Ator Leo Bahia e médico Gerson Salvador falam sobre o filme Depois do Universo

 

Cynthia Araújo

CADA PESSOA VÊ UM SIGNIFICADO DIFERENTE, MAS, PARA MIM, MOSTRA COMO A MORTE É UM DISTANCIAMENTO FÍSICO: AS IDEIAS, OS MOMENTOS QUE A GENTE COMPARTILHA, OS ENSINAMENTOS QUE PODE DEIXAR PARA ALGUÉM, ISSO É IMORTAL, ETERNO. EU SINTO QUE O FILME MOSTRA COMO PODEMOS DIALOGAR COM A VIDA E O MUNDO, TÃO COMPLEXOS, DE DIFERENTES ÂNGULOS

LEO BAHIA

No final do ano passado, vi no catálogo da Netflix que um filme brasileiro estava entre os mais vistos da plataforma no mundo.

Depois do Universo estreou no dia 27 de outubro de 2022. Logo me chamou a atenção, porque reúne duas coisas que me interessam muito: histórias sobre pessoas com doenças graves e enredos em que pianos têm um papel importante. O filme conta a história de Nina (Giulia Be), uma pianista que tem lúpus e precisa de um transplante de rim.

Eu fiquei ainda mais interessada pelo filme ao saber que o querido amigo Gerson Salvador foi consultor técnico do filme. Gerson era nosso colega aqui na Folha de São Paulo e escrevia o Blog "Linha de Frente". Antes mesmo de assistir, pedi a ele uma entrevista para o Morte sem Tabu, porque acho fantástico quando as obras no audiovisual se preocupam com a qualidade das informações que passam, especialmente quando envolvem questões de saúde.

Logo nos primeiros minutos do filme, outra feliz surpresa. Leo Bahia, que eu havia conhecido alguns meses antes no teatro, como Marilton Borges do musical "Os sonhos não envelhecem", interpreta Yuri, um dos personagens mais carismáticos e sensíveis de Depois do Universo.

Abaixo você confere as entrevistas que realizei com o médico infectologista e escritor Gerson Salvador e com o ator, cantor e compositor Leo Bahia.

 

MORTE SEM TABU: Como é o trabalho de um médico consultor técnico no audiovisual?

GERSON SALVADOR: Na minha experiência, a consultoria técnica pode acontecer desde o roteiro até a produção, inclusive no set de filmagem.

A primeira consultoria técnica que eu fiz para audiovisual foi na série documental da Netflix Mundo Mistério, em que o apresentador Felipe Castanhari explora mistérios da ciência e da história. Eu fiz uma pesquisa para o episódio sobre a Grande Peste para dar suporte técnico para o roteiro. Então eu respondia perguntas e também revisava o texto final.

No filme Depois do Universo, com apoio de uma equipe de especialistas, eu trabalhei desde o roteiro até a produção, em diferentes etapas. Colaboramos com o laboratório do protagonista Gabriel (Henrique Zaga), que interpreta um médico que atua no SUS. Depois trabalhamos junto com o pessoal da direção de arte, cenografia e figurino. Na maquiagem, participamos especialmente da caracterização da Nina (Giulia Be), que é a outra protagonista, porque são apresentadas alterações no corpo em razão da doença que ela tem, lúpus. Também orientamos atores em cena, quando as gravações eram relacionadas a questões médicas.

O último trabalho de consultoria técnica que fiz foi para a 3ª temporada da série da Universal TV "Unidade Básica".

 

MORTE SEM TABU: Em qual momento você foi convidado para participar do filme?

GERSON SALVADOR: Um dos produtores do filme, Luciano Reck, fez o convite para o projeto ainda na fase de roteiro. Nessa fase da consultoria para o roteiro, eu trabalhei diretamente com o diretor e roteirista Diego Freitas, que tinha uma grande preocupação tanto de fazer um filme verossímil, representando as coisas como são e acontecem, quanto de ser respeitoso com as pessoas que tem lúpus, que fazem hemodiálise, aguardam transplante.

 

MORTE SEM TABU: Que tipo de informações são importantes no roteiro e na produção de filmes que contam a história de pessoas com doenças graves?

GERSON SALVADOR: O filme Depois do Universo conta a história da Nina, uma jovem que tem uma doença crônica, e quer passar a mensagem de que a doença não define um indivíduo. Apesar de ter lúpus com manifestações graves, como uma doença renal crônica, que exige a hemodiálise, ela mantém o sonho de ser pianista na Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Muitas pessoas em situações semelhantes podem se identificar com a história e se sentir representados nessa ideia de que nossa vida vai muito além da doença, que podemos fazer muitas coisas com e apesar dela.

Em relação à produção, foi desafiador encontrar locação em hospital, então o pessoal da arte construiu um hospital cenográfico. Foi muito importante trabalhar com a equipe de cenografia desde as primeiras plantas e ver o hospital construído. Também trabalhamos com a equipe de figurino discutindo os trajes dos profissionais de saúde; com a equipe de maquiagem, especialmente para a caracterização da Nina, em que incluímos marcas no rosto características do lúpus, que a gente chama de "rash malar"; e fístula em seu braço que foi feita pela maquiadora com o suporte de um cirurgião vascular de nossa equipe.

Foi uma experiência muito especial para mim, tanto pelo que aprendi, quanto pelos excelentes profissionais que conheci.

 

MORTE SEM TABU: No filme, Nina tem lúpus e precisa fazer sessões de hemodiálise, mas, em dado momento, sua situação de saúde se agrava e ela precisa encontrar logo um doador ou uma doadora de rim. Pode falar um pouco sobre a relação entre o lúpus e o comprometimento dos rins?

GERSON SALVADOR: O lúpus eritematoso sistêmico é uma doença que afeta o corpo em diversos aparelhos. Pode dar lesões de pele, alterações nas articulações, no sangue, no sistema nervoso central, pode inflamar a membrana que envolve o coração (pericárdio), e pleura que envolve o pulmão, o peritônio, que fica no abdômen. E pode também causar doença renal crônica, que acontece em 10 a 30% dos casos. É uma doença que acomete mais frequentemente mulheres jovens, como a protagonista Nina.

 

MORTE SEM TABU: Na sua experiência, é comum a doação de órgãos entre vivos? Em quais casos costuma acontecer?

GERSON SALVADOR: Eu nunca trabalhei diretamente com transplante, mas, sobre a doação de órgãos entre pessoas vivas, acho importante dizer que o doador ou a doadora precisa ter boas condições de saúde, ser capaz juridicamente, estar de acordo com a doação, tem que ter no mínimo 21 anos. Essa pessoa passará por uma avaliação geral de saúde, não pode ter insuficiência renal, precisa avaliar o risco cirúrgico e, claro, precisa fazer testes de compatibilidade, para evitar a rejeição do órgão, que poderia causar até mesmo a morte do receptor.

Diferente do que acontece na doação de órgãos de pessoas falecidas, em que existe uma lista única por ordem de entrada, requisitos de urgência e compatibilidade e condição clínica, pessoas vivas podem doar órgãos para familiares ou, mediante autorização judicial, para terceiros.

É importante destacar que o Brasil tem o maior programa público de transplantes do mundo, garantido a toda a população por meio do SUS, que é responsável pelo financiamento de cerca de 88% dos transplantes no país.

 

MORTE SEM TABU: Por que as pessoas leitoras do Morte sem Tabu devem assistir a Depois do Universo?

GERSON SALVADOR: O Morte sem Tabu é um espaço de reflexão ética sobre finitude. Depois do Universo, além de ser uma história muito bonita, por falar sobre sonhar e amar apesar da doença e das limitações que ela traz, tem muitas reflexões éticas sobre adoecer e morrer, além de ser um linda história de amor e arte. Então acredito que os leitores do blog irão gostar muito.

 

MORTE SEM TABU: Eu sei que você já fez trabalhos na televisão, mas fiquei apaixonada pela sua atuação no musical "Os sonhos não envelhecem". Conta para as pessoas que conheceram você em Depois do Universo sobre a sua trajetória?

LEO BAHIA: Quando era mais novo, eu queria fazer vestibular para Medicina, mas, enquanto tentava ser aprovado, comecei a me interessar por música e fazer aula de canto. Eu tinha alguns amigos que estavam fazendo a versão de 2008 da peça "O Despertar da Primavera" e eles sugeriram que eu fizesse um teste. E aí eu percebi que conseguia passar muito mais horas envolvido nesse universo, estudando texto e me preparando para esse teste, do que para qualquer outra coisa que eu já tivesse tentado fazer antes. Foi a primeira vez que eu me vi verdadeiramente focado, com a atenção totalmente voltada para algo que eu estava amando fazer.

Eu não consegui o papel, mas, quando voltei para o cursinho pré- vestibular, em uma aula de física, percebi que Medicina não fazia mais sentido para mim.

Então eu resolvi fazer vestibular de Música na Unirio, com habilitação em canto lírico, que depois também vi que não era bem a minha praia. Mas eu já estava muito inserido no mundo da Música e do Teatro, fiz parte do programa de teatro musical da universidade e fiquei um tempo envolvido com musicais. Em 2016, comecei a migrar para o audiovisual, onde me encontrei como ator. E hoje eu também trabalho em composições musicais, algo que eu quero explorar cada vez mais. Eu vejo a Música como um meio muito potente de compartilhar processos e ideias.

 

MORTE SEM TABU: Como surgiu o Yuri?

LEO BAHIA: Foi paixão à primeira vista. A produtora de elenco Vanessa Veiga me convidou para fazer esse teste e eu me identifiquei muito com o Yuri. O roteiro do Diego Freitas e da Ana Reber é muito rico, muito complexo e dá muitas camadas a todos os personagens. É um humor muito bem escrito e todas as facetas do Yuri estavam ali, era ler e entender de que forma eu iria entrar naquele personagem que já estava pronto, descobrir as minhas partes em comum com ele. Foi realmente um casamento, um processo de preparação muito gostoso.

 

MORTE SEM TABU: Você se inspirou em alguém para compor o Yuri?

LEO BAHIA: Eu me inspirei muito naquele Leo que queria estudar Medicina, mas ao mesmo tempo não compartilhava muitos interesses com o universo que envolve a Medicina. O Yuri é um médico meio perdido, talvez meio fora de lugar, quem sabe por não ter tanto empenho por aquele trabalho específico, como tem o protagonista Gabriel. Eu sinto que o personagem tem muito daquele Leo que não conseguia focar no estudo para o vestibular de Medicina, porque era atravessado por outros sentimentos, outros interesses. No caso do Yuri, ao menos naquele momento do filme, ele está muito mais voltado para suas questões amorosas.

 

MORTE SEM TABU: Quais as dificuldades de interpretar um personagem com veia cômica em uma obra dramática?

LEO BAHIA: Eu acho uma delícia encontrar esses pontos de soltura nas obras dramáticas, encontrar o contraponto. O Yuri, embora traga essa leveza para o filme, dialoga com todas as suas complexidades. Acho que é um pouco a forma como eu encaro a vida, com leveza diante das dificuldades e problemas, mas também mergulhando em suas águas profundas. Ele é aquela pessoa que alivia as dores, que traz um pouco de humor, com quem você pode contar, apesar de também ter os seus próprios problemas. Eu gosto de rir dos problemas, até me divertir com eles, acho que faz os monstros ficarem um pouco menores. É claro que nem sempre a gente consegue, mas, para mim, buscar essa leveza se tornou uma condição de sobrevivência, porque as situações difíceis sempre vão existir. Se eu puder rir um pouco delas, isso me ajuda até mesmo a encontrar caminhos diferentes para resolver e organizar a vida.

 

MORTE SEM TABU: Como você recebeu o final do filme?

LEO BAHIA: Eu acho o final de Depois do Universo muito bonito, muito sensível. Cada pessoa vê um significado diferente, mas, para mim, mostra como a morte é um distanciamento físico: as ideias, os momentos que a gente compartilha, os ensinamentos que pode deixar para alguém, isso é imortal, eterno. Eu sinto que o filme mostra como podemos dialogar com a vida e o mundo, tão complexos, de diferentes ângulos. E, embora seja surpreendente de certa forma, eu acho que o final sintetiza bem a mensagem que ele quer passar.

 

MORTE SEM TABU: Quais são os seus próximos projetos?

LEO BAHIA: Eu estou na nova série dramática da Globoplay, "O Jogo que mudou a História", com um personagem apaixonado por futebol que é viúvo, tem um filho e é muito diferente do Yuri. A série conta a história da guerra do tráfico entre os bairros cariocas Parada de Lucas e Vigário Geral, que começou com um jogo de futebol. Eu também estou gravando uma música para um projeto chamado "Vale a pena gravar de novo", sobre o lado B da Música Popular Brasileira, que é um projeto incrível. Será meu primeiro single e estou muito animado, doido para lançar. Assim que sair, mando para vocês incluírem na playlist do blog. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

 

 

Por Carolina Delboni

A saúde mental dos adolescentes está em crise e ela só vai sair deste buraco se afeto, gentileza e escuta forem as principais vias na construção da relação entre eles e os adultos

Corre ao cinema ou às plataformas de streaming para assistir ao filme O Filho. Uma história inspirada em muitas histórias reais e que termina com uma dedicatória: "a Gabriel". Gabriel era um menino com depressão crônica, filho de pais separados, que abandonou a convivência em sociedade porque era dolorido demais viver.

Isso: dor da vida. Para alguns, viver é mais dolorido que morrer. Num determinado ponto do filme, Nicholas, como é chamado o personagem que vive o adolescente, é internado no hospital e os médicos psiquiatras insistem aos pais para mantê-lo ali, pois ele precisa de tratamento psiquiátrico e químico.

Eu não vou contar como o filme se desenrola, obviamente, mas sugiro que assistam e prestem atenção aos inúmeros diálogos que o pai tem com o filho. À escuta, à disposição em estar presente, o carinho, o afeto, a segurança do abraço.

Independente do desenrolar da história, se faz presente uma relação respeitosa e amorosa entre pai e filho num momento em que este menino adolescente deprime de tanta dor em viver. Mas onde eu quero chegar? Continua comigo.

Ir mal em uma prova, não ser aceito num grupo de colegas, se achar feio em uma determinada roupa ou achar que não passará em uma boa faculdade são situações que, em um primeiro momento, parecem comuns na vida de um adolescente.

Os exemplos corriqueiros que citei acima apareceram em relatos colhidos em Fairfax, nos Estados Unidos, em 2014, e foram contados no The Washington Post pela colunista Petula Dvorak recentemente. Apesar da aparente distância espacial e temporal com nossa realidade, as situações descritas apontam para uma atualidade em que adolescentes ainda enfrentam barreiras e falta de apoio para dar conta dos problemas de saúde mental. Falta suporte. Falta apoio. Falta escuta.

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Em certos contextos - como o que vivemos atualmente e muito bem definiu o doutor em História Social, Dante Gallian quando diz que existe uma epidemia de transtornos mentais na sociedade e precisamos entender qual a vacina para isso - elas podem ganhar contornos assustadores.

No Brasil, um dos estudos mais usados para tratar desse assunto é a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A sua edição mais recente é de 2019 e mostra que cerca de um terço dos estudantes de 13 a 17 anos sentiam-se tristes na maioria das vezes ou sempre. E 21,4% sentiam que a vida não valia a pena ser vivida.

Em 2019, 21% dos adolescentes entrevistado na pesquisa PenSe disseram que a vida não valia ser vivida  

Veja: "a vida não valia a pena ser vivida". Como pode este pensamento sair da cabeça de jovens num dos exatos momentos em que a vida mais pulsa? O que leva adolescentes, aqueles que a gente julga ser "o futuro", a desistir da vida? A perder o brilho nos olhos. Não é possível que este fato não te incomode.

O estudo contempla dados de 2019. Estamos falando de antes da pandemia e é inegável que após dois anos de isolamento social tivemos pioras significativas no brilho dos olhos de nossos jovens e eu te pergunto: como permitimos que a luz se apague justamente numa das fases mais explosivas e empolgantes da vida? Como?

A pandemia do coronavírus levou esse grupo a novos casos de ansiedade e depressão, segundo apontou uma pesquisa da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), o que só agravou a fase já conturbada da vida que é a adolescência.

"A gente vem observando um aumento de manifestações de sofrimento. Há muita decepção e uma sensação de desespero junto disso", aponta Leila Salomão, professora do Instituto de Psicologia da USP.

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Na busca por alternativas a esse cenário, faz-se necessária a importância de uma rede de apoio aos adolescentes. Dos pais aos amigos, educadores e colegas, vários são os pares que podem ficar atentos à saúde mental desse grupo.

Mas aqui vai um alerta: os pais nem sempre são os mais preparados e procurados pelos filhos e muito disso está diretamente relacionado a um descompasso que existe entre os adultos e os adolescentes. E sabe por quê?

Porque o adulto tende a desvalorizar a dor do adolescente. Tende a minimizar o sofrimento do adolescente. Tende a menosprezar o sentimento que vive dentro do adolescente.

Eu já trouxe esse assunto aqui e talvez ele seja dos mais urgentes na atualidade. É preciso aprender a escutar a dor do outro com mais empatia e gentileza. É preciso descer do salto da autoridade parental para se relacionar com o filho adolescente de maneira mais próxima e humana.

"O adulto precisa estar presente e compreender. O entorno precisa estar preparado para estabelecer um diálogo e compreensão sem muita invasão. Os filhos precisam sentir que podem contar com os pais", recomenda Leila Salomão.

Veja: "os filhos precisam sentir que podem contar com os pais". Seu filho conta com você? Seu filho te conta o que passa dentro da cabecinha dele? Ele fala das angústias, dos medos e receios?

Eu sei que você vai me dizer que adolescentes não falam, são monossilábicos, e eu vou discordar. Eles podem falar pouco ou menos do que os adultos gostariam, mas eles falam. E mais ainda, eles escutam. Capacidade esta quase em extinção na vida humana dos seres crescidos.

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Nós, adultos, perdemos nossa capacidade de escutar o outro. A gente ouve com o sentido, mas não escuta com o sentimento. E dessa forma, a relação de confiança entre pais e filhos tão recomendada é comprometida quando os primeiros não têm plena noção do que está se passando com os segundos - inclusive fisicamente.

Isso porque a fase da adolescência traz por si só um sofrimento natural explicado por diversos fatores, entre eles as alterações hormonais e também pelo fato de a região do cérebro que "regula as emoções" ainda não estar completamente desenvolvida, o que pode acontecer até os 25 anos de idade.

Além disso, é o momento que o adolescente se depara com mais emoções sem ter experiência de vida suficiente para lidar com elas. Mas nem sempre os adultos têm noção de tudo isso. "De vez em quando ele vai falhar, é natural dentro desse processo, mas a gente tem pouca paciência com eles. Eles se sentem injustiçados e isso separa mais as gerações", diz a professora Sabine Pompéia, do departamento de Psicobiologia da Unifesp.

Lembra da caixinha de experiências que eu falei alguns textos atrás? É dela que estamos falando aqui. E o segredo desta relação está no equilíbrio entre a compreensão e a cobrança para que a gente possa empoderar o adolescente estimulando que ele gerencie suas próprias emoções.

"O ponto é: aceitar que ele seja assim, mas tentar corrigir. Tem que pegar no pé, mas estar aberto para acolher quando dá errado. Se não tem esse diálogo com os adultos, o adolescente se isola muito e ele fica em um risco muito maior [de se expor à depressão]", completa Sabine.

Nesse caminho, os pais podem cair na armadilha do "você está exagerando" quando o filho está lutando contra problemas de saúde mental. Mas como fazer diferente? Como conseguir ajudar o adolescente a fortalecer seu controle emocional nessa fase tão complicada da vida?

"Parte de como podemos ajudar os mais jovens é normalizando o estresse", indicou a psicóloga Lisa Damour em entrevista ao The Washington Post. Ela também lembra da importância de se mostrar aberto e caloroso mesmo nos momentos mais simples - aqueles que muitas vezes parece "banal" - da vida do adolescente.

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Ou seja, não ser um pai ou mãe "limpador de para-brisa". O que estou querendo dizer? Em uma forte chuva, o limpador de para-brisa vai freneticamente de um lado para o outro para manter a visão do motorista mais clara possível, certo? Na relação entre pais e filhos, as coisas não devem funcionar exatamente assim.

Quando o adolescente se atrapalha na entrega de uma tarefa, por exemplo, ou se depara com algum outro problema, nem sempre é papel dos pais tomar as rédeas e resolver a situação sozinhos. Adolescentes devem ser estimulados a tirar proveito das experiências de erro. Nesses casos, funciona mais os pais se mostrarem abertos a escutar e reduzir a intensidade de pensamentos negativos do que sair secando chuva.

Também é preciso dar esperanças - no plural mesmo. O estresse acentuado pelo qual um adolescente passa é natural. Mas, quando ele passa do ponto - dando sinais comportamentais como apatia ou muita agitação - e chega a níveis de depressão e ansiedade, é importante que o adolescente saiba que aquilo não é permanente e que os sintomas de uma depressão não vão defini-lo.

Pergunte sobre pensamentos de automutilação. Nos últimos anos, a prática tem chamado atenção de pais e especialistas. No filme, O filho, o pai do adolescente Nicholas enlouquece quando vê que o menino continua a se cortar. Ele não entende o que pode estar acontecendo e pergunta insistentemente ao filho por quê ele faz aquilo.

Nicholas diz que é para tirar a dor que carrega dentro do peito. É para desfocar do sentimento que ele não consegue suportar e para isso, ele precisa produzir alguma outra dor. E é esta a resposta em 99% dos casos de mutilação de adolescentes.

O que fazer? A recomendação é ouvir, escutar e deixar claro que o adolescente tem apoio. A gente precisa começar a dar apoio aos adolescentes. A gente precisa começar a cuidar dos machucados que eles fazem.

Por que é que a gente corre e acode uma criança quando ela cai e não faz o mesmo com o adolescente? Adolescentes se machucam e também precisam de carinho, de band-aid dentro do peito. E como é que a gente faz isso? Mostrando que se importa.

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O psiquiatra americano Jerome Motto percebeu que quando médicos enviavam mensagens de check-in atenciosos a seus pacientes, eles sentiam-se mais valorizados e, o que poderia ser um ato pequeno ou até burocrático, passou a ser uma ferramenta importante capaz de reduzir significativamente o risco de suicídio de uma pessoa - isto inclui um adolescente.

Onde estou querendo chegar? Ao início deste texto: em 2019, 21% dos nossos adolescentes disseram que a vida não valia a pena. Vivemos um colapso, uma crise de saúde mental na adolescência e as melhores ferramentas ainda são a escuta, o afeto e gentileza para com o outro.

A gente vive a negligência absoluta à saúde mental desta geração e ela já nos deu sinais de que não dá conta de tamanha dor, de tamanha violência. Adolescentes também precisam ser cuidados. E tenho certeza que somos capazes. Fonte: https://www.estadao.com.br

 

Terminei a semana mais convencido de que não somos superiores às outras formas de vida

 

Fernando Gabeira

Jornalista e escritor

Este artigo foi sacudido pelos acontecimentos de Blumenau: um homem de 25 anos matando quatro crianças a machadadas.

No entanto ele começava suave, com lembranças de Dona Vanna, da Livraria Leonardo da Vinci, no Rio. Ela viajava sempre e trazia novos livros. Numa das últimas viagens, trouxe, entre outros, um que me interessou pelo título e pela capa: “Android Epistemology”. É uma reflexão teórica sobre as máquinas pensantes, e a capa colorida mostrava alguns recortes da figura humana, entrelaçados por fios coloridos. Nem todos os artigos são acessíveis a um leigo como eu. Destaquei algumas frases de um deles e pensava em trabalhar com ela:

— A oposição à teoria dos androides é uma das últimas resistências à demolição científica da ideia da condição única e especial dos humanos e de sua posição no Universo.

Coincidência, pensei. A ecologia que estudo há alguns anos também coloca em xeque o antropocentrismo, a suposição da superioridade humana sobre outras espécies. Os seres humanos não são os únicos para quem o mundo existe. No passado, essa ideia era tão forte que, segundo ela, o cocô de cavalo não tem cheiro desagradável porque o animal foi desenhado por Deus para acompanhar os humanos.

O livro trazido por Dona Vanna tinha uma sátira aos humanos, produzida por uma civilização de máquinas que visitava a Terra. Elas se perguntavam por que somos tão violentos. E a resposta era porque toda a nossa evolução foi feita a ferro e fogo, com garras e dentes. E por que éramos tão perigosos? Somos mortais e, por causa disso, temos pouco a perder.

Estava juntando algumas ideias para tentar responder a um amigo que me disse que o mundo estava virado. E está sim. Um sociólogo que morreu em 2015, Ulrich Beck, dizia que o mundo vivia uma metamorfose, algo diferente de uma revolução, que é intencional. Vivemos consequências descontroladas da modernização. O país não é mais referência, porque o mundo está interligado, classes sociais não nos explicam mais, mas classes de risco diante das ameaças das mudanças climáticas.

Neste mundo de pernas pro ar, creio que o meio ambiente e o avanço do meio digital de uma certa maneira acabarão por nos dar uma outra e mais modesta dimensão do humano.

Nada neste artigo poderia explicar o fato de que um homem matou crianças a machadadas em Blumenau. A globalização, diferente do colonialismo, que se justifica pela suposta inferioridade do colonizado, tem pelo menos um horizonte normativo: os direitos humanos.

Mas um crime dessa natureza também nos obriga a reexaminar o que é o humano. Sou plenamente favorável às restrições que a imprensa adotou na cobertura de casos como esse. No entanto sou favorável à discreta busca do conhecimento. Na década de 1970, creio, o FBI (a Polícia Federal dos Estados Unidos) criou um grupo especial para fazer longas entrevistas com criminosos em série. Como funcionavam essas mentes, que gatilhos acionam sua violência extrema? Foi por meio das pesquisas atuais sobre a influência de contágio de crimes espetaculares que a imprensa se inspirou para mudar seu comportamento diante deles.

Não sei precisamente a que levaria um esforço redobrado de conhecimento do tipo de mente criminosa que ataca crianças em escolas. Já tivemos um caso em Minas; outro em Saudades, Santa Catarina; e este em Blumenau. Minha esperança é que saiam algumas indicações para uma política preventiva.

Teremos 50 policiais vigiando redes sociais, mas precisam ser alimentados por informação adequada. Nem sempre poderão contar com bons indícios.

Terminei a semana mais convencido de que não somos superiores às outras formas de vida e, agora, com o livro que Dona Vanna trouxe, nem de que somos também os mais inteligentes. Fonte: https://oglobo.globo.com

Ambulâncias e policiais em frente à creche Cantinho Bom Pastor, em Blumenau (SC), onde um homem de 25 anos matou quatro crianças nesta quarta (5) - Denner Ovidio/Reuters

Autor tem 25 anos, usava uma machadinha e foi detido; as vítimas são três meninos e uma menina

 

BLUMENAU (SC), SÃO PAULO, PORTO ALEGRE e CURITIBA

Um homem de 25 anos invadiu a creche Cantinho Bom Pastor, em Blumenau (SC), e matou quatro crianças, segundo informações da Polícia Militar e do Corpo dos Bombeiros do estado. As vítimas são três meninos e uma menina, com idade entre 5 e 7 anos.

Uma machadinha foi usada na ação, segundo o tenente Márcio Filippi, comandante do 10º BPM (Batalhão da Polícia Militar). Conforme as informações iniciais, o assassino chegou em uma moto, pulou o muro e escolheu as vítimas aleatoriamente. Ao perceber que as professoras correram para proteger as demais crianças, ele decidiu fugir pulando novamente o muro.

Segundo a polícia, o autor não tinha aparentemente nenhuma ligação com a creche.

Outras quatro crianças feridas foram socorridas e levadas para o hospital Santo Antônio. De acordo com a unidade, são duas meninas de 5 anos e dois meninos de 5 e 3 anos, nenhum em estado grave.

De acordo a PM, o autor do ataque se entregou no 10º BPM e se manteve calado.

Uma das professoras da creche disse que trancou a sala onde se encontravam os bebês para tentar protege-los. Ela confirmou que uma das armas utilizadas pelo autor era uma machadinha.

O prefeito de Blumenau, Mário Hildebrandt (Podemos), e o delegado Ulisses Gabriel, chefe da Polícia Civil de Santa Catarina, afirmaram em entrevista à Rádio Gaúcha que ainda não se sabem as motivações para o crime. De acordo com o delegado, o suspeito será interrogado nas próximas horas.

O governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), decretou luto oficial de três dias no estado. "O assassino já está preso. Que Deus conforte o coração de todas as famílias neste momento de profunda dor", afirmou.

"Não há dor maior que a de uma família que perde seus filhos ou netos, ainda mais em um ato de violência contra crianças inocentes e indefesas", escreveu Lula.

O clima em frente à creche, localizada na rua dos Caçadores, bairro da Velha, é de consternação e busca por informações. Há mobilização de bombeiros e policiais para atender familiares.

Além de funcionar como creche e pré-escola, a unidade oferece no contraturno atividades educativas para alunos de escolas públicas conveniadas.

Em nota, o Ministério Público de Santa Catarina disse que vai acompanhar todos os desdobramentos nos âmbitos criminal e cível, "mas, no momento, quer externar sua profunda tristeza com o ocorrido e prestar condolências aos familiares das vítimas e aos envolvidos nessa tragédia que abala a todos os catarinenses".

 

AULAS CANCELADAS

Em nota, a creche Cantinho Bom Pastor afirma que ajudará nas investigações e que se solidariza com as famílias.

"Estamos desolados com a tragédia ocorrida no dia de hoje no nosso ambiente escolar, sofrendo terrivelmente e sentindo as dores que afeta cada criança, familiar e amigo. Ainda estamos tentando entender o ocorrido, que atinge o que nos é mais sagrado: a integridade de nossas crianças, que sempre foram aqui recebidas com amor e carinho", declarou a instituição.

A Prefeitura de Blumenau informou que as aulas da rede municipal foram suspensas nesta quarta-feira. Na rede estadual, o governo cancelou as aulas em todo o estado nesta quarta e quinta (6). Outras atividades, como a comemoração oficial da Páscoa em um parque da cidade, também foram canceladas.

A prefeitura afirma que o serviço de psicologia do município está à disposição das famílias. "Lamentamos profundamente essa tragédia que causa uma triste marca na história da nossa cidade. Que Deus possa confortar o coração de todas as famílias", disse o prefeito Mário Hildebrandt, segundo a prefeitura. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Só acreditando em universos paralelos é possível entender que tanta gente continue dando a Bolsonaro apoio consolidado

 

Por Merval Pereira

O guru da extrema direita mundial Steve Bannon disse em entrevista à Folha de S. Paulo que a questão das joias das Arábias não tem a menor importância e que Bolsonaro continua com a mesma força, assim como Trump nos Estados Unidos. Estou entre os que não gostaram do vencedor do Oscar “Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo”, mas devo admitir que só acreditando em universos paralelos é possível entender que tanta gente continue dando a Bolsonaro apoio consolidado.

As lambanças que andou fazendo não afetam a militância. Ele está ferido de morte com quem não é bolsonarista nem extremista e o preferiu ao PT pelo que considerava um mal menor. Esse grupo, que é forte, está desembarcando dele, mas não embarca no PT, não da maneira como o governo vai se conduzindo, repetindo comportamentos que pareciam exclusivos de Bolsonaro, mas acabam se revelando uma posição comum a autocratas.

Juca Chaves morreu, e o governo que preza a cultura foi incapaz de enviar uma manifestação de pêsames, assim como Bolsonaro se calou diante da morte de Gal Costa ou de Erasmo Carlos. Juca Chaves é o autor de uma modinha satírica sobre o mensalão que o colocou no índex petista, assim como Gal e Erasmo eram considerados inimigos pelos bolsonaristas. Bolsonaro vivia às turras com os jornalistas, e o ministro da Secretaria de Comunicação Social de Lula, o jornalista acidental Paulo Pimenta, destrata uma jornalista na televisão e inventa uma instituição oficial de checagem de informações.

Está inaugurada a era da “verdade oficial”, uma situação tão esdrúxula que só pode sair da cabeça de autoritários que desconhecem que verdade oficial é propaganda. A direita civilizada está embarcando em alternativas como os governadores Tarcísio de Freitas, de São Paulo, ou Romeu Zema, de Minas. A militância extravagante, agressiva e radical continua com Bolsonaro, mas é minoritária. Assim como é minoritária a esquerda que apoia Lula.

O centro continua majoritário, mas incapaz de produzir uma alternativa a essa polarização. Os ativistas do bolsonarismo vivem num universo paralelo nas redes sociais e realmente conseguem neutralizar muitas acusações contra seu líder. O PT, que dominava essas redes, ficou ultrapassado pela moderna tecnologia que os bolsonaristas trouxeram de seus contatos internacionais com gurus da extrema direita feito Bannon. Portanto a adequação da volta de Bolsonaro não importa muito para esse pessoal, tanto que estão programando motociatas, desfile em carro aberto e outras manifestações para a chegada a Brasília.

A Polícia Federal (PF) montou um esquema de segurança para tentar impedir que conheçamos a verdadeira capacidade de reaglutinação de Bolsonaro. Outra questão é saber se ele tem algum risco de ser preso chegando ao Brasil. É pouco provável, mas pode aparecer um juiz de primeira instância que mande prendê-lo sem razão legal sólida. As acusações são muitas, mas os processos estão no começo, pois ele tinha imunidade até janeiro. Ainda não há perspectiva de haver algo concreto, a menos que alguma descoberta tenha sido feita e se alegue que a presença dele coloca em risco as investigações, como a possibilidade de influir na PF.

A volta de Bolsonaro é mais um elemento no choque de realidade a que Lula vem sendo submetido, num mundo que mudou sem que ele notasse. Lula está descobrindo que não tem superpoderes ou pelo menos encontrou no ex-juiz Sergio Moro a kriptonita que os neutraliza. Comecei a coluna falando em multiverso e termino com a boa e velha kriptonita. Os mais jovens não devem nem saber do que se trata. É uma tentativa, talvez inócua, de ser atual sem esquecer a tradição. Fonte: https://oglobo.globo.com

Vítima saiu da sedação nesta quinta-feira; médicos irão analisar se ela ainda precisará passar por cirurgias

 

Por Letícia Messias e Paulo Assad — Rio de Janeiro

A mulher de 36 anos que foi encontrada presa dentro de um túmulo na cidade mineira de Visconde do Rio Branco teve uma “melhora muito grande” no estado de saúde, segundo os médicos responsáveis. A vítima ainda está na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital São João Batista, mas acordou nesta quinta-feira e tem interagido com os funcionários.

— A situação dela melhorou muito de ontem para hoje. Agora, vamos ver se ela precisa engessar a perna e se o braço dela será caso de gesso ou cirurgia — informou o médico Henrique de Almeida, diretor do Hospital. — Mas são casos ligados à função, e não mais à vida.

Agora, de acordo com o profissional, um ortopedista fará a análise do caso da mulher. Até ontem, ela estava sedada e com “múltiplas fraturas no braço, dedo e perna”, embora também apresentasse uma “pressão boa”. Almeida ressaltou, ainda, que ela sofreu um traumatismo craniano e chegou desidratada ao hospital.

Além disso, Almeida também informou que a mulher está sedada e com “múltiplas fraturas no braço, dedo e perna”, embora também esteja com uma “pressão boa”. Ela também sofreu um traumatismo craniano e chegou desidratada ao hospital:

— Ela está com um escalpo parcial, vários cortes extensos no couro cabeludo e com uma hemorragia subaracnóide. No entanto, ela está se mantendo com bons parâmetros hemodinâmicos — disse.

 

Entenda o caso

Na última terça-feira, a mulher foi resgatada de dentro de um túmulo no cemitério municipal de Visconde do Rio Branco, em Minas Gerais. Coveiros que trabalham no local acionaram a Polícia Militar após terem encontrado o sepulcro fechado com tijolo, cimento fresco e sinais de sangue.

Quando chegaram ao local, os militares ouviram pedidos de socorro vindos do túmulo. A lápide, que estava fechada com materiais de alvenaria, foi quebrada pelos policiais. O resgate foi realizado e a mulher foi retirada com ferimentos na cabeça.

— Com a ajuda dos funcionários, (os oficiais) quebraram a lápide e viram que uma mulher tinha sido colocada enterrada viva. Já temos a identificação dos autores — disse o tenente-coronel Santiago. Fonte: https://oglobo.globo.com

 

Marca foi atingida um ano após os 650 mil óbitos; especialista diz que as 40/ 50 vidas perdidas por dia atualmente são de pessoas que não se imunizaram por completo

 

ONG Rio de Paz realiza ato em memória dos 400 mil mortos pela Covid-19 Agência O Globo

 

Por Constança Tatsch — São Paulo

O Brasil bateu, na última semana, a marca dos 700 mil mortos pela Covid-19. Os números precisos serão divulgados ainda nesta terça-feira, com a atualização pelo Ministério da Saúde da semana epidemiológica que foi do dia 19 a 25 de março.

Desde que chegamos à marca dos 600 mil mortos, passaram-se 17 meses. Desde os 650 mil, foi um ano. Esse intervalo chegou a ser de apenas um mês, entre março e abril de 2021, quando passamos de 300 a 400 mil mortos.

O aumento no período de tempo mostra a imensa desaceleração da pandemia graças à vacinação. É o que reforça o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Alexandre Naime Barbosa, professor da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp):

— O intervalo começou a ficar grande após a vacinação em massa, que foi do primeiro para o segundo semestre de 2021. O impacto que a vacinação trouxe em termos de redução de gravidade foi contundente. Tivemos picos de 3.500 óbitos por dia e hoje são, em média, cerca de 40 a 50. São pessoas que não se vacinaram ou não estão com vacinação completa — afirma.

Entre 35% e 40% das pessoas não tomaram alguma dose de reforço, seja a terceira dose ou a quarta para a população indicada.

Naime Barbosa conta que, na última semana, perdeu um paciente de apenas 39 anos por Covid grave. Ele tinha Aids, não sabia, e confessou não ter achado que a doença era grave ao participar de grupos que divulgam fake news.

— Hoje vivemos um estado de convivência om o vírus. Para a população geral, vida normal. Para a população mais vulnerável, manter uso de máscara em locais de aglomeração. Mas quem pesa mesmo nessa conta de 40 a 50 óbitos por dia são as pessoas com vacinação incompleta.

 

Cada vida conta

Se a desaceleração é algo a ser celebrado, não é possível deixar de dizer o número altíssimo de óbitos no país ao longo da pandemia em comparação com o resto do planeta.

Sexto país mais populoso do mundo, o Brasil é o segundo com mais mortes por Covid, em números absolutos, atrás apenas dos Estados Unidos, onde morreram mais de 1,1 milhão de pessoas.

Com a vacinação, o momento agora é outro:

— Não há dúvida que aqui no Brasil a Covid não é mais uma emergência de Saúde Pública de importância nacional (Espin). Isso persiste na Organização Mundial de Saúde (OMS) porque muitos países têm taxa de vacinação baixa e com esse decreto há questões de enfrentamento prático. Já saímos de uma fase epidêmica e estamos numa fase endêmica, mas dá para melhorar, se os elegíveis para a quarta ou quinta dose se vacinassem, esses óbitos podiam cair para 1/3 disso. Seria importante otimizar ao máximo porque toda vida conta. Fonte: https://oglobo.globo.com

Cariocas com mais de 60 anos ou de grupos prioritários podem receber o reforço em qualquer posto de saúde da cidade

 

Por Felipe Grinberg — Rio de Janeiro

Dados da Secretaria municipal de Saúde do Rio mostram que 833 mil idosos ainda não procuraram os pontos de imunização para receber o reforço da vacina bivalente contra a Covid-19. Desde o começo do mês, todos com 60 anos ou mais estão aptos, desde que tenham tomado no mínimo duas doses da vacina e a última dose há pelo menos quatro meses.

 

Quem pode receber o reforço da bivalente?

Pessoas com 60 anos ou mais

Pessoas com deficiência permanente (PcD) com 12 anos ou mais

Gestantes e puérperas

Trabalhadores da saúde

Pessoas imunocomprometidas com 12 anos ou mais

 

A demora dos idosos em ir aos postos de saúde agora contrasta com a grande procura pela vacina no início da campanha de imunização, em 2021. Na primeira etapa da vacinação contra a Covid-19, o Rio alcançou a cobertura de 90% dos idosos imunizados com a primeira dose em cerca de três meses. Na época, o calendário era escalonado por idade e sexo, e a marca foi atingida quando o calendário chegou à cobertura total dos idosos.

O secretário municipal de Saúde, Rodrigo Prado, explica que a vacina bivalente oferece proteção contra variantes da Covid-19. Ele pede que o carioca atualize a caderneta de vacinação para sua proteção individual e para a manutenção do "cenário epidemiológico controlado".

— As unidades da SMS já aplicaram mais de 530 mil doses da vacina bivalente nos grupos prioritários, mas a população idosa imunizada com esse reforço ainda está abaixo da expectativa. Sabemos que os idosos podem ter maior dificuldade de ir à unidade de saúde, seja por problemas de mobilidade ou por precisarem ser levados por filhos ou netos com horário apertado devido ao trabalho. Por isso, procuramos oferecer serviços que facilitem o acesso, para que ninguém fique sem a oportunidade de se vacinar — explica Prado.

Além das 237 Clínicas da Família e postos de saúde, o carioca pode se vacinar no Super Centro Carioca de Vacinação, em Botafogo, que fica aberto todos os dias das 8h às 22h. O local funciona ao lado do Hospital Municipal Rocha Maia e conta com um drive-thru para a imunização. Também há pontos de vacinação na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca; no Museu da República, no Catete; no Planetário, na Gávea; no Shopping do Méier; no Parque Shopping Sulacap e no Bangu Shopping.

Morador da Tijuca, o ortopedista Carlos Eduardo, de 67 anos, está com a perna quebrada. Ele recebeu a dose de reforço da bivalente na última semana, no Super Centro de Vacinação. Impossibilitado de andar sozinho, ele aproveitou a carona do amigo Albertus Ramalho para garantir a imunização.

— Meu amigo já conhecia o local e me trouxe aqui pela facilidade na condição que eu estou — contou o médico.

As 237 unidades de Atenção Primária do município também realizam a vacinação em domicílio para idosos, pessoas com deficiência e com comorbidades acamados. Para isso, é necessário que um familiar entre em contato com a unidade de saúde de referência solicitando o serviço. A vacinação será agendada em até 30 dias. Fonte: https://oglobo.globo.com

Vamos esperar que esses episódios não se repitam e não se tornem uma rotina no Brasil

 

Por Daniel Becker

Ontem, 27 de março, foi um dia triste, marcado por uma tragédia: um assassinato numa escola, cometido por um menino de 13 anos que atacou diversas pessoas e conseguiu matar a professora Elizabeth, a quem eu mando o meu abraço, minha solidariedade à família, uma pessoa de 71 anos, uma apaixonada pela educação, e também mando um abraço pra professora Cíntia, que conseguiu conter esse menino e evitar que esse massacre fosse pior.

É importante a gente refletir sobre isso e tentar tirar lições sobre esse episódio, que possam nos ajudar a refletir como sociedade. Nada que vá contribuir pra esclarecer esse crime, para tentar entender esse menino, mas reflexões genéricas a partir de certos elementos que essa tragédia apresenta e que são importantes que a gente pense sobre eles.

Primeiro, esse menino tinha uma conta no Twitter. É totalmente inadequado ter uma conta aos 13 anos porque o Twitter é um lugar de ódio, de violência, de ideologias radicais, de bolhas de extrema direita. É um lugar extremamente perigoso para adolescentes e ele estava solto ali. Nessa conta ele falava de misoginia, queria matar mulheres, especialmente as mais bonitas, e falava de armamentismo. Dizia que era perseguido e que ninguém falava com ele, ninguém gostava dele, e que sofreu bullying. Falou também sobre o pai dele dizendo que era um “FDP”, que o criticava e humilhava diariamente. Então vamos tentar pensar sobre essas coisas.

O que esses elementos podem nos trazer de reflexões? Primeiro lugar: é muito importante a gente vigiar o que os nossos filhos, crianças e adolescentes, estão fazendo nas redes sociais. São lugares perigosos entre outras muitas outras coisas por isso: são cheios de ideologias nocivas, odiosas que cultivam preconceitos, racismo, misoginia, onde se formam bolhas em que a criança ou adolescente não vai ter nenhum contraponto de ideologia que se oponha a esse tipo de radicalismo. Assim, ele vai mergulhar cada vez mais nesse mundo e isso favorece atitudes como essa. Já é inadequado um garoto de 13 anos estar no Twitter, muito mais ainda sem nenhum tipo de vigilância.

Em segundo lugar, falar da ideologia do armamentismo, da violência, do ódio que se espalhou na sociedade brasileira. Nos últimos quatro anos, nós vivemos o predomínio político de um grupo que esteve no poder, de um grupo de extrema direita, ultra radical, extremamente violento, ligado à milícia, à ideologia das armas e à disseminação do ódio quanto a minorias, que propalava que os adversários políticos tinham que ser fuzilados e coisas do gênero.

O armamentismo é uma praga nos Estados Unidos e esse tipo de massacre é extremamente comum lá. Há pouco tempo havia mais crianças mortas em massacres do que dias do ano em 2023. Assassinatos a bala são a principal causa de morte nos Estados Unidos de crianças. É para esse lugar que estamos querendo ir? Esse é o grande fator ligado a essas tragédias: o armamentismo.

Essa cultura do armamentismo se expandiu enormemente no nosso país nos últimos anos. Nos últimos quatro anos, para ser exato. Não só a cultura, como o próprio armamentismo, as armas se disseminaram na sociedade, os clubes de caçadores e atiradores se multiplicaram — a maior parte pra mim é fraude, são pessoas que estão comprando armas pra vender para o crime organizado, inclusive. Isso é muito grave. E a quantidade de armas duplicou na nossa sociedade, com o governo fazendo leis pra facilitar a compra de armas de uso que favorecem massacres, como fuzis, metralhadoras automáticas, e tentando passar leis pra que as munições não sejam sequer rastreáveis. Coisas absurdas. E a gente precisa combater essa ideologia da armamentismo de forma muito, muito séria.

Esse novo governo se comprometeu contra isso como uma das suas prioridades. Eu espero que isso seja levado à frente.

Em terceiro lugar, racismo e misoginia também se espalharam nas redes exatamente nesse mesmo período (possivelmente pelos mesmos motivos). A gente viu essas ideologias sairem do esgoto e se espalharem pela sociedade, disseminadas inclusive em igrejas. Isso é muito sério, a gente precisa olhar para os nossos filhos e ser exemplos pra eles, exemplos de se relacionar com as pessoas com igualdade, com amor, com respeito, tratando a todos dos da mesma maneira.

Além disso, esse menino falava em bullying. Isso é uma coisa muito séria, tendo ele ou não sofrido bullying, se ele fala nisso é importante que a gente reflita. O bullying é algo muito grave porque é perseguição sistemática, não é uma situação pontual, são humilhações e agressões diárias. Isso deixa uma criança num sofrimento monstruoso e precisa ser detectado, precisa ser trabalhado por todos, pela família, pela escola, porque uma criança que sofre bullying não fala sobre isso. Ela vai acumulando aquela dor imensa e pode explodir como uma agressão ou com uma depressão.

E, finalmente, esse menino falava de um pai violento, um pai não que batia nele mas que humilhava, agredia e criticava todos os dias. É muito importante a gente refletir sobre como cuidamos das nossas crianças. A importância da gente ter uma relação de cuidado, de amor, de afeto, de respeito com a criança desde cedo. Que a gente seja uma referência de segurança, de confiança, para que ela procure a gente quando precisar, quando estiver numa situação difícil e quiser consolo, carinho e orientação, quando ela estiver confusa e não souber o que fazer.

Nós devemos ser os esteios, os protetores dessa criança e não aqueles que acusam, que humilham, que criticam e que fazem ela se sentir cada vez pior. E é claro que essa criança provavelmente ela estava abandonada em casa, tanto que tinha uma conta no Twitter completamente livre onde ele fazia e falava das coisas mais terríveis sem que ninguém provavelmente soubesse.

Então é importante a gente refletir sobre o tipo de cuidado, de criação que a gente oferece aos nossos filhos. Lembrando da importância da gente fazer essa criação com amor, com afeto, respeito e confiança. Que a gente possa ser uma referência de amor, afeto, respeito, e confiança pros nossos filhos. E esperar que essas tragédias não se repitam e não se tornem uma rotina no Brasil. Fonte: https://oglobo.globo.com

Testemunhas disseram que o menino que agrediu colegas e professores tinha 13 anos e uma relação problemática com os demais estudantes. Escola ficará fechada por duas semanas

 

Por Mariana Rosário — São Paulo

Alunos e professores foram esfaqueados na Escola Estadual Thomazia Montoro, em São Paulo Mariana Rosário

O governo de São Paulo confirmou a morte de uma das três professoras atacadas a facadas por um aluno na Escola Estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, na Zona Oeste da capital paulista.

 

Morre professora esfaqueada por aluno em SP

A informação foi confirmada na manhã desta segunda-feira em coletiva de imprensa na porta da escola com o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, e o secretário da Educação, Renato Feder.

A professora que faleceu se chama Elizabeth Tenreiro, e tinha 71 anos. Ela foi a primeira atingida pelo aluno ao entrar na sala de aula. As demais vítimas, segundo o secretário de Educação, estão fora de perigo.

— A professora foi socorrida via terrestre e evoluiu a óbito. São quatro professoras e dois alunos vítimas, temos três professoras que sofreram alguns golpes, mas encontram-se estável. E os outros dois são superficiais — disse Derrite. — Um aluno está estável, já atendido, e outro em estado de choque.

Uma das professoras, Cinthia Barbosa, de Educação Física, ajudou a imobilizar o agressor, até a chegada da ronda escolar, três minutos depois de acionada.

— Não fosse essa ação heroica da professora, certamente a tragédia seria maior. Registramos aqui nosso agradecimento — disse Derrite. — O foco agora é dar atendimento às vítimas.

As outras professoras se chamam Rita de Cássia Reis, Ana Célia Rosa e Jane Gasperini. O governo de SP informou que a escola ficará fechada por ao menos duas semanas e o recesso de julho

 

Aluno também esfaqueou colegas em ataque a escola em SP

Ainda é preciso, acrescentou o secretário, entender as motivações do crime. Testemunhas disseram que o menino que esfaqueou os colegas e professores tinha 13 anos e uma relação problemática com os demais estudantes. Ele já tinha sido aluno da instituição e pediu transferência de volta, em 15 de março.

Em nota, o governo de SP informou que a professora de 71 anos chegou a ser levada em estado grave para o Hospital Universitário da USP, mas morreu em seguida. "O Governo de SP lamenta profundamente o óbito da professora e se solidariza com as famílias dos professores e alunos vítimas do ataque. A Polícia Militar foi acionada e a Civil investiga os fatos", afirma o texto. Fonte: oglobo.globo.com

Por Natalia Pasternak

O fenômeno das bolhas de desinformação nas mídias sociais é conhecido há tempos. Os algoritmos reforçam a circulação de informação – e desinformação – que reforça os preconceitos e crenças comuns no interior de grupos que compartilham ideologias e estilos de vida. Dentro da bolha, é natural encontrar quem pensa parecido, e mensagens que reforçam essas semelhanças são mais compartilhadas do que mensagens que desafiam e contradizem o consenso interno.

Psicólogos sociais distinguem bolhas epistêmicas de câmaras de eco. Nas bolhas, informação divergente não existe. As pessoas talvez nem saibam que há quem pense diferente delas. Imagine, por exemplo, uma comunidade religiosa pequena e fechada, para cujos integrantes a ideia de existir um ateu no mundo é quase inconcebível.

Nas câmaras de eco, sabe-se que ideias divergentes existem, mas estas ideias são ridicularizadas. Quem as defende é atacado e difamado, há repressão e assassinatos de reputação.

Na bolha epistêmica, vozes relevantes para a diversidade do debate são excluídas acidentalmente, sua existência não é conhecida. Já nas câmaras de eco, a exclusão é deliberada, mas a divergência não só é conhecida como se torna o foco da existência do grupo, que gira em torno do discurso de ódio contra a dissidência. Segundo o filósofo Thi Nguyen, bolhas epistêmicas podem ser furadas com exposição a evidências contraditórias, mas esta intervenção requer cuidado, ou corre-se o risco de a bolha virar câmara de eco.

As câmaras, infelizmente, não têm muita chance de salvação. Tentar penetrá-las para travar um debate honesto é quase sempre inútil. O contexto social da câmara perverte o processo.

Recentemente, decidi deixar o Twitter. Toda a minha produção de conteúdo sobre ciência está em artigos de jornais e revistas, publicações científicas e programas de rádio e TV. Meu uso da plataforma tendia a limitar-se ao compartilhamento destes conteúdos. De pessoal mesmo, só fotos de gatinhos.

Com a troca de controle do Twitter, o ambiente ali deteriorou-se. Perfis que haviam sido banidos por assédio, racismo e homofobia foram convidados a retornar. A monetização do selo verificado e dos impulsionamentos de conteúdo facilitam a multiplicação de câmaras de eco, discursos de ódio, fazendas de trolls e aceleradores de desinformação. Assédio, difamação e calúnia são premiados com aplauso e visibilidade ampliada.

Durante a pandemia, considerei minha presença ali necessária. No contexto particular da emergência sanitária, o Twitter viu-se elevado a referência para o jornalismo, que acompanhava o debate entre cientistas na plataforma. Com a normalização da Covid-19, que deixa de ser uma crise, o meu trabalho volta a ser de nicho, de alertar contra o uso de pseudociência em políticas públicas e a circulação de crenças perigosas na sociedade. Sair da plataforma foi para mim, portanto, uma decisão técnica e também particular.

Técnica porque o colapso acelerado da plataforma em câmaras de eco em guerra constante, impermeáveis a fatos e argumentos, reduz muito seu valor como ferramenta de trabalho. É como um motor de carro que faz muita fumaça, muito barulho e quase não transmite energia para as rodas. E particular porque não desejo emprestar nome e credibilidade a uma plataforma que favorece comportamentos criminosos. Popularidade é útil, mas não a qualquer preço.

Como presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC), professora e voz com acesso ao debate público, meu trabalho é ensinar e tornar a informação científica disponível e amigável para todos. Isso, faço em diversos veículos de mídia. O IQC, enquanto instituição, seguirá disponibilizando conteúdo nas mídias sociais enquanto ainda for possível extrair algumas migalhas de trabalho útil dessas plataformas. Fonte: https://oglobo.globo.com

Sergio Chapelin em último programa do Globo Repórter apresentado por ele - João Cotta/TV Globo

Programa que já foi comandado pelo jornalista completa 50 anos neste ano e será um dos assuntos do 'Fantástico'

 

Sérgio Chapelin pode não ser mais o apresentador do Globo Repórter, mas o programa segue em sua rotina. No próximo domingo (26), o jornalista concede uma entrevista à Renata Ceribelli, no Fantástico, sobre os 50 anos da atração jornalística, celebrados em 2023, e curiosidades de sua rotina. Na conversa, ele fala de um cuidado redobrado todas as vezes que sai de casa.

"Chapelin, você até pode passar desapercebido pela rua, mas na hora que você fala as pessoas já pensam: opa, o Globo Repórter tá aí?", brincou Renata. Chapelin, então, concordou e relatou como é a rotina: "É, realmente é assim. Isso me cria muito problema. Porque, por exemplo, eu saio com a minha mulher, saio, bota o meu bonezinho, boto meu shortzinho, minha camiseta e saio caminhando. A minha mulher fala assim: 'Não abre a boca! (risos) Não abre a boca!'".

O jornalista apresentou o Globo Repórter durante 37 dos 50 anos e tem um aprendizado que ficará para sempre. "Olha, eu não aprendi a fazer outra coisa. Então, a única coisa que eu aprendi na vida foi a ler um texto, né? Minha mãe (se emociona), minha mãe me ensinou a ler o primeiro", revela ele que se aposentou da emissora em 2019.

Os jornalistas Cid Moreira e Sérgio Chapelin, apresentadores do "Jornal Nacional" em 1972, posam para foto Reprodução

Além de Chapelin, Renata conversou com Sandra Annenberg, Ernesto Paglia e outros jornalistas envolvidos com a festividade do Globo Repórter, que começa a ser comemorada no dia 31 de março. Fonte: https://f5.folha.uol.com.br

A epidemia de ódios entre grupos não fica só no que se vê como antagônico a suas ideias. A maior vítima é quem odeia

 

Por Nelson Motta — Rio de Janeiro

A epidemia de ódios coletivos e entre grupos e facções, do ódio minando e destruindo relações de amor, de amizade e de família, não fica só no ódio irracional e incontrolável pelo que vê como antagônico a suas ideias e valores. Claro, a maior vítima do ódio é quem odeia, porque os odiados às vezes sequer sabem que são odiados. Ser odiado por pessoas desprezíveis vale como elogio.

Ouvi dizer muitas vezes que o ódio é o reverso do amor, que onde há um há outro, que são indissociáveis. É verdade, mas o reverso do amor, para mim, são o desprezo e o esquecimento. Se ainda há ódio, rancor, ressentimento, ainda há amor, todo retorcido, mas há. Mas o desprezo é a ausência de todo amor, e até de compaixão. Vale desde a relação afetiva à amistosa e à política.

Viver em um ambiente de ódios difusos, e difundidos, públicos, devia ser cuidado pelo Ministério da Saúde Mental, porque esse ódio venenoso é levado para dentro das famílias, dos amigos, das relações amorosas, onde encontra outros motivos, velhos ressentimentos, rancores secretos, invejas enrustidas, para ser despertado e se manifestar. A resposta ao ódio não é o ódio nem o amor: é a rejeição absoluta.

Um aspecto muito interessante do ódio foi desenvolvido por Freud como o “ódio ao benfeitor”. Alguém que é ajudado por alguém em um momento de infelicidade e abandono, que odeia o benfeitor porque ele será sempre testemunha de sua incapacidade e seu fracasso — que motivou a ajuda. Se sentirá sempre devedor, mesmo que não cobrado, se sentirá inferiorizado, invejando o sucesso do benfeitor, e acaba explodindo. É muito humano e comum, em diversos níveis, tanto quanto a gratidão verdadeira, porque ninguém finge nem mente gratidão, um sentimento ainda mais nobre do que o amor, porque sem suas imperfeições.

É bonita a gratidão. Porque é sempre a resposta a um ato de amor. Obrigado é a palavra que mais falo, ao menor pretexto, um vício. Eu agradeço sempre, a Deus, aos santos e orixás, às forças da natureza, meio na fé e meio como um exercício de humildade, para me conscientizar de que tudo aquilo que te encanta e embeleza e justifica a vida não é só uma conquista sua, não é seu merecimento, mesmo porque essas forças poderosas e desconhecidas não fazem julgamentos e favorecimentos. Embora gente rasa, e pretensiosa, se acredite na lista dos “queridos preferenciais” do mistério e do desconhecido, por seus méritos humanos... e vive agradecendo rsrs.

E para finalizar, trecho de uma letra de samba-canção lupiciniano, in progress, com Tim Bernardes, que escrevi inspirado por essas reflexões:

“O reverso do amor.”

“Engana-se muito quem pensa

que o ódio é o avesso do amor,

os dois estão juntos na gente,

como o bem e o mal, o prazer e a dor,

o reverso do verso, o inverso do afeto,

não é ódio nem raiva ou rancor,

é o desprezo e o esquecimento,

é a indiferença e o silêncio sem cor”.

Fonte: https://oglobo.globo.com

Operação no Complexo do Salgueiro (RJ) deixa 11 mortos

Polícias buscam integrantes de uma facção criminosa do estado do Pará e envolvidos com ataques recentes a comunidades no Rio

 

Uma operação das polícias Civil e Militar deixou 11 mortos no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na região metropolitana, nesta quinta-feira (23), onde ocorreu uma intensa troca de tiros.

A ação conjunta da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) e do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) tinha como alvo integrantes de uma facção criminosa do estado do Pará e lideranças envolvidas com ataques recentes a comunidades da zona oeste do Rio.

Segundo a Polícia Civil, o objetivo era cumprimento de mandados de prisão e de busca e apreensão. Entre os alvos estão os responsáveis por uma série de ataques contra agentes de segurança pública do Pará, que mataram mais de 40 policiais desde 2021.

Ainda de acordo com a investigação, os criminosos também têm ligação com um roubo em um shopping da Barra da Tijuca, em junho do ano passado, no qual um segurança foi baleado e morto.

Duas mulheres baleadas

Ao menos duas mulheres foram baleadas de raspão nas pernas durante a troca de tiros na comunidade. As vítimas, de 53 e 62 anos, foram levadas por policiais ao Hospital Estadual Alberto Torres, na mesma região, e passam por exames. Fonte: https://noticias.r7.com

Pai, mãe e 4 filhos morreram após carro da família ser jogado para fora da pista por carreta no sábado (18). Outros dois filhos do casal estão internados em estado grave.

 

Por Henrique Coelho, g1 Rio

Um novo vídeo mostra outro ângulo do acidente que terminou com uma tragédia familiar na Baixada Fluminense. A câmera de um veículo que vinha atrás gravou quando um caminhão perde o controle e bate de frente com um carro que vinha na pista contrária.

O acidente matou seis parentes que estavam no carro. Outros dois foram internados em estado grave.

Um dos sobreviventes, Guilherme Lima Correa, de 14 anos, teve o protocolo de morte cerebral iniciado pelo hospital, na noite desta segunda-feira (20). Horas antes, os corpos de Leticia Gabrielle Fernandes de Lima, 32 anos, de Jhonatan Guimarães Corrêa, 35, e de quatro filhos do casal, com idades entre 2 e 10 anos, foram enterrados no Cemitério Parque Nicteroy, em São Gonçalo.

Christhian Lima Correa, de 16 anos, está entubado no CTI do Hospital Estadual Alberto Torres, após passar por cirurgias no sábado.

 

Motorista responde por homicídio culposo

A imagem parece corroborar o que disse o motorista do caminhão na 67ª Delegacia de Polícia (Guapimirim), onde foi ouvido e liberado.

Em depoimento, ele afirmou que perdeu o controle ao tentar dar espaço para a passagem de outra carreta, na BR-493, a Magé-Itaboraí, na altura do Vale das Pedrinhas, em Guapimirim, próximo ao município de Magé. O vídeo mostra o caminhão desviando parcialmente para o acostamento, onde há um desnível. Ao tentar voltar, o caminhão invade a pista contrária.

"Ela desviou, abriu um pouquinho. Ali, a pista é meio estreita, aí entrou no acostamento. Eles recapearam a pista, mas não o acostamento. Ele bate com a roda traseira nesse declive, perde a direção, foi tentar segurar e atravessou a pista", disse o delegado Antônio Silvino Teixeira, titular da 67ª DP (Guapimirim).

O exame de alcoolemia apontou que ele não havia ingerido bebida alcóolica. O motorista vai responder por seis homicídios culposos – quando não há intenção de matar.

Acidente envolvendo carro e carreta em Magé deixa seis mortos e dois feridos graves

O delegado relatou que a carreta desviou porque vinha outra carreta em sentido contrário, como dito pelo motorista em depoimento. A pista era estreita e, segundo o motorista, havia um desnível.

"Foi recapeado o asfalto, mas não foi recapeado o acostamento. Ele bate com a roda traseira no acostamento, nesse declive que existe ali, perdeu a direção, mas atravessou a pista e colheu esse gol de frente", descreveu o delegado sobre o acidente.

 

Os mortos no acidente são:

Leticia Gabrielle Fernandes de Lima, 32 anos;

Jhonatan Guimarães Corrêa, 35 anos;

Gabrielle Lima Corrêa, 10 anos;

Enzo Gabriell Lima Corrêa, 5 anos;

Isaque Lima Corrêa, 8 anos;

Larissa Lima Corrêa, 2 anos.

Segundo a avó, a família estava a caminho do aniversário de uma outra neta.

“Preparamos a piscina para eles passarem a tarde, mas eles não chegavam. Tentamos ligar, estranhei e identifiquei o carro pelo g1. Tudo batia. Eu liguei uma coisa com a outra, fui no [Hospital] Alberto Torres para saber se era o meu neto, e era ele", disse a avó Valéria de Assis Correia, mãe de Jhonatan.

"Ali sempre tem acidente porque não tem acostamento. Se der uma pane, você tem que parar no meio da estrada. Ali tinha que ter uma melhora na pista. A minha irmã me ligou desesperada e perguntou como eu estou. A ficha só caiu quando vi eles mortos. Eu peço a Deus que os meus outros dois netos se recuperem e vou criá-los como pai. Peço a Deus que eles saiam de lá", disse o avô Jaú Lima Correa.

A caçula de 2 anos, Larissa Lima Correa, chegou a ser socorrida, mas não resistiu.

Ainda nessa segunda (20), as marcas da tragédia ainda eram vistas na estrada. Os motoristas que passam por ali esperam há anos pela duplicação da pista.

Em 2014, o Governo Federal começou as obras que tinham previsão de término em 2018.

A concessionária Eco-Rio-Minas assumiu a gestão da rodovia em setembro do ano passado e diz que a obra está prevista no contrato de concessão, mas que o prazo de conclusão é até 2026. Fonte: https://g1.globo.com

O necessário equilíbrio na regulação das redes sociais começa por expectativas realistas. Uma nova lei não resolverá todos os problemas. Regulação rígida pode gerar novas distorções

 

Há crescente consenso da necessidade de regulação das redes sociais. O atual regime jurídico tem dado margem a muitos abusos, como se o mundo digital fosse território sem lei. Sob pretexto de liberdade de expressão, verifica-se intensa difusão de ameaças, ataques e notícias mentirosas, que tensionam o tecido social, distorcem o debate público e colocam em risco as instituições democráticas. Nesse cenário, o Judiciário tem sido instado a atuar e, apesar de indispensável para a defesa das liberdades e do Estado Democrático de Direito, sua atuação acaba por gerar novas distorções e tensões. É urgente prover um novo marco legal para as redes sociais.

No entanto, por mais evidente que seja a necessidade de regulação do setor, é preciso advertir que o desenho desse novo marco legal exige especial cuidado, começando por calibrar, de maneira realista, as expectativas em relação a seus efeitos. Os desafios sociais e políticos decorrentes das redes sociais não serão resolvidos simplesmente com uma nova lei, por mais perfeita que ela possa ser.

Por exemplo, os atos do 8 de Janeiro explicitaram e confirmaram uma vez mais o perigo que as redes sociais trazem para a democracia. Muitos dos crimes ali praticados foram incentivados, anunciados e organizados nas plataformas digitais. A ideia, bastante difundida, de que essas empresas seriam totalmente irresponsáveis pelo conteúdo publicado em seus canais permitiu a ocorrência dos crimes. Além disso, as empresas operam com algoritmos que ampliam a exposição de mensagens que geram engajamento, favorecendo a difusão de conteúdos radicais e extremistas. Na prática, as redes sociais não só foram indiferentes, como também ajudaram a construir o ambiente de desinformação e de ameaça ao regime democrático.

Ao mesmo tempo, seria ingenuidade achar que uma adequada regulação das redes sociais resolva – ou deva resolver – todos os problemas sociais e políticos envolvidos no 8 de Janeiro. Não é só uma questão de expectativa irreal, o que depois vai gerar frustração. O problema é mais grave. Essa expectativa desequilibrada modifica a própria ideia do que deve ser uma adequada regulação das redes sociais.

Há quem proponha, por exemplo, que empresas como Google ou Facebook recebam o mesmo tratamento jurídico que as companhias de comunicação, que têm uma responsabilidade muito mais acentuada sobre o conteúdo publicado. A proposta, que talvez possa entusiasmar muita gente – seria um modo imediato de acabar com a circulação irresponsável de conteúdo criminoso –, ignora, no entanto, o fenômeno específico das redes sociais, inviabilizando seu funcionamento. Seja para qual setor for, uma adequada regulação jurídica tem como condição indispensável o conhecimento do seu modus operandi. A lei não pode ignorar a realidade.

Relacionada com a primeira proposta, outra ideia, que vez por outra se ventila, consiste em conceder às plataformas digitais poder irrestrito para retirada de conteúdo, sem necessidade de decisão judicial. Diz-se que essa autorização proveria a tão sonhada agilidade na contenção de conteúdos criminosos. O mecanismo acarreta, no entanto, problemas sérios em relação à liberdade de expressão, com riscos de abusos e distorções ainda maiores no debate público.

Há de se conceder razão, portanto, ao presidente da Câmara, Arthur Lira, quando defendeu a necessidade de “encontrar o caminho do meio para legislar sobre e julgar questões envolvendo liberdade de expressão, redes e democracia”. No dia 13 de março, em evento sobre o tema, Lira reconheceu que se trata de “equilíbrio delicado”, que “envolve valores inestimáveis para a vida pública brasileira”. E advertiu: “Esse equilíbrio não é uma utopia, mas uma necessidade”.

Com suas duas Casas, o Legislativo existe precisamente para esses casos: quando, diante de muitos interesses e perspectivas possíveis, o País precisa de um marco jurídico equilibrado, que expresse os vários anseios da população, respeite a Constituição e defenda a democracia. Não se espera menos do Congresso. Fonte: https://www.estadao.com.br

Há vida além do Facebook

Apaguei meu perfil do FB. Foi um banho de sal grosso digital. Mantive o Instagram. Eu me tornei menor no mundo digital. Mas muito mais autêntica

 

Por Martha Batalha — Rio de Janeiro

Passei nos últimos dias uma quantidade vergonhosa de horas tentando apagar meu perfil no Facebook. A intenção era deixar de ser pessoa para me tornar uma página de autora, mas a mudança, possível de se realizar com dois ou três cliques, escondia-se sob camadas inúteis de informação.

Segundo a página de ajuda, as instruções estavam no account center (meu FB é em inglês). E onde estaria o account center? Depende, dizia a página. Ele poderia estar tanto no topo da tela quanto abaixo e à esquerda. Achei estranho, um account center com direitos de locomoção, mas eu estava disposta a relevar se ao menos ele EXISTISSE. Não era o caso.

Em resumo, para apagar meu perfil a regra era: apaga no account center, que não existe, logo, não apaga, mas, se quiser apagar, vai ao account center, que não existe. É como estar numa festa, perguntar pelo banheiro e ouvir do anfitrião — pega esse corredor. Se o quadro com andorinhas estiver pendurado, dobre à direita. Mas, se for o calendário asteca, dance a “Macarena”.

O FB, com essa interface inocente de pracinha com coreto, de local de encontro, reencontro e troca de ideias, é na verdade um labirinto do Minotauro, um ardil 22, uma narrativa de Gogol ou de Kafka, e se o leitor está atordoado com tanta referência é porque desejo mostrar o que essa pracinha capciosa, o álbum de figurinhas do Instagram e o pula-pula do TikTok fazem com a minha cabeça. Eu me sinto bombardeada com muito mais do que posso absorver, e isso, eu descobri, me faz infeliz.

Mas eis outro ardil: preciso estar on-line para divulgar o que faço e preciso estar off-line para fazer o que eu faço. Leitura e escrita, as duas atividades que nutrem o melhor em mim, só se dão com qualidade em longos períodos e longe de ruídos.

Resolvi o dilema após ler o livro “Minimalismo digital”, de Cal Newport. É um manual para quem achou que usaria as redes sociais, e passou a se sentir usado por elas. Minimalismo digital, segundo o autor, se define por “usar o tempo on-line em um pequeno número de sites e atividades cuidadosamente selecionadas e que endossam os valores da pessoa, e perder feliz todo o resto.”

Não uso mais Twitter, apaguei aplicativos supérfluos no celular e meu perfil pessoal do FB (venci, Zuckerberg). Foi assim, um descarrego. Um banho de sal grosso digital. Mantive o Instagram, mas não me submeto à ditadura da rede que exige posts diários para aumento de visibilidade. Eu me tornei menor no mundo digital. Mas muito mais autêntica.

Não posso dizer que as redes sociais são nocivas para todo mundo. Pegue uma Cora Rónai, um Eduardo Affonso. São pequenas empresas de sólido conteúdo e público fiel. Mas para mim não estava funcionando. Sou ansiosa demais para expor constantemente meu ego ao número de curtidas e corações, eu que desde sempre estou num aprendizado para não julgar, me colocava inteira e vulnerável para ser julgada por um algoritmo.

Fora da pracinha o mundo é bom. Gosto dos dedos escurecidos por tinta depois de ler o jornal, de segurar a caneta Bic para anotar as margens do livro brochura, da rotação de títulos na mesinha de cabeceira. Gosto de solidão e silêncio e de cantos pequenos. Não é para onde o mundo está indo, mas é que me proporciona contentamento, essa espécie de primo renegado da felicidade, menos sexy e mais satisfatório. Fonte: https://oglobo.globo.com

Perfis conservadores espalham conspiração que culpa Carnaval por chuvas no Brasil

Em vídeos, tragédias e destruição são associadas a 'representações satânicas' em desfiles de escolas de samba

 

Manuela Ferraro

Diversos perfis estrangeiros e religiosos estão espalhando nas redes sociais uma teoria da conspiração que associa a "ira divina" provocada pelo Carnaval às inundações, destruição e tragédias causadas pelas chuvas no Brasil. Nesta segunda (13), "Brazil" esteve nos assuntos mais comentados no Twitter, com mais de 34 mil tuítes.

Em inglês, as publicações trazem vídeos e fotos que criticam as representações religiosas cristãs em desfiles de escolas de samba, como a encenação entre entre Jesus e o diabo no desfile da Gaviões da Fiel em 2019 e o carro alegórico do Salgueiro que trazia, este ano, um gigantesco boneco representando o demônio.

As imagens dos carnavais brasileiros são alternadas com vídeos de chuvas e inundações que arrastam veículos e derrubam casas, mas que não especificam onde, nem quando, tais episódios aconteceram. Os usuários que divulgam os vídeos evocam uma suposta "justiça dos céus" contra o que chamam de "festejo satânico".

"Os brasileiros zombaram de Deus durante o Carnaval realizado em 18 de fevereiro de 2023, o que provocou Deus e também os cristãos no Brasil a exigir justiça. Portanto, Deus atingiu o Brasil com grandes tempestades e uma inundação", diz uma das publicações.

Alguns vídeos trazem ainda imagens de tragédias brasileiras que não aconteceram após o Carnaval deste ano. Um vídeo divulgado pelo perfil de um cantor gospel no YouTube, por exemplo, traz imagens de desfiles, mas mostra, em seguida, imagens da chuva que matou 104 pessoas em Petrópolis (RJ) em fevereiro de 2022.

O narrador do vídeo diz que o desastre aconteceu porque "zombaram de Deus". A publicação, feita há cerca de duas semanas, tem mais de 760 mil visualizações. O blog #Hashtag tentou contato com o dono do perfil, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

Outros tuítes chegam a divulgar fotos e vídeos de carros alegóricos do Carnaval que acontece nas cidades alemãs de Düsseldorf e Colônia, na Alemanha, afirmando que as imagens se referem à festa brasileira. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Delegado foi acusado de organizar emboscada contra Vicente Cañas, que vivia com os Enawenê-Nawê

 

Por O Globo

O Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) confirmou a condenação do ex-delegado da Polícia Civil do Mato Grosso Ronaldo Antônio Osmar por intermediar a emboscada em que foi morto o missionário jesuíta Vicente Cañas, conhecido como Kiwxí. O crime foi em abril de 1987, na terra indígena Enawenê-Nawê, no município de Juína (MT).

De acordo com o processo, além de orientar os executores do crime sobre o modo de execução e realizar o pagamento pelo serviço, o ex-delegado também dificultou o andamento da investigação que buscava esclarecer a morte do missionário.

Em 2006, Ronaldo Antônio foi absolvido pelo Tribunal do Júri do Mato Grosso. O MPF recorreu da decisão e, em 2015, o TRF-1 anulou o júri, por considerar a decisão manifestamente contrária à prova dos autos, determinando a realização de um novo julgamento.

Em 2018, o acusado foi submetido a novo júri e condenado a mais de 14 anos de prisão em regime inicial fechado. Após nova etapa do processo, a defesa apresentou recurso.

O trâmite da ação, que levou mais de 30 anos para se chegar à condenação do agenciador, foi cercado por muitos entraves. Além do tempo decorrido, o que dificultava a coleta de provas, as principais testemunhas não queriam mais falar do assunto, que foi traumático para eles.

— Foi necessário um trabalho intenso de convencimento para tranquilizá-los, assegurando que seria a última vez — diz o procurador da República Ricardo Pael.

O banco das testemunhas também contou com a participação do antropólogo Rinaldo Arruda, estudioso da cultura Enawenê-Nawê. Na ocasião, ele explicou aos jurados que Vicente Cañas havia sido batizado pelos indígenas, era um deles, por isso nunca seria assassinado por um “irmão”. Vicente Cañas viveu parte de sua vida como um Enawenê-Nawê.

Aa confirmação da condenação do ex-delegado Ronaldo Antônio tem mais um significado para os indígenas da etnia. O crânio de Kiwxí permanece até hoje vinculado ao processo, como prova do crime. Para os Enawenê-Nawê, enquanto todo o corpo não é submetido ao funeral, o espírito não descansa.

Eles esperam que com a confirmação da condenação em segunda instância, o crânio seja finalmente liberado para ser levado ao território Enawene, com a concordância dos familiares espanhóis de Vicente, onde será sepultado com o restante do corpo dando descanso ao seu espírito.

O trabalho de Cañas foi fundamental também para o início do processo de demarcação da terra indígena dos Enawenê-Nawê. O missionário denunciava constantemente a presença de fazendeiros e madeireiros nas áreas dos povos indígenas que viviam no noroeste do Mato Grosso.

Além disso, de 1985 até seu assassinato, ele era integrante do grupo de trabalho da Funai que atuava nos estudos de demarcação do território dos Enawenê-Nawê. Diante disso, eram comuns os relatos de ameaças de morte dirigidas ao missionário espanhol e a outros voluntários que o ajudavam.

Em abril de 1987, Cañas foi surpreendido enquanto se preparava para voltar à aldeia dos Enawenê-Nawê, que na época, era chamada de Salumã. Os assassinos o atacaram quando ele voltava do rio, onde estava tomando banho. Em seu barraco, às margens do Rio Juruena, o missionário foi agredido e assassinado.

O corpo foi encontrado cerca de 40 dias depois por indígenas e pelo padre Thomaz de Aquino Lisboa, que na década de 1970, atuou nos primeiros contatos com os índios Enawenê-Nawê. A perícia constatou sinais de violência no local e um orifício na barriga da vítima aparentemente causado por arma branca. Fonte: https://oglobo.globo.com

Dispositivo estabelece que plataformas de mídia social não podem ser responsabilizadas pelos danos decorrentes de postagens dos usuários

 

Por Pablo Ortellado

O seminário na Fundação Getulio Vargas (FGV) reuniu ministros do Supremo, o ministro da Justiça e o presidente da Câmara para discutir a regulação das mídias sociais. O evento consolidou entre as elites políticas o consenso de que o atual regime de responsabilização das plataformas por conteúdos publicados pelos usuários está obsoleto e deve ser substituído em breve. Se isso se confirmar, será a mais importante mudança no regime de regulação das mídias sociais desde a aprovação do Marco Civil da Internet.

O ponto mais discutido das intervenções foi o artigo 19 do Marco Civil da Internet. Esse artigo estabelece que plataformas de mídia social como o Facebook não podem ser responsabilizadas pelos danos decorrentes de postagens dos usuários. Isso significa que se um usuário do Twitter atacar a honra de alguém, a responsabilidade por essa postagem será do usuário e não da plataforma.

Desde que foi concebido, em 2014, esse regime foi sendo relativizado para certos tipos de conteúdos — aqueles que violam direitos autorais e aqueles que contêm nudez não consentida (revenge porn). O que as lideranças dos três Poderes sinalizam agora é que esse regime deve ser definitivamente enterrado.

Embora não sejam obrigadas a retirar conteúdos ilegais (a não ser por ordem judicial), as plataformas se autorregulam moderando postagens, isto é, apagando e restringindo o alcance de conteúdos de usuários que violam regras das suas comunidades.

Depois do 8 de janeiro, porém, se formou um consenso que essa autorregulação é insuficiente. O novo modelo que será proposto pelo governo federal — e que deve ser incorporado pelo Legislativo e respaldado pelo Judiciário — é que essa autorregulação seja por sua vez regulada, numa forma híbrida conhecida como “autorregulação regulada”.

Neste modelo, a lei estabelece parâmetros para certos tipos de conteúdos — o ministro Flávio Dino (Justiça) mencionou os casos dos discursos de ódio, ataques à democracia, terrorismo e proteção à infância — e as empresas passariam a ter a obrigação de agir para moderar esses conteúdos. Essas ações das plataformas seriam documentadas em relatórios de transparência, e uma autoridade regulatória avaliaria o seu alcance, podendo impor sanções se forem consideradas insuficientes.

Essa forma de regulação indireta está sendo implementada em toda a Europa, o que deve diminuir resistências. Apesar disso, é quase certo que para enfrentar esse novo modelo veremos a formação de uma aliança inusitada entre as plataformas que não querem esse tipo de regulação, bolsonaristas que temem ser “censurados” e ONGs que não aceitam o fim do artigo 19 do Marco Civil. Fonte: https://oglobo.globo.com