MARÍA MARTÍN

Os moradores de Itu elevaram o município a símbolo de revolta contra a falta de água em São Paulo. No mês do outubro, as vielas dos bairros mais altos acordavam com barricadas feitas de lixo e pneus em protesto pelo descaso depois de semanas sem água pelo colapso das represas que o abastecem. Os bombeiros não apareciam e ninguém tinha como apagar o fogo, pois não havia nem para tomar banho com canecas. “Foi uma dificuldade grande tínhamos que ir longe a buscar água durante um mês inteiro, não tínhamos nem para beber”, lembra a cabeleireira Jeane Sobrinho da Silva, 36, moradora do bairro Cidade Nova.

Durante mais de 20 dias o ambiente escaldava à noite e as barricadas bloqueavam vários trechos de uma rodovia na frente da estação de ônibus da cidade. Dos gritos participavam donas de casa e pais de família – “queremos água, mas ninguém faz nada!”– e o mais jovens cuidavam das pedras e os coquetéis molotov. A maioria dos vizinhos concordava com a mensagem chamando a atenção para a crise hídrica, mas não com meios, pois eram eles mesmos os que tinham que arcar com a limpeza enquanto a torneira se mantinha seca. “Eram atos de vandalismo, colocavam fogo na rua, nas lixeiras, não era assim que se resolvia a coisa. Continuou faltando água do mesmo jeito, só chovendo que resolveu”, lamenta Sobrinho, hoje com água em casa e no negócio.

Sem água durante mais de duas semanas, os moradores chegaram a abordar desesperados os poucos caminhões-pipa que circulavam pela região. Nesses bairros a Guarda Civil Municipal começou a escoltar os veículos construindo assim um imaginário apocalíptico da crise, aquele que todo prefeito gostaria de evitar.

“Houve um dia que um grupo de manifestantes quebrou a fachada da Câmara municipal inteirinha e o pessoal que estava dentro e fora ficou acuado. Esse já foi um atentado contra os políticos. Exigiram uma resposta após tanta omissão”, lembra o fotógrafo José Fernando de Souza, que cobriu todos os quebra-quebras daquele mês na sua cidade. “Em alguns momentos, na Cidade Nova, cheguei a sentir medo pela minha integridade, pois aí eram pedras e paus contra a polícia, mas em geral foi tranquilo, nada comparado com o que se vê em São Paulo”.

A água voltou a correr nas torneiras de Itu durante esta temporada de chuvas, mas suas imagens e manchetes ecoam nesses dias em São Paulo, que vive sob a ameaça de um rodízio severo nos próximos meses. Se alguns bairros de um município de 155.000 habitantes entraram em um desespero como aquele após 15 dias sem água, o que aconteceria em uma cidade de 12 milhões de habitantes sem água cinco dias por semana? Fonte: http://brasil.elpais.com/brasil

*Por Emir Sader

"A burguesia não tem heróis" Bertold Brecht

Pobre Brecht! Não sobreviveu para conhecer os super-heróis da burguesia brasileira. A quem a Associação Comercial de São Paulo convida para falar aos grandes empresários do comércio? A um economista, para falar dos saldos da balança comercial, que mal escondem nossa reconversão para uma economia primária exportadora? Ou sobre a estreiteza do mercado interno de consumo? Ou então sobre a taxa de juros, que inibe o consumo e o investimento?

Foram convidados Luis Gonzaga Belluzzo ou João Sayad? Ou Maria da Conceição Tavares? Nada disso. Roberto Jefferson. Exatamente. O escroque Roberto Jefferson, com quem essa burguesia se havia relacionado tão estreitamente no governo Collor, que eles haviam eleito e promovido a seu mais novo super-herói - junto com a quase totalidade da mídia.

Falando muito à vontade, sentindo-se em casa. Com razão! Afinal ele estava na avenida Paulista, notabilizada por abrigar as 101 agências bancárias! Por ser o coração do Estado governado pelo novo candidatinho da burguesia neoliberal – o picolé de chuchu, como o chama muito propriamente o Zé Simão, pela consistência e o saber forte que o caracterizam, um nada de nada, mas com privatizações daquele tamanho.

Este é o novo herói na galeria dos super-heróis da burguesia brasileira, que vem se somar a Severino Cavalcanti e ao candidato dos ilustrados jardins paulistanos, o weberiano FHC. E a Fernando Collor, aposta de toda a burguesia brasileira, incluídos os tucanos, de Tasso Jereissati a FHC, da Rede Globo aos dos "liberais" brasileiros.

E aos ditadores militares, todos eles consagrados nas ruas das nossas cidades e nas linhas da imprensa "liberal" brasileira como "presidentes" - de Castelo Branco a João Figueiredo, de Costa e Silva a Garrastazu Médici, passando por Ernesto Geisel - e não "ditadores" - epíteto reservado para Fidel - e nunca para Musharaf ou para os xeiques árabes - como diria Foster Dulles, "ditadores, mas os nossos ditadores e, portanto, presidentes".

Bela burguesia liberal, que conviveu alegremente com a escravidão, a monarquia, a primeira "república", a ditadura militar, o governo Collor, as mamatas da privatização do governo FHC, e agora goza e se representa em Roberto Jefferson.

Das suas mãos poderemos esperar o melhor para o Brasil, com ministros de relações exteriores que tiram subservientemente os sapatos nos aeroportos dos EUA, com presidentes que conchavam contra a América Latina em Washington, com ex-ministros da Educação que vivem de assessorias a entidades privadas de educação que sua gestão promoveu. E sempre escribas na imprensa, dispostos à bajulação dos poderosos de plantão.

Aleluia! A burguesia tem super-heróis! Pobre país que precisa de uma burguesia assim!

*Emir Sader, professor da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), é coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da Uerj e autor, entre outros, de "A vingança da História".

 

(Em artigo publicado na Agência Carta Maior, o sociólogo Emir Sader analisa a recepção festiva que a Associação Comercial de São Paulo deu ao deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), aclamado como super-herói em meio à burguesia paulistana).

 

Bertold Brecht

 Primeiro, levaram os negros.

Mas eu não me importei com isso, eu não era negro.

Em seguida, levaram alguns operários.
Mas não me importei com isso, eu também não era operário.

Depois, prenderam os miseráveis.
Mas não me importei com isso, porque eu não sou miserável.

Depois, levaram uns desempregados.
Mas como tenho meu emprego, também não me importei.

Agora estão me levando, mas já é tarde.

Como eu não me importei com ninguém, ninguém se importa comigo

Ah, se ainda estivesse por aqui João Paulo II, o papa magno século XX, hoje santo. A direita católica italiana reagiu com páginas de horror diante daquele crucifixo "blasfemo", Cristo pregado na foice e no martelo, que o presidente boliviano Evo Morales deu de presente ao pontífice argentino.

Pouco importa se, naquelas regiões, o símbolo comunista ainda significa luta pelo trabalho, pelo pão de cada dia e pela terra (coincidentemente, as mesmas exigências de Francisco) e não a morte atroz nos gulags. Não, o essencial é descartar a primeira foto de Bergoglio diante do presente nada mais do que kitsch, aquela com o rosto perplexo, e debruçar-se, ao contrário, sobre o sorriso papal da sequência seguinte, uma verdadeira ofensa a todos os cristãos mártires do comunismo...

*Leia na íntegra. Clique aqui:

http://www.ihu.unisinos.br/noticias/544570-para-alem-de-morales-a-igreja-de-wojtyla-abencoou-pinochet

Presente com a foice e martelo é suposta reprodução de escultura do jesuíta Luis Espinal

Após visitar o Equador, o papa Francisco aterrissou quarta-feira em La Paz, na Bolívia, dando continuidade a sua agenda de visitas pela América Latina. Ali se encontrou com o presidente Evo Morales, que exerceu o papel de anfitrião e protagonizou o momento que captou as atenções nas redes sociais: seu presente ao pontífice. O presidente ofereceu a Bergoglio uma escultura de uma foice e um martelo com um Cristo crucificado, que foi recebida com certo espanto pelo Bispo de Roma. O objeto provocou críticas entre os conservadores da Igreja e mais tarde o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, tentou acalmar a situação, assegurando que o Papa "não teve nenhuma reação especial negativa" ao presente.

Mas o gesto do presidente não foi uma provocação gratuita, pois tinha muito simbolismo: segundo explicou Morales ao pontífice, o presente é uma reprodução de uma obra supostamente realizada por Luis Lucho Espinal, um jesuíta espanhol torturado e assassinado pelos paramilitares bolivianos em 1980. O presente pegou todo mundo de surpresa e, nas redes sociais, as pessoas se perguntaram que tipo de presente era esse.

Nascido em 1932 em San Fructuoso de Bages, em Barcelona, Luis Espinal tornou-se sacerdote aos 30 anos. Em 1968, chegou à Bolívia como missionário da Ordem dos Jesuítas, à qual Bergoglio também pertence. Realizou trabalhos humanitários e se interessou pela política local, apoiando a democracia e as causas sociais. Por isso foi sequestrado, torturado e morto a tiros em 21 de março de 1980.

Além de seu trabalho eclesiástico, Luis Lucho Espinal foi um grande fã do cinema, deixando uma mais de dez documentários e roteiros. Em 2007, Evo Morales declarou que 21 de março seria o Dia Nacional do Cinema, em homenagem ao assassinato do jesuíta.

De fato, em sua viagem à Bolívia, o papa Francisco visitou o lugar onde foi encontrado o cadáver de Luis Espinal e pronunciou algumas palavras. O presidente também deu sua biografia de presente a Bergogli, além do texto Libro del Mar, uma roupa de padre com bordados e um quadro da Virgen del Socavón, padroeira dos mineiros, feito com quinoa.

O Papa, por sua vez, ofereceu a Morales algo “mais simples”: uma reprodução em mosaico da obra Salus Populi Romani, que se encontra na Basílica de Santa Maria Maior; e a encíclica sobre ecologia Laudato si, Alabado seas.

Fonte: http://brasil.elpais.com

Por Carlos Gustavo Yoda*

No Nordeste brasileiro, “coronel” também é sinônimo de grandes proprietários de terra, “os coroné”, quem manda, aquele que dita as regras. Daí o termo “coronelismo”, cunhado, em 1948, no clássico da ciência política moderna Coronelismo, Enxada e Voto, do jurista Victor Nunes Leal, para dar nome ao sistema político que sustentou a República Velha (1889-1930). Entre as interpretações de documentos, legislações e dados estatísticos, o livro explica como o mandonismo local se misturava aos altos escalões das estruturas de poder.

Mais de 60 anos se passaram desde a publicação de Victor Nunes Leal. E o coronelismo de outrora ganhou novos contornos, entre eles, o chamado coronelismo eletrônico. Em período eleitoral, nada mais importante do que revisitar essa história e analisar como o controle de emissoras de rádio e televisão por políticos segue influenciando os rumos da política brasileira...

*Leia na íntegra. Clique aqui:

http://www.mensagensdofreipetroniodemiranda.blogspot.com.br/2015/07/coronelismo-antena-e-voto-apropriacao.html

Jô Soares no programa exibido na madrugada de quarta para quinta-feira, em que lamentou ameaças

Por CARLOS AMORIM

Corre solta nas redes sociais a notícia de ameaças à vida de Jô Soares, depois que ele entrevistou a presidente Dilma Rousseff na biblioteca do Palácio da Alvorada, em Brasília. O encontro foi gravado e exibido pela TV Globo depois da meia-noite do dia 12 para 13. Foi um Programa do Jô especial, com mais de uma hora de duração, em horário em que a audiência popular é baixíssima. Teve chamadas no Jornal Nacional e em todos os intervalos da programação.

Os ataques começaram pela Internet, já na noite em que a entrevista foi levada ao ar. Em seguida, um grupo de xenófobos _ainda não identificado_ fez uma enorme pichação na rua de Higienópolis (região central de São Paulo) em que vive o humorista. "Jô Soares, morra", escreveram no asfalto.

Xenofobia é igual a racismo e intolerância. E é crime previsto pelo Código Penal. Quem viu a entrevista, como o locutor que vos fala, por obrigação profissional, porque foi chatíssima, sabe que não tinha nada demais. Dilma se comunica mal e suas frases são recheadas de números vazios de significado para o grande público. Nunca brilhou como Fernando Henrique ou Lula, os grandes comunicadores do período democrático.

No entanto, Jô Soares tratou a presidente com educação e respeito, como cabe a tal gênero de entrevista. Não a interrompeu sem motivo. Não fez muita graça, negando um pouco a sua condição de humorista. Mas _pecado capital na opinião dos radicais_ deu a ela um espaço privilegiado de exposição pública, em um momento em que o governo é acuado pela crise econômica e pelas denúncias de corrupção.

O próprio Jô se defendeu, na madrugada da última quarta-feira (25), utilizando o espaço de seu próprio programa: "[A pichação] assustou as crianças do bairro".

O jornalismo da TV Globo reagiu timidamente _se é que reagiu; eu mesmo não vi nada. Algum gênio da lâmpada deve ter imaginado que defender o humorista seria defender a própria Dilma. Engano lamentável. Tratava-se da liberdade de informação. Consequência direta da crise, infelizmente, temos um país dividido. Com radicalismos cada vez mais frequentes em ambos os campos da disputa política.

Quem perde com isso? Nós, os bons, os ingênuos, aqueles que pagam impostos em dia, o público carente de informações despolitizadas (e claras) para entender o drama do país. E quem ganha com isso? Os radicais de todas as cores. Essa gente que quer ver o circo pegar fogo. Fonte: http://noticiasdatv.uol.com.br

CARLOS AMORIM é jornalista. Trabalhou na Globo, SBT, Manchete, SBT e Record. Ocupou cargos de chefia em quase todos os telejornais da Globo. Foi diretor-geral do Fantástico. Implantou o Domingo Espetacular (Record) e escreveu, produziu e dirigiu 56 teledocumentários. Ganhou o prêmio Jabuti, em 1994, pelo livro-reportagem Comando Vermelho - A História Secreta do Crime Organizado e, em 2011, pelo livro Assalto ao Poder. É autor de CV_PCC - A Irmandade do Crime. Criou a série 9 mm: São Paulo, da Fox. Site: www.carlosamorim.com

O Frei Petrônio de Miranda, Padre Carmelita e Jornalista, fala sobre o Menestrel das Alagoas, Teotônio Vilela. Comunidade Capim, Lagoa da Canoa-AL. 25 de junho-2015.

 DIVULGAÇÃO: www.mensagensdofreipetroniodemiranda.blogspot.com.

OLHAR HISTÓRICO: O Brasil, nos fins dos anos 70 e início da década de 80, apresentava sinais de cansaço do regime militar, que vigorava no país desde 1964.

Em 1979, o presidente Figueiredo assinava a Lei da Anistia, que permitiu o retorno ao país de exilados, como Leonel Brizola e Miguel Arraes. No ano seguinte, eram restabelecidas as eleições diretas para governadores de Estado.

Nesse cenário, um ex-defensor do regime militar começava a despontar como um defensor da liberdade. Teotônio Vilela foi eleito senador pela Arena, partido dos militares, mas a repressão e a truculência do regime desagradaram o usineiro de Alagoas, que mudou-se para o partido de oposição.

No MDB, assumiu a defesa incessante dos perseguidos políticos, visitando prisões, enfrentando forças repressoras e fazendo pregações cívicas por todo o Brasil. Começou a ser chamado de Menestrel das Alagoas, o que lhe rendeu uma homenagem até de Milton Nascimento e Fernando Brant. Fonte: http://www2.camara.leg.br