Indicadores acenderam alerta de autoridades para o avanço da criminalidade em uma das regiões mais prósperas do estado e do agronegócio no país

 

 

Cidade de Luís Eduardo Magalhães fica a 954 km da capital Salvador - Prefeitura de Luís Eduardo Magalhães no facebook

 

João Pedro Pitombo

SALVADOR

Principal polo agropecuário do oeste da Bahia, Luís Eduardo Magalhães (954 km de Salvador) registrou um pico de mortes violentas intencionais em 2022, com taxa de 56,5 assassinatos a cada 100 mil habitantes. Foram 61 mortes violentas, sendo 19 delas resultado de ações policiais.

Esses dados fizeram da cidade baiana a 18ª com maior proporção de mortes violentas do país, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Os indicadores acenderam o alerta das autoridades para o avanço da criminalidade em uma das regiões mais prósperas do estado e de papel primordial para o agronegócio brasileiro.

Com 107 mil habitantes, Luís Eduardo Magalhães é cortada por duas rodovias federais que ligam a Bahia com as regiões Centro-Oeste e Norte do país, localização considerada estratégica para a atuação de facções criminosas.

O agronegócio fez da cidade uma espécie de eldorado, com uma população que flutua no período de plantio e colheita das safras de soja, milho e algodão. A renda gerada pela produção agrícola se tornou um chamariz para criminosos, que viram na cidade um mercado em franco crescimento.

"É uma cidade rica, que vem se desenvolvendo, e por isso tem uma população flutuante. Mas não há uma sensação de insegurança. De certa forma, a criminalidade está controlada", afirmou o delegado Thiago Folgueira, coordenador da Polícia Civil no oeste baiano.

O comércio ilegal de drogas em Luís Eduardo é dominado da facção BDM (Bonde do Maluco), uma das maiores da Bahia. Nos últimos anos, a cidade foi uma das áreas de atuação do traficante Ednaldo Freire Ferreira, o Dadá, apontado como fundador e um dos principais líderes do BDM.

 

O traficante ganhou notoriedade em outubro, quando teve a prisão preventiva transformada em domiciliar pelo desembargador Luiz Fernando Lima, do TJ (Tribunal de Justiça) da Bahia. Dadá está foragido e o magistrado foi afastado por meio de uma decisão do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

A prevalência de uma única facção faz com que a dinâmica das mortes violentas esteja mais ligada à compra e venda de entorpecentes. Não há uma disputa entre grupos criminosos pelos pontos de droga, diferentemente do que ocorre em Sorriso, município mais rico do agronegócio brasileiro.

Presidente do Conselho de Segurança de Luís Eduardo Magalhães, Heliton Bettes minimiza o número de mortes violentas e diz que os indicadores não se refletem no cotidiano da cidade.

"A maioria das mortes são acertos dos bandidos entre eles mesmos. São muito raros os casos de latrocínio e assaltos à mão armada contra pessoas de bem."

No ano passado, foi registrado apenas um latrocínio (quando há roubo e a vítima é morta) na cidade. Mas dados da Secretaria de Segurança Pública mostram crescimento dos crimes contra o patrimônio. O número de furtos de veículos, por exemplo, era 25 em 2021, subiu para 70 casos no ano seguinte e já chegou a 76 no período entre janeiro e agosto deste ano.

O policiamento ostensivo é feito pela Polícia Militar e pela Guarda Municipal, que assumiu parte do trabalho de rondas. O secretário municipal de Segurança Pública, João Paulo Alves, diz que a parceria com a PM tem dado resultados, com a redução dos indicadores de violência ao longo do último ano.

Na zona rural, as maiores fazendas possuem videomonitoramento e segurança privada. Entidades também firmaram convênios com o governo para custear reparos em viaturas e combustível para a polícia.

"A maioria dos produtores se organizam em grupos e, quando dá algum problema em qualquer fazenda, um ajuda o outro. Mas é raro isso acontecer", afirmou Jaime Cappellesso, vice-presidente do sindicato rural da cidade. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Lucas Kariri-Sapuyá, cacique de uma aldeia Pataxó Hã-Hã-Hãe, foi assassinado com tiros em Itaju do Colônia (BA); governador promete apuração rigorosa

 

 

Lucas Kariri-Sapuyá, cacique de uma aldeia Pataxó Hã-Hã-Hãe, foi assassinado com tiros em Itaju do Colônia (BA) - Reprodução Instagram

 

João Pedro Pitombo

SALVADOR

O líder indígena Lucas Santos de Oliveira, o Lucas Kariri-Sapuyá, 31, foi assassinado com tiros nesta quinta-feira (21) em Itaju do Colônia, município do sul da Bahia a 406 km de Salvador.

Ele estava em uma motocicleta em uma localidade conhecida como estrada Pau Brasil, nas proximidades da Terra Indígena Caramuru-Paraguassu. De acordo com a Polícia Civil, ele foi atingido por tiros disparados por dois homens, que estavam em outra moto na mesma estrada.

A Polícia Militar informou que foi acionada na tarde de quinta-feira, mas Lucas já estava sem vida quando os soldados chegaram ao local. A área foi isolada para realização de perícia.

Lucas era cacique de uma aldeia Pataxó Hã-Hã-Hãe, um dos coordenadores do Mupoiba (Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia) e agente de saúde (no Distrito Sanitário Especial Indígena da Bahia.

Também fazia parte do conselho estadual dos Direitos dos Povos Indígenas da Bahia e filiado ao partido Rede Sustentabilidade. Ele deixa esposa e três filhos.

A Terra Indígena Caramuru-Paraguassu, que fica entre os municípios de Itaju do Colônia, Pau Brasil e Camacan, possui 54 mil hectares e abriga cerca de 2.800 pessoas. O território tem um longo histórico de conflitos fundiários envolvendo fazendeiros e indígenas.

Nos anos 1970, o governo da Bahia concedeu títulos de propriedade de terras para fazendeiros em áreas dentro da terra indígenas. Nas décadas seguintes, os indígenas se organizaram e iniciaram uma série de ações chamadas de "retomadas" e "autodemarcações", com a expulsão dos produtores rurais.

Em 2012, o Supremo Tribunal Federal julgou parcialmente procedente uma ação que discutia a anulação dos títulos de propriedade em terras localizadas na área da reserva indígena. A Funai (Fundação Nacional do Índio), autora da ação, alegou que a área já era ocupada pelos índios pataxó-hã-hã-hãe quando o governo titulou as terras.

Mesmo com a decisão em favor dos indígenas, o clima de tensão permaneceu na região nos últimos anos, incluindo casos de ameaças, mortes e a ação de milícias rurais.

Em nota divulgada nesta sexta-feira (22), a Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) manifestou "pesar e indignação" diante do assassinato do Cacique Lucas. Também informou que vai acompanhar as investigações para identificar e responsabilizar os autores desse crime.

"Que a memória de Cacique Lucas seja honrada na contínua luta pela preservação dos direitos e da dignidade dos povos indígenas."

O governador Jerônimo Rodrigues (PT) também lamentou a morte do líder indígena, a quem classificou como um defensor dos povos indígenas, da natureza e dos direitos humanos: "Deixo meu abraço aos familiares e à comunidade, além do meu compromisso de que o caso está sendo investigado com rigor".

O secretário de Justiça e Direitos Humanos da Bahia, Felipe Freitas, disse que o governador determinou que as forças de segurança priorizem a proteção a povos tradicionais e que reforçará sua atuação "com vistas a rápida elucidação deste caso trágico."

O Movimento Unido dos Povos e Organizações da Bahia lamentou o assassinato do Cacique Lucas. Em nota, destacou que que ele era membro essencial da comunidade, dedicou a vida ao movimento indígena e deixou um legado de liderança: "Exigimos, com veemência, que a justiça seja feita."

A Bahia enfrenta uma a escalada de conflitos fundiários se agravou nos últimos anos e segue provocando mortes e tensão em territórios conflagrados.

Dados da Comissão Pastoral da Terra apontam que a Bahia registrou no ano passado 99 conflitos agrários em áreas que chegam a 275 mil hectares, onde moram cerca de 9.500 famílias.

Ao todo, 27 pessoas foram ameaçadas de morte devido aos conflitos e três foram assassinadas. Neste ano, foram registradas mais quatro mortes violentas de indígenas e quilombolas.

No trecho do litoral sul baiano conhecido como Costa do Descobrimento, que reúne oito cidades –sendo Porto Seguro, Eunápolis e Santa Cruz Cabrália as mais populosas–, a média de mortes violentas intencionais em 2022 foi de 57,7 por 100 mil habitantes. O índice é mais que o dobro da taxa nacional (23,3) e está acima da média da Bahia (47,1). Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Batida com carreta destrói frente de ônibus e deixa morto e feridos na BR-116, em MG;

Acidente aconteceu na madrugada desta quinta-feira (21), em Muriaé. Veículo seguia de São Paulo para Bahia com quase 60 passageiros.

 

Ônibus teve frente destruída após acidente com carreta na BR-116, em MG — Foto: Rádio Muriaé/Reprodução

 

Por g1 Zona da Mata e TV Integração — Muriaé

Veja como ficou ônibus e carreta que se envolveram em grave acidente na BR-116, em MG | Imagens: Paulo Vitor/Rádio Muriaé

Um grave acidente entre um ônibus de viagem e uma carreta deixou pelo menos 9 feridos e um morto na madrugada desta quinta-feira (21) na BR-116, em Muriaé, no interior de Minas Gerais. A vítima que morreu é o motorista do primeiro veículo, de 42 anos.

Segundo o Corpo de Bombeiros, o ônibus seguia de São Paulo para Vitória da Conquista (BA) com 57 passageiros, além do motorista e o auxiliar. Já na carreta, havia o motorista e um ajudante, que também ficou ferido.

A rodovia foi interditada totalmente no trecho do km 716, ainda sem previsão de liberação. Equipes do Samu, EcoRioMinas, polícias Civil e Rodoviária Federal estão no local. As causas do acidente serão apuradas.

g1 entrou em contato com a empresa Sereno Tur, responsável pelo ônibus, e aguarda retorno. Fonte: https://g1.globo.com

Cidade de SP teve 830 mortes no trânsito até novembro, maior número em 7 anos

Quatro em cada dez mortos são motociclistas; capital está na direção contrária do estado, segundo dados do Infosiga

 

 

Trânsito na avenida Paulista, na região central de SP; mortes de pedestres e motoristas na capital aumentaram - Karime Xavier 16.fev.2021/ Folhapress

 

Tulio Kruse

SÃO PAULO

A cidade de São Paulo teve um total de 830 mortes no trânsito de janeiro a novembro de 2023, o maior número para esse período em sete anos. Os dados são do Infosiga, sistema de monitoramento de acidentes do governo estadual.

Entre as vítimas, os motociclistas são o maior grupo: foram 354 mortos nas ruas e avenidas da capital em 11 meses, o que equivale a 42% do total. Porém, enquanto houve queda nas mortes de motoqueiros (foram 25 vítimas a menos em relação ao ano passado), ocorreu um aumento entre os pedestres e os motoristas de carro.

Isso significa que mais de duas pessoas morrem todos os dias nas ruas e avenidas da capital, em algum acidente envolvendo veículos.

O Infosiga também mostra que a cidade está na contramão da tendência estadual. Houve uma diminuição de 4,4% nas mortes no trânsito em todo o estado, em relação a 2022. Em 11 meses, um total de 4.852 pessoas morreram em acidentes de trânsito em São Paulo —o número considera tanto mortes em estradas quanto nas cidades.

Neste ano, a capital teve 299 pedestres mortos em acidentes até novembro, um aumento de quase 10% em relação ao mesmo período de 2022. As mortes de motoristas e passageiros de carro chegaram a 111, alta de 11% em um ano.

A última vez que a cidade teve um número tão alto de mortes no trânsito, num período de 11 meses, foi no ano de 2016.

Na capital, o aumento das mortes ocorre mesmo após o prefeito Ricardo Nunes (MDB) dizer que o tema é uma das prioridades da sua gestão. A prefeitura tem a meta de diminuir a taxa de mortalidade, de 6,5 para 4,5 mortes a cada 100 mil habitantes, até o fim do próximo ano.

A principal iniciativa nesta área é a implantação de faixas azuis que orientam a passagem de motos em algumas avenidas. O modelo é uma inovação local e não tem previsão no Código de Trânsito Brasileiro, mas tem sido testado com autorização do governo federal, tornando-se uma das principais vitrines da gestão Nunes.

A cidade hoje tem mais de 60 quilômetros de faixas azuis, e a meta é implantar um total de 200 quilômetros até o fim de 2024.

Horácio Augusto Figueira, especialista em trânsito e transporte público, critica duramente essa iniciativa, afirmando que a Prefeitura de São Paulo colocou a moto como veículo de emergência na cidade.

"Essa infeliz faixa azul só está incentivando o comportamento de que a moto, na visão da prefeitura, é um veículo de emergência. Mais emergência do que ambulância, bombeiro, resgate, Samu e polícia. Hoje a moto tem prioridade acima de todo mundo", dispara Figueira, citando várias infrações cometidas pelos motociclistas, como trafegarem em alta velocidade, passarem sinal vermelho e subirem na calçada.

"Era para andar devagar nessa faixa azul quando o trânsito estivesse lento, mas as motos passam voando, muito acima da velocidade da via. A prefeitura oficializou esse comportamento inseguro em cartório, com aprovação do Senatran, de que a moto não pode parar. O que criaram é uma aberração."

O especialista cita ainda que o maior número de óbitos em sinistros de trânsito na capital ocorre à noite e aos finais de semana, justamente quando não há fiscalização da CET nem da Polícia Militar.

"Só na cidade de Sâo Paulo, à noite e na madrugada foram 218 sinistros fatais só de moto. Se tem mais óbitos à noite e madrugada, tem de chegar com a polícia e mudar a escala. Tem de ir para a rua, porque aí vão inibir furto e roubo e diminuir o sinistro de trânsito", finalizou.

Questionada, a prefeitura informou que "vem implementando uma série de medidas com o intuito de reduzir o número de acidentes de trânsito, vítimas feridas e óbitos no município". A gestão municipal citou a criação de espaços para motociclistas à frente dos carros próximos a cruzamentos, o aumento no número de faixas de pedestres, a criação da faixa azul para motociclistas e a diminuição do limite de velocidade em 24 ruas e avenidas.

"Hoje, nenhuma rua do município, com exceção das Marginais, Av. do Estado e a Av. 23 de Maio, tem velocidade máxima permitida acima de 50 km/h", informou a prefeitura, por meio de nota. A administração municipal também mencionou que aumentou o tempo semafórico para travessia de pedestres, e aumentou a segurança viária em diversas áreas da cidade, inclusive as que concentram escolas e têm alunos que fazem o trajeto para casa a pé. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

O jornalismo está em crise. Trata-se de um fato global. É preciso ir às suas causas, enfrentar os dilemas e saber construir oportunidades

 

Por Carlos Alberto Di Franco

O cenário do consumo da informação preocupa. Exige reflexão, autocrítica e coragem. Todos, sem exceção, percebem que chegou para o jornalismo a hora da reinvenção. A transformação é uma questão de sobrevivência.

Editorial do jornal O Estado de S. Paulo comentou recente e alarmante pesquisa realizada pelo Pew Research Center que mostra queda no consumo de notícias e uma preocupante perda de credibilidade dos meios nos Estados Unidos.

Quando questionados sobre a frequência com que acompanhavam o noticiário, apenas 38% dos americanos adultos – a partir de uma base de 12.147 pessoas ouvidas pelo instituto em agosto do ano passado – responderam que se informavam “o tempo todo ou quase o tempo todo”. Em 2016, mais da metade dos americanos adultos (51%) dizia prestar atenção ao noticiário com essa mesma frequência.

Mas a pior corrosão atingiu a credibilidade. Em 2022, apenas 15% dos americanos adultos disseram acreditar “muito” que os veículos publicam notícias de forma justa e precisa. A confiança nos jornais locais é um pouco maior (17%), mas ainda sofrível. Em 2016, esses porcentuais de confiança absoluta eram de 18% e 22%, respectivamente. No ano passado, ainda de acordo com a pesquisa, 46% dos entrevistados disseram confiar “um pouco” nos veículos de alcance nacional, ante 54% que disseram o mesmo sobre a mídia local.

O jornalismo está em crise. Trata-se de um fato global. É preciso ir às suas causas, enfrentar os dilemas e saber construir oportunidades.

A sociedade está cansada do clima de militância que tomou conta da agenda pública. Sobra opinião e falta informação. Os leitores estão perdidos num cipoal de afirmações categóricas e pouco fundamentadas, declarações de “especialistas” e uma overdose de colunismo. Um denominador comum marca o achismo que invadiu o espaço outrora destinado à informação qualificada: radicalização e politização.

As notícias que realmente importam, isto é, as que são capazes de alterar os rumos de um país, são frutos não de boatos, contrabando opinativo na informação ou meias-verdades disseminadas de forma irresponsável ou ingênua, mas resultam de um trabalho investigativo feito dentro de padrões de qualidade, algo que deve estar na essência dos bons jornais. Aqui já temos um formidável horizonte de reinvenção.

Jornalismo independente reclama liberdade. Não temos dono. Nosso compromisso é com a verdade e com o leitor. O fenômeno da disrupção digital, da perda de domínio da narrativa e da desintermediação dos meios tradicionais teve precedentes que poderiam ter sido evitados, não fosse o distanciamento da imprensa dos seus consumidores, sua dificuldade de entender o alcance das novas formas de consumo digital da informação e, em alguns casos, sejamos claros, sua falta de isenção informativa e certa dose de intolerância. Aqui temos outro formidável horizonte de reinvenção: recuperar fortemente o jornalismo factual. Entregar, com empenho de isenção, a realidade nos fatos. Sem filtros ideológicos ou militância camuflada. As nossas preferências devem ser manifestadas no espaço opinativo.

Os consumidores, com razão, demonstram cansaço com o tom sombrio das nossas coberturas. É possível denunciar mazelas com um olhar propositivo. Pensemos, por exemplo, na ignominiosa situação da corrupção. É preciso reverter um quadro que agride a dignidade humana, envergonha o País e torna inviável o futuro de gerações inteiras. Não seria uma bela bandeira, uma excelente causa a ser abraçada pela imprensa?

Em vez de ficarmos reféns do diz-que-diz, do blá-blá-blá inconsistente, das intrigas e da espuma que brota nos corredores do poder, que não são rigorosamente notícia, mergulhemos de cabeça em pautas que, de fato, ajudem a construir um país que não pode continuar olhando pelo retrovisor. Sobra Brasília e falta Brasil real. Há excesso de declarações e falta apuração.

A violência, a corrupção, a incompetência e a mentira estão aí. E devem ser denunciadas. Não se trata, por óbvio, de esconder a realidade. Mas também é preciso dar o outro lado, o lado do bem. Não devemos ocultar as trevas. Mas temos o dever de mostra as luzes que teimam em brilhar no fim do túnel. A boa notícia também é informação. A análise objetiva e profunda, sem viés ideológico, é uma demanda forte dos consumidores.

Os desafios são imensos. As redes sociais tiraram dos meios tradicionais a antiga exclusividade da mediação do debate público. Cada vez mais pessoas têm procurado consumir apenas as notícias que vêm de fontes que confirmam suas crenças e percepções. Criam-se bolhas fechadas e impermeáveis à informação.

Precisamos olhar as nossas coberturas e nos questionarmos se há valor diferencial no que estamos entregando aos nossos consumidores. Precisamos desenvolver uma boa curadoria da informação.

O editorial do Estadão conclui com um diagnóstico certeiro: “O jornalismo profissional está passando por uma crise para a qual a solução há muito é conhecida: apego aos fatos e respeito ao público”. Simples assim. Trata-se de traduzir o conceito – claríssimo – em ações e processos.

Longa vida ao jornalismo de qualidade!

*JORNALISTA. E-MAIL: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.

Carlos Alberto Di Franco

O jornalista Carlos Alberto Di Franco escreve quinzenalmente na seção Espaço Aberto Veja mais sobre quem faz

Onde é feriado em 8 de dezembro? Veja lista de cidades

Data marca comemorações em homenagem à Nossa Senhora Imaculada Conceição

 

Por Rariane Costa

O feriado em celebração ao dia de Nossa Senhora Imaculada Conceição, santa da Igreja Católica, acontece nesta sexta-feira, 8 de dezembro. Marcado por atos e comemorações religiosas, várias cidades brasileiras decretaram feriado.

A data não faz parte do calendário de feriados nacionais, o que permite que o parecer sobre a adesão fique a cargo de Estados e municípios. Em maioria, cidades das regiões Norte e Nordeste irão celebrar a data. Enquanto grande parte das regiões Sul e Sudeste irá manter a sexta-feira como dia útil.

 

13 capitais irão dedicar o dia às comemorações. São elas:

Cuiabá (MT)

Aracaju (SE)

João Pessoa (PB)

Maceió (AL)

Recife (PE)

Salvador (BA)

São Luís (MA)

Teresina (PI)

Belém (PA)

Manaus (AM)

Belo Horizonte (MG)

Boa Vista (RR)

Macapá (AP) / ponto facultativo

 

No Estado de São Paulo, várias cidades importantes também decretaram feriado.

Campinas

São José do Rio Preto

Piracicaba

Presidente Prudente

Bragança Paulista

Franca

Franco da Rocha

Itanhaém

Jacareí

Jandira

Mogi Guaçu

Em municípios paulistas como Diadema, Guarulhos, Mauá e Votorantim, o feriado se dá pelo aniversário das cidades.

 

Veja outras cidades que decretaram feriado em celebração ao dia de Nossa Senhora Imaculada Conceição.

 

Rio de Janeiro

Angra dos Reis

Belford Roxo

Campo dos Goytacazes

Resende

Nilópolis

Rio das Ostras

 

Rio Grande do Sul

Santa Maria

Viamão

São Leopoldo

 

Minas Gerais

Contagem

Divinópolis

Sete Lagoas

Teófilo Otoni

 

Santa Catarina

Itajaí

 

Paraíba

Campina Grande

 

Pará

Abaetetuba

 

Ceará

Sobral

 

Espírito Santo

Serra

As comemorações e homenagens à Nossa Senhora da Imaculada Conceição têm raízes em 1854. Na ocasião, o papa Pio IX proclamou o dogma, ou seja, reconheceu oficialmente como verdade absoluta a concepção imaculada de Maria.

A proclamação do dogma afirma que Maria, mãe de Jesus, foi concebida sem o pecado original, uma crença que já era profundamente enraizada na devoção popular. A declaração papal consolidou a posição de Nossa Senhora da Imaculada Conceição como uma figura central na fé católica. Fonte: https://www.estadao.com.br

 

Grupos se reúnem para atacar suspeitos de crimes em Copacabana; polícia do Rio investiga

 

Suspeitos de crimes têm imagem e CPF divulgado em redes sociais. Vídeos mostram grupo andando em conjunto no bairro. Prática pode configurar crime e é alvo de apuração policial

Um grupo de moradores do bairro de Copacabana, na zona sul do Rio, tem se organizado para atacar pessoas suspeitas de cometerem crimes na região. Por redes sociais, circulam imagens de pessoas, incluindo adolescentes, apontadas como autoras de ocorrências na área acompanhadas de identificação por CPF e mensagens que sugerem espancamento e tortura. Vídeos chegam a mostrar a mobilização do grupo, andando em conjunto em ruas do bairro.

A ações denominadas de justiçamento se comprovadas podem caracterizar prática criminosa. A Polícia Civil do Rio informou que “tomou conhecimento da situação” envolvendo a mobilização de grupos de justiceiros. “Diligências estão em andamento para identificar os envolvidos e esclarecer os fatos.” A atuação desses grupos ocorre em um momento no qual o bairro se assusta com a reincidência de casos violentos, como assaltos.

Na noite de sábado, 2, um empresário foi agredido com socos e chutes na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, uma das principais do bairro, após tentar ajudar uma mulher que estava sendo assaltada. Imagens de câmeras de monitoramento mostram mais de dez suspeitos envolvidos na ação. O empresário chegou a desmaiar com os golpes e precisou ser levado a uma UPA da região.

A ação dos criminosos provocou uma onda de revolta e levou algumas pessoas a sugerir mais violência para combater os furtos e assaltos. Um perfil no Instagram está postando imagens de suspeitos, inclusive com seus números de CPF. Algumas das fotos são de menores de idade que, segundo a página, já cumpriram medidas socioeducativas pela prática de delitos.

Vídeos de pessoas que estariam atrás de acusados de cometer crimes na zona sul também circulam pelas redes sociais. “Olha, metendo o pau no menor lá. Já ‘engravataram’, pegaram o moleque aqui e meteram o pau. Estão indo atrás dos outros”, diz um homem que narra o vídeo de uma perseguição no bairro de Botafogo, vizinho à Copacabana.

A Secretaria de Estado de Polícia Militar disse que “convocações para agressões ou perturbação de ordem pública não são maneiras adequadas de resolver ações criminosas que vêm ocorrendo em Copacabana”. “É importante que a sociedade apoie, confie e colabore com as ações realizadas pelos órgãos de segurança pública, bem como de outros atores envolvidos.”

A PM disse ser “suma importância a atuação ativa de outros atores sociais e de órgãos públicos – municipal, estadual e federal”. “Informamos ainda que a SEPM continua atuando com policiamento reforçado, diuturnamente em Copacabana, trabalhando de forma integrada com as demais forças de segurança.”

 

Crime em alta no bairro

Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) apontam para crescimento nos índices de violência nos bairros de Copacabana e Leme, que ficam lado a lado. Entre janeiro e outubro deste ano, os roubos na região aumentaram 10,6%, passando de 1.113 casos para 1.231. O aumento nas ocorrências envolvendo celulares teve alta mais acentuada, de 33%, chegando a 433 registros no período.

Os furtos a pessoas na rua dispararam. Eles chegaram a 1.362, um crescimento de 36,7% em relação ao mesmo período do ano passado. Nos dez primeiros meses deste ano, 2.062 aparelhos celulares foram furtados nos dois bairros (26,9% a mais que em 2022), e os furtos praticados nos veículos de transporte coletivo chegaram a 192, um aumento de 32,4% em comparação ao ano passado. Fonte: https://www.estadao.com.br

 

Unidade da Braskem — Foto: Luke Sharrett/Bloomberg

 

Por 

Lauro Jardim

A venda da parte da Odebrecht (Novonor) na Braskem está em compasso de espera. O motivo não é o caos no bairro de Mutange, em Maceió, que já afundou 1,69cm desde a semana passada.

Há uma série de razões para o negócio estar travado.

Antes de mais nada, o presidente da Adnoc, Sultan Al Jaber, vem a ser também o presidente da COP 28 (uma condição que causa óbvio constrangimento, mas isso é outra história).

Assim, Jean Paul Prates, presidente da Petrobras, mesmo estando em Dubai não conseguiu ainda reunir-se com Al Jaber para conversar sobre a proposta não vinculante de R$ 10,5 bilhões que a Adnoc fez no mês passado pelo ativo. As negociações têm acontecido entre os dois há meses.

Nem a Odebrecht, nem os bancos credores e a própria Petrobras gostaram da oferta que, em resumo pode ser descrita assim: a Petrobras permaneceria como acionista, metade dos recursos seriam pagos à vista (e o restante em sete anos) e a Odebrecht permaneceria com uma fatia de 3% da empresa (hoje detém 38%).

A Petrobras avalia que esta oferta foi feita "antes da hora", segundo um diretor da estatal a par das negociações.

— Mas existem formas dela ser adaptada.

E a própria estatal tem trabalhado nesta modelagem. A Petrobras, aliás, está terminando somente agora o processo de due diligence feito em todas as unidades da Braskem mundo afora. A Adnoc vai ainda iniciar este processo.

Um outro integrante da direção da Petrobras afirma que as notícias, péssimas todas elas, que chegam de Maceió não são suficientes para gorar a transação com a Adnoc:

— Eles não estão assustados com essa situação. Estão acostumados a passivos ambientais em vários países em que atuam.

Paralelamente, a Petrobras trabalha ainda com alternativas à Adnoc, ainda que a estatal dos Emirados árabes seja a principal interessada. A saudita Aramco é uma dessas opções de negociação. Não é a única. Fonte: https://oglobo.globo.com

O que esperar das próximas eleições diante desta realidade? Com a IA permitindo manipular vídeos em nível sofisticadíssimo, o céu é o limite

 

Por Roberto Livianu

As antevisões do britânico Aldous Huxley em Admirável Mundo Novo, no âmbito da tecnologia, em combinação com a manipulação psicológica, propunham-se a desenhar a Londres de 2540. Mais de 90 anos depois, o mundo encontra-se em encruzilhada diante dos inúmeros desafios éticos apresentados pela tecnologia.

Ficamos encantados diante de seu poder, mas grandes poderes trazem consigo grandes responsabilidades. Poder deve ter limites em todas as esferas – poder sem limites é tirania.

O mundo digital é esfera existencial tão paralela à real que, para muitas pessoas, para comer um bife com salada é necessário postar no Instagram, pois a validação completa pressupõe publicação. E há os treinadores de coisa nenhuma, que se autodenominam coaches, sem formação superior, que pelo simples fato de terem milhões de seguidores levam pessoas a expor a risco sua saúde, em busca da felicidade. Podemos ir ao infinito nos exemplos. Sem esquecer o tráfico de drogas virtual e os processos de linchamento virtual, os cancelamentos – objeto do Projeto de Lei (PL) 1.873/23. Mas leis impondo penas criminais, pressupondo que o projeto seja aprovado, não são obviamente suficientes.

O que preocupa é a sensação que ainda prepondera de que o mundo da internet é terra sem lei. Os delinquentes violam a lei à luz do dia. Creem na impunidade em geral, mas têm uma certeza ainda maior da impunidade deste tipo específico de transgressão pela certeza de que não há leis nem aparato para os enquadrar.

Proliferam nas redes perfis sem nome nem sobrenome do titular, mas apenas sopas de letras e números, usando imagens aleatórias, com zero postagens, zero seguidores, evidenciando tratar-se de perfil fraudulento que não foi barrado na origem.

Mantêm-se ativos sem fiscalização pelas plataformas gigantes da tecnologia (Big Techs), cujo único interesse são as receitas bilionárias com anúncios, sem eficiência em coibir estes perfis nem a difusão de conteúdo de ódio ou violência, que circula impunemente e com desenvoltura cínica nas redes sociais.

Fazendo comentários gerando dano à imagem de empresas e de pessoas, estes perfis são um pequeno exemplo de fraude tecnológica, pois são milhares os expedientes que partem da mentira e da má-fé e ficam impunes, diante da inércia indevidamente complacente das plataformas.

Durante a pandemia, a propósito, mais de 120 nações celebraram um pacto mundial contra a difusão de fake news para proteger a saúde pública em nível mundial. As principais forças democráticas do mundo o assinaram, mas infelizmente o Brasil se recusou a subscrever o documento, juntando-se a Cuba e à Coreia do Norte de Kim Jong-un.

A inteligência artificial é o mais novo capítulo deste processo histórico que começa a se descortinar e traz novas e graves preocupações para o mundo. Como decifrar, como lidar, como extrair os melhores benefícios de forma ética e humana? Como compatibilizar inteligência artificial com ESG? A inteligência artificial é sustentável?

Em relação à nossa difícil realidade tupiniquim, estamos a dez meses das eleições municipais, num país que ostenta hoje o maior fundo eleitoral do planeta (R$ 4,7 bilhões), mesmo diante de nossa gigante desigualdade social e tendo metade da população sem acesso a saneamento básico.

O que esperar destas eleições, diante desta nova realidade, em que está disponível a inteligência artificial, com alto potencial de engodo para o eleitor, na perspectiva de que nossa Justiça Eleitoral dispõe de um aparelhamento fiscalizatório extremamente modesto?

Recentemente, uma foto do papa Francisco usando uma jaqueta puffer branca varreu o mundo. Era falsa, fruto de montagem com inteligência artificial, mas muitas pessoas no mundo acreditaram que a cena tivesse ocorrido, tamanho o grau de realismo da imagem.

O que poderá acontecer nestas eleições municipais, num país com tamanhas disparidades, com tamanha desinformação e déficit de educação? Tendo em vista que a inteligência artificial permite a edição de vídeos em nível sofisticadíssimo – com manipulação de voz, fazendo crer que quem aparece nas imagens é A ou B –, o céu é o limite.

Estou me referindo aqui às eleições municipais de 2024, mas o que podemos pensar em relação às eleições de 2026 para a escolha de presidente da República, governadores, senadores e deputados federais e estaduais? Como lidar com a realidade do crime organizado fazendo uso em escala industrial destas ferramentas de inteligência artificial para a prática de crimes?

Mas a mais recente novidade na arena política é uma movimentação no Congresso, na Comissão do Orçamento, no sentido de transferir recursos do desaparelhado sistema da Justiça Eleitoral para o Fundo Eleitoral – verdadeiro escândalo, aberração que nem pode ser definida em palavras.

A inteligência artificial é uma conquista da humanidade, mas precisa ser decifrada e muito bem regulada, sob pena de uso criminoso e altamente lesivo à sociedade. Além disso, o respeito irrestrito à vontade do eleitor é elemento nuclear da democracia, e é inadmissível qualquer forma de engodo, assim como o enfraquecimento astucioso do sistema de Justiça Eleitoral, sob pena de inviabilizarmos irreparavelmente o Estado Democrático de Direito no Brasil.

* PROCURADOR DE JUSTIÇA NO MPSP, DOUTOR EM DIREITO PELA USP, ESCRITOR, PROFESSOR, PALESTRANTE, É IDEALIZADOR E PRESIDENTE DO INSTITUTO ‘NÃO ACEITO CORRUPÇÃO’ Fonte: https://www.estadao.com.br

Humorista com mais de 2 milhões de seguidores estava com mulher na praia de Itacimirim quando foi abordado por dois homens armados. Polícia Civil investiga caso.

 

Influenciador Franklin Reis é obrigado a fazer transferências bancárias após ser sequestrado — Foto: Reprodução/Redes Sociais 

Por g1 BA

O influenciador Franklin Reis, que tem mais de 2 milhões de seguidores nas redes sociais, foi obrigado a fazer transferências bancárias para criminosos após ser sequestrado na praia de Itacimirim, na cidade de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador.

Segundo a Polícia Civil, Franklin Reis estava na praia com uma mulher na quarta-feira (29). Os dois foram abordados por dois homens armados quando entraram no carro.

As vítimas foram deixadas na Estrada das Cascalheira, em Camaçari, após receberem as ameaças. O caso foi registrado como extorsão mediante sequestro na 18ª Delegacia Territorial (DT), que fica no município.

A Polícia Civil informou que imagens de câmeras de segurança estão sendo recolhidas para ajudar na identificação dos suspeitos.

A produção da TV Bahia tenta contato com a assessoria do humorista para saber detalhes sobre o caso, mas não obteve resposta. O influenciador não falou sobre o sequestro nas redes sociais.

Nascido e criado na periferia de Salvador, Franklin Reis ficou famoso com conteúdos humorísticos. Com os personagens Neka e Abias, o influenciador conquistou milhões de seguidores em suas redes sociais. Fonte: https://g1.globo.com

 

Sudão, violência em Darfur: a Igreja na linha de frente entre aqueles que sofrem

No Sudão devastado pela guerra, foram relatados massacres na região de Darfur, uma região onde o confronto entre o exército regular e as milícias rebeldes das Forças de Apoio Rápido (RSF) é particularmente sangrento. Entretanto, a Igreja permanece ao lado da população sofredora e dos mais de cinco milhões de pessoas deslocadas internamente que fugiram para cidades onde não há combates. Um missionário em Porto Sudão: somos uma referência espiritual e humanitária.

 

Marco Guerra – Vatican News

No Sudão, a guerra que dura desde 15 de abril último não dá sinais de diminuir. A enfrentarem-se são ainda, de um lado, o exército regular liderado pelo general Abdel Fattah Burhan, e do outro, as milícias das Forças de Apoio Rápido (RSF), comandadas pelo general Mohammed Hamdan Dagalo, conhecido como Hemedti. As duas facções militares lutam agora pelo controle do país, mas em 2021 eram aliadas durante o golpe que levou à interrupção do processo de transição democrática. Os dois líderes não quiseram entregar o poder aos civis e não conseguiram criar um exército unificado.

 

Horrores em Darfur

Os combates são particularmente sangrentos na capital Cartum e na região ocidental de Darfur, onde as milícias de Apoio Rápido assumiram o controlo de diversas áreas. Até agora, a violência causou mais de 10 mil mortes, mais de cinco milhões de pessoas deslocadas internamente e cerca de 1,3 milhões de pessoas que fugiram para estados vizinhos como o Chade, Egito, Sudão do Sul, Etiópia e a República Centro-Africana. Testemunhas contaram à Amnistia Internacional sobre um dos últimos ataques em Darfur. As milícias árabes aliadas às FSF cometeram “horrores inimagináveis” na zona de Ardamata, no oeste de Darfur, onde existe um campo para refugiados internos. Ainda de acordo com testemunhos recolhidos pela Amnistia, homens, mulheres e crianças foram mortos nas suas casas ou na rua enquanto tentavam fugir e no dia 6 de novembro foram encontrados 95 corpos, incluindo o de um bebé recém-nascido.

 

Um missionário italiano: campos de batalha de Cartum e Darfur

Nestes oito meses de guerra, a Igreja local e as missões também sofreram danos e muitas restrições. Muitos religiosos e religiosas foram forçados a abandonar paróquias, mosteiros, escolas católicas e locais de culto de todos os tipos por razões de segurança. A maioria deles mudou-se para as cidades onde os refugiados se aglomeraram para proporcionar proximidade espiritual e apoio humanitário aos necessitados. Entre estes há também um missionário italiano contatado pela Rádio Vaticano – Vatican News, por telefone, em Porto Sudão, uma cidade portuária no Mar Vermelho. “Fugi de Cartum há 7 meses para me refugiar como milhares de outras pessoas. Escapamos de uma verdadeira situação de guerra, na capital houve bombardeios, tiros e aviões circulando acima de nossas cabeças. Uma situação insustentável." Segundo o sacerdote, que fala sob condição de anonimato por razões de segurança, a capital e Darfur transformaram-se em campos de batalha mas esta guerra passou a ser de segunda categoria apesar de ter causado o maior número de refugiados internos do mundo. “Outras guerras que estão sempre nos jornais – sublinha – não contam números tão elevados e uma crise alimentar tão grave, a vida humana no Sudão não vale menos, não esqueçamos este país”, disse.

 

Pessoas deslocadas acampadas em escolas

Porto Sudão é uma das principais cidades onde as pessoas encontraram refúgio, muitas, explica o missionário, são acolhidas por familiares, “todas as famílias da nossa paróquia acolhem familiares deslocados, as casas estão lotadas”. “Aqueles que não têm ninguém – continua – encontraram lugar nas escolas e isso criou ainda mais dificuldades, o fato é que o ano letivo foi encerrado em abril passado e nunca foi reaberto, milhões de crianças estão sem escola e a superlotação em muitas cidades tornou-se insustentável." A tudo isto soma-se um sistema de saúde em crise e casos de cólera nas zonas onde se concentram os refugiados. O religioso italiano focaliza-se então na condição da minoria cristã: “os cristãos acolhidos em muitos casos já eram refugiados, mesmo antes, porque a maioria deles são sul-sudaneses ou originários das montanhas Nuba (região do sul do Sudão, ed.), áreas onde as guerras ocorreram nos últimos anos, portanto, "eles estavam no Sudão como refugiados antes e estão ainda mais agora". Muitos estão em Porto Sudão para irem ao Egito, outros vão para sul para chegar ao Sudão do Sul. “Somos testemunhas de pessoas que vão de guerra em guerra e não têm onde ficar.”

 

A Igreja continua a ser um ponto de referência para muitas pessoas deslocadas

Apesar da guerra, a Igreja continua a realizar ações pastorais e humanitárias. Muitos membros do clero tiveram que abandonar as suas áreas de competência, “mas continuamos a operar como podemos”, afirma o missionário. “As celebrações e a catequese continuam – acrescenta – e as pessoas são ajudadas a se deslocar para áreas mais seguras e recebem alimentos e necessidades básicas”. “Observamos entre essas pessoas um grande apego à Igreja – destaca o religioso –, para eles a Igreja foi e continua sendo um ponto de referência, há uma grande necessidade do Evangelho e do acesso aos sacramentos”. “Essas pessoas precisam ouvir uma palavra de esperança que não encontrarão em outro lugar.”

Os fiéis lideram orações em zonas de guerra

Finalmente, o religioso italiano oferece outro testemunho do drama vivido em primeira mão: “A igreja onde eu estava em Cartum foi atingida, a sacristia foi destruída pelo fogo, foi a força motriz que nos fez mudar para outro lugar”. O missionário fala de muitas outras áreas do Sudão das quais os sacerdotes tiveram que fugir porque foram atacados. “As estruturas religiosas foram atingidas como muitas outras estruturas civis”, ninguém está seguro. Em Darfur a minoria cristã é ainda menor e o religioso está em contato com pessoas que relatam como é difícil sair dessas áreas. A Igreja tenta manter presença em todos os lugares “mas dizem-nos que onde não foi possível, os fiéis e os catequistas conduzem uma oração comum e uma liturgia da palavra”. O missionário conclui com a esperança de que os meios de comunicação coloquem mais uma vez a atenção no Sudão “porque estou convencido de que desta forma a comunidade internacional seria levada a agir” e pede as orações dos cristãos por esta terra atormentada. Fonte: https://www.vaticannews.va

Cabe a todos nós, como sociedade, proteger os cérebros e mentes destes quase 50 milhões de brasileiros, a maior riqueza natural do País

 

Por Christian Kieling e Tabata Amaral

Hoje, o nosso país conta com o maior contingente de jovens de sua história, e é preocupante que justo neste momento vejamos uma crise crescente de saúde mental nesta população. Esse fenômeno multifacetado não pode ser dissociado de um contexto em que as mídias sociais vêm ganhando destaque como potenciais gatilhos para problemas de saúde mental. Recentemente, a maior autoridade de saúde pública dos EUA emitiu um alerta sobre o potencial impacto negativo de tais tecnologias, iniciativa antes reservada para questões como tabagismo e obesidade.

Nos últimos anos, as mídias sociais se tornaram uma presença constante na vida dos jovens, oferecendo tanto benefícios quanto desafios. Paralelamente a isso, pesquisas realizadas no Brasil e em todo o mundo convergem para apontar que estamos vivenciando um agravamento dos indicadores de saúde mental entre adolescentes – uma tendência observada mesmo antes da pandemia. Preocupações sobre o impacto da tecnologia na juventude não são novas: televisão e videogames foram frequentemente alvos de escrutínio nas últimas décadas.

Neste debate, é importante considerar que a velocidade da inovação tecnológica é maior do que a velocidade das pesquisas que avaliam seus impactos. Por exemplo, o que no início eram redes sociais, ferramentas que tinham como objetivo central permitir a conexão com outras pessoas do círculo social de cada um, nos últimos anos se transfigurou em mídias sociais, nas quais um fluxo contínuo de textos, imagens e vídeos é filtrado através de algoritmos buscando otimizar métricas preestabelecidas, em geral com objetivos predominantemente comerciais.

Uma boa parte dos estudos realizados até o momento ainda avalia o tempo de uso de telas em geral (e não apenas mídias sociais) e baseia-se apenas em quantidades relatadas pelo jovem ou por seus pais (sem qualquer tipo de medida objetiva). Além disso, uma correlação não necessariamente implica causalidade: há estudos, inclusive, sugerindo que adolescentes com transtornos mentais podem acabar usando mais frequentemente as mídias sociais.

No entanto, o volume de evidências de que as mídias sociais podem ter efeitos nocivos para alguns jovens vem crescendo. Além da coincidência temporal entre o aumento de sintomas como ansiedade e depressão na população e a disseminação em larga escala do uso de mídias sociais há pouco mais de uma década, dados mais recentes indicam que aqueles que passam mais de três horas por dia em mídias sociais podem ter seu risco de apresentar algum problema de saúde mental duplicado.

Simultaneamente, é preciso reconhecer que essas mesmas ferramentas também podem ter efeitos positivos na saúde mental de alguns jovens: estudos indicam, por exemplo, que adolescentes LGBTQIA+ podem se beneficiar da conexão com pares através de redes sociais. O grande desafio, aqui, é que não existe uma solução única que atenda todos: uma grande proporção de jovens não apresentará problemas, mas isso não significa que devemos ignorar aqueles que podem ser afetados.

Em razão da complexidade do problema, como podemos abordar a questão do uso de mídias sociais por jovens? Uma proibição simples e irrestrita do uso de mídias sociais não parece ser desejável e muito menos viável – ainda que uma discussão sobre a idade mínima para seu uso faça bastante sentido.

Este é um problema que deve ser abordado dos mais diferentes ângulos. Precisamos de iniciativas que promovam a alfabetização digital entre adolescentes nas escolas. Pais e outros responsáveis devem buscar ter conversas francas com seus filhos, reconhecendo os aspectos positivos e negativos das mídias sociais e oferecendo orientação.

Não parece, contudo, adequado deixar essa responsabilidade exclusivamente na mão das famílias, tornando-se necessário o envolvimento de toda a sociedade. Entre os diversos atores, destaca-se a indispensável participação das empresas de tecnologia, cujas ações no sentido de priorizar a saúde e a segurança dos jovens ainda são tímidas – elas poderiam começar, por exemplo, trazendo mais transparência aos dados de suas mídias por jovens, de modo a fomentar a pesquisa e um maior entendimento acerca do tema.

Nesta questão do impacto das mídias sociais sobre a saúde mental dos jovens, é fundamental evitar cair em narrativas simplistas. Certamente, precisamos compreender melhor este complexo fenômeno, mas as lacunas no conhecimento atual não devem servir de justificativa para a inação.

O Brasil hoje tem o maior contingente populacional de jovens de todos os tempos, o que por modificações do perfil demográfico provavelmente nunca mais se repetirá, de modo que estamos diante de uma janela de oportunidade histórica, com repercussões para as próximas gerações. Cabe a todos nós proteger os cérebros e mentes destes quase 50 milhões de brasileiros, a maior riqueza natural de nosso país.

*SÃO, RESPECTIVAMENTE, PSIQUIATRA DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA, PROFESSOR DA UFRGS E MEMBRO DO COLETIVO DERRUBANDO MUROS; E DEPUTADA FEDERAL (PSB-SP), CIENTISTA POLÍTICA, ASTROFÍSICA, FUNDADORA DO ‘VAMOS JUNTAS’, COFUNDADORA DOS MOVIMENTOS ‘MAPA EDUCAÇÃO’ E ‘ACREDITO’, FAZ PARTE DO COLETIVO DERRUBANDO MUROS. Fonte: https://www.estadao.com.br

O pogrom de outubro e a tragédia de Gaza evidenciam que, no caso destes dois grandes povos, só fanáticos ainda creem haver terra a tomar e guerra a vencer

 

Por Luiz Sérgio Henriques

Nada pior para um conflito como o que ora transcorre em Israel e em Gaza, carregado de dimensões simbólicas milenares, do que ser capturado pela lógica pedestre das guerras de cultura, tão raivosas quanto superficiais. Israel nelas aparece, monoliticamente, como o representante do imperialismo ocidental, um apêndice estranho e indesejado na região, contra quem toda e qualquer revolta se justifica, mesmo quando, como em 7 de outubro, pisoteia valores mínimos da civilização e reacende temores ancestrais de perseguição e aniquilamento. Pela mesma lógica, inversamente, o Hamas identifica-se com todo um povo e surge como protagonista de um tardio combate anticolonial, em torno do qual devem se juntar automaticamente os condenados da Terra.

Postas assim as coisas, cada um de nós não tem muito mais a fazer senão se afundar nas respectivas câmaras de eco e repetir indefinidamente as próprias verdades até que um dia, quem sabe, sobrevenha o cansaço e reapareça a necessidade de buscar alguma outra “causa justa”. Perdem-se nuances, omitem-se elementos significativos de um complexo consenso em construção, inclusive nos círculos dirigentes do Ocidente.

Por aqui, aliás, há bons sinais. Certamente, tarda uma decidida ação de paz pelos Estados Unidos, a potência capaz de conter ou influenciar Israel e, ao mesmo tempo, dialogar com o mundo árabe, suas ruas expressivas e seus dirigentes mais sensatos. No entanto, neste momento de trevas, tem sido animador ver o amadurecimento definitivo da ideia dos dois Estados, alicerçada não só numa necessária visão pragmática, como também no reconhecimento formal do direito à terra tanto por judeus quanto por palestinos.

Tem mais de um grão de verdade a proposição do presidente Biden segundo a qual, neste “ponto de inflexão da História”, há um contraponto entre democracias e autocracias. Trata-se, porém, de uma verdade parcial, provisória, até pelo fato de que, como o próprio Biden sabe em primeiríssima mão, as democracias permanecem assediadas internamente por atores disruptivos com capacidade para produzir fissuras em consolidadas tradições constitucionais. E, por ironia, nem mesmo a democracia israelense está livre deste assédio. Um político como Benjamin Netanyahu, não por acaso, é fator interno de restrição das liberdades e fator externo de guerras e invasões, ainda que nesta última circunstância tenha os extremistas palestinos como sócios dedicados.

De fato, com algumas exceções, como perto de nós a Venezuela, têm vindo da extrema direita global as ameaças mais graves aos regimes democrático-constitucionais que costumávamos considerar quase um fato da natureza. O culto do homem forte e providencial ressurgiu como a novidade em reação à globalização dos mercados feita de modo veloz e anárquico em algumas poucas décadas. O rótulo “nacional-populismo” define bem a situação recentemente criada: nativismo ideológico, fechamento de fronteiras econômicas, proteção real ou meramente demagógica aos trabalhadores locais, em troca de concentração de poder e asfixia dos pesos e contrapesos de uma democracia cada vez mais difícil.

Netanyahu é a manifestação israelense deste movimento reacionário global. Antes de 7 de outubro, havia um número impressionante de cidadãos nas ruas e praças de Israel, em manifestações que perduraram por meses a fio em defesa do Poder Judiciário. Por certo, a esquerda em sentido estrito, minoritária desde que a perspectiva de paz se enfraquecera, não tinha o controle dos protestos, dominados por preocupações com o destino de uma instituição absolutamente decisiva. E neles não estavam os árabes israelenses. Não importa muito, brotava ali o germe da renovação e da esperança, o repúdio de massas contra o autocrata em formação. Este germe e este repúdio se viram paralisados com o conflito, que, neste preciso sentido, responde ao nacionalismo agressivo de Netanyahu e seus aliados de extrema direita, particularmente os que representam a ocupação ilegal na Cisjordânia.

Guerras cumprem a função clássica de unir momentaneamente a população em torno da salvação nacional e de abafar o normal dissenso democrático que, de outro modo, se desenvolveria e teria o potencial de dar bons frutos. Na espessa névoa que logo produzem, prevalecem profissões de fé e alinhamentos pavlovianos, como se Israel só tivesse amigos à direita, a Palestina à esquerda. E como se um país inteiro se reduzisse à guerra ao terror e o outro, em formação, limitasse suas formas de luta e resistência a explosões bárbaras.

O caminho da paz, surpreendente e imprevisível, é um daqueles que só se fazem ao caminhar – e a História está mais cheia deles do que parece. Como muitos autores têm lembrado, a Guerra do Yom Kippur, em 1973, levaria ao acordo entre Begin e Al Sadat; e à Intifada de 1987 se seguiriam os Acordos de Oslo entre Rabin e Arafat. O pogrom de outubro e a tragédia cotidiana de Gaza escancaram a evidência de que, no caso destes dois grandes povos, só fanáticos ainda acreditam haver terra a tomar e guerra a vencer.

*TRADUTOR E ENSAÍSTA, É UM DOS ORGANIZADORES DAS OBRAS DE GRAMSCI NO BRASIL

Páginas bolsonaristas pediram boicote ao filme devido ao apoio do ator à esquerda e ao governo Lula. Lázaro reflete sobre polarização, mas diz que filme é trabalho coletivo: ‘Nunca foi, não é e nunca será sobre mim’

 

'Ó Paí, Ó nunca foi, não é e nunca será sobre mim', diz Lázaro Ramos, que estreia sequência do filme Foto: H2O Films/Divulgação

 

Por Matheus Mans

Na primeira cena de Ó Paí, Ó 2, estreia desta quinta-feira, 23, Roque (Lázaro Ramos) quebra a quarta parede. O protagonista olha diretamente nos olhos do espectador e faz uma declaração: nos 15 anos que se passaram desde o primeiro filme, as coisas mudaram na Bahia. “O Pelourinho tá igual o Brasil: rachado no meio e o povo caído no buraco”, diz. A declaração não chega à toa, mas em um momento que o próprio Lázaro divide opiniões.

Afinal, nos últimos meses, páginas de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) propuseram um boicote ao novo filme por causa das posições ideológicas à esquerda do ator. É a tal polarização que, claro, atinge o coração da Bahia. Isso afeta Lázaro? Ele mesmo responde.

“Tô gravando novela, com agenda cheia”, diz aos risos ao Estadão. “Eu reflito muito, mas minha função é continuar trabalhando, sendo ético e correto, oferecendo o meu melhor como contador de histórias e ativista, compreendendo que os processos não são sobre mim. Ó Paí, Ó nunca foi, não é e nunca será sobre mim. É um grupo de artistas que conta essa história”.

 

Um filme ligado com o Brasil atual

No primeiro filme, assim como na série que originou a produção para a tela grande, sempre foi possível perceber a conexão com o mundo do agora. Há 15 anos, por exemplo, Ó Pai, Ó estava discutindo os caminhos do dinheiro, a presença da religião na vida das pessoas e como o novo mundo globalizado estava chegando ao Pelourinho.

Agora, na nova história, as coisas são diferentes. Há a polarização citada, assim como a tecnologia e, na subtrama mais interessante, uma personagem que sofre com a violência. Ó Paí, Ó 2, assim, é tão conectado com o Brasil que está ali fora que não só comenta sobre os assuntos do momento, como também vira tema das conversas - e, é claro, dos boicotes.

O filme começa quando a população do Pelourinho descobre que Neusão (vivida genialmente por Tânia Tôko) perdeu seu bar em um golpe imobiliário. Agora, quem toca o negócio é um coreano dali. Assim, o grupo decide se mobilizar para salvar o bar de Neusão enquanto Roque, é claro, vive a sina de tentar ser um artista de axé em um País que parece não ter ouvidos e muito menos espaço para ele.

 

As dores e maravilhas do retorno

Lázaro, porém, conta que nem tudo foi tranquilo em seu retorno ao personagem de Roque. Ele diz que nem pensou duas vezes antes de aceitar o convite – segundo ele, faz qualquer coisa que o Bando [de Teatro Olodum] sugerir, inclusive um possível Ó Paí, Ó 3. No entanto, assim que começaram os preparativos pra viver novamente o aspirante a músico, veio a preocupação.

“São várias camadas. Primeiramente, vem o desafio físico de dançar e cantar daquele jeito. O joelho não é mais o mesmo”, diz Lázaro. “Tem o desafio emocional também de ficar perto dos artistas do Bando. É algo que ainda mexe comigo. Ainda hoje fico nervoso. Eles são meus primeiros ídolos. Eu queria ser eles. Era minha maior referência. Por isso, eu fico com medo de não dar conta, de não ter a mesma agilidade cênica, a mesma inteligência cênica. Mas, no fim, é uma oportunidade de fazer uma sequência de algo que já foi uma série, que já virou filme e também já foi pro teatro. O desafio virou oportunidade”.

Se Lázaro ficou nervoso, dá pra imaginar a diretora Viviane Ferreira. Este é apenas o segundo longa da cineasta, que já mostrou uma habilidade muito acima da média com seu longa de estreia, o belíssimo Um Dia com Jerusa. Ela teve uma tremedeira logo de cara.

“Ser chamada para o time titular para um grupo do qual você é fã e que contribuiu para a sua formação não é simples”, afirma Viviane, também em entrevista ao Estadão. Com isso, ela acabou fazendo uma direção afetiva, com trocas com o Bando para que todos fiquem à vontade com a “polifonia de histórias” que é Ó Paí, Ó 2.

“Não tive medo, mas tive respeito. É respeito que a gente sente para um trabalho que é realizado em sequência desde 1992. Ó Paí, Ó nasceu como narrativa de sucesso. As pessoas que vão se somando trazem muito respeito para a criação do Bando”, comenta a cineasta.

 

Um filme sobre todos

Com isso, pode-se dizer que 15 anos depois, muita coisa mudou e o filme acompanhou isso, mas sem perder a essência. Ó Paí, Ó 2 ainda é, em seu coração, um filme de coletivos – feito por um dos grupos mais importantes do País, o Bando de Teatro Olodum.

“O Brasil, depois de tudo que vivemos, também amadureceu. E, com isso, entendemos a importância das ferramentas do aquilombamento e a importância de vivermos em coletivo”, diz a diretora. “Nos afastamos durante a pandemia da experiência de vivermos juntos. Agora, a gente chega a 2023 compreendendo a ferramenta da coletividade como algo importante à nossa sobrevivência”.

Lázaro, por fim, ainda acrescenta uma observação essencial: é um filme sobre todos, mas também sobre cada um. “Neste segundo filme, há algo importante: é sobre coletividade, mas respeitando as individualidades”, explica. “As pessoas superam diferenças de religião e se agrupam em um objetivo comum. As pessoas se agrupam para entender que a nova geração tem linguagem e estratégias diferentes da geração mais antiga e se completam. Eu sei que é uma comédia musical, mas isso é uma camada importante e poderosa do projeto”.

*Esta matéria foi feita com a colaboração do Bando de Teatro Olodum, que defende a expressão negra coletiva nas artes cênicas há mais de 30 anos.

Fonte: https://www.estadao.com.br

Morre Elaine Santos, jornalista da Canção Nova, que estava grávida, aos 38

Apresentadora, que trabalhava na emissora há 15 anos, estava na 23ª semana de gestação; bebê também morreu

 

SÃO PAULO

jornalista Elaine Cristina da Silva Santos morreu nesta terça-feira (21), aos 38 anos. De acordo com o programa Canção Nova Notícias, que Elaine apresentava, ela foi internada um dia antes com insuficiência respiratória, e seu quadro piorou.

A jornalista estava grávida de 23 semanas do seu segundo filho, que também morreu. Não há informações sobre o velório.

Canção Nova é uma emissora de televisão relacionada à comunidade católica de mesmo nome. A nota do programa diz que a apresentadora começou a trabalhar lá em 2008, há 15 anos, como estagiária. "Sua simpatia e seu sorriso (hábito primordial do carisma Canção Nova) contagiaram a todos e, em pouco tempo, se tornou uma profissional de respeito e responsabilidades no desejo de salvar almas.", também diz a nota.

"Por isso precisamos sempre tornar o percurso mais suave e leve, repletos de sorrisos e longe daquilo que não nos constroem como irmãos e como pessoas que buscam a santidade." Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

"A gente salvou muitas vidas: foram mais de 2 mil resgates de pessoas que ficaram isoladas e que a água inesperadamente chegou no segundo andar. Estamos há 5 dias trabalhando sem parar", contou Cristian Stassun que trabalha na prefeitura de Rio do Sul (SC). A cidade sofre a segunda maior inundação da história, após aquela de 1983. Diocese e Caritas local estão mobilizadas em campanha de doações: "outra enchente e seguimos nossa caminhada na solidariedade fraternal", disse Pe. Arnaldo Allein.

 

O trabalho incansável em barco de Cristian Stassun

 

Andressa Collet - Vatican News

A principal cidade da região do Alto Vale do Itajaí, "Rio do Sul, que leva o nome de um rio, virou um mar", como bem descreveu Cristian Stassun, secretário de Governo da prefeitura catarinense, que tem ajudado no resgate a pessoas e animais. O rio que corta o município atingiu nível histórico (13,04 metros), registrando a segunda maior enchente da história local, após aquela de 1983 quando o nível da água atingiu 13,58 metros. Um sofrimento cíclico para a população que precisa enfrentar as grandes cheias:

Cristian Stassun - "A última grande enchente que tivemos foi exatamente 40 anos atrás. Estamos retomando novamente o resgate de pessoas de animais, as ações solidárias na cidade de Rio do Sul. A gente teve imagens aqui da nossa Catedral São João Batista, quase que chegou água nela. Várias capelas, várias igrejas inundadas, então a gente teve aqui um grande evento climático e todos estamos solidários e trabalhando, principalmente no resgate de pessoas e animais. A gente passou uma noite terrível ontem porque a água subia e as pessoas vinham para o forro das casas. Chegamos a fazer um resgate de uma senhora que ela se escondeu, ela tentou subir no forro da casa e a água estava chegando no pescoço. Ela já estava com hipotermia. Para acessar ela, para o barco passar pelos fios de alta tensão, porque a água chegou nos fios dos postes, tivemos que desligar todo bairro, pela questão da energia, para acessar ela e, por Deus, a gente conseguiu salvar."

“A gente salvou muitas vidas: foram mais de 2 mil resgates de pessoas que ficaram isoladas, ilhadas, e que a água inesperadamente chegou no segundo andar. Estamos há 5 dias trabalhando sem parar.”

As chuvas têm dado trégua na região, mas Rio do Sul continua inundada nesta segunda-feira (20) após a quinta enchente só neste ano na cidade que tem mais de 70 mil habitantes e fica a cerca de 200km da capital, Florianópolis (SC). Segundo a Defesa Civil, quase 20 mil pessoas estão desalojadas com a tragédia que invadiu tantas vidas e casas. O curso das águas dá chance somente a barcos e canoas em forma de ajuda humanitária para resgatar pessoas e animais, levar comida e medicamentos.

Mas quem não pode ajudar nessa frente, tem acolhido os desalojados em suas casas ou ajudado doando alimentos, água e colchões aos abrigos, por exemplo: uma caridade que tem se estendido por todo Alto Vale, afirma Cristian, ao acrescentar: "a gente vê que o ser humano perante os eventos climáticos é muito pequeno. E o que sobra para nós, que estamos aqui, é um ajudar o outro, um estender a mão para o outro. Na sua maior situação de vulnerabilidade, o ser humano está lá ajudando o outro. A caridade e a fé é o que salva vidas e o coração da gente".

 

Mutirões de ajuda com espírito samaritano

O Pe. Arnaldo Allein, coordenador de Pastoral da diocese de Rio do Sul, reforça esse apoio fundamental da própria comunidade que tem ganhado força com a campanha SOS Alto Vale, organizada pela Mitra Diocesana, Caritas local e Fórum das Entidades do Campo e da Cidade do Alto Vale do Itajaí.

“Com a esperança e fé, Deus nos dará forças para superar mais esta provação! Outra enchente e seguimos nossa caminhada na solidariedade fraternal. Nossos espaços acolhem desabrigados, lideranças ajudam na preparação de alimentos, nos mutirões de limpeza e seguimos no espírito samaritano. 'Eis que estarei convosco!', disse Nosso Senhor! A superação dos sofrimentos do tempo presente possa ser um advento do Reino de Deus entre nós. Permaneçamos firmes na Esperança!”

 

Doe para a campanha SOS Alto Vale

Erich Augusto Giovanella Kertzendorff, da secretaria da Cúria Diocesana e Caritas local, explica que estão trabalhando em parceria com a Defesa Civil e recebendo produtos de primeira necessidade como alimentos, itens de higiene pessoal e limpeza. Doações de qualquer valor também estão sendo arrecadadas pela Mitra Diocesana para auxiliar na reconstrução das vidas e das casas dos atingidos, através da chave-PIX da Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar. (ou pela conta n. 27920-X - Ag. 0276-3 do Banco do Brasil):

"Os próprios outros municípios que não foram atingidos estão mandando produtos de higiene pessoal e limpeza, porque muitas pessoas estão fora de casa. A situação aqui é bem crítica, principalmente nessa enchente que aconteceu sem previsão alguma: essa última enchente acabou levando todas as mobílias das pessoas. Então, estamos atuando nessa frente de ajuda humanitária: o que as pessoas precisam de maneira urgente que são produtos de limpeza, alimentos e higiene pessoal. Também roupas, mas isso, graças a Deus, temos ainda muito do que tínhamos em estoque.". Fonte: https://www.vaticannews.va

Eduardo Paes fala em ‘amarras impostas às autoridades públicas para combater o caos’.

Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro — Foto: Reprodução/ TV Globo

 

Por Cristina Boeckel, g1 Rio

A Prefeitura do Rio de Janeiro está preparando uma proposta para internação compulsória de usuários de drogas nas ruas da cidade.

Nas redes sociais, o prefeito Eduardo Paes (PSD) anunciou, nesta terça-feira (21), que pediu ao secretário municipal de saúde, Daniel Soranz, para elaborar a medida.

A política foi empregada pelo prefeito em sua primeira gestão (2009-2012) e foi suspensa após críticas de especialistas e ação do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ).

Paes explicou por que voltou ao tema — dias após o latrocínio de um fã de Taylor Swift em Copacabana.

“Não é mais admissível que diferentes áreas de nossa cidade fiquem com pessoas nas ruas que não aceitam qualquer tipo de acolhimento e que, mesmo abordadas, em diferentes oportunidades pelas equipes da prefeitura e autoridades policiais, acabem cometendo crimes”, escreveu Paes.

“Não podemos generalizar, mas as amarras impostas às autoridades públicas para combater o caos que vemos nas ruas da cidade demandam instrumentos efetivos para se evitar que essa rotina prossiga”, emendou.

Soranz informou ao g1 que a ideia é que sejam realizadas internações por um curto tempo, de forma a iniciar o tratamento de pacientes em situação grave e que não possuem condições de responder pelos próprios atos.

“A gente tem visto isso sucessivas vezes. Ontem [segunda-feira, 20], um menino jovem morreu de overdose. A gente tem visto uma série de pessoas que são usuárias de drogas e que estão morrendo sem tratamento e acolhimento”, afirmou Soranz.

O rapaz a que o secretário se refere é um homem de cerca de 20 anos, e que estava há meses fora de casa.

Soranz afirmou ainda que o objetivo é reduzir a mortalidade de uma população que, segundo ele, tem uma expectativa de vida muito baixa, e frear o crescimento de pessoas nesta situação.

O secretário destacou ainda que tem consciência de que a decisão envolve uma questão jurídica complexa e que a decisão se refere apenas a pessoas que não possuem condições de responder por si.

“Uma coisa é a população de rua, pessoas que têm o direito de ir e vir. Outra coisa é o paciente que vai morrer se não cuidarmos. Pessoas que são zumbis andando pelas ruas e que, uma hora ou outra, morrem de overdose ou atropelamento, por exemplo”, disse.

Soranz estima que, atualmente, a prefeitura possui o registro de cerca de 140 pessoas nestas condições na cidade do Rio de Janeiro, que são pessoas que tiveram registro nos sistemas de urgência e emergência.

 

Outras tentativas

Há um ano, Paes tinha afirmado que a população de rua era “o maior problema do Rio de Janeiro”.

A internação compulsória foi empregada por Paes em sua primeira gestão, entre os anos de 2009 e 2012. A medida foi interrompida após diversas críticas e brigas judiciais.

Em 2019, o então prefeito Marcelo Crivella assinou um decreto que regulamentava a prática, após o governo federal sancionar uma lei que permitia a internação, sem consentimento, de dependentes químicos sem a necessidade de autorização judicial.

 

Supremo questiona

Em agosto, o Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria de votos para confirmar a determinação de que os municípios proíbam a remoção forçada de pessoas em situação de rua.

A sessão virtual endossou uma decisão individual do ministro Alexandre de Moraes de julho, que determinou aos governos federal, estaduais e municipais a implementação de medidas previstas na Política Nacional para a população em situação de rua. Fonte: https://g1.globo.com

Reduzir as profundas desigualdades raciais é tarefa incontornável na busca de um futuro

 

Mulheres quilombolas preparam comida para os participantes de uma reunião de lideranças de comunidade em Monte Alegre de Goiás, cidade com maioria negra no estado - Pedro Ladeira/Folhapress - Folhapress

 

Helio Santos

Professor e doutor em administração (USP), é presidente do Conselho Deliberativo do Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais (Cedra) e do Conselho da Oxfam Brasil

A questão racial no Brasil tem avançado, não há dúvida. Temos hoje em nível federal o Ministério da Igualdade Racial e, nos demais níveis, há organizações da sociedade civil que realizam ações relevantes no campo das relações raciais. No entanto, há muito ainda a avançar, e é necessário fazê-lo em uma velocidade maior para diminuir a enorme defasagem entre as condições de vida da população negra comparada com a da população branca. Nos próximos três anos, é essencial posicionar o enfrentamento das desigualdades raciais como eixo central para o desenvolvimento socioeconômico do país.

Apesar de figurar entre as dez maiores economias globais, o Brasil convive com altos índices de desigualdade. Esse paradoxo é enraizado no racismo sistêmico, resultado de séculos de escravidão que persiste, impedindo a maioria da população negra de desfrutar plenamente das riquezas econômicas e dos direitos sociais consagrados na Constituição.

Refletir sobre a realidade social brasileira significa procurar entender como o Brasil se posiciona ao lado das nações mais ricas em termos de Produto Interno Bruto e, ao mesmo tempo, consegue se igualar com países africanos reconhecidamente pobres no que se refere às desigualdades na distribuição da riqueza. Como essa assimetria bizarra se constituiu? A resposta é que, dentre os mais ricos, o Brasil é o único cuja maioria da população é negra. Portanto, o maior obstáculo para o desenvolvimento do Brasil tem sido a desigualdade racial.

Assim, é necessário que a redução das desigualdades seja uma meta nacional, como está no artigo 3º da Constituição Federal. E, para isso, é fundamental refletir e implementar políticas públicas, com ênfase na intersecção entre raça e gênero, ou seja, priorizando as mulheres negras que formam o grupo mais numeroso e, ao mesmo tempo, mais vulnerável da nossa sociedade.

Nada mais desigual do que tratar a todos igualmente em um país com enormes desigualdades de origem como o Brasil. Assim, políticas públicas que promovam a equidade são incontornáveis para alcançarmos a igualdade. As estatísticas oficiais apontam o fosso de desigualdade entre brancos e negros e demandam atuação imediata e focalizada no enfrentamento da exclusão social da população negra. Para tanto, o país precisa trilhar uma nova cultura de desenvolvimento —algo que ainda não feito nem pensado.

Governo e sociedade civil devem usar os dados oficiais para qualificar o debate e avançar na demanda por políticas públicas focalizadas, com o objetivo da promoção da equidade racial.

O número de negros que moravam em regiões periféricas, em áreas com baixos níveis de urbanização e serviços públicos, era mais que o dobro dos brancos, conforme dados do Censo 2010

A renda média per capita em domicílios somente com moradores negros era de R$ 598, ou seja, 40% da renda média dos domicílios ocupados por moradores não negros, que era de R$ 1.482. Nas ocupações predominantemente exercidas por pessoas negras, o rendimento médio do trabalho principal era de R$ 471,06, correspondente a um quinto do rendimento médio das ocupações predominantemente brancas, que era de R$ 2.532,56 (IBGE/Censo 2010 elaborado pelo Cedra).

A enorme disparidade de renda das famílias negras e brancas revela o funcionamento do ciclo perverso de reprodução da pobreza entre gerações. Não se deve mais usar band-aid para curar fraturas expostas desde sempre.

É preciso romper com esse mecanismo, ou o país do futuro estará condenado a ser equivalente ao que é hoje: desigual, injusto, inconcluso e estagnado.

Os negros estão super-representados em todos indicadores de precariedade e sub-representados nos indicadores que potencializam o exercício da cidadania. A consistência dos dados raciais oficiais comprovam as desigualdades entre brancos e negros independentemente do nível de escolaridade, território e geração, e evidencia a centralidade da questão racial para almejarmos um novo patamar civilizatório.

TENDÊNCIAS / DEBATES

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Fãs da cantora americana, que está no Brasil para uma série de shows, fizeram um abaixo assinado que pede água gratuita nos eventos. Ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, garantiu que a Secretaria do Consumidor do Ministério da Justiça vai adotar as medidas imediatas

 

Internet se mobiliza e faz abaixo-assinado após morte de fã de Taylor Swift durante show no Rio de Janeiro — Foto: Instagram]

 

Na última sexta (18)Taylor Swift fez o seu primeiro show no Brasil. E o local escolhido para dar o start em sua turnê foi o Rio de Janeiro. Mas uma notícia deixou a cantora - e também os fãs - desolados. Antes da apresentação, foi confirmada a morte de Ana Clara Benevides Machado, de 23 anos. Estudante de psicologia, ela morava em Rondonópolis, em Mato Grosso, e o seu sonho era conhecer Taylor.

Ana Benevides estava na grade e acabou desmaiando no local. Ela chegou a ser socorrida e reanimada, mas não resistiu. A causa da morte foi uma parada cardiorrespiratória. A sensação térmica registrada no local chegou a 60º C e os bombeiros totalizaram cerca de mil desmaios durante o show.

Na internet, fãs se mobilizaram para realizar um abaixo-assinado, chamado: "Lei Ana Benevides, por água gratuita nos eventos". Idealizado por Giuliana Maestrini, o texto diz: " Brasil sofreu uma perda irreparável da jovem Ana Benevides em um show no Estado do Rio de Janeiro. De acordo com informações de terceiros, o falecimento da jovem ocorreu devido ao extremo calor, no qual a sensação térmica atingia os 60° celsius. Em um dos eventos mais aguardados deste ano, vimos uma fatalidade acontecer diante dos nossos olhos por pura negligência. Os consumidores do Brasil estão esgotados de serem desrespeitados por empresas milionárias que não se preocupam com o consumidor. Dito isso, começo aqui a campanha pela Lei Ana Benevides, Lei que garantirá a distribuição gratuita em eventos. O setor de eventos se sente envergonhado com a falta de responsabilidade da empresa responsável pelo evento de hoje e gostaria que haja mudança para que uma fatalidade dessas não ocorra novamente!."

O abaixo assinado já recebeu 21.581. Taylor Swift também lamentou a morte de Ana em suas redes sociais. Com uma carta aberta, ela apareceu desolada com o fato. "Eu não posso acreditar que estou escrevendo essas palavras, mas é com meu coração devastado que eu digo que perdemos uma fã no começo desta noite [...]. O que eu quero dizer agora é, sinto muitíssimo pela perda e meu coração partido está ao lado da família e dos amigos. Esta é a última coisa que se quer pensei quando decidi trazer esta turnê ao Brasil". A empresa responsável pela turnê ainda não comentou o caso. Fonte: https://revistamarieclaire.globo.com

Morador de quilombo insuflou traficantes a matarem Mãe Bernadete, diz polícia

Cinco pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público pelo assassinato da ialorixá em agosto

 

Bernadete Pacífico era líder quilombola na Bahia e coordenadora da Conaq (Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos) - Conaq/Divulgação

 

João Pedro Pitombo

SALVADOR

assassinato da líder quilombola e ialorixá Bernadete Pacífico, 72, a Mãe Bernadete, teria sido motivado pelo enfrentamento a interesses de uma facção do tráfico de drogas e teria sido insuflado por um morador da comunidade quilombola Pitanga dos Palmares envolvido com extração ilegal de madeira.

Essa é a conclusão das investigações conduzidas pela Polícia Civil da Bahia sobre a morte da líder quilombola, assassinada em 17 de agosto com 25 tiros na casa que funcionava como sede da associação do quilombo, em Simões Filho, cidade da Grande Salvador.

O Ministério Público da Bahia ofereceu denúncia contra cinco pessoas supostamente envolvidas no crime. Elas foram denunciados por homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, com uso de arma de fogo e sem chance de defesa da vítima.

Suspeitos de integrarem a facção criminosa Bonde do Maluco, uma das mais violentas da Bahia, Marílio dos Santos e Ydney Carlos dos Santos de Jesus são apontados como mandantes do assassinato da ialorixá.

Arielson da Conceição Santos e Josevan Dionísio dos Santo, que seriam ligados à mesma facção, são suspeitos de executar o crime. Sérgio Ferreira de Jesus, morador do quilombo, teria incentivado o grupo e atuado para facilitar a ação dos criminosos após uma querela com a ialorixá.

As investigações apontam ainda que Sérgio Ferreira explorava ilegalmente madeira dentro da comunidade quilombola Pitanga dos Palmares e, dias antes do crime, havia sido repreendido por Mãe Bernadete, com quem teve uma discussão. Ele era padrasto de Marílio, apontado como um dos mandantes do crime,

"Mãe Bernadete tinha uma preocupação e um cuidado com o quilombo, ela não aceitava nada que fosse ilegal, nada que fosse indevido", afirma a delegada geral da Polícia Civil da Bahia, Heloísa Brito. Ela diz que a postura Mãe Bernadete na defesa do território fez com que o suspeito incitasse os traficantes locais a matarem a ialorixá.

A líder quilombola também lutava contra a instalação de um bar chamado Pitanga Point City, que estava sendo erguido por traficantes para a realização de festas. A barraca foi erguida nas margens de uma represa em uma área de preservação permanente.

A investigação apontou que, após a discussão com Mãe Bernadete, Sérgio Ferreira enviou áudios aos líderes do tráfico dizendo que a líder quilombola teria acionado a polícia para impedir instalação do bar dentro da área de preservação.

Depois disso, apontam os investigadores, a morte da líder quilombola teria sido ordenada por Marílio dos Santos e Ydney Carlos dos Santos de Jesus.

Sérgio e Arielson foram presos em setembro por suspeita de participação no crime. Josevan e Marílio estão foragidos, sendo que o último tem quatro mandados de prisão em aberto. Já Ydney teve o pedido de prisão preventiva deferido pela Justiça.

Um sexto suspeito de envolvimento, que teria guardado as armas usadas no crime e dado apoio à fuga de um dos atiradores, foi indiciado em outro inquérito.

A líder quilombola já havia recebido ameaças e fazia parte de um programa de proteção a defensores de direitos humanos do Governo na Bahia. Câmeras foram instaladas na sua casa e no entorno, e policiais faziam visitas periódicas ao local, mas não havia vigilância constante.

Advogados e familiares de Mãe Bernardete tiveram uma reunião na tarde desta quinta-feira (16) com a equipe da Polícia Civil responsável pelas investigações. A família questiona a possível participação de mais pessoas da facção criminosa como mandantes do crime.

O advogado David Mendez afirma que a defesa da família deve mover uma ação indenizatória contra o estado da Bahia e a União contra o que chamou de "falhas grotescas" do programa de proteção a defensores de direitos humanos ao qual a líder quilombola estava submetida.

"Frustradas as tratativas administrativas, resta à família apenas a via judicial, o que representa um verdadeiro absurdo em se tratando de dois governos [federal e estadual] sob comando do Partido dos Trabalhadores, dito companheiro das comunidades tradicionais brasileiras", afirma Mendez.

Bernadete Pacífico era coordenadora nacional da Conaq (Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos) e liderava o Quilombo Pitanga dos Palmares. Trabalhava havia anos denunciando a violência contra a população quilombola e as tentativas de tomada das terras.

Após o assassinato de seu filho Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, em 2017, a luta contra ataques a terreiros e assassinatos de lideranças religiosas de matriz africana se intensificou. Conhecido como Binho do Quilombo, ele era um dos líderes quilombolas mais respeitados da Bahia.

Filho de Mãe Bernadete, Jurandir Wellington Pacífico afirmou, após a morte, que a mãe recebia ameaças havia pelo menos seis anos.

A líder quilombola estava com os netos quando dois homens chegaram usando capacetes e abordaram a família. Os netos foram trancados em um quarto, e Mãe Bernadete foi morta.

Bernadete foi secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial de Simões Filho na gestão do então prefeito Eduardo Alencar (PSD), irmão do senador Otto Alencar (PSD).

Em julho, ao lado de outras líderes quilombolas, ela participou de um encontro com a então presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministra Rosa Weber, na comunidade Quingoma, na cidade de Lauro de Freitas. Na ocasião, Mãe Bernadete afirmou que era ameaçada por fazendeiros.

"É o que nós recebemos, ameaças. Principalmente de fazendeiros, de pessoas da região. Minha casa é toda cercada de câmeras, eu me sinto até mal com um negócio desse", afirmou.

Desde o início das investigações, cerca de 80 pessoas prestaram depoimento e foram cumpridas 20 medidas cautelares deferidas pelo Poder Judiciário. Também foram analisados 14 laudos periciais, entre os quais os que confirmaram que as armas apreendidas foram de fato usadas no crime.

Além de reconhecimento dos autores por parte das testemunhas, a autoria também foi confirmada por meio da confissão de um dos executores. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br