Padre José Assis Pereira, João Pessoa/PB.

A solenidade litúrgica da Santíssima Trindade deste domingo guarda uma clara relação com a de Pentecostes, celebrada no último domingo e marca a retomada da segunda etapa do Tempo Comum do Ano Litúrgico.

Hoje celebramos o centro do cristianismo, um mistério, que distingue a religião cristã de todas as outras religiões. Uma verdade fundamental da fé, que expressamos inúmeras vezes por palavras e gestos na sagrada liturgia.

A solenidade da Santíssima Trindade é, antes de mais, um convite a descobrir o verdadeiro rosto de Deus. Deixemo-nos questionar hoje por Moisés: “Existe, porventura, algum povo que tenha ouvido a voz de Deus falando-lhe…? Ou terá jamais algum Deus vindo escolher para si um povo entre as nações…?” (cf. Dt 4,32-34) e ainda: Em que Deus acreditamos? Qual a imagem de Deus que temos? Qual o rosto do nosso Deus? Qual a imagem do Deus que adoramos? Qual a relação de Deus com os homens? Este Domingo deve ser, sobretudo, para a contemplação e à adoração de um Deus que se apresenta como o único Deus: “Reconhece, pois hoje, e grava-o em teu coração, que o Senhor é o Deus lá em cima do céu e cá embaixo na terra, e que não há outro além dele” (Dt 4,39). Trata-se de um Deus impessoal, mas não abstrato, o absoluto, um Deus próximo, um Deus que fala, mantendo-se transcendente, mas ao mesmo tempo imanente na pessoa de seu Filho Jesus Cristo, mantendo-se único nesta unidade do Espírito que é o Amor. É assim o Deus de Israel e o Deus dos cristãos, sua natureza divina é o Amor, para Ele amar e existir é a mesma coisa. Fonte: https://paraibaonline.com.br

“Celebrar a Santíssima Trindade representa para a Igreja celebrar a fonte de onde ela emana”, diz o bispo de Santo André (SP) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Pedro Carlos Cipollini.

Esse mistério central da fé cristã é ressaltado no concílio Vaticano II: a Igreja brota da Trindade. Outra definição bem didática foi escrita pelo bispo teólogo de Ilhéus (BA), já falecido, dom Valfredo Tepe, “o Pai projeta a Igreja, Jesus a funda e o Espírito Santo a administra”.

Neste domingo, 27 de maio, a Igreja celebra a solenidade litúrgica da Santíssima Trindade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, três pessoas e um só Deus verdadeiro. Esta celebração convida os cristãos a rezar e a agradecer o convite que Jesus faz para voltar com ele ressuscitado, para sua pátria: a Trindade.

“Esta celebração nos convida a celebrar a criação que é obra da Trindade, celebrar a humanidade vocacionada à fraternidade e solidariedade: um só é vosso Pai! E eu e o Pai somos um”, destaca dom Cipollini.

Ainda segundo o bispo, de junto do Pai Jesus ressuscitado envia o Espírito Santo que nos santifica e nos torna santificadores deste mundo. “Espírito de Verdade e amor derramado em nossos corações para compreendermos que Jesus é o enviado do Pai e crermos nele, ouvindo e vivendo o que ele nos ensinou”.

O mistério da Trindade que não pode ser entendido porque é um mistério está nas origens da fé viva da Igreja, principalmente através do Batismo. “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós” (2Cor 13,13; cf. 1Cor 12,4-6; Ef 4,4-6) já pronunciavam os Apóstolos.

Santo Agostinho dizia que: “O Espírito Santo procede do Pai enquanto fonte primeira e, pela doação eterna deste último ao Filho, do Pai e do Filho em comunhão” (A Trindade, 15,26,47).

“Trazemos para nossa vida o mistério da Trindade quando conhecemos Jesus que nos revela este mistério e é o caminho para adentrarmos nele. Quando brota em nós a paixão para a unidade e o amor vividos na busca continua da Verdade que se revela em Jesus, aí então o Mistério da Trindade se torna realidade para nós”.

Dom Cipollini ressalta que é preciso aprender a viver a unidade na diversidade unidos pelo amor. “Viver a Trindade é a partir da fé abater tudo o que divide e construir pontes que integram”. Fonte: http://www.cnbb.org.br

É um caso tremendo, que ajuda a compreender a disseminação do fenômeno que se tornou “um sistema”, além da incapacidade dos pastores de tomar as medidas necessárias para estancá-lo. É um caso que confirma a dramática situação em que caiu a Igreja chilena, cujo episcopado acaba de apresentar em bloco a sua renúncia ao Papa Francisco, para que possa proceder livremente como julgar conveniente na renovação da hierarquia do país. A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 21-05-2018. A tradução é de André Langer.

Entre os bispos que participaram das reuniões que aconteceram no Vaticano e foram convocadas pelo Pontífice estava o bispo de Rancagua, Alejandro Goic, 78 anos, que, de acordo com Il Sismografo, atualmente é o presidente da Comissão Episcopalpara a prevenção dos abusos sexuais perpetrados pelo clero (Conselho Nacional para a Prevenção de Abusos e Acompanhamento das Vítimas). Ao retornar de Romapara sua diocese, situada a cerca de 80 quilômetros de Santiago, capital do país, o prelado viu-se obrigado a tomar uma decisão drástica: suspender do ministério 15 de seus 68 padres (22% do clero diocesano), porque há a suspeita de que estejam envolvidos em uma rede de abusos infantis e de troca de material pedopornográfico.

Alguns dias antes, na cidade de Rancagua, tornou-se público o caso de um pároco que se viu obrigado a confessar que tinha enviado mensagens de conteúdo erótico e fotografias para alguns jovens em que aparecia nu. O Canal 13 da televisão chilena, durante uma documentada investigação, indicou a hipótese da existência de um grupo organizado de sacerdotes diocesanos, uma rede que se faz chamar La familia, cujos membros estariam envolvidos em tráfico on-line de material pedopornográfico.

Elisa Fernández, ex-coordenadora da Pastoral da Juventude, denunciou esta situação, na qual supostamente aproximadamente 12 presbíteros estariam envolvidos, em uma reportagem transmitida na sexta-feira à noite pelo Canal 13: “Eu não sei se posso chamá-la de confraria, seita ou grupo de sacerdotes que têm práticas que não condizem com a condição de padres, e com respeito a jovens, pelo menos na minha época, de entre 15 e 29 anos”, explicou Fernández, que participou ativamente das atividades da Igreja Católica durante 14 anos . Fernández enviou há cerca de um ano e meio uma lista com os nomes dos padres envolvidos ao bispo Goic, mas este não tomou as medidas cabíveis.

Há alguns meses, por essa razão, a mulher criou um perfil no Facebook para se fazer passar por um rapaz de 16 anos chamado Pablo. Ela conseguiu entrar em contato com um dos padres envolvidos, o padre Luis Rubio Contreras, de 54 anos, que caiu na armadilha e enviou ao falso jovem mensagens de conteúdo erótico e uma foto em que aparece completamente nu. Contreras, em entrevista ao Canal 13, admitiu o que tinha feito: “Eu reconheço que fiz isso, sei que é horrível, mas mais do que isso não posso dizer. É um dia de muita tristeza e lamento o que fiz. Estou muito envergonhado”.

Depois deste episódio, o bispo Goic anunciou primeiro a decisão de suspender temporariamente o pároco, mas depois também suspendeu os padres suspeitos de pertencerem à La Familia. Agora cada um deles deve explicar e esclarecer sua posição. Elisa Fernández criticou o bispo por ter esperado tanto tempo para agir, apesar de tê-lo informado quatro vezes sobre a existência da rede de pedofilia.

Dom Goic defendeu-se declarando à televisão chilena que: “Eu não estudei para ser detetive; estudei para ser pastor”. E explicou que não iniciou nenhuma investigação sobre o padre Rubio porque não havia nenhuma “denúncia formal” contra ele. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

Prova-se também com a autoridade da Sagrada Escritura que Elias Tesbita, o primeiro fundador desta religião, usou como veste a capa. Com este hábito cobriu seu rosto no monte Horeb quando Deus passou diante dele.

Pôs esta capa sobre Eliseu quando o recebeu por discípulo. Esta capa ou manto era uma veste redonda que cobria o corpo por cima da outra veste e descia do pescoço até a metade das pernas; era aberta na frente e fechada ao redor; era estreita em cima e amplamente aberta em baixo.

Quando Elias se separou de Eliseu para ir ao paraíso de delícias lhe jogou esta capa. Com esta capa Elias ensinou que os monges que abraçam esta religião devem levar por cima do hábito a capa branca da maneira que o Senhor lhe mostrou em profecia; vestidos a Sabac (à maneira de Sabac), pai de Elias. Pois antes que lhe nascesse seu filho Elias Sabac viu em sonhos que uns homens vestidos de branco o saudavam.

Com esta visão foi-lhe anunciado como se vestiriam os imitadores que seu filho teria na vida monástica. Vendo Sabac aqueles varões vestidos de branco, conheceu em espírito os religiosos que seu filho havia de fundar. E os viu vestidos de branco porque seriam imitadores de Elias que era o modelo da forma de viver da vida monástica e o imitariam, não só na íntegra brancura da alma, vivendo uma íntima pureza, mas também na brancura do hábito que usavam por cima da veste que cobria seu corpo.

Levar a capa branca significa que os monges que abraçaram esta profissão devem guardar a pureza de seus pensamentos e desejos junto com a pureza do corpo, segundo o mandamento do Apóstolo ao dizer: “Purifiquemo-nos de tudo que mancha a carne e o espírito, aperfeiçoando nossa santificação com o temor de Deus” (Cor 7, 1), “porque Deus não nos chamou para a imundície, mas para a santificação”(Tes 4,7).

Elias que foi o primeiro que introduziu entre os monges o uso desta capa branca quis simbolizar com ela que o monge, vestido com sua capa branca, deve conservar intacta a pureza, não só de sua alma, mas também de seu corpo.

Desta veste disse Jó ao Senhor: “me vestiste de pele e de carne” (Jó 10, 11), guarde-a, pois, o monge sempre limpa pela pureza, como está escrito: “em todo o tempo estejam teus vestidos limpos e brancos” (Ecl 9, 8).

*Livro da Instituição dos Primeiros Monges Fundados no Antigo Testamento e que  perseveram no Novo por Juan Nepote Silvano, Bispo XLIV de Jerusalém. Traduzido do latim por Aymerico, Patriarca de Antioquia e do latim para o castelhano por um Carmelita Descalço e Carta de São Cirilo Constantinopolitano Traduzida para o castelhano. (Ávila Imprensa e Livraria Vida de Sigirano-1959. Censura da Ordem Imprima-se. Madrid, 6 - XII - 1958.

Deus é um Pai com entranhas de mãe.

Dom Jaime Veira Rocha, Arcebispo metropolitano de Natal (RN),

Em recente artigo, o arcebispo metropolitano de Natal (RN), dom Jaime Vieira Rocha, refletiu sobre o “Dia das Mães”, celebrado, este ano, no dia 13 de maio. Mesma data em que se celebra o dia de Nossa Senhora de Fátima.

No texto, dom Jaime faz reverência e agradece a todas as mães, mulheres que são guerreiras, destemidas, transmissoras de carinho e de ternura. Ele diz ainda que é preciso amar este ser que doa a vida, que se sacrifica, que suporta as dores, que manifesta suas preocupações e que reza constantemente para que o futuro dos filhos seja um futuro promissor.

E o bispo continua, neste sentido, como não rezar pelas mães que sofrem desprezo, abandono ou que se sentem desanimadas ou cansadas por tudo o que sofrem pelos filhos. Nós o faremos, sobretudo, na celebração da Eucaristia, onde adoraremos e louvaremos o Pai bondoso e cheio de compaixão, Deus que nas mães faz traduzir a sua ternura por toda criatura: “Qual mãe que acaricia os filhos assim vou dar-vos carinho, em Jerusalém é que sereis acariciados” (Is 66,13).

Esse amor de mãe é citado por dom Jaime em várias passagens do Antigo testamento onde o amor de Deus é comparado ao amor de uma mãe no texto de Isaías. Em outro momento, o bispo cita que é possível encontrar outro trecho, no mesmo livro do Profeta, onde se vê que o amor de Deus pelo seu povo supera o amor de mãe, quando esse não existe: “Sião vinha dizendo: ‘O Senhor me abandonou, o Senhor esqueceu-se de mim!’ Acaso uma mulher esquece o seu neném, ou o amor ao filho de suas entranhas? Mesmo que alguma se esqueça, eu de ti jamais me esquecerei!” (Is 49,14-15; cf. Sl 27,10).

O bispo relata ainda que indiretamente, Deus é chamado de mãe por Moisés quando manifesta sua queixa ao Senhor: “Acaso fui eu quem concebeu ou deu à luz este povo, para que me digas: ‘Carrega-o no colo, como se fosse uma babá a levar uma criança, até à terra que prometestes a seus pais?’” (Nm 11,12). No cântico de Moisés, reportado em Dt 32, outra vez a comparação com a mãe, usando a imagem da águia: “Qual águia que desperta a ninhada, esvoaçando sobre os filhotes, também Ele estendeu as asas e o apanhou e sobre suas penas o carregou” (Dt 32,11).

Dom Jaime assegura que essa imagem de Deus onde ternura e carinho são seus atributos não devem causar estranheza, pelo contrário, a própria experiência da mãe que temos atesta que Deus é Pai, mas com entranhas de mãe.

O arcebispo de natal ressalta que mesmo sendo conscientes de que o nosso falar sobre Deus é por analogia, isto é, os termos são sempre pobres ou insuficientes, podemos unir ternura materna e amor divino (cf. Sl 27,10; Jr 31,15-20; aproximação às figuras tanto do pai como da mãe. Possíveis traços femininos encontramos em Dt 32,18; Jó 38,8). Podemos citar aqui aquelas palavras tão doces do Papa João Paulo I, na famosa alocução do Angelus do dia 10 de setembro de 1978: “Também nós, que nos encontramos aqui, temos os mesmos sentimentos; somos objeto, da parte de Deus, dum amor que não se apaga. Sabemos que tem os olhos sempre abertos para nos ver, mesmo quando parece que é de noite. Ele é papá; mais ainda, é mãe”. É claro, isso não significa que vamos agora chamar Deus de “Mãe” ao invés de “Pai”.

É importante deixar claro, diz dom Jaime, que quando chamamos Deus de “Pai”, estamos seguindo o exemplo de Jesus e precisamos entrar em seu coração. Para Jesus, Deus Pai significa que Ele é amor, sempre amor: “Eu te amo com amor eterno; por isso, guardo por ti tanta ternura” (Jr 31,3), ou ainda: “Mesmo que as serras mudem de lugar, ou que as montanhas balancem, meu amor para contigo nunca vai mudar, minha aliança perfeita nunca há de vacilar – diz o Senhor, o teu apaixonado” (Is 54,10)”.

Dom Jaime finaliza o texto, lembrando que Nossa Senhora foi a escolhida para ser a Mãe do Senhor Jesus, modelo de mulher crente, obediente à Palavra de Deus e que, na liberdade, aceita o plano divino, que é sempre o de tornar o homem e a mulher felizes, porque libertos da escravidão do pecado. Em Maria, a Virgem de Nazaré, Deus realiza e concretiza o seu desejo de comunhão e de amizade com o ser humano, sempre manifestando-lhes ternura e compaixão. Fonte: http://www.cnbb.org.br

Os meios de comunicação de massa e as redes sociais podem ser usados também pelas religiosas de clausura, mas com “sobriedade e discrição”. A recomendação consta da Instrução da Congregação para a Vida Consagrada Cor Orans, dedicada aos mosteiros de vida contemplativa, “coração orante” da Igreja que, apesar da emergência devido à redução das vocações, conta atualmente com 37.970 religiosas de clausura espalhadas por todo o mundo. A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi e Salvatore Cernuzio, publicada por Vatican Insider, 15-05-2018. A tradução é de André Langer.

Com o documento publicado hoje, que aplica concretamente a Constituição Apostólica Vultum Dei Quaerere do Papa Francisco (julho de 2016), o dicastério da Santa Sérevoga alguns cânones do Código de Direito Canônico, para estabelecer, entre outras medidas, que quando um mosteiro tem menos de cinco religiosas, perde sua autonomia jurídica em vista da filiação ou de sua supressão, e de modo a não encorajar “o recrutamento de candidatos de outros países com o único objetivo de salvaguardar a sobrevivência do mosteiro”. O documento equilibra a relação entre cada uma das casas religiosas e as federações de mosteiros, reforçando, no respeito da autonomia dos mosteiros, estas “estruturas de comunhão” também em relação às visitas canônicas e à revisão das contas de cada mosteiro.

Em quatro capítulos (dedicados aos temas do mosteiro autônomo, da federação dos mosteiros, da clausura, da formação inicial e permanente), o documento oferece indicações práticas para as contemplativas, começando por duas pequenas ações cotidianas, como o uso dos meios de comunicação e das redes sociais. Todas as religiosas de clausura podem acessá-los, mas somente “com sobriedade e discrição”, explica a Instrução, porque existe o perigo de “esvaziar o silêncio contemplativo quando a clausura se enche de barulhos, de notícias e de palavras”.

A “sobriedade e a discrição” exigidas não têm a ver apenas com os “conteúdos”, mas também com a “quantidade de informações” e com o “tipo de comunicação”, para que “estejam a serviço da formação para a vida contemplativa e das comunicações necessárias”, e não sejam “uma ocasião de dissipação ou de evasão da vida fraterna”. Portanto, “o uso dos meios de comunicação, por razões de informação, de formação ou de trabalho, pode ser consentido no mosteiro, com prudente discernimento, para utilidade comum”, enfatiza a Congregação. A “separação do mundo”, em geral, “deve ser material e efetiva, não apenas simbólica ou espiritual”.

Uma “novidade absoluta” da Instrução, destacou, durante a coletiva de imprensa para a apresentação do documento, o secretário da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, Mons. José Rodríguez Carballo, é o artigo 45: “Quando em um mosteiro autônomo, as professas de votos solenes chegam ao número de cinco, a comunidade do dito mosteiro perde o direito à eleição da própria superiora. Neste caso, a presidente federal deve informar a Santa Sé em vista da nomeação da Comissão ‘ad hoc’”. Esta é, continuou o franciscano, uma disposição “que seguramente diz respeito a um grande número de mosteiros, aos quais, pois, se pedirá que se cobre consciência da própria realidade, em um diálogo com a Santa Sé e com as figuras de referência previstas pela comissão”.

A Instrução afirma que a autonomia legal de um mosteiro deve “pressupor uma real autonomia de vida, isto é, a capacidade de cuidar da vida do mosteiro em todas as suas dimensões (vocacional, formativa, de governo, relacional, litúrgica, econômica...)”. De fato, esclareceu Carballo, “o dicastério teve que observar em várias oportunidades, com tristeza, a existência de mosteiros que não eram mais capazes de levar adiante uma vida digna, sem que tivessem uma legislação que indicasse quando e como intervir a respeito: ter preenchido esta lacuna legislativa é, certamente, um dos pontos mais importantes e mais aguardados da Instrução”.

O que a Congregação vaticana quer é que “os mosteiros sejam realidades vivas e significativas, evitando prolongar experiências que não têm, razoavelmente, possibilidade de futuro”. A autonomia, portanto, permanece, mas “sob certas condições, seguindo o princípio geral de que à autonomia ‘sui iuris’ corresponda a autonomia real de um mosteiro: se não existir essa autonomia, não pode existir a autonomia jurídica, e então procederá à filiação ou, em alguns casos, infelizmente, inclusive à supressão”.

O documento do Vaticano também especifica particularmente as regras de filiação, “verdadeira novidade do ponto de vista legislativo”, explicou o religioso espanhol: “Preciosa novidade, porque permitirá que muitos mosteiros em dificuldades sejam apoiados e sustentados por outras comunidades mais florescentes, se se abrem em espírito de fé e de comunhão a esta possibilidade de ajuda fraterna, que poderá, por um lado, abrir processos de revitalização e, por outro, preparar um terreno adequado para a transferência e a acolhida das religiosas em caso de fechamento, para que possam continuar a viver sua consagração com dignidade”.

Somente quando se verificar a “ineficácia da filiação”, a Santa Sé dará o “passo, provavelmente grave”, da supressão. Posto que o documento revoga alguns cânones, necessitava-se que o Pontífice, na qualidade de legislador, aprovasse as modificações, o que ele fez em 25 de março passado. As novidades introduzidas pela Cor Orans, disse mons. Carballo, “respondem em grande parte ao que as próprias religiosas pediram”.

A Instrução revoga, além disso, o direito canônico também em relação às Federações de mosteiros, figura introduzida por Pio XII. A intenção do Papa Pacelli com a Constituição Apostólica Sponsa Christi Ecclesia, de 1950, explicou o padre Sebastiano Paciolla, subsecretário da Congregação vaticana, “era manter os mosteiros como realidades autônomas, mas havia o perigo do isolamento entre os diferentes mosteiros, às vezes, inclusive entre os que se encontravam geograficamente próximos. As Federações nasceram para superar esse isolamento. Sendo uma estrutura de comunhão, devia respeitar a autonomia dos mosteiros e toda a normativa em questão era tão forte no respeito da autonomia dos mosteiros que a estrutura de comunhão tinha um reduzidíssimo alcance para ser aplicada e no final cada mosteiro continuava a ser um mundo em si mesmo”.
Vultum Dei Quaerere do Papa Francisco “não modificou o status dos mosteiros, nem a realidade da Federação, mas equilibrou melhor as relações dentro dessas duas realidades, respeitando” a autonomia jurídica, “mas especificando os critérios de uma autonomia que deve ser real, e não um rótulo”. O texto vaticano de hoje reforça, em particular, a figura da presidente federal (sem dar-lhe ‘superpoderes’, disse Paciolla) e encomenda-lhe o papel de “co-visitadora” por ocasião de visitas canônicas regulares, reforça o papel do Conselho federal e também o da ecônoma federal, que “tem a responsabilidade de implementar o que o Conselho Federal estabelece e colabora com a presidente da Federação, no contexto da visita regular”, para verificar as contas “de cada um dos mosteiros”, identificando os pontos positivos e os pontos críticos, “dados que devem aparecer na relação final da visita”.

Entre as normas gerais, também são esclarecidos os termos da relação entre o mosteiro e o bispo diocesano, que, entre outras coisas, pode tomar decisões “oportunas quando constatar que existem abusos e depois que os chamados feitos à Superiora Maior não surtirem nenhum efeito”. O bispo também intervém “na construção do mosteiro, dando o seu consentimento por escrito antes que se peça a aprovação da Sé Apostólica”, bem como no caso da sua “supressão”. Também tem a “faculdade por justa causa de entrar no claustro e permitir, com o consenso da Superiora Maior, a entrada de outras pessoas”.

O último capítulo do documento do Vaticano trata da formação. Uma das questões que aborda é a constituição de “comunidades monásticas internacionais e multiculturais”, que “manifesta a universalidade de um carisma”: acolher as vocações de outros países, assinala a Congregação vaticana, “deve ser objeto de adequado discernimento”. Um dos critérios da acolhida é a “perspectiva de difundir futuramente a vida monástica em Igrejas particulares nas quais esta forma de seguimento de Cristo não esteja presente”. No entanto, precisa o texto, deve-se “evitar completamente o recrutamento de candidatos de outros países com a única finalidade de salvaguardar a sobrevivência do mosteiro”. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

A Conferência dos Bispos do México prometeu buscar uma nova visão pastoral, na qual a Igreja é apresentada como próxima às necessidades do povo, em que os pobres são a prioridade, e os prelados falam profeticamente sobre questões como violência,desigualdade e corrupção entre as elites, que atualmente contam com a hierarquia como aliada. A reportagem é de David Agren, publicada por Catholic News Service, 14-05-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A conferência apresentou seu plano pastoral no dia 13 de maio, dizendo que ele responde ao estado atual do país e às mudanças sociais. O plano também respondeu a uma admoestação do Papa Francisco, que repreendeu os bispos mexicanos em 2016 por descansarem sobre seus louros, mostrando timidez à medida que a violência aumenta e por não conseguir encontrar a unidade entre eles.

“Reconhecer-nos como ‘Iglesia Pueblo’ (Igreja Povo) traz consigo a necessidade de ajustar e atualizar nossos conceitos teológicos e assumi-los em suas consequências práticas, tanto pessoalmente quanto no interior da vida das nossas comunidades cristãs”, afirma o documento dos bispos, intitulado “Projeto Global de Pastoral 2031-2033”. As datas coincidem com o 500º aniversário da padroeira do país, Nossa Senhora de Guadalupe, que apareceu a São Juan Diego, e o 2.000º aniversário da ressurreição de Cristo.

“Atitudes de individualismo, inveja pastoral, pretensões principescas, arrogância, soberba e comportamentos que contradizem uma vida de comunhão e participação já não têm lugar na vida da Igreja Povo”, afirmam os bispos.

Cerca de 83% do país ainda se identificam como católicos, segundo dados do censo, algo que um editorial da Arquidiocese da Cidade do México observou ao questionar a repreensão do papa aos bispos do México e perguntar quem o aconselhou sobre o discurso.

A conferência dos bispos, no entanto, considerou o discurso como um chamado à ação. Seu texto questionava com franqueza e pesar como um país tão católico e tão fervoroso em sua fé podia entrar em convulsão com violência e tolerar níveis tão chocantes de desigualdade e corrupção.

A repressão aos cartéis de drogas, que começou há 11 anos, ceifou mais de 200 mil vidas e deixou mais de 30 mil pessoas desaparecidas. Embora o México tenha deixado de lado o regime de partido único, as percepções de corrupção aumentaram, mesmo quando o país se tornou mais democrático.

Os bispos muitas vezes preferiram o silêncio sobre assuntos tão complicados ou controversos, em parte devido aos riscos de que os padres estejam entre as vítimas da violência; às vezes os bispos só falaram depois que o governo assumiu a liderança.

“Lamentamos profundamente o desaparecimento e morte de milhares de jovens nos últimos tempos, os feminicídios, verdadeiros rios de sangue novo que correram por nossos povoados e cidades”, diz o documento.

“A introdução de uma narcocultura na nossa sociedade mexicana, de conseguir dinheiro rápido, fácil e de qualquer forma prejudicou profundamente a mente de muitas pessoas”, continua, acrescentando fatores a serem culpados, como “a perda de valores, a desintegração familiar, a falta de oportunidades, os trabalhos mal remunerados, a corrupção galopante em todos os níveis, a ingovernabilidade, a impunidade etc.”.

O documento dos bispos oferece momentos de autocrítica, incluindo um reconhecimento de que não chegou a abordar o abuso sexual clerical. O próprio comportamento dos bispos é levantado, com o reconhecimento de que, “às vezes, parecemos mais juízes, donos ou líderes de uma organização humana do que humildes representantes do projeto do reino de Deus”.

Os bispos acrescentam: “Como bispos, vemos com inquietação que o nosso povo exige um maior acompanhamento espiritual e uma coragem profética especial diante das circunstâncias atuais”.

Outras deficiências reconhecidas incluem o trabalho deles com populações indígenas, jovens e moradores urbanos. Muitos destes últimos se mudaram de bolsões empobrecidos e isolados do México em busca de oportunidades, apenas para “perder suas raízes”, sofrer exclusão e viver em exploração.

“A Igreja se viu sobrecarregada para atender e acompanhar essa multidão desamparada”, diz o documento. A piedade popular tomou conta de muitas partes do México, embora muitos dos batizados entendam pouco sobre a fé. “Há um analfabetismo religioso preocupante em um grande número de fiéis”, dizem os bispos. “Isso se manifesta na superficialidade de seus compromissos sacramentais e na leveza da vivência dos valores do Evangelho em sua vida diária.”

O novo plano pastoral apresenta 193 observações sobre a situação no México, mas também ações para a Igreja mexicana. Os bispos se comprometem a defender os direitos humanos, a proteger os migrantes e a encarnar “a doutrina social da Igreja (...) na formação dos agentes de pastoral”.

O documento também promete fornecer acompanhamento para aqueles que praticam a devoção popular e também para as vítimas de violência; promover a participação nos sacramentos, com ênfase na Eucaristia; e ser “uma Igreja inclusiva, onde se acolha com misericórdia aos casais que voltaram a se casar, os homossexuais, as mães solteiras, os idosos, os indigentes e migrantes, entre outros”. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

Agora cabe ao sumo pontífice decidir se aceita todas as renúncias ou somente algumas delas

A limpeza no episcopado do Chile, que há dias estava na cabeça do Papa, começou a ganhar corpo. Depois dos encontros privados mantidos pelo Pontífice nos três últimos dias com os bispos chilenos no Vaticano para apurar responsabilidades pelos casos de abusos sexuais por parte do clero nas últimas décadas, chegou o anúncio. Todos os bispos apresentaram de imediato sua renúncia em bloco e puseram seus cargos à disposição de Francisco “para que livremente decida sobre cada um de nós”.

A partir deste momento, o Papa deverá decidir se aceita todas as renúncias ou somente algumas delas, o que de algum modo confirmaria o grau de envolvimento e responsabilidade de cada prelado nos casos. Este processo poderá prolongar-se no tempo e durar vários dias, semanas e até anos, se o Pontífice decidir levar adiante uma depuração completa da Igreja chilena, que poderia ser progressiva. Agora resta saber o que acontecerá com os bispos cuja renúncia Francisco aceitar e qual será seu destino.

Desde 2015, os casos de abusos no Chile por parte do clero gravitam em torno do nome do bispo de Osorno, Juan Barros, acusado de acobertar os abusos do ex-padre Fernando Karadima. Durante sua recente viagem ao Chile, o Papa defendeu Barros, que sempre negou as acusações. Mas os protestos das vítimas desencadearam a investigação que resultou nesse processo de expurgo. O Papa, que inicialmente havia tachado as acusações de “calúnias”, pediu perdão no voo de regresso a Roma e convidou três das vítimas a irem ao Vaticano. Pouco depois, enviou ao Chile uma missão especial encabeçada pelo arcebispo de Malta para averiguar os casos em profundidade. Barros havia apresentado sua renúncia em duas ocasiões, mas o Pontífice não a aceitou. Desta vez, parece claro que será um dos que deixarão o cargo.

As reuniões com os bispos chilenos no Vaticano terminaram nesta quinta-feira, dia 17. O Papa, por meio de uma carta pública, lhes agradeceu pela “plena disponibilidade que cada um manifestou para aderir e colaborar em todas aquelas mudanças e resoluções que teremos de implementar”, o que indica que a questão está agora completamente nas mãos do Pontífice e que será ele, e não os bispos chilenos, que se encarregará das mudanças e decisões que ocorrerão.

No primeiro dia de encontros Francisco lhes entregou um documento particular de 10 folhas escrito pessoalmente por ele e lhes pediu que meditassem sobre o conteúdo, tendo em vista as próximas reuniões. Um dos presentes vazou o texto para a imprensa e a televisão chilena Tele 13 divulgou o conteúdo da mensagem na íntegra. No documento, o papa confirma mudanças, regeneração e substituições na Igreja chilena; fala de medidas “em curto, médio e longo prazo” para chegar à raiz do problema e “para restabelecer a justiça e a comunhão”; e deixa claro que cabeças cairão, mas ressalta que essas medidas não serão suficientes e será preciso ir à origem da questão.

Segundo Francisco, a gravidade da situação requer aprofundar muito mais. “Os problemas vividos hoje dentro da comunidade eclesial não são solucionados somente abordando os casos específicos e reduzindo-os à remoção de pessoas; isto – e eu digo claramente – é preciso fazer, mas não é suficiente, é preciso ir mais além”, escreveu no documento. Também fala que algo não funciona em todo o corpo eclesiástico. “Seria irresponsável de nossa parte não aprofundar na busca das raízes e das estruturas que permitiram que esses acontecimentos específicos ocorressem e se perpetuassem”, acrescenta.

O texto escrito pelo Papa é fruto do relatório de 2.300 folhas que seus enviados especiais ao Chile, o espanhol Jordi Bertomeu, oficial da Congregação para a Doutrina da Fé, e Charles J. Scicluna, arcebispo de Malta, lhe entregaram há algumas semanas. Segundo o documento redigido por Francisco para os prelados chilenos, foi confirmado que “para alguns religiosos expulsos de sua ordem por causa da imoralidade de sua conduta e depois de ter sido minimizada a gravidade absoluta de seus atos delitivos (...) foram confiados cargos diocesanos ou paroquiais que implicam contato cotidiano e direto com menores de idade”.

No texto, o Papa adverte que a Igreja do Chile experimentou “uma transformação em seu âmago” e acrescenta que “seu pecado se tornou o centro das atenções”. E também fala de uma série de erros das autoridades da Igreja chilena na hora de investigar e punir os abusos. E das irregularidades nos procedimentos, o tratamento dado às vítimas e o modo de administrar suas denúncias.

As vítimas dos abusos no Chile, que haviam passado alguns dias no Vaticano a convite do papa, não demoraram a expressar sua satisfação. “Fico tremendamente alegre para começar a sanar esta Igreja que não merece esses verdadeiros corruptos e criminosos”, afirmou Juan Carlos Cruz, que na adolescência sofreu abuso do influente sacerdote Fernando Karadima, caso que desatou a crise que a Igreja chilena atravessa atualmente. Fonte: https://brasil.elpais.com

O evento terminou neste domingo (20). Nem a chuva e o frio afastaram os fiéis do maior evento paroquial do mundo, realizado no Taguaparque.

Os festejos de Pentecostes reuniram 500 mil pessoas em três dias de celebrações, no Taguaparque, em Taguatinga, região administrativa do Distrito Federal. Segundo estimativa da Polícia Militar. Nem a chuva e o frio inesperados do fim de semana, atrapalharam a celebração da maior festa paroquial do mundo. O evento começou na sexta-feira (18/5) e terminou no fim da tarde deste domingo (20).

Idealizado pelo padre Moacir Anastácio, da Paróquia São Pedro, a festa ocorre 50 dias depois do domingo de Páscoa, que foi comemorado em 1º de abril deste ano. Nessa ocasião é relembrado o envio do Espírito Santo à Igreja, logo após a ressurreição de Cristo. A intenção é enfatizar a importância de propagar o evangelho em cada canto do mundo.

Nos dois primeiros dias da celebração, 150 mil fiéis participaram da comemoração para fazer orações, pedidos de cura e agradecer graças alcançadas. Apenas neste domingo, 80 mil pessoas foram até o Taguaparque acompanhar os festejos.

A técnica em enfermagem, Patrícia Alves Guimarães, 36 anos, foi uma das participantes dos festejos de Pentecostes. Para ela, essa é uma oportunidade de elevar a fé. “Já vim outras vezes. Hoje, estou aqui com minha família. Trouxe meu esposo, minha filha de 8 anos e meu bebê de 11 meses”, disse ao destacar a importância do evento. “Queremos ensinar o caminho de Deus para nossos filhos. A presença de Deus é fundamental na vida de todo mundo. Há católicos e gente de todas as religiões”, completou.

O encerramento do evento, realizado no fim da tarde deste domingo, contou com celebração de missa pelo padre Moacir. Fonte: /www.metropoles.com

O Papa Francisco presidirá a canonização na Praça São Pedro durante o Sínodo dedicado aos jovens, com a presença de bispos de todo o mundo. Na mesma cerimônia serão também canonizados outros 4 bem-aventurados.

Cidade do Vaticano

Paolo VI e Dom Oscar Arnulfo Romero serão santos no dia 14 de outubro. O anúncio oficial foi comunicado na manhã deste sábado (19/05) pela Sala de Imprensa da Santa Sé.

Consistório Ordinário marcado

O Papa presidirá a canonização na Praça São Pedro durante o Sínodo dedicado aos jovens, com a presença de bispos de todo o mundo. Com Papa Giovanni Battista Montini e o arcebispo salvadorenho, serão também canonizados na mesma cerimônia os sacerdotes italianos Francesco Spinelli e Vincenzo Romano, a religiosa alemã Maria Caterina Kasper e a espanhola Nazaria Ignacia March Mesa.

Francisco já havia autorizado a Congregação das Causas dos Santos a promulgar os Decretos de reconhecimento dos milagres, mas a data e o local foram revelados esta manhã, após o Papa ter presidido a hora média da liturgia das horas e o Consistório com os cardeais residentes e presentes em Roma. Fonte: www.vaticannews.va

A Festa de Pentecostes, coração do Mistério Pascal, é a Festa do Espírito Santo. Originariamente, era uma festa agrícola, na qual se agradecia a Deus a colheita da cevada e do trigo. No século I tornou-se a festa histórica que celebrava a aliança, o dom da Lei no Sinai e a constituição do Povo de Deus.

Nessa festa, eles renovavam os compromissos da Aliança com o Deus Libertador que cuidava do seu Povo que havia saído do Egito, que caminhou pelo deserto e fez aliança com ele através das tábulas da Lei.

No capítulo 2 do livro de Atos dos Apóstolos (primeira leitura deste domingo) Lucassitua esta Festa neste dia como uma celebração da nova Aliança que Deus faz com o novo povo de Deus animado pelo Espírito Santo. Ele é a nova Lei que anima a vida dos crentes, das comunidades que iam nascendo. O Espírito gera vida e está sempre presente no coração de cada uma e cada um dos discípulos. Ilumina o caminho da Igreja nascente, e ilumina seu caminhar, como havia dito Jesus: “O Espírito é que dá a vida, a carne não serve para nada. As palavras que eu disse a vocês são espírito e vida.” (Jo 6,63).

Jesus tinha prometido aos discípulos e discípulas que não os deixaria órfãos, porque ele voltaria. Também havia dito: “Quem aceita os meus mandamentos e a eles obedece, esse é que me ama. E quem me ama, será amado por meu Pai. Eu também o amarei e me manifestarei a ele”. Para compreender suas palavras ele promete o Espírito Santo, “o Advogado que o Pai vai enviar em meu nome, ele ensinará a vocês todas as coisas e fará vocês lembrarem tudo o que eu lhes disse.” (cfr Jo 14).

O Espírito Santo é quem ajuda a compreender as palavras de Jesus e a vida que o move a atuar com tanta liberdade. O Espírito é entendimento, força, sabedoria, discernimento, mas, como disse Paulo aos Coríntios, o Espírito é o mesmo.

No texto que lemos hoje, estamos no primeiro dia da semana. É o começo de uma nova semana, mas já está anoitecendo. O dia está desaparecendo no horizonte e a obscuridade começa a reinar: anoitece.

As dificuldades da perseguição e a crueldade da paixão vivida pelo Mestre abatiam os discípulos e discípulas que ainda sofriam suas consequências. Eles sabiam que Jesus estava ressuscitado, mas isso ainda não era uma alegria completa. Não era fácil entender o que havia acontecido. Eles permanecem com as portas fechadas: "estando fechadas as portas do lugar onde se achavam os discípulos por medo das autoridades dos judeus".

Essas portas fechadas por medo convidam-nos a perguntar-nos: quais são nossas portas fechadas? Fechamos nossa interioridade, e nossa aparência oculta atitudes, sofrimentos, nossa história, nossa origem?

Fechamos nossas comunidades às mudanças que traz o Espírito, porque nos desestabiliza, nos faz mudar os projetos, nos tira da nossa segurança? Fechamos nossos ouvidos para não escutar sua voz? Tapamos nosso olhar para não ver aquilo que nos compromete?

Obstruímos possíveis aberturas para que nenhum vento possa entrar e esfriar nosso bem-estar? Temos medo do quê? Pessoas, situações, experiências que não queremos viver de novo? Reconhecemo-nos necessitados da força do Espírito e ansiamos por sua presença?

Como a comunidade primitiva, precisamos do Espírito Santo, Espírito que fortaleça, Espírito que nos renove desde nossa mais profunda interioridade.

Apesar de estar com as portas fechadas, Jesus entra e o que oferece primeiro aos discípulos, e também a cada um e cada uma de nós, é sua paz.

A paz do Consolo, a paz da sua presença que nos reúne num só corpo. Uma paz que permanece em nós, serenando os conflitos interiores, pessoais, comunitários ou culturais. Uma paz que não se conquista com a luta, porque é a paz que oferece Jesus Ressuscitado pela força do seu Espírito que sopra sobre nós e nos enche de sua presença:“Jesus soprou sobre eles, dizendo: Recebam o Espírito Santo”.

Neste domingo, peçamos ao Espírito que sopre sobre cada um e cada uma de nóspara renovar-nos por dentro. Que nos encha de sua paz para que sejamos assim comunicadores de sua vida Ressuscitada, que desvende nossos olhos, liberte nossa mente, abra nossos ouvidos e sejamos reconstruídos pela sua Vida.

Por isso, neste domingo de Pentecostes, acolhamos humildemente o Amor do Pai e do Filho que é o Espírito Santo, para colaborar com a obra de Deus: “que todos sejam um, como tu Pai em mi e eu em Ti” (Jo 17,21).

Oração

Peçamos a Jesus que envie sobre todos os cristãos e cristãs, sobre toda a humanidade, seu Espírito Santo. Através desta oração busquemos conhecê-lo e crescer numa relação de amizade com Ele. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

“A unidade dos cristãos ou a unidade cristã é graça de Deus, é Deus quem faz. E a graça nós alcançamos pela oração”. Assim o bispo de Cornélio Procópio (PR), dom Manoel João Francisco, define a importância da Semana de Oração pela Unidade Cristã, iniciada no domingo, dia 13 de maio.

O bispo, que é membro da Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ensina que a oração toca o coração de Deus, “Ele mesmo nos orientou nesse sentido de que no meio de toda a ação em busca da unidade cristã, a oração é a principal”.

Dom Manoel também destaca na entrevista as reflexões do teólogo Hans Küng sobre o papel das religiões na construção da paz mundial.

Celebrações
Igrejas Católicas, anglicanas, protestantes, ortodoxas e tantas outras estão celebrando desde a Festa da Ascenção do Senhor a Semana de Oração pela Unidade Cristã (Souc), sob o impulso do tema A mão de Deus nos une e liberta” (Ex 15, 1-21).

A Comissão para o Ecumenismo da CNBB incentiva a celebração da semana em todo o Brasil, sejam nos regionais e dioceses que já possuem as comissões correlatas, sejam nas paróquias e comunidades. “O importante é estarmos juntos para pedir o dom da união entre os cristãos”, ressaltou o assessor da Comissão na CNBB, padre Marcus Barbosa Guimarães. Segundo ele, o Conic deve receber ao final dessa semana diversos relatos de celebrações e iniciativas ecumênicas Brasil afora, mas destacou que acontecem atividades na cidade do Rio de Janeiro (RJ), na baixada fluminense, onde estão as dioceses de Nova Iguaçu e Duque de Caxias, também na Bahia, em São Paulo e no Paraná.

De acordo com Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic), que oferece os materiais para as celebrações destes dias, além das igrejas-membro do conselho, em muitas cidades a Semana de Oração congrega lideranças e membros de outras igrejas, como a Quadrangular, Assembleia de Deus, Metodista, comunidades ortodoxas, entre outras. Também ganha destaque a atividade que acontecerá em Campo Grande (MS), no último dia da Souc: uma concentração no centro da cidade para pedir mais tolerância religiosa com a presença de diversas manifestações de fé, incluindo as de matriz africana.

São igrejas-membro do Conic: Aliança de Batistas do Brasil, Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Presbiteriana Unida e Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia.

Fonte: ttp://www.cnbb.org.br

Conferência Episcopal Chilena foi convocada pelo Papa Francisco para analisar os casos de abusos cometidos por membros da Igreja nas últimas décadas.

Tem início esta terça-feira, no Vaticano, o encontro do Papa Francisco com os bispos do Chile sobre a questão dos abusos que se verificaram na Igreja daquele país. Os colóquios se encerram no dia 17 de maio, com a participação de 31 bispos diocesanos e auxiliares e três bispos eméritos.

Coletiva de imprensa

Às vésperas deste encontro, dois bispos chilenos realizaram uma coletiva de imprensa na sede do Vatican News: Dom Fernando Ramos, bispo auxiliar de Santiago e secretário-geral da Conferência Episcopal Chilena, e Dom Juan Ignacio González, bispo de San Bernardo.

Convocados pelo Papa

Citando a carta de convocação do Papa Francisco de 8 de abril passado, Dom Ramos explicou: “Em primeiro lugar, viemos a Roma para receber as conclusões do relatório de Dom Scicluna sobre sua visita ao Chile e também para fazer um discernimento para encontrar medidas a breve, médio e longo prazo para restabelecer a comunhão e a justiça. Estes são os dois grandes temas para os quais o Santo Padre nos convidou com a sua carta”.

Discernimento sobre as responsabilidades

“Esses encontros – prosseguiu Dom Ramos – referem-se às questões de abusos de poder, abusos de consciência e abusos sexuais que se verificaram nas últimas décadas na Igreja chilena, assim como os mecanismos que levaram em alguns casos à ocultação e a graves omissões em relação às vítimas. Um segundo ponto é compartilhar as conclusões que o Santo Padre tirou do relatório de Dom Scicluna. E um terceiro ponto é o convite do Papa a fazer um longo processo sinodal de discernimento para ver as responsabilidades de todos e de cada um nessas feridas terríveis que são os abusos e buscar as mudanças necessárias para que não se repitam mais”.

Dor e vergonha

Dom Ramos então afirmou: “A nossa atitude é de dor e vergonha, em primeiro lugar. Dor porque infelizmente existem as vítimas: existem pessoas que são vítimas de abusos e isso causa profunda dor. E vergonha porque esses abusos aconteceram em ambientes eclesiais que são justamente os locais onde estes tipos de abusos jamais deveriam acontecer”.

Perdão e reparação

Dom Ramos acrescentou: “Devemos pedir perdão 70 vezes 7. Creio que seja um imperativo moral para nós muito grande. O importante é que o pedido de perdão seja realmente reparador”. O prelado concluiu: “Com toda humildade ouviremos o que o Papa nos dirá”; este é “um momento muito importante” para a renovação da Igreja chilena.

Papa Francisco, exemplo para os bispos chilenos

Por sua vez, Dom González disse que os bispos chilenos veem o Papa Francisco como um exemplo por ter admitido os erros, ter pedido perdão e por ter encontrado as vítimas. O ponto central – reiterou – são as vítimas e por isso a Igreja deve fazer obra de reparação, com humildade e esperança, seguindo o ensinamento de Jesus.

Sala de Imprensa

Em comunicado de 12 de maio passado, a Sala de Imprensa afirmou que “é fundamental restabelecer a confiança na Igreja através de bons pastores que testemunhem com sua vida ter conhecido a voz do Bom Pastor e que saibam acompanhar o sofrimento das vítimas e trabalhar de modo determinado e incansável na prevenção dos abusos. O Santo Padre agradece a disponibilidade dos seus irmãos Bispos de se colocar à escuta doce e humilde do Espírito Santo e renova seu chamado ao Povo de Deus no Chile para continuar em estado de oração para que haja a conversão de todos”.

E concluiu: “Não está previsto que o Papa Francisco faça qualquer declaração nem durante nem depois dos encontros, que se realizarão em absoluta confidencialidade.” Fonte: www.vaticannews.va

OS DONS DO ESPÍRITO SANTO

Frei Pedro Caxito O.Carm. In Memoriam ( *31/12/1926 +02/09/ 2009 )

1-SABEDORIA

            Conhecer a Deus é amá-Lo e ter o sabor das coisas de Deus. Saber (conhecer) é saber (ter sabor). "Conhecer", biblicamente, é "Amar". Sob a luz de Deus, luz da Sabedoria, tudo se torna claro.

            Descer para o NADA, a fim de subir para o TUDO.

            É a plenitude de todos os dons, porque diviniza todos os atos: é o Amor e como Deus é AMOR. O Espírito Santo, que é Amor entre o Pai e o Filho, não se esqueça que Ele ama o Pai do Céu e o Verbo Divino com amor de ternura e carinho infinitos: por Ele todas as criaturas recebem amor. "Só amar é meu exercício".

 1). Porque é doação de amor e doação do Amor, o dom da Sabedoria é antes de tudo um dom de Contemplação: ver tudo em Deus e como Deus. "O Espírito tudo perscruta, até as profundezas de Deus. Quem conhece as coisas secretas do homem senão o espírito do homem, que está no homem? Assim as coisas secretas de Deus nunca ninguém pôde conhecê-las a não ser o Espírito de Deus" (1Cor 2,10-11).

            Já no Antigo Testamento podemos ler no Livro da Sabedoria:  "Quem penetrou no teu pensamento, se não lhe concedeste a Sabedoria e não lhe enviaste do céu o teu Santo Espírito?" (Sb 9,17)

            No gozo da sua própria pequenez, Teresa contempla com muito gosto a beleza do Pai. E o Verbo, que é Filho, a ilumina. Sente-se feliz ao reconhecer que Deus é Amor Misericordioso. No seu ato de Consagração, este Amor Misericordioso, que é o Espírito Santo, às vezes é, para Teresinha, também o Pai, mas sempre, Jesus.

            Pio XI proclamou, ao canonizar Teresinha, que Deus a  enriquecera "com um dom de Sabedoria perfeitamente excepcional".

            2). Mas o dom da Sabedoria é também Ação. Não é à toa que ela é Padroeira das Missões, escrevia tantas cartas e se preocupava tanto com as suas noviças. "No Coração da minha mãe, a Igreja, serei o Amor... assim serei tudo". Mais: "Passarei o meu céu a fazer o bem sobre a terra". E ainda: "Farei cair sobre a terra uma chuva de rosas".

            O Céu é descanso em Deus e trabalho em favor do Universo, como o Pai e Jesus, que por meio do seu Amor estão trabalhando sempre[1], ou como os Anjos de Deus, que felizes por viverem mergulhados na Beleza de Deus, não deixam de cuidar da felicidade dos filhos de Deus, que estão na terra; assim Maria e todos os Santos o fazem igualmente[2].

            Ação grandiosa na terra, mas cheia de simplicidade. S. Pio X  respondia a um «teólogo», que não conseguia ver em Teresa nada de extraordinário: "Ah! O que existe de mais extraordinário nessa alma, precisamente é a extrema simplicidade... Consulte a sua teologia!" Quer dizer que "teologia" nada vale sem "sabedoria teologal"... Afirma Giandomenico Mucci: "é mais fácil ser professor do que mestre"[3]. Professor está cheio de saberes e conhecimentos; mestre está repleto de sabedoria. Professor é o que transmite conhecimentos; mestre, o que transmite sabedoria.

            Teresa sabe das coisas: "Ah! Se sábios, que passaram a vida estudando, tivessem vindo interrogar-me, teriam sem dúvida ficado espantados ao verem uma criança de 14 anos compreender os segredos da perfeição, segredos que toda a ciência não lhes pudera revelar, pois para possuí-los é preciso ser pobre de espírito!..."[4]

            Numa carta a Celina, sua irmã, ela escrevia: "Oh! Que destino! Quanto é grande a nossa alma! Elevemo-nos acima de tudo o que passa; conservemo-nos longe da terra. Nas regiões das alturas o ar é tão puro! Jesus pode esconder-se, mas sempre se adivinha onde Ele está..."[5]

Por coincidência, um pouco antes da citação de Ezequiel, Teresa tinha falado sobre as orações, missas e sacrifícios, que oferecera pela conversão de Henrique Pranzini, um mediterrâneo galã e conquistador, condenado por causa do assassínio de uma criança e duas mulheres. Diz ela: "Para consegui-lo usei todos os meios imagináveis". É ela própria quem o chama "o meu primeiro filho". Quer ser mãe. Quer ter um filho...

            Estava dentro dos 14 anos. "Estavas na idade dos amores" (Ez 16, 8). Era o despertar das emoções e sentimentos maternais, e a hora de não ter medo de reconhecer, sublimar e até santificar a sexualidade pela oração e pela entrega total do corpo e da alma a Jesus, Filho da Santíssima Virgem Maria[6].

            No dia 7 de julho de 1897, ano da sua morte, já no leito da dor, ela confidenciava a sua irmã Paulina que Jesus já lhe havia demonstrado predileção desde a sua adolescência: "Aos 14 anos senti também alguns arroubos de amor. Ah! Como eu amava a Deus!"

            Na peregrinação para Roma, ao passar por Paris, aos 14 anos também, foi visitar Nossa Senhora das Vitórias e suplicou-Lhe "que afastasse de mim tudo o que pudesse manchar-me a pureza; não ignorava que numa viagem, como a da Itália, muitas coisas se encontrariam capazes de perturbar-me, sobretudo, porque, não conhecendo o mal, temia descobri-lo, não tendo experimentado que «tudo é puro para os puros» (Tt 1,15) e que a alma simples e reta não enxerga o mal em nada, pois de fato o mal não existe senão nos corações impuros, e nunca nos objetos insensíveis"[7].

            Em Roma visitou o primitivo túmulo de Santa Cecília nas catacumbas de São Calisto, com também a sua igreja no Transtévere e confessa que até os 14 anos não tinha tido por ela uma devoção especial, mas daí em diante Cecília tornou-se a sua Santa predileta, "a minha confidente íntima... Tudo nela me extasia, sobretudo o seu abandono, a sua confiança ilimitada, que a tornou capaz de virginizar almas, que nunca desejaram outras alegrias senão as da vida presente..." Desde aquela visita Teresa começou a ter por ela "uma verdadeira ternura de amiga", pois ao Esposo das Virgens, que repousava no seu coração, Cecília amava cantar o seu cântico virginal. Segundo Teresa, Cecília é como a Esposa dos Cantares, como "um coro num acampamento militar" (Ct 7,1 - Vulgata). Realmente as Atas do seu martírio contam-nos como, na primeira noite, ela "virginizou" o seu casamento convertendo o seu marido Valeriano e, depois, Tibúrcio, irmão dele. "Isto não me admira" - proclama Teresa -  porque Cecília trazia no seu seio, sobre o seu coração, o Evangelho de Cristo[8].

            Não cultivar o tabu da antivirgindade, e sim, imitando "a humilde Virgem Maria" diante do Anjo do Senhor, não ter medo de declarar: "Não conheço homem!" (Lc 1,34) ou, como Jesus, e por amor ao Pai e ao seu "Reino dos Céus", viver sem a possibilidade de se casar (Mt 19,12).

            Mas retornemos àqueles tempos, àqueles medonhos retiros... Teresa teve medo de perder o amor de Deus no tempo e por toda a eternidade. Os escrúpulos tomaram conta do seu pobre coração hipersensível. Nesta luta viveu um ano e meio. Mais, talvez! Latentes... Maria, sua irmã, tinha cada vez de tranqüilizá-la. Maria, porém, entrou para o Carmelo, e só então recorreu Teresa aos irmãozinhos inocentes, que estavam no céu. "Não podendo mais confiar-me a ela, voltei-me para o lado dos Céus. Dirigi-me aos quatro anjinhos que lá me precederam, pois pensava que essas almas inocentes, que não conheceram nunca as perturbações nem o temor, deveriam ter pena da sua pobre irmãzinha, que sofria sobre a terra. (...). A resposta não se fez esperar. A paz veio logo inundar a minha alma com as suas ondas deliciosas, e compreendi que, se eu era amada na terra, o era também no Céu...[9] Era o que os escrúpulos queriam e estavam exigindo: uma garantia de ser amada na terra e nos céus. Estava nos seus treze anos de vida. "Livre dos escrúpulos, da sua sensibilidade excessiva, o meu espírito desenvolveu-se"[10].

            Sempre houve uma preocupação em saber se "o Bom Jesus está contente comigo". Antes da 1ª comunhão por duas vezes procurou ser absolvida e perguntou ao terrível padre Domin: "O Sr. pensa que o Bom Jesus está contente comigo?" Ela reconheceu: "A minha confissão geral deu grande paz à minha alma e Deus não permitiu que a mais leve nuvem viesse perturbá-la"[11].

            No retiro de 8 a 15 de outubro de 1891 pregado por Frei Aléxis Prou, franciscano recoleto, "(o padre) disse-me que minhas faltas não entristecem a Deus, que estando no lugar dEle me dizia em seu nome que Ele estava muito contente comigo". Ficou feliz, transbordante de alegria. "Oh! Como fiquei feliz ao ouvir essas palavras consoladoras!... Nunca tinha ouvido dizer que as faltas podiam não entristecer o Bom Deus. Essa segurança encheu-me de alegria, fez-me suportar com paciência o exílio da vida... No fundo do meu coração sentia muito bem que era verdade, pois Deus é mais terno do que todas as Mães". E ainda afirmou com muita valentia e uma sensibilidade não escondida: "Sou de tal natureza que o temor me faz andar para trás; com  o amor  não só avanço, mas vôo...[12] Dirá à Madre Maria de Gonzaga: "O Senhor é tão bom para mim que para mim é impossível ter medo dEle"[13].

            Com simplicidade Teresa tinha escrito a Paulina: "A Sra. está vendo, minha Mãe querida, que estou longe de ser levada pelo caminho do terror, eu sempre sei encontrar o meio de ser feliz e tirar proveito das minhas misérias"[14]. Queria seguir o "caminho pequenino" do Abandono.

            No mais íntimo do seu amor queria, sabia, acreditava, e até consolava e confortava os outros: Deus é Amor! Como confortou Maria, sua prima, futura Maria da Eucaristia, nos ataques de escrúpulos! Dizia-lhe carinhosamente: "Teresinha também passou pelo martírio dos escrúpulos, mas Jesus lhe concedeu a graça de comungar sempre até mesmo quando achava ter cometido grandes pecados. Isto mesmo. Teresinha - te garanto - reconheceu que era este o único meio de desembaraçar-se do diabo: se ele vê que está perdendo tempo, deixa-nos tranqüilas"[15].

            Mas continuava sempre querendo saber "se o Bom Deus estava contente com ela".

            O Pe. Pichon, por momentos e por cartas, foi seu diretor espiritual, e em 1888 já lhe garantira: "Na presença de Deus, da Santíssima Virgem e de todos os Santos, declaro nunca ter você cometido um só pecado mortal. Dê graças a Deus por tudo o que Ele faz por você"[16], mas teve de escrever-lhe com mais energia a 20 de janeiro de 1893: "Deus o quer e eu o ordeno. Acredite na minha palavra: nunca, nunca você cometeu um único pecado mortal. Agora vá ajoelhar-se diante do Sacrário para agradecer isto a Nosso Senhor". Sempre o desejo de ser tranqüilizada...

            O Pe. Godofredo da Madalena, que a ouvia em confissão entre 1890 e 1896, afirmou no Processo Apostólico: Nela sempre observei uma delicadeza de consciência que passava acima dos limites de uma consciência de religiosa"[17].

            Mas como vimos, embora aos 21 anos liberta conscientemente dos resquícios dos escrúpulos, o seu subconsciente ainda usou do ardil de recorrer ao sonho para saber "se Deus estava contente com ela". Sonhou! E a Venerável Ana de Jesus Lobera (1545-1621), que foi conselheira de Santa Teresa de Jesus e introduzira o Carmelo teresiano na França e na Bélgica, apareceu-lhe com mais duas carmelitas, cobriu-a com o seu véu e, respondendo às suas perguntas, comunicou-lhe que morreria logo, contudo deixou-a alegríssima ao dizer-lhe que "Deus estava contente com ela, contentíssimo". E ela escreveu: "Ai! Aí acordei!"[18]

            Era o dia 10 de maio de 1896, já no meio das dolorosas tentações contra a fé.

            Enfim a tranqüilidade. Na superfície a tempestade, mas nas profundidades da alma, a paz. Pela luta contra os escrúpulos, Jesus, seu amigo de toda confiança, a esteve adestrando para os combates da fé. Da pequena escuridão para a tenebrosa "Noite Escura" que, porém, desabrochou num hino balbuciante de Amor: "Eu O amo!" Era a morte por amor.

            Enfim tudo o que tinha sonhado acordada. Porque é justo, o Pai é Amor Misericordioso. Por isso não tem medo de Deus, mas O ama loucamente. Os teólogos ensinaram-nos a falar de Deus, atribuindo-Lhe perfeições separadamente, mas João, o ancião chamado "O Teólogo", uniu todas, disse e escreveu: "Deus é Amor" (1Jo 4,8). Agora a "teóloga" jovem, a jovem doutora também nos ensina o mesmo, como na terra, lá no céu:

            "É por meio da Misericórdia que contemplo e adoro as outras perfeições divinas!... Todas, então, me parecem radiantes de amor: a própria Justiça - e talvez mais do que as outras - parece-me revestida de amor"[19]. Coincidem!

            Foi assim que o Divino Espírito Santo preparou a "Doutora do Amor Misericordioso", elevando-a, através da sensibilidade e dos escrúpulos, da delicadeza de consciência e de um grande amor ao Pai e aos irmãos, até o Dom do filial Temor de Deus e até às alturas da Sabedoria e à humildade de uma Pequenina Via. "(Jesus) queria fazer brilhar em mim a sua misericórdia, porque eu era pequena e fraca, inclinava-se sobre mim, em segredo instruía-me sobre as coisas do seu amor"[20].

            E foi assim que João Paulo II, na plenitude da sua Autoridade Apostólica, a declarou Doutora da Igreja Universal, no dia 19 de outubro de 1997, pela Carta Apostólica Divini Amoris Scientia.

            Este mesmo João Paulo II na sua homilia proclama que "à cultura racionalista, por muitas vezes invadida por um materialismo prático, Teresa opõe com desarmadora simplicidade «a pequenina via» que, voltando-se para o essencial, orienta para aquilo, que é o segredo de toda a existência: o Amor Divino a envolver e compenetrar toda a aventura humana"[21].

            Como Paulo: "Agora estes sete, mas o maior é a Sabedoria, dom divino, que desabrocha no Eterno Hino de Amor cantado ao Pai pelo Verbo na adorável alegria do Espírito Santo. É uma entrega e conhecimento mútuo, é um conhecimento saboroso"[22].

2-ENTENDIMENTO

            Entendimento ou inteligência, isto é, que lê dentro (intus legit), no interior, dentro dos divinos mistérios. É uma intuição de amor, um olhar para dentro. No gozo deste dom pode-se afirmar: "Deus ninguém nunca viu: foi justamente o Deus, Filho Unigênito, que está no seio do Pai, quem no-Lo revelou" (Jo 1,18).

            Clareia o sentido da fé, ilumina o "sentido de Deus", o "sentido da religiosidade", o "sentido das Escrituras". O Pai que se revela aos pequeninos (Lc 10,21). Dizia São Pio X: "Haverá santos entre as crianças". Também as crianças têm o Espírito Santo para educá-las.

            "Se fosse sacerdote teria aprendido grego e hebraico para conhecer o Pensamento divino tal como Deus se dignou expressá-lo em nossa linguagem terrestre"[23].

            Diz o Pe. Philipon: "Nela o Espírito de Deus se manifesta em vistas profundas, mas simples, descobrindo-lhe os dogmas vitais, que lhe servirão de base à vida espiritual: a paternidade divina e as riquezas ilimitadas do Amor Misericordioso, a maternidade espiritual de Maria, o sentido filial da nossa graça de adoção, a alta santidade a que Deus chama as almas religiosas; em resumo, todas as grandes verdades da fé, que hão de auxiliá-la a conduzir as almas para Deus pela sua «veredazinha de confiança e amor»".

3-CONSELHO

            Auxilia a virtude da prudência. Ensina a dar conselhos ou a atender-lhes. É necessário aos que governam, como aos que são governados.

            É como o olhar de Deus, que é uma lâmpada, que aponta para o destino e ilumina o caminho: "Nun - Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, uma luz sobre o meu caminho" (Sl 118 [119],105) ou "Os mandamentos do Senhor são luminosos, dão claridade aos nossos olhos" (Sl 18 [19],9). Vem em nosso socorro nas horas escuras, indecisas, hesitantes ou assustadoras. É luz muito tranqüila.

            Conta com a fidelidade: "Creio, com toda simplicidade, que é Jesus mesmo, oculto no profundo do meu pobre coraçãozinho, que me faz a graça de agir em mim e me leva a pensar tudo quanto quer que eu faça no instante presente"[24]. Jesus foi o "Meu Diretor", o "Diretor dos Diretores"[25]. Viveu aos pés do "Mestre Interior" e tornou-se Doutora. "Ele que, nos dias da sua vida mortal, num transporte de alegria exclamava: «Meu Pai, bendigo-Vos por terdes escondido essas coisas aos sábios e entendidos e as terdes revelado aos humildes»"[26]. Experimentou na vida o que está ensinando até os dias de hoje[27].

            Apesar da juventude!... "Eu sei: essa maneira de medir a experiência pelos anos pratica-se há muito tempo entre os humanos, pois na sua adolescência o Santo rei Davi cantava ao Senhor: «Sou jovem e desprezado»" (Sl 118 [119], 141). "No mesmo salmo 118 [119] não receia dizer: «Tornei-me mais prudente do que os anciãos, porque busquei a vossa vontade (...) A vossa palavra é lâmpada, que ilumina os meus passos (...) Estou pronto para cumprir as vossas ordens» (Sl 118 [119], 100. 105. 60); nada me perturba"[28].

            Conselheiros podem ser pais, mães, irmãs, irmãos, padres, psicólogos, teólogos, pessoas experientes, diretores espirituais e até crianças; à viva voz ou por cartas e outros escritos. Teresa e Teresinha escreveram muitas cartas[29], e a "História de uma Alma" é como se fosse uma carta bem longa dirigida a Paulina (MA) e Maria (MB), suas irmãs, e à Madre Maria de Gonzaga (MC).

            "Ah! Quantas almas chegariam à santidade, se fossem bem dirigidas!"[30]

            Responsabilidade dos que "aconselham". A respeito dos fariseus Jesus dizia aos discípulos: "Deixai-os! São cegos a guiar outros cegos" (Mt 15,14), e em Lucas, Jesus perguntava: "Pode, por acaso um cego dar guia a outro cego? Não vão os dois cair no mesmo buraco?" (Lc 6,39). Aos que não têm a capacidade de aconselhar, o Espírito Santo pelo dom do Conselho lhes dirá que sejam sinceros e honestos: não se comportem como conselheiros...

            O Catecismo da Igreja Católica, citando São João da Cruz, ensina que a alma deve "considerar bem em que mãos se entrega, pois, conforme o mestre tal será o discípulo, conforme o pai tal será o filho". E ainda "O diretor deve não somente ser sábio e prudente, mas também experimentado... Se o guia espiritual não tem a experiência da vida espiritual, é incapaz de conduzir por ela as almas, que Deus chama: nem sequer as compreenderá"[31].

            Quanto respeito se deve ter pela pessoa que procura o conselho! Santa Teresinha, que aos 21 anos de idade foi Mestra de Noviças[32], podia afirmar: "De longe isto parece tudo rosas, fazer bem às almas, fazê-las amar a Deus sempre mais, modelá-las, enfim, segundo os seus próprios pontos de vista, as suas idéias pessoais. De perto é o contrário, as rosas desapareceram... Sente-se que fazer o bem, sem a ajuda de Deus, é tão impossível como fazer brilhar o sol no meio da noite... Sente-se que é absolutamente necessário esquecer-se dos próprios gostos, das concepções pessoais e guiar as almas pelo caminho que Jesus delineou para elas, sem procurar fazê-las caminhar pelo nosso caminho pessoal"[33].

            Sor Juana Inés de la Cruz (1651-1695)[34] escrevia ao seu Diretor Espiritual: "Pois bem, Pai muito querido, - a quem constrangida me oponho e forçada, envergonhadíssima, em termos que não deveriam sair da minha boca - que autoridade tinha V. Rvcia. para dispor da minha pessoa e do livre arbítrio, que Deus me concedeu?" Explica-se melhor: "Quem dera fosse possível ser santa por imposição! (...) - embora nem em matéria espiritual nem em matéria temporal eu dependa de V. Reverência". Lamenta não ser tão mortificada como outras penitentes, junto às quais os ensinamentos do confessor seriam melhor empregados. A salvação é assunto da vontade muito mais do que da inteligência, "e depende de mim mesma mais do que do meu confessor". Tem ela toda liberdade de escolher por "pai espiritual" quem ela quiser, pois a misericórdia divina não está restrita nem limitada a um homem só. E pede desculpas, pois quer apenas ser simples e sincera...[35]

            Como existe o prazer de estar dirigindo um supersônico, uma jamanta, um carro ou moto de muitíssimas cilindradas, uma lancha, uma charrete, um cavalo, existe igualmente o perigo de ser dominado pela volúpia de ser diretor dos outros, sem respeito pela personalidade alheia e pela sua liberdade.

            São Paulo previne a São Timóteo: "Você também deve tomar conhecimento de que nos últimos tempos acontecerão momentos difíceis: os homens serão (...) obcecados pelo orgulho, agarrados aos prazeres mais do que a Deus, com aparências de piedade, mas renegando a sua força interior. Tome muito cuidado com esta gente! A este número pertencem uns tais que entram nas casas e lançam as suas redes por cima de umas mulherzinhas carregadas de pecados, movidas por paixões de todo tipo: estão ali sempre aprendendo, sem nunca conseguirem chegar a tomar conhecimento da verdade" (2Tm 3,2-7).

            Sobre Santa Teresinha disse uma das suas noviças: "O seu alto grau de perfeição, de união com Deus, e também a sua grande inteligência natural, tornavam-na muito perspicaz, de modo que por muitíssimas vezes acreditei que possuísse o dom de ler na minha alma". Teresinha explicava: "Não tenho, em absoluto, este dom (de ler na alma)". O dom do Conselho não dispensa os esforços pessoais e o recurso à virtude da prudência[36].

            Aludindo ao Pe. Pichon SJ, Teresinha escreveu: "Tinha tanto receio de ter maculado a minha veste batismal, que tal garantia oriunda da boca de um diretor conforme os desejava a nossa Santa Madre Teresa, isto é, que une ciência e virtude, parecia-me ter saído da própria boca de Jesus"[37].

            Clareada pelo dom do Conselho e iluminada pelos dons da Sabedoria e do Entendimento, pôde tornar-se mãe e doutora num "caminho novo", o da pequenina via, o de fazer com grande amor as práticas mais pequeninas: "Cultivava eu sobretudo a prática das pequenas virtudes, não tendo facilidade para a prática das grandes: gostava de dobrar os mantos esquecidos pelas irmãs e prestar-lhes todos os pequenos serviços que podia"[38].

4-FORTALEZA

            Como o dom do Conselho vem ajudar a virtude cardeal da prudência, assim o dom da Fortaleza ilumina a virtude cardeal do mesmo nome, "para não tremer". Está presente tanto na realização de coisas árduas e ardorosas, como no vigor e coragem para enfrentar situações e acontecimentos pesados e difíceis. É mais heróico agüentar do que realizar coisas grandiosas. Pelo dom da fortaleza o Espírito Santo vem ajudar tanto os afoitos como os temerosos. A uns, para que se controlem, a outros, para que empreendam, e a todos, para que tenham ânimo.

            O nosso Beato João Soreth, que foi geral da Ordem por 20 anos, é um modelo de Fortaleza. Quando os habitantes de Liège se revoltaram injustamente contra o seu Bispo, João Soreth os repreendeu e enfrentou o ataque deles contra a sua vida; de outra vez atravessou a igreja e saltou para o meio dos indivíduos sacrílegos, que devastavam a região e cheios de fúria profanavam as hóstias sagradas: enfrentou as suas armas e penalizado recolheu o Santíssimo para o seu Convento na mesma cidade de Liège[39].

            Exemplo de fortaleza é também a B. Jacques Retouret com os seus 63 companheiros mártires da Revolução Francesa, enjaulados em navios negreiros na baía de Rochefort, e pacientes.

            Outro exemplo ainda é o B. Isidoro Bakanja, que podemos chamar de "Mártir do Escapulário do Carmo", natural do antigo Congo Belga. O Pe. Luís de Witte, trapista, entregou-se com toda cautela a     numerosos interrogatórios entre os companheiros de trabalho de Isidoro nos laranjais da SAB (Sociedade Anônima Belga para o Comércio do Alto Congo) e afirmava:

            "Aos olhos de todos esses não-cristãos Bakanja aparece como um homem digno, correto, de caráter suave, mas forte nas suas convicções. A sua fidelidade indestrutível às promessas do seu Batismo e à sua Profissão de Fé alimenta-se com a oração e a recitação do terço. Concretiza-se também no fato de trazer o Escapulário. Não! Na verdade, a preço nenhum, nem mesmo ao preço do sofrimento ou da morte, Bakanja se separaria dele!..."[40] Por isso foi martirizado.

            Teresinha, no seu ardor juvenil, quase infantil, sonhara com o sobrenome de "Menino Jesus". Ganhou!... Mas no Carmelo não demorou muito a assinar-se: Teresa do Menino Jesus da Sagrada Face, sem a conjunção, como se da Sagrada Face fosse o sobrenome de Teresa do Menino Jesus, um sobrenome, que sempre lhe trazia à lembrança a Face ensangüentada de Jesus.

            A respeito do sobrenome "do Menino Jesus", ela nos conta: "Pensava em que nome eu teria no Carmelo. Sabia haver uma Irmã Teresa de Jesus, mas não podia ser-me tirado o meu belo nome de Teresa. De repente pensei no Menino Jesus, a quem tanto amava e disse para mim mesma: «Oh! Como seria feliz em ser chamada Teresa do Menino Jesus!» Nada disse, no parlatório, do sonho que tivera acordada, mas essa boa Madre Maria de Gonzaga, perguntando às Irmãs qual nome eu deveria usar, veio-lhe à mente chamar-me pelo nome que eu tinha sonhado...[41]

            Ao Menino Jesus ela deveu a sua Fortaleza. Ao narrar a "Graça do Natal", ela escreve: "Jesus, a meiga criancinha de uma hora, transformou a noite da minha alma em torrentes de luz... nessa noite em que se fez fraco e sofrido por meu amor fez-me forte e corajosa, equipou-me com as suas armas e, desde essa noite abençoada, não saí vencida em nenhum combate, pelo contrário, marchei de vitória em vitória e, por assim dizer, encetei uma «corrida de gigante»..." (cf. Sl 18 [19],6)[42].

            Quanto ao sobrenome "da Sagrada Face", no Manuscrito A dirigido a Paulina ela nos conta: "A florzinha transplantada para o alto da montanha do Carmelo ia desabrochar à sombra da Cruz; as lágrimas, o sangue de Jesus foram o seu orvalho. O seu sol foi a Face Adorável velada pelas lágrimas... Até então não tinha vislumbrado a profundidade dos tesouros escondidos na Sagrada Face. Foi por vosso intermédio, minha querida Mãe, que aprendi a conhecê-los; assim como, outrora, nos precedestes a todas nós no Carmelo, da mesma forma sondastes por primeira os mistérios do amor escondidos na Face do nosso Esposo. Chamastes-me então e eu compreendi... Compreendi em que consiste a verdadeira glória. Aquele, cujo Reino não é deste mundo, mostrou-me que a verdadeira Sabedoria consiste em «querer ser ignorado e tido por nada - em colocar a sua alegria no desprezo de si mesma»... Ah! Como a Face de Jesus, queria que «minha Face fosse verdadeiramente escondida, que ninguém me reconhecesse nesta terra»! Tinha sede de sofrer e ser esquecida..."[43]

            Mas esta Paulina que, desde a morte de Zélia, Teresa tinha abraçado e amado como sua segunda mãe, testou desconsideradamente a fortaleza da sua "filhinha". O escritor Jean Chalon nos dá esta notícia de que, ao terminar o Manuscrito A, Santa Teresinha o entregou à sua irmã no dia 20 de janeiro de 1896, véspera da Festa de Santa Inês, Virgem e Mártir, padroeira de Paulina: Paulina o recebeu e jogou numa gaveta. Para o dia seguinte, onomástico de Madre Inês de Jesus (Paulina em pessoa), Teresa preparou um sainete, meio cômico, meio sério, "A Fuga para o Egito", e Paulina, mais uma vez a humilhou, mandando parar e dizendo: "As suas recreações são compridas demais e cansam a comunidade". Eram vésperas de eleições!... e "Paulina com Madre Maria de Gonzaga já estavam em guerra", diz o escritor. Ao relembrar o que havia acontecido, Celina contou: "Eu a surpreendi nos bastidores, enxugando furtivamente as lágrimas, mas, em seguida refeita, voltou a ficar tranqüila e meiga debaixo de tanta humilhação"[44].

            Parece que a Madre Inês de Jesus tinha destas distrações. Ela mesma conta no seu Caderno Amarelo ("Novissima Verba") que no dia 7 de julho de 1897, quando a Santa já estava presa no seu leito de doente, pediu-lhe que lhe descrevesse a graça recebida depois da sua entrega ao "Amor Misericordioso" e Teresa lhe respondeu: "Minha Mãe, já lhe contei no mesmo dia em que aconteceu, mas a Sra. não deu muita atenção!... Pois bem!" E contou. Era a "graça extraordinária" de ser "transverberada" de amor por um dardo de fogo.

            Graças ao dom da Fortaleza, o homem e a mulher descobrem na força de Deus a sua força: "E Ele me disse: «Basta para ti a minha graça, porque, na verdade, é na fraqueza que se manifesta plenamente o meu poder» (...); portanto, quando sou fraco então é que sou forte" (2Cor 12,9-10).

            É pelo dom da Fortaleza que as almas adquirem constância e se tornam perseverantes na prática de todas as virtudes. "Amar, sofrer, sorrir!" ou melhor "Nem sofrer nem morrer, mas amar e sorrir" tornaram-se para Teresinha um lema de vida. Ela declarava a Celina, sua irmã, que no meio das dores "sorria, para que o Bom Deus visse bem, até pelo seu semblante, que se achava feliz por sofrer por Ele". O Pe. Godofredo da Madalena testemunhou no Processo Diocesano que "sua alegria, bom humor e amabilidade para com todo mundo eram tão constantes que na comunidade ninguém suspeitava de nada de tudo quanto estaria sofrendo".

            Pequenina, mas forte. Foi forte nas mais espantosas "Noites Escuras" e doloridas purificações dos sentidos e da alma: prolongadas dores físicas e tormentos espirituais contra a fé e a esperança até quase na hora da morte. Mas dizia então: "Não me arrependo de me ter entregue ao Amor"; morreu repetindo: "Oh!... Amo-O!... Meu Deus, eu... Vos... amo!!!" Do êxtase de amor na terra foi para o êxtase de amor no céu.

5-CIÊNCIA

            É a contemplação e o gozo de Deus no meio das suas obras. Olha para as criaturas com os olhos de Deus e as admira como Deus as admirou. Conta-nos o livro do Gênesis que, nos dias da criação e do embelezamento do universo pela Palavra e pelo Espírito, Deus por sete vezes achou tudo tão bom e, na oitava vez, "muito bom" até. (cf. Gn 1,4.8 [no grego].10.12.18.21.25 e 31)

            Consagrados a Deus, a Ele vamos reconsagrar o Universo, que saiu tão limpo (mundus) das suas mãos e o pecado fez imundo: é preciso ter um coração de Francisco e de Teresinha do Menino Jesus.

            Pelo dom da Sabedoria o homem e a mulher já contemplam, mas do alto, e pelo dom da Ciência se estabelecem em baixo, como Deus no Jardim do Éden, "o Senhor Deus, que passeava pelo jardim, ao frescor da brisa do dia" (Gn 3,8).

            Contemplar é também viver cum-templo. Templo vem de "temno" = "cortar ao meio". Ciganas e adivinhos de hoje "contemplam" dentro da bola de cristal, mas do lado de fora, os antigos adivinhos, porém, os áugures, que orientavam a construção dos templos, julgavam-se dentro da meia esfera do universo juntamente com a assembléia, e dali contemplavam o horizonte e o futuro: oravam e prediziam[45]. Talvez acreditassem nisto.

            Nós, sim, vivemos nesta semi-esfera e com os outros.

            Assim, de acordo com Guido-Innocenzo, toda "Lectio divina" deve terminar em contemplação e ação. Templo é o símbolo que nos convida a olharmos para o horizonte do Universo[46], a estarmos com os outros, a vivermos com eles a nossa experiência histórica, abrigados sob a cúpula da abóbada celeste e junto às fronteiras daquele lugar, onde o Invisível mora e acolhe o Universo nos seus braços[47]. Contemplar é levar aos outros a contemplação e o que se contemplou: levar aos "outros" o coração e o que disser o coração. Contemplação: vida no Céu, vida na Terra envolta pelo céu. Viver com-o-templo...

            Nas próprias Sagradas Escrituras Templo é o Universo (Sb 1,7; Jr 23,24), a construção material (1Rs 8,27), o corpo humano próprio ou dos outros (1Cor 3,16-17; 6,19; 2Cor 6,16), o Corpo de Cris­to (Jo 2,21), a Igreja [Po­vo de Deus] (Ef 1,22-23; 2,20-22; 4,12; 1Pd 2,4-5; Ap 21,3), o Céu (Sl 101 [102],20; Hb 9,11. 24), a própria San­tíssima Trindade (Ap 21,22).

            Mas só Deus é tudo. Na sua simplicidade o dom da Ciência serve aos dons da Sabedoria e do Entendimento. Todas as criaturas devem servir e louvar ao Senhor. Elevar-se para o Senhor. Nesta sinfonia universal o anjo com a mulher e o homem são as vozes de múltiplos tons em harmonia com o variado timbre dos muitos instrumentos, que as outras criaturas fazem ressoar. O trabalho, a vida de amor e de família, a arte, a ciência humana, o esporte, os passeios e diversões, a doença, o cuidado e o carinho pelos irmãos, tudo, afinal, deve cooperar para a alegria do Criador e elevar até Ele.

            Como valorizar o símbolo e ver em tudo o "sacramento" da presença do Pai? Huysmans, que viveu no satanismo, mas depois se converteu para o Catolicismo, proclama com firmeza: "A Idade Média sabedora de que tudo é sinal nesta terra, tudo é figura, que o visível só vale enquanto revela o invisível, a Ida­de Média que, na verdade, não era escrava das aparências, como somos nós, estudou profundamente esta ciência (o simbolismo) e dela fez empregada e serva da mística"[48]. Para ele "O Universo, como a Catedral, é um conjunto harmonioso que canta a glória de Deus. Deste cântico a Santa Virgem é a nota mais alta, que ressoa em cada ângulo e oferece ao todo leveza e serenida­de"[49].

            Teresa sabia disto: "Jesus (...) pôs diante dos meus olhos o livro da natureza e compreendi que todas as flores que Ele criou são belas, que o brilho da rosa e a alvura do lírio não impedem o perfume da pequena violeta ou a simplicidade encantadora da bonina..."

            A alma era cheia de nostalgia e de uma saudade indefinida. Amava as flores, a neve, as estrelas, o murmurar dos ventos, os passarinhos, as crianças, o mar, os sons que vinham de longe, o longínquo horizonte. Tudo elevava para Deus. Os passeios aos domingos, levada pelo pai, acompanhada pela mãe, que em breve iria para mais longe.

            "Ainda sinto as impressões profundas e poéticas que nasciam em minha alma à vista dos trigais salpicados de centáureas e flores campestres. Já gostava do horizonte longínquo... A distância e os pinheiros gigantescos, cujos galhos roçavam pelo chão, deixavam no meu coração uma impressão parecida à que ainda hoje sinto, quando contemplo a natureza"[50].

            No Manuscrito A dirigido a Paulina Teresa escreve: "Não dou importância aos meus sonhos, aliás, raramente tenho sonhos simbólicos, e até me pergunto como é que, pensando em Deus o dia inteiro, não penso nEle mais, durante o meu sono... Normalmente sonho com matas, flores, riachos, o mar, e quase sempre vejo lindas criancinhas, pego borboletas e passarinhos tais como nunca vi. Estais vendo, minha Mãe, que os meus sonhos têm um feitio poético, estão longe de serem místicos..."[51] Só acordada...

            Teresa tem quatro anos de idade, quando Zélia escreve a Paulina: "Queria que você a visse recitar pequenas fábulas; nunca vi coisa mais graciosa, sozinha encontra a expressão que se deve dar e o tom, mas é sobretudo quando diz: «Criancinha de cabelos louros, onde você pensa que Deus está?» Quando chega a «Ele está lá no Céu azul», ela ergue os seus olhos para o alto com uma expressão angelical. Não nos cansamos de a fazer repetir isto, de tão lindo que é. Há qualquer coisa de tão celestial no seu olhar que ficamos encantados!"[52]

            Teresa, que amou tanto o Menino Jesus, amou demais as crianças: ela, que era o brinquedo, a bolinha, o pião, o pincel, a pequenina flor do Menino-Deus, um pintarroxo, um grãozinho de areia, uma pobre rosa desfolhada... com delicadeza nos conta o seguinte:

            "Eu cuidava delas (duas menininhas órfãs de mãe) o dia todo, e era uma grande satisfação para mim ver com quanta candura acreditavam em tudo o que lhes dizia. (...). A mais velha, cuja razão começava a se desenvolver, olhava-me com os olhos brilhantes de alegria, fazia-me mil perguntas encantadoras sobre o Menino Jesus e o seu lindo Céu"[53].

            As crianças foram as mestras, que lhe ensinaram a pequenina via: confiantes no Pai, carregadas pelo Pai, dormindinhas no colo do Pai, protegidas e compreendidas pelo Pai, carinhosamente ouvidas pelo Pai, beijadas pelo Pai, perdoadas pelo Pai. E quantas vezes o Pai é Jesus! "Eu e o Pai somos um só" (Jo 10,30)

            Os longes, o silêncio, o deserto atraem o seu coração de futura carmelita. Quer elevar-se e elevar todos para Deus.  "Um dia eu disse a Paulina que eu queria ser solitária, refugiar-me com ela num deserto longínquo"[54].

            E continuam as notas de uma saudade infinda: a desculpa era estar junto ao pai e pescar. Pescar? Queria era ficar "sozinha na relva florida" e curtir a contemplação...  "O murmúrio do vento e até a música militar, muito vaga, cujo som chegava até mim, tornavam o meu coração suavemente melancólico... a terra parecia-me um lugar de exílio e eu sonhava com o céu"[55].

            E já no seu leito de morte a música distante ainda veio soar aos seus ouvidos e lembrar-lhe que o céu existe: "Esta tarde chegou aos meus ouvidos o doce murmúrio de uma música distante; então pensei que bem depressa haveria de ouvir melodias incomparáveis, mas este sentimento tão feliz durou uns instantes apenas"[56]. Elevou-se ao querido céu, esquecendo-se por um momento das tentações contra a fé na existência de um céu cheio de música e de amor.

            Nas horas de saúde e tranqüilidade a harmonia longínqua de uma música saudosa, que a "brisa primaveril" lhe traz, não lhe esconde a desarmonia entre "os galanteios do mundo" e a dor e o sofrimento: é a realidade...

            "Minha Madre querida, (...), recordo-me, às vezes, de certos pormenores que são para a minha alma como um brisa primaveril. Eis mais um que surge na minha memória. Numa tarde de inverno, cumpria, como de costume, o meu pequeno ofício. Fazia frio, estava escuro... de repente ouvi ao longe o som harmonioso de um instrumento musical. Imaginei, então, um salão bem iluminado, brilhando de douraduras, moças elegantemente vestidas trocando galanteios mundanos, e meu olhar desviou-se para a pobre doente, que eu estava segurando"[57].

            O mar! É deslumbrante. Deslumbrou Gonçalves Dias, um poeta do Brasil, que naufragou nas águas do oceano, ao voltar do "exílio"; havia cantado: «O' Mar, o teu rugido é um eco incerto / Da Criadora Voz, de que surgiste./ "Sejas!" - disse. E tu foste e contra as rochas / As ondas compeliste. // E à noite, quando o céu é puro e límpido,/ Teu chão tinges de azul, tuas ondas correm/ Por sobre estrelas mil; turvam-se os olhos/ Entre dois céus de anil».

            "Eu tinha 6 ou 7 anos quando Papai nos levou a Trouville. Nunca esquecerei a impressão que o mar me causou. Não conseguia deixar de contemplá-lo sem parar: a sua majestade, o rugido das ondas, tudo falava à minha alma sobre a grandeza e o poder de Deus"[58].

             Quando o dia se vai despedindo da terra, Teresinha se lembra da menininha enamorada do sol poente, que sonha estar vogando tranqüila pelo seu rastro de ouro, imagem da graça. "À tarde, na hora em que o sol parece mergulhar na imensidão das ondas, deixando diante de si um sulco luminoso, ia sentar-me com Paulina num rochedo... Recordava-me, então, da história comovente de O sulco de ouro... Contemplava esse sulco de ouro por longo tempo, imagem da graça, que deve iluminar o caminho do pequenino batel de graciosa vela branca..."[59]. O Batel, que na última Noite de Natal passada em casa, Celina lhe dera, carregava o Menino Jesus a bordo e chamava-se Abandono. O Menino dormia, mas o seu coraçãozinho vigilava[60].

            É introspectiva. No internato, dos 8 para os 10 anos sente falta do carinho de casa e contempla, entregue a reflexões bem sérias: "Muitas vezes, durante os recreios, apoiava-me numa árvore e contemplava o panorama, entregando-me a reflexões sérias!"[61]  Não se esquece daqueles dias do internato, mas "o tempo é um navio" e tudo passa: "só Deus não passa"!

            "Às vezes sentia-me só, muito só, como nos dias da minha vida de interna; quando passeava triste e doente pelo pátio, eu repetia essas palavras que sempre faziam renascer a paz e a força no meu coração: «a vida é o teu navio, não é tua morada!» Quando pequena, essas palavras davam-me coragem; ainda agora, apesar dos anos, que apagam tantas impressões da piedade infantil, a imagem do navio ainda encanta a minha alma e lhe dá ajuda a suportar o exílio... A Sabedoria não afirma também que «a vida é como navio que singra ondas agitadas e não deixa após si nenhum vestígio da sua rápida passagem»?" (Sb 5,10)[62]

            Encantada com os panoramas e as belezas da sua viagem à Roma, de modo especial as da Suíça - "mais longe um enorme lago dourado pelos últimos raios do sol, com ondas calmas e puras a mesclarem o tom azulado do Céu aos fogos do crepúsculo - embora já enclausurada, escrevia a Paulina, sua irmã e, agora também, sua Priora: "Ah! Minha Mãe querida, como estas belezas da natureza distribuídas em profusão fizeram bem à minha alma, como a elevaram até Aquele que teve o gosto de lançar tamanhas obras-primas numa terra de exílio, que deve durar um dia apenas!..."[63]

            E, já retornando pela Costa do Azul, roçando pelas praias do Mediterrâneo, "no fim da tarde víamos iluminarem-se com milhares de luzes minúsculos portos do mar, numerosos, enquanto no Céu as primeiras estrelas cintilavam..."[64]

            O horizonte longínquo e o panorama encantam-na, e o amor e a amizade, o aconchego do lar encantam ainda mais:

            "Como eram doces as conversas que tínhamos (ela e Celina), todas noites, no mirante! O olhar fixo no horizonte, observávamos a branca lua içando-se atrás das altas árvores... os reflexos cor de prata que se espalhavam sobre a natureza adormecida, as estrelas brilhantes cintilando no azul profundo... o sopro ligeiro da brisa noturna fazia flutuar as nuvens nevadas, tudo elevava as nossas almas para o Céu, o belo Céu, do qual não contemplávamos ainda senão o seu límpido avesso"[65].

            Quando, deslumbrada, foi tomando conhecimento do seu lindo mosteiro tão cobiçado, quando ali entrou para sempre, "tudo me parecia arrebatador, tinha a impressão de ter sido transportada para o deserto. A nossa pequena cela me encantava de modo especial, mas a alegria que sentia era calma: nem a menor aragem fazia ondular as águas tranqüilas sobre as quais navegava o meu barquinho, nenhuma nuvem escurecia o meu Céu azul..."[66]

            Mas ali continua sentindo a nostalgia saudosa de "espaços infinitos", mas aqueles do Céu:

            "O' Jesus, desde que essa doce chama o consome (o meu coração), corro alegre pela estrada do vosso mandamento novo... Quero correr por ela até o dia bem-aventurado em que, unindo-me ao séquito virginal, poderei seguir-vos pelos espaços infinitos, cantando o vosso cântico novo, que deve ser o do Amor". (cf. Ap 14,3)[67]

            Assim como procura elevar-nos desde as criaturas até Deus, o dom da Ciência tudo faz para que as criaturas não nos afastem de Deus. Reconheçam o seu lugar! Diz São João, o Profeta, Apóstolo e Evangelista do Amor: "Sabemos que somos de Deus: o mundo, porém, inteiro jaz em poder do Maligno" (1Jo 5,19). Anteriormente ele havia já proclamado: "Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele, pois tudo o que está no mundo - concupiscência da carne, concupiscência dos olhos, soberba diante dos bens da vida - não vem do Pai, mas do mundo" (1Jo 2,15-16). Mas "Deus tanto amou o mundo que lhe deu o Filho único" (Jo 3,16). Quer dizer que Deus então quer reconquistar o mundo, que é dEle e "não O quis reconhecer" (Jo 1,10).

            Um dia o Sr. Luís voltou com as filhas a Alençon e levou-as para reverem parentes e amigos, mas principalmente a fim de rezarem junto ao túmulo de Da. Zélia. Teresa estava com dez anos. Ouçamos o seu comentário, após contar que pediu à mãe para protegê-la sempre: "Deus fez-me a graça de conhecer o mundo apenas o suficiente para desprezá-lo e afastar-me dele. Poderia dizer que foi durante a minha estada em Alençon que fiz a minha primeira entrada no mundo. Era tudo alegria e felicidade ao meu redor, era festejada, afagada, admirada; em suma, durante quinze dias, a minha vida foi coberta de flores somente... Admito que essa vida tinha encantos para mim. A Sabedoria tem razão em dizer que «o enfeitiçamento das frivolidades do mundo seduz o espírito mais afastado do mal». Aos dez anos, o coração facilmente se deixa deslumbrar: por isso considero como sendo uma grande graça não ter ficado em Alençon. Os amigos, que tínhamos lá, eram excessivamente mundanos, sabiam aliar demais as alegrias da terra com o serviço de Deus. Não pensavam bastante na morte: a morte, porém, veio visitar muitos que conheci jovens, ricos, felizes!!! Tenho a inclinação de retornar pelo pensamento aos lugares encantadores, onde viveram, e perguntar-me onde estão, que é que estão usufruindo dos castelos e dos parques, onde os vi gozar das benesses da vida... E vejo «que tudo é vaidade e aflição de espírito debaixo do Sol»... Que o único bem consiste em amar a Deus com todo o coração e ser na terra pobre de espírito..."[68].

            Teresa não esconde que sentia uma pontinha de vaidade e uma impressão de prazer quando a sua beleza era elogiada, e exclama: "Oh! Como tenho compaixão das almas que se perdem!... É fácil extraviar-se pelas sendas floridas do mundo... Sem dúvida, para uma alma pouco instruída, a doçura que ele oferece se mistura com a amargura, e o vácuo imenso dos desejos não poderia ser preenchido por lisonjas de um instante... Mas se o meu coração não tivesse sido educado para Deus desde o seu despertar, se o mundo me tivesse sorrido desde a minha entrada na vida, que teria sido de mim? Oh! Mãe querida, com que gratidão canto as misericórdias do Senhor! (Sl 88 [89],2) Segundo as palavras da Sabedoria, Ele não «me retirou do mundo, antes que o meu espírito ficasse corrompido pela malícia e antes que as aparências enganadoras tivessem seduzido a minha alma»?"[69]

6-PIEDADE

            Diz São Paulo "A prova de que sois filhos é que Deus mandou sobre os nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: «Abbá!», «Pai!» (Gl 4,6. Ver Mc 14,36) Aos Romanos ele escrevia: "Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Pois não recebestes um espírito de escravos, para racairdes no temor, mas, pelo contrário, recebestes um espírito de filhos adotivos, que nos leva a clamar: «Abbá!», «Pai!» (Rm 8,14-15)

            O dom da Piedade coloca-nos em união íntima com o Pai dos Céus, desperta, anima e alegra a pequenina via, o caminho do abandono nas mãos do Pai, nas mãos do Amor Misericordioso. Tem que ver com a oração, a contemplação, o amor apaixonado por Jesus, Deus e Homem, Deus-Menino ou da Sagrada Face, tem que ver com o amor à Eucaristia, sacramento da sua presença real no meio de nós, e conseqüentemente, com o zelo pelos vasos sagrados e o amor aos outros sacramentos.

            Teve o exemplo e o estímulo do paizinho. Todas as tardes, o Sr. Luís tinha a alegria de passear com a sua pequena "Rainha" ou, então, a linda "Órfã de Berezina", saudosa de mãe, para visitar uma igreja por vez e ensinar a menina a procurar e adorar Jesus presente na Eucaristia e nos pobres[70].

            Criança ainda, antes de deixá-las cair no chão, Teresa se deliciava em lançar com força e bem alto as pétalas de rosas, para que chegassem até Jesus que, durante a procissão do Santíssimo, ia passando no ostensório[71].

            O seu primeiro encontro com Jesus na 1ª Comunhão foi um dia inesquecível de amor. "Ah! Como foi doce o primeiro beijo de Jesus à minha alma!... Foi um beijo de amor: sentia-me amada e dizia também: «Amo-vos e entrego-me a vós para sempre». Não houve pedidos, lutas, sacrifícios. Havia muito que Jesus e a pobre Teresinha se haviam entreolhado e entendido... Naquele dia já não era mais um entreolhar-se e sim uma fusão, não eram mais dois: Teresa sumira como a gota d' água que se perde no seio do oceano"[72]. Tinha 11 anos.

            Santo Tomás de Aquino escreveu que pela força deste Sacramento a criatura humana "se transforma em Cristo pelo amor". Era isto que Teresa queria. Procurava comungar e participar de quantas missas pudesse e, naquele tempo, quando era reduzida a oportunidade de receber a santa comunhão, já aconselhava e defendia a comunhão freqüente, e até quotidiana, e predisse que os católicos voltariam a esta prática. À Superiora, Madre Maria de Gonzaga, que não era favorável, teve a coragem de garantir: "Quando eu estiver no céu farei a Sra. mudar de opinião"[73].

            Quando a sua prima Maria Guérin, mais tarde justamente Irmã Maria da Eucaristia, foi vítima da doença dos escrúpulos, Teresa escreveu-lhe uma carta no dia 30 de maio de 1889, recomendando-lhe que por motivo nenhum deixasse de comungar. Dizia: "O diabo deve ser muito safado para enganar assim a uma alma! (...). Quer privar a Jesus de um sacrário querido. (...). Quando consegue afastar uma alma da comunhão, o diabo já saiu ganhando em tudo, e Jesus chora!... Não o escutes, zomba dele, e vai receber sem medo o Jesus da paz e do amor". Quando o Papa da comunhão freqüente, o Papa da comunhão das crianças desde o uso da razão, S. Pio X, leu esta carta, gritou cheio de alegria: "Oportuno! Oportuníssimo!" E disse ao vice-postulador da causa: "Apressa este processo!"

            O seu amor apaixonado a Jesus, Deus feito Homem, tem que ver com o amor às Sagradas Escrituras e à Virgem Maria, com a sua devoção a São José, aos anjos e santos, e até aos irmãozinhos, que morreram na idade da inocência; tem que ver com a Liturgia e a Oração das Horas.

            Jesus presente na Eucaristia está presente nas Escrituras. Apesar de toda dificuldade de ter em mãos uma Bíblia completa, Teresinha amou os Livros Santos, gostaria de estudar bem o grego e o hebraico, para conhecer a palavra de Deus na língua que Ele escolheu; cita o Antigo Testamento 440 vezes e o Novo, 650[74]. Foi ali que mergulhou no Amor Misericordioso e encontrou a luz, que iluminou a sua pequenina via (Is 62,12-13; Mt 11,25; Lc 10,21); 1Cor 12,31) e levou-a a aprofundar-se no amor ao irmão e às irmãs, que estavam ali ao seu lado ou bem distantes, mergulhados no pecado e na descrença ou na terra dos pagãos[75]. Estas foram as matérias do seu ensino doutoral. Foi Mestra e não apenas professora. Preocupou-se com a beleza dos corações mais do que com a cultura das inteligências. "Este ano, Madre querida, Deus me deu a graça de compreender o que é a caridade. Compreendia antes, mas de maneira imperfeita; não tinha aprofundado esta palavra de Jesus: «O segundo mandamento é semelhante ao primeiro: 'Amarás ao teu próximo como a ti mesmo'» (Mt 22,39)"[76]. No coração da Igreja, sua Mãe, ela será o AMOR.

            Maria para ela é Mãe bem mais do que Rainha. Gostaria de ser padre para ter oportunidade de falar sobre Nossa Senhora, sem dizer coisas inverossímeis, mas reais como ensinam os Evangelhos. E na verdade a sua última poesia é Porque Vos amo, Maria! Segue os passos dos Santos Evangelhos, mas não deixa de enfeitar cada um com alma de filha, inspiração de poetisa e sensibilidade de mulher[77].

            A sua adoração e o amor pela presença real atingiam também os objetos do culto eucarístico e o Ofício Divino. Adorava ser "semanária", que nós chamamos "hebdomadária". Foi o que confessou a Paulina: "Como me sentia feliz ao ser semanária no Ofício, ao dizer as orações em voz alta no meio do coro! Então ficava pensando que o sacerdote dizia as mesmas orações na Missa, e que como o sacerdote eu tinha a felicidade de falar em voz alta diante do Santíssimo Sacramento, de dar as absolvições e as bênçãos, de ler o Evangelho. Posso dizer que o Ofício foi ao mesmo tempo a minha felicidade e o meu martírio".

            Como gostava de ser hebdomadária, gostava também de ser sacristã e com São Paulo repetir o Profeta Isaías: "Sede santos vós que tocais nos vasos do Senhor!" (Is 52,11 e 2Cor 6,17). Poetisa, Teresa compôs Minhas aspirações aos pés do Sacrário: vai saudando tudo o que toca a divina Eucaristia e quer ser a chave do sacrário, a lâmpada do Santíssimo, a pedra-d'ara sobre o altar, a toalha, o corporal, o sangüíneo, a pala, o cálice, a patena, a doce uva e o grão de trigo saboroso, a videira e o trigal, porque assim sempre será Jesus presente não só pela divindade, mas também pela santa humanidade...

            Faz lembrar o nosso Santo Condestável que tinha a devoção de semear o trigo, colher e debulhar as espigas e moer os grãos, com que pessoalmente faria as hóstias para a missa; comungava sempre antes das batalhas e aconselhava o mesmo aos soldados das suas tropas.

            Dizia ela à Madre Maria de Gonzaga: "Não poderia rezar todas (as orações), e não sabendo qual escolher, faço como as crianças que não sabem ler, digo com muita simplicidade a Deus o que quero dizer-lhe, sem formar fases bonitas e Ele sempre me compreende... Para mim a oração é um impulso do coração, um simples olhar lançado para o Céu, um grito de gratidão e de amor (tanto) no meio da provação como no meio da alegria; enfim, é alguma coisa de grande, de sobrenatural que dilata a minha alma e me une a Jesus"[78]. Santa Teresa de Jesus já ensinava: "A oração mental, a meu ver, é apenas uma troca íntima de amizade, na qual conversamos muitas vezes, a sós com esse Deus, pelo qual nos sabemos amados"[79].

            Nos momentos de secura e aridez Teresinha simplesmente rezava o Pai-Nosso e a Ave-Maria. "Vez por outra, quando a minha mente está em tão grande secura, que me é impossível produzir um pensamento para me unir a Deus, recito muito lentamente um Pai-Nosso e, depois, a Saudação Angélica: então essas orações me encantam, alimentam a minha alma muito mais do que se as tivesse recitado precipitadamente uma centena de vezes..."[80] Delicada crítica àquelas que no Mosteiro as recitavam correndo, quase que mecanicamente, durante o Rosário.

            Era bom viver em "troca íntima de amizade" com Jesus e com Ele conversar sobre a Igreja, os padres e, de modo especial, os seus missionários, a conversão dos pecadores e dos pagãos; e ainda queria agradar Jesus com aqueles outros atos, por isso chamados de piedade. Rezava.

            Desde menininha nova entrava em oração durante as pescarias com o pai, nas horas de costurar, nos feriados de brincadeirinhas infantis com a prima Mariazinha Maudelonde[81] ou escondia-se atrás da cama. «Um dia, uma das mestras da Abadia me perguntou o que fazia nos feriados, quando sozinha. Respondi-lhe que me escondia atrás da minha cama, num lugar vazio que havia lá e facilmente podia fechar com a cortina, e que aí eu pensava!... Mas em que você pensava? - perguntou. Penso em Deus, na vida, na ETERNIDADE, penso, enfim...» Celina dirá que Teresa teria de 7 para 8 anos[82].

            "Ou nos feriados de brincadeirinhas infantis com a prima Mariazinha". É ela mesma quem descreve: "Mariazinha e Teresa passavam a ser «dois solitários», tendo apenas uma pobre cabana, um campinho de trigo e algumas verduras para cultivar. A vida «deles» decorria numa contemplação contínua, quer dizer que «um dos solitários» substituía «o outro» na oração, quando era preciso cuidar da vida ativa. Tudo era feito com entendimento, silêncio e modos tão religiosos que tudo saía perfeito". Tinha pouco mais de 8 anos. Tudo continuava na rua, durante o passeio, com a recitação do terço nos dedos e o "Em-nome-do-Pai" solene, em público, na hora de comer qualquer coisa que fosse: enquanto isto as mais velhas iam brigando, discutindo entre si...[83]

            Amou na sua humanidade santíssima Jesus, Deus verdadeiro. Jesus era seu Pai, seu noivo, seu esposo, seu amado, seu amigo, seu irmão, seu Farol.

            Maria, sua madrinha, pede a Teresa para lhe descrever o sonho, que teve, e "a minha pequena doutrina como a chamastes"; no manuscrito a Paulina Teresa reconhece que foi Maria quem "me indicava o meio de ser santa pela fidelidade às pequeninas coisas"[84]. Numa carta pós-datada de 8 de setembro de 1896, ela descreve o sonho e "a pequena doutrina", mas numa longa oração a Jesus. "É com Jesus que vou falar, assim me é mais fácil para expressar os meus pensamentos... O que - Ai! - não impede que estejam muito mal expressos"[85]    Frei Gianfranco Maria Tuveri O.Carm., ao escrever A minha vocação é o amor, assim comenta "É a Jesus que falo":

            "Esta longa oração, que é o facho de luz do Manuscrito B, é a obra-prima de Teresa, uma das jóias mais belas da literatura cristã. Compõe-se de duas partes, o sonho de 10 de maio e a doutrina da pequenina via. A passagem de uma para a outra é também a passagem do «vós» para o «tu». Passagem que marca uma intensificação de comunhão com Jesus, um crescendo do amor, que se traduz na materialidade da escrita. Na leitura do autógrafo de Teresa podemos constatar a transformação da escrita, em particular, quanto às letras, que claramente se engrandecem quando chegamos ao coração desta prece, onde fala sobre a descoberta da sua vocação: «A minha vocação é o Amor».

            Esta passagem do «vós» para o «tu» é o sinal de que Teresa, mais do que nunca, se sente dona de si mesma nesta oração. O «vós» era obrigatório segundo o uso da época. Mas nas suas poesias e nos seus textos mais pessoais, como o bilhete de sua profissão, é o «tu» que prevalece. De um modo espontâneo Teresa tratava a Jesus de «tu» na sua oração. O uso de «tu» neste texto o diferencia claramente dos outros, onde ela sempre usa o «vós»"[86].

            Teresa quer ensinar a intimidade com o Verbo Encarnado, Jesus, e não deseja graças extraordinárias, porque isto "desanimaria as «pequeninas almas», porque não poderiam imitar uma coisa destas"[87]. Celina preferiria ver Teresa não beatificada a ver forçado o assunto de "Graças Extraordinárias": "A sua vida tinha de ser singela e simples, para servir de modelo para «as almas pequeninas» (...) Repetia com freqüência desejar permanecer pequena para que as almas fracas vissem nela um amor a Deus, que pudessem viver, e não se amedrontassem no caminho do bem"[88].

            O dom da piedade fazia com que, amando o "Bom-Deus" e o "Bom-Jesus", vivesse com alegria e segurança o dogma da Comunhão dos Santos, de uma grande família unida nos céus, na terra e no purgatório. Na sua conversa de amor com Jesus, na segunda pessoa do singular, ela disse a Jesus que os seus nadas Lhe agradarão e "farão sorrir a Igreja triunfante, que recolherá as minhas flores desfolhadas por amor e, fazendo-as passar por tuas Mãos Divinas, ó Jesus, essa Igreja do Céu, querendo brincar com a sua filhinha, lançará ela também as mesmas flores que, tendo adquirido um valor infinito graças ao teu toque divino, ela vai lançar sobre a Igreja Padecente, a fim de apagar as suas chamas; lançá-las-á sobre a Igreja Militante, a fim de fazê-la conquistar a vitória!... Oh! meu Jesus! Amo-Te, amo a Igreja, minha Mãe, lembro-me de que «o menor movimento de puro amor lhe é mais útil que todas as outras obras reunidas»"[89].

7-TEMOR DE DEUS

            Não é pavor. É medo de ofender a um Pai tão Misericordioso. É o irmão gêmeo do dom da Piedade e da virtude da humildade. É abertura ao Espírito de Amor e de Luz, que faz vislumbrar a santidade do Pai e a maldade do pecado. Não quer de modo nenhum que Deus seja ofendido nem pela alma nem pelas outras almas. Não vive o jogo dos cálculos de falta grave, falta leve, imperfeição. Impulsiona-se pelo amor. Chama-se "temor filial" em oposição ao "temor servil".

            Ensinava São Paulo: "Não queirais entristecer o Espírito Santo de Deus: por Ele fostes marcado para o dia da Redenção" (Ef 4,30) e "Não apagueis o Espírito" (1Ts 5,19): o pecador do Salmo 50 (51),13 reconhece que o pecado afasta de Deus e afasta Deus, por isso suplica ao Senhor: "Não me afasteis da vossa presença. Não me priveis do vosso Santo Espírito".

            Como São Francisco, como Santa Maria Madalena de Pazzi, Teresa queria que o Amor fosse amado e não fosse ofendido[90].

            Porque não queria que o amor fosse ofendido, Teresa rezou muito pela conversão dos pecadores, pelos padres, pelos missionários, confiou e ensinou a confiar no Amor Misericordioso. Parecia ter uma santa inveja ou ciúmes das pecadoras, que muito amaram, porque foram muito perdoadas: "Aquele, a quem menos se perdoa, menos AMA", escreveu ela, citando Lc 7,47 e calcando a pena sobre AMA, a ponto de furar o papel. Na sua intuição bem feminina, bem juvenil, descobriu um jeito de se parecer com as pecadoras: "Jesus me perdoou mais que Santa Madalena, porque me perdoou por antecipação, impedindo-me de cair"...[91] Quase ao finalizar o Manuscrito C: "Sabeis, Deus meu, nunca desejei nada senão amar-Vos, não almejo outra glória. Vosso amor preservou-me desde a minha infância"[92].

            Teresa se refere aos dias das suas 1ª e 2ª comunhões e dos seus 13 anos, feliz em proclamar o amor preveniente ou a inefável preveniência de um Pai: "Ele quer que O ame não porque me perdoou muito, mas porque me perdoou tudo"[93]. Escrevera antes: "O meu coração sensível e amoroso ter-se-ia entregue facilmente, se tivesse encontrado um coração capaz de compreendê-lo. (...). Com um coração igual ao meu ter-me-ia deixado seduzir e cortar as asas: como poderia então ter «voado e descansado?» (Sl 54 [55],7 - Vulgata) e recorda pobres mariposas que, seduzidas por falsa luz, nela acabaram queimando as asas[94].

            Nas últimas linhas do manuscrito próprias de Teresa lemos: "Sim! Sinto isto. Mesmo que eu tivesse na consciência todos os pecados que se possa cometer, com o coração dilacerado pelo arrependimento iria lançar-me nos braços de Jesus, pois sei quanto ama o Filho Pródigo. Não é porque Deus, na sua preveniente misericórdia, preservou minha alma do pecado mortal que me elevo até Ele pela confiança e pelo amor".

            Pois acredita na Misericórdia, acredita, portanto, na Justiça. E pensa na felicidade do "filho pródigo" que, sendo pecador, é perdoado. Deus, que é justo, conhece a nossa fraqueza e a nossa fragilidade. "Portanto, «de que terei medo?» (Sl 26[27],1) Ah! O Deus infinitamente justo, que se dignou perdoar com tanta bondade as faltas do filho pródigo, não deve ser Justo também para comigo que «estou sempre com Ele?»"[95]

            Já nos últimos dias de vida ela ditou a Paulina o que foi acrescentado àquelas últimas linhas: "Falai sim, minha Mãe, que se eu tivesse cometido todos os crimes possíveis, eu teria sempre a mesma confiança, sentiria que esta multidão de ofensas seriam como uma gota d' água lançada num braseiro ardente. Depois a Sra. contará a «História da Pecadora Convertida que morreu de amor»"[96]. Era uma história dos Santos Padres do deserto sobre Paésia que, após muitos anos de obras de caridade, caiu numa vida desregrada, mas convertida pelo Venerável João, o Pequenino, fez a penitência de um dia e uma noite e foi encontrada morta; uma voz do céu proclamou: "A sua penitência de uma hora foi mais agradável a Deus do que a de outros por um longo tempo, mas sem um fervor igual ao dela!"[97]

            O Temor de Deus, princípio da Sabedoria (Sl 110[111], 10; Eclo 1,16) e início do amor (Eclo 25,16 [Vulg]), segundo Santo Tomás, é o sustento da esperança. Por conseguinte é também o sustento da confiança filial e do abandono nos braços do Pai.

            Teresa, devido ao estilo de vida na família e à maneira de ser educada pela mãe e pelas irmãs mais velhas, mostrou-se desde muito criança primeiro timorata, depois escrupulosa e, somente graças ao santo Temor de Deus, adquiriu uma verdadeira delicadeza de consciência, bem equilibrada. Mas os medos subconscientes estiveram com ela até os seus 21 anos de idade.

            Mas comecemos desde o começo.

            Pessoalmente ela vai citando cartas da mãezinha, que falavam a seu respeito. Uma diz: "(O pequeno "furão" é) de uma teimosia quase invencível; (...). Porém, tem um coração de ouro, é muito carinhosa e muito franca; é curioso vê-la correr atrás de mim para me confessar alguma coisa - «Mamãe, empurrei Celina só uma vez, bati nela uma vez, mas não vou mais fazer isto» (É assim em tudo o que faz). Era uma carta de 14 de maio de 1876 a Paulina; Teresa estava com pouco mais de 3 anos de idade...[98]

            Na carta de 21 de maio do mesmo ano, Da. Zélia comentava com Paulina: "É um criança que fica sentida com muita facilidade. Quando faz qualquer coisa errada, precisa contar logo para todo mundo. Ontem rasgou, sem querer, um pedaço do papel da parede, ficou num estado lastimável e quis logo avisar o pai. Ele chegou quatro horas depois, quando ninguém mais pensava nisso a não ser somente ela, mas correu imediatamente para dizer a Maria: "Conta logo a papai que rasguei o papel!» E ficou aí como uma criminosa que aguarda a condenação. Mas tem na sua idéia infantil que alcançará perdão mais facilmente, se confessar a falta".

            Em outra carta do mesmo ano (29 de outubro), dirigida também a Paulina: "Teresinha perguntou-me outro dia se irá para o céu. Disse-lhe que sim, se se comportar e for boazinha. Respondeu-me: «Sim! Mas se eu não for gentil irei para o inferno... mas sei o que eu ia fazer, voaria com a Sra. que estaria no Céu. Como é que Deus ia fazer para me pegar?... A Sra. me agarraria bem firme nos seus braços?»"[99]

            Sobre os dias queridos da sua infância Teresinha comentava: "Mas Jesus velava sobre a sua noivinha. Quis que tudo se encaminhasse para o seu bem, até os defeitos que, reprimidos cedo, serviam-lhe para crescer na perfeição...[100]

            "Tudo concorre para o bem dos que amam a Deus", disse o Apóstolo. Para Teresa miúda, que nem alcançava a portinhola do confessionário, até as faltas concorreram para crescer no amor a Maria e na gratidão ao Pai dos Céus: "Sentia-me tão contente e tão leve como nunca tinha sentido tanta alegria na minha alma". Tinha pouco mais ou menos de 6 para 7 anos de idade. E, após o conselho do seu primeiro confessor, prometeu a si mesma redobrar de ternura para com a Virgem Santíssima, cuja pureza sempre admirou. Sabia que "as lágrimas do Menino Jesus haveriam de purificar a minha alma"[101].

            Era, portanto, muito sensível.

            O Pe. Domin, que dava as aulas de catequese e a chamava de "doutorazinha", pregou um retiro medonho para as meninas que se preparavam para a 1ª Comunhão na Abadia das Beneditinas, um retiro cheio de pecados mortais e de inferno e, ainda mais, repetiu a dose um ano depois: no primeiro Teresa tinha pouco mais de 11 anos e, no segundo, pouco mais de 12. Isto mais os problemas do início da puberdade e da adolescência com as suas até então desconhecidas sensações abalaram a sua tranqüilidade inocente. Referindo-se aos seus 14 anos, aos anos da puberdade e adolescência, ela confessará à sua irmã Paulina: "Estava na mais perigosa idade para as moças, mas Deus fez por mim o que relata Ezequiel em suas profecias", e passa a citar Ezequiel (16, 8-13), mas sem os trechos mais realistas, intercaladamente; nem mesmo  tanto quanto São João da Cruz na estrofe 23 do seu Cântico Espiritual B[102].

            Teresa conhecia São João da Cruz, que conhecia muito bem o Cântico dos Cânticos, e Teresa certamente o havia lido também e manifestou o desejo de comentá-lo: "descobri nesse livro coisas tão profundas sobre a união da alma com o seu Bem-amado!" São 36 os versículos, sobre os quais tem alguma linda palavra em 76 passagens[103].

            Hoje, por exemplo, se manifesta um certo pudor - para não dizer medo de crítica ou de zombaria - em recorrer ao Cântico dos Cânticos na explicação dos sacramentos ou em outras partes da Liturgia. Enrico Cattaneo SJ, num artigo sobre "O «Cântico dos Cânticos» nas catequeses mistagógicas de Santo Ambrósio de Milão", afirma que, enquanto os Santos Padres antigos recorreram ao Cântico dos Cânticos como ótima chave de leitura e figura dos sacramentos de iniciação cristã, os Catecismos da idade moderna, a partir do Concílio de Trento, pouco aproveitam da riqueza dos simbolismos deste livro, que revelam o amor nupcial de Deus pela Igreja ou pela alma. E diz a nota 4ª: "Já se encontra esta reticência em relação ao livro dos Cantares na reforma litúrgica pós-conciliar, como observa C. Di Sante: «A Liturgia não usa nunca mais o Cântico na sua integridade. Refletindo bem sobre isto, até parece um pecado privar a comunidade eclesial deste magnífico texto (...). As várias perícopes selecionadas não são lidas a não ser nas festas marianas secundárias ou em contextos rituais particulares (como o casamento ou a consagração de uma virgem); vice-versa, não se encontra nas celebrações essenciais como as celebrações da Páscoa ou do domingo, "ápice e fonte de toda a ação litúrgica". Contraste evidente com o uso deste texto na liturgia hebraica, que o põe em relação com o sábado e o Êxodo»"[104].

    [1]. cf. Jo 5,17.

    [2]. Caderno Amarelo  17 de julho de 1897

    [3]. Cf. La Civiltà Cattolica  n.3546  marzo 1998  p.543 e 552

    [4]. MA 141  fl.48v

    [5]. Carta do dia 23 de julho de 1888

    [6]. MA 135  fl.45v. Seduzida pelo "amor esponsal" de Cecília por Jesus, ela usa a palavra "virginizar" ("virginiser"). Ver logo abaixo.

    [7]. MA 158  fl.56v

    [8]. MA 169  fl.61r

    [9]. MA 131  fl.43v

    [10]. MA 137  fl.46r

    [11]. MA 108  fl.34r

    [12]. MA 227-228  fl.80r

    [13]. MC 329  fl.30v

    [14]. MA 226  fl.79v

    [15]. Carta de 30 de maio de 1889 acima citada

    [16]. MA 196  fl.69v

    [17]. Cf. Diccionario de Santa Teresa de Lisieux  Editorial Monte Carmelo  Burgos  1997  p.223-224.

    [18]. MB 248  fl.2r e 2v

    [19]. MA 237  fl.83r-83v (quase no fim do manuscrito)

     [20]. MA 141  fl.48v

     [21]. Osservatore Romano  20-21 de outubro de 1997

     [22]. Cf. 1Cor 13,13

    [23]. Cf. Caderno Amarelo  4 de agosto de 1897

    [24]. MA 216 fl.75v  Cf. História de uma alma Manuscritos autobiográficos  Edições LOYOLA  1997  Tradução de Yvone Maria de Campos Teixeira da Silva

    [25]. MA 196  fl.19v  e  199  fl.70v

    [26]. MA 141  fl.48v (cf. Lc 10,21 ou Mt 11,25-26)

    [27]. Sobre o doutorado de Teresa ver Giandomenico Mucci  Santa Teresa de Lisieux - La Sapienza e il Sapere em La Civiltà Cattolica  Roma n.3546  p.542-552 e Jesús Castellano Santa Teresita de Lisieux - Un Carisma Magisterial para la Iglesia de Hoy em Vida Espiritual  Santafé de Bogotá  n.126  1998  p.17-38

    [28]. MC 273  fl.3v

    [29]. De Santa Teresa - calcula-se - umas 5.000 entre cartas e bilhetes e de Santa Teresinha restam umas 266.

    [30]. MA 148  fl.52r

    [31]. Chama estrofe 3ª

    [32]. MC 310 fl.21v; nota 109: "Primeiramente como adjunta, mais ou menos oficiosamente, de Madre Maria Gonzaga, em 1893; passou a ser, a partir de março de 1896, Mestra de Noviças, sem usar o título"

    [33]. MC 311  fl.22r

    [34]. Freira jeronimita, chamada a "Décima Musa do México", por ser, como religiosa e mulher, genial na poesia e nos escritos.

    [35]. Cf. Lettre de la Mère  Jeanne  Inès  de  la  Croix au Révérend Père Antonio Núñez de Miranda de la Compagnie de Jésus  em  La Vie Spirituelle  1989  nº 683  tomo 143  p.97, 98 e 99.

    [36]. Ver MC 319  fl.25v.

    [37]. MA 196  fl.69v

    [38]. MA 211  fl.74r

    [39]. Breviarium Carmelitanum  æstiva  28 de julho  

    [40]. Soeur Carbonelle, Fille de la Charité Bakanja Isidore  -  Martyr de chez nous  p.20  Editions Saint Paul  Afrique  Kinshasa  1979  48 páginas

    [41]. MA 96  fl.31r

    [42]. MA 133  fl.44v

    [43]. MA 200  fl.70v. Cf. Jo 18,36; Is 53,3  e  Imitação de Cristo I  c.2  n.3; III  c.49  n.7.

    [44]. Jean  Chalon em  Santa Teresinha do Menino Jesus - Uma Vida de Amor  Editora "Nova Fronteira"   Tradução de Ângela Villela   Rio de Janeiro  1997  p.258 e 260

    [45]. Cf. Egídio Forcellini  Lexicon totius Latinitatis  verbete  Templum Tomo IV  Pádua  1940

    [46]. Horizonte  é  aquela linha  circular, imaginária, onde o céu parece ter um encontro com a terra considerada uma esfera perfeita. Ver Aurélio.

    [47]. Guido-Innocenzo Gargano  La "Lectio  Divina"  -  Introduzione  alla "Lectio Divina"   EDB  Bolonha  1988

    [48]. J-K  Huysmans  La Cathédrale  apud  La Civiltà Cattolica   Anno 149  n. 3544  p.350

    [49]. Ibid  p.350

    [50]. MA 40  fl.11r

    [51]. MA 223  fl.78v

    [52]. MA 39  fl.10v, citando a carta de 4 de março da 1877

    [53]. MA 148  fl.52r

    [54]. MA 82  fl.25r

    [55]. MA 50  fl.14r

    [56]. Caderno Amarelo  12 de julho de 1897

    [57]. MC 326  fl.29r

    [58]. MA 73  fl.21r. Na realidade ela estava com 5 anos e 8 meses.

    [59]. MA 73  fl.21v

    [60]. Ver MA 188  fl.67v

    [61]. MA 115  fl.36v

    [62]. MA 125  fl.40v. Na poesia de Lamartine, que Teresa está citando, em vez de "vida", vem "tempo".

    [63]. MA 160  fl.57r-57v

    [64]. Ma 185 fl.66v

    [65]. MA 139  fl.47v

    [66]. MA 194  fl.69r

    [67]. MC 296  fl.15v

    [68]. MA 100  fl.32r. Cf. Sb 4,12; Ecl 2,11; Mt 5,3 e  Imitação de Cristo 1,3  §4º.

    [69]. Sl 88[89],2 e Sb 4,11

    [70]. MA 48 e 52  fl.13v e 14v

    [71]. MA 58  fl.16v

    [72]. MA 109  fl.34v

    [73]. Testemunho da sua irmã Maria no Processo Apostólico

    [74]. Pe.Pedro Teixeira Cavalcante Dicionário de Santa Teresinha, verbete "Sagrada Escritura". Cf. Caderno Amarelo 4 de agosto de 1897 e Conselhos e Lembranças 111,31

    [75]. Cf. MC 288  fl.11r-315  fl.24r, onde com simplicidade reconhece ter feito "uma espécie de discurso sobre a caridade" (299  fl.46v).

    [76]. MC 288  fl.11r

    [77]. Cf. Caderno Amarelo  23 de agosto de 1897 e Poesias

    [78]. MC 317  fl.24v-25r

    [79]. Vida 8. Estas  duas definições da oração pelas  duas  Teresas estão citadas no Catecismo da Igreja Católica  n.2558 e 2709.

    [80]. MC 318  fl.25r

    [81]. Aliás, prima das primas Guérin

    [82]. MA 104  fl.33r

    [83]. MA 77 e 78  fl.22v e 23r

    [84]. MA 104  fl.33r

    [85]. MB 245-265  fl.1v-fl.5v  (final). 8  de  setembro de 1896, festa de aniversário de Nossa Senhora, era o aniversário da Profissão de Teresa.

    [86]. Cf. Près  de  la  Source   Les  Grands Carmes  en  France   Bourges  Janvier - Février - Mars   1997   nº 4.

    [87]. Testemunho da Irmã Maria da Trindade e da Sagrada Face  no Processo Ordinário de 12 de agosto de 1910, quanto ao nº 22, sobre "Graças extraordinárias"; Paulina disse quase que o mesmo quanto a este número e item e o repetiu no Processo Apostólico de 19 de agosto de 1914, quanto ao nº 49.

    [88]. Celina no mesmo Processo Apostólico, quanto ao mesmo item 49

    [89]. MB 258-259  fl.4v. A citação final é de São João da Cruz CE 29.

    [90]. Caderno Amarelo  18 de julho de 1897

    [91]. MA 120  fl.38r

    [92]. MC 336  fl.34v

    [93]. MA 120  fl.38v

    [94]. MA 118 e 119  fl.37v

    [95]. MA 237  fl.83r-83v (quase no fim do manuscrito). Cf. Lc 15,31.

    [96]. Na verdade, foi à sua irmã Paulina que Teresa, quando estava no seu leito de morte, ditou estas últimas palavras e o resumo da História da Pecadora Convertida, que morreu de amor.

    [97]. MS 339  fl.36v  nota 180

    [98]. MA 26  fl.6v

    [99]. MA 17 e 19  fl.5r

    [100]. MA 32  fl.8r.  Cf. Rm 8,28.

    [101]. MA 57  fl.16r

    [102]. MA 137  fl.46v

    [103]. Ver no Dicionário de Santa Teresinha do Pe.Pedro Teixeira o verbete Cântico dos Cânticos, onde ainda vem citada a afirmação da Irmã Maria da Trindade, em Conseils et Souvenirs, sobre o desejo de Teresinha de comentar o Cântico dos Cânticos.

    [104]. Cf. La Civiltà Cattolica  Anno 149  Luglio 1998  n.3553  p.29-30.

Promovida mundialmente pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e pelo Conselho Mundial de Igrejas, a Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC) acontece em períodos diferentes nos dois hemisférios. 

No hemisfério Norte, o período tradicional para a Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC) é de 18 a 25 de janeiro. Essas datas foram propostas em 1908, por Paul Watson, pois cobriam o tempo entre as festas de São Pedro e São Paulo, e tinham, portanto, um significado simbólico.

No hemisfério Sul, por sua vez, as Igrejas geralmente celebram a Semana de Oração no período de Pentecostes (como foi sugerido pelo movimento Fé e Ordem, em 1926), que também é um momento simbólico para a unidade da Igreja. No Brasil, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) lidera e coordena as iniciativas para a celebração da Semana em diversos estados.

Levando em conta essa flexibilidade no que diz respeito à data, estimulamos a todos os cristãos, ao longo do ano, a expressar o grau de comunhão que as Igrejas já atingiram e a orar juntos por uma unidade cada vez mais plena, que é desejo do próprio Cristo (Jo 17:21).

Semana de Oração (SOUC), edição 2018. De 13 a 20 de maio.

TEMA: O tema é inspirado no livro do Êxodo: "A mão de Deus nos une e liberta". 

CARTAZ

O cartaz traz pessoas em barcos que simbolizam, sobretudo nesses tempos de crise migratória, pessoas refugiadas que vivem cada vez mais à deriva dos poderes constituídos. Em muitos casos, sem políticas sociais que possam devolver a elas a dignidade roubada, essas pessoas são submetidas a situações de trabalho análogas à escravidão ou, então, comercializadas como escravas.

A arte alude, por um lado, que muitas dessas pessoas refugiadas contam com a "mão" de Deus que, de uma forma ou de outra, os ampara. É também a mão de Deus, presente em águas revoltas, que nos movimenta a agirmos em favor de uma humanidade que não se conforma com a violação dos direitos humanos e da dignidade de irmãos e irmãs de diferentes culturas e etnias. 

O barco, símbolo do movimento ecumênico, também remete à comunidade cristã, que tem como desafio navegar, ecumenicamente, rumo à unidade. Entretanto, essa unidade almejada apenas será concreta se todas as pessoas tiverem acesso à justiça, o direito de viver em seus territórios de origem e o direito de viver sua cultura e espiritualidade.

INTRODUÇÃO AO TEMA PARA O ANO DE 2018: 

A tua destra, Senhor, esplendorosa de poder (Ex 15,6)

A região do Caribe

Conservando o nome de um dos grupos de seus povos indígenas – o povo Kalinago, inicialmente chamado de Carib – a região caribenha de hoje é uma realidade complexa. Sua vasta extensão geográfica inclui tanto ilhas como territórios continentais com uma rica e variada coleção de tradições étnicas, lingüísticas e religiosas. É também uma complexa realidade política com uma variedade de organizações governamentais e institucionais, desde territórios coloniais (ingleses, holandeses, franceses e americanos) até nações republicanas.

O Caribe atual é profundamente marcado pelo projeto pouco respeitoso de exploração colonial. Na agressiva busca de ganhos de mercado, os colonizadores organizaram sistemas brutais de comércio de seres humanos e de trabalho forçado. Inicialmente, essas práticas escravizaram, agrediram e, em certos casos, exterminaram povos indígenas da região. A isso se seguiu a escravização de africanos e a introdução de pessoas da Índia e da China.

Em cada estágio, os sistemas dos colonizadores tentavam tirar dos povos subjugados seus direitos inalienáveis: sua identidade, sua dignidade humana, sua liberdade e sua autodeterminação. A escravidão dos africanos não foi simplesmente um processo de transporte de trabalhadores de um lugar para outro. Numa afronta à dignidade humana dada por Deus, transformava-se em objeto de comércio uma pessoa humana, tornando um ser humano propriedade de outro. A partir da consideração dos escravizados como propriedade, vieram outras práticas que foram mais longe no tratamento desumano dos africanos. Entre essas se incluía a recusa do direito a práticas religiosas e culturais, ao casamento e à vida familiar.

Muito lamentavelmente, durante quinhentos anos de colonialismo e escravidão, a atividade missionária cristã na região, com exceção de uns poucos destacados exemplos, estava bem ligada a esse sistema de cunho desumano e de muitas maneiras o justificava e o reforçava. Enquanto aqueles que trouxeram a Bíblia para essa região usavam as Escrituras para justificar a subjugação do povo dominado, nas mãos dos escravizados ela se tornou uma inspiração, uma garantia de que Deus estava ao lado deles e que Deus os conduziria à liberdade.

O tema para a Semana de Oração pela Unidade Cristã em 2018

Hoje os cristãos caribenhos de diferentes tradições vêem a mão de Deus agindo para terminar com a escravidão. É uma experiência de união em torno da ação salvadora de Deus que leva à liberdade. Por essa razão, a escolha do canto de Moisés e Miriam (Ex 15, 1-21) como motivação na Semana de Oração pela Unidade Cristã em 2018 foi considerada muito adequada. É um canto de triunfo sobre a opressão. Esse tema foi assumido em um hino, A mão direita de Deus, escrito numa reunião de trabalho da Conferência Caribenha de Igrejas em agosto de 1981, e que se tornou marca do movimento ecumênico na região, traduzido para numerosos diferentes idiomas.

Como os israelitas, os povos do Caribe têm uma canção de vitória e liberdade para cantar e é um canto que os une. No entanto, desafios contemporâneos de novo ameaçam escravizar e de novo ameaçam a dignidade do ser humano criado à imagem e semelhança de Deus. Embora a dignidade humana seja inalienável, ela fica freqüentemente obscurecida tanto por pecados pessoais como por estruturas sociais pecaminosas. Em nosso mundo decaído, as relações sociais muitas vezes não têm a justiça e a compaixão que honram a dignidade humana. Pobreza, violência, injustiça, o vício das drogas e da pornografia e a dor, o desgosto e a angústia gerados por tudo isso são experiências que distorcem a dignidade humana.

Muitos dos desafios contemporâneos são em si mesmos o legado de um passado colonial e do comércio de escravos. O ferido sentimento coletivo se manifesta hoje em problemas sociais relacionados à baixa auto-estima, violência doméstica e de grupos, e relações familiares prejudicadas. Embora seja um legado do passado, esses aspectos são também exacerbados pela realidade contemporânea que muitos caracterizam como neo-colonialismo. Sob tais circunstâncias parece quase impossível para muitas das nações dessa região escapar da pobreza e do endividamento. Além disso, em muitos lugares existe um sistema legislativo residual que continua a ser discriminatório.

A mão direita de Deus, que tirou o povo da escravidão, deu contínua esperança e coragem aos israelitas, assim como continua a trazer esperança aos cristãos do Caribe. Eles não são vítimas de circunstâncias fora de controle. Testemunhando essa esperança comum, as Igrejas estão trabalhando juntas para prestar serviço a todos os povos da região, mas particularmente aos mais vulneráveis e negligenciados. É o que vemos nas palavras do hino: “a mão direita de Deus está semeando em nossa terra, plantando sementes de liberdade, esperança e amor”.

ADAPTAÇÃO DO MATERIAL NO BRASIL

No Brasil, este ano, o material da SOUC foi adaptado pelo Conselho de Igrejas para Estudo e Reflexão (CIER), de Santa Catarina. Fonte: www.conic.org.br

Frei Carlos Mesters, Carmelita

A experiência da vida no Espírito foi de uma total novidade que compenetrou toda a vivência da fé das primeiras comunidades. Foi como um novo começo, uma nova criação (Gl 6,15; 2 Cor 5,17), um novo nascimento (Jo 3,3-7), uma verdadeira ressurreição (Rm 6,4; Fl 3,10). O livro dos Atos, escrito nos anos 80 ou 90, permite perceber e saborear como os cristãos da época de Lucas, a uma distância de 40 a 50 anos, ainda guardavam uma imagem viva da ação do Espírito no início da Igreja:

A novidade da vida no Espírito nos Atos dos Apóstolos

O Espírito é a força que desce do alto (Lc 24,49), provoca uma mudança radical nos discípu­los e nas discí­pulas, e os transforma em testemunhas de Jesus para o mundo inteiro (At 1,8). A sua vinda no dia de Pentecostes é vista como um "batismo no Espírito" (At 1,5; 11,16). Prometi­do pelo Pai, garantido por Jesus e enviado por ele (At 1,4.8), o Espírito desce com barulho de ventania forte em forma de línguas de fogo (At 2,1-3). Toma conta das pessoas, faz com que soltem a língua e comecem a anunciar as maravilhas de Deus (At 2,11). Comunica coragem para anunciar a Boa Nova (At 4,31), faz perder o medo diante das autoridades (At 4,8.19) e confere aos que o receberam uma identidade nova como testemunhas de Jesus (At 5,32; 15,28). Receber o Espírito é a nova porta que introduz as pessoas - sejam elas judias ou gregas - no povo de Deus, na comunidade (At 10,44-47; 11,18; 15,8). Ter o dom do Espírito é condição para se poder exercer a diaconia (At 6,3). As comunidades são cheias da conso­lação do Espírito e de alegria (At 9, 31; 13,52). A identificação do Espírito com a Comunidade é tal que mentir à Comunidade é o mesmo que mentir ao Espírito Santo (At 5,3.9). A experiência da vida no Espí­rito é tão forte, que pessoas não bem intencionadas ou não bem formadas alimentem o desejo de adqui­rir o dom do Espí­rito por meio de dinheiro (At 8,19). O Espírito é conferido pelo batis­mo (At 2,38), pela imposi­ção das mãos (At 8,18; 9,17; 19,6), pela oração (At 8,15). Quando a oração é feita em comunidade, ela até provoca um novo pentecostes (At 4,31). O Espírito também se manifesta sem in­termediário, sem aviso prévio, e desce, de repente, provocando sur­presa e revisão do rumo da comunidade, como aconteceu na conversão de Cornélio (At 10,44-48; 11,16; 15,8-9). Há pessoas em que a presença do Espírito é mais atuan­te: Pedro (At 4,8), Estêvão (At 6,5), Barnabé (At 11,24), Ágabo (At 11,28; 21,11), Paulo (At 13,9), Apolo (At 18,25). O Espírito Santo faz de tudo, desde a redação do documento final do Concílio (At 15,28) até a definição do roteiro de viagem dos missionários (At 16,6. 7): faz com que Estêvão tenha coragem de ir até o martírio (At 7,55); manda Pedro ir para a casa do Cor­nélio (At 10,19; 11,12); conversa com Filipe e o leva de um lugar para outro (At 8,29.39); fala na comunidade apontando novo rumo de ação (At 13,2); envia Paulo e Barnabé em missão (At 13,4); ani­ma Paulo a tomar a decisão de voltar para Jerusalém (At 20,22); coloca pessoas para coordenar a co­munidade (At 20,28); pelo Espírito, os discí­pulos têm o pressenti­mento do que vai acontecer no futu­ro (At 20,22-23; 21,4). E apesar de tão manifesta, havia pessoas que resistiam à ação do Es­pírito e se recusavam a aceitar a evidência de Deus que se manifestava nos fatos (At 7,51).

Um primeiro critério: o extraordinário do Espírito no ordinário da vida

Esta descrição da vida no Espírito revela duas coisas aparentemente opostas entre si. De um lado, deixa perceber, ainda que de longe, o aspecto extraordinário da experiência do Espírito na vida das primeiras comunidades cristãs. Por outro lado, por mais extra­ordinária que tenha sido, a experiência do Espírito estava encarnada em ações ordinárias e comuns da vida humana: falar, rezar, caminhar, viajar, orientar, cantar, criticar, decidir, ficar alegre, crescer, anunciar, servir, etc. Com outras palavras, esta maneira de falar própria de Lucas sugere que o aspecto extraordinário da presença atuante do Espírito estava escondido no ordinário da vida de cada dia e era lá que devia ser descoberto pelo olhar da fé. No caso de uma pessoa recusar o ordinário e querer insistir só no extraordinário ou no mágico, ela era criti­cada e até condenada, como foi o caso de Simão Mago (At 8,9-24) e da comunidade de Corinto (1 Cor 14, 1-40). Por isso, as descrições da ação do Espírito na vida das comunidades devem ser vistas não tanto como fotografias, mas muito mais como raio-X. Isto é, o olhar de fé dos cristãos (de Lucas) revelou na chapa da experiência o que a olho nu não se percebia. Este tipo de leitura orante e crente da vida já era fruto de um esforço de compreensão e de discernimento. Temos aqui um primeiro critério de discernimen­to: o extraordinário do Espírito de Deus se esconde e se revela no ordinário e quotidiano da vida humana.

Um segundo critério de discernimento: A prática de Jesus de Nazaré

A raíz das afirmações do NT sobre a ação do Espírito é esta: o Espírito que se manifesta nas comunidades com tanta força e tanta variedade não é outro a não ser o Espírito de Jesus. Existe uma quase identidade entre "vida no Espírito" e "vida em Cristo". São Paulo diz: "O Senhor é o Espírito, e onde se encontra o Espírito do Senhor aí está a liberdade!" (2 Cor 3,17). Ou seja, é a ligação com a pessoa de Jesus que dará rumo e sentido à liberdade que nasce do Espírito. Bem concretamente, é a prática de Jesus de Nazaré que serve de critério para discernir os espíritos que se manifestam na vida das comunidades. E João adverte: "Caríssimos, não acreditem em qualquer espírito, mas examinem os espíritos para ver se são de Deus, pois muitos falsos profetas já apareceram no mundo. Nisto vocês reconhecem se um espírito é de Deus: todo espírito que confessa que Jesus veio na carne é de Deus. Todo aquele que não confessa Jesus, não vem de Deus!" (1 Jo 4,1-3).

Foi a preocupação em manter esta unidade que levou os cristãos a conservar a incômoda memória das palavras e gestos de Jesus. Paulo insiste que todos tenham os mesmos sentimentos que animaram a Jesus (Fl 2,5). João diz que uma das funções principais do Espírito é lembrar tudo o que Jesus falou (Jo 14,26; Jo 16,12-14).Lucas mostra que mesmo Espírito experimentado nas comunidades já atuava em Jesus, desde a concepção (Lc 1,35) até à hora da sua morte, em que entregou o Espírito ao Pai (Lc 23,46). Para conhecer o rumo do Espírito de Jesus é necessário olhar sempre a ação do Espírito na vida de Jesus. É da prática de Jesus que ficamos sabendo qual o rumo que o Espírito quer tomar na vida das comunidades.

Um terceiro critério de discernimento: a prática do amor

Falando dos dons do Espírito, Paulo insiste em dizer que o dom maior é o amor (1 Cor 12, 31; 13,13). O amor é o critério que resume e concretiza todo o ensinamento, tanto de Jesus (Jo 15,12-14) como da lei e dos Profetas (Mt 22,40). É a capacidade de criar laços de amor, ou, como diz a Bíblia, a capacidade de reconduzir o coração dos pais para os filhos e reconduzir o cora­ção dos filhos para o pais (Ml 3,24; Eclo 48,8; Lc 1,17), ou seja, a capacidade de reconstruir a comunidade, o teci­do social dentro das normas do amor, esta capacidade é o critério mais importante para discernir se o espírito que anima esta ou aquela pessoa, esta ou aquela comunidade, é realmente o Espírito de Deus, de Jesus. E o que é que vem a ser, bem concretamente, o amor?

 O apóstolo Paulo ten­tou dizê-lo comparando o amor com os outros serviços e dons do Espírito que atuam na comunidade: "Posso ter o dom das línguas", ter grande poder de comunicação e de louvação. "Posso ter o dom da profecia", animar a comunidade e fazer grandes denúncias. "Posso ter o dom do conheci­mento de todos os mistérios e de toda a ciência", ser um grande teólogo e ter muita consciência. "Posso ter o dom da fé a ponto de transportar montanhas", ter a doutrina certa e uma fé milagrosa. "Posso dis­tribuir os meus bens aos famintos", fazer opção pelos pobres e dar tudo a eles. "Posso até entregar o meu corpo às chamas", ser preso e torturado; mas sem o amor, "isto nada me adiantaria"(1 Cor 13,1-3).

Todas estas coisas tão importantes revelam o dom do "amor de Deus que foi derramado no coração pelo Espírito" (Rm 5,5), mas não o esgotam nem o definem. O amor é um dom que está na raíz de tudo isto e o ultrapassa! Então, o que é o amor? Paulo não responde, mas cita a letra de um canto da comunidade que descreve a ação do amor no quotidiano da vida e oferece uma chave para cada membro da comunidade poder avaliar se na sua vida existe ou não este amor. É pelo fruto que se conhece a árvore, é pela prática do amor que se conhece o Espírito. Eis a letra, cuja luz ajuda a andar no escuro:

“O amor é paciente, o amor é prestativo, não é invejoso, não se ostenta, não se incha de orgulho, não faz nada de inconveniente, não procura seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor, não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade, tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta, o amor jamais passará”. (1 Cor 13,4-8)

O desafio da nossa ação pastoral

A Palavra de Deus vale não só pela ideia  que transmite, mas também pela força que comunica. Não só diz, mas também faz. Diz e faz, anuncia e traz, ensina e anima, ilumina e forta­lece, luz e força, Verbo e Espírito. Estes dois aspectos não podem ser separados, pois ambos existem unidos na unidade de Deus. O Pai pronuncia sua Palavra e coloca nela a força do seu Espírito. Em Jesus, o Verbo que se fez carne, repousa a plenitude do Espírito. Na prática pastoral, porém, estes dois aspectos estão bastante separados. De um lado, os movimentos carismáticos; de outro lado, os movimentos de libertação. Os carismáticos têm muita oração, mas às vezes carecem de ação profética e de visão crítica a respeito da situação concreta do povo. Os movimentos de libertação, por sua vez, tem muita consciência crítica, mas, às vezes, carecem de perseverança e de fé, quando se trata de enfrentar situações humanas que, dentro da análise científica da realidade, em nada contribuem para a transformação da sociedade. Às vezes, eles têm uma certa dificuldade para perceber a utilidade de longas horas gastas em oração sem resultado imediato.

A prática dos primeiros cristãos mostra que é possível chegar a uma obediência que faça crescer a liberdade do Espírito; cultivar uma unidade que faça aparecer a variedade dos dons do Espírito; afirmar com os judeus a unidade de Deus de tal maneira que apareça a sua dimensão trinitária como manifestação da unidade; viver a novidade do Espírito de tal maneira que recupere e atualize todo o passado já vivido; dar rumo à liberdade a partir da prática de Jesus junto aos pobres da Galiléia; manter a unidade entre o Projeto de Deus do AT e a vida das comunidades, entre liberdade e carisma de um lado e organização e serviço do outro, entre o Cristo da fé e o Jesus da história. No dia de Pentecostes, o Espírito se manifestou sob a forma de línguas de fogo. Fogo é para esquentar, clarear e queimar. Esquenta o coração, clarea a mente e queima os desvios. Língua  é para anunciar e dialogar e, assim, enriquecer-se mutuamente, aprendendo das divergências.

Colisão entre dois veículos ocorreu na rodovia Dom Gabriel Paulino Bueno Couto. Religioso e outras duas pessoas foram socorridos a hospitais da região.

Dois carros capotaram em um acidente de trânsito no km 82 da rodovia Dom Gabriel Paulino Bueno Couto, em Cabreúva (SP), na noite de sábado (12).

Segundo a polícia, um dos motoristas é o padre Edelcio Francisco Ferreira Neto, de 57 anos, que estava alcoolizado. Polícia informou que a embriaguez foi constatada no teste do bafômetro.

Ainda conforme a polícia, o religioso bateu com o carro na traseira de outro veículo em que estava um casal.

A motorista, de 46 anos, foi levada para o pronto-socorro em Itu (SP), e o padre para um hospital particular em Sorocaba (SP).

O padre teve uma fratura no ombro e foi encaminhado à delegacia após passar por atendimento. Uma das vítimas atingidas no acidente teve ferimentos leves e foi liberada. A outra vítima não teve o estado de saúde informado.

Os veículos foram levados para a delegacia de Cabreúva. Segundo um dos delegados plantonistas de Cabreúva, o padre infringiu os artigos 303 e 306, que são os crimes de embriaguez ao volante e lesão corporal culposa. O juiz de plantão liberou o padre. Fonte: https://g1.globo.com

Frei Jorge Van Kampen, Carmelita. In Memoriam. (*17/04/1932 + 08/08/2013)

Depois da Ressurreição Jesus comunicou por várias ocasiões aos seus apóstolos, que deviam continuar a pregação da Palavra de Deus a todos. A promessa da presença do Espírito Santo seria uma garantia, que Jesus ficaria presente no meio deles mais do que nunca. Mas como continuar? Os doutores da Lei e os Fariseus continuavam a ensinar e agir como antes. Na verdade, não se podia falar de reiniciar a missão. Deviam prosseguir, o que já foi iniciado. Cristo deixou um novo espírito. Deviam continuar, o que Cristo já começou. A Ascensão de Jesus não é uma despedida, mas um compromisso. Os apóstolos não são repórteres de Jesus, mas são verdadeiros testemunhos de uma convivência com Deus no mundo, em que vivemos.

Liturgia da Palavra de Deus: (At. 1,1-11; Ef. 1,17-23; Mc 16, 15-20)

Começa um novo tempo. Jesus convidou para participar da missão da Igreja. A verdadeira realização da Fé será seguir Cristo. Necessitamos a conviver com Cristo, que está conosco não visivelmente, mas imitando-o.

Reflexão.

Se você não gosta de trabalhar, não dá trabalho para os outros.

Se perdeu a força para subir, faça força para não descer.

Se não tem condições para levantar um peso, não derrube a fraqueza alheia.

Se não tem cama boa, não ponha pregos no colchão dos outros.

Se não tem fósforo para acender a lâmpada, não apague a luz dos outros.

Se não tem voz para cantar, não desafie a voz dos outros.

Se não tem vontade de sorrir, não faça a outro chorar.

Se não pode curar o próximo, não agrave o sofrimento dele.

Resposta à Palavra de Deus.

Nesta semana em preparação à Festa do Divino Espírito Santo vamos pedir a Deus pela Unidade dos Cristãos.