Damiana Januário recebeu mensagem do filho bem cedo, dizendo que estava no hospital. Família conta que ele fez uma vaquinha para conseguir viajar e disputar a competição.

 

Por Carla Sant’Anna, Jefferson Monteiro, Rogério Coutinho e Thaís Espírito Santo*, g1 Rio e TV Globo

Um dos jogadores do time de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, mandou uma mensagem de áudio para a mãe logo após o ônibus onde estava tombar de uma ponte na BR-116, em Minas Gerais, na madrugada desta segunda-feira (30).  

Juan Manoel, de 18 anos, queria tranquilizar a mãe, Damiana Januário. Até a última atualização desta reportagem, não havia informações a respeito do estado de saúde do jovem. O acidente deixou 29 feridos e quatro mortos.  

"Às 6 horas da manhã, ele já falando: ‘mãe, não fica preocupada, mas eu tive um acidente’. Como assim você teve um acidente? Você não estava jogando? Você não falou que estava vindo embora?", disse Damiana.

"Para mim, o acidente dele não era de ônibus. Eu nem imaginava que era de ônibus que ele teve um acidente, para mim ele estava jogando”, completou.

O acidente com o ônibus que trazia jogadores do Vila Maria Helena Futebol Clube, time amador de Duque de Caxias, aconteceu durante a madrugada desta segunda-feira (30) e deixou 29 pessoas feridas e outras quatro mortas.

Os nomes das vítimas não foram divulgados até a última atualização desta reportagem.

Damiana busca informações sobre o estado de saúde do filho. Quando ele mandou a mensagem, ele tinha poucas informações sobre a queda da ponte, que tem dez metros de altura.

“Foi o ônibus, entendeu? Virou. Foram várias voltas. Eu falei: ‘e aí, como está o pessoal?’ Ele falou: ‘mãe, eu não sei se morreu gente e onde está a pessoa que estava nos treinando’”, contou a mãe de Juan.

Ela contou ainda que o medo tomou conta da família após um fim de semana de conquistas.

“Ele se locomoveu, se moveu, para conseguir ir para esse campeonato lá. Ele é um moleque batalhador, sonhador, e agora de repente foram para lá, foram campeões, isso aqui é a boa notícia, que eles foram campeões, voltando com uma alegria e, de repente, traz essa tristeza para nós, os pais”, disse Fabrício Moura, padrasto do Juan.

 

Vaquinha para viagem

A família de Juan conta que os jogadores e os parentes fizeram uma vaquinha para bancar a viagem até Minas Gerais e participar do torneio. Eles viajaram na quarta (25), à noite.

“Ele falou: ‘mãe, eu quero viajar para jogar’. Eu falei: ‘eu não tenho condições’. Ele pegou, pediu no Facebook, WhatsApp. Muita gente ajudou para que ele pudesse ir. Sobrou dinheiro para poder lanchar, fazer alguma coisa. Eu falei: ‘meu filho, vai com Deus, volta com Deus’. Ele falou: ‘mãe, ganhamos’. Ele todo feliz”, disse Damiana.

A mãe do atleta está aliviada que o filho está bem, mas lamenta pelas vítimas.

“Eu estou triste, porque meu filho está lá e eu não sei o que tá acontecendo, entendeu? Ele falou: ‘mãe, eu estou bem. Eu tomei ponto. Tem uns amigos meus que não sei para onde está, os que estão aqui perto, o pai do menino ia lá para poder buscar’. Só que ninguém tomou alta, ninguém teve alta, então provavelmente ele também está lá. Tem muita gente machucada, ele falou que o treinador dele não sabe para onde está. E a gente está aqui, esperando notícia”, afirmou Damiana.

Na noite de domingo (29), os meninos do time estavam voltando com o troféu da competição. Os bombeiros foram chamados às 2h51 da madrugada desta segunda, depois que o ônibus caiu da ponte sobre o Rio Angu e ficou de cabeça para baixo.

No veículo, estavam 28 adolescentes, quatro adultos da comissão técnica e o motorista. Três adolescentes e um adulto morreram. As outras pessoas estão em hospitais da região.

O Hospital São Salvador informou que, dos 24 pacientes levados para a unidade, quatro estão sob cuidados especiais. Um deles passou por cirurgia e está internado na UTI. Outro está sendo operado, e um terceiro espera por cirurgia. A quarta vítima está internada em uma unidade para pacientes críticos. O estado de saúde dos outros 20 pacientes não foi divulgado.

A Casa de Caridade Leopoldinense confirmou que cinco adolescentes deram entrada por volta das 6h30 da manhã, mas não divulgou o estado de saúde deles.

A TV Globo tentou contato com a LG Turismo, mas não conseguiu retorno até a última atualização desta reportagem. Fonte: https://g1.globo.com

Surgem indícios de que a catástrofe não foi causada apenas por descaso ou incompetência do governo Bolsonaro, mas por omissões criminosas, fraudes, obstruções e corrupção

 

Por Notas & Informações

A tragédia humanitária dos Yanomamis é chocante, mas não surpreendente. Sem dúvida, toda a sociedade brasileira precisa fazer um exame de consciência em relação ao abandono histórico dos povos originários. Mas surgem indícios de que o governo Jair Bolsonaro descumpriu deliberada e criminosamente suas obrigações legais para com os Yanomamis.

Desde 2020, o Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito de uma ação relatada pelo ministro Luís Roberto Barroso, vinha baixando decisões que obrigavam o governo a ampliar a proteção aos Yanomamis, incluindo um plano de expulsão de garimpeiros e madeireiros atuando ilegalmente na reserva e medidas de segurança sanitária e alimentar. Segundo nota do gabinete do relator emitida na última quinta-feira, 26, “as operações, sobretudo as mais recentes, não seguiram o planejamento aprovado pelo STF e ocorreram deficiências”. A Corte ainda “detectou descumprimento de determinações judiciais e indícios de prestação de informações falsas à Justiça”.

A presença de mineradores ilegais tem sido uma constante desde a remarcação do território, em 1992. O Ministério Público Federal (MPF) de Roraima já havia ajuizado em 2017 uma ação civil pública pleiteando a colocação de três bases etnoambientais da Funai nas reservas Yanomamis. Mas, mesmo após a sentença judicial, essas determinações nunca foram devidamente cumpridas. Com o enfraquecimento dos órgãos de apoio indígena e de combate aos crimes ambientais na gestão Jair Bolsonaro, o garimpo cresceu ainda mais.

Após as decisões do STF, um plano de atuação chegou a ser apresentado, mas nunca foi aplicado. “A linha de atuação do Ibama previa o combate nos rios e com o uso de aeronaves e poderia erradicar o garimpo em seis meses. Jamais foi aplicado”, disse ao Estadão Alisson Marugal, procurador da República em Roraima. “Muito pelo contrário, diversas vezes o Ibama em Brasília impediu que o plano fosse aplicado.” Segundo ele, “o governo fez operações para não funcionar”. Foram só três ciclos, com duração de cinco a dez dias, sobre apenas 9 dos 400 pontos de garimpo ilegal.

Começam a vir à tona também indícios de corrupção. Conforme reportou a Folha de S. Paulo, relatórios preliminares de uma operação da Funai realizada em 2019 apontam uma suposta relação próxima entre integrantes do Exército que atuavam em Roraima e o garimpo ilegal. Os relatos sugerem que militares do Sétimo Batalhão de Infantaria da Selva, muitos com relação de parentesco com os garimpeiros, vazavam informações de operações de combate à atividade ilegal e permitiam a circulação de ouro e droga mediante pagamento de propina. Os documentos também apontam para a atuação de integrantes do PCC no transporte de drogas e de minerais ilegais. A operação mapeou 3 pistas de pouso clandestinas, 14 clareiras abertas para pouso e decolagem de helicópteros, 36 garimpos, balsas ou acampamentos, 4 bordéis e 41 frequências de rádio utilizadas para comunicação. Mas, apesar de todas essas evidências, nada foi investigado.

A gestão de saúde da área Yanomami é investigada por desvio no uso de verba para a compra de remédios. O MPF suspeita que só 30% dos mais de 90 tipos de medicamentos fornecidos por uma das empresas contratadas pelo distrito sanitário indígena local, sob ingerência do Ministério da Saúde, teriam sido devidamente entregues. Segundo os procuradores, o desvio de medicamentos vermífugos, por exemplo, impossibilitou que 10 mil crianças, das cerca de 13 mil previstas, recebessem o tratamento devido.

Em 1998, o então deputado federal Jair Bolsonaro fez uma acusação às Forças Armadas: “A cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado e hoje em dia não tem esse problema no país”. Com a sua pusilanimidade característica, acrescentou: “Se bem que não prego que façam a mesma coisa com o índio brasileiro”. Quem dera só pregasse e não fizesse. Mas omissão também é crime, e a dizimação a que os Yanomamis foram submetidos sob o seu governo não pode passar impune. Fonte: https://www.estadao.com.br

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença persiste como 'um problema sério' em 14 países de África, Ásia e América Latina.

 

Por AFP — Rio de Janeiro

Assiba, de 27 anos, luta contra a hanseníase Fundação Raoul Follereau / Reprodução

Apesar dos tratamentos existentes, a hanseníase continua a infectar milhares de pessoas todos os anos, especialmente em países pobres. Embora pesquisas estejam sendo feitas, poucos laboratórios dedicam recursos a ela. Em 2022, cerca de 216.000 casos foram detectados em todo o mundo, especialmente no Brasil e na Índia, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), e persiste como "um problema sério" em 14 países de África, Ásia e América Latina.

Os números podem ser apenas a ponta do iceberg, segundo o médico Bertrand Cauchoix, especialista na doença da Fundação Raoul Follereau, na França,

“Sabemos o número de doentes rastreados, mas não contamos os esquecidos, os não detectados, que poderiam ser muito mais numerosos”, explica.

A haseníase é ser uma das 20 doenças tropicais que a OMS considera negligenciadas. Causada pelo bacilo Mycobacterium leprae, a doença, que é transmissível, ataca a pele e os nervos periféricos, com sequelas potencialmente muito graves.

Favorecida pela promiscuidade e pelas precárias condições de vida, a doença tem um período de incubação muito longo, de até 20 anos, ao qual se acrescenta um atraso no diagnóstico, durante o qual a doença pode continuar a infectar pessoas próximas. Há décadas existe um tratamento médico baseado em três antibióticos.

Mathias Duck, capelão paraguaio de 44 anos, já conhecia a hanseníase por ter trabalhado em um hospital dedicado a pacientes com a doença. Mas quando ele mesmo foi diagnosticado, em 2010, levou "três anos para poder falar sobre livremente", conforme disse à AFP. Para Duck, seis meses de tratamento foram suficientes:

— Tive muita sorte porque fui diagnosticado e tratado a tempo, sem sequelas.

Mas o tratamento pode ser mais longo, até 12 meses, o que dificulta o acompanhamento em países sem um sistema de saúde adequado.

— É preciso infraestrutura com cuidadores para dispensar os remédios, isso demanda recursos — lembra Alexandra Aubry, professora de biologia e especialista em hanseníase do Centro de Imunologia e Doenças Infecciosas (CIMI) de Paris.

 

'Não há dinheiro para a lepra'

Os antibióticos existentes são doados pela fundação do laboratório suíço Novartis, que os fabrica, através da OMS. Por isso, Bertrand Cauchoix aponta "um risco de tensões muito grandes" caso ocorram problemas na linha de produção desses antibióticos.

Em geral, os laboratórios farmacêuticos não se esforçam para produzir novas moléculas que sejam mais fáceis de administrar.

— Não há dinheiro para a hanseníase, apenas doações de caridade — lamenta Cauchoix.

Na verdade, a doença está quase ausente nos países ocidentais e se espalha em um número limitado de pacientes em países que não podiam pagar novos medicamentos caros.

Em seu laboratório de pesquisas em Paris, um dos poucos no mundo capaz de testar essa bactéria, Alexandra Aubry avalia a eficácia de cada novo antibiótico que chega ao mercado para tratar outras doenças.

— Tentamos identificar associações de antibióticos. Tentamos todas as formas possíveis de simplificar para tratamentos mais curtos, por exemplo, uma vez por mês durante seis meses — explica Aubry.

Há também projetos de vacinas, cada vez mais raros porque também faltam verbas.

— É muito complicado ter financiamento para isso. Para avaliar a eficácia de uma vacina, é preciso acompanhar a população vacinada por 10 ou 15 anos — lembra Aubry.

— Se compararmos com o que aconteceu com a covid-19, realmente é apenas uma gota no oceano — acrescenta o padre Duck, que também apela a mais investigação e vontade política em todo o mundo para erradicar a doença. Fonte: https://oglobo.globo.com

É preciso também desbolsonarizar a saúde

 

Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

 

SÃO PAULO

A Organização Mundial de Saúde (OMS) discute na sexta-feira que vem se a Covid ainda é uma "Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional" (ESPII), o maior nível de alerta e, em tese, de engajamento legal e dedicação mundiais na lida com um desastre sanitário, entre eles epidemias. Foi no 30 de janeiro de 2020 que a Covid se tornou uma ESPII.

Cientistas dizem pelo mundo que seria cedo decretar o fim da emergência mundial, se por mais não fosse porque a doença vai fazer uma desgraça na China, que deu cabo de sua política de "Covid zero" e vai ter muita infecção e morte.

Caso determine o fim da ESPII, a OMS não quereria dizer que a pandemia acabou, embora tal decisão tivesse algumas consequências práticas. Teria efeito simbólico?

Talvez não. Como parece intuitivo, o mundo já faz algum tempo se adaptou à Covid, se fartou de saber do vírus ou de se preocupar com ele. Em países como o Brasil, a doença se tornou de certo modo invisível desde meados do ano passado e ainda mais agora. Tornou-se tão invisível quanto os mais velhos e mais fracos.

No último mês, a Covid matou 3.938 pessoas, 131 por dia, pelos registros oficiais. No auge do horror, em abril de 2021, chegou a matar mais de 85 mil pessoas em 30 dias.

Mesmo com esses números reduzidos, a Covid ainda mata tanto quanto assassinos (a média de homicídios em 2021, dado mais recente, foi de 130 por dia).

A doença pode parecer invisível, menos para os doentes e suas famílias, porque mata majoritariamente pessoas mais velhas ou que também já padecem de outro mal, ainda e sempre doenças do coração e diabetes, na maior parte (em São Paulo, 73% dos mortos tinham comorbidades).

No último trimestre, 81% dos mortos de Covid no estado de São Paulo tinham mais de 60 anos (65% tinham mais de 70 anos). Cerca de 85% dos mortos por gripe/pneumonia em 2019 e 2020 tinham mais de 60.

Como já se escreveu nestas colunas, é como se Covid tivesse se tornado uma grande gripe assassina, em especial de velhos, que se dá de barato que morram, tal como um Bolsonaro o faria. Em São Paulo, a Covid matou mais de 1 de cada 40 dos indivíduos com mais de 70 anos.

A vacinação tornou a morte de pessoas mais jovens muito improvável, é verdade. Apesar de Jair Bolsonaro e de generais e coronéis do Exército, que comandaram a ocupação bozista do ministério da Saúde, a vacinação avançou, graças ao SUS e à maioria de estados e cidades.

Na aplicação das duas primeiras doses ou equivalente, o Brasil foi tão bem quanto França, Alemanha, Itália e Espanha (ou melhor), por exemplo. Mas fica bem abaixo na dose de reforço (57% da população, abaixo dos países europeus grandes). O caso dos Estados Unidos é uma vergonha.

Vacinar, pois, ainda é necessário, até como parte de uma grande campanha de regeneração nacional, de informação e de atendimento de saúde, de divulgação de qualquer tipo de vacina, programas prejudicados por causa dos degenerados bolsonaristas.

Além dessa obviedade, há outras três, esquecidas ou aceitas como um dado da natureza.

Quase 60% das pessoas que tiveram Covid continuam a ter sintomas um trimestre depois da infecção aguda. Muitas delas, nem temos ideias de quantas, ficaram com sequelas incapacitantes ou graves de outra maneira. Famílias estão dilaceradas também porque perderam quem as sustentasse, mães, pais ou avós. É preciso cuidar dessa gente.

A outra desgraça é a da educação. Parece assunto tão velho, cediço, tedioso de tão repetido. É novíssimo, porém, pois quase tudo está por fazer.

Ainda nas prioridades, é preciso desbolsonarizar a saúde e levar Bolsonaro e seus generais e coronéis à Justiça. Sem anistia. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Como pessoas comuns se tornam monstros, mesmo que movidas por suas melhores intenções?

 

Por Nelson Motta — Rio de Janeiro

Não bastam as reformas política, tributária, administrativa, ambiental, nem mesmo a reforma psiquiátrica, o Brasil se tornou um caso de exorcismo. Não de um exorcista circense de igreja de subúrbio, mas de uma legião deles, de veteranos barra-pesada como o do filme, e tantos da vida real, que realmente sabem enfrentar demônios.

Quando o exorcista pergunta quem é o demônio que está no corpo do possuído, uma voz cavernosa rosna exalando um hálito fétido: “Meu nome é legião.” E é mesmo uma milícia de demônios que ocupa aquele corpo, e, como se sabe, a maior esperteza do demônio é nos convencer de que não existe. Talvez não com esse nome, ou espírito maligno, obsessor, encosto, do que quiserem chamar, mas é impossível negar a presença do mal no mundo.

Essa é a grande questão dos que têm fé na bondade, justiça e compaixão divina e na perfeição da Criação: como então explicar as manifestações explícitas do mal físico, mental e espiritual, pessoal e coletivo, em nosso mundo e em nosso cotidiano desde a alvorada da Humanidade?

A força do mal domina, de Caim a Calígula e Hitler a tiranos e soldados sanguinários, inquisidores, torturadores sádicos, até o médico estuprador e o assassino de Marielle Franco. O mal está entre nós, em nós, e sem aceitar isso o bem não faz sentido.

Todo mundo tem o bem e o mal em si, uns mais outros menos, de um e de outro: é da condição humana. E ao longo da vida um vai prevalecendo sobre o outro, ou o outro sobre o um. Como o ser humano é “o homem e suas circunstâncias” (filósofo Ortega y Gasset), o bem e o mal estão em permanente batalha em cada um de nós, e agora pior do que nunca, nas multidões sem rosto. Foi o que a filósofa Hannah Arendt analisou em “A banalidade do mal” a partir do nazismo e do genocídio.

Como pessoas comuns se tornam monstros, movidas por suas melhores intenções, tomadas por uma fé cega que as controla e impulsiona? Comportamentos mentais que nem Freud, Jung e Lacan, juntos, podem explicar ou justificar, fora das patologias.

No Brasil, são poucos os ateus raiz, geral acredita em um Deus, ou vários, ou em forças superiores, ou entidades, em qualquer coisa maior e mais poderosa do que nós, portanto incompreensível pela razão, só pela fé naqueles a quem podemos apelar em caso de necessidade, de quem esperamos proteção e satisfação de nossos desejos, e quem, como nosso criador, é o responsável por nossas ações e destino.

Estamos vivendo um verdadeiro “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, com fanáticos, cangaceiros e fazendeiros de celular, que dão atualidade à frase clássica do pensador inglês Samuel Johnson (1709-1784), “o patriotismo é o último refúgio dos canalhas”, complementada pelo filósofo de Ipanema Millôr Fernandes: “No Brasil, é o primeiro.” Fonte: https://oglobo.globo.com

Crianças precisam aprender a lidar com as pequenas frustrações e a solucionar problemas que representem um desafio à sua altura

 

Por Daniel Becker

As borboletas têm seu tempo para sair do casulo

Um homem andava pelo campo quando viu uma borboleta lutando para sair de seu casulo. Ela se contorcia intensamente para passar através do pequeno buraco. Com pena, ele aumentou um pouco o buraco, facilitando a passagem da borboleta.

O que o homem não sabia era que o processo de esforço e compressão contra o casulo era o que permitia que a circulação do sangue fosse direcionada para as asas.

Quando a borboleta emergiu do casulo, era incapaz de voar.

É difícil demais ver nossos filhos sofrendo. É uma tendência mais que compreensível, quase instintiva, tentar ajudar, resolver o problema para ele.

Sofia vem do play chorando porque as amigas a excluíram da brincadeira. João não quer ir à escola porque não estudou para a prova. Malu está sofrendo porque as melhores amigas já têm celular e ela não. Pedro, 3 anos, chora desesperado porque não consegue completar o quebra cabeça e Lia se joga no chão porque quer comer biscoito quando faltam 15 minutos para o jantar. Situações cotidianas da infância.

É natural querermos ir tirar satisfação com as amigas de Sofia, ligar para a escola para dizer que João está com febre, comprar um celular para Malu, completar o jogo para Pedro e dar o biscoito para Lia.

Isso pode trazer alívio e alegria no curto prazo, mas é um atalho perigoso.

Crianças precisam aprender a lidar com as pequenas frustrações e a solucionar problemas que representem um desafio à sua altura, ou seja, que elas sejam capazes de resolver com algum esforço. Não estou falando de criar frustrações artificiais nem de abandoná-las à própria sorte. Claro que não.

Trata-se de acolher seus sentimentos, mostrar que estamos ao seu lado, mas que cabe a elas encontrar soluções. Podemos ajudar, acalmar, orientar, apoiar, dar pistas, guiar com perguntas. Mas elas precisam desenvolver a capacidade de encontrar caminhos próprios para resolver seus problemas.

Isso contribui para desenvolver habilidades como paciência, adiamento da gratificação, imaginação, resiliência, solução de problemas, perseverança. E importante: ajuda a quebrar o narcisismo. Afinal, o mundo não existe apenas em função delas, nem gira em torno dos umbiguinhos, por mais lindos que sejam. Fonte: https://oglobo.globo.com

A ligação entre bagunça e saúde mental é real. Estas dicas para manter uma casa limpa o suficiente vão ajudar

 

Dana G. Smith

THE NEW YORK TIMES

Uma câmera faz uma panorâmica do quarto de Abegael Milot. O chão está praticamente invisível, escondido por montes de roupas. Quatro grandes cestos de plástico estão empilhados uns sobre os outros, alguns cheios de roupas, outros de equipamentos eletrônicos. Há oito xícaras de café abandonadas sobre a escrivaninha e a mesa de cabeceira. No chão estão duas garrafas de água pela metade, uma garrafa de tequila com um cacto de vidro dentro e um comedor para animais de estimação.

"Hoje vamos limpar meu quarto da depressão", diz para a câmera a estrela do YouTube de 24 anos, que publica vídeos como Abbe Lucia. "Temo que a única maneira de conseguir limpar este quarto seja filmando."

O termo "quarto da depressão" é relativamente novo, popularizado por vídeos no TikTok e no YouTube que acumularam centenas de milhões de visualizações. Mas os especialistas há muito reconhecem a ligação entre bagunça e saúde mental. A desordem que pode surgir quando as pessoas estão passando por uma crise de saúde mental não é uma forma de acúmulo nem o resultado da preguiça. O culpado é a fadiga extrema, disse N. Brad Schmidt, um professor e pesquisador de psicologia na Universidade Estadual da Flórida.

As pessoas estão "muitas vezes tão exaustas física e mentalmente que se sentem sem energia para cuidar de si mesmas ou de seu entorno", disse o doutor Schmidt. "Elas simplesmente não têm a capacidade de encarar a limpeza e a manutenção da casa como provavelmente faziam antes."

Uma casa bagunçada também pode contribuir para sentimentos de esgotamento, estresse e vergonha, fazendo você se sentir pior do que antes. Embora a organização não cure a depressão, ela pode melhorar seu humor. Se você está com dificuldade e parece impossível manter seu lugar organizado, aqui estão algumas dicas sobre como fazer a limpeza estrategicamente para otimizar sua energia e seu espaço.

 

FOCO NA FUNÇÃO, NÃO NA ESTÉTICA

Para K.C. Davis, uma conselheira profissional licenciada e autora do livro "How to Keep House While Drowning" [Como manter a casa enquanto você se afoga], seu problema de desordem aumentou quando seu segundo filho nasceu, no início de 2020. "Sempre fui uma pessoa bagunceira", disse ela, "mas sempre funcionou." De repente, confrontada com um novo bebê, depressão pós-parto e a pandemia, Davis percebeu que se não adotasse um sistema ela estaria perdida.

Enquanto trabalhava para organizar sua casa, Davis começou a postar vídeos de seu progresso no TikTok, onde agora tem 1,5 milhão de seguidores. Desanimada por grande parte do conteúdo de autoajuda e limpeza que oferece o que chamou de "mensagens de acampamento militar", ela optou por uma abordagem mais suave e pragmática. Seus sistemas são realistas sobre suas capacidades e se concentram em ter um espaço habitável, não impecável.

Uma de suas estratégias mais populares é "arrumar cinco coisas" –a ideia de que há apenas cinco coisas em qualquer cômodo: lixo, pratos, roupas, coisas com lugar e coisas sem lugar. Concentrar-se em uma categoria por vez evita que ela fique sobrecarregada quando parece que há uma centena de itens diferentes que precisam ser guardados.

Davis também é uma grande defensora do que ela chama de "deveres de fechamento", inspirada por seu tempo de trabalho como garçonete. Muitas vezes ela não tem energia para limpar toda a cozinha todas as noites, então começou a fazer apenas algumas pequenas tarefas, "como uma gentileza para o futuro, para me preparar para o sucesso pela manhã".

"Afastei-me dessa ideia de que tinha que ser tudo ou nada e comecei a pensar em função" quando se trata de limpeza, disse ela. "Quando penso em 'Do que preciso de manhã?', de repente posso ser específica." Ela se certifica de ter pratos limpos e espaço suficiente no balcão para preparar o café da manhã, esvaziar o lixo e varrer as migalhas. "O que parece uma tarefa grande e interminável leva, na verdade, apenas 20 minutos do meu dia", disse ela.

Para as pessoas que estão realmente em dificuldade, Davis enfatizou que as coisas podem ser feias, mas não devem ser anti-higiênicas, porque todos "merecem estar limpos e confortáveis". Se você não tiver energia para lavar todos os pratos, limpe apenas um ou dois para a próxima refeição, ou use pratos de papel. Se a lavanderia envolver muitas etapas, não se preocupe em dobrar; rugas nunca fizeram mal a ninguém.

 

FAÇA SUA CASA FUNCIONAR MELHOR PARA VOCÊ

As pessoas que são neurodivergentes, com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), autismo ou outros problemas de funcionamento executivo, também costumam lutar contra o excesso de desordem. Assim como "salas de depressão", o termo "pilhas de destruição" tornou-se popular nas redes sociais para descrever as coisas aleatórias que se acumulam e você não sabe o que fazer com elas. Quase todo mundo tem uma ou duas gavetas de lixo em casa, mas essas pilhas de desordem tendem a ser mais onipresentes para pessoas que lutam com o funcionamento executivo.

Lenore Brooks é uma designer de interiores especializada em trabalhar com pessoas neurodivergentes. Quando sua irmã, que tem TDAH, morou com ela por um curto período, Brooks descobriu que havia muitos recursos para ajudar crianças com TDAH ou autismo a se organizarem, mas praticamente nenhum direcionado a adultos.

Grande parte do trabalho de Brooks gira em torno de ajudar seus clientes a lidar com a desordem aparentemente interminável; eles sentem que estão constantemente limpando, mas a bagunça está sempre lá. As pessoas com TDAH lutam especialmente com isso porque, ela disse, "é quase como uma fadiga de decisão o tempo todo. 'Não consigo decidir o que fazer com isso, então simplesmente não vou fazer nada'".

O primeiro passo, segundo Brooks, é realmente prestar atenção aos itens que você costuma limpar. Em seguida, encontre lugares melhores para eles ficarem. "Falo muito com meus clientes sobre sistemas", disse ela. "Descobrir por que as coisas estão onde estão, por que a desordem se acumula em certos lugares e, em seguida, mudar o design ou a organização de como as pessoas realmente usam sua casa."

Essas mudanças podem ser simples. Por exemplo, se você estiver constantemente retirando canetas das almofadas do sofá da sala e da mesa de centro, pense em designar um local para manter as canetas na sala onde você realmente as usa. Para uma cliente cujo escritório em casa estava sempre cheio de pratos sujos, Brooks deu uma bandeja na qual ela podia juntar sua parafernália de chá e lanche e devolver para a cozinha no final do dia.

 

PARE O PROBLEMA ANTES DE COMEÇAR

Uma vez que seu espaço esteja limpo e relativamente organizado, tente dedicar alguns minutos todos os dias para mantê-lo assim. Davis recomendou marcar um cronômetro para cinco ou dez minutos e cuidar o máximo possível durante esse período. "Eu digo a mim mesma: não preciso terminar esta tarefa, mas vou me levantar durante oito minutos e fazê-la", disse ela. "Normalmente fico surpresa com o quanto consigo fazer."

E lembre-se, é normal ter alguma desordem em casa. O controle remoto da TV, seus óculos, a correspondência que você precisa separar, um projeto de arte no qual está trabalhando: "Eles são os sinais de vida em sua casa", disse Brooks.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Após as mortes, um grupo com cerca de 200 indígenas bloqueou a BR-101 para cobrar agilidade dos órgãos de segurança na elucidação dos crimes

 

 

Indígenas que foram mortos nesta terça-feira (17) na BR-101, em Itabela (BA) - Reprodução/NaMidia.News no Instagram

 

Dois indígenas da etnia pataxó foram mortos na noite desta terça-feira (17) no município de Itabela, sul da Bahia. A polícia local investiga se os assassinatos estão ligados a conflitos por terra na região.

As vítimas são o adolescente Nawir Brito de Jesus, 16, e Samuel Cristiano do Amor Divino, 25, segundo a Polícia Civil. Ambos viviam na Terra Indígena Barra Velha, que faz divisa com uma área de mais de 22 mil hectares do Parque Monte Pascoal.

Os dois foram mortos a tiros quando se deslocavam do povoado de Montinho para uma das fazendas ocupadas por um grupo indígena, diz a polícia. Testemunhas disseram que homens em uma moto atingiram as vítimas pelas costas.

Por causa das mortes, um grupo com cerca de 200 indígenas bloqueou a BR-101, na altura do km 787, para cobrar a resolução dos crimes, segundo o cacique Zeca Pataxó.

"A situação [os crimes], com certeza, tem a ver com nosso

 "Estamos, agora, reunidos aqui no território da aldeia Barra Velha, enquanto aguardamos a liberação dos corpos pelo IML [Instituto Médico Legal], para darmos prosseguimento aos rituais fúnebres", disse.

A ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sonia Guajajara, lamentou as mortes dos jovens por meio de uma publicação numa rede social. "Acompanharei de perto o que vem acontecendo na região e irei requisitar ação imediata do Estado", disse.

Pouco depois dos assassinatos, ainda na noite desta terça, o Movimento Indígena da Bahia enviou documento ao governo federal no qual denuncia que as comunidades locais "estão sob forte ameaça de pistoleiros".

O documento exige a presença da Polícia Federal, para que seja a responsável pela investigação do caso. "Visando a proteção das vidas dos indígenas que ali residem", diz o texto, que também pede o envio de órgãos ligados à proteção aos direitos humanos.

A situação dos conflitos se arrasta desde meados do ano passado, o que resultou em outras mortes de indígenas na região. Conforme mostrou a Folha, em agosto, uma escola com 80 crianças foi alvo de tiros.

À época, os ataques dos pistoleiros levaram o governo baiano a montar uma força-tarefa para impedir novos conflitos.

A Polícia Civil informou que o caso mais recente está sendo investigado pela Delegacia Territorial de Itabela. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Emissora, que já teve vilão espelhado em Edir Macedo, nunca se empenhou tanto em falar àquele que será o maior grupo religioso do país

 

Sol (Sheron Menezzes) é uma cantora gospel em 'Vai na Fé', novela das sete - João Miguel Júnior/Globo

 

CRISTINA PADIGLIONE

SÃO PAULO

Ao lançar uma novela com temática positiva aos evangélicos, protagonizada por uma mulher negra, "Vai na Fé", que estreia nesta segunda-feira (16), contempla as três principais demandas anunciadas pela direção da Globo a roteiristas, criadores e diretores do mercado audiovisual há menos de um ano.

Em uma apresentação feita a esses profissionais do Rio2C, evento anual dedicado ao segmento, no Rio, em abril de 2022, o diretor da TV Globo e Afiliadas, Amauri Soares, exibiu gráficos e indicadores que mostravam o desenho comportamental do país naquele momento pós-pandêmico.

Soares sublinhou três pontos resultados de uma série de pesquisas demográficas feitas sob os moldes do interesse comercial da emissora, cuja vocação, como TV aberta, é alcançar o maior número de pessoas:

  1. O Brasil deixaria de ser um país de maioria católica ainda em 2022, para se tornar uma nação de maioria evangélicaem até dez anos, no máximo;
    2. De cada três famílias brasileiras, uma é comandada por uma mãe preta, na maioria das vezes, solteira;
  2. A crise econômica trazida pela pandemia havia reagrupado núcleos familiares que já estavam segmentados em residências separadas, trazendo de volta para o mesmo teto avô e neto, pai e filho, cunhados e afins, formando famílias multigeracionais.

Em "Vai na Fé", Sol, a mocinha vivida por Sheron Menezzes atende a quase todas essas características. Ela só não é mãe solteira, mas é cantora gospel em igreja evangélica, religião da mãe, vivida por Elisa Lucinda, e sustenta a família com a venda de quentinhas. É uma personagem batalhadora, como é toda mocinha e como era também Paloma, costureira, heroína criada pela mesma autora da vez, Rosane Svartman, então com Paulo Halm, em seu último folhetim, "Bom Sucesso".

A diferença é que Paloma era a loira Grazi Massafera. Agora temos uma negra nesse posto.

De três anos para cá, em especial, a Globo tem acelerado o processo de diversidade e inclusão racial em seus elencos, quebrando a hegemonia branca nos papéis de protagonistas e ampliando suas opções para personagens que fogem de estereótipos, ou seja, não são feitos pela medida da cor, abrindo o leque para situações que são de todos nós, mas que podem ser enriquecidas em cena pelo debate racial, de modo pontual.

Uma mulher como Vitória, por exemplo, em "Amor de Mãe", poderia ser uma atriz branca ou de qualquer origem étnica, mas a presença de Taís Araújo no papel abria a oportunidade de salpicar questões raciais aqui e ali, ao longo da trama de Manuela Dias, sem que esse fosse o ponto central daquela personagem.

A inclusão religiosa, no entanto, é algo mais recente na política estratégica da Globo, sempre mais afinada com o catolicismo, principalmente na dramaturgia. Os evangélicos, ou religiões pentecostais, de modo geral, há algum tempo já não são representados de modo pejorativo, mas nunca protagonizaram um enredo de novela na casa.

É natural que este segmento tenha buscado um espelho mais fiel de suas crenças na Record, rede que mais cresceu no universo da TV aberta dos anos 1990 para cá, regida por Edir Macedo, criador da Igreja Universal. Mas por pelo menos duas décadas, a Globo não só não se esforçou para parecer mais simpática aos evangélicos, como produziu histórias capazes de gerar uma guerra com os neopentecostais.

O ápice dos conflitos veio na esteira de "Decadência", minissérie de Dias Gomes, em 1995, cinco anos após Macedo ter comprado a Record, demonstrando, desde então, sede de alcançar o calcanhar da Globo em audiência. Foi a única produção com protagonismo evangélico na Globo, e deu-se da forma mais negativa possível, a ponto de a Igreja Universal ter processado a rede da família Marinho na época.

Mariel, personagem vivido por Edson Celulari, crescia adotado por uma família católica, mas criado pela empregada da casa. Adulto, tornava-se motorista da família, e se envolvia com Carla, a caçula da casa, sendo expulso da mansão sob acusação de estupro.

O tempo passa e, ao ser levado por uma namorada a um culto numa igreja neopentecostal, Mariel encontra na igreja a salvação para seus problemas. Cinco anos mais tarde, ele se torna milionário após fundar a própria igreja, o Templo da Divina Chama, enquanto seus antigos patrões empobrecem e lhe propiciam chances de vingança.

Havia frases inteiras de Macedo na boca do personagem.

Esse é um perfil que a Globo quer deixar para trás, assim como a predominância de imagens sacras, algo inaceitável entre evangélicos, em suas novelas e séries. Evidências da pluralidade religiosa do país, ao contrário do que pratica a Record em toda a sua programação, seguirão em cena, mas a tendência é que a predileção católica perca primazia, ao menos na ficção.

 

*zapping - cristina padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br). Fonte: https://f5.folha.uol.com.br

O caso foi denunciado à polícia de Corumbá (MS) após uma cuidadora presenciar os xingamentos e gritarias dentro da casa, em uma semana de trabalho. O suspeito foi preso em flagrante por maus-tratos.

 

Por Débora Ricalde, g1 MS

Um homem, de 61 anos, foi preso em flagrante por impedir que a mãe de 80 anos tivesse acesso a água, alimento e a própria aposentadoria. O crime de maus-tratos aconteceu em Corumbá, a 420 km de Campo Grande.

O caso foi descoberto pela polícia na quinta-feira (22), após a denúncia de uma mulher foi contratada pela filha da vítima para cuidar da idosa, que é cadeirante. Durante uma semana de trabalho, a profissional relatou ter visto diversas facas espalhadas pelos cômodos da casa e também ouvido gritaria e xingamentos contra a paciente.

Durante o depoimento à polícia, a cuidadora de idosos relatou que além da pressão psicológica, o suspeito também racionava água dentro da casa, impedindo que a mesma tomasse banho de forma adequada e fizesse as demais higienes.

Ainda de acordo com a ocorrência, a mãe do suspeito também não tinha permissão para ligar o ventilador ou o ar-condicionado. Além de muitas vezes ter sido alimentada com comida vencida.

Conforme a polícia, a cuidadora relatou ainda que o filho tirou a bateria do celular da idosa para que ela não falasse com os outros irmãos e também ficava com todo o dinheiro da aposentadoria no dia do pagamento.

O suspeito foi preso em flagrante e deve responder pelo caso de maus-tratos. Fonte: https://g1.globo.com

Reportagem revisita famílias em situação vulnerável; falta de dinheiro impõe racionar alimentos

 

Leonardo VieceliJosué Seixas Franco Adailton Daniela ArcanjoAna Paula Branco

RIO DE JANEIRO, MACEIÓ, SALVADOR e SÃO PAULO

 

Aida, 63, no Rio de Janeiro, prefere dormir a encarar a mesa vazia na noite do Natal. Elaine, 39, de Salvador, chega ao dia da ceia racionando comida para a família. Rosali, 47, de Maceió, mora em nova casa de madeira, mas a geladeira deverá seguir sem nada neste fim de ano.

A Folha revisitou neste mês pessoas em situação vulnerável em quatro capitais e regiões metropolitanas brasileiras e constatou que a insegurança alimentar ainda afeta a mesa dos lares mais pobrs.

Aida Herminio dos Santos, 63, tem um plano para a noite de Natal: dormir. A moradora de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, afirma que está recebendo o Auxílio Brasil, mas anda com o orçamento apertado, o que impede o preparo de uma ceia para a família na data festiva.

A exemplo de outros tantos brasileiros, ela segue com o bolso pressionado pela inflação.

"O meu Natal vai ser assim: vou passar dormindo. Infelizmente, não tenho condições de montar uma mesa e receber minha família aqui. Esse tempo já se foi", diz Aida, que vive com o companheiro.

Em março deste ano, ela foi entrevistada pela Folha para uma reportagem sobre desemprego de longa duração. À época, estava sem trabalho havia dois anos, desde o início da pandemia.

Após a publicação da reportagem, Aida recebeu doações e conseguiu voltar a cozinhar com botijão de gás, um item que havia sido trocado pelo fogão a lenha em razão da alta de preços.

A moradora da Baixada Fluminense, contudo, continua sem um emprego fixo. O pagamento do Auxílio Brasil –ampliado pelo governo federal em agosto para R$ 600– ajudou nas despesas, mas ela diz que ainda busca doações para o sustento da casa.

Ao longo do ano, Aida também passou a cuidar de dois netos. "Ainda está apertado. Tem dias em que a gente tem o arroz e o feijão, e às vezes não tem a mistura", conta.

Seu desejo é retornar para o mercado de trabalho, mas a idade é considerada um obstáculo adicional para a conquista de uma vaga. "Até arrumaram serviço para mim, mas, com 63 anos, preferem pessoas mais novas."

Antes da pandemia, Aida trabalhava como cuidadora de idosos. Ela gostaria de regressar para uma função nessa área.

"Meu desejo é voltar a trabalhar. É o que me faz sentir bem. Gosto de tudo que for para ajudar", diz.

 

EM MACEIÓ, TER A GELADEIRA CHEIA PARA A FAMÍLIA É SONHO

Rosali Alexandre de Souza, 47, de Maceió, recebeu a Folha em sua nova casa, feita de madeira após a queda da anterior no período de chuva que atingiu o Nordeste. Livrar-se do aluguel foi a conquista de 2022, embora considere este o seu ano mais sofrido.

Apesar do imóvel próprio, a geladeira continua vazia.

"Não tenho vergonha de dizer que hoje vou comer um arroz, um pouco de feijão e vou fritar uma mortadela para todo mundo. No jantar, cuscuz com leite de caixa. É assim mesmo. Esse foi meu ano mais difícil, que chego e vejo a geladeira vazia praticamente todos os dias", diz ela.

Por causa da filha Yasmin, 18, e da neta Jasmin, 7, a casa foi decorada para o Natal. Na porta, uma mensagem de "Feliz Natal", luminárias e um chapéu, assim como alguns poucos detalhes espalhados nos cômodos, todos feitos de material reciclável.

"De vez em quando, já estamos conseguindo carne e frango, mas não vamos fazer uma ceia daquelas nesse fim de ano. Arroz e alguma coisa que conseguirmos com doação. Era meu costume juntar todo mundo, comer bem, mas é muito difícil. Você vê a geladeira vazia, como foi da outra vez que vieram, e não é uma surpresa. Nem na pandemia era desse jeito", afirma.

A Casa Tuca, que intermediou a visita, levou doações e fez ações sociais para dar mais qualidade ao fim de ano das famílias.

"O que eu quero mesmo é ter a minha casa própria e minha geladeira com condições para ajudar toda a minha família. É o sonho que não abro mão", falou ao fim da visita, já com os olhos marejados.

 

NATAL SERÁ MAIS UM DIA DE LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA

Em Salvador, no início de cada mês, a dispensa na casa da ambulante Elaine Costa Silva, 39, está, na medida do possível, abastecida para alimentar as cinco pessoas que moram no local: ela, as filhas Elaiza, 18, e Evelyn, 13, mais as duas sobrinhas, Mileide, 17, e Ilana, 4.

A partir da terceira semana, é preciso racionar até receber o Auxílio Brasil, única renda fixa da família. Neste mês de Natal, o arrocho promete ser maior, já que não tem sobrado dinheiro para Elaine produzir os materiais de limpeza que costuma vender nas ruas da capital baiana.

Os R$ 600 do benefício vão só para alimentação. Caso estivesse com as vendas em dia, ela diz, a família teria um adicional que oscila em até R$ 200 a mais na renda. "O dinheiro é, basicamente, para comprar comida. Depois de muita pesquisa, porque está tudo muito caro."

Apesar das dificuldades cotidianas, Elaine prefere continuar com as vendas incertas a ter um trabalho como empregada doméstica. "Como não tenho estudo, sempre trabalhava em casa de família, mas era muita humilhação."

Silva não precisa usar o auxílio em despesas com moradia, a exemplo do aluguel, pois vive com a família em um barraco de madeira no bairro de Vista Alegre, no subúrbio da capital baiana.

Por outro lado, o gás de cozinha, cujo botijão de 13 kg em Salvador custa a partir de R$ 120, consome quase 25% da renda da casa. "Quando acaba o gás, se a gente não tiver dinheiro, precisamos cozinhar com lenha", afirma.

O fornecimento de água vem de uma tubulação a partir de um imóvel de uma vizinha, que cobra R$ 50 mensais dos moradores da ocupação. Já a energia elétrica é clandestina.

A estrutura do barraco levantado à base de madeira compensada fica parcialmente comprometida a cada chuva, conta. Para que não apodreçam, forra as paredes com pedaços de lona plástica.

Silva nem cogita preparar algo especial para passar a noite de Natal com a família. "Para a gente, será como um dia comum como qualquer outro, de luta pela sobrevivência. Nada planejado."

Ela também diz não ter motivos para comemorar, desde que o filho Yan Barros foi assassinado aos 19 anos, em abril de 2021. O jovem foi encontrado morto após suspeita de furtar carne em um supermercado em Salvador.

"A última vez que celebramos o Natal, que decoramos a casa, foi em 2020, quando meu filho estava vivo", diz. "Depois que fizeram aquela barbaridade com ele, que era a alegria da casa, fim de ano aqui é só tristeza", afirma.

 

CHESTER VAI VOLTAR À MESA EM CEIA DE HELIÓPOLIS

Neste ano, o chester vai voltar para a mesa de Natal de Priscilla Ribeiro, 42, moradora de Heliópolis, maior favela de São Paulo. A situação da dona de casa melhorou em relação ao último ano, quando a celebração passou como "um dia normal".

Desempregada desde o final de 2020, Priscilla viu a sua renda se reduzir ao valor do Auxílio Brasil ao longo desses dois anos. Eventuais aumentos se devem a vendas informais, na sua própria casa, de açaí e picolé.

Priscilla tem sete filhos, e o orçamento precisa sustentar cinco deles. Em alguns momentos, a conta não fechou.

Quando foi entrevistada pela Folha, em abril de 2021, havia trocado a carne que acompanhava o prato de arroz com feijão por ovo e salsicha. Hoje, o alimento voltou, mas só duas vezes por mês.

"Do meio do ano para cá, o preço das misturas deu uma caidinha", afirma. A queda nos preços também fez o frango voltar para o prato três vezes na semana e a compra do mês ser possível de novo. Cerca de R$ 400 mensais vão para o mercado.

"Na pandemia era de picado. Eu comprava só o que faltava", diz.

Apesar da leve recuperação financeira, a família ainda passa por dificuldades. A falta de dinheiro fez uma conta de água, por exemplo, ficar atrasada por mais de um ano. Só no final de 2022 a dívida foi regularizada.

Salsicha e congelados de frango ainda entram no cardápio quando as contas apertam, e o pernil de Natal, que Priscilla queria para a noite de festa, vai ficar para o ano que vem.

 

MORADORA DE OCUPAÇÃO DIZ QUE ESTÁ SEM REMÉDIO

Entrevistada pela Folha em 2021, Samantha Silva, 34, continua a morar em uma ocupação e afirma que as dificuldades econômicas persistem. A família, por exemplo, usa lenha para economizar no gás de cozinha.

"Ainda estamos passando aperto, principalmente com a chuva que teve esses dias. Tive que usar o fogão e gastar gás. Mas temos que dar graças a Deus por termos um teto. Tenho recebido o Auxílio Brasil, é o que está me ajudando."

Há seis anos fora do mercado de trabalho para cuidar da família, ela tem dificuldade para conseguir um emprego, mesmo se inscrevendo em cursos gratuitos de recolocação profissional. "Estou procurando qualquer emprego, para poder cuidar e alimentar as minhas filhas, de 16 anos e 10 anos. Quero dar educação e moradia digna para elas", afirma Samantha.

Neste ano, ela conta que enfrenta mais um problema: a dificuldade para retomar o tratamento de lúpus. "Quando meu marido perdeu o emprego, tivemos que entregar a casa e, desde então, estamos na ocupação e me tiraram do postinho. Tive que ir atrás de todos os documentos para levar para outro posto e terei que iniciar tudo do zero, passar com hematologista, dermato de novo. Estou sem remédio, o corticóide e a dose de cloroquina."

Embora relatando muito cansaço e desânimo por causa das manchas e dores do lúpus, Samantha tem fé em 2023. "Se Deus quiser, ano que vem vai ser um ano de vitórias." Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

THE WASHINGTON POST - Apresse-se para chegar ao ponto de ônibus. Apresse-se ao subir as escadas. Brinque de pega-pega com seus filhos. Brinque com o cachorro. Aspire a sala de estar com um toque extra. Aumentar o vigor e o entusiasmo de nossas atividades diárias pode ter um impacto substancial em nossa longevidade, de acordo com um novo estudo sobre intensidade de movimento e mortalidade.

O estudo concluiu que apenas três minutos por dia de atividades diárias vigorosas estão associados a um risco 40% menor de morte prematura em adultos, mesmo quando eles não se exercitam regularmente. “É uma pesquisa fantástica”, disse Ulrik Wisloff, diretor do K.G. Jebsen Center for Exercise in Medicine na Norwegian University of Science and Technology, em Trondheim. Ele estuda extensivamente a atividade e a longevidade, mas não esteve envolvido no novo estudo.

Os resultados da pesquisa juntam-se às crescentes evidências científicas de que adicionar um pouco de intensidade às nossas vidas traz grandes benefícios para a nossa saúde, sem precisar de equipamentos extras, instrução, academia ou tempo.

A ideia de que a forma como nos movimentamos influencia no nosso tempo de vida não é nova. Muitas pesquisas vinculam o exercício regular a uma expectativa de vida mais longa, incluindo as diretrizes formais da saúde pública, que recomendam pelo menos 150 minutos por semana de exercícios moderados para saúde e longevidade.

Pesquisas mais focadas, no entanto, sugerem que intensificar alguns de nossos exercícios – certificando-se de que nossos batimentos cardíacos e respiração aumentem – amplia os benefícios para a saúde.

Em um estudo de grande escala de 2006 do laboratório de Wisloff, por exemplo, foi constatado que apenas 30 minutos por semana de exercícios intensos diminuíram o risco de morte por doenças cardíacas em cerca da metade dos homens e mulheres que participaram, em comparação a pessoas sedentárias.

Da mesma forma, um estudo publicado no ano passado no JAMA Internal Medicine concluiu que as pessoas que se esforçam mais durante o exercício têm cerca de 17% menos probabilidade de morrer prematuramente do que outras pessoas que fazem a mesma quantidade de exercício, mas em um ritmo mais suave e moderado.

Ambos os estudos, no entanto, e pesquisas anteriores semelhantes, foram baseadas na lembrança subjetiva das pessoas de quanto e com que intensidade elas se exercitaram. “Se formos honestos, a maioria das pessoas é alérgica à palavra ‘exercício’”, disse Emmanuel Stamatakis, professor de atividade física e estudos de saúde da Universidade de Sydney, na Austrália, que liderou o novo estudo.

Reconhecendo esse comportamento, ele e seus colegas começaram a se perguntar sobre os efeitos das atividades sem exercício – aquelas tarefas e movimentos frequentes que ocupam grande parte de nossos dias. Seria importante para a saúde das pessoas se essas atividades fossem concluídas mais rapidamente, com mais dificuldade, com um pouco mais de entusiasmo?

Para descobrir, os pesquisadores recorreram aos extensos dados armazenados no UK Biobank, que inclui registros de saúde de centenas de milhares de homens e mulheres britânicos. A maioria deles usou um acelerômetro por uma semana após ingressar no Biobank para rastrear seus movimentos diários. Os cientistas obtiveram registros de 25.241 desses adultos, com idades entre 40 e 69 anos, e todos disseram aos pesquisadores que nunca se exercitaram.

 

Surtos físicos

Os cientistas, então, começaram a analisar suas atividades diárias em detalhes minuciosos, determinando a intensidade de seus movimentos quase segundo a segundo, com base na rapidez dos passos e outros dados. A análise consumiu três meses de tempo constante no computador, disse Stamatakis. Mas, no final, os pesquisadores conseguiram mapear os breves movimentos dos participantes, como quando alguém correu para pegar um trem ou atrás de uma criança. Esses “surtos físicos” podem durar apenas um minuto. Mas eles têm impacto no risco de mortalidade.

Comparando os padrões de atividade com os registros de morte por um período de cerca de sete anos depois que as pessoas ingressaram no Biobank, os cientistas descobriram que homens e mulheres que praticavam em média 4,4 minutos por dia do que os cientistas chamam de atividade física de estilo de vida intermitente vigorosa tinham cerca de 30% menos probabilidade de terem morrido nesses sete anos do que aqueles que raramente se movimentavam rápido.

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Espalhar essas breves explosões de atividade aumenta os benefícios na longevidade. Quando as pessoas conseguiam pelo menos três surtos separados de movimento durante um dia, cada um durando apenas um minuto, seu risco de mortalidade caía 40%, em comparação com pessoas que nunca se apressaram. Eles não se exercitavam, apenas aumentavam o ritmo de algo que estavam fazendo, pelo menos três vezes ao dia.

Por fim, os pesquisadores realizaram uma análise semelhante dos dados de 62.344 homens e mulheres do Biobank que se exercitam, embora a maioria em ritmo moderado. Quando essas pessoas conseguiam alguns minutos de atividade mais intensa na maioria dos dias, seja durante seus treinos ou tarefas diárias, seus riscos de mortalidade eram menores do que se exercitassem regularmente de forma moderada. “Há algo sobre a intensidade”, disse Stamatakis.

Para fortalecer suas próprias atividades, continuou Stamatakis, mova-se com força e rapidez o suficiente para que a conversa pareça impossível. Tente atingir esse nível de falta de ar três a quatro vezes ao dia, por um minuto ou dois, de preferência enquanto estiver fazendo algo que precise fazer de qualquer maneira.

Este estudo é limitado, no entanto. É associativo, mostrando apenas uma relação entre golpes rápidos de esforço e nossa expectativa de vida, e não nos diz por que a intensidade conta, embora outras pesquisas indiquem que exercícios extenuantes melhoram a resistência e a saúde cardiovascular mais do que exercícios mais leves, disse Stamatakis.

O resultado do estudo, concluiu ele, é que a pressa em realizar tarefas diárias pode nos adicionar anos a mais de vida no futuro. Fonte: https://www.estadao.com.br

Com alguma frequência, ouve-se que já não seria necessário ler um jornal todos os dias porque a informação chega agora “por outros meios”. Também se escuta a seguinte reclamação: estou pensando em parar de ler os jornais porque, com suas críticas excessivas e outras tantas tolerâncias, perderam o equilíbrio. Chegam a irritar. Qual é o sentido de ler algo se depois fico irritado?

Sim, ler um bom jornal sempre envolve algum incômodo. Entra-se em contato com gente que pensa diferente, que nos contraria, que diz, de forma muito convicta, algo que nos parece uma insensatez. O jornal é uma forma de contato habitual, diário, com a pluralidade da sociedade. (Desconfie de jornais com os quais se concorda do início ao fim. Eles não retratam o mundo em sua complexidade. Abdicaram do jornalismo para se tornarem pirulitos agradáveis ao paladar do leitor.)

No entanto, eis a ironia da vida, todas as pessoas que conheço que pararam de ler jornais para não ficarem irritadas, depois que abandonaram a leitura diária da imprensa, ficaram ainda mais irritadas com o mundo, com os outros e com os próprios jornais. Se alguém deseja estar num genuíno estado de exasperação com a vida e com o que acontece ao seu redor no âmbito político, social e cultural, pare de ler jornal – e dedique-se ao WhatsApp e às redes sociais.

A leitura diária de jornais funciona como um exercício privilegiado de pluralidade. Quem a abandonou está menos preparado para lidar com as diferenças existentes na sociedade. O mundo torna-se uma fonte mais intensa de perplexidade e irritação. Sem a leitura de jornais, ficamos menos capazes da compreensão e mais propensos ao atrito.

Conhecer – ler, estudar e dialogar – a partir de outras perspectivas produz desassossego. Tira da zona de conforto. Mas desassossego sério, que impregna o corpo e a alma, é gerado pela ignorância: a incompreensão do que está acontecendo ao seu redor, a sensação de que se deveria viver num tempo diferente. Há um fenômeno cada vez mais frequente. Tem gente que, de tão incomodada com o que vê ao seu redor, quer voltar no tempo, vivendo, por exemplo, no século 19. E alguns ainda tratam essa utopia como “conservadorismo”.

Aqui, entramos no outro ponto: os jornais são necessários para conhecer a realidade contemporânea? Sim, definitivamente sim. Em relação a tudo aquilo com que não temos contato imediato – ou seja, a imensa maioria dos assuntos –, o jornalismo é a fonte mais confiável sobre o tempo presente.

Na definição clássica, o direito é a arte do justo. Pode-se dizer que o jornalismo é a arte do presente: a arte de narrar o tempo presente. Ele tem método, mas não é a rigor uma ciência. O jornalismo é um modo de apreender, a partir de critérios objetivos e verificáveis, a realidade. Não é o mundo da pura subjetividade. Há um grande respeito pelo factual. Por isso, além de estar sob contínua revisão, o jornalismo é sempre feito coletivamente. Tem necessariamente uma dimensão institucional. Nunca é mero afazer solitário, encerrado numa única individualidade, numa única subjetividade.

Uma observação: jornalismo não é o título da matéria, o tuíte sobre a reportagem ou o resumo dos jornais que nos chega por meio de newsletters. Se estamos lendo apenas isso, já abandonamos o jornalismo. De um jeito diferente, estamos vendo apenas a primeira página do jornal exposta na banca de jornal. Jornalismo é o conteúdo inteiro das reportagens, com o contexto dos fatos, suas relações, suas consequências e a continuação no dia seguinte.

Os jornais são importantes no acesso à realidade porque não representam apenas uma foto dela. A leitura diária dos jornais oferece um filme do tempo presente. E é essa continuidade, um dia após o outro, que produz a mágica: somos enxertados na compreensão do fluxo do tempo presente, com seus movimentos e também com seus imobilismos. A leitura diária dos jornais proporciona uma experiência radicalmente diferente da leitura esporádica.

A complexidade da vida e da ação humana, com suas múltiplas camadas, inviabiliza a pretensão da autossuficiência na compreensão da realidade, na organização e síntese dessas informações. Queremos conhecer o Congresso sem repórteres no plenário, nos corredores e nos bastidores? Queremos julgar o Judiciário lendo apenas lacrações? Queremos entender as reivindicações políticas de grupos minoritários ouvindo apenas o nosso entorno social?

Não há conhecimento qualificado do mundo contemporâneo sem jornalismo. A frase “não preciso dos jornais, já estou informado por outros meios” significa, no melhor dos casos, que se abdicou do acesso direto ao jornalismo e, agora, se informa pela leitura que outras pessoas fazem do jornal que se deixou de ler.

Podemos e devemos exigir jornais melhores. O jornalismo é sempre imperfeito. Mas abandonar sua leitura não produz autonomia. É uma opção por alhear-se do tempo presente. É começar a desligar os aparelhos. Pode-se admirar outras épocas, o contemporâneo tem também suas deficiências, mas a vida sempre transcorre no presente.

* ADVOGADO. Fonte: https://www.estadao.com.br

Em carta ao governo da Capitania do Piauí, ela denunciou os maus-tratos contra mulheres e crianças no século 18

 

Estátua em homenagem a Esperança Garcia, em Teresina, capital do Piauí. Foto: Moacir Ximenes/Central de Artesanato Mestre Dezinho

 

Defensora dos direitos das mulheres e das crianças, Esperança Garcia escreveu o primeiro “habeas corpus” que se tem registro no Brasil. Pela sua atitude, a autora recebeu um reconhecimento póstumo do Conselho Pleno da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) como primeira advogada do País. Ela já havia sido reconhecida pela seccional da OAB no Piauí em 2017 como a primeira advogada do Estado.

Escravizada no século 18, em Oeiras, no interior do Piauí, Esperança tinha apenas 19 anos quando enviou uma carta ao então governador da Capitania, Gonçalo Lourenço Botelho de Castro. Ela denunciava os maus-tratos que mulheres e crianças sofriam na fazenda em que vivia e pedia que providências fossem tomadas.

A carta de Esperança foi documentada pelo historiador e antropólogo Luiz Mott em 1979 e, desde 1999, o dia 6 de setembro, data de escrita do texto, é considerado Dia Estadual da Consciência Negra no Piauí.

“Reconhecer a Esperança Garcia como primeira advogada negra e dar essa visibilidade à carta é colocar essa população como protagonista da sua história”, afirma a historiadora Raquel Costa, que compôs a Comissão Estadual da Verdade e da Escravidão Negra da OAB-PI e fez parte da construção do dossiê que traz a história de Esperança.

“Tirar essa ideia de uma escravidão amenizada, de que esses escravos só sofriam violência e eram passivos diante do sistema. A carta mostra essa subjetividade de uma mulher negra escravizada e protagonista de toda a sua história”, acrescenta.

A aprovação do Conselho Federal ao reconhecimento de Esperança foi anunciada pelo presidente do Conselho Federal da OAB, Beto Simonetti, no último dia 25.

 

Reparação

Para Élida Fabricia, conselheira federal da OAB pelo Estado do Piauí, o reconhecimento de Esperança Garcia é uma reparação histórica. “Isso significa que nós lamentamos todo o sofrimento que foi imposto a essa população historicamente e que nós estamos dispostos a buscar instrumentos que viabilizem a promoção da igualdade no âmbito da OAB, da advocacia e em toda a sociedade”, explica.

Além do reconhecimento, o órgão também decidiu pela construção de um busto da personalidade no salão principal da sede do Conselho Federal. “Para que nós tenhamos uma presença concreta da Esperança Garcia e de toda a Esperança que move a advocacia”, afirma Élida.

A pauta foi levada ao conselho pela então presidente da Comissão Nacional da Mulher Advogada (CNMA) e hoje presidente da OAB-BA, Daniela Borges, e a então presidente da Comissão Nacional de Promoção da Igualdade (CNPI) da OAB, hoje conselheira federal Silvia Cerqueira (BA).

Ainda na gestão 2018-2022, as duas fizeram o requerimento em nome da história de Esperança Garcia e o pedido foi apoiado pelas atuais presidentes dos órgãos, Cristiane Damasceno, na CNMA, e Alessandra Benedito, na CNPI.

 

A história de Esperança

De acordo com dossiê Esperança Garcia: Símbolo de Resistência na Luta pelo Direito, organizado pela advogada Maria Sueli Rodrigues de Souza e pelo historiador Mairton Celestino da Silva, Esperança Garcia tinha 19 anos quando as terras em que vivia no interior do Piauí foram doadas aos Jesuítas e sua família, separada.

Casada desde muito nova, Esperança dividia a vida com o marido também escravizado Ignácio Angola. No entanto, após a fazenda de algodões passar a ter outro dono, ela foi enviada junto com dois de seus filhos para ser cozinheira em outra casa.

Em sua carta, Esperança relata abusos que sofria junto com suas crianças, além do impedimento de se confessar na igreja junto com outras mulheres com quem vivia.

“Peço a Vossa Senhoria pelo amor de Deus ponha aos olhos em mim ordinando digo mandar ao procurador que mande para a fazenda aonde me tirou para eu viver com meu marido e batizar minha filha”, escreveu.

O fim da história nunca foi conhecido e confirmado, mas, em alguns documentos que vieram à tona anos depois, uma mulher escravizada de nome Esperança, de 27 anos, casada com o também escravo africano Ignácio, de 57, aparece na listagem de uma fazenda de algodões na década de 1770.

Também estavam listadas cinco crianças escravizadas entre 1 e 9 anos, mas não se sabe ao certo se eram os filhos do casal.

 

A natureza jurídica da carta

O dossiê explica que a carta de Esperança continha uma natureza jurídica tanto pelo autorreconhecimento da autora como membro da comunidade política, como no caráter de peticionamento no documento.

A advogada Andreia Marreiro, que também contribuiu no dossiê, acredita que a história mostra como o Direito está em constante disputa. “Ele tanto serve para manutenção das relações de poder e opressão, como também é acionado pelos grupos historicamente silenciados e invisibilizados que tiveram os direitos negados”, afirma.

“Os direitos que a população negra hoje tem foram conquistados, e não dados. Aprendemos que a abolição da escravidão foi dado por uma pessoa branca, quando na verdade você tem essa liberdade e dignidade reivindicada e conquistada pelo movimento negro, pelo protagonismo dessas pessoas que se insurgiram diante daquilo e lutaram”, acrescenta Andreia.

Élida destaca que se trata de um reconhecimento simbólico, sem implicações jurídicas, mas um resgate histórico. “O que a conecta com a advocacia é a ousadia de buscar defender os direitos humanos e reivindicar. Fonte: https://www.estadao.com.br

Se os sintomas forem leves e o treino de baixa intensidade, ok. Com tosse seca, desconforto no peito, febre e dor muscular, não

 

 

Por Rachel Rabkin Peachman, The New York Times

Nariz escorrendo, dor de cabeça, sinusite, tosse, dor no corpo, dificuldade de respirar. Quais desses sintomas são a deixa para interromper a prática dos exercícios? Pesquisadores investigaram essa pergunta e chegaram à conclusão de que, nem sempre um resfriado impacta a rotina de quem vai à academia ou pratica algum esporte, e que, muitas vezes, as atividades físicas podem ajudar a melhorar a resposta imunológica do nosso corpo em períodos de resfriado ou gripe fraca.

Contudo, há algumas ressalvas que merecem atenção, segundo eles. A seguir, serão listadas as principais observações feitas pelos especialistas.

 

Faça o teste do pescoço

Antes de você ir se exercitar, preste bastante atenção nos seus sintomas. Thomas Weidner, professor de Educação Física da Ball State University, em Indiana, Estados Unidos, explica que “o guia mais popular é o teste do pescoço”.

— Caso os sintomas estejam acima dele, fazer o exercício é seguro.

O especialista se refere à congestão nasal e dor de cabeça fraca, por exemplo, afirmando que, nesses casos, atividades físicas leves não afetarão o resfriado.

Weidner comprovou a eficácia desse teste em um estudo feito na década de 1990. Nele, 50 jovens adultos foram infectados com um vírus comum de resfriado e, aleatoriamente, dividiu-os em dois grupos: um fez 40 minutos de exercício moderado por 10 dias ininterruptos, o outro não fez nenhuma atividade física. Os pesquisadores descobriram que a doença não se intensificou entre os grupos, ou seja, a prática do exercício não prolongou ou piorou o resfriado. Weidner, posteriormente, repetiu os testes e os resultados foram similares.

Contudo, se os sintomas estiverem abaixo do pescoço, como tosse seca, desconforto no peito, náusea, diarreia, febre, dor muscular e fadiga, “não é boa ideia fazer exercícios”, reforçou Jeffrey Woods, professor da University of Illinois at Urbana-Champaign, também nos Estados Unidos.

 

Monitore seus sintomas

Também mantenha emmente que os sintomas podem evoluir, e, o que antes era só um nariz escorrendo, pode se transformar em algo mais sério, como bronquite ou gripe. Proceda com cautela, atento a como você está se sentindo e não faça exercícios se você começar a se sentir pior.

— Existe esse mito de que você pode se livrar do vírus suando, mas isso é uma péssima coisa a se fazer — reforçou David Nieman, professor de Biologia na Appalachian State University e diretor do Laboratório de Performance Humana do Centro de Pesquisa da Carolina do Norte.

Se você não está se sentindo bem, exercícios pesados podem agravar os sintomas e aumentar o risco de complicações.

— Isso pode realmente fazer você ficar de cama. Se sua condição se deteriorar, é melhor descansar até os sintomas irem embora — diz Nieman. —Depois, gradualmente volte à rotina. É comum maior dificuldade no início, caso você retorne rápido e com força.

Em casos raros, exercitar-se em intensidade enquanto se está doente ou logo após se recuperar, pode manter ou gerar novos sintomas ligados ao cansaço, à exaustão ou a dores inexplicadas. Pesquisadores acreditam que esse fenômeno é similar ao de algumas pessoas que desenvolveram Covid longa ou síndrome da fadiga crônica, doenças que surgem após uma infecção aguda.

—Pode ter consequências sérias para uma pequena porcentagem de pessoas se elas fizeram, doentes, exercícios muito pesados — alerta Nieman.

Outra consequência é a possibilidade de surgimento da miocardite, inflamação no músculo cardíaco, que causa arritmia cardíaca, dor no peito ou dificuldade ao respirar.

Os pesquisadores não têm certeza do quão comum são esses sintomas mais graves ou o porquê do corpo reagir desse jeito em alguns casos, mas Nieman especula que o sistema imunológico vai para um “nível de perigo” que aumenta as chances de inflamação no coração.

 

Mantenha-se nas atividades moderadas

Se você está certo de que seus sintomas estão melhorando e que você está bem para a prática de atividades, Woods recomenda exercícios cardiovasculares de intensidade moderadas por 30 a 40 minutos por série.

Uma caminhada rápida de 30 minutos ao ar livre, malhar levemente em um aparelho elíptico ou, ainda, andar de bicicleta podem ser boas opções. Woods também avisa que perder peso, nesse período, é normal, e que é importante evitar ir à academia, pois assim você não corre o risco de contaminar outras pessoas. Ele também enfatiza que essa não é a hora para se esforçar e tentar conseguir seus melhores resultados.

Se em algum momento você sentir tontura, aperto no peito ou qualquer dor durante o exercício, considere parar por ali. Se tudo correr bem, no entanto, você pode sentir um “impulso psicológico” após o exercício, e, de acordo com Weidner, “isso é uma vantagem, já que os sintomas podem deixar a pessoa desmotivada”.

Quando estiver totalmente recuperado do resfriado, volte lentamente à sua rotina de exercícios, aumentando gradualmente a duração e a intensidade do treino. A pesquisa mostra que, quando você está saudável, o exercício moderado regular pode realmente diminuir a inflamação, melhorar sua resposta imunológica e diminui o risco de contrair infecções respiratórias superiores em primeiro lugar. Fonte: https://oglobo.globo.com

 

Jornalista relata que precisou apagar vídeo de abordagem para ter celular devolvido, mas outras pessoas filmaram ação, que mostra homem com farda policial analisando bandeira

 

Por Redação do ge — Recife

O jornalista Victor Pereira postou em rede social nesta terça-feira um desabafo após ter sido abordado por pessoas que se identificaram como policiais, no Catar. O motivo foi que confundiram a bandeira do estado de Pernambuco com a da causa LGBTQIAP+, símbolo proibido no país do Oriente Médio.

Segundo Victor, seu celular foi tomado após começar a filmar a abordagem feita a voluntárias que estavam com ele, por conta da bandeira. O jornalista precisou apagar o vídeo para receber o aparelho de volta, mas outras pessoas ao redor também fizeram filmagens (veja no vídeo acima).

"Pessoal, estou nervoso aqui. Estou tremendo, de fato, porque a gente estava com a bandeira de Pernambuco. Estou aqui com alguns voluntários. Fui atacado por alguns integrantes aqui do Catar e policiais. Eles vieram pra cima das meninas achando que era uma bandeira LGBT, mas na verdade é apenas a bandeira de Pernambuco."

- Fui filmar e eles pegaram meu telefone e só devolveram me obrigando a deletar o vídeo que eu fiz. Só consegui meu celular de volta porque deletei o vídeo que eu fiz. Isso é um absurdo porque a gente tem a autorização da Fifa para filmar tudo no estádio - acrescentou Victor, que mostrou credencial para cobertura da Copa.

Ainda de acordo com o jornalista, a bandeira de Pernambuco foi jogada no chão e pisoteada. Victor afirmou que a situação foi amenizada após a chegada de outras pessoas ao local.

“Chegaram a pegar a bandeira de Pernambuco, jogaram no chão e pisaram. Quando algumas pessoas intervieram e amenizaram a situação.”

O também jornalista Kelvin Maciel, que estava com o mesmo grupo de pessoas, disse que a bandeira acabou devolvida após a confusão:

- Não permitimos que tomassem nossa bandeira. Está aqui com a gente, conseguimos recuperar. Mas foi uma situação de muito constrangimento. Fonte: https://ge.globo.com

Quase 500 crianças e adolescentes tiraram a vida no arquipélago em 2020, um recorde nacional e o dobro de quatro anos antes, segundo o Ministério da Saúde

 

Por O Globo Com AFP

Várias universidades no Japão lançaram uma iniciativa original para prevenir o suicídio entre jovens: imprimir mensagens tranquilizadoras em papel higiênico. "Querido, você passa dias difíceis e finge que está tudo bem", pode ser lido em letras azuis nesses pergaminhos brancos. "Você não precisa explicar tudo para nós... mas por que não um pouco?"

As autoridades de Yamanashi, a oeste de Tóquio, distribuíram 6 mil desses pergaminhos para 12 universidades locais no mês passado. Além desse tipo de mensagem, escrita por um especialista em saúde mental e que aparece ao lado de telefones de prevenção ao suicídio, imagens relaxantes com gatos também foram impressas no papel higiênico.

- Você está sozinho nos banheiros. Sentimos que é nesses momentos que as ideias angustiantes podem surgir - disse à AFP Kenichi Miyazawa, funcionário do departamento estatal.

Como em muitos outros países, o Japão registrou aumento no número de suicídios com a pandemia de covid-19. Em 2020, quase 500 crianças e adolescentes tiraram a vida no arquipélago, um recorde nacional e o dobro de 2016, segundo o Ministério da Saúde. Fonte: https://oglobo.globo.com

Os direitos autorais na era digital

Com o crescimento exponencial do TikTok, é primordial que seus usuários se atentem para não infringir direitos autorais de terceiros.

 

Annelise Rocha e Thamíres Carvalho, O Estado de S. Paulo

Com a expansão do mundo digital, é notório o aumento substancial da popularidade do TikTok nos últimos anos, atingindo a marca de 1 bilhão de usuários ativos por mês em 2021. O contínuo desenvolvimento tecnológico vem permitindo novas possibilidades de comunicação e ação, e é cada vez mais necessário questionar a visão do Direito sobre as relações virtuais, sobretudo no que diz respeito à propriedade intelectual.

A plataforma oferece e permite a criação de vídeos de diversas temáticas e se tornou muito utilizada por empresas e influenciadores visando a alcançar o público mais ativo, a geração Z (os nascidos em meados da década de 1990).

Do ponto de vista jurídico, é impossível falar em TikTok e não fazer referência à propriedade intelectual, que se subdivide em dois sub-ramos no Direito brasileiro: a propriedade industrial e os direitos autorais.

A propriedade industrial pode ser definida como os direitos que protegem interesses comerciais relativos aos inventores, por meio da concessão de patentes, registros de desenho industrial, marcas, repressão às falsas indicações geográficas e à concorrência desleal. A fim de contextualizar o uso da propriedade industrial no aplicativo do TikTok, destacamos as marcas, valiosos ativos empresariais, responsáveis por identificar e conceder prestígio às empresas relacionadas.

Por outro lado, os direitos autorais protegem as obras intelectuais, “as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro”. Por exemplo, as obras literárias, artísticas ou científicas, coreográficas, fotográficas, musicais, entre outras.

Nesse sentido, é importante ressaltar que o direito autoral protege as manifestações criativas expressas em algum meio (seja ele físico ou digital), não sendo as meras ideias objeto de proteção. No entanto, não é necessário o registro de determinada obra para que o autor faça jus ao respaldo jurídico aplicável, apesar de ser sempre benéfico para fins de comprovação de autoria, principalmente em eventuais disputas e negociações.

No que diz respeito ao uso de música no TikTok, a plataforma realizou contratos e parcerias de licença com empresas de catálogos musicais, como a Universal Music. Recentemente, o TikTok firmou parceria com o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), para pagamento de direitos autorais, garantindo, inclusive, a remuneração retroativa pelo uso de músicas na plataforma.

Interessante, também, destacar a proteção das coreografias presentes no TikTok. No Brasil, as obras coreográficas originais são alvo de proteção pela Lei de Direitos Autorais, desde que cumpridos os requisitos legais, como a necessidade de fixação da execução cênica por escrito ou qualquer outra forma de suporte, tangível ou intangível, bem como devem ser obedecidas determinadas exigências porventura aplicáveis a casos concretos específicos.

No Brasil, autores são somente pessoas físicas, e adotou-se a teoria dualista no que concerne à natureza jurídica dos direitos autorais. Assim, as prerrogativas do autor se dividem em: direitos morais (prerrogativas de direito de personalidade do autor), que são inalienáveis e irrenunciáveis, e os direitos patrimoniais, que garantem a exploração econômica da obra e são válidos por 70 anos, contados a partir de 1.º de janeiro do ano subsequente ao falecimento do autor. Após sua morte, os direitos serão exercidos por seus herdeiros, na forma do art. 1.784 do Código Civil brasileiro.

Com o crescimento exponencial do TikTok, consolidando-se como uma das redes sociais mais significativas desta época, é primordial que seus usuários se atentem para não infringir direitos autorais de terceiros, pois, como anteriormente explanado, as obras intelectuais, sejam elas coreográficas, musicais ou qualquer outra obra original que cumpra os requisitos da legislação de direitos autorais, são protegidas no Brasil.

Hoje, com a evolução da era digital, nos vemos diante de uma grande facilidade de criação, acesso e modificação de conteúdo colocado a disposição na internet. Por consequência dessa exposição, quanto maior a possibilidade de compartilhamento de informações, maiores são os riscos de utilização de obras protegidas sem autorização de seu criador. Com o advento e a expansão dessas plataformas digitais mais imersivas, qualquer indivíduo tem potencial para se tornar um criador de conteúdo na internet e, por isso, as violações de direitos autorais se intensificaram.

Diante da contemporaneidade e do impacto social do tema, os direitos autorais passaram a ser mais relevantes e discussões sobre a temática, mais constantes, desafiando os juristas a refletirem sobre a repercussão das obras intelectuais na era digital. Portanto, o ideal é que cada caso seja analisado individualmente, provendo maior segurança jurídica aos envolvidos, bem como para garantir que não ocorram eventuais violações de direitos autorais por terceiros.

* ADVOGADAS

Fonte: https://opiniao.estadao.com.br

País africano também registrou a morte de 2,5 milhões de cabeças de gado

Por El País — Nairóbi

Mais de mil elefantes, zebras, gnus, búfalos e outros animais morreram nos últimos nove meses no Quênia em consequência da pior seca que este país e o Chifre da África conheceram nos últimos 40 anos. Isso foi revelado pelo Ministério do Turismo e Vida Selvagem do país em um relatório publicado na sexta-feira, que enfatiza não apenas a escassez de pontos de água, mas também a perda de vegetação, que afeta especialmente os herbívoros. O governo tenta combater o problema cavando poços e transportando água para barragens e reservatórios secos.

"Os guardas florestais do Serviço de Vida Selvagem do Quênia, exploradores comunitários e equipes de pesquisa registraram a morte de 205 elefantes, 512 gnus, 381 zebras comuns, 51 búfalos, 49 zebras e 12 girafas nos últimos nove meses", disse o relatório. Acrescenta que os ecossistemas mais afetados são precisamente os parques nacionais, reservas e áreas de conservação mais visitadas pelos turistas, como Amboseli, Tsavo e Laikipia-Samburu.

A Ministra do Turismo, Vida Selvagem e Patrimônio do Quênia, Peninah Malonza, disse que, além de tentar levar água para a área, “está sendo realizada uma vigilância aprimorada da vida selvagem fora das áreas protegidas para reduzir o conflito entre humanos e animais selvagens”.

A situação dos elefantes é particularmente grave e as perdas são sentidas especialmente entre os mais jovens. O relatório indica que em Amboseli, onde estão registrados cerca de 1.900 exemplares, morreram 76. Destes, 45 eram jovens que morreram de desnutrição porque suas mães, incapazes de se alimentar durante a reprodução, não conseguiam produzir leite suficiente.

Menção especial merece o caso das zebras-de-grevy, uma espécie ameaçada de extinção da qual restam cerca de 3.000 animais no Quênia e dos quais 49 morreram devido à seca. Segundo a organização Grevy's Zebra Trust, cerca de 600 exemplares se concentraram nas reservas de Samburu, Buffalo Springs e Shaba, no norte do país, em busca das últimas pastagens da região. Muitas delas são mães com seus filhotes nascidos em 2019 e 2020, para quem é vital encontrar comida e água.

O próprio relatório reconhece que a situação pode ser ainda mais catastrófica e o número de animais mortos pior, já que os guardas florestais e as equipes de pesquisa não podem percorrer todo o território em busca de carcaças e que muitos dos corpos podem ter sido comidos por outros animais.

A seca que está por trás da alta mortalidade de espécimes é a mais grave em quatro décadas após quatro estações chuvosas fracassadas, principalmente nos últimos dois anos, em que houve pouca ou irregular precipitação. Afeta principalmente quatro países do Chifre da África: Quênia, Somália, Etiópia e Djibuti.

A morte de animais selvagens é apenas uma das consequências da seca, como alerta o próprio Grevy's Zebra Trust.

“Esta situação é devastadora para as comunidades de pastoreio com as quais trabalhamos, das quais vem mais de 90% de nossa equipe. Para quem não é pastor, é impossível compreender quão profundas são as raízes da identidade cultural quando se trata de possuir gado. Não é simplesmente uma forma de economia; é um apego que vai muito além, toca a identidade espiritual e cultural de indivíduos e comunidades inteiras”, diz a organização em seu site.

— Dois anos consecutivos sem chuva trouxeram miséria a milhões de pessoas. 2,5 milhões de cabeças de gado morreram no Quênia só este ano, causando perdas econômicas de mais de US$ 1,5 bilhão — destacou esta semana na COP27 o presidente do Quênia, William Ruto, que também é coordenador do Comitê de Chefes de Estado e de Governo Africanos sobre Mudanças Climáticas (Cahoscc).

— As perdas e danos [causados ​​pela crise climática] não são um assunto abstrato de diálogo sem fim: é nossa experiência diária e o pesadelo vivo de milhões de quenianos e centenas de milhões de africanos — acrescentou.

A Organização das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) assegura que cerca de 18 milhões de pessoas se encontram em situação de insegurança alimentar aguda, à beira da fome, no Quênia, Somália e Etiópia devido à seca. Soma-se à escassez de água o aumento dos preços dos alimentos e fertilizantes devido primeiro à covid-19 e depois à guerra na Ucrânia e, no caso da Somália e da Etiópia, aos conflitos que sofrem. Fonte: https://oglobo.globo.com

Por Erick Souza e Letícia Araújo

Bilionário assumiu a rede social com uma ‘agenda’ cheia de mudanças debaixo do braço

Desde que oficializou a compra do Twitter por US$ 44 bilhões, em 27 de outubro, Elon Musk não mediu esforços para deixar a rede com a sua cara. O acordo que quase levou o bilionário para a Justiça americana foi uma das transações mais caras entre as empresas de tecnologia e deve ser, também, uma das guinadas mais rápidas em relação ao objetivo da plataforma.

Desde mudanças estruturais, como uma nova homepage e planos de assinatura, até transformações mais profundas como a demissão em massa de funcionários e de executivos de alto escalão, Musk tem corrido contra o tempo para, mostrar o que deve ser o futuro do Twitter sob o seu comando. Confira abaixo os principais acontecimentos dos últimos dias na rede social:

 

Twitter Blue turbinado (e mais caro)

Na terça-feira, 1, o magnata anunciou que vai aumentar o preço do Twitter Blue para US$ 8 por mês (aproximadamente R$40). Atualmente, este serviço custa US$ 5 e traz diversos recursos exclusivos, como a opção de desfazer tuítes e um leitor de notícias. Com a nova versão, Musk vai turbinar a ferramenta e incluir: menos anúncios, capacidade de postar vídeos mais longos e prioridade de ranqueamento em respostas, menções e buscas. Ainda não há data para a estreia dos recursos e, inicialmente, ele estarão disponíveis apenas para os Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia.

 

Venda do selo de verificação

Por enquanto, a principal novidade da nova assinatura do Blue é a possibilidade de qualquer assinante de ter o selo azul de verificação. A nova atualização da versão de iPhone do app já indica que a estreia do esquema “pagou, levou” é iminente. Em sua conta, Musk afirmou que “O sistema de lordes e camponeses do Twitter de quem tem ou não tem o selo azul de verificação é besteira”. Agora, o usuário vai pagar para obter a marca.

O bilionário afirma que essa medida vai desmotivar o uso de bots e robôs. “Se uma conta Blue paga evolver-se com spam/scam, a conta será suspensa. Essencialmente, isso aumenta o custo do crime no Twitter”. Atualmente, o selo azul de verificação serve para identificar e autenticar contas de interesse público. O usuário pode solicitar a verificação, mas o Twitter realiza uma análise antes de concedê-la. Normalmente, apenas contas oficiais, pessoas famosas ou influentes conseguem o selo.

 

Textão e busca

Neste sábado, 5, o bilionário afirmou que vai desenvolver um recurso que permite incluir textos longos, o que, segundo ele, “encerra o absurdo de screenshots de blocos de notas”. Ele também afirmou que vai melhorar a ferramenta de buscas do site. Por enquanto, não há detalhes de como isso vai funcionar.

A volta do Vine

Grande parte das decisões e anúncios feitos pelo novo dono do Twitter acontecem na própria rede social. A decisão de ressuscitar o Vine, por exemplo, foi uma delas. Em uma enquete publicada quatro dias depois da conclusão da compra, Musk sugeriu voltar com a plataforma de vídeos curtos (máximo de seis segundos de duração), considerada antecessora do TikTok. Quase 70% das cinco milhões de pessoas que responderam, aprovaram a ideia. O Vine foi aposentado pelo próprio Twitter em 2016.

 

Mudanças na página inicial

Antes mesmo de completar um dia da aquisição bilionária do Twitter, Musk decidiu mudar a página inicial da rede. Agora, usuários não logados são redirecionados para a página Explorar, que mostra os tuítes mais populares do momento, além da lista de Trending Topics. A versão anterior da página mostrava aos usuários deslogados uma tela para criação de conta e a opção de logar em um perfil existente.

 

Monetização para criadores de conteúdo

Em sua conta no Twitter, Musk afirmou que a nova política de cobrança pelo selo de verificação vai permitir que a rede social possa “recompensar” os criadores de conteúdo, mas também não deu mais detalhes. Atualmente, o Twitter possui a função de Super Follows, em que um usuário pode oferecer tuítes exclusivos por uma taxa.

 

Demissões

Uma das primeiras mudanças de Elon Musk no comando da rede social foi a dissolução do conselho administrativo. Com isso, o bilionário se tornou o único diretor da empresa. Entre os executivos demitidos, estão Parag Agrawal, presidente executivo; Vijaya Gadde, chefe do departamento jurídico, políticas e confiabilidade; Ned Segal, chefe financeiro; e Sean Edgett, conselheiro geral. Sarah Personette, chefe da divisão de clientes, anunciou seu pedido de demissão em sua conta do Twitter na última terça-feira, 1º.

Na sexta, 4, foi a vez dos funcionários serem mandados embora. Elon Musk deu início a uma série de demissões em massa, com cerca de 3.700 pessoas perdendo o emprego. O escritório brasileiro do Twitter ainda espera mais informações. Segundo apurou o Estadão, os funcionários do Brasil estão sem acesso aos sistemas internos da empresa, mas ainda não sabem se foram demitidos ou não. Segundo comunicado enviado pelo Twitter aos funcionários, a suspensão dos acessos foi apenas para proteger informações confidenciais, mas “não significa que sua empregabilidade foi encerrada.”

 

Fuga de publicidade

Logo após a saída de executivos do mais alto escalão do Twitter, grandes anunciantes se mostraram receosos com a nova direção. A empresa americana IPG (Interpublic Group of Companies), uma das maiores publicitárias do mundo, publicou uma recomendação para seus clientes sugerindo uma pausa temporária dos investimentos no site. Hoje, 90% da receita do Twitter é proveniente de anúncios.

Pelo Twitter, Musk declarou que iria afrouxar as regras de conteúdo da rede social, o que pode abrir espaço para a proliferação de informações falsas e demais conteúdos tóxicos. A Aliança Global por Responsabilidade Midiática (tradução livre para The Global Alliance for Responsible Media), uma associação de plataformas, anunciantes e indústria de mídia nos EUA, também publicou que passará a monitorar como o Twitter planeja lidar com a moderação de conteúdo no futuro.

Após a repercussão negativa, Musk publicou na sua conta pessoal uma nota direcionada aos anunciantes em que explicava seu interesse na compra da rede social. “O Twitter almeja ser a plataforma de anúncios mais respeitada do mundo, que fortalece sua marca e amadurece seu empreendimento”, afirmou. Mais tarde, em outra publicação, ele voltou a explicar que o novo Twitter teria um conselho de moderação de conteúdo com “ampla gama de opiniões” e que nenhuma decisão importante seria feita antes da criação desse conselho. Fonte: https://www.estadao.com.br