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Imagens da Missa da Instituição da Eucaristia e Lava-Pés com Frei Petrônio de Miranda, O. Carm, na Igreja da Ordem Primeira do Carmo em Salvador- BA. No vídeo, momento de Adoração. Convento do Carmo de Salvador- BA. 29 de março-2018.
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Frei Carlos Mesters, O. Carm.
No Calvário, estamos diante de um ser humano torturado, excluído da sociedade, condenado como herético e subversivo por três tribunais: religioso, civil e militar. Ao pé da cruz, pela última vez, as autoridades religiosas confirmam a sentença: trata-se realmente de um rebelde fracassado, e o renegam publicamente (Mc 15,31-32). Pendurado na cruz, privado de tudo, Jesus grita “Eli, Eli!”. O soldado pensava: “Ele está chamando por Elias!” (Mc 15,35) Os soldados eram todos estrangeiros, mercenários. Não entendiam a língua dos judeus. O homem pensava que Eli fosse o mesmo que Elias. Assim, pendurado na cruz, Jesus está num isolamento total. Mesmo que quisesse falar com alguém, não teria sido possível. Ninguém o entenderia. Seria o mesmo que falar português para quem só entende inglês. Ele ficou totalmente só: Judas o traiu, Pedro o negou, os discípulos fugiram, as autoridades zombam dele, os transeuntes caçoam, e nem a língua que ele fala serve mais para se comunicar.
As mulheres amigas tinham que ficar de longe, observando, sem poder fazer nada (Mc 15,40). Isolado, sem qualquer possibilidade de comunicação humana, Jesus se sente abandonado até pelo Pai: “Meu Deus! Meus Deus! Por que me abandonaste?” (Mc 15, 34). E soltando um grito, ele morre!
É assim que morre o Messias Servo! Foi este o preço que Jesus pagou pela sua fidelidade à opção de seguir sempre pelo caminho do serviço para resgatar seus irmãos e suas irmãs, para que, de novo, pudessem recuperar o contato com Deus e viver na fraternidade. Mas foi exatamente nesta hora da morte, a hora em que tudo desmoronava, que um novo sentido renasceu das cinzas.
A morte de Jesus foi uma vitória! Aquela sua obediência radical até à morte, a morte de cruz, no total abandono de uma Noite Escura sem igual, fez explodir as amarras que escondiam a sua identidade. A cortina do templo, símbolo do poder que condenou Jesus, rasgou de alto a baixo. O sistema que isolava Deus no Templo, longe da vida do povo, estava encerrado. O centurião, um pagão, que fazia a guarda, faz uma solene profissão de fé: “Verdadeiramente, este homem era filho de Deus!” (Mc 15,39) Ele descobre e aceita o que os discípulos não foram capazes de descobrir e de aceitar, a saber, reconhecer a presença do Filho de Deus num ser humano crucificado
Quem quer encontrar, verdadeiramente, o Filho de Deus, não deve procurá-lo no alto, num céu distante, mas deve olhar ao seu lado, para o ser humano excluído, torturado, desfigurado, sem beleza, e para aqueles e aquelas que, como Jesus, doam sua vida pelos irmãos. É lá que o Deus de Jesus se esconde, se revela e nos atrai, e é lá que ele pode ser encontrado. É lá que está a imagem desfigurada do Filho de Deus, dos filhos e filhas de Deus. “Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão!”
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Frei Joseph Chalmers O. Carm. Ex- Superior Geral da Ordem do Carmo
Somos o povo da ressurreição. A ressurreição é o “sim” de Deus à vida. Se queremos dizer “sim” à vida, devemos dizer “não” à morte em todas as suas formas. Dizer “não” à morte começa exatamente quando dizemos “não” a qualquer forma de violência física. Isso requer um profundo compromisso com as palavras de Jesus: “Não julgueis” (Lc 6,37). Requer dizer “não” à toda violência do coração e da mente (Mt 5,22).
O julgamento que faço das pessoas é uma forma de morte moral (Rm 14,4). Quando julgo outros seres humanos, rotulo-os, coloco-os em categorias fixas e mantenho-os à uma distância segura de mim mesmo para que eu não entre num verdadeiro relacionamento humano com eles. Por meus julgamentos divido meu mundo entre aqueles que são bons e aqueles que são maus e, assim, brinco de Deus. Mas todos que brincam de Deus terminam agindo como o diabo. As palavras de Jesus vão direto ao coração de nossa luta: “Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam, orai por aqueles que vos difamam” (Lc 6,27-28).
Meu inimigo não merece de mim ira, rejeição, ressentimento ou desprezo, mas o meu amor (Mt 5,44-45). Somente um coração amoroso, um coração que continua a afirmar sempre a vida, pode dizer “não” à morte sem ser corrompido por ela.
O aumento da fome e da pobreza no mundo, as guerras que sempre acontecem nos oferecem muitas razões para temer, até desesperar. Quando ouvimos as vozes da morte ao nosso redor vemos os inúmeros sinais da superioridade dos poderes da morte. Fica difícil acreditar que a vida é realmente mais forte do que a morte. No entanto, deve ter sido difícil acreditar num futuro brilhante naquela primeira Sexta-Feira Santa.
Nosso Deus é um Deus de surpresas. Se dissermos “não” à morte em todas as suas formas, podemos ter a impressão de estar do lado perdedor. Na verdade, às vezes pode parecer que estamos sós, mas não estamos. Existe todo um exército de pessoas sem importância aos olhos do mundo, orando e trabalhando pela paz. Essas pessoas permitem que Deus transforme suas vidas a partir de dentro, para tirar de seus corpos o coração de pedra e substituí-lo por um coração de carne, que é capaz de amar (Ez 11,19). Essas pessoas estão deixando o falso “eu” que se baseia em critérios exteriores, como por exemplo, o sucesso, a riqueza, o poder, o reconhecimento dos outros e assim por diante, e descobrindo o “eu” verdadeiro que se encontra em Deus. O verdadeiro “eu” é criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1,26-27) e nada pode destruí-lo.
O “eu” verdadeiro não julga os outros nem os rotula, mas vê neles um outro “eu” verdadeiro lutando por libertar-se das correntes do falso “eu”. Esse exército de pessoas pacíficas está tendo um efeito em nosso mundo. Jesus disse, “Felizes os mansos porque herdarão a terra” (Mt 5,4). O poder de nosso Deus é mais forte do que todas as armas humanas (Jz 9,7; Is 40,15). Quando esta promessa se realizará? Não sabemos, mas ela se realizará!
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Frei Carlos Mesters, O. Carm.
Todos já tivemos alguma experiência das etapas ou atitudes que acabamos de percorrer: entusiasmo do início, do primeiro amor (Mc 1,16 a 6,13); momentos de desencontro e de frustração (Mc 1,35 a 8,21); necessidade de revisão, de acolhimento, de instrução e de testemunho (Mc 8,22 a 13,37). Nova e surpreendente, porém, é a última etapa que descreve a história da paixão, morte e ressurreição de Jesus (cap 14 a 16).
Geralmente, lemos a história da paixão e morte, olhando para o sofrimento de Jesus. Nós vamos olhar para saber como os discípulos reagiam diante da cruz. Pois a Cruz é a pedra de toque! Nas comunidades perseguidas da Itália, o povo vivia a sua paixão. Muitos tinham morrido no tempo de Nero, outros tinham abandonado a fé. Outros se perguntavam: “Será que vou aguentar a perseguição? Fico ou não fico na comunidade?” O cansaço estava tomando conta. E dos que tinham abandonado a fé, alguns queriam saber se podiam voltar. Queriam recomeçar a caminhada. Todos eles precisavam de novas motivações para continuar na caminhada. Precisavam de uma renovada experiência do amor de Deus que fosse maior do que a falha humana. A resposta estava no relato da Paixão e morte. Lá, onde se descreve a maior derrota dos discípulos, está escondida também a maior das esperanças!
Vamos olhar no espelho destes capítulos, para ver como os discípulos e as discípulas reagiam diante da Cruz e como Jesus reagia diante das infidelidades e fraquezas dos discípulos. Vamos descobrir, nas linhas e nas entrelinhas, como o evangelista vai animando a fé das comunidades perseguidas e como vai apontando quem é realmente discípulo fiel de Jesus.
Marcos 14,1-2: O pano de fundo: conspiração contra Jesus.
Em Jerusalém, no fim da atividade missionária, Jesus é aguardado pelos que detêm o poder: Sacerdotes, Anciãos, Escribas, Fariseus, Herodianos, Saduceus, Romanos. Eles têm o controle da situação. Não vão permitir que Jesus, um carpinteiro agricultor lá do interior da Galileia, provoque desordem. A morte de Jesus já estava decidida por eles (Mc 11,18; 12,12). Jesus era um homem condenado. Agora vai realizar-se o que ele mesmo tinha anunciado aos discípulos: “O Filho do Homem vai ser entregue e morto” (cf. 8,31; 9,31; 10,33).
Se a história da paixão acentua a derrota e o fracasso dos discípulos, não é para provocar desânimo nos leitores. Não! Mas sim para ressaltar que o acolhimento e o amor de Jesus superam a derrota e o fracasso dos discípulos!
Marcos 14,3-9: Atitude da discípula diante da cruz
Uma mulher, cujo nome não foi lembrado, unge Jesus com um perfume caríssimo (14,3). Os discípulos criticam o gesto dela. Achavam que era um desperdício (14,4-5). Mas Jesus a defende: “Por que vocês aborrecem esta mulher? Ela praticou uma ação boa para comigo. Ela se antecipou a ungir meu corpo para o enterro” (14,6.8). Naquele tempo, quem morria na cruz não costumava ter enterro nem podia ser embalsamado. Sabendo disso, a mulher se antecipou e ungiu o corpo de Jesus antes da condenação e da crucifixão. Com este gesto, ela mostrava que aceitava Jesus como o Messias Servo a ser morto na cruz. Jesus entendeu o gesto dela e o aprovou. Pedro tinha recusado o Messias Crucificado (Mc 8,32). Esta mulher anônima é a discípula fiel, modelo para os discípulos que não tinham entendido nada. É modelo para todos, “em todo mundo” (14,9).
Marcos 14,10-31: Atitude dos discípulos diante da Cruz
Marcos 14,10-11. Judas decide trair Jesus. Em contraste total com a mulher, Judas, um dos doze, resolve trair Jesus e conspira com os inimigos que lhe prometem dinheiro. Ele continua convivendo, mas apenas com o objetivo de achar uma oportunidade para entregar Jesus. Da mesma maneira, na época em que Marcos escrevia o seu evangelho, havia discípulos que apenas aguardavam uma oportunidade para abandonar a comunidade que lhes trazia tanta perseguição. Ou, quem sabe, talvez esperassem obter até alguma vantagem entregando seus companheiros e companheiras. E hoje?
Marcos 14,12-16. Preparação da Ceia Pascal. Jesus sabe que vai ser traído. Apesar da traição por parte do amigo, ele faz questão de confraternizar com os discípulos na última Ceia. Ele deve ter gastado bastante dinheiro para poder alugar “aquela sala ampla, no andar superior, arrumada com almofadas” (Mc 14,15). A cidade estava superlotada de romeiros por causa da festa. Era difícil encontrar um lugar.
Marcos 14,17-21. Anúncio da Traição de Judas. Estando reunido pela última vez, Jesus anuncia que um dos discípulos vai traí-lo, “um de vocês que come comigo!”(14,18). Este jeito de falar de Marcos acentua o contraste. Para os judeus, o comer juntos, a comunhão de mesa, era a expressão máxima de intimidade e de confiança. Assim, nas entrelinhas, Marcos sugere para os leitores: a traição será feita por alguém muito amigo, mas o amor de Jesus é maior que a traição!
Marcos 14,22-25. A celebração da Ceia Pascal. Jesus fez um gesto de partilha. Distribuiu o pão e o vinho como expressão da doação de si e convidou os amigos a tomar o seu corpo e o seu sangue. O evangelista colocou este gesto de doação (Mc 14,22-25) entre o anúncio da traição (Mc 14,17-21) e o da fuga e da negação (Mc 14,26-31). Deste modo, acentuando o contraste entre o gesto de Jesus e o dos discípulos, ele destaca, para as comunidades daquele tempo e para todos nós, a inacreditável gratuidade do amor de Jesus, que supera a traição, a negação e a fuga dos amigos.
Marcos 14,26-28. O anúncio da fuga de todos. Terminada a ceia, saindo com seus amigos para o Horto, Jesus anuncia que todos vão abandoná-lo. Vão fugir e dispersar! Mas desde já ele avisa: “Depois da ressurreição, vou na frente de vocês lá na Galileia!” (14,28) Eles rompem com Jesus, mas Jesus não rompe. Ele continua esperando por eles no mesmo lugar, lá na Galileia, onde, três anos antes, os tinha chamado pela primeira vez. A certeza da presença de Jesus na vida do discípulo é mais forte que o abandono e a fuga! A volta é sempre possível.
Marcos 14,29-31. O anúncio da negação de Pedro. Simão, que tem o apelido de Cefas (pedra), é tudo menos pedra. Ele já foi Satanás para Jesus (Mc 8,33), e agora pretende ser o discípulo mais fiel de todos. “Ainda que todos se escandalizem, eu não o farei!”(Mc 14,29). Mas Jesus avisa: Pedro, você será mais rápido na negação do que o galo no canto!
Marcos 14,32-52: Atitude dos discípulos no Horto
Marcos 14,32-42. A atitude dos discípulos durante a agonia de Jesus. No Horto, Jesus entra em agonia e pede a Pedro, Tiago e João para rezar com ele. Ele está triste, começa a apavorar-se e busca apoio nos amigos. Mas eles dormem. Não foram capazes de vigiar uma hora com ele. E isto por três vezes! Novamente, o contraste entre a atitude de Jesus e a dos discípulos é grande e proposital! É aqui no Horto, na hora da agonia de Jesus, que se desintegra a coragem dos discípulos. Não sobra mais nada!
Marcos 14,43-52. A atitude dos discípulos durante a prisão de Jesus. Na calada da noite, chegam os soldados. Judas na frente. O beijo, sinal de amizade, torna-se o sinal da traição. Judas não teve a coragem de assumir a traição. Disfarçou! Na hora da prisão, Jesus se mantém calmo, senhor da situação. Ele tenta ler o sentido do acontecimento: “É para que se cumpra a Escritura!” (14,49) Mas não adiantou para os discípulos. Todos o abandonaram e fugiram (14,50). Não sobrou ninguém. Jesus ficou só!
Marcos 14,53-15,20: O processo: as visões de Messias.
Marcos 14,53-65. Condenação de Jesus pelo Supremo Tribunal. Jesus é levado para o tribunal dos Sumos Sacerdotes, dos Anciãos e dos Escribas, o Sinédrio. Acusado por falsos testemunhos, ele se cala. Sem defesa, é entregue nas mãos dos seus inimigos. Assim ele realiza o que foi anunciado por Isaías a respeito do Messias Servo, que foi preso, julgado e condenado como uma ovelha sem abrir a boca (cf. Is 53,6-8). Interrogado, Jesus assume ser o Messias: “Eu sou!”, mas o assume sob o título de Filho do Homem (Mc 14,62). E no fim, ele é esbofeteado por pessoas que o ridicularizam como Messias Profeta (Mc 14,65).
Marcos 14,66-72. A negação de Pedro. Reconhecido pela empregada como um dos que estavam no Horto, Pedro nega Jesus. Chegou a negá-lo com juramento e maldição. Nem desta vez ele não foi capaz de assumir Jesus como o Messias Servo que entrega sua vida pelos outros. Mas quando o galo cantou pela segunda vez, ele se lembrou da palavra de Jesus e começou a chorar. É o que acontece a quem tem os pés junto do povo, mas a cabeça perdida na ideologia dos herodianos e fariseus. Provavelmente, era esta a situação de muitos nas comunidades no tempo em que
Marcos escreveu o seu evangelho. E hoje?
Marcos 15,1-20. Condenação de Jesus pelo poder romano. O processo segue o seu rumo. Jesus é entregue ao poder dos romanos e por eles condenado sob a acusação de ser o Messias Rei (Mc 15,2; cf. 15,25). Outros propõem a alternativa de Barrabas, “preso com outros revoltosos” (Mc 15,7). Estes veem em Jesus um Messias Guerrilheiro anti-romano. Depois de condenado, Jesus é cuspido no rosto, mas não abre a boca. Aqui, novamente, aparece o Messias Servo anunciado por Isaías (cf Is 50, 6-8).
Marcos 15,21-39: Diante da Cruz de Jesus no Calvário
Marcos 15,21-22. Simão carrega a cruz. Enquanto Jesus é levado para ser crucificado, Simão de Cirene, um pai de família, é obrigado a carregar a Cruz. Simão é o discípulo ideal que caminha na Estrada de Jesus. Ele, literalmente, carrega a cruz atrás de Jesus até o Calvário.
Marcos 15,23-32. A crucifixão. Jesus é crucificado como um marginal ao lado de dois ladrões. Novamente, o evangelho de Marcos evoca a figura do Messias Servo, do qual Isaías afirma: “Deram-lhe sepultura com os criminosos” (Is 53,9). Como crime é indicado “Rei dos judeus!” (15,25) As autoridades religiosas caçoam de Jesus e dizem: “Desça da cruz, para que vejamos e possamos crer!”(15,32). Eles são como Pedro. Aceitariam Jesus como Messias, se ele não estivesse na Cruz. “Eles queriam um grande rei que fosse forte, dominador, e por isso não creram nele e mataram o Salvador”.
Marcos 15,33-39. A morte de Jesus. Abandonado por todos, Jesus solta um grito e morre. O centurião, um pagão, que fazia a guarda, faz uma solene profissão de fé: “Verdadeiramente, este homem era filho de Deus!” Um pagão descobre e aceita o que os discípulos não foram capazes de descobrir e aceitar, a saber, reconhecer a presença do Filho de Deus num ser humano torturado, excluído e crucificado. Como a mulher anônima no começo destes dois capítulos(14,3-9), assim, agora no fim, aparece um outro discípulo modelo. É o centurião, um pagão!
Marcos 15,40-16,8: Diante do sepulcro de Jesus
Mc 15,40-47. O enterro de Jesus. Um grupo de mulheres fica olhando de longe: Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé. Elas não fugiram. Continuaram fiéis, até o fim. É deste pequeno grupo que vai nascer o novo no domingo de Páscoa. Elas acompanham José de Arimatéia que pediu licença para enterrar Jesus. No fim, duas delas, Madalena e Maria, continuam perto do sepulcro fechado.
Mc 16,1-8. O anúncio da ressurreição. No primeiro dia da semana, bem cedo, as mesmas três foram ungir o corpo de Jesus. Mas encontraram o sepulcro aberto. Um anjo disse que Jesus tinha ressuscitado e lhes deu esta ordem: “Vão dizer aos seus discípulos e a Pedro que ele vai na frente deles na Galileia. Lá vocês vão vê-lo como ele mesmo tinha dito”(16,7). Na Galileia, à beira do lago, onde tudo tinha começado, é lá que vai recomeçar tudo de novo. É Jesus que convida! Ele não desiste, nem mesmo diante da desistência dos discípulos! Chama de novo! Chama sempre!
O Fracasso final como novo apelo
Esta é a história da paixão, morte e ressurreição de Jesus, vista a partir dos discípulos e das discípulas. A frequência com que nela se fala da incompreensão e do fracasso dos discípulos corresponde, muito provavelmente, a um fato histórico. Mas o interesse principal do evangelista não é contar o que aconteceu no passado, mas sim provocar uma conversão nos cristãos do seu tempo e despertar em todos uma nova esperança, capaz de superar o desânimo e a morte.
No Calvário, na hora da morte de Jesus, estamos diante de um ser humano que foi torturado, excluído da sociedade, condenado como herético e subversivo pelo tribunal civil, militar e religioso. Ao pé da cruz, as autoridades religiosas confirmam, pela última vez, que se trata realmente de um rebelde fracassado, e o renegam publicamente (15,31-32). Pendurado na cruz, privado de tudo, Jesus grita “Eli, Eli!”, isto é, “Meu Deus! Meu Deus!”. O soldado pensava: “Ele está chamando por Elias!” (15,35) (Os soldados eram estrangeiros. Não entendiam a língua dos judeus. O homem pensava que Eli fosse o mesmo que Elias.) Isolado e incomunicável na cruz, privado de qualquer tipo de comunicação humana, Jesus se sente abandonado até pelo Pai: “Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?” (15, 34). E soltando um grito, ele morre! Lá do Templo Deus ouviu o grito! O véu se rompeu (cf Sl 18,7). Tudo mudou!
É nesta hora da morte, que um novo sentido renasce das cinzas, revelado por um pagão: “Verdadeiramente, este homem era Filho de Deus!” (15,39). Se você quiser encontrar, verdadeiramente, o Filho de Deus, não o procure no alto, num céu distante, mas procure-o ao seu lado, no ser humano excluído, torturado, desfigurado, sem beleza. Procure-o naquele que doa sua vida pelos irmãos. É lá que a divindade se esconde e que ela pode ser encontrada. É lá que está a imagem desfigurada de Deus, do Filho de Deus, dos filhos de Deus. “Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão!”
É assim que morre o Messias Servo! Foi este o preço que Jesus pagou pela sua fidelidade à opção de seguir sempre pelo caminho do serviço para resgatar seus irmãos. Ele mesmo disse: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate em favor de muitos” (10,45). Aqui alcançamos o ponto de chegada da Estrada de Jesus. Caminhamos na Estrada de Jesus!
Jesus morre como um pobre, gritando, pois sabe que Deus escuta o clamor dos pobres (cf. Ex 2,24; 3,7; 22,22.26; etc). E de fato, “Deus o escutou” (Hb 5,7) e “o exaltou” (Fil 2,9). A ressurreição é a resposta do Pai à fidelidade de Jesus. Pela ressurreição de Jesus o Pai anuncia ao mundo inteiro esta Boa Notícia: “Quem vive a vida servindo como Jesus, é vitorioso e viverá para sempre, mesmo que morra ou que o matem!” Esta é a Boa Nova do Reino que nasce da cruz! Aqui alcançamos o ponto onde recomeça a Estrada de Jesus! Caminhamos na Estrada de Jesus!
A chave para entender este grande mistério da fé e da vida, os primeiros cristãos a encontravam no Antigo Testamento, sobretudo nos escritos de Isaías, onde se descreve a missão do povo que sofre no cativeiro. Isaías já dizia e anunciava:
2 O Servo cresceu diante de Deus como uma destas plantas secas lá do sertão.
Não tinha graça nem beleza
para a gente ficar olhando para ele.
Não era atraente para a gente poder gostar dele.
3 Era desprezado, ninguém gostava de tratar com ele.
Homem das dores, acostumado a sofrer.
A gente desviava o rosto para não vê-lo.
Deixava-o de lado e não fazia caso dele.
4 Mas eram nossas as dores que ele carregava,
nossos os sofrimentos que ele suportava.
E nós o considerávamos como um leproso,
ferido por Deus e humilhado por ele.
5 Na realidade, ele estava sendo castigado por nossos crimes, esmagado por nossas faltas.
O castigo que nos traz a paz caiu sobre ele,
nas suas chagas encontramos nossa cura.
6 Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas,
cada qual seguindo o seu caminho.
E o Senhor carregou sobre ele os crimes de todos nós.
7 Maltratado resignou-se, e não abria a boca.
Como um cordeiro que se deixa levar ao matadouro.
Como uma ovelha de que se corta a lã,
ele ficava mudo e não abria a boca.
8 Sem defesa e sem julgamento, foi levado embora.
Não havia ninguém para defendê-lo.
Sim, ele foi arrancado do mundo dos vivos,
foi ferido por causa dos crimes do seu povo.
9 Foi enterrado junto com os criminosos,
e recebeu sepultura entre malfeitores,
ele que nunca cometeu crime algum
e que nunca disse uma só mentira!
10 Oh! Senhor,
que o teu Servo, quebrado pelo sofrimento,
possa agradar-te! Aceita a sua vida como resgate!
Que ele possa ver os seus descendentes, ter longa vida,
e que o teu Projeto se realize por meio dele!” (Is 53,2-10)
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Entramos na escola Albertelli de Roma, onde estudam alguns dos jovens que o Papa Francisco pediu para escrever as meditações da Via Sacra deste ano. Greta, 18 anos: em Jesus sem roupa, vejo os migrantes que perdem tudo e depois são despojados também de sua dignidade. Andrea Monda, professor de religião: eles precisam de adultos críveis, que saibam escutá-los, mas também que lhes permitam se exprimir”.
Alessandro Di Bussolo, Silvonei José – Cidade do Vaticano
Na Sexta-feira Santa, o Papa Francisco, os fiéis reunidos no Coliseu, e milhões de telespectadores conectados em todo o mundo reviverão a Paixão de Cristo ajudados pelas suas meditações nas 14 estações da Via Sacra: são jovens de 16 a 20 anos coordenados por Andrea Monda, professor de religião jornalista e escritor. Entramos na escola Albertelli de Roma e conversamos com quatro delas, quatro jovens que estão se preparando para a Universidade.
Nos textos da Via Sacra no Coliseu, a interioridade da juventude de hoje
Cecilia Nardini, que escreveu a meditação da sexta estação, “Verônica enxuga o rosto de Jesus”, nos diz que a mulher no Gólgota não presta atenção ao rosto deformado de Cristo, mas o ajuda, enquanto no mundo de hoje as aparências são o que nos fazem julgar uma pessoa. Sofia Russo, a colega que meditou sobre o encontro de Jesus com as mulheres, da oitava estação, conta que não gosta da falta de clareza que existe também entre “nós jovens, enquanto me chama a atenção - disse - como Jesus adverte as mulheres não para julgá-las, mas para trazê-las de volta ao caminho certo”.
Conversamos depois com Greta Giglio, que refletiu sobre a décima estação e sobre Jesus, que é despojado de suas vestes antes da crucificação. Em Jesus privado de tudo, até da roupa, - diz a jovem -, vejo as pessoas que vêm até nós, “muitas vezes privadas de suas casas e de todos os seus bens, e quando chegam aqui, também da dignidade”. Enfim, para Greta Sandri, que meditou sobre Jesus pregado na Cruz, a décima primeira estação, perguntamos o que ela teria feito se realmente estivesse em Jerusalém naquele dia. “Condicionada pela multidão - ela confidencia - acho que também eu o teria condenado, e depois me arrependeria. Talvez não teria a força para ver imediatamente a verdade”.
Na conclusão, falamos também com Andrea Monda, que coordenou o trabalho dos 15 autores, doze moços e três moças. “Eles estão sozinhos em um mundo que os bombardeia com mensagens e imagens - nos diz - e precisam de adultos críveis, que saibam escutá-los, mas também que lhes permitam de se exprimir”. Fonte: http://www.vaticannews.va
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Papa Francisco mantém a tradição e celebra a Missa da Ceia do Senhor, com o rito do lava-pés, entre os encarcerados. Ouça o comentário do Pe. Gianfranco Graziola, vice-coordenador da Pastoral Carcerária Nacional.
Cidade do Vaticano
Cárcere para Menores "Casal del Marmo", Novo Pavilhão do Presídio de Rebibbia, Centro para requerentes de Asilo em Castelnuovo di Porto, Casa de Reclusão de Paliano, Prisão de Regina Caeli.
Também este ano a tradição se repete: o Papa celebra a Santa Missa em Coena Domini nos “Gólgotas modernos”, como os define o vice-coordenador da Pastoral Carcerária, Pe. Gianfranco Graziola. O local onde diariamente nossos irmãos e irmãs são crucificados, condenados à morte e executados:
Papa Francisco escolheu realizar novamente o “Lava-pés” num estabelecimento prisional, o de Regina Coeli em Roma. Aparentemente, pode parecer um simples ato que nestes últimos anos faz parte do calendário das celebrações litúrgicas da Semana Santa do Bispo de Roma.
Na realidade, a opção de Francisco continua incomodando e questionando os puritanos da liturgia que não veem com bons olhos este gesto que, em sua profundidade, questiona a liturgia espetáculo no qual infelizmente se transformaram muitas de nossas celebrações, reduzindo a própria mensagem evangélica a individualismo, sentimentalismo, ou como ele próprio frequentemente repete “mundanismo”.
E como não recordar outra opção de Francisco de dar a este momento celebrativo um caráter reservado, limitando ao essencial a presença dos meios de comunicação, reafirmando um princípio importante: o do encontro com a pessoa que, na sua sacralidade, precisa ser respeitada e valorizada.
Mas existe outra mensagem importante na gestualidade e nas opções de Francisco: a de atualizar e encarnar a mensagem evangélica nas realidades periféricas de nosso tempo, e entre elas aquelas que mais questionam, como o caso dos cárceres, os “Gólgotas” modernos, onde diariamente tantos nossos irmãos e irmãs são crucificados, condenados à morte e executados.
Indo a Regina Coeli, o Papa Francisco reafirma e confirma a identidade da Igreja e das comunidades cristãs: a de uma Igreja Samaritana, Cirenea e Verônica, capaz de parar diante do sofrimento da humanidade, de ajudar a carregar o peso da dor e de expressar sua ternura enxugando suas lágrimas e limpando seu rosto ensanguentado.
Ao mesmo tempo, ele anuncia e expressa uma Igreja viva, presente na história da humanidade capaz de manifestar e comunicar ao nosso tempo e à história a vida plena de Jesus Ressuscitado.
Feliz e Santa Páscoa.
Fonte: http://www.vaticannews.va
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Concelebraram com o Pontífice cerca de mil sacerdotes, bispos e cardeais. Os sacerdotes renovaram seu compromisso; os óleos para os batizados e unção dos doentes foram abençoados e o óleo do sacramento da confirmação consagrado.
Cidade do Vaticano
O Papa Francisco abriu o Tríduo Pascal no Vaticano na manhã desta Quinta-feira Santa presidindo a Missa do Crisma. Os sacerdotes renovaram seu compromisso e os óleos dos Catecúmenos (usados nos batizados) e dos Enfermos (para a Unção dos doentes) foram abençoados e o óleo do Crisma (usado no sacramento do Crisma) consagrado.
Evangelizar estando sempre próximo do povo: assim como Jesus – narra o Evangelho de Lucas – o padre de hoje deve assumir este desafio e cumpri-lo. “Ser um pregador de estrada, um mensageiro de boas novas”: em sua homilia, o Papa sugeriu aos padres esta opção, que foi a de Deus:
“ A pedagogia da encarnação, da inculturação; não só nas culturas distantes, mas também na própria paróquia, na nova cultura dos jovens... ”
Estar 'sempre ' e falar com todos
Como definir um padre como “próximo” das pessoas? Para Francisco, ele deve estar “sempre” perto e “falar com todos”: com os grandes, com os pequenos, com os pobres, com aqueles que não creem... assim como o Apóstolo Filipe, pregador de estrada, que ia de terra em terra, anunciando a Boa-Nova da Palavra, inundando as cidades de alegria.
“A proximidade é a chave do evangelizador, porque é uma atitude-chave no Evangelho, mas é também a chave da verdade”, ressaltou o Papa, lembrando que esta é também fidelidade e que não devemos cair na tentação de fazer ídolos com algumas verdades abstratas. Francisco improvisou e falou da 'cultura do ajetivo', um hábito 'feio'...
“Porque a ‘verdade-ídolo’ se mimetiza, usa as palavras evangélicas como um vestido, mas não deixa que lhe toquem o coração. E, pior ainda, afasta as pessoas simples da proximidade sanadora da Palavra e dos Sacramentos de Jesus”.
O modelo da proximidade materna
E quem nos é mais próximo do que a “Mãe”? Segundo o Papa, podemos invocá-La como “Nossa Senhora da Proximidade”, que caminha conosco, luta conosco e aproxima-nos incessantemente do amor de Deus, a fim de que ninguém se sinta excluído.
Francisco sugeriu para meditação três âmbitos de proximidade sacerdotal que podem ressoar com o mesmo tom materno de Maria no coração das pessoas com quem falamos: o âmbito do acompanhamento espiritual, o da Confissão e o da pregação.
Diálogo, confissão e pregação
No diálogo espiritual, o Papa mencionou modelo o encontro do Senhor com a Samaritana: que soube trazer à luz o pecado sem ensombrar a oração de adoração nem pôr obstáculos à sua vocação missionária.
A passagem da mulher adúltera foi o exemplo citado para a proximidade na Confissão: assim como Jesus, usar o tom da verdade-fiel, que permita ao pecador olhar em frente e não para trás. O tom justo do “não tornes a pecar” é o do confessor que o diz disposto a repeti-lo setenta vezes sete.
Por último, a proximidade do sacerdote no âmbito da pregação: “Quanto estamos próximos de Deus na oração e quão próximo estamos do nosso povo na sua vida diária?”. A resposta do Papa é:
“ Se te sentes longe de Deus, aproxima-te do seu povo, que te curará das ideologias que te entorpeceram o fervor. As pessoas simples te ensinarão a ver Jesus de outra maneira ”
E explicou que “o sacerdote vizinho, que caminha no meio do seu povo com proximidade e ternura de bom pastor (e, na sua pastoral, umas vezes vai à frente, outras vezes no meio e outras vezes ainda atrás), as pessoas não só o veem com muito apreço; mas vão mais além: sentem por ele qualquer coisa de especial, algo que só sente na presença de Jesus”.
A proximidade do 'sim'
Dirigindo-se diretamente aos sacerdotes, Francisco elevou uma prece a Maria, “Nossa Senhora da Proximidade” pedindo que mantenha os sacerdotes unidos no tom, “para que, na diversidade das opiniões, se torne presente a sua proximidade materna, aquela que com o seu «sim» nos aproximou de Jesus para sempre”. Fonte: http://www.vaticannews.va
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Esqueça os cabelos compridos e olhos azuis: para pesquisadores, ele tinha a pele e os olhos escuros e os cabelos curtos.
Foram séculos e séculos de eurocentrismo - tanto na arte quanto na religião - para que se sedimentasse a imagem mais conhecida de Jesus Cristo: um homem branco, barbudo, de longos cabelos castanhos claros e olhos azuis. Apesar de ser um retrato já conhecido pela maior parte dos cerca de 2 bilhões de cristãos no mundo, trata-se de uma construção que pouco deve ter tido a ver com a realidade.
O Jesus histórico, apontam especialistas, muito provavelmente era moreno, baixinho e mantinha os cabelos aparados, como os outros judeus de sua época.
A dificuldade para se saber como era a aparência de Jesus vem da própria base do cristianismo: a Bíblia, conjunto de livros sagrados cujo Novo Testamento narra a vida de Jesus - e os primeiros desdobramentos de sua doutrina - não faz qualquer menção que indique como era sua aparência.
"Nos evangelhos ele não é descrito fisicamente. Nem se era alto ou baixo, bem-apessoado ou forte. A única coisa que se diz é sua idade aproximada, cerca de 30 anos", comenta a historiadora neozelandesa Joan E. Taylor, autora do recém-lançado livro What Did Jesus Look Like? e professora do Departamento de Teologia e Estudos Religiosos do King's College de Londres.
"Essa ausência de dados é muito significativa. Parece indicar que os primeiros seguidores de Jesus não se preocupavam com tal informação. Que para eles era mais importante registrar as ideias e os papos desse cara do que dizer como ele era fisicamente", afirma o historiador André Leonardo Chevitarese, professor do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autor do livro Jesus Histórico - Uma Brevíssima Introdução.
Em 2001, para um documentário produzido pela BBC, o especialista forense em reconstruções faciais britânico Richard Neave utilizou conhecimentos científicos para chegar a uma imagem que pode ser considerada próxima da realidade. A partir de três crânios do século 1, de antigos habitantes da mesma região onde Jesus teria vivido, ele e sua equipe recriaram, utilizando modelagem 3D, como seria um rosto típico que pode muito bem ter sido o de Jesus.
Esqueletos de judeus dessa época mostram que a altura média era de 1,60 m e que a grande maioria deles pesava pouco mais de 50 quilos. A cor da pele é uma estimativa.
Taylor chegou a conclusões semelhantes sobre a fisionomia de Jesus. "Os judeus da época eram biologicamente semelhantes aos judeus iraquianos de hoje em dia. Assim, acredito que ele tinha cabelos de castanho-escuros a pretos, olhos castanhos, pele morena. Um homem típico do Oriente Médio", afirma.
"Certamente ele era moreno, considerando a tez de pessoas daquela região e, principalmente, analisando a fisionomia de homens do deserto, gente que vive sob o sol intenso", comenta o designer gráfico brasileiro Cícero Moraes, especialista em reconstituição facial forense com trabalhos realizados para universidades estrangeiras. Ele já fez reconstituição facial de 11 santos católicos - e criou uma imagem científica de Jesus Cristo a pedido da reportagem.
"O melhor caminho para imaginar a face de Jesus seria olhar para algum beduíno daquelas terras desérticas, andarilho nômade daquelas terras castigadas pelo sol inclemente", diz o teólogo Pedro Lima Vasconcellos, professor da Universidade Federal de Alagoas e autor do livro O Código da Vinci e o Cristianismo dos Primeiros Séculos.
Outra questão interessante é a cabeleira. Na Epístola aos Coríntios, Paulo escreve que "é uma desonra para o homem ter cabelo comprido". O que indica que o próprio Jesus não tivesse tido madeixas longas, como costuma ser retratado.
"Para o mundo romano, a aparência aceitável para um homem eram barbas feitas e cabelos curtos. Um filósofo da antiguidade provavelmente tinha cabelo curto e, talvez, deixasse a barba por fazer", afirma a historiadora Joan E. Taylor.
Chevitarese diz que as primeiras iconografias conhecidas de Jesus, que datam do século 3, traziam-no como um jovem imberbe e de cabelos curtos. "Era muito mais a representação de um jovem filósofo, um professor, do que um deus barbudo", pontua ele.
"No centro da iconografia paleocristã, Cristo aparece sob diversas angulações: com o rosto barbado, como um filósofo ou mestre; ou imberbe, com o rosto apolíneo; com o pálio ou a túnica; com o semblante do deus Sol ou de humilde pastor", contextualiza a pesquisadora Wilma Steagall De Tommaso, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e do Museu de Arte Sacra de São Paulo e membro da Sociedade Brasileira de Teologia e Ciências da Religião.
Imagens
Joan acredita que as imagens que se consolidaram ao longo dos séculos sempre procuraram retratar o Cristo, ou seja, a figura divina, de filho de Deus - e não o Jesus humano. "E esse é um assunto que sempre me fascinou. Eu queria ver Jesus claramente", diz.
A representação de Jesus barbudo e cabeludo surgiu na Idade Média, durante o auge do Império Bizantino. Como lembra o professor Chevitarese, eles começaram a retratar a figura de Cristo como um ser invencível, semelhante fisicamente aos reis e imperadores da época.
"Ao longo da história, as representações artísticas de Jesus e de sua face raras vezes se preocuparam em apresentar o ser humano concreto que habitou a Palestina no início da era cristã", diz o sociólogo Francisco Borba Ribeiro Neto, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
"Nas Igrejas Católicas do Oriente, o ícone de Cristo deve seguir uma série de regras para que a imagem transmita essa outra percepção da realidade de Cristo. Por exemplo, a testa é alta, com rugas que normalmente se agrupam entre os olhos, sugerindo a sabedoria e a capacidade de ver além do mundo material, nas cenas com várias pessoas ele é sempre representado maior, indicando sua ascendência sobre o ser humano normal, e na cruz é representado vivo e na glória, indicando, desde aí, a sua ressurreição."
Como a Igreja ocidental não criou tais normas, os artistas que representaram Cristo ao longo dos séculos criaram-no a seu modo. "Pode ser uma figura doce ou até fofa em muitas imagens barrocas ou um Cristo sofrido e martirizado como nas obras de Caravaggio ou Goya", pontua Ribeiro Neto.
"O problema da representação fiel ao personagem histórico é uma questão do nosso tempo, quando a reflexão crítica mostrou as formas de dominação cultural associadas às representações artísticas", prossegue o sociólogo.
"Nesse sentido, o problema não é termos um Cristo loiro de olhos azuis. É termos fiéis negros ou mulatos, com feições caboclas, imaginando que a divindade deve se apresentar com feições europeias porque essas representam aqueles que estão 'por cima' na escala social."
Essa distância entre o Jesus "europeu" e os novos fiéis de países distantes foi reduzida na busca por uma representação bem mais aproximada, um "Jesus étnico", segundo o historiador Chevitarese. "Retratos de Jesus em Macau, antiga colônia portuguesa na China, mostram-no de olhos puxados, com a forma de se vestir própria de um chinês. Na Etiópia, há registros de um Jesus com feições negras."
No Brasil, o Jesus "europeu" convive hoje com imagens de um Cristo mais próximo dos fiéis, como nas obras de Cláudio Pastro (1948-2016), considerado o artista sacro mais importante do país desde Aleijadinho. Responsável por painéis, vitrais e pinturas do interior do Santuário Nacional de Aparecida, Pastro sempre pintou Cristo com rostos populares brasileiros.
Para quem acredita nas mensagens de Jesus, entretanto, suas feições reais pouco importam. "Nunca me ocupei diretamente da aparência física de Jesus. Na verdade, a fisionomia física de Jesus não tem tanta importância quanto o ar que transfigurava de seu olhar e gestos, irradiando a misericórdia de Deus, face humana do Espírito que o habitava em plenitude. Fisionomia bem conhecida do coração dos que nele creem", diz o teólogo Francisco Catão, autor do livro Catecismo e Catequese, entre outros.
Fonte: https://g1.globo.com
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O religioso deve cumprir prisão preventiva após investigações da Polícia Civil que apontam o envolvimento dele em oito crimes.
Investigado pela Polícia, José Amaro Lopes de Sousa - o Padre Amaro - já ingressou nesta terça-feira (27) no Centro de Recuperação Regional de Altamira (CRRALT), no sudoeste do Pará, onde deve cumprir prisão preventiva expedida pela Justiça. O presídio é o mesmo onde cumpre pena de 30 anos o mandante do assassinato de Dorothy Stang, o fazendeiro Regivaldo Pereira Galvão, conhecido como 'Taradão', preso em setembro de 2017 - 12 anos após o crime.
A Polícia está investigando o envolvimento do religioso, que é liderança da Comissão Pastoral da Terra (CPT) no Pará, nos crimes de associação criminosa, ameaça, esbulho possessório, extorsão, assédio sexual, importunação ofensiva ao pudor, constrangimento ilegal e lavagem de dinheiro.
José Amaro era considerado braço direito da missionária norte americana Stang, assassinada em 2005, e deu prosseguimento ao trabalho em favor dos camponeses depois da execução dela.
Em nota, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs disse que o padre vinha sendo ameaçado de morte por proprietários de terras e que o religioso pode estar correndo risco ao ser conduzido ao mesmo presídio que Regivaldo. A Polícia, no entanto, informou que o padre deve permanecer em cela individual.
Acusações
De acordo com a decisão do juiz da Comarca de Anapu, André Monteiro Gomes, "a medida se justifica para colheita de documentos, objetos e/ou quaisquer outros elementos de prova relacionados com os delitos em apuração".
O documento cita que a prisão foi determinada para que as autoridades policiais possam levantar termos de declarações, vídeos, conversas de whatsapp, relatório de missão e reportagens, dentre outros, a fim de constituir as provas necessárias.
A Polícia suspeita que o padre tenha recebido dinheiro de fazendeiro com a finalidade de proteger uma propriedade. As transferências, que somadas chegam a R$29 mil, foram realizadas, segundo a Polícia, na conta da irmã do padre.
Em depoimento na sede da Superintendência Regional da região do Xingu, o padre disse que não sabe explicar os valores em dinheiro que aparecem em depósitos bancários feitos.
Outra acusação envolve assédio sexual contra uma vítima que, segundo as investigações, apresentou um vídeo pornográfico que teria sido gravado no quarto do padre.
A CPT disse que só vai se pronunciar após ter acesso ao inquérito policial. A advogada disse que o padre negou as acusações em depoimento à polícia e que a defesa deve pedir a revogação da prisão. Fonte: https://g1.globo.com
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O bispo da Prelazia do Xingu (PA), dom João Muniz Alves, divulgou uma nota nesta quarta-feira, 28, manifestando “fraterna solidariedade” ao padre José Amaro Lopes de Sousa, preso na manhã de ontem. O texto, que também é assinado pelo bispo emérito do Xingu, dom Erwin Kräutler, denuncia que o sacerdote, “incansável defensor dos direitos humanos, defensor da regularização fundiária, da reforma agrária e dos assentamentos de sem-terra”, há anos é alvo de ameaças e agora “vítima de difamação para deslegitimar todo o seu empenho em favor dos menos favorecidos”.
Leia o texto na íntegra:
“O servo não é maior do que o seu senhor. Se a mim perseguiram, também vos perseguirão.” Jo 15,20
A Semana Santa começou com grande sofrimento para a Prelazia do Xingu. Fomos surpreendidos na manhã do dia 27 de março com a notícia da prisão de nosso Padre José Amaro Lopes de Sousa, pároco da paróquia de Santa Luzia de Anapu.
Manifestamos nossa fraterna solidariedade a esse incansável defensor dos direitos humanos, defensor da regularização fundiária, da reforma agrária e dos assentamentos de sem-terra. Há anos alvo de ameaças, Padre Amaro agora é vítima de difamação para deslegitimar todo o seu empenho em favor dos menos favorecidos.
Repudiamos as acusações de ele promover invasões de terras que são reconhecidas pela Justiça como terras públicas, destinadas à reforma agrária, mas se concentram ainda nas mãos de pessoas economicamente poderosas.
Padre Amaro atua desde 1998 na Paróquia Santa Luzia. É líder comunitário e coordenador da Pastoral da Terra (CPT). O assassinato da Irmã Dorothy em 12 de fevereiro de 2005 no Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) “Esperança”, não mais o deixou quieto e o fez continuar a missão daquela Irmã mártir.
Acompanhamos apreensivos a investigação e elucidação dos fatos e insistimos que a verdade seja apurada com justiça e total transparência.
A Semana Santa nos recorda a Paixão e Morte do Senhor na cruz, muito mais ainda a Ressurreição de Jesus. Na Páscoa celebramos a vitória da Vida sobre a morte, mas também da Verdade sobre todas as mentiras.
Altamira, 28 de março de 2018
Dom João Muniz Alves, bispo do Xingu
Dom Erwin Kräutler, bispo emérito do Xingu.
Fonte: cnbb.net.br
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Papa Francisco transfere bispo de Vitória (ES) para Bauru (SP)
A Nunciatura Apostólica no Brasil comunicou nesta quarta-feira, 28, a decisão do papa Francisco em acolher o pedido de renúncia apresentado por dom Caetano Ferrari, bispo de Bauru, no Estado de São Paulo, por motivo de idade. Com a decisão o atual bispo auxiliar de Vitória, no Espírito Santo, dom Rubens Sevilla assume a diocese. A notícia foi publicada no Jornal L’Osservatore Romano desta quarta-feira, às 12 horas de Roma.
Dom Rubens Sevilla
Membro da Ordem dos Carmelitas Descalços (OCD), dom Rubens Sevilla é natural de Taraby (SP). Fez seus estudos eclesiásticos na Faculdade Nossa Senhora Medianeira dos Jesuítas em São Paulo, onde cursou Filosofia e em Roma estudou Teologia Internacional do Teresianum. Foi nomeado bispo auxiliar de Vitória em dezembro de 2011, pelo então papa Bento XVI. Seu lema episcopal é: “Pertransivit Benefaciendo”.
Dom Leonardo Steiner, secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), enviou saudação em nome da entidade ao novo bispo de Bauru.
Confira, abaixo, a saudação na íntegra:
Brasília, 28 de março de 2018
Saudação da CNBB a dom Rubens Sevilha
Prezado Irmão, dom Rubens Sevilha
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tomou conhecimento, hoje, 28 de março, da decisão do Papa Francisco em acolher o pedido de renúncia apresentado pelo bispo da diocese de Bauru (SP), dom Caetano Ferrari, de acordo com o cânon 401§1º do Código de Direito Canônico, por motivo de idade e de nomear o senhor, como seu sucessor naquela diocese paulista.
Sabemos do seu trabalho realizado como auxiliar de dom Luiz Mancilha, arcebispo de Vitória (ES). Sabemos da sua formação e da sua espiritualidade. Tudo isso nos deixa esperançosos diante da nova missão que a Igreja lhe confia.
Acolhemos sua nomeação trazendo presente a palavra do Papa Francisco sobre a Igreja e o Espírito Santo dirigida ao pregador do retiro no qual participou durante a Quaresma: “Obrigado por nos ter recordado que a Igreja não é uma gaiola para o Espírito Santo, que o Espírito voa e age também fora. E com as citações e com aquilo que nos disse, o senhor mostrou-nos como Ele trabalha nos não-crentes, nos ‘pagãos’, nas pessoas de outras confissões religiosas: é universal, é o Espírito de Deus, que é para todos. Também hoje existem ‘Cornélios’, ‘centuriões’, ‘guardas da prisão de Pedro’ que vivem uma busca interior, ou que sabem distinguir quando há algo que chama. Obrigado por esta chamada a abrir-nos sem temores, sem rigidez, para sermos dóceis ao Espírito e para não nos mumificarmos nas nossas estruturas, que nos fecham”.
A CNBB agradece a fecunda vida e missão de dom Caetano Ferrari, e pede a Deus, por intercessão Maria, Mãe do Perpétuo Socorro, conceder aos senhores, a graça da saúde e da paz.
Em Cristo,
Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário-Geral da CNBB
Fonte: cnbb.net.br
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Crime aconteceu na pista sentido Centro do Rio
RIO - Um homem foi morto a tiros na Avenida Brasil na manhã desta quarta-feira, na pista lateral da via expressa, sentido Centro, na altura da Penha, na Zona Norte do Rio. Motoristas que passam pela via expressa devem redobrar a ateção. Devido ao crime, a pista está parcialmente interditada ao trânsito, que apresenta pontos de retenção.
Bombeiros já foram acionados, mas o homem não resistiu. Ainda não há informações sobre a identificação da vítima. Fonte: https://oglobo.globo.com
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O arcebispo de Porto Alegre (RS) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da CNBB, dom Jaime Spengler, um dos responsáveis pela elaboração do texto do tema central da 56ª Assembleia Geral dos bispos do Brasil que se realiza em Aparecida (SP), de 11 a 20 de abril falou ao portal da CNBB sobre o sentido das celebrações da quinta-feira Santa: a Missa Crismal e a missa do Lava pés. Nesta celebração, que marca o início do Tríduo Pascal, se consagram os Santos Óleos do Crisma, dos Catecúmenos e dos Enfermos. “Pode-se dizer que na Quinta-feira Santa sela-se o Testamento da Nova Aliança, em torno dos sacramentos, especialmente da Eucaristia, e do novo mandamento, significado pelo lava-pés”.
A ocasião, reforça o pastor, também é oportuna para rezar pelas vocações tendo em vista que muitas comunidades não contam com a presença de um sacerdote nem mesmo no período da Semana Santa. “Todas as comunidades são convocadas a rezar pelas vocações. Contudo é também importante que, neste caso, os próprios ministros ordenados tenham coragem suficiente para dizer aos adolescentes e jovens de nosso tempo que o ministério ordenado vale a pena; que vale a pena ser presbítero. Que gostamos do que somos e amamos o que fazemos”.
O arcebispo lembra que povo brasileiro vive momentos difíceis em função do descrédito em relação às instituições, à corrupção, ao desemprego e às drogas o que, segundo ele, abre brechas para o risco de se cair em radicalismos tanto de direita como de esquerda. Para ele, o Evangelho de Jesus Cristo apresenta um caminho para superação de todas as expressões de morte. “A Páscoa é a celebração dos prodígios de Deus ao longo da história da salvação: a libertação do povo da escravidão do Egito e a vitória de Cristo sobre a morte”, disse. Confira abaixo, a íntegra da entrevista.
A celebração da quinta-feira santa tem a ver com a missão dos ministros ordenados na Igreja? Qual?
Aqui tratamos da Missa Crismal que o Bispo concelebra com o seu presbitério (presbíteros diocesanos e presbíteros religiosos que atuam no território da Diocese) e durante a qual se consagram os Santos Óleos do Crisma, dos Catecúmenos e dos Enfermos. Esta concelebração é manifestação da comunhão dos presbíteros com o seu Bispo.
Nesta solene concelebração, os presbíteros, na confecção do óleo do Crisma são testemunhas e cooperadores do seu Bispo, de cujo múnus sagrado são participantes, edificando, santificando e conduzindo o povo de Deus. É conveniente que todos os presbíteros atuantes no território da Diocese estejam presentes na concelebração da Missa Crismal, exprimindo-se assim a unidade do presbitério. Em muitas comunidades do Brasil, católicos ficam impossibilitados de ter a presença de um sacerdote na semana santa.
O senhor considera ser hora importante para a oração pelas vocações?
É fato que em muitas comunidades do imenso território brasileiro é impossível a presença do presbítero não só nestes dias da Semana Santa. Tal situação representa um forte apelo à reflexão e ao estudo, no sentido de encontrar meios para superar essa deficiência. Em tempos idos, os bispos da América Latina, reunidos em Puebla, afirmaram que “a Eucaristia orienta-nos de modo imediato para a hierarquia sem a qual ela é impossível; porque foi aos apóstolos que o Senhor deu o mandato de celebrá-la ‘em minha memória’ (Lc 22,19).
Os pastores da Igreja, sucessores dos apóstolos, constituem por isso mesmo o centro visível onde se constrói, aqui na terra a unidade da Igreja” (n. 247). Quase 30 anos depois, reunidos em Aparecida dão continuidade à reflexão dizendo que “os fiéis devem desejar a participação plena na Eucaristia dominical, pela qual também os motivamos a orar pelas vocações” (n. 253). É certamente sempre tempo de rezar pelas vocações! A oração pelas vocações é resposta à exortação do próprio Jesus: “Pedi ao Senhor da messe que envie operários” (Mt 9,38).
Há na Igreja um serviço de animação vocacional. Faz parte da pastoral orgânica da Igreja o trabalho em prol das vocações. Para este trabalho é necessário planejamento, estratégias, organização. No entanto, não se pode jamais esquecer que fundamental é seguir aquilo que Jesus ensina. Vocações é sobretudo questão de oração. Pode-se aqui lançar uma provocação: será que acreditamos na força da oração? Cremos verdadeiramente que o Senhor mesmo inspira e chama para o trabalho na sua messe?
Todas as comunidades são convocadas a rezar pelas vocações. Contudo é também importante que, neste caso, os próprios ministros ordenados tenham coragem suficiente para dizer aos adolescentes e jovens de nosso tempo que o ministério ordenado vale a pena; que vale a pena ser presbítero. Em poucas palavras: dizer aos nossos adolescentes e jovens que gostamos do que somos e amamos o que fazemos.
Qual a mensagem de Páscoa o senhor envia ao povo brasileiro?
A solenidade da Páscoa é expressão maior do amor de Deus pela humanidade. Deus não poupou o seu próprio Filho (Rm 8,32); Ele “amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).
O nosso povo vive momentos difíceis! Há um certo descrédito em relação às instituições; a corrupção é uma realidade em distintos níveis da sociedade; a violência atinge números alarmantes, vitimando, sobretudo, os menos favorecidos; o desemprego se alastra como praga, roubando o sonho de muitos; a drogadição espalha a morte por toda parte. Faz falta um projeto de nação! Com isso se corre o risco de cair em radicalismos tanto de direita como de esquerda. É urgente a necessidade de espaços para uma autocritica, que envolva distintos setores da sociedade.
O Evangelho de Jesus Cristo apresenta um caminho para superação de todas as expressões de morte. Somente o amor é mais forte que a morte (Ct 8,6) . A Igreja, através de sua Doutrina Social, deseja cooperar ativamente para que se possa construir uma ‘terra sem males’.
A Páscoa é celebração dos prodígios de Deus ao longo da história da salvação: a libertação do povo da escravidão do Egito e a vitória de Cristo sobre a morte. Possa a celebração da Páscoa reacender em nosso povo a esperança. A esperança num Deus que nos ama e que deseja que todos tenham vida e vida em abundância. Fonte: cnbb.net.br
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Frei Carlos Mesters, O. Carm.
Vamos ouvir dois textos bem em que Nossa Senhora aparece, mas não fala. Ela conserva o silêncio. Durante a leitura vamos prestar atenção no seguinte: O que Maria nos diz através do seu silêncio?
Leitura do Evangelho de João 19,25-27
"A mãe de Jesus, a irmã de sua mãe, Maria Cléofas, e Maria Madalena estavam junto à cruz. Jesus, vendo sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à sua mãe: "Mulher, eis aí o teu filho! Depois disse ao discípulo: "Eis aí tua mãe!" E dessa hora em diante, o discípulo a recebeu em sua casa"
Leitura dos Atos dos Apóstolos 1,12-14
"Depois que Jesus subiu ao céu, os apóstolos voltaram para Jerusalém, pois se encontravam no chamado Monte das Oliveiras, não muito longe de Jerusalém: uma caminhada de sábado. Entraram na cidade e subiram para a sala de cima, onde costumavam hospedar-se. Aí estavam Pedro e João, Tiago e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão Zelota e Judas filho de Tiago. Todos eles tinham os mesmos sentimentos e eram assíduos na oração, junto com algumas mulheres, entre as quais Maria, a mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus."
Uma ajuda para a reflexão
Há muitas formas de silêncio: o silêncio que se pede num hospital; o silêncio da natureza, da noite ou da madrugada; o silêncio da morte; o silêncio que precede à tempestade; o silêncio do medo; o silêncio do censurado e do povo silenciado; o silêncio do aluno que não sabe a resposta; o silêncio do fulano frustrado, do jovem abafado e do lutador derrubado; o silêncio do namorado na presença da namorada; o silêncio da quebra interior: tudo que a pessoa tinha imaginado e planejado até àquele momento cai no vazio e se desintegra. Parece que não valeu nada. O silêncio do místico. O silêncio de Deus.
Tantos silêncios!
A prática do silêncio é condição necessária para o encontro com Deus; é importante também para o relacionamento correto com o próximo. Silêncio é muito mais do que ausência de barulho. Sem silêncio não há conversa, nem com o irmão e a irmã, nem com Deus. Pois a condição para a conversa verdadeira é saber escutar o outro. Palavras verdadeiras nascem é do silêncio. Silêncio é saber escutar e fazer à outra pessoa sentir que, no momento da conversa, ela, e só ela, é o absoluto diante do qual todo o resto é relativo. Isto exige uma ascese muito grande. Sobretudo, saber escutar as pessoas que sempre foram silenciadas, os pobres, tanto na sociedade como na igreja.
Maria, a Virgem do silêncio. De Maria se fala pouco na Bíblia, e ela mesma fala menos ainda. Os textos da Bíblia sobre Maria são todos dos evangelhos de Mateus, Lucas e João, menos quatro: Mc 3,31; Gl 4,4; At 1,13; Ap 12,1-17. Nos textos do evangelho de Mateus, em que Maria é mencionada, tudo é centrado em torno da pessoa de José. Maria aparece como a esposa de José. Ela mesma não fala. No evangelho de Lucas, Maria aparece mais. Mesmo assim, ela fala pouco: com o anjo Gabriel, com Isabel e com Jesus no Templo de Jerusalém. Lucas, quando fala de Maria, pensa nas Comunidades. Ele apresenta Maria como modelo para as comunidades saberem como relacionar-se com a Palavra de Deus: acolhê-la, encarná-la, vivê-la, aprofundá-la, ruminá-la, fazê-la nascer e crescer, deixar-se moldar por ela, mesmo quando não a entendemos ou quando ela nos faz sofrer. Maria nos orienta na escuta e no uso da Palavra de Deus.
A Mãe de Jesus aparece duas vezes no evangelho de João: no começo, nas bodas de Caná (Jo 2,1-5), e no fim, ao pé da Cruz (Jo 19,25-27). Nos dois casos ela representa o Antigo Testamento que aguarda a chegada do Novo e, nos dois casos, contribui para que o Novo chegue. Maria é o elo entre o que havia antes e o que virá depois. Em Caná, é ela, a mãe de Jesus, símbolo do Antigo Testamento, que percebe os limites do Antigo e dá os passos para que o Novo possa chegar. Na hora da morte, é novamente Maria, a Mãe de Jesus, que acolhe o "Discípulo Amado". O Discípulo Amado é a comunidade que cresceu ao redor de Jesus, é o filho que nasceu do AT. A pedido de Jesus, o filho, o NT, recebe a Mãe, o AT, em sua casa. Os dois devem caminhar juntos. Pois o Novo não se entende sem o Antigo. Seria um prédio sem fundamento. E o Antigo sem o Novo ficaria incompleto. Seria uma árvore sem fruto.
Nos Atos dos Apóstolos, Maria aparece rezando no meio dos discípulos e discípulas, aguardando a descida do Espírito Santo. Quando Lucas, no ano 85, escrevia os Atos dos Apóstolos, havia muitas tensões nas comunidades. Havia várias tendências e rumos. Havia os que eram da linha de Pedro, outros da linha de Tiago, outros da linha de Paulo. Lucas escreve, para seja preservada a unidade. Ao redor de Maria, a mãe de Jesus, todos estão congregados numa unidade que ultrapassa as diferenças e as acolhe, sem destruí-las. Maria com a sua oração faz com que todos se abram para a ação do Espírito Santo e consigam ter os mesmos sentimentos. Ao redor do silêncio orante de Maria, todos se unem e preservam a unidade.
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Frei Carlos Mesters, O. Carm.
Morte e Ressurreição: Só ressuscita quem morre preimeiro! (Lucas 23,44-24,12)
Situando
Os inimigos conseguiram realizar o seu projeto. Mataram Jesus. Venceram, usando o poder da força bruta. Venceram, mas não convenceram! Não conseguiram destruir nem abafar a bondade e o amor em Jesus. Pelo contrário! Lucas mostra como Jesus, exatamente enquanto está sendo vítima do ódio e da crueldade dos homens, revela a ternura de Deus e nos dá a "suprema prova do amor!" (Jo 13,1). Eis algumas frases de Jesus que só Lucas nos conservou e nas quais transparece a vitória da vida que a morte não conseguiu matar: “Desejei ardentemente comer esta páscoa com vocês” (22,15). “Façam isto em memória de mim!” (22,19). “Simão, rezei por você, para que não desfaleça a sua fé!” (22,32). Na hora da negação de Pedro, Jesus fixou o nele o olhar, provocando o choro de arrependimemento (22,61). No caminho do calvário, Jesus acolhe as mulheres: “Filhas de Jerusalém, não chorem por mim!” (23,28) Na hora de ser pregado na cruz, ele reza: “Pai, perdoa, porque não sabem o que fazem” (23,34). Ao ladrão pendurado na cruz a seu lado ele diz: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso!” (23,43) Estas frases nos dão os olhos certos para ler e saborear a descrição da morte, do enterro e da ressurreição de Jesus.
Comentando
Lucas 23,44-46: A morte de Jesus
Jesus está pendurado na Cruz. A morte está chegando. Ao meio dia, o sol escurece, as trevas invadem a terra. Estes fenômenos da natureza interpretam o significado da morte de Jesus. Simbolizam a chegada do Reino. O véu do santuário rasgou-se no meio. Terminou a vigência do Antigo Testamento, simbolizado pelo Templo, cujo véu separava Deus do resto do mundo. Pela sua vida, paixão, morte e ressurreição, Jesus trouxe Deus para perto de nós e revelou a sua presença em tudo que existe e acontece. Na hora de morrer, Jesus deu um forte grito. O grito do povo oprimido deu início ao primeiro exôdo (Ex 2,23-25), pois Deus escutou o grito do povo. Escutou também o grito de Jesus, fazendo com que se realizasse o novo êxodo. Jesus resume toda a sua vida dizendo: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”. Com esta frase do salmo (Sl 31,6), Jesus devolve ao Pai o Espírito que dele tinha recebido na hora do batismo (Lc 3,22). Foi na força do Espírito, que Jesus iniciou a sua missão. É na força do mesmo Espírito, que ele a encerra.
Lucas 23,47-48: As reações diante da morte de Jesus
Um estrangeiro, centurião do exército romano, vendo o que acontecera na hora da morte de Jesus, faz uma profissão de fé: “Realmente, este homem era um justo!” Justo é aquele que realiza o objetivo da Lei de Deus. Jesus realizou a Lei, transgredindo normas inúteis, abrindo novos caminhos, e acolhendo a todos, inclusive aos pagãos. A multidão, vendo o que tinha acontecido, voltou para casa batendo no peito. Reconhece o erro que cometeu, pedindo a condenação de Jesus.
Lucas 23,49: As testemunhas da morte de Jesus
Os amigos e as mulheres que o haviam acompanhado desde a Galiléia, permanecem à distância, observando tudo. Testemunham que foi assim que Jesus morreu. Aqui, Lucas indica a fonte, de onde recolheu parte do material que acaba de contar.
Lucas 23,50-54: O enterro de Jesus
José de Arimatéia, membro do Sinédrio, que não concordara com a condenação de Jesus, cuidou do enterro. Jesus foi enterrado num sepulcro novo, talhado na rocha. Realiza-se, assim, uma outra profecia de Isaías sobre o Servo que dizia: “Seu túmulo está com os ricos” (Is 53,9). Lucas insiste em dizer: "Era o dia da Preparação. O sábado estava quase começando”. O sábado é o 7º dia. Estava terminando o 6º dia da nova criação. Jesus descansou no 7º dia.
Lucas 23,55-56: As mulheres, testemunhas do enterro de Jesus
As mulheres testemunham também o lugar onde foi colocado o corpo de Jesus. Havia alí muitos sepulcros, alguns fechados, outros abertos. Quem não soubesse bem onde Jesus tinha sido enterrado, poderia enganar-se. Mas elas seguiram José de Arimatéia, observaram bem o túmulo, viram o lugar, fixaram na memória. Aquele sepulcro aberto do domingo de Páscoa era realmente de Jesus! Não foi um engano! Em seguida, elas voltam para casa, preparando aromas e perfumes para poder ungir o corpo de Jesus depois do descanso do sábado..
Lucas 24,1-3: Os fatos encontrados: túmulo vazio, pedra removida
Seguindo de perto o evangelho de Marcos, Lucas oferece informações detalhadas sobre a hora e o lugar. Estes detalhes sugerem que as mulheres são pessoas de confiança para testemunhar a ressurreição. Elas estavam convencidas de que Jesus estava morto, pois iam para o túmulo para ungí-lo. A sua fé na ressurreição não foi fruto de fantasia, mas algo totalmente inesperado. Quando chegaram no sepulcro, viram que a pedra já tinha sido removida. Entrando dentro do sepulcro não encontraram o corpo de Jesus. Estes são os fatos. Qual o seu significado?
Lucas 24,4-8: O significado dos fatos: o anúncio da ressurreição
Dentro do sepulcro, elas encontram dois homens em vestes fulgurantes que lhes interpretam o significado destes fatos inexplicáveis: “Jesus está vivo. Ele ressuscitou!” Elas lembraram as palavras do próprio Jesus e as palavras da Escritura. Daqui para a frente, a palavra de Jesus e a palavra da Escritura têm ambas o mesmo valor.
Lucas 24,9-12: Os apóstolos não acreditaram no testemunho das mulheres
Lucas diz quem eram as mulheres: Maria Madalena, Joana e Maria, a mãe de Tiago, bem como as outras que estavam com elas. Voltando do sepulcro, elas anunciaram a Boa Nova aos Onze, mas estes não lhes deram crédito. Não foram capazes de crer no testemunho das mulheres. Diziam que era um “desvario”, invenção, fofoca. Naquele tempo, as mulheres não podiam ser testemunhas. Ao transmitir a elas a Ordem de anunciar a Boa Nova da ressurreição, Jesus estava pedindo uma mudança total na cabeça das pessoas. Deviam dar crédito a quem, dentro da sociedade daquele tempo, não merecia crédito. Assim, começou a subversão do anúncio da ressurreição! Lucas termina dizendo que Pedro foi ao túmulo, encontrou-o vazio e voltou para casa. Mas não chegou a crer. Ficou apenas surpreso.
Alargando
- A experiência da ressurreição aconteceu, primeiro, nas mulheres (Mt 28,9-10; Mc 16,9; Lc 24, 4-11.23; Jo 20, 13-16); depois, nos homens. Ela é a confirmação de que, para Deus, uma vida vivida como Jesus, é vida vitoriosa. Deus a ressuscita! Em torno desta Boa Nova, surgiram as comunidades. Crer na ressurreição o que é? É voltar para Jerusalém, de noite, reunir a comunidade e partilhar as experiências, sem medo dos judeus e dos romanos (Lc 24,33-35). É receber a força do Espírito, abrir as portas e anunciar a Boa Nova à multidão (At 2,4). É ter a coragem de dizer: "É preciso obedecer antes a Deus que aos homens" (At 5,29). É reconhecer o erro e voltar para a casa do pai: "Teu irmão estava morto e voltou a viver" (Lc 15,32). É sentir a mão de Jesus ressuscitado que, nas horas difíceis, nos diz: “Não tenha medo! Eu sou o Primeiro e o Último. Sou o Vivente. Estive morto, mas eis que estou vivo para sempre. Tenho as chaves da morte e da morada dos mortos” (Apc 1,17s). É crer que Deus é capaz de tirar vida da própria morte (Hb 11,19). É crer que o mesmo poder, usado por Deus para tirar Jesus da morte, opera também em nós e nas nossas comunidades, através da fé (Ef 1,19-23).
- Até hoje, a ressurreição acontece. Ela nos faz experimentar a presença libertadora de Jesus na comunidade, na vida de cada dia (Mt 18,20), e nos leva a cantar: "Quem nos separará, quem vai nos separar, do amor de Cristo, quem nos separará? Se ele é por nós, quem será contra nós?" Nada, ninguém, autoridade nenhuma é capaz de neutralizar o impulso criador da ressurreição de Jesus (Rm 8,38-39). A experiência da ressurreição ilumina a cruz e a transforma em sinal de vida (Lc 24,25-27). Abre os olhos para entender o significado da Sagrada Escritura (Lc 24,25-27.44-48) e ajuda a entender as palavras e gestos do próprio Jesus (Jo 2,21-22; 5,39; 14,26). Uma comunidade que quiser ser testemunho fiel da Boa Nova da Ressurreição deve ser sinal de vida, lutar pela vida contra as forças da morte. Sobretudo aqui na América Latina, onde a vida do povo corre perigo por causa do sistema de morte que nos foi imposto.
- Detalhes
Frei Carlos Mesters, O. Carm.
“Desejei muito comer esta Páscoa com vocês!”: Uma ajuda para o grupo:
Situando
No 6º Bloco, Lucas descreve a paixão, morte e ressurreição de Jesus. Inicia-se a etapa final do “êxodo” de Jesus, anunciado por Moisés e Elias no Monte da Transfiguração (Lc 9,31). A maneira de Lucas descrever os acontecimentos é semelhante àqueles filmes que, primeiro, mostram a cena de longe. Em seguida, pouco a pouco, eles ajustam a câmara e a cena vai chegando mais perto, até que se possa ver todos os detalhes. Assim faz Lucas. Desde o capítulo 9, ele vem dizendo que Jesus está indo para Jerusalém. E agora, uma vez em Jerusalém, ele vai ajustando a câmara no ponto, em que os leitores e as leitoras devem prestar mais atenção. Primeiro, ele diz: "Aproxima-se a festa dos ázimos, chamada Páscoa" (Lc 22,1). Em seguida, informa: "Chegou o dia dos Ázimos" (Lc 22,7). E finalmente, constata: "Quando chegou a hora, ele sentou à mesa!" (Lc 22,14). Este é o ponto onde Lucas quer que a gente preste toda a atenção, pois é o momento em que começa a Páscoa, o “êxodo” de Jesus.
Comentando
Lucas 22,7-13: Preparativos para a Ceia Pascal
“Veio o dia dos Ázimos, quando devia ser imolada a páscoa”. Esta frase lembra a carta de Paulo que diz: “Nossa páscoa, Cristo, foi imolada” (1 Cor 5,7). No primeiro êxodo, aquele do Egito, o sangue do cordeiro pascal, passado nas portas das casas, libertou o povo da opressão do faraó (Ex 12,13). Agora, neste novo êxodo, Jesus, o novo Cordeiro pascal, vai libertar o povo da opressão da lei. Vai revelar a bondade e a ternura de Deus Pai que acolhe a todos. Jesus pensou em tudo para preparar bem a celebração desta última páscoa com seus amigos. Combinou as coisas com pessoas conhecidas da cidade. Ele mantém até um certo segredo, pois o momento era perigoso. Jesus estava sendo procurado para ser preso e morto.
Lucas 22,14-18: Início da Ceia Pascal
“Desejei ardentemente comer esta páscoa com vocês”. É como se dissesse: “Até que enfim! Chegou o momento que tanto desejei!” Jesus tem o desejo ardente de levar a bom termo o projeto do Pai. É a última vez que ele está reunido com seus amigos. É a páscoa definitiva, em que ele celebra a Nova Aliança e realiza a passagem da opressão da antiga lei para a revelação da lei do amor. Jesus enche um cálice com vinho e o distribui aos amigos. Beber o cálice significa cumprir a missão recebida do Pai (Mc 10,38-39; Jo 18,11). Jesus bebe o cálice que o Pai lhe deu e pede que seus amigos participem.
Lucas 22,19-20: A instituição da eucaristia
O último encontro de Jesus com os discípulos realiza-se no ambiente solene da celebração tradicional da Páscoa. Eles estão reunidos para comer o cordeiro pascal e, assim, lembrar a libertação da opressão do Egito. O contraste é muito grande. De um lado, os discípulos: eles estão inseguros, sem entenderem o alcance dos acontecimentos. De outro lado, Jesus que faz um gesto de partilha, convidando seus amigos a tomar o seu corpo e o seu sangue. Ele distribui o pão e o vinho como expressão do que ele mesmo estava vivendo naquele momento: doar sua vida, distribuir-se aos outros para que eles pudessem viver e, assim, revelar o amor do Pai. Este é o sentido da eucaristia: aprender de Jesus a distribuir-se, doar-se, entregar-se, servir, sem medo dos poderes que ameaçam a vida. E Jesus acrescenta uma frase que só Lucas conservou: “Fazei isto em memória de mim!” (Lc 19,22).
Lucas 22,21-23: Anúncio da traição de Judas
Estando reunido com os discípulos pela última vez, Jesus anuncia: “A mão daquele que me trai está comigo sobre a mesa”. Este jeito de falar acentua o contraste. Para os judeus a comunhão de mesa era a expressão máxima da amizade, da intimidade e da confiança. Com outras palavras, Jesus vai ser traído por alguém muito amigo! E Jesus acrescenta: “Sim, o Filho do Homem vai morrer, segundo o que foi determinado!” Aqui não se trata de predestinação nem de fatalismo. Trata-se da certeza que a experiência humana de séculos nos comunica: num mundo organizado a partir do egoismo, quem decide viver o amor, vai morrer crucificado. E Jesus termina: “Ai daquele homem por quem o Filho do Homem foi entregue!” Será para sempre conhecido e lembrado como o traidor de Jesus!
Alargando
- A grande luta. De um lado, Jesus. Animado pelo Espírito de Deus, ele procura realizar o projeto do Pai. Do outro lado, os inimigos de Jesus. Animados pelo espírito oposto, procuram realizar o projeto de satanás. "Satanás entrou em Judas” e o levou a conferenciar com os sacerdotes, que estavam procurando um meio para eliminar Jesus, mas temiam o povo (Lc 22,2-3). Combinaram o preço e Judas começou a procurar um jeito de como entregá-lo (Lc 22,5). É na Última Ceia que as duas forças se encontram e se enfrentam! Jesus diz: "A mão que me trai está comigo sobre a mesa" (Lc 22,21). Por de trás da luta entre os homens, está a luta entre os poderes. O vencedor será Jesus!
- Lucas acentua a semelhança entre o Êxodo e a paixão, morte e ressurreição de Jesus. No êxodo antigo, conduzido por Moisés, Deus libertou o povo da lei do Faraó que oprimia e escravizava o povo. No novo êxodo, conduzido por Jesus, Deus liberta o povo da escravidão da lei, que o impedia de perceber e de experimentar o amor acolhedor de Deus como Pai. No antigo êxodo, nasceu o povo, feito de muitas raças e tribos diferentes. O que os unia e deles fazia um só povo era a fé comum em Javé, o Deus libertador. No novo êxodo, nasce um povo novo, feito de muitas raças, culturas e etnias. O que os une não é o sangue nem a raça, mas sim a fé comum em Jesus. Ele nos revelou a misericórdia e a ternura do Deus libertador que não exclui a ninguém.
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A agonia de Jesus no Horto das Oliveiras: A Oração: fonte de luz e de força.
Frei Carlos Mesters, O. Carm.
Situando
- No início da sua missão, Jesus foi tentado no deserto (Lc 4,1-12). Naquela ocasião, Lucas fez a seguinte observação: “Tendo acabado toda a tentação, o diabo deixou Jesus até o momento oportuno" (Lc 4,13). Este momento oportuno agora chegou. Chegou a hora da tentação suprema, “a hora do poder das trevas” (Lc 22,53). Começou a última etapa do êxodo de Jesus. O satanás já tinha conseguido desviar Judas (Lc 22,3). Queria desviar Tiago e João na hora da vingança contra os samaritanos, no início da viagem para Jerusalém (Lc 9,55). Quis entrar em Pedro, mas a oração de Jesus foi mais forte (Lc 22,31). Agora ele vai fazer a tentativa suprema para desviar Jesus do caminho do Pai.
Mas não vai conseguir.
- Durante a leitura do texto que descreve a agonia de Jesus no Horto, convém lembrar a cena da Transfiguração (Lc 9,28-36). No Evangelho de Lucas estes dois episódios tem uma semelhança muito grande, o que, sem dúvida, encerra uma mensagem da parte de Lucas para nós, seus leitores e suas leitoras.
- Comentando
Lucas 22,39-40: Tentação e angústia
“Como de costume, Jesus sai para o Monte das Oliveiras”. Era a última noite da sua vida aqui na terra! Ele costumava ir naquela chácara para rezar. Jesus sabe que estão à sua procura para matá-lo. Sente a hora da tentação chegando. Bastaria subir o Monte das Oliveiras, alcançar o deserto, e ele estaria livre. Ninguém o prenderia! O que fazer? Era a tentação de escapar do cálice. Ele reza e pede aos amigos, para que rezem, “afim de não entrar em tentação!” Jesus estava sentindo a angústia provocada pela tentação. Não quer que seus amigos sofram esta mesma tentação.
Lucas 22,41-42: A oração da total entrega
Jesus reza de joelhos. Ele devia estar muito abalado e angustiado, pois naquele tempo, o costume era rezar em pé. Lucas traz as palavras da oração: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice. Contudo, não a minha, mas a tua vontade seja feita!” É a oração da total entrega. Jesus não volta atrás, não quer escapar. Quer é continuar no caminho de acolher os excluídos, de denunciar o fechamento da religião oficial, de insistir nas exigências da fraternidade, mesmo que os poderosos o persigam e matem. Ele assume ser o Messias-Servo.
Lucas 22,43-44: O anjo de Deus ajuda a beber o cálice
Apareceu um anjo do céu. O anjo do céu é o próprio Deus se comunicando com o ser humano. É pela terceira vez no evangelho de Lucas, que Deus se manifesta diretamente a Jesus. A primeira vez, foi no Batismo (Lc 3,21-22). A segunda, na Transfiguração (Lc 9,35). E agora, a terceira vez, aqui no Horto. O anjo não vem para consolar. Ele vem para ajudá-lo a continuar no caminho do Pai até o fim, a beber o cálice até o fundo. Diz a carta aos Hebreus: “Nos dias da sua vida terrestre, Jesus apresentou pedidos e súplicas, com veemente clamor e lágrimas, àquele que o podia salvar da morte” (Hb 5,7). De fato, depois que apareceu o anjo, Lucas diz que “cheio da angústia, Jesus reza com mais insistência ainda” e começa a suar sangue. Suor de sangue é sinal de que a angústia que o envolve é muito grande. Jesus é jovem. Tem apenas 33 anos. É acusado e perseguido por algo que nunca fez nem quis, e sabe que vão matá-lo. É pela oração que ele se reencontra consigo, com a missão e com o Pai. A paz voltou. “Foi atendido por causa da sua total entrega!” (Hb 5,7)
Lucas 22,45-46: Resistir à tentação
Jesus se levanta. Vai ao encontro dos discípulos. Eles estão dormindo de tristeza. Novamente, lhes dá a mesma recomendação: “Levantem e rezem, para que não entrem em tentação!” No Pai-Nosso, Jesus já tinha mandado fazer o mesmo pedido: “Não nos deixeis cair em tentação!” (Lc 11,4) A tentação faz parte da vida. Constantemente, Jesus era puxado para seguir por caminhos contrários ao caminho do Pai. Mas ele resiste através da oração e vence a tentação. Partindo da sua própria experiência, dá um conselho aos amiogos: "Rezem para que não entrem em tentação!"
Alargando
A tentação de assumir o papel do Messias glorioso acompanhou Jesus, do começo ao fim. A pressão vinha de todos os lados. Pessoas, fatos, situações, o próprio demônio, todos tentavam levá-lo por outros caminhos. Mas nunca ninguém conseguiu desviá-lo do caminho do Pai.
* Pedro tentou afastá-lo do caminho da Cruz, mas recebeu uma resposta dura: "Vai embora, Satanás!"(Mc 8,33).
* Seus pais tiveram que ouvir: “Então não sabiam que devo estar na casa do meu Pai?”(Lc 2,49)
* Aos parentes ele disse: "Quem é minha mãe? Quem são meus irmãos?"(Mc 3,33).
* Aos apóstolos que queriam levá-lo de volta, ele disse: "Vamos para outros lugares! Pois foi para isto que eu vim!"(Mc 1,38)
* João Batista é convidado a conferir as profecias com a realidade dos fatos (Mt 11,4-6 e Is 29,18-19; 35,5-6; 61,1).
* Aos fariseus avisou: “Vão dizer àquela raposa que vou continuar trabalhando aqui hoje e amanhã. Só vou terminar é depois de amanhã!”(Lc13, 32).
* O povo queria forçar Jesus a ser o messias-rei (Jo 6,15). Ao percebê-lo, Jesus simplesmente foi embora e se refugiou na montanha(Jo 6,15).
* Ao demônio Jesus reage com força, condenando as propostas com palavras da Escritura (Mt 4, 4.7.10).
* No Horto, o sofrimento leva Jesus a pedir: "Pai, afasta de mim este cálice!" Mas ele logo acrescenta: "Não o que eu quero, mas o que tu queres"(Mc 14, 36). E na hora da prisão, hora das trevas(Lc 22,53), aparece pela última vez a tentação de seguir pelo caminho do messias guerreiro. Jesus reage: “Guarde a espada no seu lugar!”(Mt 26,52).
Orientando-se pela Palavra de Deus, Jesus recusou todas estas propostas. Inserido no meio dos pobres e excluídos e unido ao Pai pela oração, fiel a ambos, ele resistia e seguia pelo caminho do Servo de Javé, o caminho do serviço ao povo (Mt 20,28).
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Na última quarta-feira (21/03), o Papa Francisco nomeou como administrador apostólico da Diocese de Formosa (GO), Dom Paulo Mendes Peixoto, arcebispo metropolitano de Uberaba.
Cidade do Vaticano
Na última quarta-feira (21/03), o Papa Francisco nomeou como administrador apostólico da Diocese de Formosa (GO), Dom Paulo Mendes Peixoto, arcebispo metropolitano de Uberaba.
A diocese foi alvo da Operação chamada ‘Caifás’ do Ministério Público Federal (MP-GO) que levou à prisão do bispo local, de quatro sacerdotes e outras pessoas acusadas de corrupção e desvio de dinheiro.
Devido a esses acontecimentos, a Santa Sé indicou o bispo auxiliar de Brasília, Dom José Aparecido, como delegado para as celebrações da Semana Santa, em Formosa.
Eis o que disse Dom José na entrevista a Ronaldo da Canção Nova. Fonte: http://www.vaticannews.va
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Uma semana após escândalo de corrupção, católicos da cidade de Goiás se dividem entre o silêncio e a revolta, mas não falam em abandonar a fé
Maria Vaz, ao lado do marido, Valdemário: "Temos que pedir ao Senhor que nos recupere e nos tire desse sofrimento"
"As pessoas ainda estão com o sentimento muito à flor da pele. Depois da operação policial, passaram a despejar raiva em cima de nós." As palavras são de uma funcionária da Catedral de Formosa (GO), que pediu para não ter o nome divulgado. A operação à qual ela se refere é a Caifás, conduzida pelo Ministério Público de Goiás (GO) e que culminou com a prisão do bispo da cidade, dom José Ronaldo Ribeiro, e mais oito pessoas, sendo outros cinco sacredotes. "Até quem não está envolvido tem sofrido as penalidades", completa a mulher.
Uma semana depois que a operação foi deflagrada, os fiéis católicos do município goiano buscam recuperar a confiança na instituição. Ainda atônitos com o escândalo de corrupção, os moradores se dividem em grupos antagônicos. Parte prefere o silêncio. Outros mostram revolta. Alguns condenam. Mas nenhum fala em abandonar a Igreja. Sabem que ela também é vítima.
“A fé não se abala, mas essa situação não é algo compreensível. As pessoas erram, podem tropeçar em sua conduta”, explica a professora aposentada Neide Espíndola, 67 anos. O marido dela, o técnico em contabilidade aposentado Antônio Flávio Pessoa, 62, concorda. “Não é uma situação fácil de aceitar, mas quem somos nós para julgar?”
Os dois estavam entre os 700 fiéis que participaram, ontem, da celebração do Domingo de Ramos, que marca o início da semana santa na Igreja Católica. O céu estava fechado quando a procissão de Ramos começou, encurtando o trajeto. O bispo auxiliar de Brasília, dom José Aparecido Gonçalves de Almeida, designado pela Santa Sé para presidir as celebrações de Semana Santa na diocese de Formosa, pediu orações. O religioso garantiu aos fiéis que a Igreja retornará ao estado de "normalidade".
Ressurreição
Os mais otimistas acreditam na ressurreição da Igreja em Formosa, assim como Cristo ressuscitou no domingo de Páscoa. "Regeneração" parece ser a palavra que define os desejos do fiéis. "Espero que a Igreja recupere sua moral. Mas as pessoas não podem crucificar os católicos. Somos tementes a Deus e não aos homens que lideram a Igreja", pondera. O irmão dela, o motorista David Batista Teixeira, 56 anos, é menos esperançoso. "A corrupção que aconteceu nos deixa muito tristes e nos coloca em uma situação muito delicada. Agora, só resta rezar."
O assunto permaneceu praticamente intocado na missa de domingo, mas surgiu perto do fim. "Assumo a administração da igreja com o intuito de correção e de volta à normalidade", afirmou dom José Aparecido. Ele pediu ajuda aos fiéis. Repetiu trechos do discurso do papa Francisco, quando assumiu o Vaticano em 2013. "Conto com a oração de vocês."
A dona de casa Maria Vaz Ribeiro, 68 anos, garante que vai atender a recomendação do líder religioso. "Temos que pedir ao Senhor que nos recupere e nos tire desse sofrimento. Não é protestando, prendendo e condenando que se livram a Igreja e o povo de Deus do mal e da calúnia. Só o amor de Cristo nos salva", defende. Mas o marido dela, o lavrador Valdemário Ribeiro, 78 anos, cobrou respostas. "É uma dor muito grande, mas quem está envolvido deve ser responsabilizado." Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br
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