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Papa Francisco durante a Missa na Capela da Casa santa Marta. 13/11/2017 13:15
“Escândalos que ferem os corações e matam esperanças e ilusões”, palavras proferidas pelo Papa Francisco na missa matutina celebrada, nesta segunda-feira (13/11), na Capela da Casa Santa Marta.
“É inevitável que aconteçam escândalos”, recordou o Pontífice, retomando as palavras de Jesus no Evangelho do dia, “mas ai daquele que produz escândalos!”. E Jesus adverte os seus discípulos: “Prestem atenção em vocês mesmos!”.
“Ou seja, fiquem atentos a não escandalizar. O escândalo é feio porque o escândalo fere, fere a vulnerabilidade do povo de Deus, fere a fragilidade do povo de Deus e muitas vezes essas feridas são carregadas pro toda a vida. Não somente fere, o escândalo é capaz de matar: matar esperanças, matar ilusões, matar famílias, matar muitos corações.”
“Prestem atenção em vocês mesmos” é uma advertência a todos, sublinhou Francisco, especialmente a quem se diz cristão, mas vive como pagão. Este é “o escândalo do povo de Deus”.
“Muitos cristãos com o seu exemplo distanciam as pessoas, com a sua incoerência, com a própria incoerência: a incoerência dos cristãos é uma das armas mais fáceis que o diabo tem para enfraquecer o povo de Deus e distanciar o povo de Deus do Senhor. Dizer uma coisa e fazer outra.”
Esta é a “incoerência” que faz escândalo, que deve hoje nos fazer perguntar – disse o Papa -: “como é a minha coerência de vida? Coerência com o Evangelho, Coerência com o Senhor?” Francisco citou como exemplo os empreendedores cristãos que não pagam os salários justos e se servem das pessoas para se enriquecerem e também o escândalo dos pastores na Igreja que não cuidam das ovelhas e se afastam.
“Jesus nos diz que não se pode servir a dois senhores, a Deus e ao dinheiro, e quando o pastor é alguém apegado ao dinheiro, escandaliza. E as pessoas se escandalizam: o pastor apegado ao dinheiro. Todo pastor deve se perguntar: como é minha amizade com o dinheiro? Ou o pastor que procura subir, a vaidade o leva a escalar, em vez de ser gentil, humilde, porque a gentileza e a humildade favorecem a proximidade com as pessoas. Ou o pastor que se sente senhor e comanda todos, orgulhoso, e não o pastor servidor do povo de Deus”…
“Hoje pode ser - concluiu Francisco a sua homilia - um bom dia para fazer um exame consciência sobre isso: escandalizo ou não, e como? E assim poderemos responder ao Senhor e nos aproximarmos um pouco mais d’Ele”. Fonte: http://pt.radiovaticana.va
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O celibato dos padres é intocável. O vento reformista do Papa Bergoglio certamente não sopra nessa direção, e, no horizonte, não há pressupostos para abrir aos padres casados. A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada no jornal Il Messaggero, 18-05-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"O celibato sacerdotal vai continuar como está." Quem esclareceu definitivamente essa questão foi o próprio Papa Francisco, que quis tranquilizar os bispos italianos reunidos em assembleia no Vaticano.
Há dois dias, depois da leitura do seu discurso sobre a renovação do clero, foi realizada, a portas fechadas, uma espécie de sessão de perguntas e respostas sobre diversos assuntos. Um bispo tomou a palavra para lhe pedir explicações sobre possíveis modificações futuras naquela direção. A resposta do papa foi clara e sem qualquer abertura.
Embora o celibato não seja um dogma, certamente não será este pontífice quem vai enfrentá-lo. Há algum tempo, existem diversos teólogos e correntes de pensamento que pressionam as instituições da Igreja para permitir que os padres se casem.
Quem alimentou esperanças nesse sentido foi Bergoglio no início do seu pontificado, quando, ao retornar de uma viagem, falando com os jornalistas, disse: "A Igreja Católica tem padres casados nos ritos orientais. O celibato não é um dogma de fé, é uma regra de vida, que eu aprecio muito e acho que é um dom para a Igreja. Não sendo um dogma de fé, sempre há a porta aberta, mas, neste momento, são outros os temas sobre a mesa". Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
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O que os leigos pedem aos seus sacerdotes, hoje? Nós escolhemos duas vozes, um homem e uma mulher, para responder a esta pergunta.
Interessante o que afirma Marco Tuggia, pedagogo e docente no seminário de Vicenza. Em sua opinião, o processo de formação dos novos padres deveria incluir três áreas.
A primeira é que o sacerdote precisa aprender a "deslocar-se do centro do palco", porque é fundamental que ele "aprenda a construir em conjunto com os outros as decisões a serem tomadas". O povo de Deus, de fato, não é desprovido de experiência e de saberes. O padre é chamado a "facilitar os processos de colaboração e co-projeto”.
A segunda área enfatizada por Tuggia, diz respeito "ao conjunto de competências necessárias para trabalhar concretamente em grupo". O sacerdote deve "saber se posicionar dentro de uma dimensão compartilhada", tanto com outros sacerdotes como com os leigos.
A terceira área contempla à capacidade de ouvir as pessoas: "O sacerdote deveria saber ouvir realmente, por estar livre da preocupação de ter que dar soluções". Mas isso vai exigir uma profunda transformação, porque ele "não seria mais obrigado a estar um passo à frente das pessoas da sua comunidade, mas, finalmente, ao seu lado".
Da mesma opinião é Gina Zordan, vice-presidente do setor de adultos da Ação Católica de Vicenza: "Os sacerdotes deveriam ser capazes de ouvir a vida dos leigos que estão em contato direto com a realidade", preenchendo assim aquela lacuna que às vezes é criada entre as noções adquiridas e a vida real.
Pelo que ouvimos, pode-se deduzir que o seminário é hoje um problema sério e que a formação que proporciona é um campo em reestruturação. Desses seminários saem os sacerdotes que orientarão as comunidades cristãs do amanhã. Abertos à modernidade, mas ancorados a determinados, irrenunciáveis "pontos fixos". Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
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Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco presidiu hoje, domingo, 12 de novembro de 2017, às 12 horas locais de Roma, a habitual cerimónia mariana do Ângelus na Praça S. Pedro, hoje repleta de fiéis e peregrinos provenientes de diversas partes da Itália e do mundo.
Comentando a página do Evangelho (Mt 25, 1-13), deste domingo, trigésimo segundo do tempo comum, Francisco disse que ela, mediante a parábola das dez virgens, indica-nos a condição para entrar no Reino dos céus. As dez virgens, sublinhou o Santo Padre, eram de facto aquelas moças cuja principal tarefa naquela época, era acolher e acompanhar os esposos para a cerimônia do matrimónio, que era realizado durante a noite. Razão pela qual, elas estavam sempre munidas de uma lâmpada.
Ora, acrescentou o Pontífice, a parábola nos diz que cinco destas moças virgens eram sábias e prudentes, enquanto as outras cinco eram simplesmente insensatas. A prova de tudo isso, é o facto que as moças sensatas levaram consigo o óleo, o azeite, para as lâmpadas, enquanto que as insensatas não levaram nada consigo. O esposo demora a chegar e todas elas, seja as insensatas como também as sensatas, adormecem. À meia noite é anunciada a chegada do esposo é só naquele preciso momento é que as moças insensatas deram-se na conta de não terem levado consigo o óleo, o azeite para as lâmpadas, vão então ter com as suas colegas sensatas e lhes dizem: “dai-nos do vosso azeite, que as nossas lâmpadas estão a apagar-se”. Mas as sensatas responderam: “Talvez não chegue para nós e para vós. Ide antes comprá-lo aos vendedores”. Mas, enquanto foram comprá-lo, chegou o esposo: as que estavam preparadas, isto é, as virgens sensatas, entraram com ele para o banquete nupcial; e a porta fechou-se. As outras virgens insensatas chegaram muito tarde e disseram: “Senhor, Senhor, abre-nos a porta”. Mas ele respondeu-lhes: “em verdade vos digo: não vos conheço”. Foi assim que elas ficaram então fora.
O que é que Jesus nos quer ensinar com esta parábola? Recorda-nos que devemos estar prontos para o encontro com Ele. Muitas vezes no Evangelho, Jesus exorta-nos à vigilância e o faz também no fim da narração desta página evangélica: “Portanto, vigiai, porque não sabeis o dia nem a hora”. Mas com esta parábola nos diz também que vigiar que não significa somente não adormecer, mas estar preparados; de facto todas as virgens adormeceram antes da chegada do esposo, mas ao acordarem, algumas delas estavam prontas e outras não. Aqui está precisamente o significado do ser sábio, sensato e prudente: trata-se de não esperar o último momento da nossa vida para colaborar com a graça de Deus, mas de fazê-lo já a partir de agora. Quanto seria bom pensarmos o nosso dia como se fosse o último da nossa existência terrena.
A lâmpada, sublinhou Francisco, é o símbolo da fé que ilumina a nossa vida, enquanto que o óleo, o azeite, é o símbolo da caridade que alimenta, torna fecunda e credível a luz da fé. Daí que, acrescentou o Papa, a condição para estarmos prontos ao encontro com o Senhor, não é somente ter a fé, mas termos também uma vida cristã rica de amor para com o próximo.
Se nos deixarmos guiar por aquilo que nos parece mais cômodo, pela procura dos nossos interesses, a nossa vida torna-se estéril, incapaz de dar vida aos outros e não acumulamos nenhuma quantia de azeite para a lâmpada da nossa fé e ela se apagará no preciso momento da vinda do Senhor ou então muito antes até. Se pelo contrário somos vigilantes e procuramos fazer o bem mediante gestos de amor, de partilha, de serviço ao próximo em dificuldade, podemos estar tranquilos enquanto esperamos a vinda do esposo: o Senhor poderá vir em qualquer momento e também o sono da morte não nos espantará, porque temos conosco, a reserva do azeite, acumulado mediante as boas obras quotidianas. A fé inspira a caridade e a caridade cura a fé.
Que a virgem Maria, concluiu dizendo Francisco, nos ajude a tornar a nossa fé sempre mais operosa por meio da caridade, para que a nossa lâmpada possa resplandecer já aqui, no caminho terreno e depois para sempre, durante a festa das núpcias, no paraíso. Fonte: http://pt.radiovaticana.va
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A liturgia do 32º Domingo do Tempo Comum convida-nos à vigilância. Recorda-nos que a segunda vinda do Senhor Jesus está no horizonte final da história humana; devemos, portanto, caminhar pela vida sempre atentos ao Senhor que vem e com o coração preparado para o acolher.
O Evangelho lembra-nos que “estar preparado” para acolher o Senhor que vem significa viver dia a dia na fidelidade aos ensinamentos de Jesus e comprometidos com os valores do Reino. Com o exemplo das cinco jovens “insensatas” que não levaram azeite suficiente para manter as suas lâmpadas acesas enquanto esperavam a chegada do noivo, avisa-nos que só os valores do Evangelho nos asseguram a participação no banquete do Reino.
ATUALIZAÇÃO (EVANGELHO - Mt 25, 1-13)
-A mensagem que Mateus pretende transmitir com esta parábola aos cristãos da sua comunidade (e, no fundo, aos cristãos de todas as comunidades cristãs de todos os tempos e lugares) é esta: nós os crentes, não podemos afrouxar a vigilância e enfraquecer o nosso compromisso com os valores do Reino. Com o passar do tempo, as nossas comunidades têm tendência para se instalar no comodismo, no adormecimento, no descuido, numa vida de fé que não compromete, numa religião de “meias tintas” e de facilidade, num testemunho pouco empenhado e pouco coerente… É preciso, no entanto, que o nosso compromisso com Jesus se renove cada dia. A certeza de que Ele vem outra vez, deve impulsionar-nos a um compromisso ativo com os valores do Evangelho, na fidelidade aos ensinamentos de Jesus e ao compromisso com o Reino.
- Nós, os cristãos do séc. XXI, não somos significativamente diferentes dos cristãos que integravam a comunidade de Mateus… Também percorremos um caminho de altos e baixos, em que os momentos de entusiasmo e de compromisso alternam com os momentos de instalação, de comodismo, de adormecimento, de pouco empenho. As dificuldades da caminhada, os apelos do mundo, a monotonia, a nossa fragilidade levam-nos, frequentemente, a esquecer os valores do Reino e a correr atrás de valores efémeros, que parecem garantir-nos a felicidade e só nos arrastam para caminhos de escravidão e de frustração. O Evangelho deste domingo lembra-nos que a segunda vinda do Senhor deve estar sempre no horizonte final da nossa existência e que não podemos alienar os valores do Evangelho, pois só eles nos mantêm identificados com esse Senhor Jesus que há-de voltar para nos oferecer a vida plena e definitiva. Enquanto caminhamos nesta terra devemos, pois, manter-nos atentos e vigilantes, fiéis aos ensinamentos de Jesus e comprometidos com esse Reino que Ele nos mandou construir.
- “Estar preparado” não significa, contudo, ter a “alminha” limpa e sem mancha, para que, quando nos encontrarmos com o Senhor, Ele não tenha nenhuma falta não confessada a apontar-nos e nos leve para o céu… Mas significa, sobretudo, vivermos dia a dia, de forma comprometida e entusiasta, o nosso compromisso baptismal. “Estar preparado” passa por descobrirmos dia a dia os projetos de Deus para nós e para o mundo e procurar concretizá-los, com alegria e entusiasmo; “estar preparado” passa por fazermos da nossa vida, em cada instante, um dom aos irmãos, no serviço, na partilha, no amor, ao jeito de Jesus.
- Embora o nosso texto se refira, primordialmente, ao nosso encontro final com Jesus, todos nós temos consciência de que esse momento não será o nosso único encontro com o Senhor… Jesus vem ao nosso encontro todos os dias e reclama o nosso empenho e o nosso compromisso na construção de um mundo novo – o mundo do Reino. Ele faz ecoar o seu apelo na Palavra de Deus que nos questiona, na miséria de um pobre que nos interpela, no pedido de socorro de um homem escravizado, na solidão de um velho carente de amor e de afeto, no sofrimento de um doente terminal abandonado por todos, no grito aflito de quem sofre a injustiça e a violência, no olhar dolorido de um imigrante, no corpo esquelético de uma criança com fome, nas lágrimas do oprimido… O Evangelho deste domingo avisa-nos que não podemos instalar-nos no nosso egoísmo e na nossa autossuficiência e recusar-nos a escutar os apelos do Senhor.
- A história das jovens “insensatas” que se esqueceram do essencial faz-nos pensar na questão das prioridades… É fácil irmos “na onda”, preocuparmo-nos com o imediato, o visível, o efémero (o dinheiro, o poder, a influência, a imagem, o êxito, a beleza, os triunfos humanos…) e negligenciarmos os valores autênticos. Mateus, com algum dramatismo, avisa-nos que só os valores do Evangelho nos asseguram a participação no banquete do Reino. O objetivo da catequese de Mateus não é dizer-nos que, se não nos portarmos bem, Deus nos castiga com o inferno; mas é alertar-nos para a seriedade com que devemos avaliar as nossas opções, de forma a não perdermos oportunidades para nos realizarmos e para chegarmos à felicidade plena e definitiva.
(Leia a reflexão na íntegra. Clique no link ao lado EVANGELHO DO DIA)
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Papa Francisco durante a Missa na Capela da Casa Santa Marta (10/11/2017). Um caso de corrupção quotidiana. É o que narra o Evangelho de Lucas através da figura do administrador que desperdiça os bens do patrão e que, quando descoberto, ao invés de encontrar um trabalho honesto, continua a roubar com a cumplicidade de outros, “uma verdadeira ‘rede’ de corrupção”, na definição do Papa Francisco, relacionando o episódio com os nossos dias:
"São poderosos eles, hein? Quando fazem ‘redes de corrupção’ são potentes. Chegam a cometer atitudes mafiosas. Esta é a história, não é uma fábula, não é um caso que devemos procurar nos livros de história antiga. Nós a vemos todos os dias nos jornais, todos os dias. Isto acontece também hoje, sobretudo com aqueles que têm a responsabilidade de administrar os bens do povo, não os bens próprios. Com os próprios bens ninguém é corrupto, porque os defende”.
Assim, a consequência que Jesus tira deste Evangelho, observou o Papa, é justamente a maior astúcia dos “filhos deste mundo” em relação aos “filhos da luz”: a sua corrupção maior, a esperteza levada adiante “também com cortesia”, com “luvas de seda”. Francisco questionou se existe a “esperteza cristã”:
"Mas se estes são mais astutos do que os cristãos - mas não vou dizer cristãos, porque também muitos corruptos se dizem cristãos - se eles são mais astutos do que os fiéis a Jesus, eu me pergunto: existe uma astúcia cristã? Há uma atitude para aqueles que querem seguir Jesus, (de modo que), mas que não acabem mal, que não acabem sendo comidos vivos - como minha mãe dizia: “Comidos crus”” – pelos outros? Qual é a astúcia cristã, uma astúcia que não seja pecado, mas que sirva para me levar ao serviço do Senhor e também para ajudar os outros? Existe uma esperteza cristã?"
Sim, há uma “intuição cristã para ir avante sem cair na rede da corrupção” e no Evangelho, explica o Papa, Jesus o indica com algumas contraposições, quando fala, por exemplo, dos cristãos que são como “ovelhas entre lobos” ou “prudentes como as serpentes e simples como a pomba”. Então, o que fazer? Francisco indica três atitudes: a primeira é uma “saudável desconfiança”, estar atentos, isto é, a quem “promete muito” e “fala demais” como “aqueles que dizem a você, “ faça o investimento no meu banco, eu lhe darei juros em dobro”. A segunda atitude é a reflexão, diante das seduções do diabo que conhece nossas fraquezas; e, finalmente, a oração.
"Rezemos hoje ao Senhor para que nos dê essa graça de sermos espertos, cristãos espertos, de termos esta esperteza cristã. Se há uma coisa que o cristão não pode se dar ao luxo de ser é ser ingênuo. Como cristãos, temos um tesouro dentro: o tesouro que é o Espírito Santo. Devemos preservá-lo. E um ingênuo se deixa roubar o Espírito. Um cristão não pode se permitir de ser um ingênuo. Peçamos essa graça da esperteza cristã e da intuição cristã. É também uma boa oportunidade para rezar pelos corruptos. Fala-se de poluição atmosférica, mas também há uma poluição da corrupção na sociedade. Rezemos pelos corruptos: pobrezinhos, que encontrem o caminho para sair daquela prisão na qual eles quiseram entrar!". Fonte: http://pt.radiovaticana.va
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Na audiência geral desta quarta-feira, (8/11/2017) o Papa deu início a uma nova série de catequese, centrada sobre a Eucaristia, pois que – disse – é fundamental para os cristãos compreender bem o valor e o significado da Santa Missa.
Não podemos esquecer – frisou – o grande número de cristãos que ao longo da história da Igreja – ontem e hoje – resistiram e resistem até à morte para defender a Eucaristia. E deu o exemplo de um grupo de cristãos que no ano 304, no Norte de África, foram detidos porque celebravam a Missa. E à pergunta porque o faziam se era proibido, responderam que “não podiam viver sem o domingo”, ou seja sem celebrar a Eucaristia. E foram mortos por isso, deixando o testemunho de que se pode renunciar à vida terrena, mas não à vida eterna.
E antecipando que Eucaristia significa agradecimento a Deus, Pai, Filho e Espírito Santo que nos envolve e nos transforma na sua comunhão de amor, o Papa afirmou que nas próximas catequeses, vai debruçar-se sobre a Eucaristia e a Santa Missa, para descobrir como, através deste mistério da fé, resplandece o amor de Deus.
Um dos intentos fortes do Concílio Vaticano II era levar os cristãos a compreender a grandeza da fé e a beleza do encontro com Cristo; com esse objetivo, sob a guia do Espírito Santo, deu início a uma adequada renovação da Liturgia, pois é dela que a Igreja incessantemente vive e é graças a ela que se renova. Um tema central, que os Padres Conciliares sublinham, é a formação litúrgica dos fiéis, indispensável para uma verdadeira renovação. E esta é precisamente a finalidade do ciclo de catequeses que hoje tem início:
“Crescer na consciência deste grande dom de Deus que nos deu a Eucaristia. A Eucaristia é um acontecimento maravilhoso no qual Jesus Cristo, nossa vida, se faz presente. Participar na Missa “é viver mais uma vez a paixão e morte redentora do Senhor. É uma teofania: o Senhor se faz presente sobre o altar para ser oferecido ao Pai para a salvação do mundo. O Senhor está ali presente conosco.”
Acontece, porém, muitas vezes, que estamos ali a conversar, a olhar para o lado, distraídos, a achar que a Missa, ou melhor o Padre, é chato, tudo sem nos darmos conta realmente que é o Cristo que está ali. No entanto, se viesse aqui o Presidente da Republica, todos gostaríamos de aproximar dele, de o cumprimentar – disse Francisco que recomendou: “Não vos esqueçais: participar na Missa “é viver mais uma vez a paixão e morte redentora do Senhor”. O Papa convidou depois a pôr-se algumas perguntas simples como, por exemplo, porque fazemos o sinal da cruz e o ato penitencial no início da Missa. Significa que somos redimidos com a Cruz do Senhor; e as leituras, porque estão ali? Porque três leituras aos domingos e duas nos outros dias? Ou então, porque é que a dado momento o sacerdote que preside à celebração diz: “Coração ao alto?” Não diz: “Ao alto os nossos tele móveis para tirar fotos, é!”, Não, é uma coisa feia, eh! E digo que a mim dá tanta tristeza quando celebro aqui na Praça ou na Basílica e vejo tantos tele móveis elevados não só dos fiéis, mas também de alguns padres e mesmo bispos. Mas, por favor! “A Missa não é um espetáculo: é ir ao encontro da paixão, da ressurreição do Senhor. Por isso é que o sacerdote diz: “Ao alto os nossos corações”. O que quer dizer isto? Recordai-vos, nada de tele móveis”
O objetivo do Papa é levar os fiéis a redescobrir o que é essencial, através do que se vê e se toca na celebração dos Sacramentos. A este respeito recordou que a exigência posta pelo Apóstolo São Tomé para crer em Jesus ressuscitado – ou seja, ver e tocar as chagas no corpo de Jesus – nasce do nosso desejo de poder, de algum modo, «tocar» Deus para crer n’Ele. O que São Tomé pede ao Senhor é aquilo de que todos nós sentimos necessidade: vê-Lo e tocar n’Ele, para O reconhecermos.
Os Sacramentos são a resposta de Deus a esta necessidade humana. Sinais do amor de Deus, os Sacramentos, e de forma particular a Celebração Eucarística, são caminhos privilegiados para nos encontrarmos com Ele. Para viver cada vez mais plenamente a nossa relação com Deus é fundamental compreender bem o valor e o significado da Santa Missa – rematou o Papa pedindo a Nossa Senhora para nos acompanhar neste novo troço da caminhada em direção à redescoberta da beleza que se esconde na celebração eucarística e que, uma vez, desvendada, dá sentido pleno à vida de cada um de nós. Fonte: http://pt.radiovaticana.va
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Por Fábio Py
Diante da aurora positiva que embriagou das festividades dos 500 anos da Reforma Luterana, comemorada no dia 31 de outubro deste 2017, muito se disse sobre o valoroso evento. No entanto, convém sair um pouco do espírito utópico-carnavalesco que tomou conta das festividades e olhar mais crítico nas igrejas/memória que se tem no Brasil. Antes de qualquer comemoração, acredito ser importante lembrar das práticas de violências, do racismo, da xenofobia e da homofobia que levam sua grande maioria de igrejas que, no hoje, afirmam-se no espectro da Reforma. Suas violências fundamentalistas e extrermismos alastram centenas de vítimas das demais religiões (principalmente as afro) e nas grandes cidades, seus templos anestesiam ainda mais os clamores dos pobres. Por isso, como teólogo submerso nessa tradição protestante-evangélico brasileira, levantei abaixo vinte elementos antidemocráticos que mereceriam ao menos ser pensados no meio de tão glamorosa festividade. Assim, destaco que:
Em 500 anos da Reforma, não se fez uma igreja qualquer!
- Em 500 anos da Reforma, não se fez uma igreja que não estivesse 100% preocupada com suas doutrinas;
- Em 500 anos da Reforma, não se construiu uma igreja que pedisse perdão pelo massacre, em conjunto com os governantes, das vítimas das Revoltas Camponesas no âmbito das Reformas dos seiscentos;
- Em 500 anos da Reforma, não se fez preocupada com os “pequeninos do Reino”, mas sempre com a individualização desarticuladora da fé;
- Em 500 anos da Reforma, não se faz uma igreja que lute pela igualdade de gênero em todas as esferas;
- Em 500 anos da Reforma, não se fez nenhuma igreja sem preocupação com o Estado e/ou estados nacionais. Ao contrário, o que se percebe são igrejas que se aliam aos governantes e às elites;
- Em 500 anos da Reforma, não se fez qualquer igreja sem preocupação com os dízimos, ofertas, cartões e cheques no geral;
- Em 500 anos da Reforma, não se fez qualquer igreja cuja liderança não se preocupasse em se autoproclamar ante aos seus consumidores de fé;
- Em 500 anos da Reforma, não se fez qualquer igreja preocupada com os que sofrem perseguição de estados, impérios, como fora morto o próprio Jesus, em crucificação pelos romanos;
- Em 500 anos da Reforma, não se fez qualquer igreja preocupada – seja no Brasil ou na América Latina ou na Europa – com a crítica aos massacres nas colônias contra os povos dos continentes americano, africano e asiático;
- Em 500 anos da Reforma, não se fez uma igreja preocupada com a questão da moradia, que obriga milhares de pessoas a acampar na luta pelas reformas Agrária e Urbana;
- Em 500 anos da Reforma, não se fez uma igreja realmente preocupada com os moradores de rua;
- Em 500 anos da Reforma, não se fez uma igreja realmente preocupada com nossa população carcerária, sem interesse evangelístico;
- Em 500 anos da Reforma, não se vê uma igreja preocupada com a morte de Amarildo (presente!) e outros/outras vitimas das UPPs no Rio de Janeiro;
- Em 500 anos da Reforma, não se vê uma igreja preocupada com a carceragem e a situação de Rafael Braga (entre nós!);
- Em 500 anos da Reforma, não se vê uma igreja em promover a memória de Cícero Guedes (presente!), Regina dos Santos (presente!) e outros (presente! presente! presente!), vítimas do latifúndio escravocrata brasileiro;
- Em 500 anos da Reforma, não se produziu uma igreja realmente preocupada com a violência contra a mulher e engajada contra o feminicídio;
- Em 500 anos da Reforma, não se inventou uma igreja realmente preocupada em acolher integralmente a comunidade LGBTQI;
- Em 500 anos da Reforma, não se testemunhou uma igreja preocupada com a crítica do capital e do imperialismo;
- Em 500 anos da Reforma, não se fez uma igreja que fez autocrítica dos racismos cometidos contra negros, negras, índios e índias;
- Em 500 anos da Reforma, não se construiu uma igreja que não se fale de missão e evangelização, chamariz indecoroso de justificativas imperialistas e colonizadoras;
Por tudo isso, em 500 anos da Reforma, infelizmente, não se desenvolveu uma igreja profundamente ligada ao rito democrático. Uma Reforma que tivesse como verdadeira “missão” a luta contínua por justiça sem qualquer vínculo com os aparatos jurídicos e governamentais.
Agora, no contexto das comemorações pelos 500 anos da Reforma, escutei alguns entusiastas citando o dito do teólogo Gilbertus Voet, ao arvorarem por uma “Igreja reformada sempre se reformando” (“Ecclesia Reformata et Semper Reformada est”). Quando ouvi a citação fui tomado de um arrepio completo. Sim, porque me lembrei das violências recentes contra os terreiros e do histórico vínculo das igrejas com as ditaduras na América Latina. Ocorre que eu, todo protestante, queria algo mais. Sim, (até) reconheço que Reforma Luterana “funcionou” muito bem ao ajustar-se ao Antigo Regime em favor dos governantes, das elites, das burguesias e de seus cleros – por definição, imundos. Assim, por tudo, creio que uma Reforma seja muito pouco. O que se quer não se tem nome. Por isso, o pedido, só por hoje... sem quaisquer citações às Reformas.
*Fábio Py é pós-doutorando no Programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais da Universidade Estadual Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) e colunista no site de Caros Amigos. Fonte: www.carosamigos.com.br
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“Perder a capacidade de sentir-se amado, é perder tudo”. Francisco.
O Papa Francisco celebrou na manhã desta terça-feira (07/11/2017) a missa na capela da Casa Santa Marta. Na sua homilia, o Pontífice falou da capacidade de sentir-se amado, comentando o trecho de Lucas (Lc 14,15-24) da Liturgia de hoje. No texto, a parábola narra um homem que organizou uma grande ceia e convidou muita gente.
Os primeiros convidados não quiseram ir porque não lhes interessava nem o jantar nem as pessoas nem o convite do senhor: estavam ocupados com os próprios interesses, mais importantes do que o convite. Havia quem tinha comprado cinco juntas de bois, um terreno ou quem tinha se casado. Substancialmente, se perguntavam o que tinham a ganhar. Estavam “ocupados”, como aquele homem que mandou construir armazéns para acumular os seus bens, mas morreu na mesma noite. Estavam presos aos interesses a tal ponto que isso os levava a uma “escravidão do Espírito”, isto é, a ser “incapazes de entender a gratuidade do convite”. Uma atitude da qual o Papa adverte:
E se não se entende a gratuidade do convite de Deus, não se entende nada. A iniciativa de Deus é gratuita. Mas para ir a este banquete o que se deve pagar? O bilhete de entrada é estar doente, é ser pobre, é ser pecador… Eles (assim) os deixam entrar, este é o bilhete de entrada: estar necessitado seja no corpo, seja na alma. Mas para a necessidade de cuidado, da cura, ter necessidade de amor …
Portanto, existem duas atitudes: de um lado, a atitude de Deus que não deixa pagar nada e diz, depois, ao servo de conduzir os pobres, os aleijados, bons e maus: se trata de uma gratuidade que “não tem limites”, Deus “recebe todos”, destacou o Papa. De outro, a atitude dos primeiros convidados, que ao invés não entendem a gratuidade. Assim como o irmão mais velho do Filho Pródigo, que não quer ir ao banquete organizado pelo pai para seu irmão que havia ido embora: não entende.
“Mas ele gastou todo o dinheiro, gastou a herança, com os vícios, com os pecados, e o senhor lhe faz festa? E eu que sou católico, praticante, vou a Missa todos os domingos, faço coisas, e para mim nada?’ Esse não entende a gratuidade da salvação, ele acha que a salvação é fruto do “Eu pago e o Senhor me salva”. Pago com isso, com isso, com aquilo... Não, a salvação é gratuita! E se você não entrar nessa dinâmica de gratuidade, você não entende nada. A salvação é um presente de Deus ao qual se responde com outro presente, o presente do meu coração”.
O Papa Francisco retorna ainda sobre aqueles que pensam nos seus próprios interesses, que quando ouvem falar de presentes, sabem que devem fazer, mas imediatamente pensam na “contrapartida”: “Eu lhe darei esse presente” e ele “depois em outra ocasião, irá me dar outro”.
O Senhor, ao invés, “não pede nada em troca”: “somente amor, fidelidade, como Ele é amor e é fiel”, diz o Papa, evidenciando que “a salvação não se compra, simplesmente se entra no banquete”. “Bem-aventurados os que receberão alimento no Reino de Deus": isto é salvação.
Aqueles que não estão dispostos a entrar no banquete, “se sentem seguros”, “salvos do modo deles, fora do banquete”: “eles perderam o sentido de gratuidade - explica Francisco – “o sentido do amor”. “Eles perderam – acrescenta -, algo maior e mais bonito ainda, e isso é muito mal: eles perderam a capacidade de se sentirem amados”.
“E quando você perde - eu não digo a capacidade de amar, porque ela se recupera - a capacidade de se sentir amado, não há esperança, você perdeu tudo. Isso nos faz pensar na escrita na porta do inferno de Dante: “Deixe a esperança”, você perdeu tudo. Devemos pensar na frente deste Senhor: “Porque eu digo, quero que a minha casa fique cheia”, este Senhor, que é tão grande, que é tão amoroso, com a sua gratuidade quer encher a casa. Peçamos ao Senhor que nos salve de perder a capacidade de nos sentir amados”. Fonte: http://pt.radiovaticana.va
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Londrina (RV) - Os Encontros Intereclesiais das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), de acordo com o Documento 92 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) intitulado “Mensagem ao povo de Deus sobre as comunidades eclesiais de base” são definidos como patrimônio teológico e pastoral da Igreja no Brasil. Desde a realização do primeiro, em 1975, em Vitória (ES) reúnem-se diversas dioceses para troca de experiências e reflexão teológica e pastoral sobre a caminhada das CEBs. O evento congrega bispos, religiosos, assessores e animadores das comunidades.
Com o tema “CEBs e os desafios no mundo urbano” e o lema “Eu ouvi os clamores do meu povo e desci para libertá-los” (Ex 3,7), o 14º Intereclesial das CEBs ocorrerá em Londrina (PR), nos dias 23 a 27 de janeiro de 2018. O evento pretende reunir representantes de todas as regiões do Brasil, de países da América e de outros lugares para celebrar a diversidade e a beleza de viver o Evangelho de Jesus de Nazaré. Nele também se objetiva a expressão da comunhão entre os fiéis e seus pastores.
Segundo o Arcebispo de Londrina, Dom Geremias Steinmetz, anfitrião do próximo encontro, a iniciativa já conta com mais de duas mil pessoas inscritas. Para ele, a temática do evento, que trata a questão da realidade urbana, é necessária e urgente e, por isso, atraiu um grande número de participantes. “Hoje já temos um percentual de mais de 80% dos brasileiros vivendo em cidades, os que nelas não habitam vivem a cultura urbana de qualquer jeito, seja através da televisão, do rádio, da internet, e isso está tomando conta do nosso país”, afirma.
Para Dom Geremias, a Igreja vem de encontro à temática, uma vez que quer debater junto à sociedade a questão dos direitos. “Queremos debater o assunto para que de fato o povo que vive nas cidades possa ter a sua dignidade humana respeitada e acima de tudo possa viver bem e para que isso aconteça entra a questão de uma série de direitos a ser conquistados, como é o caso do acesso à educação, ao transporte, à segurança pública, então são essas as questões que nós estamos enfrentando hoje”, complementa.
Subsídios
Rumo ao 14º Intereclesial das CEBs, o secretariado do evento apresentou os subsídios que irão animar a caminhada das comunidades em 2018. O texto-base que tem como título “CEBs e os Desafios do Mundo Urbano” é dividido no método ver, julgar e agir e, como o próprio nome indica, oferece uma reflexão sobre os desafios vividos no mundo urbano.
O primeiro capítulo do livro traz uma abordagem do processo de urbanização no Brasil, contextualizando a origem das cidades brasileiras, suas dinâmicas e culturas. No segundo capítulo, o texto-base traz uma fundamentação teológica para a ação das CEBs em relação aos desafios da cidade. Já no último capítulo são apontados os problemas mais graves ou mais urgentes pelos animadores de CEBs no Brasil, como a questão da moradia, violência, saúde, educação.
Além do texto-base, também já estão disponíveis para download o cartaz do evento, o cancioneiro e a oração que conduzirá o 14º Intereclesial. Confira no site www.cebsdobrasil.com.br. Fonte: http://br.radiovaticana.va
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Neste domingo,5 de novembro, os bispos das dioceses da Bacia do Rio Doce em Minas Gerais e no Espírito Santo emitiram declaração sobre os dois anos do rompimento da barragem de Fundão, no distrito de Bento Rodrigues, município de Mariana (MG).
Segundo os bispos, “o rompimento da barragem de Fundão tornou inadiável a reflexão crítica sobre a complexa questão da mineração. Essa tragédia revelou a fragilidade e a grave insuficiência dos critérios utilizados para a definição de novas áreas de mineração, dos métodos utilizados, das técnicas de produção e gestão de barragens, das tecnologias da engenharia de mineração”. A declaração é publicada por Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, 05-11-2017.
Citando o Papa Francisco, os bispos afirmam: “Na raiz dessa tragédia de dimensões incalculáveis, encontra-se a sede desenfreada de lucro a ser obtido a qualquer preço, mesmo causando danos à natureza e ao ser humano: “Isto acontece porque no centro desse sistema econômico está o deus dinheiro e não a pessoa humana. Sim, no centro de cada sistema social ou econômico deve estar a pessoa, imagem de Deus […]. Quando a pessoa é deslocada e chega o deus dinheiro dá-se essa inversão de valores […]. Um sistema econômico centrado no deus dinheiro tem também necessidade de saquear a natureza” diz o Papa Francisco, no Discurso aos participantes do Encontro Mundial dos Movimentos Populares, em Roma, no dia 28 de outubro de 2014”.
Eis o texto.
No dia 5 de novembro de 2015, as populações da Bacia do Rio Doce foram brutalmente atingidas pelo maior desastre socioambiental do Brasil, com o rompimento da barragem de Fundão, das mineradoras Samarco-Vale-BHP Billiton, no distrito de Bento Rodrigues, município de Mariana-MG. A lama tóxica destruiu comunidades, ceifou vidas, desalojou populações inteiras, devastou o meio ambiente, atingiu o Rio Doce e chegou ao Oceano Atlântico, jogando na incerteza e na insegurança milhares de pessoas.
Como pastores do Povo de Deus, atentos aos “sinais dos tempos” e fiéis à nossa missão evangelizadora, queremos dirigir nossa palavra e nos solidarizar com os atingidos pela lama tóxica que provocou um prejuízo incalculável, que engloba aspectos ambientais, sociais e econômicos,envolve a vida de grande parte da população estabelecida nesta bacia hidrográfica e ultrapassa as localidades situadas às margens do Rio Doce.
Esperar contra toda esperança (Rm 4,18)
Nas localidades atingidas, a lama de rejeitos de minério afetou o sentimento de pertencimento demoradores, povos indígenas, ribeirinhos, pescadores, quilombolas, areeiros, artesãos, comerciantes, agricultores, pois muitos perderam casas, estilo de vida, memória, postos de trabalho, saúde, segurança e perspectiva de futuro. Mesmo em meio a tanto sofrimento, nós cristãos somos chamados a alimentar a chama da esperança.
Esse crime socioambiental, cujos efeitos repercutem na vida e nas atividades da população desta região, incide fortemente na história da Bacia do Rio Doce. Lamentamos que, passados dois anos, pouco foi feito, sobretudo por parte dos responsáveis, diante do muito que há por fazer. A atuação da Fundação Renova, criada pela Samarco, Vale e BHP Billiton, com o aval do Governo Federal e dos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, tem sido insuficiente diante da magnitude das consequências incalculáveis dessa tragédia. Há promessas não cumpridas, o que gera desânimo e descrédito em muitas pessoas. Muitos atingidos não foram reconhecidos como tais, ficando sem receber a devida assistência da empresa responsável pelo rompimento da barragem. É preciso recordar que não se faz justiça sem respeito aos direitos e à dignidade da pessoa humana. Entretanto, até o presente, não houve punição aos culpados, nem pleno ressarcimento às populações atingidas, nem o devido reparo aos danos causados ao meio ambiente.
São conhecidos também outros casos de rompimentos de barragens de contenção de resíduos de minérios ocorridos em Minas Gerais: Itabirito (1986), São Sebastião das Águas Claras (2001), Miraí (2007), Itabirito (2014) e Mariana (2015). A dívida contraída pelas empresas responsáveis ainda não foi plenamente saldada e a atuação dos órgãos públicos não é satisfatória.
Apesar desse quadro sombrio, há pontos luminosos que brilham nos gestos de solidariedade de muitas pessoas e instituições públicas e privadas para minorar o sofrimento causado pelas duras consequências dessa tragédia. A solidariedade alimenta a esperança.
Há princípios éticos que estão sendo feridos especialmente pela irresponsabilidade, negligência e omissão por parte de empresas e de instituições governamentais. Prova disso é a assinatura de acordos referentes a reparação, compensação e indenização dos danos; a reduzida participação das comunidades atingidas nas decisões que lhes dizem respeito;e a falta da devida avaliação sistêmica e estratégica dos impactos provocados. É responsabilidade do Ministério Público e do Poder Judiciário garantir o efetivo respeito aos direitos dos atingidos, o fiel cumprimento da justiça e a devida punição dos responsáveis.
A questão da mineração
O rompimento da barragem de Fundão tornou inadiável a reflexão crítica sobre a complexa questão da mineração. Essa tragédia revelou a fragilidade e a grave insuficiência dos critérios utilizados para a definição de novas áreas de mineração, dos métodos utilizados, das técnicas de produção e gestão de barragens, das tecnologias da engenharia de mineração.
Além disso, a tragédia mostrou a vulnerabilidade da atual legislação socioambiental; a insuficiente fiscalização dos órgãos competentes; a baixa qualidade e a morosidade das ações emergenciais; o despreparo da sociedade e dos governos para planejar, discutir, condicionar, negociar e garantir as estratégias de desenvolvimento centradas na busca da sustentabilidade. Ademais, não é suficientemente considerada a situação em que se encontram as diversas minas de exploração e os altos riscos socioambientais nelas envolvidos. Os grandes empreendimentos minerários têm sido concebidos e gerenciados sem a efetiva consideração sobre a exaustão das jazidas, os processos de fechamento de minas e as alternativas para a diversificação da economia local.
É preciso estender nosso olhar também para o impacto da mineração sobre a água. Trata-se de um bem que é finito e, ao mesmo tempo, essencial para a vida, por isso, de direito universal. A exploração insustentável das atividades mineradoras ameaça esse bem indispensável,prejudicando o meio ambiente, destruindo vegetações, provocando desequilíbrio no regime de circulação de águas superficiais e subterrâneas, modificando essencialmente o lençol freático,causando a destruição de inúmeras nascentes, levando à escassez desse bem precioso e gerando impactos prejudiciais à saúde, à produção de alimentos e à própria vida.
Economia a serviço da vida
Na raiz dessa tragédia de dimensões incalculáveis, encontra-se a sede desenfreada de lucro a ser obtido a qualquer preço, mesmo causando danos à natureza e ao ser humano: “Isto acontece porque no centro desse sistema econômico está o deus dinheiro e não a pessoa humana. Sim, no centro de cada sistema social ou econômico deve estar a pessoa, imagem de Deus […]. Quando a pessoa é deslocada e chega o deus dinheiro dá-se essa inversão de valores […]. Um sistema econômico centrado no deus dinheiro tem também necessidade de saquear a natureza” diz o Papa Francisco, no Discurso aos participantes do Encontro Mundial dos Movimentos Populares, em Roma, no dia 28 de outubro de 2014.
O Papa é incisivo ao afirmar: “A primeira tarefa é pôr a economia a serviço dos povos. Os seres humanos e a natureza não devem estar a serviço do dinheiro. Digamos não a uma economia de exclusão e desigualdade, onde o dinheiro reina em vez de servir. Esta economia mata. Esta economia exclui. Esta economia destrói a Mãe Terra […]. A casa comum está sendo saqueada, devastada, vexada impunemente. A covardia em defendê-la é um pecado grave […]. Os povos e os seus movimentos são chamados a clamar, mobilizar-se, exigir – pacífica, mas tenazmente – a adoção urgente de medidas apropriadas. Peço-vos, em nome de Deus, que defendais a Mãe Terra” (Discurso em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, no dia 9 de julho de 2015).
Ao mesmo tempo em que expressamos nossa solidariedade com os atingidos por essa grande tragédia, olhamos com preocupação para as próximas gerações. O futuro está comprometido! Diante dessa triste e desafiadora realidade, os órgãos governamentais e jurídicos façam valer a justiça social e ambiental; as empresas causadoras da tragédia assumam plenamente suas responsabilidades com o ressarcimento pelos prejuízos causados e a reconstrução da vida humana e do meio ambiente; as populações locais sejam vigilantes e solidárias, buscando sempre a união e participando ativamente nos movimentos eclesiais, sociais e populares comprometidos com a defesa dos direitos e a promoção da vida digna para todos.
Apelo final
Como Bispos das Dioceses da Bacia do Rio Doce, dirigimos este apelo: Apoiem os atingidos pela tragédia do rompimento da barragem de Fundão para que tenham seus direitos respeitados, sua dignidade reconhecida, seus bens ressarcidos e seu protagonismo considerado na busca de soluções que atendam a seus legítimos interesses. Estimulem os que lutam em defesa da “casa comum” para que não desanimem diante dos obstáculos e da prepotência dos grandes e poderosos. Ajudem a salvar o Rio Doce, com tudo o que ele significa para tanta gente em Minas Gerais e no Espírito Santo. Perseverem na luta a favor da vida e da esperança, na certeza de que “a paz é fruto da justiça” (Is 32, 17).
Mariana, 05 de novembro de 2017
Dom Geraldo Lyrio Rocha, Arcebispo de Mariana-MG
Dom Luiz Mancilha Vilela, Arcebispo de Vitória-ES
Dom Rubens Sevilha, Bispo Auxiliar de Vitória-ES
Dom Emanuel Messias de Oliveira, Bispo de Caratinga-MG
Dom Antônio Carlos Félix, Bispo de Governador Valadares-MG
Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias, Bispo de Colatina-ES
Dom Marco Aurélio Gubiotti, Bispo de Itabira-MG
Dom Paulo Bosi Dal’Bó, Bispo de São Mateus-ES
Dom Aldo Gerna, MCCJ, Bispo Emérito de São Mateus-ES
Dom Werner Siebenbrock, Bispo Emérito de Governador Valadares-MG
Dom Odilon Guimarães Moreira, Bispo Emérito de Itabira-Fabriciano-MG
Dom Décio Sossai Zandonade, Bispo Emérito de Colatina-ES
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
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Pessoas no local relataram que o atirador entrou na igreja pouco antes do meio-dia e abriu fogo
Mais de 20 pessoas morreram, e várias ficaram feridas em um ataque a tiros na Primeira Igreja Batista, em Sutherland Springs, uma pequena comunidade da cidade texana de San Antonio, neste domingo (5) – noticiou a imprensa americana.
O comissário do condado de Wilson, Albert Gamez Jr., disse à AFP ter sido informado de um balanço de “27 mortos e mais de 20 feridos”, mas ressaltou que espera uma confirmação formal desses números.
Citando um policial, a ABC News disse que há 20 mortos e 30 feridos. Outros veículos já falam em pelo menos 27 mortos, também segundo fontes da Polícia. O autor dos tiros foi abatido, de acordo com a emissora local KSAT12 em sua página da Internet, citando a Polícia.
Pessoas no local relataram que o atirador entrou na igreja pouco antes do meio-dia e abriu fogo. Testemunhas afirmaram que cerca de 50 pessoas costumam aparecer nesse horário de culto matinal.
Uma criança de dois anos está entre os feridos, informou o site Dallas Morning News. “Que Deus esteja com o povo de Sutherland Springs, Texas. O FBI & agências da lei estão na cena. Estou monitorando a situação do Japão”, tuitou o presidente americano, Donald Trump, em sua primeira reação.
O governador do Texas, Greg Abbott, ofereceu suas condolências às famílias das vítimas. “Nossas orações vão para todos aqueles que foram afetados por esse ato demoníaco. Nossos agradecimentos às forças da ordem por sua resposta”, tuitou Abbott, prometendo detalhes sobre o episódio “o mais rápido possível”.
Uma porta-voz do Connally Memorial Medical Center, nos arredores de Floresville, disse à Fox News que “recebemos vários pacientes do tiroteio”, sem detalhar a quantidade.
Helicópteros e equipes de emergência chegaram à cena do crime, e agentes do Escritório de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos estavam se dirigindo para o local, declarou o órgão. Este tiroteio ocorre apenas um mês após um atirador em Las Vegas matar 58 pessoas e ferir centenas durante um festival de música a céu aberto.
E acontece dois anos depois que o supremacista branco Dylann Roof entrou em uma igreja historicamente frequentada por fiéis afro-americanos em Charleston, na Carolina do Sul, e matou nove pessoas. https://pt.aleteia.org
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A violência não escolhe hora nem lugar e desta vez o alvo foi uma igreja evangélica no Centro da cidade de Esperança, no Agreste paraibano, que foi invadida por quatro homens armados na noite dessa quinta-feira (2).
De acordo com a Polícia Militar, os criminosos estavam armados e chegaram em duas motos ao local por volta das 20h30, quando anunciaram o assalto e roubaram vários celulares e dinheiro dos fiéis que se encontravam na igreja.
Os policiais foram comunicados do ocorrido, realizaram rondas, mas ninguém foi preso por envolvimento com esta ação.
Também na noite da quinta-feira, um bar foi alvo da ação de criminosos em Esperança. Conforme a polícia, dois homens chegaram a pé ao estabelecimento e roubaram bebidas, relógios, celulares e dinheiro das pessoas que estavam no local.
Assim como na ocorrência da igreja, a polícia realizou rondas na tentativa de localizar e prender os suspeitos, mas eles conseguiram fugir. Fonte: https://paraibaonline.com.br
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“Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus...” (Mt 5,12)
O artigo é de Adroaldo Palaoro, padre jesuíta, comentando o evangelho segundo Mateus 5,1-12, correspondente à quinta-feira, dia 2 de novembro, Comemoração dos fiéis defuntos.
No dia de Finados, fazemos memória e nos unimos a todas aquelas pessoas cujos rostos estão gravados em nossa mente e coração, pois foram presenças que nos sustentaram, nos confortaram, nos animaram e nos impulsionaram. E podemos expressar a confiança profunda de que a vida é conduzida secretamente a um Porto de Amor definitivo, e todo pranto, impotência e fragilidade serão abraçados e sanados n’Ele.
Há tanto que agradecer a estas pessoas que, como silencioso fermento, fizeram história com Deus no interior de nossa pobre humanidade. Foram presenças inspiradoras que melhoraram uma parte do mundo e nossa gratidão as acompanha. Ditosos eles e elas, e ditosos também nós porque, na comunhão com aqueles(as) que já vivem a páscoa definitiva, somos movidos a seguir seus passos pelo caminho da vida, para sermos dispensadores humildes de felicidade, compaixão, mansidão, famintos e sedentos de justiça, de paz.
Com a morte começa a vida para sempre, no coração do Deus amor. E se a morte é capaz de nos privar do dom da vida, o “amor tem poder para nos devolvê-la”, nos afirma o bispo Balduino de Cantebery.
Ao falar da morte sempre nos sentimos impotentes, pois ela nos ultrapassa. Sabemos de sua existência, mas muitas vezes nos dá medo. E o medo da morte impede viver adequadamente o presente. Mais grave ainda, o medo da morte pode chegar a nos travar profundamente e alimentar uma angústia a ponto de impedir-nos de viver a vida com sentido, qualidade e prazer.
Nossa sociedade tende a negar a morte, afastando-a dos nossos ambientes cotidianos, tornando-a invisível; procuramos negá-la, escondê-la, dissimulá-la; preferimos não falar dela e, mesmo quando falamos desta realidade última, a ela nos referimos com temor e tremor. O pânico e a negação são nosso pão de cada dia: a compulsão por manter-nos – ou ao menos parecer-nos – jovem, o culto à saúde e à vitalidade, a incapacidade de aceitar a fragilidade e a finitude de nossa natureza humana, deixam transparecer o medo de nos deparar com a morte.
A morte nos golpeia em dimensões muito sensíveis e frágeis de nossa experiência humana; ela desnuda e des-vela a precariedade de nossa existência. Com nada chegamos ao mundo e sem nada partiremos dele. E a realidade é que sem aceitação da morte continuamos presos à onipotência infantil que nos faz fantasiar de seres imortais.
E, no entanto, a morte está aí, na volta da esquina; por ser algo seguro e certo, a morte é realidade freqüente de distância, mistério e silêncio; ela nos faz cruzar o umbral do desconhecido, do qual é impossível dar um passo atrás; ficamos paralisados frente ao desconhecido e ao irreversível. A morte põe fim ao nosso estado de caminhantes neste mundo, tempo no qual fomos nos amadurecendo e crescendo.
A experiência cristã, por outro lado, nos revela o caminho de uma morte preparada ao longo da vida, porque a entende em relação com a vida e a vida em relação com a morte. Vida sem morte é irresponsável. Tira a seriedade da vida, que lhe é dada pela morte.
Na verdade, a morte nunca fala sobre si mesma. Ela sempre nos fala sobre aquilo que estamos fazendo com a própria vida: as perdas, os sonhos não realizados, os riscos que não enfrentamos por medo...
É de todos conhecido o refrão: “A morte menos temida dá mais vida”.
Superar o medo da morte é um processo longo, complexo, mas para o cristão constitui uma experiência religiosa muito profunda, que o desafia a aprofundar na consciência de si mesmo e em sua capacidade de confiar em Deus. Vencer o medo da morte é reconhecer que a vida sempre é um dom, não o resultado de nosso esforço; e que, por isso mesmo, o essencial não é encontrar um caminho para alcançar a imortalidade, mas aprender a “morrer em Cristo”.
Não é a morte aquela que deve dar sentido à nossa vida, mas ao contrário, só aprendendo a viver é que se aprende a morrer. Mesmo que nos restasse apenas um segundo de vida, faríamos muito mal em pensar na morte. Seria muito mais positivo viver plenamente esse segundo.
A fé cristã não é masoquista ou sádica quando nos ensina a bem morrer. Assim nos dá maior responsabilidade para com a própria vida. O teólogo Soren Kierkegaard afirma que “só a fé proporciona ao ser humano o valor e a audácia necessárias para olhar a morte de frente”. Sem medos, sabendo que o Deus da vida, acolhe com amor e ternura, àqueles(as) que são “aspirados(as)” para dentro de suas entranhas misericordiosas.
O diretor japonês Akira Kurosawa retrata, de maneira original, questão da morte, em seu filme Ikiru, uma obra-prima de 1952. Trata-se da história de Watanabe, um humilde burocrata japonês que descobre ter câncer de estômago e apenas mais alguns meses de vida. O câncer serve de experiência reveladora para este homem, que antes tinha vivido uma vida tão limitada e atrofiada que seus próprios funcionários o apelidaram de “a múmia”.
Depois de descobrir o diagnóstico, ele falta ao trabalho pela primeira vez em 30 anos, retira uma grande quantia de dinheiro de sua conta-corrente e tenta voltar à vida em vibrantes boates japonesas. No meio desse ambiente devasso, ele encontra inesperadamente uma ex-funcionária que havia pedido demissão de seu escritório porque o emprego era tedioso demais: ela queria viver.
Fascinado por sua vitalidade e energia, ele a segue e implora para que ela o ensine como viver. Ela lhe disse apenas que odiava seu antigo trabalho porque se tratava de uma burocracia sem sentido. No novo emprego, em que faz bonecas numa fábrica de brinquedos, ela se sente inspirada e motivada a viver a partir da idéia de poder levar felicidade a muitas crianças.
Quando o burocrata revela a ela seu câncer e a proximidade da morte, ela fica horrorizada e corre para longe, emitindo apenas uma única mensagem por sobre os ombros: “Faça alguma coisa”.
Watanabe retorna, transformado, ao seu trabalho, recusa-se a ser engessado pelo ritual burocrático, quebra todas as regras e dedica o restante da vida à construção de um parque infantil, que seria aproveitado por muitas crianças, durante muitos anos. Na última cena, Watanabe, próximo da morte, está sentado em um balanço no parque. Apesar da nevasca, ele está sereno e se aproxima da morte com uma tranquilidade impressionante.
De fato, aqueles que que vivem com mais intensidade são os que deixam a segurança da margem e se dedicam apaixonadamente à missão de comunicar vida aos outros.
Por isso, para os cristãos, a morte sempre se refere à Vida e à vida; à Vida com maiúscula, junto a Deus e para sempre (que chamamos Vida Eterna), e a vida de todos os dias, na qual somos chamados a ser testemunhas do amor de Deus a todos os homens e mulheres deste mundo; uma vida de serviço, de compromisso, de entrega generosa para construir um mundo melhor; uma vida com sentido, para que, quando cruzar o umbral da porta desta vida, de verdade encontremos plenamente o que tanto buscávamos: o amor, a paz e o rosto bondoso de um Deus que é Amor.
A vida se expande quando compartilhada e se atrofia quando permanece no isolamento e na comodidade. E a morte é o instante da expansão plena para aquele que soube dar um sentido inspirador à sua existência. Podemos afirmar, então, com muita propriedade, que todos morremos para o interior da Vida.
Para meditar na oração
A certeza de nossa fé em Cristo morto e ressuscitado nos ajuda a tirar do coração os medos, os impulsos auto-referentes na busca de segurança e imortalidade, para encontrar uma paz profunda que nos permita fazer de nossa vida uma oferenda gratuita em favor da vida de outros.
Como você se situa diante da morte: medo? serenidade? certeza de poder mergulhar numa Vida maior?... Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
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A proposta Orçamentária para 2018 (PLN 20/2017), entregue ao Congresso Nacional pelo poder Executivo no 31/10 que prevê cortes bruscos em várias políticas, especialmente na área social, recebeu duras críticas do bispo de Pesqueira (PE), dom José Luiz Ferreira Salles. Os cortes, segundo o Governo Federal, foram feitos de acordo com a Emenda Constitucional 95, que impôs o teto de gastos e congela investimentos pelos próximos 20 anos.
Para se ter uma ideia o programa de inclusão social por meio do Bolsa Família – que ajudou o Brasil a sair do Mapa da Fome – perdeu mais R$ 3 bilhões na sua dotação orçamentária. Caiu de R$ 29,7 bilhões este ano para R$ 26,5 bilhões em 2018, uma redução de 12%. E os recursos da área de Segurança Alimentar e Nutricional caíram de R$ 736,3 milhões em 2017 para R$119,4 milhões em 2018, uma redução de 84%.
Em pronunciamento, o bispo de Pesqueira (PE), dom José Luiz Ferreira Salles, bispo referencial do Setor de Mobilidade Humana da CNBB criticou o Projeto de Lei Orçamentária do próximo ano que reduziu milhões de reais do investimento nas políticas públicas que atendem à agricultura familiar, a reforma agrária e o acesso à água.
Os cortes afetam fortemente o Programa 1 Milhão de Cisternas, encabeçado pela Articulação no Semiárido Brasileiro que recebeu, recentemente, o Prêmio “Política para o Futuro” (Future Policy Award), em Ordos, na China, mostrando para o mundo que é possível uma ação pensada pela sociedade civil ser reconhecida como uma política de Estado referente.
Segundo a avaliação de Naidison Baptista, coordenador executivo da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) na Bahia, os ajustes nos orçamentos serão prejudiciais, porque “esses são programas essenciais do governo federal, os quais têm tido uma repercussão muito forte na vida das pessoas mais pobres”. Nos últimos 12 anos, o Programa Cisternas instalou 1,2 milhão de cisternas de consumo humano no semiárido, mas ainda é preciso atender mais de 350 mil famílias que ainda não têm acesso à água.
Em seu pronunciamento, o religioso reforça a importância, de neste momento, “nos unirmos na luta para garantir que o Estado brasileiro promova vida e dignidade para o nosso povo”. “Apelo, ainda, para as organizações e forças sociais e para as pessoas de boa vontade a reagirem. na perspectiva de uma mobilização, em vista de uma não aprovação de um orçamento que inviabilize as políticas sociais para o semiárido”.
Veja abaixo a íntegra do pronunciamento de dom José Luiz Ferreira Salles.
PRONUNCIAMENTO DO BISPO DIOCESANO: GUARDAR A ÁGUA: SEGREDO PARA CONVIVER COM O SEMIÁRIDO
“No pé da casa você faz sua cisterna
E guarda a água que o céu lhe enviou
É dom de Deus, é água limpa, é coisa linda
Todo idoso, o menino e a menina
Podem beber que é água pura e cristalina
(Roberto Malvezzi – Gogó)
O semiárido brasileiro abrange onze Estados do Nordeste e Sudeste. É reconhecido pela força e pela capacidade organizativa do seu povo. Foi nessa região que várias organizações se uniram em torno de uma causa: a convivência com o mesmo. Iniciativas como a ocupação da Sudene em 1993, que contou com a presença de Dom Hélder Câmara, e a união de diversas organizações da sociedade civil na criação de programas de captação de água de chuva fortaleceram essa causa.
Os cortes em benefícios públicos como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PAA), o cancelamento da contratação da assistência técnica rural e a diminuição de recursos para os programas de construção de cisternas comprovam a diminuição da importância da agricultura familiar para os atuais governantes. O Projeto de Lei Orçamentária deste ano reduziu milhões de reais do investimento nas políticas públicas que atendem à agricultura familiar, a reforma agrária e o acesso à água.
Nos próximos dias, os nossos parlamentares, eleitos pelo povo com a função de legislar em defesa dos direitos deste mesmo povo, discutirão o orçamento para o ano 2018. Faz-se necessário, assim, que nos mobilizemos e acompanhemos o que será votado. Não podemos apenas agir como espectadores passivos neste momento. É hora de levantarmos as vozes para que não fiquemos reféns de carros-pipa e de políticos inescrupulosos que são eleitos com a miséria de nossa gente.
Apelo a vocês, agricultores e agricultoras, que têm sua cisterna, que entrem nessa luta para que outros irmãos e irmãs possam ter qualidade de vida através de uma tecnologia muito simples e que tem feito tanto bem ao nosso povo.
A Articulação no Semiárido Brasileiro recebeu, recentemente, o Prêmio “Política para o Futuro” (Future Policy Award), em Ordos, na China, mostrando para o mundo que é possível uma ação pensada pela sociedade civil ser reconhecida como uma política de Estado referente. Reforço, neste momento, a importância de nos unirmos na luta para garantir que o Estado brasileiro promova vida e dignidade para o nosso povo. Apelo, ainda, para as organizações e forças sociais e para as pessoas de boa vontade a reagirem. na perspectiva de uma mobilização, em vista de uma não aprovação de um orçamento que inviabilize as políticas sociais para o semiárido.
O Espírito do Deus da vida, que consagrou e conduziu Jesus em sua missão, nos acompanhe e nos sustente na missão de cuidar e defender a vida, sobretudo onde e quando estiver mais ameaçada.
Dom José Luiz Ferreira Salles, CSsR
Bispo da Diocese de Pesqueira-PE
Fonte: http://cnbb.net.br
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Dia dos Fiéis Defuntos: “Velas são símbolos de uma oração contínua diante de Deus”
No Dia de Finados, 2 de novembro, dezenas de famílias lotam os cemitérios para visitar os jazigos de seus entes queridos e acender velas em sua homenagem. O costume faz com que as fábricas de velas tripliquem suas produções, sendo que as vendas atingem seu pico no mês de outubro, época em que a procura pelo artefato começa a aumentar.
De acordo com Gabriele da Silva Azevedo Gurgel, secretária da “Fábrica de Velas Pedras Vivas”, localizada em Brazlândia (DF), no período normal, o estabelecimento vende cerca de 50 caixas de velas por dia; com o Dia de Finados, o número salta para 200 caixas. Segundo ela, nesse período os funcionários também aumentam suas horas de trabalho para dar conta da demanda. Ela explica ainda que as velas mais procuradas para a ocasião são as comuns, chamadas de “palito” e as “duplex”. “Costumamos falar que o Dia de Finados é como o Natal para a gente, em questão de vendas”, afirma Gabriele.
O costume de acender velas para os fiéis defuntos, segundo a Igreja Católica faz parte do culto da humanidade e revela um ato de homenagem aos entes queridos. Para o assessor da Comissão para a Liturgia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), frei Faustino Paludo, a iniciativa representa a relação com a fé em Cristo e, o gesto, quando feito por um familiar significa que o ente “está na luz de Deus, plenamente iluminado ou participa da luz plena que é Jesus Cristo ressuscitado”.
As velas, no culto cristão católico, simbolizam o próprio Cristo, Luz do mundo. Elas são símbolos de uma oração contínua diante de Deus “para que queimem continuamente diante do Senhor” (Lev 24,4). A importância de acendê-las na intenção dos falecidos, segundo o frei, se dá no fato de que a oração, simbolizada na vela, seja contínua diante do Senhor. Isso porque depois de rezar e acender a vela, deixa-se na presença do Senhor um símbolo material do pedido, que o perpetuará “continuamente diante do Senhor” (Lev 24,4).
Para quem acha que as velas substituem as orações, frei Faustino alerta para o fato de que os falecidos não precisam do artefato e sim das orações, no entanto as orações e intenções podem ser simbolizadas pela vela. “No gesto de iluminarmos nossas liturgias com velas, estamos querendo dizer que queremos ser luzes e que queremos iluminar, assim como diz Jesus quando afirma que nós somos a Luz do mundo e que nossa luz deve brilhar”, finaliza.
“O uso de velas é antiquíssimo na Igreja, de longa tradição. Acompanham a oração pelo seu simbolismo: no Evangelho Jesus nos aconselha a esperarmos por ele com as vestes cingidas (com cordão, significando preparação para a viagem) e nas mãos lâmpadas acesas (simbolizando a fé e a caridade). É um dos símbolos do sacrifício. Claro que não substituem a oração, mas a acompanham. Em uso desde o tempo das catacumbas”, afirma o bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney, dom Fernando Âreas Rifan.
Velas virtuais – Em tempos de tecnologia e com a utilização da internet, muitos estão acendendo velas virtuais. Questionado se o hábito tem legitimidade, o arcebispo de Palmas, dom Pedro Brito Guimarães afirma que o ato depende muito: “Se a pessoa reduz a sua religião e a sua fé a algo virtual e se isola da comunidade, alguma coisa está errada. Caiu no isolamento, no individualismo, no deserto espiritual. A fé nos leva a pertencer. Aliás, é simbolo de pertença. E a igreja vive da pertença e da presença dos seus fieis. Não se é e nem se vive plenamente o ser igreja, deitado, sentado, diante da tela de um computador, acendendo vela para defuntos”, argumenta. Fonte: http://cnbb.net.br
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A Igreja, no mundo inteiro, celebra em um só dia, 1º de novembro, a Solenidade de todos os santos. Algumas outras comunidades de fé como as igrejas ortodoxa, luterana e anglicana também considera em seus calendários, em outros dias, esta mesma motivação. Trata-se de fazer memória de todos os batizados que, pelo Batismo, são chamados a viver a santidade. A celebração de todos os santos remete ao século IV quando se fazia festa com essa intenção no primeiro domingo depois de Pentecostes. Somente no ano de 835, Papa Gregório IV passou para a data que perdura até os dias atuais. Portanto, o primeiro dia de novembro é marcado com a solenidade, pelos católicos, há mais mil anos.
Testemunho dos santos
Há testemunhos de grande antiguidade como o de São Cipriano de Cartago, do século III, falava da importância em se celebrar a memória dos santos: “Lembremo-nos uns aos outros em concórdia e unanimidade. Que em ambos os lados [isto é, o lado da vida e da morte] sempre oremos uns pelos outros. Vamos aliviar o fardo e as aflições por amor recíproco, que se um de nós, com a rapidez da condescendência divina, for primeiro, o nosso amor possa continuar na presença do Senhor, e as nossas orações por nossos irmãos e irmãs não cessam com a presença da misericórdia do Pai.” (São Cipriano de Cartago, Epístola 56:5)”.
Que em ambos os lados [isto é, o lado da vida e da morte] sempre oremos uns pelos outros
São Cipriano
São João Paulo II dizia que esta festa é “uma das maiores do Ano Litúrgico, sem dúvida entre as mais características e mais queridas ao povo cristão”. Em 1º de novembro do terceiro ano do seu pontificado, em 1980, o santo polonês disse: “A festa hodierna recorda e propõe à comum meditação algumas componentes fundamentais da nossa fé cristã. No centro da Liturgia estão sobretudo os grandes temas da comunhão dos santos, do destino universal da salvação, da fonte de toda a santidade que é Deus mesmo, da esperança certa na futura e indestrutível união com o Senhor, da relação existente entre salvação e sofrimento, e de uma bem-aventurança que já desde agora qualifica aqueles que se encontram nas condições descritas por Jesus no Evangelho segundo Mateus. Como chave de toda esta rica temática, porém, está a alegria, como recitamos na Antífona da entrada: ‘Alegremo-nos todos no senhor nesta solenidade de todos os santos’; e é uma alegria singela, límpida, corroborante, como a de quem se encontra numa grande família onde sabe que aprofunda as próprias raízes e da qual haure a linfa da própria vitalidade e da sua própria identidade espiritual“.
Santidade
Em 2002, o então cardeal Joseph Ratzinger, hoje Papa emérito Bento XVI, explicava o que vem a ser as virtudes heróicas, necessária para se reconhecer alguém como santo num processo de canonização. A explicação está registrada em matéria publicada pelo jornal “L’Osservatore Romano”: “Virtude heroica não quer dizer que o santo seja uma espécie de ‘atleta’ da santidade, que consegue fazer coisas que pessoas normais não conseguiriam fazer. Quer dizer, em vez disso, que na vida de um homem se revela a presença de Deus, e se torna mais patente tudo aquilo que o homem não é capaz de fazer por si mesmo (…). Virtude heroica não significa propriamente que alguém faz coisas grandes por suas forças pessoais, mas que na sua vida aparecem realidades que não foi ele quem fez, porque ele só esteve disponível para deixar que Deus atuasse.”
Peçamos ao Senhor a graça de ser pessoas simples e humildes, a graça de saber chorar, a graça de ser mansos, a graça de labutar pela justiça e pela paz, mas acima de tudo a graça de nos deixarmos perdoar por Deus, para assim nos tornarmos instrumentos da sua misericórdia
Papa Francisco
Papa Francisco, na solenidade de todos os santos de 2015, meditou as “bem-aventuranças” e afirmou que segui-las é o mesmo que buscar a santidade: “Estimados irmãos e irmãs, esta é a vereda da santidade, que é o mesmo caminho da felicidade. Foi esta a estrada percorrida por Jesus, aliás, Ele mesmo é este Caminho: que o percorre com Ele e passa através dele, entra na vida, na vida eterna. Peçamos ao Senhor a graça de ser pessoas simples e humildes, a graça de saber chorar, a graça de ser mansos, a graça de labutar pela justiça e pela paz, mas acima de tudo a graça de nos deixarmos perdoar por Deus, para assim nos tornarmos instrumentos da sua misericórdia. Foi assim que agiram os santos, que nos precederam na Pátria celestial. Eles acompanham-nos na nossa peregrinação terrena, encorajando-nos a ir em frente“. Fonte: http://cnbb.net.br
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Dom Armando Bucciol
Bispo da diocese de Livramento de Nossa Senhora (BA) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
“Como membros da família humana, orar uns pelos outros, num eterno presente de Deus, expressa um profundo sentido de comunhão e de ajuda recíproca”, desta forma o bispo da diocese de Livramento de Nossa Senhora (BA) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Armando Bucciol define o sentido da oração pelos mortos, por ocasião do Dia de Finados, 2 de novembro.
A Comemoração dos Fiéis Defuntos, como é chamada a celebração litúrgica do dia 2 de novembro, é uma continuação da Festa de Todos os Santos, vivida no dia anterior. “A Igreja quer abraçar a todos os que pelo batismo mergulhamos em Cristo morto e ressuscitado e pertencemos ao corpo místico por esta comunhão dos santos que cria e gera um laço profundo”, disse.
Segundo dom Armando, a oração pelos mortos tem sua razão na comunhão que existe entre todos os que pertencem ao corpo místico de Cristo. “Sendo Jesus o salvador da humanidade existe por meio dele uma comunhão com a esta”, disse.
A origem da Comemoração de todos os Fiéis Defuntos vem de longe, recorda o religioso. O culto aos mortos, no sentido de respeitosa e comovida recordação, pertence à história mais antiga da humanidade. Os cristãos, desde os primórdios, mantiveram o costume, dando a este rito o toque próprio da fé na “ressurreição”, elemento essencial e fundamental da visão cristã da vida e da morte.
Ao longo da história, há abundante documentação a respeito da necessidade de orar pelos falecidos. Desde o livro dos Macabeus se fala da necessidade de rezar pelos mortos afim de que sejam absolvidos de seus pecados. O Dia de Finados adquire rosto e data, como hoje o conhecemos, no início do segundo milênio por obra do santo Odilon, abade da famosa e importante abadia de Cluny, na França.
A Igreja, desde o início de sua caminhada, deu culto especial aos mártires, pessoas que ganharam a coroa do martírio. Disso, começou a devoção aos santos – irmãos e irmãs que fizeram da própria vida um dom, ficando fieis até o fim, imitando Jesus, o Mártir, a testemunha fiel como canta o livro do Apocalipse.
Para quem crê: a morte não é o fim
A visita aos cemitérios juntos aos túmulos dos entes queridos é expressão de comunhão, feita de dor e saudade. Mas pela fé que ilumina os que crêem em Jesus Cristo, afirma dom Armando, deve permanecer a certeza, como canta a liturgia, de que a vida não é tirada, mas transformada.
Para o religioso ao ir ao cemitério refletimos sobre a morte que pertence à nossa condição humana. Por outro lado, ele adverte que a correria cotidiana, a superficialidade, a banalização da vida e o progresso da medicina, entre outros fatores, contribuem para que não se pense na morte e se viva na ilusão da imortalidade. “A liturgia da Igreja fala a linguagem da realidade e da esperança. Convida a pensar na morte, porém não como perca, mas como passagem que gera dor e não desespero”, disse.
“O discípulo de Jesus caminha da fé para esperança, que é a salvação definitiva. Apesar de não termos superado ainda todas as alienações das quais a morte é a última expressão, caminhamos sob o impulso do amor desinteressado de Deus com o compromisso de sermos gratos e gratuitos em nossa vida. Vivamos, portanto com a nossa fé este dia que com certeza enriquece a nossa espiritualidade, o nosso relacionamento com a vida e com os demais irmãos e irmãs da caminhada do dia a dia”, concluiu. Fonte: http://cnbb.net.br
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Sua modéstia e humildade fizeram dele uma figura popular em todo o mundo. Mas dentro da Igreja, suas reformas têm enfurecido os conservadores e desencadeado uma revolta.
O Papa Francisco é um dos homens mais odiados do mundo atualmente. Os que mais o odeiam não são ateus, protestantes, nem muçulmanos, mas alguns de seus seguidores. Fora da Igreja, ele é muito conhecido como uma figura de modéstia e humildade quase ostensivas. Desde que o Cardeal Jorge Bergoglio tornou-se Papa, em 2013, seus gestos capturaram a imaginação mundial: o novo Papa dirigia um Fiat, carregava suas próprias malas e cuidava de suas próprias contas de hotel; perguntava, a respeito dos gays, "Quem sou eu para julgar?" e lavou os pés de mulheres muçulmanas refugiadas. A reportagem é de Andrew Brown, publicada por The Guardian, 27-10-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Mas dentro da Igreja Francisco tem provocado uma reação feroz dos conservadores, que temem que este espírito a divida e possa chegar a destruí-la. Neste verão, um importante sacerdote inglês me disse: "Mal podemos esperar por sua morte. O que dizemos em particular não é publicável. Quando dois padres se encontram, falam sobre o quão horrível é Bergoglio... é como o Calígula: se tiver um cavalo, iria nomeá-lo cardeal." Claro, depois de 10 minutos reclamando, acrescentou: "Nada disso pode ser publicado, ou vou ser demitido."
Esta mistura de ódio e medo é comum entre os adversários do Papa Francisco, o primeiro papa não Europeu dos tempos modernos e o primeiro papa jesuíta, foi eleito como alguém fora do sistema do Vaticano e, naturalmente, faria inimigos. Mas ninguém previa que seriam tantos. Desde sua pronta renúncia da pompa do Vaticano, que notificou os 3.000 integrantes da do serviço da Igreja da qual queria ser o mestre, até seu apoio aos migrantes, ataques ao capitalismo global e, acima de tudo, seus movimentos para re-examinar os ensinamentos da Igreja sobre sexo, ele tem escandalizado reacionários e conservadores. A julgar pelas figuras que votaram no último encontro mundial dos bispos, quase um quarto do Colégio dos Cardeais – o mais alto clero da Igreja – acredita que o Papa está flertando com a heresia.
O ponto alto da crise chegou em um conflito sobre sua visão a respeito do divórcio. Rompendo com séculos, se não milênios, de teoria católica, o Papa Francisco tentou encorajar os padres católicos a dar a comunhão a alguns casais divorciados e recasados e famílias em que os pais são solteiros e moram juntos. Seus inimigos estão tentando forçá-lo a desistir dessa tentativa.
Como isso não vai acontecer, e suas ideias têm prosperado apesar do descontentamento de muitos, eles estão se preparando para lutar. No ano passado, um cardeal, apoiado por alguns colegas aposentados, levantou a possibilidade de uma declaração formal de heresia – a rejeição deliberada de uma doutrina estabelecida da Igreja, um pecado punível com a excomunhão. No mês passado, 62 católicos insatisfeitos, incluindo um bispo aposentado e um ex-chefe do banco do Vaticano, publicaram uma carta aberta acusando Francisco de sete ocorrências específicas de ensino herético.
Acusar um Papa atual de heresia é a opção nuclear em conflitos católicos. A doutrina afirma que o Papa não pode estar errado ao falar sobre as questões centrais da fé; se estiver errado, não pode ser Papa. Por outro lado, se estiver certo, todos os antecessores deviam estar errados.
A questão é particularmente tóxica, porque é quase completamente teórica. Na prática, em grande parte do mundo, os casais divorciados e recasados recebem a comunhão rotineiramente. O Papa Francisco não está propondo uma revolução, mas o reconhecimento burocrático de um sistema que já existe e pode até ser essencial para a sobrevivência da Igreja. Se as regras fossem aplicadas de forma literal, ninguém cujo casamento não deu certo poderia ter relações sexuais novamente. Não é uma maneira prática de garantir que existam futuras gerações de católicos.
Mas as cautelosas reformas de Francisco parecem, para os seus adversários, ameaçar a crença de que a Igreja ensina verdades atemporais. Se a Igreja Católica não ensina verdades eternas, perguntam os conservadores, qual é o sentido? A batalha acerca do divórcio e do novo casamento trouxe à tona duas ideias profundamente contrárias da função da Igreja. A insígnia do Papa é duas chaves cruzadas, representando aqueles que Jesus supostamente ofereceu a São Pedro e simbolizando a capacidade de vinculação e perda: proclamar o que é pecado e o que é permitido. Mas qual é mais importante e mais urgente agora?
A crise atual é a mais grave desde que as reformas liberais dos anos 60 impulsionaram um grupo dissidente de conservadores radicais a romper com a Igreja. (Seu líder, o arcebispo francês Marcel Lefebvre, foi depois excomungado). Durante os últimos anos, escritores conservadores têm levantado o espectro do cisma por diversas vezes. Em 2015, o jornalista americano Ross Douthat, que se converteu ao catolicismo, escreveu um artigo para a revista Atlantic cuja manchete era Será que o Papa Francisco vai quebrar a Igreja?; um post do blogue Spectator do tradicionalista inglês Damian Thompsonameaçou que o "Papa Francisco está em guerra com o Vaticano. Se ele vencer, a Igreja pode desmoronar." A visão do Papa sobre o divórcio e a homossexualidade, de acordo com um arcebispo do Cazaquistão, permitiu que "a fumaça do Satanás" entrasse na Igreja.
A Igreja Católica passou grande parte do século passado lutando contra a revolução sexual, tanto quanto lutou contra as revoluções democráticas do século XIX, e nesta luta teve que defender uma posição absolutista indefensável, que proíbe qualquer forma de contracepção artificial, assim como qualquer relação sexual fora do casamento para toda a vida. Como Francisco reconhece, as pessoas não se comportam assim. O clero sabe disso, mas deve fingir que não. O ensino oficial não pode ser questionado, mas também não pode ser obedecido. Alguém tem que ceder, e quando isso acontece, a explosão que resulta pode quebrar a Igreja.
Apropriadamente, o ódio às vezes amargo dentro da Igreja – direcionado ao aquecimento global, à migração ou ao capitalismo – chegaram a um ponto de uma luta gigantesca sobre as implicações de uma única nota de rodapé em um documento chamado The Joy of Love (ou, em latim, Amoris Laetitia). O documento, escrito por Francisco, é um resumo do debate atual sobre o divórcio, e é nesta nota de rodapé que ele faz uma afirmação aparentemente suave de que casais divorciados e recasadospodem, às vezes, receber a comunhão.
Com mais de 1 bilhão de seguidores, a Igreja Católica é a maior organização global que o mundo já viu, e muitos deles são pais divorciados ou solteiros. A Igreja depende de trabalho voluntário para realizar sua obra em todo o mundo. Se os fiéis comuns deixarem de acreditar no que estão fazendo, tudo desmorona. O papa sabe disso. Se não for possível conciliar teoria e prática, a Igreja pode se esvaziar em todos os lugares. Seus adversários também acreditam que a Igreja enfrenta uma crise, mas afirmam o contrário. Para eles, a lacuna entre teoria e prática é exatamente o que confere valor e significado à Igreja. Se eles conseguem viver sem o que a Igreja oferece, segundo acreditam os adversários de Francisco, ela certamente entrará em colapso.
Ninguém previu isso quando Francisco foi eleito em 2013. Um dos motivos para sua nomeação como papa por seus colegas cardeais foi resolver a esclerose da burocracia do Vaticano. Há muito que se esperava por isso. O Cardeal Bergoglio de Buenos Aires foi eleito como alguém relativamente de fora, que poderia limpar parte do bloqueio no centro da Igreja. Mas essa missão em breve colidiu com uma linha de falha ainda mais acirrada na Igreja, que é geralmente descrita como uma batalha entre "liberais", como Francisco, e "conservadores", como seus inimigos. Mas isso é uma classificação escorregadia e enganosa.
O conflito central é entre católicos que acreditam que a Igreja deve definir a agenda do mundo e os que pensam que o mundo deve definir a agenda da Igreja. São tipos ideais: no mundo real, os católicos são uma mistura dessas orientações, mas, em sua maioria, uma predomina.
O papa Francisco é um exemplo puro de católico extrovertido ou "voltado para o exterior", especialmente em comparação com seus antecessores imediatos. Seus adversários são os introvertidos. Muitos atraíram-se pela Igreja por sua distância das preocupações do mundo. Um número surpreendente dos principais introvertidos advém de pessoas convertidas do protestantismo estadunidense, algumas conduzidas pela superficialidade dos recursos intelectuais com que foram criadas, mas principalmente por um sentimento de que o protestantismo liberal estava morrendo justamente porque já não oferecia nenhuma alternativa para a sociedade ao seu redor. Querem mistério e romance, não o senso comum estéril ou a sabedoria convencional. Nenhuma religião pode florescer sem esse impulso.
Assim como nenhuma religião global pode ficar totalmente contra o mundo. No início da década de 60, um encontro de três anos entre os bispos de todas as partes da Igreja, conhecido como o Segundo Concílio Vaticano, o Concílio Vaticano II, "abriu as janelas para o mundo", nas palavras do Papa João XXIII, que iniciou o movimento, mas morreu antes de concluir seu trabalho.
O Concílio renunciou ao antissemitismo, abraçou a democracia, proclamou direitos humanos universais e em grande medida aboliu a missa em latim. O último ato, em particular, surpreendeu os introvertidos. O escritor Evelyn Waugh, por exemplo, nunca foi a uma missa em inglês após a decisão. Para homens como ele, os rituais solenes de um serviço realizado por um sacerdote de costas para a Congregação, falando inteiramente em latim, diante de Deus no altar, eram o coração da Igreja – uma janela para a eternidade promulgada em cada performance. O ritual foi central para a Igreja de uma forma ou de outra desde a sua fundação.
A mudança simbólica provocada pela nova liturgia – substituindo o padre introvertido voltado para Deus no altar pela figura extrovertida voltado à congregação – era imensa. Alguns conservadores ainda não se reconciliaram com a reorientação, como o Cardeal ganês Robert Sarah, apontado por introvertidos como um possível sucessor de Francisco, e o Cardeal estadunidense Raymond Burke, que emergiu como o adversário mais explícito de Francisco. A crise atual, nas palavras da jornalista católica inglesa Margaret Hebblethwaite – partidária apaixonada de Francisco – o "Vaticano II está voltando novamente".
"É preciso ser inclusivo e acolhedor a tudo o que é humano", disse Sarah em uma reunião do Vaticano no ano passado, em uma denúncia das propostas de Francisco, "mas o que vem do inimigo não pode e não deve ser assimilado. Não se pode juntar Cristo e Belial! O que foram o nazi-fascismo e o comunismo no século XX, são as ideologias ocidentais da homossexualidade e do aborto e o fanatismo islâmico hoje."
Nos anos imediatamente depois do Concílio, freiras descartaram seus hábitos, sacerdotes descobriram as mulheres (mais de 100.000 deixaram o sacerdócio para se casar), e teólogos jogaram fora com as algemas da ortodoxia introvertida. Após 150 anos resistindo e repelindo-o, a Igreja viu-se engajada com o mundo exterior em todos os lugares, parecer aos introvertidos que todo o edifício entraria em colapso, tornando-se escombros.
O número de frequentadores da Igreja despencou no mundo ocidental, assim como em outras denominações. Nos EUA, 55% dos católicos iam à missa regularmente em 1965; em 2000, apenas 22%. Em 1965, 1.3 milhões de bebês católicos eram batizados nos Estados Unidos; em 2016, apenas 670.000. Se foi causa ou correlação, permanece o debate feroz. Para os introvertidos, a culpa é do abandono das verdades eternas e práticas tradicionais; já os extrovertidos sentiram que a Igreja não tinha mudado muito ou rápido o suficiente.
Em 1966, uma comissão papal de 69 membros, com sete cardeais e 13 médicos, em que leigos e até mesmo algumas mulheres eram representadas, votou esmagadoramente pela revogação da proibição da contracepção artificial, mas o Papa Paulo VI negou o pedido em 1968. Ele não podia admitir que seus antecessores estavam errados, e os protestantes estavam certos. Para uma geração de católicos, o debate passou a simbolizar a resistência à mudança. No mundo em desenvolvimento, a Igreja Católica em grande parte foi dominada por um enorme renascimento Pentecostal, que oferecia muito carisma e status para os leigos, mesmo para as mulheres.
Os introvertidos vingaram-se com a eleição do Papa (agora Papa São) João Paulo II, em 1978. Sua igreja polonesa havia sido definida por sua oposição ao mundo e seus poderes dividiram o país a partir dos nazistas e comunistas, em 1939. João Paulo II era um homem de uma tremenda energia, força de vontade e dons importantes. Ele também era profundamente conservador em assuntos de moralidade sexual e, quando era cardeal, forneceu a justificativa intelectual para a proibição do controle de natalidade.
Desde o momento da sua eleição, ele começou a remodelar a Igreja à sua imagem. Se não podia transmitir seu próprio dinamismo e força de vontade, podia, ao que parecia, expurgar a Igreja da extroversão e configurá-la mais uma vez como uma rocha, contra as correntes do mundo secular.
Ross Douthat, o jornalista católico, foi uma das poucas pessoas no partido introvertido que estava disposto a falar abertamente sobre o conflito atual. Por ser jovem, ele foi um dos que se converteram na época do Papa João Paulo II. Agora, diz: "A Igreja pode estar bagunçada, mas o importante é que o centro é sadio, e sempre se pode reconstruir as coisas a partir do centro. Ser católico é bom porque há garantia de continuidade no centro, e, com isso, a esperança de reconstituição da ordem católica."
João Paulo II teve o cuidado de nunca repudiar as palavras do Concílio Vaticano II, mas trabalhou para esvaziá-las do espírito extrovertido. Ele começou impondo uma disciplina feroz sobre o clero e os teólogos. Dificultou tanto quanto possível que os sacerdotes saíssem para se casar. Seu aliado nisso era a Congregação para a Doutrina da Fé - CDF, antes conhecida como Santo Ofício. A CDF é o departamento mais institucionalmente introvertido do Vaticano (ou "dicastérios", como são conhecidos desde a época dos impérios romanos; é um detalhe que indica o peso da experiência institucional e inércia – se o nome era bom o suficiente para Constantino, por que mudar?).
Para a CDF, era axiomático que o papel da Igreja fosse ensinar o mundo, e não aprender com ele. Há uma longa história de punição aos teólogos que discordam: foram proibidos de publicar ou retirados de universidades católicas.
No início do pontificado de João Paulo II, a CDF publicou Donum Veritatis (o dom da verdade), um documento explicando que todos os católicos devem praticar a "submissão da vontade e intelecto" ao que o Papa ensina, mesmo quando não é infalível; e que teólogos, embora possam discordar e dar a conhecer aos superiores, nunca devem expressar desacordo em público. Isso foi usado como uma ameaça, e, por vezes, como uma arma, contra qualquer pessoa suspeita de dissidência liberal. Francisco, no entanto, transformou esses poderes contra os que haviam sido seus defensores mais entusiastas. Os padres, bispos e cardeais católicos servem ao Papa e podem a qualquer momento ser demitidos. Os conservadores aprenderiam tudo sobre isso durante o papado de Francisco, que demitiu pelo menos três teólogos da CDF. Os jesuítas demandam disciplina.
Em 2013, logo após sua eleição, enquanto ainda estava numa onda de aclamação quase universal pela ousadia e simplicidade de seus gestos – havia se mudado para dois quartos com pouca mobília nos jardins do Vaticano, em vez dos apartamentos suntuoso do Estado usados por seus predecessores –, Francisco expurgou uma pequena ordem religiosa dedicada à prática da missa em latim.
Os Frades Franciscanos da Imaculada, um grupo com cerca de 600 membros (homens e mulheres), estava sendo investigado por uma Comissão em junho de 2012, durante o papado de Bento XVI. Eles eram acusados de combinar cada vez mais uma política de extrema direita com uma devoção à missa em latim. (Esta mistura, muitas vezes vista ao lado de declarações de ódio do "liberalismo", também estava se espalhando na mídia on-line nos EUA e no Reino Unido, como o blogue Holy Smoke, do Daily Telegraph, editado por Damian Thompson).
Quando houve o relato da Comissão, em julho de 2013, a reação de Francisco chocou os conservadores rígidos. Ele fez os frades deixarem de usar o latim na missa em público e fechou seu seminário. Ainda podiam educar novos sacerdotes, mas não segregados do resto da Igreja. Além disso, foi muito direto, sem passar pelo sistema jurídico interno do Vaticano, liderado na época pelo Cardeal Burke. No ano seguinte, Francisco demitiu Burke de seu trabalho poderoso no sistema jurídico interno do Vaticano e ganhou um inimigo implacável.
Burke, um estadunidense audacioso, dado às vestes de rendas bordadas e (em ocasiões formais) à capa escarlate cerimonial, que de tão longa precisa de pessoas que carreguem sua cauda, foi um dos principais reacionários no Vaticano. Na forma e na doutrina, ele representa uma longa tradição de grandes corretores de poder estadunidense do Catolicismo étnico branco. A Igreja hierática, patriarcal e conflituosa da missa em latim é seu ideal, ao qual parecia que a Igreja de João Paulo II e de Bento XVI foi voltando lentamente – até Francisco começar a trabalhar.
A combinação do Cardeal Burke de anticomunismo, orgulho étnico e ódio do feminismo tem alimentado uma sucessão de figuras proeminentes de direita nos Estados Unidos, de Pat Buchanan a Bill O'Reilly e Steve Bannon, ao lado de intelectuais católicos conhecidos como Michael Novak, que promoveram incansavelmente as guerras no Oriente Médio e a compreensão Republicana dos mercados livres.
Foi o Cardeal Burke que convidou Bannon, que já era o espírito que animava o Breitbart News, para falar em uma conferência no Vaticano, por videoconferência, da Califórnia, em 2014. O discurso de Bannon foi apocalíptico, incoerente e historicamente excêntrico. Mas não havia como confundir a urgência da sua convocação para uma guerra santa: a segunda guerra mundial, disse, tinha sido "judaico-cristãos do oeste contra os ateus", e agora a civilização estava "em estágios iniciais de uma guerra global contra o fascismo islâmico... um conflito brutal e sangrento... que erradicará completamente todo o nosso legado dos últimos 2.000, 2.500 anos... se as pessoas nesta sala, as pessoas na Igreja, não... lutarem por nossas crenças, contra esta nova barbárie que está começando."
Tudo no discurso é um anátema para Francisco. A primeira viagem oficial do Papa para fora de Roma, em 2013, foi para a ilha de Lampedusa, que havia se tornado o ponto de chegada de dezenas de milhares de migrantes desesperados do norte da África. Como ambos seus predecessores, ele se opõe firmemente às guerras no Oriente Médio, embora o Vaticano tenha apoiado, de forma relutante, a extirpação do califado doEstado Islâmico. Ele se opõe à pena de morte. Ele abomina e condena o capitalismo estadunidense: depois de dar seu apoio a migrantes e homossexuais, a primeira grande instrução política do seu período no cargo foi uma encíclica, documento que traz um ensinamento, dirigido a toda a Igreja, que condenava ferozmente o funcionamento de mercados globais.
"Algumas pessoas continuam defendendo teorias de gotejamento que pressupõem que o crescimento econômico, incentivado por um mercado livre, inevitavelmente terá sucesso em trazer maior justiça e inclusão no mundo. Esta opinião, que nunca foi confirmada pelos fatos, exprime uma enorme e ingênua confiança na bondade daqueles que exercem o poder econômico e no funcionamento sacralizado do sistema econômico vigente. Enquanto isso, os excluídos ainda estão esperando."
Acima de tudo, Francisco está do lado dos imigrantes – ou os emigrantes, como ele os vê – expulsos de casa por um capitalismo voraz e destrutivo sem limites, que causou uma mudança climática catastrófica. É uma questão racial, assim como profundamente política, nos EUA. Os evangélicos que votaram em Trump e no seu muro são esmagadoramente brancos. Assim como a liderança da Igreja Católica estadunidense. Mas cerca de um terço dos leigos são hispânicos, e essa proporção está crescendo. No mês passado, Bannon afirmou, em entrevista ao programa 60 Minutes da CBS, que os bispos estadunidenses eram a favor da imigração em massa só porque mantinha suas congregações – embora a questão vá adiante do que a maioria dos bispos de direita diga publicamente.
Quando Trump anunciou que construiria um muro para manter os imigrantes fora do país, Francisco chegou muito perto de negar que o então candidato seria cristão. Na visão do papa dos perigos para a família, os banheiros para transgêneros não são o problema mais urgente, como afirmam alguns guerreiros culturais. O que destrói famílias, escreveu, é um sistema econômico que força milhões de famílias pobres a se separar em busca de trabalho.
Assim como abordou os praticantes da antiga missa em latim, Francisco começou uma ampla ofensiva contra a velha guarda dentro do Vaticano. Cinco dias após sua eleição, em 2013, ele convocou o Cardeal hondurenho Óscar Rodríguez Maradiaga e disse que ele seria o coordenador de um grupo de nove Cardeais de todo o mundo cuja missão era limpar o lugar. Todos eles haviam sido escolhidos por sua energia e pelo fato de já terem discordado do Vaticano. Foi um movimento popular em todos os lugares fora de Roma.
João Paulo II passou a última década de sua vida cada vez mais debilitado pela doença de Parkinson, e as energias que restavam não foram gastas com lutas burocráticas. A Cúria, como a burocracia do Vaticano é conhecida, ficou ainda mais poderosa, estagnada e corrupta. Muito pouco foi feito contra os bispos que abrigaram padres que abusaram de criança. O banco do Vaticano - IOR era conhecido pelos serviços de lavagem de dinheiro. O processo de fabricação de santos – algo que João Paulo II tinha feito a um ritmo sem precedentes – tornou-se uma confusão extremamente cara. (O jornalista italiano Gianluigi Nuzzi estimou o custo de uma canonização em €500.000 por halo.) As finanças do Vaticano em si eram uma confusão horrível. O próprio Franciscorefere-se a "um fluxo de corrupção", na Cúria.
O estado pútrido da Cúria era amplamente conhecido, mas nunca abordado em público. Em nove meses da nomeação, Francisco disse a um grupo de freiras que "na Cúria, também existem pessoas santas, realmente, existem pessoas santas" – sendo que a revelação foi que ele imaginou que o público de freiras ficaria chocado ao descobrir isso.
A Cúria, disse, "vê e cuida dos interesses do Vaticano, que ainda são, em grande parte, interesses temporais. Esta visão centrada no Vaticano ignora o mundo que nos rodeia. Não compartilho desta opinião, e vou fazer o que puder para mudar isso." Ele disse ao jornal italiano La Repubblica: "Os líderes da Igreja muitas vezes foram narcisistas, orgulhosos e emocionados por seus cortesãos. O tribunal é a lepra do papado".
"O Papa nunca falou nada agradável sobre os sacerdotes," disse o padre que mal pode esperar por sua morte. "Ele é um jesuíta anticlerical. Lembro disso pelos anos 70. Eles diziam: 'Não me chame de Padre, me chame de Gerry' – essa porcaria – e nós, o clero paroquial oprimido, sentimos que perdemos o chão."
Em dezembro de 2015, Francisco fez seu tradicional discurso de Natal à Cúria Romana, e não teve papas na língua: Acusou-os de arrogância, “Alzheimer espiritual”, "hipocrisia típica dos medíocres e um vazio espiritual progressivo que graus acadêmicos não conseguem preencher", bem como materialismo vazio e vício por fofoca e calúnia – não é o tipo de coisa que se quer ouvir do chefe na festa do escritório.
Porém, quatro anos após ter se tornado papa, a resistência passiva do Vaticanoparece ter triunfado sobre a energia de Francisco. Em fevereiro deste ano, apareceram cartazes durante a noite nas ruas de Roma que perguntavam, "Francisco, onde está sua compaixão?", atacando-o por seu tratamento ao Cardeal Burke. Os cartazes só podem ter vindo de desafetos no Vaticano e são sinais exteriores de uma teimosa recusa de ceder poder ou privilégio aos reformadores.
Esta batalha, porém, tem sido ofuscada, assim como todas as outras, pelos conflitos internos sobre a moralidade sexual. A luta sobre o divórcio e o recasamento centra-se em dois fatos. Primeiro, que a doutrina da Igreja Católica não mudou em quase 2.000 anos – o casamento é indissolúvel pela vida toda; isso é muito claro. Assim como o segundo fato: As taxas de pessoas que se divorciam ou casam novamente entre os católicos são as mesmas do restante da população, e quando isso acontece, eles não veem nada imperdoável em suas ações. Portanto, as igrejas do mundo ocidental estão cheias de casais divorciados e que se casaram novamente que recebem a comunhão com os outros, mesmo que eles e seus sacerdotes saibam perfeitamente que isso não é aceitável.
Os ricos e poderosos sempre exploraram as lacunas. Quando querem se livrar de uma mulher e casar novamente, um bom advogado encontra uma forma de provar que o primeiro casamento foi um erro, não algo que tenha entrado no espírito que a Igreja exige, para que seu registro possa ser limpo – no jargão, anulado. Isto se aplica especialmente para os conservadores: Steve Bannon conseguiu se divorciar das suas três esposas, mas talvez o exemplo atual mais escandaloso seja o de Newt Gingrich, que liderou a aquisição republicana do Congresso na década de 90 e desde então reinventou-se como aliado de Trump. Gingrich terminou com sua primeira esposa enquanto ela se tratava para um câncer e, ainda casado com sua segunda esposa, teve um caso de oito anos com Callista Bisek, devota católica, antes de se casar com ela na Igreja. Ela está prestes a assumir o cargo de embaixadora de Donald Trump no Vaticano.
O ensino sobre casar-se novamente após um divórcio não é o único ensino sexual católico que nega a realidade dos leigos, mas é o mais prejudicial. A proibição da contracepção artificial é ignorada por todos onde quer que seja legal. A hostilidade aos gays é comprometida pelo fato geralmente conhecido de que uma grande proporção do sacerdócio no Ocidente é gay, e alguns deles são bem ajustados celibatários. A rejeição do aborto não é um problema onde o aborto é legal, e, em todos os casos, não é particular à Igreja Católica. Mas a recusa em reconhecer segundos casamentos, a menos que o casal prometa nunca mais fazer sexo, destaca os absurdos de uma casta de homens celibatários que regulam a vida das mulheres.
Em 2015 e 2016, Francisco convocou duas grandes conferências ou sínodos de bisposde todo o mundo para discutir tudo isso. Ele sabia que não podia operar mudanças sem amplo acordo. Ele manteve-se em silêncio e encorajou os bispos a discutir. Mas logo ficou claro que favoreceu um considerável afrouxamento da disciplina em torno da comunhão, após um novo casamento. Como isso é o que se passa na prática de qualquer forma, é difícil para alguém de fora entender as paixões que desperta.
"O que me preocupa é a teoria", disse o padre inglês que confessou seu ódio por Francisco. "Na minha paróquia há muitos casais divorciados e recasados, mas muitos deles, se ouvissem que o primeiro cônjuge havia morrido, correriam para casar na igreja. Conheço muitos homossexuais que estão fazendo todo tipo de coisa errada, mas que sabem que não devem fazer. Somos todos pecadores. Mas temos que manter a integridade intelectual da fé católica".
Pensando assim, o fato de que o mundo rejeita seu ensino meramente prova o quão correto é. "A Igreja Católica deveria ser contracultural na esteira da revolução sexual", diz Ross Douthat. "A Igreja Católica é o último lugar do mundo ocidental que diz que o divórcio é ruim."
Para Francisco e seus apoiadores, tudo isso é irrelevante. A Igreja, afirma, deveria ser um hospital ou um posto de primeiros-socorros. As pessoas que estão divorciadas não precisam que alguém lhes diga que isso é ruim. Precisam recuperar e reconstruir suas vidas novamente. A Igreja deve ficar ao seu lado e demonstrar piedade.
No primeiro Sínodo dos Bispos em 2014, essa ainda era uma opinião minoritária. Um documento liberal estava preparado, mas foi rejeitado pela maioria. Um ano depois, os conservadores estavam claramente em minoria, mas uma minoria muito determinada. O próprio Francisco escreveu um resumo das deliberações de A Alegria do Amor. É um documento longo, reflexivo e cuidadosamente ambíguo. A dinamite é enterrada na nota de rodapé 351 do capítulo oito e teve grande importância nas revoluções subsequentes.
A nota de rodapé faz um adendo a uma passagem que vale a pena citar tanto pelo que diz como pela forma com que diz. Sua mensagem é clara: algumas pessoas vivendo segundos casamentos (ou parcerias civis) "podem viver na graça de Deus, podem amar e podem também crescer na vida de graça e de caridade, recebendo para isso a ajuda da Igreja".
Mesmo a nota de rodapé, que diz que esses casais podem receber a comunhão se confessarem seus pecados, aborda o assunto com cautela: "Em certos casos, isso pode incluir a ajuda dos sacramentos." Portanto, "quero lembrar os sacerdotes que o confessionário não pode ser uma câmara de tortura, mas um encontro com a misericórdia do Senhor." E: "Gostaria também de salientar que a Eucaristia 'não é um prêmio para a perfeição, mas um poderoso remédio e alimento para os fracos'."
"Por pensar que tudo é preto ou branco", acrescenta Francisco, "às vezes fechamos o caminho da graça e do crescimento".
É esta pequena passagem que uniu todas as rebeliões contra sua autoridade. Ninguém consultou os leigos para sabem sua opinião sobre isso, que em caso algum foi de interesse para o partido introvertido. Mas entre um quarto e um terço dos bispos resiste passivamente à mudança, e uma pequena minoria está fazendo isso de forma ativa.
O líder dessa facção é o grande inimigo de Francisco, o Cardeal Burke. Demitido primeiro do cargo no Tribunal do Vaticano e depois da comissão de liturgia, ele acabou no conselho de fiscalização dos Cavaleiros de Malta – um órgão de caridade dirigido pelas velhas aristocracias católicas da Europa. No outono de 2016, despediu o líder da ordem por supostamente permitir que freiras distribuíssem preservativos na Birmânia. Isso é algo que as freiras fazem muito no mundo em desenvolvimento, para proteger as mulheres vulneráveis. O homem que havia sido demitido apelou ao Papa.
O resultado foi que Francisco reintegrou o homem que Burke tinha demitido e nomeou outra pessoa para assumir a maioria das funções de Burke. Foi um castigo por suas afirmações completamente falsas de que o Papa estava do seu lado no conflito original.
Enquanto isso, Burke utilizou-se de outras frentes, que chegaram o mais próximo que conseguiu de acusar o Papa de heresia. Juntamente com três outros cardeais, dois dos quais já morreram, Burke produziu uma lista de cinco questões destinadas a verificar seAmoris Laetitia violava o ensino anterior ou não. As questões foram enviadas como uma carta formal para Francisco, que ignorou. Depois de ser demitido, Burke divulgou as questões e disse que estava preparado para emitir uma declaração formal de que o Papa era um herege se ele não as respondesse, para satisfazê-lo.
Claro, Amoris Laetitia representa uma ruptura com o ensino anterior. É um exemplo da Igreja ter aprendido com a experiência. Mas é difícil os conservadores assimilarem: historicamente, estas explosões de aprendizagem só aconteceram em convulsões, a séculos de distância. Essa chegou apenas 60 anos após a última explosão de extroversão, com o Concílio Vaticano II, e somente 16 anos depois de João Paulo II ter reiterado a velha linha dura.
"O que significa um papa contradizer um papa anterior?", pergunta Douthat. "É notável o quão perto Francisco chegou de discutir com seus predecessores imediatos. Foi apenas há 30 anos que João Paulo II previu no Veritatis Splendor uma linha que parece contradizer Amoris Laetitia."
O Papa Francisco está deliberadamente contradizendo um homem que ele mesmo proclamou santo. Isso dificilmente vai incomodá-lo. Talvez a mortalidade incomode. Quanto mais Francisco altera a linha de seus predecessores, mais fácil fica para que um sucessor reverta a sua. Embora a doutrina católica sofra alterações, depende de sua força a ilusão de que não. Os pés podem estar dançando sob a batina, mas o manto pode nunca se mover. No entanto, isso também significa que mudanças que haviam ocorrido podem ser revertidas sem qualquer movimento oficial. É assim que João Paulo IIatingiu o Vaticano II.
Para garantir que as mudanças de Francisco vão perdurar, a Igreja tem que aceitá-las. Essa é uma pergunta que não será respondida em sua vida. Ele tem 80 anos e só tem um pulmão. Seus adversários podem ser rezando por sua morte, mas ninguém sabe se seu sucessor tentará contradizê-lo – e dessa questão depende o futuro da Igreja Católica. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
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