Sem acusar a si mesmo, reconhecer-se pecador, não se pode caminhar na vida cristã: Este é o centro da mensagem do Papa Francisco expressa na homilia na Casa Santa Marta.

Debora Donnini – Cidade do Vaticano

Sem acusar a si mesmo, reconhecer-se pecador, não se pode caminhar na vida cristã: Este é o centro da mensagem do Papa Francisco expressa na homilia na Casa Santa Marta (06/09/2018).

A reflexão de Francisco se inspirou no Evangelho do dia, de Lucas, no qual Jesus pede a Pedro que entre em seu barco e, depois de pregar, o convida a lançar as redes, com o resultado de uma pesca milagrosa. Um episódio que evoca outra pesca milagrosa, depois da Ressurreição, quando Jesus pergunta aos discípulos se tinham algo a comer.

Em ambos os casos, observou o Papa, “há uma unção de Pedro”: primeiro como pescador de homens, depois como pastor. Jesus também muda seu nome de Simão para Pedro e, como “bom israelita”, sabia que uma mudança de nome significava uma mudança de missão.

Afasta-te de mim

Pedro “se sentia orgulhoso porque realmente amava Jesus” e esta pesca milagrosa representa um passo avante na sua vida. Depois de ver que as redes quase se rompiam com a grande quantidade de peixes, se jogou aos pés de Jesus, dizendo-lhe: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador”.

Este é o primeiro passo decisivo de Pedro no caminho do discipulado, de discípulo de Jesus, acusar a si mesmo: “Sou um pecador”. O primeiro passo de Pedro é este e é também o primeiro passo de cada um de nós se quisermos caminhar na vida espiritual, na vida de Jesus, servir Jesus, segui-Lo. Deve fazer isto: acusar a si mesmo. Sem acusar a si mesmo, não se pode caminhar na vida cristã.

Porém, há um risco. Todos “sabemos que somos pecadores”, mas “não é fácil” acusar a si mesmo de ser um “pecador concreto”. “Nós estamos acostumados a dizer: ‘Sou um pecador’”, assim como dizemos: “eu sou humano” ou “eu sou um cidadão italiano”, disse o Papa.

Sentir-se mísero

Acusar a si mesmo, ao invés, é sentir a própria miséria: “sentir-se miseráveis”, míseros, diante do Senhor. Trata-se de sentir vergonha. E é algo que não se faz com palavras, mas com o coração, isto é, uma experiência concreta, como quando Pedro diz a Jesus de se afastar dele porque “realmente se sentia um pecador”. Depois, se sentiu salvo.

A salvação que “Jesus nos traz” necessita desta confissão sincera, porque “não é algo cosmético”, que muda um pouco o rosto com “duas pinceladas”: transforma, mas para que entre, é preciso deixar espaço com a confissão sincera dos próprios pecados. Assim se experimenta o estupor de Pedro.

Portanto, o primeiro passo da conversão é acusar a si mesmo com vergonha e sentir o estupor de se sentir salvo. “Devemos nos converter”, “devemos fazer penitência”, exortou Francisco, convidando a refletir sobre a tentação de acusar os outros:

Tem gente que vive falando mal dos outros, acusando os outros e nunca pensa em si mesmo e quando vou me confessar, como me confesso, como os papagaios? “Bla, bla, bla… Fiz isso, isso…”. Mas o que você fez toca o seu coração? Muitas vezes não. Você vai lá fazer cosmética, se maquiar um pouco para sair bonito. Mas não entrou no seu coração completamente, porque você não deixou lugar, porque não foi capaz de acusar a si mesmo.

A graça de se acusar

O primeiro passo então é uma graça: aprender a acusar a si mesmo e não os outros.

Um sinal que uma pessoa não sabe, que um cristão não sabe acusar a si mesmo é quando está acostumado a acusar os outros, a falar mal dos outros, a colocar o nariz na vida dos outros. E este não é um bom sinal. Eu faço isto? É uma bela pergunta para chegar ao coração. Peçamos ao Senhor hoje a graça de nos encontrar diante Dele com este estupor que a sua presença nos dá e a graça de nos sentir pecadores, mas concretos, e dizer como Pedro: “Afasta-te de mim, porque sou um pecador”. Fonte: http://press.vatican.va

O arcebispo de Brasília e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal Sergio da Rocha, enviou ao papa Francisco uma carta na qual manifesta ao santo padre apoio, comunhão, solidariedade e orações. Na missiva, o presidente da CNBB reafirma o compromisso do episcopado e da Igreja no Brasil de estar sempre unidos ao papa na sua missão.

Dois regionais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) também enviaram recentemente ao papa Francisco manifestações de solidariedade por conta dos ataques que o sumo pontífice vem recebendo do arcebispo Carlo Maria Viganò, ex-núncio apostólico nos EUA. Viganó acusa o papa de ter acobertado o caso do cardeal Theodore McCarrick.

Na carta que enviou ao Vaticano, os bispos do Regional Nordeste 3 da CNBB manifestam a unidade e a solidariedade ao pontífice. “Temos consciência de que a Igreja vive um momento particularmente doloroso e difícil. Se isso aflige o nosso coração de pastores de Igrejas Particulares, imaginamos quanto o faz sofrer, diante da responsabilidade que recebeu de Jesus Cristo como continuador da missão de Pedro, de confirmar todos os seus irmãos na fé”, diz um trecho da carta.

Em referência à Carta ao Povo de Deus, de 20 de agosto, a presidência do Regional Sul 1 da CNBB expressa, sobretudo, o compromisso com a luta do papa em reconhecer e condenar, com dor e vergonha, as atrocidades cometidas por pessoas consagradas, clérigos, e inclusive por todos aqueles que tinham a missão de assistir e cuidar dos mais vulneráveis.

A Presidência do Regional Sul 1 reconhece, com gratidão e com senso de responsabilidade, tudo o que o papa Francisco tem feito para combater o abuso de menores e de vulneráveis na Igreja Católica, buscando agir segundo a verdade e a justiça. De fato, apenas na medida em que o amor estiver fundado na verdade é que pode perdurar no tempo, superar o instante efêmero e permanecer firme para sustentar um caminho comum (LF 27).

Outras manifestações de apoio o papa também vieram a público como a Carta Aberta da Comissão Regional de Presbíteros do Leste 2, publicada no site do regional; a carta de dom Pedro Carlos Cipollini, bispo diocesano de Santo André e a campanha para redes sociais que a Signis Brasil Jovens – Associação Católica de Comunicação lançou esta semana. O material da campanha afirma que está em curso a disseminação de falsas notícias com a intenção de desestabilizar o pontificado do papa. “O papa Francisco atua sem medir esforços na construção de uma cultura da paz, justiça e solidariedade”, diz o texto. A campanha, que atua com a hashtag #FranciscoEstouAqui, pretende inundar os espaços digitais com uma mensagem alegre, criativa e orante de apoio e carinho ao papa Francisco. Fonte: http://www.cnbb.org.br

Em sua catequese na Audiência Geral desta quarta-feira, o Papa Francisco falou sobre "o dia do repouso" para os cristãos: "Tanta gente, tanta, que tem a possibilidade de divertir-se, e não vivem em paz com a vida. Domingo é dia de fazer as pazes com a vida, dizendo, a vida é preciosa! Não é fácil, às vezes é doloroso, mas é preciosa”.

Jackson erpen - Cidade do Vaticano (5/09/ 2018)

O verdadeiro sentido do repouso. Dando continuidade a sua série de catequeses sobre o Decálogo, o Papa falou nesta quarta-feira aos mais de 13 mil fiéis presentes na Praça São Pedro sobre o repouso como “momento de contemplação e louvor”, “é a bênção da realidade”. Francisco recordou ainda a necessidade de nos reconciliarmos com nossa própria história, pois a verdadeira paz, não é mudá-la, mas dar as boas-vindas e valorizá-la.”

“O dia do repouso” de que fala o Livro do Êxodo “parece um mandamento fácil de ser cumprido – observa - mas é uma impressão errada”, pois “existe o repouso falso e o repouso verdadeiro. Como reconhecê-los?”, pergunta o Papa.

“A sociedade de hoje está sedenta por entretenimento e férias. A indústria da distração – escutem bem, a indústria da distração - é muito florescente e a publicidade desenha o mundo ideal como um grande parque de diversões onde todos se divertem. O conceito de vida dominante hoje não tem o centro de gravidade em atividade e compromisso, mas na evasão. Ganhar dinheiro para divertir-se, satisfazer-se. A imagem-modelo é a de uma pessoa de sucesso que pode permitir-se amplos e diversos espaços de prazer”.

Divertimento que não é repouso

 “Mas essa mentalidade – chama a atenção o Santo Padre -  desliza para a insatisfação de uma existência anestesiada pelo divertimento que não é repouso, mas alienação e fuga da realidade. O homem nunca repousou tanto quanto hoje, e ao mesmo tempo o homem nunca experimentou tanto vazio como hoje! As possibilidades de divertir-se, sair, cruzeiros, viagens. Tanta coisa...não te dão a plenitude do coração, mais ainda, não te dão repouso.”

Neste sentido, as palavras dos Decálogo lançam uma luz sobre o que é o repouso. “O mandamento – explica o Papa – tem um elemento peculiar: fornece uma motivação. O repouso no nome do Senhor tem um motivo preciso”. Depois de ter trabalhado por seis dias, no sétimo repousou, “por isso o Senhor abençoou o dia de sábado e o consagrou”.

Dia da contemplação e da benção

Ou seja, no sétimo dia, “inicia o dia do repouso, que é a alegria de Deus por aquilo que criou. É o dia da contemplação e da bênção”. Assim, o repouso segundo este mandamento é “o momento da contemplação, do louvor, não da evasão. É o tempo para olhar a realidade e dizer: como é bela a vida!”. Assim, “ao repouso como fuga da realidade, o Decálogo opõe o repouso como bênção da realidade”:

“Para nós, cristãos, o centro do Dia do Senhor, o domingo, é a Eucaristia, que significa "ação de graças". É o dia para dizer a Deus: obrigado, obrigado Senhor, obrigado pela vida, pela sua misericórdia, por todos os seus dons. O domingo não é o dia para esquecer os outros dias, mas para recordá-los, abençoá-los e fazer as pazes com a vida, fazer as pazes com a vida. Tanta gente, tanta, que tem a possibilidade de divertir-se, e não vive em paz com a vida. Domingo é dia de fazer as pazes com a vida dizendo: a vida é preciosa! Não é fácil, às vezes é doloroso, mas é preciosa”.

Reconciliar-se com a própria história

Ser introduzido no repouso autêntico é uma obra de Deus em nós, afirma o Papa,  mas exige que nos afastemos da maldição e do seu encanto. Inclinando o coração para a infelicidade, de fato, enfatizar as razões do descontentamento é muito fácil. Bênção e alegria implicam uma abertura para o bem que é um movimento adulto do coração. O bem é afável e nunca se impõe. Deve ser escolhido:

“A paz se escolhe, não pode ser imposta e não pode ser encontrada por acaso. Afastando-se das dobras amargas de seu coração, o homem tem necessidade de fazer as pazes com aquilo de que ele foge. É necessário reconciliar-se com a própria história, com fatos que não se aceitam, com as partes difíceis da existência. A verdadeira paz, de fato, não é mudar a própria história, mas dar as boas-vindas e valorizá-la, assim como aconteceu.”

O Pontífice recorda que muitas vezes encontramos cristãos doentes e que nos consolam “com uma serenidade que não é encontrada nos alegres e hedonistas”.

Da mesma forma, “vimos pessoas humildes e pobres alegrarem-se por pequenas graças, com uma felicidade que sabia de eternidade”.

A vida torna-se bela quando começamos a pensar bem dela

Maria fez a escolha pela vida, que tornou-se o seu “fiat”, “uma abertura ao Espírito Santo que nos coloca nas pegadas de Cristo, Aquele que se entrega ao Pai no momento mais dramático e assim segue o caminho que leva à ressurreição.

A vida se torna bela – disse o Papa ao concluir – “quando se começa a pensar bem dela, seja qual for a nossa história (...) quando o coração está aberto à Providência e o que o Salmo diz é verdade: "Somente em Deus repousa a minha alma". Fonte: http://press.vatican.va

Na capela da Casa Santa Marta, o Papa Francisco celebrou a missa e recordou que no coração do homem, todos os dias, combatem o “espírito do mundo” e o “espírito de Deus”.

Barbara Castelli – Cidade do Vaticano (4/09/2018)

O coração do homem é como um “campo de batalha”, onde se enfrentam dois “espíritos” diferentes: um, o de Deus, nos leva “às boas obras, à caridade e à fraternidade”, o outro, o do mundo, nos impulsiona “em direção à vaidade, ao orgulho, à suficiência e às fofocas”. Foi o que destacou o Papa Francisco, celebrando a Missa na Casa Santa Marta. O ponto de partida das reflexões do Pontífice foi a Primeira Leitura, em que o “apóstolo Paulo ensina aos Coríntios o caminho para ter o pensamento de Cristo”, um caminho marcado pelo abandono ao Espírito Santo. De fato, é o Espírito Santo que nos leva a “conhecer Jesus”, a ter os seus mesmos “sentimentos”, a compreender o “coração”.

A eterna luta entre bem e mal

Francisco recordou que “o homem deixado às suas forças não compreende as coisas do Espírito”:

“Existem dois espíritos, duas modalidades de pensar, de sentir, de agir: o que me leva ao Espírito de Deus e o que me leva ao espírito do mundo. E isso acontece na nossa vida: nós todos temos esses dois ‘espíritos’, digamos assim. O Espírito de Deus nos leva às boas obras, à caridade, à fraternidade, a adorar Deus, a conhecer Jesus, a fazer tantas obras boas de caridade, a rezar: isso. E o outro espírito do mundo, que nos leva em direção à vaidade, ao orgulho, à suficiência e à fofoca: um caminho completamente diferente. O nosso coração – dizia um santo - é como um ‘campo de batalha, um campo de guerra onde esses dois espíritos combatem”.

Vencer as tentações como Jesus

“Na vida cristã”, portanto, “se deve combater para deixar espaço ao Espírito de Deus” e “expulsar o espírito do mundo”. E um “exame de consciência” diário, sugeriu o Pontífice, ajuda a “identificar as tentações”, a esclarecer como atuam essas forças contrapostas.

“É muito simples: temos este grande dom, que é o Espírito de Deus, mas somos frágeis, somos pecadores e temos também a tentação do espírito do mundo. Neste combate espiritual, nesta guerra do espírito, é preciso ser vencedores como Jesus”.

Não animais, mas Filhos de Deus

Todas as noites, concluiu o Papa, o cristão deveria repensar o dia transcorrido para verificar se prevaleceu a “vaidade” e a “soberba” ou se conseguiu imitar o Filho de Deus.

“Conhecer o que acontece no coração. Se nós não fizermos isso, se nós não soubermos o que acontece no nosso coração – e isso não o digo eu, o diz a Bíblia – somos como os ‘animais que não entendem nada’, vão avante com o instinto. Mas nós não somos animais, somos Filhos de Deus, batizados com o dom do Espírito Santo. Por isso, é importante entender o que aconteceu hoje no meu coração. Que o Senhor nos ensine a fazer sempre, todos os dias, o exame de consciência”. Fonte: http://press.vatican.va

O Papa Francisco retomou as celebração na na manhã desta segunda-feira. Ao comentar o Evangelho do dia, enfatizou que o desejo de "escândalo e divisão" pode ser combatido somente com o silêncio e a oração. "Que o Senhor nos dê a graça de discernir quando devemos falar e quando devemos calar".

Cidade do Vaticano (03/09/2018)

Nesta segunda-feira, 3 de setembro, quando o pontificado do Papa Francisco completa 2 mil dias, o Pontífice retomou sua habitual agenda, inclusive celebrando as missas na capela da Casa Santa Marta.

O Papa comentou o Evangelho do dia, extraído de Lucas, afirmando que a vontade de “escândalo” e de “divisão” só pode ser combatida com o silêncio e a oração.

De volta a Nazaré, Jesus é acolhido com reserva. A Palavra do Senhor cristalizada nesta narração permite, portanto, “refletir sobre o modo de agir cotidiano, quando há incompreensões” e entender “como pai da mentira, o acusador, o diabo, atua para destruir a unidade de uma família, de um povo”.

Nenhum profeta é bem recebido em sua Pátria

Ao chegar à sinagoga, Jesus é acolhido com grande curiosidade: todos querem ver com os próprios olhos as grandes obras de que foi capaz em outras terras. Mas o Filho do Pai Celeste usa somente “a Palavra de Deus”, um hábito que adota quando “quer vencer o Diabo”. E é justamente esta atitude de humildade que deixa espaço à primeira “palavra-ponte”, esclareceu o Papa, uma palavra que semeia a “dúvida”, que leva a uma mudança de atmosfera, “da paz à guerra”, “do estupor ao desprezo”. Com o “seu silêncio”, Jesus vence os “cães raivosos”, vence “o diabo” que “tinha semeado a mentira no coração”.

“Não eram pessoas, era um bando de cães raivosos que o expulsaram da cidade. Não raciocinavam, gritavam. Jesus ficou em silêncio. Levaram-no até ao alto do monte com a intenção de lançá-lo no precipício. Esta passagem do Evangelho termina assim: com o seu silêncio vence aquele bando selvagem e vai embora, pois não tinha chegado ainda a hora. O mesmo acontece na Sexta-feira da Paixão: as pessoas que no Domingo de Ramos fizeram festa para Jesus e disseram “Bendito és Tu, Filho de Davi”, diziam crucifica-o: tinham mudado. O diabo semeou a mentira em seu coração, e Jesus fazia silêncio.”

A verdade é mansidão

“Isto nos ensina que quando existe este modo de agir, de não ver a verdade, permanece o silêncio”, afirmou o Papa.

“O silêncio que vence, porém através da Cruz. O silêncio de Jesus. Quantas vezes nas famílias começam as discussões sobre política, esporte, dinheiro, uma vez, depois outra e aquelas famílias acabam sendo destruídas naquelas discussões em que se vê que o diabo está ali, que quer destruir... Silêncio. Dizer o que pensa e depois se calar, pois a verdade é mansidão, a verdade é silenciosa, a verdade não é barulhenta. Não é fácil o que Jesus fez, mas há a dignidade do cristão que está fundamentada na força de Deus. Com as pessoas que não têm boa vontade, com as pessoas que buscam somente o escândalo, que buscam somente a divisão, que buscam somente a destruição também nas famílias: silêncio e oração.”

A dignidade da vitória da ressurreição

O Papa Francisco concluiu com esta oração:

“Senhor, nos dê a graça do discernimento quando devemos falar e quando devemos calar, durante a vida toda: no trabalho, em casa, na sociedade... durante a vida inteira. Assim, seremos mais imitadores de Jesus”. Fonte: Fonte: http://press.vatican.va

Nascido na Argélia, homem culto e de pensamento aguçado, o Bispo de Hipona foi capaz de se colocar em discussão, escrevendo páginas memoráveis do Cristianismo.

Cidade do Vaticano

“Se o Senhor lhe deu riquezas, é para fazer em Seu nome muitas boas obras para os outros.” Esta é a mensagem do Papa Francisco no Twitter, em homenagem a Santo Agostinho, cuja memória litúrgica se celebra neste 28 de agosto.

Nascido na Argélia, homem culto e de pensamento aguçado, o Bispo de Hipona foi capaz de se colocar em discussão, escrevendo páginas memoráveis do Cristianismo.

De coração a coração

Movido pelo coração e pelo amor, buscava de maneira irrequieta a Verdade. Passados séculos de sua morte, em 430 D.C., quem lê uma de suas célebres obras, as Confissões, é capaz de encontrar as próprias interrogações, o estado de ânimo diante dos eventos da vida, os conflitos aparentemente insolúveis entre fé e razão.

“Quando alguém lê as Confissões, explica o agostiniano descalço padre Gabriele Ferlisi, sente que Agostinho lhe empresta as palavras e pensa: ‘Mas eu também sinto isso.’ E isto porque Agostinho falava de coração a coração.”

Santo Agostinho, modelo para os jovens

Tendo vivido o drama da busca de sentido e de verdade, o filho de Santa Mônica é particularmente próximo aos jovens de hoje.
“Agostinho encoraja os jovens à busca”, afirma ainda padre Gabriele – e os convida a jamais colocar um ponto final em seus resultados, a serem honestos diante da Verdade e a aceitá-la uma vez reconhecida”.

Buscar com o desejo de encontrar e encontrar com o desejo de continuar buscando (De Trinitate 9,1,1): é uma das máximas mais conhecidas de Agostinho, que exorta a jamais desistir da busca de Deus.

Mas qual foi o motor da conversão de Agostinho? Padre Gabriele Ferlisi explica: “O grande ideal que tocou o coração de Agostinho e que o próprio santo propõe aos outros é o encontro com Cristo, Aquele que satisfaz todos os desejos do coração humano”. Fonte: /www.vaticannews.va

Resumo da catequese. (Audiência geral, 22.08.2018)

A audiência geral desta manhã teve lugar às 9h30 na Sala Paulo VI, onde o Santo Padre Francisco encontrou grupos de peregrinos e fiéis da Itália e de todo o mundo.

Em seu discurso em italiano, o Papa continuou a sua catequese sobre os Mandamentos, tem focado sua meditação sobre "Respeite o nome do Senhor" (Canções bíblicos: Livro do Êxodo 20,7; João 17,25-26) .

Depois de resumir sua catequese em várias línguas, o Santo Padre dirigiu expressões particulares de saudação aos grupos de fiéis presentes. A Audiência Geral terminou com o canto do Pater Noster e a Bênção Apostólica.

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Continuamos a catequese sobre os mandamentos e hoje enfrentamos hoje o mandamento: "Em princípio não pronunciarás o nome do Senhor teu Deus " ( Êx 20: 7 ). Nós corretamente lemos esta Palavra como o convite para não ofender o nome de Deus e evitar usá-lo de forma inadequada. Esse claro significado nos prepara para aprofundar mais essas palavras preciosas, não para usar o nome de Deus em vão, de forma inadequada.

Vamos ouvi-los melhor. A versão "Você não pronuncia" traduz uma expressão que significa literalmente, em hebraico, como em grego, " você não assumirá isso, você não assumirá isso ".

A expressão «em vão » é mais clara e significa: « vazio, vão ». Refere-se a um envelope vazio, a uma forma desprovida de conteúdo. É a característica da hipocrisia, do formalismo e da mentira, de usar palavras ou usar o nome de Deus, mas vazia, sem verdade.

O nome na Bíblia é a verdade íntima das coisas e especialmente das pessoas. O nome geralmente representa a missão. Por exemplo, Abraão em Gênesis (ver 17.5) e Simão Pedro nos Evangelhos (cf. Jo 1.42) recebem um novo nome para indicar a mudança na direção de sua vida. E conhecer verdadeiramente o nome de Deus leva à transformação da vida: a partir do momento em que Moisés conhece o nome de Deus, sua história muda (cf. Êx 3 : 13-15).

O nome de Deus, nos ritos judaicos, é solenemente proclamado no Dia do Grande Perdão, e as pessoas são perdoadas porque através do nome entra em contato com a própria vida de Deus que é misericordiosa.

Em seguida, " tomar sobre si o nome de Deus " significa tomar sobre nós a sua realidade, entrando em uma relação forte e um relacionamento próximo com Ele. Para nós, cristãos, este mandamento é a chamada para nos lembrar que somos batizados " em nomedo Pai e do Filho e do Espírito Santo ", como se diz cada vez que nos fazemos o sinal da cruz, para viver nossas ações diárias em feltro e real comunhão com Deus, isto é, no seu amor. E sobre isso, para fazer o sinal da cruz, gostaria de reiterar novamente: ensinar as crianças a fazer o sinal da cruz. Você viu como as crianças fazem isso? Se você disser às crianças: "Faça o sinal da cruz", elas fazem algo que elas não sabem o que é. Eles não podem fazer o sinal da cruz! Ensine-os a nomear o Pai, o Filho e o Espírito Santo. O primeiro ato de fé de uma criança. Tarefa para você, tarefa a fazer: ensinar as crianças a fazer o sinal da cruz.

Alguém pode perguntar: é possível tomar sobre si o nome de Deus hipocritamente, como formalidade, no vácuo? A resposta é infelizmente positiva: sim, é possível. Pode-se viver um falso relacionamento com Deus, Jesus contou-lhe sobre os doutores da lei; eles fizeram coisas, mas não fizeram o que Deus queria. Eles falaram sobre Deus, mas eles não fizeram a vontade de Deus, e o conselho de Jesus é: "Faça o que eles dizem, mas não o que eles fazem". Pode-se viver um relacionamento falso com Deus, como essas pessoas. E esta Palavra do Decálogo é precisamente o convite a um relacionamento com Deus que não é falso, sem hipocrisia, a um relacionamento em que nos entregamos a Ele com tudo o que somos. Afinal, até o dia em que não arriscarmos nossa existência com o Senhor, tocando com nossas mãos que Nele encontramos a vida, só fazemos teorias.

Este é o cristianismo que toca os corações. Por que os santos são tão capazes de tocar os corações? Porque os santos não falam apenas, eles se movem! Nós movemos nossos corações quando um santo fala para nós, nos diz coisas. E eles são capazes, porque nos santos vemos o que o nosso coração deseja profundamente: autenticidade, relacionamentos verdadeiros, radicalismo. E isso também é visto nos "santos vizinhos", que são, por exemplo, os muitos pais que dão aos filhos o exemplo de uma vida coerente, simples, honesta e generosa.

Se você multiplicar os cristãos que tomam sobre si o nome de Deus, sem falsidade - assim praticando a primeira pergunta da Oração do Senhor " santificado seja o teu nome " - o anúncio da Igreja é o mais ouvido e é mais credível. Se a nossa vida real manifesta o nome de Deus, vemos quão bonito o Batismo ea Eucaristia é o grande presente, o que é uma união sublime que existe entre o nosso corpo e do corpo de Cristo: Cristo em nós e nós n'Ele ! United! Isso não é hipocrisia, isso é verdade. Isso não é falar ou rezar como um papagaio, é orar com o coração, amar o Senhor.

Da cruz de Cristo em diante ninguém pode desprezar a si mesmo e pensar mal de sua própria existência. Ninguém nunca! Tudo o que ele fez. Porque o nome de cada um de nós está nos ombros de Cristo . Ele nos traz! Vale a pena tomar sobre nós o nome de Deus porque Ele levou o nosso nome até o fim, até o mal que está em nós; Ele se encarregou de nos perdoar, colocar seu amor em nossos corações. É por isso que Deus proclama neste mandamento: "Leve-me sobre você, pois eu tomei você sobre mim mesmo".

Qualquer um pode invocar o santo nome do Senhor, que é amor fiel e misericordioso, em qualquer situação em que se encontre. Deus nunca dirá "não" a um coração que sinceramente o invoca. E vamos voltar ao dever de casa: ensinar as crianças a fazer o sinal da cruz bem feito. [01249-EN.02] [Texto original: italiano]. Fonte: http://press.vatican.va

*Catequese do Santo Padre em italiano (Tradução do google)

O Papa Francisco dedicou sua catequese na Audiência Geral ao segundo mandamento: “não pronunciarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão”.

Cidade do Vaticano

A Sala Paulo VI acolheu cerca de sete mil peregrinos para a Audiência Geral desta quarta-feira (22/08).

Dando continuidade às catequeses sobre os Dez mandamentos, o Papa comentou o segundo: “não pronunciarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão”.

Trata-se de um convite a não ofender o nome de Deus e evitar um uso inoportuno, superficial, vazio ou hipócrita.

Nome é missão

Na Bíblia, o nome representa a verdade íntima das coisas e, sobretudo, das pessoas. Alguns personagens bíblicos recebem um novo nome ao serem chamados por Deus para realizar uma missão, como Abraão e Simão Pedro.

Em concreto, conhecer o nome de Deus significa experimentar a transformação da própria vida: pensemos no Batismo, onde recebemos uma vida nova, em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo.

O Pontífice então deu uma “tarefa” aos adultos: que ensinem as crianças a fazer bem o sinal da cruz. “É o primeiro ato de fé de uma criança”, reiterou.

Sem hipocrisias

Todavia, advertiu o Papa, é possível viver uma relação falsa com Deus, como faziam os doutores da lei. Portanto, esta Palavra do Decálogo é justamente o convite a uma relação com Deus sem hipocrisias, a uma relação na qual entregamos a Ele tudo aquilo que somos.

É preciso deixar de lado a teoria e tocar o coração, como fazem os santos e as pessoas que dão um testemunho de vida coerente. Assim, o anúncio da Igreja será mais ouvido e resultará mais crível.

“ Cristo em nós e nós Nele. Unidos. Isso não é hipocrisia, é verdade. Isso não é rezar como um papagaio, é rezar com o coração, amar o Senhor. ”

Deus jamais diz "não"

A partir da cruz de Cristo, prosseguiu, ninguém pode desprezar si mesmo e pensar mal da própria existência. “Ninguém e nunca! Porque o nome de cada um de nós está sobre os ombros de Cristo.”

Francisco então concluiu: “Qualquer pessoa pode invocar o santo nome do Senhor, que é Amor fiel e misericordioso, em qualquer situação se encontre. Deus jamais dirá ‘não’ a um coração que O invoca sinceramente”.

Irlanda

Ao final da Audiência, ao saudar os peregrinos de língua italiana, o Papa manifestou sua solidariedade aos familiares dos excursionistas que perderam a vida numa enchente na região da Calábria nos dias passados.

O Pontífice pediu ainda orações para sua próxima viagem, nos dias 25 e 26 de Agosto, a Dublin, na Irlanda, para o Encontro Mundial das Famílias. “Que seja um momento de graça e de escuta da voz das famílias cristãs de todo o mundo.” Fonte: https://www.vaticannews.va

“E o clericalismo, que não é só dos clérigos, é um comportamento que diz respeito a todos nós: o clericalismo é uma perversão da Igreja”, disse o Papa Francisco aos jovens italianos reunidos no Circo Máximo, destacando a necessidade do testemunho e do sair de si mesmo: "onde não há testemunho, não há o Espírito Santo".

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

“O clericalismo é uma perversão na Igreja”.  O Papa Francisco foi incisivo ao responder aos questionamentos propostos por Dario, de 27 anos, enfermeiro em curas paliativas, alguém “que dá testemunho todos os dias com os doentes”.

Diante de 50 mil jovens italianos presentes no Circo Máximo no último sábado, quatro deles fizeram perguntas ao Papa falando com sinceridade, como lhe agrada. Dario revelou ter dificuldades em entender “como um Deus grande e bom” permite o sofrimento de crianças, dos pobres, dos marginalizados. Ademais, considera que a Igreja, mensageira da Palavra de Deus, parece “sempre mais distante com seus rituais”. Os frequentes escândalos a tornam pouco crível. Os jovens têm necessidade de testemunho, de serem ouvidos e acompanhados, disse ele.

“Dario pôs o dedo na chaga e repetiu mais de uma vez a palavra «por que», começou dizendo Francisco, afirmando que para muitas situações, encontraremos resposta somente “olhando para Cristo crucificado e para sua Mãe”.

Testemunho

Quanto às suas observações em relação à Igreja, o Papa diz escutar “com respeito”, “é um juízo sobre todos nós”, de modo especial “para nós pastores”, “os consagrados, as consagradas”. “Nem sempre é assim, mas às vezes é verdadeiro”, ponderou, acrescentando que para ser capaz de dar uma resposta positiva às expectativas daqueles que esperam um testemunho autêntico,  serem acompanhados e ouvidos, é preciso que  “o cristão, seja um fiel leigo, um sacerdote, uma irmã, um bispo”, aprenda “a escutar o sofrimento, a escutar os problemas, a estar em silêncio e deixar falar e ouvir”:

“ E tantas vezes as respostas positivas não podem ser dadas com as palavras: devem ser dadas arriscando a si mesmo no testemunho. Onde não há testemunho, não há o Espírito Santo. ”

Por esse motivo se dizia a respeito dos primeiros cristãos: “Vejam como se amam!”, “porque as pessoas viam o seu testemunho. Sabiam escutar, e depois viviam segundo o Evangelho".

“Ser cristão, não é um status de vida, um status qualificado”, diz o Papa, chamando a atenção pra o tipo de oração: «Te agradeço Senhor, porque sou cristão e não sou como os outros que não acreditam em Ti», que é “a oração do fariseu, do hipócrita. Assim rezam os hipócritas”.

“Mas pobre gente, não entendem nada. Não foram à catequese, não estudaram em um colégio católico, não estudaram em uma universidade católica”. “Isto é cristão?”, pergunta Francisco.

“Isto escandaliza, isto é pecado. «Te agradeço Senhor, porque não sou como os outros. Vou à Missa aos domingos, eu faço isso, tenho uma vida ordenada, me confesso, não sou como os outros» Isso é cristão?”, questiona. “Não. Devemos escolher o testemunho”, começar a viver como cristãos, então despertaremos a curiosidade que nos perguntarão por que vivemos assim.

Escândalos

Enquanto Dario expunha seus questionamentos, o Papa Francisco anotava, para respondê-los um a um. À pergunta sobre os fastos e os frequentes escândalos que tornam a Igreja pouco crível aos olhos dos jovens, Francisco disse:

“O escândalo de uma Igreja formal, não testemunha; o escândalo de uma Igreja fechada porque não sai. Ele – disse o Papa referindo-se a Dario – deve sair de si mesmo, quer esteja triste ou contente, mas deve sair para acariciar os doentes, para oferecer as curas paliativas que fazem com que seu trânsito para a eternidade seja menos doloroso. E ele sabe o que é sair de si mesmo, ir em direção aos outros, ir para além das fronteiras que me dão segurança.”

Clericalismo

E recorda a passagem em que Jesus diz: «Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos, eu com ele e ele comigo»:

“Eu penso muitas vezes em Jesus que bate à porta, mas de dentro, para que o deixemos sair, porque nós, muitas vezes, sem testemunho, o mantemos prisioneiro das nossas formalidades, dos nossos fechamentos, dos nossos egoísmos, do nosso modo de viver clerical”.

“E o clericalismo, que não é só dos clérigos, é um comportamento que diz respeito a todos nós: o clericalismo é uma perversão da Igreja. ”

Jesus, pelo contrário – explica o Papa – nos ensina este caminho de saída de nós mesmos, o caminho do testemunho. E este é o escândalo – porque somos pecadores! – não sair de nós mesmos para testemunhar”.

Mas, se eu não sou capaz de sair de mim mesmo para dar testemunho, posso criticar “aquele padre, aquele bispo ou aquele cristão? (...) Posso dizer isto também a meu respeito? Eu dou testemunho?”, questiona.

"A Igreja sem testemunho – disse Francisco aos jovens - é somente fumaça". Fonte: https://www.vaticannews.va

Catequese IV: O grande sonho de todos

A indissolubilidade matrimonial não é um dom apenas para os esposos, mas é para toda a comunidade e especialmente para aqueles que vivem a ferida de seu casamento em crise (...). A indissolubilidade é, portanto, um grande presente para toda a Igreja, porque comunica a todos o eterno e fiel amor de Deus em Cristo Jesus.

Cidade do Vaticano

Senhor Jesus Cristo, Vós que nos ensinastes a ser misericordiosos como o Pai celeste, e nos dissestes que quem Vos vê, vê a Ele. Mostrai-nos o Vosso rosto e seremos salvos. O Vosso olhar amoroso libertou Zaqueu e Mateus da escravidão do dinheiro; a adúltera e Madalena de colocar a felicidade apenas numa criatura; fez Pedro chorar depois da traição, e assegurou o Paraíso ao ladrão arrependido. Fazei que cada um de nós considere como dirigida a si mesmo as palavras que dissestes à mulher samaritana: Se tu conhecesses o dom de Deus! Vós sois o rosto visível do Pai invisível, do Deus que manifesta sua omnipotência sobretudo com o perdão e a misericórdia: fazei que a Igreja seja no mundo o rosto visível de Vós, seu Senhor, ressuscitado e na glória. Vós quisestes que os Vossos ministros fossem também eles revestidos de fraqueza para sentirem justa compaixão por aqueles que estão na ignorância e no erro: fazei que todos os que se aproximarem de cada um deles se sintam esperados, amados e perdoados por Deus. Enviai o Vosso Espírito e consagrai-nos a todos com a sua unção para que o Jubileu da Misericórdia seja um ano de graça do Senhor e a Vossa Igreja possa, com renovado entusiasmo, levar aos pobres a alegre mensagem proclamar aos cativos e oprimidos a libertação e aos cegos restaurar a vista. Nós Vo-lo pedimos por intercessão de Maria, Mãe de Misericórdia, a Vós que viveis e reinais com o Pai e o Espírito Santo, pelos séculos dos séculos. Amém”  (Papa Francisco, Oração para o Jubileu Extraordinário da Misericórdia 8 de dezembro de 2015)

É a primeira vez que o Evangelho apresenta a Jesus falando interagindo com os mestres do templo com perguntas e respostas, e diante de Seu discurso deixa todos espantados e surpresos por Sua inteligência.

É interessante notar como a Sua primeira intervenção não é um simples ensinamento antes do qual os Seus interlocutores se encontram em silêncio para ouvir e basta. Ele, por outro lado, interage, dialoga, pergunta, ouve, responde e, nesse diálogo bastante dinâmico e animado, surpreende a todos, a ninguém exclui.

A Sua é uma Palavra que consegue tocar a todos, e isso é visto desde a primeira vez que Ele fala. Desde o início, Ele não só mostra a capacidade de personalizar o Seu diálogo com todos os que encontra em Seu caminho, mas também e, acima de tudo, manifesta o desejo de abordar a todos, porque Ele «quer que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade» (1 Tm 2,4). Todos precisam da salvação de Deus, e esta redenção atinge cada homem através da misericórdia divina revelada na face do Filho. «É por isso – disse Papa Francisco - que instituí um Jubileu Extraordinário da Misericórdia como um tempo favorável para a Igreja, para que seja mais forte e mais efetivo o testemunho dos fiéis» (Misericordiae vultus 3).

Tal convite é dirigido primeiramente à Igreja, porque é acima de tudo ela que «tem a missão de anunciar a misericórdia de Deus, coração pulsante do Evangelho, que através dela deve alcançar o coração e a mente de cada pessoa. A Esposa de Cristo faz dela o comportamento do Filho de Deus que se dirige a todos sem excluir ninguém» (Misericordiae vultus 12).

Não há fragilidade ou fraqueza ou miséria humana que anule ou pare a misericórdia divina, mas, pelo contrário, «uma vez que se está revestido da misericórdia, mesmo que a condição de fraqueza para o pecado permaneça, é dominada pelo amor que permite que se veja além e viva de forma diferente» (Misericordia et misera 1).

É errado e um pouco enganoso pensar na ação misericordiosa de Deus como uma recompensa dada àqueles que abandonaram a sua miséria. A misericórdia de Deus nunca é conquistada ou paga muito caro, mas sempre é doada e oferecida gratuitamente a todos, para que cada um, como o filho pródigo, uma vez recoberto com as vestes mais bonitas do Pai que o aguarda desde o dia da sua partida, possa abraçar uma nova vida. Afinal, é a misericórdia de Deus que gera a conversão, não o contrário.

A conversão humana nunca será atrair e conquistar a misericórdia divina. É a experiência sempre gratuita e surpreendente do perdão de Deus que desencadeia no coração humano um verdadeiro e sincero desejo de conversão e mudança em uma nova vida. Tal anúncio vale para todos e para cada um, cada um em sua particularidade e condição única e pessoal.

Ninguém, absolutamente ninguém é excluído da misericórdia de Deus! Mesmo aqueles que, por várias razões, permanecem em um estado que não é adequado ao ideal evangélico, os braços do Pai misericordioso estão sempre abertos. Portanto, também «às pessoas divorciadas que vivem numa nova união, é importante fazer-lhes sentir que fazem parte da Igreja, que “não estão excomungadas” nem são tratadas como tais, porque sempre integram a comunhão eclesial» (Al 243).

Atenção! Aqui não se está colocando em discussão a doutrina cristã sobre o dom da indissolubilidade do sacramento do matrimônio. A Igreja está bem ciente de que «Toda ruptura do vínculo matrimonial é contra a vontade de Deus» (Al 291), , porque a indissolubilidade matrimonial é «fruto, sinal e exigência do amor absolutamente fiel que Deus tem para o homem e que o Senhor Jesus vive para a sua Igreja» (Familiaris consortio 20).

Daí o apelo que o Papa Francisco aborda a toda a comunidade eclesial: «a preparação próxima como o acompanhamento mais prolongado devem procurar que os noivos não considerem o matrimônio como o fim do caminho, mas o assumam como uma vocação que os lança para diante, com a decisão firme e realista de atravessarem juntos todas as provações e momentos difíceis. Tanto a pastoral pré-matrimonial como a matrimonial devem ser, antes de mais nada, uma pastoral do vínculo, na qual se ofereçam elementos que ajudem quer a amadurecer o amor quer a superar os momentos duros. Estas contribuições não são apenas convicções doutrinais, nem se podem reduzir aos preciosos recursos espirituais que a Igreja sempre oferece, mas devem ser também percursos práticos, conselhos bem encarnados, estratégias tomadas da experiência, orientações psicológicas. Tudo isto cria uma pedagogia do amor, que não pode ignorar a sensibilidade atual dos jovens, para conseguir mobilizá-los interiormente. Ao mesmo tempo, na preparação dos noivos, deve ser possível indicarlhes lugares e pessoas, consultórios ou famílias prontas a ajudar, aonde poderão dirigir-se em busca de ajuda se surgirem dificuldades. Mas nunca se deve esquecer de lhes propor a Reconciliação sacramental, que permite colocar os pecados e os erros da vida passada e da própria relação sob o influxo do perdão misericordioso de Deus e da sua força sanadora» (Al 211).

Portanto, é urgente oferecer todos esses instrumentos necessários para que possamos viver e levar a plenitude o dom extraordinário da indissolubilidade do sacramento nupcial; e acima de tudo devemos conscientizar todos que Cristo «na celebração do sacramento do matrimônio, oferece um “coração novo”: assim os cônjuges podem não só superar a “dureza do coração”, mas também e sobretudo compartir o amor pleno e definitivo de Cristo, nova e eterna Aliança feita carne. Assim como o Senhor Jesus é a “testemunha fiel”, é o “sim” das promessas de Deus e, portanto, a realização suprema da fidelidade incondicional com que Deus ama o seu povo, da mesma forma os cônjuges cristãos são chamados a uma participação real na indissolubilidade irrevogável, que liga Cristo à Igreja, sua esposa, por Ele amada até ao fim» (Familiaris consortio 20).

Diante de toda essa grande riqueza de verdades extraordinárias do Evangelho e de diretrizes concretas e realistas de ordem pastoral, é necessário e fundamental perguntar-nos quanto tempo, quanto espaço e quantos recursos as nossas comunidades cristãs dedicam à pastoral pré-matrimonial e à matrimonial? É muito fácil responsabilizar inteiramente as muitas falhas matrimoniais nos ombros somente dos cônjuges.

Talvez seja importante como comunidade eclesial perguntar-se: Quanto acompanhamento e quanto discernimento os jovens casais conseguiram desfrutar antes de dar o grande passo de sua  sobretudo «os primeiros anos de matrimônio são um período vital e delicado, durante o qual os cônjuges crescem na consciência dos desafios e do significado do matrimônio. Daí a necessidade dum acompanhamento pastoral que continue depois da celebração do sacramento (cf. Familiaris consortio, parte III). Nesta pastoral, tem grande importância a presença de casais de esposos com experiência. A paróquia é considerada como o lugar onde casais especializados podem colocar à disposição dos casais mais jovens a sua ajuda, com o eventual apoio de associações, movimentos eclesiais e novas comunidades» (Al 223).

O mesmo cuidado e atenção devem ser dados a todas as situações familiares conflitantes. «Iluminada pelo olhar de Cristo, a Igreja “dirige-se com amor àqueles que participam na sua vida de modo incompleto, reconhecendo que a graça de Deus também atua nas suas vidas, dando-lhes a coragem para fazer o bem, cuidar com amor um do outro e estar ao serviço da comunidade onde vivem e trabalham”» (Al 291).

Ninguém jamais poderá delinear os limites da obra da graça divina, porque ela sempre age, onde quer que seja e além do imaginário humano. Na comunidade eclesial é necessário, no entanto, uma missão particular que o Papa Francisco ama interpretar deste modo: «creio sinceramente que Jesus Cristo quer uma Igreja atenta ao bem que o Espírito derrama no meio da fragilidade: uma Mãe que, ao mesmo tempo que expressa claramente a sua doutrina objetiva, “não renuncia ao bem possível, ainda que corra o risco de sujar-se com a lama da estrada”» (Al 308).

Nos encontramos agora em um ponto central e nevrálgico da fé cristã em que é muito fácil cair em dois excessos: O primeiro, talvez culturalmente mais comum e generalizado, tende a minimizar qualquer estado matrimonial, desde que sua consciência esteja bem perante Deus; o outro, considerado agora mais retrógrado, distingue os chamados cristãos regulares daqueles em situações “irregulares”. Claramente nem um nem o outro excesso são colocados em linha nem com o ensinamento do Evangelho nem com o Magistério da Igreja.

O grande anúncio que Cristo trouxe ao mundo e que sempre devemos reiterar em todos os lugares e em cada momento é que Deus tem um Grande Sonho para todos, ninguém é excluído. Qual é o Grande Sonho de Deus para todos? Talvez seja melhor começar do que não é.

O sonho divino não é o matrimônio, não é a constituição da família. Eles são parte do Sonho, porque eles traçam a via, a estrada, o percurso, o itinerário, mas nunca constituem a meta final da vida de uma pessoa. Isso significa que aqueles que vivem plenamente o sacramento do matrimônio já experimentam na terra o aperitivo do objetivo final das núpcias eternas de Cristo com toda a humanidade.

Quem, no entanto, por várias razões vive sua existência terrena em uma situação de fragilidade humana em que seu próprio matrimônio sacramental é provado e atingido por feridas incuráveis nesta terra, não lhe será impedido o acesso ao banquete nupcial eterno, pelo contrário, talvez até mais em seu coração arderá de forte desejo por esse objetivo por causa de sua condição humana atual.

O que então é o Grande Sonho de Deus para todos, ninguém é excluído? As núpcias eternas com cada criatura humana! Por que na reflexão e, consequentemente, na pastoral da Igreja se afirmam as divergências para criar ambiguidade e confusão na mente dos cristãos? Porque muitas vezes olhamos para o Sonho de Deus da parte da terra e não da parte do céu.

Quando se observa um bordado de baixo, só se pode ver o enrolamento de muitos fios entrelaçados uns com os outros de um modo confusa e sem sentido. Em vez disso, olhando-o de cima, podemos ver com grande surpresa que, graças a esse desordenado entrelaçamento de fios, o design extraordinário é realizado, bordado com amor e paciência pela mão de Deus. Da mesma forma, poderemos perceber a beleza e a grandeza do Sonho de Deus apenas olhando-a do lado do eterno.

É aí que o convite do Papa Francisco vem precisamente na conclusão de Amoris laetitia: «contemplar a plenitude que ainda não alcançamos permite-nos também relativizar o percurso histórico que estamos a fazer como família, para deixar de pretender das relações interpessoais uma perfeição, uma pureza de intenções e uma coerência que só poderemos encontrar no Reino definitivo. Além disso, impede-nos de julgar com dureza aqueles que vivem em condições de grande fragilidade. Todos somos chamados a manter viva a tensão para algo mais além de nós mesmos e dos nossos limites, e cada família deve viver neste estímulo constante. Avancemos, famílias; continuemos a caminhar! Aquilo que se nos promete é sempre mais. Não percamos a esperança por causa dos nossos limites, mas também não renunciemos a procurar a plenitude de amor e comunhão que nos foi prometida» (Al 325).

Além disso, aqueles que vivem na graça do sacramento do matrimônio também têm mais uma responsabilidade por situações de crises conjugais e familiares se é verdade que o sacramento do matrimônio, como o da ordem, é para a missão e a edificação da Igreja. De fato, «Estas situações “exigem um atento discernimento e um acompanhamento com grande respeito, evitando qualquer linguagem e atitude que as faça sentir discriminadas e promovendo a sua participação na vida da comunidade. Cuidar delas não é, para a comunidade cristã, um enfraquecimento da sua fé e do seu testemunho sobre a indissolubilidade do matrimônio; antes, ela exprime precisamente neste cuidado a sua caridade”» (Al 243).

Portanto, a indissolubilidade matrimonial não é um dom apenas para os esposos, mas é para toda a comunidade e especialmente para aqueles que vivem a ferida de seu casamento em crise.

Em outras palavras, se é verdade que os cônjuges, em virtude da graça nupcial, vivem a força de sua comunhão com o divino, uma força tão irreprimível não pode se fechar entre eles ou dentro dos muros familiares de sua família, mas por sua natureza se estende em todos os lugares e faz com que todos desfrutem, ainda mais do que aqueles que vivem dramas conjugais e familiares, o bálsamo da comunhão, da ternura e da compaixão de Deus que atravessam o envenenamento de sua indissolubilidade conjugal.

A indissolubilidade é, portanto, um grande presente para toda a Igreja, porque comunica a todos o eterno e fiel amor de Deus em Cristo Jesus.

Em Família

Para Refletir

1- Em que sentido o dom da indissolubilidade conjugal não é só para os esposos, mas para toda a comunidade eclesial?

2- O que deve ser oferecido a um jovem casal que bate a porta da Igreja para pedir o sacramento do matrimônio?

Prática

1- Como as famílias podem se tornar o sujeito responsável pela pastoral pré-matrimonial e matrimonial em nossas comunidades eclesiais?

2- Em que sentido e como os cônjuges são chamados a dar uma contribuição preciosa e única para as muitas famílias feridas por todo gênero de crise e de fragilidade conjugal?

Na Igreja

Para Refletir

1- Qual é o Grande Sonho de Deus para todos, ninguém é excluído?

2- Quanto tempo, quanto espaço e quantos recursos nossas comunidades cristãs dedicam à pastoral pré-matrimonial e à pastoral matrimonial?

Prática

1- Que tipo de pastoral de acompanhamento, discernimento e integração é chamada a comunidade cristã para colocar em prática diante de tantas famílias feridas por todo tipo de crise e de fragilidade conjugal?

2- Quais são as dificuldades encontradas na pastoral diante dos que se sentem um pouco excluídos da comunidade eclesial por causa de suas particulares situações conjugais e familiares? Quais são as propostas concretas para um verdadeiro anúncio do Grande Sonho de Deus para eles?

2- Quais são as dificuldades encontradas na pastoral diante dos que se sentem um pouco excluídos da comunidade eclesial por causa de suas particulares situações conjugais e familiares? Quais são as propostas concretas para um verdadeiro anúncio do Grande Sonho de Deus para eles? Fonte: www.vaticannews.va

Em sua catequese o Papa explicou que "a liberdade do homem nasce quando permitimos que o verdadeiro Deus seja o único Senhor. Isto nos faz aceitar nossa fragilidade e rechaçar os ídolos do nosso coração”.

Cristiane Murray – Cidade do Vaticano

Dando continuidade às catequeses sobre os Dez mandamentos, nesta quarta-feira (08/08) o Papa Francisco aprofundou o tema da idolatria, refletindo sobre o bezerro de ouro, narrado no Livro do Êxodo.

A tradicional audiência geral foi realizada na Sala Paulo VI, onde o ar condicionado aliviou o calor do Papa e das 7 mil pessoas participantes. Ilustrando o trecho bíblico do Êxodo, apresentado no início do encontro, o Papa disse que o Povo de Israel estava no deserto, angustiado sem água e alimentos, esperando Moisés que subira ao monte para encontrar o Senhor.

“ O povo queria certezas e pediu a Araão que construísse um ídolo ‘sob medida e mudo’, identificável, que fosse um guia ” Assim como o deserto é uma imagem da vida humana incerta e sem garantias, a natureza humana, para fugir da precariedade, procura uma religião com a qual se orientar: é a eterna tentação de fazer um ‘deus sob medida’.

As tentações de sempre!

Araão não sabe dizer ‘não’ e cria o bezerro de ouro, que tinha um duplo sentido no Oriente antigo: por um lado, representava fecundidade e abundância; por outro, energia e força.  “São as tentações de sempre! O bezerro de ouro é o símbolo de todos os desejos que oferecem a ilusão da liberdade, mas acabam por escravizar”.

 “Tudo isso – completou Francisco – nasce da incapacidade de confiar antes de tudo em Deus, de depositar Nele nossas inseguranças, de deixar que seja Ele a dar a verdadeira profundidade aos anseios de nosso coração. Sem o primado de Deus, facilmente cai-se na idolatria e contenta-se de poucas seguranças”.

A escravidão do pecado

O bezerro de ouro representa, desse modo, a falta de confiança em Deus, deixando-se levar pelas tentações que conduzem à escravidão do pecado: poder, liberdade, riqueza, etc. “Quando acolhemos o Deus de Jesus Cristo, descobrirmos que reconhecer a nossa fragilidade não é a desgraça da vida humana, mas a condição para abrir-se Àquele que é realmente forte. A liberdade do homem nasce justamente permitindo que o verdadeiro Deus seja o único Senhor. Isto nos faz aceitar nossa fragilidade e rechaçar os ídolos do nosso coração”.

Reconhecer a nossa fragilidade e receber a força do Alto

Terminando a catequese, o Pontífice concluiu que “como nos mostrou Jesus, o Deus verdadeiro é Aquele que se faz pobre para nos tornar participantes da sua riqueza. É um Deus que se mostra fraco, pregado na Cruz, para nos ensinar que devemos reconhecer a nossa fragilidade, pois é ali onde encontramos a força do Alto que nos enche com o seu amor misericordioso”. Fonte: www.vaticannews.va

Passaram-se 25 anos desde a publicação da Carta Encíclica de São João Paulo II "Veritatis Splendor", dirigida a todos os bispos da Igreja Católica. Na entrevista ao Vatican News, Dom Rino Fisichella afirma que aqueles que criticam o Papa Francisco, fazendo referência também a este documento, entre outras coisas, não são fiéis à tradição da Igreja.

Amedeo Lomonaco - Cidade do Vaticano

Carta Encíclica Veritatis Splendor reflete sobre questões fundamentais do ensinamento moral da Igreja e expõe "as razões de um ensinamento moral alicerçado na Sagrada Escritura e na viva Tradição Apostólica". "É preciso – lê-se no documento - que o homem de hoje se volte novamente para Cristo, para ter dele a resposta sobre o que é bom e o que é mal."

Nesta entrevista ao Vatican News, o presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, o arcebispo Rino Fisichella recorda os aspectos mais relevantes deste Encíclica e salienta que não há nenhum "pretexto para contestar o Magistério do Papa Francisco à luz do magistério precedente".

Veritatis Splendor, a Encíclica de João Paulo II, em um transformado contexto cultural muito determinado por um secularismo e, por consequência, também por um forte relativismo filosófico, apresenta - como indica também o título de uma obra de von Balthasar "Pontos fixos" - os pontos fundamentais que permanecem como referências à doutrina cristã.

A propósito de pontos fixos, o que entende o Papa João Paulo II quando fala de verdades imutáveis, de normas morais universais?

Antes de tudo, quando falamos da verdade, devemos sempre ter dela um conceito dinâmico. A verdade não é uma dimensão fixista. A verdade, para os cristãos, é antes de tudo aquela Palavra viva que o Senhor nos deixou. Não esqueçamos Jesus que diz: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida". Portanto, a dimensão da verdade se abre para um encontro pessoal: é a verdade do Evangelho, é a verdade representada pela pessoa de Jesus Cristo. Tudo aquilo que é o conteúdo que Jesus quis transmitir aos seus discípulos e que dos apóstolos chega até nós, é uma verdade que se abre mais e mais para a descoberta do mistério que foi revelado. Existem alguns pontos fundamentais que permanecem como marcos no ensino dogmático e moral da Igreja. Esses são elementos que permanecem na sua imutabilidade. Obviamente, tudo isso depois requer dos teólogos - como também a Encíclica Vertiatis Splendor - um grande trabalho de interpretação. A norma imutável é baseada na verdade do Evangelho. Aquele princípio de instância que está inserido, permanece em sua validade, em seu critério de juízo que continuamente, porém, deve ser aberto pela descoberta da verdade da Palavra de Deus.

 Ou seja, estamos diante de um dinamismo de verdades permanentes, firmemente ligadas à Tradição. Então há uma continuidade que se renova sempre ...

Absolutamente. A Igreja Católica não pode aceitar, na minha opinião, uma ideia de verdade fechada em si mesma. A verdade, por sua própria natureza, refere-se à fidelidade e também à liberdade: "A verdade vos libertará". Uma verdade que se abre sempre mais é uma verdade que faz descobrir também a cada crente, a cada homem, uma liberdade mais profunda. Isso, porém, também requer uma fidelidade. O elo entre a fidelidade e a verdade é um elo típico da concepção bíblica da verdade.

Essa leitura da verdade requer, portanto, fidelidade. Alguns setores da Igreja criticam o Papa Francisco porque, na opinião deles, ele se distancia da doutrina católica e referem-se, em particular, justamente à Veritatis Splendor. O que responder?

O magistério nunca deve ser usado instrumentalmente para se colocar um contraste no desenvolvimento da doutrina. Quando há um uso instrumental, temo então que não exista o desejo de uma descoberta da verdade e que também não exista uma fidelidade à tradição da Igreja. Penso que não exista nenhum ponto de apoio para poder contestar o magistério do Papa Francisco à luz do magistério precedente. É preciso reiterar, pelo contrário, quanta continuidade há no desenvolvimento. Penso, no entanto, que também é importante ler atentamente todo o magistério do Papa Francisco e não somente algum pronunciamento: o mosaico é dado pelo conjunto das peças, não por uma única peça.

O Magistério do Papa Francisco é portanto um mosaico que não pode ser lido apenas com um olhar sobre uma peça isolada. Qual é então o rosto geral deste ensinamento, este ensinamento assim elevado por parte do Papa Francisco?

O de uma grande abertura na obra de evangelização. O de não antecipar a norma ao anúncio. Parece-me que os grandes elementos necessariamente são estes: o encontro com a pessoa de Jesus, o anúncio constante que a Igreja deve fazer, que os pastores são chamados a fazer para chegar a todos. Esta é a ideia da Igreja em saída, e portanto, também a capacidade - como diz a Evangelii Gaudium - de acompanhar-se com o nosso contemporâneo, caminhando ao lado dele para compreendê-lo, para entender realmente aquelas que são as instâncias, e às vezes também, talvez, dar um passo atrás. Portanto, emerge esta dimensão unida à necessidade de misericórdia. O Jubileu da Misericórdia foi um sinal concreto de como o Papa Francisco identifica e direciona seu Pontificado. Fonte: www.vaticannews.va

"É uma tentação comum, esta, de reduzir a religião à prática das leis, projetando em nosso relacionamento com Deus a imagem da relação entre os servos e seus patrões: os servos devem executar as tarefas que o patrão designou, para ter a sua benevolência", disse o Papa em sua alocução.

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

Resistir à tentação de “reduzir a religião somente à prática das leis, projetando em nossa relação com Deus a imagem da relação entre os servos e seus patrões”.

No Angelus deste XVIII Domingo do Tempo Comum, falando aos milhares de fiéis e turistas presentes na Praça São Pedro a uma temperatura de 30º C, o Papa exortou a “cultivar nossa relação” com Jesus, “fortalecer nossa fé n’Ele, que é o "pão da vida".

Inspirado no Evangelho de João proposto pela liturgia deste domingo, o Papa recorda que “a Jesus não basta que as pessoas o procurem, ele quer que as pessoas o conheçam; quer que a busca por Ele e o encontro com Ele ultrapasse a satisfação imediata das necessidades materiais”:

“Jesus veio para nos trazer algo mais, a abrir a nossa existência a um horizonte mais amplo em relação às preocupações cotidianas do alimentar-se, vestir-se, da carreira e assim por diante. Por isso, voltando-se a multidão, exclama: «Me buscais não porque vistes sinais, mas porque comestes daqueles pães e vos saciastes»”.

Desta forma,  “estimula as pessoas a darem um passo em frente, a interrogarem-se sobre o significado do milagre e não apenas para tirar proveito dele”. O milagre da multiplicação dos pães e dos peixes – explicou Francisco – “é sinal do grande dom que o Pai deu à humanidade, que é o próprio Jesus!”:

“Ele, verdadeiro "pão da vida", quer saciar não apenas os corpos, mas também as almas, dando o alimento espiritual que pode satisfazer a fome mais profunda. Por isso convida a multidão a procurar não a comida que não dura, mas aquela que permanece para a vida eterna. Trata-se de um alimento que Jesus nos dá todos os dias: sua Palavra, seu Corpo, seu Sangue”.

Também nós – como a multidão na época – ouvimos o convite de Jesus, mas não entendemos seu significado. As pessoas pensam que Jesus pede a elas “para observarem os preceitos para obter outros milagres, como a multiplicação dos pães”:

“É uma tentação comum, esta, de reduzir a religião somente à prática das leis, projetando em nossa relação com Deus a imagem da relação entre os servos e seus patrões: os servos devem executar as tarefas que o patrão determinou, para ter a sua benevolência. Isto o sabemos todos”.

À multidão que quer saber de Jesus que ações deve fazer para agradar a Deus, Jesus dá uma resposta inesperada: "A obra de Deus é que vocês acreditem naquele que ele enviou":

“Essas palavras são dirigidas também a nós hoje: a obra de Deus não consiste tanto no "fazer" coisas, mas em "crer" n’Aquele que Ele enviou. Isto significa que a fé em Jesus nos permite realizar as obras de Deus. Se nos deixarmos envolver nesta relação de amor e confiança com Jesus, poderemos fazer boas obras que perfumam de Evangelho, pelo bem e às necessidades dos irmãos”.

E se é importante preocupar-nos com o pão – disse o Papa – mais importante ainda “é cultivar nossa relação com Ele, fortalecer nossa fé n’Ele, que é o "pão da vida", vindo para saciar a nossa fome de verdade, a nossa fome de justiça, a nossa fome de amor”.

“Que a Virgem Maria – disse ao concluir - no dia em que recordamos a dedicação da Basílica de Santa Maria Maior – a Salus populi romani -  em Roma, nos sustente em nosso caminho de fé e nos ajude a nos abandonarmos com alegria ao plano de Deus para nossas vidas". Fonte: www.vaticannews.va

O novo Rescrito do Papa, ou seja, a decisão papal sobre a questão da pena de morte, foi publicado na manhã desta quinta-feira, no Vaticano.

Cidade do Vaticano

O Santo Padre recebeu em audiência, no dia 11 de maio p.p., no Vaticano, o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Luís Ladaria, durante a qual aprovou a nova redação do Catecismo da Igreja Católica (n. 2267), sobre a “pena de morte”.

O novo Rescrito do Papa, ou seja, a decisão papal sobre a questão da pena de morte, foi publicado na manhã desta quinta-feira, no Vaticano:

“Durante muito tempo, o recurso à pena de morte, por parte da legítima autoridade, era considerada, depois de um processo regular, como uma resposta adequada à gravidade de alguns delitos e um meio aceitável, ainda que extremo, para a tutela do bem comum”.

No entanto, hoje, torna-se cada vez mais viva a consciência de que a dignidade da pessoa não fica privada, apesar de cometer crimes gravíssimos. Além do mais, difunde-se uma nova compreensão do sentido das sanções penais por parte do Estado. Enfim, foram desenvolvidos sistemas de detenção mais eficazes, que garantem a indispensável defesa dos cidadãos, sem tirar, ao mesmo tempo e definitivamente, a possibilidade do réu de se redimir.

Por isso, a Igreja ensina, no Novo Catecismo, à luz do Evangelho, que “a pena de morte é inadmissível, porque atenta contra a inviolabilidade e dignidade da pessoa, e se compromete, com determinação, em prol da sua abolição no mundo inteiro”. Fonte: www.vaticannews.va

"Reconhecer as próprias idolatrias é um início da graça e coloca no caminho do amor. De fato, o amor é incompatível com a idolatria: se algo se torna absoluto e intocável, então é mais importante do que um cônjuge, de um filho, ou de uma amizade. O apego a um objeto ou a uma ideia nos deixa cegos para o amor. Levem isso no coração, os ídolos nos roubam o amor. Os ídolos nos tornam cegos ao amor. E para amar verdadeiramente, é preciso ser livres de todos os ídolos.

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano (01/09/2018)

Um ídolo é uma “visão” que tende a tornar-se uma obsessão, exige culto e rituais, e por fim, escraviza. Ao retomar a tradicional Audiência Geral das quartas-feiras, o Papa Francisco dedicou sua catequese à idolatria, explicando toda a sua dinâmica, e convidando-nos a tirar os ídolos de nossa vida e a jogá-los pela janela.

Entre os 7 mil participantes do tradicional encontro, realizado na Sala Paulo VI devido ao forte calor, havia grupos das Equipes de Nossa Senhora de Mogi das Cruzes e São José do Rio Preto, e peregrinos de Taubaté e de outras localidades do Brasil.

Idolatria, um tema atual

"Não terás outros deuses diante de mim". A passagem do Livro do Êxodo foi o ponto de partida para a catequese de Francisco sobre a idolatria, um tema sobre o qual “se deve insistir”, pois “é de grande importância e atualidade”.

A ordem – explicou o Papa -  proíbe fazer ídolos ou imagens de qualquer tipo de realidade. “Tudo, de fato, pode ser usado como um ídolo”, ressaltou. “Estamos falando de uma tendência humana que não poupa crentes, nem ateus”.

Neste sentido,  nós cristãos poderíamos nos perguntar então: “Quem é realmente o meu Deus? É o Amor Uno e Trino ou é minha imagem, meu sucesso pessoal, talvez dentro da Igreja?”, questiona Francisco, fazendo menção ao Catecismo, onde diz que “a idolatria não diz respeito somente aos falsos cultos do paganismo. Ela é uma tentação constante da fé. Consiste em divinizar o que não é Deus" (n. 2113).

Um "deus" no plano existencial, “é o que está no centro da própria vida e do qual depende o que se faz  e se pensa”:

“Pode-se crescer em uma família nominalmente cristã, mas centrada, na realidade, em pontos de referência estranhos ao Evangelho. O ser humano não vive sem centrar-se em alguma coisa. Então eis que o mundo oferece o "supermercado" dos ídolos, que podem ser objetos, imagens, ideias, papeis”.

“Nós devemos rezar a Deus, nosso Pai”, disse então Francisco, ao chamar a atenção para a “oração que se faz aos ídolos”. Para tal, recordou que quando atravessava um parque deslocando-se de uma paróquia à outra, viu mais de 50 mesas com duas pessoas sentadas uma diante da outra, jogando o tarot: “Iam ali rezar ao ídolo. Ao invés de rezar a Deus que é providência do futuro, iam ali botar as cartas para ver  o futuro. Esta é uma idolatria de nossos tempos”:

“Eu pergunto a vocês. Quantos de vocês foram ler as cartas para ver o futuro? Quantos de vocês, por exemplo, foram ler as mãos para ver o futuro, ao invés de rezar ao Senhor. Esta é a diferença. O Senhor é vivo, os outros são ídolos, idolatrias que não servem”.

A dinâmica da idolatria

O Papa então passa a explicar como se desenvolve uma idolatria.

“ A palavra "ídolo" em grego deriva do verbo "ver". Um ídolo é uma "visão" que tende a se tornar uma fixação, uma obsessão ”. O ídolo – observa o Pontífice - é uma projeção de si mesmo em objetos ou projetos:

“Desta dinâmica se serve, por exemplo, a publicidade: eu não vejo o objeto em si, mas percebo o carro, o smartphone, aquele papel - ou outras coisas - como um meio para realizar-me e responder às minhas necessidades essenciais. E eu procuro por ele, falo dele, penso nele; a ideia de possuir esse objeto ou de realizar esse projeto, alcançando aquela posição, parece um caminho maravilhoso para a felicidade, uma torre para alcançar o céu, e tudo se torna funcional para esse objetivo”.

Não te prostrarás diante deles

Os ídolos exigem um culto, rituais, disse o Papa, ao explicar a segunda fase da idolatria. “Para eles nos prostramos e sacrificamos tudo. Nos tempos antigos, sacrifícios humanos eram feitos para os ídolos, mas também hoje”:

“Pela  carreira – fale com um carreirista - se sacrificam seus filhos, negligenciando-os ou simplesmente não os gerando; a beleza exige sacrifícios humanos. Quantas horas diante do espelho, alguém, alguma mulher gasta para maquiar-se. Esta também é uma idolatria. Mas não é mal maquiar-se. Mas normalmente, não para tornar-se uma deusa. A beleza pede sacrifícios humanos. A fama exige a imolação de si mesmos, da própria inocência e da autenticidade. Os ídolos pedem sangue. O dinheiro rouba a vida e o prazer leva à solidão. As estruturas econômicas sacrificam vidas humanas por lucros maiores”.

E o Papa pensa nas tantas pessoas sem trabalho, muitas vezes porque o empreendedor de uma empresa decidiu despedir as pessoas para ganhar mais dinheiro, “o ídolo do dinheiro”:

“Vive-se na hipocrisia, fazendo e dizendo o que os outros esperam, porque o deus da própria afirmação impõe isso. E vidas são arruinadas, famílias são destruídas e jovens são abandonados nas mãos de modelos destrutivos, apenas para aumentar o lucro. Também a droga é um ídolo. Quantos jovens arruínam a sua saúde, até mesmo a vida, adorando este ídolo da droga”.

Terceiro estágio: não os servirá

O terceiro estágio é o “mais trágico” – afirma o Santo Padre - pois “os ídolos escravizam. Eles prometem felicidade, mas não a dão; e nos encontramos vivendo para aquela coisa ou para aquela visão, presos em um vórtice autodestrutivo, esperando por um resultado que não chega nunca”:

“Os ídolos prometem vida, mas na realidade eles a tiram. O Deus verdadeiro não tira vida, mas a dá. O Deus verdadeiro não oferece uma projeção do nosso sucesso, mas  ensina a amar. O Deus verdadeiro não pede filhos, mas dá seu Filho por nós. Os ídolos projetam hipóteses futuras e fazem desprezar o presente; o Deus verdadeiro  ensina a viver na realidade de cada dia, concreto, não com ilusões sobre o futuro. A concretude do Deus verdadeiro contra a liquidez dos ídolos”.

E o Santo Padre pergunta: “Eu convido vocês a pensar hoje: quantos ídolos eu tenho ou qual é o meu ídolo preferido? Pois reconhecer as próprias idolatrias é reconhecer a graça. De fato, o amor é incompatível com a idolatria: se algo se torna absoluto e intocável, então é mais importante do que um cônjuge, de um filho, ou de uma amizade.  O apego a um objeto ou a uma ideia nos deixa cegos para o amor”.

“Levem isso no coração – foi sua exortação final -  os ídolos nos roubam o amor. Os ídolos nos tornam cegos ao amor. E para amar verdadeiramente, é preciso ser livres de todos os ídolos. Qual é o meu ídolo. Tire-o e jogue-o pela janela”. Fonte: www.vaticannews.va

A passagem do Evangelho da multiplicação dos pães e dos peixes proposta pela liturgia deste domingo, inspirou a reflexão do Papa Francisco, que alertou para o desperdício e o colocar comida fora quando tantos passam fome.

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

“O ícone do jovem corajoso que dá o pouco que tem para saciar a fome de uma grande multidão” e a frase que é “um questionamento, um exame de consciência: o que se faz em casa com a comida que sobra?”.

Antes de rezar o Angelus com os milhares de fiéis e turistas reunidos na Praça São Pedro, o Papa Francisco já havia alertado que “diante do grito de fome - todos os tipos de "fome" - de tantos irmãos e irmãs em todas as partes do mundo, não podemos permanecer como espectadores distantes e tranquilos”. E falando de improviso, chamou a atenção para o desperdício e para o destino da comida que sobra em nossas refeições.

A inspirar sua reflexão, a passagem do Evangelho da multiplicação dos pães e dos peixes, que alimentaria à saciedade a multidão que seguia Jesus nas proximidades do lago de Tiberíades. E dela, o Papa destaca a atitude corajosa do rapaz que, vendo a multidão faminta, “coloca à disposição tudo o que tem: cinco pães e dois peixes:

“Bravo rapaz! Ele, também ele, via a multidão; também via os cinco pães. Disse: "Mas eu tenho isto, se serve está à disposição". Este rapaz nos faz pensar um pouco em nós... Aquela coragem: os jovens são assim, têm coragem. Devemos ajudá-los a levar em frente esta coragem”.

Seguindo a reflexão, Francisco aponta mais uma vez para a coragem e a sensibilidade do rapaz, que a exemplo de Jesus, viu a grande multidão e entendeu a compaixão, dizendo: "Ah, pobre gente.... Eu tenho isto". A compaixão o levou a oferecer o que tinha.”

Jesus atento às necessidades básicas das pessoas

A narrativa de João mostra Jesus atento às necessidades primárias das pessoas: “as pessoas têm fome e Jesus envolve seus discípulos, para que essa fome seja saciada. Este é o fato concreto”:

“Para as multidões, Jesus não se limitou a dar isto - ofereceu a sua Palavra, a sua consolação, a sua salvação e finalmente a sua vida - mas certamente fez também isso:  cuidou da comida para o corpo. E nós, seus discípulos, não podemos fazer de conta não saber nada. Somente ouvindo as demandas mais simples das pessoas e colocando-se ao lado de suas situações existenciais concretas, se poderá ser escutados quando se fala de valores mais elevados”.

“O amor de Deus pela humanidade faminta de pão, de liberdade, de justiça, de paz e, acima de tudo da sua graça divina, nunca falha”, reiterou o Santo Padre, recordando que Jesus continua também hoje a satisfazer a fome, a tornar-se uma presença viva e consoladora”, através de nós.

O Evangelho nos convida a sermos disponíveis e atuantes, como aquele rapaz que se dá conta de ter cinco pães e diz: 'Mas, eu dou isto, depois tu verás’".

“Diante do grito de fome - todos os tipos de "fome" - de tantos irmãos e irmãs em todas as partes do mundo não podemos permanecer como espectadores distantes e tranquilos”.

A ação de proximidade e de caridade para com os pobres, os fracos, os últimos, os indefesos, é a melhor forma de comprovar a qualidade de nossa fé, tanto a nível pessoal como a nível comunitário, pois  “o anúncio de Cristo, pão da vida eterna, requer um generoso compromisso de solidariedade” para com eles.

O destino da comida que sobra

Outra passagem da narrativa de João destacada por Francisco, foi a frase de Jesus aos discípulos, após a multidão ter sido saciada: "Recolham os pedaços que sobraram, para que nada seja perdido". O Papa propôs esta mesma frase aos presentes na Praça São Pedro, chamando a atenção para o desperdício de comida, quando tantos passam fome:

“Penso nas pessoas que têm fome e em quanta comida que sobra que botamos fora... Cada um de nós pense: a comida que sobra no almoço, na janta, para onde vai? Na minha casa, o que se faz com a comida que sobra? Se joga fora? Não. Se você tem este costume, dou a você um conselho: fale com seus avós, que viveram no pós-guerra, e pergunte a eles o que faziam com a comida que sobrava. Nunca jogar fora a comida que sobra. Se reutiliza ou se dá a quem possa comê-la, a quem tem necessidade. Nunca colocar fora a comida que sobra. Este é um conselho e também um exame de consciência: o que se faz em casa com a comida que sobra?”.

“Rezemos a Virgem Maria - disse ao concluir - para que no mundo prevaleçam os programas dedicados ao desenvolvimento, à alimentação, à solidariedade e não àqueles do ódio, dos armamentos e da guerra”.

Após rezar o Angelus, o Papa Francisco saudou os grupos presentes na Praça São Pedro, em particular, os fiéis brasileiros vindos do Rio de Janeiro, Nova Friburgo, Viseu, Quixadá e Fortaleza. Fonte: www.vaticannews.va

Praça São Pedro

Sexta-feira, 29 de junho de 2018

As leituras proclamadas permitem-nos entrar em contacto com a Tradição Apostólica, que «não é transmissão de coisas ou de palavras, uma coleção de coisas mortas. A Tradição é o rio vivo que nos liga às origens, o rio vivo no qual as origens sempre estão presentes» (Bento XVI, Catequese, 26 de abril de 2006) e oferecem-nos as chaves do Reino dos Céus (cf. Mt 16, 19). Tradição perene e sempre nova, que acende e revigora a alegria do Evangelho, consentindo-nos assim de confessar com os nossos lábios e o nosso coração: «“Jesus Cristo é o Senhor”, para glória de Deus Pai» (Flp 2, 11).

O Evangelho inteiro quer responder à pergunta que se abrigava no coração do Povo de Israel e que, mesmo hoje, não cessa de habitar em tantos rostos sedentos de vida: «És Tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?» (Mt 11, 3). Pergunta que Jesus retoma e coloca aos seus discípulos: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» (Mt 16, 15).

Pedro, tomando a palavra, atribui a Jesus o título maior com que O podia designar: «Tu és o Messias» (Mt 16, 16), isto é, o Ungido, o Consagrado de Deus. Apraz-me saber que foi o Pai a inspirar esta resposta a Pedro, que via como Jesus «ungia» o seu povo. Jesus, o Ungido que caminha, de aldeia em aldeia, com o único desejo de salvar e levantar quem era tido por perdido: «unge» o morto (cf. Mc 5, 41-42; Lc 7, 14-15), unge o doente (cf. Mc 6, 13; Tg 5, 14), unge as feridas (cf. Lc 10, 34), unge o penitente (cf. Mt 6, 17). Unge a esperança (cf. Lc 7, 38.46; Jo 11, 2; 12, 3). Numa tal unção, cada pecador, cada vencido, doente, pagão – no ponto onde se encontrava – pôde sentir-se membro amado da família de Deus. Com os seus gestos, Jesus dizia-lhe de maneira pessoal: tu pertences-Me. Como Pedro, também nós podemos confessar com os nossos lábios e o nosso coração não só aquilo que ouvimos, mas também a experiência concreta da nossa vida: fomos ressuscitados, acudidos, renovados, cumulados de esperança pela unção do Santo. Todo o jugo de escravidão é destruído graças à sua unção (cf. Is 10, 27). A nós não é lícito perder a alegria e a memória de nos sabermos resgatados, aquela alegria que nos leva a confessar: «Tu és (…) o Filho de Deus vivo» (Mt 16, 16).

Entretanto é interessante notar o seguimento desta passagem do Evangelho onde Pedro confessa a fé: «A partir desse momento, Jesus Cristo começou a fazer ver aos seus discípulos que tinha de ir a Jerusalém e sofrer muito, da parte dos anciãos, dos sumos-sacerdotes e dos doutores da Lei, ser morto e, ao terceiro dia, ressuscitar» (Mt 16, 21). O Ungido de Deus leva o amor e a misericórdia do Pai até às extremas consequências. Este amor misericordioso exige ir a todos os cantos da vida para alcançar a todos, ainda que isso custe o «bom nome», as comodidades, a posição... o martírio.

Perante anúncio tão inesperado, Pedro reage: «Deus Te livre, Senhor! Isso nunca Te há de acontecer» (Mt 16, 22) e transforma-se imediatamente em pedra de tropeço no caminho do Messias; e, pensando defender os direitos de Deus, sem se dar conta transforma-se em seu inimigo (Jesus chama-o «Satanás»). Contemplar a vida de Pedro e a sua confissão significa também aprender a conhecer as tentações que hão de acompanhar a vida do discípulo. À semelhança de Pedro, como Igreja, seremos sempre tentados por aqueles «sussurros» do maligno que serão pedra de tropeço para a missão. Digo «sussurros» porque o demônio seduz veladamente, fazendo com que não se reconheça a sua intenção, «comporta-se como um ser falso, que quer ficar escondido e não ser descoberto» (Santo Inácio de Loyola, Exercícios Espirituais, n. 326).

Pelo contrário, participar na unção de Cristo é participar na sua glória, que é a própria Cruz: Pai, glorifica o teu Filho... «Pai, manifesta a tua glória!» (Jo 12, 28). Glória e cruz, em Jesus Cristo, caminham juntas e não se podem separar; porque, quando se abandona a cruz, ainda que entremos no deslumbrante esplendor da glória, enganar-nos-emos porque aquela não será a glória de Deus, mas a pantomina do adversário.

Várias vezes sentimos a tentação de ser cristãos, mantendo uma prudente distância das chagas do Senhor. Jesus toca a miséria humana, convidando-nos a estar com Ele e a tocar a carne sofredora dos outros. Confessar a fé com os nossos lábios e o nosso coração exige – como o exigiu a Pedro – identificar os «sussurros» do maligno; aprender a discernir e descobrir as «coberturas» pessoais e comunitárias que nos mantêm à distância do drama humano real, impedindo-nos de entrar em contacto com a existência concreta dos outros e, em última análise, de conhecer a força revolucionária da ternura de Deus (cf. Evangelii gaudium, 270).

Jesus, não separando da cruz a glória, quer resgatar os seus discípulos, a sua Igreja, de triunfalismos vazios: vazios de amor, vazios de serviço, vazios de compaixão, vazios de povo. Quer resgatá-la duma imaginação sem limites que não sabe criar raízes na vida do Povo fiel ou, pior ainda, crê que o serviço ao Senhor lhe pede para se livrar das estradas poeirentas da história. Contemplar e seguir a Cristo exige deixar que o coração se abra ao Pai e a todos aqueles com quem Ele próprio Se quis identificar (cf. João Paulo II, Novo millennio ineunte, 49), e isto na certeza de saber que não abandona o seu povo.

Queridos irmãos, continua a habitar em milhões de rostos a pergunta: «És Tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?» (Mt 11, 3). Confessemos com os nossos lábios e com o nosso coração: Jesus Cristo é o Senhor (cf. Flp 2, 11). Este é o nosso cantus firmus que somos convidados a entoar todos os dias. Com a simplicidade, a certeza e a alegria de saber que «a Igreja não brilha de luz própria, mas da de Cristo; extrai de tal modo o seu esplendor do Sol de justiça, que pode dizer: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gal 2, 20)» (Santo Ambrósio, Hexaemeron, IV, 8, 32).

*SANTA MISSA E BÊNÇÃO DOS PÁLIOS PARA OS NOVOS ARCEBISPOS METROPOLITANOS
Fonte: http://w2.vatican.va

No Consistório Ordinário Público para a criação de 14 novos cardeais, o Papa exortou a não cair nos ciúmes, invejas e intrigas, mas a voltar o olhar, os recursos, as expectativas e o coração para o que conta: a missão para com os irmãos.

Cidade do Vaticano

O Papa Francisco presidiu, na tarde desta quinta-feira (28/06/2018), na Basílica de São Pedro, no Vaticano, o Consistório Ordinário Público para a criação de catorze novos cardeais. O Pontífice iniciou a sua homilia, com a seguinte passagem do Evangelho de Marcos: “Estavam a caminho, subindo para Jerusalém. Jesus ia na frente deles.”

“O início desta passagem paradigmática de Marcos sempre nos ajuda a ver como o Senhor cuida do seu povo com uma pedagogia incomparável. No caminho para Jerusalém, Jesus não Se esquece de preceder os seus.”

Francisco frisou que “Jerusalém representa a hora das grandes resoluções e decisões. Todos sabemos que, na vida, os momentos importantes e cruciais deixam falar o coração e manifestam as intenções e as tensões que vivem em nós”.

“Tais encruzilhadas da existência nos interpelam e fazem surgir questões e desejos nem sempre transparentes do coração humano; é o que nos mostra, com grande simplicidade e realismo, o texto do Evangelho que acabamos de ouvir.”

Não aos ciúmes, invejas e intrigas

“Em contraponto ao terceiro e mais duro anúncio da Paixão, o Evangelista não teme desvendar alguns segredos do coração dos discípulos: busca dos primeiros lugares, ciúmes, invejas, intrigas, ajustes e acordos; esta lógica não só desgasta e corrói a partir de dentro as relações entre eles, mas os fecha e envolve em discussões inúteis e de pouca importância.”

“Entretanto Jesus não Se detém nisso, mas continua adiante, os precede e diz-lhes vigorosamente: ‘Não deve ser assim entre vós. Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo’. Com este comportamento, o Senhor procura centrar de novo o olhar e o coração de seus discípulos, não permitindo que discussões estéreis e autor referenciais tenham espaço na comunidade.

Que adianta ganhar o mundo inteiro, se se fica corroído por dentro? Que adianta ganhar o mundo inteiro, se todos vivem prisioneiros de asfixiantes intrigas que secam e tornam estéril o coração e a missão? Nesta situação – como alguém observou –, poder-se-iam já vislumbrar as intrigas de palácio, mesmo nas cúrias eclesiásticas”, disse ainda o Papa.

A missão

“Não deve ser assim entre vós”: é a resposta do Senhor, que constitui primeiramente um convite e uma aposta para recuperar o que há de melhor nos discípulos e, assim, não se deixarem arruinar e se prender por lógicas mundanas que afastam o olhar daquilo que é importante. ‘Não deve ser assim entre vós’: é a voz do Senhor que salva a comunidade de se fixar demasiado em si mesma, em vez de dirigir o olhar, os recursos, as expectativas e o coração para o que conta, a missão.”

“Deste modo, Jesus nos ensina que a conversão, a transformação do coração e a reforma da Igreja são feitas, e sempre devem ser, em chave missionária, pois pressupõem que se deixe de olhar e cuidar dos interesses próprios para olhar e cuidar dos interesses do Pai.”

“A conversão dos nossos pecados, dos nossos egoísmos não é nem será jamais um fim em si mesma, mas visa principalmente crescer em fidelidade e disponibilidade para abraçar a missão; e isto de tal maneira que na hora da verdade, especialmente nos momentos difíceis dos nossos irmãos, estejamos claramente dispostos e disponíveis para acompanhar e acolher a todos e cada um e não nos transformemos em ótimos repelentes por termos vistas curtas ou, pior ainda, por estarmos pensando e discutindo entre nós quem será o mais importante”, disse ainda o Papa. “ Quando nos esquecemos da missão, quando perdemos de vista o rosto concreto dos irmãos, a nossa vida fecha-se na busca dos próprios interesses e seguranças. ”

E, assim, começam a crescer o ressentimento, a tristeza e a aversão. Pouco a pouco diminui o espaço para os outros, para a comunidade eclesial, para os pobres, para escutar a voz do Senhor. Deste modo perde-se a alegria, e o coração acaba na aridez.”

“'Não deve ser assim entre vós – diz o Senhor – (…) e quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se o servo de todos'. É a bem-aventurança e o magnificat que somos chamados a entoar todos os dias. É o convite que o Senhor nos faz, para não esquecermos que a autoridade na Igreja cresce com esta capacidade de promover a dignidade do outro, ungir o outro, para curar as suas feridas e a sua esperança tantas vezes ofendida.

É lembrar que estamos aqui porque fomos enviados para ‘anunciar a Boa-Nova aos pobres, proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; para mandar em liberdade os oprimidos, para proclamar um ano favorável da parte do Senhor’.”

Colocar-se aos pés dos outros para servir a Cristo

Amados irmãos cardeais e novos cardeais! Estando nós na estrada para Jerusalém, o Senhor caminha à nossa frente para nos lembrar mais uma vez que a única autoridade crível é a que nasce do se colocar aos pés dos outros para servir a Cristo. É a que deriva de não esquecer que Jesus, antes de inclinar a cabeça na cruz, não teve medo de Se inclinar diante dos discípulos e lavar os seus pés.

Esta é a mais alta condecoração que podemos obter, a maior promoção que nos pode ser dada: servir Cristo no povo fiel de Deus, no faminto, no esquecido, no recluso, no doente, no toxicodependente, no abandonado, em pessoas concretas com as suas histórias e esperanças, com os seus anseios e decepções, com os seus sofrimentos e feridas. Só assim a autoridade do pastor terá o sabor do Evangelho e não será «como um bronze que soa ou um címbalo que retine» (1 Cor 13, 1). Nenhum de nós deve se sentir ‘superior’ aos outros. Nenhum de nós deve olhar os outros de cima para baixo; só podemos olhar assim uma pessoa, quando a ajudamos a se levantar.

Testamento espiritual de São João XXIII

"Gostaria de recordar convosco uma parte do testamento espiritual de São João XXIII que, já adiantado no caminho, pôde dizer: «Nascido pobre, mas de gente honrada e humilde, sinto-me particularmente feliz por morrer pobre, tendo distribuído, segundo as várias exigências e circunstâncias da minha vida simples e modesta a serviço dos pobres e da Santa Igreja que me alimentou, tudo o que me chegou às mãos – em medida, aliás, muito limitada – durante os anos do meu sacerdócio e do meu episcopado.

Aparências de fartura encobriram, muitas vezes, espinhos ocultos de pobreza aflita que me impediram de dar mais do que eu gostaria. Agradeço a Deus por esta graça da pobreza, de que fiz voto na minha juventude, pobreza de espírito, como Padre do Sagrado Coração, e pobreza real; e por me sustentar para nunca pedir nada, nem lugares, nem dinheiro, nem favores, nunca, nem para mim nem para os meus parentes ou amigos» (29 de junho de 1954).". Fonte: https://www.vaticannews.va

"Colocar a lei antes da relação com Deus não ajuda o caminho de fé", disse o Papa ao comentar o texto inicial do Decálogo.

Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano (27/06/2018)

Cerca de 15 mil fiéis enfrentaram o calor do verão romano para participar da Audiência Geral na Praça S. Pedro. A primeira etapa da Audiência foi na Sala Paulo VI, onde os doentes foram acomodados justamente devido ao sol e ali puderam saudar o Pontífice. “O Senhor reserva um lugar especial no seu coração para quem apresenta qualquer tipo de deficiência e assim é para o Sucessor de São Pedro”, disse o Papa.

Já na Praça, Francisco deu continuidade ao ciclo sobre os Mandamentos, falando do texto inicial do Decálogo. Os Dez Mandamentos começam com a seguinte frase: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te fiz sair do Egito, da casa da servidão” (Ex, 20,2).

Deus salva, depois pede

O Decálogo, explicou o Papa, começa com a generosidade de Deus. “Deus jamais pede sem dar antes. Primeiro salva, depois pede. Assim é o nosso Pai”, afirmou.

“Eu sou o Senhor teu Deus.” Há um possessivo, uma relação. Deus não é um estranho: é o teu Deus. Isso ilumina todo o Decálogo e revela também o segredo do agir cristão, porque é a mesma atitude de Jesus, que diz: “Assim como o Pai me amou, também eu vos amei” (Gv 15,9). Ele não parte de si, mas do Pai.

Quem parte de si mesmo…. Chega a si mesmo!

“Nossas obras podem ser uma falência quando partimos de nós mesmos e não da gratidão. E quem parte de si mesmo…. Chega a si mesmo! É incapaz de progredir, volta para si, é uma atitude egoísta.”

Antes de tudo, prosseguiu Francisco, a vida cristã é a resposta grata a um Pai generoso. Os cristãos que somente seguem “deveres” mostram que não têm uma experiência pessoal daquele Deus que é “nosso”. O fundamento deste dever é o amor de Deus Pai, que antes dá e depois manda. Colocar a lei antes da relação não ajuda o caminho de fé.

Caminho de libertação

“Como um jovem pode desejar ser cristão se o ponto de partida são obrigações, empenhos, coerência e não a libertação?”, questionou o Papa. Ser cristão é um caminho de libertação e os Mandamentos nos libertam do nosso egoísmo. A formação cristã não está baseada na força de vontade, mas no acolhimento da salvação. Primeiro salva no Mar Vermelho, depois liberta no Monte Sinai. A gratidão é um elemento característico do coração visitado pelo Espírito Santo, disse o Papa, propondo um “pequeno exercício em silêncio”.

“Quantas coisas belas Deus fez por mim? Em silêncio, cada um responda. Essa é a libertação de Deus! ”

Clamar para ser socorrido

Todavia, pode acontecer que um cristão dentro de si encontre somente o sentido do dever, uma espiritualidade de servos e não de filhos. Neste caso, é preciso fazer como fez o povo eleito: devem clamar para que sejam socorridos.

A ação libertadora de Deus no início do Decálogo é a resposta a este clamor. Nós não nos salvamos sozinhos, mas de nós pode partir um pedido de ajuda. “Senhor, salve-me, indique-me o caminho, acaricie-me, dê-me um pouco de alegria.” Isso cabe a nós: pedir para sermos libertados.

O Papa então concluiu:

“Deus não nos chamou à vida para permanecer oprimidos, mas para ser livres e viver na gratidão, obedecendo com alegria Àquele que nos deu tanto, infinitamente mais daquilo que jamais poderemos dar a Ele. Isso é belo. Que Deus seja abençoado por tudo aquilo que fez, faz e fará em nós.” Fonte: https://www.vaticannews.va

Em sua homilia, o Pontífice destacou as palavras: “Pai, pão e perdão.” “Três palavras que encontramos no Evangelho de hoje; três palavras, que nos levam ao coração da fé.”

Cidade do Vaticano

O Papa Francisco celebrou a missa no Palexpo de Genebra, na Suíça, na tarde desta quinta-feira (21/06), no âmbito da peregrinação ecumênica pelos 70 anos do Conselho Mundial de Igrejas. Em sua homilia, o Pontífice destacou as palavras: “Pai, pão e perdão.” “Três palavras que encontramos no Evangelho de hoje; três palavras, que nos levam ao coração da fé.”

Palavra ‘Pai’ é a chave de acesso ao coração de Deus

“Pai: começa assim a oração. Pode-se continuar com palavras diferentes, mas não é possível esquecer a primeira, porque a palavra ‘Pai’ é a chave de acesso ao coração de Deus.

“Com efeito, só dizendo Pai é que rezamos em língua cristã, é que rezamos ‘cristão’: não um Deus genérico, mas Deus que é, antes de tudo, Papai. De fato, Jesus pediu-nos para dizer ‘Pai-nosso que estais nos céus’; não ‘Deus dos céus, que sois Pai’. Primeiramente, antes de ser infinito e eterno, Deus é Pai.”

“D’Ele provém toda a paternidade e maternidade. N’Ele está a origem de todo o bem e da nossa própria vida. “Então ‘Pai-nosso’ é a fórmula da vida, aquela que revela a nossa identidade: somos filhos amados. ”

É a fórmula que resolve o teorema da solidão e o problema da orfandade. É a equação que indica o que se deve fazer: amar a Deus, nosso Pai, e aos outros, nossos irmãos.”

“É a oração do nós, da Igreja; uma oração sem o eu nem o meu, mas toda voltada para o vósde Deus (o vosso nome, o vosso reino, a vossa vontade) e que se conjuga apenas na primeira pessoa do plural. ‘Pai-nosso’: duas palavras que nos oferecem o sinal da vida espiritual”, frisou o Papa.

“Sempre que fazemos o sinal da cruz no princípio do dia e antes de cada atividade importante, sempre que dizemos ‘Pai-nosso’, apropriamo-nos novamente das raízes que nos servem de fundamento.

Precisamos fazer isso em nossas sociedades frequentemente desarraigadas. O ‘Pai-nosso’ revigora as nossas raízes. Quando está o Pai, ninguém fica excluído; o medo e a incerteza não levam a melhor. Prevalece a memória do bem, porque, no coração do Pai, não somos personagens virtuais, mas filhos amados. Ele não nos une em grupos de partilha, mas nos gera juntos como família.

Não nos cansemos de dizer ‘Pai-nosso’: irá nos lembrar que não existe filho algum sem Pai e, por conseguinte, nenhum de nós está sozinho neste mundo; mas irá nos lembrar também que não há Pai sem filhos: nenhum de nós é filho único, cada um deve cuidar dos irmãos na única família humana.”

Segundo Francisco, “ao dizer Pai-nosso, afirmamos que cada ser humano é parte nossa e, diante de inúmeros malefícios que ofendem o rosto do Pai, nós, seus filhos, somos chamados a reagir como irmãos, como bons guardiões da nossa família e a trabalhar para que não haja indiferença perante o irmão, cada irmão: tanto do bebê que ainda não nasceu como do idoso que já não fala, tanto de um nosso conhecido a quem não conseguimos perdoar como do pobre descartado. Isto é o que o Pai nos pede, nos manda: amar-nos com coração de filhos, que são irmãos entre si.”

O pão deve ser acessível a todos

Sobre a segunda palavra, pão, o Pontífice sublinhou que “Jesus diz para pedir a cada dia, ao Pai, o pão. Não é preciso pedir mais: só o pão, isto é, o essencial para viver. O pão é, primeiramente, o alimento suficiente para hoje, para a saúde, para o trabalho de hoje; aquele alimento que, infelizmente, falta a muitos de nossos irmãos e irmãs. Por isso digo: ai daqueles que especulam sobre o pão! O alimento básico para a vida cotidiana dos povos deve ser acessível a todos."

Para Francisco, “pedir o pão de cada dia é dizer também: «Pai, ajuda-me a ter uma vida mais simples. A vida tornou-se tão complicada; apetece-me dizer que hoje, para muitos, a vida de certo modo está ‘drogada’: corre-se de manhã à noite, por entre mil telefonemas e mensagens, incapazes de parar, fixando os rostos, mergulhados numa complexidade que fragiliza e numa velocidade que fomenta a ansiedade”.

“Impõe-se uma opção de vida sóbria, livre de pesos supérfluos. Uma opção contracorrente, como outrora fez São Luís Gonzaga que hoje recordamos.

A opção de renunciar a muitas coisas que enchem a vida, mas esvaziam o coração. Optemos pela simplicidade do pão, para voltar a encontrar a coragem do silêncio e da oração, fermento duma vida verdadeiramente humana. “Optemos pelas pessoas em vez das coisas, para que construam relações, não virtuais, mas pessoais.”

Voltemos a amar a genuína fragrância daquilo que nos rodeia. Em casa, quando eu era criança, se o pão caísse da mesa, nos ensinavam a apanhá-lo imediatamente e a beijá-lo. Apreciar o que temos de simples a cada dia e guardá-lo: não usar e jogar fora, mas apreciar e guardar.

Não esqueçamos também que ‘o Pão de cada dia’ é Jesus. Sem Ele, nada podemos fazer. Ele é o alimento básico para viver bem. Às vezes, porém, reduzimos Jesus a um tempero ; mas, se não for o nosso alimento vital, o centro dos nossos dias, o respiro da vida cotidiana, tudo é vão. Ao suplicar o pão, pedimos ao Pai e dizemos para nós mesmos todos os dias: simplicidade de vida, cuidar daquilo que nos rodeia, Jesus em tudo e antes de tudo.”

O perdão é a cláusula vinculante do Pai-nosso

Sobre o perdão, o Papa ressaltou que “é difícil perdoar”, pois “dentro trazemos sempre um pouco de queixa, de ressentimento e, quando somos provocados por quem já tínhamos perdoado, o rancor volta e com juros.

Mas, como dom, o Senhor pretende o nosso perdão. Impressiona o fato de o único comentário original ao Pai-nosso, o de Jesus, se concentrar numa única frase: ‘Porque, se perdoardes aos outros as suas ofensas, também o vosso Pai celeste vos perdoará a vós. Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai vos não perdoará as vossas’.

O perdão é a cláusula vinculante do Pai-nosso. Deus nos liberta o coração de todo o pecado, perdoa tudo, tudo; mas pede uma coisa: que, por nossa vez, não nos cansemos de perdoar.De cada um pretende uma anistia geral das culpas alheias.

“ Seria preciso fazer uma boa radiografia do coração, para ver se, dentro de nós, há bloqueios, obstáculos ao perdão, pedras a remover. ” E então dizer ao Pai: ‘Vede este penedo! Confio-o a vós e peço-vos por esta pessoa, por esta situação; embora sinta dificuldade em perdoar, peço-vos a força de o fazer’.”

Segundo o Papa, “o perdão renova, faz milagres. Pedro experimentou o perdão de Jesus e tornou-se pastor do seu rebanho; Saulo tornou-se Paulo depois do perdão que recebeu de Estêvão; cada um de nós renasce como nova criatura quando, perdoado pelo Pai, ama os irmãos.

O perdão muda o mal em bem

Só então introduzimos uma novidade verdadeira no mundo, porque não há novidade maior do que o perdão, que muda o mal em bem. Vemos isso na história cristã. Como nos fez e continuará fazendo bem o fato de nos perdoarmos uns aos outros, de voltar a descobrir-nos irmãos depois de séculos de controvérsias e lacerações!

O Pai é feliz, quando nos amamos e perdoamos verdadeiramente de coração; e então nos dá o seu Espírito. Peçamos esta graça: de não nos fecharmos com ânimo endurecido, sempre a reivindicar dos outros, mas de dar o primeiro passo, na oração, no encontro fraterno, na caridade concreta. Assim seremos mais parecidos com o Pai, que ama sem esperar recompensa. Ele derramará sobre nós o Espírito de unidade. Fonte: https://www.vaticannews.va