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Nós batizados formamos uma comunidade de desejosos? Os cristãos têm sonhos? A Igreja é um laboratório do Espírito onde nossos filhos e filhas profetizam, nossos anciãos têm sonhos e nossos jovens constroem novas visões, não somente religiosas? - pergunta o pregador, Pe. José Tolentino.
Cidade do Vaticano
“Há em nossas culturas e, ao mesmo tempo, em nossas Igrejas, um déficit de desejo. Quando se percebe, no momento atual, o emergir, e em escala cada vez maior, de sujeitos sem desejo, isso deve levar-nos a uma autocrítica eclesial.” É uma constatação e uma das afirmações candentes contidas na meditação vespertina do pregador dos Exercícios Espirituais, Pe. José Tolentino de Mendonça, propostos ao Papa e à Cúria Romana em Ariccia, nas proximidades de Roma, cujo Retiro Espiritual de Quaresma prosseguirá até o próximo sábado. Tratou-se da terceira meditação, após a primeira da tarde de domingo e a seguinte da manhã desta segunda-feira (19/02/2018).
O infinito do desejo é desejo de infinito
Intitulada “Dei-me conta de ser sedento”, a meditação da tarde desta segunda-feira articulou-se em quatro pontos, concluindo-se com a "oração da sede".
Perder o medo de reconhecer nossa sede
O pregador partiu de quatro verbos – irrigar, fecundar, germinar – para falar inicialmente de um processo de revitalização do terreno qual metáfora da nossa vida. Tendo advertido que a transformação não se dá se impermeabilizamos a vida em sua crosta, afirmou que devemos perder o medo de reconhecer a nossa sede e o nosso ser sedento.
Na meteorologia se usa uma tabela, o Índice de Palmer, para medir a intensidade da seca em seus vários estágios, afirmou. E a intensidade da seca espiritual, como se mede? – perguntou-se o pregador dos Exercícios.
“Intelectualizamos demasiadamente a fé. Construímos um fenomenal castelo de abstrações”, observou. “Preocupamo-nos mais com a credibilidade racional da experiência de fé do que com a sua credibilidade existencial, antropológica e afetiva”, constatou.
“ Ocupamo-nos mais da razão do que do sentimento. Deixamos para trás a riqueza do nosso mundo emocional. ”
Feitas tais constatações, citou o teólogo canadense Bernard Lonergan, que evocava a necessidade de olhar mais, na construção doutrinal, para o significado das nossas emoções. Em suas considerações sobre o estado da nossa sede recorreu à literatura, que nos é de auxílio, ressaltou.
Escritores e poetas são importantes mestres espirituais
Em nossos dias assistimos cada vez mais a utilização da literatura ao fazer teologia, afirmou, acrescentando que hoje estamos compreendendo melhor que os escritores e os poetas são mestres espirituais importantes. Após destacar que as obras literárias podem ser de grande utilidade em nosso caminho de maturação interior, frisou que uma das razões fundamentais é que “a vida espiritual progride somente quando é uma revisitação da existência em sua totalidade, em sua diversidade.
Para tal citou, entre outros, a escritora brasileira Clarice Lispector, a qual, com a força de uma declaração autobiográfica, narra a tomada de consciência da intensidade de sua sede.
Falar de sede é falar da existência real e não da ficção de nós mesmos à qual muitas vezes nos adequamos. E iluminar uma experiência, mais que um conceito, acrescentou Pe. José Tolentino, advertindo em seguida para a dificuldade que podemos ter até mesmo de reconhecer o nosso ser sedento.
Desejo da verdade, beleza e bondade
Escutar a própria sede é interpretar o desejo existente em nós. Desejo incessante da verdade, da beleza e da bondade que faltam. O pregador dos Exercícios Espirituais propostos ao Papa e à Cúria Romana advertiu ainda que devemos distinguir o desejo de uma mera necessidade, que se aplaca e se satisfaz com a posse de um objeto. Não confundamos desejo com as necessidades. A necessidade é uma carência contingente do sujeito. O infinito do desejo é desejo de infinito.
Citou a revisitação ao “discurso platônico do desejo em chave mística” feita por Simone Weil, para quem, não é o nosso desejo que alcança Deus: “se permanecemos sedentos e desejosos, é Deus mesmo que desce em nossa humanidade para preencher o nosso desejo de plenitude”.
Enquanto desejamos objetos, quaisquer que sejam; enquanto deixamos que a nos mover seja a busca das coisas, carreiras, títulos, honorificências, nosso desejar não é ainda um verdadeiro desejar.
“ O desejo genuíno tem início quando ele se formula, nem mais nem menos, como pura abertura ao outro. ”
Hoje se torna cada vez mais claro que as sociedades capitalistas, organizadas em torno do consumo, que exploram avidamente as compulsões de satisfação de necessidades induzidas pela publicidade, estão na prática removendo a sede e o desejo tipicamente humanos, fazendo com que a vida perca seu horizonte, afirmou taxativamente Pe. José Tolentino.
Voltando seu olhar para a vida da Igreja, tais constatações serviram para o pregador dos Exercícios Espirituais propor as seguintes interpelações:
“Nós batizados formamos uma comunidade de desejosos? Os cristãos têm sonhos? A Igreja é um laboratório do Espírito onde, como no oráculo de Joel (3,1), nossos filhos e filhas profetizam, nossos anciãos têm sonhos e nossos jovens constroem novas visões, não somente religiosas, mas também novas compreensões culturais, econômicas, científicas e sociais?”
Questões mais contundentes
Tais interrogações foram propedêuticas a algumas questões mais contundentes: A Igreja tem fome e sede de justiça (Mt 5,6)? Os cristãos esperam realmente, segundo a promessa, “novos céus e uma nova terra, nos quais habita a justiça” (2Pd 3,13)?
Sede de Deus
No último ponto da meditação vespertina desta segunda-feira, no qual tratou da sede de Deus, o sacerdote português frisou que “talvez nós cristãos, e em particular nós pastores, devemos valorizar mais a espiritualidade da sede, mais que as estruturas”. “Nós cristãos e em particular nós pastores”, prosseguiu, “devemos melhor reconciliar-nos com nossa vulnerabilidade”.
Por fim, destacou que o “Papa Francisco nos recorda que uma das piores tentações é a autossuficiência e a autorreferência”. Abraçar a própria vulnerabilidade é aceder ao desejo de ser reconhecidos e tocados por Jesus.
Oração da sede
“Ensina-me, Senhor, a beber da mesma sede de Ti, como quem se alimenta mesmo na penumbra do frescor da fonte”... “Que esta sede se faça mapa e viagem palavra acesa e gesto que prepara a mesa sobre a qual se partilha o dom.” “E quando darei de beber a Teus filhos seja não porque possuo a água mas porque como eles sei o que é a sede”. Fonte: http://www.vaticannews.va
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Hoje, as igrejas consideram as tatuagens algo mundano. Um texto do livro do Apocalipse, no entanto, pode indicar que até Jesus tinha uma tatuagem. O artigo é de Juan Arias, jornalista, publicado por El País, 14-02-2018.
Eis o artigo.
O Carnaval brasileiro revelou, com a exposição prazerosa e sensual da nudez, que o país foi contagiado pela febre das tatuagens, as quais nestes dias apareceram ainda mais à luz do sol. O que poucos tatuados sabem é que essa prática tem origem sagrada, para conseguir um contato com os deuses.
Desde que começou a enterrar seus mortos, o Homo sapiens é fascinado pelo mistério do além. Daí o costume de enterrar os falecidos com joias e comida. A primeira tatuagem conhecida remonta a 5.000 anos: está na pele de um pastor congelado descoberto na fronteira entre Itália e Áustria com marcas no joelho e nas costas.
Hoje, as igrejas consideram as tatuagens algo mundano que teria sido proibido na Bíblia. Um texto do livro do Apocalipse, no entanto, pode indicar que até Jesus tinha uma tatuagem.
No Brasil, o gosto pelas tatuagens começou a preocupar as igrejas evangélicas uma vez que, no Levítico 19:28, se lê textualmente: “Pelos mortos não ferireis a vossa carne; nem fareis marca nenhuma sobre vós”, o que equivaleria a proibir as tatuagens. O que esse texto indica, no entanto, é que o povo do Israel, o primeiro a praticar uma religião monoteísta, considerava as tatuagens como uma prática dos pagãos filisteus que os crentes no Deus único não deveriam imitar.
Os crentes que conhecem melhor a Bíblia encontraram, porém, no Livro do Apocalipse, capítulo 19, versículo 16, um texto segundo o qual Jesus teria uma tatuagem em sua perna. O trecho, segundo tradução do original da Bíblia de Jerusalém, fala do cavaleiro do Apocalipse, o Cristo, que tem “escrito um nome em seu manto e em sua coxa: Rei dos Reis e Senhor dos Senhores”. Assim, os crentes se sentirão livres para tatuar sua pele se o próprio Cristo o fazia.
Vários teólogos evangélicos especialistas em estudos bíblicos, como Armando Taranto Neto e Carlos Augusto Vailatti, vieram a público explicar que pode se tratar de uma tradução errônea do original grego, que diria o seguinte: “No manto, isto é, sobre a nádega, tem o nome escrito…”. Nesse caso a tatuagem estaria no manto, à altura da perna, e não na pele de Jesus.
Para defender essa tradução do original grego, alguns pastores evangélicos desempoeiraram a edição crítica em quatro volumes do exegeta inglês Henry Alford, que data de meados do século XIX e que defende que o segundo kai no texto do Apocalipse, que em grego significa “e”, seria um kai “exegético”, que poderia significar “isto é”. A tatuagem não estaria no manto “e” na coxa de Cristo, mas “no manto, isto é, na altura da coxa”. Outros recordam que o livro do Apocalipse é uma obra simbólica e não histórica e, portanto, deve ser lido em sentido figurado e não literal, como o trecho que diz que seu olhar era “de fogo”.
Alguns pastores evangélicos estão procurando um ponto intermediário. Esforçam-se para não proibir as tatuagens de seus fiéis como supostamente pede a Bíblia, porque equivaleria a perder muitos devotos: a febre das tatuagens, especialmente nos jovens, parece irrefreável. Assim, em vez de proibir as tatuagens, estão orientando seus fiéis a, em vez de usar motivos mundanos ou eróticos, dar preferência a temas evangélicos, como “Jesus salva” ou “Deus me deu isto”, frases que vemos também escritas em carros e caminhões.
Muitos pastores ignoram a origem sagrada das tatuagens. Por exemplo, no Antigo Egito, há três mil anos, a tatuagem, que se fazia com agulhas de ouro, só era permitida às sacerdotisas. Algumas múmias aparecem tatuadas com temas relacionados à deusa da fertilidade. Na famosa múmia da sacerdotisa Amunet, encontrada em Tebas, pode-se observar uma tatuagem na região pélvica baixa.
Ao longo da história, as tatuagens foram perdendo o caráter sagrado para adquirir outros significados. Entre os romanos, eram usadas também para indicar hierarquia. Tatuavam-se os escravos para mostrar que eram propriedade de seu dono. Esse aspecto negativo foi recuperado nos tempos modernos, durante o nazismo, quando os condenados aos campos de concentração recebiam marcas no braço.
No Ocidente, durante a Idade Média, as tatuagens foram proibidas e punidas pela Igreja Católica, que só as permitia aos soldados das Cruzadas a fim de reconhecê-los caso morressem no campo de batalha. Hoje, tanto católicos como evangélicos começam a ser menos rigorosos na proibição das tatuagens, embora ambas as igrejas não queiram nem ouvir falar do texto do Apocalipse que daria a entender que também Jesus estava tatuado.
“Até aí poderíamos chegar!”, parecem querer dizer, e talvez não lhes falte razão. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
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"Trabalhei 24 anos na Baixada Fluminense como primeiro bispo da Diocese de Duque de Caxias. Discordo de intervenções que aviltam militares e trazem angústia e sofrimento aos pobres, em sua maioria de origem africana. A tarefa constitucional dos militares é outra, também a solução!", diz Dom Mauro Morelli em sua página no Twitter.
A reportagem é publicada por Brasil 247, 18-02-2018.
O bispo católico Dom Mauro Morelli criticou a intervenção na Segurança Públicano Rio de Janeiro. Para Dom Morelli, a tarefa constitucional dos militares é outra, "e também a solução".
"Trabalhei 24 anos na Baixada Fluminense como primeiro bispo da Diocese de Duque de Caxias. Discordo de intervenções que aviltam militares e trazem angústia e sofrimento aos pobres, em sua maioria de origem africana. A tarefa constitucional dos militares é outra, também a solução!", diz o religioso em sua página no Twitter.
"Alguém contesta meu tweet afirmando que somente os bandidos sofrem com intervenção...santa ingenuidade ou malícia refinada! Não faço discurso teórico ou demagógico. Se o problema do Brasil fosse bandido ou marginal das favelas ou "comunidade"...até que o bicho não seria tão feio!", escreve.
"Quem não é branco nas noites da Baixada corre risco de vida, tamanho o preconceito da sociedade escravocrata e racista. Se houvesse raça superior, seria a raça negra. Com 300 anos de escravidão e tantos séculos de discriminação, seu gingado é insuperável", diz dom Morelli. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
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De autoria do sacerdote português José Tolentino de Mendonça, e intitulada “Aprendizes do estupor”, a reflexão propôs citações de Simone Weil, Eduardo Galiano, Tolstoj e Fernando Pessoa.
Cidade do Vaticano
Como anunciado por ele mesmo após a oração do Angelus e com seu tuíte do dia, o Papa Francisco deixou o Vaticano domingo (18/02/2018) e se dirigiu a Ariccia, sudeste de Roma, aonde por uma semana, permanecerá em retiro espiritual.
O micro-ônibus do Vaticano deixou a Casa Santa Marta às 16h, levando o Papa e seus colaboradores mais próximos para a casa dos padres Paulinos ‘Divino Mestre’, aonde até sábado, (24/02) serão feitos os exercícios espirituais de Quaresma.
A primeira meditação, por obra do sacerdote português José Tolentino de Mendonça, teve como título “Aprendizes do estupor”, sugerido pelo Evangelho de João.
No texto, Jesus diz à samaritana apenas três palavras: “Dá-me de beber”. Assim como ela se surpreende com tal pedido, nós também ficamos desconcertados – antecipou o pregador – porque estas são as palavras que Jesus dirige a nós:
“ Dá-me o que tem, abre seu coração, dá-me o que é ”
O cansaço de Jesus
Deste estupor, a meditação passa ao ‘cansaço de Jesus’ e ao nosso. Podemos entender o diálogo de Jesus com a samaritana somente se mantivermos diante dos olhos o dom sem limites que Jesus faz de si na cruz. Em ambas as circunstâncias, o sol diz que é meio-dia, a hora sexta. É a hora central do dia, o meio do tempo, que marca o antes e o depois. Não é simplesmente a indicação cronológica, mas o símbolo da passagem de Jesus em nós. Por isso, explicou o sacerdote, mesmo que o relógio assinale outro horário, muitas vezes é meio-dia em nossas vidas. Cada vez que nascemos é meio-dia.
Ele veio nos procurar
Quando Jesus pede ‘Dá-me de beber’, a sua sede não se materializa na água. É uma sede maior. É sede de alcançar as nossas sedes, de entrar em contato com os nossos desertos, com nossas feridas. Nós devemos nos comportar com confiança. Temos que nos reconhecer como ‘chamados’.
Conhecer o dom de Deus
É o Senhor que toma a iniciativa de vir ao encontro de nós. Ele chega antes ao poço. Quando a samaritana entra em cena, Jesus já está lá, sentado. Quanto maior é o nosso desejo, o de Deus é sempre maior. Citando um trecho do ‘Livro dos abraços’ do escritor uruguaio Eduardo Galiano, Padre Tolentino completou:
“ Deus sabe que nós estamos aqui ”
Nossa oração sobe até Deus
Com novas citações, de Tolstoj a Fernando Pessoa, a meditação sugeriu os participantes a “desaprender”:
“Desaprendamos para aprender aquela graça que tornará possível a vida dentro de nós. Desaprendamos para aprender até que ponto Deus é a nossa raiz, o nosso tempo, a nossa atenção, a nossa contemplação, a nossa companhia, a nossa palavra, o nosso segredo, a nossa escuta, a nossa água e a nossa sede”.
Concluindo, Pe. Tolentino exortou os participantes:
“Digamos no nosso íntimo, com toda a verdade de que somos capazes: ‘Senhor, estou aqui à espera do nada’, ‘Senhor, estou aqui à espera do nada’. Ou seja, estou apenas à espera de ti, à espera do que és, à espera do que me dás’. Fonte: http://www.vaticannews.va
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Na Casa "Divino Mestre" de Ariccia, Papa Francisco e seus colaboradores participam dos Exercícios Espirituais de autoria do sacerdote português José Tolentino de Mendonça e intitulados “Aprendizes do estupor”.
Cidade do Vaticano.
Durante toda esta semana, o Papa Francisco se encontra em Ariccia, nas proximidades de Roma, para os Exercícios Espirituais de Quaresma. Até o próximo domingo (25/02/2018), estão suspensas todas as audiências públicas do Santo Padre, inclusive a Audiência Geral de quarta-feira, e as homilias na Casa Santa Marta.
Na manhã de segunda-feira, após as orações, o Pontífice e os colaboradores prosseguiram o retiro iniciado no domingo. Este ano, pela primeira vez, o pregador vem de Portugal.
A segunda meditação proposta pelo Pe. José Tolentino de Mendonça ao Papa e aos seus colaboradores foi dedicada ao tema “A ciência da sede”.
O tema foi inspirado na última frase pronunciada por Jesus no livro do Apocalipse (Ap 22, 17), “Quem tem sede, venha”.
O sacerdote português alternou citações bíblicas a obras de teólogos, escritores, poetas e dramaturgos como Milan Kundera, Padre Henri de Lubac, Emily Dickinson, Eugène Ionesco, Saint-Exupéry.
No trecho do Apocalipse, as palavras usadas são “quem tem sede”, “quem quiser” – expressões que se referem a nós, afirmou Pe. Tolentino. “Estamos tão próximos da fonte e vamos para tão longe, perdidos em desertos, em busca da torrente que nos mate a sede e ignorando assim ‘o dom que Deus tem para nos dar’.”
A dor da nossa sede
Não é fácil reconhecer que sentimos sede, prosseguiu o sacerdote, “porque a sede é uma dor que se descobre pouco a pouco dentro de nós”, por trás das nossas habituais narrações defensivas ou idealizadas.
Há uma violência no mundo e em nós mesmos que vem da sede, do medo da sede, do pânico de não ter as condições de sobrevivência garantidas. “Nós nos revoltamos uns contra os outros. A dor da nossa sede é a dor da vulnerabilidade extrema, quando os nossos limites nos comprimem.”
O sacerdote português citou o consumismo dos centros comerciais, mas ressaltou que não devemos nos esquecer que existe também um consumismo na vida espiritual. As sociedades que impõem o consumo como critério de felicidade transformam o desejo numa armadilha.
O objeto do nosso desejo é uma entidade ausente, um objeto inesgotável. O Senhor, porém, não cessa de nos dizer: «Quem tem sede, venha; quem quiser, tome de graça da água da vida».
O caminho da nossa sede
Para o Pe. Tolentino, existem muitos modos de enganar as necessidades que nos dão vida e adotar uma atitude de evasão espiritual sem jamais, porém, se conscientizar de que estamos em fuga.
Também aqui, como em outros âmbitos da vida, afimou, a verdadeira conversão não consistirá em belas teorias, mas em decisões que resultem de uma efetiva conscientização das nossas necessidades.
Nem que fosse um único copo de água
O trecho do Apocalipse volta ao final da medtiação. «Quem tiver sede, venha …» Certamente não bebemos para matar a sede. Jesus sabe que um simples copo de água que damos ou recebemos não é algo banal. É um gesto que dialoga com dimensões profundas da existência, porque vai ao encontro daquela sede que está presente em todo ser humano, e é sede de relação, de aceitação e de amor.
“Carregamos conosco tantas sedes. A sede é um patrimônio biográfico que somos chamados a reconhecer e do qual somos gratos. Depositemos em Deus a nossa sede.” Fonte: http://www.vaticannews.va
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Tolentino Mendonça vai fazer o “Elogio da Sede” no retiro que decorre em Roma até dia 23 de Fevereiro. A procura destes exercícios espirituais marcados pelo silêncio tem vindo a aumentar entre os leigos.
A capacidade de perguntar e de questionar certezas enraizadas está presente no pontificado de Francisco como na poesia e na obra de José Tolentino Mendonça. Surpreenderá assim apenas os mais distraídos a escolha do padre-poeta português para orientar o retiro espiritual do Papa, de hoje a 23 de Fevereiro, em Ariccia, nos arredores de Roma.
O mote para esta reflexão alargada à cúria romana será “Aprendizes do espanto”, a partir do qual o também vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa (UCP) refletirá sobre “O Elogio da Sede”, tema que diz ser transversal a crentes e não crentes e que se subdividirá, ao longo do seis dias, em meditações como “Percebi que estava sedento”, “Esta sede de nada”, “As lágrimas contam uma sede” e “Ouvir a sede das periferias”, entre outras.
Biblista e investigador, além de poeta e consultor do Conselho Pontifício para a Cultura, Tolentino Mendonça desafiava ainda há meses os leitores do seu último livro, Pequeno Caminho das Grandes Perguntas (Quetzal, Setembro de 2017), a sentarem-se num banco de jardim com tempo para encarar as grandes perguntas que nos precedem a todos, avisando logo à partida que as respostas são o que menos interessa nessa viagem sentada, cujo objectivo seria então arranjar espaço para o silêncio e para o espanto.
Afinal, como escrevia Tolentino Mendonça em meados do ano passado, numa das suas habituais crónicas no semanário Expresso, “viagem não é só movimento” e “a arte de parar é uma aprendizagem indispensável à sobrevivência”. Da poesia ao ensaio, a sua obra é atravessada, na opinião do padre jesuíta Vasco Pinto de Magalhães, “pelo tom da meditação e da procura de olhar a realidade com olhos de ver”. O jesuíta recuperou assim depressa do espanto de ver um português chamado a orientar a meditação do Papa, tanto mais que Tolentino “é respeitado internacionalmente pelas suas intervenções no campo da cultura e pertence a uma comissão pontifícia”, não sendo, portanto, “um desconhecido do Vaticano”.
Habituado a orientar diversos retiros espirituais, o padre jesuíta da Companhia de Jesus não arrisca antecipar o que poderá resultar deste retiro daquele que é o primeiro jesuíta a comandar a Igreja Católica. “Não estamos a falar de um concílio nem de um sínodo mas de uma experiência mais pessoal e espiritual, embora estejamos a falar de encontros que não são feitos para fugir da realidade mas para a agarrar com tempo e com espaço. Nesse sentido, poder-se-á esperar que esta paragem sirva para avaliar, ponderar, corrigir e tomar decisões para o futuro com novos compromissos”, contextualiza, admitindo que o Papa aproveite para “ganhar uma certa consciência da comunidade e para acertar o passo com ela”.
Numa altura em que, dentro da Igreja, têm vindo a agudizar-se as tensões entre os sectores conservadores e progressistas, com o Papa a ser acusado de heresia pelos primeiros e de não ter força para imprimir as mudanças necessárias pelos segundos, a escolha de Tolentino Mendonça foi criticada mais ou menos a coberto do anonimato pelos que consideraram que com a escolha de “um padre LGBT”, o Papa estava a abrir as portas da Igreja à “teologia queer”.
O efeito Scorsese
Numa sociedade marcada pela omnipresença de ecrãs que exigem conectividade a tempo inteiro, a procura de retiros espirituais tem vindo a aumentar, dentro e fora da Igreja. “Numa altura em que ninguém tem tempo para nada, é terapêutico arranjar um espaço de reflexão de tranquilidade”, diz Vasco Pinto de Magalhães, orientador de vários encontros com fundo religioso e com figurinos adaptados a perfis tão distintos como casais, jovens universitários ou empresários.
A Companhia de Jesus, instituto religioso da Igreja Católica, fundado por Santo Inácio de Loyola em 1540 — e da qual faz parte o Papa Francisco —, promove em Portugal vários exercícios espirituais nas três casas de retiros de que dispõe, em Braga, Sintra e Coimbra. Com uma duração que pode variar entre três e oito dias, a procura destes exercícios de silêncio feitos em grupo — espécie de “ginástica espiritual” — tem vindo a aumentar, sobretudo depois da estreia em Portugal do filme Silêncio, de Martin Scorsese. “A estreia do filme coincidiu com o início do nosso gabinete de comunicação e com uma maior preocupação em divulgar melhor as nossas atividades. Não sei qual das causas terá contribuído mais para este aumento da procura”, ressalva o padre jesuíta Pedro Rocha Mendes.
No somatório das três casas, 1890 pessoas frequentaram estes exercícios de recolhimento. Destas, apenas 463 eram religiosos e sacerdotes, repartindo-se os restantes entre estudantes, jovens casais, empresários ou simplesmente pessoas à procura de orientação por estarem em vias de tomar uma grande decisão nas suas vidas. “O objetivo é que estas pessoas contemplem o horizonte da sua vida e considerem as várias hipóteses que têm para a viver”, explica Pedro Rocha Mendes, especificando que a introspecção, a oração, o silêncio e a meditação sobre temas como liberdade e livre arbítrio estão presentes em todos os retiros, independentemente do perfil de pessoas a que se destinam.
As composições de Händel, Bach ou Vivaldi podem servir de fundo sonoro em vários momentos destes retiros, bem como as palavras de poetas como Herberto Helder ou Daniel Faria. Ser crente não é um requisito obrigatório para participar nestes retiros, cujos preços podem variar entre os 50 e os 150 euros, mas, como sublinha o padre jesuíta, “é muito difícil que alguém cruze esta experiência não tendo fé ou pelo menos não deseje fazer a experiência cristã da fé”. A dimensão cristã está, de resto, presente em todos os retiros, cuja proposta inclui a oração como veículo para “um encontro concreto com Jesus para que daí resulte inspiração para a vida e para as escolhas do dia-a-dia”. Fonte: http://publico.uol.com.br
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Antes de rezar o Angelus, Francisco frisou que "somente Deus pode nos dar a verdadeira felicidade: é inútil perder tempo procurando-a em outros lugares, em riquezas, prazeres, poder ou carreira".
Cidade do Vaticano
Sob muita chuva, mas com a Praça São Pedro repleta de fiéis, turistas e romanos, o Papa Francisco rezou a este domingo (18/02/ 2018) e a precedeu com algumas palavras de reflexão sobre a Quaresma.
Inspirado no Evangelho de Marcos, Francisco propôs os três temas mencionados na leitura do dia: tentação, conversão e Boa Nova.
Assim como Jesus se preparou 40 dias no deserto, posto à prova por Satanás, para vencer as tentações nós devemos fazer o nosso ‘treinamento’ espiritual, disse o Papa.
“Somos chamados a enfrentar o mal mediante a oração para sermos capazes, com a ajuda de Deus, de derrotá-lo em nosso dia a dia. Infelizmente, o mal está à obra em nossa existência e ao nosso redor, aonde existem violências, negação do próximo, fechamentos, guerras e injustiças”.
Boa Nova exige do homem conversão e fé
“Em nossa vida, precisamos sempre de conversão; não somos suficientemente orientados a Deus e devemos continuamente dirigir nossa mente e nosso coração a Ele. Para isto, é preciso ter a coragem de rechaçar tudo o que nos conduz fora do caminho, os falsos valores que atraem o nosso egoísmo”.
Frisando que “a Quaresma é um tempo de penitência, mas não de tristeza”, o Papa lembrou que é um compromisso alegre e sério para nos despojarmos de nosso egoísmo e de velhos ranços, e renovarmo-nos na graça do Batismo.
“ Somente Deus pode nos dar a verdadeira felicidade: é inútil perder tempo procurando-a em outros lugares, em riquezas, prazeres, poderes, carreira. ”
"O reino de Deus é a realização de todas as nossas aspirações mais profundas e autênticas porque é, ao mesmo tempo, salvação do homem e glória de Deus”.
O apelo de Jesus à conversão.
“Que Maria Santíssima nos ajude a viver esta Quaresma com fidelidade à Palavra de Deus e com oração incessante, como fez Jesus no deserto. Não é impossível! Trata-se de viver os dias desejando intensamente acolher o amor que vem de Deus e que quer transformar nossa vida e o mundo inteiro!”. Fonte: http://www.vaticannews.va
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Tão mistificado por sua luta pelos pobres brasileiros como prisioneiro do “irmão Parkinson”, o espanhol mais admirado do mundo católico vive recluso em Mato Grosso.
A reportagem é de Tom C. Avendaño, publicada por El País, 15-02-2018.
A última vez que Pedro Casaldáliga, o bispo do povo segundo seus numerosos partidários e o bispo vermelho para seus cáusticos inimigos, apareceu diante de uma multidão poucos esperavam vê-lo. Era julho de 2016 e não estava claro se dessa vez o religioso claretiano, de 88 anos, iria participar da Romaria dos Mártires da Caminhada, um evento quinquenal que ele criou em 1986, quando era bispo desta região selvática do Estado de Mato Grosso. A Romaria é realizada a 268 quilômetros de São Félix do Araguaia, o município onde ele vive, e não se sabia se aguentaria os incômodos de tamanha viagem. Mas havia aceitado a contragosto ir de avião, e não de ônibus, como até então costumava viajar pelo país (para ir, segundo suas palavras, "à altura do povo"), de modo que aí estava esse catalão, discretamente disposto a ver a cerimônia de inauguração. Banhado em aplausos e flashes de celulares, o morador espanhol mais célebre do Brasil não disse uma palavra. Em parte, pode-se imaginar, porque não tinha ido dar uma homilia; em parte, pelos estragos que foi causando em suas habilidades motoras o que ele chama de "o irmão Parkinson". Vendo-o, frágil, calado, prostrado em sua cadeira de rodas, qualquer coisa que tivesse dito teria soado como uma despedida.
Desde então, o mundo soube pouco dele, como ele do mundo. "A política local, a estatal ou a nacional, ele já não acompanha muito", admite por telefone o padre Ivo, um dos quatro agostinianos que se organizam para atender nas 24 horas do dia o bispo emérito em sua casa de São Félix do Araguaia. Mantêm-no em forma com a rotina: cuidados físicos pela manhã e leitura do correio –eletrônico ou tradicional– pela tarde. "Não responde todas as mensagens porque já lhe custa muito falar, mas as pessoas as mandam, cheias de carinho, sem esperar uma resposta. São quase como uma deferência", acrescenta Ivo.
Assim, meio custodiado e meio mistificado, faz aniversário esta semana um dos homens espanhóis mais admirados do mundo católico. Em sua casa de sempre em São Félix do Araguaia, um município de pouco mais de 10.500 habitantes ao qual só se chega depois de 16 horas de estrada de terra desde o aeroporto mais próximo, o de Cuiabá, capital do Mato Grosso. Aqui se encontra este sacerdote de Montjuïc desde que chegou ao Brasil como missionário em 1968, fugindo de uma Espanha congelada pelo franquismo. Em 1971 foi nomeado primeiro bispo da diocese e converteu sua casa, pequena, rural e pobre, na sede.
Foi entre essas quatro paredes que Casaldáliga começou a dar mostras de sua espetacular adesão aos ensinamentos do Evangelho, sobretudo o de se identificar com os mais desfavorecidos. E neste lado do Brasil selvático os mais desfavorecidos são centenas de milhares de camponeses sem-terra, pobres, analfabetos e oprimidos por coronéis e políticos. Assim, ele rezava missa para os moradores no quintal de sua casa, entre as galinhas, e à noite, deixava sua porta principal aberta para o caso de alguém sem casa precisar usar uma cama que sempre estava disponível. Andava de jeans e chinelos e tinha duas mudas de cada roupa. Quando tinha que se reunir com o Episcopado em Brasília, ia de ônibus, em uma viagem de três dias, porque era o meio de transporte de sua gente. Seu lema era inegociável: "Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar".
Anos depois se lembraria de como no início, em sua diocese, "faltava tudo: em saúde, educação, administração e justiça; faltava, sobretudo, no povo a consciência dos próprios direitos e a coragem e a possibilidade de reclamar". Decidiu que esse era o caminho a seguir. Construiu escolas, ambulatórios e se colocou ao lado dos camponeses sem-terra. Foi acusado repetidas vezes de interessar-se demais pelos problemas "materiais" dos pobres. Ele respondia que não concebia "a dicotomia entre evangelização e promoção humana".
Essas ideias progressistas lhe renderam seguidores que o cultuavam nas ruas e um ódio desenfreado em várias instituições. Ele se posicionou em favor dos indígenas da Amazônia, que para os interessados em se enriquecer eram os mais fáceis de expulsar de cada território: aliou-se aos xavante de Marãiwatsédé para retirar grandes produtores rurais de suas áreas e aos tapirapé e os carajá, e isto o levou a se confrontar com os latifundiários e as multinacionais e a ditadura militar. Viu como pistoleiros matavam seus companheiros – a conclusão habitual dos conflitos nesta região – e ele mesmo teve que viver escondido em um mês de 2012 por ameaças de morte. Rejeitou andar com escolta: "Eu a aceitarei quando for oferecida também a todos os camponeses de minha diocese ameaçados de morte como eu", disse.
O Vaticano o convocou em 1988 para que desse explicações por tanta proximidade dateologia da libertação e para que visitasse o Papa João Paulo II, como deveria ter feito uma vez a cada cinco anos, segundo o Código do Direito Canônico. Apresentou-se em camisa, sem anel e com um colar indígena no pescoço. Esclareceu ao Pontífice: "Estou disposto a dar minha vida por [São] Pedro [fundador da Igreja Católica], mas pelo Vaticano é outra coisa". Ao sair do encontro, fez um resumo à imprensa: "Me escutou e não me deu uma reprimenda. Poderia ter feito isso, como nós podemos também fazer com ele". E ponderou: "O Espírito Santo tem duas asas e a Igreja gosta mais de cortar a da esquerda".
Em 2003, Casaldáliga completou 75 anos, idade a partir da qual um bispo pode se aposentar. O Vaticano o substituiu de imediato. "Se o bispo que me suceder desejar seguir nosso trabalho de entrega aos mais pobres, eu poderia ficar com ele como sacerdote; do contrário, procurarei outro lugar onde possa terminar meus dias ao lado dos mais esquecidos", insistiu então. Se a pressa se devia a que fora fácil encontrar um substituto, não deram nenhuma indicação disso. Não voltaram a se manifestar até janeiro de 2005, quando anunciaram que já tinham substituto e que Casaldáligadeveria abandonar a diocese. Ele se negou e ficou trabalhando, com seu substituto e depois com o seguinte.
Pedro Casaldáliga faz 90 anos na casa de sempre e no município de sempre, mas o restante não é o de sempre. A região do Araguaia se transformou, entre escândalos políticos, em uma das principais áreas de plantações de soja do Mato Grosso: ou seja, parte das terras dos indígenas e dos camponeses está nas mãos das grandes produtores agrícolas e de seus produtos químicos. Talvez não se possa fazer nada contra isso. Casaldáliga perdeu essa batalha. Mas quando uma pessoa dedicou sua vida inteira à luta, ganhar ou perder é secundário. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
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O Santo Padre convidou também a parar “um pouco com o olhar altivo, com o comentário ligeiro e desdenhoso que nasce do ter esquecido a ternura, a compaixão e o respeito pelo encontro com os outros".
Cidade do Vaticano
O Papa Francisco presidiu, nesta quarta-feira (14/02/2018), na Basílica de Santa Sabina, no bairro Aventino, em Roma, a santa missa com o rito de imposição das cinzas.
“O tempo de Quaresma é propício para corrigir os acordes dissonantes da nossa vida cristã e acolher a notícia sempre nova, feliz e esperançosa da Páscoa do Senhor. Na sua sabedoria materna, a Igreja propõe-nos prestar especial atenção a tudo o que possa arrefecer e oxidar o nosso coração de fiel”, disse o Papa em sua homilia.
Segundo o Pontífice, “várias são as tentações, a que nos vemos expostos. Cada um de nós conhece as dificuldades que deve enfrentar". E é triste constatar, nas vicissitudes diárias, como se levantam vozes que, aproveitando-se da amargura e da incerteza, nada mais sabem semear senão desconfiança.
Papa na missa de imposição das cinzas
E, se o fruto da fé é a caridade – como gostava de repetir Santa Teresa de Calcutá –, o fruto da desconfiança é a apatia e a resignação. “ Desconfiança, apatia e resignação: os demônios que cauterizam e paralisam a alma do povo fiel. ”
Francisco ressaltou que “a Quaresma é tempo precioso para desmascarar estas e outras tentações e deixar que o nosso coração volte a bater segundo as palpitações do coração de Jesus. Toda esta liturgia está impregnada por este sentir, podendo-se afirmar que o mesmo ecoa em três palavras que nos são oferecidas para «aquecer o coração fiel»: para, olha e regressa”.
Parar
“Para um pouco, deixa esta agitação e este correr sem sentido que enche a alma de amargura sentindo que nunca se chega a parte alguma. “ Para, deixa esta obrigação de viver de forma acelerada, que dispersa, divide e acaba por destruir o tempo da família, o tempo da amizade, o tempo dos filhos, o tempo dos avós, o tempo da gratuidade... o tempo de Deus. ”
“Para um pouco com essa necessidade de aparecer e ser visto por todos, mostrar-se constantemente «na vitrine», que faz esquecer o valor da intimidade e do recolhimento”, disse ainda o Papa Francisco.
O Santo Padre convidou também a parar “um pouco com o olhar altivo, com o comentário ligeiro e desdenhoso que nasce do ter esquecido a ternura, a compaixão e o respeito pelo encontro com os outros, especialmente os vulneráveis, feridos e até imersos no pecado e no erro”.
“ Para um pouco com essa ânsia de querer controlar tudo, saber tudo, devassar tudo, que nasce de se ter esquecido a gratidão pelo dom da vida e tanto bem recebido. ”
Para um pouco com o ruído ensurdecedor que atrofia e atordoa os nossos ouvidos e nos faz esquecer a força fecunda e criativa do silêncio. Para um pouco com a atitude de fomentar sentimentos estéreis e infecundos que derivam do fechamento e da autocomiseração e levam a esquecer de sair ao encontro dos outros para compartilhar os fardos e os sofrimentos.
Para diante do vazio daquilo que é instantâneo, momentâneo e efêmero, que nos priva das raízes, dos laços, do valor dos percursos e de nos sentirmos sempre a caminho”.
“Pare, para olhar e contemplar”, disse ainda o Papa.
Olhar
A seguir, Francisco convidou a olhar, olhar “os sinais que impedem de se apagar a caridade, que mantêm viva a chama da fé e da esperança. Rostos vivos com a ternura e a bondade de Deus, que age no meio de nós”.
“ Olha o rosto de nossas famílias que continuam a apostar dia após dia, fazendo um grande esforço para avançar na vida e, entre muitas carências e privações, não descuram tentativa alguma para fazer da sua casa uma escola de amor. ”
"Olha os rostos interpeladores de nossas crianças e jovens carregados de futuro e de esperança, carregados de amanhã e de potencialidades que exigem dedicação e salvaguarda. Rebentos vivos do amor e da vida que sempre conseguem abrir caminho por entre os nossos cálculos mesquinhos e egoístas."
“ Olha os rostos dos nossos idosos, enrugados pelo passar do tempo: rostos portadores da memória viva do nosso povo. Rostos da sabedoria operante de Deus. ”
Olha os rostos dos nossos doentes e de quantos se ocupam deles; rostos que, na sua vulnerabilidade e no seu serviço, nos lembram que o valor de cada pessoa não pode jamais reduzir-se a uma questão de cálculo ou de utilidade. Olha os rostos arrependidos de muitos que procuram remediar os seus erros e disparates e, a partir das suas misérias e amarguras, lutam por transformar as situações e continuar para diante.
Olha e contempla o rosto do Amor Crucificado, que continua hoje, a partir da cruz, a ser portador de esperança; mão estendida para aqueles que se sentem crucificados, que experimentam na sua vida o peso dos fracassos, dos desenganos e das desilusões.
“ Olha e contempla o rosto concreto de Cristo crucificado por amor de todos sem exclusão. ”
De todos? Sim; de todos. Olhar o seu rosto é o convite cheio de esperança deste tempo de Quaresma para vencer os demónios da desconfiança, da apatia e da resignação. Rosto que nos convida a exclamar: o Reino de Deus é possível!”.
Regressar
“Para, olha e regressa”, frisou o Papa. Regressa à casa de teu Pai. “ Regressa sem medo aos braços ansiosos e estendidos de teu Pai, rico em misericórdia, que te espera! ”
“Regressa! Sem medo: este é o tempo oportuno para voltar a casa, a casa do «meu Pai e vosso Pai». Este é o tempo para se deixar tocar o coração... Permanecer no caminho do mal é fonte apenas de ilusão e tristeza. A verdadeira vida é outra coisa muito diferente, e bem o sabe o nosso coração. Deus não Se cansa nem Se cansará de estender a mão." Fonte: http://www.vaticannews.va
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Na manhã desta quarta-feira, 14 de fevereiro, na sede provisória da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), foi aberta oficialmente a Campanha da Fraternidade (CF) 2018. Este ano, a Campanha trata da “Fraternidade e a superação da violência”. O presidente da entidade, cardeal Sergio da Rocha, e o secretário-geral, dom Leonardo Steiner, receberam autoridades para o evento: a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, o coordenador da Frente Parlamentar pela Prevenção da Violência e Redução de Homicídios, deputado Alessandro Molon, e o presidente da Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP), Carlos Alves Moura.
Mensagem do Papa
O secretário executivo de Campanhas da CNBB, padre Luís Fernando da Silva, leu para os presentes no evento a mensagem enviada pelo papa Francisco: “O perdão das ofensas é a expressão mais eloquente do amor misericordioso e, para nós cristãos, é um imperativo de que não podemos prescindir. Às vezes, como é difícil perdoar! E, no entanto, o perdão é o instrumento colocado nas nossas frágeis mãos para alcançar a serenidade do coração, a paz. Deixar de lado o ressentimento, a raiva, a violência e a vingança é condição necessária para se viver como irmãos e irmãs e superar a violência”.
No final da Mensagem, papa Francisco pediu: “Peço a Deus que a Campanha da Fraternidade deste ano anime a todos para encontrar caminhos de superação da violência, convivendo mais como irmãos e irmãs em Cristo. Invoco a proteção de Nossa Senhora da Conceição Aparecida sobre o povo brasileiro, concedendo a Bênção Apostólica. Peço que todos rezem por mim”.
Exposições
“Há alguns dados dos estudiosos que nos estarrecem”, disse Carlos Moura. Negros e jovens são as maiores vítimas da violência no Brasil, informou. A população negra corresponde à maioria dos 10% dos indivíduos expostos ao homicídio no País. “É oportuno refletir sobre o Manual da Campanha da Fraternidade”, chamou a atenção: “A violência racial no Brasil é uma situação que faz supor uma forte correlação entre três formas de violência, direta, estrutural e cultural. Os casos de violência direta parecem ser resultado mais concreto e evidente de questões socioeconômicas históricas, além de deixarem entrever representações culturalmente produzidas e já naturalizadas a respeito da população negra, do índio, dos migrantes e, mais recentemente, também do imigrante”.
Moura lembrou que outra Campanha da Fraternidade tratou da superação da violência contra a comunidade negra, a Campanha de 1988, que tinha como lema: “Ouvi o clamor desse povo”. Nela, segundo Carlos Moura, a Igreja renovou o comprometimento da Igreja com o combate à violência.
A ministra Cármen Lúcia, agradeceu à CNBB “pelo convite ao Poder Judiciário para participar desse momento”. A presidente do STF disse que hoje, infelizmente, o outro tem sido visto com desconfiança e não como um irmão, um parceiro. “Esta campanha ajuda a ver o outro como aliado, como irmão”, reforçou. “Não basta que se faça parte da sociedade humana, mas é preciso atuar por ela para que se crie espaços de fraternidade”, acrescentou a ministra.
Deputado Alessandro Molon disse: “Nós nos acostumamos com a nossa tragédia. É como se no Brasil, a vida humana valesse muito pouco”. Ele realçou que a Campanha da Fraternidade não é de combate à violência, mas a superação dela. Chamou atenção para esse ano de discursos políticos é preciso lembrar o que diz o texto-base da Campanha que lembra que se trata de um problema complexo que não aceita soluções simplistas. “Esse carnaval nos deixou algumas lições. Quando as autoridades se omitem, por exemplo, a violência cresce”. O deputado ainda lembrou que todos têm responsabilidade, mas o Parlamento deve melhorar o Direito para proteger mais a vida que o patrimônio.
Cardeal Sergio da Rocha disse que a importância da Campanha da Fraternidade tem crescido a cada ano, repercutindo não somente dentro do âmbito da Igreja Católica, mas em toda a sociedade civil, além de outras igrejas cristãs. “Construir a Fraternidade para superar a violência” é o objetivo da Campanha da Fraternidade, lembrou. “A vida, a dignidade das pessoas, de grupos sociais mais vulneráveis têm sido atingidos frequentemente”. A realidade da violência, no entanto, “não deve levar a soluções equivocadas”, disse. Por conta disso, a Campanha da Fraternidade, disse o cardeal, quer ajudar a todos para fazer uma análise profunda diante da complexidade da realidade da violência.
“Embora que seja importante a ação de cada um de nós, mas é preciso de ações comunitárias”, disse o presidente da CNBB. A Igreja não pretende oferecer soluções técnicas para os problemas que aborda, mas o valor da fé e do amor que mostra que o semelhante não é um adversário, mas um irmão a ser amado, disse o Cardeal.
Cobertura
Todas as emissoras de TV de inspiração católica no Brasil, cinco grandes redes e duas TVs regionais, estiveram comprometidas com a transmissão do lançamento da Campanha da Fraternidade graças ao trabalho coordenado pela Signis Brasil, entidade católica que se ocupa com os meios de comunicação da Igreja. A Rede Católica de Rádio (RCR) também se fez presente oferecendo sinal de áudio para todas as emissoras interessadas no evento. A Assessoria de Imprensa da CNBB também ofereceu transmissão pelo Facebook e o vídeo já está disponível para ser visto na página @CNBBNacional. Fonte: http://cnbb.net.br
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“Fraternidade e superação da violência” é o tema da Campanha para a Quaresma, em 2018. O Evangelho de Mateus inspira o lema: “ Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8).
Silvonei José – Cidade do Vaticano
Todos os anos, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) apresenta a Campanha da Fraternidade como caminho de conversão quaresmal. Um caminho pessoal, comunitário e social que visibilize a salvação paterna de Deus. “Fraternidade e superação da violência” é o tema da Campanha para a Quaresma, em 2018. O Evangelho de Mateus inspira o lema: “ Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8).
A Campanha será lançada oficialmente nesta Quarta-feira de Cinzas e tem como objetivo geral: “Construir a fraternidade, promovendo a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à luz da Palavra de Deus, como caminho de superação da violência”.
De acordo com o Secretário-Geral da CNBB, Dom Leonardo Ulrichs Steiner, sofremos e estamos quase estarrecidos com a violência. Não apenas com as mortes que aumentam, mas também por ela perpassar quase todos os âmbitos da nossa sociedade. A ética que norteava as relações sociais está esquecida. Hoje, temos corrupção, morte e agressividade nos gestos e nas palavras. Assim, quase aumenta a crença em nossa incapacidade de vivermos como irmãos.
Por ocasião do lançamento da Campanha da Fraternidade 2018 o Papa Francisco enviou uma mensagem ao Presidente da CNBB, o arcebispo de Brasília, Cardeal Dom Sérgio da Rocha.
Eis na íntegra a mensagem do Papa:
Queridos irmãos e irmãs do Brasil!
Neste tempo quaresmal, de bom grado me uno à Igreja no Brasil para celebrar a Campanha “Fraternidade e a superação da violência”, cujo objetivo é construir a fraternidade, promovendo a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à luz da Palavra de Deus, como caminho de superação da violência. Desse modo, a Campanha da Fraternidade de 2018 nos convida a reconhecer a violência em tantos âmbitos e manifestações e, com confiança, fé e esperança, superá-la pelo caminho do amor visibilizado em Jesus Crucificado.
Jesus veio para nos dar a vida plena (cf. Jo 10, 10). Na medida em que Ele está no meio de nós, a vida se converte num espaço de fraternidade, de justiça, de paz, de dignidade para todos (cf. Exort. Apost. Evangelii gaudium, 180). Este tempo penitencial, onde somos chamados a viver a prática do jejum, da oração e da esmola nos faz perceber que somos irmãos. Deixemos que o amor de Deus se torne visível entre nós, nas nossas famílias, nas comunidades, na sociedade.
“É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação” (1 Co 6,2; cf. Is 49,8), que nos traz a graça do perdão recebido e oferecido. O perdão das ofensas é a expressão mais eloquente do amor misericordioso e, para nós cristãos, é um imperativo de que não podemos prescindir. Às vezes, como é difícil perdoar! E, no entanto, o perdão é o instrumento colocado nas nossas frágeis mãos para alcançar a serenidade do coração, a paz. Deixar de lado o ressentimento, a raiva, a violência e a vingança é condição necessária para se viver como irmãos e irmãs e superar a violência. Acolhamos, pois, a exortação do Apóstolo: “Que o sol não se ponha sobre o vosso ressentimento” (Ef 4, 26).
Sejamos protagonistas da superação da violência fazendo-nos arautos e construtores da paz. Uma paz que é fruto do desenvolvimento integral de todos, uma paz que nasce de uma nova relação também com todas as criaturas. A paz é tecida no dia-a-dia com paciência e misericórdia, no seio da família, na dinâmica da comunidade, nas relações de trabalho, na relação com a natureza. São pequenos gestos de respeito, de escuta, de diálogo, de silêncio, de afeto, de acolhida, de integração, que criam espaços onde se respira a fraternidade: “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8), como destaca o lema da Campanha da Fraternidade deste ano. Em Cristo somos da mesma família, nascidos do sangue da cruz, nossa salvação. As comunidades da Igreja no Brasil anunciem a conversão, o dia da salvação para conviverem sem violência.
Peço a Deus que a Campanha da Fraternidade deste ano anime a todos para encontrar caminhos de superação da violência, convivendo mais como irmãos e irmãs em Cristo. Invoco a proteção de Nossa Senhora da Conceição Aparecida sobre o povo brasileiro, concedendo a Bênção Apostólica. Peço que todos rezem por mim.
Vaticano, 27 de janeiro de 2018.
[Franciscus PP.]
Fonte: http://www.vaticannews.va
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Pelos próximos quatro dias parte do povo brasileiro estará mergulhado em meio a plumas, paetês, gliter, fantasias; muitas marchinhas, sambas de enredo, axé e alegria. É Carnaval, uma festa que já faz parte da vida cultural do nosso país.
“O Carnaval não é uma festa proibida para os cristãos, o que a Igreja condena são os exageros”, disse padre Jair Rodrigues, de Brusque (SC) durante entrevista a uma rádio local. Pensamento bem oportuno neste período em que boa parte das pessoas se prepara para se divertir durante o feriado. Para o padre, cada indivíduo deve buscar na festa a beleza da confraternização, da alegria sem necessariamente cair nos abusos.
Para o bispo auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre (RS), dom Leomar Brustolin, numa sociedade como a atual, os cristãos convivem com pessoas que cultivam diferentes valores, crenças e costumes. Essa pluralidade não pode ser um problema para um discípulo de Jesus Cristo que nada antepõe ao seguimento do Mestre.
“Por isso, no Carnaval o cristão evita duas posições: a omissão de quem aceita tudo em nome da alegria do momento, ou a demonização de quem só vê o pecado reinando. O discernimento supõe perceber que a alegria, a convivência, a música e a dança são expressões culturais importantes em todos os povos”.
O livro do Eclesiastes (9, 15ss) a palavra diz: “Por isso louvei a alegria, visto não haver nada de melhor para o homem (…) é isto que o acompanha no seu trabalho, durante os dias que Deus lhe outorgar debaixo do sol”. Já nos Provérbios (2,14-15), o Senhor lembra que há limites, pois são reprovados os “que se alegram por terem feito o mal e se regozijam na perversidade do vício, cujos caminhos são tortuosos e se extraviam por vias oblíquas”.
Durante o feriado do Carnaval é importante o cuidado com a preservação da fé e, principalmente, o cuidado com a vida. Neste período, muitas pessoas aproveitam essa data para extravasarem seus desejos, influenciados pela sensação de ”liberdade”, em que tudo é permitido.
É comum, portanto, vermos nos carnavais a presença do excesso: de bebidas, de drogas, do apelo sexual etc. Tal comportamento vem acompanhado do vazio, da “ressaca moral”. Situações que ocorrem também em outras épocas do ano, não apenas no carnaval.
Dom Leomar ressalta que alguém poderá dizer que é improvável que a maioria dos foliões consiga superar os excessos que são comuns aos festejos carnavalescos. Mas o que é improvável não é impossível. Em diferentes épocas, os seguidores de Jesus precisaram testemunhar que sua fé não os apartava do mundo, tampouco os obrigava a fazer concessões de todo tipo para serem aceitos na sociedade. Tomemos o exemplo da Carta a Diogneto, um escrito do século II que retrata a vida dos seguidores de Jesus naquele contexto: Os cristãos, de fato, não se distinguem dos outros homens, nem por sua terra, nem por sua língua ou costumes. (…) e adaptando-se aos costumes do lugar quanto à roupa, ao alimento e ao resto, testemunham um modo de vida admirável e, sem dúvida, paradoxal.
Segundo a Enciclopédia Larousse Cultural, o termo Carnaval vem do latim medieval carnelevarium, carnilevaria, carnilevamem, que significa “abster-se, afastar-se da carne”. Era um período anual de festas profanas e hoje corresponde ao período de três dias, que antecede a Quarta-Feira de Cinzas, vésperas da Quaresma – período durante o qual é recomendada a prática da penitência e abstinência de carnes vermelhas.
Dom Leomar Brustolin salienta que num país onde o Carnaval faz parte da cultura, os cristãos compreenderão essa festa como uma oportunidade de expressar que é possível ser feliz sem cometer infidelidades ao ensinamento de Cristo. O paradoxo consiste em festejar a beleza da convivência, sem apelar para os recursos que mascaram a verdade e a bondade que devem marcar a existência humana.
Neste período carnavalesco, é importante ressaltar o respeito aos símbolos religiosos bastante caros aos cristãos católicos, como o crucifixo e a eucaristia. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) já se manifestou em relação ao mau uso desses símbolos. Em nota publicada em outubro de 2017, por ocasião as exposições de arte, a Conferência ressaltou que a fé e arte sempre andaram juntas. E prega mais respeito e tolerância com a fé do povo brasileiro, reconhecido por sua religiosidade, presente em diversas manifestações de norte a sul.
“Em toda a sua história, a Igreja sempre valorizou a cultura e a arte, por revelarem a grandeza da pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus, fazendo emergir a beleza que conduz ao divino”, ressalta o texto.
Carnaval Cristão
Muitos os cristãos encontram outra forma de aproveitar o feriado e participam dos chamados “Carnaval com Cristo”. Muitas pastorais, movimentos e comunidades se mobilizam para realizar o “Carnaval Cristão”, espaços onde os fieis manifestam a alegria cristã participando de retiros, encontros, adoração ou outras experiências espirituais.
É o caso do Rebanhão tradicional carnaval católico promovido há 32 anos pela Renovação Carismática Católica do Distrito Federal (RCC-DF). Com o tema: “Retornai ao primeiro AMOR” (Cf Ap 2, 4b), o evento começa no domingo de carnaval (11) e vai até a terça-feira (13), com um programação que envolve missas presididas pelo arcebispo de Brasília e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal Sergio da Rocha.
Em Fortaleza (CE) de 10 a 13 de fevereiro acontece o Renascer, um retiro de carnaval realizado pela Comunidade Católica Shalom. O objetivo é um “carnaval diferente”, a fim de possibilitar que as pessoas façam uma experiência com a verdadeira alegria, uma experiência com Deus.
Cuidado com a vida
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) realizará a Operação Carnaval 2018 em todo o Brasil a partir desta sexta-feira (09). A operação Carnaval seguirá até a quarta-feira (14). O Carnaval é um dos períodos mais críticos do calendário nacional de operações da PRF, pois conta com grande fluxo de veículos nas rodovias federais e o uso abusivo de álcool é uma das principais preocupações do Órgão. Em 2017, a PRF registrou 1.696 acidentes de trânsito durante o carnaval, sendo 323 acidentes graves e 140 mortes.
Finalizando sua reflexão, dom Leomar Brustolin disse que há quem prefira os retiros para passar os dias de carnaval, outros aproveitam para participar de festas promovidas por grupos paroquiais e de movimentos, para se divertirem em ambientes de maior afinidade. E há aqueles que passam esses dias em meio aos demais foliões. Nesse caso, o testemunho cristão dependerá de atitudes concretas que revelam fidelidade a Jesus Cristo. Nada mais estranho para um cristão do que crer e pensar de uma forma, e agir e viver de outra.
“A coerência entre o ser e o fazer do cristão se manifesta tanto na dor quanto na alegria, por isso, nem mesmo o Carnaval pode impedir o testemunho da fé de um discípulo”, destaca.
Agora, aquela velha e boa dica de sempre: Se beber, não dirija! Curta o Carnaval com responsabilidade. Fonte: http://cnbb.net.br
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Na primeira Missa da semana na Casa Santa Marta o Papa Francisco disse que a paciência é a virtude de quem está em caminho.
Cidade do Vaticano – (12/02/2018)
“A fé, colocada à prova, produz paciência.” O Papa Francisco inspirou sua reflexão na Primeira Leitura do dia, de São Tiago Apóstolo.
Paciência não é resignação ou derrota
Mas o que significa ser paciente na vida e diante das provações? Certamente não é fácil entender, observou Francisco, que logo distingue a paciência da resignação e da derrota, mostrando a paciência, ao invés, como a “virtude” de “quem está em caminho”, não de quem está “parado” e “fechado”:
"E quando se vai em caminho acontecem tantas coisas nem sempre boas. É tão significativo para mim a paciência como virtude em caminho, a atitude dos pais quando têm um filho doente ou deficiente, nasce assim. “Mas graças a Deus está vivo!”: assim são os pacientes. E criam toda a vida aquele filho com amor, até o fim. E não é fácil levar por anos e anos e anos um filho com necessidades especiais, um filho doente… Mas a alegria de ter aquele filho dá a eles a força de levar avante e isso é paciência, não é resignação: isto é, é a virtude que vem quando uma pessoa está em caminho".
O impaciente rejeita e ignora os próprios limites
Ao invés, o que nos ensina a etimologia da palavra “paciência”, se pergunta o Papa? O significado traz consigo o sentido de responsabilidade, porque o “paciente não deixa o sofrimento, o suporta”, e o faz “com alegria, ‘perfeita alegria’, diz o apóstolo”:
“A paciência significa “suportar” e não confiar a um outro para que carregue o problema, que carregue a dificuldade: “Carrego eu, esta é a minha dificuldade, é o meu problema. Faz-me sofrer? Eh, certo! Mas eu a carrego. Suportar. E também a paciência é a sabedoria de saber dialogar com o limite. Existem tantos limites na vida, mas a impaciência não os quer, os ignora porque não sabe dialogar com os limites. Há uma fantasia de onipotência ou de preguiça, não sabemos...”.
Deus com paciência nos acompanha e nos espera
A história da salvação nos mostra “a paciência de Deus, nosso Pai”, que conduziu e levou em frente o seu “povo cabeça-dura”, toda vez que “construía um ídolo e ia de uma parte a outra”.
Mas paciência é também aquela que o Pai tem com cada um de nós, “acompanhando-nos” e “esperando os nossos tempos”. Deus que mandou depois seu Filho para “ser paciente” e oferecer-se à paixão “com decisão”:
“E aqui eu penso em nossos irmãos perseguidos no Oriente Médio, expulsos por serem cristãos... e eles fazem questão de ser cristãos: são pacientes como o Senhor é paciente. Com estas ideias, talvez, possamos hoje rezar, rezar pelo nosso povo: “Senhor, dá ao teu povo paciência para suportar as provações”. E também rezar por nós. Tantas vezes somos impacientes: quando uma coisa não dá certo, reclamamos... “Mas, pare um pouco, pense na paciência de Deus Pai, tenha paciência como Jesus”. É uma bela virtude a paciência, peçamo-la ao Senhor”. Fonte: http://www.vaticannews.va
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O carnaval é a maior festa popular do Brasil e do mundo. Nos quatro dias da manifestação cultural, o povo é embalado pelo samba, frevo, axé e por tantos outros ritmos. A diversidade da festa é característica nas multidões que brincam nas diferentes expressões da folia de cada cidade brasileira. Nas marchinhas, nas batucadas, nos sambas-enredos, nos blocos, nos bonecos gigantes, nos carros alegóricos, nas fantasias, nas plumas, nos paetês, nas purpurinas, nos confetes e nas serpentinas estão impressas as cores da beleza da cultura brasileira que dão vida à festa.
“O carnaval é uma época de festa, de reunir os amigos e vivenciar a alegria do momento. Já tive fases em que via o carnaval como momento de desapego, de extravasar. Mas hoje, nada mais é do que uma oportunidade para sair da rotina e curtir com os amigos”, declara a jornalista Priscilla Peixoto, da paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Taguatinga (DF).
Sob influência das festas carnavalescas que aconteciam na Europa, a festa chegou ao Brasil em meados do século XVII. Mas, por aqui, só no final do século XIX que começaram a aparecer os primeiros blocos.
As pessoas se fantasiavam, decoravam seus carros e, em grupos, desfilavam pelas ruas das cidades, afirma o historiador André Diniz, no livro Almanaque do Carnaval. Segundo a obra, a primeira marchinha “Ó abre alas” foi feita em 1899, por Chiquinha Gonzaga, para o cordão carnavalesco Rosa de Ouro.
No Brasil, o carnaval se expressa em três grandes eixos. No Rio de Janeiro e em São Paulo, predominam os desfiles das Escolas de Samba e dos blocos de rua. Já em Pernambuco, os bonecos gigantes dão o tom ao frevo de rua e em Salvador a folia é por conta dos trios de axé que arrastam multidões. É nessas três vertentes que o brasileiro se diverte nos quatro dias que antecedem o início da Quaresma, período de quarenta dias que antecedem a principal celebração do cristianismo: a Páscoa.
FÉ E SAMBA
Igor Ricardo, da paróquia Nossa Senhora de Fátima, no bairro 25 de agosto, em Duque de Caxias (RJ), nasceu em uma família católica, mas também do samba.
“Eu fui criado indo para a Igreja aos domingos, mas ao mesmo tempo cresci nas quadras das escolas de samba. Meus familiares – pais e tios – são ligados ao samba”, disse explicando como concilia a sua devoção à Igreja e também ao carnaval.
Segundo ele, é possível vivenciar o carnaval e ser católico já que são duas coisas totalmente distintas. “A minha fé não é abalada em momento nenhum pelo carnaval. Me sinto à vontade em dizer que sou católico e não me sinto rejeitado por ser um ambiente que têm muitas pessoas de outras religiões”, ressalta.
O mesmo acontece nas quadras das escolas que frequenta: “Eu não me sinto invadido, nem desrespeitado no samba por ser católico”, disse.
Um bom exemplo da relação da fé com o carnaval tornou-se samba enredo nas mãos dos carnavalescos da escola de samba Unidos da Vila Maria, em São Paulo (SP), em 2017. A escola homenageou a padroeira do Brasil com o enredo “Aparecida – A Rainha do Brasil. 300 anos de amor e fé no coração do povo brasileiro”. A agremiação lembrou os 300 anos da aparição da imagem da padroeira do Brasil, no Rio Paraíba do Sul (SP).
A homenagem contou com o aval do arcebispo de São Paulo, cardeal Odilo Scherer, e por representantes da arquidiocese e do Santuário Nacional de Aparecida. O pedido feito pela Unidos de Vila Maria chegou à arquidiocese em 2015 e foi levado ao conselho Pro-Santuário Nacional de Aparecida, encarregado de acompanhar, em nome da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a vida pastoral e administrativa do Santuário.
Após vários pedidos de esclarecimentos, por unanimidade, a Arquidiocese de São Paulo deu parecer favorável à iniciativa, mas fez algumas recomendações conforme nota publicada no site da arquidiocese de São Paulo.
“Alguns critérios tiveram de ser observados: o respeito à imagem de Nossa Senhora Aparecida, à fé e à religiosidade do povo católico; fidelidade aos fatos históricos; apresentação da genuína piedade mariana católica, sem sincretismos; decoro no desfile da escola, sem exposição de nudez e a supervisão dos preparativos pelo Santuário de Aparecida e pela Arquidiocese de São Paulo”, destacou.
O assessor de imprensa da Arquidiocese de São Paulo, Rafael Alberto, um dos representantes da Igreja que ajudou a Escola a desenvolver o enredo, disse que a agremiação aceitou sem reservas todos esses critérios. Indicado pela arquidiocese, ele participou de tudo: supervisionou o desenvolvimento do enredo, avaliou a letra do samba até a elaboração das fantasias, incluindo a da madrinha da bateria.
À época, o cardeal Odilo Scherer chegou a perguntar se o sambódromo é o lugar mais adequando para homenagear a padroeira do Brasil e concluiu: “Até pode ser, pois tudo depende da intenção e da forma como as coisas são feitas. No caso em questão, a intenção é boa e a forma também. O lugar seria impróprio para honrar a puríssima Virgem Maria? Mas será que Maria não gostaria de chegar lá, onde mais se faz necessária a sua presença?”, problematizou.
O jovem Igor Ricardo vivenciou, em 2017, uma experiência de fé no carnaval. Como jornalista, ele fez uma reportagem com um padre que desfilou como passista em uma escola em uma ala tradicional onde desfilam os passistas. Ele perguntou ao padre: “É possível vivenciar o carnaval sendo católico?”. A resposta do padre mexeu com suas certezas. O religioso afirmou que o pecado está na cabeça das pessoas e no ato praticado por elas. “A minha fé independe de eu estar sambando. Eu sambo pela arte e pela cultura, não para cometer o pecado”, acrescentou o padre passista. Essa resposta, disse Igor, mudou a sua visão de fé como católico e também como amante da cultura da escola de samba.
A jovem Priscila Peixoto também não vê problemas em vivenciar o carnaval sendo católica. “Independentemente da religião, o nosso caráter, nossa essência e nossa crença não devem ser abalados pelo calor de um momento. É uma festa como outra qualquer. A gente tem que desapegar desse estigma de que um cristão não pode se divertir e tem que estar somente na Igreja. Todo lugar é lugar de evangelizar”, frisou.
Segundo Priscila, é importante termos a consciência de que tudo na vida tem limites. “Se estamos em uma festa e esquecemos nossos valores, bebemos além da conta, estamos exercendo o livre arbítrio de forma equivocada. Mas nada nunca me impediu de ser cristã, de beber sim, de conhecer pessoas e de saber até onde eu posso ir. A maturidade nos traz isso e a fé confirma”, avalia.
O carnaval é uma expressão cultural que tem inúmeras manifestações e deve ser vivenciado de forma a expressar a alegria pelo canto e pela dança. Por outro lado, o Arcebispo de Salvador (BA), dom Murilo Krieger adverte que o bem-aventurado Papa Paulo VI, na Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, lembra que nem toda cultura é, por si mesma, valiosa. “Cabe a nós, portadores da mensagem de Jesus Cristo, penetrar nas culturas e introduzir nelas os valores do Evangelho. Foi isso que fizeram os cristãos com lugares e festas pagãs”, disse.
Neste Ano Nacional do Laicato, o arcebispo reforça que o carnaval é um imenso desafio para a ação evangelizadora dos leigos e leigas. “Que o Espírito Santo os ilumine nessa tarefa”, pediu o bispo. Fonte: http://cnbb.net.br
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