1) Oração

Ó Deus, que mostrais a luz da verdade aos que erram para retomarem o bom caminho, dai a todos os que professam a fé, rejeitar o que não convém ao cristão, e abraçar tudo o que é digno desse nome. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho   (Mt 12, 1-8)

 1Atravessava Jesus os campos de trigo num dia de sábado. Seus discípulos, tendo fome, começaram a arrancar as espigas para comê-las. 2Vendo isto, os fariseus disseram-lhe: Eis que teus discípulos fazem o que é proibido no dia de sábado. 3Jesus respondeu-lhes: Não lestes o que fez Davi num dia em que teve fome, ele e seus companheiros, 4como entrou na casa de Deus e comeu os pães da proposição? Ora, nem a ele nem àqueles que o acompanhavam era permitido comer esses pães reservados só aos sacerdotes. 5Não lestes na lei que, nos dias de sábado, os sacerdotes transgridem no templo o descanso do sábado e não se tornam culpados? 6Ora, eu vos declaro que aqui está quem é maior que o templo. 7Se compreendêsseis o sentido destas palavras: Quero a misericórdia e não o sacrifício... não condenaríeis os inocentes. 8Porque o Filho do Homem é senhor também do sábado.

 

3) Reflexão Mateus 12,1-8  (Mc 2,23-28; Lc 6,1-5)

No evangelho de hoje veremos de perto um dos muitos conflitos entre Jesus e as autoridades religiosas da época. São conflitos em torno das práticas religiosas daquele tempo: jejum, pureza, observância do sábado, etc. Colocados em termos de hoje seriam conflitos como, por exemplo, casamento de pessoas divorciadas, amizade com prostitutas, acolher os homossexuais, comungar sem estar casado na igreja, faltar à missa no domingo, não fazer jejum na sexta feira santa. São muitos os conflitos: em casa, na escola, no trabalho, na comunidade, na igreja, na vida pessoal, na sociedade. Conflitos de crescimento, de relacionamento, de idade, de mentalidade. Tantos! Viver a vida sem conflito é impossível. O conflito faz parte da vida e já aparece no nosso próprio nascimento. Nascemos com dor de parto. Os conflitos não são acidentes na estrada, mas são parte integrante do caminho, do processo de conversão. O que chama atenção é a maneira como Jesus enfrenta os conflitos. Na discussão com os adversários, não se tratava de ele obter razão contra eles, mas sim de fazer prevalecer a experiência que ele, Jesus, tinha de Deus como Pai e Mãe. A imagem de Deus dos outros era a de um juiz severo que só ameaçava e condenava. Jesus procurava fazer prevalecer a misericórdia sobre a observância cega de normas e de leis que não tinham mais nada a ver com o objetivo da Lei que é a prática do amor.

Mateus 12,1-2: Colher trigo em dia de sábado e a crítica dos fariseus

Num dia de sábado, os discípulos passavam pelas plantações e abriam caminho arrancando espigas para come-las. Estavam com fome. Os fariseus chegam e invocam a Bíblia para dizer que os discípulos estão cometendo uma transgressão da lei do Sábado (cf Ex 20,8-11). Jesus também usa a Bíblia e responde evocando três exemplos tirados da Escritura: (1) de Davi, (2) da legislação sobre o trabalho dos sacerdotes no templo e (3) da ação do profeta Oséias, ou seja, ele cita um livro histórico, um livro legislativo e um livro profético.

Mateus 12,3-4: O exemplo de Davi

Jesus lembra que o próprio Davi também fez uma coisa proibida pela lei, pois tirou os pães sagrados do templo e os deu de comer aos soldados que estavam com fome (1 Sm 21,2-7). Nenhum fariseu teria coragem de criticar o rei Davi!

Mateus 12,5-6: O exemplo dos sacerdotes

Acusado pelas autoridades religiosas, Jesus argumenta a partir do que elas mesmas, as próprias autoridades religiosas, fazem em dia de sábado. No templo de Jerusalém, em dia de sábado, os sacerdotes trabalham muito mais do que nos dias de semana, pois devem sacrificar os animais para os sacrifícios, devem limpar, varrer, carregar peso, degolar os animais etc. E ninguém dizia que era contra a lei, pois achavam normal. A própria lei os obrigava a fazer isto (Nm 28,9-10).

Mateus 12,7: O exemplo do profeta

Jesus cita a frase do profeta Oséias: Quero misericórdia e não sacrifício. A palavra misericórdia significa ter o coração (cor) na miséria (miseri) dos outros, ou seja, a pessoa misericordiosa deve estar bem perto do sofrimento das pessoas, deve identificar-se com elas. A palavra sacrifício significa fazer (fício) com que uma coisa fique consagrada (sacri), ou seja, quem oferece um sacrifício separa o objeto sacrificado do uso profano e o distancia da vida diária do povo. Se os fariseus tivessem em si este olhar do profeta Oséias, saberiam que o sacrifício mais agradável a Deus não a pessoa consagrada viver distanciada da realidade, mas sim ela colocar o coração inteiramente consagrado para aliviar a miséria dos irmãos e das irmãs. Eles não teriam condenado como culpados os que, na realidade eram inocentes.

Mateus 12,8: O Filho do Homem é dono do sábado

Jesus termina com esta frase: o Filho do Homem é dono até do sábado! Jesus, ele mesmo, é o critério da interpretação da Lei de Deus.Jesus conhecia a Bíblia de cor e salteado, e a invocava para mostrar que os argumentos dos outros não tinham fundamento. Naquele tempo, não havia Bíblias impressas como temos hoje em dia. Em cada comunidade só havia uma única Bíblia, escrita a mão, que ficava na sinagoga. Se Jesus conhecia tão bem a Bíblia, é sinal de que ele, durante os trinta anos de vida em Nazaré, deve ter participado intensamente da vida da comunidade, onde todo sábado se liam as escrituras. A nova experiência de Deus como Pai fazia com que Jesus chegasse a descobrir melhor qual tinha sido a intenção de Deus ao decretar as leis do Antigo Testamento. Convivendo com o povo da GalilEia durante trinta anos em Nazaré e sentindo na pele a opressão e a exclusão de tantos irmãos e irmãs em nome da Lei de Deus, Jesus deve ter percebido que isto não podia ser o sentido daquelas leis. Se Deus é Pai, então ele acolhe a todos como filhos e filhas. Se Deus é Pai, então nós temos que ser irmãos e irmãs uns dos outros. Foi o que Jesus viveu e pregou, desde o começo até o fim. A Lei deve estar a serviço da vida e da fraternidade. “O ser humano não foi feito para o sábado, mas o sábado para o ser humano” (Mc 2,27). Foi por causa da sua fidelidade a esta mensagem que Jesus foi preso e condenado à morte. Ele incomodou o sistema, e o sistema se defendeu, usando a força contra Jesus, pois ele queria a Lei a serviço da vida, e não vice-versa. Ainda falta muito para nós termos a mesma familiaridade com a Bíblia e a mesma participação na comunidade como Jesus.

 

4) Para um confronto pessoal

  1. Que tipo de conflitos você vive na família, na sociedade e na igreja? Quais os conflitos em torno de práticas religiosas que, hoje, trazem sofrimento para as pessoas e são motivo de muita discussão e polêmica? Qual a imagem de Deus que está por trás de todos estes preconceitos, normas e proibições?
  2. O que o conflito já ensinou a você nestes anos todos? Qual a mensagem que você tira de tudo isto para as nossas comunidades de hoje?

 

5) Oração final

No meu leito te recordo, penso em ti nas vigílias noturnas, pois tu foste meu auxílio; exulto de alegria à sombra de tuas asas. A ti está ligada a minha alma, a tua mão direita me sustenta. (Sl 62, 7-9)

Tema do 15º Domingo do Tempo Comum

A liturgia do 15º Domingo do Tempo Comum convida-nos a tomar consciência da importância da Palavra de Deus e da centralidade que ela deve assumir na vida dos crentes.
A primeira leitura garante-nos que a Palavra de Deus é verdadeiramente fecunda e criadora de vida. Ela dá-nos esperança, indica-nos os caminhos que devemos percorrer e dá-nos o ânimo para intervirmos no mundo. É sempre eficaz e produz sempre efeito, embora não atue sempre de acordo com os nossos interesses e critérios.
O Evangelho propõe-nos, em primeiro lugar, uma reflexão sobre a forma como acolhemos a Palavra e exorta-nos a ser uma "boa terra", disponível para escutar as propostas de Jesus, para as acolher e para deixar que elas deem abundantes frutos na nossa vida de cada dia. Garante-nos também que o "Reino" proposto por Jesus será uma realidade imparável, onde se manifestará em todo o seu esplendor e fecundidade a vida de Deus.

A segunda leitura apresenta uma temática (a solidariedade entre o homem e o resto da criação) que, à primeira vista, não está relacionada com o tema deste domingo - a Palavra de Deus. Podemos, no entanto, dizer que a Palavra de Deus é que fornece os critérios para que o homem possa viver "segundo o Espírito" e para que ele possa construir o "novo céu e a nova terra" com que sonhamos.

 

 

Um olhar Frei Petrônio de Miranda, Padre Carmelita e Jornalista da Ordem do Carmo

Pode um corrupto ter recebido a semente da palavra? Pode sim, ele foi um terreno duro. Até que participou da Missa, dos círculos bíblicos e dos grupos de oração. Mas depois agiu com má fé roubando o dinheiro do povo, esquecendo assim o verdadeiro ensinamento de Jesus que abomina o desprezo de toda e qualquer forma de corrupção.

Pode um pai de família violento na família ter recebido a semente da palavra? Pode sim. Para ele, a palavra caiu em seu coração pedregoso. Sim, porque muitas vezes entramos na Igreja para cumprir um rito social, rezamos para “afastar o diabo” ou para pedir algum milagre. Mas depois... Bem, depois caímos nos mesmos erros do cotidiano colocando as nossas vontades em primeiro lugar, esquecendo assim da mensagem central de Jesus.

Pode um mentiroso, falso e arrogante ter recebido a semente da palavra? Pode sim, porque bem sabemos que é tão fácil cumprir o preceito dominical- ir à missa- ou seguir a nosso belo prazer os dogmas e mandamentos da lei de Deus, mas tudo por tradição vazia ou por mero gosto pela religião, mas sem nenhum compromisso transformador com o Jesus de Nazaré.

Pode um bandido, um assassino, um corrupto, um arrogante ou um estrupício mudar a vida depois de ter recebido a palavra de Deus? Pode sim, porque esta mensagem salvífica ao cair em terra boa transforma, inova, mexe e remexe com vidas feridas e vasos quebrados transformando-os em verdadeiras obras de arte.

E para você? E para mim, qual o terreno para acolher a palavra? E tenho dito!

 

EVANGELHO - Mt 13,1-23: Atualização

No seu "estado atual", a parábola do semeador e da semente é, sobretudo, um convite a refletir sobre a importância e o significado da Palavra de Jesus. É verdade que, nas nossas comunidades cristãs, a Palavra de Jesus é a referência fundamental, à volta do qual se constrói a vida da comunidade e dos crentes? Temos consciência de que é a Palavra anunciada, proclamada, meditada, partilhada, celebrada, que cria a comunidade e que a alimenta no dia a dia?

A semente que caiu em terrenos duros, de terra batida, faz-nos pensar em corações insensíveis, egoístas, orgulhosos, onde não há lugar para a Palavra de Jesus e para os valores do "Reino". É a realidade de tantos homens e mulheres que veem no Evangelho um caminho para fracos e vencidos, e que preferem um caminho de independência e de autossuficiência, à margem de Deus e das suas propostas. Este caminho de orgulho e de autossuficiência alguma vez foi "o meu caminho"?

A semente que caiu em sítios pedregosos, que brota nessa pequena camada de terra que aí há, mas que morre rapidamente por falta de raízes profundas, faz-nos pensar em corações inconstantes, capazes de se entusiasmarem com o "Reino", mas incapazes de suportarem as contrariedades, as dificuldades, as perseguições. É a realidade de tantos homens e mulheres que veem em Jesus uma verdadeira proposta de salvação e que a ela aderem, mas que rapidamente perdem a coragem e entram num jogo de cedências e de meias tintas quando são confrontados com a radicalidade do Evangelho. A Palavra de Deus é, para mim, uma realidade que eu levo a sério, ou algo que eu deixo cair quando me dá jeito?

A semente que caiu entre os espinhos e que foi sufocada por eles, faz-nos pensar em corações materialistas, comodistas, instalados, para quem a proposta do "Reino" não é a prioridade fundamental. É a realidade de tantos homens e mulheres que, sem rejeitarem a proposta de Jesus (muitas vezes são "muito religiosos" e têm "a sua fé") fazem do dinheiro, do poder, da fama, do êxito profissional ou social o verdadeiro Deus a que tudo sacrificam. As propostas de Jesus são a referência fundamental à volta da qual a minha vida se constrói, ou deixo que outros interesses e valores sufoquem os valores do Evangelho?

A semente que caiu em boa terra e que deu fruto abundante faz-nos pensar em corações sensíveis e bons, capazes de aderirem às propostas de Jesus e de embarcarem na aventura do "Reino". É a realidade de tantos homens e mulheres que encontraram na proposta de Jesus um caminho de libertação e de vida plena e que, como Jesus, aceitam fazer da sua vida uma entrega a Deus e um dom aos homens. Este é o quadro ideal do verdadeiro discípulo; e é esta a proposta que o Evangelho de hoje me faz.

A parábola, na sua forma original (vers. 1-9) refere-se à inevitável erupção do "Reino", à sua força e aos resultados maravilhosos que o "Reino" alcançará... Com frequência, olhamos o mundo que nos rodeia e ficamos desanimados com o materialismo, a futilidade, os falsos valores que marcam a vida de muitos homens e mulheres do nosso tempo. Perguntamo-nos se vale a pena anunciar a proposta libertadora de Jesus num mundo que vive obcecado com as riquezas, com os prazeres, com os valores materiais... O Evangelho de hoje responde: "coragem! Não desanimeis, pois, apesar do aparente fracasso, o 'Reino' é uma realidade imparável; e o resultado final será algo de surpreendente, de maravilhoso, de inimaginável".

*Leia a reflexão na íntegra. Clique no link ao lado- EVANGELHO DO DIA.

1) Oração

Ó Deus, que pela humilhação do vosso Filho reerguestes o mundo decaído, enchei os vossos filhos e filhas de santa alegria, e dai aos que libertastes da escravidão do pecado o gozo das alegrias eternas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho (Mt 9, 32-38)

Naquele tempo, 32apresentaram a Jesus um homem mudo, que estava possuído pelo demônio. 33O demônio foi expulso, o mudo falou e a multidão exclamava com admiração: Jamais se viu algo semelhante em Israel.34Os fariseus, porém, diziam: É pelo príncipe dos demônios que ele expulsa os demônios.35Jesus percorria todas as cidades e aldeias. Ensinava nas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando todo mal e toda enfermidade.36Vendo a multidão, ficou tomado de compaixão, porque estava enfraquecida e abatida como ovelhas sem pastor.37Disse, então, aos seus discípulos: A messe é grande, mas os operários são poucos.38Pedi, pois, ao Senhor da messe que envie operários para sua messe.

 

3) Reflexão Mateus 9,32-38

O evangelho de hoje traz dois assuntos: (1) a cura de um endemoninhado mudo (Mt 9,32-34) e (2) um resumo das atividades de Jesus (Mt 9,35-38). Estes dois episódios encerram a parte narrativa dos capítulos 8 e 9 do evangelho de Mateus na qual o evangelista procura mostrar como Jesus praticava os ensinamentos dados no Sermão da Montanha (Mt 5 a 7). No capítulo 10, cuja meditação começa no evangelho de amanhã, veremos o segundo grande discurso de Jesus: o Sermão da Missão (Mt 10,1-42).

Mateus 9,32-33a: A cura de um mudo.

 Num único versículo, Mateus descreve como trouxeram um endemoninhado mudo até Jesus, como Jesus expulsou o demônio e como o mudo começou a falar de novo. O que impressiona na atitude de Jesus, aqui e em todos os quatro evangelhos, é o cuidado e o carinho com as pessoas doentes. As doenças eram muitas, e a previdência social, inexistente. As doenças não eram só as deficiências corporais: mudez, surdez, paralisia, lepra, cegueira e tantos outros males. No fundo, estas doenças eram apenas a manifestação de um mal muito mais amplo e mais profundo que arruinava a saúde do povo, a saber, o total abandono e o estado deprimente e desumano em que ele era obrigado a viver. As atividades e as curas de Jesus se dirigiam não só contra as deficiências corporais, mas também e sobretudo contra esse mal maior do abandono material e espiritual em que o povo era condenado a passar os poucos anos da sua vida. Pois, além da exploração econômica que roubava a metade do orçamento familiar, a religião oficial da época, em vez de ajudar o povo a encontrar em Deus uma força para resistir e ter esperança, ensinava que as doenças eram castigo de Deus pelo pecado. Aumentava nele o sentimento de exclusão e de condenação. Jesus fazia o contrário. O acolhimento cheio de ternura e a cura dos enfermos faziam parte do esforço mais amplo para refazer o relacionamento humano entre as pessoas e restabelecer a convivência comunitária e fraterna nos povoados e aldeias da Galiléia, sua terra.

Mateus 9,33b-34: A dupla interpretação da cura do mudo

Diante da cura do endemoninhado mudo, a reação do povo é de admiração e de gratidão: “Nunca se viu coisa semelhante em Israel!” A reação dos fariseus é de desconfiança e de malícia: “É pelo príncipe dos demônios que ele expulse os demônios!” Não podendo negar os fatos que provocam a admiração do povo, a única maneira que os fariseus encontravam para neutralizar a influência de Jesus junto ao povo era atribuir a expulsão ao poder maligno. Marcos traz uma longa argumentação de Jesus para mostrar a malícia e a falta de coerência da interpretação dos fariseus (Mc 3,22-27). Mateus não traz nenhuma resposta de Jesus à interpretação dos fariseus, pois quando a malícia é evidente, a verdade brilha por si mesma.

Mateus 9,35Incansável, Jesus percorre os povoados

É bonita a descrição da atividade incansável de Jesus, na qual transparece a dupla preocupação a que aludimos: o acolhimento cheio de ternura e a cura dos enfermos: “Jesus percorria todas as cidades e povoados, ensinando em suas sinagogas, pregando a Boa Notícia do Reino, e curando todo tipo de doença e enfermidade”. Nos capítulos anteriores, Mateus já tinha aludido várias vezes a esta atividade ambulante de Jesus pelos povoados Galiléia (Mt 4,23-24; 8,16).

Mateus 9,36A compaixão de Jesus.

“Vendo as multidões, Jesus teve compaixão, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor”. Os que deviam ser os pastores não eram pastores, não cuidavam do rebanho. Jesus procura ser o pastor (Jo 10,11-14). Mateus vê aqui a realização da profecia do Servo de Javé que “levou nossas enfermidade e carregou nossas doenças” (Mt 8,17 e Is 53,4). Como Jesus, a grande preocupação do Servo era “encontrar uma palavra de conforto para quem estava desanimado” (Is 50,4). A mesma compaixão para com o povo abandonado, Jesus a mostrou por ocasião da multiplicação dos pães: são como ovelhas sem pastor (Mt 15,32). O evangelho de Mateus tem uma preocupação constante em revelar aos judeus convertidas das comunidades da Galileia e da Síria que Jesus é o messias anunciado pelos profetas. Por isso, frequentemente, ele mostra como nas atividades de Jesus se realizam as profecias (cf. Mt 1,23; 2,5.15.17.23; 3,3; 4,14-16; etc).

Mateus 9,37-38A messe é grande e os operários são poucos

Jesus transmite aos discípulos a preocupação e a compaixão que o animam por dentro: "A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos! Por isso, peçam ao dono da colheita que mande trabalhadores para a colheita".

 

4) Para um confronto pessoal

1) Compaixão diante das multidões cansadas e famintas. Na história da humanidade, nunca houve tanta gente cansada e faminta como hoje. A TV divulga os fatos, mas não oferece resposta. Será que nós cristãos conseguimos ter em nós a mesma compaixão de Jesus e irradiá-la aos outros?

2) A bondade de Jesus para com os pobres incomodava os fariseus. Estes recorrem à malícia para desfazer e neutralizar o incômodo que Jesus causava. Existem muitas atitudes boas nas pessoas que me incomodam? Como eu as interpreto: com admiração agradecida como o povo ou com malícia como os fariseus?

 

5) Oração final

Celebrai o Senhor, aclamai o seu nome, apregoai entre as nações as suas obras. Cantai-lhe hinos e cânticos, anunciai todas as suas maravilhas. Gloriai-vos do seu santo nome; rejubile o coração dos que procuram o Senhor. (Sl 104, 1-3)

1) Oração

Ó Deus, que pela humilhação do vosso Filho reerguestes o mundo decaído, enchei os vossos filhos e filhas de santa alegria, e dai aos que libertastes da escravidão do pecado o gozo das alegrias eternas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho (Mt 9, 18-26)

18Falava ele ainda, quando se apresentou um chefe da sinagoga. Prostrou-se diante dele e lhe disse: Senhor, minha filha acaba de morrer. Mas vem, impõe-lhe as mãos e ela viverá.19Jesus levantou-se e o foi seguindo com seus discípulos.20Ora, uma mulher atormentada por um fluxo de sangue, havia doze anos, aproximou-se dele por trás e tocou-lhe a orla do manto.21Dizia consigo: Se eu somente tocar na sua vestimenta, serei curada.22Jesus virou-se, viu-a e disse-lhe: Tem confiança, minha filha, tua fé te salvou. E a mulher ficou curada instantaneamente.23Chegando à casa do chefe da sinagoga, viu Jesus os tocadores de flauta e uma multidão alvoroçada. Disse-lhes:24Retirai-vos, porque a menina não está morta; ela dorme. Eles, porém, zombavam dele.25Tendo saído a multidão, ele entrou, tomou a menina pela mão e ela levantou-se.26Esta notícia espalhou-se por toda a região.

 

3) Reflexão - Mateus 9,18-26

O evangelho de hoje nos leva a meditar dois milagres de Jesus em favor de duas mulheres. O primeiro foi em favor de uma senhora, considerada impura por causa de uma hemorragia irregular que já durava doze anos. O outro, em favor de uma menina que acabava de falecer. Conforme a mentalidade daquela época, qualquer pessoa que tocasse em sangue ou em cadáver era considerada impura e quem tocasse nela também ficava impura. Sangue e morte eram fatores de exclusão! Por isso, aquelas duas mulheres eram pessoas marginalizadas, excluídas da participação na comunidade. Quem nelas tocasse também estaria impura, impedida de participar na comunidade, e já não poderia relacionar-se com Deus. Para poder ser readmitida na plena participação comunitária teria de fazer o rito de purificação, prescrito pelas normas da lei. Ora, curando através da fé a impureza daquela senhora, Jesus abriu um novo caminho para Deus que já não dependia dos ritos de purificação, controlados pelos sacerdotes. Ressuscitando a menina, venceu o poder da morte e abriu um novo horizonte para a vida.

Mateus 9,18-19: A morte da menina.

Enquanto Jesus ainda estava falando, um chefe do lugar vem interceder pela filha que acabava de morrer. Ele pede que Jesus venha e imponha a mão na menina, “e ela viverá”. O chefe crê que Jesus tem o poder de devolver a vida à filha. Sinal de muita fé em Jesus da parte do pai da menina. Jesus se levanta e vai com ele levando consigo os discípulos. Este é o ponto de partida para os dois episódios que seguem: a cura da mulher com doze anos de hemorragia e a ressurreição da menina. O evangelho de Marcos traz os mesmos dois episódios, mas com muitos detalhes: o chefe se chamava Jairo e era um dos chefes da sinagoga. A menina ainda não estava morta, e tinha doze anos, etc (Mc 5,21-43). Mateus abreviou a narração tão viva de Marcos.

Mateus 9,20-21: A situação da mulher.

Durante a caminhada para a casa do chefe, uma mulher que sofria doze anos de hemorragia irregular aproxima-se de Jesus em busca de cura. Doze anos de hemorragia! Por isso, ela vivia excluída, pois, como dissemos, naquele tempo o sangue tornava a pessoa impura. Marcos informa que a mulher tinha gastado toda a sua economia com os médicos e, em vez de ficar melhor, ficou pior (Mc 5,25-26). Ela tinha ouvido falar de Jesus (Mc 5,27). Por isso, nasceu nela uma nova esperança. Dizia consigo: “Se ao menos tocar na roupa dele, eu ficarei curada”. O catecismo da época mandava dizer: “Se eu tocar na roupa dele, ele ficará impuro”. A mulher pensava exatamente o contrário! Sinal de muita coragem. Sinal de que as mulheres não concordavam com tudo o que as autoridades religiosas ensinavam. O ensinamento dos fariseus e dos escribas não conseguia controlar o pensamento do povo! Graças a Deus! A mulher aproximou-se por de trás de Jesus, tocou na roupa dele, e ficou curada.

Mateus 9,22. A palavra iluminadora de Jesus

Jesus voltando-se e vendo a mulher declara: “Coragem, minha filha, sua fé curou você!” Frase curta, mas que deixa transparecer três pontos muito importantes: (1) Dizendo “Minha filha”, Jesus acolhe a mulher na nova comunidade, que se formava ao seu redor. Ela já não é uma excluída. (2) Aquilo que ela esperava e acreditava aconteceu de fato. Ela ficou curada. Prova de que o catecismo das autoridades religiosas não estava correta e que em Jesus se abriu um novo caminho para as pessoas poderem obter a pureza exigida pela lei e entrar em contato com Deus. (3) Jesus reconhece que, sem a fé daquela senhora, ele não poderia ter feito o milagre. A cura não foi um rito mágico, mas um ato de fé.

Mateus 9,23-24:  Na casa de chefe.

Em seguida, Jesus vai para a casa do chefe. Ao ver o alvoroço dos que faziam luto pela morte da menina, mandou que todo mundo saísse. Dizia: “A criança não morreu. Está dormindo!”. O pessoal deu risada. O povo sabe distinguir quando uma pessoa está dormindo ou quando está morta. Para eles, a morte era uma barreira que ninguém poderia ultrapassar! É a risada de Abraão e de Sara, isto é, dos que não conseguem crer que para Deus nada é impossível (Gn 17,17; 18,12-14; Lc 1,37). As palavras de Jesus têm ainda um significado mais profundo. A situação das comunidades do tempo de Mateus parecia uma situação de morte. Elas também tinham que ouvir: “Não é morte! Vocês é que estão dormindo! Acordem!” 

Mateus 9,25-26A ressurreição da menina.

Jesus não deu importância à risada do povo. Ele esperou até que todos saíssem da casa. Aí ele entrou, tomou a criança pela mão e ela se levantou. Marcos conservou as palavras de Jesus: “Talita kúmi!”, o que quer dizer: Menina, levanta-te (Mc 5,41). A notícia espalhou-se por toda aquela região. Fez o povo acreditar que Jesus é o Senhor da vida que vence a morte.

 

4) Para um confronto pessoal

1-Hoje, quais as categorias de pessoas que se sentem excluídas da participação na comunidade cristã? Quais os fatores que hoje causam a exclusão de tantas pessoas e lhes dificultam a vida tanto na família como na sociedade?

2-“A criança não morreu. Está dormindo!” “Não é morte! Vocês é que estão dormindo! Acordem!” Esta é a mensagem do evangelho de hoje. O que ela diz para mim? Sou daqueles que dão risada?

 

5) Oração final

Dia a dia vos bendirei, e louvarei o vosso nome eternamente. Grande é o Senhor e sumamente louvável, insondável é a sua grandeza. (Sl 144, 2-3)

 

Domingo, 5 de julho-2020.

 

Tema do 14º Domingo do Tempo Comum

A liturgia deste domingo ensina-nos onde encontrar Deus. Garante-nos que Deus não Se revela na arrogância, no orgulho, na prepotência, mas sim na simplicidade, na humildade, na pobreza, na pequenez.

A primeira leitura apresenta-nos um enviado de Deus que vem ao encontro dos homens na pobreza, na humildade, na simplicidade; e é dessa forma que elimina os instrumentos de guerra e de morte e instaura a paz definitiva.

No Evangelho, Jesus louva o Pai porque a proposta de salvação que Deus faz aos homens (e que foi rejeitada pelos “sábios e inteligentes”) encontrou acolhimento no coração dos “pequeninos”. Os “grandes”, instalados no seu orgulho e autossuficiência, não têm tempo nem disponibilidade para os desafios de Deus; mas os “pequenos”, na sua pobreza e simplicidade, estão sempre disponíveis para acolher a novidade libertadora de Deus.
Na segunda leitura, Paulo convida os crentes – comprometidos com Jesus desde o dia do Baptismo – a viverem “segundo o Espírito” e não “segundo a carne”. A vida “segundo a carne” é a vida daqueles que se instalam no egoísmo, orgulho e autossuficiência; a vida “segundo o Espírito” é a vida daqueles que aceitam acolher as propostas de Deus.

 

Um olhar do Frei Petrônio de Miranda, Padre Carmelita e Jornalista da Ordem do Carmo.

 

Jesus é estranho...

Sabe Jesus, nós gostamos é de prestígio, do mundo virtual e das Selfies, enquanto você fala em simplicidade e escondimento.

Sabe Jesus, nós somos auto suficientes, você fala em humildade e desprendimento em nossas relações com o sagrado e com o próximo.

Sabe Jesus, você fala em pequeninos, já nós votamos em políticos médicos, advogados, empresários e bem sucedidos na vida profissional, social e política, mesmo que sejam corruptos e assassinos dos pobres.

Sabe Jesus, você fala nos cansados, fatigados e esquecidos. Por sua vez, nó seguimos nas redes sociais os famosos e “vencedores da vida”. Sim, não importa se eles seguem a tua Boa Nova ou não, não importa se eles são éticos, humanos e solidários.

Sabe Jesus, você fala em espiritualidade sincera, livre é de coração. Nós gostamos mesmo é de leis, dogmas, regras e normas, mesmo que seja apenas para vivermos de aparência e fingimento diante do povo.

Sabe Jesus, você fala em mansidão, compaixão e amor. Nós gostamos mesmo é de agir com arrogância na Igreja, na família e no trabalho.

É o seguinte Jesus... Tudo é muito bonito e espiritual na tua fala, mas fica difícil te seguir deixando de lado o nosso desejo de crescer, afinal, estamos neste mundo cão da competitividade e não vamos ficar para trás!

Sim Jesus, até entramos nos templos e achamos bonito todo aquele ritual, mas a vida é dura Senhor. Ah! E por favor, não me peça para ser manso e humilde de coração. Não quero ser motivo de chacota entre os meus amigos e familiares. Fala sério, né Senhor!     

    

VIVER SEGUNDO A CARNE OU SEGUNDO O ESPÍRITO? Um olhar sobre a Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos (Rom 8,9.11-13).

 

À luz dos critérios que hoje presidem à construção do mundo, a vida de Jesus foi um rotundo fracasso. Ele nunca desempenhou qualquer cargo público nem teve jamais conta num banco qualquer; mas viveu na simplicidade, na humildade, no serviço, sem ter para si próprio uma pedra onde reclinar a cabeça. Ele nunca foi apoiado pelos “cabeças pensantes” da sua terra; apenas foi escutado pela gente humilde, marginalizada, condenada a uma situação de escravidão, de pobreza, de debilidade. Ele nunca se proclamou chefe de um movimento popular; apenas ensinou, àqueles que O seguiam, que Deus os ama e que quer fazer deles seus filhos. Ele nunca se sentou num trono, a dar ordens e a distribuir benesses; mas foi abandonado por todos, condenado a uma morte infame e pregado numa cruz. No entanto, Ele venceu a morte e recebeu de Deus a vida plena e definitiva. Paulo diz aos crentes a quem escreve: não vos preocupeis com aqueles valores a que o mundo chama êxito, realização, felicidade; mas tende a coragem de gastar a vida do mesmo jeito de Jesus, a fim de encontrardes a vossa realização plena, a vida definitiva.

Paulo ensina que a vida “segundo a carne” gera morte; e que a vida “segundo o Espírito” gera vida. O que é viver “segundo a carne”? Olhando para o mundo e para a vida da Igreja, quais são os sintomas que eu noto da vida “segundo a carne”? O que é viver “segundo o Espírito”? Olhando para o mundo e para a vida da Igreja, quais são os sintomas que eu noto da vida “segundo o Espírito”?

O cristão tem de viver “segundo o Espírito”. É desse jeito que eu vivo? Estou aberto à ação renovadora e libertadora do Espírito que recebi no dia do meu Baptismo?

 

EVANGELHO – Mt 11,25-30.

 

MENSAGEM

Os “sábios e inteligentes” (fariseus e doutores da Lei) estavam convencidos de que o conhecimento da Lei lhes dava o conhecimento de Deus. A Lei era uma espécie de “linha direta” para Deus, através da qual eles ficavam a conhecer Deus, a sua vontade, os seus projetos para o mundo e para os homens; por isso, apresentavam-se como detentores da verdade, representantes legítimos de Deus, capazes de interpretar a vontade e os planos divinos.

Entre os fariseus do tempo de Jesus, a imagem do “jugo” era aplicada à Lei de Deus (cf. Si 6,24-30; 51,26-27) – a suprema norma de vida. Para os fariseus, por exemplo, a Lei não era um “jugo” pesado, mas um “jugo” glorioso, que devia ser carregado com alegria.
Na realidade, tratava-se de um “jugo” pesadíssimo. A impossibilidade de cumprir, no dia a dia, os 613 mandamentos da Lei escrita e oral, criava consciências pesadas e atormentadas. Os crentes, incapazes de estar em regra com a Lei, sentiam-se condenados e malditos, afastados de Deus e indignos da salvação. A Lei aprisionava em lugar de libertar e afastava os homens de Deus em lugar de os conduzir para a comunhão com Deus.

Jesus veio libertar o homem da escravidão da Lei. A sua proposta de libertação plena dirige-se aos doentes (na perspectiva da teologia oficial, vítimas de um castigo de Deus), aos pecadores (os publicanos, as mulheres de má vida, todos aqueles que tinham publicamente comportamentos política, social ou religiosamente incorretos), ao povo simples do país (que, pela dureza da vida que levava, não podia cumprir escrupulosamente todos os ritos da Lei), a todos aqueles que a Lei exclui e amaldiçoa. Jesus garante-lhes que Deus não os exclui nem amaldiçoa e convida-os a integrar o mundo novo do “Reino”. É nessa nova dinâmica proposta por Jesus que eles encontrarão a alegria e a felicidade que a Lei recusa dar-lhes.

 

ATUALIZAÇÃO

Na verdade, os critérios de Deus são bem estranhos, vistos de cá de baixo, com as lentes do mundo… Nós, homens, admiramos e incensamos os sábios, os inteligentes, os intelectuais, os ricos, os poderosos, os bonitos e queremos que sejam eles (“os melhores”) a dirigir o mundo, a fazer as leis que nos governam, a ditar a moda ou as ideias, a definir o que é correto ou não é correto. Mas Deus diz que as coisas essenciais são muito mais depressa percebidas pelo “pequeninos”: são eles que estão sempre disponíveis para acolher Deus e os seus valores e para arriscar nos desafios do “Reino”. Quantas vezes os pobres, os pequenos, os humildes são ridicularizados, tratados como incapazes, pelos nossos “iluminados” fazedores de opinião, que tudo sabem e que procuram impor ao mundo e aos outros as suas visões pessoais e os seus pseudo-valores… A Palavra de Deus ensina: a sabedoria e a inteligência não garantem a posse da verdade; o que garante a posse da verdade é ter um coração aberto a Deus e às suas propostas (e com frequência, com muita frequência, são os pobres, os humildes, os pequenos que “sintonizam” com Deus e que acolhem essa verdade que Ele quer oferecer aos homens para os levar à vida em plenitude).

Como é que chegamos a Deus? Como percebemos o seu “rosto”? Como fazemos uma experiência íntima e profunda de Deus? É através da filosofia? É através de um discurso racional coerente? É passando todo o tempo disponível na igreja a mudar as toalhas dos altares? O Evangelho responde: “conhecemos” Deus através de Jesus. Jesus é “o Filho” que “conhece” o Pai; só quem segue Jesus e procura viver como Ele (no cumprimento total dos planos de Deus) pode chegar à comunhão com o Pai. Há crentes que, por terem feito catequese, por irem à missa ao domingo e por fazerem parte do conselho pastoral da paróquia, acham que conhecem Deus (isto é, que têm com Ele uma relação estreita de intimidade e comunhão)… Atenção: só “conhece” Deus quem é simples e humilde e está disposto a seguir Jesus no caminho da entrega a Deus e da doação da vida aos homens. É no seguimento de Jesus – e só aí – que nos tornamos “filhos” de Deus.

Como nos situamos face a Deus e à proposta que Ele nos apresenta em Jesus? Ficamos fechados no nosso comodismo e instalação, no nosso orgulho e auto-suficiência, sem vontade de arriscar e de pôr em causa as nossas seguranças, ou estamos abertos e atentos à novidade de Deus, a fim de perceber as suas propostas e seguir os seus caminhos?

Cristo quis oferecer aos pobres, aos marginalizados, aos pequenos, a todos aqueles que a Lei escravizava e oprimia, a libertação e a esperança. Os pobres, os débeis, os marginalizados, aqueles que não encontram lugar à mesa do banquete onde se reúnem os ricos e poderosos, continuam a encontrar – no testemunho dos discípulos de Jesus – essa proposta de libertação e de esperança? A Igreja dá testemunho da proposta libertadora de Jesus para os pobres? Como é que os pequenos e humildes são acolhidos nas nossas comunidades? Como é que acolhemos aqueles que têm comportamentos social ou religiosamente incorretos?

*Leia a reflexão na íntegra. Clique ao lado no link- EVANGELHO DO DIA.

 

O Pontífice escreveu ao seu predecessor expressando sua proximidade espiritual pela morte de seu irmão.

 

Vatican News

Uma oração de sufrágio por Monsenhor Georg Ratzinger, irmão de Bento XVI, e uma oração pelo Papa emérito, para que ele seja consolado neste momento de dor.

Foi o que o Papa Francisco garantiu em uma carta enviada ao seu antecessor pela morte de seu amado irmão, que Joseph Ratzinger visitou em 18 de junho passado, enfrentando o cansaço de uma viagem à Alemanha para poder vê-lo pela uma última vez e dar-lhe adeus.

“O senhor", escreve o Papa Francisco a Bento XVI, "teve a delicadeza de me informar por primeiro da notícia da morte de seu amado irmão Mons. Georg. Desejo renovar-lhe a expressão de minhas sinceras condolências e proximidade espiritual neste momento de dor".

"Asseguro minha oração de sufrágio pelo seu irmão - continua o Papa - para que o Senhor da vida, em sua bondade misericordiosa, o receba na pátria do céu e lhe conceda o prêmio preparado para os fiéis servos do Evangelho".

"E rezo também pelo senhor, Santidade - conclui -, invocando do Pai, por intercessão da Santíssima Virgem Maria, o apoio da esperança cristã e do terno consolo divino. Sempre unidos na adesão ao Cristo Ressuscitado, fonte de esperança e de paz".

Francisco conclui a carta com as significativas palavras "filialmente e fraternalmente", expressando assim o afeto e a devoção que o une a seu antecessor. Fonte: https://www.vaticannews.va

Homenagem aconteceu durante missa realizada no Corcovado em homenagem às vítimas e aos profissionais da linha de frente

 

RIO - No dia em que o Brasil ultrapassou a marca de 60 mil mortes por Covid-19, o Cristo Redentor foi cenário de uma missa em tributo às vítimas e ganhou uma projeção especial. O evento foi realizado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Cáritas Brasileira, com apoio do Verificado - iniciativa das Nações Unidas para combate à desinformação.

Com o tema “Para Cada Vida”, a celebração trouxe mensagens de solidariedade às famílias das vítimas e de gratidão aos trabalhadores e voluntários anônimos, assim como aos profissionais da saúde. A missa contou com uma mensagem de solidariedade e uma benção do Papa Francisco, vibrando pela chegada de dias melhores, e também com uma mensagem de Dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidente da CNBB. A cerimônia religiosa foi presidida pelo Cardeal brasileiro Dom Orani João Tempesta.

— A nossa arquidiocese foi escolhida para ser o lugar de manifestar a nossa solidariedade e oração por aqueles que faleceram com essa pandemia — disse o Cardeal.

Com a celebração, a CNBB, a Cáritas Brasileira e o Verificado têm o objetivo de proporcionar uma homenagem para cada vida, além de humanizar este momento crítico pelo qual o mundo está passando, dando luz às vidas perdidas, que tendem a serem apenas estatísticas devido ao alto número de óbitos diários. Fonte: https://oglobo.globo.com

1) Oração

Ó Deus, pela vossa graça, nos fizestes filhos da luz. Concedei que não sejamos envolvidos pelas trevas do erro, mas brilhe em nossas vidas a luz da vossa verdade. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho (Mt 8, 28-34)

28Quando Jesus chegou à outra margem, à terra dos gadarenos, foram ao encontro dele dois homens possuídos pelo demônio. Saíam do meio dos túmulos e eram muito selvagens, de modo que ninguém podia passar por esse caminho.
29Então eles gritaram: "Que é que há entre nós, Filho de Deus? Vieste aqui para nos atormentar antes do tempo?"
30Havia, ao longe, uma grande manada de porcos que estavam pastando.
31Os demônios suplicavam: "Se nos expulsas, manda-nos para a manada de porcos."
32Jesus disse: "Podem ir." Os demônios saíram, e foram para os porcos; e eis que toda a manada se atirou monte abaixo para dentro do mar e morreu afogada.
33Os homens que guardavam os porcos saíram correndo, foram à cidade e contaram tudo, inclusive o caso dos possuídos pelo demônio.
34Então toda a cidade saiu ao encontro de Jesus. Vendo-o, começaram a suplicar que Jesus se retirasse da região deles.

 

3) Reflexão

O evangelho de hoje acentua o poder de Jesus sobre o demônio. No nosso texto, o demônio ou o poder do mal é associado com três coisas: 1) Com o cemitério, o lugar dos mortos. A morte que mata a vida! 2) Com o porco, que era considerado um animal impuro. A impureza que separa de Deus!  3) Com o mar, que era visto como símbolo do caos de antes da criação. O caos que destrói a natureza. O evangelho de Marcos, de onde Mateus tirou a sua informação, ainda associa o poder do mal a um quarto elemento que é a palavra Legião, (Mc 5,9), nome dos exércitos do império romano. O império que oprimia e explorava os povos. Assim se compreende como a vitória de Jesus sobre o demônio tinha um alcance enorme para a vida das comunidades dos anos setenta, época em que Mateus escreve o seu evangelho. Elas viviam oprimidas e marginalizadas, pela ideologia oficial tanto do império romano como do farisaísmo que se renovava. O mesmo significado e alcance continua válido para nós hoje.

Mateus 8,28: O poder do mal oprime, maltrata e aliena as pessoas

Este versículo inicial descreve a situação do povo antes da chegada de Jesus. Na maneira de descrever o comportamento dos dois endemoninhados, o evangelista associa o poder do mal com cemitério e morte. É um poder mortal sem rumo, ameaçador, descontrolado e destruidor, que mete medo em todos. Priva a pessoa da consciência, do autocontrole e da autonomia.

Mateus 8,29: Diante da simples presença de Jesus o poder do mal se desmorona e se desintegra

Aqui se descreve o primeiro contato entre Jesus e os dois possessos. É a desproporção total. O poder, que antes parecia tão forte, se derrete e se desmancha diante de Jesus. Eles gritam: "Que é que há entre nós, Filho de Deus? Vieste aqui para nos atormentar antes do tempo?" Sentem que perderam o poder.

Mateus 8,30-32: O poder do mal é impuro e não tem autonomia nem consistência

O demônio não tem poder sobre os seus próprios movimentos. Só consegue ir para dentro dos porcos com a permissão de Jesus! Uma vez dentro dos porcos, estes se precipitam no mar. Na opinião do povo, o porco era símbolo da impureza que impedia o ser humano de relacionar-se com Deus e sentir-se acolhido por Ele. O mar era símbolo do caos que existia antes da criação e que, conforme a crença da época, continuava ameaçando a vida. Este episódio dos porcos que se precipitam no mar é estranho e difícil de ser entendido. Mas a mensagem é muito clara: diante de Jesus, o poder do mal não tem autonomia nem consistência. Quem crê em Jesus já venceu o poder do mal e já não precisa ter med

Mateus 8,33-34: A reação do povo do lugar

Alertado pelos empregados que tomavam conta dos porcos, o povo do lugar veio ao encontro de Jesus. Marcos informa que eles viram “o endemoninhado sentado, vestido e em perfeito juízo” (Mc 5,15). Mas eles ficaram sem os porcos! Por isso, pedem a Jesus para ir embora. Para eles, os porcos eram mais importantes que o ser humano que acabava de ser devolvido a si mesmo.

A expulsão dos demônios. No tempo de Jesus, as palavras demônio ou satanás, eram usadas para indicar o poder do mal que desviava as pessoas do bom caminho. Por exemplo, quando Pedro tentou desviar Jesus, ele foi Satanás para Jesus (Mc 8,33). Outras vezes, aquelas mesmas palavras eram usadas para indicar o poder político do império romano que oprimia e explorava o povo. Por exemplo, no Apocalipse, o império romano é identificado com “Diabo ou Satanás” (Ap 12,9). Outras vezes ainda, o povo usava as mesmas palavras para indicar os males e as doenças. Assim se falava em demônio ou espírito mudo, espírito surdo, espírito impuro, etc. Havia muito medo! No tempo de Mateus, segunda metade do primeiro século, o medo dos demônios estava aumentando. Algumas religiões, vindas do Oriente, divulgavam um culto aos espíritos. Elas ensinavam que gestos errados nossos podiam irritar os espíritos, e estes, para se vingar de nós, podiam impedir nosso acesso a Deus e privar-nos dos benefícios divinos. Por isso, através de ritos e despachos, rezas fortes e cerimônias complicadas, o povo procurava acalmar esses espíritos ou demônios, a fim de que não prejudicassem a vida humana. Estas religiões, em vez de libertar o povo, alimentavam nele o medo e a angústia. Ora, um dos objetivos da Boa Nova de Jesus era ajudar o povo a se libertar deste medo. A chegada do Reino de Deus significou a chegada de um poder mais forte. Jesus é “o homem mais forte” que chegou para amarrar o Satanás, o poder do mal, e roubar dele a humanidade prisioneira do medo (cf. Mc 3,27). Por isso, os evangelhos insistem tanto na vitória de Jesus sobre o poder do mal, sobre o demônio, sobre o Satanás, sobre o pecado e sobre a morte. Era para animar as comunidades a vencer este medo do demônio! E hoje, quem de nós pode dizer: “Eu sou totalmente livre”? Ninguém! Então, se não sou totalmente livre, alguma parte em mim é possuída por outros poderes. Como expulsar estes poderes? A mensagem do evangelho de hoje continua válido para nós.

 

4) Para um confronto pessoal

  1. O que está oprimindo e maltratando o povo, hoje? Por que, hoje, em certos lugares, se fala tanto em expulsão de demônio? Será que é bom insistir tanto no demônio? O que você acha?
  2. Quem de nós pode dizer que é totalmente livre ou liberto? Ninguém! Então, somos todos um pouco possessos, possuídos por outros poderes que ocupam algum espaço dentro de nós. Como fazer para expulsar este poder de dentro nós e de dentro da sociedade?

 

5) Oração final

O Senhor é clemente e misericordioso, lento para a ira e rico de graça. O Senhor é bom para com todos, compassivo com todas as suas criaturas. (Sl 144, 8-9)

1) Oração

Ó Deus, pela vossa graça, nos fizestes filhos da luz. Concedei que não sejamos envolvidos pelas trevas do erro, mas brilhe em nossas vidas a luz da vossa verdade. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho (Mt 8, 23-27)

23Então Jesus entrou na barca, e seus discípulos o acompanharam.
24E eis que houve grande agitação no mar, de modo que a barca estava sendo coberta pelas ondas. Jesus, porém, estava dormindo.
25Os discípulos se aproximaram e o acordaram, dizendo: "Senhor, salva-nos, porque estamos afundando!" 26Jesus respondeu: "Por que vocês têm medo, homens de pouca fé?" E, levantando-se, ameaçou os ventos e o mar, e tudo ficou calmo.
27Os homens ficaram admirados e disseram: "Quem é esse homem, a quem até o vento e o mar obedecem?"

 

3) Reflexão

Mateus escreve para as comunidades de judeus convertidos dos anos setenta que se sentiam como um barquinho perdido no mar revolto da vida, sem muita esperança de poder alcançar o porto desejado. Jesus parecia estar dormindo no barco, pois não aparecia para elas nenhum poder divino para salvá-las da perseguição. Em vista desta situação de angústia e desespero, Mateus recolheu vários episódios da vida de Jesus para ajudar as comunidades a descobrir, no meio da aparente ausência, a acolhedora e poderoso presença de Jesus vencedor que domina o mar (Mt 8,23-27), que vence e expulsa o poder do mal (Mt 9,28-34) e que tem poder de perdoar os pecados (Mt 9,1-8). Com outras palavras, Mateus quer comunicar esperança e sugerir que não há motivo para as comunidades terem medo. Este é o motivo do relato da tempestade acalmada do evangelho de hoje.

Mateus 8,23: O ponto de partida: entrar no barco.

Mateus segue o evangelho de Marcos, mas o abrevia e o ajeita dentro do novo esquema que ele adotou. Em Marcos, o dia foi pesado de muito trabalho. Terminado o discurso das parábolas (Mc 4,3-34), os discípulos levaram Jesus no barco e, de tão cansado que estava, Jesus dormiu em cima de um travesseiro (Mc 4,38). O texto de Mateus é bem mais breve. Ele apenas diz que Jesus entrou no barco e os discípulos o acompanhavam. Jesus é o Mestre, os discípulos seguem o mestre.

Mateus 8,24-25: A situação desesperadora: “Estamos afundando!”

O lago da Galiléia é cercado de altas montanhas. Às vezes, por entre as fendas das rochas, o vento cai em cima do lago e provoca tempestades repentinas. Vento forte, mar agitado, barco cheio de água! Os discípulos eram pescadores experimentados. Se eles achavam que iam afundar, então a situação era perigosa mesmo! Mas Jesus nem sequer acorda, e continua dormindo. Eles gritam: "Senhor, salva-nos, porque estamos afundando!" Em Mateus, o sono profundo de Jesus não é só sinal de cansaço. É também expressão da confiança tranqüila de Jesus em Deus. O contraste entre a atitude de Jesus e dos discípulos é grande! 

Mateus 8,26: A reação de Jesus: “Por que vocês têm medo?”

Jesus acorda, não por causa das ondas, mas por causa do grito desesperado dos discípulos. Ele se dirige a eles e diz: “Por que vocês têm medo? Homens de pouca fé!” Em seguida, ele se levanta, ameaça os ventos e o mar, e tudo fica calmo. A impressão que se tem é que não era preciso acalmar o mar, pois não havia nenhum perigo. É como quando você chega na casa de um amigo e o cachorro, preso na corrente, ao lado do dono, late muito contra você. Mas você não precisa ter medo, pois o dono está aí e controla a situação. O episódio da tempestade acalmada evoca o êxodo, quando o povo, sem medo, passava pelo meio das águas do mar (Ex 14,22). Jesus refaz o êxodo. Evoca ainda o profeta Isaías que dizia ao povo: “Quando passares pelas águas eu estarei contigo!” (Is 43,2). Por fim, o episódio da tempestade acalmada evoca e realiza a profecia anunciada no Salmo 107:

23 Desciam de navio pelo mar, comerciando na imensidão das águas.

24 Eles viram as obras de Javé, suas maravilhas em alto-mar.

25 Ele falou, levantando um vento impetuoso, que elevou as ondas do mar.

26 Eles subiam até o céu e baixavam até o abismo, a vida deles se agitava na desgraça.

27 Rodavam, balançando como bêbados, e de nada adiantou a perícia deles.

28 Na sua aflição, clamaram para Javé, e ele os libertou de suas angústias.

29 Ele transformou a tempestade em leve brisa e as ondas emudeceram.

30 Ficaram alegres com a bonança, e ele os guiou ao porto desejado. (Sl 107,23-30)

Mateus 8,27: O espanto dos discípulos: “Quem é este homem?”

Jesus perguntou: “Por que vocês têm medo?” Os discípulos não sabem o que responder. Admirados, se perguntam: “Quem é este homem a quem até o mar e o vento obedecem?” Apesar da longa convivência com Jesus, ainda não sabem direito quem ele é. Jesus parece um estranho para eles! Quem é este homem?

Quem é este homem? Quem é Jesus para nós, para mim? Esta deve ser a pergunta que nos leva a continuar a leitura do Evangelho, todos os dias, com o desejo de conhecer sempre melhor o significado e o alcance da pessoa de Jesus para a nossa vida. É desta pergunta que nasceu a cristologia. Ela nasceu, não de altas considerações teológicas, mas sim do desejo dos primeiros cristãos de encontrar sempre novos nomes e títulos para expressar o que Jesus significava para eles. São dezenas os nomes, títulos e atributos, desde carpinteiro até filho de Deus, que Jesus recebe: Messias, Cristo, Senhor, Filho amado, Santo de Deus, Nazareno, Filho do Homem, Noivo, Filho de Deus, Filho do Deus altíssimo, Carpinteiro, Filho de Maria, Profeta, Mestre, Filho de Davi, Rabboni, Bendito o que vem em nome do Senhor, Filho, Pastor, Pão da vida, Ressurreição, Luz do mundo, Caminho, Verdade, Vida, Videira, Rei dos judeus, Rei de Israel, etc., etc. Cada nome, cada imagem, é uma tentativa para expressar o que Jesus significava para eles. Mas um nome, por mais bonito que seja, nunca chega a revelar o mistério de uma pessoa, muito menos da pessoa de Jesus. Jesus não cabe em nenhum destes nomes, em nenhum esquema, em nenhum título. Ele é maior, ultrapassa tudo! Ele não pode ser enquadrado. O amor capta, a cabeça, não! É a partir da experiência viva do amor que os nomes, os títulos e as imagens recebem o seu pleno sentido. Afinal, quem é Jesus para mim, para nós?

 4) Para um confronto pessoal

  1. Qual era o mar agitado no tempo de Jesus? Qual era o mar agitado na época em que Mateus escreveu o seu evangelho? Qual é hoje o mar agitado para nós? Alguma vez, as águas agitadas do mar da vida já ameaçaram afogar você? O que te salvou?
  2. Quem é Jesus para mim? Qual o nome de Jesus que melhor expressa minha fé e meu amor?

 

5) Oração final

Uma geração conta à outra as tuas obras, anuncia tuas maravilhas. Proclama o esplendor glorioso da tua majestade e narram teus prodígios. (Sl 144, 4-5)

Missas presenciais voltam a ser realizadas na capital paulista; na Catedral da Sé, o limite é para apenas 240 pessoas

 

Alfredo Henrique

SÃO PAULO

Fiéis precisaram higienizar as mãos com álcool em gel antes de pegarem hóstias entregues pelo padre Luiz Eduardo, 50 anos, na primeira missa realizada na Catedral da Sé (centro), em um dia de semana, durante a pandemia da Covid-19. A celebração começou ao meio-dia desta segunda-feira (29).

As missas com presença de fileis não eram realizadas desde março, quando começou a quarentena por causa do novo coronavírus em São Paulo. A reabertura foi autorizada na semana passada pelo arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer.

A primeira missa aberta ao público na Catedral Metropolitana, oficialmente, ocorreu no mesmo horário, neste domingo (28).

Para entrar na igreja, que está com limite de lotação de até 240 pessoas, é preciso caminhar até a lateral do prédio, na rua Felipe de Oliveira, onde dois seguranças borrifam álcool nas mãos dos fiéis, que obrigatoriamente devem usar máscaras. Este é o único ponto em que entra ventilação no templo.

A missa desta segunda foi acompanhada por 47 pessoas, a maioria idosos, que ocuparam em duplas bancos onde se sentavam até 20 pessoas, antes da quarentena.

Para garantir o distanciamento, a Arquidiocese de São Paulo colocou fitas de isolamento nos bancos, nos quais podem se sentar no máximo três pessoas, distantes umas das outras.

O padre Eduardo só abaixou a máscara de proteção que usava quando ingeriu vinho e a hóstia durante a cerimônia.

Após isso, os fiéis em fila, respeitando o distanciamento um do outro, higienizaram as mãos, com álcool borrifado por um segurança do templo.

Os participantes não puderam acompanhar a missa com panfletos, como costumava ocorrer antes da pandemia da Covid-19, nem puderam dar as mãos desejando “a paz de Cristo”, um momento tradicional nas celebrações católicas.

O religioso concorda com as medidas de proteção ao vírus, mas pontuou que a presença de fiéis é uma característica intrínseca na Igreja Católica. “Pôde-se fazer uma celebração sozinho, mas a presença das pessoas é imprescindível para a liturgia cristã.”

De acordo com a arquidiocese, suas acerca de 500 igrejas estão autorizadas a celebrar missas, desde que respeitados os protocolos de prevenção à Covid-19.

Até o momento, três padres testaram positivo para o novo coronavírus, segundo a assessoria de imprensa da arquidiocese, e nenhum morreu.

A partir desta semana, a catedral realiza missas de segunda a sábado, ao meio-dia, e aos domingos às 11h.

Conforme a demanda aumentar, novos horários serão acrescentados aos dias. Para entrar na igreja é obrigatório o uso de máscara de proteção.

 

Fiéis

A aposentada Marisa Silva, 78 anos, foi comprar um bombom de licor quando percebeu a porta lateral da Catedral da Sé aberta, por volta das 11h50 desta segunda.

Ela não sabia que as celebrações haviam sido retomadas na igreja. “Fiquei muito feliz, me senti abençoada pela coincidência”, afirmou.

Ela acrescentou não ter se sentido exposta a eventuais contaminações pelo novo coronavírus, dentro do templo, e acrescentou que aproveitou a oportunidade para rezar pelos mortos pela Covid-19.

Minutos após o fim da missa, o cientista social Marco Antônio Alajo, 60, entrou na catedral, com o intuito de rezar pelo primo, Jorge Eduardo da Costa, 54, morto pela Covid-19 no último dia 23.

“Combinei com amigos e familiares para a gente participar de uma missa na catedral, em homenagem ao meu primo. Todo mundo se atrasou e vamos esperar a próxima missa”, disse sem saber que no local está sendo feita somente uma celebração diária.

Após ser informado pela reportagem sobre isso, o cientista disse que não perderia a viagem, pois de qualquer forma iria reencontrar pessoas queridas, que não vê desde o início do ano. Fonte: https://agora.folha.uol.com.br

1) Oração

Ó Deus, pela vossa graça, nos fizestes filhos da luz. Concedei que não sejamos envolvidos pelas trevas do erro, mas brilhe em nossas vidas a luz da vossa verdade. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho (Mt 8,18-22)

18Certo dia, vendo-se no meio de grande multidão, ordenou Jesus que o levassem para a outra margem do lago. 19Nisto aproximou-se dele um escriba e lhe disse: Mestre, seguir-te-ei para onde quer que fores. 20Respondeu Jesus: As raposas têm suas tocas e as aves do céu, seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça. 21Outra vez um dos seus discípulos lhe disse: Senhor, deixa-me ir primeiro enterrar meu pai. 22Jesus, porém, lhe respondeu: Segue-me e deixa que os mortos enterrem seus mortos.

 

3) Reflexão

Durante três semanas, meditamos os capítulos 5 a 8 do evangelho de Mateus. Dando seqüência à meditação do capítulo 8, o evangelho de hoje trata das condições do seguimento de Jesus. Jesus decidiu ir para o outro lado do lago e uma pessoa pediu para poder segui-lo (Mt 8,18-22).

Mateus 8,18: Jesus manda passar para o outro lado do lago

Jesus tinha acolhido e curado todos os doentes que o povo havia trazido até ele (Mt 8,16). Muita gente juntou-se ao redor dele. À vista desta multidão, Jesus decidiu ir para a outra margem do lago. No evangelho de Marcos, do qual Mateus tirou grande parte das suas informações, o contexto é outro. Jesus acabava de terminar o discurso das parábolas (Mc 4,3-34) e dizia: “Vamos para o outro lado!” (Mc 4,35), e, do jeito que ele estava no barco, de onde tinha feito o discurso (cf. Mc 4,1-2), os discípulos o levaram para o outro lado. De tão cansado que estava, Jesus deitou e dormiu em cima de um travesseiro (Mc 4,38).

Mateus 8,19: Um doutor da Lei quer seguir Jesus

No momento em que Jesus decide fazer a travessia do lago, um doutor da lei se aproxima e diz: "Mestre, eu te seguirei aonde quer que fores”. Um texto paralelo de Lucas (Lc 9,57-62) trata do mesmo assunto, mas de um jeito um pouco diferente. Conforme Lucas, Jesus tinha decidido ir para Jerusalém onde seria preso e morto. Tomando o rumo de Jerusalém, ele entrou no território da Samaria (Lc 9,51-52), onde três pessoas pedem para poder segui-lo (Lc 9,57.59.61). Em Mateus, que escreve para judeus convertidos, a pessoa que quer seguir Jesus é um doutor da lei. Mateus acentua o fato de uma autoridade dos judeus reconhecer o valor de Jesus e pedir para ser discípulo. Em Lucas, que escreve para pagãos convertidos, as pessoas que querem seguir Jesus são samaritanos. Lucas acentua a abertura ecumênica de Jesus que aceita também não judeus como discípulos.

Mateus 8,20: A resposta da Jesus ao doutor da Lei

A resposta de Jesus é idêntica tanto em Mateus como em Lucas, e é uma resposta muito exigente que não deixa dúvidas: "As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça".  Quem quer ser discípulo de Jesus deve saber o que faz. Deve examinar as exigências e calcular bem, antes de tomar uma decisão (cf. Lc 14,28-32). “Do mesmo modo, portanto, qualquer um de vocês, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,33).

Mateus 8,21: Um discípulo pede para poder enterrar o falecido pai

Em seguida, alguém que já era discípulo pede licença para poder enterrar seu falecido pai: "Senhor, deixa primeiro que eu vá sepultar meu pai". Com outras palavras, ele pede que Jesus adie a travessia do lago para depois do enterro do pai. Enterrar os pais era um dever sagrado dos filhos (cf Tb 4,3-4).

Mateus 8,22: A resposta de Jesus

Novamente, a resposta de Jesus é muito exigente. Jesus não adiou sua viagem para o outro lado do lago e diz ao discípulo: "Siga-me, e deixe que os mortos sepultem seus próprios mortos”. Quando Elias chamou Eliseu, ele permitiu que Eliseu voltasse para casa para despedir-se dos pais (1Reis 19,20). Jesus é bem mais exigente. Para entender todo o alcance da resposta de Jesus convém lembrar que a expressão Deixe que os mortos sepultem seus próprios mortos era um provérbio popular usado pelo povo para significar que não se deve gastar energia em coisas que não tem futuro e que não tem nada a ver com a vida. Um provérbio assim não pode ser tomado ao pé da letra. Deve-se olhar o objetivo com que foi usado. Assim, aqui no nosso caso, por meio do provérbio Jesus acentua a exigência radical da vida nova para qual ele chama as pessoas e que exige abandonar tudo para poder seguir Jesus. Descreve as exigências do seguimento de Jesus.

Seguir Jesus. Como os rabinos da época, Jesus reúne discípulos e discípulas. Todos eles "seguem Jesus". Seguir era o termo que se usava para indicar o relacionamento entre o discípulo e o mestre. Para os primeiros cristãos, Seguir Jesus  significava três coisas muito importantes, ligadas entre si:

  1. Imitar o exemplo do Mestre: Jesus era o modelo a ser imitado e recriado na vida do discípulo e da discípula (Jo 13,13-15). A convivência diária permitia um confronto constante. Na "escola de Jesus" só se ensinava uma única matéria: o Reino, e este Reino se reconhecia na vida e na prática de Jesus.
  2. Participar do destino do Mestre:. Quem seguia Jesus devia comprometer-se com ele e "estar com ele nas sua provações" (Lc 22,28), inclusive nas perseguições (Mt 10,24-25) e na cruz (Lc 14,27). Devia estar disposto a morrer com ele (Jo 11,16).
  3. Ter a vida de Jesus dentro de si: Depois da Páscoa, à luz da ressurreição, o seguimento assume esta terceira dimensão: "Vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em mim" (Gl 2,20). Trata-se da dimensão mística do seguimento, fruto da ação do Espírito. Os cristãos procuravam refazer em suas vidas o caminho de Jesus que tinha morrido em defesa da vida e foi ressuscitado pelo poder de Deus (Fl 3,10-11).

 

4) Para um confronto pessoal

1) Ser discípulo, discípula, de Jesus. Seguir Jesus. Como estou vivendo o seguimento de Jesus?

2) As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça. Como viver hoje esta exigência de Jesus?

 

5) Oração final

Compreendei bem isto, vós que vos esqueceis de Deus: não suceda que eu vos arrebate e não haja quem vos salve. Honra-me quem oferece um sacrifício de louvor; ao que procede retamente, a este eu mostrarei a salvação de Deus.  (Sl 49, 22-23) 

   A volta das Missas para o povo de Deus a partir de sábado, dia 4 de julho.

Sábado

19h, no Convento

(A Missa das 19h será online pela Pascom)

 

Domingo

Matriz

7h e 9h

(A Missa das 9h será online pela Pascom)

 

Convento.

17h e 19h,

 

Orientações

1-Para participar das Missas, serão agendadas na Secretaria da Paróquia, das 8h às 13h 30min

2-Diacordo com as orientações da CNBB e do nosso Bispo, Dom José Ubiratan, é recomendável que as pessoas idosas e com doenças crônicas, fiquem em casa.

3-Lembramos que os banheiros e bebedouros das Igrejas estarão fechados

4- É obrigatório o uso de máscaras

5- Quem desejar, leve água e álcool em gel   

6-Ao entrar na Igreja, você deverá permanecer no seu lugar até o final da Santa Missa (Se vier acompanhado, não poderá sentar-se juntos)

7-A sua coleta será depositada nos cofres da Igreja (Não durante o ofertório)

 

Observações

1-Neste primeiro momento, não haverá Missas durante a semana e nas comunidades

2-Lembramos também que não haverá confissões e atendimento espiritual

 

Certos de podermos contar com a compreensão neste tempo de pandemia

Frades Carmelitas

Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa - 28.06.2009

 

Celebrando hoje a festa de São Pedro e São Paulo, exaltamos seu exemplo de fidelidade a Jesus Cristo e seu ardoroso testemunho no projeto libertador de Deus.

Na pessoa de Pedro, destaca-se o Pastor das Comunidades, aquele que é referência da fé para os irmãos. Na pessoa de Paulo, aparece mais o líder Missionário, que forma comunidades e faz expandir a fé em todas as nações. Pedro recorda mais a instituição... Paulo, o carisma...

 

As Leituras bíblicas nos falam dos dois Apóstolos:

 

Na 1ª Leitura, vemos SÃO PEDRO: (At 12,1-11)

 

Preso pelas autoridades... "para agradar os judeus"... Guardado como "perigoso" por 16 homens... e libertado por Deus... - O texto mostra que o testemunho dos discípulos gera oposição e morte.

  Mas a oposição não pode calar esse testemunho.

- Mostra uma Comunidade cristã unida e solidária, na Oração. E Deus escuta a oração da Comunidade...

- Mostra a presença efetiva de Deus na caminhada da Igreja e o cuidado de Deus para os que lhe dão testemunho. O nosso Deus não nos abandona...

 

Na 2ª Leitura vemos SÃO PAULO: (2Tm 4, 6-8.17-18)

 

Também está preso, pela última vez: Está ciente da própria condenação. Faz um balanço final de sua vida a serviço do Evangelho:

- "Estou pronto... chegou a minha hora... combati o bom combate ... terminei a corrida... conservei a fé...

- E agora aguardo o prêmio dos justos...

 - O Senhor esteve comigo... a ele GLÓRIA..." A própria Morte ele a vê como a Libertação definitiva...

Suas palavras são um "testamento espiritual" sereno e alegre, consciente do dever cumprido..  Modelo de Missionário ardoroso e entusiasta...

 

No Evangelho, Pedro faz a Profissão de Fé e recebe o Primado. (Mt 16, 13-19)

 

O texto tem duas Partes:

- A primeira de caráter cristológico: centra-se em CRISTO e na definição de sua identidade:  "Tu é o Cristo, o Filho de Deus Vivo".

- Na segunda de caráter eclesiológico: centra-se na IGREJA que Jesus convoca à volta de Pedro:

  "Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja". A base ("Rocha") firme sobre a qual vai se assentar a Igreja de Jesus é a fé que Pedro e a Comunidade dos discípulos professaram: a fé em Jesus como o "Messias, Filho de Deus vivo".

Dessa adesão, nasce a Igreja, a Comunidade dos discípulos de Jesus, convocada e organizada à volta de Pedro.

A Pedro e à Comunidade dos discípulos é confiado o poder das chaves, isto é, a autoridade para interpretar as palavras de Jesus, às novas necessidades e situações e para acolher ou não novos membros na dos discípulos do Reino.

Pedro torna-se assim uma figura de referência para os primeiros cristãos e desempenha uma papel de primeiro plano na animação da igreja nascente.

+ PEDRO E PAULO são figuras gigantescas da Igreja primitiva, que tinha a missão de continuar a OBRA salvadora de Cristo...

Na Igreja, Pedro recebe poderes para desempenhar a sua missão: Por isso, nem o poder do inferno terá vez contra ela...

E essa promessa de Cristo não é apenas à pessoa de Pedro. Se a Igreja deve permanecer, mesmo depois da morte de Pedro, devemos admitir que os poderes concedidos a Pedro,  passem também aos seus legítimos sucessores, que são os PAPAS...

Por isso, nesse dia celebramos também o DIA DO PAPA, que ainda hoje continua sendo sinal de unidade e de comunhão na fé.

 O Papa é o chefe visível da Igreja na terra. Sua missão é espinhosa, sobretudo hoje, com mudanças rápidas e violentas... com contestações dentro e fora da Igreja... Como é difícil saber discernir, no meio de tantas turbulências!...

Ele merece o nosso amor... mas que não seja um amor só de palavras, mas um amor concreto... Rezando por ele... escutando a sua voz... e praticando seus ensinamentos...

 

Relembrando as figuras de São Pedro e São Paulo, perguntemo-nos:

- Damos testemunho de Cristo, como eles, no ambiente em que vivemos?

- Acreditamos que somos responsáveis pela continuação do Projeto de Deus?

Relembrando a figura do Papa, continuemos a nossa oração, pedindo a Deus que lhe dê:

- MUITA LUZ... para apontar sempre o melhor caminho para a Igreja... e MUITA FORÇA... para enfrentar com otimismo e alegria  as contestações do mundo moderno...

Graças ao entusiasmo de Paulo, a Igreja avançou no espaço e no tempo. Sejamos continuadores dessa maravilhosa obra inaugurada por Cristo.

“Olhando para o futuro, vamos ler os sinais que a COVID-19 exibiu claramente. Não esqueçamos o quanto a perda do contato humano durante este tempo nos tenha empobrecido profundamente, quando fomos separados dos vizinhos, dos amigos, colegas de trabalho e especialmente da família, incluindo a crueldade total de não podermos acompanhar os moribundos nos seus últimos momentos de vida e depois chorá-los devidamente. Não consideremos óbvio o fato de podermos retomar a convivência no futuro mas redescubramo-la e encontremos formas de fortalecer agora esta possibilidade”. (p.15) Papa Francisco.

"A pandemia exigiu de todos uma redescoberta e valorização da vida espiritual. Ouvimos tantas pessoas destacando a importância dessa dimensão da vida, para que pudessem viver um pouco melhor esse momento. Para os seminaristas, a pandemia pediu e proporcionou um processo de crescimento espiritual. Contudo, este crescimento só é possível, através de um sincero e permanente esforço de conversão do coração".

O comentário é de Dra. Luciana Campos, psicóloga pela UFRJ, pedagoga pela UFF, especializada em psicopedagogia pela UFRJ, mestre em educação pela UFF, doutora pela UFRJ e Pe. Douglas Alves Fontes, reitor do Seminário São José da Arquidiocese de Niterói (RJ), mestre e doutor em Teologia Sistemática pela PUC Rio.

 

Eis o artigo.

 

Um ambiente formativo

"Foi então a Nazaré, onde se tinha criado." (Lc 4,16) 

Um dos primeiros desafios, que a pandemia nos apresentou, foi: permanecer com os seminaristas no Seminário ou enviá-los para outro lugar? Este desafio, provavelmente, foi exigente para todos: formandos, formadores e familiares. Na pesquisa, vimos que a maioria foi para a casa de suas famílias (62,2%), e um segundo grande grupo permaneceu nos Seminários (25,6%). O restante se dividiu  entre casas paroquiais, conventos, e alternando casa e seminário.

Documento de Aparecida (n. 314), há mais de 10 anos, nos recorda que a Pastoral vocacional começa na família. Contudo, sabemos que esta realidade não é tão simples como podemos pensar. Muitas famílias, de fato, se envolvem no processo formativo dos seminaristas, às vezes até de maneira delicada. 

A Igreja sempre enfatizou a necessidade de uma participação ativa das famílias no processo formativo dos futuros presbíteros. Já João Paulo II, na Pastores DaboVobis (n. 41), reconhecia a importância da família, na acolhida e formação das vocações. Ela é considerada a primeira comunidade eclesial de formação dos vocacionados (Doc. 110, n. 88). É fato que muitas das experiências familiares, vividas no seio da família, poderão influenciar demais a caminhada vocacional dos futuros presbíteros. 

Retomando a AmorisLaetitia, a Ratiofundamentalis (n. 148) recorda que "os laços familiares são fundamentais para fortificar a autoestima sadia dos seminaristas. Por isso, é importante que as famílias acompanhem todo o processo do Seminário e do sacerdócio, pois ajudam  a revigorá-lo de forma realista." 

Não obstante, os formandos precisam ser educados para uma experiência de liberdade que favoreça uma "justa autonomia no exercício do ministério, e um sadio distanciamento em face de eventuais expectativas da respectiva família." (Ratio, 148) O formando é chamado a não esquecer sua origem, mas, ao mesmo tempo, a fazer um caminho de independência. 

Para os seminaristas que ficaram no Seminário, sem dúvida, a pandemia favoreceu um novo estilo de vida comunitária. Relações mais próximas, uma rotina mais flexível, um ritmo de atividades mais sereno, e outras características, são possíveis nessa nova vivência de Seminário, no tempo da pandemia. Provavelmente, a relação dos seminaristas entre eles, e com os formadores, pode estar sendo bem vivida. 

O próprio autoconhecimento também pode ter sido uma conquista desse tempo. Talvez, nessa nova vivência comunitária, formadores e formandos puderam olhar-se e relacionar-se, de modo diverso do cotidiano a que estávamos acostumados, antes da pandemia.  Provavelmente, a pandemia deu um tempero novo à vida comunitária, mas deu também oportunidade de viver na comunidade de uma maneira diferente, privilegiando o que é mais importante e necessário. 

Diferentemente do que muitos poderiam pensar, os seminaristas que responderam ao questionário, em sua maioria, disseram que conseguiram ter privacidade dentro da própria família (71%). Este dado pode dizer algo sobre a necessária independência do formando em relação a sua família.  

Porém, estando em casa, outro desafio possível seria o enfrentamento dos conflitos familiares. 42,6% responderam que tiveram que enfrentá-los. Por um lado, foi apenas uma troca: os conflitos no Seminário foram suspensos e chegaram os familiares. Neste sentido, podemos questionar: os conflitos familiares foram causados pelos próprios seminaristas ou, talvez, eles tenham sido os mediadores desses conflitos? Essa experiência é de suma riqueza, para o processo formativo, porque permite que os seminaristas sejam "colocados à prova" para lidar com essas realidades que os tocam de maneira significativa. Ao mesmo tempo, lhes dá a possibilidade de conhecer sua família de maneira mais profunda e real. 

Um bom formando nunca pode se esquecer da sua origem, da sua raiz familiar. Contudo, infelizmente, sabemos que muitos optam por virar uma página, de tal maneira que parece que "caíram do céu" e chegaram ao Seminário. Vergonha? Medo? Raiva? Por tantos motivos, muitos seminaristas ignoram ou tentam ignorar sua família. Aqui, caberá sempre um olhar atento dos formadores, para perceber quando esse fato está ocorrendo e ajudar o formando a se perceber como membro daquele núcleo familiar, e auxiliá-lo a lidar com essa dificuldade, em relação a sua família. 

Um seminarista que não fala de sua família, não a visita, prefere passar férias em outros lugares e não com a família, evita a vinda desta ao Seminário, precisa do auxílio atento e delicado dos formadores, para seu bem, hoje no Seminário e, amanhã, no presbitério. Neste caso, voltar para casa na pandemia, pode ter sido um desafio para muitos, mas, para todos, foi uma oportunidade de encontro com sua história e com os seus. 

Se para muitos de nós, a pandemia favoreceu um estado de elevação da ansiedade, a maioria dos seminaristas respondeu que seu estado emocional, nesse momento de pandemia, está normal (41,9%). Não obstante, um outro grupo se percebeu levemente ansioso (33%), e (8,1%) muito ansioso. Poderíamos dizer que muitos conseguiram e estão conseguindo lidar bem com suas emoções, neste momento. Mas e os que não o estão? "Perderam" muitos dos auxílios ordinários da vida de Seminário. Não é um número pequeno e inexpressivo, aquele que apresenta um quadro de ansiedade. Por isso, talvez, a alimentação tenha sido uma das válvulas de escape. Ao mesmo tempo em que (41,8%) responderam que a alimentação está boa, outros (11,3%) destacaram que ela está exagerada. 

Na entrevista, (35,7%) dos rapazes responderam que sentiam o peso da solidão. A maioria (64,3%) afirmou que não sentia. Poderíamos elencar inúmeros motivos,pelos quais os seminaristas não sentiam o peso da solidão. Porém, podemos também nos perguntar: não sentiram ou não se davam o direito de sentir? É fato que um dos nossos desafios é perceber e lidar com os nossos sentimentos. 

Ao mesmo tempo, os que estavam sentindo o peso, nos fazem pensar em duas questões centrais: como estão as relações pessoais dos seminaristas? Tendo em vista que estão, na maioria, com suas famílias, como sentir o peso da solidão? Estão sabendo conviver com os seus e com os outros? Além disso, outra questão central precisa ser colocada: tendo em vista que a maioria dos que responderam ao nosso questionário, foi dos seminários diocesanos, como estão lidando com a experiência do estar/viver sozinho? Sabemos que uma característica do clero diocesano é uma vida bem diversa da vida dos religiosos que vivem em comunidade. Talvez, essa resposta nos faça pensar em um dos desafios enfrentados pelos diocesanos, que têm uma vida mais "solitária". 

Outro dado interessante, mas não novo, diz respeito ao uso das redes sociais. Hoje, mais do que nunca, não nos é possível falar de formação sacerdotal, desconsiderando esse dado. Se antes da pandemia o uso das redes sociais estava na pauta de cada dia, o tempo da pandemia nos colocou diante de um desafio que não podemos mais deixar de lado, porque faz e fará parte da vida formativa antes, durante e depois do Seminário. Não podemos desconsiderar que estamos no século XXI, nossos formandos, em sua maioria, nasceram neste século, e todos exercerão o ministério neste século. 

A entrevista revelou que (36,7%) dos seminaristas estavam usando a internet para redes sociais. Estas são o pão nosso de cada dia, na caminhada formativa. Contudo, ao mesmo tempo em que ela se torna um necessário instrumento de evangelização, e assim deve ser, tem se tornado o palco de muitos conflitos e muitas questões formativas que, talvez, não apareçam na vida ordinária e real, mas ficam gritantes no mundo virtual. 

Acompanhamos não só os seminaristas, mas tantos padres e leigos redescobrindo as redes sociais, neste tempo de pandemia. Contudo, sem desmerecer e desconsiderar a busca por novas amizades, e um empenho sincero para um profícuo apostolado, até que ponto essa busca desenfreada por "estar nas redes" não está nos dizendo muito sobre nossos candidatos ao presbiterado?  

Da mesma forma que constatamos uma busca significativa dos jovens, pelas redes sociais, os seminaristas, em sua maioria, não fariam diferente. Infelizmente, precisamos constatar que essas buscas, muitas vezes, estão em desacordo com a vida "real" deles. Além disso, é comum criar um mundo virtual que não seja condizente com o real. É possível também reconhecer a busca de seguidores, curtidas e compartilhamentos dos formandos, quase como se fossem novos artistas e/ou youtubers. Mas esse seria o papel de um sacerdote e/ou futuro sacerdote, nas redes sociais e na internet, em geral? 

As inúmeras lives que aparecem em todo canto e ao longo do dia podem, no fundo, ser uma possível revelação de pessoas que não estão lidando bem com a solidão. Revestem o meio e o acesso com ótimas intenções, mas escondem o verdadeiro sentido da busca: afeto. No fundo, o que vemos e constatamos é um desejo ardente de afeto e de reconhecimento. Tendo em vista que, no mundo virtual, aparece o que queremos, muitos dos nossos formandos podem viver uma certa esquizofrenia formativa. Caberá aos envolvidos na formação um olhar atento e um acompanhamento cuidadoso, para fomentar o autoconhecimento dos formandos e um verdadeiro amadurecimento da liberdade e da responsabilidade.   

Todos esses dados nos fazem refletir e questionar o processo formativo! Por isso, é preciso pensar e repensar a formação, sobretudo, atentos aos sinais dos tempos! 

Formação continuada fora do seminário

"Jesus desceu, então, com seus pais para Nazaré E Jesus ia crescendo em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens."(Lc 2,51s)

Comecemos refletindo sobre como as diferentes dimensões da formação sacerdotal - humano-afetiva, espiritual, comunitária e intelectual - foram trabalhadas neste período. 

Um aspecto importante, indicado nos questionários, refere-se a este momento de profunda introspecção, propiciado pelo confinamento, e a questão vocacional. (67,2%) dos rapazes admitiram que repensaram sua vocação, neste período. O que isto significa? Poderemos contemplar este dado como uma fragilidade vocacional, ou como percurso natural, diante de um tempo apartado do cotidiano formativo no interior do Seminário? E teria este quesito ligação com a qualidade da relação com Deus, apontada como ótima, por um quantitativo de apenas (16,4%)? Como o diretor espiritual poderia estar mediando este momento desafiador para os seminaristas? Apenas (30,8%) dos rapazes continuaram contando com o acompanhamento espiritual online, ao passo que (69,2%) ficaram sem esta possibilidade, ressaltando que este é um percentual muito próximo dos que admitiram questionar sua vocação. Estes dados possuem potencial para nos arguir sobre o quanto a mediação de um sacerdote experiente pode impactar um jovem formando em sua caminhada. Talvez, forçosamente, nos perguntemos se antes mesmo da pandemia este acompanhamento ocorria com a frequência e a efetividade necessárias. Por outro lado, quando indagados sobre a presença dos formadores neste período, as respostas são mais animadoras, pois a maioria dos rapazes (89%) foram contatados pelos formadores, para interação social (25,6%) e também para a continuidade do trabalho formativo (74,4%).

É preciso reconhecer que as dificuldades na vida de um vocacionado ao sacerdócio não se resumem ao tempo do Seminário, uma vez que antes, durante e depois, os vocacionados ao presbiterado lidam com inúmeros desafios e dificuldades. Vale lembrar que outras vocações também têm as suas. Porém, a resposta sobre o repensar a vocação também nos faz pensar até que ponto, os seminaristas têm raízes firmes e um alicerce sólido, sobre os quais "edificarão" seus ministérios. De fato, a pandemia é algo totalmente novo e questionador, mas outros desafios ainda virão.

É sempre necessário auxiliar os vocacionados a terem, cada vez mais claro, o motivo pelo qual deixaram suas famílias, ingressaram no Seminário, nele permanecem e dele partirão, para seguir outro caminho ou assumir o ministério sacerdotal. Muitas vezes, o que ocorre é que as motivações vocacionais são superficiais, ilusórias e inconstantes. Contudo, é sempre possível depurar, para chegar no seu essencial, no seu núcleo sólido, mesmo que tantas camadas apareçam cobrindo o núcleo central do chamado vocacional. Caberá, aos formadores, oferecer um auxílio constante e sereno, para que os formandos façam o seu caminho de discernimento!

Já o dado da direção espiritual parece fazer ecoar um dado percebido na vida presbiteral. Infelizmente, é perceptível um hiato, entre a rotina da direção espiritual e a vida sacerdotal. Sem querer minimizar os desafios da pandemia, essa resposta dos seminaristas não estará apontando para o que vemos no presbitério e continuaremos a ver? Por outro lado, o valor da direção espiritual talvez não esteja ainda internalizado e assumido pelos formandos. O que acontece durante a pandemia pode ser o mesmo que acontece no período de férias: a direção espiritual fica em segundo plano.

Francisco Fernandez Carvajal, em sua pequena e profunda obra, A quem pedir conselho?, começa a redação com um provérbio africano, que diz: "Ninguém é juiz em causa própria". Os formandos precisam aprender o valor do abrir o coração, com sinceridade, a um irmão mais velho, no mesmo caminho discipular. Às vezes, a direção será um falar diante do espelho, fazer ecoar o que está dentro de si. Desta maneira, muitas questões vão se apaziguando. Quando um jovem formando deixa a direção, vai permitindo que suas questões cresçam dentro dele e podem, futuramente, causar sérios danos. Contudo, se ele tivesse aberto o coração, na direção, estaria se preservando de tantos problemas futuros. O que acontece é que a direção esquecida será retomada, quando a coisa estiver complicada. Aí, talvez, já seja tarde demais! Dizia um velho e sábio diretor espiritual: "mesmo quando você não tiver nada a dizer na direção, venha, porque eu tenho."

Ao serem questionados sobre as maiores dificuldades, neste momento, as respostas são bem difusas e plurais: dificuldades para manter a rotina de orações (32,5%) aparecem seguidas de dificuldades pela falta de contatos sociais (22,1%), de manutenção da castidade (11,1%), por  falta de direção espiritual (10,5%), dificuldades de assistir à missa online (7%), entre outros fatores. Outro desafio no momento, refere-se à perda de entes queridos: (14,6%) perderam algum ente próximo e deste quantitativo, (31,9%) vêm demonstrando dificuldades em elaborar o luto.

Sobre o luto, sabemos o quão desafiador é lidar com ele. Porém, é importante que os seminaristas aprendam cada vez mais a lidar com essa experiência, porque será uma constante na vida ministerial. Não só o próprio seminarista, e o futuro presbítero lidam, com frequência com o luto, mas precisarão auxiliar muitos a lidar com essa experiência. Neste contexto, se faz necessário iluminar o luto com a luz da fé. O presbítero é aquele que se alegra com os que se alegram, e chora com os que choram (Rm 12,14s), muitas vezes, no mesmo dia.

Em relação à rotina das orações, elencada como a maior dificuldade, pode ser a mesma experiência vivida por muitos, nos períodos de férias. É claro que manter uma rotina espiritual dentro de uma casa, com uma família que talvez não valorize tanto o que está tentando ser mantido, é sempre um desafio. Porém, a ausência da estrutura do Seminário pode também revelar uma vida espiritual de fachada, que não se mantém sem a comunidade, sem o sino, a capela e, sobretudo, sem os formadores. Tudo isso precisa ser refletido, para que os formandos reconheçam a importância e a necessidade de uma vida espiritual sólida, disciplinada e bem vivida, como uma realidade necessária para a vida vocacional e não tanto como um dever que parecerá mera obrigação.

Como itens positivos, propiciados pelo momento, destacam-se a possibilidade de aproveitar o contato estreito com a família (29,4%), a descoberta de novas habilidades (23%), o aumento da espiritualidade (22,4%) e da qualidade dos estudos (12,7%), como principais ganhos. 

Aqui, percebemos dados importantíssimos! Como essa "redescoberta" das famílias pode ser muito produtiva. É a volta às origens, e um contato próximo e real daqueles que são responsáveis pela existência de todo vocacionado. Este contato facilita a humanização do futuro presbítero, que lidará com as famílias e suas questões, ao longo de todo o seu ministério sacerdotal. O contato estreito com a família, nestes meses, também pode ter possibilitado um conhecimento mais profundo sobre si mesmo. 

Da mesma maneira, a oportunidade de descobrir novas habilidades mostra o quanto todos nós precisamos nos reinventar. Como Igreja, esse é sempre um desafio que toca no exercício da nossa missão. É não se contentar com a formação inicial e reconhecer a formação permanente como necessidade para o bom e frutuoso desempenho do ministério sacerdotal, no meio de um mundo que se transforma da noite para o dia. O formando, que já se fecha a essas mudanças, está fadado a viver seu ministério em uma bolha, que ele próprio está construindo e que estourará quando menos pensar. 

Se a dimensão espiritual e humano-afetiva ganhou novos contornos, como será que a dimensão intelectual caminhou nestes tempos? Esta tem sido parte da pauta da mídia, sobre como os sistemas educacionais tiveram, rapidamente, que dar uma resposta de ensino a distância (EAD), sem o devido preparo e muitas vezes, sem condição, por parte dos estudantes, de corresponderem às novas demandas educativas, pois ainda que o professor tenha meios de oferecer seu curso, o estudante, muitas vezes, não conta com os equipamentos físicos necessários, nem com conexões, tampouco com espaço adequado para a realização das atividades.

A maior parte dos seminaristas brasileiros relataram que deram continuidade aos seus estudos, neste período, de modo remoto (86,7%), contrastando com um número menor que não tiveram oportunidade de fazê-lo (13,3%). A qualidade desta nova modalidade de ensino foi considerada ótima, por um pequeno grupo (12,1%), boa, por (38,7%), mediana, para (36,6%) e, finalmente, avaliada como ruim, por (12,6%) dos rapazes. Um dado importante é sobre a percepção de que há uma atuação sistemática, por parte da coordenação pedagógica, em seus institutos formativos. Neste quesito,  (41,4%) têm a percepção de organicidade pedagógica dando corpo ao processo formativo, enquanto (32,4%) sentem falta da mesma, o que propicia, a cada professor, funcionar de modo independente e desarticulado. (13,1%) dos rapazes foi contatado pela parte pedagógica do Seminário, para verificar se possuíam os meios de realizar as aulas, enquanto o mesmo percentual (13, 1%) relatou que não houve nenhum contato e verificação neste sentido. No tocante aos procedimentos avaliativos remotos, a maior parte (43,3%) disse que tais procedimentos foram encaminhados de modo independente pelos professores,ocorreram de modo padronizado em plataforma específica (24,9%),e não fizeram avaliações (20,2%).

Diante de tudo isso, vale ressaltar que a Ratio Fundamentalis, no capítulo VI, fala dos agentes da formação: o bispo diocesano, o presbitério, os seminaristas, a comunidade dos formadores, os professores e os especialistas. A Igreja quer destacar a importância de todos se envolverem no processo formativo do futuro clero. Em tempo de pandemia, esse dado é mais do que nunca ressaltado. Os desafios enfrentados no processo formativo nos fazem pensar na necessidade de um trabalho, verdadeiramente, eclesial e colegiado, de tal maneira que o resultado possa ser muito mais proveitoso. É sempre um erro constante restringir a missão de formar aos presbíteros residentes no Seminário. Estes não são os únicos responsáveis pela formação do futuro clero! 

Na pesquisa que realizamos, ao mesmo tempo em que (72,6%) responderam que não estavam fazendo qualquer acompanhamento, (21,7%) estavam fazendo acompanhamento: psicológico, nutricional, psiquiátrico e fonoaudiológico. Essa constatação nos mostra a riqueza de um processo formativo interdisciplinar, como a Ratio nos propõe (n. 145). Tudo isso também nos aponta para outro dado, que temos encontrado cada vez com mais claridade: a situação dos nossos formandos do século XXI, que exige um cuidado ampliado e profundo, por parte dos envolvidos na missão de formar os futuros presbíteros. 

Um último dado que podemos destacar da pesquisa é o que diz respeito às relações. O presbítero é um homem de relações a exemplo do próprio Jesus, ao qual ele será configurado, não através de um passe de mágica, mas através de uma formação séria e profunda. A exemplo do Mestre, o presbítero sabe que sua vida é marcada por uma tríplice relação: consigo, com Deus e com os outros. Nem sempre a vivência dessa dinâmica relacional é tão simples e, por isso, bem vivida. Os formandos precisam investir nesse campo central da vocação sacerdotal.  

Dos seminaristas participantes, (53,5%) responderam que se sentiam bem, na relação com eles mesmos, enquanto (30,6)% disseram que se sentiam regulares, nessa relação. (8,2%) disseram que essa relação estava ruim. Já na relação com Deus, (43,7%) responderam que estavam vivendo uma boa relação, enquanto (32,1%) disseram que era uma relação regular. Na relação social, (45,9%) disseram que viviam uma boa relação e (36,4%) viviam uma relação regular.

Tudo isso nos faz pensar e reconhecer o presbítero e, por isso, os candidatos ao presbiterado como homens de relação. Contudo, essa dinâmica relacional na vida presbiteral precisa partir de uma relação profunda e verdadeira, consigo e com Deus, para que as relações com os outros sejam maduras e responsáveis. Além disso, os formandos e, sobretudo, os presbíteros, precisam ter consciência da necessidade de uma reserva nas relações, de tal maneira que a relação consigo e com Deus seja preservada e bem vivida. A pandemia pode, também, nos fazer pensar esse quadro de relações que, para muitos, é um desafio, por não ter contato direto com o povo. Porém, essa ausência é importante e necessária, para os presbíteros e, por isso, para os seminaristas.  

 

 

Luzes para o pós-pandemia

"Tudo concorre para o bem dos que amam a Deus" (Rm 8,28)

Todos nós já vimos imagens de flores nascidas em cenários bem curiosos: pedras, troncos cortados, paredes… Cenários onde todos defenderiam o fim da vida e, por isso, o fim da esperança. Contudo, a vida continua desabrochando e nos convidando a acreditar e esperar. A pandemia pede de nós a superação de um otimismo utópico, ou um realismo pessimista, para darmos lugar a um realismo esperançoso. O contexto da pandemia nos motiva a reconhecer que todos podemos sair melhores dessa experiência, que afetou toda a humanidade. A formação sacerdotal não pode estar fora desse palco! 

Ao concluirmos este percurso que fizemos, a partir da pesquisa, com 2000 seminaristas do Brasil, queremos destacar algumas luzes que a pandemia nos convida a enxergar e assumir, na continuidade da nossa história como homens e mulheres de fé!

A primeira luz que encontramos é uma experiência de maturidade, que a pandemia está nos pedindo. Um contexto, como este, pede presbíteros maduros e, por consequência, formandos que se empenham por uma maturidade humana e também espiritual. O Doc. 110 (n. 173) nos lembra que o cultivo da vida comunitária faz com que o formando alcance alguns objetivos, dentre eles, "definir-se como cristão adulto, purificando-se nas motivações e transformando a própria conduta, com vista a uma progressiva configuração a Cristo."

Outra luz que a pandemia está nos oferecendo, sobretudo aos formandos, é a possibilidade de uma relação mais profunda conosco, favorecendo o autoconhecimento, de tal maneira que o formando alcance "um satisfatório conhecimento das próprias fraquezas, sempre presentes em sua personalidade, tendo em vista a capacidade de autodeterminação e de uma vivência responsável." (Doc. 110, n. 190b) Contudo, isso só será possível se os formandos superarem a tentação de uma vida exibicionista, que tende ao exterior, à aparência e pouco ao interior. 

Neste mesmo caminho, a pandemia ofereceu a todos e, particularmente, aos nossos formandos, um contato muito próximo das famílias. Principalmente, isso ocorreu, como vimos na entrevista, porque a maioria dos seminaristas está passando a pandemia nas casas de suas famílias. Este contato pode ter sido muito proveitoso, para que os formandos consigam "relacionar-se, com sinceridade, com a própria família, sem apegos e dependências, nem rejeições e descompromissos, e sem perder as raízes sociais e culturais." (Doc. 110, 190g)

Ao mesmo tempo em que descobrimos um novo mundo virtual, com a pandemia, muitos podem ter se refugiado nesse mesmo mundo. Para o formando, é sempre importante uma consciência clara sobre si mesmo e sua vocação, para que não se perca no mundo virtual. Uma postura equilibrada pedirá, a cada formando, uma presença evangélica nas redes sociais, e não uma presença como mais um refém do mundo virtual, em detrimento do real. Da mesma forma, os formandos também são chamados a não se omitir nesse novo campo de evangelização, que se descortina diante de nossos olhos. Por isso, é preciso "educar-se no uso adequado e responsável das novas tecnologias e dos meios modernos de comunicação e entretenimento." (Doc. 110, n. 190p)

pandemia exigiu de todos uma redescoberta e valorização da vida espiritual. Ouvimos tantas pessoas destacando a importância dessa dimensão da vida, para que pudessem viver um pouco melhor esse momento. Para os seminaristas, a pandemia pediu e proporcionou um processo de crescimento espiritual. Contudo, este crescimento só é possível, através de um sincero e permanente esforço de conversão do coração. Ao mesmo tempo, só uma disciplina responsável possibilitará uma vivência profundamente espiritual, mesmo em tempos de crise, como o atual (Doc. 110, n. 211).

O mundo em que estamos pede, cada vez mais, que o presbítero seja perito nas coisas humanas e divinas (Doc. 110, n. 288). A pandemia pediu um constante adaptar-se em inúmeros campos, dentre eles o campo dos estudos. Uma formação intelectual sólida e adequada, para que o futuro presbítero seja capaz de ser um formador de consciência, como pedia Aparecida. Esse novo ambiente mostrou, aos formandos, a necessidade de uma disciplina e um empenho cada vez mais pessoal, para se dedicar com seriedade e profundamente aos estudos. 

Todo esse contexto que estamos vendo nos faz pensar que, de fato, toda formação sacerdotal precisa ter claro o destino pastoral do futuro presbítero. Dessa maneira, a pandemia nos colocou diante dos grandes areópagos, para os quais os futuros presbíteros serão enviados. Assim, esse tempo pode proporcionar, aos formandos, novo ardor, novos métodos e novas expressões (Doc. 110, pn. 229)

Por último, podemos pontuar que a pandemia nos fez recordar que "a missão do Seminário é formar presbíteros capazes de dialogar com a realidade plural e atuar, pastoralmente, no meio do povo, valorizando os leigos e leigas em seus diversos carismas, serviços e ministérios." Só assim os formandos poderão conhecer bem a realidade para assumi-la e transformá-la à luz do Evangelho. (Doc. 110, n. 7)

Que esse tempo seja, para todos nós, a oportunidade de nos reinventarmos à luz da presença amorosa de Deus, para sermos capazes de nos tornar sinais credíveis da Sua presença no meio do Seu povo, que é confiado a nós! 

Que a pandemia nos cure de tantas doenças que nos impedem de vivermos nossa missão eclesial no coração do mundo! Que assim nos empenhemos, com muito mais ardor, para que a formação sacerdotal possa gerar novos e bons presbíteros, verdadeiros homens de Deus, capazes de se compadecer do nosso povo e ter a consciência de serem servidores à luz do Mestre, que veio para servir e não ser servido (Mt 20,28)! 

Que o pós-pandemia não nos encontre como se nada tivesse acontecido; não permita que continuemos da mesma forma, mas nos empenhemos para ser melhores, criativos, valorizando as coisas essenciais, enraizando-nos cada vez mais n'Aquele que nos chamou, nos formou e nos envia à missão! Todo esse caminho só será possível se corrermos, no certame que nos é proposto, "tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé."(Hb 12,2) 

"'Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?' O início da fé é reconhecer-se necessitado de salvação. Não somos autossuficientes, sozinhos afundamos: precisamos do Senhor como os antigos navegadores, das estrelas. Convidemos Jesus a subir para o barco da nossa vida. Confiemos-Lhe os nossos medos, para que Ele os vença. Com Ele a bordo, experimentaremos – como os discípulos – que não há naufrágio. Porque esta é a força de Deus: fazer resultar em bem tudo o que nos acontece, mesmo as coisas ruins. Ele serena as nossas tempestades, porque, com Deus, a vida não morre jamais." 

(Homilia do Papa Francisco, Praça de S. Pedro, 27/03/2020)

"Como padres, filhos e membros de um povo sacerdotal, temos que assumir a responsabilidade pelo futuro e projetá-lo como irmãos. Coloquemos nas mãos feridas do Senhor, como uma oferta sagrada, nossa própria fragilidade, a fragilidade de nosso povo, e de toda a humanidade. O Senhor é quem nos transforma, que nos trata como pão, leva a vida nas mãos d'Ele, nos abençoa, nos quebra e nos compartilha, e nos dá ao seu povo."

(Carta do Papa Francisco aos sacerdotes da Diocese de Roma, 31/05/2020)

 

Referências bibliográficas

CNBB. Diretrizes para a formação dos Presbíteros da Igreja no Brasil. Doc. 110. Brasília: Edições CNBB, 2019.

CONGREGAÇÃO PARA O CLERO. RatioFundamentalisInstitutionisSacerdotalis. Brasília: Edições CNBB,2016.

FERNANDEZ-CARVAJAL, Francisco. A quem pedir conselho?. São Paulo: Quadrante, 2000.

FRANCISCO, PP. Vida após a Pandemia. Roma: LibreriaEditrice Vaticana, 2020.

–––––. Amoris Laetitia. São Paulo: Paulinas, 2016.

–––––. Carta del Santo Padre Francisco a los sacerdotes de laDiócesis de Roma.31/05/2020. Disponível aqui. Tradução nossa. Acesso em 05/06/2020.

–––––.Momento Extraordinário de Oração, em tempo de epidemia, presidido pelo Papa Francisco. Adro da Basílica de São Pedro, Sexta-feira, 27 de março de 2020. Disponível aqui. Tradução nossa. Acesso em 05/06/2020.

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

DIOCESE DE ITAGUAÍ – RJ REGIONAL PAR (PARATY E ANGRA DOS REIS)

Angra dos Reis, 26 de junho de 2020.

 

COMUNICADO AO POVO DE DEUS - 3

“Todos os fiéis viviam unidos e tinham tudo em comum” (At 2,44).

Considerando, o Decreto Municipal nº 11.671 (23/06), que permite o funcionamento dos Templos Religiosos; e a transição para o regime de Distanciamento Social Seletivo; Considerando, a comunhão das Paróquias do Município de Angra dos Reis; seguindo as determinações da Igreja Católica que visam o bem do povo em sua saúde física em vista da Salvação (CDC, 1752); que, sendo a Eucaristia um direito de todos, é necessário garantir os cuidados para a participação do maior número possível de fiéis;

Considerando, os dados estatísticos, do Boletim Epidemiológico do Município, que demonstram que as medidas sanitárias adotadas têm trazido resultados positivos; daí, a possibilidade da retomada gradual de algumas atividades;

Considerando, que as orientações da OMS e demais autoridades científicas, médicas e sanitárias, indicam como isolamento social a medida mais eficaz para minimizar a propagação do novo corona-vírus;

Considerando, que, as Orientações do Senhor Bispo Diocesano quanto ao retorno das celebrações públicas (em 08/06), deixam “a juízo do Pároco” a retomada das Liturgias Públicas;

Seguindo, evidentemente, as orientações sanitárias determinadas pelas autoridades (uso de máscara, uso de álcool em gel, distanciamento entre as pessoas, sem nenhum tipo de aglomeração);

Nós, padres do Município de Angra dos Reis, decidimos que:

 1-Haverá a retomada gradual das celebrações públicas (a partir de 04 de julho); a começar pela Igreja Matriz e/ou Igrejas maiores – de acordo com um calendário paroquial;

 2-Cada Paróquia informará como será garantida a participação dos fiéis, bem como dará as instruções necessárias;

3-Será mantida a transmissão da Missa pela internet, para àqueles que não podem participar presencialmente (idosos, enfermos, membros dos grupos de risco, os que tiverem algum sintoma de doença respiratória);

4-As Igrejas e as Secretarias Paroquiais serão abertas ao público, segundo os critérios de cada Paróquia;

5-Serão retomados os atendimentos individuais, as confissões e algumas reuniões;

6-Continuam suspensos os encontros formativos e catequéticos; assistência e Comunhão aos enfermos, nos hospitais e nas casas; e a Comunhão Sacramental a todos os fieis.

Lembramos que, de acordo com as Orientações do Bispo Diocesano: os idosos, os enfermos, as pessoas que pertencem aos grupos de risco e as que tiverem algum sintoma de doença respiratória estão dispensados do Preceito Dominical e são orientados a permanecer em casa.

Como anteriormente, reiteramos o nosso pedido a aqueles que puderem ser generosos na entrega do seu Dízimo e ofertas, para a manutenção das nossas Paróquias; assim como as doações de alimentos não perecíveis e de higiene para continuarmos a dar assistência caritativa aos mais necessitados.

“A prudência é a mãe de todas as virtudes”. Assim, de acordo com a evolução da pandemia, para o bem de todos, reavaliaremos semanalmente essas decisões.

Certos de uma vez mais contar com o entendimento e colaboração de todos para o bem comum, confiantes na Divina Providência e na materna intercessão da Santíssima Virgem Maria, subscrevemo-nos com nossa Bênção Sacerdotal e orações, recomendando-nos às vossas.

Fraternalmente, em Cristo Jesus,

 

Pe. Gilberto Stanisce

Pe. Luiz Antonio Dornelles

Fr. Marcelo de Jesus Maciel

Paróquia Santíssima Trindade

Paróquia Nossa Senhora do Rosário

Fr. Petrônio Miranda

Vigário Geral

Coordenador do Regional PAR

Paróquia Nossa Senhora da Conceição

Pe. Luis Carlos Zotesso

Pe. Cícero Gomes Alves

Pe. Gilson Francisco da Cruz

Paróquia Nossa Senhora Aparecida

Paróquia Cristo Rei

Paróquia São Sebastião (Frade)

Pe. Mauro Brandão

 

Fr. José Anchieta Varela

Paróquia São José Operário

 

Paróquia São Sebastião (Ilha Grande)

1) Oração

Senhor, nosso Deus, dai-nos por toda a vida a graça de vos amar e temer, pois nunca cessais de conduzir os que formais no vosso amor. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho (Mateus 8, 1-4)

1Tendo Jesus descido da montanha, uma grande multidão o seguiu. 2Eis que um leproso aproximou-se e prostrou-se diante dele, dizendo: Senhor, se queres, podes curar-me. 3Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: Eu quero, sê curado. No mesmo instante, a lepra desapareceu. 4Jesus então lhe disse: Vê que não o digas a ninguém. Vai, porém, mostrar-te ao sacerdote e oferece o dom prescrito por Moisés em testemunho de tua cura.

 

3) Reflexão  -  Mt 8,1-4

Nos capítulos 5 a 7 ouvimos as palavras da nova Lei proclamada por Jesus no alto da Montanha. Agora, nos capítulos 8 e 9, Mateus mostra como Jesus praticava aquilo que acabava de ensinar. Nos evangelhos de hoje (Mt 8,1-4) e de amanhã (Mt 8,5-17), vamos ver de perto os seguintes episódios que revelam como Jesus praticava a lei: a cura de um leproso (Mt 8,1-4), a cura do servo do centurião romano (Mt 8,5-13), a cura da sogra de Pedro (Mt 8,14-15) e a cura de inúmeros doentes (Mt 8,14-17). 

Mateus 8,1-2: O leproso pede: “Senhor, basta querer para eu ser curado!”

Um leproso chega perto de Jesus. Era um excluído. Quem tocasse nele também ficava impuro! Por isso, os leprosos deviam viver afastados (Lv 13,45-46). Mas aquele leproso teve muita coragem. Ele transgrediu as normas da religião para poder entrar em contato com Jesus. Chegando perto, ele diz: Se queres, podes curar-me! Ou seja: “Não precisa tocar-me! Basta o senhor querer para eu ficar curado!” Esta frase revela duas doenças: 1) a doença da lepra que o tornava impuro; 2) a doença da solidão a que era condenado pela sociedade e pela religião. Revela também a grande fé do homem no poder de Jesus.

Mateus 8,3: Jesus tocou nele e disse: Quero! Seja purificado

Profundamente compadecido, Jesus cura as duas doenças. Primeiro, para curar a solidão, antes de dizer qualquer palavra, ele toca no leproso. É como se dissesse: “Para mim, você não é um excluído. Não tenho medo de ficar impuro tocando em você. Eu te acolho como irmão!” Em seguida, cura a lepra dizendo: Quero! Seja curado!  O leproso, para poder entrar em contato com Jesus, tinha transgredido as normas da lei. Da mesma forma, Jesus, para poder ajudar aquele excluído e, assim, revelar um novo rosto de Deus, transgride as normas da sua religião e toca no leproso.

Mateus 8,4: Jesus manda o homem conversar com os sacerdotes

Naquele tempo, para um leproso poder ser readmitido na comunidade, ele precisava ter um atestado de cura confirmado por um sacerdote. É como hoje. O doente só sai do hospital com o documento assinado pelo médico de plantão. Jesus obrigou o fulano a buscar o documento, para que ele pudesse conviver normalmente. Obrigou as autoridades a reconhecer que o homem tinha sido curado. Jesus não só cura, mas também quer que a pessoa curada possa conviver. Reintegra a pessoa na convivência fraterna. O evangelho de Marcos acrescenta que o homem não se apresentou aos sacerdotes. Pelo contrário, “assim que partiu, (o leproso) começou a divulgar a notícia, de modo que Jesus já não podia entrar publicamente numa cidade. Permanecia fora, em lugares desertos (Mc 1,45). Por que Jesus já não podia entrar publicamente numa cidade? É que ele tinha tocado no leproso e tornou-se impuro perante as autoridades religiosas e perante a lei da época. Por isso, agora, o próprio Jesus era um impuro e devia viver afastado de todos. Já não podia entrar nas cidades. Mas Marcos mostra que o povo pouco se importava com estas normas oficiais, pois de toda a parte vinham a Jesus! Subversão total! O recado que Marcos nos dá é este: para levar a Boa Nova de Deus ao povo, não se deve ter medo de transgredir normas religiosas que são contrárias ao projeto de Deus e que impedem a fraternidade e a vivência do amor. Mesmo que isto traga dificuldades para a gente, como trouxe para Jesus.

Em Jesus, tudo é revelação daquilo que o anima por dentro! Ele não só anuncia a Boa Nova do Reino. Ele mesmo é uma amostra, um testemunho vivo do Reino, uma revelação de Deus. Nele aparece aquilo que acontece quando um ser humano deixa Deus reinar, tomar conta de sua vida.

 

4) Para um confronto pessoal

1) Em nome da Lei de Deus, os leprosos eram excluídos e não podiam conviver. Na nossa igreja existem costumes e normas não escritas que, até hoje, marginalizam pessoas e as excluem da convivência e da comunhão. Você conhece pessoas assim? Qual a sua opinião a respeito disso?

2) Jesus teve coragem de tocar no leproso. Você teria essa coragem?

 

5) Oração final

Bendirei o Senhor em todo tempo, seu louvor estará sempre na minha boca. Eu me glorio no Senhor, ouçam os humildes e se alegrem. (Sl 33, 2-3)

1) Oração

Senhor, nosso Deus, dai-nos por toda a vida a graça de vos amar e temer, pois nunca cessais de conduzir os que formais no vosso amor. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho (Mateus 7, 21-29)

21Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. 22Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não pregamos nós em vosso nome, e não foi em vosso nome que expulsamos os demônios e fizemos muitos milagres? 23E, no entanto, eu lhes direi: Nunca vos conheci. Retirai-vos de mim, operários maus! 24Aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente, que edificou sua casa sobre a rocha. 25Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela, porém, não caiu, porque estava edificada na rocha. 26Mas aquele que ouve as minhas palavras e não as põe em prática é semelhante a um homem insensato, que construiu sua casa na areia. 27Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela caiu e grande foi a sua ruína. 28Quando Jesus terminou o discurso, a multidão ficou impressionada com a sua doutrina. 29Com efeito, ele a ensinava como quem tinha autoridade e não como os seus escribas.

 

3) Reflexão  -  Mt 7,21-29

O Evangelho de hoje traz a parte final do Sermão da Montanha: (1) não basta falar e cantar, é preciso viver e praticar (Mt 7,21-23). (2) A comunidade construída em cima do fundamento da nova Lei do Sermão da Montanha ficará em pé na hora da tempestade (Mt 7,24-27). (3) O resultado das palavras de Jesus nas pessoas é uma consciência mais crítica com relação aos líderes religiosos, os escribas (Mt 7,28-29).

Este final do Sermão da Montanha desenvolve algumas oposições ou contradições que continuam atuais até nos dias de hoje: (1) Há pessoas que falam continuamente de Deus, mas se esquecem de fazer a vontade de Deus; usam o nome de Jesus, mas não traduzem em vida sua relação com o Senhor (Mt 7,21). (2) Há pessoas que vivem na ilusão de estarem trabalhando para o Senhor, mas no dia do encontro definitivo com Ele, descobrem, tragicamente, que nunca o conheceram (Mt 7,22-23). As duas parábolas finais do Sermão da Montanha, da casa construída sobre a rocha (Mt 7,24-25) e da casa construída sobre a areia (Mt 7,26-27), ilustram estas contradições. Por meio delas Mateus denuncia e, ao mesmo tempo, tenta corrigir a separação entre fé e vida, entre falar e fazer, entre ensinar e praticar.

Mateus 7,21: Não basta falar, é preciso praticar

O importante não é falar bonito sobre Deus ou saber explicar bem a Bíblia para os outros, mas é fazer a vontade do Pai e, assim, ser uma revelação do seu rosto e da sua presença no mundo. A mesma recomendação foi dada por Jesus àquela mulher que elogiou Maria, sua mãe. Jesus respondeu: “Felizes os que ouvem a Palavra e a põem em prática” (Lc 11,28).

Mateus 7,22-23: Os dons devem estar a serviço do Reino, da comunidade.

Havia pessoas com dons extraordinários como, por exemplo, o dom da profecia, do exorcismo, das curas, mas elas usavam os dons para si mesmas, fora do contexto da comunidade. No julgamento, elas ouvirão uma sentença dura de Jesus: "Afastem-se de mim vocês que praticam a iniqüidade!". Iniqüidade é o oposto de justiça. É fazer com Jesus o que alguns doutores faziam com a lei: ensinavam mas não praticavam (Mt 23,3). Paulo dirá a mesma coisa com outras palavras e argumentos: “Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência; ainda que eu tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse o amor, eu não seria nada. Ainda que eu distribuísse todos os meus bens aos famintos, ainda que entregasse o meu corpo às chamas, se não tivesse o amor, nada disso me adiantaria”. (1Cor 13,2-3).

Mateus 7,24-27: A parábola da casa na rocha.

Ouvir e praticar, esta é a conclusão final do Sermão da Montanha. Muita gente procurava sua segurança nos dons extraordinários ou nas observâncias. Mas a segurança verdadeira não vem do prestígio nem das observâncias, não vem de nada disso. Ela vem de Deus! Vem do amor de Deus que nos amou primeiro (1Jo 4,19). Seu amor por nós, manifestado em Jesus ultrapassa tudo (Rom 8,38-39). Deus se torna fonte de segurança, quando procuramos praticar a sua vontade. Aí, Ele será a rocha que nos sustenta na hora das dificuldades e das tempestades.

Mateus 7,28-29: Ensinar com autoridade

O evangelista encerra o Sermão da Montanha dizendo que a multidão ficou admirada com o ensinamento de Jesus, porque "ele ensinava com autoridade, e não como os escribas". O resultado do ensino de Jesus é a consciência mais crítica do povo com relação às autoridades religiosas da época. Suas palavras simples e claras brotavam da sua experiência de Deus, da sua vida entregue ao Projeto do Pai. O povo estava admirado e aprovava os ensinamentos de Jesus.

Comunidade: casa na rocha

No livro dos Salmos, frequentemente encontramos a expressão: “Deus é a minha rocha e a minha fortaleza... Meus Deus, rocha minha, meu refúgio, meu escudo, força que me salva...”(Sl 18,3). Ele é a defesa e a força de quem nele acredita e busca a justiça (Sl 18,21.24). As pessoas que confiam neste Deus, tornam-se, por sua vez, uma rocha para os outros. Assim, o profeta Isaías faz um convite ao povo que estava no cativeiro: "Vocês que estão à procura da justiça e que buscam a Deus! Olhem para a rocha da qual foram talhados, para a pedreira da qual foram extraídos. Olhem para Abraão, seu pai, e para Sara, sua mãe” (Is 51,1-2). O profeta pede para o povo não esquecer o passado. O povo deve lembrar como Abraão e Sara pela fé em Deus se tornaram rocha, começo do povo de Deus. Olhando para esta rocha, o povo devia criar coragem para lutar e sair do cativeiro. Do mesmo modo, Mateus exorta as comunidades para que tenham como alicerce a mesma rocha (Mt 7,24-25) e possam, dessa maneira, elas mesmas ser rocha para fortalecer os seus irmãos e irmãs na fé. Este é o sentido do nome que Jesus deu a Pedro: “Você é Pedro e sobre esta pedra construirei a minha Igreja” (Mt 16,18). Esta é a vocação das primeiras comunidades, chamadas a unir-se a Jesus, a pedra viva, para tornarem-se, também elas, pedras vivas pela escuta e pela prática da Palavra (Pd 2,4-10; 2,5; Ef 2,19-22).

 

4) Para um confronto pessoal

1) Como a nossa comunidade equilibra oração e ação, louvor e prática, falar e fazer, ensinar e praticar? O que deve melhorar na nossa comunidade, para que ela seja rocha, casa segura e acolhedora para todos?

2) Qual a rocha que sustenta a nossa Comunidade? Qual o ponto em que Jesus mais insiste?

 

5) Oração final

Ajudai-nos, ó Deus salvador, pela glória de vosso nome; livrai-nos e perdoai-nos os nossos pecados pelo amor de vosso nome. (Sl 78, 9)

Líderes angolanos denunciam racismo, evasão de divisas e imposição da prática de vasectomia aos pastores

 

Gilberto Nascimento

SÃO PAULO | BBC NEWS BRASIL

UM GRUPO DE BISPOS E PASTORES DA IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS EM ANGOLA AFIRMOU TER ASSUMIDO NA SEGUNDA-FEIRA (22) O CONTROLE DE 35 TEMPLOS DA INSTITUIÇÃO EM LUANDA E CERCA DE 50 EM OUTRAS PROVÍNCIAS DO PAÍS, COMO LUNDA-NORTE, HUAMBO, BENGUELA, MALANJE E CAFUNFO.

 

Os religiosos angolanos declararam ruptura com a gestão brasileira. É um movimento sem precedentes, que começou em novembro de 2019, com a divulgação de um manifesto com críticas à direção brasileira da Igreja.

Em nota oficial, a Igreja Universal do Reino de Deus de Angola afirmou que alguns templos no país foram invadidos "por um grupo de ex-pastores desvinculados da Instituição por práticas e desvio de condutas morais e, em alguns casos, criminosas e contrárias aos princípios cristãos exigidos de um ministro de culto".

A Universal diz, no documento, que os ex-pastores teriam usado a violência e promovido "ataques xenófobos", além de agredir pastores, esposas de pastores e funcionários "com objetivo de tomar de assalto a Igreja, com propósitos escusos". A Igreja Universal do Reino de Deus é liderada pelo bispo brasileiro Edir Macedo e tem hoje 10 mil templos espalhados em mais de 100 países. Reúne 500 mil fiéis em Angola.

O controle da Universal em Angola será assumido agora, segundo o grupo rebelado, pelo bispo Valente Bezerra Luiz, então vice-presidente da Igreja —ela passará a ser chamada de Igreja Universal de Angola. Os dissidentes dizem já ter o comando de 42% dos templos.

 

ACUSAÇÕES

Os bispos e pastores angolanos acusam a direção brasileira da Igreja de evasão de divisas, expatriação ilícita de capital, racismo, discriminação, abuso de autoridade, imposição da prática de vasectomia aos pastores e intromissão na vida conjugal dos religiosos.

Reclamam ainda de privilégios dados aos bispos brasileiros e pediam uma maior valorização do episcopado angolano.

O manifesto elaborado em novembro —com a assinatura de 320 bispos e pastores—, foi encaminhado ao principal líder da Igreja no país, o bispo brasileiro Honorilton Gonçalves, ex-vice-presidente da TV Record.

Os religiosos dizem não ter sido atendidos. No manifesto, já pediam aos líderes brasileiros da Igreja que deixassem o país para que a instituição passasse a ser administrada apenas por angolanos.

Dinis Bundo, identificado como obreiro da Universal e porta-voz do grupo rebelado, reclamou das benesses aos religiosos brasileiros. Segundo ele, as melhores igrejas sempre foram designadas aos brasileiros, que seriam beneficiados também com bons salários e carros modernos.

 

RESISTÊNCIA

Bundo afirmou que, além das 35 igrejas em Luanda, os manifestantes passaram a controlar 18 igrejas em Benguela, 14 em Malanje, 10 em Huambo e 8 em Luanda-Norte. O grupo tomou o controle também da Catedral do Morro Bento e do Cenáculo do Patriota, principais centros religiosos da instituição em Luanda.

Em alguns templos houve resistência. Os religiosos angolanos tomaram as chaves dos estabelecimentos e, em meio a discussões e empurrões, os responsáveis até aquele momento foram expulsos.

Em nota divulgada à imprensa, o corpo de pastores denunciou "atos de arbitrariedades" que estariam sendo praticados pela direção da Universal em Angola. O bispo Honorilton Gonçalves, segundo a nota, estaria perseguindo, punindo e intimidando bispos e pastores angolanos. Além da vasectomia imposta a pastores, mulheres dos religiosos estariam sendo obrigadas a abortar, conforme a nota.

Entre outras queixas dos religiosos, o documento denuncia ainda a "falsificação de ata de eleição de órgãos sociais da IURD", emissão de procurações com plenos poderes a cidadãos brasileiros para exercer atos reservados à assembleia geral, proibição às mulheres de pastores de terem acesso à formação acadêmica-científica e técnico-profissional, irregularidades no pagamento de segurança social dos pastores e falta de projeto de desenvolvimento pastoral em formação teológica específica.

 

“MENTIRAS”

A nota da Igreja Universal afirma que os invasores espalharam "mentiras absurdas, como essa acusação de racismo", para confundir a sociedade angolana.

"Basta frequentar qualquer culto da Universal, em qualquer país do mundo, para comprovar que bispos, pastores e fiéis são de todas as origens e tons de pele, de todas as classes sociais. Em Angola, dos 512 pastores, 419 são angolanos, 24 são moçambicanos, quatro vieram de São Tomé e Príncipe e apenas 65 são brasileiros", afirma a instituição.

suposta obrigatoriedade de pastores serem submetidos a cirurgia de vasectomia, segundo a Universal, é um exemplo de fake news "facilmente desmentida pelo fato de que muitos bispos e pastores da Universal, em todos os níveis de hierarquia da Igreja, têm filhos". O que a Instituição estimula, conforme a nota, "é o planejamento familiar, debatido de forma responsável por cada casal".

E finaliza: "Esclarecemos que, respeitada a unidade de doutrina da fé que une a Igreja Universal do Reino de Deus em todos os 127 países onde está presente, nos cinco continentes, a Universal de cada nação dispõe de total autonomia administrativa para encaminhar e resolver suas questões locais, sempre observando as leis e as tradições. O que se espera é que as autoridades restabeleçam, com urgência, a ordem legal e possam assegurar que a Universal continue salvando vidas e prestando ajuda humanitária em Angola, como faz há 28 anos". Fonte: https://www1.folha.uol.com.br