Segundo socorristas, veículo invadiu a contramão, na altura de Seabra, na Chapada Diamantina. Grupo morreu na hora.

 

Cleiton, Cleitiana, Caique e Bianca morreram em batida entre carro e carreta — Foto: Reprodução/Redes Sociais

 

Por g1 BA e TV Bahia

Quatro pessoas morreram depois que o carro onde viajavam bateu de frente com uma carreta, nesta terça-feira (17), em um trecho da BR-242, em Seabra, cidade na Chapada Diamantina.

Segundo a Prefeitura, as vítimas tinham saído de Iraquara, onde participaram de uma festa junina, e seguiam para a área urbana de Seabra, onde moravam, quando aconteceu o acidente.

Conforme apurou a TV Bahia com os socorristas do Anjos da Chapada, passava das 4h30, quando o carro invadiu a contramão e atingiu a carreta. Os quatro ocupantes do veículo morreram na hora. Eles foram identificadas como:

Os corpos foram removidos do local com a ajuda de bombeiros militares e foram levados para o Departamento de Polícia Técnica (DPT) da região, para necropsia. Não há detalhes sobre o sepultamento.

O caso é apurado pela Polícia Civil (PC). Uma perícia foi feita para definir as circunstâncias do acidente.

A Prefeitura de Seabra emitiu uma nota de pesar, se solidarizando com os familiares e amigos das vítimas. Nas redes sociais, a administração municipal afirmou que a notícia abalou "toda a cidade e deixou quatro famílias mergulhadas no luto". Fonte: https://g1.globo.com

 

Menina de 11 anos relatou que foi estuprada pelo padrasto mais de uma vez. Ela contou que a mãe sabia dos abusos, mas não chamou a polícia.

 

Criança abusada sexualmente pelo padrasto pede ajuda a pastor em igreja de Vitória e homem é preso. Espírito Santo. — Foto: TV Gazeta

 

Por Priciele Venturini, TV Gazeta

Criança abusada sexualmente pelo padrasto pede ajuda a pastor em igreja de Vitória

Uma menina de 11 anos pediu ajuda a um pastor e contou que era abusada pelo padrasto, em Vitória. Foi o líder religioso quem acionou a Polícia Militar e o suspeito acabou preso enquanto estava em um bar bebendo com a esposa, na noite desta quarta-feira (11).

Os nomes dos envolvidos e o bairro de residência não estão sendo divulgados para preservar a identidade da criança, conforme prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente (Ecriad).

A menina chegou à igreja por volta das 19h, parecia desnorteada e estava sozinha, segundo o Boletim de Ocorrência. De acordo com o pastor, a menina revelou os abusos e disse que eram recorrentes.

"Ela estava chorando e veio em minha direção. Eu fui conversar e perguntei o que tinha acontecido. Aí ela me relatou que havia sido abusada pelo padrasto e disse que já havia algum tempo, só que desta vez o padrasto tinha sido mais violento", contou o pastor.

A criança contou que chegou a falar para a mãe o que estava acontecendo em casa, mas a mulher apenas agrediu o marido, não acionou nenhuma autoridade e a situação continuou acontecendo.

A menina contou ainda que era ameaçada e que temia que a situação começasse a acontecer também com a irmã mais nova.

A criança frequentava a igreja há quatro anos, sempre sozinha, o que chamava a atenção dos outros participantes.

"Ela sempre frequentou sozinha, eu até já conversei algumas vezes querendo entender alguma situação da vida dela, o porquê de não ser acompanhada pelos pais. Mas ela sempre dizia que a mãe só queria saber de beber e nem dava muita atenção para ela. Até alimentação a menina dizia que faltava em casa", disse o pastor.

Família localizada no bar

O Conselho Tutelar foi chamado e a PM foi atrás da mãe. Ela foi localizada em um bar junto com o marido, bebendo. A outra filha da mulher, de seis anos, também estava no local.

Aos militares, a mulher confirmou que, ao chegar do trabalho, se deparou com a filha chorando e que a criança relatou o abuso. A mãe disse que acreditava na menina, mas alegou que não chamou a polícia porque estava sem celular.

 

Mandado de prisão em aberto

A mãe e o padrasto foram levados para a Delegacia Regional de Vitória. No local, os policiais descobriram que o suspeito tinha um mandado de prisão em aberto expedido pela Justiça em Belo Horizonte, Minas Gerais. Não foi informado qual crime ele já tinha cometido.

As crianças foram encaminhadas pelo Conselho Tutelar para uma casa de acolhimento.

A Polícia Civil informou que o suspeito foi autuado em flagrante por estupro de vulnerável com o agravante por ele ser padrasto da vítima. Após os procedimentos, ele foi encaminhado ao sistema prisional.

A mulher também foi conduzida à delegacia, foi ouvida e liberada, já que a autoridade policial não identificou elementos suficientes para realizar a prisão em flagrante naquele momento.

O caso seguirá sob investigação da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). Fonte: https://g1.globo.com

Poze do Rodo, Bandeira e Ben Jor na encruzilhada

Criminalizar o funkeiro que canta na comunidade é, em verdade, criminalizar a própria comunidade

 

Por Alcir Moreno da Cruz

Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte? O que vejo é o beco” (Manuel Bandeira, 1933)

Quando o beco geográfico encontra o beco simbólico, a arte é acossada e cantar torna-se um ato de desobediência. Não há céu nesse beco, há sirenes. Não há horizonte, há muro. Quando um cantor é algemado por aquilo que canta, não se prende um homem: acorrenta-se uma coletividade.

A notícia de mais uma prisão – de um artista, de um funkeiro – repete o roteiro conhecido. Não há flagrante de delito, não há resistência, não há sequer perigo. Mas há o espetáculo da contenção, o teatro da vergonha, o cortejo da humilhação pública. É quando o Estado, em nome da ordem, arma o palco da submissão. Algemam-no não porque precise ser contido, mas porque precisa ser exposto. Reduzem-no a uma caricatura perigosa, quando o que ele representa é apenas a liberdade – incômoda, insuportável para alguns – de cantar sobre o mundo que o cerca.

Criminalizar o funkeiro que canta na comunidade é, em verdade, criminalizar a própria comunidade – e, com ela, toda a forma de celebração que ali se realiza. Porque não há festa na favela que não seja permeada por sua realidade: seus personagens, suas contradições, sua música, sua topografia, suas mazelas. A arte, nesse espaço de abandono, é sobrevida. É denúncia, é alegria. “O morro que era um céu, sem o nosso Charles, um inferno virou”, disse Ben Jor em Charles, Anjo 45. O problema nunca foi a letra ou o ritmo. O problema é quem segura o microfone e ousa erguer a própria voz.

Há algo de profundamente simbólico em conduzir, sob o brilho frio das algemas, um cantor sem resistência, sem receio fundado de fuga ou de perigo à integridade física. Um gesto teatral mais destinado às câmeras do que à Justiça, em flagrante ofensa à Súmula Vinculante 11 do Supremo Tribunal Federal (STF). E que ignora o que já foi reconhecido há muito tempo: a força das algemas não reside na sua utilidade física, mas na violência simbólica que carregam, pois quando não há risco há apenas humilhação. Os grilhões, nesse contexto, não seguram um braço, tentam aprisionar um imaginário: você não pertence, você ousou. “Você fez o jogo virar.” “Você saiu do lugar, está em outro patamar.” Para eles, o palco; para você, o banco dos réus. Para eles, o sucesso; para você, a suspeita. Para eles, a licença poética, o eu lírico; para você, o enquadro. Para eles, os atos heroicos e lendários; para você, o lugar reservado a um fora da lei.

A censura à arte que nasce das periferias sempre foi seletiva. Porque não se trata apenas de conteúdo: trata-se de classe. Trata-se de raça. A música de elite pode erotizar, provocar, insultar – e será chamada de vanguarda. A música da favela faz o mesmo – e é classificada como apologia. Não se perdoa a voz que emerge de onde só se esperava silêncio.

Liberdade artística não é favor do Estado – é direito constitucional. Direito que protege inclusive aquilo que incomoda, que provoca, que fere sensibilidades acomodadas, que apresenta a realidade cinicamente encoberta. Quando ceifada, impede o florescimento da democracia. Não há liberdade de expressão apenas para o belo e para o aceito. A verdadeira liberdade protege o incômodo. A licença poética. O personagem. O som que desafia. A letra que fere porque aponta feridas, pois o artista tem mais liberdade que o cidadão comum, não menos. Porque sua função é expandir, e não se limitar. Como advertiu Foucault em Vigiar e Punir: “O controle social é mantido pela criminalização de atos e pensamentos não conformistas”. A tentativa de reduzir esse artista a um criminoso comum, jogado no porão de uma viatura da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) direto à “colônia penal” – enquanto nada mais fez senão cantar –, é um gesto que beira a repetição histórica da senzala. Não é retórica. É diagnóstico.

Querem transportá-lo de volta ao lugar da servidão. Desumanizá-lo, hostilizá-lo em seu próprio lar sob os olhos vivos, espichados e atemorizados dos que o cercam. Há um desconforto com o sucesso de quem, para muitos, deveria fracassar. Um inconformismo com o riso, com a ostentação e com o júbilo. Um incômodo diante da imagem de um jovem negro, milionário, de cabelo abacaxi, egresso do sistema prisional, ouvido e seguido por multidões – e, acima de tudo, altivo.

Censura é sempre política. E, quando atinge a arte popular, a arte periférica, a arte negra, ela revela seu rosto mais cruel: o de um país que ainda não se perdoou por ser mestiço, por ser pobre, por ser plural.

Mas o que vejo é apenas o beco. O beco que canta, que dança, que desafia. O beco onde a arte não morre porque é feita de sobreviventes. E quem sobrevive canta. Mesmo que algemem. Mesmo que tentem silenciar. Mesmo que o queiram de volta ao lugar de onde desejariam que jamais tivesse saído: do beco. “Mas Deus é justo, e verdadeiro. E antes de acabar as férias, nosso Charles vai voltar. Paz, alegria geral. Todo morro vai sambar antecipando o carnaval...”.

Obrigado, Ben Jor; obrigado, Manuel Bandeira; e obrigado, MC Poze! Fonte: https://www.estadao.com.br

Natalie Reynolds é criticada por publicar vídeo em que convence mulher em situação de rua a pular em lago; caso gerou revolta nas redes

 

Rio de Janeiro

A influenciadora americana Natalie Reynolds foi flagrada chorando em frente a uma das sedes do TikTok após ter seu perfil banido da plataforma. A cena viralizou nas redes sociais nesta segunda-feira (9). Nas imagens, ela aparece aos prantos enquanto fala ao telefone.

A conta da criadora de conteúdo foi derrubada após a divulgação de um vídeo polêmico, no qual ela convence uma mulher em situação de rua a pular no Lago Lady Bird, em Austin, Texas, com a promessa de pagar US$ 20 (cerca de R$ 111). As imagens mostram a mulher se atirando na água — mesmo sem saber nadar — enquanto Natalie vai embora. A moradora de rua foi resgatada por outras pessoas que estavam próximas ao local.

Desde que foi publicado, o vídeo tem gerado forte repercussão negativa. Além disso, Natalie vem sendo e criticada por supostamente plagiar vídeos da também influenciadora americana Brooke Monk. Fonte: https://f5.folha.uol.com.br

O vício digital, somado à ausência paterna e à invisibilidade da autoridade moral dentro de casa, tem consequências visíveis

 

Por Carlos Alberto Di Franco

A adolescência brasileira, como aponta a contundente pesquisa do Instituto Papo de Homem com apoio do Pacto Global da ONU, está à deriva. Vítima da ausência de referências, mergulhada em solidão afetiva e contaminada por conteúdos tóxicos, nossa juventude vive uma silenciosa tragédia moral. Um em cada cinco meninos entre 13 anos e 17 anos se declara viciado em pornografia. Outros tantos admitem dependência de games. E mais de 14% têm em influenciadores digitais suas principais referências masculinas. Esses dados, mais do que números, são clamores. Clamores por afeto, por autoridade moral e, sobretudo, por presença. Tudo isso fica muito claro em excelente reportagem da jornalista Renata Cafardo.

Vivemos uma profunda crise de identidade masculina. A figura do pai – não no sentido biológico, mas simbólico – está ausente ou fragilizada. Mais de 60% dos jovens entrevistados dizem conviver com poucos ou nenhum homem que considerem um bom exemplo de masculinidade. E talvez o dado mais alarmante: metade dos adolescentes não sabe dizer se é amada por seu pai. O que poderia ser um alicerce tornou-se uma ausência. O que deveria formar corrige mal. O que foi feito para proteger já não está.

Não é difícil de entender a causa. A desestruturação familiar, somada à omissão educacional e ao avanço das tecnologias digitais como substitutos da convivência, criou uma geração hipersensível e hiperconectada, porém emocionalmente órfã. E uma criança ou adolescente emocionalmente órfão – ainda que viva com seus pais – está muito mais vulnerável às distorções do mundo adulto travestidas de entretenimento.

A série Adolescência, da Netflix, que narra a história de um garoto de 13 anos que comete um crime bárbaro na escola, escancarou a urgência de um debate que há muito precisa ser feito: o que estamos formando? Que tipo de homem emerge dessa juventude desprovida de bússolas morais?

A pornografia, nesse contexto, ocupa um papel central. Em artigo anterior, denunciei o poder destrutivo desse vício – que não é apenas um consumo inofensivo, como muitos insistem em afirmar, mas uma escola de desumanização. A pornografia ensina a brutalização das relações, distorce o olhar sobre o outro, mata a ternura e anestesia a capacidade de amar. Um adolescente viciado em pornografia não apenas consome imagens, mas vai sendo, pouco a pouco, deformado por elas.

O vício digital, somado à ausência paterna e à invisibilidade da autoridade moral dentro de casa, tem consequências visíveis: aumento da violência, apatia escolar, impulsividade e uma crescente sensação de vazio. E o que é mais grave: muitos desses meninos não veem saída. O futuro lhes parece um lugar sem sentido. Daí o fascínio por figuras artificiais, como os influenciadores digitais, que oferecem respostas fáceis a perguntas difíceis.

A cultura digital, por sua vez, não tem compromisso com a formação. O algoritmo se alimenta de vício, e o vício é lucrativo. Quanto mais tempo esses meninos passam diante das telas, mais se distanciam da realidade concreta. E quanto mais distantes da realidade, mais frágeis se tornam. E quanto mais frágeis, mais suscetíveis ao consumo de conteúdos destrutivos. Um ciclo perverso que a ausência familiar não apenas permite, mas muitas vezes legitima.

Não é preciso ser um especialista para perceber que há algo profundamente errado na forma como a sociedade contemporânea tem educado os meninos. As escolas hesitam, os pais se omitem e os meios de comunicação se calam. O resultado? Uma geração órfã, ainda que cercada de tecnologia, conforto e acesso à informação.

Mas há caminho. A reconstrução passa, necessariamente, pela família. Em artigos anteriores, defendi com convicção que é na família – e apenas nela – que se estabelece a verdadeira formação do caráter. É na convivência familiar que se molda o coração. O problema é que muitas famílias terceirizaram essa missão. Pais exaustos, mães sobrecarregadas, lares sem tempo. A rotina esmaga o diálogo, e o diálogo é substituído por telas.

Reaprender a conviver, reaprender a estar junto. Esse é o desafio. Os adolescentes não precisam de perfeição, mas de presença. Precisam de pais que digam “eu te amo”, de homens que mostrem, pelo exemplo, o que significa ser forte sem ser violento, decidido sem ser opressor, sensível sem ser frágil.

Precisamos resgatar o valor da autoridade. Autoridade não como autoritarismo, mas como referencial. Toda criança precisa saber que existe um limite. E que esse limite não é uma punição, mas um ato de amor. Num mundo onde tudo é permitido, o jovem se perde. É a ordem que forma. É o “não” que protege.

O futuro dos meninos – e, por extensão, da sociedade – dependerá da nossa coragem de resgatar os valores perenes. Isso significa dizer não ao relativismo moral, enfrentar a normalização da pornografia, romper com a cultura do “deixa estar”. Isso significa, sobretudo, voltar para casa. Reconstruir o lar. Reconstruir a autoridade do pai, o afeto da mãe, o diálogo com os filhos.

A juventude grita por presença. Que não sejamos surdos.  Fonte:  https://www.estadao.com.br

Vendedor foi preso pelo assassinato da ex, a facadas, e por queimar o corpo dela.

 

Por Rafael Nascimento, g1 Rio

A Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA) da Polícia Civil do RJ prendeu um homem na Zona Oeste do Rio pelo assassinato da ex-companheira. Segundo as investigações, após o crime, ele expulsou a enteada de casa. A motivação seria um interesse amoroso pelo namorado da jovem.

Ronald Mendes, de 32 anos, foi preso pela morte de Daniele Sanches, de 36, sua ex-companheira. A execução, segundo a polícia, era o caminho para que Ronald pudesse ficar com o namorado da enteada, menor de idade. Hoje, o menor tem 17 anos, e na época em que conheceu Ronald, 16.

O assassinato aconteceu no dia 29 de março deste ano, em Santa Veridiana, sub-bairro de Santa Cruz, e foi descoberto após o adolescente contar para a mãe o que tinha acontecido.

 

Como tudo começou

Ronald e Daniele iniciaram um romance em 2019. Ela já tinha filhos de outro relacionamento e os levou para morar com o padrasto. O casal teve um filho, hoje com 3 anos.

A relação foi marcada por muitas brigas e relatos de agressão contra os enteados.

"A partir da oitiva de todas as testemunhas da investigação, ficou destacado que o Ronald é um homem extremamente manipulador. Se aproximou da Daniele com o objetivo único de ter um filho e, ao longo dessa relação, mantinha relação com outras pessoas e inseriu um menor de idade na relação do casal, formando esse triângulo amoroso", afirmou a delegada Ellen Souto.

Esse menor de idade um garoto que a filha adolescente de Daniele conheceu no carnaval de 2024. Os jovens passaram a namorar, e Ronald, ao ser apresentado ao rapaz, teria desenvolvido sentimentos por ele. Ronald convidou, então, o adolescente para morar com eles.

O g1 não conseguiu localizar a defesa de Ronald.

 

Ameaças

Testemunhas contaram à polícia que, a partir daí, as brigas entre Daniele e Ronald se intensificaram. À polícia, parentes contaram que Daniele frequentemente recebia ameaças de Ronald – caso ela fosse embora com o filho do casal.

A investigação apontou que, um mês antes de ser morta, Daniele saiu de casa com os filhos mais velhos e foi para a casa da mãe, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Entretanto, teria dito para Ronald que entraria na Justiça para ter a guarda do caçula.

Foi aí, que, de acordo com a polícia, para "viver em família" com o namorado da enteada e com o filho que teve com Daniele, Ronald planejou o assassinato da ex-mulher.

 

Sexo antes de matar

A DDPA descobriu que Ronald mandou mensagens para Daniele e a convidou para uma noite de sexo. No entanto, segundo a polícia, o vendedor já teria tramado a morte da vítima e usado a história como pretexto para atraí-la.

Na noite do crime, Daniele comprou salgadinhos e levou uma garrafa de vinho para o encontro íntimo. Em seguida, o casal seguiu para uma área de mata em Santa Cruz.

Segundo a investigação, quando a vítima já estava nua, Ronald a algemou e degolou. No entanto, como a faca estava cega, de acordo com depoimento do próprio vendedor, ele a esfaqueou diversas vezes.

O homem contou aos policiais que ele foi em casa, sujo de sangue, e pediu para que o namorado da enteada e um outro adolescente comprassem gasolina para queimar o corpo da mulher.

Em seguida, Ronald disse que voltou ao local do crime e ateou fogo ao corpo de Daniele. Aos policiais, ele admitiu que voltou no matagal outras 3 vezes para incinerar os restos mortais da ex-companheira.

O próprio Ronald levou os agentes da DPPA até onde estariam os restos mortais de Daniele. No local, a polícia encontrou uma ossada que foi encaminhada para a perícia.

Semana passada a Justiça expediu um mandado de prisão temporária contra Ronald, que vai responder por feminicídio.

 

Família estranhou mensagens

Após o crime, o adolescente contou que Ronald passou a mandar mensagens para parentes e amigos de Daniele se passando por ela e pedindo para que eles não a procurassem.

O irmão da mulher estranhou o teor das mensagens, já que ela só mandava áudio. Depois de 40 dias a família da vítima procurou a delegacia para registrar um boletim de ocorrência por desaparecimento.

 

Com medo, adolescente procurou a mãe

O vendedor teria mostrado as imagens do crime para o adolescente que, com medo, deixou a residência onde morava com o homem e foi para a casa da mãe.

Lá, a mulher estranhou as constantes mensagens enviadas por Ronald e questionou o jovem, que contou o que tinha acontecido.

Segundo a polícia, para se eximir da autoria do crime, Ronald alegou que o menor teria planejado a morte de Daniele, e que ambos executaram a vítima. Fonte: https://g1.globo.com

Mais do que julgar a suposta inconstitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet, o Supremo irá redefinir a partir de hoje os limites de um direito fundamental dos brasileiros

 

O Supremo Tribunal Federal (STF) retoma hoje o julgamento de dois recursos extraordinários que tratam da suposta inconstitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet. Esse é o dispositivo legal que fixa critérios para que as empresas de tecnologia possam ser civilmente responsabilizadas por conteúdos publicados por terceiros em suas plataformas, notadamente as redes sociais. O reinício do julgamento é ocasião para este jornal reafirmar seu entendimento de que o artigo 19 é plenamente constitucional. Não há uma vírgula em sua redação que não esteja coadunada com a Constituição – nem tampouco com o Código Penal.

Mas, a título de argumentação, digamos que o referido dispositivo fosse, de fato, inconstitucional. Ora, bastaria ao STF dizê-lo e deixar a cargo do Congresso a análise sobre a pertinência de reescrevê-lo, se o Legislativo achar que é o caso. Porém, não é isso o que parece estar em vias de acontecer, a julgar pelas palavras do ministro decano da Corte. Em Paris, Gilmar Mendes afirmou que a decisão que o STF vier a tomar pode ser “um esboço de regulação da mídia social” no Brasil. A ser assim, o STF usurpará uma competência do Congresso, redefinindo, na prática, os limites da liberdade de expressão no País.

O espírito que anima a Corte nesse julgamento não é nada bom, muito ao contrário: há uma nítida inclinação para a censura, ainda que o mal venha disfarçado sob o manto iluminista da purgação do debate público online por meio do combate ao que alguns ministros entendem por “fake news” e “discursos de ódio”.

Em grande medida, a despeito de jamais ter sido um direito absoluto, a liberdade de expressão está sob risco de ser cerceada no País porque o STF está debruçado sobre esse julgamento com base em duas falsas premissas. A primeira e mais gritante delas é a suposta “omissão” do Congresso para “atualizar” o Marco Civil da Internet, restando à Corte, uma vez provocada, preencher esse vácuo institucional. Não é assim que funciona uma república baseada na tripartição dos Poderes. O Congresso não se omitiu. Pouco tempo atrás, o Projeto de Lei (PL) da regulamentação das chamadas big techs, incorretamente designado como “PL das Fake News”, estava prestes a ser votado, mas foi retirado de pauta por decisão da maioria dos líderes partidários em razão da falta de consenso para votar a matéria em plenário – uma decisão, diga-se, rigorosamente legítima.

A segunda falácia é a suposta transformação da internet numa “terra sem lei”, um espaço no qual os cidadãos estariam livres para cometer toda sorte de crimes sob o beneplácito das big techs, interessadas que são em disseminar conteúdos que geram tráfego, não necessariamente lícitos, em busca de visualizações, engajamento, publicidade e dinheiro – muito dinheiro. Ora, é evidente que o ânimo dessas empresas é o lucro, e não o desejo de se firmarem como vestais do debate público na ágora moderna.

Também é fato que o Marco Civil da Internet pode ser revisitado, até para obrigar as empresas de tecnologia a serem transparentes no que diz respeito à arquitetura de seus algoritmos e de seus modelos de remuneração. Mas é simplesmente mentiroso afirmar que, a não ser por meio dessa intervenção antirrepublicana do STF, os usuários e as empresas permanecerão isentos de quaisquer responsabilidades – inclusive penal, no caso dos cidadãos – por conteúdos criminosos que circulam nas redes sociais.

Por seu equilíbrio, fruto de um longo e profícuo debate no Congresso, o modelo brasileiro de responsabilização civil das big techs, mas não só, é tido como um paradigma internacional. Para Tim Berners-Lee, ninguém menos do que o criador da internet como a conhecemos, o Marco Civil brasileiro foi aprovado como o prenúncio de “uma nova era” ao respeitar o espírito de liberdade que o inspirou e, ao mesmo tempo, garantir que o ambiente digital não se tornasse uma área livre para a prática de crimes.

Ao pretender substituir o Legislativo na definição do que pode ou não circular pelas redes sociais, o STF não apenas abastarda seu papel institucional, como ameaça criar um perigoso precedente: o de que direitos fundamentais, como a liberdade de expressão, podem ser relativizados por interpretações e interesses circunstanciais de uma maioria de togados. Fonte: https://www.estadao.com.br

As plataformas descartaram os fatos e a razão para ficar com a gritaria e a barulheira. O jornalismo segue a trilha oposta

 

Por Eugênio Bucci

A crise que se abateu sobre a imprensa veio como um armagedon que atingiu o coração do chamado “modelo de negócio” dos jornais e das revistas. As receitas de publicidade debandaram e foram se aboletar nas tais plataformas sociais (ou antissociais, como já disse Marcia Tiburi). As redações ficaram falando sozinhas. É verdade que algumas conseguiram aumentar o faturamento com a venda de assinaturas (o New York Times, por exemplo, tem hoje uma carteira de 11,6 milhões de assinantes, quase todos assinantes digitais; apenas 600 mil recebem o jornal impresso na porta de casa). A grande maioria dos diários, porém, ficou à míngua, assim como a grande maioria das revistas. Tempos de penúria.

A crise não trouxe nada de bom. Nada, a não ser a necessidade de pensar um pouco. Os melhores profissionais da imprensa perceberam, finalmente, que é preciso refletir. Sobreviventes, aprenderam que precisam elaborar novas ideias sobre sua razão de ser e sobre o que faz de seu ofício um bem social indispensável para a democracia. Um debate de alto nível está em andamento, e esse debate só nos fará bem.

Antes que alguém se lembre do dito popular, “de pensar, morreu um burro”, é bom lembrar que muitos mais morreram por não pensar, e não só os burros. Quanto a isso, podemos afirmar que a crise do jornalismo – que também se traduz em obsolescência do padrão tecnológico – é sobretudo uma crise de pensamento, quer dizer, uma crise de falta de pensamento. Eis por que é bom que a pauta reflexiva se instale.

Para que serve a imprensa, afinal? É hora de pensar. Por que o cidadão não deveria simplesmente substituir os jornais pelos WhatsApps da vida? Quem trabalha no ramo e tem alguma consciência sabe a resposta: a imprensa é o único método social capaz de ajudar o público a examinar, com base nos fatos, o exercício do poder. Não há, em qualquer modelo de democracia conhecido, outra instituição que entregue esse serviço para a sociedade. O famigerado X não faz isso. O Facebook não faz isso. Um e outro geram ruído, mas não apuram os fatos e não fornecem relatos confiáveis para abastecer o debate político mais consequente. X e Facebook não são imprensa. São a anti-imprensa.

A imprensa nos entrega ainda outro benefício. Com seu método social (insisto no adjetivo “social”, pois se trata de um método que só adquire corpo nas relações entre os atores sociais), ela expande na prática a liberdade de expressão e o direito à informação. Com isso, dá mais vigor à política democrática.

Portanto, se trocassem as redações profissionais por plataformas, os cidadãos renunciariam a tudo aquilo que faz deles cidadãos e se reduziriam a meros espectadores do entretenimento generalizado. Estariam trocando uma assembleia por um programa de auditório. Em outras palavras, estariam deixando de lado o diálogo amparado em balizas racionais e abraçando um reality show delirante, estariam abandonando o debate entre argumentos para embarcar no fanatismo. O barulho das plataformas, em lugar de contribuir para identificar os fatos, só faz soterrá-los e condená-los ao esquecimento.

Isso significa que o alarido das plataformas não serve de modelo para a imprensa. Seria um equívoco acreditar que o simples embate de enunciados contrários, só porque são contrários, poderia nos ajudar a ver os fatos como eles realmente são.

Talvez, há 250 anos, essa fantasia tenha tido legitimidade. No século 18, o iluminista Honoré Gabriel Riqueti, o conde de Mirabeau, acreditava que o calor do bate-boca nos conduziria à epifania: “Deixemos que se batam (as doutrinas contrárias) e veremos de que lado estará a vitória. Por acaso a verdade alguma vez foi derrotada quando atacada abertamente e quando teve a liberdade para defender-se?”. Essa visão, que foi justa naquele tempo, seria desastrosa se transplantada mecanicamente para os jornais dos nossos dias.

No Século das Luzes, os folhetos devezenquandários da França revolucionária não tinham como procedimento ouvir o outro lado, corrigir os erros ou apurar os fatos. Só o que faziam era propaganda e proselitismo. Foi somente no século 19 que a imprensa se profissionalizou e se dedicou ao que seria seu maior valor na democracia: a busca pela verdade factual e a crítica pública e racional ao poder. Desde então, ao menos nas boas redações, o critério factual, ao lado dos requisitos da razão, comparece à edição diária das notícias.

À luz dessa história, os jornais incorreriam em grave anacronismo se, em nome de assegurar o princípio do contraditório, publicassem em profusão artigos dos negacionistas do aquecimento global. O contraditório é, sim, uma exigência da lógica, mas ele não se estabelece entre alguém que insiste na mentira notória e alguém que procura dizer a verdade.

As plataformas descartaram os fatos e a razão para ficar com a gritaria e a barulheira. O jornalismo segue a trilha oposta. A verdade não é a média aritmética entre duas distorções. Que as redações sigam com esse bom debate – e que não deem guarida ao discurso comprovadamente mentiroso e impostor. Fonte: https://www.estadao.com.br

Operação investigou grupo que disseminava discurso de ódio nas redes sociais e planejava ataque

 

João Pedro Pitombo

Salvador

Uma operação conjunta da Polícia Civil do Rio de Janeiro e do Ministério da Justiça e Segurança Pública identificou um plano de ataque à bomba no show da Lady Gaga, que aconteceu na noite deste sábado (3) na praia de Copacabana.

A operação "Fake Monster" investigou grupo que disseminava discurso de ódio nas redes sociais e preparava um plano de ataque contra crianças, adolescentes e público LGBTQIA+.

Um homem apontado líder do grupo foi preso em flagrante por porte ilegal de arma de fogo no Rio Grande do Sul e um adolescente foi apreendido por armazenamento de pornografia infantil no Rio.

A investigação da Polícia Civil do Rio de Janeiro identificou que os envolvidos estavam promovendo um "desafio coletivo" em redes sociais e recrutando adolescentes para promover ataques com explosivos improvisados em mochilas e coquetéis molotov durante o show de Lady Gaga no Rio.

Os desafios são encarados como uma forma de pertencimento entre os jovens destes grupos e também visam obter notoriedade nas redes sociais.

Os alvos da operação atuavam em plataformas digitais, onde promoviam ações de radicalização de adolescentes, incluindo a disseminação de crimes de ódio, automutilação, pedofilia e a publicação conteúdos violentos.

Ao todo, foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão contra nove pessoas nos municípios do Rio de Janeiro, Niterói, Duque de Caxias e Macaé, no Rio; Cotia, São Vicente e Vargem Grande Paulista, em São Paulo; São Sebastião do Caí, no Rio Grande do Sul; e Campo Novo do Parecis, em Mato Grosso.

Foram apreendidos pela polícia dispositivos eletrônicos e outros materiais que serão analisados para robustecer as investigações.

O objetivo da operação foi neutralizar as condutas digitais que tinham potencial risco ao público do evento. Conforme a Polícia Civil, o trabalho foi executado com discrição e precisão, evitando pânico ou distorção das informações junto à população.

A Folha teve acesso a um documento da investigação que aponta que os ataques seriam coordenados por um grupo que atua no Discord. A plataforma foi procurada pela reportagem, que aguarda um posicionamento sobre o caso.

A operação foi fundamentada em um relatório técnico produzido pelo Ciberlab (Laboratório de Operações Cibernéticas) do Ministério da Justiça, após um alerta da subsecretaria de Inteligência da Polícia Civil do Rio de Janeiro, que identificou células digitais que induziam jovens a condutas violentas por meio de linguagens cifradas e desafios com simbologia extremista.

O alerta para ataque foi feito por meio do Disque Denúncia, entidade não governamental que recebe informações de forma anônima no número (21) 2253-1177.

O trabalho de inteligência também envolveu o CIVITAS (Central de Inteligência, Vigilância e Tecnologia em Apoio à Segurança Pública) da Prefeitura do Rio, que recebeu a informações sobre o ataque e enviou um relatório de inteligência à rede de segurança do Governo Federal.

Como desdobramento da operação, os agentes da Polícia Civil também cumpriram neste sábado um mandado de busca e apreensão em Macaé contra uma pessoa que também planejava ataques. Ele ameaçava matar uma criança ao vivo, e responde por terrorismo e por induzir crimes. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Vítima estava no banco do carona de carro que teve a passagem fechada no trânsito; autor desceu do veículo à frente e atirou

 

Jovem é morto com um tiro na cabeça após buzinar para pedir passagem no ABC Paulista — Foto: Reprodução/Redes Sociais e Reprodução/CNN Brasil

 

Por O Globo — Rio de Janeiro

Um jovem de 22 anos, identificado como Patrik Silva, foi morto com um tiro na cabeça após se envolver em uma suposta discussão no trânsito em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, no último domingo. Patrik estava no banco do carona do veículo dirigido por um amigo, que contou à polícia que, quando os dois passavam pelo Corredor ABD, foram fechados por um outro carro. Ao buzinar para pedir passagem, um homem saiu do veículo armado e disparou contra eles.

Ainda de acordo com a testemunha, ele tentou acelerar para fugir, mas logo percebeu que Patrik havia sido atingido. No momento do ocorrido, o suspeito parecia discutir com uma mulher. O motorista, que estava em Citroën Cactus branco, dirigiu pela mesma avenida até Diadema e solicitou ajuda a Guarda Municipal da cidade para conseguir atendimento médico, mas o jovem não resistiu ao ferimento e chegou à unidade de saúde já em óbito.

Em nota ao GLOBO, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) afirmou que o local do crime passou por perícia, e que o amigo que acompanhava o jovem forneceu informações sobre as características do suspeito. O caso foi registrado como homicídio no 3° DP de Diadema e está sendo investigado pelo Setor de Homicídios e Proteção à Pessoa (SHPP).

Patrik foi sepultado na manhã dessa segunda-feira, no Cemitério Municipal de Diadema, no bairro Conceição. Nas redes sociais, publicações descrevem o jovem como uma pessoa "alegre, de sorriso fácil e que espalhava felicidade por onde passava", e pedem justiça pelo ocorrido. Até o momento da publicação desta reportagem, o suspeito ainda não havia sido preso, conforme informou a SSP-SP. Fonte: https://oglobo.globo.com

O País vive uma estagnação política e moral. Não por falta de recursos, inteligência ou potencial. Mas porque falta direção

  

Por Carlos Alberto Di Franco

Tenho insistido reiteradamente num ponto que me parece essencial para compreender o impasse histórico em que o Brasil se encontra: faltam-nos estadistas. Sobram políticos. Mas falta-nos aquele tipo humano raro, que pensa o país para além do próprio reflexo no espelho. O Brasil, em sua complexidade e grandeza, não pode ser reduzido à lógica do marketing político, da sobrevivência eleitoral ou do imediatismo oportunista.

Precisamos de alguém capaz de sonhar alto, agir com responsabilidade e cultivar o senso do dever.

O estadista é, antes de tudo, um servidor da nação. Não é movido por vaidades pessoais, mas por um propósito de transformação social e institucional. A história nos mostra que os estadistas são raros – e por isso preciosos. São homens que se projetam não por gritar mais alto ou colecionar curtidas nas redes sociais, mas por oferecerem ao seu tempo uma bússola moral e uma visão de futuro. São figuras que, mesmo envolvidas nas urgências do presente, não se perdem em sua neblina. Sabem onde estão, por que estão e para onde pretendem conduzir o País.

O Brasil vive uma estagnação política e moral. Não por falta de recursos, inteligência ou potencial. Mas porque falta direção. Os ciclos políticos se sucedem sem que um projeto nacional consistente consiga firmar raízes. Oscilamos entre o populismo e o tecnocratismo, entre promessas vazias e reformas apressadas. Há uma ausência inquietante de lideranças que pensem o Brasil para além de quatro anos.

O estadista, ao contrário do político tradicional, não se limita ao calendário eleitoral. Ele planta árvores cujos frutos talvez não venha a colher. Planeja com os olhos postos em décadas. Sabe que governar não é apenas administrar crises, mas construir futuro. O estadista é um artífice da esperança, não um operador da rotina.

É preciso resgatar, com urgência, a ética da responsabilidade. Não se trata de moralismo barato, mas de um compromisso profundo com o bem comum. O estadista não manipula a verdade, não negocia princípios. Pode até perder eleições – e muitas vezes perde –, mas jamais trai sua consciência. Ele sabe que a política, para ser legítima, precisa ser ética. Sem ética, a política degenera em oportunismo, fisiologismo, corrupção.

O Brasil não pode prescindir da esperança. Mas não pode também continuar refém de salvadores da pátria, de mitos forjados em redes sociais ou de líderes cuja única ideologia é o culto à própria personalidade. A saída está no reencontro com a política em seu sentido mais nobre: a arte de servir ao povo com honestidade, competência e visão.

O estadista precisa ser desenvolvimentista – mas um desenvolvimentismo inteligente, moderno, responsável. Que compreenda as potencialidades do País, respeite o meio ambiente, invista em educação, ciência e tecnologia, valorize a indústria nacional e enfrente as desigualdades sociais com coragem. O Brasil não pode continuar sendo um país rico com um povo pobre.

E aqui, a Amazônia assume um papel estratégico e simbólico. Não há projeto de nação sem um olhar lúcido e soberano sobre a maior floresta tropical do planeta. A Amazônia não pode ser reduzida a slogans ou a objeto de disputa de interesses internacionais. Ela é parte vital da nossa identidade, da nossa biodiversidade e do nosso potencial de desenvolvimento sustentável. Como afirma Aldo Rebelo, “além da maior floresta tropical do mundo, a Amazônia também é detentora da maior fronteira mineral e da maior fronteira energética do mundo”. Um estadista entende que proteger a Amazônia é proteger o Brasil, mas compreende também que a presença do Estado, a infraestrutura, a educação e a geração de emprego são essenciais para que os brasileiros que vivem na região deixem de ser invisíveis.

O estadista não teme o enfrentamento. Mas não o procura por vaidade ou beligerância.

Seu combate é por princípios, não por holofotes. Sua autoridade vem do exemplo, não da imposição. Sua força vem da coerência, não do cálculo político.

O Brasil precisa de alguém que compreenda a complexidade do seu tempo, que una competência técnica à sensibilidade social, que alie firmeza a generosidade. Alguém que não precise gritar para ser ouvido. Que não trate o povo como massa de manobra, mas como sujeito de sua própria história.

O estadista não nasce do improviso. É alguém que conhece a alma do seu povo, respeita sua cultura, valoriza sua história. Sim, a história. Porque quem não conhece o passado está condenado a perder o futuro. A ignorância histórica é uma das raízes da superficialidade política e do desprezo pelas instituições. O estadista, ao contrário, sabe que cada passo adiante exige consciência do caminho já trilhado.

O estadista é, enfim, um construtor. Constrói consensos sem abrir mão de convicções.

Constrói políticas públicas que sobrevivem a governos. Constrói instituições sólidas. Constrói pontes entre o presente e o futuro. E, sobretudo, constrói confiança. Porque sabe que sem confiança não há coesão social e sem coesão social não há desenvolvimento sustentável.

A hora exige coragem, grandeza e espírito público. A hora exige um estadista. Fonte: https://www.estadao.com.br

É imprescindível que todas as instituições mantenham um espaço dialogado, voltado ao compromisso essencial com o valor da equidade

 

Por Maria Elizabeth Rocha e Amini Haddad

Desde o dia 28 de março, ouvimos nos noticiários sobre diversas absolvições relacionadas às agressões às vítimas de violência sexual, reavivadas pela condição de uma ocorrência na Espanha. Os manifestos nos levam à consideração do quanto o feminino se vê desqualificado, independentemente de onde se encontra.

E lá estão elas: vítimas. Há um espelho a nos mostrar algo que não gostaríamos de ver. Ninguém se dá conta das condições aterrorizantes: entre o fato e o sentimento do dever de denunciar, de todos os percalços vivenciados na psique das vítimas até conseguirem falar sobre o que sentem, o que ocorreu. Expor condições que externam dor, revolta, sua nudez imposta, seu esquecimento como pessoa e sua submissão às condições vexatórias, humilhantes, de objeto, de uso e descarte.

Os olhos aflitos das vítimas estão diante de nós. Entre o falar e o calar-se. Entre a dor do revelar e a dor de se esquecer. Percebemos a sua imagem: a vergonha diante de seus familiares, amigos e colegas de trabalho.

Sim. Está evidente a sua angústia pelas condições de uma realidade inescrupulosa que vulnera a própria identidade do feminino: uma mulher alijada e entorpecida pelas imposições reiteradas de condicionantes patriarcais, misóginas e hierarquizantes. Ao que se vê, a humanidade ainda não alcançou o básico da compreensão da igual dignidade entre o feminino e o masculino.

Os casos de violência contra meninas e mulheres, expostos em todos os noticiários do mundo, apresentam detalhes que nos confrontam. Percebe-se que ainda estamos alheios aos deveres cívicos que nos são exigidos na convivência humana, na dimensão do respeito: condutas e responsabilidades.

Vivemos na era das tecnologias, de incríveis descobertas, do desenvolvimento de instrumentais que nos aproximam de informações de qualquer espaço do mundo. O globo se tornou acessível na palma da mão. Contudo, apesar de toda a construção havida e de tudo que se fez pelas mãos humanas, somos ainda incapazes de ver.

O termo humanidade carrega um valor em si mesmo. Ao tempo em que unifica a pluralidade, a multiplicidade que nos habilita a ver mais, aprender mais, sermos mais: uma pessoa com a outra, uma pessoa para a outra e cada pessoa consigo mesma (consciência).

Não se trata de uma interlocução constitucionalista ou jungida da autoridade de um espaço funcional que ocupamos como professoras universitárias. E, neste tempo, não nos expressamos como magistradas.

A nossa voz vem da percepção de uma humanidade que não aceita o silêncio torpe que esvazia a alma.

Sim. Preocupam-nos as vítimas em todos os espaços do mundo, as mazelas e os sofrimentos em suas mentes.

Não se trata de uma crítica a um tribunal especificamente, onde quer que ele se encontre. Esperamos que a justiça seja feita em todos os âmbitos. Inclusive nas Cortes Superiores e Supremas ou nos Tribunais Internacionais.

Trata-se de uma constatação. Há muito para se caminhar diante de fatos aterrorizantes.

O letramento antidiscriminatório em todas as escalas e níveis educacionais da vida, do saber e das vivências relacionais (ambientes de trabalho, igrejas, escolas, universidades, espaços coletivos) é uma exigência que não somente decorre de tratados internacionais, convenções, garantias de equidade ou por uma carta política.

Temos um compromisso com a humanidade, a existência que acresce dignidade em si, por si e para o coletivo: pertencemos a essa multiplicidade que nos identifica como seres que deveriam ser dotados de consciência e de um dever.

É imprescindível que todas as instituições mantenham um espaço dialogado, voltado ao compromisso essencial com o valor da equidade.

Esses precedentes reais, noticiados com veemência pelas mídias, oficiais ou não, orientam cada um e cada uma de nós.

Fatos aterrorizantes nos colocaram e colocam diante de Marias (motivação da Lei 11.340/06) e Marianas (motivação da Lei 14.245/21) por todo o mundo, em suas diferentes nuances culturais e cenários continentais.

Isso tudo impele à consciência. Somos mulheres. Somos humanas. Somos parte desta multiplicidade. Não acrescemos esta contribuição como enfrentamento judicial.

Falamos com a autoridade da nossa condição humana, dos espaços sociais da nossa missão.

Reiteramos. Preocupamo-nos com as vítimas (mulheres e meninas) por todo este vasto mundo, diante de uma cultura contaminada por condições excludentes e costumes hierarquizantes entre homens e mulheres.

O desequilíbrio tem um preço. E não mais é possível mantê-lo invisível.

A injustiça traz muito aos nossos olhos. Esse dissabor não apenas se afigura para as vítimas. Uma cultura que desumaniza contamina a própria existência humana.

Seria isso cultura? Ou apenas estamos diante de um poder acrescido pela força impositiva de um costume atroz?

Conclamamos os coletivos nessa ação de consciência e dever inerente. Que sejamos mulheres e homens comprometidos com a equidade.

Eis um tempo de mudança. Fonte: https://www.estadao.com.br

Em tempos de vozes rasas e verdades descartáveis, são os passos desses legatários que ainda ecoam – firmes, lentos, insubstituíveis

 

Por Clarita Costa Maia

Em 1964, dois jovens judeus ativistas pelos direitos da população afro-americana foram mortos pela Ku Klux Klan enquanto tentavam investigar o incêndio criminoso de uma Igreja Batista. O caso ganhou repercussão internacional e fez aumentar a pressão pelo combate efetivo à violência racial nos Estados Unidos.

Em fevereiro de 1965, o jovem ativista afro-americano Jimmie Lee Jackson foi morto enquanto protegia sua mãe durante um protesto numa cidade vizinha a Selma, no Alabama. Sua morte foi o combustível emocional para a marcha de Selma a Montgomery, que teve dois capítulos inesperados: em 7 de março e em 21 a 25 de março daquele ano.

Naquele ano, a população judaica na cidade de Selma resumia-se a entre 30 e 40 famílias, o que, num contingente de 29 mil habitantes, girava em torno de 1% da população local. Afro-americanos, todavia, representavam 50% dos moradores. Nada obstante, ambas as comunidades eram minorizada.

A população negra, apesar de sua expressividade populacional, tinha menos de 2% de seus membros registrados com o direito a voto, em razão das brutais táticas de intimidação contra eles realizadas e das restrições burocráticas a que estavam sujeitos. Apesar deles, Selma se consolidou como centro de mobilização negra nos Estados Unidos.

A marcha de 7 de março foi organizada às pressas e muitas lideranças não conseguiram mobilizar-se em tempo. Coordenada por John Lewis e Hosea Williams, ambos membros proeminentes de coletivos negros, contou com 600 participantes e gerou uma reação brutal. As imagens televisionadas da repressão policial galvanizaram o apoio ao Movimento dos Direitos Civis.

Em resposta, Martin Luther King Jr. decidiu convocar uma nova marcha, que reuniu 2.500 pessoas, com o protagonismo de importantes lideranças religiosas. Os proeminentes rabinos Abraham Joshua Heschel, Israel Dresner, Maurice Davis, Joachim Prinz e Levi Olan, à frente da massa de manifestantes, seguiram ao lado de Dr. King. Além deles, estiveram presentes líderes protestantes e católicos de destaque, como o pastor batista Ralph Abernathy, o pastor unitarista James Reeb, o seminarista episcopal Jonathan Daniels, o bispo católico Dom Daniel Gercke, o frei Clement Kern, além de freiras de diversas ordens.

A presença desses líderes fortaleceu a legitimidade moral do Movimento dos Direitos Civis sob a ideia de justiça universal e de irmandade e fraternidade entre os seres humanos.

O engajamento da comunidade judaica nos Estados Unidos com o Movimento dos Direitos Civis continuou crescendo. Durante a década de 1960, aproximadamente metade dos advogados que defendiam ativistas negros eram judeus, o que é ainda mais surpreendente à luz do fato de que os judeus, hoje, representam não mais de 2,4% da população americana, sendo ainda menos numerosos à época.

Três anos após as Marchas de Selma, um segregacionista branco assassinou Dr. King enquanto ele se dirigia a um jantar de Pessach oferecido na casa do rabino Heschel, que se tornara seu amigo fraterno. Essa perda lhe foi devastadora. Era o sintoma de uma sociedade adoecida pelo divisionismo social. Uma frase que teria escrito em cartas pessoais, depois tornada pública, “eu rezo com os meus pés”, foi a sua fórmula de reação. Aquela que usou em Selma. Aquela que continuou usando para manter viva a memória de Dr. King.

Esse exemplo luminoso de compromisso ético e engajamento inter-religioso contrasta duramente com o esforço deliberado de certos grupos e influenciadores antissemitas em semear discórdia entre judeus, evangélicos e a comunidade negra. Trata-se de um artifício vil que corrói os pilares da convivência democrática, do pluralismo político e evidencia uma ignorância histórica e doutrinária tão profunda quanto estridente – ou, pior ainda, deliberada. O artifício revela não apenas a precariedade da estatura moral e intelectual daqueles que o utilizam, mas também os interesses ocultos que movem sua atuação política. Nenhum progressismo verdadeiro – seja ético, ideológico ou espiritual – pode se prestar ao papel de fabricar rivalidades ou fomentar conflitos teológicos já dissolvidos pela razão, especialmente quando o objetivo maior, ou alegado, é a elevação dos padrões morais na política, no Direito e na sociedade.

A marcha que uniu negros, judeus e cristãos em nome da justiça racial não foi apenas um ato político – foi um gesto espiritual, uma declaração pública de que a dignidade humana transcende cor, credo e tempo. King, Heschel e tantos outros souberam transformar fé em ação, dor em solidariedade e história em legado. Em tempos de vozes rasas e verdades descartáveis, são os passos desses legatários que ainda ecoam – firmes, lentos, insubstituíveis. Eles nos convocam a continuar rezando. Com os nossos pés. Sobretudo, unidos. Fonte: https://www.estadao.com.br 

Segundo informações do Corpo de Bombeiros, entre os mortos estão duas crianças. Acidente ocorreu na madrugada desta terça-feira (8) em trevo próximo a Araguari, no Triângulo Mineiro.

 

Ônibus tomba com passageiros e deixa mortos e feridos na MG-223, em Araguari - Imagens: Corpo de Bombeiros

 

Por Gabriel ReisCaroline Aleixo, g1 Triângulo — Araguari

Um ônibus com 54 pessoas tombou na MG-223 entre Araguari e Tupaciguara, no Triângulo Mineiro, e deixou onze pessoas mortas e 36 feridas, segundo o Corpo de Bombeiros de Araguari e a empresa responsável pelo veículo. O acidente aconteceu na madrugada desta terça-feira (8), por volta das 3h40.

Ainda de acordo com os bombeiros, duas crianças de 2 e 4 anos estão entre os mortos. Os feridos foram levados para hospitais da região. Entre eles, cinco estão em estado grave. O motorista do ônibus não se feriu, segundo o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Não há informações sobre o estado de saúde dos outros sobreviventes.

Segundo a Polícia Militar Rodoviária (PMRv), o ônibus saiu de Anápolis (GO) e seguia para São Paulo (SP). O motorista teria perdido o controle do veículo no trecho conhecido como "Trevo do Queixinho". Em seguida, ele capotou e ficou tombado.

O ônibus pertence à viação Real Expresso. O g1 entrou em contato com a empresa, que lamentou o ocorrido e confirmou que havia 53 passageiros no ônibus, além do motorista. Inicialmente a empresa havia dito 49 passageiros, mas depois corrigiu a informação. Veja a nota na íntegra abaixo.

A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) informou que o ônibus estava com a documentação e os cadastros regulares para o transporte interestadual de passageiros.

Os trabalhos de resgate no local são feitos pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e bombeiros de Araguari, Tupaciguara e Uberlândia.

 

O que se sabe sobre os feridos

O Corpo de Bombeiros de Araguari informou que dos 36 feridos, 18 foram levados para hospitais. 1. Os outros 18 tiveram ferimentos leves e recusaram atendimento.

Pelo menos 17 passageiros foram encaminhados para a UPA de Araguari, de acordo com a secretária municipal de Saúde, Thereza Griep. Desses, 4 ainda estão na UPA e os outros quatro foram transferidos para hospitais da região.

O Samu confirmou que cinco sobreviventes também foram levados em estado grave para o Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU), dentre eles está uma gestante.

O HC-UFU confirmou o atendimento a oito pacientes feridos no acidente, um deles não resistiu e acabou morrendo após dar entrada na unidade.

 

Prefeitura diz que há superlotação da UPA de Araguari

A Prefeitura de Araguari, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, acompanha as consequências do grave acidente e informou que, em razão do atendimento às vítimas, a UPA Araguari está "em estado de superlotação".

"Diante disso, a Prefeitura solicita à população que não se desloque à UPA, salvo em casos de urgência e emergência, e que aguarde a abertura da unidade de saúde mais próxima, a fim de garantir atendimento adequado aos feridos no acidente. A Prefeitura de Araguari está acompanhando e dando total apoio possível, utilizando todos os meios necessários para auxiliar os hospitais de nossa rede no atendimento às vítimas. Manifestamos profundo pesar e solidariedade aos familiares e amigos das vítimas fatais deste trágico episódio", informou em nota.

 

O que diz a Real Expresso

"A Real Expresso lamenta profundamente o ocorrido às 3h24 da madrugada de hoje, envolvendo um de seus veículos na MG 223 próximo a Araguari. O ônibus, que havia saído de Anápolis (GO) às 20h30 de ontem com destino a São Paulo, transportava 53 passageiros.

Desde a ocorrência, nossas equipes foram mobilizadas imediatamente, incluindo profissionais especializados, para prestar apoio no local e junto a familiares. Até o momento foram confirmadas 11 vítimas fatais. Os feridos encontram-se em três hospitais locais como o Hospital da Universidade Federal de Uberlândia e UPA de Araguari ( muitos já receberam alta e outros serão em breve liberados).

Os demais foram liberados no momento do atendimento local e seguiram viagem. Estamos trabalhando em estreita colaboração com as autoridades responsáveis para investigar as causas do acidente e esclarecer todos os detalhes. Nesse momento estamos concentrados no apoio às vítimas e todo suporte às suas famílias.

Para familiares e pessoas que buscam mais informações sobre os passageiros, disponibilizamos nosso canal de atendimento 24 horas através do telefone 0800 728 1992, que está à disposição para fornecer todo o suporte necessário".

 

O que diz a ANTT

"A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) lamenta profundamente o acidente envolvendo um ônibus interestadual na MG-223, em Araguari (MG), nesta terça-feira (8/4), e expressa solidariedade aos familiares das vítimas.

A ANTT confirma que o veículo envolvido fazia o trajeto Anápolis(GO)/São Paulo(SP) e estava com a documentação e os cadastros regulares para o transporte interestadual de passageiros. O ônibus possuía Seguro de Responsabilidade Civil e Certificado de Segurança Veicular válidos, além de cronotacógrafo devidamente aferido e habilitado, em conformidade com a legislação vigente.

A Agência, em conjunto com outros órgãos, está acompanhando a situação. A ANTT instaurou processo administrativo para monitorar o caso e fornecerá todas as informações necessárias às autoridades de segurança pública para apoiar as investigações". Fonte: https://g1.globo.com 

Embora doença seja frequentemente representada como incapacitante, muitas pessoas continuam trabalhando, socializando e cumprindo suas tarefas diárias, mesmo travando uma batalha silenciosa contra o próprio sofrimento

 

Doença de muitas faces, a depressão pode causar sintomas como irritabilidade, alteração no apetite e dor no corpo Foto: melita/Adobe Stock

 

Por Victória Ribeiro

Alerta: a reportagem abaixo trata de temas como transtornos mentais e suicídio. Se você está passando por problemas, veja ao final do texto onde buscar ajuda.

 

Em 2011, o cineasta dinamarquês Lars von Trier lançou Melancolia, filme que se consolidou como um dos retratos mais marcantes da depressão. No longa, Justine, interpretada por Kirsten Dunst, mergulha progressivamente em um estado de apatia. A história começa com sua festa de casamento, onde ela se esforça para parecer animada. No entanto, conforme as horas avançam, sua expressão se esvazia, as interações sociais se tornam um peso e, por fim, ela abandona a própria celebração. Nos dias seguintes, a depressão a imobiliza — Justine não consegue sair da cama, tomar banho ou se alimentar sem a ajuda da irmã.

O filme traduz visualmente o transtorno mental em sua forma mais paralisante — quando o corpo simplesmente não responde. Embora essa seja a realidade para algumas pessoas, a ideia de que a depressão se resume à imobilidade obscurece outras manifestações, dificultando o reconhecimento do problema tanto por quem enfrenta a doença quanto por aqueles ao seu redor.

“A depressão pode ter muitas faces”, destaca a psiquiatra Tânia Ferraz Alves, diretora médica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). Segundo ela, um dos grandes desafios é que a percepção comum sobre o transtorno tende a esconder realidades menos óbvias. “Muita gente continua trabalhando, socializando e cumprindo suas tarefas diárias, mesmo travando uma batalha silenciosa contra o próprio sofrimento.”

A tristeza paralisante, segundo Tânia, é apenas a “ponta do iceberg”. A maioria das pessoas com depressão vive abaixo dessa linha — ou seja, para chegar a esse estágio, muitos sinais podem ter sido ignorados ou passado despercebidos. Um deles é a perda de interesse, que pode gerar confusão interna e dificultar até mesmo responder uma simples pergunta como “está tudo bem?”. Afinal, no imaginário coletivo, “não estar bem” costuma ser associado a manifestações extremas, como chorar sem parar ou ficar incapaz de sair da cama.

Essa perda de interesse, chamada tecnicamente de anedonia, se reflete na perda do prazer em atividades antes gratificantes, como ir ao cinema, praticar esportes, ler um livro, passear com a família ou mesmo trabalhar. “Muita gente não se descreve como ‘triste’, mas sente como se estivesse sempre sob uma nuvem cinzenta”, explica a especialista. Para quem convive com o transtorno, colocar essas sensações em palavras não é uma tarefa simples — e para quem está de fora, compreender também não é fácil.

Essa dificuldade levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a lançar, em 2013, o vídeo “Eu tenho um cachorro preto e ele se chama Depressão”, no qual a doença é representada como um cão inconveniente, sempre à espreita e drenando a energia.

No consultório médico, essa complexidade se reflete nos mais diversos relatos. Tânia lembra o caso de uma paciente que chegou dizendo que seu problema era “ter muito dinheiro no banco” — uma queixa que, à primeira vista, pareceu inusitada.

“Quando pedi para explicar, ela contou que costumava sair, ir ao shopping, viajar, mas que tudo isso havia perdido o significado. Ela disse: ‘Parei de fazer tudo isso. Não acho nada bonito nas lojas. Se cogito viajar, só consigo pensar na dificuldade de arrumar as malas. No fim, só trabalho, junto dinheiro e não usufruo de nada’”, relembra a médica. “Costumo contar essa história nas minhas aulas porque contraria a ideia tradicional do que se entende como um quadro depressivo.”

 

Além da perda de interesse, outros sintomas podem fazer parte do quadro depressivo:

 

Humor deprimido - É um estado emocional persistente de tristeza, desesperança ou vazio. A pessoa pode se sentir desmotivada, como se estivesse presa em um buraco emocional do qual não consegue sair — e isso não significa necessariamente “estar de cama”. “A maior parte das pessoas deprimidas está trabalhando, está estudando, mas está indo mal no trabalho ou na escola”, afirma Tânia.

Muita gente confunde humor deprimido com anedonia, porém são sintomas diferentes: uma pessoa pode se sentir triste, mas ainda encontrar prazer em algumas atividades. Por outro lado, é possível não se sentir triste, mas perceber que coisas antes consideradas interessantes perderam o brilho.

 

Negatividade - O quadro também pode vir acompanhado de sentimentos de culpa excessiva, inutilidade ou autocrítica intensa, muitas vezes com prejuízos na autoestima. A pessoa pode experimentar uma percepção distorcida de si mesma, da vida e do futuro, e frequentemente tem a sensação de que as coisas não vão melhorar.

Fadiga - Muitos indivíduos descrevem uma exaustão intensa, mesmo sem grande esforço físico. “Uma vez, um paciente me disse que era como passar o dia inteiro carregando uma mochila de 40 quilos de pedras nas costas”, conta a psiquiatra.

Alteração do sono - Dormir bem pode virar um desafio. Algumas pessoas têm insônia e passam horas rolando na cama ou acordam várias vezes à noite. No outro extremo, há quem durma excessivamente.

 

Alteração no apetite -alimentação também pode ser afetada, variando entre a perda completa do apetite e o aumento descontrolado da ingestão alimentar.

Dificuldade para decidir, se concentrar e lembrar – “Muita gente acha que tem transtorno do déficit de atenção, mas, na verdade, isso pode ser um sintoma da depressão”, afirma o psiquiatra Gabriel Okuda, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

A falta de foco anda de mãos dadas com lapsos de memória e indecisão — até para escolhas simples, como decidir que roupa vestir.

Manifestações corporais - A depressão não afeta só a mente. Muitas pessoas com o transtorno se queixam de dores físicas, como nas costas ou na cabeça, e algumas vivem uma “odisseia” em busca de médicos que expliquem esses quadros. “Tanto que, na atenção primária, quando veem que a pessoa está indo muito no médico em busca de respostas, eles fazem rastreio de depressão”, destaca Tânia.

Ela lembra de um paciente que procurou dezenas de neurologistas por causa de um zumbido persistente nos ouvidos. “Ele dizia que, por causa disso, não conseguia trabalhar, namorar... tudo parecia uma barreira. Quando melhorou, me disse: ‘Tânia, apesar do zumbido, hoje eu vou sair com uma garota’.”

 

Irritabilidade - A depressão nem sempre vem acompanhada de tristeza. Em alguns casos, o humor fica mais reativo, com explosões de irritação, impaciência e intolerância à frustração. Isso é especialmente comum em homens, crianças e adolescentes.

Ideações suicidas - Em alguns casos, o transtorno pode levar a pensamentos recorrentes sobre morte, até mesmo com um plano específico. “Esse sintoma está geralmente associado a um quadro mais grave, chamado transtorno depressivo maior (TDM)”, diz Okuda.

Há situações tão extremas que a pessoa pode ter delírios de ruína, como no caso da Síndrome de Cotard. “É uma depressão psicótica que faz a pessoa dizer, com todas as palavras, ‘eu estou morta’, mesmo olhando um eletrocardiograma”, complementa Tânia. “Quando a depressão chega a esse nível, ela já não pode ser convencida por argumentos lógicos. A crença se torna uma verdade absoluta.”

 

Depressão não tem ‘padrão’

Antônio Geraldo, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), explica que a depressão é “polimórfica”, ou seja, não segue um roteiro único. Apesar de o humor deprimido e a perda de interesse serem os sintomas mais comuns, eles nem sempre estão presentes.

“Tem paciente que sente mais a perda de interesse e prazer, mas não fica tão triste. Em vez disso, pode sentir cansaço, desânimo, mudanças no peso, alterações no sono, aquela sensação de inutilidade ou culpa, pensamentos negativos”, exemplifica. “Tem gente que apresenta só alguns desses sintomas, enquanto os casos mais graves costumam ter um combo deles, e de forma mais intensa.”

Além disso, os sintomas podem oscilar ao longo do dia. Alguns acordam muito mal e melhoram ao longo do dia. Outros começam o dia bem e, com o decorrer das horas, pioram. “Isso acontece mais nos casos leves ou moderados. Já nas depressões mais graves, principalmente as que deixam a pessoa acamada, os sinais costumam ser constantes ou quase o tempo todo”, explica Tânia.

Essas variações também podem acontecer em resposta a situações do dia a dia. “Por exemplo: o filho passou de ano, tirou uma nota boa ou alguém importante recebeu um reconhecimento no trabalho. O humor até melhora por um tempo, mas logo depois o paciente pode voltar a se sentir desanimado, triste ou até mais irritado e impaciente”, complementa Okuda.

 

O que causa a depressão?

De acordo com Tânia, a depressão é multifatorial. A genética pode ter um papel importante, criando uma espécie de vulnerabilidade. Ou seja, aquele “cachorro” da metáfora da OMS pode virar um companheiro indesejado por influência do DNA. Mas, às vezes, ele só “acorda” com algum gatilho externo. Há também aqueles em que a genética não é predominante e que desenvolvem depressão depois de situações difíceis, diz a especialista.

Esses gatilhos podem ser variados. Traumas como abuso (físico, sexual ou emocional), luto e desastres naturais estão entre eles. Mas também entram na lista doenças crônicas (diabetescâncerobesidade), distúrbios hormonais e metabólicos (hipotireoidismoanemia), AVC, doenças cardiovasculares e até momentos de transição, como uma separação, mudança de cidade ou dificuldades na aposentadoria.

Outro ponto importante: a depressão atinge mais mulheres. Em parte, isso se deve às oscilações hormonais ao longo da vida. Porém há um fator social — os homens tendem a buscar menos ajuda médica, o que pode levar a um subdiagnóstico nesse grupo.

A idade de início do transtorno também varia. Segundo a psiquiatra, a maioria dos pacientes recebe o diagnóstico por volta dos 20 anos, mas a doença pode aparecer em qualquer fase da vida. Em crianças e adolescentes, por exemplo, a média de idade mais comum é 8 anos, e os sinais costumam ser irritabilidade, queda no desempenho escolar, isolamento e transtornos alimentares.

“Já nos idosos, quando os sintomas surgem pela primeira vez depois dos 60 anos, falamos em ‘depressão tardia’, que pode estar ligada a fatores como doenças crônicas, medo do envelhecimento, perdas e isolamento. Nessa fase da vida, muitas vezes a depressão é confundida com problemas físicos e acaba não sendo tratada”, explica Tânia.

Além disso, fatores como alcoolismo, uso de drogas ilícitas e transtornos como TOC e fobias também podem contribuir para o desenvolvimento da depressão. “Muitas vezes, o sofrimento gerado por essas condições leva o paciente a desenvolver os sintomas depressivos”, acrescenta Okuda.

 

Como é feito o diagnóstico?

Segundo Geraldo, para que o diagnóstico de depressão seja confirmado, a pessoa precisa apresentar pelo menos cinco sintomas por, no mínimo, duas semanas.

Aqui, é importante lembrar que a tristeza é uma emoção natural e faz parte da vida. Ela pode surgir em determinados momentos ou situações, mas não significa que seja uma doença. “Só consideramos o humor deprimido, a perda de interesse e outros sintomas como parte de um quadro depressivo quando eles realmente começam a afetar o dia a dia da pessoa, seja de forma leve, moderada ou grave. Caso contrário, não é depressão”, ressalta Okuda.

 

Tratamentos: quais são as opções?

O tratamento da depressão varia de acordo com a gravidade do quadro. Em casos leves e moderados, a medicação nem sempre é necessária — a psicoterapia, especialmente a terapia cognitivo-comportamental, pode ser eficaz. Já na depressão grave, principalmente quando há risco de suicídio, o uso de medicamentos é essencial.

É importante também avaliar a presença de transtorno bipolar. Quando a depressão faz parte desse quadro, a chamada “depressão bipolar”, o tratamento segue outra abordagem. Nesses casos, os estabilizadores de humor são a primeira escolha, em vez dos antidepressivos.

Sem tratamento, alertam os especialistas, a depressão pode se tornar crônica. Embora existam casos de remissão espontânea, o mais comum é que o quadro persista e se agrave ao longo do tempo. “Muitas pessoas hesitam em procurar ajuda, seja pelo estigma ainda presente em torno dos transtornos psiquiátricos ou pelo medo dos efeitos colaterais dos remédios, mas é preciso entender que os tratamentos são seguros e que a depressão pode afetar qualquer um”, ressalta Tânia. “Adiar a busca por ajuda é, na prática, prolongar o sofrimento.”

 

Onde buscar ajuda

Se você está passando por sofrimento psíquico ou conhece alguém nessa situação, veja abaixo onde encontrar ajuda:

 

Centro de Valorização da Vida (CVV)

Se estiver precisando de ajuda imediata, entre em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV), serviço gratuito de apoio emocional que disponibiliza atendimento 24 horas por dia. O contato pode ser feito por e-mail, pelo chat no site ou pelo telefone 188.

 

Canal Pode Falar

Iniciativa criada pelo Unicef para oferecer escuta para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos. O contato pode ser feito pelo WhatsApp, de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h.

 

SUS

Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) voltadas para o atendimento de pacientes com transtornos mentais. Há unidades específicas para crianças e adolescentes. Na cidade de São Paulo, são 33 Caps Infantojuventis e é possível buscar os endereços das unidades nesta página. Fonte: https://www.estadao.com.br

Neste mês da mulher, não há o que comemorar, pois a realidade nos mostra a cada dia que ainda não estamos seguras

 

Por Mara Gabrilli

Março deveria ser um mês de conquistas para nós, mulheres. Um mês de reconhecimento pelas lutas travadas e pelos direitos conquistados. Mas como celebrar, quando a realidade nos mostra, a cada dia, que ainda não estamos seguras?

Enquanto escrevo este artigo, muitas mulheres estão sendo violentadas ou assassinadas em nosso país. No ano passado, 1.463 mulheres perderam a vida apenas pelo fato de serem mulheres. A violência sexual vitimou 74 mil meninas e mulheres.

Outras 245 mil sofreram agressões. Um número que sabemos ser bem maior, pois muitas não têm coragem de denunciar. São dados brutais, que escancaram a barbárie que ainda enfrentamos.

A violência contra as mulheres começa muito antes do feminicídio. Ela se enraíza nas palavras que nos desvalorizam, nos olhares que nos diminuem, na ideia de que nosso valor está na aparência, e não na nossa capacidade. E, quando o próprio presidente da República reforça esse pensamento retrógrado em rede nacional, ficamos ainda mais vulneráveis.

Ao dizer que escolheu uma mulher “bonita” para melhorar a articulação política do governo, Lula passa uma mensagem clara: para ocupar um espaço de poder, uma mulher precisa ser um objeto de sedução, não uma liderança.

A fala do presidente não é apenas infeliz. Ela normaliza o machismo estrutural que nos silencia e, no extremo, nos mata. Que faz com que meninas sejam estupradas e responsabilizadas pela violência que sofreram. E faz com que mulheres assassinadas tenham sua honra questionada.

Apenas uma semana antes de o presidente fazer esse comentário, a menina Vitória Regina de Sousa, de apenas 17 anos, foi encontrada morta, nua, com sinais de tortura. Teve a cabeça raspada, como se sua dignidade pudesse ser apagada junto com seu cabelo. Morreu sozinha, depois de sair do trabalho, apenas por ser mulher.

A violência que nos atinge pode ser física, psicológica, institucional. Pode estar nas agressões que não deixam marcas visíveis, mas destroem nossa liberdade. Pode estar nas piadas, nos questionamentos sobre nossa competência, na desconfiança que nos cerca. Está em sermos chamadas de loucas e histéricas quando exigimos respeito.

Está, também, no que aconteceu com Mariana Ferrer, que aos 21 anos, depois de ter sido estuprada e denunciar seu agressor, foi humilhada e desacreditada no tribunal. A Justiça que deveria protegê-la falhou. E quantas outras mulheres, anônimas, não passam pela mesma situação? Quantas são forçadas a reviver sua dor diante de um sistema que, em vez de acolher, acusa a vítima e protege o agressor?

E está, ainda, no que aconteceu com Ingrid Guimarães, retirada de seu assento num avião para dar lugar a outro passageiro apenas por ser uma mulher viajando sozinha. Sim, esse foi o critério usado pela companhia aérea para que ela saísse de sua poltrona. Ingrid foi exposta, humilhada, constrangida. Um episódio que pode parecer menor, mas que revela o mesmo padrão: mulheres ainda precisam justificar sua existência em espaços públicos. Precisam provar que não estão erradas apenas por ocuparem o mundo.

E para as mulheres com deficiência, como eu, a realidade é ainda mais brutal. Quatro em cada dez já sofreram abuso. Muitas não denunciam porque dependem do próprio agressor. Outras desaparecem dentro de um sistema que insiste em ignorá-las.

Eu sei o que é ficar silenciada. Quando sofri o acidente que me deixou tetraplégica, não apenas perdi os movimentos, mas também a capacidade de respirar e de falar. Meu corpo estava imobilizado, minha voz calada, minha vida à mercê dos outros. Ainda dentro da ambulância, incapaz de me mover, fui vítima de uma tentativa de abuso. Vulnerável, indefesa, refém da minha própria condição. Mas sobrevivi. E resgatei o que é mais valioso para mim: minha voz.

Foi com ela que denunciei. Foi com ela que lutei. Foi com ela que construí minha trajetória na política. Por saber a força de uma voz que se recusa a ser silenciada, não aceito que nos diminuam e nos tratem como objetos. Hoje, minha voz ecoa para todas aquelas que ainda não conseguem gritar por socorro.

É inadmissível que, diante desse cenário, Lula se cale sobre a violência contra as mulheres. Um presidente deveria se comprometer com o fim dessa violência. Deveria reafirmar a importância das mulheres em espaços de liderança pelo que pensam, fazem e transformam. Não pelo que aparentam.

Mas, ao invés disso, ele ignora. Finge que não vê. Age como se de nada soubesse. A mesma atitude de sempre, quando o assunto é responsabilidade. Quando questionado, prefere a negação conveniente, o silêncio estratégico e dissimulado.

No entanto, mais uma vez, ouvimos uma fala que nos coloca no lugar em que há séculos tentam nos manter. Não há nada de ingênuo nisso. Palavras têm peso. Palavras legitimam. Palavras matam.

Neste mês da mulher não há o que comemorar. Há apenas luto, indignação e luta. Fonte: https://www.estadao.com.br

Fiéis estavam participando da missa quando ouviram cinco disparos fora da igreja.

 

Eva Antonia de Araújo, conhecida como Eva Coelho, foi morta a tiros em Jijoca de Jericoacoara. — Foto: Instagram/ Reprodução

 

Por Redação g1 CE

Fiéis se assustam ao ouvir tiros durante missa; mulher foi morta próximo à igreja

Os tiros que mataram uma mulher em Jijoca de Jericoacoara, no litoral oeste do Ceará, na noite desta quarta-feira (26), causaram correria em uma igreja que fica próxima ao local do crime.

Segundo testemunhas, Eva Coelho, de 35 anos, foi abordada em frente a um restaurante, por dois homens em uma motocicleta que perguntaram o seu nome. Após se identificar, os suspeitos passaram a atirar contra ela. A vítima morreu no local e a dupla fugiu. Ela deixa dois filhos.

No momento do assassinato de Eva, ocorria uma missa na Paróquia de Santa Luzia, que fica próximo de onde ela foi abordada.

No vídeo da transmissão da missa nas redes sociais é possível ouvir cinco tiros. Logo em seguida, os fiéis correram assustados sem entender o que estava acontecendo. Uma pessoa chega a comentar "é tiro".

Na ocasião, o padre pediu para que as portas da igreja fossem fechadas, e a missa foi interrompida. Momento depois, a celebração foi retomada.

A Secretaria da Segurança Pública informou que a Delegacia Municipal de Jijoca está investigando o caso e realiza buscas na região para capturar os suspeitos.

O presidente da Câmara Municipal de Jijoca de Jericoacoara, o vereador Daniel do Baixio, divulgou uma nota de pesar pela morte de Eva.

"Neste momento de profunda tristeza, reforço meus mais sinceros votos de condolências. Eva era uma pessoa muito querida por mim e todos ao seu redor", diz um trecho da nota de pesar. Fonte: https://g1.globo.com

Atriz voltava de Nova York para o Rio quando um funcionário da companhia mandou que ela cedesse seu lugar

 

Atriz Ingrid Guimarães se queixa em suas redes sociais após ter sido coagida a trocar de assento em um voo de NY para o Rio — Foto: Reprodução/Instagram

 

Por Maria Fortuna Lucas Guimarães

 — Rio de Janeiro

A atriz Ingrid Guimarães voltava de Nova York para o Rio de Janeiro pela American Airlines, na última sexta-feira (7), quando um funcionário da companhia mandou que ela cedesse seu lugar na Premium Economy para uma pessoa da primeira classe, já que um assento daquela categoria havia quebrado. Por meio das redes sociais, ela compartilhou a situação e revelou o constrangimento. Após a repercussão do caso, a empresa área se manifestou, dizendo que irá entrar em contato com a atriz.

"Nosso objetivo é proporcionar uma experiência de viagem positiva e segura para todos os nossos passageiros. Um membro da nossa equipe está entrando em contato com a cliente para entender mais sobre sua experiência e resolver a questão", declarou a American Airlines, em nota enviada ao GLOBO.

 

Ao GLOBO, a atriz contou detalhes do ocorrido:

— O funcionário e me disse: 'Bad news, a senhora vai ter que ir para a classe econômica, porque terá que ceder seu lugar para uma pessoa da primeira classe'. Eu disse que não ia porque comprei meu assento na Premium. Por que teria que resolver um problema que era da Executiva? — questiona Ingrid, que foi do aeroporto JFK para o Rio no voo 973, e também postou um desabafo nas redes sociais.

Um segundo funcionário se aproximou e, segundo Ingrid, passou a usar um tom de ameaça. Diante de nova recusa da atriz, um terceiro comissário a abordou e afirmou: "Se a senhora não sair, nunca mais viaja de American Airlines". E então anunciou aos passageiros que todo mundo teria que descer da aeronave porque uma passageira não queria colaborar. Segundo a atriz, sua irmã e seu cunhado participaram da conversa por dominarem o inglês, e o funcionário mandou que eles "calassem a boca".

— Minha filha também estava na Econômica e disse que eles não explicaram nada do que estava acontecendo aos passageiros. Não sabiam que eu era uma pessoa pública. Colocaram o avião inteiro contra mim. Pessoas diziam: "Fala sério que a gente vai ter que descer por conta de um capricho seu". Um advogado brasileiro que estava ao lado disse: "Ingrid, é melhor você sair, porque daqui a pouco vai sair algemada do avião". Óbvio que saí, né? Dá uma sensação de impotência enorme. Fiquei muito humilhada, com uma sensação de fragilidade absoluta. Fui uma situação abusiva, constrangedora, fui muito desrespeitada.

Quando a atriz indagou ao funcionário sobre os motivos de ela ter sido escolhida, a atriz recebeu a seguinte resposta:

— Disseram que, provavelmente, era porque era mulher e estava viajando sozinha. Isso na véspera do Dia Internacional da Mulher. Afirmou que olham a reserva para não separar famílias. Quando levantei da poltrona, enfiaram um papelzinho na minha mão. Quando vi, era um voucher de 300 dólares. Não o dinheiro em si, e sim um desconto para uma próxima viagem. Há várias maneiras de resolver uma situação dessas. Perguntar se alguém aceitaria trocar e ganhar um desconto seria uma delas. Provavelmente, haveria alguém. Não tem a menor chance de eu não processar. Nem é pelo dinheiro, é pelo tratamento. Me colocaram numa situação de constrangedora. Fonte: https://oglobo.globo.com

Até parece que, a cada geração, o homem precisa experimentar novamente os horrores já vividos pelas gerações passadas

 

Por Dom Odilo P. Scherer

Vivemos tempos contraditórios. De um lado, faz-se um enorme esforço para pôr fim às guerras. De outro, surpreendentes reviravoltas nas atitudes entre os verdadeiros gestores da guerra não escondem interesses de expansão e domínio sobre outros povos e promovem uma nova corrida armamentista. A Europa, sentindo-se ameaçada, está fazendo um verdadeiro chamado às armas, como não havia acontecido desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

Aonde vai levar tudo isso? Como explicar que, tão depressa, as lições aprendidas a duras penas com o triste legado das guerras devastadoras dos séculos passados, com sofrimento, sangue e destruição, tenham sido esquecidas? Até parece que a cada geração o homem precisa experimentar novamente os horrores já vividos pelas gerações passadas. O que pode mudar essa lógica, por certo, não necessária? O que fazer para recordar as juras e propósitos de tantos grandes e pequenos representantes dos povos, que proclamaram: nunca mais a guerra! Nunca mais, todo este sofrimento e destruição, nunca mais!

Atualmente, os cristãos celebram a Quaresma, com 40 dias de preparação para a Páscoa cristã. É um período de tomada de consciência sobre os propósitos e os rumos da vida pessoal e comunitária. Orientados pelas palavras do Evangelho, eles são chamados à conversão das intenções e das ações, de maneira que a fé e a religiosidade não sejam desmentidas por uma vida incoerente com os propósitos religiosos. A Quaresma é um período de penitência para a conversão sincera a Deus, para celebrar dignamente a Páscoa. Algo semelhante ocorre em outras religiões, que têm seus períodos penitenciais e os chamados à vida coerente com a fé, antes das grandes festas.

Esse chamado à conversão passa necessariamente pela “conversão ao próximo”, pois não se pode amar a Deus, a quem não se vê, sem também amar o próximo, que também é filho de Deus (ver 1 João). Para os cristãos, amor a Deus e amor ao próximo andam inseparáveis. O amor ao próximo perpassa toda a convivência humana e social, desde as relações pessoais às relações econômicas, políticas e culturais. Não se reduzem aos exercícios piedosos de uma esmola ou de um prato de comida, que também são necessários. A verdade é que, nas relações sociais, o amor ao próximo, muitas vezes, cede lugar a uma competição impiedosa, à prepotência e aos preconceitos, que aviltam o próximo, quando não ao ódio e à violência para destruir o próximo, visto como concorrente ou uma ameaça.

Quanto se faz necessária uma verdadeira Quaresma, a prescindir da religião ou não religião que cada um professa? Afinal, nenhuma religião incentiva o ódio e a violência, ou o aniquilamento do próximo. E quem não tem religião, com certeza, também não se sente dispensado do amor ao próximo. Nestes primeiros dias da Quaresma cristã, lê-se na Liturgia um texto do profeta Isaías, antigo e sempre muito atual (ver Isaías 58,1-9). O profeta dirige-se ao povo, que se queixa porque Deus não liga para seus jejuns e penitências nem responde às suas preces. E por que Deus não se comove diante dessas ações de religiosidade?

O profeta responde: “É porque, ao mesmo tempo que jejuais, fazeis litígios, brigas e agressões impiedosas. Acaso é esse o jejum que Deus aprecia? Não é, antes, quebrar as cadeias injustas, desligar o jugo e tornar livres os detidos e romper toda opressão? Não é repartir o pão com o faminto, acolher em casa os pobres e peregrinos, vestir quem está sem roupa e não desprezar o próximo?” (ver 58,6-7). E o profeta conclui: “Se assim fizeres, poderás invocar o Senhor e ele te atenderá imediatamente” (ver 58,8-9).

Não é preciso fazer muito esforço para perceber a atualidade dessas palavras: mesmo fazendo apelos pela paz e até fazendo jejuns e preces, continua-se a propagar o ódio e os preconceitos, que ferem e matam. E se continua a fabricar armas e a promover a poderosa economia do armamentismo. Pretende-se até ter Deus de um lado ou de outro nas guerras absurdas entre os filhos de Deus! Enquanto isso, o preço desta corrida é pago por milhões de pessoas com ferimentos, destruição, migração, miséria, fome e morte. Não seria hora de pensar um pouco mais no absurdo das guerras, quer entre países, quer entre as pessoas e os grupos?

No domingo passado, dia 2 de março, o papa Francisco, do quarto em que está internado no Hospital Agostino Gemelli, em Roma, saudou os peregrinos na Praça de São Pedro e concluiu sua breve mensagem com esta observação: “Daqui, a guerra parece ainda mais absurda”. Lutando para superar sua enfermidade, o papa vê a guerra e a violência a partir da percepção dos pequenos e vulneráveis, que também são as vítimas dos conflitos. Enquanto existe uma humanidade que luta penosamente pela sobrevivência, existe outra humanidade tramando guerras, destruição e sofrimento, movidos por ambições de poder, vaidades e vantagens econômicas. Realmente, que absurdo! Fonte: www.estadao.com.br

Um longa-metragem veio nos devolver um sentimento de nação, a lembrança dos direitos humanos e a sede de justiça

 

*Por Eugênio Bucci

É claro que eu vi a cerimônia do Oscar. Noite de domingo, carnaval longínquo e eu no sofá, de frente para a televisão. É claro que me entediei com a torrente de breguices, mas nem foram tantas. É claro que explodi em vibração futebolística quando Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, ganhou como melhor filme internacional. É claro que desliguei de raiva quando não deram o prêmio de melhor atriz a Fernanda Torres. Achei aquilo uma ignomínia, mesmo sem nunca ter visto o filme da outra lá, que foi chamada ao palco. Nem sei o nome. É claro que liguei de novo a TV. Ainda peguei a moça agradecendo. É claro que não gostei.

O que não é claro é o resto. Vale um artigo. Walter Salles não se engalanou com um smoking. Preferiu um terno preto sumário. Fina estampa sem cores. Na segunda-feira, seu sorriso tropical encimado pelos olhos apertados carimbou a capa dos jornais. Aplaudi outra vez. Ele merece as mais altas condecorações da República. É um herói da cultura.

A começar da literatura. Seu filme deu impulso mundial para o livro de Marcelo Rubens Paiva, uma obra costurada em letras leves e memórias lancinantes, mesmo quando hilárias. É impagável a passagem em que o escritor retrata a mãe, Eunice, despejando às escondidas uísque nacional dentro de garrafas de puro malte escocês. Impagável e pungente. A gente lê com prazer e pesar. A gente sorri. Depois do desaparecimento forçado do marido, a família Paiva empobreceu, mas a dona da casa não vacilou. Para manter o astral da casa, oferecia aos amigos bebida suspeita, sim, mas dentro de uma imagem de fausto importado. Ela perdeu a renda, não a pose.

A cena dos vasilhames não aparece no filme. Não faz falta. A Eunice que não se dobra está lá inteira, bela, viva e valente. A interpretação que lhe deu Fernanda Torres, essa artista mais do que genial, reacende a coragem que a repressão não derrubou e nos reconcilia com a História do Brasil que o Brasil quis esquecer. Ouço contar que o filme reverteu a inércia das burocracias estatais e arrancou lágrimas de uns tipos que não tinham a menor ideia do que tinha sido a ditadura militar. Ouço, acredito e, de novo, aplaudo.

O cinema, quando arte, toca a alma. Quando entretenimento, move multidões. Como Ainda Estou Aqui é arte e, queiramos ou não, é também entretenimento, mudou mentalidades que já se tinham petrificado nas paredes alienadas da Pátria – as paredes que não têm ouvidos. A corrida do Oscar encheu as plateias de autoconfiança e as autoridades de excitação oportunista. Tanto melhor. Eunice virou nome de prêmio do governo federal. Pistas do paradeiro do corpo de Rubens Paiva começam a sair da escuridão. Os torturadores impunes se inquietam. Vai sobrar para eles. Tomara. Um filme íntegro vale mais do que mil comícios demagógicos. Ainda Estou Aqui, sozinho, realizou o que tribunos e publicistas, juntos, não conseguiram.

Isso tudo é bom, mas perturba, é meio desestruturante. Nenhum país deveria depender do Oscar para conhecer seus direitos e amar sua democracia. Nenhum país, nem mesmo os Estados Unidos. Nenhum país, muito menos o Brasil. Mas é assim que é. Um longa-metragem, destes que o espectador pacato vai ver no fim de semana, antes da pizza, ou mesmo depois, veio nos devolver um sentimento de nação, a lembrança dos direitos humanos e a sede de justiça.

Somos um mundo integrado pelo mercado, em termos genéricos, e pelo entretenimento, em termos específicos. Isso quer dizer que o altar da diversão, ou seja, Hollywood, concentra o poder de pontificar sobre o que é legítimo e o que não passa de quimera. É comendo pipoca no escurinho que se aprende a distinguir o certo do errado, o cômico do trágico, o aceitável do abominável. A emoção que se compra na bilheteria é o critério da verdade.

Somos a civilização que acredita que tudo o que acontece só acontece para nos comover. Se nos comove, a coisa existe. Se não, que vá para o lixo. Somos consumidores insaciáveis da realidade, como se ela fosse um objeto estético, ou um saco de pipoca. A nossa política se anulou, rebaixada e pífia. A nossa religião se desencantou. O entretenimento as substituiu com desumanidade, mercadoria e técnica. Somos a civilização que se reconhece no entretenimento.

O melodrama de massa ocupou o lugar dos panfletos incendiários e das narrativas místicas. As igrejas se converteram em show de TV. Os autocratas, desde Hitler e Goebbels, querem controlar a indústria da diversão. Hollywood é a nova Meca, a nova Roma, a nova Delfos. A cerimônia do Oscar é o púlpito que define o antissemitismo (ou você não viu o discurso longuíssimo de Adrien Brody, vencedor da estatueta de melhor ator por O Brutalista?), a solução de dois Estados no mesmo pedaço de terra do Oriente Médio (com a palavra, Yuval Abraham, diretor de No Other Land, vitorioso na categoria de documentário) e os males da ditadura militar no Brasil (na voz de Walter Salles).

Fernanda Torres não ganhou, mas ela é a maior de todas. Nada é maior do que Hollywood, nada é maior do que o Oscar. Nada, só Fernanda Torres.

*Jornalista e professor da ECA-USP, Eugênio Bucci escreve quinzenalmente na seção Espaço Aberto

Fonte: https://www.estadao.com.br