O bolsonarismo mudou os evangélicos ou apenas revelou o que o Censo Demográfico de 2022 não mostra?

 

Por Márcio Ferreira

O Censo Demográfico de 2022, divulgado em junho de 2025, trouxe um dado já esperado: o crescimento do número de brasileiros que se declaram evangélicos, saltando de 21,6% para 26,9% da população entre 2010 e 2022. À primeira vista, parece a confirmação estatística de um fenômeno em curso há décadas. Mas, como alertam estudiosos como a socióloga Christina Vital, os números do IBGE não contam a história inteira, e talvez nem a parte mais importante dela.

O crescimento numérico revela pouco sobre as mudanças internas no campo evangélico. A começar pela sua fragmentação: o que se entende por “evangélico” hoje inclui denominações históricas, pentecostais, neopentecostais, desigrejados, jovens “das igrejas de parede preta”, coaches da fé e influenciadores digitais que usam a Bíblia como manual de autoajuda. Não há uma só fé evangélica no Brasil, há uma miríade de experiências, práticas e disputas por poder.

Se o Censo mostra um crescimento aritmético, o bolsonarismo provocou uma reconfiguração política e simbólica nesse universo. E não é exagero dizer: o bolsonarismo mudou o campo evangélico brasileiro, ou, ao menos, o revelou em sua dimensão mais política, mais pública, mais disputada.

Antes da ascensão de Jair Bolsonaro, em 2018, havia contenções institucionais sobre manifestações políticas em templos religiosos. Igrejas eram multadas, materiais de campanha eram apreendidos. Ainda assim, já se desenhava desde os anos 2000 um caminho de aproximação entre igrejas e o Poder Legislativo. Em 2014, o Pastor Everaldo foi o primeiro “puro-sangue” a se lançar à Presidência da República, sem sucesso, mas com efeitos duradouros na lógica da representação religiosa.

Com Bolsonaro, a gramática religiosa tornou-se gramática política. O púlpito presencial cedeu espaço às redes sociais e aos algoritmos de WhatsApp. Pastores passaram a declarar abertamente apoio a candidatos e a construir a ideia de que determinadas pautas seriam “pactos com o maligno”. Deus e o diabo passaram a ter CEP e título eleitoral.

Mesmo não sendo evangélico, Bolsonaro personificou os valores de uma base religiosa conservadora, deu a essa base um inimigo comum, a esquerda, os “progressistas”, os artistas, os LGBTs, o feminismo, e entregou à sua base religiosa ministérios, cargos e a indicação de um “terrivelmente evangélico” ao STF.

Christina Vital aponta com precisão: o avanço evangélico é especialmente visível nas periferias urbanas, onde o Estado se ausenta e a religião preenche. O templo substitui o posto de saúde, o culto substitui a roda de terapia, o pastor oferece aconselhamento e ajuda material onde o poder público não chega. O pentecostalismo, principalmente, se apresenta como combate espiritual à violência, à dependência, ao desamparo.

Não é apenas fé, é também sobrevivência.

Nesse contexto, o crescimento evangélico é menos um fenômeno teológico e mais uma resposta social. E é por isso que os dados do IBGE, embora importantes, não bastam. A religião nas periferias se entranha em redes, corpos, territórios e políticas. Em algumas localidades, como a Baixada Fluminense, os evangélicos não são apenas maioria: são referência moral, política e até de autoridade informal.

Mas há também fissuras nesse mapa. Uma delas é o surgimento dos desigrejados, pessoas que se identificam como evangélicas, mas não frequentam cultos, não se submetem à hierarquia pastoral nem contribuem com o dízimo. São evangélicos “autônomos”, muitas vezes conectados ao discurso de influenciadores que falam de Jesus com linguagem de coach, vendem Bíblias personalizadas e oferecem cursos para “destravar seu propósito”.

Outro fenômeno é o das igrejas de parede preta: espaços alternativos, mais jovens, com estética sombria e linguagem pop, que atraem adolescentes com promessas de cura espiritual e sucesso pessoal. É um novo evangelicalismo, pós-moderno, digital, que talvez fuja até das métricas do Censo e dos olhos da imprensa.

E o que esperar de 2026? Com o possível impedimento de Jair Bolsonaro, a eleição de 2026 não contará com o catalisador bolsonarista no campo evangélico. Isso abre espaço para novas disputas: entre denominações, entre pastores, entre candidatos “puro-sangue” e candidatos “identificáveis” com a fé, mas não religiosos.

O apoio evangélico pode se fragmentar. E, segundo Christina Vital, novas lideranças jovens, digitais, carismáticas e alinhadas à extrema direita estão sendo gestadas, talvez ainda fora dos holofotes, mas atentas às estratégias de influência. Nomes como Sóstenes Cavalcante já apontam o envelhecimento de lideranças tradicionais como um desafio, mas também como uma oportunidade para renovação política e simbólica.

A conclusão a que chegamos é de que neste momento não temos nem o mesmo campo, nem os mesmos evangélicos. O bolsonarismo não apenas mudou os evangélicos, ele escancarou disputas que já estavam em curso, acelerou processos de politização da fé, quebrou barreiras entre púlpito e palanque. Mas também desestabilizou as hegemonias internas. A religião evangélica no Brasil é hoje mais diversa, mais complexa, mais midiática e, talvez, mais imprevisível.

O Censo conta quantos são. Mas não diz quem são. Fonte: https://www.estadao.com.br

 

A punição dos que sequestraram o Congresso a título de livrar a cara de Jair Bolsonaro tem de ser exemplar. Não se pode premiar com a leniência quem atenta contra o funcionamento de um Poder

O País assistiu, estarrecido, ao sequestro das Mesas Diretoras da Câmara e do Senado por parlamentares bolsonaristas que decidiram rasgar o Regimento de ambas as Casas, afrontar a Constituição e manchar a história do Congresso fazendo-o refém de uma chantagem. Durante mais de 30 horas – que não deveriam ter durado nem 30 minutos –, os trabalhos legislativos foram suspensos na marra por uma súcia de deputados e senadores que puseram seus mandatos a serviço da impunidade de Jair Bolsonaro, e não do melhor interesse do Brasil. O que se viu não foi nada menos do que uma nova tentativa de golpe no coração da democracia representativa.

Chamemos as coisas pelo nome. Não há outra forma de descrever o que aconteceu em Brasília. Impedir o livre trabalho do Congresso não é outra coisa senão um atentado contra o Estado Democrático de Direito. Pior ainda quando a violência é perpetrada de dentro da instituição democrática por excelência por indivíduos que, malgrado terem sido legitimamente eleitos, agiram como traidores da mesma democracia que os consagrou nas urnas. Um absurdo.

Obstrução parlamentar é prática legítima em todas as democracias maduras. Porém, o que os vândalos bolsonaristas praticaram naquelas horas de caos não foi obstrução, mas coerção. Não foi protesto contra a prisão domiciliar de Bolsonaro, foi delinquência. Em última análise, não foi política, foi seu exato oposto: a imposição de vontades por meio da força bruta.

Os presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, falharam miseravelmente em impedir o sequestro. A Polícia Legislativa deveria ter sido acionada minutos após a paralisação dos trabalhos legislativos. Ulysses Guimarães, um dos mais altivos deputados a tomar assento na presidência da Câmara, não teria hesitado em fazê-lo. Já Motta e Alcolumbre, lamentavelmente, mostraram-se menores do que suas cadeiras ao se omitirem por tempo demasiado longo enquanto as Casas que presidem eram violadas por uma turba de parlamentares que, na prática, comportou-se como uma facção criminosa a serviço de Bolsonaro.

Passada a tibieza inicial, o único caminho republicano que se abre diante de Motta e Alcolumbre, se preocupados estiverem com suas biografias, é a restauração da autoridade moral e política do Congresso. E isso só será possível por meio de duas ações. Em primeiro lugar, a imediata e rigorosa punição de cada deputado e cada senador que participou do sequestro do Legislativo federal. O que eles fizeram é intolerável para um país que se pretende sério. Em segundo lugar, os presidentes da Câmara e do Senado devem enterrar definitivamente as demandas apresentadas pelos delinquentes a título de resgate. Avançar com a proposta de anistia a Bolsonaro e outros golpistas ou com o impeachment desarrazoado do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes equivalerá a uma capitulação. Não se negocia com delinquentes. A democracia não se rende – ou deixa de ser democracia.

Por ora, é desconhecido o inteiro teor da barganha que Motta e Alcolumbre fizeram com os sequestradores travestidos de parlamentares para a retomada de seus assentos. Mas, se há um cálculo político que ambos têm de fazer agora, é este: caso não punam exemplarmente os radicais bolsonaristas, sinalizarão que sua tática bandida é aceitável e, consequentemente, pode ser repetida no futuro. Por óbvio, não pode. Em uma democracia digna do nome, não é normal o que essa gente fez.

O Congresso precisa dar uma resposta clara e firme aos bolsonaristas irresignados com os ritos democráticos: no Estado Democrático de Direito não há espaço para aventuras autoritárias que pretendem subverter as instituições em nome de interesses particulares de quem quer que seja. Deputados e senadores têm o dever de defender os interesses da sociedade e da Federação, e não do líder de um movimento político que cada dia mais se desvela como seita.

É hora de Motta e Alcolumbre, do alto dos cargos que ocupam, fazerem uma escolha entre a leniência que estimula a baderna e a firmeza institucional que a debela. A Câmara e o Senado precisam se erguer em defesa de sua própria autoridade. O País precisa de paz. E ela só virá se o Congresso não se ajoelhar diante dos que pretendem sabotá-lo. Fonte: https://www.estadao.com.br

Por atuar deliberadamente para prejudicar o Brasil, o deputado não pode continuar como parlamentar. Que a Câmara não repita com ele o erro que cometeu há 25 anos, ao deixar impune o pai dele

 

Diante das barbaridades protagonizadas pelo então deputado federal Jair Bolsonaro, este jornal pediu a sua cassação em janeiro de 2000, classificando-o pelo que ele era – um dejeto da democracia, alguém desqualificado que se servia das mesmas liberdades democráticas que sempre desejou eliminar. Passados pouco mais de 25 anos, é preciso dizer o mesmo sobre seu filho Eduardo Bolsonaro. Por atuar deliberada e sistematicamente para prejudicar o Brasil, em nome dos interesses particulares de sua família, Eduardo Bolsonaro precisa ter cassado seu mandato de deputado federal. Trata-se da única reação cabível por parte de uma democracia digna do nome.

Eduardo já fez de tudo, mas não há afronta à democracia que não possa ser superada por outra maior. Não lhe pareceu suficiente, por exemplo, regozijar-se do lobby que fez junto ao governo dos EUA como forma de pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) a desistir dos processos contra seu pai, tornando-se responsável, em grande medida, pelo tarifaço convertido em chantagem explícita do presidente americano, Donald Trump, contra o Brasil e a favor de Jair Bolsonaro. Também não lhe bastou arvorar-se em negociador diplomático e pedir sanções contra autoridades brasileiras, entre as quais os presidentes da Câmara e do Senado, o ministro do STF Alexandre de Moraes e o presidente Lula da Silva. Era preciso, como fez o pai durante as décadas que passou no Congresso, enxovalhar a instituição parlamentar que ele mesmo integra: nesta semana, o deputado admitiu na caradura que está sabotando o esforço da comitiva de senadores brasileiros que viajou aos EUA para tentar abrir algum canal de diálogo com o Congresso e o governo americanos a fim de evitar as tarifas impostas por Trump.

Dias antes, reclamou dos governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e do Paraná, Ratinho Junior (PSD), por se pronunciarem sobre o tarifaço sem mencionar o que realmente importa para os Bolsonaros – a liberdade de Jair Bolsonaro. Ainda acusou Tarcísio de tê-lo desrespeitado por dialogar com empresários paulistas e com o encarregado de negócios dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, para discutir a crise. Segundo a cartilha bolsonarista, qualquer ação que se afaste da defesa direta da impunidade para o ex-presidente e outros golpistas equivale a uma declaração de guerra.

A lista de suas imposturas também envolveu uma live nas redes sociais, na qual o irascível “Zero Três” não só manteve o diapasão alto nos ataques ao STF como recorreu a uma intimidação de fazer corar vítimas de gângsteres, milicianos e contraventores do gênero. Ao mencionar a Polícia Federal e citar o delegado responsável pelos principais inquéritos contra Bolsonaro, subiu alguns graus do “jus sperniandi” de quem se enxerga um injustiçado para fazer ameaça explícita: “Vai lá, cachorrinho da Polícia Federal que tá me assistindo, deixa eu saber não”, avisou. “Se eu ficar sabendo quem é você, eu vou me mexer aqui. Pergunta ao tal delegado Fábio Alvarez Shor (que investigou Bolsonaro em diversos inquéritos) se ele conhece a gente”. Um assombro.

Com o prazo expirado da licença que o deputado tirou para sabotar o Brasil em solo americano, e sem planos imediatos de retornar ao País, esperava-se que ele renunciasse ao mandato que os paulistas infelizmente lhe deram. Nos últimos dias, difundiu-se na imprensa a possibilidade de a Câmara adotar o mesmo artifício usado no caso do deputado Chiquinho Brazão, réu pelo assassinato da vereadora carioca Marielle Franco: deixar que as faltas às sessões cumprissem a função da perda do mandato. Será um erro gravíssimo. A fim de cuidar da própria imagem, não bastará ao Legislativo federal recorrer a essa solução. Afinal, Eduardo Bolsonaro passou dos limites e merece não a inércia corporativista da Casa, mas uma punição dura, real e imediata.

Há 25 anos, quando poupou o então deputado Jair Bolsonaro, a Câmara escolheu desmoralizar-se. Que não repita esse erro agora com Eduardo Bolsonaro. Fonte: https://www.estadao.com.br

A ameaça feita ao Brasil é parte da exacerbação generalizada do ímpeto imperial americano

 

Por Sergio Fausto

Trump emprega contra outros países a mesma técnica que utiliza contra seus adversários internos (qualquer instituição ou indivíduo que ouse se interpor à realização de sua vontade). A chantagem é uma constante em sua trajetória empresarial e política.

Dentro dos Estados Unidos, Trump está levando ao extremo a teoria do caráter unitário do Poder Executivo (Unitary Executive Theory), segundo a qual todas as agências e funcionários do governo estão submetidos ao presidente. Segue-se que, nesse âmbito, ele pode admitir e demitir pessoas, fechar e criar órgãos e agências, interferir no modo de execução das leis e desembolso do orçamento, independentemente da autorização do Legislativo ou do Judiciário. Não contente com isso, Trump busca subtrair poder dos outros ramos do governo.

Invocando uma lei do final do século 18, criada para combater a espionagem estrangeira nos primórdios da nação, arroga-se poderes extraordinários para deportar imigrantes. Na instrumentalização de tarifas de importação para chantagear outros países, faz uso abusivo da Lei de Emergência Econômica Internacional (International Emergency Economic Powers Act), de 1977, que dá poderes excepcionais ao presidente para agir diante de grave ameaça à economia e/ou à segurança nacional.

Com o respaldo da Suprema Corte, controlada por folgada maioria conservadora, vem derrubando obstáculos erguidos por juízes e instâncias inferiores do judiciário americano que tentam conter a enxurrada de ações arbitrárias da Casa Branca. Embora por pequena margem, os republicanos controlam também ambas as casas do Congresso. Fiéis por convicção ou por medo, pois também são objeto de chantagem, deputados e senadores do partido de Trump não ousam exercer o poder de contrapeso que a letra e o espírito da Constituição asseguram ao Legislativo. Nesse passo, os Estados Unidos deslizam velozmente em direção a um regime não democrático. A esperança é que a descendente seja interrompida nas eleições de meio de mandato, se os democratas retomarem o controle da Câmara.

O autoritarismo interno é inseparável do ímpeto imperial em relação ao mundo. Para Trump, se as leis do seu próprio país valem pouco frente às suas vontades, imagine o direito internacional. Nesse âmbito, a prepotência e o arbítrio não encontram limites.

A ameaça feita ao Brasil é parte da exacerbação generalizada do ímpeto imperial americano, com a singularidade agravante de que invade a soberania política e jurídica do País. Busca coagir o Brasil a se dobrar aos caprichos de um presidente estrangeiro interessado em ver um subserviente apoiador seu perdoado pela Justiça brasileira. Procura também forçar o País a ceder aos interesses das grandes empresas americanas de tecnologia.

A esse respeito, a carta de Trump deve ser lida em conjunto com a nota da Casa Branca ameaçando investigar o Brasil por supostas práticas prejudiciais às empresas americanas. Segundo a lógica imperial trumpista, regular o principal meio de comunicação social hoje existente, as plataformas de mídias sociais, só é aceitável se a regulação convier aos interesses das big techs. A inclusão desse tema nas ameaças do governo americano é mais uma prova da nada santa aliança entre essas empresas, o governo americano e, por último, mas não menos importante, a extrema direita internacional, da qual Trump é o líder e o clã Bolsonaro, militante de carteirinha.

A alegação contra o Pix beira o delírio. Supõe que o Brasil possa ser punido por ter desenvolvido uma infraestrutura de acesso livre e gratuito que permite a toda sua população fazer transações financeiras com rapidez e confiabilidade. A razão? Prejuízos a empresas americanas que operam meios eletrônicos de pagamento. Era o que faltava: punir um país por oferecer serviços públicos sob o argumento de que assim roubam oportunidades de negócios de companhias dos Estados Unidos!

Não se entende a ameaça de Trump pela ótica tradicional das relações comerciais, em que todo eventual conflito de interesse é passível de solução pela arte da diplomacia. Estamos diante de um ataque à soberania e às instituições do País, desferido pela maior potência mundial, hoje governada pelo líder da extrema direita em todo o planeta. Em última instância, está em jogo o direito de decidirmos democraticamente sobre o nosso destino.

Negociar é preciso, com sobriedade e firmeza. Mas não menos necessário é ter clareza sobre a ameaça que ronda o Brasil e o mundo. Ela não irá dissipar-se, ainda que saibamos lidar bem com a crise atual. É preciso nos preparar para uma batalha mais longa.

A primeira coisa a fazer é restabelecer um mínimo de unidade nacional. Instigar potência estrangeira a causar dano ao Brasil deveria merecer repúdio unânime, independentemente da inclinação política. Se Lula erra quando exagera em arroubos retóricos contraproducentes, erra mais quem defende a conduta do clã Bolsonaro ou omite-se em condená-lo. É inaceitável colocar em risco o País, empresas e trabalhadores para livrar a própria pele. Fonte: https://www.estadao.com.br

Ex-presidente será alvo de medidas cautelares, e não poderá acessar redes sociais. Ele também terá acesso proibido a outros investigados e diplomatas.

 

Ex-presidente Jair Bolsonaro fala com a imprensa no Senado, em 17 de julho de 2025 — Foto: Reuters/Adriano Machado

 

Por Camila Bomfim, Fábio Amato, Vladimir Netto, Isabela Camargo

Polícia Federal (PF) cumpre mandados contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na manhã desta sexta-feira (18).

Advogados de defesa do ex-presidente confirmaram a operação. Ele é alvo de medidas restritivas determinadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), segundo fontes ouvidas pelo blog.

Os mandados estão sendo cumpridos na casa do ex-presidente, em Brasília, e em endereços ligados ao Partido Liberal (PL), legenda de Bolsonaro.

Entre as restrições, Bolsonaro passará a usar tornozeleira eletrônica e não poderá acessar redes sociais.

Ele também terá de permanecer em casa entre 19h e 7h da manhã, e foi proibido de se comunicar com embaixadores e diplomatas estrangeiros (não podendo se aproximar de embaixadas), nem com outros réus e investigados pelo Supremo. Fonte: https://g1.globo.com

Fiéis à desonestidade intelectual do padrinho, governadores bolsonaristas que aspiram à Presidência culpam Lula pela ameaça de tarifaço de Trump. A direita pode ser muito melhor que isso

 

A direita brasileira que se pretende moderna e democrática, se quiser construir um legítimo projeto de oposição ao governo Lula da Silva, precisa romper definitivamente com Jair Bolsonaro e tudo o que esse senhor representa de atraso para o Brasil. Não se trata aqui de um imperativo puramente ideológico, e sim de uma exigência mínima de civilidade, decência e compromisso com os interesses nacionais.

O recente ataque do presidente americano, Donald Trump, às instituições brasileiras, supostamente em defesa de Bolsonaro, é só uma gota no oceano de males que o bolsonarismo causa e ainda pode causar aos brasileiros. A vida pública de Bolsonaro prova que o ex-presidente é um inimigo do Brasil que sempre colocou seus interesses particulares acima dos do País. A essa altura, portanto, já deveria estar claro para os que pretendem herdar os votos antipetistas que se associar a Bolsonaro, não importa se por crença ou pragmatismo eleitoral, significa trair os ideais da República e arriscar o progresso da Nação.

Por razões óbvias, Bolsonaro não virá a público condenar o teor da famigerada carta de Trump a Lula. Isso mostra, como se ainda houvesse dúvidas, até onde Bolsonaro é capaz de ir – causar danos econômicos não triviais ao País – na vã tentativa de salvar a própria pele, imaginando que os arreganhos de Trump tenham o condão, ora vejam, de subjugar o Supremo Tribunal Federal e, assim, alterar os rumos de seu destino penal.

Nesse sentido, é ultrajante a complacência de governadores como Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG) e Ronaldo Caiado (GO) diante dos ataques promovidos pelo presidente dos EUA ao Brasil. As reações públicas dos três serviram para expor a miséria moral e intelectual de uma parcela da direita que se diz moderna, mas que continua a gravitar em torno de um ideário retrógrado, personalista, francamente antinacional e falido como é o bolsonarismo.

Tarcísio, Zema e Caiado, todos aspirantes ao cargo de presidente da República, usaram suas redes sociais para tentar impingir a Lula, cada um a seu modo, a responsabilidade pelo “tarifaço” de Trump contra as exportações brasileiras. Nenhum deles se constrangeu por tergiversar em nome de uma “estratégia eleitoral”, vamos chamar assim, que nem de longe parece lhes ser benéfica – haja vista a razia que a associação ao trumpismo provocou em candidaturas mundo afora.

Tarcísio afirmou que “Lula colocou sua ideologia acima da economia, e esse é o resultado”, atribuindo ao petista a imposição de tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras aos EUA – muitas das quais saem justamente do Estado que ele governa. Classificando, na prática, a responsabilidade de Bolsonaro como uma fabricação, o governador paulista concluiu que “narrativas não resolverão o problema”, como se ele mesmo não estivesse amplificando uma narrativa sem pé nem cabeça.

Caiado, por sua vez, fez longa peroração, com direito a citação do falecido caudilho venezuelano Hugo Chávez, antes de dizer que, “com as medidas tomadas pelo governo americano, Lula e sua entourage tentam vender a tese da invasão da soberania do Brasil”. Por fim, coube a Zema encontrar uma forma de inserir até a primeira-dama Rosângela da Silva no script para exonerar Bolsonaro de qualquer ônus político pelo prejuízo a ser causado pelo “tarifaço” americano se, de fato, a medida se concretizar.

O Brasil não merece lideranças que relativizam os próprios interesses nacionais em nome da lealdade a um projeto autoritário, retrógrado e personalista. Até quando a direita brasileira permitirá ser escrava de um desqualificado como Bolsonaro? Não é essa a direita de um país decente. Não é possível defender o Estado Democrático de Direito e, ao mesmo tempo, louvar e defender um ex-presidente que incitou ataques às urnas eletrônicas, ameaçou as instituições republicanas, sabotou políticas de saúde pública e usou a máquina do Estado em benefício próprio e de sua família ao longo de uma vida inteira.

O Brasil precisa, sim, de uma direita responsável, madura e comprometida com o futuro – não de marionetes de um golpista contumaz. Fonte: https://www.estadao.com.br

Ao ameaçar impor tarifas contra o Brasil em favor da impunidade de Bolsonaro, o presidente americano deu ao petista o que ele mais precisava neste momento de impopularidade: um inimigo

 

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, prestou um enorme favor ao presidente Lula da Silva com a ameaça de impor tarifas comerciais ao Brasil para obrigar o País a se render a suas absurdas exigências, entre as quais livrar Jair Bolsonaro pela tentativa de golpe de Estado. Deu ao demiurgo petista tudo o que um populista como ele mais deseja num momento de impopularidade: um inimigo para brigar. De preferência, um inimigo que faça ameaças de tal ordem que possam, se efetivadas, causar prejuízos reais à economia, abalar setores e negócios estratégicos como o agronegócio e o aço, encarecer a vida dos brasileiros e, de quebra, enfraquecer as forças políticas aliadas de Trump no Brasil.

Ainda é cedo para decretar que o tiro do presidente americano saiu pela culatra, mas é evidente que boa parte da conta de seu eventual tarifaço recairá sobre os ombros de quem supostamente moveu mundos e fundos para a ação de Trump contra o Brasil. Nesse pacote, inclui-se, em primeiro lugar, o clã Bolsonaro. Como se sabe, o ex-presidente e seus associados liberticidas viram na volta de Trump à Casa Branca uma boia de salvação para si e para o bolsonarismo. Alguns aliados, mais cautelosos, trataram Trump como símbolo do nacionalismo triunfante que sonhavam em aplicar no Brasil. Outros, mais delirantes, chegaram a clamar por uma invasão americana. Entre um passeio e outro na Disneylândia, Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, se apresenta como exilado político nos Estados Unidos e fez lobby na Casa Branca para que Trump liderasse a campanha bolsonarista contra o Supremo Tribunal Federal (STF), instituição tida como algoz de seu pai e de aliados golpistas.

O efeito prático está aí: o risco de o nacionalismo patriótico do bolsonarismo se converter numa oposição aos interesses do Brasil. Pode ser de pouca serventia a tentativa dos Bolsonaros e dos principais nomes da direita brasileira – como o governador Tarcísio de Freitas, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e outros de menor musculatura política – de atribuírem culpa a Lula, ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, ao Itamaraty ou ao PT. Assim como ocorreu em países como Canadá, Austrália, México e, em certa medida, Alemanha, a interferência política de Trump em assuntos nacionais produziu resultados contrários: desmoralizou o americano e enfraqueceu o potencial eleitoral de seus aliados.

Para um governo e um presidente com imagem combalida pela incompetência e pela inépcia, nada mais útil do que ter um inimigo externo e assim, em tese, tentar “unir” o País contra os prejuízos da medida – incluindo o setor produtivo, que majoritariamente enxerga o lulopetismo com desconfiança. Bastou a publicação da carta de Trump para que Lula, seus exegetas no Palácio do Planalto e os habituais porta-vozes do lulopetismo nas redes decretassem uma espécie de estado de defesa da soberania nacional. E assim o enredo está urdido: um governo ruim, um presidente perdendo aliados e uma base desanimada se veem ávidos para galvanizar apoios Brasil afora contra a ameaça trumpista. A essa agenda se soma a campanha do “nós contra eles”, deflagrada recentemente após a crise do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), e assim se completa a receita populista do lulopetismo com um só objetivo: a reeleição de Lula.

Mas que Lula e a companheirada não se enganem. Apesar do favor político oferecido por Trump, o tarifaço, se vier, resultará em prejuízos econômicos consideráveis – ao agronegócio, à indústria e aos consumidores –, e com o tempo é provável que parte de tais efeitos seja debitada também da conta de Lula, sobretudo porque este não atuou para reduzir as tensões com os Estados Unidos de Trump. Recorde-se que Lula, ao contrário, investiu na aproximação com a China, advogou pela substituição do dólar como moeda do comércio global e fez campanha contra companhias americanas de internet. Por ora, o jogo favorece Lula, mas a eleição ainda está muito longe. Fonte: https://www.estadao.com.br

O enredo que nos trouxe até aqui, misturando degradação institucional, escárnio escrachado e realismo fantástico, tem se mostrado imprevisível

 

Por Eugênio Bucci

Pela primeira vez na História do Brasil, militares de alta patente, acompanhados de um ex-presidente da República, tomam assento no banco dos réus. Eles são acusados de organização criminosa armada e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, entre outros crimes. A notícia é tão inusitada que parece boa, mas, na verdade, é apenas um começo.

Por certo, o processo que corre no Supremo Tribunal Federal (STF) reluz pelo ineditismo. Diferentemente do que se via no passado, o Brasil não deixa mais por isso mesmo. Agora, há um esforço para responsabilizar os que atentaram contra a normalidade democrática. As coisas avançam semana a semana. Os integrantes do “núcleo crucial” da trama, conforme o nomeou a Procuradoria-Geral da República, tiveram de comparecer aos interrogatórios. Agora, houve uma acareação momentosa entre o tenente-coronel Mauro Cid e o general Walter Braga Netto.

O andamento, contudo, é difícil. Para atrapalhar os ritos, surgiram lances de clamoroso cinismo. O réu Jair Bolsonaro, enquanto era interrogado, deu de convidar o ministro Alexandre de Moraes, que conduzia a sessão, para figurar como vice em sua chapa para a Presidência da República em 2026. O tom foi jocoso: piada à queima-roupa. O magistrado apenas sorriu, num clima de quase descontração judicial, e, no seu linguajar característico, declinou. Pilhéria indeferida.

O que nos aguarda? O processo vai transcorrer em risadas? Vai transitar em julgado amaciado? Vai dar cadeia? Virá uma anistia? Uma pizza? Não há como saber. O enredo que nos trouxe até aqui, misturando degradação institucional, escárnio escrachado e realismo fantástico, tem se mostrado imprevisível. Primeiro, tentou-se derrubar a República numa tramoia que incluiu acampamentos à frente de quartéis, fake news torrenciais sobre as urnas eletrônicas, depredação dos palácios dos Três Poderes e um plano para assassinar o chefe de Estado, seu vice e um ministro do Supremo. Depois, no julgamento, veio o espetáculo acintoso. Os acusados não se envergonham do que é vergonhoso. Desdenham da autoridade judiciária. Agem como se estivessem acima das leis dos comuns.

O historiador Carlos Fico estuda há décadas “o desprezo dos militares pela política, seu autoentendimento como superiores aos civis”. O retrato que ele nos entrega dessa história, no livro Utopia autoritária brasileira: Como os militares ameaçam a democracia brasileira desde o nascimento da República até hoje (Editora Planeta do Brasil), é desalentador. A virada de mesa tem sido uma constante das Forças Armadas. Trata-se de um vício que se reproduz impunemente.

“Todas as crises políticas brasileiras caracterizadas por ruptura da legalidade constitucional (vou denominá-las ‘crises institucionais’) foram causadas por militares”, afirma Carlos Fico. “As Forças Armadas violaram todas as constituições da República. (...) Indisciplina e subversão marcam a trajetória dos militares no Brasil. Eles foram responsáveis por todas as crises institucionais do País desde a Proclamação da República e jamais foram efetivamente punidos.”

O livro demonstra que, neste país, o golpe compensa – mesmo quando fracassa. Com a palavra, o historiador: “Quando afirmo que nunca houve, no Brasil, a efetiva punição de militares golpistas, me refiro às anistias que foram aprovadas pelo Congresso Nacional beneficiando os oficiais envolvidos nas tentativas fracassadas de 1904, 1922, 1924, 1956, 1959 e 1961. É claro que não cabe falar em punição no caso dos golpes bem-sucedidos (1889, 1930, 1937, 1945, 1954, 1955 e 1964).”

Por que “não cabe falar em punição no caso dos golpes bem-sucedidos”? Muito simples: quando o golpe dá certo, o ordenamento jurídico que poderia puni-lo não fica de pé para aplicar a lei. Passa a valer o inverso. Por exemplo: com a tomada do poder pelas tropas em 1964, quem fixou residência na prisão não foram os golpistas, mas os que se opunham à quartelada. Eis por que a legislação atual, com acerto, estabelece como crime a tentativa de golpe, não o golpe consumado. A tentativa basta para configurar o tipo penal.

Fora o acerto da lei, o que vemos hoje na Corte não é bom. Algo na voz dos réus, na sua maneira de olhar ou de desviar o olhar, deixa ver que, para eles, o golpismo é um ato de bravura. A fixação maníaca na ideia de assalto ao poder constitui um traço cultural que se mantém intacto no ideário das tropas. O que explica essa permanência? De onde vem isso?

A resposta lógica aponta para as escolas em que se formam os oficiais. Se a formação fosse outra, a mentalidade da farda já seria diferente. Será razoável que o currículo das academias das Forças Armadas e das Polícias Militares fique inteiramente a cargo da caserna? Ou será que isso deveria ser da competência da sociedade e do Estado Democrático de Direito? De forma respeitosa, dialogada e serena, é preciso enfrentar a questão. Ou o Brasil encara essa agenda espinhosa ou talvez não tenhamos como sair dessa espiral em que o populismo de coturnos, quando vai ao banco dos réus, vai em trajes de galhofa. Fonte: https://www.estadao.com.br

Para ex-líder de Pablo Marçal, envolvimento de igrejas com a política é 'distração do Maligno'

 

Tarcísio de Freitas, entre sua mulher, Cristiane (esq.), e a bispa Sônia, no palco da Marcha para Jesus - Eduardo Knapp - 19.jun.25/Folhapress

 

*Juliano Spyer

A política esteve presente na Marcha para Jesus na quinta-feira passada (19). Em nota, Lula descreveu seus organizadores como "verdadeiros pastores do seu povo". E o governador —talvez presidenciável — Tarcísio de Freitas foi tietado e desfilou com uma bandeira de Israel. Mas cresce, entre evangélicos, o sentimento de que a relação entre política e púlpito se tornou tóxica.

Após a divulgação dos dados sobre religião do Censo de 2022, pastores como Silas Malafaia expressaram desconfiança: "Onde a esquerda mete a mão, tenho dúvida". Mas uma liderança conhecida, o pastor Aluízio Silva, da Igreja Videira, atribuiu a queda no crescimento evangélico ao envolvimento de líderes religiosos com a política.

No culto realizado após o anúncio dos dados do Censo, Aluízio lembrou que, se os evangélicos continuassem crescendo no ritmo registrado na contagem anterior, ultrapassariam os católicos em 2032. E cravou o motivo da desaceleração em uma só palavra: bolsonarismo.

"Quando os pastores no púlpito resolveram assumir politicamente algo, eles fecharam a porta da igreja para um montão de gente", disse. E alertou: "Isso é distração do Maligno. Nós estamos aqui para trabalhar pela expansão do Reino de Deus".

Devemos celebrar que uma liderança evangélica conservadora, à frente de uma igreja conhecida, esteja criticando o uso político da fé? Antes de responder, vale examinar como e por que esse vídeo viralizou.

A fala vem do ex-pastor de Pablo Marçal, que o recebeu no aniversário de 25 anos de sua igreja —realizado no estádio Serra Dourada, com transmissão pela TV aberta, pela Rede Globo de Goiânia. O evento ocorreu na véspera do primeiro turno das eleições municipais, e Marçal foi acolhido como o filho pródigo que, como na parábola bíblica, retorna à sua casa.

Marçal apresentou-se para o eleitor paulistano como herdeiro legítimo do bolsonarismo. Denunciou os arranjos políticos que levaram Bolsonaro a apoiar um candidato "do sistema" e, por isso, bateu boca publicamente com Silas Malafaia, que tenta se manter relevante como interlocutor entre evangélicos e o ex-presidente.

A fala do pastor Aluízio, atacando o bolsonarismo, se alinha ao posicionamento de Marçal como representante do discurso antiestablishment? Durante a campanha de 2024, Marçal denunciou pastores por supostamente receberem favores do prefeito Ricardo Nunes em troca de apoio.

Há outros dados a considerar. A declaração do pastor Aluízio sobre o Censo foi publicada e depois apagada pelo site O Fuxico Gospel, um canal popular de notícias e fofocas. O vídeo viralizou a partir do post de Andrade, um influenciador cristão e de esquerda, cujo perfil no X é @AndradeRNegro2. O site Brasil 247, próximo ao PT, repercutiu a fala.

Guilherme Boulos não mudou os rumos do segundo turno ao aceitar ser entrevistado pelo candidato derrotado Pablo Marçal para os milhões de seguidores online dele. Mas eu recebi o vídeo com a fala do pastor Aluízio de interlocutores de direita e o fato de ele estar circulando expõe um sentimento crescente, no segmento evangélico, de que pastores ricos querem enriquecer a qualquer custo —e que a política se tornou um meio para isso. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

* Antropólogo e historiador, autor de 'Crentes' (Record) e 'Povo de Deus' (Geração), pesquisa cristianismo, mundo popular, mídias digitais e esportes de combate

Ministra do Meio Ambiente enfrenta teste de resistência em gestão que não tem maioria no Legislativo e precisa de presidente do Congresso, favorável à exploração de petróleo na foz do Amazonas

 

A ministra Marina Silva na Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI) do Senado Foto: Rogerio Cassimiro/MMA

 

Por Vera Rosa

“Me respeite, ministra! Se ponha no teu lugar!” Foi assim que o senador Marcos Rogério (PL-RO) se dirigiu à titular do Meio Ambiente, Marina Silva, nesta terça-feira, 27, em sessão marcada por intenso bate-boca, na Comissão de Infraestrutura do Senado. Foram horas de desrespeito transmitidas ao vivo, sem que a base do governo defendesse Marina à altura dos ataques contra ela.

Marcos Rogério presidia a sessão em que a ministra foi convidada para explicar o motivo da criação de uma unidade de conservação ambiental marinha na chamada Margem Equatorial da foz do Amazonas. A Petrobras reivindica autorização do Ibama para prospectar petróleo naquela área e os senadores avaliam que Marina é quem cria obstáculos para dificultar a exploração.

"Fui convidada como ministra, você tem que me respeitar", diz Marina a senador

Líder do PSDB, senador Plínio Valério (AM), afirmou que “a mulher Marina merecia respeito, a ministra não”.

Sem um pedido de desculpas do líder do PSDB, Plínio Valério (AM), que em março já havia dito ter vontade de enforcá-la, Marina acabou se retirando da sessão.

Pouco antes, o mesmo Plínio Valério tinha feito o seguinte comentário: “Ministra Marina, que bom reencontrá-la! E, ao olhar para a senhora, eu estou vendo uma ministra, eu não estou falando com uma mulher. Porque a mulher merece respeito; a ministra, não”.

Soube-se, horas depois, que o presidente Lula, a primeira-dama Janja da Silva e outros ministros telefonaram para Marina e se solidarizaram com ela. Não basta.

Publicidade

Não é de hoje que a situação de Marina, uma ex-petista, passa por um teste de resistência no governo. De um lado, ela enfrenta a oposição de uma ala da Esplanada e do Congresso que, por trás do discurso em defesa da exploração mineral, respalda interesses empresariais.

De outro, vê Lula adotar retórica dúbia a respeito de temas sobre os quais não deveriam pairar incertezas, como a necessidade de assegurar precauções para que a Petrobras faça a prospecção de petróleo na Margem Equatorial, fronteira da costa que se estende do Amapá ao Rio Grande do Norte.

“Eu não faço o meu trabalho pensando nas próximas eleições”, disse a ministra no Senado, deixando no ar quem seria o destinatário da frase.

Lula já reclamou do “lenga-lenga do Ibama” e chegou a dizer que o instituto parece ser contra o governo. Nos últimos tempos, foi além, fazendo tudo para atender o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil), que é do Amapá, favorável à exploração de petróleo na Margem Equatorial e quer ver o imbróglio entre a Petrobras e o Ibama resolvido antes de novembro, quando os holofotes mundiais estarão voltados para a Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP-30), em Belém. Sem maioria no Congresso, Lula depende de Alcolumbre para aprovar projetos de interesse do Palácio do Planalto.

Aliado do senador, o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues, ex-Rede e hoje no PT, não compareceu à sessão na qual seus colegas tentaram emparedar Marina. Jaques Wagner (PT-BA), líder no Senado, estava lá, mas saiu antes, sob a alegação de que precisava acertar a votação de projetos.

No show de horrores, outro que se destacou foi Omar Aziz (PSD-AM). Embora integrando a base aliada de Lula, Aziz protagonizou uma ríspida discussão com a ministra.

“A senhora atrapalha o desenvolvimento do nosso País”, gritou ele. “Tem mais de 5 mil obras paradas por causa dessa conversinha. Quero resolutividade, não é conversa fiada”, emendou.

Marina avalia que saiu fortalecida do embate por não se intimidar. Resta saber, no entanto, até quando ela aguentará essa prova de obstáculos com um Congresso que puxa o seu tapete dia sim, outro também, diante de um governo enfraquecido.

Em 2008, após vários confrontos com a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, Marina entregou sua carta de demissão a Lula alegando ter enfrentado “crescentes resistências” em “setores importantes do governo e da sociedade”. Dezessete anos depois, o que mudou? Fonte: https://www.estadao.com.br

Novos detalhes do planejamento do golpe de Bolsonaro revelam que o país esteve a um triz de uma nova tragédia autoritária

 

8 de janeiro de 2023 — Foto: Cristiano Mariz/O Globo

 

Por Míriam Leitão  

O triz que estivemos de uma nova tragédia autoritária se vê nas conversas do policial federal Wladimir Matos Soares com o advogado Luciano Diniz. O advogado diz: “Bastava tão somente para dar um susto, dissolver o STF… Puf, acabou meu irmão. Como faz falta um Figueiredo. O Médici, o Médici.” O agente responde que o plano estava pronto, mas Bolsonaro foi “traído” pelo Exército. “A gente ia empurrar meio mundo de gente, pô. Matar meio mundo. Estava nem aí cara.” E acrescenta, “o Alexandre de Moraes realmente tinha que ter tido a cabeça cortada”.

A certeza da impunidade de Wladimir Matos se vê num detalhe revelado. Ele guardava todas essas informações tórridas, mensagens escritas e em áudio, provas de crime, no notebook da Polícia Federal. As provas estavam com ele quando foi preso, em novembro de 2024, no Rio. Wladimir Matos havia sido deslocado para a cidade porque 80% do efetivo da PF participava da segurança do G20, mas foi deixado em uma posição periférica, pois já estava sendo monitorado.

A importância do que foi divulgado agora se vê através do tempo. A Polícia Federal investigou e reconstituiu os fatos que haviam acontecido em 2022. Quando Wladimir Matos Soares foi preso, seus diálogos confirmaram tudo: houve uma tentativa de golpe; a Marinha apoiava; o Exército recuou. E o então presidente desistiu na última hora por falta de respaldo do Exército. Em 2022, ele enviou mensagens a um assessor do então presidente Jair Bolsonaro, Sérgio Rocha Cordeiro, fornecendo os dados e as coordenadas de duas pessoas que estavam na segurança do presidente Lula. O agente havia trabalhado com Alexandre Ramagem, em 2018, na segurança de Jair Bolsonaro. Tudo se encaixa tão perfeitamente.

— Nesta interlocução dele com o capitão da reserva Sérgio Cordeiro, assessor especial do então presidente, ele valida o que a investigação havia visto. Seus diálogos são da época dos fatos em dezembro de 2022 e demonstram o que a investigação concluiu. Que houve uma mobilização para tentar uma virada institucional. Os áudios chancelam as conclusões a que a equipe de investigação chegou — diz um investigador.

Nem todo o material apreendido pela Polícia Federal foi analisado. Há muita coisa ainda sendo vista. Quando o coronel Flávio Peregrino, assessor de Braga Netto, foi preso, a Polícia Federal pegou pen drives, HDs, computadores, “mídias”, como os policiais dizem. Muito do conteúdo ainda nem foi analisado. Há telefones celulares cujas senhas ainda não foram quebradas. Isso muda alguma coisa? A avaliação que ouvi é que a cada novo material avaliado está se confirmando a mesma conclusão, de que havia um golpe de Estado em andamento no Brasil, com a intenção de impedir a posse do presidente eleito e com planos de assassinatos políticos.

Essas evidências que ainda estão sendo analisadas podem ser objeto de relatórios da Polícia Federal. Não cabem mais indiciamentos, mas a PF pode agregar novas provas, enviar para o ministro relator, que envia à Procuradoria Geral da República, para fazer aditamentos à denúncia. Os novos elementos de prova reforçam a acusação contra este núcleo golpista, cuja denúncia deve ser julgada essa semana. Confirmam a linha da acusação que já foi recebida pelo STF.

Luciano Diniz, um dos interlocutores de Wladimir Matos Soares, é advogado em Salvador e não está indiciado. O valor do diálogo é que nele o agente da PF revela todos os detalhes do que se preparava. “Nós fazíamos parte de uma equipe de operações especiais que estava pronta para defender o presidente (Bolsonaro), armada e com poder de fogo elevado para empurrar quem viesse à frente. Esperávamos uma canetada para agir. Na véspera que a gente ia agir, o presidente foi traído dentro do Exército. Os generais foram lá e deram a última forma e disseram que não iam mais apoiar ele”, relata o policial. Ele diz que Alexandre de Moraes deveria ter sido eliminado quando impediu que o delegado Alexandre Ramagem assumisse a Polícia Federal. “Tinha que ter cortado a cabeça dele ali”.

Que estivemos muito perto de um golpe sangrento se vê na maneira aberta como se conversava no governo Bolsonaro sobre o atentado à democracia. Os documentos mostram que o policial frequentava o acampamento em frente ao Exército. “Não ia ter posse, cara, nós não íamos deixar”. Foi por um triz.

(Com Ana Carolina Diniz). Fonte: https://oglobo.globo.com

Cena, que aparenta ter sido produzida por Inteligência Artificial, foi publicada sem texto nas redes do presidente americano e no perfil oficial da Casa Branca

 

Por Redação

presidente dos Estados Unidos e o perfil oficial da Casa Branca no X (antigo Twitter) publicaram na sexta-feira, 2, nas redes sociais, uma imagem em que Donald Trump aparece vestido como papa, sentado em uma cadeira de estrutura dourada.

A imagem foi divulgada na plataforma TruthSocial, de propriedade do presidente, e mostra Trump em trajes papais, incluindo uma mitra e um cordão dourado com uma cruz, sentado em uma cadeira de estrutura dourada e com o dedo indicador direito apontando para o céu.

Na última terça-feira, Trump afirmou, em tom de brincadeira, que gostaria de ser o próximo papa. “Eu seria minha escolha número 1″, disse Trump a repórteres.

Apesar da piada, ele disse que não tem uma preferência. “Temos um cardeal de um lugar chamado Nova York que é muito bom. Vamos ver o que acontece”, afirmou.

O cardeal Timothy Dolan, arcebispo de Nova York, não está entre os principais cotados, mas outro americano aparece na lista: o cardeal Joseph Tobin, arcebispo de Newark, em Nova Jersey. Nunca houve um papa dos Estados Unidos.

O caixão do papa Francisco é carregado à frente de dignitários, incluindo o presidente Donald Trump, ao centro, e a primeira-dama, Melania Trump, durante funeral na Praça de São Pedro, no Vaticano, em 26 de abril  Foto: Cecilia Fabiano / LaPresse via AP

O presidente dos Estados Unidos e a primeira-dama, Melania, participaram, em Roma, do funeral do papa Francisco, em 26 de abril.

A postagem ocorre poucos dias após a morte do Papa Francisco e às vésperas do início do conclave no Vaticano, onde 133 cardeais se reunirão na Capela Sistina a partir de quarta-feira, 7, para eleger o novo pontífice. Fonte: https://www.estadao.com.br

A trajetória do ‘caçador de marajás’ até a prisão é uma espécie de inventário das mazelas políticas brasileiras, mas também serve para mostrar a força institucional do País

Fernando Collor de Mello, primeiro presidente eleito pelo voto direto no Brasil depois da ditadura militar, agora é um presidiário, condenado por corrupção. Seu nome já estava na História como o primeiro presidente a sofrer um processo de impeachment, também sob acusação de corrupção. Sua trajetória, portanto, é uma espécie de livro-texto para os que quiserem estudar as mazelas políticas brasileiras desde o renascimento da democracia. E serve também – porque nem tudo é tragédia, afinal – para simbolizar a capacidade institucional brasileira de punir quem conspurca a República. Não é pouca coisa.

Primeiro, às mazelas. Collor foi condenado em maio de 2023 a oito anos e dez meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava Jato. Na ocasião, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou que, entre 2010 e 2014, Collor usou sua influência sobre a presidência e a diretoria da BR Distribuidora, então subsidiária da Petrobras, para direcionar contratos de construção de bases de distribuição de combustíveis para a UTC Engenharia em troca de propina. O caso, portanto, ilustra com perfeição como as numerosas estatais do País são vulneráveis aos mercadores da política, que cavoucam cargos, oportunidades e contratos para se locupletarem.

Collor era apenas um dos tantos usufrutuários do monstruoso escândalo do petrolão, que foi a dilapidação da Petrobras pelos governos petistas de Lula da Silva e Dilma Rousseff. Com isso, acabou se associando à corrupção do PT, o partido que ele mesmo combateu com denodo ao se tornar presidente, em 1989, derrotando Lula da Silva no segundo turno.

Não é a única ironia da trajetória de Collor, que foi afastado da Presidência em meio a um escândalo de corrupção depois de ter chegado ao poder prometendo moralizar a vida pública e caçar os “marajás” do Estado. Como este jornal sublinhou à época, Collor traiu os brasileiros que acreditaram em suas promessas de prosperidade e honestidade no trato da coisa pública, e “renunciou não em aras da Pátria, mas pensando no seu futuro político pessoal”, desejando que, “em breve ou a médio prazo, seus malfeitos sejam esquecidos e ele possa voltar ao cenário político”.

O vaticínio do Estadão foi certeiro: o alívio viria dois anos depois, quando o STF o inocentou da acusação de corrupção passiva, e logo o ex-presidente voltaria à ribalta política. Não se encerraram ali, entretanto, os problemas de Collor com a Justiça. Durante as três décadas seguintes, ele continuamente enfrentou processos criminais – e saiu-se livre de todos eles, elegendo-se senador em 2006. Foi nessa condição, e fazendo parte da base de “aliados” de Lula e Dilma, que Collor manteve seus tentáculos políticos destinados à obtenção de dividendos, vamos chamar assim, singulares. Segundo a denúncia que o levou à condenação, o ex-presidente recebeu R$ 20 milhões em propina, dinheiro que supostamente “apareceu” do nada em sua conta, enquanto ele dizia não fazer “a menor ideia” de sua origem, de acordo com entrevistas que concedeu durante o processo.

Mas nem tudo nessa história são mazelas. Collor, afinal, está preso, depois de um processo em que teve amplo direito de defesa. Isso significa que as barreiras republicanas erguidas pela Constituição de 1988 estão em vigor e, bem ou mal, funcionam. No caso de Collor, aliás, isso já havia ficado claro logo no primeiro teste da Constituição recém-promulgada, com seu processo de impeachment. O Congresso, estimulado pelas manifestações de cidadãos indignados nas ruas, abreviou o mandato de quem estava transformando a Presidência em balcão de negócios escusos. Tudo dentro da lei.

Ademais, as reinações lulopetistas (e colloridas) levaram o Congresso a aprovar, em 2016, uma lei para pôr cobro à exploração política (e pecuniária) das empresas estatais. Trata-se de um avanço gigantesco, que se mantém mesmo diante de manobras espertas dos petistas para enfraquecê-la.

Collor estará preso até decisão definitiva do plenário do STF. Seja qual for seu destino, no entanto, o Brasil sairá melhor. Fonte: https://www.estadao.com.br

Correndo por fora da batalha das tarifas, a grande pauta global dos alimentos precisa vir à tona

 

Por Fernando Gabeira

O centro das discussões mundiais são as tarifas de Trump. Não poderia ser diferente: envolvem a economia do planeta e a sorte de bilhões. No entanto, há uma decisão de Trump que foi pouco discutida, com efeito arrasador sobre os mais pobres do mundo. Trata-se do corte de 83% dos programas norte-americanos de ajuda humanitária e ao desenvolvimento. O balanço do estrago dessa decisão foi feito nas primeiras semanas após o anúncio, mas ainda assim ele pode surpreender pela sua carga negativa.

O jornal Le Monde cita a primeira avaliação de março, divulgada na revista Nature: a suspensão da ajuda arrisca privar 1 milhão de crianças de acesso ao tratamento vital contra a desnutrição e a provocar 160 mil mortes anuais. Essas análises se apoiam no fluxo de financiamento e na mortalidade constatada quando não se combate a desnutrição.

O problema não se limita ao corte americano. Com a nova configuração política e o abalo da Otan, os principais países europeus começam a destinar mais dinheiro para armamento. A Alemanha, por exemplo, flexibilizou suas rígidas regras fiscais para destinar verbas ao setor militar. Países como a França e o Reino Unido reduzem sua ajuda ao desenvolvimento de países pobres. A França cortou 37%; a Inglaterra, 40%. Se somamos a renúncia americana com os cortes europeus, cerca de 2,3 milhões de crianças não serão tratadas e abre-se a possibilidade de mais 370 mil mortes de crianças por ano. É como se a tragédia de crianças morrendo pelas bombas em Gaza fosse multiplicada por 30.

Ao anunciar o desmantelamento da Usaid, Elon Musk afirmou que ninguém morreria por causa de um corte para controlar a ajuda estrangeira. As estimativas o desmentem.

A organização humanitária Helen Keller afirma que somente em Bangladesh, Nigéria e Nepal cerca de 21 milhões de pessoas ficaram sem ajuda nutricional, entre elas 11 milhões de crianças. A questão alimentar já era problemática, e ficou dramática a partir da retirada dos EUA, que eram responsáveis por 30% da ajuda mundial.

Nos dias 27 e 28 de março, a França organizou um encontro internacional, uma espécie de conferência da nutrição. O tema era também qual resposta deveria ser dada pela comunidade internacional a esta nova situação, em que os EUA se demitem e os europeus, antes dos americanos, já começam a deixar o campo. Os organizadores reconhecem que o debate sobre nutrição não se limita à comida, ele se estende às mudanças climáticas. Até a obesidade crescente em algumas áreas do mundo era parte da agenda. O Brasil participou desse encontro. A representante brasileira foi Janja. Lula lançou no Rio a Aliança Global contra a Fome. Abriu-se, com essa renúncia americana, não só um campo de crítica a Trump, como uma necessidade de redobrar o esforços diante de uma situação calamitosa. Lula tem não só a chance, mas também a necessidade de avaliar o novo quadro e ampliar os esforços que culminaram com o consenso no Grupo dos 20. Antes de tudo isso, eu já tinha escrito um artigo sobre a questão dos alimentos, mostrando que o alto preço momentâneo no Brasil, na França e nos Estados Unidos é apenas a ponta do iceberg.

Inspirei-me no livro do jornalista Paul Roberts The End of the Food, no qual analisa as cadeias globais de abastecimento e fez previsões sombrias sobre o futuro dos alimentos no mundo. Ele menciona três variáveis que podem definir esse futuro: energia, mudanças climáticas e crise hídrica. Muitos países já não produzem alimentos para economizar água. E os mais competitivos, como o Brasil, exportam milhões de litros de água gratuitamente, por meio da produção de carne de frango e porco. O livro de Roberts começa com as questões de saúde que a produção em grande escala traz, como a contaminação dos alimentos, mas examina também algumas das aspirações de países mais pobres, como por exemplo a de comer mais carne. Isso traria melhorias na saúde, mas é uma forma pouco eficiente de obter calorias. Em média, são necessários dois quilos de cereais para produzir um quilo de carne.

Aos poucos, a complexidade da alimentação diante do crescimento mundial vai subindo na agenda. Dois presidentes, por exemplo, falaram do preço do ovo nas últimas semanas.

Lula, no Brasil, reclamou dos aumentos causados por questões climáticas, preço de rações e conjuntura de maior consumo de ovo por causa da Quaresma. Devastada pela gripe aviária, a produção norte-americana elevou os preços de forma assustadora. Em Nova York, os ovos estavam sendo vendidos por unidade ou em caixas de três. Trump mencionou o tema no dia em que anunciava a questão das tarifas, o que mostra a importância estratégica que uma crise alimentar pode ter para os governos ao redor do mundo.

Aliás, a importância do tema da escassez é indiscutível, pois já derrubou vários governos. A questão é prever as consequências de uma crise durável, provocada pela escassez de água, ausência de energia abundante e empobrecimento irreversível dos rios e oceanos.

Correndo por fora da batalha das tarifas, a grande pauta global dos alimentos precisa vir à tona. Naturalmente, temos de começar pela emergência da fome e pela realidade assustadora de existirem 80 milhões de crianças necessitando de tratamento contra a desnutrição. Mas há amplo caminho pela frente, um pouco ofuscado pelas tarifas, em que os alimentos são uma espécie de coadjuvantes no debate que envolve preço de carros, máquinas de lavar e iPhones. Fonte: https://www.estadao.com.br

Após virar réu no STF, Jair Bolsonaro inflacionou o preço a cobrar dos possíveis candidatos da direita em 2026, que precisam optar entre a moderação ou o apoio a um evidente golpista

No discurso de 50 minutos que fez após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de torná-lo réu por tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito, o ex-presidente Jair Bolsonaro deixou ainda mais difícil a tarefa dos líderes da direita brasileira que tentam se credenciar como candidatos à Presidência em 2026. Ao dobrar a aposta no tom político de sua defesa, atacando a legitimidade do STF para julgá-lo, retomando a sua ofensiva contra o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas e creditando seu julgamento a uma suposta tentativa de tirá-lo do jogo no ano que vem, Bolsonaro deixou claro ao País: qualquer liderança que pretenda herdar seus votos precisará estar umbilicalmente ligada a ele e afinada com o mais puro tom do bolsonarismo raiz.

Não foi apenas um discurso de defesa de si mesmo ou um exercício do sagrado direito de espernear permitido pelas boas democracias, mas a montagem definitiva da armadura bolsonarista para a disputa presidencial. “Parece que tem algo pessoal contra mim”, disse Bolsonaro, mais uma vez disposto a se apresentar como vítima de perseguição política. Afirmou não haver “crime nenhum não passar a faixa” ao presidente Lula da Silva, como se seu golpismo e reconhecido desapreço à democracia se restringissem à ausência na posse do sucessor. Negou ter havido uma trama golpista. Declarou que o Tribunal Superior Eleitoral “influenciou, jogou pesado contra eu (sic) e a favor do candidato Lula”. E voltou a sugerir, sem provas, fraudes nas urnas eletrônicas, afirmando que não é obrigado a “confiar em um programador”.

Foram 50 minutos de improviso – mas espertamente calculado – em que Bolsonaro pôde inflacionar o preço cobrado dos governadores Tarcísio de Freitas (São Paulo), Ronaldo Caiado (Goiás), Romeu Zema (Minas Gerais) e Ratinho Júnior (Paraná), listados como seus possíveis herdeiros. Até mesmo Caiado, o único do grupo que é mais crítico ao ex-presidente, moderou sua fala sobre a decisão do STF, deplorando, como Ratinho Júnior, o fato de a decisão ter ficado restrita à Primeira Turma, e não ao plenário, e pregou o óbvio, isto é, a garantia do direito à ampla defesa. Zema derramou-se em elogios (“o maior líder da oposição ao governo do PT”) e desejou-lhe a recuperação dos direitos políticos.

Mas o maior desafio recai mesmo sobre Tarcísio de Freitas, não só por ser o favorito, como também por ser o mais dedicado e enfático defensor de Bolsonaro, enquanto tenta se apresentar como moderado e democrata – o exato oposto do que o padrinho é. Nas últimas semanas, Tarcísio esteve ao lado do ex-presidente em entrevistas e no ato de defesa da anistia aos golpistas, reafirmou apoio ao ex-presidente tanto em relação ao julgamento do STF quanto à eleição de 2026 e declarou que o padrinho provará inocência, enquanto o ouviu dizer que há três opções da direita para a candidatura de 2026: “Jair, Messias ou Bolsonaro”. Em contrapartida, fez elogios à Justiça Eleitoral, definindo-a como “garantidora da democracia”, tipo de discurso que costuma ser tratado como heresia pelos bolsonaristas mais empedernidos.

Tarcísio parece ter feito o cálculo de que estar com Bolsonaro não tira necessariamente votos do eleitorado anti-Lula e anti-PT, mas se afastar do ex-presidente o inviabiliza entre os eleitores mais fiéis do bolsonarismo. Como Bolsonaro já está inelegível e provavelmente será condenado e possivelmente preso, é muito remota a hipótese de ser ele mesmo o candidato. Desse modo, Tarcísio se apresenta como leal a Bolsonaro num momento de agonia política e se candidata a ser o ungido do bolsonarismo. Trata-se de um cálculo de lógica eleitoralmente razoável.

Há momentos na História, entretanto, que exigem coragem de lideranças para escapar do mero oportunismo eleitoral. É este o caso. Para o bem do Brasil, qualquer candidato da direita deveria cumprir uma obrigação moral: não só se afastar do golpismo, como condená-lo nos mais duros termos, censurando o extremismo que Bolsonaro representa. Sem meios-termos. Sujeitar-se à arapuca que Bolsonaro montou é negar ao País a possibilidade de recobrar a moderação, a qualidade do debate público, a pacificação e a esperança de uma política exercida com lentes liberais e republicanas. Fonte: https://www.estadao.com.br

Presidente percebe que a segurança é tema que dá e tira votos e resolve finalmente endurecer o discurso contra bandidos – aqueles que o PT sempre considerou vítimas de ‘injustiça social’

 

Tisnado pela impopularidade, com índices de aprovação empurrados ladeira abaixo e lá permanecendo, o presidente Lula da Silva parece que finalmente descobriu o quão grande é a sensação de insegurança na população brasileira – e que esse não é um problema restrito apenas ao eleitorado mais conservador. A segurança pública, como se sabe, é uma área na qual nem o governo nem a esquerda nem muito menos o PT têm o que mostrar. Recentemente, porém, durante evento no Ceará, em que protagonizou uma de suas muitas inaugurações palanqueiras, Lula afirmou que não permitirá que a “república de ladrões de celular comece a assustar as pessoas nas ruas deste país”.

A retórica de vingador mascarado, própria de gibis de super-heróis, não orna bem nem com um presidente da República, que não tem entre suas atribuições cuidar da segurança dos cidadãos, nem com um integrante do PT, partido que jamais se preocupou de verdade com isso. Ademais, a “república de ladrões de celular” já é conhecida de todos os brasileiros que vivem nas grandes metrópoles. Logo, Lula chegou tarde ao debate.

Roubo e furto de celulares são hoje os crimes que mais preocupam os cidadãos quando questionados sobre violência urbana, crimes esses que ocorrem de forma democrática, afetando todas as classes sociais. Em alguns casos, como o de São Paulo, há também um notável crescimento nos índices de latrocínio (roubo seguido de morte).

Já faz tempo que o roubo e o furto de celulares resultavam apenas em prejuízo financeiro. Especialistas lembram que os aparelhos viraram fonte de devassa na vida da vítima. Enquanto esta perde um patrimônio de valor e o seu sigilo bancário, bandidos acessam dados pessoais e podem realizar movimentações financeiras e realizar compras com cartões cadastrados. Tudo isso amplifica a sensação de insegurança. Além de São Paulo, números crescentes são registrados em capitais como Salvador e Rio de Janeiro.

Lula descobriu o que sucessivas pesquisas já apontavam desde o ano passado: a maioria dos brasileiros vê piora na segurança pública. Em março de 2024, 79% dos entrevistados em enquete da Quaest sentiam que a violência no Brasil havia piorado nos 12 meses anteriores. O Datafolha também registrou, ao longo daquele ano, a volta da segurança pública ao topo das preocupações nas capitais. Não se viu reação governamental significativa, apenas uma tentativa tímida do ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, de transmitir algum movimento na área. Até aqui, deu no que deu: em nada.

Agora há registros na imprensa descrevendo o esforço de auxiliares do presidente para convencer o chefe de que, assim como a inflação, a segurança pública é um problema que também prejudica a imagem do seu governo, ainda que seja atribuição dos Estados. Como o único problema que Lula de fato conhece é a sua popularidade (e a próxima eleição à vista), ele resolveu agir – ao seu estilo: com bravatas e campanha publicitária. No mesmo palanque no Ceará, o presidente disse que “lugar de bandido não é na rua assaltando, assustando e matando as pessoas”, numa fala calculada para tentar convencer o eleitorado de que pode enfrentar a direita nesse terreno. Além do discurso, o governo também promete, ora vejam, mais uma campanha, provisoriamente focada no “Celular Seguro”, aplicativo do Ministério da Justiça que ajuda a bloquear e localizar celulares perdidos ou roubados.

Ao jornal O Globo, o deputado Jilmar Tatto, secretário nacional de Comunicação do PT, escancarou a estratégia: “O PT até agora não achou embocadura para esse tema, mas o governo, depois de muitos debates, não está mais tendo essa confusão. Bandido tem que ser julgado e ir para cadeia, cara que rouba tem que ser julgado e pagar pelo que fez, sendo pobre ou rico. Essa é a mudança conceitual e de comportamento do ponto de vista de como tratar o tema e a linguagem”. Bem, antes tarde do que nunca: para um partido que sempre atribuiu o crime às “injustiças sociais”, chamar bandido de bandido é um progresso e tanto. Fonte: https://www.estadao.com.br 

Álvaro Lins Pereira de Lira, o Alvinho, ocupa cargo de gestor administrativo em Barra de São Miguel, com salário de R$ 8.000

 

Álvaro Filho, o Alvinho, é filho de Arthur Lira e competiu em vaquejada no ano passado com sua égua Jocarta Two - Itawi Albuquerque - 30.nov.24/Folhapress

 

Josué Seixas

Maceió

Aos 18 anos, Álvaro Lins Pereira de Lira, conhecido como Alvinho, foi nomeado para o cargo de gestor administrativo em Barra de São Miguel (AL) no início deste mês, com salário de R$ 8.000. Filho do ex-presidente da Câmara dos DeputadosArthur Lira (PP), ele é apontado como o herdeiro político da família.

Questionada, a prefeitura informou que a atribuição do cargo é prestar assessoria do gabinete do prefeito junto aos secretários e debater as demandas da administração.

Ao assumir o cargo, Álvaro disse que esta era "uma forma de retribuir, com trabalho e dedicação, a confiança que a população depositou em seu avô" nas últimas eleições municipais.

Benedito de Lira, que morreu em janeiro deste ano, havia sido reeleito prefeito do município. Agora, o gestor é seu vice, Luiz Henrique Lima Alves Pinto (PP), que tem salário de R$ 12 mil. Durante a campanha, Álvaro foi ponto-chave ao preencher lacunas que o avô, à época com 82 anos, não conseguia.

Ele discursava em eventos, acompanhava as passeatas e agia como suporte de Benedito, como visto pela Folha em comício em setembro do ano passado.

No "Arrastão do Biu", foi elogiado durante o discurso do avô, que também brincou ao chamá-lo de "um menino" e "um bebê", e por meio dele agradeceu a Arthur Lira, que estava em agenda política em outra cidade.

Em Alagoas, Álvaro é visto como o sucessor natural do ex-presidente da Câmara dos Deputados. Embora seja o caçula, ele é o filho que escolheu participar das atividades políticas da família. Já estavam no seu dia a dia compromissos como conversas com moradores, visitas a obras e participações em agendas políticas.

Filiado ao PP, ele é visto como um candidato em preparação. Por causa da idade, o jovem poderia ter concorrido ao cargo de vereador no pleito do ano passado.

Álvaro completa 21 anos somente em 17 de março de 2027. Essa é a idade em que poderia concorrer para deputado federal, estadual, prefeito ou vice-prefeito.

Por isso, o planejamento inicial era que assumisse a Prefeitura de Barra de São Miguel após o segundo mandato de seu avô. O anúncio da reeleição, por exemplo, tinha Álvaro e Henrique Alves Pinto gesticulando o 11, com Benedito ao centro.

Com Alves Pinto no comando do município, a tendência é que a presença de Álvaro na administração continue constante. Eles estiveram juntos no dia 30 de janeiro, data que marcou o início do ano letivo da rede pública de ensino de Barra de São Miguel, com direito a discurso do filho de Arthur Lira.

O jovem também é a face do Parque Arthur Filho, que promove vaquejadas e homenageia o filho mais velho do deputado federal alagoano. Álvaro, inclusive, competiu na 17ª vaquejada do Parque Arthur Filho em novembro do ano passado.

O evento teve a presença de diversos políticos de Alagoas e de estados vizinhos. Lira, o atual presidente da Câmara dos Deputados Hugo Motta (Republicanos) e o senador Ciro Nogueira (PP) estiveram juntos em uma das noites.

No dia 1º de janeiro deste ano, quando Benedito já estava hospitalizado e não conseguiu comparecer à posse como prefeito, Arthur Lira o representou e discursou, citando a importância do filho na eleição.

"Eu dizia a ele [Álvaro] que ele era meus olhos e meus ouvidos e as pernas do meu pai durante a campanha. Junto a todos vocês, fez um papel muito importante", afirmou.

Com o atual salário, o filho de Arthur Lira supera os vencimentos dos secretários municipais e também do procurador-geral do município —para eles, o valor é de R$ 6.800, o maior praticado até então. O cargo foi criado no dia 31 de janeiro deste ano, conforme lei delegada.

Não há menção a esse cargo nas alterações do dia 24 de março de 2023, em que o município estava sob o comando de Benedito de Lira, nem em 15 de dezembro de 2016, quando o gestor era José Medeiros Nicolau, conhecido como Zezeco. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Registro em certidão dos mortos pelo regime alerta para importância da preservação das instituições democráticas

 

Eunice Paiva, viúva de Rubens Paiva, durante entrevista ao lado da foto do marido em 1986 - Jorge Araujo - 4.set.86/Arquivo Folhapress

 

No dia 20 de janeiro de 1971, Rubens Beyrodt Paiva foi sequestrado em sua casa, preso, torturado e assassinado por agentes do regime militar. O corpo do ex-deputado, cujo mandato havia sido cassado em 1964, nunca foi encontrado.

Após uma luta hercúlea por informações sobre o marido, Eunice Paiva obteve, em 1996, uma certidão de óbito que registrava só o desaparecimento.

Agora, o poder público corrige esse erro. No documento passa constar que a morte de Paiva foi "não natural; violenta; causada pelo Estado brasileiro no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política do regime ditatorial instaurado em 1964".

Mesmo tardia, a retificação tem expressivo papel simbólico. Foram muitos os desaparecidos pela brutalidade da ditadura militar, e a ausência de um documento oficial que ateste não só o óbito como as causas funestas apenas perpetua a dor de parentes.

A trágica história da família foi contada no filme "Ainda Estou Aqui", dirigido por Walter Salles. A obra foi indicada ao prêmio Oscar nas categorias de melhor filme, melhor filme em língua estrangeira e melhor atriz para Fernanda Torres, já vencedora do Globo de Ouro, que interpreta Eunice. A película se baseia no livro homônimo do escritor Marcelo Rubens Paiva, filho do político assassinado.

As outras famílias que viveram casos semelhantes, embora menos conhecidos do grande público, poderão igualmente ter as certidões de óbito de seus entes queridos retificadas.

Em dezembro, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) determinou que os cartórios do país devem atualizar os documentos de centenas de mortos e desparecidos durante a ditadura para constar que foram vítimas do regime. "É um acerto de contas legítimo com o passado", afirmou o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do CNJ e do Supremo Tribunal Federal.

Os parentes, inclusive de Paiva, deverão receber as novas certidões em sessões organizadas pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos e pelo Ministério de Direitos Humanos.

Segundo levantamento realizado pelo Operador Nacional do Registro Civil de Pessoas Naturais, há 202 casos de retificação de certidões e 232 novos registros de óbito a serem produzidos.

Documentar os crimes da ditadura militar é uma reparação histórica que evidencia a importância da preservação das instituições democráticas. Em tempos de polarização política e populismos, tal alerta torna-se ainda mais necessário. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Segundo PF, migrantes chegaram algemados a Manaus em voo americano; FAB fará transporte até Belo Horizonte

 

Constança Rezende Victor Lacombe

Brasília e São Paulo

O ministro Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública) determinou às autoridades e a representantes do governo americano a imediata retirada das algemas de migrantes brasileiros deportados dos Estados Unidos que chegaram em Manaus na sexta-feira (24).

De acordo com nota divulgada neste sábado (25) pela pasta, Lewandowski informou ao presidente Lula (PT) "sobre uma tentativa de autoridades dos Estados Unidos de manter cidadãos brasileiros algemados durante o voo de deportação" até Belo Horizonte, destino final. Segundo nota da Polícia Federal, os brasileiros chegaram algemados em Manaus.

A situação foi comunicada ao ministro pelo diretor-geral da PF, Andrei Passos Rodrigues. Lewandowski disse ao presidente que houve "flagrante desrespeito" aos direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros.

"Ao tomar conhecimento da situação, o presidente Lula determinou que uma aeronave da FAB fosse mobilizada para transportar os brasileiros até o destino final, de modo a garantir que possam completar a viagem com dignidade e segurança", diz a nota. O avião americano parou em Manaus para reabastecer, mas uma falha técnica impediu a continuidade do voo até Belo Horizonte.

Ministério da Justiça e Segurança Pública afirmou ainda que a dignidade da pessoa humana é um princípio basilar da Constituição Federal e um dos pilares do Estado Democrático de Direito, configurando valores inegociáveis.

Já a PF afirmou que os brasileiros que chegaram algemados foram recebidos e imediatamente liberados das algemas, na garantia da soberania brasileira em território nacional e dos protocolos de segurança no país. O órgão também proibiu que os brasileiros fossem novamente detidos pelas autoridades americanas.

Procurada pela Folha, a embaixada dos EUA em Brasília limitou-se a dizer que "os cidadãos brasileiros do voo de repatriação estão sob custódia das autoridades brasileiras" e que a representação diplomática está em contato com as autoridades do país.

Segundo a polícia, os passageiros foram acolhidos e acomodados na área restrita do aeroporto. No local, receberam bebida, comida, colchões e foram disponibilizados banheiros com chuveiros. "Os brasileiros serão acompanhados e protegidos pelos militares da FAB e policiais federais brasileiros", disse.

O grupo de 158 migrantes deportados desembarcou em Manaus após o avião americano que os levaria até Belo Horizonte apresentar um problema técnico. O voo com o deportados, dos quais 88 são brasileiros, decolou na sexta-feira (24) da cidade de Alexandria, no estado da Virgínia, e pousou em Manaus para reabastecer.

A FAB (Força Aérea Brasileira) informou que fará o transporte dos migrantes deportados. Segundo a Força, o avião saiu de Brasília às 13 horas e tinha chegada prevista em Manaus às 15h30 (14h30 no horário local). Profissionais de saúde acompanharão os deportados durante o trajeto até Belo Horizonte. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Líder religiosa apelou ao presidente para que fosse mais brando com população LGBT e estrangeiros

 

AFP

O presidente dos Estados UnidosDonald Trump, qualificou, nesta quarta-feira (22) como "desagradável" uma bispa de Washington e exigiu desculpas dela por ter dito que o republicano estava semeando o medo entre os migrantes e as pessoas LGBTQ.

"A chamada bispa que falou na terça-feira no Serviço Nacional de Oração é uma esquerdista radical que odeia Trump. Ela teve um tom desagradável, não foi convincente nem inteligente", escreveu o mandatário em sua rede, a Truth Social.

O presidente compareceu na terça a uma missa na Catedral Nacional de Washington dirigida pela bispa Mariann Edgar Budde, da Diocese Episcopal de Washington.

Em seu discurso, a religiosa sermoneou o novo líder pelos decretos assinados contra as pessoas LGBTQ e os migrantes após assumir seu segundo mandato presidencial.

"Peço que tenha piedade, senhor presidente", disse a bispa, que falou do "medo" que, segundo ela, se sente em todo o país.

"Há crianças gays, lésbicas e transgênero em famílias democratas, republicanas e independentes", afirmou.

Também defendeu os trabalhadores estrangeiros que "podem não ser cidadãos ou não ter a documentação adequada, mas a grande maioria dos migrantes não são criminosos."

O presidente, que anteriormente se limitou a dizer que a missa "não foi muito emocionante", atacou duramente a bispa em sua rede social.

"Além de seus comentários inapropriados, o sermão foi muito chato e pouco inspirador. Ela não é muito boa em seu trabalho. Ela e sua igreja devem desculpas ao público", publicou.

Entre as dezenas de ordens executivas assinadas na última hora de segunda-feira por Trump estão medidas para suspender a chegada de solicitantes de asilo e expulsar os migrantes que estão no país ilegalmente.

Trump também decretou que apenas serão reconhecidos dois sexos: masculino e feminino, mas não o transgênero. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br