Operação no Rio: um fracasso exemplar
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Festejada como exemplo de linha dura, a ação policial mais letal da história, segundo relatório do próprio Estado, falhou em quase tudo e, para piorar, há poucas imagens de câmeras da PM
A Operação Contenção, realizada no fim do mês passado nos Complexos da Penha e do Alemão, no Rio, tornou-se um marco para o debate nacional sobre o modelo de segurança pública que o Brasil precisa adotar para enfrentar as organizações criminosas. Se ganhou essa importância, o ideal seria que a mais letal intervenção policial já registrada no País fosse devidamente escrutinada pela sociedade e pelas instituições de controle, como sói acontecer em qualquer democracia constitucional madura.
Mas, não obstante a gravidade da operação – que culminou em 121 mortos, entre eles quatro policiais –, o governador Cláudio Castro (PL) falhou miseravelmente em assegurar as condições mínimas para que as ações dos policiais civis e militares sob seu comando pudessem ser devidamente apuradas, sobretudo pelo Ministério Público, instituição incumbida pela Constituição de exercer o controle externo da atividade policial.
O Relatório Técnico-Probatório enviado pelo governo fluminense ao Supremo Tribunal Federal (STF), por ordem do ministro Alexandre de Moraes no âmbito da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, expõe falhas absolutamente inaceitáveis à luz da dimensão daquela operação. Embora Castro classifique a Operação Contenção como um “divisor de águas” no combate às facções criminosas em seu Estado, o próprio relatório entregue por ele ao STF desmonta o discurso oficial. A Secretaria de Segurança Pública do Rio atualizou os números de prisões e apreensões, demonstrando que muitos dos mandados judiciais que originalmente embasaram a operação deixaram de ser cumpridos. Para piorar, a pasta foi incapaz de fornecer o elemento mais básico de qualquer operação policial moderna: o registro audiovisual por meio de câmeras corporais instaladas no fardamento dos agentes.
Dos cerca de 2.500 policiais mobilizados, só uma pequena parte portava câmeras. E, desse contingente já pífio, somente metade dos equipamentos registraram imagens. O restante, segundo o governo fluminense, apresentou falhas técnicas ou teve as baterias descarregadas. É uma explicação que zomba da inteligência alheia. Não há como justificar que um dos maiores Estados do País conduza uma operação policial daquele porte providenciando um número tão minguado de câmeras e, ademais, em prever baterias extras a fim de garantir o pleno funcionamento dos aparelhos. Não se pode condenar quem veja esse erro crasso de planejamento como uma ação deliberada para inviabilizar a reconstrução dos fatos e a identificação de eventuais ilegalidades cometidas pelas forças policiais.
Quando não se sabe exatamente o que aconteceu durante os confrontos, abre-se espaço para a desconfiança na polícia – e isso é péssimo para o Estado de Direito. A ausência das imagens torna-se ainda mais grave diante dos relatos de que corpos teriam sido removidos e manipulados antes da realização de perícia. Em qualquer parte do mundo civilizado, esse tipo de comprometimento da chamada cadeia de custódia seria suficiente para anular a credibilidade de toda a operação. No Brasil, onde o uso de câmeras corporais já foi reconhecido pelo próprio STF como mecanismo indispensável à atividade policial, até para resguardo dos próprios agentes, isso soa como afronta ao Estado de Direito.
A discussão sobre segurança pública, contudo, não se encerra nos eventuais erros da Operação Contenção. A escalada de poder de facções como PCC e Comando Vermelho, que se tornaram, na prática, organizações de caráter mafioso, exige uma abordagem nacional capaz de coordenar políticas públicas, fortalecer investigações e impor limites claros ao uso da força letal.
Se a Operação Contenção se converteu no ponto de partida para essa inflexão tão necessária, torna-se ainda mais imperativo que ela seja analisada com absoluta transparência e rigor. Não há dúvida de que o combate às facções criminosas frequentemente exige confronto. Mas o que diferencia policiais e bandidos é o compromisso inegociável com a legalidade. A sociedade brasileira, exausta tanto da violência cotidiana quanto da omissão histórica do poder público, não clama por vingança, mas por ordem, húmus da paz social. E ordem só se constrói com operações policiais circunscritas aos limites da Constituição. Fonte: https://www.estadao.com.br
Tiroteio interdita avenida Brasil, no Rio, e motoristas e passageiros se escondem atrás dos carros
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Ataque aconteceu na manhã deste domingo (16) entre Irajá e Acari, na zona norte
PMs e agentes da Força Nacional trocaram tiros com suspeitos

Rio de Janeiro
Um tiroteio interditou a avenida Brasil, principal via expressa do Rio de Janeiro, nos dois sentidos na manhã deste domingo (16). A ocorrência aconteceu entre Irajá e Acari, zona norte da cidade.
Policiais militares e agentes da Força Nacional trocaram tiros com suspeitos na via.
Segundo a Polícia Militar, agentes foram acionados para um tentativa de assalto na altura de Acari, dominada pelo TCP (Terceiro Comando Puro).
No local, policiais afirmaram que se depararam com duas pessoas a bordo de uma motocicleta que tentavam interromper o fluxo da avenida Brasil, numa tentativa de arrastão.
Houve troca de tiros e a via ficou fechada. Além da PM, agentes da Força Nacional fizeram buscas entre Acari e Irajá, mas não encontraram os suspeitos. A corporação afirmou que não houve feridos.
Vídeos que circulam nas redes sociais mostram que alguns motoristas tentaram fugir dos tiros pela contramão. Outros motoristas e passageiros que trafegavam pela via deixaram os veículos na pista e se deitaram no chão, tentando se proteger entre os carros e a mureta da avenida.
O Centro de Operações da Prefeitura do Rio, que monitora o tráfego na cidade, informou às 11h que a avenida Brasil tinha interdições intermitentes no trecho entre Coelho Neto e Irajá. A via foi liberada ao meio-dia.
Em outo ponto da avenida Brasil, na altura de Campo Grande, policiais militares fazem patrulhamento na comunidade da Carobinha. A localidade, que fica às margens da via, é alvo de disputas entre Comando Vermelho e milicianos desde a última semana. Fonte: www1.folha.uol.com.br
O luto na viuvez
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Em 'Ninguém Morre Sozinho', Renata Piza não poupa ninguém, nem a si mesma
Livro nos leva a percorrer com a viúva caminhos de dor e culpa, mas também uma grande história de amor
Livro "Ninguém morre sozinho", de Renata Piza - Arquivo
Tatiana Eskenazi
"A vida muda em um instante. Um instante comum." Assim, Joan Didion inicia "O Ano do Pensamento Mágico", relato sobre os meses que se seguiram à morte súbita do marido, John Gregory Dunne, em 30 de dezembro de 2003.
"No dia em que eu morri, lavei roupa no tanque." É com essa frase desconcertante que Renata Piza abre "Ninguém Morre Sozinho" (Editora Gema), em que narra os anos posteriores à morte do marido, o jornalista Daniel Piza. Assim como Dunne, ele também morreu em um 30 de dezembro, oito anos depois.
A coincidência de datas, mais do que uma curiosidade biográfica, revela o ponto de partida comum das duas obras: a impossibilidade de compreender o que acontece quando a morte irrompe na vida em meio aos gestos banais do dia a dia e, com um desastre súbito, desorganiza tudo o que parecia organizado.
Renata ficou viúva muito mais jovem que Didion e talvez dispusesse, à época, de menos ferramentas para enfrentar a viuvez precoce. Ela escreve a partir de uma juventude ferida e de sonhos interrompidos. Didion, por sua vez, perdeu o companheiro de uma vida inteira enquanto vivia o desespero de ver a filha única internada, lutando contra uma infecção generalizada que, dois anos depois, a levaria também.
Apesar das diferenças, é interessante notar os sentimentos comuns a essas duas mulheres — e, provavelmente, a tantas que vivem a viuvez repentina. Não à toa, Renata cita a célebre reflexão de Didion sobre "a questão da autopiedade". Ambas se debatem com o mesmo dilema: como seguir em frente sem transformar a dor em identidade, reconhecendo, ao mesmo tempo, que sucumbir a tudo isso também faz parte do próprio processo de luto.
Historicamente, a viuvez sempre foi mais dura para as mulheres. As cobranças, o machismo, a invisibilidade, a solidão — tudo isso compõe o abismo diante do qual uma mulher pode se ver ao enfrentar a perda, especialmente com filhos pequenos: "...estava sozinha, com duas crianças pra criar. As pessoas se dissiparam, seguiram suas vidas."
Em "Ninguém Morre Sozinho", Renata expõe esse abismo sem filtros. É admirável e comovente o modo como ela lança luz sobre tudo o que há de feio, contraditório e humano num processo de luto.
A Renata do Daniel morre com ele, mas segue vagando, num limbo de dor, dívidas e depressão. "Comecei a me sentir um estorvo, a viúva que ninguém queria encarar. Com medo de que ela pedisse alguma coisa." Percorremos com ela um caminho de raiva, culpa, vergonha e solidão. Uma sequência de vórtices, como bem descreve também Didion, que a tragavam sucessivamente ao centro da perda.
Mas percorremos também, através de seus relatos e das cartas de Daniel, uma grande história de amor. Um amor cuja memória a conduz pela mão, até que a Renata do Daniel também seja enterrada, para que outra possa nascer. "Eu tive o maior amor do mundo durante dez anos da vida, e ele será imortal enquanto eu estiver viva. O luto, entendi, agora também faz parte de mim."
O ano de 2012 de Renata "começou com um enterro errado, na hora errada, no dia errado". O ano do pensamento mágico de Didion começou também com essa sensação de engano de que, a qualquer momento, Dunne voltaria. É a isso que a escritora chama de pensamento mágico: aquele ao qual nos agarramos, que nos mantém de pé, por mais irreal que seja.
Na lógica irracional e profundamente humana do luto, da tentativa de negociar com o impossível, por vezes, acabamos não reconhecendo a nós mesmos. O luto não obedece à razão.
Renata Piza escreve um livro corajoso, sincero, que não romantiza nem suaviza o luto e o que dele emerge. Ao final, diz: "Minha maior sorte, talvez a única, não é amar ou ter sido tão amada…É levantar, mesmo trêmula, mesmo cega, mesmo fazendo uma quantidade vexatória de burradas e recomeçar."
Talvez o luto seja sobre isso —aprender, no limite da perda, a seguir em frente apesar de tudo, até mesmo de si. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
O ‘Agente Secreto’ secreta a gente
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Vá ao cinema. Você vai ver um Pernambuco como não imaginava ser possível, durante um horror difícil de conceber, numa obra sem paralelos
Por Eugênio Bucci
A viatura da polícia sai da estrada perrengue e passa a rodar no chão sem calçamento, para contornar o posto de gasolina que é uma biboca, um desterro. Estamos no meio do nada, sob o sol esturricante. Na bomba de gasolina, um Fusca amarelo acaba de ser abastecido. O motorista, camisa branca de manga curta, bem abotoada, tinha ordenado ao frentista barrigudo e suarento: “Pode completar”. Metros adiante, sobre a areia empedrada, um cadáver de pernas abertas, coberto por um papelão, atrai moscas sem rumo e cães sem dono. Fora isso, fede, empesteia o agreste. O ano é 1977. O lugar é Pernambuco.
A radiopatrulha estaciona. Descem dois agentes da lei. Óculos escuros. Nenhum deles dá a mínima para o defunto. O objetivo é outro. O sargento vai até o Fusca, pede a habilitação do moço e começa a implicar. Pergunta do extintor. Avisa que terá de entrar no carro para inspecionar alguma coisa lá dentro. Vai achacar. O tempo se arrasta, morno e seco. A fedentina avança. Quando o sargento fica de costas para a câmera, podemos observar que o cinto de couro escuro foi afivelado às pressas, estirado por cima de um ou dois dos passadores da calça cáqui.
Assim começa O Agente Secreto, o novo filme de Kleber Mendonça Filho, que estreou faz uma semana. Como o cinturão do sargento, o roteiro nem sempre se acomoda bonitinho sob todos os passadores: não cumpre o itinerário protocolar e não obedece às fórmulas narrativas do cinemão comercial. Aqui e ali, passa por fora, deriva, desvia, suprime escalas. Nem tudo é explicado didaticamente, mas tudo flui magistralmente. Você não vai desgrudar o olho da tela. Sua respiração vai ficar presa numa passagem. Seu espírito vai se enternecer na outra. Vá ao cinema. Você será recompensado com uma das maiores proezas do cinema brasileiro, ganhadora dos prêmios de Melhor Diretor e Melhor Ator no Festival de Cannes de 2025.
Os passadores da calça que são deixados por debaixo do cinto, tanto no figurino quanto na trama, não atrapalham, até ajudam. Mais ainda: são necessários. As explicações que ficam para depois acentuam o fio do sentido. A aventura (ou a desventura) é tão bem montada que chega a hipnotizar.
O filme narra a luta de um sujeito (ele mesmo, o motorista do Fusca amarelo) para escapar de uma sentença de morte e fugir do Brasil com o seu filho ainda criança. A mãe do menino está morta. Como foi exatamente que ela morreu, disso a plateia não fica sabendo. Não importa. O protagonista será apoiado por uma senhora rica que pretende salvar-lhe a pele. De onde surgiu a benfeitora? Também não importa.
A vida era irrazoável naqueles tempos de arbítrio. Era uma vida de sombras e omissões. O que menos importava era a congruência. Os esquadrões da morte se misturavam com os destacamentos policiais. Uns e outros faziam “passeios” noturnos em camburões opacos para espancar ou apagar prisioneiros indefesos. O crime e as forças de segurança pública se mesclavam, enquanto a repressão política apadrinhava a corrupção empresarial. Economia estatizada, Estado privatizado. O meganha aparecia na sua frente e tudo o que você queria era chamar um ladrão, mas o ladrão era parte do regime. Os fatos não tinham explicações públicas nem justificativas compreensíveis.
Um acontecimento fatal podia muito bem brotar de uma parede e sumir pela outra, numa noite sem brisa e sem salvação. Era um mundo assombrado, fantasmagórico e endemoniado como um inferno – ou como uma câmara de tortura.
Não surpreende, portanto, que o filme de Kleber Mendonça Filho alcance seu apuro plástico justamente ao jogar com vazios, com elipses tão gritantes quanto as imagens esmeradas e chocantes. Alegorias fantásticas evoluem uma ambiência de realismo mágico. Tiradas surrealistas – como as notícias jornalísticas da “perna cabeluda” açoitando os homossexuais que se beijam na praça durante a madrugada – dialogam com cenas de uma carga erótica espantosa.
Como bem anotou José Geraldo Couto no portal do IMS, O Agente Secreto tem um andamento de thriller político com elementos de gêneros díspares que vão “da comédia de erros ao terror gore (sangue e vísceras), passando pela crônica social e pelo drama familiar”. Tudo isso sem saltos de estilo, sem ranhuras, sem emendas perceptíveis. O efeito final é de uma integridade artística de rara coesão.
Entre outros acertos, o longa-metragem de quase três horas de duração tem a virtude estética e ética de não ter feito concessões de formato. Os tipos humanos são únicos: não se parecem com nada além de si mesmos e não reproduzem padrões industriais de beleza. O que se vê na tela não presta reverência a nenhuma gramática, a não ser aquela que já estava nos filmes anteriores do diretor (muito bons). O modo de encadear o enredo (a voz fílmica que conta a história) tem uma personalidade que não hesita um segundo.
Repito: vá ao cinema. Você vai ver um Pernambuco como não imaginava ser possível, durante um horror difícil de conceber, numa obra sem paralelos, que desconcerta, desnorteia, encanta e sintetiza o que fomos e ainda somos. Fonte: https://www.estadao.com.br
O perigo do jornalismo militante
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Manipulação de informações pela BBC expôs um vício sistêmico: os jornalistas que se creem iluminados já não informam, pregam. E, ao fazê-lo, traem o público e degradam a democracia
O escândalo que derrubou o diretor-geral da BBC (British Broadcasting Corporation), Tim Davie, foi mais que um tropeço editorial. A emissora manipulou falas do presidente americano, Donald Trump, num documentário para fazê-las parecer um apelo direto à violência. O episódio somou-se à revelação de que um programa sobre a guerra em Gaza fora narrado, sem aviso ao público, pelo filho de um ministro do Hamas. A BBC, criada há mais de um século para ser sinônimo de imparcialidade, violou a sua razão de ser: a credibilidade. O erro, grave em qualquer redação, é duas vezes pior em uma custeada pelos cidadãos. Quando uma emissora pública mente, o cidadão paga em dobro – com a confiança e com o bolso. E quando a mentira vem de quem se proclama modelo de excelência, ela contamina todo o ecossistema informativo.
O memorando interno do ex-conselheiro editorial da BBC Michael Prescott, divulgado pelo jornal inglês The Telegraph, expôs a anatomia do vício: uma cultura de resistência à crítica, de autocensura e vetos condicionados a tabus progressistas sobre gênero ou raça. A redação tomou o partido da virtude e esqueceu o dever da verdade. A neutralidade é vista como omissão, e a objetividade, como conformismo. A reportagem virou proselitismo. A pauta ambiental virou cruzada, a economia é narrada como denúncia e o noticiário internacional opera sob a convicção de que o Ocidente é sempre o culpado. Da cobertura de Gaza ao aquecimento global, a BBC já não descreve o mundo – evangeliza o público.
Seria reconfortante tratar o episódio como desvio isolado. Mas ele só expõe, em escala nacional, um tumor que vem degenerando o jornalismo no Ocidente. Redações se notabilizam cada vez mais como trincheiras morais onde alguns repórteres atuam como militantes e editores, como curadores da pureza ideológica. O resultado é um jornalismo menos interessado em compreender o mundo e mais empenhado em doutriná-lo. Em amplas camadas, o jornalismo deixou de ser uma busca compartilhada da verdade para se tornar uma catequese da tribo ilustrada.
Há veículos grosseiramente enviesados à direita. Mas a assimetria é gritante. A hegemonia progressista nas redações se disfarça de consciência coletiva. Segundo pesquisa do Reuters Institute, no Reino Unido 77% dos jornalistas se identificam como de esquerda e apenas 11% de direita. No Brasil, segundo pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina, a desproporção é ainda maior: 80,7% à esquerda, ante 4% à direita. Um levantamento da The Economist revelou que 17 dos 20 principais veículos dos EUA mimetizam predominantemente o vocabulário do Partido Democrata. A nova ortodoxia editorial não é imposta por governos, é cultivada nas redações.
Quando a imprensa se imagina consciência moral da sociedade, deixa de ser seu espelho e age como seu juiz. Ao invés de serem cronistas do real, muitos jornalistas tornaram-se missionários de suas idealizações. E quanto mais pregam, menos convencem. Em todo o Ocidente, cresce o abismo entre elites midiáticas e público. Uma democracia sem uma imprensa confiável é um corpo sem sistema nervoso. Se a sociedade não confia no jornalismo, torna-se incapaz de distinguir verdade de ruído, informação de propaganda.
Dia após dia, o jornalismo profissional é desafiado a manter seu papel de guardião da verdade factual em meio à torrente de distorções que capturam a atenção no mundo inteiro. Com seu exemplo de antijornalismo, a BBC ajudou a minar a confiança na imprensa, tal como desejam os inimigos das sociedades abertas.
Para recuperar a confiança e cumprir sua missão, o jornalismo precisa de humildade – isto é, precisa voltar a duvidar de si mesmo, e não apenas dos outros. A tarefa da imprensa independente não é salvar o mundo, é apenas descrevê-lo com honestidade. A verdade não pertence a um partido nem a uma causa, pertence ao público. E o jornalismo só o serve enquanto se lembra disso. Porque uma imprensa livre não se degrada quando é atacada por governos, mas quando blinda suas próprias certezas. Não morre quando é silenciada, mas quando deixa de escutar. Fonte: https://www.estadao.com.br
Quem é o adolescente por trás da foto misteriosa do roubo ao Museu do Louvre?
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No dia do roubo ao Louvre, a foto de um jovem de 15 anos, vestido com elegância, viralizou e despertou uma onda de teorias na internet
Pedro Elias Garzon Delvaux (à direita) passa enquanto policiais bloqueiam uma entrada do Louvre após ladrões realizarem um assalto em plena luz do dia Foto: AP Photo/Thibault Camus, File
Por Thomas Adamson
Quando Pedro Elias Garzon Delvaux, de 15 anos, percebeu que uma foto sua tirada pela Associated Press no Louvre, no dia do roubo das joias da coroa, havia alcançado milhões de visualizações, sua primeira reação não foi correr para a internet e se revelar.
Muito pelo contrário. Fã de Sherlock Holmes e Hercule Poirot, Pedro vive com os pais e o avô em Rambouillet, a 30 quilômetros de Paris, e decidiu entrar no jogo do suspense mundial.
Enquanto as teorias se espalhavam sobre o desconhecido elegantemente vestido na foto do “Homem do Fedora” - detetive, infiltrado, criação de inteligência artificial - ele decidiu ficar em silêncio e apenas observar.
“Eu não quis dizer imediatamente que era eu”, contou. “Com essa foto existe um mistério, então é preciso deixá-lo durar.”
Pedro Elias Garzon Delvaux (à direita) passa enquanto policiais bloqueiam uma entrada do Louvre após ladrões realizarem um assalto em plena luz do dia Foto: AP Photo/Thibault Camus, File
Na sua única entrevista presencial desde que o registro o transformou em uma curiosidade internacional, Pedro apareceu diante das câmeras da AP em casa praticamente como naquele domingo: usando chapéu fedora, colete Yves Saint Laurent emprestado do pai, paletó escolhido pela mãe, gravata alinhada, calça Tommy Hilfiger e um relógio russo restaurado e marcado pela guerra.
O chapéu fedora, inclinado no ângulo certo, é sua homenagem ao herói da Resistência Francesa Jean Moulin.
Pessoalmente, ele é um adolescente inteligente e bem-humorado que, por acaso, se viu envolvido em uma história de alcance global.
Da foto à fama
A imagem que o tornou famoso pretendia apenas registrar uma cena de crime. Três policiais se apoiam em um carro prateado que bloqueia uma entrada do Louvre, horas depois de ladrões realizarem um assalto em plena luz do dia às joias da coroa francesa. À direita, uma figura solitária, vestida com um terno de três peças, passa apressadamente.
A internet fez o resto. “O homem do fedora”, como os usuários o apelidaram, foi retratado como um detetive à moda antiga, um infiltrado, uma ideia para série da Netflix - ou até algo não humano. Muitos estavam convencidos de que ele havia sido gerado por inteligência artificial.
Pedro entendeu o motivo. “Na foto, estou vestido mais como alguém dos anos 1940, e estamos em 2025”, disse ele. “Há um contraste.”
Até alguns parentes e amigos hesitaram em acreditar até notarem sua mãe ao fundo da imagem. Só então tiveram certeza: o detetive falso favorito da internet era, na verdade, um garoto de verdade.
A história real era simples. Pedro, sua mãe e seu avô tinham ido visitar o Louvre.
“Queríamos ir ao Louvre, mas ele estava fechado”, contou. “Não sabíamos que tinha acontecido um assalto.”
Eles perguntaram aos policiais por que os portões estavam fechados. Segundos depois, o fotógrafo da AP Thibault Camus, que registrava o cordão de isolamento, capturou Pedro.
“Quando a foto foi tirada, eu não sabia”, disse Pedro. “Eu só estava passando.”
Quatro dias depois, um conhecido mandou uma mensagem: É você?
“Ela me disse que havia 5 milhões de visualizações”, contou. “Fiquei um pouco surpreso.” Depois, sua mãe ligou dizendo que ele estava no The New York Times. “Não é todo dia”, comentou. Primos na Colômbia, amigos na Áustria, conhecidos da família e colegas de escola começaram a mandar capturas de tela e mensagens.
“As pessoas diziam: ‘Você virou uma estrela’”, disse ele. “Fiquei impressionado que, com apenas uma foto, você possa viralizar em poucos dias.”
Um estilo inspirado
O visual que chamou a atenção de dezenas de milhões de pessoas não é uma fantasia improvisada para uma visita ao museu. Pedro começou a se vestir assim há menos de um ano, inspirado pela história do século 20 e por imagens em preto e branco de estadistas elegantes e detetives fictícios.
“Eu gosto de ser chique”, disse ele. “Vou à escola assim.”
Em meio a um mar de moletons e tênis, ele aparece com uma versão moderna de um terno de três peças. E o chapéu? Não, esse tem seu próprio ritual. O fedora é reservado para fins de semana, feriados e visitas a museus.
Na escola onde não há uniforme, seu estilo já começou a se espalhar. “Um dos meus amigos veio esta semana de gravata”, contou.
Ele entende por que as pessoas projetaram nele toda uma persona de detetive: um roubo improvável, um detetive improvável. Ele adora Poirot - “muito elegante” - e gosta da ideia de que um crime incomum exige alguém que também pareça incomum. “Quando algo fora do comum acontece, você não imagina um detetive normal”, disse ele. “Você imagina alguém diferente.”
Esse instinto combina com o mundo de onde ele vem. Sua mãe, Félicité Garzon Delvaux, cresceu em um palácio-museu do século XVIII, filha de um curador e de uma artista - e leva o filho regularmente a exposições.
“Arte e museus são espaços vivos”, disse ela. “A vida sem arte não é vida.”
Para Pedro, a arte e as imagens sempre fizeram parte do cotidiano. Por isso, quando milhões de pessoas projetaram histórias em um único registro dele de chapéu fedora ao lado de policiais armados no Louvre, ele reconheceu o poder de uma imagem — e deixou o mito respirar antes de se revelar.
Ele permaneceu em silêncio por vários dias e depois mudou seu perfil no Instagram de privado para público.
“As pessoas tinham que tentar descobrir quem eu sou”, disse ele. “Aí os jornalistas vieram, e eu contei minha idade. Eles ficaram extremamente surpresos.”
Ele está tranquilo quanto ao que vier a acontecer. “Estou esperando que as pessoas me chamem para filmes”, disse, sorrindo. “Seria muito engraçado.”
Em uma história de roubo e falhas de segurança, o “Homem do Fedora” é um contraponto mais leve — um adolescente que acredita que arte, estilo e um bom mistério fazem parte da vida comum. Uma foto o transformou em símbolo. Conhecê-lo é confirmar que ele é, para alívio de todos, real.
“Sou uma estrela”, ele diz — menos como uma fanfarronice do que como um experimento, como se estivesse experimentando as palavras da mesma forma que experimenta um chapéu. “Vou continuar me vestindo assim. É o meu estilo.” / AP Fonte: https://www.estadao.com.br
Saiba quem era o influenciador caminhoneiro morto em acidente na BR-381.
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Ele transportava uma carreta que levava um carregamento de batata doce quando saiu da pista e caiu em uma ribanceira
Por O Globo
O caminhoneiro e influenciador Gustavo Miranda, o Gustavim GMF, de 24 anos, morreu na madrugada de sábado em um acidente na BR-381, em João Monlevade. Ele transportava uma carreta que levava um carregamento de batata doce quando saiu da pista e caiu em uma ribanceira.
A morte do influenciador foi confirmada ainda no local. Gustavi Miranda é natural de Pato de Minas e tinha 243 mil seguidores em seu perfil no Instagram.
Segundo a TV Integração, chovia no momento do acidente. Grávida de quatro meses, a mulher do influenciador também estava no veículo. Ela ficou presa nas ferragens após o acidente, mas foi resgatada e levada para o hospital. Detalhse sobre o seu estado de saúde não foram divulgados.
No Instagram, Miranda compartilhava vídeos e fotos do seu cotidiano como caminhoneiro.
Miranda era filho de Keila Cristina Miranda, assassinada em 2022 pelo marido, em um crime de repercussão no estado. O pai do influenciador foi condenado a 38 anos de prisão. No Instagram, Gustavim GMF fazia publicações em homenagem à mãe. Na mais recente, de 29 de outubro, ele havia escrito "Keila, te amo" na faixa de areia de uma praia.
Amigos e familiares deixaram mensagens homenageando Gustavo Miranda nas publicações do perfil. "Agora você está ao lado dela meu grande amigo descanse em paz", escreveu um, referindo-se a Keila Miranda. "O reencontro de vocês deve ter sido lindo", comentou outro. "O céu está em festa com sua ida para um lugar melhor, cumpriu e honrou suas lutas que jamais será esquecida por muitos", publicou mais um. Fonte: https://oglobo.globo.com
Ruan Juliet direto da Rocinha: o Rio que o príncipe William não vê
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O influenciador de 22 anos desmistifica a vida dentro da maior favela do Brasil e revela toda a inteligência, potência e criatividade que as manchetes de jornais não mostram
Por Redação
“Quem sabe da favela é quem mora aqui”, diz Ruan Juliet. Morador da Rocinha, no Rio de Janeiro, a maior favela do Brasil, com mais de 70 mil habitantes, o criador de conteúdo tem se tornado uma das vozes mais potentes das redes sociais ao mostrar o que é viver dentro de uma comunidade, longe dos estereótipos criados por quem vê tudo de fora. Seu olhar expõe um Rio invisível: aquele que nem os turistas, nem o príncipe William e tampouco quem vive do lado de lá do asfalto costuma ver. “A favela é muito mais do que tiro, porrada e bomba. Aqui tem criatividade, empreendedorismo, inteligência. Gente que não teve oportunidade, mas que é genial. Todo mundo tem curiosidade sobre como é a vida na comunidade, mas sempre foi a galera de fora contando a nossa história. Eu pensei: e se eu transformar meu cotidiano em conteúdo?”, conta.
Com humor, inteligência e um olhar afiado, Ruan mostra o lado criativo, trabalhador e humano da favela – um retrato raro em meio às manchetes que costumam associar o morro à violência e à criminalidade. “Na favela, se faz a engenharia da sobrevivência. Aqui, os pedreiros têm uma inteligência rara e a maioria nunca entrou numa universidade. Mesmo assim, eles constroem tudo: as casas, os becos, os degraus, as rampas. Esses caras já são criativos por natureza. Imagina eles com conhecimento na mão?”, diz.
Mas ainda há muita falta. “Nós, moradores de favela, vivemos num mundo paralelo. Quem é de fora se pergunta: ‘Como conseguem viver assim?’ Fizeram a gente normalizar essa realidade. Vem eleição, vem promessas, e nada muda. Então, se essa é a realidade, a gente cria soluções criativas pra amenizá-la. É o que fazemos todos os dias”, diz. “Na comunidade, a necessidade vem antes do sonho. Dificilmente quem cresce em favela consegue terminar o ensino médio, e não é porque a gente não quer. Aos 14 anos você já precisa abandonar a escola para trabalhar e ajudar a colocar comida em casa. Nos bairros ricos, o sonho vem antes da necessidade”.
No papo com Paulo Lima no Trip FM, o influenciador de 22 anos também reflete sobre o impacto das operações policiais e a urgência de incluir as vozes das comunidades nas decisões do país. “Existem alternativas ao mundo do crime, mas o problema é o jovem da favela ser o que restou pra ele. O frete humano e o mototáxi são trabalhos dignos, mas nascem da ausência do Estado. Se houvesse política pública eficaz, eles nem precisariam existir. O Estado precisa oferecer escolhas que realmente transformem a vida desses jovens”, afirma. “A primeira coisa que precisamos entender é que falhamos como sociedade. Agora, precisamos nos reconstruir. Mas isso só vai acontecer se quem vive nas favelas for incluído nas decisões políticas. Enquanto isso, o país segue dividido, brasileiro contra brasileiro, e a gente não percebe que todo mundo tá perdendo. E quem perde mais, como sempre, é o povo da favela.”
Trip. Queria começar te ouvindo sobre a sua origem. De onde vem sua família?
Ruan Juliet.
Eu sou filho de nordestinos – a maioria das favelas do Rio foi construída por nordestinos. Meu pai é de Guarabira, interior, e minha mãe de Queimadas, também do interior. Eu sou carioca, nascido e criado na Rocinha. Meu pai saiu da cidade com 11 anos, muito novo, atrás de emprego. Ele chegou a passar fome, veio pro Rio com o irmão e começou a trabalhar na praia, vendendo cadeira e guarda-sol. Minha mãe, como tantas mães brasileiras, trabalhou a vida inteira como doméstica.
E como foi a vida de vocês no começo, dentro da Rocinha? Onde moravam?
A gente morava de favor na casa de uma amiga da minha mãe, que tinha uma lojinha de costura. Aí minha mãe foi fazendo amizades, desistiu de trabalhar como doméstica e começou a montar um pequeno empreendimento dentro da favela. Eu puxei muito dela. Hoje penso que o meu trabalho na internet vem da inteligência dela, de se virar, criar alternativas. Ela montou uma barraquinha, começou a ganhar um pouquinho de dinheiro e, com isso, saímos da casa de favor e fomos pra onde moro até hoje: um kitnet de 30 m², com quarto, cozinha e banheiro, no Valão. Não é a parte mais pobre da comunidade, mas também não é a mais rica. É o meio.
E o nome “Valão” tem a ver com o esgoto?
Tem. Todo o esgoto da Rocinha passa por aqui. Quando chove, alaga muito. Às vezes não dá pra chegar em casa. Quando o tempo fecha, eu já fico com medo: “Tenho que ir pra casa logo, senão não volto”.
Como é a relação da molecada com a escola? Você conseguiu estudar? Terminei a escola, graças a Deus. Mas é importante entender a diferença. Uma criança no Leblon só precisa focar nos estudos. Ela enxerga a escola como uma oportunidade de alavancar a vida, de conseguir uma nova profissão. Dificilmente você vai ver isso na criança da comunidade. Porque ela cresce vendo a mãe, muitas vezes solo, trabalhar 24 por 48, sem tempo nem pra ter contato com o filho. E aí você cresce e não tem comida em casa, às vezes falta. Com 14 ou 15 anos, tem que escolher: estuda ou trabalha pra ajudar em casa, pra pôr comida na mesa, ou pra sair da casa pequena. Eu, por exemplo, nunca tive meu próprio quarto. Então é abandonar a escola e começar a trabalhar. Então dificilmente quem mora na favela consegue terminar o Ensino Médio. Não porque não quer, mas porque o ambiente não permite. Eu não vou pra escola ficar escrevendo enquanto eu tô passando fome. A fome fala primeiro. Você aprende a sonhar depois. Na favela, a necessidade vem antes do sonho. Lá no Leblon, o sonho vem antes da necessidade. São realidades completamente diferentes.
Em entrevista ao Trip FM, o ator Jonathan Azevedo contou que o curso de teatro dele custou três dentes. Ele falou que em três situações diferentes, quando estava indo para o no Nós do Morro, projeto que o formou como ator, ele foi abordado e agredido pela polícia. Como é pra você sair da Rocinha pro asfalto? Ainda existe esse medo, essa tensão?
Eu costumo dizer que também tem muito a ver com autoestima. Pra quem cresce na favela, às vezes falta autoestima pra ir pro Leblon, pra Copacabana… “O que eu vou fazer lá? O meu mundo é aqui”. Porque quando a gente sai, vão olhar diferente pra nós. A polícia para muito: toda vez que eu pego um Uber pra sair da Rocinha, com meu cabelo platinado, o carro é parado. Mas não é só isso. É entrar numa loja e ficar sendo olhado torto, é chegar num restaurante e não se sentir bem. Falta autoestima. O jovem que cresce na favela sente isso na pele.
Como foi o começo da sua carreira como criador de conteúdo?
Sou fruto de um projeto social da comunidade, que tinha aulas de teatro e futebol. Em 2019, depois da pandemia, um influenciador chamado Jacques Vanier visitou o projeto. Ele gostou de mim, começou a me gravar, fazer perguntas. Eu estava de Juliet – o óculos, muito famoso nas favelas aqui do Rio – e comecei a zoar ele, que ele era cowboy, de botina e chapéu. No último dia, ele perguntou ao dono do projeto se podia marcar meu arroba. Eu nem sabia o que era arroba. Quando ele me marcou, ganhei 10 mil seguidores. A partir disso eu fui desenvolvendo, continuei trabalhando na minha barraca e fui gravando devagarzinho.
Era uma barraca de eletrônicos, né?
Isso. Comecei a trabalhar com 12 anos pra ajudar meus pais, vendendo carregador, controle, boneco. Meu sonho era aumentar a barraca dentro da Rocinha – e consegui. Antes das redes sociais, juntei dinheiro e reformei, fiz uma barraca maior. Depois que o Jacques me marcou, comecei a mostrar meu dia a dia, apresentar a Via Apia, a rua principal da Rocinha. Todo mundo sempre teve curiosidade sobre como é a vida na comunidade, mas ninguém daqui tinha voz. Sempre foi a galera de fora contando a nossa história. Aí eu comecei a transformar meu cotidiano em conteúdo. Transformei a Rocinha no palco, trouxe o Brasil e o mundo pra dentro da favela. Falei: vem pra cá, vem conhecer um pouco da nossa realidade, entender como a gente vive, entender que aqui existe muito além do que a galera fala há décadas. Aqui existe muita criatividade, muita gente empreendedora, muita gente inteligente, que às vezes só não teve oportunidade.
Você tem um olhar quase de arquiteto, mostrando as lajes, escadas, becos. Existe uma sabedoria enorme em criar a partir da carência. Como você enxerga isso? Daria pra trazer conhecimento técnico pra dentro da favela?
Ninguém nunca tinha me falado isso, mas eu gosto muito da criatividade. É o conteúdo que eu mais piro em fazer porque realmente acho muito bizarro como que a galera foi dando um jeitinho. Os pedreiros têm uma inteligência muito rara, um conhecimento que eu falo: “Caraca, vocês fizeram alguma faculdade”. Mas a maioria não estudou. Se eu fosse fazer alguma coisa, traria um curso técnico para os pedreiros, porque eu acho que eles poderiam fazer muita diferença para a comunidade, transformando uma rampa, trazendo solução para os becos, para os degraus. Se eles já são criativos por si só, imagina esses caras com conhecimento na mão.
Quando comecei a fazer entrevistas no Trip FM, lá atrás, as referências dos jovens de favela eram o futebol, o samba e o crime. O cara queria ser jogador, sambista ou bandido, que era quem tinha ouro, roupa, moto, mulher. Hoje isso mudou? Quem são as referências de um moleque da Rocinha?
Hoje a gente se inspira muito nos MCs, no rap. Além do cabelo platinado, por exemplo, tem o cabelo vermelho, que vem dessa galera. Esse estilo dentro da comunidade acaba dando uma sensação de poder. Se eu ficar só com o cabelo preto, não fico tão cria. Os MCs são uma galera que fala muito hoje com a comunidade.
Boa parte do Brasil ainda associa favela ao crime – uma ignorância absurda, mas que ainda existe. Você tenta quebrar isso mostrando a vida real. Como dá pra mudar essa imagem?
Essa visão vem do jeito que a grande mídia sempre tratou a favela e também das ficções que falam sobre ela. Quando comecei a gravar vídeo, além da criatividade, quis mostrar outras pessoas além do Ruan. Não só pessoas que trabalham fora da favela, o famoso CLT, mas profissões que nasceram a partir de necessidades locais. Um exemplo é o frete humano. O caminhão não sobe os becos, então jovens de 15, 20 anos viraram o “elevador” das obras, carregando areia, tijolo, cimento. É a fonte de renda deles. Estou construindo uma casa agora e todo o material é levado por esses jovens trabalhadores. Isso é mostrar para o Brasil a verdadeira realidade dentro da favela, porque as narrativas sempre foram de crime, de porrada. E as outras coisas? E aí a gente precisa se perguntar: será que todo mundo tem as mesmas 24 horas? Será que todo mundo tem o poder de escolha? Será que todo mundo consegue enxergar um caminho? Ou será que realmente o ambiente molda a sua escolha?
Recentemente houve uma chacina no Complexo do Alemão, um episódio lamentável. Você fez um vídeo que começa fazendo uma homenagem tanto os policiais mortos quanto os jovens da favela e disse que nada daquilo é bom pra ninguém. Como ficou o clima na Rocinha depois disso?
Foi muito triste. Seja na Rocinha, no Vidigal, na Cidade de Deus, quem mora em favela começa a ficar com medo. A gente pensa: “fizeram lá, daqui a pouco vão vir pra cá”. E se eu estive na rua? E se eu estiver voltando do trabalho? Vidas foram perdidas dos dois lados e nada mudou. A vida segue igual. Ninguém fala do pós-operação: da falta de saneamento, de acessibilidade. A gente falhou como sociedade e precisa se reconstruir. Se é pra fazer política dentro da favela, tem que trazer o povo da favela pras decisões. Passam-se décadas e ainda não temos saneamento básico, mas seguimos discutindo plano de operação. Se ele resolvesse algo, já teria resolvido há muito tempo. Eu sou a favor da segurança, mas não adianta resolver a segurança sem resolver o resto.
Pra encerrar, eu queria saber um pouquinho dos seus projetos e do seu trabalho com marcas. Como está a sua situação empresarial?
Graças a Deus, hoje eu consigo viver só das redes sociais. Demorou três anos pra isso acontecer. Só comecei a ganhar dinheiro no fim de 2022, com o primeiro trabalho. Antes disso uma casa de apostas me ofereceu dez mil reais por seis meses. Eu nunca tinha visto tanto dinheiro, vendia 70 reais por dia numa barraquinha, isso ia mudar um pouco a minha vida. Mas eu recusei. Não posso aceitar algo que vai contra os meus princípios, não posso mentir pro meu povo. Hoje eu não represento só o Ruan, represento a Rocinha e outros jovens de comunidades que acabam se inspirando em mim. A maioria das marcas com as quais eu trabalho estão dentro da comunidade de alguma forma. O Banco 24 Horas traz inclusão financeira, porque é como a gente tem acesso ao dinheiro físico; o iFood virou porta de emprego pros jovens, porque a gente sabe como é, quando você sai da escola com 18 anos e vai entregar um currículo, dificilmente é aceito quando fala onde mora; e a Águas do Rio abriu diálogo com os moradores, tem muita coisa pra mudar, mas já escutou muitas coisas nossas. As redes sociais estão me dando muita coisa, abrindo oportunidades e ,e fazendo conhecer muita gente. Esse papo, por exemplo, abre minha mente pra sair daqui e criar vídeos provocativos, construtivos, que gerem debate. É isso que todos os jovens da favela precisam: oportunidade e contato com outras pessoas e realidades. Fonte: https://revistatrip.uol.com.br
É muito cristão comemorando a morte alheia
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-Nikolas Ferreira classificou ação do Rio como a maior faxina da história
-Uma brutal contradição em relação aos ensinamentos de Jesus
Protesto de moradores da Penha por conta das mortes após confronto com traficantes durante operação policial no Complexo da Penha e Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro - Eduardo Anizelli - 31.out.2025/Folhapress
Ciclista, vencedor do Prêmio Jabuti Acadêmico, economista pela USP e pesquisador do Insper. Foi visiting scholar nas universidades de Columbia e Stanford
Como é de conhecimento comum, o Rio de Janeiro foi palco da operação policial mais letal de sua história. Foram cerca de 121 mortos em uma ação concentrada em comunidades periféricas. E não demorou muito para que a tragédia se tornasse mais um palanque político.
Entre os que comemoraram o saldo de mortes da operação, está o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), autodeclarado cristão, que classificou o episódio como "a maior faxina da história do Rio de Janeiro". Sua fala, longe de ser isolada, está inserida na difundida mentalidade de que matar bandidos, sobretudo os pobres, é não apenas justificável, mas desejável.
Entretanto, é curioso quando pessoas que se afirmam cristãs se curvam diante da morte alheia com tamanha empolgação. O mesmo credo que prega o amor aos inimigos e o valor sagrado da vida é rapidamente esquecido dependendo do contexto em que se encontra o cristão.
Isso não é apenas moralmente problemático, mas também interessante politicamente. O cristianismo, no Brasil recente, foi capturado por uma parte da população de uma forma diferente. Tornou-se símbolo de identidade política, embora, em muitos casos, esteja completamente ausente de ética. E agora, a morte também é usada como instrumento político. Ela serve para demonstrar força, sinalizar ação e tranquilizar o eleitorado com sede de justiça rápida.
Porém, o que se viu no Rio de Janeiro foi mais um grande espetáculo. A operação entrou, matou e saiu. A operação teve quatro vidas de policiais perdidas. E depois? Deixar o território novamente para os criminosos? Não houve a intenção de reconstrução do Estado naquele local, nem ocupação duradoura. Houve sangue e manchete. O recado não foi segurança. O recado foi propaganda eleitoral.
Enquanto isso, quem mora nesses territórios segue refém. Refém do tráfico e da milícia. Refém de políticos que se aproveitam da dor e da desordem para conquistar votos com promessas que não chegam às vielas.
Já no espectro ideológico oposto, uma parcela da esquerda, por sua vez, ainda está com significativa dificuldade para lidar com a complexidade do problema. Muitas vezes cai na armadilha de reduzir o debate a determinismos sociais. Como se denunciar a desigualdade bastasse para explicar (e, às vezes, desculpar) a violência. Mas quem vive nas favelas quer mais do que explicações. Eles querem paz, presença do Estado e justiça.
Apesar disso, é importante ter em mente que nenhum país que se pretende civilizado pode normalizar a matança. E nenhum discurso verdadeiramente cristão pode se orgulhar dela. "Felizes os que promovem a paz, pois serão chamados filhos de Deus", dizia o homem da Galileia. Já li a Bíblia inteira três vezes e confesso que não lembro de ter encontrado no Novo Testamento ao menos um versículo que justifique o extermínio de pessoas.
É preciso recuperar a dignidade da vida humana como fundamento. E reconhecer que a segurança não virá com espetáculo. Ela virá com o Estado presente, políticas integradas e respeito ao cidadão. Mesmo aquele cidadão que mora onde a maioria não quer olhar.
O texto é uma homenagem à música "Todos estão surdos", composta por Erasmo Carlos e Roberto Carlos, interpretada por Roberto Carlos. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
FINADOS... Velas são símbolos de uma oração contínua diante de Deus
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No Dia de Finados, 2 de novembro, dezenas de famílias lotam os cemitérios para visitar os jazigos de seus entes queridos e acender velas em sua homenagem. O costume faz com que as fábricas de velas tripliquem suas produções, sendo que as vendas atingem seu pico no mês de outubro, época em que a procura pelo artefato começa a aumentar.
De acordo com Gabriele da Silva Azevedo Gurgel, secretária da “Fábrica de Velas Pedras Vivas”, localizada em Brazlândia (DF), no período normal, o estabelecimento vende cerca de 50 caixas de velas por dia; com o Dia de Finados, o número salta para 200 caixas. Segundo ela, nesse período os funcionários também aumentam suas horas de trabalho para dar conta da demanda. Ela explica ainda que as velas mais procuradas para a ocasião são as comuns, chamadas de “palito” e as “duplex”. “Costumamos falar que o Dia de Finados é como o Natal para a gente, em questão de vendas”, afirma Gabriele.
O costume de acender velas para os fiéis defuntos, segundo a Igreja Católica faz parte do culto da humanidade e revela um ato de homenagem aos entes queridos. Para o assessor da Comissão para a Liturgia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), frei Faustino Paludo, a iniciativa representa a relação com a fé em Cristo e, o gesto, quando feito por um familiar significa que o ente “está na luz de Deus, plenamente iluminado ou participa da luz plena que é Jesus Cristo ressuscitado”.
As velas, no culto cristão católico, simbolizam o próprio Cristo, Luz do mundo. Elas são símbolos de uma oração contínua diante de Deus “para que queimem continuamente diante do Senhor” (Lev 24,4). A importância de acendê-las na intenção dos falecidos, segundo o frei, se dá no fato de que a oração, simbolizada na vela, seja contínua diante do Senhor. Isso porque depois de rezar e acender a vela, deixa-se na presença do Senhor um símbolo material do pedido, que o perpetuará “continuamente diante do Senhor” (Lev 24,4).
Para quem acha que as velas substituem as orações, frei Faustino alerta para o fato de que os falecidos não precisam do artefato e sim das orações, no entanto as orações e intenções podem ser simbolizadas pela vela. “No gesto de iluminarmos nossas liturgias com velas, estamos querendo dizer que queremos ser luzes e que queremos iluminar, assim como diz Jesus quando afirma que nós somos a Luz do mundo e que nossa luz deve brilhar”, finaliza.
“O uso de velas é antiquíssimo na Igreja, de longa tradição. Acompanham a oração pelo seu simbolismo: no Evangelho Jesus nos aconselha a esperarmos por ele com as vestes cingidas (com cordão, significando preparação para a viagem) e nas mãos lâmpadas acesas (simbolizando a fé e a caridade). É um dos símbolos do sacrifício. Claro que não substituem a oração, mas a acompanham. Em uso desde o tempo das catacumbas”, afirma o bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney, dom Fernando Âreas Rifan.
Velas virtuais – Em tempos de tecnologia e com a utilização da internet, muitos estão acendendo velas virtuais. Questionado se o hábito tem legitimidade, o arcebispo de Palmas, dom Pedro Brito Guimarães afirma que o ato depende muito: “Se a pessoa reduz a sua religião e a sua fé a algo virtual e se isola da comunidade, alguma coisa está errada. Caiu no isolamento, no individualismo, no deserto espiritual. A fé nos leva a pertencer. Aliás, é simbolo de pertença. E a igreja vive da pertença e da presença dos seus fiéis. Não se é e nem se vive plenamente o ser igreja, deitado, sentado, diante da tela de um computador, acendendo vela para defuntos”, argumenta. Fonte: https://www.cnbb.org.br
*Letalidades e atrocidades
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Onde o poder público descuida da integridade física dos mais pobres, o regime democrático não passa de uma fachada de papelão esburacada por tiros, chamuscada por pólvora queimada e borrifada de sangue
Por Eugênio Bucci
“A ditadura segue presente nas periferias.” A frase estava no pequeno cartaz que me fez companhia na Catedral da Sé, na noite de sábado, 25 de outubro, durante o culto inter-religioso em memória dos 50 anos do assassinato de Vladimir Herzog. Era um cartaz em papel bem firme, plastificado, quase do tamanho de uma página de jornal como este aqui. De um lado, trazia a foto de Manoel Fiel Filho, o metalúrgico alagoano que foi morto em 1976 pela repressão política da ditadura. Do outro lado, as palavras certeiras sobre a presença destrutiva da violência policial nos bairros mais pobres das metrópoles brasileiras.
Eu levantei o retrato muitas vezes durante o culto. Sempre que um discurso lembrava os desaparecidos ou um dos que tombaram sob tortura, como o jornalista Vladimir Herzog e o operário Manoel Fiel Filho, eu o erguia. Dezenas de outras pessoas presentes, com pôsteres estampados com outros rostos, também elevavam os seus. O efeito cênico se traduzia em comunicação didática e expressão política: a História existe quando dela não nos esquecemos – e, se dela não nos esquecemos, sabemos tecer o presente. Fora disso, o que resta é a selva. A memória dos crimes perpetrados pelo arbítrio que varreu o País há 50 anos nos ajuda a vencer aqueles que querem reeditá-lo. Por isso dizemos: ditadura, nunca mais.
O problema é que persistem entre nós, até hoje, resquícios da violência de Estado. Voltemos os olhos na direção das periferias.
Anteontem, na terça-feira, a chamada “megaoperação” policial que varreu os complexos do Alemão e da Penha, na cidade do Rio de Janeiro, a pretexto de combater as atividades criminosas do Comando Vermelho, deixou um saldo tenebroso. Na noite de terça, a contagem oficial chegava a 64 mortes. Quatro das vítimas eram policiais em serviço. Ontem, quando fechei este artigo, o cômputo tinha dobrado, batendo na casa dos 128. Diante da tragédia em progressão, o jornalista Jamil Chade observou: no mesmo dia, morreram em Gaza 104 pessoas.
Todos esses óbitos são inaceitáveis, sob qualquer aspecto, mas a cifra carioca, neste momento, estarrece mais. O Rio é uma cidade em paz, ao menos em tese. No entanto, quem mora em algumas comunidades vive sob permanente estado de terror. Não há outra palavra: estado de terror. Pior ainda, um estado de terror cujo pavio pode ser aceso pela autoridade pública. Pensemos um pouco sobre o que aconteceu na terça-feira. A fúria dos infernos só desabou sobre o chão, daquele jeito, porque as tropas do governo do Estado, com sua movimentação estabanada e sua descoordenação estapafúrdia, precipitaram o caos. As mortes foram causadas diretamente pelos agentes da lei.
Como interpretar o que houve? O que se passa na cabeça dos governantes? Será que não levam em conta as pessoas que moram naquilo que elas tomam como seu teatro de guerra eleitoreira? A autoridade não pensa na segurança de sua gente quando despeja seus soldados espetaculosos e ineficientes sobre as ruelas?
É a inversão total: no Rio de Janeiro dos nossos dias, a farda e os coturnos deflagram o morticínio, em vez de impedi-lo. A frase do cartaz que eu segurava foi, uma vez mais, comprovada pelos fatos: nas periferias, o terror é a lei.
Mas não só nas periferias. Se é assim nas periferias, é assim necessariamente na cidade inteira. É assim não só porque as aulas em toda parte tiveram de ser interrompidas, não só porque o comércio foi fechado e as igrejas baixaram os seus portões de ferro. É assim não só porque uma bala perdida alcança corpos além das fronteiras de classe. É assim, também e principalmente, porque ninguém está a salvo na metrópole se as maiorias podem ser fuziladas a qualquer momento.
Até quando vamos sustentar a ilusão macabra de que um país pode se dividir em dois regimes sem se perder de si mesmo? Ou o Brasil é um só, com direitos iguais para todo mundo, ou não será Brasil nenhum. Ou paramos com esta doença de acreditar que os direitos dos de cima têm precedência sobre os direitos dos de baixo, ou nunca chegaremos a um Estado democrático.
Onde o poder público descuida da integridade física dos mais pobres, o regime democrático não passa de uma fachada de papelão esburacada por tiros, chamuscada por pólvora queimada e borrifada de sangue. Onde o governante despreza a vida de sua gente, o que existe é um antipoder público ou um poder antipúblico: uma extensão descarada do crime, não mais uma construção do espírito.
Repito o número: 128 mortos. Na conta estão os que não tiveram direito a julgamento e os inocentes que iam trabalhar, que passeavam na calçada, que queriam comprar um cigarro. No território onde faleceram não há democracia.
A repercussão na imprensa internacional é a pior possível. Ainda bem. A indignação do mundo, nesta hora, só nos ajuda. Este governo que chacina seu povo, esfacela os fundamentos da cultura democrática e reforça o império da violência ditatorial, este governo que se comporta como um bando de extermínio terá de responder por seus atos. Enquanto isso, a lógica da ditadura marca presença. Fonte: https://www.estadao.com.br
*Opinião por Eugênio Bucci
Jornalista e professor da ECA-USP, Eugênio Bucci escreve quinzenalmente na seção Espaço Aberto
*Meu luto vai durar para sempre? Como retomar a vida com a presença dessa ausência
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Percebi que prolongar a tristeza era uma forma de me manter perto da mãe que eu perdi tão cedo. O luto raramente é linear; giramos em falso, capturados por um rodamoinho de melancolia
Todo luto carrega em si uma ambivalência pungente: na ausência concreta de quem amamos, carregamos a presença da dor de lembrar e a angústia de esquecer. Dói lembrar como as segundas-feiras eram acolhedoras começando a semana com jantar e colo de mãe; os conselhos da amiga querida, que davam contorno à nossa vida errante; o cafuné do amor que, com a ponta dos dedos, apaziguava os milhões de pensamentos que hoje, sem ele e sem cafuné, invadem nossas noites.
Mas também dói esquecer: a voz do pai que era razão e perdão ou o aniversário daquele amor que juramos eterno e que a vida interrompeu, levando o companheiro antes do tempo. Como se perder lembranças fosse perdê-los de novo. Como se cada esquecimento confirmasse que a vida segue —mas esvaziada.
Todo mundo que já perdeu alguém importante se sentiu assim: meio desencaixado do mundo, querendo seguir, mas convocado emocionalmente a ficar: com o vazio, com as memórias, com as saudades que nos revisitam sem aviso. Apesar de falarem nas cinco fases do luto, ele raramente é linear. Giramos em falso, capturados por um rodamoinho de melancolia que, de tempos em tempos, nos puxa de volta a esse não lugar. De repente, não mais que de repente, o luto volta como ondas que, por vezes, nos afogam em desesperança, tristeza, solidão —ainda que saibamos que há muita vida, e muitos vivos, nos convidando a seguir.
Finados, que chega no domingo (2), pode ser uma dessas marés que voltam, trazendo um oceano de saudades. Há também o Natal, o aniversário ou o simples tocar da música que era "a de vocês". Eu, que fui atravessada pelo luto muito cedo —perdi minha mãe aos cinco— sei como é difícil se ver às voltas com essa sensação de "será que não vai passar nunca?". Dá medo de transformar a dor em muleta psíquica, em barreira pro mundo, em casulo de identidade. Mas também dá raiva quando o mundo, e nós mesmos, nos cobra seguir em frente, como se fosse possível "superar" a ausência de quem amamos.
bell hooks dizia que o luto prolongado incomoda uma cultura que quer curar rápido. Somos ensinados a sentir vergonha da dor que insiste, como se ela fosse fracasso. Nessa lógica corremos o risco de interpretar mal o convite da psicanálise: Freud dizia que o trabalho do luto consiste em libertar o amor do objeto perdido, para que a vida possa seguir. Seguir, porém, não é esquecer, é ressignificar. Não se trata de deixar de doer, mas de descobrir nossos próprios recursos para acolher a dor e honrar o que fica de quem não fica.
No meu processo analítico, percebi que prolongar a tristeza era, inconscientemente, uma forma de me manter perto da mãe cuja ausência se impôs mais do que a presença. Como se ficar na dor fosse honrar o amor vivido e reviver o vínculo na falta. Vejo o mesmo em viúvos: uma interdição à felicidade, como se ser feliz de novo fosse trair quem já não está.
Com o tempo, entendi que sou também a vida da minha mãe que segue e o reflexo do colo da minha tia Célia, que se foi há um ano. Criei rituais para mantê-las por perto. Da minha mãe fiz uma colcha de retalhos de memórias, costurada com lembranças emprestadas de meu pai e tios. Descobri que "Bennie and The Jets" era sua música e a coloco para tocar quando quero senti-la perto. Se meu coração aperta, adoço o dia com marzipã —seu doce favorito, que hoje é também o meu. Da minha tia, herdei a coragem de nomear sentimentos e aceitar a errância do sentir. Hoje, a cada escuta, afeto e palavra que compartilho com um analisando ou amor, algo dela se transmite em silêncio através de mim. E quando o silêncio dói, mando mensagens de áudio e escuto sua voz de novo. Ritualizar o amor continuamente é uma forma bonita de cuidar da ausência, criando pequenos portais de afeto que se tornam portos seguros.
Permita-se ir devagar. Não espere estar bem para voltar a se abrir. Leve a dor para passear —não para escondê-la, mas para entender que você respira também através dela. Sim, haverá um furo para sempre. Cuide dele com delicadeza. Nada será como antes, mas não precisa ser esvaziado; pode ser apenas diferente. A força está em acolher a dor e permitir que ela conviva com outras emoções.
Talvez o luto te acompanhe sempre, mas não mais como o fim de uma vida, e sim como a forma do amor permanecer. Ele só muda de forma, e é nesse permanecer que a existência se refaz.
E se você também tem um dilema ou uma dúvida sobre suas relações afetivas, me escreva no Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.. Toda quarta-feira respondo a uma pergunta aqui
*Escrita por Carol Tilkian, psicanalista, pesquisadora de relacionamentos e palestrante. Fundadora do podcast e do canal Amores Possíveis e professora da Casa do Saber. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Com 59 corpos levados para praça na Penha, sobe para 123 número de mortos na operação mais letal do Rio
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Cadáveres teriam sido retirados da área de mata da Vacaria, na Serra da Misericórdia, onde ocorreram os confrontos mais violentos entre policiais e traficantes
Por Fabiano Rocha, João Vitor Costa e Paulo Assad — Rio de Janeiro
Ao longo da madrugada e da manhã desta quarta-feira, 59 corpos foram levados até a Praça São Lucas, na Estrada José Rucas, no Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio. Os cadáveres foram retirados da mata da Vacaria, na Serra da Misericórdia, onde ocorreram os confrontos mais violentos entre policiais e traficantes na megaoperação de terça-feira. Com isso, sobe para 123 o número de mortos na ação mais letal da polícia no estado. Entre os que acompanham a cena predomina o silêncio profundo, enquanto muitos se aproximam para tentar reconhecer os mortos. Pessoas com luvas estão cortando partes das roupas dos mortos para facilitar a identificação. É esse grupo que contabiliza os mortos.
O número de mortos ainda pode aumentar. Segundo a TV Globo, sete corpos foram deixados, também nesta quarta-feira, no Hospital estadual Getúlio Vargas, que concentrou o atendimento aos baleados na megaoperação.
Às 3h, uma fileira de cadáveres começava se formar na Praça São Lucas. Nas horas seguintes mais corpos foram levados até o local. Eles chegaram no endereço transportados em caçambas de caminhonetes e são retirados pelos próprios moradores, antes de serem adicionados à fileira que já soma dezenas de mortos. No início da manhã, por volta de 7h30, mais corpos ainda chegavam à praça.
Corpos enfileirados e silêncio na favela um dia após operação mais letal do RJ
Pouco antes das 8h três rabecões se posicionaram perto dos cadáveres. A maioria deles começou a ser descoberta, enquanto centenas de pessoas acompanhavam a cena.
— Cadê o meu filho? — gritou uma mulher.
Algumas pessoas argumentaram que um dos homens teria se entregado à polícia e, mesmo assim, foi morto.
— Nunca vi isso — diz um morador.
Os moradores da comunidade se aproximam dos mortos e levantam os lençóis e cobertores que os cobriam para ver os seus rostos e reconhecê-los. No entorno, dezenas de pessoas observam a cena e apontam para os corpos, enquanto outros limpam as lágrimas. Em dado momento, os moradores rezaram um Pai Nosso. Uma família se ajoelhou ao redor de um dos mortos:
— Como pode destruir tantas famílias, tantas vidas? E ficar por isso mesmo? — disse a mãe, enquanto passava a mão no rosto do filho morto.
O ativista Raull Santiago esteve entre aqueles que viraram a madrugada em busca de corpos na favela. Na manhã desta quarta-feira, ele publicou um vídeo nas redes sociais enquanto estava na área de mata que liga o Complexo do Alemão ao Complexo da Penha. Santiago, que estava acompanhado de moradores e advogados, descrevia já ter encontrado doze corpos. Na gravação, ele mostrou marcas de sangue espalhadas na terra.
Mãe encontra o filho entre corpos enfileirados: 'Eles não podem destruir tantas vidas'
— Não dormi ainda. Amanheci aqui nesse caos. Não estou achando palavras. Estou com nojo — disse o ativista, que horas depois compartilhou outro vídeo no Instagram, já fora da mata — A ficha está começando a cair. O grito, o choro. E tem mais corpos chegando, os carros acabaram de subir, porque mais pessoas foram encontradas na favela.
A operação
A operação ocorreu na terça-feira. Segundo dados oficiais do governo, 60 pessoas morreram, em sua maioria suspeitas de tráfico, além de quatro policiais. Não há confirmação se os corpos levados pelos moradores estão incluídos nesse total, o que pode indicar um número ainda maior de vítimas.
Moradores relatam que ainda haveria mortos no alto do morro, aumentando a apreensão sobre o real tamanho da tragédia. O secretário da Polícia Militar, coronel Marcelo de Menezes Nogueira, afirmou ao g1 que investigará a situação envolvendo os corpos levados pelos moradores. Fonte: https://oglobo.globo.com
Alemão e Penha são alvos de megaoperação para conter avanço do CV; ação tem quatro mortos e quatro baleados, entre eles PM do Bope
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Objetivo é conter expansão territorial de facção e capturar chefes do tráfico do Rio e de outros estados
Por O Globo — Rio de Janeiro
Os complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio, são alvos de uma operação das polícias Civil e Militar, na manhã desta terça-feira, que mobiliza 2,5 mil homens e tem como objetivo cumprir mandados de prisão contra integrantes do Comando Vermelho, 30 deles de outros estados. Promotores do Ministério Público também participam da ação, que é mais uma fase da Contenção. Quatro suspeitos, dois deles da Bahia, foram mortos, afirmam as autoridades de segurança. Um morador em situação de rua, um homem, uma mulher que estava numa academia e um cabo do Batalhão de Operações Especiais (Bope) foram baleados, segundo o Bom Dia Rio, da TV Globo.
Vinte e três pessoas já foram presas — duas delas estão feridas e foram levadas para o Hospital estadual Getúlio Vargas, informou o telejornal. Entre os presos está o operador financeiro de Edgard Alves de Andrade, o Doca, um dos integrantes da cúpula do CV na Penha. Houve a apreensão de dez fuzis.
Moradores dos conjuntos de favelas, formados por 26 comunidades, usam as redes sociais para relatar intensos tiroteios. Fogo foi ateado em barricadas e foi possível ver colunas de fumaça à distância. Policiais foram atacados por granadas lançadas por drones, afirmou o secretário de Segurança Pública, Victor dos Santos, em entrevista ao BDRJ. O telejornal mostrou ainda criminosos fugindo por uma área de mata. Há desvios em linhas de ônibus e unidades de saúde e educação com funcionamento suspenso.
Complexos do Alemão e da Penha são alvos de megaoperação para conter avanço do CV
O policial do Bope baleado foi atingido durante um confronto numa região de mata conhecida como Vacaria. Segundo a PM, ele foi ferido de raspão e levado para o Hospital Central da corporação.
A ação visa a capturar chefes do tráfico do Rio e de outros estados e combater a expansão territorial do Comando Vermelho nos complexos. A operação acontece após de mais de um ano de investigação. A Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) obteve mandados de busca e apreensão e de prisão, que são cumpridos.
Participam da Operação Contenção policiais militares do Comando de Operações Especiais (COE) e das unidades operacionais da PM da capital e da Região Metropolitana. A Polícia Civil mobilizou agentes de todas as delegacias especializadas, das distritais, da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), do Departamento de Combate à Lavagem de Dinheiro e da Subsecretaria de Inteligência.
Além de aparato tecnológico, como drones, a Operação Contenção conta com dois helicópteros, 32 blindados terrestres e 12 veículos de demolição do Núcleo de Apoio às Operações Especiais da PM, além de ambulâncias do Grupamento de Salvamento e Resgate.
Participa também da operação o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ), que afirma estarem sendo cumpridos 51 mandados de prisão contra traficantes que atuam no Complexo da Penha. De acordo com o Gaeco, por estar perto de algumas das principais vias expressas do Rio e ser ponto estratégico para o escoamento de drogas e armamentos, o Complexo da Penha se tornou uma das principais bases do projeto expansionista do CV, especialmente em comunidades da região de Jacarepaguá, na Zona Sudoeste carioca. A ação desta terça-feira, destaca o MP, ocorre na sequência de outra operação, no último dia 29 de setembro, contra traficantes da facção que controlam a Gardênia Azul e outras localidades da Zona Sudoeste.
Segundo o MP, Doca é a principal liderança do CV no Complexo da Penha e em comunidades como Gardênia Azul e César Maia, na Zona Sudoeste, e Juramento, na Zona Norte, algumas delas recentemente tomadas da milícia. Segundo a denúncia, também exercem liderança no CV Pedro Paulo Guedes, conhecido como Pedro Bala; Carlos Costa Neves, o Gadernal; e Washington Cesar Braga da Silva, o Grandão. "Eles emitem ordens sobre a comercialização de drogas, determinam as escalas dos criminosos nas 'bocas de fumo' e nos pontos de monitoramento, e ordenam execuções de indivíduos que contrariem seus interesses", afirma o Gaeco em nota.
Impactos
Por causa da operação, 45 unidades de educação municipais fecharam as portas. Vinte e oito delas ficam no Alemão e outras 17, no Complexo da Penha.
Cinco unidades de Atenção Primária que atendem a região da Penha e do Complexo do Alemão suspenderam o início do funcionamento, informou a Secretaria municipal de Saúde. De acordo com a pasta, elas avaliam a possibilidade de abertura nas próximas horas. Uma clínica da família mantém o atendimento à população, mas suspendeu as atividades externas, como as visitas domiciliares.
De acordo com o Rio Ônibus, 12 linhas de ônibus estão com seus itinerários desviados preventivamente para a segurança de rodoviários e passageiros na Penha e no Complexo do Alemão.
Desvios na Penha
721 Vila Cruzeiro x Cascadura
312 Olaria x Candelária
313 Penha x Praça Tiradentes
621 Penha x Saens Peña
622 Penha x Saens Peña
623 Penha x Saens Peña
625 Olaria x Saens Peña
628 Penha x Nova América
679 Grotão x Méier
Desvios no Complexo do Alemão
292 Engenho da Rainha x Castelo
311 Engenheiro Leal x Candelária
711 Rocha Miranda x Rio Comprido
Forasteiros nas comunidades do Rio
Há duas semanas, os jornais O GLOBO e Extra mostram como o Comando Vermelho intensifica sua presença em outros estados do país, numa estratégia de nacionalização frente ao Primeiro Comando da Capital (PCC), com elos dentro de presídios federais. Com esse objetivo, o grupo carioca incorpora ou se alia a facções locais, ao mesmo tempo em que abriga, nas comunidades do Rio, traficantes vindos de fora. Em áreas sob domínio da facção no Rio, órgãos de segurança pública fluminenses já identificam a presença de criminosos de 12 estados, como Ceará, Bahia, Rondônia e Minas Gerais. Por outro lado, o CV se espalha por 25 estados e o Distrito Federal.
A migração de bandidos para o Rio é um sistema de “ganha-ganha”: os criminosos de fora que chegam a comunidades como a da Rocinha e as do Complexo do Alemão conquistam proteção, status e novos conhecimentos na cidade; já o CV amplia franquias Brasil afora, incluindo poderio sobre rotas de escoamento de armas e drogas.
— Hoje está muito comum falar de trabalho híbrido ou remoto. O crime faz o mesmo. Eles entenderam que o chefe não precisa mais estar no estado de origem. Ele pode ficar protegido no Rio e tomar as decisões por videochamadas. Isso é muito vantajoso para todos eles. O chefe do tráfico fica num local de difícil acesso para a polícia, e a organização protege seus principais ativos, diminuindo a rotatividade e gerando estabilidade nos negócios, principalmente em estados que fazem fronteira com outros países — disse, dois domingos atrás, o promotor de Justiça Anderson Batista de Oliveira, coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Rondônia, um dos estados que têm chefes do tráfico presentes no Rio.
A segunda maior facção do Rio, o Terceiro Comando Puro (TCP), também já adota a expansão pelo Brasil, revela a série Conexões do Crime, do EXTRA. Levantamento do jornal mostrou que a guerra entre CV e TCP, inclusive, já se replica em pelo menos cinco estados (Espírito Santo, Minas Gerais, Ceará, Bahia e Acre). As facções cariocas vêm disseminando também táticas de ocupação e exploração de territórios, como cobrança de taxas ilegais e venda de sinal clandestino de internet, além de uso de fuzis e montagem de barricadas.
Na Bahia, a Secretaria de Segurança Pública do estado afirmou a atuação de organizações fluminenses é investigada e que as apreensões de fuzis aumentaram quase 300%, de 2022 a 2024, quando foram recuperadas 22 e 86 unidades, respectivamente. Somente este ano, 114 foram apreendidos, diz a pasta. Fonte: https://www.globo.com
Homem simula a sua morte para descobrir quantas pessoas iriam ao enterro
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Indiano Mohan Lal chamou a farsa de 'experimento social'
Por Fernando Moreira
Um homem de 74 anos encenou a sua morte para descobrir quantas pessoas compareceriam ao seu enterro.
Mohan Lal, militar reformado da Força Aérea Indiana, orquestrou o que ele chamou de um elaborado experimento social, fingindo ter morrido na vila de Konchi (Gaya, Índia).
Jazendo imóvel em um caixão sob uma mortalha, seu corpo foi transportado para um crematório – tudo para testemunhar o nível de atenção que ele receberia. Tudo seguia o roteiro natural, com orações, cânticos religiosos e procissão.
Seu plano deu certo, pois centenas de parentes e amigos – acreditando que o homem de 74 anos havia partido deste mundo – foram à vila para prestar suas últimas homenagens. No entanto, assim que o cortejo fúnebre se aproximava do crematório, o indiano se levantou e revelou à multidão atônita que estava bem vivo.
"Após a morte, as pessoas carregam o esquife um suporte para carregar um caixão, mas eu queria testemunhar pessoalmente e ver quanto respeito e carinho as pessoas me demonstrariam", explicou o idoso, de acordo com o "Daily Mirror". O caso viralizou nesta semana na Índia.
Após a "ressurreição", os enlutados queimaram uma efígie antes de um banquete comunitário ser organizado para toda a vila. Mohan já havia doado um crematório para a vila, permitindo que os moradores continuassem os ritos fúnebres hindus.
Mohan é viúvo há 14 anos e tem três filhos, de acordo com a NDTV.
Casos semelhantes
Em junho de 2023, o TikToker belga David Baerten simulou sua morte para testar o afeto da família. Sua filha anunciou o fato nas redes sociais, e amigos e parentes compareceram a um funeral encenado perto de Liège (Bélgica). Baerten então desceu de helicóptero no local, surpreendendo a todos. A pegadinha, compartilhada no TikTok, gerou debate sobre o seu impacto emocional.
Em janeiro do mesmo ano, o diretor funerário Baltazar Lemos, de 60 anos, também fingiu a sua morte e organizou um funeral. Ele publicou uma foto em frente ao Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e afirmou: "No início desta triste tarde, o comendador Baltazar Lemos nos deixou". Pouco depois, uma nova postagem convidava familiares e amigos a uma "cerimônia de despedida", a ser realizada no dia seguinte, em Curitiba. O velório chamava a atenção por não ter caixão; só havia um arranjo de flores. Em um certo momento, foi puxada a cortina do altar, e de trás dela surgiu o cerimonialista, vivo. Ao todo, 128 pessoas compareceram no funeral de mentira. Fonte: https://extra.globo.com
O desânimo do professor brasileiro
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Pesquisa da OCDE mostrou que o docente brasileiro se sente desvalorizado, desprestigiado e desrespeitado, o que deixa o Brasil cada vez mais distante dos patamares mínimos de qualidade
Os professores brasileiros se sentem desvalorizados. E esse é um sentimento generalizado. Mas não só isso: esses profissionais, além de desvalorizados, sentem-se desrespeitados e desestimulados. Essa é a síntese da percepção dos docentes da educação básica sobre a sua própria realidade apresentada na mais recente Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis, na sigla em inglês), divulgada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
A entidade, que reúne países desenvolvidos ou em desenvolvimento, e da qual o Brasil não faz parte, mas é parceiro, ouviu 280 mil professores e diretores de 17 mil escolas em 55 sistemas de ensino do mundo para capturar as impressões desses profissionais sobre o seu dia a dia na educação básica. O levantamento atual da Talis, de 2024, trouxe respostas nada animadoras dos educadores brasileiros, sobretudo quando comparadas às médias dos países-membros da OCDE.
Segundo a Talis, apenas 14% dos professores brasileiros disseram se sentir valorizados pela sociedade, enquanto a média na OCDE é de 22%. Além disso, somente 53,5% dos docentes afirmaram que se sentem valorizados pelos pais e pelas famílias dos estudantes, índice bem abaixo da média da organização, de 65,4%.
E esses professores disseram, ainda, que gastam nada menos do que 21% do seu tempo em sala de aula para manter a disciplina, diante de uma média de 15% na OCDE. Isso significa muito menos tempo para avançar em conteúdos programáticos fundamentais para a formação e a aprendizagem.
Em poucas palavras, o que os professores brasileiros estão dizendo é que não se sentem valorizados, prestigiados nem respeitados por ninguém.
Isso se reflete nas relações trabalhistas. De acordo com a pesquisa da OCDE, apenas 64% desses profissionais têm contratos permanentes nas escolas – bem abaixo da média da organização, de 81% –, enquanto 36% dos professores estão em cargos temporários ou substitutos. É, obviamente, impossível pensar num projeto de educação vigoroso sem um processo de longo prazo. Conforme destacou o relatório da Talis, como qualquer trabalhador, “a maioria dos professores quer segurança no emprego”, mas os cargos temporários, tão comuns no Brasil, implicam “insegurança e imprevisibilidade, o que pode gerar tensão”, prejudicando o desempenho ideal dos profissionais.
Tudo isso, por óbvio, afeta a qualidade da educação, haja vista que, segundo esse mesmo relatório, sistemas educacionais de alto desempenho contam com professores que se sentem valorizados, o que definitivamente não é o caso dos docentes do Brasil. Não à toa, Cingapura, onde 71% dos professores se sentem valorizados pela sociedade, lidera o ranking do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), também realizado pela OCDE, enquanto o Brasil ocupa as últimas colocações no programa, com desempenho cronicamente pífio em leitura, Matemática e Ciências.
Mas, além de ter impacto sobre os indicadores de avaliação de qualidade, o sentimento de valorização dos professores pode também ter um efeito positivo sobre a atratividade da profissão e o seu futuro. De acordo com o relatório da OCDE, um maior prestígio social da docência, decerto, atrai mais candidatos qualificados e talentosos, além de ajudar a reter os professores mais experientes. O desprestígio dos professores no Brasil ajuda a entender o baixo interesse pela carreira docente por aqui.
Desvalorizados pelo Estado e muitas vezes também pelas famílias dos estudantes, desrespeitados nas salas de aula e sob contratos de trabalho precários, os professores brasileiros expuseram na pesquisa da OCDE as frustrações que enfrentam no dia a dia da profissão. Trata-se de um diagnóstico desolador, que só evidencia o quão distante o Brasil está dos patamares da educação básica dos países desenvolvidos – que, um dia, o País sonha ser. Fonte: https://www.estadao.com.br
Idosos sem família enfrentam o medo de morrerem sozinhos
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Especialistas alertam para aumento de casos de autonegligência em idosos solitários com doenças terminais. Enquanto alguns temem a solidão no fim da vida, outros preferem morrer sozinhos e independentes

Alguns idosos que viveram sozinhos têm medo de morrerem sem nenhuma companhia; outros preferem assim -
Judith Graham
The Washington Post
Neste verão, durante um jantar com sua melhor amiga, Jacki Barden levantou um tema desconfortável: a possibilidade de que ela possa morrer sozinha.
"Não tenho filhos, nem marido, nem irmãos", Barden lembra ter dito. "Quem vai segurar minha mão enquanto eu morro?"
Barden, 75, nunca teve filhos. Ela vive sozinha no oeste de Massachusetts desde que seu marido faleceu em 2003. "Você chega a um ponto na vida em que não está mais subindo, está descendo", diz. "Você começa a pensar como será no final."
É algo que muitos idosos que vivem sozinhos —uma população crescente, com mais de 16 milhões em 2023— se perguntam. Muitos têm família e amigos a quem podem recorrer. Mas alguns não têm cônjuge ou filhos, têm parentes que moram longe, ou estão afastados dos familiares restantes. Outros perderam amigos queridos com quem contavam devido à idade avançada e doenças.
Mais de 15 milhões de pessoas com 55 anos ou mais não têm cônjuge ou filhos biológicos; quase 2 milhões não têm nenhum familiar.
Outros idosos se isolaram devido a doenças, fragilidade ou deficiência. Entre 20% e 25% dos idosos que não vivem em casas de repouso não mantêm contato regular com outras pessoas. E pesquisas mostram que o isolamento se torna ainda mais comum à medida que a morte se aproxima.
Morrer sozinho é uma preocupação crescente
Pesquisas nacionais não capturam informações sobre quem está com os idosos quando eles morrem. Mas morrer sozinho é uma preocupação crescente à medida que mais pessoas envelhecem sozinhas após a viuvez ou divórcio, ou permanecem solteiras ou sem filhos, segundo demógrafos, pesquisadores médicos e médicos que cuidam de idosos.
"Sempre vimos pacientes que estavam essencialmente sozinhos quando fazem a transição para os cuidados de fim de vida", diz Jairon Johnson, diretor médico de cuidados paliativos e hospice da Presbyterian Healthcare Services, o maior sistema de saúde do Novo México. "Mas eles não eram tão comuns como são agora."
A atenção às consequências potencialmente difíceis de morrer sozinho aumentou durante a pandemia, quando famílias foram impedidas de entrar em hospitais e casas de repouso enquanto parentes idosos morriam. Mas isso saiu amplamente do radar desde então.
Para muitas pessoas, incluindo profissionais de saúde, a perspectiva provoca um sentimento de abandono. "Não consigo imaginar como é, além de uma doença terminal, pensar: 'Estou morrendo e não tenho ninguém'", diz Sarah Cross, professora assistente de medicina paliativa na Escola de Medicina da Universidade Emory.
A pesquisa de Cross mostra que mais pessoas agora morrem em casa do que em qualquer outro ambiente. Enquanto centenas de hospitais têm programas "Ninguém Morre Sozinho", que conectam voluntários com pessoas em seus últimos dias, serviços semelhantes geralmente não estão disponíveis para pessoas em casa.
Risco de autonegligência
Alison Butler, 65, é uma doula de fim de vida que vive e trabalha na área de Washington D.C. Ela ajuda pessoas e seus entes queridos a navegar pelo processo de morte. Ela também vive sozinha há 20 anos. Butler admitiu que estar sozinha no fim da vida parece uma forma de rejeição. Ela conteve as lágrimas ao falar sobre possivelmente sentir que sua vida "não importa e não importou profundamente" para ninguém.
Sem pessoas confiáveis por perto para ajudar adultos com doenças terminais, há também um risco elevado de autonegligência e deterioração do bem-estar. A maioria dos idosos não tem dinheiro suficiente para pagar por residências assistidas ou ajuda em casa se perderem a capacidade de fazer compras, tomar banho, se vestir ou se movimentar pela casa.
Cuidados de asilos podem não ser uma alternativa
Embora asilos sejam uma alternativa, eles também frequentemente não atendem às necessidades de idosos com doenças terminais que estão sozinhos. Os asilos subsidiados pelo governo americano atendem pessoas cuja expectativa de vida é de seis meses ou menos. Por um lado, menos da metade dos idosos com menos de 85 anos aproveitam os serviços de asilo.
Além disso, "muitas pessoas pensam, erroneamente, que as agências de asilo vão fornecer pessoal no local e ajudar com todos aqueles problemas funcionais que surgem para as pessoas no fim da vida", diz Ashwin Kotwal, professor associado de medicina na divisão de geriatria da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia em São Francisco.
Em vez disso, as agências geralmente fornecem apenas cuidados intermitentes e dependem muito de cuidadores familiares para oferecer a assistência necessária com atividades como banho e alimentação. Alguns asilos nem aceitam pessoas que não têm cuidadores, observa Kotwal.
Como você pode ajudar
Shoshana Ungerleider, médica, fundou a End Well, uma organização comprometida em melhorar as experiências de fim de vida. Ela sugere que as pessoas façam esforços concentrados para identificar precocemente idosos que vivem sozinhos e estão gravemente doentes e fornecer-lhes apoio ampliado. Mantedo contato regular com eles por meio de chamadas, vídeo ou mensagens de texto, diz ela.
E não presuma que todos os idosos tenham as mesmas prioridades para cuidados de fim de vida. Eles não têm.
Barden, a mulher de Massachusetts, por exemplo, concentrou-se em se preparar com antecedência: todos os seus arranjos financeiros e legais estão em ordem, e os preparativos para o funeral estão feitos.
"Fui muito abençoada na vida: temos que olhar para trás e ver pelo que temos que ser gratos e não nos fixar na parte ruim", diz ela. Quanto a imaginar o fim de sua vida, ela disse: "Vai ser o que for. Não temos controle sobre nada disso. Acho que gostaria de ter alguém comigo, mas não sei como vai ser."
Algumas pessoas querem morrer como viveram: sozinhas. Entre elas está Elva Roy, de 80 anos, fundadora da Age-Friendly Arlington, no Texas, que vive sozinha há 30 anos após dois divórcios.
Roy disse que pensou muito sobre morrer sozinha e está brincando com a ideia de morte medicamente assistida, talvez na Suíça, se ficar com uma doença terminal. É uma maneira de manter um senso de controle e independência que a sustentou como uma idosa solitária.
"Sabe, eu não quero alguém ao meu lado se eu estiver emaciada, frágil ou doente", diz Roy. "Eu não me sentiria confortada por alguém estar lá segurando minha mão ou enxugando minha testa ou me vendo sofrer. Estou realmente bem com morrer sozinha." Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
O ‘golpe silencioso’ na internet brasileira
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Em nome da ‘modernização regulatória’, eufemismo para centralização estatal, modelo que fez da internet nacional uma referência de liberdade e governança democrática está ameaçado
Em sua origem, a internet se apresentou como a tradução digital da própria ideia de democracia. Sua arquitetura aberta e descentralizada nasceu do princípio de que nenhum centro de poder deve controlar o fluxo das ideias. Cada nó tem voz, cada usuário, autonomia, e cada inovação pode surgir de baixo para cima. Essa engenharia da liberdade transformou a rede em espaço global de criação e participação – um espelho virtual dos valores democráticos.
Hoje esse modelo está sitiado. Em nome da “soberania digital”, governos e reguladores erguem muros no ciberespaço. A China exporta sua doutrina de “cibersoberania”, eufemismo para censura e vigilância. A Europa multiplica regulações que inibem a inovação. Os EUA oscilam entre liberdade e nacionalismo tecnológico. O resultado é uma internet fragmentada em arquipélagos digitais. Já o Brasil sempre foi uma ilha de excelência – até agora.
Desde 1995, o País construiu um modelo de governança multissetorial – o Comitê Gestor da Internet (CGI.br) – que se tornou referência mundial. Nele, governo, academia, empresas e sociedade civil compartilham decisões técnicas e políticas. Dessa experiência nasceram instituições de excelência – NIC.br, Registro.br, IX.br, Cert.br, Cetic.br – que garantem a estabilidade e a segurança da rede. Em 2014, o Marco Civil da Internet consagrou essa filosofia em três pilares: liberdade de expressão, neutralidade de rede e privacidade.
Mas esse modelo está sob ameaça. Nos últimos três anos, a Anatel vem ampliando seu poder sobre o ecossistema digital. A pretexto de realizar uma “modernização regulatória”, a agência revogou a norma 4, que há décadas distinguia os serviços de telecomunicações – sob sua jurisdição – dos serviços de valor adicionado, como a internet. Essa separação foi o alicerce de uma rede livre da lógica centralizadora das telecomunicações. Ao apagá-la, a Anatel abriu caminho para reivindicar controle sobre infraestrutura e serviços fora de seu escopo: pontos de troca de tráfego, domínios, provedores de nuvem.
O movimento culminou no Projeto de Lei 4.557/24, que propõe subordinar à burocracia estatal da Anatel o CGI.br, e com ele a governança de uma rede construída sobre pluralismo e cooperação. A Internet Society advertiu que o projeto mina o modelo que fez do Brasil referência mundial. Como alerta Konstantinos Komaitis, ex-diretor da organização, em artigo em seu blog (www.komaitis.org), trata-se de um “golpe silencioso”, uma tentativa de submeter a rede brasileira à lógica burocrática e centralizadora do Estado.
O modelo brasileiro não apenas funciona: ele inspira confiança. Romper a separação entre telecomunicações e internet é entregar um sistema descentralizado à hierarquia estatal – trocar a colaboração pela autorização, a liberdade pela licença. Submeter a internet à estrutura de uma autarquia é minar o princípio de sua resiliência: o do poder compartilhado, nunca concentrado.
A ofensiva ocorre num ambiente já inclinado ao controle. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Supremo Tribunal Federal têm ampliado a intervenção do Estado sobre o debate digital. Entre decretos abusivos e decisões judiciais expansivas, o País corre o risco de substituir a pluralidade pela tutela. O que se anuncia, no discurso de “regulação das redes”, é uma burocratização da liberdade movida pelo apetite de fazer do espaço digital mais um instrumento de poder político.
A internet brasileira prosperou porque foi livre. O CGI.br mostrou que é possível combinar inovação e responsabilidade sem sufocar o debate nem subordinar a técnica à política. Essa é a essência da soberania aberta: participar do mundo sem se fechar ao mundo. A alternativa – isolamento regulatório e captura institucional – é seguir o caminho dos que confundem proteção com controle e soberania com obediência.
O Brasil tem diante de si uma escolha. Pode preservar a arquitetura da liberdade que o tornou exemplo global, ou transformar-se em mais um elo da corrente que aprisiona a rede sob um Estado tutelar. Defender o CGI.br é defender a democracia digital – e a real. Porque a internet, em última instância, não é uma infraestrutura: é uma ideia. E essa ideia é liberdade. Fonte: https://www.estadao.com.br
Ônibus envolvido em acidente com 15 mortos em Pernambuco voltava para cidade da BA; vítimas viajaram para fazer compras
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Acidente aconteceu na BR-423, entre os municípios de Paranatama e Saloá, em Pernambuco. Veículo voltava para Brumado, no sudoeste da Bahia. Vítimas ainda não foram identificadas.
Ônibus tombou na BR-432, em Paranatama, no Agreste de Pernambuco — Foto: Reprodução/WhatsApp
Por g1 BA
Ônibus tombou na BR-423, entre os municípios de Paranatama e Saloá, em Pernambuco.
Segundo informações da Polícia Rodoviária Federal (PRF), as vítimas são 11 mulheres e quatro homens.
O ônibus saiu Brumado com destino a Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste pernambucano, e seguia de volta para a Bahia quando sofreu o acidente.
O ônibus que tombou e deixou 15 mortos e 17 feridos na BR-423, entre os municípios de Paranatama e Saloá, em Pernambuco, voltava para Brumado, cidade localizada no sudoeste da Bahia.
Segundo informações da Polícia Rodoviária Federal (PRF), as vítimas são 11 mulheres e quatro homens. Ainda não há detalhes sobre as identidades delas.
O ônibus saiu Brumado com destino a Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste pernambucano, e seguia de volta para a Bahia quando sofreu o acidente em um trecho conhecido como Serra dos Ventos.
De acordo com o policial rodoviário federal Luciano Holanda, chefe de Policiamento e Fiscalização da corporação em Garanhuns, cidade próxima a Paranatama, o veículo era um ônibus de turismo e foi fretado para transportar passageiros que tinham viajado da Bahia para fazer compras no Polo de Confecções de Santa Cruz do Capibaribe.
"Ele foi fretado por uma empresa. Eles tinham um termo de autorização de fretamento que, inclusive, está válido, está vigente, ou seja, não é um ônibus com destino, é um ônibus que fez um frete, contratou, ele recebeu esse termo, essa autorização para o fretamento, para essa viagem específica", afirmou.
Conforme a PRF, os dois motoristas sobreviveram e o que dirigia o veículo no momento do acidente relatou uma falha no freio, o que teria feito ele perder o controle do ônibus. Na lista de passageiros que a polícia teve acesso há trinta nomes, além dos dois motoristas e um guia. Fonte: https://g1.globo.com
Homem que 'jogou' moto contra o irmão tem que ficar a 300 metros da mãe por agressões
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Uma medida protetiva foi expedida em 29 de setembro após a vítima ser agredida com tapas, socos e enforcamento. A colisão entre as motos é investigada como tentativa de homicídio, mas suspeito nega que batida foi proposital.
Por Gabriel Reis, g1 Triângulo — Uberlândia
A mãe do motociclista que colidiu contra a moto do próprio irmão em Uberlândia, tem uma medida protetiva contra ele desde 29 de setembro, após denunciar agressões.
O documento determina que o suspeito se afaste do lar ou local de convivência com a mãe, ter contato com ela, e se mantenha a pelo menos 300 metros dela.
A batida entre os irmãos foi registrada no Bairro Jardim das Palmeiras, em Uberlândia, na segunda-feira (29). O caso é investigado como tentativa de homicídio.
Segundo a vítima, ele acredita que o irmão tenha provocado o acidente porque ficou com raiva ao descobrir a medida protetiva solicitada pela mãe.
O suspeito, que também não quis ser identificado, disse ao g1 que perdeu o controle da direção e que a batida foi acidental.
A mãe do motociclista de 33 anos que invadiu a contramão e colidiu contra a moto do próprio irmão, de 35, em Uberlândia, tem uma medida protetiva contra ele desde 29 de setembro, após denunciar uma sequência de agressões.
"Há cerca de 20 dias, ele discutiu com ela e a agrediu com tapas, murros, enforcamento e ainda a colocou para fora de casa. A polícia foi chamada, mas ela não quis registrar boletim. No entanto, em 29 de setembro, aconteceu de novo. Peguei minha mãe e fomos até a Delegacia da Mulher, onde ela solicitou a medida protetiva, que foi concedida", disse o irmão do suspeito, que não quis se identificar.
O documento assinado pelo juiz Roberto Bertoldo Garcia determina que o suspeito se afaste do lar ou local de convivência com a mãe, ter contato com ela, familiares exclusivos dela ou testemunhas e se mantenha a pelo menos 300 metros dela.
"Ele ameaça constantemente minha mãe de morte, dizendo que vai matar todo mundo e que não sobrará ninguém vivo. Nunca presenciei diretamente esses momentos, mas minha mãe está muito assustada e tem medo real de que ele cumpra as ameaças", afirmou o irmão.
Raiva da família
A batida entre os irmãos foi registrada no Bairro Jardim das Palmeiras, em Uberlândia, na segunda-feira (29). O caso é investigado como tentativa de homicídio.
Segundo a vítima, ele acredita que o irmão tenha provocado o acidente porque ficou com raiva ao descobrir a medida protetiva solicitada pela mãe.
"É horrível saber que meu próprio irmão tentou me matar. Eu só percebi que era ele depois que estava caído no chão".
Imagens de câmeras de monitoramento registraram quando o suspeito invadiu a contramão, acelerou a motocicleta em direção ao irmão e saltou instantes antes da colisão. Veja vídeo acima.
O suspeito, que também não quis ser identificado, disse ao g1 que perdeu o controle da direção e que a batida foi acidental.
"Eu perdi o controle da moto, não tinha intenção de matar. Foi um acidente. Percebi que tinha acontecido porque perdi o controle do veículo, e naquele momento nem sabia que se tratava do meu irmão. Parei para ajudar e perguntei se ele queria chamar a polícia. No entanto, ele tentou me agredir no local, querendo me bater com um capacete e com socos", afirmou.
O homem atingido negou qualquer discussão ou tentativa de agressão após o acidente.
Ferida, a vítima ligou para um amigo e foi levada para a Unidade de Atendimento Integrado (UAI) do Bairro Planalto, onde recebeu atendimento médico e foi liberada para retornar para casa. O homem teve ferimentos nas pernas, no peito e nos braços.
Aos investigadores, a vítima afirmou que a batida entre as motos ocorreu quando ele retornava para casa. De acordo com a Polícia Civil, a motivação para o crime ainda é investigada.
A vítima contou ainda que o irmão tem diversas passagens criminais. Fonte: https://g1.globo.com
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