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Religiosos de distintas denominações vão apoiar o processo de formalização da nova sigla
Gustavo Schmitt
SÃO PAULO — Com pouco menos de quatro meses para ser criado a tempo das eleições municipais de 2020, o Aliança pelo Brasil, futuro partido do presidente Jair Bolsonaro, encontrou forte apoio de lideranças evangélicas na tarefa de coletar as 491 mil assinaturas exigidas para lançar a legenda. Do presidente da Confederação dos Conselhos de Pastores do Brasil (Concepab), bispo Robson Rodovalho, ao presidente da Frente Parlamentar Evangélica, Silas Câmara (Republicanos-AM), religiosos de distintas denominações estão dispostos a apoiar o processo de formalização da nova sigla. Segundo informou a colunista Bela Megale, os bolsonaristas apostam também no apoio dos militares para a coleta das assinaturas.
Ao GLOBO, Rodovalho disse que o presidente Bolsonaro “merece essa ajuda”. Líder da Sara Nossa Terra, denominação com 2 milhões de fiéis em 1,2 mil templos no país, o bispo informou já ter sido procurado por um mensageiro do partido, e que uma das estratégias será atrair apoio durante os grandes eventos da igreja.
Na Sara Nossa Terra, as maiores aglomerações de fiéis acontecem em janeiro e fevereiro, incluindo o chamado “carnaval evangélico”, evento com shows de música gospel que reúne milhares de participantes.
— Vou ajudar. Estou à disposição. A visão que o presidente (Bolsonaro) tem pelo Brasil merece esse gesto de apoiamento — afirmou Rodovalho, que recebeu O GLOBO em sua igreja em São Paulo, na última segunda-feira.
O Aliança pelo Brasil anunciou, no último domingo no Twitter, que começará nesta semana a coleta de assinaturas para sua fundação. O desafio é justamente o prazo curto no calendário: a sigla precisa de todas as assinaturas até 4 de abril do ano que vem para ter o registro homologado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e assim lançar candidatos aos cargos de prefeito e vereador.
Ex-deputado e com experiência de coleta de assinaturas para criação de partidos como PL e PRB, Rodovalho disse que considera melhor atuar em grandes eventos. Nos cultos, o público é menor, avalia. No entanto, o bispo destaca que as assinaturas não seriam coletadas dentro da igreja ou dos eventos, mas que não teria problema se fosse na porta.
— Nas igrejas, os cultos são rápidos e o ajuntamento de pessoas não é tão numeroso, com exceção de templos muito grandes. Mas, como precisa de muitas assinaturas para validar, penso que os eventos, que duram alguns dias, seriam mais proveitosos — explicou.
Outras conversas
Rodovalho disse que conversou com outras lideranças que também se colocaram à disposição para ajudar:
— Conversei com alguns líderes que se disponibilizaram. Não são muitos, mas não encontrei ninguém reticente. Eu acredito que a Assembleia de Deus, do pastor Silas Câmara (deputado federal do Amazonas pelo Republicanos), também faria com bom coração.
Silas Câmara diz que, se convocado para ajudar na criação do Aliança, vai trabalhar a favor da coleta. Irmão do pastor Samuel Câmara, que dirige a igreja Assembleia de Deus de Belém, Silas afirmou que não vê problemas em auxiliar na coleta de assinaturas, e que vê boa vontade das lideranças de diferentes igrejas em ajudar o presidente.
— Não vejo nenhum problema. Eu ajudarei, se for convocado. Se precisar, eu ajudo com alegria — disse Silas Câmara, ressaltando que apoiará “como deputado federal”.
Samuel Câmara, por sua vez, também se disse disposto a ajudar Bolsonaro na criação do partido, mas deixou claro que os evangélicos “jamais perfilarão em um só partido”. Com tom menos efusivo, Samuel diz que qualquer gesto não significará apoio incondicional ao governo ou ao presidente.
— A igreja é também um grupo social que tem vontade política. E, no quebra-cabeça de hoje, as pessoas que gostam do Bolsonaro vão acompanhar isso. E elas estão dentro da nossa igreja. Então, não criaríamos dificuldade. Mas não faria disso uma bandeira (política). Fonte: https://oglobo.globo.com
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Estudo relaciona pela primeira vez economia e fé, com seus impactos na política
Crises econômicas têm impulsionado a expansão da população evangélica no Brasil, com reflexos sobre a balança política, pois esse movimento favorece a eleição de candidatos ligados a essa fé.
Essa é a conclusão de um estudo dos economistas Francisco Costa, Angelo Marcantonio e Rudi Rocha, que, pela primeira vez, aferiu o impacto da abertura comercial dos anos 1990 em diferentes regiões do país sobre as preferências religiosas da população.
A hipótese dos autores é que os brasileiros adversamente atingidos por crises se tornam mais suscetíveis à forte retórica religiosa de cura dos problemas pela fé apresentada pelas religiões evangélicas.
Daí a escolha de incluir o “Pare de sofrer”, lema da Igreja Universal do Reino de Deus, já no título do artigo em inglês (“Stop Suffering! Economic Downturns and Pentecostal Upsurge”), que está sendo avaliado para publicação em um periódico estrangeiro.
Simulação feita pelos autores a pedido da Folha indica que problemas como o aumento do desemprego e a queda da renda nas áreas afetadas pelo choque econômico explicam um crescimento de cerca de 10% no número de adeptos a denominações como as pentecostais e neopentecostais, entre 1991 e 2000. Isso representou a adição de 1,3 milhão novos evangélicos apenas naquela década.
Os pesquisadores conseguiram mensurar a queda salarial explicada apenas pelo choque da abertura comercial ao comparar o que ocorreu com a renda e o desemprego em diferentes regiões do país, descontando o impacto de fatores como educação, gênero e idade entre 1991 e 2000.
A partir da conta, calcularam o quanto a redução de rendimento afetava a expansão da população evangélica.
Sua conclusão foi que, para cada 1% de queda esperada da renda, a adesão ao pentecostalismo cresceu 0,8%, nos anos 1990. Em termos estatísticos, é um efeito significativo.
A pesquisa mostra ainda que parte dos evangélicos convertidos pela crise é dissidente do catolicismo, que, embora ainda seja a religião dominante no Brasil, vem encolhendo.
Segundo o trabalho, o impacto religioso da abertura comercial nas regiões que perderam —pelo menos, temporariamente— competitividade não se circunscreveu aos anos subsequentes à primeira metade da década 1990, quando a tarifa média de importação caiu quase 60%.
Os resultados indicam que o fenômeno de adesão ao pentecostalismo persistiu na década seguinte, ainda que em ritmo mais lento.
Eles revelam ainda que o movimento de conversão foi acompanhado por uma mudança de preferência eleitoral que favoreceu políticos associados às religiões evangélicas.
Ao contrário do ritmo de conversão de novos adeptos associada ao choque de tarifas —que, embora tenha persistido, perdeu fôlego—, o impulso à eleição de candidatos pentecostais continuou ganhando força.
Segundo os autores, cada 1% de queda provável na renda associada à abertura comercial resultou em um aumento de 2% na parcela dos votos recebidos por esses políticos no longo prazo. “O efeito de aumento da população evangélica continuou entre 2000 e 2010, embora menos robusto. Mas, na política, ele vem aumentando. Parece um fenômeno que ganhou vida própria, após um choque”, diz Rocha, que é professor da FGV Eaesp (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas).
Em uma terceira linha de investigação, a pesquisa revela que a escolha de políticos ligados ao pentecostalismo tem levado a um aumento da proposição de leis relacionadas a temas caros a essas religiões, como oposição ao aborto e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Para Costa, que é professor da FGV EPGE (Escola de Economia e Finanças da FGV), as conclusões relacionadas à esfera política chamam a atenção para um risco sobre o qual o país precisa refletir:
“Mesmo em estados democráticos laicos, como o Brasil, esses choques econômicos abrem espaço para o florescimento de grupos religiosos partidários que podem levar ao retrocesso de valores democráticos que possibilitaram sua ascensão”.
Para os dois economistas, é possível inferir que outros eventos recessivos das últimas décadas no Brasil tenham contribuído tanto para alimentar o contínuo crescimento da população evangélica quanto para alavancar sua representação política.
“O que descobrimos ao fazer essa pesquisa parece bater muito com o voto recente no [presidente Jair] Bolsonaro”, diz Rocha.
O capitão reformado foi eleito em 2018 com forte apoio da bancada evangélica, em um período em que o Brasil vivia uma lenta recuperação econômica após uma das recessões mais severas da história.
A percepção de que a necessidade de apoio espiritual e atenção individual aumenta em momentos de crise pode estar contribuindo para a criação de novas igrejas.
Foi o que motivou Gilson Alves, por exemplo, a criar a Igreja Apostólica Livres para Adorar, de orientação neopentecostal, no bairro do Capão Redondo, em São Paulo, há quatro anos. “Vi que era mais fácil acolher as pessoas em um ministério pequeno”, diz.
Antes disso, Alves —conhecido como bispo Gilson— foi ligado às denominações Paz e
Além dos 40 frequentadores assíduos, os cultos no salão instalado no primeiro andar de sua própria casa recebem outros visitantes ocasionais, como um casal de venezuelanos refugiados que esteve na igreja recentemente.
“Somos procurados por pessoas com problemas como alcoolismo, drogas e dificuldades financeiras”, afirma bispo Gilson, que, além de administrar a igreja, cuida dos três filhos pequenos, enquanto sua mulher trabalha como empregada doméstica.
RELIGIÃO AVANÇA NO MUNDO POR OFERECER UMA REDE DE PROTEÇÃO
O fenômeno de expansão de religiões evangélicas não é exclusividade do Brasil. Pesquisas mostram que essa é uma das denominações cristãs que mais crescem no mundo.
No país, ministérios como o fundado por bispo Gilson fazem parte de uma terceira onda de renovação do movimento evangélico, iniciada nos anos 1970. Rocha, Costa e Marcantonio ressaltam que essas igrejas se destacam por sua interpretação mais literal dos textos sagrados.
Segundo especialistas, a rede de apoio criada pelos evangélicos e a abordagem feita nos cultos sobre os problemas do dia a dia ajudam a explicar a atração de novos adeptos em crises econômicas.
“Faz muito sentido [a conclusão do estudo]. Os brasileiros de posições mais conservadoras se sentem muito isolados nos centros urbanos. Os evangélicos são uma exceção porque têm a igreja”, diz Breno Barlach, gerente de projetos da consultoria Plano CDE.
Segundo ele, que coordenou um estudo feito neste ano sobre o perfil dos conservadores brasileiros, os templos se tornaram tanto um espaço de convivência como de troca.
“É ali que o pequeno empreendedor constrói sua rede de contatos, que a mulher, deslocada do mercado de trabalho, se torna vendedora”, afirma.
A participação nessa rede —que os estudiosos do tema chamam de clube— exige uma contrapartida elevada dos participantes. “Você não pode se dizer evangélico se não frequenta assiduamente os cultos”, diz Barlach.
Mas, como ressalta Costa, da FGV, o custo de oportunidade dessa escolha despenca durante crises econômicas.
“A queda da renda reduz a capacidade de consumo mundano e torna o consumo etéreo oferecido pela religião mais atraente”, diz.
Para o economista Rodrigo Soares, professor da Universidade Columbia, uma questão suscitada pelo estudo é o papel de outros atores em crises econômicas. “Por algum motivo, as igrejas evangélicas parecem ter exercido um papel que nem o Estado nem a Igreja Católica conseguiram.”
Outro caminho para mais investigações apontado pela pesquisa é a relação entre a expansão da população evangélica e o aumento do voto em políticos associados à religião, segundo o economista Claudio Ferraz, professor da Universidade British Columbia.
Assim como Soares, Ferraz leu o estudo de Rocha, Costa e Marcantonio. Para ele, a pesquisa comprova, de forma sólida, a relação entre a desaceleração da abertura e a conversão ao pentecostalismo.
“A dificuldade vem em saber se um aumento de eleitores pentecostais atraiu políticos ou se políticos e a mídia que dominam têm um efeito de persuasão que aumenta a fatia de pentecostais”, diz.
IMPACTO DA ECONOMIA SOBRE CONVERSÃO PODE PERSISTIR NO LONGO PRAZO
Desde os anos 1990, o pentecostalismo tem um crescimento significativo no Brasil. Só naquela década, a população evangélica dobrou, de 13,2 milhões para 26,2 milhões.
Como mostra a estimativa feita pelos autores do estudo, parte desse aumento pode ser atribuída às consequências do choque comercial em regiões prejudicadas pela abertura.
Resta identificar outras causas da expansão. Não há dados recentes do Censo sobre preferências religiosas, mas dados do Datafolha indicam que a fatia de evangélicos na população brasileira continuou crescendo. Depois de atingir 22,9% em 2010, voltou a pular, para cerca de 31%, em 2019.
Embora Rocha e Costa acreditem que as dificuldades econômicas recorrentes do país tenham continuado a impulsionar a procura por igrejas pentecostais, o estudo não incluiu uma análise da dinâmica evangélica nos anos recentes.
Para medir a alta no número de adeptos ao pentecostalismo, os autores analisaram os dados até 2010. O impacto político foi mensurado até 2014.
A escolha da abertura econômica como pano de fundo da investigação é explicada pela possibilidade de analisar o impacto de desacelerações da atividade em varáveis diversas. Como diferentes regiões dentro de um país se especializam em ramos de atividade distintos, os efeitos de uma liberalização comercial variam bastante.
Há desde áreas pouco afetadas, como cidades litorâneas do Nordeste onde o turismo é forte, a outras muito atingidas, como municípios da região metropolitana de São Paulo especializados na produção de roupas e equipamentos eletrônicos, cujas tarifas de importação despencaram nos anos 1990.
Os efeitos heterogêneos têm servido como uma espécie de laboratório para economistas.
Um trabalho de Rafael Dix-Carneiro, da Universidade Duke, e Brian Kovak, da Universidade Carnegie Mellon, mostrou, por exemplo, que os efeitos negativos da abertura nas regiões que se tornaram mais expostas à competição externa foram persistentes.
Segundo o estudo, a distância de salários e crescimento no emprego entre as áreas afetadas positiva e negativamente pela liberalização aumentou durante 20 anos no Brasil após o choque comercial da década de 1990.
Dix-Carneiro ressalta que o trabalho não conclui se o balanço da abertura para o país como um todo foi positivo ou negativo. “Ele mostra que choques comerciais têm efeitos disruptivos no mercado de trabalho, que evoluem de forma lenta e duradoura”, afirma.
Soares —que é coautor com Dix-Carneiro e Gabriel Ulyssea de outro trabalho, que identifica um aumento da criminalidade em regiões negativamente afetadas pela abertura comercial no Brasil— ressalta que a metodologia desses estudos permite a descoberta de consequências de crises econômicas de difícil mensuração em outros contextos.
Uma área de interesse crescente, que pode ser relacionada à pesquisa de Costa, Rocha e Marcantonio, é a relação entre o impacto da globalização em diferentes regiões dos países e a expansão do conservadorismo. O tema está no centro das discussões de eventos como o brexit (saída do Reino Unido da União Europeia), que pode ocorrer em breve após a ampla vitória parlamentar do primeiro-ministro Boris Johnson na semana passada.
Segundo os três pesquisadores brasileiros, seu trabalho é o primeiro a mostrar uma relação de causa e consequência entre uma crise econômica e o entrincheiramento de grupos políticos em democracias modernas e pode contribuir para o debate sobre o tema tanto no Brasil quanto no exterior. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
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Os Evangelhos que a Bíblia católica nos oferece são uma fonte de sabedoria. Basta ter a coragem de lê-los sem preconceitos, sem artifícios de sacerdotes e pastores
Entre os muitos mistérios contidos nos Evangelhos cristãos e suas ainda muitas perguntas sem respostas, acredita-se que pôde ter existido um Evangelho secreto de Marcos, anterior ao que hoje conhecemos como um dos quatro Evangelhos canônicos e considerado o mais antigo. E até mesmo um Evangelho erótico.
“Quanto à possibilidade de que tenha existido um Evangelho secreto de Marcos, há por exemplo uma passagem muito concreta que difere claramente do Marcos oficial. Um texto que criou muitos problemas, pois houve algumas seitas, como os carpocracianos, que o interpretaram em chave homossexual ou erótica. Por isso deve ter desaparecido da versão posterior, que é a oficial atualmente. O texto diz: “E chegaram a Betânia. Havia ali uma mulher cujo irmão tinha morrido. Aproximando-se de Jesus, ajoelhou-se e lhe disse: ‘Filho de David, tem misericórdia de mim”, mas os discípulos a afastaram, e Jesus, "enfurecido, saiu com ela para o jardim, onde estava o monumento, e logo depois ouviu-se um grito procedente dali.” Jesus se aproximou e removeu a pedra da entrada do monumento. Em seguida, entrando no local onde estava o jovem, estendeu sua mão e o ressuscitou. “Levantando os olhos, o jovem o amou e começou a lhe pedir que o deixasse ficar com ele. E, ao sair do monumento, eles entraram na casa do jovem, que era rico. Passados seis dias, Jesus lhe disse o que tinha que fazer e, durante a noite, o jovem veio até ele, usando um vestido de linho sobre seu corpo nu. E ficou com ele naquela noite, pois Jesus lhe mostrou o mistério do reino de Deus.”
A ideia que estudiosos da Bíblia, como John Dominic Crossan, têm sobre essa passagem é que esta versão figurava no Marcos secreto, sendo depois censurada. Acredita-se que poderia ser um texto usado durante o ritual nudista do batismo, razão pela qual alguns fiéis teriam lhe dado uma interpretação de tipo erótica. Por isso, teria sido excluído da versão oficial. Mas há quem pense que, mais do que ser eliminado, esse texto foi diluído em diversas partes no texto oficial de Marcos. Por exemplo, restos daquele texto estariam no curioso episódio de Marcos que conta que, no momento em que foram deter Jesus no Jardim das Oliveiras, “todos o abandonaram e fugiram” e que “um jovem, envolto em um lençol sobre o corpo nu”, seguia Jesus e, após tê-lo alcançado, “largando o lençol, fugiu nu”. E depois, levantando-se, se voltou à margem do Jordão.
Crossan afirma que, nos tempos de Clemente de Alexandria, chegaram a existir três versões do Evangelho de Marcos: o secreto, o canônico e o erótico, e que o Marcos secreto deve ter exercido um papel muito importante na liturgia do batismo, pois, do contrário, simplesmente o teriam destruído. Por outro lado, Jesus não batizava, embora tenha sido batizado por João Batista, e o batismo nudista não tinha por que ser visto de forma homossexual como fizeram algumas seitas dissidentes.
Tudo isso, explicam os especialistas bíblicos, revela a importância que muitos Evangelhos considerados apócrifos teriam tido se não tivessem sido censurados e inclusive eliminados muitas vezes só porque podiam ferir a sensibilidade dos legalistas e dos alérgicos a qualquer tipo de sexualidade.
Hoje não se descarta que Jesus, se for verdade que não se casou —coisa cada vez mais difícil de provar, considerando a cultura daquele tempo, em que era inconcebível que um homem não se casasse e tivesse uma família—, pode ter sido homossexual, como, por sinal, aparece na sátira produzida pelo Porta dos Fundos, um produto humorístico que não deveria escandalizar ninguém. Chegou-se a supor que o companheiro de Jesus fosse o jovem discípulo João, um dos poucos dos quais não se fala que tenha formado uma família.
A questão do possível casamento de Jesus com Madalena, que não era a prostituta que a Igreja afirmou durante anos, e sim uma mulher de alta formação intelectual, do movimento gnóstico, do qual existe um Evangelho escrito por ela entre os manuscritos encontrados no Alto Egito, é outro dos temas sobre os quais a Igreja prefere fechar os olhos.
Há quem tenha visto, por exemplo, na passagem da crucificação, onde se conta que foi Madalena, e não sua mãe ou os apóstolos, por exemplo, a primeira pessoa à qual Jesus apareceu após ser ressuscitado, a demonstração de que ela era sua mulher. Até mesmo São Tomás de Aquino, doutor da Igreja, atormentava-se pensando por que Jesus não tinha aparecido primeiro aos apóstolos e o havia feito a uma mulher, já que, além disso, naquele tempo o testemunho de uma mulher não tinha valor nem durante um julgamento. Não se acreditava na palavra da mulher.
Jesus, que já havia quebrado todos os preconceitos burgueses e culturais para pregar a força da liberdade do espírito, quis naquele momento fundamental, como foi a passagem da morte à vida, deixar o registro, ainda que de maneira metafórica, de que ele não aceitava preconceitos sociais. E que se para ele não existia diferença entre judeus e gentios, entre justos e pecadores, tampouco existia entre homem e mulher. Foi para outra mulher, a Samaritana, perto de um poço, que revelou que chegaria o dia em que os filhos de Deus não precisariam disputar templos e catedrais para a adoração de Deus; renderiam culto em seu próprio coração e na liberdade de espírito.
Os Evangelhos que a Bíblia católica nos oferece são uma fonte de sabedoria antiga e moderna ao mesmo tempo. Apesar de terem sido censurados, a maioria dos outros Evangelhos existentes nos primeiros anos e séculos do cristianismo constituem ainda hoje não só uma importante fonte literária, mas libertadora de tabus. Basta ter a coragem de lê-los sem preconceitos, sem artifícios de sacerdotes e pastores. Esses textos possuem uma grande força espiritual e humana. E nos convocam a nos libertarmos de preconceitos e imposições externas castradoras da cultura. Querer domesticá-los e usá-los para acorrentar consciências seria o maior pecado, para o qual Jesus dizia que não havia perdão. Fonte: https://brasil.elpais.com
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Os cristãos emergem na escrita de Nixey como um bando de talibãs fanáticos
Luiz Felipe Pondé
A violência é a parteira da história. Essa ideia era comum entre intelectuais de esquerda no século 20. Hoje, a ideia é politicamente incorreta. A esquerda se fez vegana. A expressão Revolução Cultural chinesa era objeto de orgasmo para gente chique como Sartre e Beauvoir: a via maoísta.
A Revolução Cultural chinesa nos anos 1960 foi um massacre. Uso a expressão revolução cultural cristã aqui como analogia com a Revolução Cultural chinesa.
O cristianismo teve sua revolução cultural principalmente entre os séculos 4º e 6º d.C., após a conversão do imperador Constantino (272 d.C. - 337 d.C.). Foi violenta, sangrenta, boçal e eficaz, como a chinesa. Mas, enquanto pega bem louvar a chinesa, é chique, nos jantares inteligentes, xingar a cristã.
É justamente a revolução cultural cristã que a jornalista britânica Catherine Nixey narra no seu excelente livro “A Chegada das Trevas: Como os Cristãos Destruíram o Mundo Clássico” (pela editora portuguesa Desassossego).
A rigor não há nada de novo no que ele narra, para quem conhece um pouco do traçado, mas o livro tem inúmeros méritos: conciso, elegante, bom aparelho crítico com relação às fontes, oferecendo uma bela síntese do modo como muitos cristãos, entre eles os famosos monges do deserto, chamados por ela de “fedorentos”, destruíram templos, estátuas, pergaminhos (livros) e fontes essenciais do que era a cultura clássica.
Esses cristãos emergem na escrita de Nixey como um bando de talibãs fanáticos e bem distantes da ideia que se tem desses heróis do paliocristianismo. Nomes como João Crisóstomo, Santo Agostinho e Basílio Magno saem bem chamuscados depois das passagens em que ficam claras suas reservas para com a
cultura clássica.
Nixey reconhece que muito foi salvo graças a cristãos cultos, mas, como ela mesma repete, muito, muito, muito mais foi destruído graças às taras da maioria dos idiotas da fé. Filha de pais cristãos, Nixey está longe dos tiques nervosos do anticlericalismo típico de quem conhece pouco do cristianismo em geral.
O mundo clássico era belo, rico, produtivo e com tendências que chamaríamos, anacronicamente, de tolerante, em oposição ao cristianismo, que, com sua marca monoteísta e proselitista, varreu o mundo greco-romano com a sanha do Deus único.
Mas Nixey não é nenhuma idealista do mundo clássico. Por exemplo, sua descrição dos banhos romanos, objeto de ódio dos cristãos “puritanos”, não deixa dúvida: eram imundos, fedorentos, promíscuos. Sua água fedia e a chance de você pegar todo tipo de doença era enorme.
Todavia, a revolução cultural cristã, como a chinesa, devastou a herança clássica. Teríamos mais tesouros, além de Platão, Aristóteles, Sófocles, Marco Aurélio, Sêneca, entre outros, se esses malucos fanáticos não tivessem se posto a destruir as fontes. No que tange à beleza dos templos greco-romanos, a devastação foi monstruosa.
Um dos pontos mais fortes do livro está no desmonte da ideia de que os oficiais romanos eram, na sua maioria, uns tarados pelo sangue inocente cristão.
A análise dos autos em que oficiais romanos tentavam salvar cristãos fanáticos do martírio é excelente. Muito distante da falsa imagem que parte da história oficial do cristianismo e o cinema construíram, a maioria dos oficiais romanos era gente razoável que estava muito longe de querer “rolo” com um bando de fanáticos.
E aqui, vem, a meu ver, o coração da tese da autora. Descrevendo um desses oficiais romanos encarregados de lidar com a sanha fanática dos mártires malucos, Nixey diz algo assim: “Como membro da elite romana, e de toda elite, era um homem bem educado o bastante para não crer na religião, qualquer que fosse ela, mas, também, era bem formado o bastante para não desdenhar de nenhuma delas”.
Aqui reside toda a diferença de uma verdadeira atitude culta em relação às religiões: se, por um lado, a adesão a elas revela uma certa pobreza de espírito, o desprezo para com elas, revela uma certa pobreza de alma. Desdenhar das religiões é um atestado de fraqueza intelectual.
*Escritor e ensaísta, autor de “Dez Mandamentos” e “Marketing Existencial”. É doutor em filosofia pela USP.
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1) Oração
Inclinai, ó Deus, o vosso ouvido de Pai À voz da nossa súplica, E iluminar as trevas do nosso coração com a visita do vosso Filho. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 21, 23-27)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus - Naquele tempo, 23Dirigiu-se Jesus ao templo. E, enquanto ensinava, os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo aproximaram-se e perguntaram-lhe: Com que direito fazes isso? Quem te deu esta autoridade? 24Respondeu-lhes Jesus: Eu vos proporei também uma questão. Se responderdes, eu vos direi com que direito o faço. 25Donde procedia o batismo de João: do céu ou dos homens? Ora, eles raciocinavam entre si: Se respondermos: Do céu, ele nos dirá: Por que não crestes nele? 26E se dissermos: Dos homens, é de temer-se a multidão, porque todo o mundo considera João como profeta. 27Responderam a Jesus: Não sabemos. Pois eu tampouco vos digo, retorquiu Jesus, com que direito faço estas coisas.
3) Reflexão
O evangelho de hoje descreve o conflito que Jesus teve com as autoridades religiosas da época depois que expulsou os vendedores do Templo. Os sacerdotes e anciãos do povo queriam saber com que autoridade Jesus fazia as coisas a ponto de entrar no Templo e expulsar os vendedores (cf. Mt 21,12-13). As autoridades se consideravam os donos de tudo e achavam que ninguém podia fazer nada sem a licença delas. Por isso, perseguiam a Jesus e procuravam mata-lo. Algo semelhante estava acontecendo nas comunidades cristãs dos anos setenta-oitenta, época em que foi escrito o evangelho de Mateus. Os que resistiam às autoridades do império eram perseguidos. Havia outros que, para não serem perseguidos, tentavam conciliar o projeto de Jesus com o projeto do império romano (cf. Gal 6,12). A descrição do conflito de Jesus com as autoridades do seu tempo era uma ajuda para os cristãos continuarem firmes nas perseguições e não se deixarem manipular pela ideologia do império. Também hoje, alguns que exercem o poder, tanto na sociedade como na igreja e na família, querem controlar tudo como se fossem eles os donos de todos os aspectos da vida do povo. Às vezes, chegam até a perseguir os que pensam diferente. Com estes pensamentos e problemas na cabeça, vamos ler e meditar o evangelho de hoje.
Mateus 21,23: A pergunta das autoridades religiosas a Jesus
“Jesus voltou ao Templo. Enquanto ensinava, os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo se aproximaram, e perguntaram: Com que autoridade fazes tais coisas? Quem foi que te deu essa autoridade?" Jesus circula, novamente, na enorme praça do Templo. Logo aparecem alguns sacerdotes e anciãos para interrogá-lo. Depois de tudo que Jesus já tinha feito, na véspera, eles querem saber com que autoridade ele faz as coisas. Eles não perguntam pela verdade nem pelo motivo que levou Jesus a expulsar os vendedores (cf. Mt 21,12-13). Perguntam apenas pela autoridade. Eles acham que Jesus deve prestar conta a eles. Pensam ter o direito de controlar tudo. Não querem perder o controle das coisas.
Mateus 21,24-25ª: A pergunta de Jesus às autoridades
Jesus não se nega a responder, mas mostra a sua independência e liberdade e diz: "Eu também vou fazer uma pergunta para vocês. Se responderem, eu também direi a vocês com que autoridade faço isso. De onde era o batismo de João? Do céu ou dos homens?". Pergunta inteligente, simples como a pomba e esperta como a serpente! (cf. Mt 10,16). A pergunta vai revelar a falta de honestidade dos adversários. Para Jesus, o batismo de João era do céu, vinha de Deus. Ele mesmo tinha sido batizado por João (Mt 3,13-17). Os homens do poder, ao contrário, tinham tramado a morte de João (Mt 14,3-12). Mostraram, assim, que não aceitavam a mensagem de João e que consideravam o batismo dele como coisa dos homens e não de Deus.
Mateus 21,25b-26 : Raciocínio das autoridades
Os sacerdotes e os anciãos perceberam o alcance da pergunta e raciocinavam entre si da seguinte maneira: "Se respondemos que vinha do céu, ele vai dizer: Então, por que vocês não acreditaram em João? Se respondemos que vinha dos homens, temos medo da multidão, pois todos consideram João como um profeta”. Por isso, para não se expor, responderam: “Não sabemos!” Resposta oportunista, fingida e interesseira. O único interesse deles era não perder a sua liderança junto do povo. Dentro deles mesmos, já tinham decidido tudo: Jesus devia ser condenado e morto (Mt 12,14).
Mateus 21,27: Conclusão final de Jesus
E Jesus disse a eles: Pois eu também não vou dizer a vocês com que autoridade faço essas coisas". Por causa da sua total falta de honestidade, eles não merecem resposta de Jesus.
4) Para um confronto pessoal
1-Alguma vez, você já se sentiu controlado ou observado, indevidamente, pelas autoridades, em casa, no trabalho, na igreja? Qual foi a sua reação?
2-Todos e todas temos alguma autoridade. Mesmo numa simples conversa entre duas pessoas, cada uma exerce algum poder, alguma autoridade. Como uso o poder, como exerço a autoridade: para servir e libertar ou para dominar e controlar?
5) Oração final
Mostra-me, SENHOR, os teus caminhos, ensina-me tuas veredas. Faz-me caminhar na tua verdade e instrui-me, porque és o Deus que me salva, e em ti sempre esperei. (Sal 24, 4-5)
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— Senhor, temos um problema.
— O que se passa, Pedro?
— Já vistes o novo especial do Porta dos Fundos, na Netflix?
— A tua pergunta é se eu, Deus todo-poderoso, Senhor do Universo, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, vi um programa da Netflix? Já, sim. Subscrevi o serviço de streaming por causa do “Breaking Bad” e agora tenho visto tudo.
— Estais a ser irônico, Senhor?
— Claro, Pedro.
— Eu preferia quando Vos exprimíeis por meio de parábolas, Senhor. Com a ironia ainda é mais difícil entender o que Vós quereis dizer.
— Neste milênio estou a experimentar a ironia. Habitua-te.
— Bom, é o seguinte: um grupo de comediantes brasileiros fez um filme em que Vós sois gay.
— Oh! Como é possível? Estou tão ofendido!
— A sério, Senhor?
— Não. Presta atenção ao tom. A ironia depende muito do tom.
— Mas, Senhor, eles podem fazer isso? Será que podemos rir de tudo? Quais são os limites do humor?
— Essa questão interessa-me muito.
— Ironia?
— Bravo.
— Muita gente ficou ofendida, Senhor. Dom Henrique Soares, da Arquidiocese de Palmares, cancelou a sua assinatura da Netflix em homenagem a Vós.
— Que homenagem bonita. Sabe quando, na última ceia, eu peguei o pão e disse: “Tomai e comei todos. Fazei isto em memória de mim”? Devia ter acrescentado: “E cancelai serviços de streaming em memória de mim”, também.
— Essa eu percebi. É ironia. Mas Eduardo Bolsonaro também não gostou do filme.
— Quem é?
— É o filho do presidente do Brasil. Foi visitar o pai ao hospital com uma pistola no cinto.
— Ah, sim. Um homem que absorveu bem a minha mensagem de paz e de amor.
— Exato… Estais a ser irônico de novo?
— Claro.
— Estais imparável, Senhor. Ele disse: “Somos a favor da liberdade de expressão, mas vale a pena atacar a fé de 86% da população?”.
— Ah. Uma dessas pessoas que diz “somos a favor da liberdade de expressão, mas”. O “mas” é que interessa, Pedro. Eu gosto da minha liberdade de expressão sem “mas”. É liberdade de expressão sem “mas”, e café sem açúcar. Em ambos, não fica tão docinho, mas não estraga o verdadeiro sabor.
— Então não estais ofendido, Senhor? Não vale a pena lançar uma praga sobre o Brasil?
— Não. Até porque duvido que eles notariam. Fonte: www1.folha.uol.com.br
*Ricardo Araújo Pereira
Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.
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A liturgia deste domingo lembra a proximidade da intervenção libertadora de Deus e acende a esperança no coração dos crentes. Diz-nos: "não vos inquieteis; alegrai-vos, pois a libertação está a chegar".
A primeira leitura anuncia a chegada de Deus, para dar vida nova ao seu Povo, para o libertar e para o conduzir, num cenário de alegria e de festa, para a terra da liberdade.
O Evangelho descreve-nos, de forma bem sugestiva, a ação de Jesus, o Messias (esse mesmo que esperamos neste Advento): Ele irá dar vista aos cegos, fazer com que os coxos recuperem o movimento, curar os leprosos, fazer com que os surdos ouçam, ressuscitar os mortos, anunciar aos pobres que o "Reino" da justiça e da paz chegou. É este quadro de vida nova e de esperança que Jesus nos vai oferecer.
A segunda leitura convida-nos a não deixar que o desespero nos envolva enquanto esperamos e aguardarmos a vinda do Senhor com paciência e confiança.
LEITURA I (Is 35, 1-6a.10): ATUALIZAÇÃO
Para os otimistas, o nosso tempo é um tempo de grandes realizações, de grandes descobertas, em que se abre todo um mundo de possibilidades ao homem; para os pessimistas, o nosso tempo é um tempo de sobreaquecimento do planeta, de subida do nível do mar, de destruição da camada do ozono, de eliminação das florestas, de risco de holocausto nuclear... Para uns e para outros, é um tempo de desafios, de interpelações, de procura, de risco... Como é que nós nos relacionamos com este mundo? Vemo-lo com os olhos da esperança, ou com os óculos negros do desespero?
Os crentes não podem, contudo, esquecer que "Deus aí está": a sua intervenção faz com que o deserto se revista de vida e que na planície árida do desespero brote a flor da esperança. É com esta certeza da presença de Deus e com a convicção de que Ele não nos deixará abandonados nas mãos das forças da morte que somos convidados a caminhar pela vida e a enfrentar a história.
O Advento é o tempo em que se anuncia e espera a intervenção salvadora de Deus em favor do seu Povo. No entanto, Ele só virá se eu estiver disposto a acolhê-l'O; Ele só intervirá se eu estiver disposto a receber de braços abertos a proposta de libertação que Ele me vem fazer... Estou preparado para acolher o Senhor? Ele tem lugar na minha vida? A sua proposta libertadora encontrará eco no meu coração?
O profeta é o homem que rema contra a maré... Quando todos cruzam os braços e se afundam no desespero, o profeta é capaz de olhar para o futuro com os olhos de Deus e ver, para lá do horizonte do sol poente, um novo amanhã. Ele vai, então, gritar aos quatro ventos a esperança, fazer com que o desespero se transforme em alegria e que o imobilismo se transforme em luta empenhada por um mundo melhor. É este testemunho de esperança que procuramos dar?
EVANGELHO (Mt 11, 2-11): ATUALIZAÇÃO
O texto evangélico identifica Jesus com a presença salvadora e libertadora de Deus no meio dos homens. Neste tempo de espera, somos convidados a aguardar a sua chegada, com a certeza de que Deus não nos abandonou, mas continua a vir ao nosso encontro e a oferecer-nos a salvação.
Os "sinais" que Jesus realizou enquanto esteve entre nós têm de continuar a acontecer na história; agora, são os discípulos de Jesus que têm de continuar a sua missão e de perpetuar no mundo, em nome de Jesus, a ação libertadora de Deus.
Os que vivem amarrados ao desespero de uma doença incurável encontram em nós um sinal vivo do Cristo libertador que lhes traz a salvação?
Os "surdos", fechados num mundo sem comunicação e sem diálogo, encontram em nós a Palavra viva de Deus que os desperta para a comunhão e para o amor?
Os "cegos", encerrados nas trevas do egoísmo ou da violência, encontram em nós o desafio que Deus lhes apresenta de abrir os olhos à luz?
Os "coxos", impedidos de andar, encontram em nós a proximidade dos caminhos de Deus?
Os presos, privados da liberdade, escondidos atrás das grades em que a sociedade os encerra, encontram em nós a Boa Nova da liberdade?
Os "pobres", marginalizados, sem voz nem dignidade, sentem em nós o amor de Deus?
Mais uma vez, somos interpelados e questionados pela figura vertical e coerente de João... Ele não é um pregador da moda, cujas ideias variam conforme as flutuações da opinião pública ou os interesses dos poderosos; nem é um charlatão bem vestido, que prega para ganhar dinheiro, para defender os seus interesses, ou para ter uma vida cômoda e sem grandes exigências... Mas é um profeta, que recebeu de Deus uma missão e que procura cumpri-la, com fidelidade e sem medo.
A minha vida e o meu testemunho profético cumprem-se com a mesma verticalidade e honestidade, ou estou disposto e vender-me a interesses menos próprios, se isso me trouxer benefícios?
A "dúvida" de João acerca da messianidade de Jesus não é chocante, mas é sinal de uma profunda honestidade... Devemos ter mais medo daqueles que têm certezas inamovíveis, que estão absolutamente certos das suas verdades e dos seus dogmas, do que daqueles que procuram, honestamente, as respostas às questões que a vida todos os dias coloca.
Sou um fundamentalista, que nunca se engana e raramente tem dúvidas, ou alguém que sabe que não tem o monopólio da verdade, que ouve os irmãos, e que procura, com eles, descobrir o caminho verdadeiro?
*Leia a reflexão na íntegra. Clique no link ao lado- EVANGELHO DO DIA
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1) Oração
Concedei-nos, ó Deus todo-poderoso, que desponte em nossos corações o esplendor da vossa glória, para que, vencidas as trevas do pecado, a vinda do vosso Unigênito revele que somos filhos da luz. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 17, 10-13)
Ao descerem do monte, 10os discípulos perguntaram a Jesus: Por que dizem os escribas que Elias deve voltar primeiro? 11Jesus respondeu-lhes: Elias, de fato, deve voltar e restabelecer todas as coisas. 12Mas eu vos digo que Elias já veio, mas não o conheceram; antes, fizeram com ele quanto quiseram. Do mesmo modo farão sofrer o Filho do Homem. 13Os discípulos compreenderam, então, que ele lhes falava de João Batista. - Palavra da salvação.
3) Reflexão
Os discípulos acabaram de presenciar Moisés e Elias reverenciando Jesus na transfiguração sobre o Monte (Mt 17,3). Era crença geral do povo de que Elias devia voltar para preparar a vinda do Reino. Dizia o profeta Malaquias: “Vejam! Eu mandarei a vocês o profeta Elias, antes que venha o grandioso e terrível Dia de Javé. Ele há de fazer que o coração dos pais voltem para os filhos e o coração dos filhos para os pais; e assim, quando eu vier, não condenarei o país à destruição total. (Mal 3,23-24; cf. Eclo 48,10). Os discípulos querem saber: "O que significa o ensinamento dos doutores da Lei, quando dizem que Elias deve vir antes?" Pois Jesus, o messias, já estava aí, já tinha chegado, e Elias ainda não veio. Qual o valor desse ensinamento do retorno de Elias?
Jesus responde: “Elias já veio, e eles não o reconheceram. Fizeram com ele tudo o que quiseram. E o Filho do Homem será maltratado por eles do mesmo modo”. Então os discípulos compreenderam que Jesus falava de João Batista.
Naquela situação de dominação romana que desintegrava o clã e a convivência familiar, o povo esperava que Elias voltasse para reconstruir as comunidades: reconduzir o coração dos pais para os filhos e o coração dos filhos para os pais. Esta era a grande esperança do povo. Hoje, da mesma maneira, o sistema neoliberal do consumismo desintegra as famílias e promove a massificação que destrói a vida comunitária.
Reconstruir e refazer o tecido social e a convivência comunitária das família é perigoso, pois mina pela base o sistema de dominação. Por isso, João Batista foi morto. Ele tinha um projeto de reforma da convivência humana (cf. Lc 3,7-14). Ele realizava a missão de Elias (Lc 1,17). Por isso foi morto.
Jesus continua a mesma missão de João de reconstruir a vida em comunidade. Pois se Deus é Pai, somos todos irmãos e irmãs. Jesus reuniu os dois amores: amor a Deus e amor ao próximo e lhe deu visibilidade na nova maneira de conviver . Por isso, como João foi morto. Por isso, Jesus, o Filho do Homem será morto do mesmo jeito.
4) Para um confronto pessoal
1) Colocando-me na posição dos discípulos: a ideologia do consumismo tem poder sobre mim?
2) Colocando-me na posição de Jesus: tenho força para reagir e criar nova convivência humana?
5) Oração final
Que tua mão proteja teu escolhido, o homem que fortaleceste. De ti não nos separaremos mais, tu nos farás viver e invocaremos o teu nome. (Sl 79, 18-19)
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Hino de Santa Luzia
Divulgação: www.instagram.com/freipetronio
Convento do Carmo da Lapa, Rio de Janeiro.
13 de dezembro-2019, Festa de Santa Luzia.
Ó Santa Luzia,
Pedi a Jesus
Que sempre nos dê
Dos olhos a luz.
1-Aplaudamos todos
Com muita alegria
Os feitos heroicos
De Santa Luzia.
2-Siracusa, pátria
De tão grande Santa
Em que floresceu
Tão mimosa planta.
3-Melhor que Lucrécia
Melhor que Suzana
Soube defender-se
Das paixões humanas.
4-Eis a Virgem Sabia
Pura e vigilante
Une a fé as obras
Ama a Deus amante.
5-Odiou o corpo
Pra salvar a alma
E de Virgem Mártir
Traz nas mãos a palma.
6-Morreu e foi Santa
A Igreja o diz
Que Virgem ditosa!
Que Virgem feliz!
7-Desprezou o mundo
Gloria e vã riqueza
Hoje luz na glória
À celeste mesa.
8-Ó Santa Luzia
Vosso nome é luz
Vossa vida exemplo
Que a Jesus conduz.
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O Pe. Leonardi Giuseppe, dos Padres Cavanis- Direto de Veneza, Itália- fala sobre Santa Luzia- A Mártir. Convento do Carmo da Lapa, Rio de Janeiro. 13 de dezembro-2019. www.olharjronalistico.com.br Conheça os Padres Cavanis. Acesse: www.cavanis.org
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Em outro programa, de 2018, Cristo era um mau caráter beberrão e hétero, mas não caiu no radar de religiosos
Para o Natal do ano passado, o Porta dos Fundos lançou um especial na Netflix, "Se Beber Não Ceie", em que Jesus era um baita de um mau caráter beberrão —e um bem hétero, aliás, de casinho com Maria Madalena.
O programa não caiu no radar de religiosos. O alvoroço estava guardado para 2019: "A Primeira Tentação de Cristo", o filme preparado para este fim de ano pelo grupo humorístico, despertou uma fúria interreligiosa que pôs na mesma arca de evangélicos a muçulmanos.
A grita evangélica foi a primeira a ecoar. Portais do segmento estamparam manchetes como "não escondem mais seu ódio" (Gospel Mais) e "o vilipêndio à fé com a conivência da Netflix" (Pleno News).
A Igreja Universal do Reino de Deus destacou em seu site um artigo que questiona o média-metragem em que "o Senhor Jesus é retratado como um adolescente indeciso em relação à Sua missão na Terra, que usa drogas, tem um relacionamento homossexual com o diabo e acredita que Deus é seu tio".
Um Deus, ressalta o texto, "arrogante e debochado, que despreza José e tem um romance extraconjugal com Maria, retratada como promíscua e interesseira".
Deputados ligados a bancadas religiosas fustigaram a produção, e um abaixo-assinado no site Charge.org acumulava 1,2 milhão de assinaturas até a tarde de quinta (12). Pede "o impedimento do filme" por "ofender gravemente os cristãos".
O parlamentar Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que é batista, deu seu pitaco. "Somos a favor da liberdade de expressão, mas vale a pena atacar a fé de 86% da população?"
O deputado Marco Feliciano (sem partido-SP) também se mostrou indignado. "Essa questão do Porta dos Fundos já passou do limite do razoável. Qualquer estudante de primeiro ano de direito sabe que nenhum direito é absoluto, nem mesmo a vida. Prova disso é que a Constituição permite a pena de morte em tempos de guerra”, diz à reportagem.
Desde o começo de dezembro no ar, a obra coleciona manifestações de repúdio que não se restringem a evangélicos.
Numa rede social, dom Henrique Soares, à frente da Arquidiocese de Palmares (PE), contou que cancelou sua assinatura no serviço de streaming. “Tinha que desfazê-la! Era o mínimo que poderia fazer! Desfi-la e senti-me feliz, contente, como quem presta uma homenagem a Alguém muito amado!"
Tido em alta conta por fileiras conservadoras do catolicismo brasileiro, o bispo questionou como é que pode, "em pleno tempo de preparação para o Natal do Senhor", a Netflix dar "um bofetão no rosto de todos os cristãos" e "cuspir na nossa cara, zombando da nossa fé".
A Anaji (Associação Nacional dos Juristas Islâmicos), por meio de seu presidente, Girrad Mahmoud Sammour, engrossou a coalizão ecumênica contra Porta dos Fundos/Netflix.
Os juristas muçulmanos, que têm Jesus como profeta, afirmam que a Constituição brasileira "deixa bem claro a proteção e respeito ao Sagrado". Se a Carta garante a liberdade de expressão, impõe a ela um "caráter relativo". Se atropelar o "ordenamento jurídico" e fomentar "aversões ou agressões a grupos religiosos", já era.
Sammour defende que é preciso ser solidário "aos nossos irmãos cristãos", já que "Deus diz no alcorão para nos auxiliarmos na virtude e piedade e não no pecado e hostilidade".
"Todos os cidadãos de bem", portanto, estão convocados a denunciar os vídeos, "independente da religião, pois a liberdade deve ser para todos sem exceção, pois amanhã os injustiçados seremos nós".
"Je Vous Salue, Marie", do francês Jean-Luc Godard, e "A Vida de Brian", do Monty Python, são exemplos de produções que revoltaram cristãos em décadas passadas.
Em outros cantos do mundo, são muçulmanos que costumam protagonizar embates com grupos culturais. De tempos em tempos, ilustrações de Maomé acendem o pavio dessa polêmica.
Para boa parte dessa comunidade religiosa, a representação de seu profeta máximo é uma das maiores ofensas à sua fé, capaz de provocar um ultraje tão grande quanto, digamos, ativistas que introduziram estátuas de Nossa Senhora em suas vaginas num protesto na visita do papa ao Brasil em 2013.
Caso de um jornal dinamarquês que, em 2006, publicou uma série de charges com Maomé —que, numa delas, tem no lugar do turbante uma bomba.
Sátiras assim anabolizam um preconceito generalizado contra a religião, reclamam muçulmanos. Por vezes, bastam para atentados terroristas como o que matou, em 2015, 12 pessoas na redação do Charlie Hebdo, semanário francês conhecido por tirar sarro de políticos e líderes religiosos.
"Eles [cristãos] sentiram na pele o que um muçulmano passa diariamente, de generalização quando uma célula podre faz algo de errado, de desrespeito ao nosso profeta", afirma Sammour à reportagem.
O presidente da Anaji enquadrou a produção como um catalisador de ódio. Por que retratar Jesus como gay seria isso? Ele responde: "Não há nenhuma indicação de que ele tenha sido homossexual, seja na Torá, no Evangelho ou no Corão. Estão criando algo que não existe, colocando as pessoas umas contra as outras".
O desagravo dos juristas islâmicos aos cristãos integra-se às chamadas guerras culturais, uma batalha no campo moral que costuma opor pelotões conservadores que se sentem ameaçados pelo que veem como uma horda progressista desprovida de valores "família".
Serviu não só para dar liga a um front que uniu vários credos. Também deu corda para bicadas internas, como franjas católicas ultraconservadoras que indagaram por que a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) demorou tanto para se posicionar.
O Templário de Maria foi um desses grupos. Ao sublinhar o apoio dos muçulmanos, publicou em letras garrafais: "CNBB se mantém calada".
A entidade, por fim, falou. Na quinta (12), horas após ser procurada pela Folha, compartilhou uma nota assinada por seu presidente, dom Walmor Oliveira de Azevedo.
"Quando há desrespeito em produções midiáticas, os meios de comunicação tornam-se violentos, verdadeiras armas que contribuem para ridicularizar e matar os valores mais profundos de um povo", diz. "Não podemos nos deixar conduzir por atitudes de quem, utilizando a inteligência recebida de Deus, agride esse mesmo Deus."
Gregório Duvivier, que encarna Jesus no filme, evoca o britânico Mick Hume, autor de "Direito a Ofender". "Sim, esse conteúdo pode ser ofensivo. Mas ofensa é um critério totalmente subjetivo. Contrariamente à calúnia, o Estado não tem o direito de arbitrar sobre o que é por si só ofensivo porque isso não existe."
Continua Duvivier, que é também colunista da Folha: "O Velho Testamento, pra mim, é super ofensivo. Não pode tocar em mulher menstruada".
O humorista lembra que o próprio Porta é uma feijoada de crenças. "Rafael Portugal [José, no filme] é evangélico. Antonio Tabet [que faz Deus] é espírita. Evelyn Castro [Maria] é católica. Eu, ateu praticante."
O que Duvivier diz que não consegue entender é por que, em 2018, "Jesus era mau caráter e não teve protesto, e neste ano ele é gay e fazem um escândalo".
"Me entristece perceber que, pra muita gente, Jesus ser gay é uma ofensa, quando na verdade é uma característica", afirma
Fábio Porchat, que interpreta o paquera do filho de Deus. "Muita gente diz que Jesus é branco, e ele não era. Característica. Mas estamos evoluindo, e a homofobia já é crime."
Tabet também se manifestou à Folha: "Acredito que meu Deus de amor, onisciente, onipresente e onipotente, tenha prioridades maiores que se ofender com um grupo de comediantes brasileiros. Dito isso, seria previsível que homens oportunistas e vaidosos, que acham que falam em nome de Deus mesmo sem procuração, queiram mobilizar fieis menos esclarecidos em torno de campanhas de boicote ou censura".
"No mais, a Netflix é uma plataforma de streaming. Você escolhe o que quer ver", diz Duvivier. "Isso não faz sentido."
Procurada, a plataforma não quis se pronunciar. Segundo Porchat, remover "A Primeira Tentação de Cristo" do ar, como pedem os opositores religiosos, "não é uma coisa nem que passou pela cabeça do Porta dos Fundos".
A Netflix só confirma que a retirada não está em seus planos. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
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1) Oração
Ó Deus onipotente, dai ao vosso povo esperar vigilante a chegada do vosso Filho, para que, instruídos pelo próprio Salvador, corramos ao seu encontro como nossas lâmpadas acesas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 11, 16-19)
Naquele tempo disse Jesus: 16 “Com quem vou comparar esta geração? É parecida com crianças sentadas nas praças, gritando umas para as outras: 17 ‘Tocamos flauta para vós, e não dançastes. Entoamos cantos de luto e não chorastes!’ 18 Veio João, que não come nem bebe, e dizem: ‘Tem um demônio’. 19 Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: ‘É um comilão e beberrão, amigo de publicanos e de pecadores’. Mas a sabedoria foi reconhecida em virtude de suas obras”.conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”.
3) Reflexão
Os líderes, os sábios, não gostam quando alguém os critica ou questiona. Isto acontecia no tempo de Jesus e acontece hoje, tanto na sociedade, como na igreja. João Batista veio, criticou, e não foi aceito. Diziam:”tem o demônio!” Jesus veio, criticou e não foi aceito. Diziam: -“Beberão!”. –“Louco!” (Mc 3,21) -“Tem o diabo!” (Mc 3,22) -“É um samaritano!” (Jo 8,48) -“Não é de Deus!” (Jo 9,16). Hoje acontece o mesmo. Há pessoas que se agarram ao que sempre foi ensinado e não aceitam outra maneira de explicar e viver a fé. Logo inventam motivos e pretextos para não aderir: -“É marxismo!” -“É contra a Lei de Deus!” -“É desobediência à tradição e ao magistério!”
Jesus se queixa da falta de coerência do seu povo. Eles inventavam sempre algum pretexto para não aceitar a mensagem de Deus que Jesus lhes trazia. De fato, é relativamente fácil encontrar argumentos e pretextos para refutar os que pensam diferente de nós.
Jesus reage e mostra a incoerência deles. Eles se consideravam sábios, mas não passavam de crianças que querem divertir o povo na praça e que reclamam quando o povo não brinca conforme a música que eles tocam. Os que se diziam sábios não têm nada de realmente sábio. Apenas aceitavam o que combinava com as idéias deles. E assim eles mesmos pela sua atitude incoerente se condenavam a si mesmos.
4) Para um confronto pessoal
1) Até onde sou coerente com a minha fé?
2) Tenho consciência crítica com relação ao sistema social e eclesiástico que, muitas vezes, inventa motivos e pretextos para legitimar a situação e impedir qualquer mudança?
5) Oração final
Feliz quem não segue o conselho dos maus, não anda pelo caminho dos pecadores nem toma parte nas reuniões dos zombadores, mas na lei do Senhor encontra sua alegria e nela medita dia e noite. (Sl 1, 1-2)
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Evangélicos ligados a gangues criminosas vêm atacando membros de minorias religiosas
Terrence McCoy
THE WASHINGTON POST
Ele ouviu batidas fortes na porta. Estranho, pensou o sacerdote –ele não estava esperando ninguém. Marcos Figueiredo foi até a entrada do terreiro e abriu a porta. Armas. Três delas. Todas apontadas para ele.
O “Bonde de Jesus” havia chegado. Eram três membros de uma quadrilha de cristãos evangélicos extremistas que assumiu o controle do bairro pobre de Parque Paulista, em Duque de Caxias.
Primeiro a quadrilha montou barreiras nas ruas para impedir a entrada da polícia e criar um refúgio seguro para o tráfico a uma hora de carro do Rio de Janeiro. Agora, estava atacando qualquer pessoa cuja religião não se alinhasse com a sua. Isso incluía impor o fechamento de templos de religiões de matriz africana, como o terreiro de candomblé de Marcos Figueiredo.
“Ninguém aqui quer saber de macumba”, disse um dos agressores a Figueiredo, segundo o depoimento que ele deu às autoridades. “Você tem uma semana para acabar com isso daqui tudo.”
Eles foram embora dando tiros no ar e deixando Figueiredo com uma escolha impossível: sua fé ou sua vida.
É uma decisão que mais brasileiros estão sendo forçados a tomar. À medida que o cristianismo evangélico reconfigura o mapa espiritual do maior país da América Latina, atraindo dezenas de milhões de fiéis, conquistando poder político e ameaçando a hegemonia histórica da Igreja Católica, seus fiéis mais radicais, em muitos casos filiados a gangues criminosas, vêm atacando com frequência crescente membros de minorias religiosas não cristãs no Brasil.
Sacerdotes foram mortos. Crianças foram apedrejadas. Uma idosa foi gravemente ferida. Provocações e ameaças de morte são comuns. As quadrilhas hasteiam a bandeira de Israel, país visto por alguns evangélicos como necessário para assegurar o retorno de Cristo à terra.
Como a santeria e o vodu, o candomblé tem suas raízes nas crenças trazidas para a América Latina por escravos vindos da África ocidental. E está desaparecendo de comunidades inteiras.
“Alguns deles se dizem ‘traficantes de Jesus’, criando uma identidade singular”, disse Gilbert Stivanello, comandante da unidade de crimes de intolerância da polícia do Rio de Janeiro. “Eles portam armas e vendem drogas, mas se sentem no direito de proibir as religiões de matriz africana, dizendo que estão ligadas ao demônio.”
A violência crescente deixa os evangélicos tradicionais chocados. “Quando vejo esses terreiros, rezo contra eles, porque há uma influência demoníaca em ação ali”, comentou o missionário americano David Bledsoe, que vive no Brasil há duas décadas. “Mas eu condenaria esses atos.”
O Rio de Janeiro, que durante muito tempo abrigou um conjunto diverso de religiões afro-brasileiras, hoje também é o centro do neopentecostalismo brasileiro, uma vertente acirrada do movimento evangélico que é mais frequentemente vinculada à intolerância.
O prefeito do Rio, Marecelo Crivella (Republicanos) é bispo de uma igreja pentecostal. O Rio é a cidade do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), batizado no rio Jordão e conduzido ao cargo pelo voto pentecostal.
E foi no Rio que nasceu a poderosa Igreja Universal do Reino de Deus, fundada por Edir Macedo, aliado estreito de Bolsonaro e autor de um livro que condena as religiões afro-brasileiras como “diabólicas” e “filosofias usadas por demônios”. O livro chegou a ser proibido por algum tempo por um juiz que o considerou “abusivo e prejudicial”.
Frequentemente defendidas pelos pastores pentecostalistas brasileiros, ideias como essas agora ecoam nas favelas cariocas.
As denúncias de ataques contra adeptos das religiões afro-brasileiras aumentaram de 14 em 2016 para 123 nos dez primeiros meses deste ano no estado do Rio de Janeiro. As autoridades estaduais dizem que essas cifras são inferiores ao número real; muitas vítimas teriam medo de abrir a boca.
Mais de 200 terreiros foram fechados neste ano em função de ameaças, segundo a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), sediada no Rio. É o dobro do número do ano passado. Milhares de pessoas foram privadas de seus locais de culto.
Marcos Figueiredo não tinha dinheiro para se mudar para outro lugar. Não podia fundar uma congregação nova. Tinha que fazer uma opção.
Resistir? Ou fechar seu terreiro? Ele tinha uma semana para decidir.
REVOLUÇÃO ESPIRITUAL
Em uma geração o Brasil passou por uma transformação espiritual como a de poucos outros lugares no planeta. Ainda em 1980, cerca de nove em cada dez brasileiros se identificavam como católicos. Mas essa parcela caiu vertiginosamente, para 50%, e em pouco tempo será superada pela dos evangélicos, que hoje formam um terço da população.
O televangelismo corre solto na TV. A indústria de música evangélica movimenta cerca de US$1 bilhão. Políticos evangélicos puxaram o país para a direita nas questões sociais. E o sistema carcerário, há anos o maior centro de recrutamento das quadrilhas criminosas, virou o campo de uma conversão.
Pesquisas revelam que 81 das cem organizações religiosas que trabalham com questões sociais dentro dos presídios são evangélicas. A IURD diz que despachou um exército de 14 mil fiéis voluntários para converter os detentos.
A professora de sociologia Cristina Vital da Cunha, da Universidade Federal Fluminense, estuda há décadas o evangelismo nas favelas cariocas. Ela disse: “Alguns pastores e denominações fizeram uma aposta estratégica na conversão dos traficantes nos locais privilegiados na hierarquia do crime”.
Jorge Duarte, 63, era sacerdote do terreiro de candomblé mais antigo do Parque Paulista. Ele se recorda de quando o Terceiro Comando Puro tomou o poder, por volta de 2012.
O Terceiro Comando Puro controlava a programação dos terreiros, decretando um toque de recolher, permitindo as celebrações religiosas apenas em dias determinados e limitando o número de fiéis que podiam ir aos terreiros. Carros desconhecidos que entrassem na comunidade eram barrados por homens armados. O uso de roupas brancas, tradicionais no candomblé, foi proibido em público.
Começaram a chegar a Parque Paulista histórias de perseguição religiosa em outras partes da cidade: disseram a uma menina de 11 anos que ela ia arder no inferno e depois lhe deram uma pedrada na cabeça. Uma mulher de 65 anos foi apedrejada. Imagens de seu rosto ferido se espalharam pela televisão em toda a cidade.
Uma sacerdotisa de candomblé foi forçada sob a mira de armas a destruir todos os artefatos em seu terreiro, enquanto bandidos a atormentavam.
“Todo o mal precisa ser desfeito em nome de Jesus!”, disse um homem em um vídeo da agressão. “Sou a favor da honra e glória de Jesus!”, acrescentou outro. “Quebre tudo, porque você é o diabo!”, outro comandou.
Faz dois anos que Carmen Flores foi forçada a destruir seus artefatos –seus vasos de cerâmica e estatuetas de orixás. Mas ela ainda ouve as provocações em sua cabeça.
“Tenho medo de alguém vir para cá e nos massacrar”, disse Flores, 68. “Tenho medo de sair para a rua. Tenho medo de pegar o ônibus. E não sou só eu.”
TERROR RELIGIOSO
Pouco depois da visita que fizeram a Marcos Figueiredo, os homens do Bonde de Jesus foram ao terreiro mais antigo do Parque Paulista. Quatro membros da quadrilha bateram à porta, apontaram uma arma para a sacerdotisa de 86 anos e mandaram que ela destruísse todos os objetos religiosos da casa e ateasse fogo a ela.
“É tortura psicológica”, disse sua neta, Vivian Lessa. “Você tem uma coisa como sagrada e é forçada a quebrar essa coisa, enquanto eles ficam dizendo ‘ninguém vem te salvar’.”
Isso mostrou a Figueiredo tudo o que ele precisava saber. Se a quadrilha estava disposta a fazer isso com uma senhora de 86 anos, o que não faria com ele? Ele não resistiria. Fecharia o terreiro.
Em agosto, a polícia anunciou a prisão do Bonde de Jesus, formado por oito membros do Terceiro Comando Puro. Segundo as autoridades, no prazo de algumas semanas seus integrantes haviam destruído ou forçado o fechamento de um terreiro depois de outro. Um dos homens era o líder do Terceiro Comando no Parque Paulista. Além de suas responsabilidades na quadrilha, trabalhava como pastor evangélico.
Figueiredo viu os relatos da imprensa mas não viu os rostos de seus agressores entre os detidos. Eles ainda estavam lá fora e retornariam. E quando o fizessem, como ele poderia confiar que outros moradores o ajudassem, sendo que não haviam ajudado antes? Como poderia confiar que o governo ajudaria, quando tantos políticos são evangélicos?
Seria mais seguro fechar o terreiro. Em pouco tempo, todos os terreiros que ele conhecia no Parque Paulista tinham desaparecido.
“Este daqui fechou”, disse Figueiredo, percorrendo o bairro de carro e apontando para uma casa abandonada.
“Fechado, também”, falou, vendo outra. “Lá na frente havia outro terreiro, mas fechou as portas.”
Olhando para o bairro, onde sua religião foi proibida, Figueiredo enxergou o futuro.
“A teocracia”, disse.
Com reportagem de Heloísa Traiano
Tradução de Clara Allain
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12 DE DEZEMBRO, NOSSA SENHORA DE GUADALUPE: Nota: Nossa Senhora de Guadalupe ou Virgem de Guadalupe é a denominação de uma aparição mariana da Igreja Católica de origem mexicana, cuja imagem tem como seu principal local de culto a Basílica de Guadalupe, localizada no sopé do monte Tepeyac, ao norte da Cidade do México. Fonte: https://pt.wikipedia.org Divulgação: www.instagram.com/freipetronio
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O objetivo é unir-se em oração com a intenção comum para todos os países da América Latina e Caribe: obter a paz.
Cidade do Vaticano
O Conselho Episcopal Latino-americano (Celam) convida as Conferências episcopais, as organizações eclesiais, comunidades religiosas, movimentos apostólicos e o Povo de Deus, em geral, a se unirem ao Dia Continental de Oração pela Paz pelos povos da América Latina e Caribe, no dia 12 de dezembro, festa de Nossa Senhora de Guadalupe. O organismo eclesial confia as dores e alegrias dos povos da América Latina e Caribe à intercessão materna de Maria.
O objetivo é unir-se em oração com a intenção comum para todos os países da América Latina e Caribe: obter a paz. “Convidamos vocês a organizar com suas comunidades paroquiais, movimentos apostólicos, Conferências episcopais, famílias e amigos, um momento de oração, rezando o Terço, participando de uma liturgia da Palavra ou da Eucaristia ou dedicando um tempo durante o dia para rezar por essa intenção ”, destaca o Celam numa nota.
Fluxo público de comunicação nas redes sociais
O Celam pede também para que seja criado um fluxo público de comunicação sobre o que acontecerá durante o Dia Continental de Oração pela Paz, através das redes sociais, usando a hashtag #AméricaLatinaRezaPorLaPaz.
“Conte-nos de onde vocês se unirão para rezar pela paz no continente, como celebrarão a festa da Virgem de Guadalupe em seu países. Recordamos que a mensagem da Virgem de Guadalupe é a da harmonia entre todos os povos numa única civilização de amor e dedicação a Deus.”
No evento de Guadalupe, “Maria aperfeiçoa a inculturação do Evangelho. Ela é o nosso modelo de discípula e missionária a quem confiamos o destino de nossos povos”, conclui a nota do Celam. Fonte: https://www.vaticannews.va
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1) Oração
Ó Deus todo-poderoso, que nos mandais preparar o caminho do Cristo Senhor, fazei que, confortados pela presença do divino médico, nenhuma fraqueza possa abater-nos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 11, 28-30)
Naquele tempo, tomou Jesus a palavra e disse: 28Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. 29Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas. 30Porque meu jugo é suave e meu peso é leve. - Palavra da salvação.
3) Reflexão
Certos textos dos Evangelhos só revelam todo o seu sentido quando colocados diante do pano de fundo do Antigo Testamento. Assim é este texto tão breve e tão bonito do evangelho de hoje. Nele ressoam dois temas muito amados e lembrados do Antigo Testamento, um de Isaías e outro dos livros chamados sapienciais.
Isaías fala do Messias-Servo e o apresenta como um discípulo que está sempre em busca de uma palavra de conforto para poder animar os desanimados: “O Senhor me concedeu o dom de falar como seu discípulo, para eu saber dizer uma palavra de conforto a quem está desanimado. Cada manhã, ele me desperta, para que eu o escute, de ouvidos abertos, como o fazem os discípulos”. (Is 50,4) E o Messias servo faz um convite: “Vocês que estão com sede, venham buscar água. Venham também os que não têm dinheiro: comprem e comam sem dinheiro e bebam vinho e leite sem pagar” (Is 55,1). Estes textos povoavam a memória do povo. Eram como os cânticos da nossa infância. Quando a gente os escuta dá uma nostalgia, uma saudade! Assim, a palavra de Jesus: “Venham a mim!” despertava a memória e trazia para perto o eco longínquo daqueles textos bonitos de Isaías.
Os livros sapienciais apresentam a sabedoria divina sob a figura de uma mulher, uma mãe, que transmite aos filhos a sua sabedoria e lhes diz: "Comprem a sabedoria sem dinheiro. Coloquem o pescoço debaixo do seu jugo e acolham a sua instrução. A sabedoria está próxima, e pode ser encontrada. Vejam com seus próprios olhos como trabalhei pouco, e acabei encontrando profundo repouso”.(Eclo 51,25-27). Jesus repete quase a mesma frase: “Vocês encontrarão repouso!”
Por esta sua maneira de falar ao povo, Jesus despertava a memória do povo e fazia com que o coração se alegrasse e dissesse: “Chegou o messias que tanto esperamos!” Jesus transformava a saudade em esperança. Fazia o povo dar um passo. Em vez de agarrar-se à imagem de um messias glorioso, rei e dominador, ensinadas pelos escribas, o povo mudava de visão e aceitava Jesus como o messias servidor. Messias humilde e manso, acolhedor e cheio de ternura, que fazia os pobres se sentirem em casa junto de Jesus.
4) Para um confronto pessoal
1) A lei de Deus é para mim um jugo leve que me anima, ou é um peso que me cansa?
2) Já senti alguma vez a alegria e a leveza do jugo da lei de Deus que Jesus nos revelou?:
5) Oração final
Minha alma, bendize o Senhor e tudo o que há em mim, o seu santo nome! Minha alma, bendize o Senhor, e não esqueças nenhum de seus benefícios. (Sl 102, 1-2)
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Em setembro, ao falar sobre o escândalo dos abusos sexuais na Igreja em um congresso sobre “Imaginação Católica” na Loyola University, em Chicago, nos EUA, o ensaísta Richard Rodriguez disse uma coisa muito corajosa. O comentário é de Paul Baumann, publicado por Commonweal, 04-12-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“O que sabemos sobre esses padres? Não sabemos nada sobre o fardo desses padres decaídos”, disse Rodriguez, de acordo com reportagens do National Catholic Reporter. “Não conhecemos as suas histórias. O que eles pensavam que estavam fazendo? Não temos nenhuma ideia de quem eles eram ou do que sofriam. A nossa imaginação ficou inerte.”
Evidentemente, os comentários de Rodriguez foram motivados, em certa medida, pela morte em 2016 do seu amigo, o teólogo da Notre Dame Virgilio Elizondo. Elizondo havia sido acusado de abusar de um menor e parece ter cometido suicídio. Ele negava as acusações.
Rodriguez foi criticado por alguns por mostrar preocupação e até mesmo simpatia pelos padres que a maioria das pessoas consideram como monstros que não merecem nada além de condenação e esquecimento social.
Tais padres e os bispos que ocultaram seus crimes continuam sendo a peça-chave no caso contra uma instituição corrupta, desesperadamente patriarcal e arrogante. Quem, afinal, quer ser visto expressando interesse por tais pessoas, sem falar em lhes oferecer conforto? Isso simplesmente não traumatiza as vítimas de novo?
Os desejos, o bem-estar e a confidencialidade das vítimas precisam ser postos em primeiro lugar. Mas isso significa que não temos nada a aprender com os padres agressores sobre as causas e as consequências da crise? As críticas de Rodriguez me parecem equivocadas. Foi preciso muita coragem para Jason Berry irromper com a história dos abusos sexuais na Louisiana em 1985.
Desde cedo, Thomas Doyle, OP, mostrou a mesma destemida determinação ao exigir que a hierarquia parasse de fechar os olhos às vítimas e à crise. Em 2002, o Boston Globe assumiu riscos ao expor o grotesco fracasso do cardeal Bernard Law e da Arquidiocese de Boston.
Mas, nesta altura do campeonato, simplesmente condenar a Igreja é fácil demais, especialmente à luz dos passos bem documentados que a Igreja deu para proteger as crianças.
Rodriguez levanta um ponto importante. É possível entender o abuso sexual se as histórias dos padres abusadores forem consideradas intocáveis e irrelevantes? Tal ignorância nos ajudará a evitar abusos futuros? Os jornalistas não têm a obrigação de buscar tais histórias, por mais não palatáveis que sejam?
O que Rodriguez parece estar exigindo em um nível de imaginação não é nada diferente do que Truman Capote realizou ao escrever “A sangue frio”. A fim de dar um sentido aos assassinatos brutais e aparentemente sem motivação da família Clutter, Capote teve que mostrar quem eram os assassinos.
Ele não diminuiu a culpa deles ou o horror do crime; ele retratou uma imagem mais ampla e profunda da trágica colisão entre dois lados diferentes da vida americana dos anos 1950, cada um deles em grande parte e tragicamente ignorante um do outro.
Andrew O’Hagan faz algo semelhante em “Be Near Me”, um romance sobre um padre que viola as fronteiras sexuais com um adolescente. O’Hagan complexifica, mas não absolve as ações de seu protagonista. Como Hilary Mantel escreveu em sua resenha no The Guardian, “Be Near Me” é “um tratamento nuançado, intenso e complexo de uma história triste e simples. Leia-o duas vezes”.
No início deste ano, eu recebi um e-mail de um padre que há muito tempo foi confinado ao ministério restrito por ter abusado sexualmente de um menor. Ele e alguns colegas padres têm tentado lançar um projeto que complexificaria aquilo que ele chama de “narrativa dominante” sobre a história do abuso clerical.
Eu disse a ele que, no clima atual, ele não teria muita sorte nesse ponto. Alguns aspectos do que ele estava propondo pareciam moralmente evasivos – por exemplo, descrever a pedofilia como um “problema de saúde pública”.
Mas ele está certo ao insistir em que as ações dos padres católicos não podem ser entendidas sem se levar em conta o problema social muito maior do abuso sexual.
Nenhuma instituição que lida com adolescentes e crianças está imune, e há poucas evidências de que a Igreja Católica seja pior do que outras organizações nesse sentido. Infelizmente, também não há evidências de que seja melhor.
A proposta do meu correspondente de e-mail se baseava nos relatórios muitas vezes negligenciados do instituto John Jay, encomendados pelos bispos. “O que os relatórios nos dizem sobre os estados psicológicos dos clérigos agressores, da sua formação no seminário, do seu entendimento sobre as suas ofensas e das causas contextuais das suas agressões?”, escreve ele. “As agressões resultaram mais de ignorância e fraqueza ou de poder e arrogância clericais? O que precisamos aprender ouvindo os próprios agressores?”
A pesquisa sobre os danos causados às vítimas, observa ele, só começou no fim dos anos 1970. A maioria dos agressores entendeu o dano que estavam causando? Parafraseando os relatórios do John Jay, ele escreve: “Os clérigos abusivos eram, de várias maneiras, eles mesmos, adolescentes, e a maioria das suas agressões consistia em esforços desastrosos de intimidade”.
A maioria dos agressores não eram predadores em série: mais da metade deles foram acusados de ter uma vítima.
Como Peter Steinfels escreveu, os relatórios do John Jay levantam sérias interrogações sobre aquilo que meu correspondente chamou de “narrativa dominante”, que classifica o agressor típico como um estuprador em série que agiu por poder e arrogância.
Eu tenho algum conhecimento pessoal de dois padres acusados de abuso sexual. Um deles era meu amigo de pós-graduação.
Acusado, ele prontamente confessou ter abusado de um adolescente e acabou sendo laicizado. O que ele achou que estava fazendo? As minhas poucas tentativas de contatá-lo nos últimos 17 anos foram inúteis.
Embora ele estivesse na casa dos 20 anos quando o abuso ocorreu, minha sensação é de que, de muitas maneiras, ele mesmo era um adolescente, psicologicamente imaturo e sexualmente confuso.
Parece possível que ele tenha agido por fraqueza, ignorância e afeto deslocado. Mas isso é especulação da minha parte. Seria útil ouvir a história dele.
O outro caso diz respeito a um padre já falecido, que provavelmente era motivado por poder e arrogância. Mas eu não tenho certeza disso.
Como Richard Rodriguez urge, seria bom saber mais sobre ambas as histórias, contanto, é claro, que a privacidade das vítimas seja protegida. Se permitirmos que a repulsa nos impeça de ouvir tais histórias, não estaremos protegendo ninguém além de nós mesmos. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
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Fábio Zanini
Entre as tradições de fim de ano, ao lado do show do Roberto Carlos e daquela música da Simone, uma tem ganhado força: a ira de grupos religiosos, sobretudo evangélicos, com o Porta dos Fundos.
Os protestos de 2019 têm como mote o especial de Natal que o grupo colocou no ar na semana passada na plataforma Netflix, chamado A Primeira Tentação de Cristo.
É um programa de 46 minutos, em vez dos esquetes curtos pelos quais o Porta é mais conhecido.
Resumindo para quem não viu (e sem dar spoiler), o enredo satiriza uma das passagens mais importantes da vida de Jesus, quando ele, já perto dos 30 anos, jejua por 40 dias no deserto, após ser batizado.
Nesse período, é tentado pelo Diabo, mas resiste às investidas. De volta do retiro, dá início às suas pregações e milagres, até ser crucificado, três anos depois.
Na versão do Porta, Jesus (Gregório Duvivier) traz um amigo meio esquisitão (Fábio Porchat) para casa, ao retornar do deserto, bem na noite de Natal.
O filho de Deus vive um romance gay, em outras palavras, para espanto de José, Maria, reis magos e até de Deus.
A saraivada contra a sátira começou quase que imediatamente.
A Coalizão pelo Evangelho, grupo que reúne representantes de dezenas de igrejas pelo Brasil, iniciou uma campanha pelo cancelamento da assinatura da Netflix.
“Manter-me na qualidade de um patrocinador de produções cinematográficas que zombam e vilipendiam o Senhor é o mesmo que esbofeteá-lo, cuspir nele, bater em sua cabeça para lhe enterrar os espinhos da coroa”, escreveu o pastor Joel Theodoro, da Igreja Presbiteriana do Bairro Imperial, no Rio de Janeiro.
Pastor da Igreja Trindade, em São José dos Campos (SP), Thiago Guerra formulou um decálogo sobre qual deveria ser a relação de cristãos com o episódio do Porta veiculado pela Netflix.
“Todo cristão tem a responsabilidade de ser ‘sal’ nesse mundo, ou seja, evitar a putrefação constante de nossa sociedade. Portanto o engajamento cultural do cristão é uma obrigação”, afirma ele, ao explicar por que defende o boicote à plataforma de vídeos como resposta.
Outro a protestar contra a produção foi o deputado federal Marco Feliciano (Podemos-SP), um dos expoentes da bancada evangélica, que escreveu, numa rede social: “Está na hora de uma ação conjunta das igrejas e pessoas de bem para dar um basta nisso. Unidos somos fortes!”.
Já o ator Carlos Vereza, conhecido por suas posições de direita, chamou os integrantes do Porta dos Fundos de “lamentáveis”, “idiotas pretensiosos” e daí pra baixo.
No passado, já houve críticas de conservadores ao Porta dos Fundos, em ocasiões em que satirizaram a religião. Eles estão acostumados, portanto.
O especial de Natal de 2018, por exemplo, ironizava a Santa Ceia, e acabou de ser agraciado com o prêmio Emmy Internacional.
O grupo também já sofreu críticas de outras formas. Foram processados pelo Botafogo (sim, o time) por um esquete, mas ganharam a ação judicial.
*
Procurei Antônio Tabet, um dos integrantes do Porta do Fundos, que interpreta Deus no filme.
Ele enviou mensagem, em que considera a ação contra o especial um gesto oportunista.
Segue a íntegra da resposta de Tabet:
“Acredito que meu Deus de amor, onisciente, onipresente e onipotente, tenha prioridades maiores do que se ofender com um especial de humor de um grupo de comediantes brasileiros no Netflix. Dito isso, seria previsível que homens oportunistas e vaidosos, que acham que falam em nome de Deus mesmo sem procuração, queiram mobilizar fiéis menos esclarecidos em torno de campanhas de boicote ou censura.
Há sempre a opção de quem não gostar do conteúdo de não assisti-lo. Eu mesmo não sou ateu, acredito em Deus e não frequento cultos ou missas porque não concordo com o que é dito sobre Ele lá, e nem por isso defendo que templos ou igrejas sejam fechados.
Campanhas assim seriam apenas lamentáveis se não fossem também uma publicidade gigante entre quem defende a liberdade de expressão e conhece o verdadeiro caráter dos líderes religiosos que atuam na base da senha do cartão dos crentes. Estes sim desrespeitam meu Deus”.
Procurei a assessoria do Netflix para comentar a campanha de cancelamento de assinaturas, mas não consegui contato com eles.
PS: como lembrou um colega, o grupo brasileiro está seguindo uma longa tradição ao satirizar a religião cristã. Quem não se lembra de “A Vida de Brian”, dos britânicos do Monty Pithon, e sua memorável cena final da crucificação?
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1) Oração
Ó Deus, que manifestastes o vosso Salvador até os confins da terra, dai-nos esperar com alegria a glória do seu natal. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 18,12-14)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:12Que vos parece? Um homem possui cem ovelhas: uma delas se desgarra. Não deixa ele as noventa e nove na montanha, para ir buscar aquela que se desgarrou? 13E se a encontra, sente mais júbilo do que pelas noventa e nove que não se desgarraram. 14Assim é a vontade de vosso Pai celeste, que não se perca um só destes pequeninos. - Palavra da salvação.
3) Reflexão
Uma parábola não é um ensinamento a ser recebido passivamente e a ser decorado de memória, mas é um convite para participar na descoberta da verdade. Jesus começa perguntando: “O que vocês acham?” Uma parábola é uma pergunta com resposta não definida. A resposta vai depender da nossa reação e participação como ouvintes. Então, vamos buscar a resposta desta parábola da ovelha perdida.
Jesus conta uma história muito breve e muito simples: um pastor tem 100 ovelhas, perde uma, deixa as 99 nas montanhas e vai em busca da ovelha perdida. E Jesus pergunta: “O que vocês acham?” Ou seja: “Vocês fariam o mesmo?” Qual terá sido a resposta dos pastores e das outras pessoas que ouviram Jesus contar esta história? Fariam a mesma coisa? Qual a minha resposta à pergunta de Jesus? Pense bem antes de responder.
Se você tivesse 100 ovelhas e perdesse uma, o que faria? Não esqueça de que as montanhas são lugares de difícil acesso, cheios precipícios, onde rondam animais perigosos e onde ladrões e assaltantes se escondem. E lembre-se que você perdeu apenas uma única ovelha. Você continua na posse de 99 ovelhas. Perdeu pouco! Você iria abandonar as 99 naquelas montanhas? Será que uma pessoa com um pouco de bom senso faria o que fez o pastor da parábola de Jesus? Pense bem!
Os pastores que escutaram a história de Jesus, devem ter pensado e comentado: “Só um pastor sem juízo age desse jeito!” Eles devem ter perguntado a Jesus: “Jesus, desculpe, mas quem é esse pastor de que o senhor está falando? Fazer o que ele fez é uma loucura total!”
Jesus responde: “Esse pastor é Deus, nosso Pai, e a ovelha perdida é você!” Com outras palavras, esta loucura, quem a comete é Deus por causa do seu grande amor para com os pequenos, os pobres, os excluídos! Só mesmo um amor muito grande é capaz de cometer uma loucura assim. O amor com que Deus nos ama é maior que a prudência e o bom senso humano. O amor de Deus comete loucuras. Graças a Deus! Senão fosse assim, estaríamos perdidos!
4) Para um confronto pessoal
1) Coloque-se na pele da ovelha perdida e anime a sua fé e sua esperança. Você é essa ovelha!
2) Coloque-se na pele do pastor e verifique se o seu amor para com os pequenos é verdadeiro.
5) Oração final
Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor, terra inteira. Cantai ao Senhor, bendizei o seu nome, anunciai dia após dia a sua salvação. (Sl 95, 1-2)
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1) Oração
Cheguem à vossa presença, ó Deus, as nossas orações suplicantes, e possamos celebrar de coração puro o grande mistério da encarnação do vosso Filho. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (Luca 5, 17-26)
17 Num desses dias, ele estava ensinando na presença de fariseus e mestres da Lei, que tinham vindo de todos os povoados da Galileia, da Judeia e de Jerusalém. O poder do Senhor estava nele para fazer curas. 18 Vieram alguns homens carregando um paralítico sobre uma maca. Eles tentavam introduzi-lo e colocá-lo diante dele. 19 Como não encontras- sem um modo de introduzi-lo, por causa da multidão, subiram ao telhado e, pelas telhas, desceram o paralítico, com a maca, no meio, diante de Jesus. 20 Vendo a fé que tinham, ele disse: “Homem, teus pecados são perdoados”. 21 Os escribas e os fariseus começaram a pensar: “Quem é este que fala blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, a não ser Deus?” 22 Jesus, penetrando-lhes os pensamentos, perguntou: “Que estais pensando no vosso íntimo? 23 Que é mais fácil, dizer: ‘Teus pecados são perdoados’, ou: ‘Levanta-te e anda?’ 24 Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem poder de perdoar pecados na terra, – e dirigiu-se ao paralítico – eu te digo: levanta-te, pega tua maca e vai para casa”. 25 No mesmo instante, levantando-se diante de todos, pegou a maca e foi para casa, glorificando a Deus. 26 Todos ficaram admirados e glorificavam Deus, cheios de temor, dizendo: “Vimos hoje coisas maravilhosas”.
3) Reflexão
Sentado, Jesus ensinava. O povo gostava de ouvi-lo. Qual era o assunto do ensino de Jesus? Ele sempre falava de Deus, seu Pai, mas dele falava de um jeito novo e atraente, diferente dos escribas e fariseus (Mc 1,22.27). Jesus apresentava Deus como a grande Boa Notícia para a vida humana; um Deus Pai/Mãe que ama e acolhe as pessoas, e não um Deus que nos ameaça e condena.
Um paralítico é carregado por quatro pessoas. Jesus é a única esperança deles. Vendo a fé, ele diz ao paralítico: Teus pecados estão perdoados! Naquele tempo, o povo achava que defeitos físicos (paralisia, etc) fossem castigo de Deus por algum pecado. Por isso, os paralíticos e tantos outros deficientes físicos sentiam-se rejeitados e excluídos por Deus! Jesus ensinava o contrário. A fé tão grande do paralítico era um sinal evidente de que ele e seus carregadores estavam sendo acolhidos por Deus. Por isso, Jesus declara: Teus pecados estão perdoados! Ou seja: “Você não está afastado de Deus!”
A afirmação de Jesus não combinava com a ideia que os doutores da lei tinham de Deus. Por isso, eles reagem: Ele blasfema! Conforme o ensinamento deles, só Deus podia perdoar os pecados. E só o sacerdote podia declarar uma pessoa perdoada e purificada. Como é que Jesus, homem sem estudo, um leigo, podia declarar o paralítico como perdoado e purificado dos pecados? Pois, se um simples leigo podia perdoar os pecados, os doutores e os sacerdotes perderiam o seu poder e também a sua fonte de renda! Por isso reagem e se defendem.
Jesus justifica a sua ação: O que é mais fácil. dizer: ‘Teus pecados estão perdoados!’ ou dizer: ‘Levanta-te e anda!’? Evidentemente, é muito mais fácil dizer: “Teus pecados estão perdoados”. Pois ninguém pode verificar se, de fato, o pecado foi ou não foi perdoado. Mas se eu digo: “Levanta-te e anda!”, aí todos poderão verificar se tenho ou não esse poder de curar. Por isso, para mostrar que, em nome de Deus, tinha o poder de perdoar os pecados, Jesus disse ao paralítico: ”Levanta-te, toma teu leito e vá para casa!” Curou o homem! Provou que a paralisia não é um castigo de Deus pelo pecado, e mostrou que a fé dos pobres é uma prova de que Deus os acolhe no seu amor.
4) Para um confronto pessoal
1-Colocando-me na posição dos carregadores: será que eu seria capaz de carregar o doente, subir no telhado e fazer o que os quatro fizeram? Será que eu tenho tanta fé?
2-Qual a imagem de Deus que está em mim e que se irradia nos outros? A dos doutores ou a de Jesus? Deus compassivo ou ameaçador?
5) Oração final
Vem, Senhor, visitar-nos com a tua paz: a tua presença nos enche de alegria. (cf. Sl 106, 4-5; Is 38, 3)
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