Publicamos aqui o comentário do monge italiano Enzo Bianchi, fundador da Comunidade de Bose, sobre o Evangelho deste XVI Domingo do Tempo Comum, 23 de julho (Mt 13, 24-43). A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Continuamos a leitura do discurso parabólico de Jesus no Evangelho segundo Mateus. Depois da parábola do semeador e da sua explicação, eis outra parábola ainda referente à semeadura. Mas, se na primeira, a ênfase caía nos diversos terrenos nos quais caía o grão bom, aqui, ao contrário, a atenção vai para o objeto da semeadura: boa semente ou má semente.

Em certo ponto da nossa existência, nós também descobrimos a presença do mal: quem o introduziu em nós e ao nosso redor? Por que não o percebemos?

É uma experiência dolorosa também, que requer um discernimento sobre nós e sobre a nossa vida: acolhemos a palavra de Deus, meditamo-la e conservamo-la, também tentamos realizá-la (cf. Mt 13, 22-23), mas eis que aparece o mal como obra das nossas mãos.

É também a experiência da comunidade cristã, da Igreja, que é um corpus mixtum, porque fazem parte dela fortes e fracos, simples e eruditos, justos e pecadores, fiéis e infiéis. Não era assim também a pequena comunidade de Jesus? No seu interior, houve quem traiu, quem renegou, quem era medroso e covarde, quem fugiu...

Quem lê situações como essas se assemelha aos servos da parábola, que, dada a situação do campo, interrogam o dono sobre o trigo semeado; e, sabendo que um inimigo fez a operação de semeadura do joio, propõe extirpar essa erva daninha. Aos seus olhos, tal separação é necessária para que o trigo possa crescer sem ser privado de substâncias vitais e de espaço.

Mas o dono tem outra ótica: a da paciência, da espera paciente de um tempo em que se possa separar a erva daninha da boa semente, sem prejudicar esta última. Ele sabe que, no desejo de erradicar o mal, existe o risco de erradicar ou pelo menos de desestabilizar também o bem. É preciso paciência por parte do dono e, por parte da boa semente, um exercício de mansidão, que aceita ao seu lado a presença de plantas más.

É claro, virá a hora da colheita, do juízo – como Jesus esclarece melhor na explicação da parábola, solicitada pelos discípulos – e, então, haverá a separação, porque o pão será produzido com o trigo bom, enquanto o joio será queimado: mas, enquanto isso, há a necessidade de espera paciente e de mansidão.

A intransigência, a busca da pureza a todo custo, a rigidez de querer uma comunidade composta totalmente por justos são perigosas, porque as fronteiras entre o bem e o mal, entre justiça e injustiça, às vezes, não são tão claras. Essa primeira parábola é uma advertência sobre o nosso estilo de vida eclesial, pedindo aquela paciência que sabe adiar um ato legítimo, mesmo por parte daqueles que são competentes, como os ceifadores, e enviá-lo para a hora que não nos pertence, a do juízo. Sim, para as pessoas que creem, há tentações ao mal justamente quando “veem” o bem: intolerância, partidarismo, integralismos, militância contra... É a tentação do catarismo: somente puros! Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

NOTAS DO FREI PETRÔNIO DE MIRANDA, PADRE CARMELITA E JORNALISTA/RJ:

Qual a nossa concepção sobre o joio e o trigo? Quem é “santo” e quem é “pecador” na comunidade? A história confirma a catástrofe lamentável na tentativa dessa separação. Vejamos:  

- Com o objetivo de formar um povo “puro”, o ditador Adolf Hitler, matou mais de 60 milhões de pessoas na Segunda-Guerra Mundial entre 1939 a 1945.

-Um confronto entre supostos invasores de terra e policiais militares e civis terminou em tragédia, com 10 mortos, na fazenda chamada Santa Lúcia, localizada no município de Pau D'Arco, distante cerca de 50 km de Redenção, no sudeste paraense, na manhã de quarta-feira, 24 de maio-2017.

- No dia 3 de abril de 2013 o aposentado Paulo César da Silva, 62, matou a tiros o próprio filho usuário de drogas, Paulo Eduardo Olinda da Silva, 28, no bairro de Bancários, na Ilha do Governador, Zona Norte da cidade da cidade do Rio de Janeiro. 

-Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2016 foram assassinados 144 travestis e transexuais no Brasil.

- Portugal e Brasil estão na lista número um na comercialização de escravos para a América. Foram transportados 5,8 milhões de escravos.

Esses dados mostram o erro histórico na tentativa de separar o joio do trigo. Erros que aliás continuam a perpetuar, seja no assassinato de jovens negros, quilombolas, pobres e favelados, ou ainda na morte “silenciosa” por suicídio de adolescentes e jovens por questões sexuais, étnica, religiosa ou social.

Na verdade, queremos mesmo é o trigo que produza 100%! Vivemos em uma igreja, convento, ordem religiosa, congregação, seminário, empresa e sociedade como um todo da produtividade. Quem é “joio” ou não rende, é descartável, jogado no canto, esquecido ou ainda fingimos que tais pessoas não existem- seja os moradores de rua, os sem terras, os drogados, os índios...

O Evangelho desse 16º Domingo do Tempo Comum nos joga contra a parede e nos força a olharmos no espelho da vida. Será que também nós não somos joios? Perguntar não ofende.             

Padre Francesco Cosentino continua a reflexão sobre a figura e o papel do sacertote hoje, depois das três contribuições do Padre Armando Matteo (cf. Settimananews 4, 10 e 13 de Junho de 2017), "O que resta do padre?", seu primeiro texto (cf. Settimananews, 02 de julho) versava sobre a identidade do sacerdote e dos condicionamentos históricos que o marcaram. Neste artigo, o professor insiste sobre a necessidade do padre de saber fazer conviver na sua pessoa a grandeza da vocação com a fragilidade da sua humanidade.

Padre Francesco Cosentino, 38 anos, é sacerdote desde 2005, da Diocese de Catanzaro-Squillace, professor e diretor de retiros espirituais e encontros, atualmente funcionário da Congregação para o clero e professor da Pontifícia Universidade Gregoriana. Apaixonado pelo discurso sobre Deus, publicou numerosos trabalhos sobre este assunto. O artigo é publicado por Settimana News, 14-07-2017. A tradução é de Ramiro Mincato.

Eis o artigo.

A atual crise afeta a identidade do sacerdote que, portanto, precisa rever seu modelo ministerial e pastoral, retornando à essência da chamada e ao essencial do ministério. Partimos daqui, só para uma breve fotografia e para começar a tocar algum nervo descoberto.

Voltarei a problemática, a alguns dos seus principais aspectos e sobre o tipo de padre que, pelo menos hoje, parece estar em crise, invocando caminhos novos e criativos para repensar esta figura; no entanto, exatamente por partir da convicção de que antes de qualquer "receita" pragmática é preciso reflexão e pensamento – coisa que, no entanto, não convence muito, nem mesmo os padres! - é bom debruçar-se sobre a já mencionada questão da identidade presbiteral. Não se terá sucesso em lidar com a figura do padre se, antes de tudo, as soluções, não partirem da questão da identidade: quem é, realmente, o padre?

Uma "inutilidade" intransponível

A pergunta não quer ser retórica, nem se limita a oferecer alguma meditação de corte espiritual. Ela nasce de uma simples convicção: em relação a crise atual, há razões contingentes e contextuais, como as mudanças socioculturais das últimas décadas, o crescente desinteresse em relação à fé cristã, os novos desafios para a proclamação da fé, ou a queda das vocações que sobrecarregam alguns e aumentam a idade média do clero. Essa crise, no entanto, parece atingir a “totalidade do ser padre", sua identidade profunda e radical, que transcende qualquer aspecto histórico particular.

Ninguém se assuste, porém, se digo que ... a pergunta sobre a crise do padre é estritamente "teológica", isto é, ela realmente não poderá ser de fato resolvida se nos concentramos epidermicamente na análise sociológica ou nas fáceis soluções de tipo pastoral.

Há uma palavra que, acima de tudo, nos representa: a inutilidade.

Nós a sentimos interiormente, quase como um estremecimento, por sua capacidade de fotografar o que experimentamos, a cada momento, em nossa pele, e nos remete, precisamente, ao conteúdo teológico da identidade sacerdotal. Não se trata simplesmente de sentir-se "inadequados" – pois também um médico, em parte, o é, dada a gravidade de certas situações que deve tratar, ou um juiz em relação a uma decisão difícil - e, ainda menos, devemos escorregar em um moralismo depressivo fixado na fragilidade e no pecado. Sempre seremos padres pecadores.

Aqui há muito mais: a inutilidade está inscrita constitucionalmente em cada vocação cristã e, em geral, na experiência de fé: Deus e o homem, Aquele que chama e o chamado, o Mestre e o discípulo, o Evangelho e o coração do homem, nunca estarão no mesmo plano. A revelação de Deus em Jesus Cristo derruba os muros de separação e preenche tais distâncias, mas, no entanto, isso nunca vai significar um cancelamento da "diferença".

 Entre Deus e nós ela vai continuar a existir.

É Deus quem envia e sustenta Moisés, quem purifica os lábios de Isaías, quem tranquiliza o jovem Jeremias, quem confia a um pescador impulsivo a orientação da Igreja; todavia, isso não acontece por causa de um "salto" de humanidade, que, de repente, anularia a impureza, ou a juventude ou a impulsividade, mas, - como bem confessará São Paulo – exatamente dentro das fraquezas e nos espinhos da carne.

Portanto, a questão da identidade do padre nos remete às origens da vocação, e àquela "diferença" que sempre assinalará uma lacuna com relação Àquele que nos chamou, e à tarefa que nos foi confiada; trata-se de permanecer sempre em caminho - nunca estacionados e satisfeitos - abertos a forma como o Senhor, mantendo-nos na inutilidade, por vezes, difícil de suportar na carne, nos consolará, nos fortalecerá e nos fará ver, ainda que à distância, "a terra onde corre leite e mel".

 Não somos chamados a fazer "tudo"

Cada vez que o próprio ministério nos desloca para outro lugar, nos chama e nos redefine, nos convida a recomeçar a partir do zero, fazendo-nos mudar destinos pastorais e modelos anteriormente adquiridos, nossa identidade sacerdotal muda, evolui, amadurece e se abre a paisagens inéditas. Isso acontecerá enquanto não nos fecharmos rigidamente em esquemas pré-estabelecidos e nos deixarmos interrogar - com grande fadiga - pelo

 Espírito e pela vida.

Sobre a insignificância da vida do padre escreveu, com pertinência, Antonio Torresin, afirmando que o ministério sacerdotal "é marcado por uma excedência, por um contraste insuperável que marca a experiência de ser discípulos, da missão e do mandato recebido. Melhor, marca cada chamada, até a do próprio ser humano. Não estamos à altura da tarefa confiada, pois ela nos transcende de modo insuperável, nos esmaga e nos supera: é demais para nós. No entanto, é o que melhor nos corresponde, é aquilo sem o qual nossa humanidade está perdida. Este excesso, que é o ministério, é nossa única salvação; ele não só é o caminho para a santidade, mas a graça para não perder-se. (TORRESIN, A. "Il paradosso del ministero. Quando la missione redifinisce il prete”. Il Regno/Attualità 2/2010, 22).

A inutilidade é experimentada de forma diferente, não só por cada um dos padres - o que é óbvio - mas também segundo as diferentes fases da vida sacerdotal, dos anos de ordenação, das experiências pastorais vividas ao longo da sua história e, não menos importante, dos contextos eclesiais em que nos encontramos.

Sem querer negar algumas problemáticas existentes e novas, que invocam ampla reflexão eclesial, acredito que reconciliar-se com essa inutilidade, acolhê-la e torná-la amiga na vida sacerdotal de todos os dias, e talvez, até mais, formar-se e preparar-se para ela, e a convencer-se dela, poderia ser um primeiro antídoto para a crise e um importante ponto de força para a "resistência" do padre.

Não é talvez verdade que, grandes ou pequenos momentos de crise em nossas vidas, por vezes, dependeram de não termos compreendido que ao padre não é pedido "tudo", que não é chamado a "salvar o mundo" (já feito por Nosso Senhor), que não é e não deveria ser o centro, a fonte e o ápice da comunidade e da ação pastoral? Não será que muitas frustrações, sofrimentos e depressões dependem também de termos superestimado a nós mesmos e nos feito exigências excessivas (ou ao menos em número) para o nosso ministério? http://www.ihu.unisinos.br

Há 83 anos, no dia 20 de julho de 1934, o Padre Cícero Romão Batista nos deixava para ir ao encontro do Pai celestial.

É celebrado, nesta quinta-feira (20), em Juazeiro do Norte, os 83 anos de morte de Padre Cícero Romão Batista. É celebrado uma missão, em frente ao túmulo do religioso, com estimativa de mais de 30 mil fiéis.

O "santo” mais popular nascido no Nordeste, Padre Cícero Romão Batista, viveu 90 anos e morreu no dia 20 de julho de 1934, na nossa querida, Juazeiro do Norte, CE.

Ele nunca foi ordenado santo pela Igreja Católica mas, para o povo nordestino, nem precisa. Padre Cícero já é santo pelo que fez em vida e pelos milagres atribuídos a ele enquanto estava vivo e após a morte.

Natural do Crato (CE), após se instalar no povoado de Juazeiro do Norte (CE), ele desenvolveu intenso trabalho pastoral com pregação, conselhos e visitas domiciliares, como nunca se tinha visto na região. Dessa maneira, rapidamente ganhou a simpatia dos habitantes, passando a exercer grande liderança na comunidade, ainda no século XIX.

Paralelamente, agindo com muita austeridade, cuidou de moralizar os costumes da população, acabando pessoalmente com os excessos de bebedeira e a prostituição. Restaurada a harmonia, o povoado experimentou, então, os primeiros passos de crescimento, atraindo gente da vizinhança curiosa por conhecer o novo Capelão.

Um fato incomum, acontecido em 1º de março de 1889, o mesmo ano da Proclamação da República, transformou a rotina do lugarejo e a vida de Padre Cícero para sempre. Naquela data, ao participar de uma comunhão geral, oficiada por ele na capela de Nossa Senhora das Dores, a beata Maria de Araújo, ao receber a hóstia consagrada, não pôde degluti-la, pois a mesma transformara-se em sangue.

O fato aconteceu outras vezes, e o povo achou que se tratava de um novo derramamento do sangue de Jesus Cristo e, portanto, era um milagre autêntico. As toalhas com as quais se limpava a boca da beata ficaram manchadas de sangue e passaram a ser alvo da veneração de todos. Mas a Igreja Católica nunca reconheceu oficialmente o fato como um milagre e impôs punições ao Padre Cícero, inclusive o afastamento das funções, entre 1892 e 1916.

No final de 2015, o Vaticano perdoou as punições impostas ao Padre Cícero. A reconciliação é um passo definitivo para a reabilitação de Padre Cícero na Igreja Católica.

Fonte: https://www.facebook.com/metropolitanocariri

Um incidente, dia 18 de julho, causado acidentalmente por uma ferramenta de detecção de spam do Facebook, foi responsável por tirar do ar várias páginas de inspiração católica no Brasil e exterior.

O responsável pela comunicação do Facebook no Brasil, Cesar Bianconi, entrou em contato com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) explicando o incidente e se descupando pelo ocorrido.

“Pedimos nossas sinceras desculpas por qualquer inconveniente”, disse o porta-voz do Facebook, afirmando que todas as páginas já foram restauradas. Fonte: http://cnbb.net.br

Papa Francisco telefonou para um catador de lixo que perdeu suas duas pernas ao sofrer um acidente de trânsito, enquanto trabalhava, e que agora atua para que se declare um dia para homenagear seus companheiros de trabalho. A reportagem é publicada por Religión Digital, 18-07-2017. A tradução é do Cepat.

O telefonema ocorreu minutos antes das 10, quando Maximiliano Roberto Acuña, o destinatário da comunicação, foi homenageado em um ato na Assembleia Legislativade Buenos Aires, segundo informou La Alameda, a organização não governamental que é presidida pelo deputado Gustavo Vera, amigo pessoal de Jorge Bergoglio.

“Vínhamos no carro para o ato na Assembleia Legislativa e toca o celular, de um número privado. Pensei que era um companheiro de trabalho. A primeira coisa que eu disse é quem fala [? ]. ‘O Papa Francisco’”, relatou Acuña.

O Sumo Pontífice decidiu telefoná-lo, após Vera ter enviado ao Papa, logo cedo, um e-mail contando a história de Acuña. “Sim, sou o Papa Francisco, enviou-me uma carta um companheiro (Gustavo Vera), emocionou-me e recebi muito a força que você tem”, contou Acuña, que junto a Veraluta para que o dia 22 de março seja reconhecido como o Dia do Catador de Resíduos.

Acuña, de 31 anos, vive em Lomas de Zamora, ao sul da Grande Buenos Aires, tem cinco filhos e sofreu a amputação de suas pernas depois que, no dia 22 de março, à noite, um carro bateu no caminho de resíduos, quando este realizava seu trabalho de coleta de lixo pela Cidade. Após o impacto, o condutor fugiu e ainda permanece foragido.

Segundo o relato de Acuña, o Papa lhe prometeu que quando vier a Argentina, irão se conhecer e conversarão. “Sempre para a frente, que você é um exemplo”, disse Francisco a Acuña, que foi homenageado hoje, na Assembleia Legislativa de Buenos Aires, em um ato no qual participaram 400 trabalhadores da coleta de resíduos.

Em sua mensagem ao Papa, Vera contou que Maximiliano não pediu subsídios, nem chorou, mas apenas trabalhou “para continuar mantendo a sua família” e que apesar de todo o sofrimento, “mantém o seu bom humor e é um exemplo de dignidade e amor à vida”.
A associação de caminhoneiros – o ramo dos catadores de resíduos pertence a este sindicato – tornou oficial, em sua convenção coletiva de trabalho, o dia 22 de março como o Dia do Catador de Resíduos.

“É importante destacar que a data escolhida, responde ao acidente que teve um jovem que se encontrava realizando a tarefa de coleta de resíduos. Assim como este jovem, tantos outros milhares de companheiros catadores de resíduos saem à noite para trabalhar para que, no outro dia, a cidade esteja limpa como corresponde. Enquanto alguns se divertem, desfrutam da noite ou descansam, há homens e mulheres que estão trabalhando para que a cidade esteja em condições”, especificou, no projeto de lei, Gustavo Vera. 

Por sua parte, o Secretário geral de Caminhoneiros, Hugo Moyano, denunciou, nesta manhã, que “a Justiça, no dia de hoje, não soube apontar quem foi o responsável pelo acidente. Tenho tanta dor na alma que não posso evitar a emoção. Poucos dias após o acidente, pedi para falar com este companheiro que estava internado, por causa do valor que tem, pela força que demonstrou após o acidente que teve. Maxi estava disposto a continuar lutando e isso é muito importante apesar das dificuldades que a vida nos coloca”, destacou o dirigente.

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

"Santa Madre Teresa de Calcutá é um símbolo universal, amado pelos fiéis, não crentes e diversamente crentes. É um absurdo que sobre o seu sári branco com barras azuis, agora seja preciso pagar um imposto". É o desabafo indignado do cardeal José Saraiva Martins, prefeito emérito da Congregação para as Causas dos Santos ao saber da notícia que o hábito típico das Missionárias da Caridade tornou-se uma marca registrada com direitos autorais, por decisão da Casa Geral de Calcutá. A reportagem é de Orazio La Rocca, publicada pela revista italiana Panorama, 17-07-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.

Uma medida jamais adotada para os trajes de religiosos e religiosas da Igreja Católica, que agora vai obrigar o pagamento de uma taxa para aqueles que, por qualquer motivo (humanitário, fotos, filmes, livros) usarem o hábito das Missionárias da Caridade, as irmãs de Madre Teresa de Calcutá, prêmio Nobel da paz, canonizada no ano passado pelo Papa Francisco como símbolo dos pobres do Jubileu da Misericórdia.
"É a primeira vez que ouço algo assim, e não é certamente nenhuma honra à memória da Santa. Uma iniciativa comercial discutível e inoportuna que não deve, absolutamente, continuar. Mas acredito que, apesar da decisão tomada pela sede de Calcutá das Missionárias não terá um resultado prático", argumenta Saraiva Martins que, como prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, foi o signatário dos decretos das virtudes heroicas que abriram as portas para a veneração de Madre Teresa.
No Vaticano, o cardeal não é o único a criticar a iniciativa. Mesmo entre os mais próximos colaboradores do Papa há decepção e irritação. Por isso, não é impossível que algum sinal de ‘pare’ logo seja emitido pelos Sagrados Palácios, para um "copyright que de fato suja a própria imagem da freira e de todas as suas irmãs", lamenta Saraiva Martins.


A operação comercial

Mas no aguardo que o Vaticano, por decisão Papa Francisco, possa intervir, o sári branco com bordas azuis características que cobre a cabeça e o corpo das Missionárias da Caridade é agora uma marca registrada protegida por royalties para qualquer forma de uso.
Um vínculo comercial que agride a opção preferencial pelos mais pobres entre os pobres feita por Madre Teresa, porque o típico hábito indiano, que as Missionárias da Caridade adotaram em todas as partes do mundo desde 1950, recebeu o reconhecimento de "propriedade intelectual" pelas autoridades indianas por solicitação da congregação fundada pela santa em Calcutá.

A notícia foi revelada por AsiaNews, agência de notícias missionária do PIME, citando as palavras de Biswajit Sarkar, representante legal das freiras, que informou que o "Registro de Marcas do Governo da Índia permitiu o registro de copyright" para o sári teresiano.
Uma decisão, esta, tomada no ano passado, em pleno Jubileu da Misericórdiamantida em segredo por razões óbvias. Mas que foi divulgada há poucos dias frente "a perpetração de abuso sobre o hábito", conforme a justificação do representante legal que, de fato, explicou que o processo de reconhecimento começou em 2013; após "um rígido exame dos procedimentos legal", foi concedido em concomitância com a canonização da "Mãe dos Pobres", ocorrida em 4 de setembro de 2016, no Vaticano.

Sarkar explicou ainda que as Missionárias não gostam de "publicidade e que por isso não tinham tornado pública a notícia. Mas uma vez que se assiste a um uso impróprio e sem escrúpulos do hábito, queremos que as pessoas saibam que é uma marca registrada”. Defesa pouco convincente de uma atitude de caráter totalmente comercial que não é agradou em nada a comitiva papal.


Os hábitos religiosos: um valor

Na Igreja jamais tinha acontecido algo similar que, ao que parece, pegou de surpresa até mesmo a Casa Geral italiana das Missionárias da Caridade, onde ninguém sabia da história do copyright sobre os seus sáris. "Não é possível taxar os hábitos religiosos" explicam às Congregações do Vaticano dos Santos e Religiosos, porque são símbolos universais abertos a todos, sobre os quais não é possível colocar restrições visando o lucro.
Desde sempre a veste das ordens religiosas ou dos eclesiásticos revestiu-se de grande importância. E a cada hábito, realizado com base em indicações religiosas próprias de cada ordem, está associado um significado. No caso de Madre Teresa, há o branco que representa a pureza e as barras azuis que lembram a cor de Nossa Senhora e os três votos de pobreza, castidade e obediência.

Mesmo a veste branca do papa tem a sua história: segundo a tradição, o primeiro a usar esse hábito foi o Papa Pio V que, ao subir ao trono papal em 1566, não quis abandonar o hábito branco de sua ordem religiosa, os dominicanos. São Francisco de Assis - relatam as fontes franciscanas - não vestiu um hábito qualquer de sarja, mas teria indicado cuidadosamente a forma do hábito dos Frades Menores, que, aberto, imita a forma de uma cruz ou um "tau".

Voltando para as irmãs, as várias ordens são reconhecíveis justamente pelo hábito ou pelo véu, como as brigidinas, cujo véu é preto com uma cruz branca costurada por cima. As carmelitas no século XVII escolheram como marca distintiva as "alpargatas", as sandálias que usavam os pobres na Espanha. Mais tarde, foram transformas pelo mundo da moda em espadrillas, vendidas hoje não só na Espanha, mas em todo o mundo. Mas isso é outra história, toda comercial com a qual as Carmelitas nada têm a ver. Agora é a vez do sári das Missionárias da Caridade que desperta os apetites de algum "devoto" desprovido de escrúpulos.

Mas o Papa Francisco não vai ficar de braços cruzados, palavra de José Saraiva Martins, o cardeal signatário das virtudes de Santa Madre Teresa de Calcutá, símbolo universal da redenção dos pobres de todo o mundo. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

Cerca de 150 pessoas se aglomeram em oração na garagem de um sobrado em Ferraz de Vasconcelos, no leste da Grande São Paulo. O espaço não comporta tanta gente e as cadeiras emprestadas por uma igreja da região também ocupam o asfalto da rua Antônio Bernardino Correa.

Na mesinha improvisada como altar, há flores e a imagem de Nossa Senhora de Fátima. Na parede, um Jesus crucificado. Mas o foco das orações é outro - as pessoas estendem suas mãos e direcionam seus olhares e preces para a janela frontal da casa.

É lá que está a imagem que se popularizou há 15 anos como a "Santa da Janela". Desde o dia 14 de julho de 2002, quando moradores do local identificaram a silhueta de uma santa em uma mancha formada na vidraça superior, o local se tornou ponto de peregrinação de pessoas de todas as regiões do país e até mesmo de estrangeiros.

Na última sexta-feira, a BBC Brasil foi até a casa onde a imagem é preservada e presenciou a missa de comemoração dos 15 anos da aparição. O número de pessoas no local era tão grande que a rua foi fechada pelos próprios moradores durante duas horas para evitar acidentes. "É assim todo ano, mas antes vinha muito mais gente. Hoje, só sobraram aqueles que são realmente de fé", diz o comerciante Francisco de Abreu Filho, de 64 anos, que lembra com euforia o fato de ter sido uma das primeiras pessoas a ter visto a imagem no vidro.

"Foi um milagre e ninguém tem dúvida disso, tanto é que essa certeza causou uma comoção nacional", afirma ele. Na época da aparição da imagem, a prefeitura fechou as ruas da região devido ao grande fluxo de pessoas e até instalou banheiros químicos perto da casa. A estimativa é que, na época, o local foi visitado por 180 mil pessoas em questão de poucos meses.

A Igreja Católica afirma, desde o surgimento da imagem, que não se trata de um milagre. A própria família da dona da casa nunca se interessou em abrir um processo formal para que a imagem fosse reconhecida como um símbolo católico.

Peregrinos

A popularidade da "Santa da Janela" decolou após a aparição ser tema de diversos programas de TV com grande audiência na década passada. A mancha na janela, segundo laudos feitos na época por especialistas em vidros, foi causada por um armazenamento inadequado. Mesmo assim, o desenho que lembra o busto de uma santa é considerado por muitos um santuário e até hoje atrai peregrinos que cruzam o país para olhar a imagem bem de perto, fotografar e até tirar uma selfie com a imagem.

"Esses dias, um grupo de 15 mulheres chegou bem cedo aqui. Elas passaram o dia todo cantando e orando na frente da janela e só foram embora quando anoiteceu", diz a cabeleireira Eliete Trizoti da Silva, de 37 anos, que mora em frente da casa da Santa da Janela.

Ela, que é afilhada dos donos da casa da janela com a "santa", conta que toda semana aparecem pessoas de Estados vizinhos para visitar o local. "As pessoas têm fé na imagem. Até quem faz caminhada de manhã para na porta da casa e se benze quando passa pela santa", conta Silva. Todos os anos, Eliete aproveita o grande fluxo de pessoas que vai à missa em homenagem à santa para vender pastéis na garagem de sua casa.

A aposentada Brasilina de Medeiros Gonçalves segura na mão um pastel de palmito. A outra, segura a mão da neta Giovanna, de 7 anos, que leva para rezar quase diariamente o terço na frente da janela. "Eu sempre saio da escola e venho direto", confirma a menina à reportagem da BBC Brasil. Para a avó, o "importante é manter viva a tradição de algo tão lindo que apareceu no bairro. Ela (neta) vai dar continuidade nessa tradição e espiritualidade".

Manter a tradição

O padre Romolo Avagliano Rodrigues, que reza a missa de aniversário da aparição da imagem desde 2010, afirma que, mesmo sem ser reconhecida oficialmente como símbolo católico, a "Santa da Janela" deve ser preservada e lembrada.

"É necessário cultivar essa tradição para manter viva a espiritualidade na alma do povo. A imagem nos relembra a importância de servir a Deus. E justamente para reforçar esse serviço mariano que devemos prestar ao próximo é que essa missa é autorizada pelo nosso bispo", afirmou Rodrigues.

Os donos do local disseram que a marca do vidro não sai, mesmo após limpezas diárias com pano úmido, álcool e detergente. A dona do imóvel, Ana Maria de Jesus Rosa, preferiu não comentar o assunto com a reportagem. Seu marido, Antônio José Rosa, afirmou que ela não gosta de falar sobre o assunto, mas diz que o casal tem orgulho de que a casa seja vista como um santuário e ponto de peregrinação.

"Nós abrimos os portões todos os dias para as pessoas se aproximarem. Vem gente do país inteiro e sempre atendemos todo mundo da melhor forma possível", afirmou. O professor do departamento de ciência da religião na PUC-SP Fernando Altemeyer diz que pessoas religiosas veem essas imagens como "a presença de Deus em suas vidas de sofrimento".

"A igreja pode até dizer que aquilo (a imagem) é uma refração química, mas para o povo isso não tem importância. E essa fé popular não pode ser desprezada. A igreja sabe e por isso não trata essas situações com negação total. Ela sempre diz: atenda os fiéis", disse Altemeyer.

Segundo Altemeyer, todo ano ocorrem cerca de 200 aparições religiosas no Brasil. "Para o povo, são sinais de Deus ou qualquer coisa que o faça sobreviver", afirmou. "O olhar popular tem óculos próprios. Talvez a igreja diga que você tem miopia, mas o povo diz que aquilo que ele vê basta. E eles usam essas visões como vitamina para respostas em suas vidas", conclui.

Nuvens e vozes

Após a missa, a reportagem da BBC Brasil ouviu relatos de pessoas que disseram ter recebido milagres da Santa da Janela. O aposentado Nilson Ferreira de Oliveira, de 58 anos, diz ter solucionado problemas pessoais e de saúde e que inclusive já "abraçou" a Santa da Janela.

"Há sete anos, eu vim aqui e ela estava viva. Eu dei um abraço dela e chorei de alegria porque ela disse que sempre esteve aqui e poucas pessoas deram atenção para ela. Naquele dia, ela colocou a mão na minha cabeça, fez três orações e sumiu. Desde então, tudo o que eu peço para ela sou atendido. E até quando Deus me der saúde eu a visitarei."

O psiquiatra e pesquisador de espiritualidade e saúde da Associação Brasileira de Psiquiatria Alexander Moreira de Almeida diz que é normal que pessoas, impulsionadas pela emoção, enxerguem objetos em formas indefinidas. Ele diz que esse fenômeno é chamado cientificamente de pareidolia.

"Quando estamos cansados ou sob forte emoção, é possível ver formas claras em cenas formadas pelo puro acaso, como em nuvens. Isso também acontece quando estamos sozinhos em casa e ouvimos vozes", afirma.

Almeida, que também é professor na Universidade de Juiz de Fora e faz parte de um grupo mundial de pesquisa sobre o tema, afirma que esse fenômeno também é visto na política, por exemplo. "Há fatos claros que acontecem, mas as pessoas não conseguem admitir que seus políticos erraram porque são fervorosos. Elas continuam acreditando naquilo que tem grande carga emocional para elas, mesmo com comprovações contrárias", afirmou o professor.

Ele explica que se uma pessoa está decidida que algo é uma verdade em si, é muito difícil provar o contrário. "Uma opção é mostrar uma outra possibilidade. Apontar, por exemplo, que é possível manter sua fé sem assumir uma postura tão crédula e trabalhar por um país sem uma postura dogmática. O melhor é expor as pessoas desde jovens às múltiplas possibilidades de um fenômeno, analisar as possíveis causas, a qualidade das informações e formar a opinião." Fonte: http://www.bbc.com

Na rede social Facebook, inúmeras páginas são publicadas para divulgar conteúdos católicos, entretanto, na noite de segunda-feira, muitas delas foram bloqueadas ou excluídas sem um prévio aviso, informaram seus administradores. Entre tais páginas está a fanpage Papa Francisco Brasil, que conta com mais de 4 milhões de seguidores. O seu administrador, Carlos Renê, contou que percebeu “que a página foi tirada do ar por volta das 22h do dia 17 de julho”.

“O único aviso do Facebook foi uma mensagem do topo da página ‘Your Page has been unpublished’ (Sua Página foi removida), dando uma opção para contestação, já fiz isso, mas até agora a página permanece bloqueada”, declarou.

Após o bloqueio de sua página, disse ter visto relatos de que “diversas páginas de inspiração católica também tinham sido desativadas sem nenhuma explicação, bem como o perfil pessoas de alguns administradores”. O próprio perfil de Renê chegou a ficar bloqueado por um tempo, mas “depois voltou”. A página Papa Francisco Brasil, porém, até o fechamento desta matéria ainda está fora do ar.

Outra página católica de grande alcance no Brasil que também ficou fora do ar é Nossa Senhora Cuida de Mim, que em julho ultrapassou os 3 milhões de seguidores. Em seu blog com o mesmo título, informaram que uma decisão inesperada do “Facebook surpreendeu os editores e administradores da página Nossa Senhora cuida de mim: a restrição (exclusão) da página da rede social”.

“Logo após o cancelamento, nosso site, Instagram, Twitter, Google + dentre outras redes sociais ficaram lotadas de mensagens onde fiéis e seguidores perguntavam sobre o que poderia ter acontecido com a página que não estava no ar”. Também ficaram fora do ar as páginas Meu Imaculado Coração triunfará, Essência e Luz, Clássicos da Música Católica, Nossa Senhora, Belezas da Igreja Católica, Virgem Maria e Santas, Ore espere confia, Uma oração e o coração se acalma, God de Portugal, My Mother Mary dos EUA, entre outros.

Na rede social, a página Sou Feliz por ser Católico (a) publicou uma nota de repúdio a esses acontecimentos, na qual pede que “todos os católicos não se calem, enviem mensagem ao Facebook solicitando o retorno das páginas e o respeito ao nosso direito de crença religiosa”.

O mesmo pedido foi feito por Padre Augusto Bezerra, para o qual, “se isso for verdade e as páginas católicas estiverem sendo excluídas, é algo preocupante”. O sacerdote listou 21 páginas católicas que foram bloqueadas ou banidas da rede social nas últimas 24 horas. Fonte: http://www.acidigital.com

Em 12 de junho passado, com uma missa solene celebrada na Frauenkirche e presidida pelo Bispo Auxiliar Ruppert Graf zu Stolberg, a Arquidiocese de Mônaco da Baviera e Freising celebrou a primeira jornada memorial dos beatos mártires de Dachau.

Nessa localidade, situada a cerca de 15 km ao noroeste de Mônaco, os nacional-socialistas, após a sua tomada do poder em 1933, haviam criado o primeiro campo de concentração que mais tarde tornou-se o modelo para todos os demais. Entre 1933 e 1945, de acordo com dados oficiais, foram aprisionadas ali mais de 200.000 pessoas, a maioria adversários políticos dos nazistas, ciganos Sinti e Rom, bem como acadêmicos, homossexuais, religiosos e religiosas, além dos judeus da Baviera. O número de vítimas é estimado em mais de 30.000. A reportagem é de Antonio Dall'Osto, publicado por Settimana News, 11-07-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.

A partir de 1940, com a intensificação da perseguição contra a Igreja, foram condenados nesse acampamento também padres, monges, freiras e laicos católicos militantes, com uma presença maciça de sacerdotes poloneses. Entre os 2.720 ministros de culto registrados como prisioneiros, a grande maioria, 2.579 (94,88%), era católica. Entre outras denominações cristãs também figuraram 109 evangélicos, 22 grego-ortodoxos, 8 veterocatólicos e 2 muçulmanos. Mais da metade não sobreviveu.

O Martirológio romano registrou os nomes de 200 prisioneiros considerados mártires, dos quais 56 - sacerdotes, religiosos e leigos - foram beatificados. Entre eles também o "Anjo de Dachau", como era chamado pelos outros prisioneiros do campo, o padre Engelmar Unzeitig, um missionário de Marianhill, beatificado em 24 de agosto de 2016. Na sentença de sua condenação à morte estava escrito: "defensor dos judeus".

Padre Engelmar era originário de Greifendorf, na atual República Checa, onde nasceu em 1911. Ordenado sacerdote em 1939, aos 28 anos, queria ser missionário em terras distantes. Havia escolhido como o lema de seu sacerdócio: "Se ninguém mais quiser ir, eu vou!"

Ele realizou o seu primeiro ministério na Áustria. Indiferente aos riscos, ele denunciou em suas homilias o regime nazista, e exortou os católicos a permanecerem fiéis a Deus e resistir às mentiras do Terceiro Reich.

Em 1941, ele foi preso e deportado para Dachau, onde foram sentenciados e assassinados mais de 1.000 sacerdotes e religiosos católicos, mas também pastores protestantes e sacerdotes ortodoxos. No campo de extermínio, padre Elgelmar cuidou dos presos, especialmente os russos, aprendendo o seu idioma e ajudando-os materialmente e espiritualmente. Em decorrência de um surto de tifo, os doentes foram abandonados em um galpão onde ninguém pensava em ir: mas ele foi lá, para ajudá-los como podia e, no final, foi infectado e morreu sem receber o mínimo cuidado. Era 22 de março de 1945. No dia anterior ele havia completado 34 anos. Foi sacerdote por apenas seis anos, quatro dos quais passados no campo de concentração nazista.

Em uma carta escreveu: "Em tudo que fazemos, em tudo que queremos, é sempre e somente a graça que nos guia e nos conduz. A graça de Deus Todo-Poderoso nos ajuda a superar qualquer obstáculo. O amor duplica a nossa força, torna-nos ricos em fantasia, felizes e livres. Se apenas as pessoas soubessem o que Deus tem guardado para aqueles que o amam!"

O Cardeal Angelo Amato, que o proclamou "beato" em 24 de setembro de 2016, na Catedral de Würzburg, entrevistado por Sergio Centofanti para a Rádio Vaticana, afirmou: "Padre Unzeitig aparece como uma centelha de verdadeira humanidade na noite escura do terror nazista. Ele mostra que ninguém pode extirpar a bondade do coração do homem. Amando a Deus com todo o seu coração, foi misericordioso e caridoso com aqueles que, como ele, estavam sofrendo com as misérias e humilhações do cativeiro.

Para dar consolo aos prisioneiros russos traduziu grande parte do Novo Testamento para aquele idioma para reavivar sua fé. Com sua presença atenciosa e cheia de bondade dava esperança aos prisioneiros oprimidos e desesperados do campo. Atendeu os doentes mais debilitados, acompanhando-os com afeto maternal até o fim. Com ele a morte tornava-se uma passagem serena rumo à eternidade. O ato supremo de amor foi seu oferecimento voluntário para ajudar e atender os doentes de tifo em Dachau".

Apesar da experiência desumana do cativeiro manteve-se paciente e alegre, tentando manter alto, nos prisioneiros, o sentimento de dignidade e humanidade. A sua condição foi considerada por ele como um status honorário, um privilégio para testemunhar o amor de Cristo. A sua força de espírito despertou admiração e deu a todos o fôlego necessário para continuar a suportar uma situação sem esperança. "Foi o amor personificado", disse a seu respeito o padre Adalberto Balling. Outros o chamam o nosso beato, o mártir da caridade, o Maximiliano Kolbe dos alemães.

Papa Francisco, no Angelus de domingo, 25 de setembro, o dia após a sua beatificação, disse a seu respeito: "Morto pelo ódio à fé no campo de extermínio de Dachau, opôs o amor ao ódio, à ferocidade respondeu com serenidade. O seu exemplo nos ajude a sermos testemunhas da caridade e da esperança, mesmo em meio às provações". Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

O Papa Francisco, que está ciente das tensões provocadas pela possibilidade de sacerdotes escolherem seu rito, poderia aproveitar o acordo com os lefebvrianos para reservar o antigo rito exclusivamente à Prelazia Pessoal. A reportagem é de Nicolas Senèze, publicada por La Croix, 07-07-2017. A tradução é de André Langer.

Nos corredores do Vaticano, o Summorum Pontificum já é algo do passado. Mais importantes parecem ser hoje as discussões com a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, para quem o texto de Bento XVI não foi necessariamente uma boa notícia: saindo do debate da questão litúrgica, o Papa alemão tinha, na verdade, permissão para ir ao fundo das divergências teológicas.

De acordo com a Comissão Ecclesia Dei, encarregada em Roma do diálogo com a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, essas divergências poderiam ser, atualmente, eliminadas. Faltaria apenas a assinatura de dom Bernard Fellay no documento apresentado já alguns anos. “Se não assinarem o documento, eles são realmente muito bestas, porque lhes foi estendida uma ponte de ouro”, comenta um observador que leu o texto. O superior geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X deveria assiná-lo após convencer os mais recalcitrantes da Fraternidade. E, provavelmente, antes do verão de 2018, data do próximo capítulo geral no qual o seu mandato será colocado em jogo. Ser nomeado para um cargo vitalício à frente da prelazia evitaria uma reeleição complicada.

O sacerdote não deve escolher o seu rito

Para Francisco, trata-se em primeiro lugar de um gesto de unidade: partidário de uma “diversidade reconciliada” e não de uma Igreja uniforme, ele está persuadido de que, no momento em que a Fraternidade Sacerdotal São Pio X se diz católica, ela tem seu lugar na Igreja. Resta saber se os lefebvrianos encontrarão seu lugar na Igreja plural de Francisco. “Diante disso, o que os bispos farão nas dioceses com a prelazia lefebvriana?”, pergunta um observador.

Especialista em liturgia, o teólogo Andrea Grillo recorda-se também como, na época da sua publicação, o Summorum Pontificum colocou os bispos em apuros, sentindo-se, de repente, espremidos entre os padres escolhendo o antigo rito e uma Comissão Ecclesia Dei fazendo uma leitura muito ampla do texto. “Ao introduzir uma escolha subjetiva do rito pelo sacerdote, o motu proprio fragilizou a unidade litúrgica da Igreja e criou, às vezes, Igrejas paralelas até nas próprias paróquias. É uma ruptura da tradição”, diz ele.

Próximo ao Papa, ele recorda que, como arcebispo de Buenos Aires, o cardeal Bergoglio pediu a um sacerdote, contrário à forma extraordinária, para que celebrasse para os fiéis tradicionalistas, precisamente para salientar que o padre não deve escolher seu rito.

“Isso não é o comum da Igreja”

Porque, ao mesmo tempo, o Papa argentino compartilha com seu predecessor uma visão muito pragmática do antigo rito. Como Bento XVI falou do “pequeno círculo daqueles que utilizam o antigo missal”, Francisco estima que seu predecessor “fez um gesto justo e generoso para ir ao encontro de uma certa mentalidade de alguns grupos e pessoas nostálgicas e que estavam afastadas”.(1) Mas, ele estima que se trata de uma “exceção” e que “o comum da Igreja não é isso”. “O Vaticano II e a Sacrosanctum Concilium devem ser promovidos assim como são”, afirma o Papa que recusa qualquer ideia de “reforma da reforma”.

De acordo com Andrea Grillo, Francisco contempla inclusive, eventualmente, a abolição do Summorum Pontificum a partir do momento em que o antigo rito seja preservado na Prelazia Pessoal oferecida à Fraternidade Sacerdotal São Pio X. “Mas ele não tomará essa decisão enquanto Bento XVI estiver vivo”, prevê imediatamente.

Enquanto isso, esse Papa – para quem as demandas de alguns, “jovens demais para conhecerem a liturgia pré-conciliar”, escondem uma “rigidez defensiva” – está se preparando para iniciar um novo ciclo de catequese das quartas-feiras, precisamente sobre a liturgia. “Isso mostra a sua disposição de levar esse assunto a sério, afirma Andrea Grillo. Mas será uma oportunidade para falar mais do conteúdo da liturgia do que da sua forma e das rubricas”.

Nota:
1. Entrevista com o Pe. Antonio Spadaro na introdução do seu livro Nei tuoi occhi è la mia parola [Nos teus olhos está a minha palavra]. Rizzoli, 2016. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

Foram 15 minutos de pregação para que o demônio fosse embora da vida dos dez fiéis que erguiam as mãos em louvor na altura dos ombros e depois sobre a cabeça, na quinta (6). Vem o pedido de dízimo. Então, o pastor fala por cerca de 40 minutos sobre a importância do sacrifício. Ele mostra o vídeo de uma fiel que doou o ouro roubado do próprio filho, que era traficante e estava preso. A reportagem é de Mariliz Pereira Jorge, publicada por Folha de S. Paulo, 09-07-2017.

O moço se regenerou. Seria mais um culto na Igreja Universal do Reino de Deus, não fosse o novo endereço um dos metros quadrados mais caros do Brasil, o Leblon. Nem o bairro escapou da profusão de placas de aluga-se e vende-se que tomou o Rio. Mas isso não parece ter sido problema quando a Universal decidiu que era hora de expandir seus domínios na região mais glamourosa da cidade.

O antigo inquilino era o restaurante Fronteira, que não conseguiu renovar o contrato de aluguel (R$ 80 mil, mais R$ 2.000 de condomínio e R$ 8.000 de IPTU). Após seis meses de portas fechadas, a igreja do bispo Edir Macedo e do prefeito Marcelo Crivella fechou negócio num valor estimado em R$ 50 mil mensais. O espaço tem 630 m² e ocupa loja e sobreloja de um prédio na avenida Ataulfo de Paiva. No piso inferior, o cheiro é de obra fresquinha, com cadeiras perfiladas que devem acomodar até 200 pessoas. Tem ar condicionado, filtro de água e placa que pede para que os presentes desliguem celulares. No andar superior, auditório e escola bíblica.

Não fossem o terno, a verve religiosa e o fato de conduzir um culto dentro de uma igreja, o jovem em frente à audiência poderia ser confundido com qualquer outro filho de família tradicional do Leblon, daqueles que batem ponto no Brigite's para tomar dry martinis, ver e ser visto.

Na plateia, apenas dois homens. A maioria das mulheres é de senhorinhas com roupas muito simples, cabelos presos em coques com grampos ou piranhas, bolsas surradas nos ombros. Elas sentam espalhadas, o que aumenta a sensação de vazio. Na primeira fila, uma jovem loira de salão, bem vestida, ostenta uma bolsa da marca francesa Goyard (cerca de R$ 4.500). Longe do palco, um casal com cara e figurino de quem deixou as pranchas de surf do lado de fora.

Assim que o contrato foi firmado a vizinhança torceu o nariz, principalmente os moradores do prédio My Rose, que abriga o imóvel da Universal. Diziam: vai descaracterizar o bairro, vai ter multidão na porta, vai ter gritaria. Por enquanto reina a paz.

Os cultos seguem sem movimento, com exceção dos domingos, quando chegam ônibus com fiéis trazidos da periferia da cidade, segundo o porteiro do My Rose, José Soares Lima, 65. Ele diz que os novos vizinhos não têm incomodado, que nunca teve nada contra, mas frequenta outra igreja, a católica, localizada a uma quadra de distância. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

O padre Alessandro Campos, conhecido como "padre sertanejo", assinou contrato com a TV Gazeta nesta segunda-feira (3). O apresentador terá um programa de auditório aos domingos a partir de 6 de agosto, às 18h, e concorrerá com "Domingão do Faustão", da Globo, "Hora do Faro", da Record, e "Eliana", do SBT. A informação é publicada por portal Uol, 03-07-2017.

O programa de Alessandro Campos levará seu nome e será gravado às segundas-feiras no auditório da Gazeta, que volta a ter um programa com plateia aos domingos.
Alessandro Campos também está no ar na Rede Vida e na Rede Século 21 e ficará nas duas emissoras até 21 de dezembro. Ele ficou mais conhecido em outra TV católica, a Aparecida, onde apresentou o programa "Aparecida Sertaneja" durante dois anos. O padre pediu demissão no fim de 2015.

Na TV Aparecida, Alessandro protagonizou uma gafe lembrada até hoje na internet. Em maio de 2015, ele soltou um palavrão ao vivo após perder a paciência porque o microfone da dupla sertaneja As Galvão não funcionava direito. "Vem arrumar logo essa merda aqui", disse para um produtor. O vídeo viralizou nas redes sociais.
O padre, que ganhou o apelido depois de apresentar trechos de clássicos sertanejos em suas missas também faz sucesso na música. Foi o artista recordista em vendas de sua gravadora em 2014. No ano seguinte, vendeu mais de 610 mil cópias pela Som Livre.
Alessandro também enfrenta brigas judiciais. Em 2015, o ex-empresário dele o processou por uma dívida de quebra contratual de R$ 9,6 milhões. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

A liturgia deste domingo ensina-nos onde encontrar Deus. Garante-nos que Deus não se revela na arrogância, no orgulho, na prepotência, mas sim na simplicidade, na humildade, na pobreza e na pequenez.

No Evangelho, Jesus louva o Pai porque a proposta de salvação que Deus faz aos homens (e que foi rejeitada pelos “sábios e inteligentes”) encontrou acolhimento no coração dos “pequeninos”. Os “grandes”, instalados no seu orgulho e auto-suficiência, não têm tempo nem disponibilidade para os desafios de Deus; mas os “pequenos”, na sua pobreza e simplicidade, estão sempre disponíveis para acolher a novidade libertadora de Deus.

EVANGELHO DE MATEUS 11, 25-30: Atualização para a nossa vivência.

Na verdade, os critérios de Deus são bem estranhos, vistos de cá de baixo, com as lentes do mundo… Nós, homens, admiramos e incensamos os sábios, os inteligentes, os intelectuais, os ricos, os poderosos, os bonitos e queremos que sejam eles (“os melhores”) a dirigir o mundo, a fazer as leis que nos governam, a ditar a moda ou as ideias, a definir o que é correto ou não é correto. Mas Deus diz que as coisas essenciais são muito mais depressa percebidas pelo “pequeninos”: são eles que estão sempre disponíveis para acolher Deus e os seus valores e para arriscar nos desafios do “Reino”.

Quantas vezes os pobres, os pequenos, os humildes são ridicularizados, tratados como incapazes, pelos nossos “iluminados” fazedores de opinião, que tudo sabem e que procuram impor ao mundo e aos outros as suas visões pessoais e os seus pseudo-valores… A Palavra de Deus ensina: a sabedoria e a inteligência não garantem a posse da verdade; o que garante a posse da verdade é ter um coração aberto a Deus e às suas propostas (e com frequência, com muita frequência, são os pobres, os humildes, os pequenos que “sintonizam” com Deus e que acolhem essa verdade que Ele quer oferecer aos homens para os levar à vida em plenitude).

Como é que chegamos a Deus? Como percebemos o seu “rosto”? Como fazemos uma experiência íntima e profunda de Deus? É através da filosofia? É através de um discurso racional coerente? É passando todo o tempo disponível na igreja a mudar as toalhas dos altares? O Evangelho responde: “conhecemos” Deus através de Jesus. Jesus é “o Filho” que “conhece” o Pai; só quem segue Jesus e procura viver como Ele (no cumprimento total dos planos de Deus) pode chegar à comunhão com o Pai.

Há católicos que, por terem feito catequese, por irem à missa ao domingo e por fazerem parte do conselho pastoral da paróquia, acham que conhecem Deus (isto é, que têm com Ele uma relação estreita de intimidade e comunhão)… Atenção: só “conhece” Deus quem é simples e humilde e está disposto a seguir Jesus no caminho da entrega a Deus e da doação da vida aos homens. É no seguimento de Jesus – e só aí – que nos tornamos “filhos” de Deus.

Cristo quis oferecer aos pobres, aos marginalizados, aos pequenos, a todos aqueles que a Lei escravizava e oprimia, a libertação e a esperança. Os pobres, os débeis, os marginalizados, aqueles que não encontram lugar à mesa do banquete onde se reúnem os ricos e poderosos, continuam a encontrar – no testemunho dos discípulos de Jesus – essa proposta de libertação e de esperança? A Igreja dá testemunho da proposta libertadora de Jesus para os pobres? Como é que os pequenos e humildes são acolhidos nas nossas comunidades? Como é que acolhemos aqueles que têm comportamentos social ou religiosamente incorretos?

EXEMPLOS DE ONTEM QUE NOS FALA HOJE... (Frei Petrônio de Miranda, O. Carm).

1-Maria de Nazaré era mais uma “MARIA”, entre várias Marias de rostos anônimos. Ela era inexpressiva, o seu povoado-lugarejo não tinha importância política ou econômica nenhuma. Hoje é impossível falar na história da salvação e em Jesus Cristo sem lembrar da “inexpressividade” da jovem de Nazaré.  Aliás, a verdade é que nenhum profeta nunca tinha dito que Jesus viria de Nazaré e muito menos que tal local geográfico tivesse expressividade.

2-Quando a irmã Teresinha do Menino Jesus morreu, uma freira que morava em seu convento falou: “O que a madre vai falar dessa feira no futuro, ela não fez nada. Nada! ”. Hoje, esta freira que “não fez nada”, é Doutora da Igreja e Padroeira das Missões.  

3-Na madrugada do dia 6 de maio desse ano (2017), morreu aqui na Lapa, Rio de Janeiro,  a travesti Luana Muniz. Ela era conhecida por acolher travestis, transexuais, portadores de HIV, prostitutas e pessoas em situação de rua em um casarão na Rua Mem de Sá. 

4-São João Maria Vianney, o “cura D'Ars”- Padroeiro dos Párocos- foi enviado para um pequeno povoado francês justamente por ser considerado um padre sem grandes expressividades ou, em outras palavras, pouco inteligente. Lá, justamente lá, naquele povoado atraiu multidões para a confissão e orientação espiritual.

5- Quem “botava fé” no então eleito Papa João XXIII? No entanto, foi com esse “João ninguém” que a igreja virou de cabeça baixo com o chamado Vaticano II. E O Papa Francisco- O Papa do “fim do mundo”? Quanta inovação e transformação nos métodos e no olhar da Igreja para temas polêmicos do nosso dia a dia?

*LEIA A REFLEXÃO NA ÍNTEGRA. CLIQUE NO LINK AO LADO- EVANGELHO DO DIA.

Os 100 dias entre março e julho 2017 representam a primeira crise no governo do Papa Francisco. Muitos casos se acumularam em rápida sucessão. A reportagem é de Marco Politi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 05-07-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A renúncia de Marie Collins da Comissão para a Proteção dos Menores, em março, o adeus repentino de um profissional de primeiro nível como Libero Milone do seu cargo de Auditor Geral das contas do Vaticano, o caso do neocardeal de Mali, Jean Zerbo, incapaz de explicar o destino de 12 milhões depositados em seu nome em bancos suíços, o brusco afastamento (que ninguém acredita ter sido provisório) do cardeal George Pell – membro do conselho da coroa dos nove cardeais que aconselham o papa e responsável pela Secretaria econômica da Santa Sé –, forçado a viajar para a Austrália para responder a acusações de abuso, a inesperada remoção do prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Gerhard Ludwig Müller, a sua substituição à frente do ex-Santo Ofício pelo jesuíta Luis Ladaria, que se revelou signatário de um documento que convidava o bispo de Lucera a não escandalizar os fiéis com a notícia da renúncia do estado sacerdotal do padre pedófilo Gianni Trotta (que, aproveitando-se do silêncio, se tornaria treinador de um time juvenil de futebol, cometendo novos crimes).

É uma sobreposição de casos tão delicados que não podem ser tratados como episódios individuais que requeiram apenas uma manutenção de rotina. Chama a atenção que, nesse emaranhado, emergem duas questões cruciais, que atraíram imediatamente a atenção da opinião pública católica ou não, no início do pontificado, quando Franciscodeu a entender que devia haver tolerância zero no que diz respeito aos abusos e total transparência nas questões financeiras. Os eventos, embora diferentes, de Collins, Pelle Ladaria remetem à questão de uma rigorosa estratégia de combate a abusos e conivências e às carências que se manifestaram nesse campo.

Os casos totalmente diferentes de Milone e Zerbo remetem à necessidade de uma política de transparência total nos assuntos econômicos não só do Vaticano, mas também das Igrejas católicas locais. 

caso Müller, no entanto, toca outra questão importante: a exigência de que, na Cúria, haja uma equipe para apoiar o “aggiornamento” defendido pelo pontífice argentino.

O ponto é que, no conjunto dos casos, surgiram disfunções no campo da gestão, e, portanto, é preciso uma reviravolta nas decisões papais.

Não há dúvida de que o caso Pell foi mal conduzido. Há muito tempo, levantaram-se rumores para que se evitasse que uma personalidade tão em vista do conselho restrito do papa fosse abalada por uma nova onda de acusações relacionadas com abusos encobertos ou cometidos. Em meados de junho, era conhecida nas altas esferas vaticanas a sua posição periclitante. “Pell tem esqueletos no armário nada insignificantes”, confidenciava-me um empregado vaticano.

Avisar os jornalistas às 4h da manhã sobre uma coletiva de imprensa a ser realizada no início da manhã mostra um modo de gerir “amadorístico”, escreveu a vaticanista Isabelle de Gaulmyn, do jornal católico francês La Croix. “A Igreja se move porque a justiça (estatal) se move.” Em vez disso, deveria ser o contrário. Não estava em jogo, aqui, o princípio da presunção de inocência, mas sim o princípio de precaução, que foi desatendido.
Mas a pergunta principal, também à luz do afastamento de Müller, diz respeito agora ao futuro próximo. Será feito ou não aquele tribunal especial ao qual podem se dirigir as vítimas de abuso quando houver bispos locais negligentes que não persigam os padres-predadores? E se dará ou não um papel eficaz à Comissão para a Proteção dos Menores, que não pode continuar sendo uma irmandade de reflexões, mas cujo único objetivo real deveria ser o de elaborar diretrizes obrigatórias para aquelas Conferências Episcopais que continuam enfrentando o problema da pedofilia com uma calma que beira a indiferença?

Segundo ponto, o dinheiro. Pell – na sua versão de supervisor dos orçamentos das administrações vaticanas – pode até ter sido um mau caráter. Mas ele tinha claramente na cabeça o objetivo de limpar a selva de comportamentos arbitrários, às vezes ilegais, na gestão financeira em curso nos vários setores da Santa Sé. Agora que foi embora o auditor geral das contas, Milone, como se pretende realizar uma linha de rigor e transparência?

Não esqueçamos que, há dois anos, descobriu-se que, na Apsa (que internacionalmente tem o papel de um banco central de Estado), foram encontradas contas cifradas em nome de um financista, à disposição de operações obscuras. Não esqueçamos que é inútil que a Autoridade de Informação Financeira traga à luz graves irregularidades, se, depois, quase nenhum dos autores é processado pelos tribunais vaticanos.

São pontos nodais que cabe a Francisco dissolver rapidamente. Pontos nodais que requerem soluções claras e eficazes, se se quiser dar novamente um impulso à ação reformadora sobre temas extremamente sensíveis.

E há uma última questão. A remoção de Müller, que sistematicamente era o contraponto à linha pastoral do Papa Bergoglio, traz novamente à tona a exigência de que o pontífice crie na Cúria uma equipe homogênea de reformadores em todos os níveis.

Até agora – em nome da máxima inclusão possível e do máximo respeito possível pelas nomeações feitas no seu tempo por Bento XVI – deixaram-se as cúpulas curiais em grande parte como estavam formadas na era de Wojtyla e Ratzinger. Mas uma Igreja a caminho, como Bergoglio quer, precisa de uma patrulha de condução animada pelos mesmos objetivos. Essas escolhas também cabem agora a Francisco.

Caso contrário, a máquina trava. E é possível ver com quais resultados. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

Cidade do Vaticano (RV) - “Envio uma afetuosa saudação acompanhada de minha bênção a todos os que idealizaram, trabalham e ouvem a Rádio ‘Cristo dos Favelados’, a todos meus irmãos da Paróquia São João Bosco, de Vila la Cárcova, Vila 13 de julho, Vila Curita de José León Suarez.”

São palavras do Papa Francisco numa áudio mensagem por ocasião da inauguração, este domingo (2 de julho), da Rádio “Cristo dos Favelados” em Vila Cárcova, na localidade buenairense de José León Suarez em Buenos Aires-Argentina, por iniciativa do Pe. José “Pepe” Di Paola, conhecido por seu trabalho junto aos moradores de favelas.

“Obrigado pelo trabalho que estão fazendo, por se dedicarem a coisas boas, por construírem pontes e não levantar muros. Obrigado por não se destruírem com divisões, mas aproximar-se com a mão estendida. Continuem assim, comuniquem-se desse modo: assim se constrói um país de irmãos, assim se constrói um mundo de irmãos. Que Deus os abençoe e rezem por mim”, pediu Francisco. “Vou rezar por vocês e vou fazê-lo de coração. Sigam adiante e façam-no com entusiasmo. Que Jesus os abençoe e a Virgem Maria os proteja”, acrescentou. (RL). Fonte: http://br.radiovaticana.va

Padre Armando Matteo, padre da diocese de Catanzaro-Squillace, Itália, é docente de Teologia Fundamental na Pontifícia Universidade Urbaniana.

“Será que isso que estamos vivendo ainda é um tempo para nós? Para nós, que abraçamos a vocação sacerdotal? Não são, na verdade, muitos os sinais indicativos de que nesta época em que temos que viver lentamente, mas com bastante seriedade, esteja como que perdendo valor e significado o ministério sacerdotal ao qual decidimos dedicar nossas vidas? Será que isso que estamos vivendo ainda é um tempo para nós? Para nós, que abraçamos a vocação sacerdotal? Não são, na verdade, muitos os sinais indicativos de que nesta época em que temos que viver lentamente, mas com bastante seriedade, esteja como que perdendo valor e significado o ministério sacerdotal ao qual decidimos dedicar nossas “vidas?”, pergunta Armando Matteo, padre da diocese de Catanzaro-Squillace, é docente de Teologia Fundamental na Pontifícia Universidade Urbaniana. De 2005 a 2011 foi assistente nacional da Federação Universitária Católica Italiana (FUCI), em artigo publicado na revista Presbyteri, e reproduzida por Settimana News, nos dias 04, 10 e 13 de junho de 2017. A tradução é de Ramiro Mincato.

Eis o artigo.

Premissa

Será que isso que estamos vivendo ainda é um tempo para nós? Para nós, que abraçamos a vocação sacerdotal? Não são, na verdade, muitos os sinais indicativos de que nesta época em que temos que viver lentamente, mas com bastante seriedade, esteja como que perdendo valor e significado o ministério sacerdotal ao qual decidimos dedicar nossas vidas?

Os dados estatísticos acerca das novas vocações ao sacerdócio, ao menos no Ocidente desenvolvido, não requerem muitos comentários: são cada vez menos os jovens que entram nas fileiras do clero, que já é medianamente velho, e, para não poucos casos, muito velho. Será que ainda teremos padres italianos, franceses e europeus, em geral, daqui a algumas décadas? Difícil não perguntar-se.

Mesmo quando ainda não tomados pelos cuidados de saúde do próprio corpo, que se enferma e envelhece, os padres maduros parecem estar sempre preocupados, em reserva: literalmente, nunca têm tempo, tantas as tarefas que lhes competem, incluindo sagradas e profanas, a que dedicam seu tempo. Há quem nem consiga preparar a homilia como o Papa Francisco recomenda.

Mais ainda: não é verdade também que muitos padres não imprimem um mínimo de entusiasmo ao seu trabalho pastoral e que, ao contrário, vivem o ministério num ciclo de produção ininterrupta, quase insignificante para sua própria existência? O que sobrou dos anos de seminário, do impulso da primeira hora, da prontidão com que deram seu sim ao Senhor Jesus?

E o que dizer diante daqueles que pelas razões mais desesperadas - mas que sempre tem a ver com sexo e dinheiro - acabam nas páginas dos jornais, ou sob o holofote daquele tipo de jornalismo popular que tanto ama entreter seu público com esses temas?

A maior provação, talvez, que enfrentamos hoje, e que nos questiona profundamente sobre a nossa presença na sociedade, tem a ver com um sentimento de mal-estar mais geral: o inconveniente de não sermos capazes de nos comunicar com aquela parte vital da população que gravita em torno das nossas paróquias e comunidades. Penso nos muitos jovens que estão longe dos nossos locais; penso ainda nas mulheres jovens adultas ou adultas, mães e trabalhadoras, que, terminado o caminho da catequese de iniciação de seus filhos, parecem não ter mais tempo, nem interesse para o que nós padres dizemos e celebramos; penso também nos homens e mulheres de cultura ou de instituições públicas importantes, que, mesmo respeitando a realidade eclesial e seus representantes, escondem, no fundo, a ideia de que nós e nosso trabalho não passam de um pequeno souvenir de um mundo que já passou. Você pode encontrá-los nalgum batizado, casamento ou funeral, e quase nenhum deles lembra sequer quando é hora de levantar-se ou de sentar-se.

E o que pensar daqueles que ainda vem à Igreja? Não se esconderia em algum lugar do nosso coração a pergunta: realmente estão nos ouvindo? Seriam capazes de aceitar para suas vidas cotidianas os parâmetros que vêm das belas mas exigentes palavras de Jesus que lhes pregamos todos os domingos? Não parece, no entanto, também neste caso, que no final das contas, o que de fato importa para essas pessoas, são elas mesmas que decidem: qual e quanto Evangelho pôr em prática? E nós, então, para que servimos?

Restam, é claro, os pobres, que muitas vezes vêm bater à nossa porta: a solidariedade está fora de questão, mas o fato de eles voltarem tantas vezes, e com aqueles da primeira hora vão se juntando outros continuamente, pois quase ninguém consegue sair desta imensa corrente humana de pessoas que simplesmente lutam para colocar a mesa almoço e jantar. Também isso é fator de tristeza. Quanta pobreza é gerada neste tempo. Poder-se-á encontrar algum equilíbrio nesta estranha economia que governa o mundo?

Talvez este seja o lugar onde encontramos, nesta reflexão, um primeiro ponto de síntese: o tempo em que vivemos é para nós padres, sobretudo, um momento de pobreza; sim, nós também lutamos para colocar juntos as Laudes e as Completas, porque vivemos num momento histórico em que perdemos as coordenadas culturais e sociais que deram, até dias não muito distantes dos nossos, um contexto, um charme e uma fisionomia clara ao nosso ser padre. E é daqui, talvez, que se deva partir para responder à pergunta: como continuar a ser padre neste tempo?

O que perdemos

Este, que vivemos, é um tempo de pobreza para nós padres. Somos chamados ao ministério do anúncio do Evangelho e de guias das comunidades a nós confiadas, sem poder contar com nenhum dos apoios que foram de grande importância num passado recente: somos padres, mas não dispomos mais daquela linguagem comum entre a experiência de viver e aquela de crer, nem desfrutamos mais daquela credibilidade pessoal e grupal que inspirava confiança em quem se aproximava, e sem poder apoiar nossa autoridade específica em arquétipos e imaginários difusos, e, enfim, sem saber por quanto tempo ainda os recursos econômicos até agora colocados à nossa disposição nos ajudarão a manter de pé e “em boa forma” as tantas estruturas e iniciativas sobre as quais fazemos girar a vida da comunidade. Tentemos, pois, ver alguns detalhes desse novo cenário em que hoje se decide nosso empenho sacerdotal.

Todos sabemos e dizemos que a cristandade acabou. Estamos, de fato, na época da chamada pós-modernidade, que não é simplesmente uma época de mudança, mas uma verdadeira e própria mudança de época. Tal evento não poupou a figura e o papel do padre, entendido aqui sobretudo como anunciador do Evangelho. Quando se diz que a cristandade acabou, trata-se de tomar consciência de que aquela unidade de cultura e aquela cultura da unidade vigente no Ocidente até a revolução cultural de Sessenta e Oito, não existe mais. Não só: trata-se então de compreender que não há mais referencia ou osmose alguma entre as instruções para viver e aquelas para crer. Neste sentido, a mudança de época que vivemos, e que anuncia o fim da cristandade, faz com que haja muito mais distância no modo de entender o humano entre eu e meu avô, do que entre o meu avô e qualquer um dos cidadãos da Idade Média.

Para melhor visualizar uma tal mudança, tenha-se presente o fato de que nos tornamos humanos e cidadãos num determinado tempo, assumindo como nossa a linguagem humana em geral, e mais especificamente a linguagem daquele determinado contexto histórico e cultural, que traduz e indica uma ordem das coisas do mundo e do mundo das coisas. A linguagem é o lugar onde se sedimenta o imaginário comum, que determina a apreensão do real, isto é, o que nós definimos como valores de fundo. Assim, nas últimas décadas, com o impor-se da cultura pós-moderna, assistimos uma mutação de palavras e de sua ordem, com o eclipse de umas e a emergência de outras. Até os anos Oitenta do século passado as palavras decisivas na vida humana eram eternidade, paraíso, verdade natureza, lei natural, fixidez, maturidade, idade adulta, espírito, masculinidade, sobriedade, sacrifício, renúncia, autoridade, direito, tradição. Hoje, ao centro da sensibilidade imediata de ser habitante deste tempo e espaço cultural, encontramos as palavras finitude, alteridade, pluralismo, tolerância, sentimento, técnica, saúde, mudança, atualização, corporeidade, mulher, consumo, bem-estar, juventude, longevidade, singularidade, sexualidade, democracia, convicção, comunicação, participação.

Exatamente isto provoca - e este é o ponto – a ruptura da cristandade, isto é, da unidade entre cultura e fé, entre existência e oração, entre cotidiano e santo, que, não sem nenhuma sombra como é natural que seja, favoreceu muito o trabalho da Igreja e de nós padres: em casa, na escola, pela estrada os códigos linguísticos – humano e de fé – passavam facilmente de um lado ao outro. Isto não acontece mais. Assistimos, ao contrário, a um cristianismo que se tornou estranho ao homem comum; em geral, a própria questão de Deus não aparece mais como decisiva para uma vida humana bem sucedida, e, enfim, quase ninguém de nós consegue encontrar o estilo certo e a frequência certa para transmitir a fé às novas gerações.

Vivemos num tempo que nos despe daquela aura de credibilidade derivante das nossas escolhas que sempre pareciam fortes e contracorrentes em relação a vida ordinária das pessoas: a obediência, a pobreza e a castidade. Mas foram tantos os escândalos que se abateram sobre a inteira categoria nos últimos anos. Quantas feridas recebeu e continuamente recebe a credibilidade da imagem do padre. Num tempo em que não se crê mais na graça, na ação do Espírito Santo, na força da oração, e muito mais naturalmente se inspira na potencia da psicologia, os padres arriscam cair sob suspeição exatamente por essas escolhas fortes e rígidas, porque são os últimos que não se renderam, ao menos como escolha de fundo, à invasividade do discurso do sexo, do dinheiro e da autodeterminação. Que estranha parábola, pois, temos que viver: de um tempo em que exatamente porque castos, pobres e obedientes inspirávamos tanta confiança, para um tempo em que exatamente porque castos, pobres e obedientes somos constantemente submetidos a um tipo permanente de controle de qualidade que gera inevitavelmente desconfiança e ressentimento.

Ainda mais profundamente devemos reconhecer que o que nos faz sofrer é o desaparecimento, na nossa cultura, do “discurso do padre”, a perda de credibilidade da autoridade, a diminuição da qualidade adulta do humano. Pais e educadores são, por assim dizer, invadidos pela ânsia do cuidado, da preocupação, do controle, da manutenção indolor e ascética da vida daqueles que lhes são confiados, resultando tão incapazes de assimetria, de conflitos, de generatividade. Desaparece a ideia de que querer bem a alguém, a nós confiado, significa sempre conjugar com querer o seu bem: isto é, querer seu crescimento, sua emancipação da nossa órbita, sua capacidade de estar com suas próprias pernas diante do mundo e da história, certo, graças a nós, mas sobretudo, sem nós. Onde poderemos encontrar apoio, hoje, no imaginário difuso, para sermos “o mais velho” (tradução literal de presbítero), o mais sábio, o mais adulto, num tempo em que os adultos não querem mais ser adultos, em que não estão mais dispostos a renunciar ao próprio ego para poder assumir o encargo dos outros, sempre com a finalidade de deixa-los crescer em autonomia e por isso sabendo dar espaço também ao lado “áspero”, que também faz parte do gesto educativo? Não há o risco que também o padre se transforme, para nossas crianças e jovens, como suas mães e pais, numa espécie de amigo, de “falso jovem”, de pobre cretino caído sob a pressão do discurso do mercado? E se, ao invés, assumir seriamente o papel de adulto, não terá o padre que encontrar a coragem necessária para enfrentar os tantos “falsos jovens” com quem deve partilhar a responsabilidade educativa das novas gerações? Percebe-se claramente aqui que as tão amadas alianças casa-escola-oratório devem ser completamente repensadas e reestruturadas.

Merece ainda um aceno a questão econômica. Vimos de tempos de vacas gordas, e talvez ainda estejamos neste tempo, mas são anunciadas sombras neste horizonte e provavelmente, entre a diminuição das ofertas privadas e a redução dos financiamentos estatais, será necessário repensar como realizar a gestão das estruturas, muitas vezes realmente enormes. Em muitos países, no norte da Europa, já é questão do dia a dia a venda de edifícios sacros por causa da falta de fundos para sua manutenção, além da falta de pessoal eclesial a quem destiná-los. Como começar a repensar tudo isso? O que será realmente essencial conservar e do que se poderia, ao contrário, desfazer-se? Como evitar que o trabalho da procura de recursos econômicos não absorva e contamine a liberdade do nosso ministério pastoral e a força da nossa palavra profética?

E finalmente, como não enfrentar o aumento da vida média das populações e, portanto, também a do clero? Conseguiremos, com a aposentadoria, fazer frente às tantas novidades que a condição longeva da humanidade põe diante de nós? Será realmente possível permanecer fiel à nossa escolha de sermos padres por um período tão longo de anos?

O que ainda não entendemos

Não seria completa a descrição do cenário em que vivemos hoje nossa aventura sacerdotal, se não levarmos em conta as tantas oportunidades que, exatamente este tempo, que tanto nos põe à prova, nos oferece.

A primeira delas é certamente a coragem que nos vem do recente magistério petrino. Penso aqui na centralidade do tema da nova evangelização e da atenção aos jovens, em São João Paulo II, penso ainda na centralidade da questão da fé, em Bento XVI e penso, enfim, ao apelo do Papa Francisco ao tema da criatividade pastoral, mesmo com risco de alguma queda ou algum acidente de percurso.

Gosto, assim, de sublinhar a palavra criatividade que retorna diversas vezes na Evangelii Gaudium (11, 28, 134, 145, 156, 278), e é, no fundo, um convite a imaginar percursos diferentes e propostas inovadoras. É alguma coisa da qual todos estamos convencidos, pois sentimos na pele: muitos gestos de fé que propomos não funcionam mais tão bem como gostaríamos. Basta pensar aos percursos da iniciação cristã ou ao empenho pela pastoral juvenil. É exatamente por isso que o Papa Francisco nos convida a não ter medo de mudar, dando vida também a um curioso neologismo: “Primeirear – tomar a iniciativa”.

O nosso é, então, o tempo para a criação de uma palavra nova, de uma nova imaginação evangelizadora, de uma nova estação da vida paroquial. Faço eco a duas expressões bastante concretas do Papa Francisco: a primeira, no n. 73 da Evangelii Gaudium, onde, lembrando as grandes mudanças ocorridas na cidade, pede para “imaginar espaços de oração e de comunhão com características inovadoras, mais atraentes e significativas para as populações urbanas”; a segunda diz respeito a bela defesa da paróquia, sempre na Evangelii Gaudium (n. 28), mas com a indicação que esta “requer a docilidade e a criatividade missionária do pastor e da comunidade”: a paróquia é dotada de “grande plasticidade” e “pode assumir formas muito diferentes”. E quem deveria tomar a iniciativa em tudo isso se não exatamente nós, os padres?

A segunda oportunidade que este tempo nos oferece é aquela de sermos quase os últimos guardiães e profetas daquele humanismo do cuidado adulto das relações privadas e públicas, das quais se está perdendo demasiado rapidamente os traços e a memória. Nossa condição de soleira em relação ao jogo, até demasiadamente pegajoso das estratégias educativas, e em relação as contorções individualistas e narcisistas do discurso sócio-político, nos permite relançar o verdadeiro desafio da nossa sociedade: precisamos de adultos, adultos verdadeiros, capazes de controlar as pulsões do próprio eu e de colocar no centro da própria existência o cuidado dos outros, seja em termos de emancipação dos filhos, seja em termos de sustentabilidade do seu direito de simplesmente nos suceder, na cadeia das gerações humanas.

A terceira oportunidade dada por este tempo que nos toca viver consiste no fato de que, por quanto esmagados e em parte desmotivados, ao menos como categoria, podemos ainda fazer valer o direito de Deus de ser Deus. Nada de humano, por mais que seus recursos estejam voltados ao infinito, poderá substituir a Deus. Penso aqui à sexualidade, ao trabalho exasperado, ao acumulo de dinheiro, às ilusões da bioengenharia, ao poder exercitado até a própria morte. O que é terrestre, permanece terrestre, mesmo que camuflado com paramentos divinos. E, talvez, exatamente por causa dos tantos escândalos desencadeados por alguns dos nossos coirmãos, descobrimos ainda mais que enquanto padres, nunca pretendemos ser outra coisa que simples referências, links, mediadores, pequenos “pontífices”, literalmente, construtores de pontes: de sermos simplesmente dedos que indicam a lua sem nunca pensar que somos a lua. Assim, nossa tarefa é, e permanecerá sempre aquela de recordar ainda a palavra última de toda autêntica salvação: é Deus que nos absolve da necessidade e terrível ilusão de salvar a nós mesmos, os outros e o mundo.

A quarta oportunidade dos dias de hoje, para nós padres, é possivelmente aquela de fazer as contas com os nossos investimentos econômicos, que talvez não sejam simplesmente econômicos. Nos serve ainda uma Igreja como “instituição total” dentro de um quarteirão ou de um pequeno centro da periferia; uma Igreja que se ocupa de tudo, do berço ao cemitério? Precisamos ainda de tantas estruturas? E se, ao contrário, hoje nos fosse pedido simplesmente de ensinar aos homens e às mulheres a antiga arte de rezar e de relacionar-se com os outros com liberdade e confiança?

Para concluir

A pergunta final não poderia ser esta: o que resta do padre hoje? Qual o núcleo irrenunciável da sua presença e da sua missão nesse nosso mundo, que parece sempre mais dispensar o Deus do Evangelho e da Igreja? Parece-me que o que sobrou do padre seja a função de representar algo que falta neste mecanismo quase absoluto de singularidades autorreferenciais, mais ou menos infelizmente mantidas juntas pelo mecanismo de produção e classificação das mercadorias. Em tal contexto, a missão parece ser aquela de recordar a grande “utilidade” do sentimento de falta no interior da estrutura humana: o vazio de cada existência humana entorno ao qual orbita aquela precariedade originária com a qual todos fomos modelados.

O homem, de fato, não vive somente daquilo que possui e que segura apertado com suas mãos, mas também daquilo que lhe falta, daquilo que não tem. Eis, então, o que resta do padre hoje: ele é aquele que, com o seu corpo e com suas escolhas ainda tão impopulares, com o seu estilo de vida, recorda o que hoje corre o risco de faltar mais, e que talvez fizesse todos mais humanos: a carência. Fonte: http://www.franciscanossantacruz.org.br