Insegurança alimentar no Brasil cresce mais que no resto do mundo, como mostra a FGV; pandemia e guerra só aceleraram um problema que já vinha se agravando

Com a pandemia, a desigualdade, a pobreza e a fome aumentaram no Brasil. Também aumentaram no mundo, e foram agravadas pela guerra de Vladimir Putin e ainda mais por suas ações criminosas, como o bloqueio naval do Mar Negro, o confisco de grãos e maquinários ucranianos e a retenção de estoques na Rússia. O secretário-geral da ONU alerta para um “furacão da fome”.

O paralelo pode servir de desculpa para a resignação e, pior, de pretexto para a inação do poder público brasileiro. Afinal, o Brasil não existe no vácuo e é impotente para alterar o curso das grandes engrenagens planetárias.

Mas dados cotejados do Gallup World Poll pelo pesquisador Marcelo Neri, da FGV Social, comprovam que o problema é bem maior no Brasil. Ele antecede a pandemia, e os efeitos dela no País foram mais profundos.

Entre 2019 e 2021, a parcela de brasileiros a quem, no curso de 12 meses, faltou dinheiro para alimentar a si ou a família subiu de 30% para 36%. Durante a pandemia, a insegurança alimentar no Brasil subiu 4,48 pontos porcentuais a mais do que no resto do mundo.

Mas a pandemia só acentuou um mal que se alastrava. Entre 2004 e 2013, a proporção de famílias em insegurança alimentar caiu 35,2%. Em 2014 o Brasil saiu oficialmente do Mapa da Fome. Mas no mesmo ano, com o fim do superciclo das commodities e, sobretudo, com os desmandos da gestão Dilma Rousseff, a economia embicou para a pior recessão da história recente. Entre 2013 e 2018, as famílias em insegurança aumentaram 62,3%.

Assim, se em 2014 o Brasil estava com níveis de insegurança inferiores a 75% dos 141 países pesquisados pelo Gallup, em 2021 atingiu um nível menor que 52% deles e passou, pela primeira vez na série histórica iniciada em 2006, a ter níveis piores que a média global. Tudo somado, em 7 anos a fome no Brasil dobrou.

Mas além das medianas, o choque foi brutalmente desproporcional entre ricos e pobres. Entre 2014 e 2021, a insegurança alimentar entre os 20% mais pobres cresceu quase 40 pontos porcentuais (de 36% para 75%), ultrapassando a média global (48%) e chegando a um nível próximo a países com maior insegurança, como o Zimbábue (80%). Enquanto isso, entre os 20% mais ricos a insegurança caiu três pontos (de 10% para 7%), ficando um pouco abaixo do país com menos insegurança alimentar, a Suécia (5%).

Os dados revelam ainda uma “feminização da fome” na pandemia. Entre 2019 e 2021, enquanto a insegurança alimentar caía 1 ponto porcentual entre os homens (de 27% para 26%), ela aumentava 14 pontos entre as mulheres (de 33% para 47%), possivelmente porque as mulheres foram mais afetadas no mercado de trabalho, sendo mais demandadas em casa durante o isolamento social e o fechamento das escolas. A diferença entre gêneros no Brasil é hoje 6 vezes maior do que a média global.

A combinação dessas mazelas é catastrófica. A insegurança alimentar está mais concentrada em indivíduos de meia-idade, mulheres e pobres, que moram em domicílios com maior número de crianças. A fome é um sofrimento infernal para adultos e crianças. Mas a subnutrição infantil deixa sequelas físicas e mentais por toda a vida.

A desgraça é, antes de tudo, humanitária, mas também socioeconômica. Entre outros efeitos, os problemas de alimentação brasileiros estão associados à prevalência de doenças crônicas, baixo desempenho escolar e baixa produtividade no trabalho. A fome no presente depaupera o futuro.

A guerra deve agravar a inflação e a escassez de alimentos no mundo nos próximos meses. Mais uma vez, o problema tende a ser magnificado pelas precariedades econômicas peculiares do Brasil. A inflação de 12 meses chega a 12%, e para a classe mais baixa está 1,9% acima da mais alta. Os juros sobem e o desemprego persiste nos dois dígitos. A estagflação foi pior para os mais pobres e tende a piorar.

A tragédia é ainda mais chocante quando se considera que se passa no “Celeiro do Mundo”. Ou seja: não falta comida no Brasil. Faltam renda, emprego, programas emergenciais e solidariedade. Se há uma pauta primordial para as eleições, é a fome. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br

O jornalista francês Frederic Leclerc-Imhoff, de 32 anos, morreu durante um bombardeio russo nos arredores da cidade ucraniana de Severodonetsk, na região de Luhansk, nesta segunda-feira, 30, confirmaram fontes do governo e da emissora francesa BFM TV.

De acordo com a emissora de notícias francesa, Leclerc-Imhoff foi morto enquanto cobria “uma operação humanitária em um veículo blindado” perto de Severodonetsk. O jornalista trabalhou por seis anos para o canal de televisão francês.

A primeira informação sobre a morte do jornalista veio de autoridades ucranianas. Segundo o governador de Luhansk, Serhi Gaidai, o transporte blindado em que Imhoff estava foi atingido por estilhaços de um projétil russo, que teriam perfurado a blindagem do veículo.

O conselheiro do Ministério do Interior ucraniano, Anton Gerashchenko, disse que outro jornalista francês ficou ferido, assim como uma mulher ucraniana que os acompanhava.

Gaidai confirmou a versão francesa de que o jornalista acompanhava uma operação de retirada de civis do novo front da guerra na Ucrânia, no leste do país. As operações de retiradas foram suspensas em razão dos confrontos.

O presidente Emmanuel Macron prestou homenagem a Leclerc-Imhoff no Twitter. Ele “estava na Ucrânia para mostrar a realidade da guerra. A bordo de um ônibus humanitário, ao lado de civis forçados a fugir para escapar das bombas russas, ele foi morto a tiros’', tuitou Macron.

Macron expressou condolências à sua família, parentes e colegas e falou do “apoio incondicional da França” aos “que cumprem a difícil missão de informar nos palcos de operações”.

Antes da confirmação do nome do jornalista à imprensa, a ministra das Relações Exteriores da França, Catherine Colonna, já havia se manifestado e cobrado uma investigação sobre o caso. “A França exige que uma investigação seja realizada o mais rápido possível e com transparência sobre as circunstâncias desse drama”, disse Colonna em comunicado.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, Oleg Nikolenko, classificou o caso como mais um “crime de guerra” russo contra profissionais da imprensa que trabalham na cobertura do conflito no país.

“As Forças Armadas da Rússia bombardearam um veículo que deveria participar da retirada de civis da zona de guerra perto de Severodonetsk. Um jornalista francês que cobria a missão foi morto. Nós condenamos enfaticamente essa morte. A lista dos crimes de guerra da Rússia contra trabalhadores da imprensa na ucrânia continua crescendo”, escreveu Nikolenko em uma publicação no Twitter repostada pelo perfil do ministério. Fonte: https://www.estadao.com.br 

 

O governo de Pernambuco atualizou no início da tarde deste domingo (29) o número de vítimas fatais após as fortes chuvas que castigaram o estado neste final de semana. Agora, de acordo com os registros da Central de Operações e do Centro Integrado de Comando e Controle Regional (CICCR), da última quarta-feira (25), até este domingo, 56 pessoas perderam a vida. 

Além disso, o balanço também contabilizou o desaparecimento de outras 56 pessoas nos municípios de Recife e Olinda. Em todo o estado, 3.957 estão desabrigadas, a maior parte delas nos municípios da Região Metropolitana e na Mata Norte. Apenas no Recife, 2.045 pessoas estão abrigadas em 35 equipamentos públicos espalhados em 22 bairros da capital pernambucana. 
Neste domingo (29), equipes formadas pelas forças de segurança estaduais, Exército e a Marinha estão atuando em 12 pontos de deslizamento, com o auxílio de cães farejadores e equipamentos. Até a madrugada deste domingo, o Grupamento de Bombeiros Marítimos (GBMAR) havia realizado o resgate de 593 vítimas ilhadas em várias localidades da RMR.  Desde a sexta-feira (27), foram registrados mais de 46 mil chamados ao 193. Fonte: https://www.diariodepernambuco.com.br

Dupla que viajava as Américas de carro sofreu acidente nos EUA

 

 

Jesse e Shurastey nos Estados Unidos - @shurastey_ no Instagram

 

SÃO PAULO

O influencer brasileiro Jesse Koz, 29, e o golden retriever Shurastey, 6, que morreram nesta segunda-feira (23) em consequência de um acidente de trânsito nos Estados Unidos, viajavam pelas Américas de carro desde 2017.

A meta era chegar em setembro ao Alasca. Jesse e Shurastey saíram de Balneário Camboriú e faziam o trajeto a bordo de um Fusca. Durante o percurso, dormiam em camping ou conseguiram abrigo até de pessoas desconhecidas.

Em conversas com a reportagem meses após pegar a estrada, Jesse ressaltava os amigos que faziam pelo caminho e a parceria com o cachorro. "O Shurastey me proporcionou momentos muito engraçados na viagem."

O primeiro desses momentos foi ainda em 2017, quando Shurastey foi perseguido por cavalos. "Estávamos acampando perto de Gramado, em uma fazenda, e ele foi perto de uns cavalos enquanto eu montava a barraca. Os cavalos não gostaram muito e saíram correndo atrás dele. Ele sumiu, e eu não conseguia parar de rir; e ele ia sumindo no horizonte... Desde então, quando eu falo 'ó o cavalo' ele se levanta dentro do Fusca", contou na ocasião.

Ainda nessa primeira etapa da jornada, outro momento foi marcante para o influencer: quando a dupla caminhava sobre um rio congelado em El Calafate (extremo sul da Argentina),mas Shurastey se afastou, o gelo quebrou e ele caiu na água gelada.

Isso, no entanto, não afetou a saúde do pet, que seguia a viagem "com muita saúde e disposição" e sempre tranquilo.

Jesse, na ocasião, disse que a receptividade era boa por onde passavam. "Uruguaios, argentinos, chilenos, paraguaios. Sempre nos receberam muito bem, e tivemos muitos momentos bacanas e divertidos."

O rapaz trabalhava como vendedor antes de decidir entrar no Fusca com o amigo peludo. O nome do golden foi inspirado na música "Should I Stay or Should I Go", da banda The Clash.

"Esse sempre foi o nome dele. Esse nome surgiu de uma brincadeira com alguns amigos, quando apareceu um cachorro de rua e ficamos discutindo qual seria o nome do cachorro e eu disse: Shurastey ou Shuraigow? A galera riu, e eu falei que quando tivesse um cachorro ele se chamaria Shurastey. Assim foi", contou Jesse à reportagem meses após o percurso.

No ano seguinte, quando a dupla cruzava o Brasil, o influencer disse que estava em busca de apoio para uma jornada despreocupada. Questionado se estava tudo bem com o Fusca 1978, chamado Dodongo, o rapaz reagiu: "Não, nunca está tudo bem com ele kkkkkkkk Sempre tem coisas pra fazer".

Pelas redes, Jesse compartilhava a rotina com Shurastey e fotos de paisagens e dos perrengues. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

 

MARCOS LEANDRO - ESPECIAL PARA O ESTADÃO

Jesse Koz e seu companheiro estavam a dois dias do destino

 

Conhecidos por viajar o mundo dentro de um fusca, Jesse Koz, de 29 anos, e o cachorro Shurastey estavam a caminho do Alasca quando sofreram um acidente em Oregon, nos Estados Unidos, e morreram nesta segunda-feira, 23.

De acordo com a imprensa local, Jesse tentou fugir de um engarrafamento, mas acabou perdendo o controle do veículo e batendo de frente com o carro de Eileen Huss, de 62 anos, na pista contrária. A mulher precisou ser levada ao hospital e a criança que estava com ela não sofreu ferimentos. 

Faltavam dois dias para a dupla chegar ao destino. Em seu Instagram, o influenciador compartilhava registros da viagem ao lado do seu parceiro. Na última foto do perfil, publicada há seis dias, eles estavam na ponte Golden Gate, em São Francisco, na Califórnia.

A viagem fazia parte de um projeto chamado "Shurastey or Shuraigow?", que era uma brincadeira com a música Should I Stay or Should I Go, da banda The Clash, que em tradução significa "Devo Ficar ou Devo Ir".

Os dois viajavam desde 2017 com o carro com placa de Balneário Camboriú que ganhou o apelido de Dodongo. Ao longo desse tempo, eles conheceram 16 países. Fonte: https://emais.estadao.com.br

Com número crescente de casos em países de diferentes continentes, autoridades de saúde direcionam esforços para entender por que o vírus passou a apresentar um comportamento inesperado

 

Por Bernardo Yoneshigue — Rio de Janeiro

Desde o início de maio, a varíola dos macacos, causada pelo vírus monkeypox, tem se tornado uma preocupação mundial enquanto ao menos 16 países fora das regiões da África Central e Ocidental – onde o vírus é endêmico – registraram casos da doença. O patógeno, semelhante à varíola que foi erradicada em 1980, embora mais raro e com quadros mais leves, costumava ser identificado nesses locais apenas em diagnósticos pontuais de pessoas que haviam viajado para o continente africano. Porém, pela primeira vez, uma série de nações relatam casos decorrentes de transmissão local, em um surto inesperado que não foi totalmente compreendido pela ciência ainda.

Os principais pontos que intrigam os especialistas são em relação à transmissão da doença, que até então era considerada limitada entre pessoas, e à identificação repentina de casos em todo o mundo, ao mesmo tempo. O cenário acende o alerta de autoridades de saúde, que monitoram de perto os casos que se multiplicam dia a dia. Ainda assim, especialistas ressaltam que a vacina para a varíola tradicional é até 85% eficaz para prevenir os casos da nova versão e que a doença não deve provocar uma situação como a da Covid-19.

Entenda em sete pontos os mistérios que envolvem o surto da doença:

 

1 – Mutação do vírus

A principal pergunta que intriga os especialistas é por que o vírus está se comportando de maneira diferente daquela esperada. Isso porque, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a transmissão acontecia de forma esporádica em regiões específicas da África, e de animais para pessoas. A contaminação entre seres humanos, embora possível, era considerada “limitada” pela instituição.

— Só que agora, nestes países, está havendo a confirmação de casos secundários, ou seja, em pessoas que não viajaram a áreas endêmicas se contaminando por outras pessoas. O que é um comportamento altamente inusitado para esse vírus, é a primeira vez que isso é relatado nesses lugares — explica o doutor em doenças infecciosas e parasitárias Marcelo Burattini, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Alguns especialistas sugerem que pode ter ocorrido uma mutação no vírus que teria afetado o seu comportamento. Pesquisadores de Portugal, onde já são mais de 30 casos detectados da varíola dos macacos, sequenciaram genomas de nove casos da doença. Os resultados, divulgados ontem, indicaram trocas de 50 bases nitrogenadas no código genético dos vírus, em comparação a amostras de 2018 e 2019. Embora seja pouca diferença em termos de genética, é “muito mais do que se esperaria considerando a taxa de substituição estimada para Orthopoxviruses”, dizem os cientistas.

— Talvez não tenham sido sequenciadas amostras suficientes em 2018 e essa variabilidade só não tinha sido detectada. Ou foram de fato mudanças e que aconteceram de forma rápida, em apenas quatro anos. Nesse caso seria muito surpreendente porque esse vírus tem DNA como material genético e, por isso, uma baixa taxa de mutação. A questão é entender se isso trouxe alguma consequência para o comportamento do vírus, o que não sabemos — explica o médico geneticista Salmo Raskin, diretor do laboratório Genetika, em Curitiba.

Ainda assim, ontem, um executivo sênior da OMS afirmou que a organização não tem evidências de que o vírus da varíola de macacos tenha sofrido mutação e que são necessários mais sequenciamentos genômicos para compreender a doença.

 

2 – Velocidade na disseminação

Um índice utilizado para medir a velocidade de transmissão de determinado vírus é o R0. Ele indica quantas pessoas devem ser infectadas por cada paciente contaminado. Se está acima de 1, portanto, mostra que a doença está em crescimento naquela população. Porém, ainda não se sabe qual é R0 durante o surto que está sendo registrado em diversos países do mundo, uma vez que os casos ainda são muito recentes.

— Esse é um dos maiores mistérios, o número inesperado de casos e a dispersão rápida por diferentes países e continentes. Essa é uma doença que não deveria ter esse comportamento — explica Burattini.

 

3 – Tempo de contaminação

As informações sobre o tempo em que uma pessoa permanece infectada e contaminando outras pessoas também não são definitivas. Embora estimativas sugerem que a infecção pode durar de 2 até 6 semanas, contando com o tempo de incubação do vírus, não se sabe exatamente em que momentos desse período a pessoa pode infectar outras.

— O problema é que o tempo de incubação (período entre infecção e surgimento de sintomas) pode durar até três semanas. Nesse tempo, a pessoa estaria transmitindo? É o caso também de pessoas infectadas que têm quadros clínicos muito leves ou até mesmo assintomáticos, não sabemos se elas poderiam transmitir — pontua Raskin.

Ainda assim, a Bélgica estipulou uma quarentena obrigatória de 21 dias para os contaminados, tempo também considerado pelo Reino Unido em sua recomendação de isolamento para infectados.

 

4 –Transmissão pelo ar

Até então, se sabia que o vírus poderia ser transmitido por gotículas, mas era necessário um contato muito próximo, cara a cara, com uma carga viral muito alta e por bastante tempo, o que torna esse meio de contaminação ainda mais raro.

Porém, o aumento repentino no número de casos entre pessoas que não se conheciam pode estar ligado a uma maior facilidade nas formas de infecção. Não se sabe ainda se é o caso de uma transmissão por vias respiratórias como acontece com a Covid-19, mas autoridades de saúde pelo mundo investigam a possibilidade.

— Em tese, isso seria possível no caso de uma mutação, mas o que estamos observando são casos que pessoas que contraíram pelo contato físico muito próximo. Não há relatos, por exemplo, de pessoas que se infectaram por estarem num mesmo avião, que teria a circulação pelo ar — diz Raskin.

 

5 – Transmissão sexual

Na Espanha, a maioria dos casos foram ligados a um estabelecimento destinado a relações sexuais. Em outros países, relatos também indicam que a grande maioria dos diagnósticos está ocorrendo em homens gays, bissexuais e homens que fazem sexo com outros homens (HSH).

Apesar de as informações indicarem uma transmissão via sexo, não se sabe ainda se o vírus está presente em locais do corpo como fluidos genitais e no sêmen. Apenas nesse caso ele seria caracterizado como uma infecção sexualmente transmissível, explica Burattini. No entanto, o perfil de contaminação intriga cientistas.

— As investigações estão em andamento. Isso é compatível com uma doença que é transmissível por secreção corporal, mas nunca foi relatado esse tipo de comportamento, então ainda tem muitas interrogações a respeito — diz o infectologista.

 

6 – Quem é o caso zero

Embora o primeiro caso registrado pelo Reino Unido, no início do mês, tenha sido em um homem que viajou à Nigéria, os demais diagnósticos, todos por transmissão local, não apresentaram relação com o paciente. Além disso, um dos casos identificados em Portugal foi em uma amostra coletada anteriormente ao relato britânico. Por isso, apesar de os países terem começado a anunciar registros da doença no mesmo período, não se sabe ainda se há de fato relação entre eles e qual é a origem exata do surto.

Raskin explica que a expectativa é de que a infecção nos diferentes países sejam sim relacionadas, devido à extrema coincidência, mas que isso só vai ser confirmado com o sequenciamento genômico dos diagnósticos.

— Eventualmente é possível mapear esse ponto de origem por meio da genética. Com uma comparação desses sequenciamentos dos genomas de todos os casos, em breve vamos conseguir descobrir a relação entre eles, se de fato vieram todos do mesmo lugar — explica o geneticista.

 

7 – Quem se infecta

O perfil dos infectados nos países tem sido majoritariamente de homens jovens que fazem sexo com outros homens. Porém, não se sabe ainda se há algum fator atípico influenciando esse comportamento, uma vez que o contato íntimo é uma via de transmissão conhecida que pode afetar a todos.

— A transmissão é fundamentalmente por contato direto, por meio da secreção das vesículas, que são essas espécies de bolhas que surgem na pele, ou por contato muito próximo — explica Burattini.

Ainda assim, o perfil dos infectados levou o diretor-geral adjunto da OMS para intervenções de emergência, Ibrahima Socé Fall, a afirmar que se trata de “uma nova informação que devemos estudar adequadamente para compreender melhor a dinâmica (do contágio)”. Isso porque, embora reconhecida, a transmissão entre pessoas não era comum, especialmente ligada ao ato sexual.

Outro ponto relacionado à população que passa por investigação é saber se quem recebeu a vacina da varíola tradicional há mais de 40 anos, que é eficaz para essa versão, estaria protegido. Isso porque a ciência não sabe por quanto tempo essa imunidade dura, e ela deixou de ser aplicada após a erradicação em 1980.

— Existem estudos que indicam pelo menos 20 anos de proteção, outros menos. Como a varíola foi extinta, deixou-se de investir nesse tipo de estudo. Até porque sem a doença, não tem como averiguar a eficácia na prática. É uma das perguntas que precisa ser respondida — afirma Raskin. Fonte: https://oglobo.globo.com

 

Argentina registrou os primeiros casos suspeitos neste domingo

 

Roberta Jansen, O Estado de S.Paulo

RIO - A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) está pedindo reforço de medidas não farmacológicas, como distanciamento, uso de máscara e higienização frequente de mãos, em aeroportos e aeronaves, para retardar a entrada do vírus da varíola dos macacos no Brasil. Desde o início do mês, ao menos 120 ocorrências da doença foram confirmadas em 15 países. O Ministério da Saúde instituiu ontem uma sala de situação para monitorar o cenário da monkeypox no Brasil. 

A rara doença pode chegar nos próximos dias, segundo especialistas ouvidos pelo Estadão. No domingo foram registrados casos suspeitos na vizinha Argentina. A varíola dos macacos é, na verdade, doença original de roedores silvestres, mas isolada inicialmente em macacos. É frequente na África, mas de ocorrência muito rara em outros continentes.  

Cientistas acreditam que o desequilíbrio ambiental esteja por trás do atual surto, mas não veem razão para pânico. “Acho muito difícil que (a doença) não chegue aqui”, afirmou o presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, José David Urbaez. “Mas se trata de uma doença considerada benigna.” Além disso, existem tratamento e vacinas. Fonte: https://saude.estadao.com.br

Claudio Considera

A surpreendente onda de frio dos últimos dias – que chegou até a cidades quentes, como Goiânia, Cuiabá e Rio de Janeiro –, demonstrou, mais uma vez, como nossa desigualdade socioeconômica é cruel e crônica.

Multiplicaram-se vídeos de crianças de pés descalços e sem agasalhos, idosos em casas com portas e janelas precárias, grávidas tremendo de frio e fome.

Sem emprego nem salários, não há comida, roupas quentes e muito menos moradias dignas para enfrentar queda de temperaturas. Além disso, o consumo dos pobres e de classe média baixa, a maior parte da população, nunca foi considerado mercado prioritário por aqui. Na maioria das vezes, pagamos caro por produtos de má qualidade.

Se o desequilíbrio ambiental nos obrigar a conviver com extremos de calor e de frio, a desigualdade ficará muito pior. A solidariedade ajuda, é claro, e há muitos bons exemplos disso.
Mas o que resolveria mesmo seria uma mudança estrutural que gerasse trabalho e renda, ainda longe de nosso horizonte como nação. https://oglobo.globo.com

 

 

A ação, que entrará em vigor no fim de junho, também vale para o Instagram

 

Levy Teles

O Meta, empresa responsável pela gestão do Facebook, Instagram e WhatsApp, anunciou, nesta quinta-feira, 19, a expansão das políticas de transparência em anúncios sobre temas sociais no Brasil, mais uma medida da plataforma para as eleições de 2022 no Brasil.

Perfis e páginas que quiserem veicular anúncios nas áreas de direitos civis e sociais, crime, armas, economia, educação, política ambiental, saúde, valores políticos e governança, imigração, segurança e política externa precisarão passar por um processo de autorização e as publicações terão um rótulo que indica quem está pagando por aquele anúncio. As medidas entrarão em vigor em junho.

Os rótulos já estão em atividade para anúncios de cunho político ou de eleições desde 2018 e passaram a ser obrigatórios em 2020. Como mostrou o Estadão, o recurso é usado por deputados federais e pré-candidatos à Presidência da República.

Qualquer usuário pode ter acesso às informações na biblioteca de anúncios, que armazena as publicações. É possível ter acesso a dados sobre a faixa etária, gênero e localidade do público alcançado nesses conteúdos.

“Mais transparência gera interações mais autênticas e anúncios mais autênticos”, disse a gerente de programas de resposta estratégica do Meta, Debs Delbart. “Entendemos que quando mais transparência na plataforma, mais as pessoas vão utilizar os nossos serviços de forma responsável, porque os dados estarão disponíveis para a consulta de todos.”

Quando a medida entrar em vigor, qualquer anúncio que passe sobre temas sociais, política e eleições no Facebook e Instagram e não tiver um dos rótulos poderá ser removido e ficará arquivado na biblioteca de anúncios durante sete anos.

Segundo Debs Delbart, a lista de categorias sociais não foi ainda divulgada para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e adiciona que os temas da lista podem passar por ajustes à medida que avançar o ano eleitoral.

A plataforma terá a ajuda de inteligência artificial e de uma equipe baseada no Brasil e um grupo internacional dedicados à regulação desse conteúdo. Usuários também podem fazer denúncias. A nível global, informa Delbart, a ferramenta já foi usada nas eleições das Filipinas, que ocorreram em maio deste ano, no México e Chile. Fonte: https://politica.estadao.com.br

Instituição religiosa  se recusou a batizar João Pedro Poderoso no dia da cerimônia por ser casado com outro homem; caso está sendo investigado 

 

Fotógrafo João Pedro Poderoso e o marido Jadson Santana. Foto: Reprodução / Arquivo pessoal

 

Júnior Moreira Bordalo

O fotógrafo João Pedro Poderoso usou suas redes sociais no último final de semana para acusar a Igreja Presbiteriana Renovada de Aracaju, na capital de Sergipe, de homofobia. A vítima alegou que a instituição evangélica se recusou a batizá-lo por causa de sua orientação sexual e que, desde então, vem recebendo ataques de ‘fieis fervorosos’, que os acusam de tentar mudar as regras da religião. O sergipano é casado com o cabeleireiro Jadson Santana.  

A celebração estava marcada desde o início de abril, mas o fotógrafo só teria sido avisado do “veto” diante da igreja lotada no domingo, 15. Em entrevista ao Estadão, Poderoso garantiu que participou de um curso preparatório de seis semanas e em nenhum momento foi informado que não poderia se batizar. “ Assisti o culto; deu-se início a cerimônia de batismo e uma moça subiu ao altar; falou com a filha do pastor, trocou as folhas, e, em seguida, o líder da igreja me chamou dizendo que o pastor queria falar comigo”. 

“Fui para essa sala, chegando lá estava o pastor auxiliar. Trancou a porta e disse: ‘devido a um erro de comunicação, você não poderá se batizar por ser gay e casado com outro homem”, narrou. Ele contou que ficou em “choque” com a situação. “Como o pastor só veio saber [do meu matrimônio] agora se a filha e esposa dele frequentam o salão do meu esposo? Sem contar que nosso casamento foi algo com muita repercussão na cidade”, relembrou. Juntos há dois anos, Poderoso oficializou o relacionamento com Jadson no dia 30 de abril deste ano. 

De criação católica, o fotógrafo explicou que passou a frequentar a Família Renovada justamente por causa do — então — namorado, que já congregava no espaço há dois anos. “Como estávamos juntos e acreditamos que um casal tem que seguir o mesmo caminho, decidi ir com ele. Não tinha como a igreja não saber da nossa relação”, indicou.

Após o relato, o caso ganhou repercussão na internet e, um dos pastores da igreja, Jeter Andrade, veio a público reforçando que a instituição está na cidade há 40 anos com a “convicção baseada na Bíblia. “Não somos guiados por discriminação, desrespeito e temos provado isso em cada ano”, falou. 

“Em um dos cursos da nossa igreja, o Primeiros Passos, começamos a ensinar verdades básicas sobre a palavra de Deus. Na terceira lição, falamos sobre família e sexualidade, o que acreditamos de acordo com a palavra de Deus […] Todos são muito bem vindos à Família Renovada, mas nós não abrimos mãos dos princípios e valores da palavra de Deus”, prosseguiu o religioso.

Poderoso registrou um Boletim de Ocorrência no Departamento de Atendimento a Grupos Vulneráveis (DAGV) do município. “Espero que a justiça seja feita; que eles possam de algum modo responder por tudo isso; pelo constrangimento que me fizeram passar”. Com a situação, eles decidiram deixar de frequentar o espaço. “Não podemos estar em lugar que não somos aceitos. Acreditávamos fazer parte, era só ilusão”. 

Nesta quarta-feira, 18, ele se reuniu com um defensor dos direitos humanos para pedir auxílio, já que, desde a divulgação, disse estar enfrentando a pressão da igreja e ataques nas redes sociais. “Fieis dizendo que quero mudar as regras; destruir o que já está posto. Jamais quis isso. Estão a todo custo tentando me colocar como culpado da situação”, lamentou. “Fiquei altamente abalado. Não precisávamos dessa exposição, temos nossa vida estável. Só queríamos seguir com o alinhamento que defendíamos”, confessou. 

 

 

COM A PALAVRA, A IGREJA PRESBITERIANA RENOVADA DE ARACAJU

A Igreja Renovada de Aracaju divulgou uma nota alegando que comunicação feita com o fotógrafo a respeito da impossibilidade de seu batismo se deu de modo reservado, em espaço privativo, na secretaria da igreja, sem publicitação das razões do impedimento, com o objetivo a evitar qualquer tipo de constrangimento. Confira: 

“A Igreja Presbiteriana Renovada de Aracaju (IPRA) vem, através da presente Nota Pública, com respeito aos fatos ocorridos no domingo, 15, ao final da celebração dominical da manhã, informar que:

1 – A IPRA é uma igreja presente na sociedade sergipana há 40 anos, servindo ao Senhor acima de todas as coisas e amando ao próximo, conforme a Palavra de Deus nos ensina;

2 – Em todo este tempo, temos dado testemunho do amor de Cristo, recebendo e acolhendo a todos aqueles que nos procuram, sem qualquer distinção ou discriminação. Por nossos cultos, ao longo de todos esses anos, passam milhares de pessoas, sendo vidas impactadas, transformadas e restauradas. Grande parte dos que nos visitam, semanalmente, são membros ativos da IPRA, vinculados aos princípios e preceitos dos nossos Estatutos e principalmente da Bíblia Sagrada. Outros, congregam, mas não tomam parte da membresia da Igreja, sendo visitantes, frequentadores, todos com livre acesso e acolhidos com amor e cuidado;

3 – Para ser batizado e, posteriormente, membro da igreja, seguindo o que está definido em nosso Estatuto e nas Sagradas Escrituras, é necessário o atendimento de certos requisitos, conforme cada congregado ou visitante aprende no curso ‘Primeiros Passos’, onde se tem a oportunidade de conhecer profundamente os ensinamentos da Palavra de Deus e as normas da nossa IPRA;

4 – Neste domingo, um congregado, candidato ao batismo, por não estar apto, segundo as normas internas da IPRA e nossa regra máxima de fé e prática, a Bíblia Sagrada, não pôde participar do ato batismal”.

 

COM A PALAVRA, A IGREJA PRESBITERIANA RENOVADA DO BRASIL

Em nome de suas Diretorias Executiva e Administrativa, a Igreja Presbiteriana do Brasil tornou público o “apoio e solidariedade” à Igreja Presbiteriana Renovada de Aracaju. Em nota, a ordem justificou que a “A Igreja e o seu pastor Marcos Pereira de Andrade têm o respaldo da Constituição Federal, do Código Cil do Estatuto e Regimento interno da IPRB e do Acórdão do STF na Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão – ADO 26, sendo que a Constituição Federal o imperativo princípio da liberdade religiosa”.

“A IPR de Aracaju, subordinada ao Estatuto e Regimento Interno da IPRB, tem a Bíblia Sagrada como única regra de fé e prática, seus valores e princípios, sendo contrária a quaisquer atos de intolerância, discriminação, preconceito ou desrespeito, cuja mensagem precípua é o compromisso de amor a Deus sobre todas as coisas e o próximo”. Fonte: https://politica.estadao.com.br

Seres humanos gostam de criar normas, porém possuem um prazer maior em quebrá-las

 

Leandro Karnal, O Estado de S.Paulo

Nossos códigos morais e jurídicos defendem a fidelidade conjugal. A tradição prega a construção de uma muralha ao redor de um casal. A norma proclama e a natureza reclama. Quase todo mundo percebe que corpo e alma não falam a mesma língua. 

No livro do Deuteronômio (5,18), está dado como mandamento: não cometerás adultério. Gosto também da tradução antiga: não fornicarás. No inglês formal do século 17, a Bíblia do Rei James repete: Neither shalt thou commit adultery. O “neither” relembra que a lista de interditos começou antes, inclusive a proibição de matar no versículo precedente.

A norma funciona como todo princípio, solene ou trivial: fala do ideal. Descendo ao cotidiano, a nutricionista diz tudo que faz bem ao meu corpo e percebo que meu paladar parece me afastar do caminho correto. Aparentemente, fidelidade é água, alface, rúcula e sopa de chuchu; adultério é doce de leite, pastel frito, picanha e uma garrafa de bom vinho. A Bíblia também diz que o salário do pecado é a morte (Rom 6,23). Da mesma forma, a consequência da mesa livre é a gordura no fígado, o sobrepeso e o desgaste crescente da articulação do joelho...

Seres humanos gostam de criar normas, porém, acima de tudo, possuem um prazer maior em quebrá-las. Regras seduzem para a contravenção. Basta meu exame de sangue exigir um jejum que toda a fome do mundo me assalta naquela noite. Minha experiência com grupos: anuncie que, devido às características daquela estrada no interior da Mongólia, não poderemos parar para banheiro com 20 minutos. Pronto! Todos são atacados de cistite galopante e parece que tomaram diuréticos aos litros. Surge o desespero e necessitamos de boas soluções em pleno deserto de Gobi. Sim, os degredados filhos de Eva continuam focados na única árvore proibida e ignoram o vasto pomar a sua frente. 

Quem dá aula sabe que toda norma contém, dialeticamente, seu pedido de exceção em sala de aula. Grupos de três? Pode quatro? Pode! E cinco? Como verifiquei ao vivo, aumentar as regras de uma prova provoca novos problemas. Respondam em ordem? Surge a pergunta: crescente ou decrescente? Mesmo princípio dos casamentos: sejam fiéis, casais! Pode ser grupo de três?

Seria nossa natureza? Machado de Assis coloca na boca de Deus a opinião: “Que queres tu, meu pobre Diabo? As capas de algodão têm agora franjas de seda, como as de veludo tiveram franjas de algodão. Que queres tu? É a eterna contradição humana”. Nos seres humanos eu tenho esperança média, porém em Machado deposito toda a minha confiança futura em melhorar minha maneira de escrever. Fonte: https://cultura.estadao.com.br

Documentário do Funcas reflete como o treinamento é essencial para evitar o "lado negro" da rede

 

CERVOS WATSON

Diz a psicóloga Julia Brailovskaia, do Centro de Pesquisa e Tratamento em Saúde Mental da Ruhr-Universität Bochum, que o smartphone e o restante dos dispositivos de acesso à internet são “uma bênção e uma maldição”. Segundo relatório da FAD Youth Foundation, é uma ferramenta fundamental e diária de comunicação (84,1%), busca de informações (83,6%) e lazer (79,9%). Mas, como qualquer ferramenta, ela precisa de um manual de instruções que, se ignorado, pode levar ao estresse, vício, imagens irreais, frustração, perda de autoestima, redução da atividade física, isolamento e desinformação que condiciona a visão de mundo e a tomada de decisão . De acordo com os especialistas que participaram do documentário Gosto / não gosto, produzido pelo centro de pesquisas econômicas e sociais Funcas e Deer Watson Films, a tecnologia está aí e a solução não é ignorá-la, mas saber usá-la.

Brailovskaia, principal autor de um estudo no Journal of Experimental Psychology: Applied, aponta uma primeira medida: “Não é necessário abrir mão do celular para se sentir melhor. Deve haver um uso diário ideal.” De acordo com os resultados deste estudo, quem reduz a sua utilização em pelo menos uma hora por dia regista melhorias no bem-estar.

Mas a redução do tempo de uso é uma solução obviamente temporária, parcial, insuficiente e ineficaz, pois o uso da Internet é inalienável. O mais importante é que, quando usado, se saiba como funciona e quais efeitos produz. Uma equipe da Universidade de Yale publicou um estudo na Science Advances no qual identifica um mecanismo perverso das redes sociais pelo qual, segundo Molly Crockett, do Departamento de Psicologia e coautora do trabalho, “as plataformas refletem o que está acontecendo na sociedade , mas também criam incentivos que mudam a forma como os usuários reagem ao longo do tempo.”

Desta forma, a pesquisa reflete como as redes podem ser uma fonte de bem social, motivando a cooperação, estimulando a mudança ou promovendo a recriminação de certas atitudes (como o machismo ou a xenofobia). Mas também, segundo os autores, “ tem um lado sombrio , contribuindo para o assédio de grupos minoritários, a disseminação de desinformação e a polarização política”.

O efeito perverso que carrega de um lado para o outro, segundo este estudo, baseia-se no fato de que os usuários cujas opiniões são mais compartilhadas ou recebem mais "curtidas" são aqueles com um discurso menos construtivo. Os usuários detectam esse viés e, de acordo com Crockett, "grupos moderados podem se radicalizar com o tempo".

Outro experimento nesse sentido, realizado pela Universidade de Nova York e publicado na Nature Communications, simulou uma rede social e descobriu que quem recebia mais reações tendia a postar mais. “Nossas descobertas podem ajudar a entender melhor por que as redes sociais dominam a vida cotidiana de tantas pessoas e também podem fornecer pistas para lidar com o comportamento excessivo online”, diz Björn R Lindström, da Universidade de Amsterdã e principal autor do estudo. Artigo.

Com estas duas experiências, antecipam-se as causas da maior dependência das redes e como isso condiciona o que se publica, que persegue mais adesões e reações do que a comunicação convencional e mesmo que não seja real.

Nesse sentido, a atriz Marta Etura, que já participou do documentário Curtir/não gostar sem filtros e com a imagem mais natural, explica: “As redes sociais têm uma parte que não gosto: mostrar apenas o que é bonito. A sociedade tende a classificar os sentimentos como bons ou ruins, bonitos ou feios e nos convida a criar uma realidade paralela que não é real e pode causar confusão quando se está em um lugar vulnerável ou em fase de desenvolvimento, como é o caso dos adolescentes”. Fonte: https://elpais.com/tecnologia

 

País deve mirar avanço da condição, que pode atingir 30% dos adultos em 2030

 

Nas duas últimas décadas, o aumento do sobrepeso e da obesidade na população brasileira vem configurando uma tendência tão consistente como preocupante.

Em 2006, quando a Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico foi realizada pela primeira vez, 43% dos adultos encontravam-se acima do peso, isto é, com IMC (índice de massa corporal, peso dividido pelo quadrado da altura) entre 25 e 30, e 12% eram obesos (IMC acima de 30).

Hoje tais percentuais são de 57% e 22%, respectivamente.

A seguir nessa toada, o Brasil deverá ter, em 2030, cerca de 30% da população adulta obesa, segundo projeção da World Obesity Federation (organização voltada para prevenção da obesidade), tornando-se, em números absolutos, a quarta nação do mundo com mais pessoas com excesso de peso, depois de EUA, China e Índia.

É particularmente alarmante o ritmo de aumento da obesidade entre crianças e adolescentes. Esta deve crescer, em média, 3,8% ao ano, de 2010 a 2030, alcançando um total de 7 milhões de jovens —número classificado como muito alto pelo órgão internacional.

Esse enorme contingente tende a, no futuro, permanecer nessa condição, podendo vir a desenvolver alguns dos diversos males associados ao excesso de peso, como hipertensão e diabetes —para nada dizer do risco aumentado de complicações e mortes por Covid-19, como se constatou.

Atualmente, cerca de 9% da população com mais de 18 anos convive com diabetes e 26% apresenta hipertensão, num crescimento de 11,5% e 7,5%, respectivamente, ante o período anterior à pandemia.

Além de problemas individuais, o aumento da obesidade acarreta ainda uma série de impactos econômicos, tanto de forma direta, nos gastos do sistema hospitalar, como indiretas, caso da redução de capacidade produtiva.

Esse custo, calculado pela World Obesity Federation para o Brasil em US$ 39 bilhões, poderia mais que quadruplicar até 2060, chegando a US$ 181 bilhões. Mas as cifras, quaisquer que sejam, importam menos que a política de saúde.

O poder público tem um papel a desempenhar em relação a esse fenômeno, sobretudo em termos preventivos —fortificando as orientações nutricionais, principalmente na atenção básica à população, e estimulando todas as práticas de atividade física. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Médicos e psicólogos afirmam que apoio da família "pode salvar vidas"

 

Por Eduardo Vanini

Assim que terminou de ler a tese da filha, a aposentada Maria do Carmo, de 69 anos, passou a mão no celular e enviou a ela um áudio pelo WhatsApp. “Isso significa que você é uma mulher trans?”, perguntou, com a voz preocupada, após devorar as páginas que falavam sobre teoria de gênero e cena drag no Rio, com passagens autobiográficas. Ao responder que sim, a moça recebeu uma nova mensagem de voz: “Estou aqui para entender. Não vou te largar, você é minha filha”.

Era o que faltava para a atriz e escritora, de 33 anos, sentir-se segura para levar adiante a transição de gênero, concluída com uma homenagem a quem lhe deu à luz. Na hora de retificar os documentos, escolheu o mesmo nome da mãe, sem abandonar aquele que recebeu ao nascer. Passou a se chamar Maria Lucas. “Enfrentei um quadro depressivo provocado pela forma como a sociedade trata os nossos corpos. Só não me matei porque escrevi um livro (‘Esse sangue não é de menstruação, mas de transfobia’, editora Urutau) e por causa da relação com a minha mãe. É quando você entende que realmente importa para alguém”, conta a jovem, dizendo-se privilegiada. “Entre as minhas amigas travestis, talvez nenhuma tenha o mesmo apoio.”

Um amparo cujo valor é reconhecido por profissionais da saúde que atendem a essa população. Segundo o endocrinologista Daniel Gilban, à frente de um projeto para tratar da hormonização e da saúde mental de jovens transgênero no Hospital Universitário Pedro Ernesto, atitudes como a de Maria do Carmo incidem sobre a qualidade de vida dos pacientes. “Essas pessoas já sofrem muito, e não ter o apoio da família e dos amigos é grande parte disso”, afirma. “É uma população com altos riscos de depressão e até suicídio. Portanto, o acolhimento familiar salva vidas.”

Maria do Carmo, ou Carminha, como é mais conhecida, nem consegue se imaginar agindo de outra maneira. Para apoiar a filha da melhor forma possível, buscou ajuda no grupo Diversidade Católica, voltado à população LGBTQIAP+, desde que a moça saiu do armário pela primeira vez, inicialmente como um homem gay. “Quando a Maria tinha uns 17 anos e falou que era viado, quase morri. Mas logo depois aceitei, e ela virou um viado lindo, que agora foi-se embora... Passou a ser uma mulher linda”, diz, aos risos.

Enquanto os debates sobre gênero e identidade avançam, algumas mães tentam decifrar os sinais emitidos ainda na infância. É o caso de Thamirys Nunes, autora do livro “Minha criança trans?” e mãe de Agatha, de 7 anos. Ela conta ter percebido o desconforto da garota com o gênero que lhe fora atribuído ao nascer desde os 2 anos. Aos 4, a compreensão ficou ainda mais clara diante de frases como “se eu morrer, posso nascer menina?” ou “me chama de filha só hoje para eu ficar feliz?”. “Entendemos que era algo profundo e buscamos ajuda”, narra a mãe, que acionou psicólogos e, embora seja moradora de Curitiba, encontrou no ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, o caminho a ser percorrido.

Segundo ela, desde que a filha assumiu a identidade desejada e teve a certidão de nascimento retificada, deixou de ser uma criança com sinais de tristeza profunda para se tornar alegre e extrovertida. “Ela ainda é pequena para fazer qualquer tratamento hormonal. Agora, o que podemos oferecer é o nome social, os brinquedos, as roupas e os acessórios de que gosta. A primeira coisa que pediu foi uma camisola, depois, os brincos”, diz a mãe, que criou o perfil @minhacriancatrans, onde tem 78,6 mil seguidores, para mostrar os avanços da menina e ampliar o debate sobre o assunto.

Tornar essa história pública, porém, requer determinação. Thamirys é frequentemente atacada nas redes e move cinco ações na Justiça contra pessoas que considera terem passado dos limites. “Resolvi tornar a nossa história pública justamente por perceber como se falava pouco sobre o assunto e havia mais famílias precisando de ajuda. Em meio aos ataques, doeram mais as agressões feitas por pessoas próximas, que me acusam de ser disfuncional ou de influenciar minha filha. Fora isso, simplesmente apago os comentários e sigo em frente. Não bato boca. Não dá para colher rosas sem tocar nos espinhos.”

Se Agatha é muito pequena para iniciar os tratamentos hormonais, algo que começa a ser discutido somente com a chegada da puberdade, o cineasta Vicente Bem Medeiros, de 34 anos, tem a hormonização religiosamente acompanhada pela mãe, a empreendedora Mônica Vieira, de 61. “Sempre falo com ele sobre a importância de estar em dia com saúde. Digo: ‘Você precisa pensar no homem que deseja ser quando chegar aos 60 anos’”, salienta a mãe, que também passou a comprar cuecas para o rapaz, desde que ele saiu do armário pela terceira vez. Primeiro, como mulher bissexual; depois, como “sapatão”; e, por fim, como trans masculino. “Quando conversamos sobre isso, falei: ‘Vamos para a parte técnica para eu não errar’”, recorda-se Mônica, sobre o interesse em saber como o filho gostaria de ser tratado. “Pedi pelo menos um ano e disse para não ficar triste se eu errasse o nome, já que estava treinando. Não posso dizer que é fácil, mas amo tanto o meu filho, que não conseguiria agir de outra maneira que não fosse acolhê-lo.”

Diante do empenho da mãe em se inteirar das mudanças, Vicente a pediu que o ajudasse na escolha de seu novo nome, experiência que os aproximou ainda mais durante o processo. “Foi muito simbólico, já que considero um renascimento”, afirma o cineasta. “Sempre tive o apoio dela, e isso é encorajador. Afinal, por mais difíceis que as coisas fiquem, você tem um lugar para onde voltar.”

Histórias do tipo corroboram um comportamento observado pelo psicólogo João Henrique de Sousa Santos no trabalho como coordenador do Ambulatório de Saúde Mental de Atendimento às Pessoas Trans do Centro Universitário de Belo Horizonte. Segundo ele, as mães transicionam junto com os filhos, de certa forma. Isso porque a maternidade é cercada por idealizações ligadas aos padrões impostos pela sociedade, como a velha história do quarto azul para meninos, e rosa para meninas. “Uma pessoa trans é alguém que cruza essas idealizações e vai produzir outros modelos de existência”, afirma. “Para muitas mães, isso é difícil justamente porque elas se sentem feridas nessas expectativas. Mas aquela que acolhe passa a se posicionar com outra perspectiva diante da própria maternidade, que transcende a dimensão biológica e passa a ser algo político.”

João diz que isso acontece porque elas também são questionadas sobre as mudanças por pessoas próximas. Não é de se estranhar, portanto, que muitas busquem unir forças e criem mecanismos como a ONG Mães pela Diversidade. Fundada há oito anos em São Paulo por apenas uma mãe, a iniciativa reúne atualmente cerca de duas mil participantes em todo o Brasil, dispostas a dialogar com mulheres que tenham filhos LGBTQIAP+ e precisem de ajuda. “Estimo que, a cada cinco mães que nos procuram, três têm filhos e filhas trans”, comenta a coordenadora da ONG em São Paulo, Clarice Cruz Pires. “Por isso, criamos um grupo exclusivo para elas.”

Segundo a coordenadora, a transfobia e a violência são as maiores fontes de medo e insegurança para essas mães. Boa parte teme, ainda, a rejeição pelo restante da família. Por isso, Clarice costuma reiterar que precisam de tempo para conseguir lidar com a situação. “Não podemos achar que, ao chegarem até nós, estarão na Parada LGBTQIAP+ no mês seguinte”, ilustra, dizendo que o trabalho já fez com que algumas desistissem de abandonar os filhos. “Entendemos a origem do sofrimento, vamos conversando e indicamos ajuda psicológica, se necessário. Quando elas se mostram aptas a avançar, permitimos que entrem num grupo de WhatsApp com 190 participantes, onde podem tirar dúvidas sobre como ajudar os filhos na transição.”

O medo da violência, de fato, foi citado por todas as mães entrevistadas nesta reportagem, assim como a felicidade dos filhos foi invariavelmente mencionada como combustível para seguirem em frente. Vera Lúcia, de 67 anos, é mãe da professora Dani Balbi, de 33, e foi ela mesma quem cuidou da moça, após a cirurgia de confirmação de gênero, feita há cinco anos, graças aos anos de atuação como técnica em enfermagem. Uma história que enche ambas de orgulho. “É um procedimento muito delicado, e minha mãe ficou o tempo todo ao meu lado, fazendo os curativos, ajudando na minha recuperação”, recorda-se a professora.

Vera lembra que, na época, não foi avisada sobre a cirurgia na véspera. “A Dani não queria que eu ficasse preocupada, pois sou hipertensa”, narra. A filha só telefonou para relatar a novidade quando já estava no quarto e havia acordado da anestesia. O diálogo travado naquele instante jamais será esquecido. “Quando atendi, ela disse que havia dado tudo certo e completou: ‘Sou a mulher mais feliz do mundo’. Na mesma hora, pensei: ‘Então, sou a mãe mais feliz do mundo’.” Fonte: https://oglobo.globo.com

O extremismo nas redes sociais, a desinformação e a agressividade de autocratas e iliberais estão deteriorando um dos principais pilares da democracia

 

A democracia e a liberdade de imprensa são tão visceralmente ligadas que é impossível dizer qual é a causa e qual a consequência. Os dados comprovam as associações entre a imprensa independente, democracias vibrantes e corrupção limitada. Não surpreende, portanto, que a recessão da democracia na última década seja espelhada pela deterioração da liberdade de imprensa. Essa deterioração é, a um tempo, sintoma e causa dessa recessão.

O extremismo nas redes sociais, a epidemia de desinformação, a agressividade dos regimes autocráticos e dos populistas iliberais e, no Brasil, a disputa dos dois movimentos mais hostis à imprensa na Nova República, o bolsonarismo e o lulopetismo, tornam mais relevante do que nunca celebrar o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, neste 3 de maio.

De acordo com a Freedom House, uma instituição de monitoramento da democracia, só 13% da população mundial goza de uma imprensa livre. As autocracias movem uma ofensiva para provar que a prosperidade pode ser conquistada sem ela.

A guerra deu a Vladimir Putin o pretexto ideal para recrudescer o controle sobre a mídia russa, desativar redes sociais, perseguir jornalistas e criminalizar dissidentes. O Partido Comunista Chinês construiu o aparato de censura mais sofisticado do mundo e tem expandido sua influência sobre veículos no exterior para promover sua propaganda e suprimir críticas.

No Ocidente, a promessa das redes sociais de ampliar o pluralismo e a liberdade de opinião fracassou: dominadas pelos extremos à direita e à esquerda, milícias virtuais e agentes de desinformação autocráticos, elas se parecem cada vez menos com um governo do povo e cada vez mais com um governo dos truculentos.

O problema não são tanto as publicações tóxicas, mas seu alcance e influência. A lógica de impulsionamento dos algoritmos favorece o sensacionalismo e a agressividade. Há um consenso sobre a urgência de regulações que reduzam a atuação dos robôs e trolls e restituam o espaço à maioria silenciosa e exausta, mas há pouco consenso sobre quais devem ser.

A polarização e a “infodemia” exacerbaram a desconfiança em relação à imprensa explorada por líderes iliberais. Eles vêm desenvolvendo um kit de ferramentas econômicas, legais e extralegais para silenciar mídias independentes e anabolizar as correligionárias. Na Hungria o controle está praticamente consolidado. Entre as táticas de intimidação do ex-presidente americano Donald Trump estão ameaças de recrudescer leis de difamação, revogar licenças de veículos de comunicação e prejudicar seus negócios.

No Brasil, Lula da Silva suscita recorrentemente a velha ambição de “controle social da mídia”, não tendo pudores de invocar a propósito sua admiração por ditaduras como Cuba, Venezuela ou China.

Dos princípios da administração pública, possivelmente o mais brutalizado pelo presidente Jair Bolsonaro foi o da transparência. A imprensa criou um consórcio para garantir informações confiáveis na pandemia, e veio dela a denúncia de um orçamento secreto para distribuir verbas a correligionários.

Pari passu com a difusão de notícias falsas e discursos de ódio, insultos, estigmatização e humilhações públicas de jornalistas são métodos empregados sistematicamente pelo bolsonarismo. A Federação Nacional dos Jornalistas registrou um pico de ataques verbais e físicos a profissionais de imprensa. Só em 2020 foram 428. Bolsonaro foi autor de 175 agressões verbais. No mesmo ano, segundo a organização Artigo 19, ele deu em média 4,3 declarações falsas ou enganosas por dia.

Como disse um dos fundadores da democracia moderna, Thomas Jefferson, o experimento democrático se presta a provar que os seres humanos podem ser governados pela razão e pela verdade. “Nosso primeiro objetivo deveria ser, portanto, abrir a eles todas as avenidas para a verdade. E a mais eficaz encontrada até agora é a liberdade de imprensa. Logo, ela é a primeira a ser obliterada por aqueles que temem a investigação de suas ações.” Mais de 200 anos depois, nunca essa obliteração atingiu níveis tão alarmantes. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br

Sempre foi sobre a vida

Quando estava escrevendo a primeira matéria como autora aqui no Morte sem tabu, sobre a primeira morte com que tive que lidar na minha vida, comecei a tentar me lembrar qual havia sido meu primeiro contato com o assunto.

E me surpreendi pensando que, provavelmente, tinha sido por meio das revistinhas da Turma da Mônica.

A personagem Dona Morte faz parte da Turma do Penadinho, criada por Mauricio de Sousa na década de 1960. Como leitora fiel dos gibis e almanacões da Turma da Mônica desde que aprendi a ler, na década de 1980– e até hoje, ainda que com menos frequência–, já vi centenas de histórias da turma que vive no cemitério. Foi certamente em uma delas que li a palavra morte pela primeira vez na minha vida.

Eu e, com certeza, muitas outras pessoas.

O tamanho do impacto da Turma da Mônica não é nenhuma novidade. Trata-se do quadrinho brasileiro mais publicado no mundo, com mais de um bilhão de gibis vendidos. As criações de Mauricio de Sousa já foram reproduzidas em mais de 100 países.

Ainda assim, a percepção de que milhões de pessoas podem ter encontrado sua primeira referência sobre o maior tabu da vida moderna pela primeira vez nessas histórias me fez querer conversar sobre isso com o Mauricio de Sousa, um astro para a minha geração, de qualquer maneira. Eu já vinha querendo escrever sobre a Dona Morte, mas entendi que uma matéria sobre ela sem a presença do seu criador não fazia sentido.

E eis que trago aqui uma das conversas mais legais e generosas que já tive. Não acho justo recortar só um pedacinho deste bate-papo, que foi muito mais do que uma entrevista, e guardar o resto só para mim.

Agradeço a Camila Appel, ao Mauro de Sousa e ao Jal, por permitirem esse encontro, mesmo que não– ainda, espero– presencialmente. E, também, a Julia, 11 anos, e a Alice, 7, grandes curadoras da arte dos gibis.

 

O começo da filosofia do fim

Mauricio Araújo de Sousa é, sem dúvidas, uma das pessoas mais conhecidas do país. É o mais famoso e premiado cartunista brasileiro. Nem todo mundo sabe que ele é membro da Academia Paulista de Letras, onde ocupa a cadeira de número 24, e que seu primeiro ofício foi como repórter policial, mas posso apostar que pouquíssimos brasileiros desconhecem o criador da Turma da Mônica.

- Foi ótimo passar pela Folha como repórter, minha relação com ela é muito especial.

- Deixa eu anotar aqui para incluir na matéria e fazer um carinho na dona da casa.

Sua primeira tirinha, com o cachorrinho Bidu, foi publicada em 1959, na Folha da Tarde, ainda como repórter. De lá para cá, já são mais de 400 personagens. Mais de uma dezena deles fazem parte da Turma do Penadinho, um fantasminha de bom coração, criado em 1963.

A criação da Dona Morte, segundo Mauricio, remonta a sua infância em Mogi das Cruzes (SP). Ele e seus irmãos sempre iam com a mãe ou a avó aos velórios, nas casas das pessoas. "Eu estive até mesmo com algumas pessoas em seus últimos minutos de vida". Mauricio percebia a tristeza, aquela sensação de perda no choro das famílias, mas via aquele rito como algo natural –a morte como uma parte necessária da vida.

"Na conversa das pessoas de antigamente, minha avó, meu bisavô, era tão natural o ciclo da vida e da morte, que isso era repassado para os filhos, os netos. Nós percebíamos como algo realmente natural: triste, mas não lancinante. E com isso, no momento em que eu estava fazendo história em quadrinhos, eu achei que podia falar alguma coisa sobre a morte de outra maneira: não com choro, com tristeza, que eu podia fazer um pouco de filosofia".

"Não me olhe assim, é o ciclo da vida", diz a Dona Morte na história "Os animais", da Turma do Penadinho (Mônica n. 45 de 2019), que retrata a tristeza de crianças que perderam seus bichinhos de estimação –para muitas pessoas, certamente, a primeira perda significativa da vida.

A narrativa do Mauricio sobre os velórios que o fizeram perceber a morte com a naturalidade que lhe é inerente me remeteu ao livro "História da Morte no Ocidente", de Philippe Ariès. O historiador narra que apenas no último século a morte se tornou um tabu. Antes, "a partir do momento em que alguém ‘jazia no leito, enfermo’, seu quarto ficava repleto de gente, parentes, filhos, amigos, vizinhos e membros de confrarias. As janelas e venezianas eram fechadas. Acendiam-se os círios".

Com a retirada da morte de dentro das nossas casas e seu deslocamento para os hospitais, as funerárias e os cemitérios, perdemos a familiaridade com a sua existência.

 

O ciclo

Talvez isso não acontecesse se a gente nunca parasse de ler as histórias da Turma da Mônica, eu disse para o Mauricio.

"Fico lisonjeado", ele respondeu.

A Turma do Penadinho faz com que termos fúnebres e pouco palatáveis para a maioria das pessoas, como cemitério, caixão, túmulo, alma penada, cremação e morte – ao vivo e a cores – se tornem agradáveis. Fiz uma associação à leveza das histórias, ao humor dos personagens. Mas Mauricio me deu uma resposta genial.

"Sabe o que é, Cynthia? É que todos eles são muito vivos. Depende do nosso olhar, da nossa sensibilidade e às vezes até para que a gente entenda a saudade que a gente tem".

Suas palavras me fizeram pensar nas de Santo Agostinho: a morte não é nada/eu somente passei/para o outro lado do Caminho/Eu sou eu/vocês são vocês/o que eu era para vocês/eu continuarei sendo.

Uma vez escrevi que nós, humanos, somos todos feitos do mesmo material, finito. Mas cada um de nós é infinito. De possibilidades, de memórias que fazem com que renasçamos constantemente e, assim, existamos enquanto formos saudade de alguém. A vida termina. Mas nós não terminamos.

Como me disse Mauricio, somos continuação.

O ciclo natural da vida e da morte é cuidadosamente retratado em muitas das histórias da Dona Morte. Mas não apenas nelas.

Na história "O Ciclo" (Cebolinha n. 45 de 2019), assinada pelo próprio Mauricio, Cebolinha pergunta ao pai se seu cãozinho, Floquinho, ficará para sempre com eles. O Seu Cebola responde que uma vez fez a mesma pergunta ao seu pai, avô do Cebolinha, e ele disse que "na natureza da vida… todos têm um ciclo!", que "todos nós temos um começo, um meio… e um fim". "Mas o que mais importa é o amor que podemos compartilhar enquanto estamos aqui". "Dar o melhor de nós para aqueles que passam pelo nosso caminho… pelo tempo que estivermos juntos!".

Uma história muito famosa para além dos fãs da Turma da Mônica é a da irmã do Chico Bento, Mariana, como me lembrou José Alberto Lovetro, o Jal, jornalista e cartunista que é também assessor de comunicação do Mauricio. A personagem é representada por uma estrelinha, que retorna ao convívio das demais estrelas no céu depois de adoecer e morrer.

Comentei com o Mauricio sobre a extrema sensibilidade dessa história, que tem uma passagem que diz "Luto tanto pra ficar… luto tanto, tanto…". Marianinha, como é carinhosamente chamada pelo irmão, está falando sobre a sua luta para continuar com a sua família. Mas a leitura imediatamente remete ao luto. Tanto luto. Tanto.

 

Pura realidade

Eu perguntei para o Mauricio se ele havia pensado no tamanho do impacto de uma personagem como a Dona Morte em um quadrinho para crianças. Perguntei se ocorrera a ele que seria o primeiro contato de muita gente com o assunto, assim como foi comigo.

Ele respondeu categoricamente que sim. "Eu achei que poderia e deveria fazer, até porque tem até anjinho na história, tem o outro lado. Eu acho que nós devemos colocar tudo que puder, de alguma maneira, levar algum tipo de informação que seja positiva, quando a gente trabalha para crianças".

Lendo gibis mais recentes para escrever esta matéria, algumas frases me reportaram a discussões muito profundas sobre a finitude humana. O "pouco de filosofia" de que Mauricio havia falado é, na verdade, muita filosofia. Mencionei a história "Classificados", da Turma do Penadinho (Almanaque da Turma da Mônica n. 06 de 2021), em que ao ouvir de uma de suas vítimas que era muito jovem, a Dona Morte responde: "Você sabe que comigo esse negócio de idade não funciona!".

Contei que essa história me remeteu ao texto que escrevemos no ano passado sobre Marília Mendonça, aqui no blog. Sabemos que pessoas morrem o tempo todo, em todo lugar. Sabemos que estão vivas e que no segundo seguinte não estão mais. Mesmo jovens. Mesmo jovens demais. Mesmo saudáveis. Mesmo saudáveis demais. Mas quem morre é sempre o outro. Até que não é mais.

"Pura realidade", disse Mauricio.

Perguntei se as histórias da Dona Morte têm alguma orientação especial para serem roteirizadas.

Ele respondeu que conversa com a equipe sobre os comportamentos e as personalidades de cada personagem. Mas que, como a maioria dos roteiristas leu muitas histórias, eles já sentiram e apreenderam suas características, "menos de um deles, que é o Horácio, que é um pouco tabu, mas em um outro sentido. O Horácio é o meu alterego, então eu não consegui passar para a equipe, porque eles não conseguem pegar toda a minha filosofia, tudo que eu sinto de um jeito muito particular. Tentei várias vezes, com diversos roteiristas, mas não era eu, não era o Horácio".

Sobre a Dona Morte, Mauricio diz que a equipe assimilou os cuidados para manter a Dona Morte bem ativa e bem viva. Aliás, bem feminina.

Insisto se há alguma premissa específica para essa personagem.

"Nenhuma história pode ser triste. Sempre é de alguma maneira um aprendizado".

Realmente, as histórias com a Dona Morte são sempre divertidas. Muitas vezes, ela confunde a pessoa a ser levada com ela, o que enseja situações muito engraçadas. Perguntei se existe alguma intenção específica com essa forma de narrar as aventuras da morte. Mauricio respondeu que é uma forma de quebrar a imagem da dureza da morte a partir de suas fraquezas, dos apuros por que passa.

Aliás, a humanização da Dona Morte é levada muito a sério. É ela a responsável pelas atividades domésticas do cemitério, o que a faz ter que lavar roupa, arrumar cama (lápide), ir ao supermercado e dizer que as coisas estão "pela hora da morte".

 

Sempre foi sobre a vida

Dona Morte, como não poderia deixar de ser, também trabalha muito. De vez em quando, ela reclama da concorrência.

Mauricio acredita que ela realmente tem "uma bela concorrência com os seres vivos aqui". "Aliás, olha aí o que estamos passando agora", ele me diz.

Aproveito para perguntar se houve alguma história da Turma da Mônica que mencionou a pandemia. Em uma entrevista dada para a PUC-Rio em 2004, o criador da Turma da Mônica disse que evita falar sobre fatos reais que podem trazer memórias desagradáveis ao leitor.

"Essa preocupação continua da mesma maneira, a ponto de, por exemplo, durante a pandemia, naqueles tempos em que estavam sendo mostrados cemitérios imensos, cruzes, eu pedi ao pessoal para evitar desenhar cemitérios com cruzes nas histórias. Seria olhar para a história e lembrar daquelas fotos muito tristes. A pandemia esteve próxima da maioria dos leitores e eu preferi não mencionar".

Por outro lado, ele registra "a obrigação, junto ao nosso público, de informar, como quando o Cascão lavou as mãos. Eu liberei o Cascão para lavar as mãos com sabão e um sorriso no rosto. Isso marca e ajuda as pessoas a se lembrarem dos cuidados necessários, lembrar de vida, não de morte".

- Você tem uma preocupação muito grande de que a morte ajude a pensar sobre a vida né, Mauricio?

- Exatamente, esse aparente contrassenso.

Em muitas histórias, a Dona Morte conversa com as suas vítimas antes da passagem para o outro lado do caminho. Toma até café com biscoito. Na entrevista para a PUC, ele diz que gostaria de pensar em uma morte "que chega com um papo, uma explicaçãozinha, uma marquinha no caderno dizendo que chegou a nossa hora".

Acho que Mauricio nos ajuda a fazer essa conversa prévia. A cada vez que a morte nos lembra que nosso tempo por aqui é limitado, podemos pensar mais no presente– e viver da melhor maneira possível.

A propósito, no novo arco da Turma da Mônica Jovem, chamado "Uma luz que se apaga", os jovens enfrentarão uma perda e terão que aprender a conviver com o luto. O ciclo natural da vida- que inclui a morte- foi indicado como a história da edição. Conforme o texto de divulgação que a assessora de comunicação Bete Nicastro gentilmente me encaminhou, a ideia não é transmitir uma mensagem de tristeza ou desmotivação, pelo contrário: "é um ensinamento de vida, que apesar de sua fragilidade, não nos impede de viver, de sonhar, de acreditar e, principalmente, realizar".

Que assim seja.

Aliás, ainda não acredito que conversei sobre a morte com Mauricio de Sousa- também Araújo, como eu, ele destacou ao perguntar o meu nome todo. Foi um desses momentos que fazem valer a nossa vida inteira. Aliás, é sobre vida. Sempre foi sobre a vida.

- Mauricio, sei que já tomei muito o seu tempo. Mas posso fazer uma última pergunta?

Ele tem a infinita generosidade do Horácio.

- Por que não tem atração da Turma do Penadinho no Parque da Mônica?

- Não tem ainda. O pessoal está até reclamando que não tem, mas no parque antigo tinha.

- Quero levar a minha filha.

- Quantos anos ela tem?

- Dez meses.

- É você quem quer ir, né?

- Isso.

- Ela deve ser uma fofura.

- É sim. Minha única filha. Ainda estou na fase do encantamento.

- O encantamento vai continuar. E aumentar.

Obrigada, Mauricio. Infinitas vezes, obrigada. Por mim, pela minha geração. E também pelas de antes, as de agora e as do futuro.

 

Cynthia Pereira de Araújo

Doutora em Direito pela PUC-Minas, com doutorado-sanduíche pela Universidade de Vechta/Alemanha (bolsista Capes-Daad). Autora da obra. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Influenciadores terão mais visibilidade no feed em relação a criadores que repostam conteúdo

Nesta quarta-feira, 20, o Instagram anunciou novos recursos na plataforma que, segundo a empresa, buscam dar maior visibilidade para criadores que produzem conteúdo original e exclusivo na plataforma. Em outras palavras, o algoritmo da empresa deve dar mais relevância a posts que não são republicações de outros usuários. As novidades foram apresentadas pelo diretor do Instagram, Adam Mosseri. 

Além das mudanças no algoritmo, outras duas novidades também foram anunciadas na quarta. A primeira delas é a possibilidade de marcar produtos nos posts, função que estava liberada apenas para alguns usuários e agora se torna universal.

A outra mudança é uma nova ferramenta para gerenciar posts em que o usuário foi marcado. A partir de agora, será possível criar uma categoria dentro do seu próprio perfil para exibir posts em que você foi marcado. A função é voltada para perfis de marcas ou fotógrafos, por exemplo, que terão mais uma maneira de divulgar seus trabalhos. 

Conteúdo original 

No anúncio das novidades, o diretor do Instagram, Adam Mosseri, destacou o quão importante são os criadores de conteúdo original para a rede e que as mudanças buscam dar mais crédito e visibilidade para esses perfis. 

“Criadores de conteúdo e influenciadores são incrivelmente importantes para o futuro do Instagram e nós queremos ter certeza de que eles estão tendo sucesso na plataforma e alcançando todo o crédito que merecem”, afirmou Mosseri. “Se uma pessoa posta algo que ela mesma criou, é necessário dar mais crédito a essa pessoa em relação a quem está apenas recompartilhando conteúdo”, acrescentou o diretor do Instagram. Fonte: https://link.estadao.com.br

Próximos passos para a superação da pandemia dependerão de orientação do Ministério da Saúde, mas ainda não há nenhuma

Após mais de dois anos e 660 mil mortes, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anunciou em cadeia nacional o fim da Emergência em Saúde Pública Nacional da covid-19. O anúncio condiz com as taxas de vacinação e as quedas de casos e internações. Mas, como sempre ao longo desta crise, as autoridades e a sociedade precisarão seguir duplamente vigilantes: com o vírus e com seu presidente.

A Organização Mundial da Saúde apresentou alguns cenários para a pandemia. O mais provável é que variantes do vírus sigam circulando em ondas intermitentes, mas sua gravidade diminua por causa da imunização vacinal ou natural. Na pior das hipóteses, uma nova variante altamente virulenta e transmissível pode exigir o retorno das medidas emergenciais.

Aconselhado por técnicos da pasta e da Anvisa, o ministro iniciará um período de transição. Isso é importante, porque o fim da emergência impacta 172 regras do Ministério, como a aplicação de vacinas em caráter emergencial, as compras de medicamentos e insumos ou os repasses aos governos subnacionais.

Nos próximos dias, a pasta editará um ato regulamentando a transição. Normalmente, o seu acompanhamento seria uma mera rotina técnica. Mas será preciso redobrar a atenção. A depender do presidente Jair Bolsonaro, o governo tentará fazer o País esquecer a pandemia por decreto.

A julgar pelo seu desempenho durante a crise, não se pode contar com o Planalto, por exemplo, para as campanhas de conscientização. O ministro falou que a população continuará a “conviver com o vírus”, mas não deu qualquer instrução sobre como será essa convivência. Quais cuidados serão necessários com os grupos de risco? Quais as medidas de contingência ante eventuais reveses? Quais os detalhes sobre a compra de vacinas?

É sintomático que o presidente tenha se furtado a fazer pessoalmente um anúncio tão significativo. Para qualquer liderança no mundo, seria uma oportunidade de confraternizar com a população, adverti-la sobre os desafios, relembrá-la das medidas do governo e, naturalmente, capitalizar apoio. Mas a pandemia é um passivo do qual Bolsonaro quer se livrar.

Desde o início, ele fez de tudo para minimizar a gravidade do vírus, sabotar as estratégias apontadas por especialistas e adotadas pelos Estados para contê-lo e colocar em xeque a segurança e a eficácia das vacinas. Dois ministros caíram por se recusar a endossar medidas anticientíficas. O vácuo de comunicação, que obrigou a imprensa a mobilizar um consórcio para disponibilizar informações confiáveis, foi acompanhado de uma torrente de desinformações saídas diretamente do Planalto.

A CPI da Pandemia evidenciou condutas potencialmente criminosas, como a recusa do governo em firmar contratos para aquisição de vacinas, a propaganda de medicamentos comprovadamente ineficazes e a ofensiva para obliterar medidas sanitárias dos governadores e prefeitos. Os indícios de improbidade e corrupção na compra de vacinas foram tantos que o próprio Bolsonaro se viu obrigado a rifar seu leal sabujo no Ministério da Saúde, o intendente Eduardo Pazuello.

Mais do que os desmandos administrativos e jurídicos, a atuação de Bolsonaro ficará indelevelmente gravada na história da infâmia nacional – e internacional – pela sua indigência moral. À população aflita, seu presidente reservou inúmeras falas de escárnio (“gripezinha”, “e daí?”, “não sou coveiro”) e nenhuma de compaixão.

A omissão envergonhada do presidente no anúncio do fim da emergência é só mais uma que contrasta com a atuação dos demais Poderes da República, autoridades regionais e, sobretudo, da população. Se ela não tivesse aderido diligentemente aos protocolos sanitários e à imunização, o desastre seria muito pior. Enquanto se aguarda a responsabilização de Bolsonaro, espera-se que o País seja igualmente diligente na transição para o pós-pandemia. Acima de tudo, espera-se que a memória do eleitorado não tenha pernas tão curtas quanto as mentiras de Bolsonaro na hora de retribuir nas urnas tantas mortes desnecessárias e tanto opróbrio para a Nação. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br

Por Ana Cláudia Guimarães

Centro Dom Bosco sofre nova derrota e Porta dos Fundos segue invicto na Justiça | Reprodução

A 6ª Câmara Cível do Rio, por três votos contra um, negou a apelação do Centro Dom Bosco de Fé e Cultura que seguia tentando uma decisão contra o Porta dos Fundos e a Netflix em razão da veiculação do Especial de Natal, "A primeira Tentação de Cristo", lançado em 2019.

A decisão confirmou o entendimento de que “não compete ao Estado laico intervir em prol de determinados grupos” privilegiando, portanto, a liberdade de expressão.

O Porta dos Fundos segue invicto na Justiça, vencendo até hoje todos os processos que sofreu na tentativa de censura de seus conteúdos. Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com

Dois corpos foram encontrados pela equipe de resgate no bairro Monsuaba na madrugada desta segunda-feira. Uma pessoa ainda é procurada no local e até quatro na Ilha Grande, diz Defesa Civil.

 

Por g1 Sul do Rio e Costa Verde

Mais dois corpos foram encontrados na madrugada desta segunda-feira (4) por equipes de resgate que trabalham nas buscas por desaparecidos no deslizamento de terra em Angra dos Reis (RJ). Com estas novas vítimas, a cidade já registra 10 mortes na queda de barreira no bairro Monsuaba. As informações são da Defesa Civil.

No local, uma pessoa ainda é considerada desaparecida. Também estão sendo procuradas até quatro pessoas que poderiam estar soterradas, segundo relatos da comunidade local, em um deslizamento de terra que destruiu a Praia de Itaguaçu, na Ilha Grande. As buscas seguem na manhã desta segunda-feira.

Desde sábado (2), o estado do RJ já soma 18 óbitos provocados pela chuva. Além das 10 mortes confirmadas em Angra dos Reis, também ocorreram sete óbitos em Paraty, onde uma mulher foi soterrada junto com seis filhos. Em Mesquita, um advogado morreu eletrocutado ao tentar ajudar uma pessoa.

Os corpos encontrados em Angra dos Reis foram levados para o Instituto Médico Legal da cidade, que pede para que os familiares compareçam à unidade para fazer o reconhecimento.

Ainda não há informações sobre as duas últimas vítimas. As demais foram identificadas como:

 

1-Samuel Cardoso dos Santos, de 3 anos

2-Laura, de 7 anos

3-Rafael Cardoso de Carvalho, de 11 anos

4-Miguel Bernardo Magalhães Lopes, de 11 anos

5-Rodrigo Teotônio, de 31 anos

6-Francisca de Sena Cardoso, de 46 anos

7-Antônio Cândido Cardoso, de 68 anos

8-Maria Gesilia de Sena Cardoso, de 70 anos

 

Pior chuva da história, diz prefeitura

Esta foi a pior chuva da história de Angra dos Reis, segundo a prefeitura. Diante dos transtornos, foi decretada situação de emergência no município.

Na Rio-Santos, a segunda-feira começou ainda com, pelo menos, quatro pontos de interdição total entre Angra dos Reis e Paraty.

O prefeito chegou a pedir o desligamento das usinas nucleares por receio de que não seria possível colocar em prática o plano de emergência enquanto vias de acesso ao município estiverem interditadas, mas a Eletronuclear garantiu que uma eventual evacuação não está comprometida.

Na cidade, são aproximadamente 314 moradores em pontos de apoio disponibilizados pela prefeitura. As aulas foram suspensas nesta segunda-feira, já que muitas unidades cederam espaço a família desabrigadas. Fonte: https://g1.globo.com