João Paulo II recebe Marcial Maciel no Vaticano, em 30 de novembro de 2004. TONY GENTILE (REUTERS)

Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada reconhece que a sede pontifícia tinha desde 1943 documentos sobre as condutas de Marcial Maciel

O prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada, o cardeal João Braz de Aviz, reconhece agora que o Vaticano tinha desde 1943 documentos sobre a pedofilia do fundador dos Legionários de Cristo, Marcial Maciel. O religioso foi investigado entre 1956 e 1959. “Quem o encobriu era uma máfia, eles não eram Igreja”, disse ao ser entrevistado pela revista católica Vida Nova. João Braz esteve em Madri há um mês para encerrar a assembleia geral da Confederação Espanhola de Religiosos (Confer). “Tenho a impressão de que as denúncias de abusos crescerão, porque só estamos no começo. Encobrimos isso por 70 anos e foi um enorme erro”, afirma.

Os Legionários de Cristo renascem de suas cinzas, com uma nova estrutura, após 12 anos de expiação e dez desde a morte de seu fundador, o padre Marcial Maciel, amigo de vários papas e o maior predador sexual na história recente da Igreja. Apresentado durante anos por João Paulo II como apóstolo da juventude e mimado por incontáveis bispos e cardeais, muitos deles espanhóis, Bento XVI o penalizou em 2006, meses depois da morte do Pontífice polonês, a se retirar ao México para o resto de sua vida, dedicado “à penitência e à oração”. Morreu sem pedir perdão dois anos mais tarde, quando uma comissão de investigação já havia revelado sem sombra de dúvidas suas atividades criminosas e uma vida de crápula tolerada pelo Vaticano.

O EL PAÍS publicou em 2006 que o fundador legionário havia sido investigado entre outubro de 1956 e fevereiro de 1959 por encargo do cardeal Alfredo Ottaviani, à época o grande inquisidor romano. Maciel estudou na Universidade Pontifícia de Comillas, à época com sede na Cantábria, de onde foi expulso com alguns colegas sem que os jesuítas tomassem medidas adicionais. A inspeção do Vaticano foi supervisionada pelo claretiano basco e futuro cardeal Arcadio Larraona. Durante esse tempo, Maciel foi suspenso como superior geral, e expulso de Roma. Larraona enviou seus inspetores ao seminário de Ontaneda, entre outros centros. Não adiantou nada e Maciel voltou a cometer seus crimes, com mais poder. Ratzinger também não agiu em 1999, apesar das evidências depositadas sobre sua mesa de presidente da Congregação para a Doutrina da Fé, o Santo Ofício da Inquisição do passado.

As denúncias de suas incontáveis vítimas, que mais tarde ganharam a companhia das mulheres com as quais o padre Maciel teve filhos, ficaram mais fortes até se tornarem insuportáveis ao Vaticano. Ninguém tomou medidas. “Não se processa um amigo do Papa”, disseram os que deveriam intervir, em primeiro lugar o cardeal Josep Ratzinger, hoje Papa emérito. Maciel também era seu amigo, além de confessor do Papa polonês em várias ocasiões. “Esperavam que Deus lhes retirasse do atoleiro com a morte de João Paulo II e a do acusado”, disse em 1999 uma de suas vítimas e denunciante, Alejandro Espinosa, que teve a infelicidade de ser presa predileta do fundador legionário no frio casarão do seminário de Ontaneda (Cantábria).

Marcial Maciel Degollado (Cotija, Estado de Michoacán, México, 1920-2008), era cotado para santo até que vários dos seminaristas dos quais abusou se uniram para clamar desesperadamente ao Vaticano. “É um guia eficaz da juventude”, dizia sobre Maciel João Paulo II quando as denúncias já eram públicas. Apenas uma semana antes de Ratzinger notificar a abertura de uma investigação, o célebre fundador festejou seus 60 anos de sacerdócio em um ato do qual participaram o Papa e seu secretário de Estado, cardeal Angelo Sodano.

Maciel chegou à Espanha no final dos anos 40 do século passado para estender sua função, protegido pelo à época ministro das Relações Exteriores do ditador Francisco Franco, o democrata-cristão Alberto Martín Artajo. Vinha avalizado pelo Papa Pio XII, que o recebeu em 1941, logo após fundar, com apenas 21 anos, os Legionários de Cristo e o Regnum Christi, inicialmente com o nome de Missionários do Sagrado Coração e da Virgem das Dores.

Ricardo Blázquez, cardeal arcebispo de Valladolid e presidente da Conferência Episcopal Espanhola (CEE), foi um dos cinco inspetores encarregados em 2010 por Bento XVI de depurar a organização, na qual fizeram carreira outros pedófilos junto ao fundador. Algumas das vítimas acreditaram à época que o Papa eliminaria os Legionários da maneira como funcionavam, para refundá-los com outro carisma. Assim declarou ao EL PAÍS o sacerdote Félix Alarcón, ex-dirigente legionário em vários países, ele mesmo vítima de abusos quando era criança. “O Vaticano recebeu 240 documentos que evidenciavam que a situação era conhecida muito antes do reconhecimento de que era conhecida. Nossa denúncia é de 1988, e enquanto Ratzinger era cardeal, essa terrível batata quente era passada de um lado para o outro, sem que nenhuma medida fosse tomada. Acho que a Legião tal como a entendíamos deveria ser eliminada”, disse em sua casa em Madri.

Existiu um antecedente, com o Vaticano na primeira fila de culpa e penitência por encobrir uma rede de pedófilos nas Escolas Pias do aragonês são José de Calasanz, fundador da Ordem de Clérigos Regulares Pobres, conhecidos agora como esculápios. Um dos pedófilos, o padre Stefano Cherubini, teve tanto poder de encobrimento que chegou a ser superior da ordem, derrubando o fundador. Os esculápios foram punidos com a extinção e Calasanz morreu aos 91 anos em Roma ainda em desgraça. Oito anos depois, a congregação foi reabilitada. O escândalo não impediu que Calasanz fosse elevado aos altares. Em 1948 foi declarado patrono universal das Escolas cristãs por Pio XII.

O MOVIMENTO CRESCEU UM 3% EM SUA TRAVESSIA DO DESERTO

O conhecimento público dos escândalos de pedofilia dentro dos Legionários de Cristo, até então um dos grandes movimentos do novo catolicismo, fez com que o Vaticano promovesse, por fim, a chamada “tolerância zero”, o lema com o qual o cardeal alemão Ratzinger ganhou o pontificado. Não foi ouvido e acabou renunciando ao cargo, em um gesto sem precedentes em séculos.

A punição a Marcial Maciel e sua organização foi rigorosa, mas não a extinguiu. Entre outras exigências, além da proscrição do fundador, os legionários deixariam de comemorar as diversas efemérides de Maciel; deveriam deixar de chamá-lo “nosso pai” e ignorar seu nome em público; eliminar de seus colégios todas as fotografias em que ele estivesse sozinho e com João Paulo II, e deixar de vender seus livros. Houve uma exceção por respeito à “liberdade pessoal”: quem desejasse conservar “de maneira privada” alguma fotografia do fundador, ler seus escritos e escutar suas conferências, poderia fazê-lo, porém discretamente.

Com esse longo processo de purgação e depuração, e eliminados os colaboradores mais próximos de Maciel, o Vaticano acaba de aprovar os novos estatutos da Legião, que a reconhecem “canonicamente como Sociedades de Vida Apostólica de direito pontifício” e como “uma federação formada e governada colegiadamente entre os Legionários de Cristo, as Consagradas e os Laicos Consagrados, com voto consultivo dos laicos, que se associarão individualmente à Federação”. Seu órgão de governo se chamará Colégio diretivo.

Longe de perder associados, durante a crise a Legião cresceu 3%. Hoje são 21.300 membros seculares, 526 consagrados, 63 laicos consagrados, 1.537 legionários de Cristo e 11.584 membros adolescentes em uma organização chamada ECYD. Em sua obra educativa (154 colégios, 5 academias internacionais, 14 universidades civis e quatros eclesiásticas), se formam 176.000 alunos.

Na Espanha, são responsáveis pelo santuário diocesano de Nossa Senhora de Sonsoles em Ávila e possuem seminários em Ontaneda (Cantábria) e Moncada (Valência). Também possuem a Universidade Francisco de Vitoria, em Pozuelo (Madri); a rede de colégios Everest e Cumbres; a organização Highlands; a rede de colégios Mão Amiga, e a agência de notícias Zenit. Fonte: https://brasil.elpais.com

AO VIVO- Santa Missa nesta terça-feira, dia 1º de janeiro-2019 com Frei Petrônio de Miranda, Padre Carmelita da Ordem do Carmo, direto da Igreja de Nossa Senhora do Carmo do Desterro da Lapa/ RJ. Para interagir ao vivo no FACEBOOK LIVE COM O FREI PETRÔNIO- TODOS OS DIAS- às 20h, adicione a página do Frei: www.facebook.com/freipetronio1

1° de Janeiro: Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus – Ano C

Dia Mundial da Paz

*Tema da Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus

Neste dia, a liturgia coloca-nos diante de evocações diversas, ainda que todas importantes.
Celebra-se, em primeiro lugar, a Solenidade da Mãe de Deus: somos convidados a olhar a figura de Maria, aquela que, com o seu sim ao projeto de Deus, nos ofereceu a figura de Jesus, o nosso libertador. Celebra-se, em segundo lugar, o Dia Mundial da Paz: em 1968, o Papa Paulo VI quis que, neste dia, os cristãos rezassem pela paz. Celebra-se, finalmente, o primeiro dia do ano civil: é o início de uma caminhada percorrida de mãos dadas com esse Deus que nunca nos deixa, mas que em cada dia nos cumula da sua bênção e nos oferece a vida em plenitude. As leituras de hoje exploram, portanto, diversas coordenadas. Elas têm a ver com esta multiplicidade de evocações.

O Evangelho mostra como a chegada do projeto libertador de Deus (que veio ao nosso encontro em Jesus) provoca alegria e contentamento por parte daqueles que não têm outra possibilidade de acesso à salvação: os pobres e os débeis. Convida-nos, também, a louvar a Deus pelo seu cuidado e amor e a testemunhar a libertação de Deus aos homens.
Maria, a mulher que proporcionou o nosso encontro com Jesus, é o modelo do crente que é sensível ao projeto de Deus, que sabe ler os seus sinais na história, que aceita acolher a proposta de Deus no coração e que colabora com Deus na concretização do projeto divino de salvação para o mundo.

ATUALIZAÇÃO- EVANGELHO – Lc 2, 16-21

Mais uma vez fica claro, neste texto, o projeto que Deus tem para a humanidade, em Jesus: apresentar-nos uma proposta libertadora, que nos leve a superar a nossa fragilidade e debilidade e a encontrar a vida plena. Temos consciência de que a verdadeira libertação está na proposta que Deus nos apresentou em Jesus e não nas ideologias, ou no poder do dinheiro, ou no brilho da nossa posição social? Quando anunciamos Jesus aos nossos irmãos, é esta a proposta que nós apresentamos – sobretudo aos mais pobres e marginalizados?

Diante da boa nova da libertação, reagimos – como os pastores – com o louvor e a ação de graças? Sabemos ser gratos ao nosso Deus pelo seu empenho em nos libertar da nossa debilidade e escravidão?

Os pastores, depois de terem tomado contato com o projeto libertador de Deus, fizeram-se testemunhas desse projeto. Sentimos, também, o imperativo do “testemunho” dessa libertação que experimentamos?

Maria “conservava todas estas palavras e meditava-as no seu coração”. Quer dizer: ela era capaz de perceber os sinais do Deus libertador no acontecer da vida. Temos, como ela, a sensibilidade de estar atentos à vida e de perceber a presença – discreta, mas significativa, atuante e transformadora – de Deus, nos acontecimentos banais do nosso dia a dia?

ANOTAÇÕES DO FREI PETRÔNIO DE MIRANDA, PADRE CARMELITA E JORNALISTA/RJ.

Segundo o evangelho; (Lc 2, 19). “Maria guardava todos esses fatos e meditava sobre eles no seu coração”.

Na espiritualidade carmelitana, nos deparamos com uma famosa frase do Beato Frei Tito Brandsma, Carmelita, Jornalista e Mártir da 2ª Guerra Mundial. Para o Beato, “Devemos olhar o mundo com Deus no fundo”. Ou seja, a exemplo de Maria no Evangelho de hoje, sob hipótese alguma devemos perder a esperança, mas, com fé, perceber a ação de Deus que vai perpassar todo este ano que se inicia.

Só quem sabe olhar os fatos e os acontecimentos com os olhos de Deus- ou da fé- consegue encontrar sinais de esperança, mesmo em momentos difíceis que com certeza teremos que enfrentar neste ano novo. Só quem sabe conservar esta fé e este olhar – de Deus- consegue encontrar caminhos alternativos para superar os fracassos, as limitações e as derrotas- e Maria venceu todas estas noites porque o seu foco estava em Deus, somente Nele!  

Em outras palavras, não somos cristãos de sonhos vazios ou seguidores de um Deus mágico que resolve todos os problemas com um toque, não, estamos conscientes da nossa missão e da nossa responsabilidade na construção de um novo ano com os pés no chão da nossa realidade e do nosso olhar atento e de fé. Que a Senhora do Carmo, nossa Mãe, seja de fato este inspiração para olhar além do olhar. E tenho dito! 

  *Leia a reflexão na íntegra. Clique no link ao lado- EVANGELHO DO DIA.

No Réveillon, o monumento vai receber projeções com rotação ilusória da estátua.

RIO — Logo depois da meia-noite, assim que acabar a queima de fogos em Copacabana, o estátua do Cristo Redentor vai se transformar em um espetáculo de arte e tecnologia. O monumento receberá pela primeira vez projeções digitais simultâneas, tanto na face frontal quanto na face posterior do Cristo Redentor. Um dos pontos altos será uma rotação ilusória de 180º do monumento, por meio da qual o Cristo, com as técnicas de videomapping, se voltará para os bairros da cidade que ficam às suas costas.  A previsão é de tempo firme no Rio durante o réveillon,  com chance mínima de chuva na virada do ano , o que permitirá que as pessoas assistam ao espetáculo.

Haverá também mensagem de paz, em linguagem de sinais (Libras). Embora o evento não seja aberto ao público, essas projeções poderão ser vistas dos bairros próximos à Floresta da Tijuca e também na Praia de Copacabana, transmitidas por um telão.

A iniciativa, em parceria com o Projeta Rio, é uma homenagem da Arquidiocese do Rio de Janeiro, da Secretaria Municipal de Turismo e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade a todos os cariocas e aos visitantes e àqueles que amam a Cidade Maravilhosa. Fonte: https://oglobo.globo.com

PATRICIA PEIRÓ

Historiador retrata subterrâneos dos séculos XVII e XVIII através de documentos da Justiça eclesiástica

Em uma rua do centro de Zaragoza havia uma casa com as janelas sempre fechadas pela qual desfilavam autênticas romarias de padres franciscanos entrando e saindo com chave própria. Em uma das visitas, vários deles chegaram até a se trancar ao mesmo tempo em um quarto com uma mulher de nome Francisca. Até que os vizinhos disseram basta e acabaram com esse “lupanar especializado”. Uma simples denúncia de um morador da mesma rua acabou com o prostíbulo preferidos dos franciscanos no século XVII.

Se esse processo não ficou enterrado em séculos de história é porque chegou aos tribunais com todos os detalhes. Os arquivos judiciais eclesiásticos reúnem centenas de relatos de amores proibidos, terríveis agressões sexuais, prostituição, a à época proibida homossexualidade e até brigas em plena missa. O historiador Juan Postigo mergulhou durante meses no arquivo diocesano de Zaragoza para rastrear os subterrâneos da sociedade dos séculos XVII e XVIII.

“Os documentos são realmente explícitos. Como não existiam provas forenses, os investigadores faziam interrogatórios extenuantes que ficaram completamente registrados”, diz o pesquisador, cujo trabalho está no livro El Paisaje y las Hormigas (A Paisagem e as Formigas). Como diz Postigo, muitas das práticas consideradas ilegais eram aceitas pela sociedade, até que um ponto de inflexão as transformava em insustentáveis e chegavam aos tribunais. No caso do prostíbulo dos franciscanos, o detonador foi a discussão de um dos vizinhos com o dono da casa.

Os processos judiciais mostram pequenos retratos dos costumes da época. Um deles narra a tempestuosa relação entre um nobre e uma criada, que acabou com a gravidez dela. Quando a mulher foi pedir ajuda ao homem para criar o bebê ele se esquivou de suas responsabilidades, de modo que ela recorreu a uma feiticeira moura. Um criado escutou a mulher em plena conversa com a suposta bruxa e contou ao nobre, que sugestionado pelas práticas mágicas começou a ter problemas para ter relações sexuais e decidiu ajudar a mãe de seu filho.

O gênero feminino precisou entrar dentro dos padrões moralistas de uma vida dependente do marido. Se elas queriam manter idílios amorosos precisavam entrar no mundo da ilegalidade

Nas leis morais da época, o público e o privado se confundem. Os escritos mostram denúncias contra nobres por deitarem-se com algumas de suas criadas. E, por exemplo, uma acusação contra a mulher de um hospedeiro por manter uma relação com um hóspede. “A sexualidade só tinha espaço dentro do casamento, todo o resto era perseguido. Além disso, as pessoas de diferentes classes não podiam ficar juntas e constantemente encontramos casos de homens e mulheres que burlaram essas normas”, diz Postigo.

O historiador define a mulher como um “agente de transgressão permanente”, pelas rígidas regras em que estavam presas. “O gênero feminino precisou entrar dentro dos padrões moralistas de uma vida dependente do marido. Se elas queriam manter idílios amorosos precisavam entrar no mundo da ilegalidade”. Também são detalhados numerosos casos de maus-tratos a mulheres, que se tornavam assunto público somente quando a crueldade era especialmente grave, como no caso de Agustín Pintor, um homem que obrigava sua mulher a se prostituir, a agredia quando os clientes se cansavam e deixavam de pagar e andava pelo mercado com sua amante abertamente”. A pobreza tornava as mulheres dependentes dos homens”, afirma Postigo.

Além das histórias de bairro levadas a julgamento, os documentos dão descrições detalhadas de fatos atrozes, como tiros no meio da noite, mães que prostituem suas filhas e agressões sexuais a meninas. O escritor pega o assassinato dentro da basílica do Pilar do ourives Tomás Teller, que ao acabar suas orações recebeu um tiro de rifle de alguém que havia preparado cuidadosamente o lugar e o modo que iria acabar com sua vida. Aconteceu na noite de 29 de agosto de 1687. “Como os templos eram os lugares em que a sociedade cristã passava a maior parte de sua vida, também se transformaram em cenários de crimes”, diz Postigo.

A vizinha catedral de La Seo também abrigou contendas, como a impressionante briga a socos de dois religiosos em plena missa de 2 de novembro de 1747. Tudo aconteceu porque um disse ao outro que ele havia se esquecido de ler um versículo.

Postigo extrai uma conclusão da análise dos crimes passados: “As rigidezes impositivas só faziam com que as pessoas precisassem encontrar brechas para satisfazer seus instintos. Muitas vezes pode ser contraproducente deixar as pessoas presas demais”. Fonte: https://brasil.elpais.com

No ano que está para terminar, a Agência Fides apresenta o relatório com números e circunstâncias em que missionários - "batizados comprometidos na vida da Igreja" - foram mortos em diversas partes do mundo de forma violenta, não necessariamente por ódio à fé.

Gabriella Ceraso - Cidade do Vaticano

No total são 40, quase o dobro de 2017, os missionários assassinados no ano que está prestes a acabar. A maior parte deles, sacerdotes, 35.

Segundo dados coletados pela Agência Fides, após oito anos consecutivos em que o número mais elevado de missionários assassinados foi registrado na América, em 2018 é a África a ocupar o primeiro lugar neste trágico ranking. Também neste ano muitos perderam suas vidas durante tentativas de roubo ou furto, em contextos sociais de pobreza, degradação e onde a violência é a regra da vida, a autoridade do Estado ausente ou enfraquecida pela corrupção, ou onde a religião é instrumentalizada para outros fins.

O sacrifício da África

19 sacerdotes, 1 seminarista e 1 leiga são as vítimas na África. Comove a morte de Thérese Deshade Kapangala, da República Democrática do Congo. Ele tinha apenas 24 anos de idade e estava se preparando para começar seu caminho de postulante entre as Irmãs da Sagrada Família. Ela foi assassinada em janeiro 2018 pela violenta repressão dos militares que tentavam sufocar os protestos contra as decisões do Presidente Kabila, promovidos por leigos católicos em todo o país.

Thérese, que cantava no coro da paróquia e era muito ativa na Legião de Maria, havia participado da Missa na cidade de Kintambo, ao norte de Kinshasa. Logo depois, ela tentou organizar uma marcha de protesto. O exército estava do lado de fora da igreja e abriu fogo contra os manifestantes que buscavam abrigo no templo. Thérese foi atingida ao tentar proteger uma criança com seu corpo.

Um massacre brutal em que foram mortos na Nigéria padre Joseph Gor e padre Felix Tyolaha por pastores / jihadistas nos povoados de Mbalom, no Estado de Benue, na parte central do país que divide o norte de predominância muçulmana, do sul em grande parte habitado por cristãos.

O massacre ocorreu na madrugada de 24 de abril de 2018, durante a Missa matinal, muito frequentada. Tinha acabado de iniciar e os fiéis ainda estavam entrando na igreja, quando vários tiros foram disparados por um grupo armado. Dezenove pessoas, incluindo os dois padres, foram mortas a sangue frio. A seguir, os bandidos entraram no povoado, saquearam e destruíram mais de 60 casas.

Idoso e muito amado era padre Albert Toungoumale-Baba, centro-africano, 71, morto na Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, não muito distante do bairro PK5 Bangui, capital da República Centro-Africana, onde houve um massacre que provocou a morte de pelo menos 16 pessoas e que causou uma centena de feridos. Um grupo armado atacou a paróquia, enquanto padre Albert e alguns fiéis estavam celebrando a Missa para a festa de São José, em 1º de maio de 2018. O sacerdote assassinado, um dos mais idosos da diocese de Bangui, muito estimado pelos fiéis, encontrava-se naquela igreja para a celebração como capelão do movimento "Fraternité Saint Joseph".

Amor pelas pessoas e paixão pela fé

Também a América pagou um alto tributo de vidas em 2018. Foram assassinados 12 padres  -  7 somente no México - e 3 leigos. Entre as vítimas, chama atenção a história do padre Juan Miguel Contreras García, ordenado sacerdote pouco antes de morrer. Tinha apenas 33 anos, quando na noite de 20 de abril de 2018 foi morto no final da Missa que celebrava na Paróquia São Pio de Pietrelcina, em Tlajomulco, Estado de Jalisco (México), onde estava substituindo outro sacerdote ameaçado de morte.

Um comando invadiu a igreja dirigindo-se à sacristia, onde abriu fogo contra o sacerdote.

Padre Riudavets Carlos Montes, um padre espanhol da Sociedade de Jesus (SJ) 73 anos, foi encontrado amarrados e com sinais de violência na comunidade indígena peruana de Yamakentsa. Padre Riudavets havia formado centenas de líderes indígenas e era totalmente consagrado à sua missão, sempre disponível. Também ele amava a comunidade e por ela era amado.

Missionários: partilha e coragem

Das diferentes histórias que a Agência Fides relata no final de 2018, surge um único denominador comum: a partilha que em cada latitude, padres, religiosos e leigos são capazes de estabelecer com as pessoas, levando um testemunho evangélico de amor e de serviço para todos, e a coragem pela qual, mesmo diante de situações de perigo, os missionários permanecem em seu lugar, para serem fiéis aos seus compromissos. Fonte: www.vaticannews.va

O Natal é uma bela e adorável lenda já que Jesus não nasceu nem 24 de dezembro, nem Belém e nem uma manjedoura

JUAN ARIAS

Todo ano, com a chegada do Natal, há sempre quem me pergunte, lembrando de meus estudos bíblicos: “Onde realmente nasceu Jesus?”. É verdade que não nasceu em Belém e sim na minúscula aldeia de Nazaré, na região da Galileia?

É verdade que não nasceu em 24 de dezembro? Sabemos o que fez até aparecer em público com 30 anos? Era casado? Teve filhos? Por que o mataram? Por ser revolucionário político ou por desafiar o poder do Templo judaico?

O Natal tal como é comemorado pelos cristãos, católicos, protestantes e evangélicos é hoje uma lenda de acordo com os especialistas em estudos bíblicos. Uma bela e adorável lenda criada para que se cumprissem as profecias segundo as quais o Messias deveria ser da estirpe de Davi, que havia nascido em Belém.

Na verdade, Jesus e toda sua família eram de Nazaré. Todos judeus. A lenda do nascimento de Jesus conta que nasceu no inverno, em uma manjedoura, entre animais que lhe davam calor, adorado por três reis do Oriente que lhe levaram de presente ouro, incenso e mirra.

Junto com a de seu nascimento em Belém nasceu também a lenda da fuga ao Egito porque o rei Herodes queria matar o bebê. Como não conseguiu encontrá-lo, teria mandado matar todos os meninos menores de dois anos. Uma história cheia de simbolismos que acaba encantando pequenos e grandes.

A lenda do nascimento de Jesus é silenciada por dois dos quatro evangelhos canônicos: o de Marcos, considerado o mais antigo, e o de João. Eles iniciam o relato da vida de Jesus quando já era adulto. Dão como certo que Jesus e toda sua família eram oriundos da aldeia de Nazaré, tão pequena que não aparece nos mapas daquele tempo. Tão rural, que nela se falava um dialeto do aramaico, a língua oficial. O hebraico havia se transformado em uma língua de culto. Tão insignificante naquele tempo que os fariseus, diante da fama que ganhava o profeta, se perguntavam “se em Nazaré era possível fazer algo bom”.

A Igreja batizou como cristã a grande festividade pagã dos romanos

O judeu Jesus que daria origem ao futuro cristianismo nasceu sem cantos de anjos, magos vindos do Oriente para adorá-lo, manjedoura e sem ser perseguido por Herodes. Não nasceu em 24 de dezembro, pelo simples fato de que em nenhum dos textos evangélicos se fala dessa data. Foi escolhida pela Igreja mais tarde porque os cristãos queriam comemorar a festividade de seu nascimento.

Foi decidido que era em 24 de dezembro porque era a grande festa de Roma, a festa ao deus Sol. A Igreja batizou como cristã a grande festividade pagã dos romanos.

Outro dos argumentos dos biblistas para defender que Jesus nasceu em Nazaré se refere ao fato de que os judeus eram chamados pelo nome do pai e pelo lugar de nascimento. Jesus deveria ser chamado de Jesus de José e Jesus de Belém, algo que não aparece em nenhum texto bíblico. Neles, em todos, é chamado simplesmente de Jesus de Nazaré.

Uma coisa é certa: ninguém sabe o que Jesus fez até os 30 anos, que é quando aparece em público. Ultimamente alguns defenderam que Jesus era analfabeto. Nada mais falso. Em todo caso, o mistério está em saber como conhecia tanto após viver até então fechado no pequeno povoado da Galileia trabalhando como carpinteiro e pedreiro.

De fato, aos 30 anos Jesus se mostra capaz de discutir com os doutores da lei, conhecia os textos sagrados do judaísmo, várias culturas como a grega e a dos gnósticos e outras religiões como o budismo.

Jesus era culto e até intelectuais como Nicodemos iam se encontrar com ele de noite, às escondidas, para discutir questões filosóficas como a da metamorfose indispensável para poder dar um salto quântico do frio culto à lei para a liberdade de espírito do novo Reino por ele anunciado.

Nascem assim as hipóteses de que em vez de ter ficado em Nazaré teria viajado ao Egito e até à Índia durante sua juventude. Conhecia bem a cultura grega. Quando os apóstolos lhe apresentam um grupo de gregos que queria conhecê-lo, usa com eles uma fina ironia. Sabendo que para eles a beleza corporal era fundamental e critério de poder, Jesus lhes conta a parábola da semente, que se não apodrecer na terra e não for coberta de esterco, não nascerá e não dará frutos. O oposto aos critérios puros da estética da beleza grega.

Jesus era casado? Poucos teólogos e especialistas em questões bíblicas, tanto católicos como protestantes, duvidam disso atualmente. Era prática inconcebível a um judeu de seu tempo não ter família e descendência já que o judaísmo era transmitido de mãe para filho.

Esse motivo era tão forte que na Bíblia, aos patriarcas cujas esposas eram estéreis, Deus pedia que se deitassem com uma das escravas para dar-lhes descendência. Foi o caso, por exemplo, de Abraão casado com Sara que não podia procriar.

Jesus foi casado sem dúvida com Madalena que não era, como a Igreja afirmou durante séculos, uma prostituta e diabólica

Com quem era casado? Sem dúvida com Madalena, que não era, como a Igreja afirmou durante séculos, uma prostituta e diabólica. Muito provavelmente era uma conhecedora da doutrina gnóstica, como aparece em alguns evangelhos da seita. Jesus confiava a ela seus maiores segredos, algo que causava ciúmes em Pedro: “Por que a ela e não a nós?”, se pergunta em um dos evangelhos gnósticos.

Se ela não fosse sua mulher não teria sido a ela a quem apareceu no dia da ressurreição, antes mesmo que a sua mãe. Pedro ficou perplexo se perguntando por que não teria aparecido a eles, seus discípulos, já que além disso as mulheres não eram importantes e confiáveis naquele tempo. Nem mesmo como testemunha a um juiz.

Esse fato sempre foi a grande dor de cabeça de Tomás de Aquino, doutor da Igreja, que morreu sem entender por que Jesus não apareceu a Pedro primeiro, que era o chefe do grupo de apóstolos, e o fez a uma mulher.

Então, se Jesus não nasceu em Belém em 24 de dezembro vale a pena comemorar o Natal? Sim, porque essa lenda leva em suas entranhas a vontade do ser humano de parar uma vez por ano para comemorar a vida, para apostar na paz, um parêntese ao perdão e à aceitação dos outros, principalmente dos diferentes.

Não foi por ser diferente, por não se dobrar ao poder tirano e injusto, por predicar o perdão, abençoar prostitutas e perversos e tocar leprosos que Pilatos mandou pregá-lo ainda jovem em uma cruz? Onde e quando nasceu é o que menos importa.

Meu amigo Jorge Perelló me escreve para me desejar Feliz Natal, que diz “existir somente aos rejeitados”, e acrescenta: “o resto é lenda, história e até superstição”.

É verdade, mas nesse caso todos nós cabemos no Natal, já que de uma maneira ou de outra todos somos de algum modo rejeitados por alguém, pobres de algo, solitários, exilados, às vezes de nós mesmos e ao mesmo tempo procuramos essa paz que o mundo rejeita porque é mais fácil matar e mandar matar do que amar e perdoar.

Por isso, apesar de tudo, Feliz Natal!

Fonte: https://brasil.elpais.com

Frei Carlos Mesters, O. Carm

Os doze apóstolos e as outras pessoas, homens e mulheres, que seguiam a Jesus não eram santas nem perfeitas. Eram pessoas comuns, como todos nós. Tinham suas virtudes e seus defeitos. Os evangelhos informam muito pouco sobre o jeito e o caráter de cada um e cada uma. Mas o pouco que informam é motivo de consolo para nós. Eis o que se pode afirmar a respeito de algumas destas pessoas chamadas por Jesus:

Pedro:

Era uma pessoa generosa e entusiasta (Mc 14,29.31; Mt 14,28-29), mas na hora do perigo e da decisão, o seu coração encolhia e ele voltava atrás (Mt 14,30; Mc 14,66-72).

Tiago e João:

Estavam dispostos a sofrer com Jesus (Mc 10,39), mas eram muito violentos (Lc 9,54). Jesus os chamou “filhos do trovão” (Mc 3,17).

Filipe:

Tinha jeito de colocar os outros em contato com Jesus (Jo 1,45-46), mas não era prá­tico em resolver os problemas (Jo 6,5-7; 12,20-22). Jesus chegou a perder a paciência com ele: “Mas Filipe, tanto tempo que estou com vocês, e você ainda não me conhece?” (Jo 14,8-9)

André:

Era uma pessoa muito prática. Foi ele que encontrou o menino com cinco pães e dois peixes (Jo 6,8-9). É a ele que Filipe se dirige para resolver o caso dos gregos que queriam ver a Jesus (Jo 12,20-22), e é André que chama Pedro para encontrar-se com Jesus (Jo 1,40-43).

Tomé

Era cabeçudo, capaz de sustentar a sua opinião, uma semana inteira, contra o testemunho de todos os outros (Jo 20,24-25). Mas era humilde. Quando viu que estava errado, não teve medo de reconhecer sua falta (Jo 20,26-28).

Natanael:

Era bairrista e não podia admitir que algo de bom viesse de Nazaré (Jo 1,46). Este Natanael aparece só no evangelho de João. Alguns o identificam com o Bartolomeu que aparece na lista do evangelho de Marcos (Mc 3,18).

Mateus

Era um publicano, pessoa excluída pela religião dos judeus (Mt 9,9). Sabemos pouco da vida dele. No evangelho de Marcos e de Lucas ele é chamado Levi (Mc 2,14; Lc 5,27). O nome Ma­teus significa Dom de Deus. Os excluídos são um "mateus" (dom de Deus), para a comunidade.

Simão:

Era um zelote (Mc 3,18). Dele só sabemos o nome e o apelido. Ele era zelote, isto é, fazia parte do movimento popular da época. (Veja página 4 de "Jesus frente à realidade do seu povo").

Judas

Guardava o dinheiro do grupo (Jo 12,6; 13,29). Tornou-se o traidor de Jesus (Jo 13,26-27). O nome completo era Judas Iscariot (Mc 3,19; Mt 10,4). Alguns acham que ele era de Kariot, um lugarejo que ficava na Judéia. Judas seria o único judeu num grupo de onze galileus. Setenta anos depois da traição, no fim do primeiro século, o autor do evangelho de João ainda tem raiva de Judas e o chama de "ladrão" (Jo 12,4-6).

Nicodemos

Era membro do Sinédrio, isto é, do Supremo Tribunal da época. Homem importante. Ele aceita a mensagem de Jesus, mas não tem coragem de manifestá-lo publicamente (Jo 3,1).

Joana e Susana

Era a esposa de Cusa, procurador de Herodes, que governava a Galileia. Junto com Susana e outras mulheres, ela seguia a Jesus e o servia com seus bens (Lc 8,2-3).

Maria Madalena

Era nascida da cidade de Magdala. Daí o nome Maria Ma(g)dalena. Jesus a curou de sete demô­nios (Lc 8,2). Ela foi uma das maiores amigas de Jesus e o seguiu até ao pé da Cruz (Mc 15,40). Depois da páscoa, foi ela que recebeu de Jesus a ordenação de anunciar aos outros a Boa Nova da Ressurreição (Jo 20,17; Mt 28,10).

E muitas outras e outros....

A maior parte dos que seguem Jesus para formar comunidade com ele eram pessoas simples, sem muita instrução (At 4,13; Jo 7,15). Entre eles havia homens e mulheres, pais e mães de família (Lc 8,2-3; Mc 15,40s). Alguns eram pescadores (Mc 1,16.19). Outros, artesãos e agricultores. Mateus era publicano (Mt 9,9). Simão, do movimento popular zelote (Mc 3,18). É possível que alguns tenham sido do grupo dos revoltosos, pois carregavam armas e tinham atitudes muito violentas (Mt 26,51; Lc 9,54; 22,49-51). Outros ainda tinham sido curados por Jesus de doenças ou libertados de algum mau espírito (Lc 8,2).

  1. Havia também alguns mais ricos: Joana (Lc 8,3), Nicodemos (Jo 3,1-2), José de Arimatéia (Jo 19,38), Zaqueu (Lc 19,5-10) e outros. Estes sentiram na carne o que quer dizer romper com o sistema e aderir a Jesus. Nicodemos, ao defender Jesus no tribunal, foi vaiado (Jo 7,50-52). José de Arimatéia, ao pedir o corpo de Jesus, correu o risco de ser acusado como inimigo dos romanos e dos judeus (Mc 15,42-45; Lc 23,50-52). Zaqueu devolveu quatro vezes o que roubou e deu a metade de seus bens aos pobres (Lc 19,8). Todos eles, tanto os pobres como os poucos ricos, podiam dizer com Pedro: "Nós deixamos tudo e te seguimos!" (Mt 19,27). Todos eles tiveram que fazer a "mudança de vida", a "conversão" que Jesus pedia (Mc 1,15).
  2. Jesus passou uma noite inteira em oração antes de fazer a escolha definitiva dos doze apóstolos (Lc 6,12-16). Rezou para saber a quem escolher. E escolheu as pessoas cujos retratos, conserva­dos nos evangelhos, acabamos de olhar. É com este grupo que Jesus começou a maior revolução da história do Ocidente! Não escolheu a elite, não escolheu gente formada e estudada, de altas qualidades. Escolheu pessoas que se sentiam atraídas pela mensagem de vida que ele trazia. Tem esperança para nós da família carmelitana!

O senhor João da Silva acordou de manhã e sentiu um chamado: “Deus me quer como o seu ministro”. Apresentou-se ao vigário e disse: “Sinto vontade de ser ministro da Palavra!”

O vigário respondeu: “Muito bem, senhor João. Não há nada em contrário, pois temos necessidade de pessoas dispostas assim como o senhor. Mas o senhor sabe ler?”

João respondeu: “Eu não, senhor Padre, mas minha mulher sabe!”

O Padre perguntou: “E o senhor sabe escrever?”. E João respondeu: “Eu mesmo não sei não, senhor. Mas tenho uma sobrinha que escreve bem e tem caligrafia boa!”

João já estava ficando meio nervoso, pois não estava sabendo aonde o vigário queria chegar com essas perguntas tão fora do ministério da Palavra. Mas a sorte dele foi que a pergunta seguinte calhou direitinho no que ele esperava: “Senhor João, você sabe alguma coisa da Bíblia”. Respondeu sem pestanejar com alegria no coração: “Senhor, vigário, conheço esse livro de cabo a rabo!”

Aí o vigário perguntou: “E qual a parte da Bíblia de que você mais gosta?” Respondeu: “Do Novo Testamento, é claro!”

O vigário perguntou: “E qual a parte do Novo Testamento de que você mais gosta?” E João respondeu com uma voz cheia de emoção: “Do livro das Parábolas! Sem dúvida nenhuma!”

Aí, o vigário perguntou: “E o que é que você sabe desse livro das parábola?” João respondeu: “Tudo! Conheço esse livro de cor e salteado”

O vigário disse: “Então me faça a leitura de um trecho desse livro das Parábolas”. Aí o João começou:

 “Certa vez, havia um homem no caminho de Jerusalém para Jericó. Ele caiu no meio de ladrões. Aí, os cornos cresceram e investiram contra aquele homem. Mas nesse momento veio até ele a Rainha de Sabá e deu para ele cem mudas de roupa fina e mil moedas de ouro puro. De alegria, ele pulou num carro de fogo e arrancou com tanto força e velocidade que, ao passar por baixo de um enorme carvalho, seu cabelo ficou preso num daqueles galhos e ele ficou aí suspenso no ar. Mas os corvos trouxeram comida para ele comer e água para beber. Enquanto ele estava aí suspenso no galho do carvalho, veio uma mulher chamada Dalila que cortou os cabelos dele e ele caiu no chão cheio de pedras e espinhos que o sufocaram. Aí começou a chover, e choveu durante quarenta dias e quarenta noites, tanto assim que ele entrou dentro de uma gruta. Quando saiu daquela gruta, encontrou um homem que disse para ele: “Por que você não vem jantar na minha casa?” Mas ele respondeu: “Eu não posso, porque me casei com uma mulher. Queira desculpar-me! Aí ele foi pelas estradas, atalhos e esquinas e obrigava o pessoal a jantar com ele. Quando, no fim, estava voltando para Jerusalém, ele olhou para o céu para louvar as maravilhas de Deus e o que é que ele vê? Nada mais nada menos que a Rainha Jezabel, sentada na janela, olhando para ele. Ela estava rindo dele. Aí ele disse: “Jogue essa mulher para baixo, sete vezes!” E eles a jogaram para baixo, sete vezes. Ele gostou tanto do que estava vendo, que disse ao pessoal: “Jogue mais!” Eles a jogaram para baixo, setenta vezes sete, e juntando os pedaços encheram doze cestos. Assim meus amigos, eu pergunto a vocês: “No dia do juízo final, de qual deles ela vai ser a mulher?

Moral da história:

“Um curso bíblico dado pela metade pode ser perigoso!”

Monsenhor Guido Marini, Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, em entrevista ao jornal italiano “Avvenire”, ao ser indagado sobre o Tempo do Natal, chama a atenção para o modo mais profundo de viver todos os tempos litúrgicos: “é bom lembrar que o que torna a liturgia ‘grande’ não é a invenção contínua de algo novo de nossa parte, indivíduos ou comunidades. O verdadeiro ‘novo’ que renova a vida é o mistério de Cristo, celebrado e reapresentado na liturgia. Acima de tudo, precisamos de uma participação cada vez mais viva, real, existencial. Novos e renovados no coração e na vida, devemos ser nós mesmos, pela graça de Cristo. Acrescentei: a repetitividade do ato litúrgico, em sua objetividade, é uma graça muito especial porque nos lembra da fidelidade de Deus à sua promessa de amor e nos permite, ao longo do tempo, uma adesão cada vez maior à vida divina que é doado”.

Sentido

O Tempo do Natal é o prolongamento da solenidade celebrada nos dias 24 e 25 de dezembro, estendendo-se à Festa do Batismo do Senhor. Este é um dos 4 tempos solenes da igreja, juntamente com o Advento, a Quaresma e a Páscoa. Forma, com o Advento, o Ciclo do Natal, que compreende a preparação, a solenidade e o prolongamento do mistério da Encarnação do Senhor.

É um tempo análogo ao Tempo Pascal, como são Advento e Quaresma, pois ecoam parte do mistério pascal do Senhor, compreendido pela Encarnação, Nascimento, Manifestação, Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão.

Inicia-se nas primeiras vésperas do dia 24 de dezembro e seu término ocorre na Festa do Batismo do Senhor, no segundo ou terceiro domingo do ano novo. Neste ano litúrgico, o Tempo do Natal termina no dia 10 de janeiro de 2016.

As festas

Dom Henrique Soares da Costa, bispo de Palmares (PE), descreve as cinco festas contidas no Tempo litúrgico do Natal.

A Solenidade do Natal do Senhor, no dia 25 de dezembro. Na pobreza da gruta de Belém contemplaremos como frágil criança Aquele que é o Forte e eterno Deus: “Porque um Menino nos nasceu, um filho nos foi dado, Ele recebeu o poder sobre os Seus ombros e Lhe foi dado este Nome: Conselheiro-maravilhoso, Deus-forte, Pai-eterno, Príncipe-da-Paz” (Is 9,5). Neste Dia santíssimo (que é celebrado durante oito dias) a Igreja dobra os joelhos diante do Salvador, juntamente com Maria, José e os pastores; a Igreja canta o “Glória a Deus nas alturas” juntamente com os anjos, a Igreja ilumina-se de alegria como o céu da noite santa de Belém.

No Domingo entre os dias 25 e 1º de janeiro a Igreja celebra a Festa da Sagrada Família. O Filho de Deus assumiu em tudo a nossa condição humana: entrou numa família, na vida miudinha de cada dia; Ele veio verdadeiramente viver a nossa aventura. Assim, santificou as famílias de modo especial: “Desceu com eles para Nazaré e era-lhes submisso” (Lc 2,51).

Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus, no dia 1º de janeiro, Oitava do Natal. “(Os pastores) foram, então, às pressas, e encontraram Maria, José e o Recém-nascido deitado na manjedoura” (Lc 2,16). A Igreja contempla o Menino que nasceu em Belém e Nele reconhece o Deus eterno e perfeito, reclinado no colo de Maria. Por isso chama-a Mãe de Deus, quer dizer, Mãe do Filho de Deus feito homem! Dando este título à Virgem a Igreja, desde suas origens, professa sua fé na divindade de Jesus. Primeiro de Janeiro é uma das grandes festas marianas.

Solenidade da Epifania do Senhor, no Domingo entre 2 e 8 de janeiro. É a festa chamada Festa de Reis. Mas, é bem mais que isso: a palavra “epifania” significa “manifestação”. Os magos, vindos dos povos pagãos, representam toda a humanidade que vem adorar o Salvador e reconhecê-Lo como a luz para iluminar as nações. Deus manifesta a Sua salvação a todos os povos: “O Senhor fez conhecer Sua salvação, revelou Sua justiça aos olhos das nações. Os confins da terra contemplaram a Salvação do nosso Deus” (Sl 97,2.3).

A Festa do Batismo do Senhor, no Domingo após a Epifania. Com ela termina o tempo do Natal. O Pai apresenta o Seu Filho: “Este é o Meu Filho amado, em Quem Eu Me comprazo!” (Mt 3,17). Com esta festa encerra-se o ciclo de festas da Manifestação do Senhor. A Igreja, mais uma vez, renova sua certeza e vive essa graça, experimenta-a e anuncia ao mundo: “O Verbo Se fez carne e habitou entre nós e nós vimos a Sua glória!” (Jo 1,14). Fonte: http://www.cnbb.org.br

Nas remotas montanhas de Gheralta, na Etiópia, um padre da Igreja Ortodoxa Copta enfrenta diariamente uma jornada perigosíssima.

Ele precisa escalar uma montanha para chegar à igreja que administra, encravada no topo de um penhasco. “Não tenho medo. É muito difícil, mas é possível”, diz Haylesilassie Kahsay. A igreja fica à beira de um precipício de 250 metros - teria sido construída pelo santo Abuna Yemata por volta do século 6, ou seja, tem mais de mil anos de idade.

“Eu acordo bem cedo de manhã. E trabalho em casa até às 6h, enquanto meu almoço é preparado”, conta o padre. Ele passa a maior parte do tempo na montanha, estudando livros antigos. "É bem silencioso aqui e não há ninguém com quem conversar.”

A subida até a igreja inclui um trecho vertical de dez metros, que Haylesilassie escala sem sapatos ou cordas. Por séculos, os padres que administram essa igreja na montanha foram enterrados lá mesmo. Nenhum deles morreu durante a escalada.

"Ninguém caiu até agora graças à proteção dos nove santos. Os santos que moram nessas montanhas os acompanharam os padres pelo caminho”, diz Haylesilassie. O "expediente" do padre termina por volta de 18h, quando ele fecha os livros, tranca a porta da igreja e percorre de volta as duas horas de caminhada pela montanha.

“No pôr do sol, eu tranco a igreja e sigo para casa.” Fonte: https://www.bbc.com

Por 18 anos, ele ministrou comunhões, escutou confissões, celebrou casamentos e batizados. Mas a Igreja Católica na Espanha acaba de divulgar que o colombiano Miguel Ángel Ibarra praticava o sacerdócio sem ter sido ordenado padre.

Ele atuava desde outubro de 2017 como pároco na cidade de Medina Sidonia, na província de Cádis, no sul da Espanha. De acordo com o Bispado de Cádis e Ceuta, Ibarra foi para a Espanha graças a um acordo assinado com o Arcebispo da Arquidiocese de Santa Fé de Antioquia, na Colômbia, a que ele estava vinculado anteriormente.

E foi justamente de lá que vieram as pistas que acabaram por desmascará-lo, segundo a Igreja Católica. Ibarra atuou durante anos como pároco em várias dioceses da Colômbia.

Houve uma denúncia contra ele e, após uma investigação, a Arquidiocese colombiana descobriu que os documentos que credenciavam seu sacerdócio haviam sido falsificados - e que, na verdade, ele nunca havia sido ordenado.

Após ser notificada da farsa, a diocese de Cádis e Ceuta determinou que Ibarra fosse destituído de suas funções. "O suposto sacerdote terá que responder, nos próximos dias, à Arquidiocese de Santa Fé de Antioquia, onde é procurado", diz o comunicado.

Mas o que vai acontecer com os casamentos e demais sacramentos que Ibarra ministrou por quase 20 anos? De acordo com as autoridades eclesiásticas, os casamentos e batismos continuarão válidos, mas o mesmo não se aplica às comunhões ou confissões que ele ouviu.

"A diocese de Cádis e Ceuta já está trabalhando na respectiva investigação e na reparação das consequências que a atuação desta pessoa pode ter acarretado", indica o texto. Ao jornal espanhol El País o homem acusado de ser um falso padre afirmou ter documentos que comprovam sua experiência no sacerdócio, mas não quis dar mais explicações sobre as acusações que pesam contra ele. O paradeiro de Miguel Ángel Ibarra é desconhecido.

Esta não é a primeira vez que um indivíduo é acusado de fingir ser sacerdote. Em 2008, um homem que não havia sido ordenado padre foi desmascarado ouvindo confissões na Basílica de São Pedro, no Vaticano.

Ele se vestia como um sacerdote, mas quando as autoridades italianas checaram sua documentação, descobriram que ele era um impostor. Fonte: https://www.bbc.com

Frei Carlos Mesters, O. Carm

1) Oração

Apressai-vos, e não tardeis, Senhor Jesus, para que a vossa chegada renove as forças dos que confiam em vosso amor. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

2) Leitura do Evangelho  (Lucas 1, 67-79)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Lucas - Naquele tempo, 67Zacarias, o pai de João, ficou cheio do Espírito Santo e profetizou, nestes termos: 68Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e resgatou o seu povo, 69e suscitou-nos um poderoso Salvador, na casa de Davi, seu servo 70(como havia anunciado, desde os primeiros tempos, mediante os seus santos profetas), 71para nos livrar dos nossos inimigos e das mãos de todos os que nos odeiam. 72Assim exerce a sua misericórdia com nossos pais, e se recorda de sua santa aliança, 73segundo o juramento que fez a nosso pai Abraão: de nos conceder que, sem temor, 74libertados de mãos inimigas, possamos servi-lo 75em santidade e justiça, em sua presença, todos os dias da nossa vida. 76E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque precederás o Senhor e lhe prepararás o caminho, 77para dar ao seu povo conhecer a salvação, pelo perdão dos pecados. 78Graças à ternura e misericórdia de nosso Deus, que nos vai trazer do alto a visita do Sol nascente, 79que há de iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte e dirigir os nossos passos no caminho da paz.

3) Reflexão

*  O Cântico de Zacarias é um dos muitos cânticos e refrões das comunidades dos primeiros cristãos, que até hoje estão espalhados pelos escritos do Novo Testamento: nos evangelhos (Lc 1,46-55; Lc 2,14; 2,29-32), nas cartas paulinas (1Cor 13,1-13; Ef 1,3-14; 2,14-18; Filp 2,6-11; Col 1,15-20) e no Apocalipse (1,7; 4,8; 11,17-18; 12,10-12; 15,3-4; 18,1 até 19,8). Estes cânticos nos dão uma idéia de como eram a vivência da fé e a liturgia semanal naqueles primeiros tempos. Eles deixam entrever uma liturgia que era, ao mesmo tempo, celebração do mistério, profissão de fé, animação da esperança e catequese.

*  Aqui no Cântico de Zacarias, os membros daquelas primeiras comunidades, quase todos judeus, cantam a alegria de terem sido visitados pela bondade de Deus que, em Jesus, veio realizar as promessas. O Cântico tem uma estrutura bonita, bem elaborada. Parece uma lenta subida que leva os fiéis até o alto da montanha, de onde observam o caminho percorrido desde Abraão (Lc 1,68-73), experimentam o começo da realização das promessas (Lc 1,74-75) e de onde olham para frente prevendo o caminho a ser percorrido pelo menino João até o nascimento de Jesus, o Sol da justiça, que virá preparar para todos o caminho da Paz (Lc 76-79).

*  Zacarias começa louvando a Deus por Ele ter visitado e redimido o seu povo (Lc 1,68) e ter realizado uma salvação poderosa na casa de Davi seu servo (Lc 1,69) conforme havia prometido pelos profetas (Lc 1,70). E ele descreve em que consiste esta salvação poderosa: na “libertação dos nossos inimigos e de todos que nos têm ódio” (Lc 1,71). Esta salvação é o resultado, não do esforço nosso, mas sim da bondade misericordiosa do pró­prio Deus que se lembrou da sua aliança sagrada e do juramento que tinha feito a Abraão, nosso pai (Lc 1,72). Deus é fiel. Este é o fundamento da nossa segurança.

*  Em seguida, Zacarias descreve em que consiste o juramento de Deus a Abraão: é a esperança de “que, libertos dos inimigos, possamos viver sem medo, em santidade e justiça na presença de Deus, todos os dias da nossa vida”. Este era o grande desejo do povo daquele tempo e continua sendo o grande desejo de todos os povos de todos os tempos: viver em paz, sem medo, servindo a Deus e ao próximo, em santidade e justiça, todos os dias da nossa vida. Este é o alto da montanha, o ponto de chegada, que apareceu no horizonte com o nascimento de João (Lc 1,73-75).

*  Agora, a atenção do cântico se dirige para João, o menino que acabou de nascer. Ele será o profeta do Altíssimo, pois irá à frente do Senhor para preparar-lhe o caminho e anunciar ao povo o conhecimento da salvação pelo perdão dos pecados (Lc 1,76-77). Aqui temos uma alusão clara à profecia messiânica de Jeremias que dizia: “Ninguém mais precisará ensinar seu próximo ou seu irmão, dizendo: "Procure conhecer a Javé". Porque todos, grandes e pequenos, me conhecerão, oráculo de Javé, pois vou perdoar suas culpas e não me lembrarei mais de seus pecados” (Jer 31,34). Na Bíblia, “conhecer” é sinônimo de “experimentar”. É o perdão e a reconciliação que nos fazem experimentar a presença de Deus.

*  Tudo isso será fruto da ação misericordiosa do coração do nosso Deus e se realizará plenamente com a vinda de Jesus, o sol que virá do alto para iluminar todos que estão nas trevas e na sombra da morte e guiar nossos passos no caminho da Paz (Lc 1,78-79).

4) Para um confronto pessoal

1) Às vezes é bom ler o cântico como se fosse pela primeira vez para poder descobrir nele toda a novidade da Boa Nova de Deus.

2) Você já experimentei alguma vez a bondade de Deus? Você já experimentou alguma vez o perdão de Deus?

5) Oração final

Vou cantar para sempre a bondade do Senhor; anunciarei com minha boca sua fidelidade de geração em geração. Pois disseste: “Minha bondade está de pé para sempre. (Sal 88, 2-3)

Louco por samba e pelo Cacique de Ramos, Padre Omar Raposo, de 39 anos, organiza todo ano o Cordão de São José, bloco de sua igreja. E, no próximo carnaval, planeja estreia na Sapucaí como puxador da Unidos da Tijuca. Reitor do Santuário Cristo Redentor do Corcovado há mais de 10 anos, ele é pároco da Igreja de São José, na Lagoa, coordenador de eventos da Arquidiocese do Rio e presta consultoria para a TV Globo sobre religião. Letrado, fez os mais diversos cursos: de logística na Escola Superior de Guerra — onde foi aluno do futuro ministro da educação, Ricardo Vélez — até reciclagem em música sacra, em Roma. “O segredo para dar conta de tudo é oração e organização”, diz. Entre uma celebração de 10 anos de casamento na capela do Corcovado e a missa de fim de ano para o Sistema S, Padre Omar conversou com a coluna sobre o espírito natalino, o turbulento ano de 2018 e a importância de enxergarmos uns aos outros para um 2019 melhor.

Da onde veio sua vocação? 

Durante a visita do Papa João Paulo II ao Rio, em 1997, dei de cara com ele no papamóvel, no Aterro. Fui profundamente tocado. Fiquei no seminário até 2004, onde estudei filosofia, teologia, música e aprofundei os ensinamentos em torno da vocação que florescia. Aos 25 anos, fui para minha primeira paróquia, no Complexo do Alemão.

Como foi essa experiência? 

Muito marcante. Nunca tinha entrado numa comunidade antes. No início, fiquei assustado, o cenário é angustiante. Mas ouvi minha mãe dizer: “Seja sempre você, na enxada ou na embaixada. Estabeleça uma relação de amor com as pessoas e será sempre feliz”. Depois disso, fiquei nove anos na Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, e estou desde agosto de 2015 na São José da Lagoa.

Da onde vem a paixão pelo samba?

Sempre gostei de música. Antes de ser padre, estudei no Conservatório Brasileiro de Música. Tive uma formação mais erudita, mas depois de entrar para a Igreja percebi que era importante popularizar a música e fui para o samba. Sou um carioca raiz, do carnaval. Gosto demais do Cacique de Ramos.

Não é contraditório um pároco numa festa profana?

Os padres gostam de carnaval, tinham medo de frequentar, mas hoje vão. Trabalho com turismo e vejo como é nítido o impacto do carnaval no Cristo Redentor.

O que faz nas horas livres? 

Vou ao jogo do Fluminense. Adoro o Maracanã, fico na torcida, a galera gosta. Nasci em 1979 e logo depois veio a geração da máquina tricolor. Durante a infância, cresceu a paixão. A galera atribui dois milagres, de quando estávamos prestes a ser rebaixados, às missas que fiz no Cristo, com os jogadores e tudo. Para ser santo, só falta o terceiro milagre.

Para onde canaliza a energia sexual que não é gasta? 

Aprendi uma coisa que se chama sublimação, é algo que ajuda muito, além do excessivo trabalho que me consome.

Já recebeu nudes? 

Nudes, não! O padre Fábio de Melo deve receber. Comigo é mais tranquilo (risos). 

Como dá conta de tanta coisa?

O segredo é oração e organização. Os cursos de mediação de conflito ajudam também.

O que planeja para esta noite? 

Uma ceia para os refugiados de Angola, Congo, Venezuela e Colômbia que são atendidos pela paróquia. E também para pessoas solidárias e solitárias. Quem quiser, é só chegar.

Após um ano turbulento, como sobrevive o espírito de Natal?

Temos que redescobrir o sentido da família. Não vai ser a partir da mudança de governo que as coisas vão melhorar. Mas de toda uma mentalidade que antecede a opção partidária ou política. Natal é uma festa cristã da renovação. Temos que entrar na lógica da festa e redescobrir esses valores.

Como foi a sua visita ao Bolsonaro no hospital? 

Estava com o padre Jorjão visitando outra família, e os parentes do Bolsonaro solicitaram nossa ida. Já estávamos lá, e padre não pode negar benção a ninguém. Não chego e pergunto para o doente se ele é de direita ou de esquerda. Essa é a missão que Jesus deixou. Sou padre 24 horas por dia.

Condena o uso político da religião?

Entrar em briguinha partidária é burrice até porque tem católico em todos os partidos. Haddad disse que era católico, Amoêdo é, Bolsonaro também. Não é a opção religiosa de um político que o torna competente. Quando político religioso entra no conflito, forma o preconceito. Mistura a maluquice da política com a intolerância religiosa. Isso me preocupa no Brasil. Somos cidadãos. A Igreja Católica pode não pagar IPTU, mas o religioso paga imposto. Ou deveria. Não é porque é religioso que é santo, tem muito oportunista usando a fé para se dar bem.

E o caso João de Deus? 

Tenho que falar sobre isso? Deixa a Igreja se pronunciar antes. Está todo mundo perplexo. Vamos rezar, porque uma história como essa cria um descompasso na energia.

Como vê os casos de abuso sexual dentro da Igreja? Tem que ser tolerância zero! O Papa Francisco é um homem corajoso, admirável. Está entrando bem nesse tema. Tem que entrar mesmo.

Como está o caixa do Cristo Redentor? 

Precisamos de R$ 5 milhões, mas até setembro só tínhamos R$ 2 milhões. Suei muito. Mal dá para lavar as roupas da capela. Foi o ano mais difícil desde que estou no Cristo. Com as Olimpíadas e a Copa, cheguei até a dispensar patrocínio. Agora tem a crise e, para piorar, o aumento da violência. As multinacionais perderam interesse pelo garoto propaganda da cidade. 

Ano que vem será melhor?

Estou confiante. Mas as pessoas precisam mesmo mudar a mentalidade, não esquecer dos pobres, dos que estão sofrendo. Não é só doar, mas se engajar como voluntário. Se for esperar a Mega-Sena para ajudar, não vai ser nunca. Chega de conflito também, 2019 é o ano de dialogar e trabalhar, se não fizermos isso, não vamos terminar bem mais um ano. Há uma máxima de São Bento: ora et labora. Reza e trabalha. Só isso! Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com

DO ADVENTO PARA O NATAL... Missa no Carmo da Lapa, Rio de Janeiro. Dia 24, segunda-feira às 18h. Frei Adailson. Dia 25 às 10h, Frei Petrônio- AO VIVO- Esperamos Vc!