa 16 mortos
Pelo menos 17 palestinos foram mortos - sendo 9 crianças - e 42 ficaram feridos em um ataque israelense a uma escola no campo de Nuseirat, em Gaza , nesta quinta-feira (24), informou o hospital Al-Awda.
Imagens feitas após o bombardeio mostram a destruição do local, que abrigava deslocados pela guerra, e a correria para levar os feridos ao hospital.
O Exército israelense confirmou o ataque, no entanto disse que o local era um centro de comando e controle do Hamas que, anteriormente, era usado como escola e que seus militares tomaram inúmeras medidas para mitigar o risco de ferir civis.
Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, ligado ao grupo extremista palestino, o número de mortos em Gaza já chega a quase 43 mil.
A Defesa Civil da Faixa de Gaza afirmou, nesta quinta, que pelo menos 770 pessoas morreram no norte do território palestino desde o dia 6 de outubro.
"Há mais de 770 mortos desde o início da operação militar e ainda há mortos sob os escombros e nas ruas", disse à AFP o porta-voz da organização, Mahmud Basal.
Nesta quinta, na cúpula do Brics, na Rússia, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres fez um apelo pelo cessar-fogo na região: "Precisamos de paz em todos os níveis".
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse nesta quinta, após negociações no Catar, que prevê que os negociadores se reunirão novamente nos próximos dias para discutir um acordo para encerrar a guerra de Israel em Gaza, e anunciou ajuda financeira.
"Hoje, anunciamos US$ 135 milhões adicionais em ajuda humanitária, água, saneamento e saúde interna para os palestinos em Gaza e na Cisjordânia", disse Blinken, lembrando que o governo americano já ajudou com US$ 1,2 bilhão desde o início da guerra, em 7 de outubro de 2023.
ONU vem denunciando condições em Gaza
O chefe da agência da ONU para refugiados palestinos, UNRWA, usou a rede social X para acusar Israel de estar impedindo que missões humanitárias cheguem às áreas no norte da Faixa de Gaza com suprimentos essenciais, incluindo remédios e alimentos, nesta segunda-feira (21).
Philippe Lazzarini também afirmou que hospitais foram atingidos por ataques e estão sem energia, deixando pacientes sem cuidados, e que os abrigos estão tão lotados que alguns deslocados são obrigados a viver nos banheiros desses locais.
"De acordo com relatos, pessoas que tentam fugir estão sendo mortas, seus corpos deixados na rua. Missões para resgatar pessoas sob os escombros também estão sendo negadas. (...) Negar e armar assistência humanitária para atingir propósitos militares é um sinal de quão baixa é a bússola moral", postou o chefe da UNRWA, pedindo um acordo de cessar-fogo.
Os relatos também foram feitos por moradores e médicos de Gaza para a agência de notícias Reuters. Segundo eles, hospitais e abrigos estão sitiados nesta segunda devido à intensificação das operações israelenses.
ONGs que atuam em Gaza e a população local vêm acusando Israel de estar atacando o campo de refugiados de Jabalia para "limpar" o território e criar uma zona tampão no norte de Gaza. Israel nega. Fonte: https://g1.globo.com
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Ação contra roubo de veículos no Complexo de Israel ainda interrompeu circulação de trens e linhas de ônibus na zona norte
Tiroteio fecha avenida Brasil e pessoas se protegem em mureta - Reprodução/@ramonlage no Twitter
Rio de Janeiro
O passageiro de um ônibus foi baleado na cabeça e outros dois ficaram feridos durante tiroteio em operação da Polícia Militar no Complexo de Israel, zona norte do Rio de Janeiro. A ação bloqueou a avenida Brasil e impactou a circulação de trens na manhã desta quinta-feira (24).
A ação da PM é contra roubos de veículos e cargas nas comunidades Cidade Alta, Cinco Bocas e Pica-Pau, onde criminosos incendiaram barricadas.
Segundo o Ministério da Saúde, o homem atingido na cabeça está em estado grave e passa por cirurgia no Hospital Geral de Bonsucesso. Outros dois passageiros foram socorridos para a mesma unidade e encontram-se estáveis.
Devido ao confronto, por volta das 7h, a avenida Brasil foi bloqueada no sentido zona oeste, a partir do BRT Cidade Alta, e no sentido Centro, na altura do viaduto de Vigário Geral.
Imagens nas redes sociais mostram o congestionamento na via e pessoas fora dos carros, abrigadas atrás de muretas para se proteger dos disparos. Em um vídeo, passageiros aparecem abaixados dentro de um ônibus.
Segundo o Rio Ônibus, mais de 20 linhas foram impactadas com o fechamento da Avenida Brasil. "Mais um dia em que o direito de ir e vir dos cariocas é comprometido pela falta de segurança pública. Apelamos às autoridades para que tomem as devidas providências e garantam o direito básico de deslocamento", disse o sindicato, em nota.
Além disso, o confronto nas proximidades da estação de trem de Cordovil afetou o ramal Saracuruna, que passou a operar apenas entre Central do Brasi/Penha e Duque de Caxias/Saracuruna, com intervalos de 30 minutos.
As estações Penha Circular, Brás de Pina, Cordovil, Parada de Lucas e Vigário Geral foram fechadas, conforme a SuperVia, por medida de segurança para passageiros e funcionários.
A Secretaria de Estado de Educação informou que uma escola estadual foi fechada na região. Já a Secretaria Municipal de Educação relatou que 16 escolas municipais foram impactadas, sendo oito na Cidade Alta, cinco em Vigário Geral e Parada de Lucas, e três nas comunidades Cinco Bocas e Pica-Pau.
A Secretaria Municipal de Saúde informou que o CMS (Centro Municipal de Saúde) Iraci Lopes e a Clínica da Família Heitor dos Prazeres ativaram o protocolo de segurança e suspenderam o atendimento. O CMS José Breves dos Santos atrasou a abertura e avalia a possibilidade de funcionamento. Segundo a secretaria, em 2024, até o momento, a violência gerou 900 registros de fechamentos temporários de unidades de saúde. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
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Lucas Brum ficou em Pelotas e deseja encontrar com João Milgarejo, que já recebeu alta, para 'lamentar os amigos que perdemos'; noves pessoas morreram no acidente na BR-376
Lucas (no canto inferior esquerdo) ficou em Pelotas para treinar a equipe infantil — Foto: Reprodução/Instagram
Por O Globo — Rio de Janeiro
Único atleta que não viajou com a equipe de remo, vítima do acidente que resultou em nove mortes na BR-376 na noite deste domingo, Lucas Brum da Rosa, de 16 anos, disse que "não consegue acreditar" que nunca mais verá seus colegas. O estudante, morador de Pelotas (RS), fazia parte do projeto Remar para o Futuro há cerca de dois anos e não participou da viagem por falta de vaga na van, ficando na cidade para treinar a equipe infantil.
Em entrevista à Rádio Gaúcha, na segunda-feira, Lucas contou estar ansioso para reencontrar o colega João Pedro Milgarejo, de 17 anos, único atleta sobrevivente.
"João é um grande amigo meu. Ele sempre foi muito focado e queria conquistar o melhor lugar nas competições. Fico muito feliz que ele tenha sobrevivido ao acidente e mal posso esperar para abraçá-lo e lamentar pelos amigos que perdemos", afirmou o jovem.
Lucas também relatou sua boa relação com toda a equipe, destacando que os considerava como parte de sua família e o projeto, como uma segunda casa. O atleta elogiou seu treinador, Oguener Tissot, que também faleceu no acidente.
"Meu treinador foi um dos melhores caras que já conheci. Sem dúvidas, o melhor professor de todo o Brasil", disse Lucas, com a voz embargada.
'Gente berrando': como aconteceu o acidente com os atletas de remo de Pelotas?
A carreta de contêiner que perdeu o controle e tombou em cima de uma van de turismo causou a morte de nove pessoas da equipe do projeto social "Remar para o Futuro", de Pelotas (RS). Os jovens atletas retornavam ao estado após uma competição em São Paulo. As identidades das vítimas ainda não foram divulgadas oficialmente pela Polícia Rodoviária Federal.
Um motorista que passou pelo local do acidente relatou ter ouvido "gente berrando" dentro do veículo que conduzia os atletas. O condutor, identificado como Macksuel Souza, de 27 anos, teve seu carro atingido na traseira pela van que levava os atletas do projeto social "Remar para o Futuro", de Pelotas (RS). Ele contou ao ND Mais que, após sentir o impacto da pancada, acelerou o carro.
Em seguida, viu pelo retrovisor a van rodopiando na pista. Depois, o caminhão tombou sobre o utilitário que conduzia os esportistas na mata ao lado da rodovia.
"Depois eu voltei ali no acidente e estava lá o caminhão em cima da van, e um monte de gente berrando", disse Souza.
Acidente com atletas de remo de Pelotas: Vitória em competição
Os atletas tinham conquistado sete medalhas no Campeonato Brasileiro Unificado, representando o Clube Centro Português 1º de Dezembro na competição por equipes, realizada na raia olímpica da USP, em São Paulo. A Confederação Brasileira de Remo comemorou nas redes sociais a conquista de uma medalha de ouro por uma das equipes do projeto social, composta por quatro jovens.
No sábado, o projeto de remo garantiu o ouro no four skiff masculino com Samuel Benites, Henri Fontoura, João Kerchiner e João Milgarejo. No domingo, último dia de provas, o time venceu o ouro no four skiff feminino, com Helen Belony Centeno ao lado de Evelen Cardoso (GNU), Vitória Brandão e Isabela Silveira (Botafogo).
Além disso, o Remar para o Futuro conquistou três medalhas de prata e duas de bronze, encerrando a competição como a sexta melhor equipe, à frente de clubes tradicionais como o Pinheiros. Todos os oito atletas do projeto ganharam medalhas. O coordenador técnico, Oguener Tissot, classificou o desempenho como “excelente” e “histórico”. O evento reuniu 32 clubes de todo o Brasil, sendo o Flamengo a maior delegação, com 80 atletas. Fonte: https://oglobo.globo.com
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Grupo da Unirio aponta que violência física, como a que atingiu prefeito de Taboão da Serra, representa mais de metade dos episódios
O prefeito de Taboão da Serra (SP), José Aprígio da Silva, foi vítima de um atentado a tiros na tarde desta sexta-feira, 18 de outubro - Divulgação Policia Militar
São Paulo
A campanha eleitoral de 2024 registrou um número recorde de casos de violência política no Brasil: foram ao menos 338 de julho a setembro deste ano, segundo levantamento do Grupo de Investigação Eleitoral da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Giel/Unirio).
Mais da metade dos casos foi de violência física, como o que vitimou o prefeito de Taboão da Serra (SP), José Aprígio da Silva (Podemos), atingido por ataque a tiros quando estava dentro de um carro nesta sexta-feira (18). Internado, ele tinha estado de saúde estável. A polícia investiga a motivação do ataque.
Dentre os casos de violência política registrados pelo grupo da Unirio, 88 constituem atentados, com 55 casos em que o alvo sobreviveu e 33 em que foi morto pelo agressor.
O levantamento, registrado no 19° Boletim do Observatório da Violência Política e Eleitoral, considera episódios de violência cometidos contra políticos com e sem mandato. Neste grupo, estão incluídos vereadores, prefeitos, secretários, governadores, candidatos e ex-ocupantes de cargos públicos. Casos de violência contra eleitores não são contabilizados.
Lideranças sem cargo representam a maior parte (166) dos alvos na campanha de 2024. E os grupos mais atingidos, segundo o levantamento, são homens (71%), pessoas entre 40 e 59 anos (52%) e com ensino superior (61%).
Estado de maior população no país, São Paulo também lidera no número de casos de violência, com 58 episódios entre julho e setembro. Vinte e cinco partidos de todos os espectros políticos foram atingidos, com União Brasil, PT e MDB à frente na lista.
Segundo a metodologia do Giel, 2024 superou as eleições passadas em número de casos de violência política. Foram 263 episódios no ano de 2022, que teve pleito marcado por numerosos casos de violência, sobretudo entre eleitores de Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT). Já durante o pleito municipal de 2020, em meio à pandemia da Covid, 235 casos.
"A violência sempre aumenta no período eleitoral" diz Felipe Borba, professor da Unirio e coordenador do Giel. Ele enfatiza que geralmente os cargos locais são alvos mais frequentes, já que pequenos municípios têm disputa mais personalizada, menos ideológica e o Poder Executivo municipal como fonte importante de renda.
Os dados com relação aos anos anteriores têm que ser vistos com alguma cautela, diz o docente, já que a coleta de dados, feita sobretudo a partir de fatos noticiados na imprensa, foi aprimorada ao longo dos anos.
Outro fator a se considerar, segundo ele, é que o tema da violência política ganhou mais atenção e cobertura nos últimos anos. "O assassinato da Marielle, os tiros contra a caravana do Lula e a facada no Bolsonaro deixaram o tema em evidência, e isso pode influenciar os números", diz.
Além do atentado em Taboão, duas vereadoras relataram ter sofrido ataques a tiros em seus veículos no início deste mês.
Tainá de Paula (PT), do Rio de Janeiro, disse em rede social que estava dentro de seu carro na Vila Isabel, zona oeste carioca, quando dois homens atiraram na direção das portas do veículo.
Já Janaína Lima (PP), de São Paulo, relatou que seu carro foi alvo de seis tiros enquanto estava estacionado na frente da casa de uma familiar no Jardim Souza, zona sul paulistana. A vereadora não estava dentro do veículo. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
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Parcelas da sociedade, ao invés de repudiarem com vigor o crime de pessoas com alguma notoriedade, glamurizam-no
Por Roberto Livianu
Tentando fugir de flagrante de traição, há três anos e meio o MC Kevin faleceu no Rio ao despencar de uma varanda, interrompendo assim sua vida aos 23 anos de idade.
Sua mulher, a doutora Deolane Bezerra, circulava no showbiz como primeira-dama do funk, mas, a partir do infausto acontecimento, ganhou protagonismo no debate público como viúva traída, e foi ao estrelato da subcelebridade. Espalhafatosa, sempre ostentou luxo.
Fomos surpreendidos pela notícia da prisão de Deolane e de sua mãe, envolvidas com lavagem de dinheiro, no mundo das bets e em outros ilícitos.
Deixou claro que o status de celebridade venerada por mais de 20 milhões de seguidores fazia-a se sentir intocável pelas leis dos homens.
Isso se reforçou quando obteve a prisão domiciliar, mediante o compromisso de não se manifestar em redes sociais. Mas, ao ser libertada, publicou postagem, em razão do que o benefício foi revogado e ela retornou à prisão.
Não imaginou que a Justiça revogaria seu benefício, contando com a impunidade de seu ato afrontoso. Mais do que isso, insuflou as pessoas que a reverenciavam a protestar contra sua prisão, que foi classificada indevidamente por ela como abusiva e injusta.
Chamou a atenção a massa aglomerada na parte externa na prisão pedindo enlouquecidamente a libertação de Deolane, investigada por gravíssimos crimes. Pessoas deixaram o trabalho e outras deixaram suas famílias para lutar pela influenciadora digital, como se fosse questão de vida ou morte.
Não se importavam com a gravidade dos crimes ou com a consistência das suspeitas. O que importava era a amada Deolane – ela não poderia ficar presa, segundo elas, pois ela seria um ser acima do bem e do mal. Pareciam estar em transe.
Matéria veiculada no Metrópoles registrou que a família de Deolane pagou a fãs na porta do presídio, o que também deve nos trazer à lembrança a existência de um aquecido mercado de venda de seguidores para redes sociais.
Ou seja, as aparências podem enganar em relação à exata compreensão sobre aquelas presenças pró-Deolane, assim como sobre o total de seguidores ostentados, o que nem sempre é algo orgânico, podendo ser um número artificial e manipulado.
Isso não significa que os apoiadores de Deolane fossem todos contratados, nem que necessariamente seus seguidores tenham sido comprados. Mas a verdade é que hoje em dia essa compra é tida como algo natural.
E endeusar pessoas “famosas” envolvidas com o mundo do crime não é incomum. Fernanda Costa, por exemplo, filha de Fernandinho Beira-Mar, acaba de ser eleita como a décima vereadora mais votada em Duque de Caxias – Baixada Fluminense.
O goleiro Bruno, do Flamengo, foi condenado pelo homicídio de Eliza Samudio, sua ex-amante, que foi cruel e brutalmente morta e esquartejada há 14 anos, sendo as partes de seu corpo lançadas a cães que as devoraram.
O crime chocou a opinião pública, mas não impediu que número significativo de mulheres pedissem sua absolvição e demonstrassem o desejo de se casar com o famoso atleta assassino, que inclusive chegou a ser contratado por clube de futebol, mas que acabou rescindindo o contrato ante a repercussão negativa.
Algo parecido ocorreu no caso de Francisco de Assis Pereira, o “Maníaco do Parque”, condenado a quase 300 anos de reclusão por estuprar e assassinar diversas mulheres em São Paulo.
Parcelas da sociedade, ao invés de repudiarem com vigor e de forma uníssona o crime de pessoas com alguma notoriedade, glamurizam-no, apoiando e concedendo doses inaceitáveis de complacência social, como nos casos dos horrendos estupros cometidos por Cuca, Robinho e Daniel Alves, conhecidos jogadores de futebol, condenados por estupros praticados na Europa, cujas condutas não foram repudiadas de forma veemente e uníssona – comportamentos esperados e desejáveis.
É grave o rebaixamento ético que levou a Escola de Samba União Cruzmaltina a pensar em homenagear em seu samba-enredo no Rio o ex-governador Sérgio Cabral, do alto de seus 400 anos de reclusão por corrupção, que devemos relacionar à negação de saúde pública, escola pública a crianças pobres, saneamento básico, etc.
Temos grave déficit escolar e informacional, inclusive no âmbito da educação política. A plenitude da cidadania é utopia distante. Mesmo que a polícia prenda, que o promotor peça a condenação e que juiz sentencie, pela lei os acusados têm o direito de mentir impunemente.
Além disso, é fato notório que o poder econômico fala mais alto e quem tem muito dinheiro contrata os melhores advogados e dificilmente é alcançado pela lei e pela Justiça, como no caso do cantor Gusttavo Lima, implicado na mesma investigação de Deolane.
Lembremos que ele comemorou aniversário em festa VIP no seu iate milionário, na Grécia, com o ministro do Supremo Kassio Nunes e com o governador Ronaldo Caiado. E que, apesar de ter tido a prisão determinada pela Justiça, antes mesmo da tentativa de cumprimento do mandado sua poderosa equipe de advogados obteve revogação da ordem judicial.
Nossa escala de valores sofreu progressivo e profundo processo de erosão, e referências éticas são raridades cultivadas e mantidas por pouquíssimos. Como reverter este quadro e transformar a exceção em regra? Fonte: https://www.estadao.com.br
*PROCURADOR DE JUSTIÇA NO MPSP, DOUTOR EM DIREITO PELA USP, ESCRITOR, PROFESSOR, PALESTRANTE, É IDEALIZADOR E PRESIDENTE DO INSTITUTO ‘NÃO ACEITO CORRUPÇÃO’
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A liturgia do 28.º Domingo do Tempo Comum convida-nos a refletir sobre as escolhas que fazemos. Exorta-nos a não nos conformarmos com valores perecíveis, que “sabem a pouco” e não saciam a nossa fome de vida; encoraja-nos a abraçarmos os valores eternos, aqueles valores que nos trazem alegria e paz e que dão significado pleno à nossa existência.
Na primeira leitura, um “sábio” de Israel exalta a “sabedoria”, dom de Deus. A partir da sua própria experiência, esse sábio convida-nos a fazer da “sabedoria” a nossa aposta fundamental. Ela é, mais do que qualquer outro valor (o poder, a riqueza, a saúde, a beleza), a base perfeita para construir uma vida com sentido.
No Evangelho um homem de boa vontade questiona Jesus sobre o caminho que leva à vida eterna. Jesus desenha-lhe o mapa desse caminho. Convida aquele homem a despojar-se dos bens materiais que o aprisionam, a abrir o coração à solidariedade e à partilha, a percorrer o caminho do amor que se dá totalmente, a tornar-se discípulo e a integrar a comunidade do Reino. A indicação de Jesus continua válida, no séc. XXI, para quem estiver interessado em encher de significado a sua vida.
A segunda leitura convida-nos a escutar e a acolher a Palavra de Deus que nos chega através de Jesus. Essa Palavra é viva, eficaz, atuante. Uma vez acolhida no coração do homem, transforma-o, renova-o, ajuda-o a discernir o bem e o mal e a fazer as opções corretas, indica-lhe o caminho certo para chegar à vida plena e definitiva.
EVANGELHO – Marcos 10,17-30
CONTEXTO
Jesus está a caminhar com os discípulos através da Judeia e da Transjordânia, em direção a Jerusalém. Contudo, o caminho que fazem não é apenas geográfico; é, sobretudo, um caminho espiritual, durante o qual Jesus vai completando a sua catequese aos discípulos sobre as exigências do Reino e as condições para integrar a comunidade messiânica. Pretende-se que, à medida que vão avançando nesse caminho com Jesus, os discípulos deixem para trás os seus interesses egoístas e interiorizem cada vez mais a lógica do Reino. Só no final desse caminho serão verdadeiros discípulos de Jesus e estarão preparados para serem arautos do Reino de Deus.
O Evangelho deste vigésimo oitavo domingo comum narra o encontro de Jesus com um homem rico que está interessado em conhecer a maneira de alcançar a vida eterna. Esse encontro dá a Jesus a oportunidade para avisar os discípulos acerca da incompatibilidade entre o Reino e o apego às riquezas.
Na perspetiva dos teólogos de Israel, as riquezas são uma bênção de Deus (cf. Dt 28,3-8); mas a catequese tradicional também está consciente de que colocar a confiança e a esperança nos bens materiais envenena o coração do homem, torna-o orgulhoso e autossuficiente e afasta-o de Deus e das suas propostas (cf. Sl 49,7-8; 62,11). Jesus vai retomar a catequese tradicional, mas desta vez na perspectiva do Reino de Deus.
INTERPELAÇÕES
Aquele homem que vai ter com Jesus na estrada para Jerusalém, tem urgência em descobrir a reposta para uma questão que é, talvez, a mais decisiva que enfrentamos: que havemos de fazer e como devemos viver para alcançar a vida eterna, uma vida plena, verdadeira e com sentido? Trata-se de uma questão que nos inquieta a todos e que certamente já pusemos muitas vezes a nós próprios, com estas ou com outras palavras semelhantes. Já encontramos a resposta para esta questão? Qual é? Muitos dos nossos contemporâneos, mergulhados na cultura do “ter”, limitam-se a “navegar à vista”, sem horizontes amplos, procurando rodear-se de bem-estar e segurança, apostando tudo nas coisas fúteis e efémeras, apenas preocupados em satisfazer necessidades periféricas… Onde nos leva uma opção deste tipo? Ela é capaz de preencher o vazio existencial que tantas vezes toma conta da nossa vida?
Marcos diz-nos que Jesus tem uma resposta definitiva para a questão colocada por aquele homem inquieto. Para Jesus, viver “com sentido” passa, naturalmente, por respeitar a dignidade e os direitos dos irmãos e irmãs (“não mates; não cometas adultério; não roubes; não levantes falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe”); mas, mais que tudo, aproxima-se da vida eterna quem se liberta da escravidão dos bens, está disponível para partilhar tudo o que tem com os irmãos que caminham ao seu lado, aceita tornar-se discípulo e seguir Jesus no caminho do amor que se dá até às últimas consequências. Afinal, alcança a vida eterna quem vive menos para si e mais para os outros; e afasta-se da vida eterna quem vive mais para si próprio e menos para os outros. Nas estranhas contas de Deus, menos dá mais, e mais dá menos. Estamos disponíveis para alinhar nesta paradoxal matemática de Deus e para nos despojarmos de nós próprios a fim de alcançarmos a vida eterna?
A história do homem rico, que coloca o seu amor ao dinheiro à frente do seguimento de Jesus alerta-nos para a impossibilidade de conjugar a pertença à comunidade do Reino com o amor aos bens deste mundo. Quando a “doença do dinheiro” toma conta de nós, encerra-nos no nosso próprio mundo, leva-nos a ignorar os nossos irmãos e as suas necessidades, endurece o nosso coração, faz com que sejamos corrompidos pela cobiça, torna-nos aliados da injustiça e da exploração, faz-nos ceder à corrupção e à desonestidade… É, portanto, incompatível com o seguimento de Jesus. Podemos levar vidas religiosamente corretas, participar nos atos litúrgicos mais relevantes, ter até o nosso lugar de destaque na comunidade paroquial; mas, se o nosso coração vive obcecado com os bens deste mundo e fechado ao amor, à partilha, à solidariedade, não podemos fazer parte da comunidade do Reino (“é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus”). Como é a nossa relação com os bens materiais? Qual o lugar que os bens materiais ocupam na nossa vida?
O “império do dinheiro” é um império iníquo, que tem deixado feridas insaráveis na vida dos homens e do planeta. Nos “países de bem-estar”, situados maioritariamente a norte do nosso mundo, tudo está submetido a mecanismos económicos que atuam de forma cega e impessoal e que todos os dias deixam nas bermas da da sociedade um cortejo de vítimas; a “economia de mercado” sacrifica a dignidade das pessoas ao lucro e exclui os mais vulneráveis da mesa da vida; o reforço da competitividade atira irremediavelmente os menos preparados para a pobreza e a marginalidade; a exploração egoísta dos recursos naturais destrói esta casa comum que Deus preparou para todos os seus filhos e filhas… Podemos conformar-nos com um mundo assim? A Igreja poderá ser fiel a Jesus sem se pronunciar contra este “império do dinheiro” (o sistema económico neoliberal) que deixa marcas tão desastrosas no nosso mundo? E cada um de nós, pessoalmente, o que poderá fazer para que o mundo e a história dos homens sejam construídos noutros moldes?
A expressão “vida eterna” não define apenas essa outra vida que encontraremos no céu, quando terminarmos o nosso caminho na terra. Ela refere-se também à qualidade da nossa vida aqui e agora, à excelência da vida que construímos cada dia neste caminho marcado pela finitude e pela debilidade da nossa condição humana. Uma vida vivida ao estilo de Jesus oferece-nos, já aqui na terra, a possibilidade de nos libertarmos da escravidão das coisas, de vivermos o nosso dia a dia com o coração repleto de alegria e de paz; uma vida marcada pela solidariedade, pela partilha, pelo serviço aos irmãos oferece-nos, já aqui na terra, a possibilidade de nos sentirmos plenamente realizados, “cúmplices” de Deus na criação de um mundo novo… Assim talvez faça mais sentido abraçarmos sem hesitações a proposta de Jesus: ela dirige-se já ao nosso “hoje” e garante-nos, desde já, uma vida com sentido, uma vida que vale a pena viver. Temos consciência disto?
Jesus avisa aos discípulos que o “caminho do Reino” é um caminho contra a corrente, que gerará inevitavelmente o ódio do mundo e que se traduzirá em perseguições e incompreensões. É uma realidade que conhecemos bem… Quantas vezes as nossas opções cristãs são criticadas, incompreendidas, apresentadas como realidades incompreensíveis e ultrapassadas por aqueles que representam a ideologia dominante, que fazem a opinião pública, que definem o socialmente correto… Quem optou pelo seguimento de Jesus sabe, no entanto, que a perseguição e a incompreensão são realidades inevitáveis, que não podem desviar-nos do Reino de Deus e da sua justiça. Mantemo-nos fiéis ao caminho de Jesus, sem medo dos rótulos que nos colocam, das críticas que nos fazem, das perseguições que nos movem?
*Leia a reflexão na íntegra. Clique no link ao lado- EVANGELHO DO DIA.
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Forma estranha de sucesso mistura heresia, decrepitude e zombaria, que desvia a concentração do cidadão da nobreza que é buscar vencer na vida
Por Paulo Delgado
A política eleitoral sucumbe em prol de si mesma em patética autoidolatria. Tudo se expressa quase que exclusivamente em termos pessoais. Tanta confusão, tão pouca luta! Na deformadora escola de eleições, políticos neófitos e partidos autoritários se esquecem de que ninguém vence eleição sem voto dos adversários. Buscar coalizões fora das urnas produz governos sem reserva de poder autêntico e base instável com partidos adversários.
A redemocratização não surgiu do enterro do coronel, nem de uma ordem nacional competitiva, com regras claras em direção à produtividade econômica, ambiente de paz psicossocial e emancipação cultural. Formou-se aos trancos e barrancos em virtude das deficiências na circulação de classes e a crônica desigualdade social que não permite ao País uma grandeza calma previsível para nenhum setor da sociedade.
Agora, o que se vê, é o desdobramento do sistema eleitoral e partidário não cumprir o papel de revigorar o País. Antes avança voraz para se apropriar do indivíduo isolado sem que as instituições do Estado – igualmente individualistas – possam oferecer em contrapartida a força propulsora da organização coletiva. Neste niilismo avassalador cresce o desmembramento do povo brasileiro, reduzindo-o a tribos, guetos, plateias – forma de dissolver seus laços espirituais e culturais e o enquadrar em círculos de influência ao modo patriarcal e colonialista.
As classes sociais não conseguem mais se manter influentes para modificar e aperfeiçoar a atividade política na direção da república democrática representativa. Vários fatores marcam o País nos últimos anos, com destaque para a religiosidade exaltada e intolerante das igrejas; o mal do século que se tornou o açoite que são as redes sociais e as reformas interrompidas ou deturpadas do modelo político, educacional, jurídico e econômico brasileiro. A precária forma como tratamos problemas estruturais e conjunturais retirou da sociedade a força, o orgulho e o esforço para se projetar na vida pública e atingiu frontalmente o aproveitamento de seus quadros nos processos de gestão do Estado.
Forma estranha de sucesso mistura heresia, decrepitude e zombaria, que desvia a concentração do cidadão da nobreza que é buscar vencer na vida. O trabalho e a riqueza no Brasil não estão no mesmo nível. Não adianta combater bets quando há fortunas tão rápidas que até parecem virtude. Sonhar errado vai continuar a influenciar de forma mística, ingênua ou oportunista pessoas cujo sonho é a única realidade. Startups predadoras, certos açougueiros e sertanejos; não são gênios, nem banqueiros clássicos, industriais pioneiros, inventores, urbanistas ou sanitaristas. Não são especialistas, nem artistas verdadeiros, são o prato principal de animadores do mercado dos ambiciosos, hipnotizadores que os fazem parecer normais.
Nada sabem de práticas exemplares. Espancam leis, não se submetem ao seu poder, antes as fizeram de escravas. Não nasceram da vontade geral, mas nela se meteram por refinados ardis que tiram a autonomia de qualquer público e o transforma em gente idiotizada. Quando se infiltram no meio da massa reduzem qualquer possibilidade de formação de opinião. É mentira que os que jogam perdem mais. Quem perde sempre é sempre quem não joga. Pobres não apostam na impulsividade sem limites das maquininhas do poder jurídico-político.
O País está cansado dos fatos que não dão em nada e mais parecem um disparate. Há uma cisão que está em curso na cabeça do cidadão em virtude da ruína dos partidos, do Direito e da lei e dos erros detalhados da liberdade e dos privilégios dos que os consumaram para si. Bilionário exibido e entrosado permite supor que no Brasil é possível conciliar tudo isso com a graça eficaz da autoridade que se orienta pelo princípio de legitimidade operacional que visa, de tempos em tempos, a tornar tudo controverso e paradoxal. Vem dos juízes purificadores o phátos das vozes e sentenças espantosas que temos que suportar. Uns não estão nem aí, outros são o “aí”.
A eleição é um grito de alerta. O feudalismo de donos do inconsciente coletivo nos espreita. Riqueza fácil, campanha cara e maus candidatos são irmãos gêmeos da carne que corta, dinheiro apreendido, medidas provisórias, emendas parlamentares, tribunais de faz de conta, jogos de azar, liminar encomendada. Olhando bem certas regras que fazem alguns tipos prosperarem, observamos que um é o outro revelado em suas atitudes cujos traços estão aí na realidade da vida das instituições. Eles são um outro de si mesmo. Há outros náufragos que navegam pelas ondas da política e da justiça do interesse, mudam de lado com as marés e se aquecem pelo calor corrosivo do poder.
O individualismo triunfante deve ser visto como freio à igualdade social geral. Está evidente a prosperidade de pessoas bizarras, coaches, influencers – evacuadores de regra, diria meu avô português – que impedem as instituições de se expressarem por sua história.
Assim como a qualidade de rico e de cultura não se adquire com riqueza ou poder, a grandeza do titular de certos cargos e fortunas costuma inspirar mais piedade do que respeito.
*É SOCIÓLOGO. E-MAIL: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar. Fonte: https://www.estadao.com.br
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Pergunte ao seu candidato o que ele fará sobre a situação do acesso à água tratada e coleta e tratamento dos esgotos
Por Luana Pretto
O ano de 2024 é ano eleitoral. Escolheremos em outubro quem nos representará nas prefeituras e Câmaras Municipais de nosso país pelos próximos quatro anos. A ação de votar, por vezes banalizada, ainda é um dos maiores trunfos para mudarmos nossa realidade e a de quem nos rodeia.
Quais serão as prioridades do governo, se será construído um novo hospital, reformado o antigo ou nenhuma das duas opções, se a avenida será recapeada ou não, se funcionários para a escola serão contratados ou não. Apesar de cada município contar com as suas leis (não começamos a cada quatro anos do “zero”), o impacto de uma gestão municipal é imenso no dia a dia de cada cidadão.
Entre essas inúmeras atribuições dos prefeitos e vereadores, uma delas é garantir o acesso ao saneamento básico para a população. Essa responsabilidade municipal já é prevista na própria Constituição federal, com as responsabilidades reforçadas pela Lei n.º 14.026/2020, o novo Marco do Saneamento. Quando os eleitores escolhem representantes comprometidos com a universalização do saneamento, contribuem para a melhoria da saúde pública, a preservação ambiental e o desenvolvimento econômico de suas cidades.
Infelizmente, entretanto, essa responsabilidade não é levada a sério em centenas de municípios brasileiros. De acordo com dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (Snis), mais de 32 milhões de pessoas não contam com acesso à água tratada em suas residências e mais de 90 milhões vivem sem coleta de esgoto. Deste efluente gerado, apenas 52,2% é tratado, o que significa que o equivalente a 5.253 piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento são despejadas diariamente na natureza. Até o primeiro turno das eleições, 6 de outubro, mais de 1,4 milhão de piscinas de esgoto bruto serão lançadas na natureza.
Quase metade das moradias brasileiras conta com algum tipo de privação de saneamento básico. Da totalidade de 74 milhões de moradias, quase 9 milhões não têm acesso à rede geral de água; quase 17 milhões contam com uma frequência insuficiente de recebimento de água; cerca de 11 milhões não têm reservatório; cerca de 1 milhão não têm banheiro; e 22 milhões não contam com coleta de esgoto.
Essa carência impacta mais severamente as mulheres, que, além de todas as atividades do dia a dia, costumam ser as responsáveis pelos cuidados com a família e tarefas domésticas. De acordo com o estudo O Saneamento e a Vida da Mulher Brasileira, uma em cada quatro mulheres não tem acesso à água tratada ou não é abastecida com regularidade. Dezoito milhões de brasileiras sairiam da pobreza se tivessem água e esgoto tratados, o que resultaria numa injeção de R$ 13,5 bilhões na economia brasileira.
Caso o saneamento seja universalizado, será gerado cerca de R$ 1,4 trilhão em benefícios socioeconômicos para o Brasil. Mais de R$ 25 bilhões serão economizados com saúde, visto que a falta de saneamento leva a uma série de doenças de veiculação hídrica, como diarreia, dengue, cólera, etc. Com a redução das faltas no trabalho, já que os trabalhadores estarão mais saudáveis, é estimado um ganho de R$ 437 bilhões até 2040 em produtividade.
A universalização do tema também afetará positivamente o mercado imobiliário e o turismo. É estimado que o ganho para os proprietários de imóveis que alugam ou que vivem em moradia própria alcance R$ 48 bilhões no período, em razão da valorização dos imóveis com a melhoria das condições de saneamento.
O turismo seria beneficiado em cerca de R$ 80 bilhões no período, visto que regiões turísticas com água limpa, praias despoluídas e sistemas eficientes de coleta e tratamento de esgoto oferecem uma experiência mais segura e agradável para os turistas, incentivando o retorno e o aumento da demanda.
Investir hoje em saneamento é investir em qualidade de vida, em saúde, num futuro digno para milhões de brasileiros. É criar um círculo virtuoso, que afetará positivamente todas as futuras gerações. Apesar de ficarmos repetindo esses inúmeros benefícios e ninguém de fato ser contra o saneamento (você já ouviu algum político dizer que é contra a população ter banheiro ou água encanada?), o tema infelizmente não é priorizado pela grande maioria dos gestores públicos.
Uma obra de saneamento, como toda obra de infraestrutura, é algo caro e demorado. A infraestrutura que comece a ser construída hoje talvez não acabe até o fim da gestão de determinado candidato. E, por isso, muitos candidatos nunca começam essas obras. Mas, se elas nunca começarem, nunca serão finalizadas! E quem sofre com isso é a população. É seu filho, seu neto que acaba contraindo uma série de doenças que poderiam ser evitadas com o acesso ao básico.
Por isso é de suma importância colocar o tema no debate público. Pergunte ao seu candidato o que ele fará sobre a situação do acesso à água tratada e coleta e tratamento dos esgotos. Consulte dados públicos para saber como de fato anda o saneamento em sua cidade. Se nada for feito, seguiremos com milhões de brasileiros à margem da sociedade, toda uma geração com um futuro comprometido. Fonte: https://www.estadao.com.br
*É PRESIDENTE-EXECUTIVA DO INSTITUTO TRATA BRASIL
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Estado e Igreja no Brasil
Após 15 anos de sua ratificação, Acordo entre Brasil e Santa Sé ainda precisa ser mais conhecido no domínio público e nas instituições representativas do Estado e da Igreja
No próximo dia 7 de outubro transcorrerá o 15.º aniversário da aprovação, pelo Congresso Nacional, do Acordo entre o Brasil e a Santa Sé sobre o Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil. O acordo foi assinado pelo presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva e promulgado, após aprovado o Decreto Legislativo n.º 698, de 2009, no dia 11 de fevereiro de 2010. Portanto, ele possui força de lei em todo o território nacional. O acordo é um reconhecimento público da natureza jurídica da instituição chamada Igreja Católica Apostólica Romana pelo Estado brasileiro. Ele está em total sintonia com a Constituição brasileira.
Longamente discutido e elaborado entre as partes, o acordo tem a natureza de um tratado internacional entre dois entes soberanos com personalidade jurídica de Direito Internacional Público, no caso, o Brasil e a Santa Sé, representando a Igreja Católica. Da parte desta, o acordo representa o reconhecimento do Estado brasileiro e de suas legítimas instituições e representações; da parte do Estado, ele representa o reconhecimento jurídico da instituição Igreja Católica Apostólica Romana e de suas legítimas representações no Brasil. Também estabelece as formas da contribuição da Igreja Católica nos diversos campos da vida cultural, educacional e assistencial, bem como as modalidades de colaboração entre a Igreja Católica e o Estado brasileiro.
Esse reconhecimento jurídico da condição institucional da Igreja Católica havia deixado de existir no Brasil desde a proclamação da República, que extinguiu o Tratado do Padroado, regulador das relações entre Estado e Igreja durante o período imperial e também, anteriormente, durante o período colonial. A partir de então, embora a Igreja Católica não tenha sido proscrita nem deixado de existir e de dar sua contribuição ao País, a sua situação perante o Estado estava sem amparo jurídico e insegura. Há mais de meio século vinham sendo feitas tentativas para elaborar e validar algum instrumento jurídico que resolvesse essa situação. Finalmente, o acordo foi celebrado e ratificado em 2009.
Da parte da Santa Sé, há uma praxe secular e bem consolidada de celebrar tratados com os Estados onde a Igreja Católica se encontra e atua. Atualmente, há muitos desses tratados em vigor, mais ou menos abrangentes, com os mais diversos países, mesmo onde os católicos são apenas uma pequena minoria. Não se trata da pretensão de ser religião oficial em algum país; a isso, por princípio, ela já renunciou em todos os países. O objetivo da celebração de tratados é deixar claro perante o Estado e a sociedade quem ela é, quem a representa, qual é sua organização e quais são suas normas internas; quais são suas atuações públicas e suas possíveis colaborações para com o Estado e a comunidade local. Ao mesmo tempo, fica claro nos tratados que a Igreja Católica reconhece as instituições representativas do Estado e seu legítimo ordenamento jurídico. Da parte do Estado, ela espera ter o reconhecimento da liberdade religiosa e de atuação religiosa e nos diversos campos da vida social, como a educação, a cultura, a assistência social e a colaboração com o Estado, nos termos da legislação local.
Nos seus 20 artigos, além do reconhecimento jurídico da Igreja Católica e das instituições que a representam, o acordo trata dos objetivos da existência e atuação da Igreja no Brasil; da cooperação entre as partes no que se refere ao patrimônio histórico e cultural; da proteção dos lugares de culto e dos objetos e símbolos religiosos católicos; da assistência religiosa e espiritual às Forças Armadas, aos hospitais e prisões; da ação missionária; do reconhecimento dos títulos acadêmicos obtidos em instituições ligadas à Santa Sé, fora do Brasil; da cooperação na educação; do ensino religioso; do casamento religioso com efeito civil; das instituições beneficentes da Igreja Católica; além de outros assuntos.
Três lustros depois de sua ratificação, o Acordo entre o Brasil e a Santa Sé ainda precisa ser mais conhecido no domínio público e nas instituições representativas do Estado e da própria Igreja. Ainda pairam no ar certos questionamentos sobre a legitimidade desse instrumento jurídico de Direito Internacional. Para alguns, o acordo seria como um “pecado capital” contra a laicidade do Estado e a demonstração de que a Igreja Católica busca privilégios perante o Estado. Os três lustros que se passaram desde a assinatura do acordo já oferecem motivos para afastar esses eventuais temores.
A Igreja Católica não busca privilégios e nem de longe sonha em se tornar novamente a religião oficial do País. Ela reconhece e respeita o sadio princípio da laicidade mediante o qual o Estado reconhece e protege a liberdade religiosa e a livre manifestação religiosa dos cidadãos. Com o acordo, a Igreja Católica se apresenta perante o Estado e a sociedade e coloca as cartas na mesa, deixando claro quem ela é, quem a representa, o que ela faz, como se organiza e como interage com a sociedade brasileira. Tudo no respeito da lei que governa a todos. Fonte: https://www.estadao.com.br
*CARDEAL-ARCEBISPO DE SÃO PAULO
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Crime aconteceu na noite de segunda-feira (2) na Baixada Fluminense e foi registrado por câmeras de segurança
Rio de Janeiro
Uma jovem que teve seu celular roubado durante um assalto em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, entrou em desespero e implorou para o assaltante não levar o aparelho.
O caso, noticiado pela TV Globo, ocorreu na noite de segunda-feira (2) em frente à Câmara Municipal e foi registrado por câmeras de segurança. Na gravação, a vítima chega a implorar para não ter o telefone celular levado pelos criminosos porque, segundo ela, o pai ainda pagava pelo aparelho.
As imagens mostram a jovem acompanhada de outras duas mulheres quando é abordada por dois homens que estavam em uma moto. Um deles desce do veículo e vai em direção às jovens.
No vídeo, ainda é possível ver que o homem chega a enforcar a vítima, jogando a jovem no chão, para pegar o celular. Outra jovem que aparece com a vítima pede para que ela entregue o aparelho. "Vai, cara, dá. Dá o telefone!", diz a mulher enquanto o assaltante tenta tomar o celular. Então, a vítima implora e diz que o pai ainda estaria pagando pelo aparelho: "Não, cara. Papo reto, mano. Meu telefone. Meu pai tá pagando no cartão".
Em seguida, o ladrão pega o celular e foge com o comparsa na moto. Após o ocorrido, a jovem fica no chão, chorando. A Polícia Militar disse que não foi acionada para a ocorrência. No entanto, afirmou que atua em parceria com a delegacia da região para localizar e prender os envolvidos.
A PM informou ainda que houve uma queda de 5% nos roubos a pedestres na região no primeiro semestre deste ano em comparação com o ano passado.
Procurada, a Polícia Civil disse que "não localizou registro de ocorrência com essas características na delegacia da área". A Câmara Municipal de São João de Meriti não se manifestou sobre o ocorrido. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
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Você pode – e deve – criticar o STF. Há muito o que questionar na corte. Só o que não dá para dizer é que o que aconteceu com o Twitter foi mordaça
Por Eugênio Bucci
No tempo da ditadura, sinais de emissoras exóticas chegavam livremente aos rincões da pátria armada e fardada. Em ondas curtas, a Rádio Moscou ressoava com seu português escorreito em todo o território nacional, dos igapós amazônicos às roças de Nuporanga. E não era só ela. Junto, vinham também as locuções da Rádio Pequim, da Rádio Tirana e da Rádio Bulgária. Comunismo na carótida, calafrios na caserna. As autoridades se inquietavam: como bloquear a radiofrequência da Cortina de Ferro?
Não havia como. Veteranos da radiodifusão lembram até hoje que os militares tentavam usar engenhocas para atrapalhar o som das invasoras, ao menos nas regiões ditas estratégicas, mas a manobra não dava certo. Vetaram peças de teatro, canções de protesto, revistas de mulheres nuas, filmes sortidos, telenovelas picantes e romances de esquerda, mas fracassaram indigentemente no projeto de emudecer as estações alienígenas. Falta de vontade não foi.
Agora, o mundo é outro, já sabemos. Você quase não encontra mais aparelhos de rádio de ondas curtas, e, quando os encontra, não vê ninguém de ouvido colado na geringonça. Tudo ficou diferente. Só uma coisa não mudou: desafiando a lei da evolução natural das espécies, os apoiadores do golpe de 1964 ainda andam por aí, preservadíssimos, e não escondem de ninguém a saudade que sentem da ditadura, da tortura e da censura – ridícula, mas teimosa.
Essa turma andou alvoroçada ao longo da semana. Ao saber que a plataforma denominada X, antes conhecida como Twitter, foi banida de celulares e computadores por uma decisão judicial, voltou a enxergar fantasmas. As assombrações são as mesmas de antigamente, mas as aparições sobrenaturais vieram com os sinais trocados. Antes, o espectro do comunismo era externo, vinha de fora para dentro. Agora, é interno, vem da sede do Supremo Tribunal Federal (STF) e se irradia mundo afora. Antes, a proteção da liberdade marchava de coturno sobre o mármore branco do Palácio da Alvorada. Agora, mora longe e atende pelo nome de Elon Musk. Ectoplasmas reencarnados e revirados.
Fantasmagorias reversas. Nas suas alucinações miasmáticas, as viúvas do AI-5 são tragadas por mirações aterrorizantes. Veem a magistratura dos nossos tempos perpetrando à luz do dia a malvadeza que a magistratura de meio século atrás não foi capaz de perpetrar na escuridão: bloquear de uma canetada a comunicação do adversário exógeno. Mas como assim? Os saudosistas não se conformam e se contorcem de inveja: “Como é que os poderes da democracia são mais efetivos que os nossos na tirania de 1970?”. Não engolem o desaforo histórico: “Deram no X o sumiço que a gente não conseguiu dar na Rádio Moscou!”.
Para não passar recibo de que tudo não passa de dor de cotovelo auriverde, a claque tardia da ditadura extinta inventou que seu problema não é ciúme, mas o compromisso raivoso que ela teria com a “liberdade de expressão”. É isto mesmo: estamos vendo a bandeira da “liberdade” ser desfraldada pelas forças que sempre a conspurcaram. Não que os apoiadores do arbítrio mudaram – apenas repaginaram a própria vaidade. Eles, que ontem só admitiam a crítica se fosse “construtiva”, hoje se declaram favoráveis à manifestação do pensamento e até do não-pensamento. Principalmente do segundo.
É curioso, antropologicamente curioso. Você nunca vai ver este pessoal respaldando a liberdade de expressão dos moradores de rua, das mulheres pró-aborto, da população trans, dos trabalhadores pobres, dos quilombolas e dos indígenas, pois, segundo denunciam energicamente, esses setores, além de preconceituosos e intolerantes, são uns ongueiros mancomunados com as potências que só querem roubar nosso nióbio e nosso grafeno. Não, os saudosistas não se deixam engrupir. Eles têm lado. Defendem a liberdade de gente desprotegida, das vítimas indefesas da brutalidade togada. Combativos, prestam sua solidariedade pungente ao estropiado mártir da democracia: Elon Musk, este, sim, um injustiçado.
Os nostálgicos do arbítrio se converteram em musketeiros aguerridos. São todos por Musk, e estão convencidos até o bolso de que Musk sempre será por todos eles. Embalados pelos pesadelos das mil e uma noites de aquecimento global, não se lembraram de acordar para os fatos e para a realidade. Fatos: o ex-Twitter saiu do ar porque se negou a cumprir uma decisão judicial – decisão ratificada, por unanimidade, pela Primeira Turma do STF. Realidade: nenhum Poder Judiciário, em nenhum país conhecido ou desconhecido, poderia ter tomado outra atitude. Era preciso resguardar a autoridade judicial de um país soberano. Fato e realidade: isso não teve nada que ver com ataque à “liberdade de expressão”.
No mais, você pode – e deve – criticar o STF. Há muito o que questionar na corte. Só o que não dá para dizer é que o que aconteceu com o Twitter foi mordaça. Não há ninguém censurado aí, nem o pobre perseguido Elon Musk, que segue discursando à vontade. Mais que discursando, segue abusando de seu poder econômico, mas isso é outra conversa. Fonte: https://www.estadao.com.br
*JORNALISTA, É PROFESSOR DA ECA-USP
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Democracia na UTI – reagir é preciso
A História mostra que projetos construídos de costas para a política terminam em decepção ou autoritarismo
Recente editorial do jornal O Estado de S. Paulo precisa ser lido e refletido por todos aqueles que, sinceramente, prezam a democracia. O espectro do niilismo político é o título da nota publicada no sábado, 24 de agosto, data que evoca o suicídio do presidente Getúlio Vargas, político e estadista que marcou fortemente a história deste país.
O editorialista fez uma análise preocupante a respeito da eleição municipal da maior cidade brasileira. Radicalização e extrema polarização são, mais uma vez, os ingredientes que vão sendo aquecidos no caldeirão da ausência de propostas, incapacidade de diálogo e morte da política.
O editorialista foca sua lente num personagem novo, mas que traz no seu DNA o velho veneno de demonização da política: Pablo Marçal. Dizendo barbaridades, não apresentando propostas sérias e apostando no conflito radical, Marçal tenta cativar o eleitorado de Jair Bolsonaro. Nada disso, no entanto, justifica a indevida censura judicial que lhe foi imposta.
Bolsonaro, embora entranhado no sistema (foi deputado em várias legislaturas), cresceu à sombra da descrença na política e da defesa de valores conservadores. Marçal, como bem frisou o editorialista, “usa a impopularidade da esquerda como pretexto para atacar seu verdadeiro alvo: a política”. Tem o perfil de um aventureiro.
Os aventureiros são sedutores, bons encantadores de serpentes. Mas a História mostra que projetos construídos de costas para a política terminam em decepção ou no autoritarismo dos pretensos salvadores da pátria.
Vamos, amigo leitor, fazer um exercício retrospectivo. Em 1964, sob o pretexto de preservar a democracia, os militares tomaram o poder. E o que se anunciava como intervenção transitória, com ânimo de devolver o poder aos civis, se transformou numa longa ditadura. A imprensa foi amordaçada. Lideranças foram suprimidas. Muitas injustiças foram cometidas em nome da democracia. Lembro-me da decepção de um primo-irmão de minha mãe, o professor Antonio Barros de Ulhôa Cintra, ex-reitor da Universidade de São Paulo e ex-secretário da Educação do Estado. Seu espírito liberal e independente, incompatível com a mentalidade de pensamento único que então prevalecia, provocou a ira dos donos do poder. Como ele inúmeros brasileiros, cultos e intelectualmente inquietos, escorregaram para o limbo do regime. Resistiram empunhando as armas da inteligência e da autoridade moral que não cede à sedução do poder.
A atual situação do Brasil preocupa. E muito. O desencanto da população é imenso. Os Poderes da República, isolados no bem-bom da Ilha da Fantasia, vivem de costas para a cidadania.
O Congresso Nacional, com exceções que devem ser registradas, está de costas para a sociedade. Está “se lixando” para a opinião pública. O abuso das emendas parlamentares, que o ministro Flávio Dino tentou, corretamente, dar um freio de arranjo, acabou vencendo a parada.
A política brasileira está podre. Ela é movida a dinheiro e poder. Dinheiro compra poder e poder é ferramenta poderosa para obter dinheiro. É disso que se trata. O poder arrecada o dinheiro que vai alçar os candidatos ao poder. Saiba que, atualmente, você faz pouca diferença quando aperta o botão verde de alguma urna eletrônica para apoiar aquele candidato que, quem sabe, possa virar o jogo. No Brasil, não importa o Estado, a única coisa que vira o jogo é uma avalanche de dinheiro. O jogo é comprado, vence quem paga mais.
O sistema eleitoral brasileiro está bichado e só será reformado se a sociedade pressionar para valer. Hoje, teoricamente, as eleições são livres, embora o resultado seja bastante previsível. Não se elegem os melhores, mas os que têm mais dinheiro para financiar campanhas sofisticadas e boa performance no mundo digital. A máquina de fazer dinheiro para perpetuar o poder tem engrenagens bem conhecidas no mundo político: emendas parlamentares, convênios fajutos e licitações com cartas marcadas.
As classes dirigentes estão entupidas de privilégios. Os partidos são balcões de negócios. O Executivo gasta muito e mal. Promove a jogatina, uma verdadeira tragédia moral, para faturar com impostos. E agora nos brinda com o maior IVA do mundo. O Judiciário está insensível e politizado. A Corte Suprema é hoje uma das instituições de menor credibilidade. O fato de que um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) não possa ir a um restaurante com tranquilidade é muito preocupante. Mas mais preocupante é a ausência de uma autocrítica que tente entender as razões de tamanha rejeição.
O cenário é desanimador? Sim. Mas quem escreve esta coluna, por paradoxal que possa parecer, é um otimista. Acredito no Brasil e na democracia. Como bem sublinhou o editorial do Estadão, “não se pode abafar o grito de desespero nem menosprezar a revolta do eleitorado. Há algo de podre na democracia brasileira. Mas não se reformará a democracia destruindo a democracia”. Diante de manifestações tão formidáveis de antipolítica, é preciso valorizar ainda mais a política, o diálogo e as posturas propositivas.
O Brasil não pode continuar refém de aventureiros. Precisa de estadistas que sejam capazes de descortinar sonhos e projetos do tamanho deste país continental.
*JORNALISTA. E-MAIL: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.
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Uma vítima relatou que o motorista tentou trocar de veículo para voltar de Aparecida e seguir viagem: 'os socorristas disseram que poderíamos ter morrido'
Marlene Silva de Oliveira, uma das vítimas, relatou que o motorista tentou trocar de veículo para voltar de Aparecida e seguir viagem: 'os socorristas disseram que poderíamos ter morrido' — Foto: Divulgação
Por Lívia Neder
— Rio de Janeiro
O ônibus que transportava 46 fiéis da Paróquia dos Santos Anjos, no Leblon, que voltavam de Aparecida do Norte (SP), e tombou no KM Zero da BR 465 (antiga Rio-São Paulo), na altura de Nova Iguaçu, na noite deste sábado (31), teve o pneu furado antes do acidente. Uma vítima relatou que o motorista tentou trocar o veículo para seguir viagem, mas, sem sucesso, resolveu o problema em um borracheiro na estrada.
Muito assustada com tudo que passou, Marlene Silva de Oliveira esteve na paróquia, na manhã deste domingo (1°), para buscar seus pertences que ficaram no ônibus. Moradora de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, ela ganhou a viagem de presente da patroa, que é moradora do Leblon e paroquiana. O ônibus saiu de São Paulo às 15h e o acidente aconteceu por volta das 21h50.
—A gente estava meio que cochilando na hora do acidente. Logo no início da viagem, o pneu tinha furado e o motorista disse que pediu para trocarem o ônibus, mas ninguém chegou. Parece que avisaram que era melhor ele procurar um borracheiro. Ele procurou, deu um jeito, e a gente continuou a viagem. Não sei exatamente como aconteceu o acidente. A gente acordou no susto, parecia cena de guerra, todo mundo desesperado, caído. Machuquei um pouco o ombro, mas precisei ser forte porque tinha gente pior e muito mais nervosa, então tentei acalmar as colegas. Eram muitas senhoras e crianças. Foi um susto muito grande — relatou a vítima.
Segundo Marlene, os socorristas disseram que, pela forma que foi o acidente, todo mundo poderia ter morrido:
—Foi um livramento. Graças a Deus todos estavam de cinto, porque poderia ter sido muito pior.
De acordo com a Arquidiocese do Rio, 20 pessoas que estavam no ônibus e apresentaram ferimentos leves chegaram a receber atendimento médico no Hospital Geral de Nova Iguaçu e foram liberadas. O padre Thiago Azevedo, pároco da Paróquia dos Anjos, foi ao hospital acompanhar as vítimas durante a madrugada.
A missa deste domingo foi celebrada pelo padre Wagner, que agradeceu o "livramento":
—Rezamos essa missa agradecendo pelo livramento e pedindo pronta recuperação para os feridos do acidente. As vítimas viraram a noite no hospital e o padre Thiago chegou aqui na igreja às 7h, mas já está todo mundo em casa, graças a Deus.
A Polícia Civil informa que o caso foi registrado na 48ª Delegacia de Polícia (Seropédica). Testemunhas estão sendo ouvidas e diligências estão em andamento para apurar as circunstâncias do acidente e esclarecer todos os fatos. https://oglobo.globo.com
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Doenças mentais não se curam com trabalho, chá de camomila, sono ou reza
Jornalista e roteirista de TV.
Estávamos na porta de casa, prontos para sair e curtir uma noite de Rock in Rio. Entradas VIP, com uma porção de mordomias que fazem diferença num festival que recebe milhares de pessoas a cada dia. A programação era ótima e ainda passaríamos a noite com amigos queridos. Antes de cruzar o batente, olhei para o meu marido e disse "não consigo". Comecei a tremer só de imaginar aquele mar de gente, música alta e fui engolida pelo medo de ter uma crise de pânico naquele tipo de condição.
O que eu recebi em troca foi um abraço. Ouvi dele que estava tudo bem, que poderíamos ver os shows em casa, tinha cerveja na geladeira, ele pediria pizza. Foi uma rotina nos meus dois primeiros anos de diagnóstico de Síndrome do Pânico, quando eu ainda não entendia quais eram os sinais de uma crise e tinha medo de que ela voltasse a acontecer como já havia, dentro de um restaurante, num baile de Carnaval, no provador de uma loja.
Certa vez tive que me deitar no chão do banheiro do aeroporto, encostar o rosto no piso frio e esperar que o remédio fizesse efeito e o sentimento de quase morte me abandonasse. Diante disso, muitas vezes, escolhia ficar em casa.
E tinha a depressão que me causava um vazio de sentimentos, nenhuma disposição de interagir, nenhum estímulo era suficiente para me comover. Mas o que eu me lembro de todo esse tempo é que tive apoio, empatia, carinho, amor, mesmo quando fui incapaz de retribuir.
Ajudar quem tem doenças psicológicas não é fácil, longe de ser. Mas um bom começo é aceitar e acreditar. Depressão não é frescura, não é preguiça, não é falta de fé, não é falta de louça para lavar, não é doença de rico. Sempre que escrevo sobre o assunto, recebo dezenas de mensagens de pessoas que não tem apoio das pessoas mais próximas, que minimizam o problema e adoram dar soluções mágicas. Depressão não se cura com trabalho, chá de camomila, sono ou reza.
Quando olho para meu marido, minha família e amigos próximos, não sei como eles aguentaram os meus períodos mais barra-pesada, quando eu só queria me recolher dentro de mim mesma, dormir ou beber, qualquer coisa que anestesiasse meus sentimentos.
O que eles me ofereceram foi presença. Estiveram sempre com uma mão estendida para quando eu tentasse me agarrar a alguma esperança de ficar bem. Não significa que eu não tenha me sentido sozinha ou revoltada. Hoje, entendo que esses sentimentos eram todos sobre a doença, que eu mesma demorei a aceitar. Eu tinha sido abandonada pela alegria, sentia raiva da dor que me afligia e eu não conseguia entender. Mas as pessoas que estavam no meu entorno formaram uma rede que me protege de mim mesma quando não consigo ser quem sempre fui.
Meu marido e meus pais jamais tentaram atropelar o tempo da minha recuperação. Nunca me forçaram a fazer nada ou trataram a depressão como a maioria ainda faz, como uma doença menor que pode ser resolvida com uma noite de sono, um banho de mar, exercício físico, um pouco de sol, boas companhias. Tudo isso pode ajudar, mas essa crença pelo paliativo apenas reforça o preconceito.
Embora cada pessoa precise de tratamento individualizado e reaja de forma distinta aos estímulos que recebe, se você convive com alguém que tem depressão ou/e pânico ou que demonstre sintomas de doenças psicológicas, ofereça apoio. Converse sobre os tratamentos, pergunte sobre os resultados, sobre os médicos. Mostre-se interessado e confiante no processo. Comente sobre as coisas que lê sobre o assunto, sem que seja o único assunto.
Você não terá a solução, talvez nem as melhores palavras. Nem sempre sabemos o que dizer diante do sofrimento alheio. Diga que está disponível, ofereça colo, consolo, companhia. Não deixe de estimular pequenas coisas no dia a dia ou convidar para programas mais elaborados, mas sem pressão. Dê espaço para que o outro respire, se recupere, mas sem se ausentar tanto para que ele possa se sentir abandonado e sem importância.
Apoie o Setembro Amarelo, uma campanha brasileira de prevenção ao suicídio, iniciada em 2013. O mês foi escolhido porque desde 2003 o dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
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A tragédia do carisma
Biden, ao reconhecer que a idade avançada não lhe facultaria disputar a reeleição, desistiu da empreitada. Lula poderia mirar-se nesse exemplo?
Por Paulo Roberto de Almeida
Certos líderes políticos possuem carisma, outros, não. Pode-se perder o carisma original e recuperá-lo. Mas existem características únicas no fenômeno, o que o torna intransmissível a outrem, ainda que discípulo do detentor original.
Winston Churchill adquiriu carisma como jornalista e voluntário nas forças britânicas que lutaram no Sudão e na África do Sul. Tornou-se lorde do Almirantado na Grande Guerra, mas perdeu o cargo no desastre de Dardanelos. Recuperou o prestígio ao se engajar nas forças britânicas que lutavam contra as tropas do império alemão na França. Foi ministro do Tesouro em 1925, mas a insistência em retomar o padrão-ouro na paridade de 1914 levou à crise de 1926, que provocou sua queda. Ficou no ostracismo, clamando contra os totalitarismos da época: só voltou ao poder no desastre de 1940 e na guerra contra o nazismo. A despeito do carisma perdeu as eleições de 1945 para o Labour.
Franklin Roosevelt conduziu os Estados Unidos na depressão dos anos 1930 e na guerra em duas frentes a partir de 1941, mas não transmitiu nenhum carisma a seu sucessor, Harry Truman. Dwight Eisenhower não tinha carisma, mas sim prestígio, como comandante das forças aliadas contra o domínio nazista na Europa. John Kennedy, em contrapartida, adquiriu um prestígio extraordinário por ser o mais jovem presidente da história americana, adquirindo carisma sobretudo ao confrontar os soviéticos no episódio dos mísseis soviéticos em Cuba.
O vice-presidente Lyndon Johnson, político tradicional do Texas, não tinha nenhum carisma; a guerra do Vietnã demoliu sua imagem, tanto que optou por não disputar novo mandato. O vencedor na disputa de 1968, Richard Nixon, adquiriu prestígio ao reinserir a China comunista no sistema mundial, mas perdeu ao se tornar um vulgar larápio no escândalo do Watergate. Ronald Reagan tinha prestígio vindo de Hollywood; ganhou carisma ao lograr, junto com Margaret Thatcher, implodir a União Soviética; seu vice, Bush pai, foi derrotado na tentativa de reeleição pelo carismático Bill Clinton, um grande animal político (a despeito das escapadas). Barack Obama tinha grande carisma, o que não impediu a vitória de um bizarro outsider, Donald Trump. Seu sucessor em 2020, Joe Biden, vice de Obama, desistiu da reeleição em 2024, pelo peso da idade.
No Brasil, Getúlio Vargas construiu seu carisma pelo controle da máquina de propaganda do Estado Novo. Juscelino Kubitschek ganhou o seu, ao fazer o Brasil crescer “50 anos em 5″, com democracia. O carisma de Jânio Quadros, um populista dos mais notáveis, sobreviveu à renúncia aos seis meses de governo e conseguiu preservar capital político para retornar como prefeito da maior cidade do País. Não se pode dizer que os presidentes militares tenham exibido qualquer carisma, o que tampouco foi o caso do presidente da redemocratização, José Sarney, embora o candidato eleito, Tancredo Neves, tivesse enorme prestígio político ao encerrar 21 anos de ditadura militar. Fernando Collor, o primeiro eleito por voto direto desde 1960, começou com grande sucesso ao dar início a importantes reformas econômicas, mas soçobrou ao serem revelados os negócios obscuros de um assessor.
Não se pode dizer que Itamar Franco, alçado presidente, tenha tido carisma, mas o sucesso do Plano Real levou seu ministro da Fazenda pouco carismático a vencer duas eleições no primeiro turno. Finalmente, chegamos a uma figura política de fato carismática, Lula da Silva, embora eleito apenas na quarta tentativa, depois de esconder seus instintos intervencionistas; reforçou seu lado populista na enorme expansão dos programas sociais criados por Fernando Henrique Cardoso. Saiu ungido por 80% de aprovação popular, o que lhe garantiu prestígio suficiente para retornar ao poder em 2023, a despeito de ter presidido o mais vasto esquema de corrupção da história do País.
No intervalo, uma administradora medíocre, Dilma Rousseff, sem qualquer carisma, conseguiu produzir a maior recessão da história econômica do Brasil. Jair Bolsonaro, por sua vez, era mais um fenômeno fabricado pela manipulação das redes sociais do que um movimento político organizado. A polarização contra o lulopetismo preservou-lhe inusitado prestígio, mesmo em presença de fraudes, malversações e até golpismo. Tal cenário pode suscitar novo embate entre petismo e antipetismo em 2026.
Lula continua com carisma, mais disseminado entre os beneficiários da assistência pública do que entre eleitores de regiões avançadas; os mapas eleitorais do PT confirmam que, dos anos 2000 à atualidade, ele se transformou no partido dos “grotões”. A tragédia do carisma de Lula, que é a de todos os carismas, é o fato de o fenômeno não ser transmissível a qualquer sucessor designado; mas o próprio Lula encarregou-se de sabotar eventuais discípulos dotados de voo próprio.
Biden, ao reconhecer que a idade avançada não lhe facultaria disputar a reeleição, desistiu da empreitada. Lula, que também enfrenta o peso da idade e um carisma declinante, poderia mirar-se nesse exemplo para optar por não enfrentar nova difícil disputa em 2026?
*DIPLOMATA E PROFESSOR
Fonte: https://www.estadao.com.br
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Vítima foi rendida em São Cristóvão por 6 bandidos. Um deles assumiu a direção, perdeu o controle do carro e acabou batendo. Na fuga, criminoso exigiu que professor colocasse o dedo na boca para tirar o anel à força.
Por Jefferson Monteiro, Bom Dia Rio
Professor teve aliança arrancada do dedo a dentadas — Foto: Reprodução/TV Globo
Um professor foi assaltado por ladrões de carro na manhã desta terça-feira (27) em São Cristóvão, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Um dos bandidos exigiu que ele entregasse a aliança, mas, como o anel não saía, o criminoso arrancou, com os dentes, a joia do dedo da vítima.
O ataque foi por volta das 6h40, nas imediações da Quinta da Boa Vista, e testemunhas acreditavam ser um arrastão. O professor vinha de Teresópolis, na Região Serrana, dirigindo um Volkswagen Nivus com a filha no carona quando foi fechado por um Honda HR-V, onde havia 6 bandidos.
Pelo menos 5 saltaram armados de pistolas e renderam o motorista. Ele não reagiu e deixou o automóvel. Um criminoso assumiu a direção do Nivus, mas, como era câmbio automático, perdeu o controle e bateu no HR-V. Esses 2 veículos acabaram abandonados pela quadrilha.
Enquanto comparsas rendiam um Jeep Renegade para fugir, um ladrão exigiu a aliança do professor — foi quando, diante da dificuldade de retirá-la, ele deu a ordem para que a vítima colocasse o dedo em sua boca e, a dentadas, conseguiu arrancar. No fim, o professor ainda foi agredido com uma coronhada. Celulares e carteiras também foram levados.
A polícia descobriu que o HR-V constava como roubado e foi adulterado, circulando com outra placa. Fonte: https://g1.globo.com
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