No dia do roubo ao Louvre, a foto de um jovem de 15 anos, vestido com elegância, viralizou e despertou uma onda de teorias na internet
Pedro Elias Garzon Delvaux (à direita) passa enquanto policiais bloqueiam uma entrada do Louvre após ladrões realizarem um assalto em plena luz do dia Foto: AP Photo/Thibault Camus, File
Por Thomas Adamson
Quando Pedro Elias Garzon Delvaux, de 15 anos, percebeu que uma foto sua tirada pela Associated Press no Louvre, no dia do roubo das joias da coroa, havia alcançado milhões de visualizações, sua primeira reação não foi correr para a internet e se revelar.
Muito pelo contrário. Fã de Sherlock Holmes e Hercule Poirot, Pedro vive com os pais e o avô em Rambouillet, a 30 quilômetros de Paris, e decidiu entrar no jogo do suspense mundial.
Enquanto as teorias se espalhavam sobre o desconhecido elegantemente vestido na foto do “Homem do Fedora” - detetive, infiltrado, criação de inteligência artificial - ele decidiu ficar em silêncio e apenas observar.
“Eu não quis dizer imediatamente que era eu”, contou. “Com essa foto existe um mistério, então é preciso deixá-lo durar.”
Pedro Elias Garzon Delvaux (à direita) passa enquanto policiais bloqueiam uma entrada do Louvre após ladrões realizarem um assalto em plena luz do dia Foto: AP Photo/Thibault Camus, File
Na sua única entrevista presencial desde que o registro o transformou em uma curiosidade internacional, Pedro apareceu diante das câmeras da AP em casa praticamente como naquele domingo: usando chapéu fedora, colete Yves Saint Laurent emprestado do pai, paletó escolhido pela mãe, gravata alinhada, calça Tommy Hilfiger e um relógio russo restaurado e marcado pela guerra.
O chapéu fedora, inclinado no ângulo certo, é sua homenagem ao herói da Resistência Francesa Jean Moulin.
Pessoalmente, ele é um adolescente inteligente e bem-humorado que, por acaso, se viu envolvido em uma história de alcance global.
Da foto à fama
A imagem que o tornou famoso pretendia apenas registrar uma cena de crime. Três policiais se apoiam em um carro prateado que bloqueia uma entrada do Louvre, horas depois de ladrões realizarem um assalto em plena luz do dia às joias da coroa francesa. À direita, uma figura solitária, vestida com um terno de três peças, passa apressadamente.
A internet fez o resto. “O homem do fedora”, como os usuários o apelidaram, foi retratado como um detetive à moda antiga, um infiltrado, uma ideia para série da Netflix - ou até algo não humano. Muitos estavam convencidos de que ele havia sido gerado por inteligência artificial.
Pedro entendeu o motivo. “Na foto, estou vestido mais como alguém dos anos 1940, e estamos em 2025”, disse ele. “Há um contraste.”
Até alguns parentes e amigos hesitaram em acreditar até notarem sua mãe ao fundo da imagem. Só então tiveram certeza: o detetive falso favorito da internet era, na verdade, um garoto de verdade.
A história real era simples. Pedro, sua mãe e seu avô tinham ido visitar o Louvre.
“Queríamos ir ao Louvre, mas ele estava fechado”, contou. “Não sabíamos que tinha acontecido um assalto.”
Eles perguntaram aos policiais por que os portões estavam fechados. Segundos depois, o fotógrafo da AP Thibault Camus, que registrava o cordão de isolamento, capturou Pedro.
“Quando a foto foi tirada, eu não sabia”, disse Pedro. “Eu só estava passando.”
Quatro dias depois, um conhecido mandou uma mensagem: É você?
“Ela me disse que havia 5 milhões de visualizações”, contou. “Fiquei um pouco surpreso.” Depois, sua mãe ligou dizendo que ele estava no The New York Times. “Não é todo dia”, comentou. Primos na Colômbia, amigos na Áustria, conhecidos da família e colegas de escola começaram a mandar capturas de tela e mensagens.
“As pessoas diziam: ‘Você virou uma estrela’”, disse ele. “Fiquei impressionado que, com apenas uma foto, você possa viralizar em poucos dias.”
Um estilo inspirado
O visual que chamou a atenção de dezenas de milhões de pessoas não é uma fantasia improvisada para uma visita ao museu. Pedro começou a se vestir assim há menos de um ano, inspirado pela história do século 20 e por imagens em preto e branco de estadistas elegantes e detetives fictícios.
“Eu gosto de ser chique”, disse ele. “Vou à escola assim.”
Em meio a um mar de moletons e tênis, ele aparece com uma versão moderna de um terno de três peças. E o chapéu? Não, esse tem seu próprio ritual. O fedora é reservado para fins de semana, feriados e visitas a museus.
Na escola onde não há uniforme, seu estilo já começou a se espalhar. “Um dos meus amigos veio esta semana de gravata”, contou.
Ele entende por que as pessoas projetaram nele toda uma persona de detetive: um roubo improvável, um detetive improvável. Ele adora Poirot - “muito elegante” - e gosta da ideia de que um crime incomum exige alguém que também pareça incomum. “Quando algo fora do comum acontece, você não imagina um detetive normal”, disse ele. “Você imagina alguém diferente.”
Esse instinto combina com o mundo de onde ele vem. Sua mãe, Félicité Garzon Delvaux, cresceu em um palácio-museu do século XVIII, filha de um curador e de uma artista - e leva o filho regularmente a exposições.
“Arte e museus são espaços vivos”, disse ela. “A vida sem arte não é vida.”
Para Pedro, a arte e as imagens sempre fizeram parte do cotidiano. Por isso, quando milhões de pessoas projetaram histórias em um único registro dele de chapéu fedora ao lado de policiais armados no Louvre, ele reconheceu o poder de uma imagem — e deixou o mito respirar antes de se revelar.
Ele permaneceu em silêncio por vários dias e depois mudou seu perfil no Instagram de privado para público.
“As pessoas tinham que tentar descobrir quem eu sou”, disse ele. “Aí os jornalistas vieram, e eu contei minha idade. Eles ficaram extremamente surpresos.”
Ele está tranquilo quanto ao que vier a acontecer. “Estou esperando que as pessoas me chamem para filmes”, disse, sorrindo. “Seria muito engraçado.”
Em uma história de roubo e falhas de segurança, o “Homem do Fedora” é um contraponto mais leve — um adolescente que acredita que arte, estilo e um bom mistério fazem parte da vida comum. Uma foto o transformou em símbolo. Conhecê-lo é confirmar que ele é, para alívio de todos, real.
“Sou uma estrela”, ele diz — menos como uma fanfarronice do que como um experimento, como se estivesse experimentando as palavras da mesma forma que experimenta um chapéu. “Vou continuar me vestindo assim. É o meu estilo.” / AP Fonte: https://www.estadao.com.br




