No terceiro dia da viagem apostólica ao Panamá, Papa Francisco celebrou uma liturgia penitencial no Centro de Reabilitação de menores "As Garças", em Pacora, a 40 Km da Cidade do Panamá. Confira na íntegra a homilia proferida pelo Santo Padre.

O Papa Francisco encontrou menores do Centro de Reabilitação "Las Garças" nesta sexta-feira (25/01/2019), em Pacora, região metropolitana da Cidade do Panamá, e celebrou a liturgia penitencial.

Confira a íntegra da homilia do Pontífice:

"«Este acolhe os pecadores e come com eles» (Lc 15, 2), acabamos de ouvir no início do trecho evangélico. Assim murmuravam alguns fariseus e escribas, muito escandalizados e incomodados com o comportamento de Jesus.

Pretendiam, com esta afirmação, desqualificá-Lo e desacreditá-Lo à vista de todos, mas tudo o que conseguiram fazer foi destacar um dos seus procedimentos mais comuns e caraterísticos: «Este acolhe os pecadores e come com eles».

Jesus não tem medo de Se aproximar daqueles que, por inúmeras razões, carregavam o peso do ódio social, como no caso dos publicanos – lembremo-nos que os publicanos se enriqueciam roubando o seu próprio povo, provocando muita, mas muita indignação – ou o peso das suas culpas, erros e enganos, como no caso daqueles que eram conhecidos por pecadores. Fá-lo porque sabe que, no Céu, há mais alegria por um só pecador convertido do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão (cf. Lc 15, 7).

Enquanto aqueles se limitavam a murmurar ou indignar-se, bloqueando e fechando assim qualquer possibilidade de mudança, conversão e inclusão, Jesus aproxima-Se, compromete-Se (coloca em risco a sua reputação) e sempre convida a fixar um horizonte capaz de renovar a vida e a história. Dois olhares muito diferentes, que se contrapõem: um olhar estéril e infecundo – o da murmuração e fofocas – e o outro que convida à transformação e conversão – o do Senhor.

O olhar da murmuração e bisbilhotice

Muitos não suportam nem gostam desta opção de Jesus; antes, manifestam o seu descontentamento, inicialmente por entre dentes mas no final aos gritos, procurando desacreditar o seu comportamento e o de quantos estão com Ele. Não aceitam e rejeitam esta opção de estar próximo e oferecer novas oportunidades. Sobre a vida do povo, parece-lhes mais fácil colocar etiquetas e rótulos que congelam e estigmatizam não só o passado, mas também o presente e o futuro das pessoas. Rótulos que, em última análise, nada mais produzem senão divisão: daqui os bons, além os maus; daqui os justos, além os pecadores.

Este procedimento contamina tudo, porque levanta um muro invisível que faz pensar que marginalizando, separando e isolando resolver-se-ão, magicamente, todos os problemas. E, quando uma sociedade ou comunidade se decide por isso, limitando-se a criticar e murmurar, entra num círculo vicioso de divisões, censuras e condenações; entra numa conduta social de marginalização, exclusão e oposição tal que leva a dizer irresponsavelmente como Caifás: «Convém que morra um só homem pelo povo, e não pereça a nação inteira» (Jo 11, 50). E, normalmente, a corda quebra pelo ponto mais fraco: o dos mais frágeis e indefesos.

Que pena faz ver uma sociedade que concentra as suas energias mais em murmurar e indignar-se do que em comprometer-se, empenhar-se por criar oportunidades e transformação!

O olhar da conversão

Ao invés, todo o Evangelho está marcado pelo outro olhar que nasce precisamente do coração de Deus. O Senhor quer fazer festa quando vê os seus filhos que regressam a casa (Lc 15, 11-32). Assim o testemunhou Jesus, levando até ao extremo a manifestação do amor misericordioso do Pai. Um amor que não tem tempo para murmurar, mas procura romper o círculo da crítica inútil e indiferente, neutra e imparcial e assume a complexidade da vida e de cada situação; um amor que inaugura uma dinâmica capaz de proporcionar caminhos e oportunidades de integração e transformação, cura e perdão, caminhos de salvação. Comendo com publicanos e pecadores, Jesus quebra a lógica que separa, exclui, isola e divide falsamente entre «bons e maus». E fá-lo, não por decreto ou com boas intenções, nem com voluntarismos ou sentimentalismo, mas criando vínculos capazes de permitir novos processos; apostando e fazendo festa em cada passo possível.

Deste modo quebra também com outra murmuração difícil de detectar, que «fura os sonhos» pois repete como sussurro contínuo: tu não consegues, não consegues… É o murmúrio interior que brota em quem, tendo chorado o seu pecado e consciente do próprio erro, não crê que possa mudar. É quando se está intimamente convencido que aquele que nasceu «publicano» tem que morrer «publicano»; e isto não é verdade!

Amigos, cada um de nós é muito mais do que os rótulos que nos dão. Assim Jesus no-lo ensina e convida a acreditar. O seu olhar desafia-nos a pedir e procurar ajuda para percorrer os caminhos da superação. Por vezes a murmuração parece vencer, mas não acrediteis, não lhe presteis ouvidos. Procurai e ouvi as vozes que impelem a olhar para diante e não aquelas que vos desencorajam.

A alegria e a esperança do cristão – de todos nós, também do Papa – nasce de ter experimentado alguma vez este olhar de Deus que nos diz: tu fazes parte da minha família e não posso abandonar-te às intempéries, não posso perder-te pelo caminho, estou contigo aqui. Aqui? Sim, aqui. Nasce de ter sentido – como partilhaste tu, Luís – que, naqueles momentos em que tudo parecia ter acabado, algo te disse: Não! Não está tudo acabado, porque tens uma finalidade grande que te permite entender que Deus Pai estava e está com todos nós e nos dá pessoas para caminhar connosco e ajudar-nos a alcançar novas metas.

E, assim, Jesus transforma a murmuração em festa e diz-nos: «Alegrai-vos comigo!» (Lc 15, 6).

Irmãos, vós fazeis parte da família, tendes muito para partilhar. Ajudai-nos a saber qual é a melhor maneira para viver e acompanhar o processo de transformação de que todos, como família, temos necessidade.

Uma sociedade adoece quando não é capaz de fazer festa pela transformação dos seus filhos, uma comunidade adoece quando vive a murmuração que esmaga e condena, sem sensibilidade. Uma sociedade é fecunda quando consegue gerar dinâmicas capazes de incluir e integrar, assumir e lutar para criar oportunidades e alternativas que deem novas possibilidades aos seus filhos, quando se preocupa por criar futuro com comunidade, instrução e trabalho. E embora possa experimentar a impotência de não saber como, nem por isso se arrende, mas tenta de novo. Todos nos devemos ajudar para aprender, em comunidade, a encontrar estes caminhos. É uma aliança que temos de nos animar a realizar: vós, rapazes, os responsáveis pela custódia e as autoridades do Centro e do Ministério, e as vossas famílias, bem como os agentes pastorais. Todos juntos, lutai sem cessar por encontrar caminhos de inserção e transformação. Isto, o Senhor o abençoa, sustenta e acompanha.

Em breve, continuaremos a Celebração Penitencial, na qual todos poderemos experimentar o olhar do Senhor, que vê, não um rótulo ou uma condenação, mas filhos. Olhar de Deus que desmente as desqualificações e nos dá a força para criar as alianças necessárias que nos ajudem a desmentir as murmurações, alianças fraternas que permitam à nossa vida ser sempre um convite à alegria da salvação." Fonte: www.vaticannews.va

"Entre tais frutos proféticos da Igreja na América Central, apraz-me destacar a figura de São Óscar Romero, que tive o privilégio de canonizar recentemente no contexto do Sínodo dos Bispos sobre os jovens", disse Francisco em seu discurso.

Cidade do Vaticano

Leia a íntegra do discurso do Papa Francisco no encontro com os Bispos da América Central, nesta quinta-feira (24/01), na Igreja de São Francisco de Assis, em Cidade do Panamá.

VISITA APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AO PANAMÁ DISCURSO

Amados irmãos!

Agradeço ao Arcebispo de São Salvador, D. José Luis Escobar Alas, as palavras de boas-vindas que me dirigiu em nome de todos. Sinto-me feliz por poder encontrar-vos e partilhar, de forma mais familiar e direta, os vossos anseios, projetos e sonhos de pastores a quem o Senhor confiou o cuidado do seu povo santo. Obrigado pela receção fraterna.

Encontrar-me convosco oferece-me também a oportunidade de poder abraçar e sentir-me mais próximo dos vossos povos, poder fazer meus os seus anseios e também os seus desânimos mas sobretudo aquela fé corajosa que sabe animar a esperança e provocar a caridade. Obrigado por me permitirdes aproximar desta fé provada mas simples do rosto pobre do vosso povo, que sabe que «Deus está presente, não dorme; está ativo, observa e ajuda» (São Óscar Romero, Homilia, 16/XII/1979).

Este encontro recorda-nos um acontecimento eclesial de grande relevância. Os pastores desta região foram os primeiros a criar na América um organismo de comunhão e participação que deu, e continua a dar, abundantes frutos. Refiro-me ao Secretariado Episcopal da América Central (SEDAC): um espaço de comunhão, discernimento e empenho que nutre, revitaliza e enriquece as vossas Igrejas. Pastores que souberam progredir, dando um sinal que, longe de ser um elemento apenas programático, indicou como o futuro da América Central – e de qualquer outra região no mundo – passa necessariamente pela lucidez e capacidade que se possui para ampliar a visão, unir esforços num trabalho paciente e generoso de escuta, compreensão, dedicação e empenho, e poder assim discernir os novos horizontes para onde nos está a conduzir o Espírito (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 235).[1]

Nestes setenta e cinco anos passados desde a sua fundação, o SEDAC procurou partilhar as alegrias e tristezas, as lutas e esperanças dos povos da América Central, cuja história se forjou entrelaçando-se com a história do vosso povo. Muitos homens e mulheres, sacerdotes, consagrados, consagradas e leigos ofereceram a vida até ao derramamento do próprio sangue, para manter viva a voz profética da Igreja contra a injustiça, o empobrecimento de tantas pessoas e o abuso do poder. Recordam-nos que «quem deseja verdadeiramente dar glória a Deus com a sua vida, quem realmente se quer santificar para que a sua existência glorifique o Santo, é chamado a obstinar-se, gastar-se e cansar-se procurando viver as obras de misericórdia» (Francisco, Exort. ap. Gaudete et exsultate, 107). E fazê-lo, não como esmola, mas como vocação.

Entre tais frutos proféticos da Igreja na América Central, apraz-me destacar a figura de São Óscar Romero, que tive o privilégio de canonizar recentemente no contexto do Sínodo dos Bispos sobre os jovens. A sua vida e magistério são fonte constante de inspiração para as nossas Igrejas e particularmente para nós, bispos.

O lema que escolheu para o brasão episcopal, e campeia na lápide da sua sepultura, expressa claramente o seu princípio inspirador e a realidade da sua vida de pastor: «Sentir com a Igreja». Uma bússola que marcou a sua vida na fidelidade, mesmo nos momentos mais turbulentos.

Este é um legado que pode tornar-se testemunho ativo e vivificante para nós, chamados por nossa vez ao martírio pela entrega diária ao serviço dos nossos povos; e, sobre tal legado, gostaria de me basear nesta reflexão que desejo partilhar convosco. Sei que, entre nós, há pessoas que o conheceram pessoalmente – como o cardeal Rosa Chávez – de modo que, se me equivocar em alguma observação, Eminência, pode-me corrigir. Invocar a figura de Romero significa invocar a santidade e o caráter profético que vive no DNA das vossas Igrejas particulares.

Sentir com a Igreja

1-Perceção e gratidão

Santo Inácio, ao propor as regras para sentir com a Igreja, procura ajudar o exercitante a superar qualquer tipo de falsas dicotomias ou antagonismos que possam reduzir a vida do Espírito, na tentação habitual de acomodar a Palavra de Deus ao próprio interesse. Assim, possibilita ao exercitante a graça de se sentir e saber parte dum corpo apostólico maior do que ele, mas ao mesmo tempo conservando a consciência real das suas forças e possibilidades: não dar parte de fraco, nem fazer-se esquisito ou imprudente, mas sentir-se parte de um todo, que será sempre mais do que a soma das partes (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 235) e que está acompanhado por uma Presença que sempre o superará (cf. Francisco, Exort. ap. Gaudete et exsultate, 8).

Por isso, na esteira de São Óscar, gostaria de colocar, no centro deste primeiro ponto do sentir com a Igreja, a perceção e a gratidão por tanto bem recebido, sem o merecer. Romero foi capaz de sintonizar e aprender a viver a Igreja, porque amava intimamente quem o gerara na fé. Sem este amor íntimo, será muito difícil entender a sua história e conversão, dado que foi precisamente esse amor que o guiou atè à entrega no martírio; um amor, que brota da perceção de receber um dom totalmente gratuito, que não nos pertence, libertando-nos de toda a pretensão e tentação de nos considerarmos seus propietários ou os únicos intérpretes. Não inventamos a Igreja: esta não nasceu connosco e continuará sem nós. Tal atitude, longe de nos abandonar à apatia, desperta uma insondável e extraordinária gratidão que tudo alimenta. O martírio não é sinónimo de pusilanimidade nem a atitude de alguém que não ama a vida nem sabe reconhecer o seu valor. Pelo contrário, o mártir é aquele que é capaz de encarnar e traduzir na vida esta ação de graças.

Romero sentiu com a Igreja, porque, antes de mais nada, amou a Igreja como mãe que o gerou na fé, considerando-se membro e parte dela.

2-Um amor, com sabor a povo

Este amor, feito de adesão e gratidão, levou-o a abraçar, com paixão mas também com dedicação e estudo, toda a contribuição e renovação propostas pelo magistério do Concílio Vaticano II. Nele encontrava a mão segura para seguir Cristo. Não foi ideólogo nem ideológico; a sua ação nasceu duma compenetração sobre os documentos conciliares. Iluminado por este horizonte eclesial, sentir com a Igreja significa para Romero contemplá-la como Povo de Deus. Com efeito, o Senhor não quis salvar-nos permanecendo cada um isolado e separado, mas quis constituir um povo que O confessasse na verdade e O servisse na santidade (cf. Const. dogm. Lumen gentium, 9). Um povo que, na sua totalidade, possui, guarda e celebra a «unção do Santo» (Ibid., 12), e perante o qual Romero se colocava à escuta para não recusar a inspiração d’Ele (cf. São Óscar Romero, Homilia, 16/VII/1978). Mostra-nos assim que o pastor, para procurar e encontrar o Senhor, deve aprender e escutar as pulsações do coração do seu povo, sentir «o odor» dos homens e mulheres de hoje até ficar impregnado das suas alegrias e esperanças, tristezas e angústias (cf. Const. past. Gaudium et spes, 1) e, deste modo, compreender em profundidade a Palavra de Deus (cf. Const. dogm. Dei Verbum, 13). Deve escutar o povo que lhe foi confiado até respirar e descobrir, através dele, a vontade de Deus que nos chama (cf. Francisco, Discurso na Vigília de Oração pelo Sínodo sobre a Família, 4/X/2014). Deve escutar sem dicotomias nem falsos antagonismos, porque só o amor de Deus é capaz de harmonizar todos os nossos amores num mesmo sentir e olhar.

Em suma, para ele, sentir com a Igreja é tomar parte na glória da Igreja, que consiste em trazer no próprio íntimo toda a kenosis de Cristo. Na Igreja, Cristo vive no meio de nós e, por isso, ela deve ser humilde e pobre, pois uma Igreja arrogante, uma Igreja cheia de orgulho, uma Igreja autossuficiente não é a Igreja da kenosis (cf. São Óscar Romero, Homilia, 1/X/1978).

3-Trazer dentro de si mesmo a kenosisde Cristo

Esta não é apenas a glória da Igreja, mas também uma vocação, um convite para fazermos dela a nossa glória pessoal e caminho de santidade. A kenosis de Cristo não é algo do passado, mas garantia atual para sentir e descobrir a sua presença operante na história; uma presença que não podemos nem queremos silenciar, porque sabemos e experimentamos que só Ele é «Caminho, Verdade e Vida». A kenosis de Cristo lembra-nos que Deus salva na história, na vida de cada ser humano, já que a mesma é também a sua história e, nela, vem ao nosso encontro (cf. São Óscar Romero, Homilia, 7/XII/1978). Irmãos, é importante não ter medo de nos aproximarmos e tocarmos as feridas do nosso povo, que são também as nossas feridas, e fazê-lo segundo o estilo do Senhor. O pastor não pode estar longe do sofrimento do seu povo; mais ainda, poderíamos dizer que o coração do pastor mede-se pela sua capacidade de deixar-se comover à vista de tantas vidas feridas e ameaçadas. Fazê-lo segundo o estilo do Senhor significa deixar que este sofrimento toque e marque as nossas prioridades e gostos, o uso do tempo e do dinheiro e inclusive a forma de rezar, para podermos ungir tudo e todos com a consolação da amizade de Jesus numa comunidade de fé que possua e abra um horizonte sempre novo que dê sentido e esperança à vida (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 49). A kenosis de Cristo exige que se abandone a virtualidade da existência e dos discursos para escutar o rumor e o apelo constante de pessoas reais que nos desafiam a criar laços. E – permiti que vos diga – as redes servem para criar vínculos, mas não raízes; são incapazes de nos conferir pertença, de nos fazer sentir parte de um mesmo povo. E, sem este sentir, todas as nossas palavras, reuniões, encontros, escritos serão sinal duma fé que não soube acompanhar a kenosis do Senhor, uma fé que ficou a meio do caminho.

A kenosis de Cristo é jovem

Esta Jornada Mundial da Juventude é uma oportunidade única para sair ao encontro e aproximar-se ainda mais da realidade dos nossos jovens, cheia de esperanças e sonhos, mas também profundamente marcada por tantas feridas. Com eles, poderemos ler de forma renovada a nossa época e reconhecer os sinais dos tempos, pois, como afirmaram os Padres Sinodais, os jovens são um dos «lugares teológicos» onde o Senhor nos dá a conhecer algumas das suas expetativas e desafios para construir o futuro (cf. Sínodo sobre os Jovens, Documento final, 64). Com eles, poderemos ver melhor como tornar o Evangelho mais acessível e credível no mundo em que vivemos; são uma espécie de termómetro para saber a que ponto estamos como comunidade e como sociedade.

Os jovens trazem dentro uma inquietude que devemos apreciar, respeitar, acompanhar e que faz muito bem a todos nós, porque nos provoca lembrando-nos que o pastor nunca deixa de ser discípulo e está a caminho. Esta sã inquietude coloca-nos em movimento, antecipando-nos. Assim no-lo recordaram os Padres Sinodais ao dizer que, «em certos aspetos, os jovens podem estar mais adiantados do que os pastores» (Ibid., 66). Deve-nos encher de alegria constatar que a sementeira não foi em vão. Muitas das aspirações e intuições, que formam tal inquietude, desenvolveram-se dentro da família, alimentadas por uma avó ou uma catequista, ou na paróquia, na pastoral educativa ou juvenil; desejos, que cresceram na escuta do Evangelho e em comunidades de fé viva e fervorosa onde este encontra terra onde germinar. Quanto devemos agradecer pelo facto de haver jovens desejosos de Evangelho! Esta realidade estimula-nos a um esforço maior para ajudá-los a crescer, oferecendo-lhes espaços maiores e melhores que os possam gerar segundo o sonho de Deus. A Igreja, por sua natureza, é Mãe e, como tal, gera e resguarda a vida protegendo-a de tudo o que possa ameaçar o seu desenvolvimento: uma gestação na liberdade e para a liberdade. Por isso, exorto-vos a promover programas e centros educativos que saibam acompanhar, apoiar e responsabilizar os vossos jovens; «roubai-os» à rua, antes que a cultura de morte, «vendendo-lhes fumo» e soluções mágicas, se apodere e aproveite da sua imaginação. Fazei-o, não com paternalismo como quem olha de cima para baixo, pois não é isso o que o Senhor nos pede, mas como pais, como de irmão para irmão. São rosto de Cristo para nós e, a Cristo, não O podemos olhar de cima para baixo, mas de baixo para cima (cf. São Óscar Romero, Homilia, 2/IX/1979).

Infelizmente, há muitos jovens que foram seduzidos por respostas imediatas que hipotecam a vida. Diziam-nos os Padres Sinodais que aqueles, por constrição ou falta de alternativas, se encontram mergulhados em situações altamente conflituosas e sem solução à vista: violência doméstica, feminicídio – uma chaga, que aflige o nosso continente –, bandas armadas e criminosas, tráfico de droga, exploração sexual de menores e de tantos que já não o são, etc. Custa constatar que, na raiz de muitas destas situações, está uma experiência de orfandade, fruto de uma cultura e uma sociedade transviada. Lares desfeitos devido tantas vezes a um sistema económico que deixou de ter como prioridade as pessoas e o bem comum, fazendo da especulação o «seu paraíso» onde continuar a «engordar» sem se importar à custa de quem. Assim, os nossos jovens sem o calor duma casa, nem família, nem comunidade, nem pertença são deixados à mercê do primeiro vigarista que lhes apareça.

Não nos esqueçamos que «uma verdadeira dor que sai do homem pertence, antes de tudo, a Deus» (Georges Bernanos, Diario de un cura rural, 74). Não separemos o que Ele quis unir no seu Filho.

O futuro exige que se respeite o presente, reconhecendo a dignidade das culturas dos vossos povos e esforçando-se por valorizá-las. Também nisto se joga a dignidade: na auto-estima cultural. Os vossos povos não são o «horto» da sociedade nem de ninguém; têm uma história rica que deve ser aceite, valorizada e incentivada. Nestas terras, foram plantadas as sementes do Reino; temos obrigação de as identificar, cuidar e proteger para que nenhum bem plantado por Deus definhe devido a interesses espúrios que, por todo o lado, semeiam corrupção e crescem despojando os mais pobres. Cuidar das raízes é tutelar o rico património histórico, cultural e espiritual que esta terra soube amalgamar ao longo dos séculos. Comprometei-vos e erguei a voz contra a desertificação cultural e espiritual dos vossos povos, que provoca uma indigência radical, pois deixa-os sem a indispensável imunidade vital que sustenta a dignidade nos momentos de maior dificuldade.

Na última carta pastoral, afirmáveis: «Ultimamente a nossa região tem sofrido o impacto da migração realizada de forma nova, por ser maciça e organizada, e que evidenciou os motivos que levam a uma migração forçada e os perigos que cria para a dignidade da pessoa humana» (SEDAC, Mensagem ao Povo de Deus e a todas as pessoas de boa vontade, 30/XI/2018).

Muitos dos migrantes têm rosto jovem; procuram um bem maior para a própria família, não temendo arriscar e deixar tudo para lhe oferecer o mínimo de condições que garantam um futuro melhor. Aqui não basta a denúncia, mas devemos anunciar concretamente uma «boa nova». Graças à sua universalidade, a Igreja pode oferecer uma hospitalidade fraterna e acolhedora, de modo que as comunidades de origem e destino dialoguem e contribuam para superar medos e difidências e fortalecer os laços que as migrações, no imaginário coletivo, ameaçam romper. «Acolher, proteger, promover e integrar» podem ser os quatro verbos com que a Igreja, nesta situação migratória, conjugue a sua maternidade no momento atual da história (cf. Sínodo sobre os Jovens, Documento final, 147).

Todos os esforços que puderdes realizar para lançar pontes entre as comunidades eclesiais, paroquiais, diocesanas, bem como através das Conferências Episcopais, constituem um gesto profético da Igreja, que, em Cristo, é «o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano» (Const. dogm. Lumen gentium, 1). Assim dissipa-se a tentação de ficar apenas pela denúncia e reliza-se o anúncio da Vida nova que o Senhor nos dá.

Lembremo-nos da exortação de São João: «Se alguém possuir bens deste mundo e, vendo o seu irmão com necessidade, lhe fechar o seu coração, como é que o amor de Deus pode permanecer nele? Meus filhinhos, não amemos com palavras nem com a boca, mas com obras e com verdade» (1 Jo 3, 17-18).

Todas estas situações nos interpelam; são situações que nos chamam à conversão, à solidariedade e a uma ação educativa incisiva nas nossas comunidades. Não podemos ficar indiferentes (cf. Sínodo sobre os Jovens, Documento final, 41-44). O mundo descarta: sabemo-lo e lamentamo-lo. A kenosis de Cristo, não: já o experimentamos e continuamos a experimentar na própria carne com o perdão e a conversão. Esta tensão constringe-nos a questionar-nos sem cessar: De que parte queremos estar?

A kenosis de Cristo é sacerdotal

São bem conhecidos a amizade do Arcebispo Romero com o Padre Rutilio Grande e o impacto que o assassínio deste teve na sua vida; foi um acontecimento que marcou profundamente o seu coração de homem, sacerdote e pastor. Romero não era um administrador de recursos humanos, não geria pessoas nem organizações; sentia com amor de pai, amigo e irmão. Uma medida um pouco alta, mas útil para avaliar o nosso coração episcopal, uma medida à vista da qual podemos interrogar-nos: Quanto me afeta a vida dos meus sacerdotes? Que impacto deixo ter em mim aquilo que vivem, chorando com as suas dores, congratulando-me e regozijando-me com as suas alegrias? Comecemos a medir o funcionarismo e clericalismo eclesiais – infelizmente tão difusos, constituindo uma caricatura e uma perversão do ministério – por estes interrogativos. Não é questão de mudar estilos, hábitos ou linguagem (certamente importantes); é questão sobretudo de impacto e capacidade de espaço, nos nossos programas episcopais, para receber, acompanhar e sustentar os nossos sacerdotes: um «espaço real» para nos ocuparmos deles. Isto faz de nós pais fecundos.

Normalmente recai sobre eles, duma maneira especial, a responsabilidade de fazer com que este povo seja o povo de Deus. Encontram-se na primeira linha: carregam sobre si o cansaço do dia e o seu calor (cf. Mt 20, 12), estão sujeitos a inumeráveis situações diárias que podem deixá-los mais vulneráveis e, por isso, precisam também da nossa proximidade, da nossa compreensão e encorajamento, da nossa paternidade. O resultado do trabalho pastoral, da evangelização na Igreja e da missão não se baseiam na riqueza dos meios e recursos materiais, nem na quantidade de eventos ou atividades que realizamos, mas na centralidade da compaixão: um dos grandes distintivos que podemos, como Igreja, oferecer aos nossos irmãos. A kenosis de Cristo é a expressão máxima da compaixão do Pai. A Igreja de Cristo é a Igreja da compaixão; e isto começa em casa. É sempre bom perguntar-nos como pastores: Que impacto tem em mim a vida dos meus sacerdotes? Sou capaz de ser um pai ou consolo-me com ser um mero executor? Deixo que me incomodem? Lembro-me das palavras de Bento XVI quando falava aos seus compatriotas no início do pontificado: «Cristo não nos prometeu uma vida confortável. Quem deseja comodidades, com Ele errou direção. Mas Ele mostra-nos o caminho rumo às coisas grandes, o bem, rumo à vida humana autêntica» (Discurso às Delegações e peregrinos alemães, 25/IV/2005).

Sabemos que o nosso trabalho, nas visitas e encontros que realizamos, sobretudo nas paróquias, tem uma dimensão e uma componente administrativas, a que é necessário atender. É preciso certificar-se que seja feito, mas isto não significa que caiba a nós mesmos utilizar em tarefas administrativas o pouco tempo que temos. O fundamental nas visitas e que não podemos delegar, é a escuta. Há muitas coisas que fazemos todos os dias e que deveríamos confiar a outrem. Aquilo que, ao contrário, não podemos delegar é a capacidade de ouvir, a capacidade de acompanhar a saúde e a vida dos nossos sacerdotes. Não podemos delegar noutros a porta aberta para eles; uma porta aberta para criar as condições que tornem possível a confiança mais do que o medo, a sinceridade mais do que a hipocrisia, o intercâmbio franco e respeitoso mais do que o monólogo disciplinar.

Vêm-me à memória estas palavras de Rosmini: «Não há dúvida de que apenas os grandes homens podem formar outros grandes homens (…). Nos primeiros séculos, a casa do bispo era o seminário dos sacerdotes e diáconos. A presença e a santa conversação do seu prelado revelavam-se uma lição candente, contínua, sublime, na qual se aprendia conjuntamente a teoria nas suas doutas palavras e a prática nas assíduas ocupações pastorais. E foi assim que os jovens Atanásios cresceram junto dos Alexandres» (António Rosmini, Las cinco llagas de la santa Iglesia, 63).

É importante que o pároco encontre o pai, o pastor no qual «se vê espelhado» e não o administrador que quer «passar revista às tropas». Com todas as coisas em que nos diferenciamos e até mesmo aquelas em que não estamos de acordo e as discussões que possam haver – sendo normal e desejável que existam –, é  fundamental que os padres sintam o bispo como um homem capaz de gastar-se e expor-se por eles, fazê-los caminhar para diante e estender-lhes a mão quando estão empantanados; como um homem de discernimento que saiba orientar e encontrar caminhos concretos e praticáveis nas várias encruzilhadas de cada história pessoal.

Etimologicamente, o termo «autoridade» deriva da raiz latina augere que significa aumentar, promover, fazer progredir. No pastor, a autoridade consiste de modo particular em ajudar a crescer, em promover os seus presbíteros, em vez de se promover a si mesmo (isto faz dele um solteirão). A alegria do pai/pastor é ver que os seus filhos cresceram e tornaram-se fecundos. Irmãos, seja esta a nossa autoridade e o sinal da nossa fecundidade.

A kenosis de Cristo é pobre

Irmãos, sentir com a Igreja é sentir com o povo fiel, o povo de Deus que sofre e espera; é saber que a nossa identidade ministerial nasce e compreende-se à luz desta pertença única e constitutiva do nosso ser. Neste sentido, gostaria de recordar convoco o que Santo Inácio nos escrevia a nós, jesuítas: «A pobreza é mãe e muro», gera e preserva. Mãe, porque nos chama à fecundidade, à geração, à capacidade de doação que seria impossível num coração avarento ou empenhado a acumular. E muro, porque nos protege duma das mais subtis tentações que nós, consagrados, temos de enfrentar: a mundanidade espiritual, o revestir de valores religiosos e «piedosos» a ambição de poder e protagonismo, a vaidade e, inclusivamente, o orgulho e a soberba. Muro e mãe, que nos ajudam a ser uma Igreja cada vez mais livre, porque está centrada na kenosis do seu Senhor. Uma Igreja, que não deseja que a sua força esteja – como dizia D. Romero – no apoio dos poderosos ou da política, mas que disso se despreende com nobreza para caminhar sustentada unicamente pelos braços do Crucificado, que é a sua verdadeira força. E isto traduz-se em sinais concretos e evidentes; isto interpela-nos e impele-nos a um exame de consciência a propósito das nossas opções e prioridades no uso dos recursos, influências e posições. A pobreza é mãe e muro, porque guarda o nosso coração para que não escorregue em concessões e comprometimentos que enfraquecem a liberdade e parresia a que nos chama o Senhor.

Irmãos, antes de terminar, coloquemo-nos sob o manto da Virgem, rezemos juntos para que Ela guarde o nosso coração de pastores e nos ajude a servir melhor o Corpo de seu Filho, o santo Povo fiel de Deus que caminha, vive e reza aqui na América Central.

Que Jesus vos abençoe e a Virgem Maria vos proteja! E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Muito obrigado!

Fonte: www.vaticannews.va

Conversando com os jornalistas durante o voo em direção do Panamá, o Papa falou sobre migrantes e viagens.

Cidade do Vaticano

Irei ao Japão em novembro, preparem-se: foi o que o disse o Papa Francisco no voo para o Panamá, respondendo a um jornalista japonês que lhe perguntou se planejava uma viagem ao seu país. Francisco disse que quer ir também ao Iraque, mas os bispos locais dizem que no momento não é seguro.

Uma jornalista deu ao Papa um desenho do adolescente imigrante que morreu no mar mediterrâneo e que tinha o seu boletim escolar costurado em suas roupas. O Papa ficou comovido e disse que gostaria de falar sobre isso na viagem de retorno.
Respondendo a uma pergunta feita pelo enviado do canal de televisão italiano RAI 1 sobre os muros erguidos para deter os migrantes em Tijuana, na fronteira entre o México e os Estados Unidos, afirmou que o medo nos deixa loucos e convidou a ler o editorial do L’Osservatore Romano intitulado “Os muros do medo”. Fonte: www.vaticannews.va

Podemos pensar que somos bons católicos, mas não nos comportarmos como bons cristãos. O verdadeiro estilo do cristão é aquele indicado pelas Bem-aventuranças. Foi o que disse o Papa na homilia da missa na Casa Santa Marta comentando a emblemática expressão do Evangelho do dia de Marcos: "Vinho novo em odres novos". (Mc 2, 18-22)

Gabriella Ceraso - Cidade do Vaticano. (21/01/2019)

O Evangelho, a Palavra do Senhor é o "vinho novo" que nos foi dado, mas acolhê-lo não é suficiente para sermos bons cristãos; isso exige de nós um "comportamento novo", um "estilo novo" que é precisamente "o estilo cristão" e que somente as "Bem-aventuranças" podem nos indicar. Este é o significado da palavra-chave que encerra o Evangelho de Marcos de hoje: "Vinho novo em odres novos", e daqui nasce a .

Viver acusando os outros não é cristão

"Para entender qual é o estilo cristão - disse Francisco -, melhor entender talvez nossas atitudes que são de um estilo não-cristão", e cita três, o "estilo acusatório", o "estilo mundano" e o "estilo egoísta": O estilo acusatório é o estilo daqueles fiéis que sempre procuram acusar os outros, vivem acusando: "Não, mas isso, aquilo ... Não isso, não ... ele não é correto, ele era um bom católico ..." e sempre desqualificando os outros . Um estilo - eu diria - de promotores de justiça falidos: estão sempre tentando acusar os outros. Mas eles não percebem que é o estilo do diabo: na Bíblia o diabo é chamado de "grande acusador", que está sempre acusando os outros.

"Essa – destacou Francisco - é uma moda entre nós", e era também no tempo de Jesus que em mais de um episódio reprovou os acusadores: "Em vez de olhar a palha nos olhos dos outros, olhe para a trave nos seus olhos "; ou ainda: "Aqueles que não pecaram podem atirar a primeira pedra". Portanto, explicou o Papa, "viver acusando os outros e" procurando defeitos" não é "cristão", não é odre novo”.

A mundanidade estraga muitas pessoas

Isso também vale para o estilo de vida que Francisco definiu como "mundano", que é "do mundo", típico daqueles católicos que recitam o Credo, mas vivem de "vaidade, orgulho, apegados ao dinheiro, autossuficientes":
O Senhor lhe ofereceu o vinho novo, mas você não mudou os odres, você não mudou. A mundanidade, a mundanidade é o que estraga muitas pessoas, muitas pessoas! Pessoas boas, mas entram neste espírito de vaidade, de orgulho, de serem vistas ... Não há humildade e humildade faz parte do estilo cristão. Devemos aprender isto de Jesus, de Nossa Senhora, de São José, eles eram humildes.

A indiferença não faz parte do cristão

E ainda há outro estilo que se "vê em nossas comunidades" e que não é cristão: é "o espírito egoísta", o "espírito da indiferença". "Penso em ser um bom cristão – explicou Francisco  -, eu faço as coisas mas não me preocupo com os problemas dos outros, não me preocupo com as guerras, as doenças, com as pessoas que sofrem" , não me preocupo com o próximo. É "a hipocrisia" que Jesus repreendia aos doutores da Lei. Então qual é o estilo cristão verdadeiro?

O estilo cristão é o das Bem-aventuranças: mansidão, humildade, paciência no sofrimento, amor à justiça, capacidade de suportar perseguições, não julgar os outros ... E esse é o espírito cristão, o estilo cristão. Se você quer saber como é o estilo cristão, para não cair neste estilo acusatório, no estilo mundano e no estilo egoísta, leia as Bem-aventuranças. E este é o nosso estilo, as Bem-aventuranças são os odres novos, são o caminho para chegar. Para ser um bom cristão devemos ter a capacidade de recitar o credo com o coração, mas também de recitar com o coração o Pai Nosso. Fonte: www.vaticannews.va

Antes de rezar o Angelus com os fiéis, o Papa refletiu sobre o início da missão pública de Jesus, quando, nas Bodas de Caná, transformou a água em vinho: o primeiro milagre do Mestre.

Cristiane Murray - Cidade do Vaticano

Apesar do chuvoso domingo do inverno romano, o Papa atraiu à Praça São Pedro milhares de pessoas para ouvi-lo e rezar com ele a oração mariana do Angelus.

Ao meio-dia, Francisco apareceu na sacada de seu escritório e depois de cumprimentar os fiéis, fez uma reflexão sobre o início da missão pública de Jesus, que caracteriza o tempo litúrgico ‘comum’.

Bodas de Jesus com a humanidade

O Evangelho do dia narra o primeiro milagre de Jesus, seu primeiro ‘sinal’ – como diz o Evangelista João – que ocorreu nas bodas de Caná, na Galileia. E não foi um caso que tenha se realizado num matrimônio - explicou o Papa - porque naquela cerimônia, Deus se casou com a humanidade: esta é a Boa Notícia, mesmo se aqueles que o convidaram ainda não sabiam que o Filho de Deus estava sentado à sua mesa e que o verdadeiro esposo era Ele.

“De fato, todo o mistério do sinal de Caná se baseia na presença deste divino esposo que começa a revelar-se. Jesus se manifesta como esposo do povo de Deus, anunciado pelos profetas, e nos revela a profundidade da relação que nos une a Ele"

“ É uma nova Aliança de amor ”

O Papa prosseguiu com o relato da festa, que justamente quando estava no auge, o vinho acabou! Percebendo, Maria disse ao Filho: “Eles não têm mais vinho”. A água é necessária para viver, mas o vinho exprime a abundância do banquete e a alegria da festa. Como é possível celebrar as núpcias e fazer festa se falta aquilo que os profetas indicavam como um elemento típico do banquete messiânico?

Jesus transforma a água em vinho

Jesus então disse aos serventes: "Enchei as ânforas de água. E as encheram até a borda. Disse-lhes novamente: "Agora tomai algumas e levai-as àquele que dirige o banquete”. Maria se dirige aos empregados e suas palavras coroam o quadro esponsal de Caná: “Façam o que Ele lhes disser”. Maria – recordou o Papa – nos repete hoje a mesma coisa: "Tudo o que Ele lhes disser, façam-no". Suas palavras são um legado precioso que a nossa Mãe nos deixou.

Maria confia nas palavras do Mestre e intercede por nós

“Servir o Senhor significa escutar e pôr em prática a sua palavra. É a recomendação simples e essencial da Mãe de Jesus, é o programa de vida do cristão. Para cada um de nós, beber daquela ânfora equivale a entregar-se à Palavra e aos Sacramentos para experimentar a graça de Deus em nossa vida”.

Terminando, o Papa improvisou algumas palavras, destacando uma experiência que certamente muitos já tiveram na vida: “Quando estamos em situações difíceis, quando surgem problemas que não sabemos como resolver, quando muitas vezes sentimos ansiedade e angústia, quando nos falta alegria, vamos a Maria e digamos: "Não temos vinho. O vinho acabou: olha como eu estou; olha para o meu coração, olha para a minha alma". Digam-no à mãe. E ela irá a Jesus e dirá: "Olha ele, olha ela: eles não têm vinho". depois, ela virá a nós e dirá: "Tudo o que ele te disser, faça-o". Fonte: www.vaticannews.va

Em suas palavras após a oração do Angelus, Francisco também se solidarizou com o povo colombiano e mencionou a Jornada Internacional da Educação, que se celebra em 24 de janeiro.

Cristiane Murray - Cidade do Vaticano

Na manhã de domingo (20/01/2019), Papa Francisco manifestou publicamente a sua dor pelos naufrágios no Mar Mediterrâneo e solidariedade ao povo colombiano, abalado pelo atentadocontra a Academia-Geral de Polícia Francisco de Paula Santander, em Bogotá, afirmando que reza pelas vítimas e suas famílias, e pelo êxito do processo de paz na Colômbia.  

JMJ, evento importante

Falando após a oração do Angelus, na sacada de seu escritório, aos fiéis, turistas e romanos presentes na Praça São Pedro, o Pontífice lembrou ainda que partirá para o Panamá, onde de 22 a 27 se realizará a JMJ, “evento belo e importante no caminho da Igreja”, disse.

Comunicação: redes e comunidades

Na sequência, anunciou iminente a publicação da Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, que proporá uma reflexão sobre as comunidades da rede e a comunidade humana. Para Francisco, “Internet e redes sociais são um recurso de nossos tempos; uma ocasião de estar em contato com os outros, compartilhar valores e projetos, expressar o desejo de ‘fazer comunidade’.

O Papa usa um tablet e explica

“A rede pode nos ajudar a rezar juntas. Por isso, gostaria de apresentar o aplicativo oficial da Rede Mundial de Oração do Papa: ‘Click To Pray’, disse Francisco, apresentando também o P. Frédéric Fornos, S.J, seu diretor internacional.. O Papa convidou os jovens a baixarem a app Click To Pray e a continuar a rezar com ele o Terço pela paz, especialmente durante a Jornada Mundial da Juventude no Panamá.

Plataforma multimedia

A plataforma dispõe de uma página web e da app móvel, em Android, e em iOS, e está disponível em seis idiomas (espanhol, inglês, italiano, francês, português e alemão). A cada mês, serão publicadas as intenções e pedidos do Papa pela missão da Igreja.

Papa pede oração a jovens da JMJ do Panamá, inspirados em Maria

A plataforma tem três seções principais: "Reza com o Papa", com as intenções de oração mensal do Papa pelos desafios que a humanidade e a missão da Igreja enfrentam; "Reza cada dia", com um ritmo de oração que propõe três momentos diários; e "Reza em rede", que é um espaço onde os usuários (entre eles o Papa Francisco) podem partilhar as suas orações com os outros.

O próprio perfil do Papa Francisco pode ser encontrado clicando no botão ’Papa Francisco’ na seção "Reza em Rede". Fonte: www.vaticannews.va

O Papa Francisco indicou três palavras que podem ajudar a entender a atitude do cristão de coração fechado: "dureza", "obstinação" e "sedução".

Gabriella Ceraso – Cidade do Vaticano

"Cuidai, irmãos, que não se ache em algum de vós um coração transviado pela incredulidade, levando-o a afastar-se do Deus vivo". Esta advertência contida na Carta aos Hebreus, extraída da Primeira Leitura, inspirou a homilia do Papa Francisco ao celebrar a missa esta manhã (17/01/2019) na capela da Casa Santa Marta.

Todos os membros da comunidade cristã, afirmou o Pontífice, padres, freiras e bispos, correm o risco de ficar com o coração endurecido. Mas o que significa para nós esta advertência?

O Papa indicou três palavras, extraídas sempre da Primeira Leitura, que podem nos ajudar a entender: "dureza", "obstinação" e "sedução".

Cristãos pusilânimes, sem a coragem de viver

Um coração endurecido é um coração “fechado”, “que não quer crescer, se defende, se fecha". Na vida, isso pode acontecer em decorrência de inúmeros fatores, por exemplo, uma “forte dor”, porque “os golpes endurecem a pele", notou Francisco. Aconteceu com os discípulos de Emaús e também com Tomé. E quem permanece nesta atitude negativa é "pusilânime", e um "coração pusilânime é perverso": Podemos nos questionar: eu tenho o coração duro, tenho o coração fechado? Eu deixo o meu coração crescer? Tenho medo que cresça? E se cresce sempre com as provações, com as dificuldades, se cresce como crescemos todos nós quando crianças: aprendemos a caminhar caindo, do engatinhar ao caminhar quantas vezes caímos! Mas se cresce com as dificuldades. Dureza e também fechamento. Mas quem permanece nisto… “Quem são, padre?” São os pusilânimos. A pusilanimidade é uma atitude ruim no cristão, lhe falta a coragem de viver. Ele se fecha…

Cristãos obstinados

A segunda palavra é "obstinação": "animai-vos uns aos outros, dia após dia, para que nenhum de vós se endureça" está escrito na Carta aos Hebreus e é a acusação que Estevão faz àqueles que o lapidarão. A obstinação é "a teimosia espiritual ": um coração obstinado – explicou Francisco - é "rebelde", é "teimoso", está fechado no próprio pensamento, não “aberto ao Espírito Santo". É o perfil dos “ideólogos”, também orgulhosos e soberbos: A ideologia é uma obstinação. A Palavra de Deus, a graça do Espírito Santo, não é ideologia: é vida que o faz crescer, ir avante e também abrir o coração aos sinais do Espírito, aos sinais dos tempos. Mas a obstinação é também orgulho, é soberba. A teimosia, aquela teimosia que faz muito mal: fechados de coração, duros – primeira palavra – são os pusilânimes; os teimosos, os obstinados, como diz o texto, são os ideólogos. Mas eu tenho um coração teimoso? Cada um pense. Eu sou capaz de ouvir as outras pessoas? E se penso diversamente, dizer: “Mas eu penso assim…” Sou capaz de dialogar? Os obstinados não dialogam, não sabem, porque se defendem sempre com as ideias, são ideólogos. E as ideologias quanto mal fazem para o povo de Deus, quanto mal! Porque fecham a atividade do Espírito Santo.

Cristãos escravos da sedução

A última palavra sobre a qual o Papa reflete é a "sedução", a sedução do pecado, obra do diabo, o “grande sedutor”, “um grande teólogo, mas sem fé, com ódio", o qual quer "entrar e dominar" o coração e sabe como fazê-lo. Então, conclui o Papa, um “coração perverso é aquele que se deixa conquistar pela sedução e a sedução o leva à obstinação, ao fechamento e a tantas outras coisas": E com a sedução ou você se converte e muda de vida, ou tenta fazer pactos: um pouco aqui e um pouco ali. “Sim, sim, eu sigo o Senhor, mas eu gosto desta sedução, mas um pouco...” E você começa a fazer uma vida cristã dupla. Para usar a palavra do grande Elias ao povo de Israel naquele momento: “Vocês mancam com as duas pernas”. Mancar com as suas pernas, sem ter uma firme. É a vida de pactos: “Sim, eu sou cristão, sigo o Senhor, sim, mas este eu o deixo entrar …”. E assim são os mornos, aqueles que sempre fazem pactos: cristãos de pactos. Também nós muitas vezes fazemos isso: o pacto. Quando o Senhor nos indica a estrada, também com os mandamentos, com a inspiração do Espírito Santo, mas eu gosto de outra coisa e busca o modo de caminhar nos dois trilhos, mancando com as duas pernas.

A invocação final do Papa é para que o Espírito Santo nos ilumine para que ninguém tenha um coração perverso: "um coração duro, que o leva à pusilanimidade; um coração obstinado que o leva à rebelião; um coração seduzido, escravo da sedução, que o leva a um cristianismo de pacto”. Fonte: www.vaticannews.va

Na expressão "Abbà", Pai, concentra-se toda a novidade do Evangelho disse o Papa Francisco em sua catequese. Nas primeiras palavras do "Pai Nosso", encontramos imediatamente a novidade radical da oração cristã.

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

“Basta evocar esta expressão - Abbà – para que se desenvolva uma oração cristã. (...) Nesta invocação há uma força que atrai todo o resto da oração". E para rezar bem, é preciso ter um coração de criança.

Dando continuidade a sua série de catequeses sobre a oração do Pai Nosso, o Papa inspirou-se nesta quarta-feira na Carta de São Paulo aos Romanos 8, 14-16 para falar sobre nossa filiação divina: “hoje partimos da observação de que, no Novo Testamento, a oração parece querer chegar ao essencial, até concentrar-se em uma única palavra: Abbà, Pai”. Nesta invocação afirmou, dirigindo-se aos 7 mil fiéis presentes na Sala Paulo VI -  concentra-se toda a novidade do Evangelho: “ Depois de ter conhecido Jesus e ouvido sua pregação, o cristão não considera Deus mais como um tirano a temer, não sente mais  medo dele, mas floresce em seu coração a confiança nele: pode falar com o Criador, chamando-o de "Pai". A expressão é tão importante para os cristãos, que muitas vezes é conservada intacta em sua forma original. Paulo conservou intacta 'Abbà'”.

“É raro que no Novo Testamento as expressões aramaicas não são traduzidas para o grego”, observa o Papa. “Temos que imaginar que, nestas palavras em aramaico permanece como que "gravada" a voz do próprio Jesus, "respeitaram o idioma de Jesus". Nas primeiras palavras do "Pai Nosso", encontramos imediatamente a novidade radical da oração cristã”.

Rezar com verdade o Pai Nosso

Se entendermos que não se trata apenas de usar a figura do pai como um símbolo para relacionar ao mistério de Deus, mas  o mundo inteiro de Jesus transvasado no próprio coração, podemos rezar com verdade o “Pai Nosso”:

“Dizer "Abbà" é algo muito mais íntimo, mais comovente do que simplesmente chamar Deus de "Pai". Eis porque alguém propôs traduzir esta palavra aramaica original "Abbà" como "Papai" ou “Babbo" (ndr - em italiano) (...). Nós continuamos a dizer "Pai nosso", mas com o coração somos convidados a dizer "Papai", a ter uma relação com Deus como a de uma criança com o seu papai, que diz "papai" (...).  Na verdade, essas expressões evocam afeto, evocam calor, algo que nos remete no contexto da infância: a imagem de uma criança completamente envolvida pelo abraço de um pai que sente infinita ternura por ele. E por isso, queridos irmãos e irmãs, para rezar bem é preciso chegar a ter um coração de criança. Para rezar bem, não um coração autossuficiente. Assim não se pode rezar bem. Mas como uma criança nos braços de seu Pai, seu papai.”

Deus conhece somente amor

 Mas são os Evangelhos no entanto – completa o Papa - a nos apresentarem melhor o sentido desta palavra. O "Pai Nosso"  ganha sentido e cor se aprendemos a rezá-lo depois de ter lido a parábola do Pai misericordioso (cf. Lc 15,11-32): “Imaginemos esta oração pronunciada pelo filho pródigo, depois de ter experimentado o abraço de seu pai, que o havia esperado por um tempo, um pai que não recorda as palavras ofensivas que ele havia dito, um pai que agora o faz perceber simplesmente a falta que sentiu dele.  Então descobrimos como aquelas palavras ganham vida, ganham força. E nos perguntamos: como é possível que Tu, ó Deus, conheça somente o amor? Mas Tu não conheces o ódio? Não, responderia Deus. Eu conheço somente o amor. Onde está em Ti a vingança, a pretensão de justiça, a ira pela sua honra ferida? E Deus responderia: eu conheço somente amor.”

A força da palavra "Abbà" 

A forma como o pai da parábola age – observa o Papa -  “recorda muito o espírito de uma mãe”, pois no geral  são as mães que desculpam seus filhos, que os cobrem, que não rompem a empatia que têm por eles, que continuam a querê-los bem. Mesmo quando não mereceriam mais nada: “Basta evocar esta expressão - Abbà – para que se desenvolva uma oração cristã. (...) Nesta invocação há uma força que atrai todo o resto da oração”:

Deus busca você, mesmo que você não o procure. Deus ama você, mesmo que você tenha se esquecido dele. Deus vê em você uma beleza, ainda que você pense ter desperdiçado inutilmente todos os seus talentos. Deus é não somente um Pai, é como uma mãe que nunca deixa de amar sua criação. Por outro lado, há uma "gestação" que dura para sempre, bem além dos nove meses daquela física, e que gera um circuito infinito de amor."

Ter a confiança de uma criança

Para um cristão, "rezar é simplesmente dizer "Abbà", dizer papai (...), mas com a confiança de uma criança. E acrescentou ao concluir: “Pode acontecer que também a nós aconteça de caminhar por caminhos  distantes de Deus, como aconteceu com o filho pródigo; ou de precipitar em uma solidão que nos faz sentir abandonados no mundo; ou ainda de errar e ser paralisados por um sentimento de culpa. Nesses tempos difíceis,  podemos ainda encontrar a força de rezar, recomeçando pela  palavra "Abbà", mas dita com o sentido terno de uma criança, "Abbá", papai. Ele não esconderá de nós o seu rosto. Recordem bem, talvez alguém tenha dentro de si coisas ruins, coisas que não...não sabe como resolver, tanta amargura por ter feito isto ou aquilo. Ele não esconderá o seu rosto. Ele não se fechará no silêncio. Você diz "Pai" e Ele responderá a você. Você tem um Pai! "Sim, mas eu sou um delinquente". Mas você tem um Pai que ama você. Diga a Ele "Pai" e comece a rezar assim, e no silêncio nos dirá que nunca nos perdeu de vista. "Mas Senhor, eu fiz isto e aquilo". Mas eu nunca perdi você de vista. Eu vi tudo. Mas sempre estive ali, próximo de você, fiel ao meu amor por você. Esta será a resposta. Não esqueçam nunca de dizer Pai. Obrigado!". Fonte: www.vaticannews.va

Na Festa do Batismo do Senhor, o Papa presidiu à Celebração Eucarística na Capela Sistina com o Rito do Batismo de 27 crianças. Francisco destacou o papel dos pais na transmissão da fé, pedindo também a eles para nunca brigarem diante das crianças.

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

Um sinfonia diferente na Capela Sistina na manhã deste domingo, Festa do Batismo do Senhor,  uniu às vozes do Coral Pontifício o choro e o balbuciar das crianças que foram batizadas pelo Santo Padre. Eram 27, acompanhadas pelos pais, padrinhos e madrinhas.

Em sua breve homilia, pronunciada de forma espontânea, o Papa enfatizou a importância do testemunho dos pais na transmissão da fé: É em casa que a fé é transmitida! Vocês pedem a fé à Igreja para os filhos de vocês. E hoje eles receberão o Espírito Santo, o dom da fé em seus corações, na sua alma. Mas esta fé, depois, deve se desenvolver, crescer”.

Papel dos pais na transmissão da fé

Mas antes de estudar a fé na Catequese que as crianças frequentarão mais adiante – chamou a atenção Francisco  – “a fé é transmitida. E este é um trabalho que diz respeito a vocês. É uma missão que vocês recebem hoje. Transmitir a fé. A transmissão da fé e isso se faz em casa. Porque a fé é sempre transmitida em dialeto, o dialeto da família, o dialeto da casa, no ambiente da casa.”

A missão dos pais, portanto, é “transmitir a fé com o exemplo, com as palavras, ensinando a fazer o sinal da cruz, acrescentou. E isso é importante. Há crianças que não sabem fazer o sinal da  cruz (…). Mas o importante, é transmitir a fé com a vida de fé de vocês. Que vejam  o amor dos cônjuges, que vejam a paz da casa, que vejam que Jesus está ali”.

Nunca brigar diante das crianças

 Francisco então, dá um conselho aos pais: “Nunca briguem diante das crianças. Nunca! É normal que os esposos briguem, é normal! Seria estranho se não. Mas façam de forma que eles não ouçam, não vejam. Vocês não sabem a angústia que tem uma criança quando vê os pais brigarem! Permitam-me este conselho, que ajudará vocês a transmitir a fé (…)”.

“É ruim brigar?”, pergunta o Papa. “Nem sempre. É normal, é normal”, responde. “Mas que as crianças não vejam, não escutem, pela angústia”, insiste.

“Mas tenham em mente isto”, reiterou o Pontífice: “A missão de vocês é transmitir a fé a eles, transmiti-la em casa, porque ali se aprende a fé. Depois se estuda na catequese”.

Deixando todos bem à vontade no recinto adornado com afrescos de Michelangelo, Rafael, Perugino e Sandro Botticelli, Francisco disse às mães para não se constrangerem em amamentar as crianças: “Vocês sabem que as crianças se sentem hoje em um ambiente que é estranho: muito calor, estão cobertas. E sentem o ar abafado – isto por primeiro – e depois choram porque tem fome, tem fome. E um terceiro motivo do choro é o “choro preventivo”. Como algo estranho, não? Não sabem o que acontecerá, “mas primeiro eu choro e depois vejamos…”. É uma defesa. Eu digo para vocês: que estejam acomodados. Cuidem para não cobri-los muito, e se choram de fome, os amamentem. Digo às mães: “Amamentem as crianças, tranquilas, o Senhor quer isto”. Porque elas – onde está o perigo?” – também têm uma vocação polifônica. Um começa a chorar, e o outro faz o contraponto, e o outro, e depois isto se torna um coral de choro. E assim sigamos em frente com esta cerimônia em paz, com a consciência que cabe a vocês a transmissão da fé”. Fonte: www.vaticannews.va

"Como Jesus após o seu Batismo, deixemo-nos ser guiados pelo Espírito Santo em tudo o que fazemos. Mas para isso, devemos invocá-lo! Aprendamos a invocar o Espírito Santo com mais frequência, em nossos dias, para poder viver com amor as coisas ordinárias, e assim, torná-las extraordinárias", foi a exortação do Papa Francisco ao final do tradicional encontro dominical na Praça São Pedro.

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

“Renovo a todos o convite para manter viva a memória do próprio Batismo. Ali estão as raízes da nossa vida em Deus; as raízes da nossa vida eterna, que Jesus Cristo nos deu com a sua Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição”.

No Angelus na Festa do Batismo do Senhor, o Papa Francisco voltou a pedir para não esquecermos a data de nosso Batismo: “Que seja uma data guardada em nosso coração para festejá-la todos os anos”, e convidou a invocarmos “com mais frequência o Espírito Santo”, “para poder viver com amor as coisas ordinárias, e assim, torná-las extraordinárias”.

Em sua alocução, o Papa destaca que “a liturgia nos chama a conhecer mais plenamente Jesus” e por isso o Evangelho do dia, “ilustra dois elementos importantes: a relação de Jesus com as pessoas e a relação de Jesus com o Pai”.

Jesus com a multidão

Dirigindo-se aos milhares de peregrinos presentes na Praça São Pedro, o Pontífice chama a atenção para o fato de que todo o povo que estava presente na cena do Batismo “não é apenas um pano de fundo”,  mas “um componente essencial do evento. Antes de mergulhar na água, Jesus "mergulha" na multidão, une-se a ela assumindo plenamente a condição humana, compartilhando tudo, exceto o pecado”.

“Em sua santidade divina, cheia de graça e de misericórdia, disse o Papa, o Filho de Deus se fez carne justamente para tomar sobre si e tirar o pecado do mundo. Assumir as nossas misérias, a nossa condição humana”. Deixando-se batizar por João, Jesus “manifesta a lógica e o sentido de sua missão”:

“Unindo-se ao povo que pede a João o Batismo da conversão, Jesus compartilha dele o profundo desejo de renovação interior. E o Espírito Santo que desce sobre Ele "em forma corpórea, como uma pomba",  é o sinal de que com Jesus inicia um mundo novo, uma "nova criação", da qual fazem parte todos aqueles que acolhem Cristo em sua vida”.

O “amor do Pai, que todos recebemos no dia do nosso Batismo, é uma chama que foi acesa em nosso coração, e requer ser alimentada mediante a oração e a caridade”.

Jesus em comunhão com o Pai

O segundo elemento destacado por Francisco, é a comunhão de Jesus com o Pai, e explica que “o Batismo é o  início da vida pública de Jesus, da sua missão no mundo como enviado do Pai para manifestar a sua bondade e o seu amor pelos homens”:

Tal missão é realizada em constante e perfeita união com o Pai e o Espírito Santo. Também a missão da Igreja e a de cada um de nós, para ser fiel e frutuosa, é chamada a inserir-se na de Jesus. Trata-se de regenerar continuamente na oração a evangelização e o apostolado, para dar um claro testemunho cristão, não segundo nossos projetos humanos, mas segundo o estilo de Deus”.

Viver em coerência com nosso Batismo

A Festa do Batismo do Senhor – recorda o Papa – “é uma ocasião propícia para renovar com gratidão e convicção as promessas do nosso Batismo, comprometendo-nos a viver diariamente em coerência com ele”. E reitera a importância de conhecermos a data de nosso Batismo, guardá-la no coração e festejá-la todos os anos.

Após rezar o Angelus e saudar os fiéis presentes, Francisco recordou que havia batizado um grupo de crianças:

“Esta manhã, de acordo com o costume desta Festa, tive a alegria de batizar um bom grupo de recém-nascidos. Rezemos por eles e por suas famílias. E, nesta ocasião, renovo a todos o convite para manter viva a memória do próprio Batismo. Ali estão as raízes da nossa vida em Deus; as raízes da nossa vida eterna, que Jesus Cristo nos deu com a sua Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição. No Batismo estão as raízes. E nunca esqueçam a data do nosso Batismo”.

Invocar com mais frequência o Espírito Santo

Antes de despedir-se com o tradicional “Bom domingo a todos. Não esqueçam de rezar por mim. Bom almoço e até logo", o Papa pediu para que, a exemplo de Jesus, deixemo-nos guiar pelo Espírito Santo:

“Mas para isso, devemos invocá-lo! Aprendamos a invocar o Espírito Santo com mais frequência em nossos dias, para poder viver com amor as coisas ordinárias, e assim, torná-las extraordinárias.” Fonte: www.vaticannews.va

Francisco inspirou sua homilia na Primeira Leitura, em que o Senhor nos pede concretude no amor.

Debora Donnini – Cidade do Vaticano

Para amar a Deus concretamente, é preciso amar os irmãos, isto é, rezar por eles, simpáticos e antipáticos, inclusive pelo inimigo. Na homilia desta manhã (10/01) na capela da Casa Santa Marta, o Papa fez um forte apelo ao amor. Quem nos dá a força para amar assim é a fé, que vence o espírito do mundo.

O espírito do mundo é mentiroso

A reflexão de Francisco se inspirou na Primeira Carta de São João apóstolo (1Jo 4,19 - 5,4) proposta pela Liturgia do dia. O apóstolo João, de fato, fala de “mundanidade”. Quando diz: “Quem foi gerado por Deus é capaz de vencer o mundo” está falando da “luta de todos dias” contra o espírito do mundo, que é “mentiroso”, é um “espírito de aparências, sem consistência”, enquanto “o Espírito de Deus é verdadeiro”.

“O espírito do mundo é o espírito da vaidade, das coisas que não têm força, que não têm fundamento e que acabarão”, destacou Francisco. Como os doces de Carnaval, os crêpes – chamados em dialeto de “mentiras” – não são consistentes, mas “cheios de ar”, isto é, do espírito do mundo.

O espírito do mundo divide sempre

O apóstolo nos oferece o caminho da concretude do espírito de Deus: dizer e fazer são a mesma coisa. “Se você tem o Espírito de Deus” – recordou o Papa –, fará coisas boas. E o apóstolo João diz uma coisa “cotidiana”: “Quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê”. “Se você não é capaz de amar algo que vê, como conseguirá amar algo que não vê? Isso é a fantasia”, destacou o Papa, exortando a amar “o que se vê, se pode tocar, que é real. E não as fantasias, que não se veem”.

Se você não é capaz de amar a Deus no concreto, não é verdade que você ama a Deus. E o espírito do mundo é um espírito de divisão e quando se infiltra na família, na comunidade, na sociedade sempre cria divisões: sempre. E as divisões crescem e vêm o ódio e a guerra … João vai além e diz: “Se alguém diz ‘Amo a Deus', mas entretanto odeia o seu irmão, é um mentiroso”, isto é, é filho do espírito do mundo, que é pura mentira, pura aparência. E isso é algo sobre o qual nos fará bem refletir: eu amo a Deus? Mas vamos fazer uma comparação e ver como você ama o seu irmão: vamos ver como você o ama.

O Papa então indicou três sinais que indicam que não amo o irmão. Antes de tudo, Francisco exortou a rezar pelo próximo, também por aquela pessoa que é antipática e sei que não me quer bem, também por aquela que me odeia, pelo inimigo, como disse Jesus. Se não rezo, “é um sinal que você não ama”:

O primeiro sinal, pergunta que todos devemos fazer: eu rezo pelas pessoas? Por todas, concretas, as que são simpáticas e antipáticas, por aquelas amigas e não são amigas. Primeiro. Segundo sinal: quando eu sinto dentro de mim sentimentos de ciúme, de inveja e quero desejar o mal ou não... é um sinal que não ama. Pare ali. Não deixar crescer esses sentimentos: são perigosos. Não deixá-los crescer. E depois o sinal mais cotidiano de que eu não amo o próximo e, portanto, não posso dizer que amo a Deus, é a fofoca. Vamos colocar no coração e na cabeça: se eu faço fofocas, não amo a Deus porque com as fofocas estou destruindo aquela pessoa. As fofocas são como balas de mel, que são saborosas, uma chama a outra e depois o estômago se consuma, com tantas balas... Porque é bom, é “doce” fofocar, parece uma coisa bela, mas destrói. E este é um sinal de que você não ama.

A necessidade da fé

Se uma pessoa deixa de fofocar na sua vida, “eu diria que é muito próxima a Deus”, porque – explicou Francisco – não fofocar “protege o próximo, protege Deus no próximo”.

E o espírito do mundo se vence com este espírito de fé: acreditar que Deus está no meu irmão, na minha irmã. A vitória que venceu o mundo é a nossa fé. Somente com tanta fé é possível percorrer esta estrada, não com pensamentos humanos de bom senso … não, não: não são necessários. Ajudam, mas não servem nesta luta. Somente a fé nos dará a força para não fofocar, para rezar por todos, inclusive pelos inimigos e de não deixar crescer os sentimentos de ciúme e de inveja. O Senhor, com este trecho da Primeira Carta de São João apóstolo, nos pede concretude no amor. Amar a Deus: mas se você não ama seu irmão, não pode amar a Deus. E se você diz amar o seu irmão, mas na verdade não o ama, o odeia, você é um mentiroso. Fonte: www.vaticannews.va

"Rezar é desde agora a vitória sobre a solidão e o desespero. É como ver cada fragmento da criação que fervilha no torpor de uma história que às vezes não entendemos o por quê. Mas está em movimento, no caminho, e no final de cada estrada há um Pai que espera por tudo e todos com os braços bem abertos”. Deus sempre responde à nossa oração, disse o Papa em sua catequese.

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

“Podemos estar certos de que Deus responderá. Talvez tenhamos que insistir por toda a vida, mas Ele responderá.”

Dando sequência à sua série de catequeses sobre o Pai Nosso, o Papa falou na Audiência Geral desta quarta-feira sobre a oração perseverante, inspirando-se na passagem de São Lucas 11, 9-13: “Batei e vos será aberto”.

Dirigindo-se aos 7 mil peregrinos presentes na Sala Paulo VI, Francisco começa recordando  que o evangelista descreve “a figura de Cristo em uma atmosfera densa de oração. Nele estão contidos os três hinos que marcam ao longo do dia a oração da Igreja: o Benedictus, o Magnificat e o Nunc dimittis”.

“ Jesus é sobretudo um orante ”

“Na catequese sobre o Pai Nosso vemos Jesus como orante. Jesus reza", enfatiza o Pontífice. Cada passo na sua vida “é como que movido pelo sopro do Espírito que o guia em todas as suas ações”. E o Papa recorda a Transfiguração, o batismo no Jordão, a intercessão por Pedro. Nas decisões mais importantes – observa -  Jesus “retira-se frequentemente para a solidão, para rezar. Até a morte do Messias está mergulhada em um clima de oração, tanto que as horas da Paixão parecem marcadas por uma calma surpreendente.”

Jesus consola as mulheres, reza pelos que o crucificam, promete o Paraíso ao bom ladrão, expira dizendo: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”:

“ A oração de Jesus parece abranda as emoções mais violentas, os desejos de vingança, reconcilia o homem com seu mais amargo inimigo: a morte ”

Dirigir-se a Deus como Pai

É no Evangelho de Lucas – chama a atenção o Papa – que um de seus discípulos pede que o próprio Jesus os ensine a rezar (...). Também nós podemos dizer isto ao Senhor: ensina-me a rezar, para que também eu possa rezar".

E deste pedido dos discípulos – explica – “nasce um ensinamento bastante extenso, através do qual Jesus explica aos seus com que palavras e com que sentimentos devem dirigir-se a Deus”. E “a primeira parte deste ensinamento é justamente a oração ao Pai (...). O cristão dirige-se a Deus chamando-o antes de tudo de 'Pai'". Nós podemos estar em oração "somente com esta palavra, Pai, e sentir que temos um Pai, não um patrão, nem um padrinho, mas um pai".

Mas neste ensinamento que Jesus dá aos seus discípulos – prossegue Francisco - é interessante insistir em algumas instruções que coroam o texto da oração. Para dar confiança à oração, Jesus explica algumas coisas: “Elas insistem nas atitudes do crente que reza”.

E ilustra isso com “a parábola do amigo inoportuno que vai perturbar toda uma família que dorme, porque de forma inesperada uma pessoa chegou de uma viagem e não tem pão para oferecer a ela. Jesus explica que se ele não se levantar para dar o pão porque é seu amigo, ao menos se levantará por causa da importunação.  "Com isto, Jesus quer ensinar a rezar, a insistir na oração".  E ilustra também com “o exemplo de um pai que tem um filho faminto: "Qual pai entre vós - pergunta Jesus - se o filho lhe pedir um peixe, lhe dará uma cobra em vez de peixe?".

A oração sempre transforma a realidade

Com estas parábolas – diz o Papa – Jesus faz entender que Deus responde sempre, que nenhuma oração fica sem ser ouvida, “que Ele é Pai e não esquece seus filhos que sofrem”:

Certamente, essas afirmações nos colocam em crise, porque muitas das nossas orações parecem não ter resultado algum. Quantas vezes pedimos e não obtemos -  todos temos experiência disto - batemos e encontramos uma porta fechada? Jesus recomenda a nós, nesses momentos, para insistir e a não nos darmos por vencidos. A oração sempre transforma a realidade, a oração sempre transforma, sempre, transforma a realidade: se não mudam as coisas à nossa volta, pelo menos muda a nós, muda o nosso coração. Jesus prometeu o dom do Espírito Santo a todo homem e mulher que reza”.

Perseverar na oração, Deus responde sempre

“Podemos estar certos – diz o Francisco -  de que Deus responderá. A única incerteza – ressalta - é devida aos tempos, mas não duvidamos que Ele responderá”:

“Talvez tenhamos que insistir por toda a vida, mas Ele responderá. Ele o prometeu: Ele não é como um pai que dá uma serpente em vez de um peixe. Não há nada de mais certo: o desejo de felicidade que todos nós trazemos no coração, um dia se cumprirá. Jesus diz: "Não fará Deus justiça aos seus eleitos, que clamam dia e noite a ele?" Sim, fará justiça, nos escutará.  Que dia de glória e ressurreição será!”

“ Rezar é desde agora a vitória sobre a solidão e o desespero ”

"É como ver cada fragmento da criação que fervilha no torpor de uma história que às vezes não entendemos  o por quê. Mas está em movimento, no caminho, e no final de cada estrada, da coração, de um tempo que estamos rezando, ao fim da vida, há um Pai que espera por tudo e todos com os braços bem abertos. Olhemos para este Pai”. Fonte: www.vaticannews.va

“Este é o mistério do amor”, esclareceu Francisco, “Deus nos amou por primeiro. Ele deu o primeiro passo”. Um passo “em direção à humanidade que não sabe amar”, que “precisa do carinho de Deus para amar”, do testemunho de Deus.

Alessandro Di Bussolo - Cidade do Vaticano

O Papa Francisco celebrou a missa, nesta terça-feira (08/01), na capela da Casa Santa Marta. Deus “dá o primeiro passo” e ama “a humanidade que não sabe amar”, porque ele tem compaixão e misericórdia, enquanto nós mesmo sendo bons, muitas vezes não entendemos as necessidades dos outros e permanecemos indiferentes, “talvez porque o amor de Deus” não entrou em nossos corações.

Foi o que disse o Papa Francisco na homilia da missa celebrada na manhã desta terça-feira (07/01/2019), na Casa Santa Marta, oferecida ao eterno descanso do arcebispo Giorgio Zur, núncio apostólico emérito na Áustria, que viveu ali naquela casa e faleceu “ontem à meia-noite”, disse o Papa. O pontífice se inspirou na liturgia de hoje, desde a exortação ao amor, da Primeira Carta de São João Apóstolo, ao Evangelho de Marcos, sobre a multiplicação dos pães.

Deus deu o primeiro passo e nos amou primeiro

 “Amemo-nos uns aos outros, porque o amor” vem de Deus, recordou o Papa, citando as palavras de São João na Primeira Leitura. O apóstolo explica “como o amor de Deus se manifestou em nós”: “Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que tenhamos a vida através dele”.

“Este é o mistério do amor”, esclareceu Francisco, “Deus nos amou por primeiro. Ele deu o primeiro passo”. Um passo “em direção à humanidade que não sabe amar”, que “precisa do carinho de Deus para amar”, do testemunho de Deus. “Este primeiro passo que Deus fez é o seu Filho: ele o enviou para nos salvar e dar sentido à vida, para nos renovar, para nos recriar”.

Jesus teve compaixão da multidão

A seguir, Pontífice falou da passagem do Evangelho de Marcos sobre a multiplicação dos pães e dos peixes. “Por que Deus fez isso?”, perguntou. Por “compaixão”. A compaixão da grande multidão de pessoas que vê descendo do barco, às margens do Lago de Tiberíades, porque estavam sozinhas, sublinhou o Papa Francisco: “Eram como ovelhas que não têm pastor”.

O coração de Deus, o coração de Jesus se comove, e vê, vê aquelas pessoas, e não pode ficar indiferente. O amor é inquieto. O amor não tolera a indiferença. O amor tem compaixão. Mas compaixão significa colocar o coração em risco; significa misericórdia. Jogar o próprio coração para os outros: isso é amor. O amor é colocar o coração em risco para os outros.

Os discípulos: que se arranjem para encontrar comida

Depois, o Papa descreveu a cena de Jesus que ensina “muitas coisas” ao povo e os discípulos acabam ficando entediados, “porque Jesus sempre dizia as mesmas coisas”. E enquanto Jesus ensina “com amor e compaixão”, talvez comecem a “falar entre eles”. No final, eles olham para o relógio: “Mas é tarde ...”.

Francisco ainda citou o evangelista Marcos: “Mas Mestre, o lugar é deserto e agora é tarde. Mandem eles embora, de modo que, indo para os povoados vizinhos, possam comprar comida”. Praticamente dizem “para eles se virar” e que comprem o pão deles. “Mas temos certeza”, comentou o Pontífice, “de que sabiam que tinham pão para eles, e queriam proteger isso. É a indiferença”:

Aos discípulos não interessava as pessoas: interessava Jesus, porque o queriam bem. Não eram maus: eram indiferentes. Eles não sabiam o que era amar. Eles não sabiam o que era compaixão. Eles não sabiam o que era indiferença. Eles tiveram que pecar, trair o Mestre, abandonar o Mestre, para entender o cerne da compaixão e da misericórdia. E Jesus, a resposta é pungente: "Dai-lhes vós mesmos de comer". Tomem conta deles. Esta é a luta entre a compaixão de Jesus e a indiferença, a indiferença que se repete na história sempre, sempre ... Tantas pessoas que são boas, mas não compreendem as necessidades dos outros, não são capazes de compaixão. São boas pessoas, talvez porque não entrou o amor de Deus em seus corações ou não o deixaram entrar.

A fotografia das pessoas que desviam o olhar do sem-teto

E aqui o Papa Francisco descreve uma fotografia que está nas paredes da Esmolaria Apostólica: "um clique espontâneo que fez um bravo jovem romano que a ofereceu à Esmolaria". O fez Daniele Garofani, hoje fotógrafo do "L'Osservatore Romano", retornando de um serviço de distribuição de refeições para os sem-teto junto com o cardeal Krajewski.

É uma noite de inverno, “se percebia pela maneira de vestir das pessoas" - explica o Papa - que saíam "de um restaurante". "Pessoas bem cobertas" e satisfeitas: "haviam comido, estavam entre amigos".

E lá – prossegue Francisco na descrição da foto - "havia um homem sem-teto no chão, que faz assim ..." (e imita o gesto da mão estendida para pedir esmola). O fotógrafo, acrescenta ainda o Papa, "foi capaz de tirar a fotografia no momento em que as pessoas desviam o olhar, para que os olhos não se cruzem". Isto, comentou Francisco, "é a cultura da indiferença. Isto é o que os apóstolos fizeram". "Deixe-os, que vão para o campo, no escuro, com fome. Que eles se arranjem: é problema deles". "Temos o que comer: cinco pães e dois peixes para nós".

O oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença

 "O amor de Deus sempre vai primeiro - explica o Papa - é amor de compaixão, de misericórdia". É verdade que o oposto do amor é o ódio, mas em tantas pessoas não existe um "ódio consciente":

O oposto mais cotidiano ao amor de Deus, à compaixão de Deus, é a indiferença: a indiferença. "Eu estou satisfeito, não me falta nada. Tenho tudo, assegurei esta vida, e também a eterna, porque vou à Missa todos os domingos, sou um bom cristão". "Mas, saindo do restaurante, eu olho para outra parte". Pensemos: este Deus que dá o primeiro passo, que tem compaixão, que tem misericórdia, e tantas vezes nós, o nosso comportamento é a indiferença. Rezemos ao Senhor para que cure a humanidade, começando por nós: que o meu coração seja curado dessa doença que é a cultura da indiferença. www.vaticannews.va

Na homilia da Missa celebrada na Capela da Casa Santa Marta, o Papa Francisco recorda que Deus se tornou "concreto, nascido de uma mulher concreta, viveu uma vida concreta, morreu de morte concreta e nos pediu para amar nossos irmãos e irmãs concretos".

Giada Aquilino - Cidade do Vaticano

Os mandamentos de Deus são "concretude": este portanto, é  o "critério" do cristianismo, não as "belas palavras". Foi o que afirmou  o Papa na homilia da missa matutina na Casa Santa Marta, a primeira após as festividades de Natal.

Rezando para que os Santos, "os loucos da concretude" nos ajudem a "caminhar" neste caminho e a "discernir" as coisas concretas que  "o Senhor quer" das "fantasias" e ilusões dos  "falsos profetas “, Francisco inspirou-se na Primeira Carta de São João Apóstolo: tudo o que pedimos, recebemos de Deus, sob condição - explica o Pontífice - que observemos seus mandamentos e façamos o que é de seu agrado.

Uma porta aberta

O acesso a Deus, portanto, é "aberto", continua o Papa, e a "chave" é precisamente aquela sugerida pelo apóstolo: acreditar "em nome de seu filho Jesus Cristo" e nos amar "uns aos outros":  somente assim podemos pedir "o que queremos", com "coragem", "descaradamente", acrescenta Francisco:

Acreditar que Deus, o Filho de Deus veio na carne, tornou-se um de nós. Esta é a fé em Jesus Cristo: um Jesus Cristo, um Deus concreto, que foi concebido no ventre de Maria, que nasceu em Belém, que cresceu como uma criança, que fugiu para o Egito, que retornou a Nazaré, que aprendeu a ler com o pai, a trabalhar, a ir em frente e depois a pregação ... concreto: um homem concreto, um homem que é Deus mas homem. Não é Deus disfarçado de homem. Não. Homem, Deus que se fez homem. A carne de Cristo. Essa é a concretude do primeiro mandamento. O segundo também é concreto. Amar, amar-nos uns aos outros, amor concreto, não amor de fantasia: "Eu te quero bem, ah quanto te  quero bem" e depois, com a minha língua, eu te destruo, com a fofoca ... Não, não, não. Amor concreto. Ou seja, os mandamentos de Deus são concretos e o critério do cristianismo é a  concretude, não as ideias e as belas palavras ... Concretude. E esse é o desafio.

Vigilância espiritual

O apóstolo João, um “apaixonada da encarnação de Deus", enfatiza o Papa, exorta então a "examinar" os espíritos, isto é, explica  que quando vem "uma ideia sobre Jesus, sobre as pessoas, sobre fazer alguma coisa, sobre  pensar que a redenção segue por esse caminho”, esta inspiração deve ser examinada. A vida do cristão é, em última análise, concretude na fé em Jesus Cristo e na caridade, mas também é "vigilância espiritual", acrescenta ele:

A vida do cristão é concretude na fé em Jesus Cristo e na caridade, mas também é luta, porque sempre se apresentam ideias ou falsos profetas que oferecem a você um Cristo "soft", sem tanta carne e o  amor ao próximo é um pouco relativo ... "Sim, estes sim que estão do meu lado, mas aqueles, não ...".

Os falsos profetas

A exortação do Pontífice é, portanto, acreditar em Cristo que "veio na carne", e acreditar no "amor concreto" e a discernir, segundo a grande verdade da "encarnação do Verbo" e do "amor concreto", para compreender se os "espíritos" - "isto é, a inspiração",  vêm "verdadeiramente de Deus", porque "muitos falsos profetas vieram ao mundo": o diabo – reitera o Papa -  sempre tenta "nos afastar de Jesus, do permanecer em Jesus”,  por isso, é necessária “a vigilância espiritual".

Para além dos pecados cometidos, reflete Francisco, o cristão "no final do dia deve tomar dois, três, cinco minutos" para se perguntar o que aconteceu em seu "coração", que inspiração ou quem sabe até mesmo que "loucura do Senhor" lhe surgiu: porque "o Espírito às vezes nos impele para a loucura, mas para as grandes loucuras de Deus".

Como por  exemplo - relata o Papa -  aquela de um homem - presente na Missa de hoje - que "há mais  de 40 anos deixou a Itália para ser um missionário entre os leprosos" no Brasil, ou aquela de Santa Francesca Cabrini, que estava sempre "em viagem" para "cuidar dos migrantes". O convite, portanto, é o de "não ter medo" e discernir:

Quem pode me ajudar a discernir? O povo de Deus, a Igreja, a unanimidade da Igreja, o irmão, a irmã que tem o carisma para nos ajudar a ver claramente. Por isso é importante para o cristão a conversa espiritual com pessoas de autoridade espiritual. Não é necessário ir ao Papa ou ao bispo para ver se o que sinto é bom, mas há tantas pessoas, sacerdotes, religiosas, leigos, que têm essa capacidade de nos ajudar a ver o que acontece em meu espírito, para não errar. Jesus teve que fazer isso no começo de sua vida quando o diabo o visitou no deserto e lhe propôs três coisas, que não estavam de acordo com o Espírito de Deus e Ele rejeitou o diabo com a Palavra de Deus. Se a Jesus aconteceu aquilo,  também conosco, também conosco. Não ter medo.

A disciplina da Igreja

Por outro lado, reflete Francisco, mesmo no tempo de Jesus "havia pessoas com boa vontade", mas que pensavam que o caminho de Deus era "outro": o Papa cita os fariseus, os saduceus, os essênios, os zelotes, "todos tinham a lei em  mãos", mas nem sempre seguiam pelo melhor caminho.  O chamado, portanto,  é  para a "mansidão da obediência”.

Para isto – acrescenta o Papa – “o povo de Deus vai em frente na concretude”, aquela da caridade, da fé, da Igreja: e este “é o sentido da disciplina da Igreja”. Quando a disciplina da Igreja está em tal concretude “ajuda a crescer”, assim evitando “filosofias dos fariseus e dos saduceus”.

É Deus, conclui Francesco, que tornou-se  "concreto, nascido de uma mulher concreta, viveu uma vida concreta, morreu de morte concreta e nos pede para amar os irmãos e as irmãs concretos", ainda que "alguns não sejam fáceis de amar ". Fonte: https://www.vaticannews.va

SANTOS REIS: “Como os Magos, deixemo-nos iluminar pela luz de Jesus”. Papa Francisco.

"Irmãos e irmãs, toda vez que um homem e uma mulher encontra Jesus, muda o caminho, volta para a vida de forma diferente, volta renovado “por outro caminho”, disse Francisco.

 

Mariangela Jaguraba/Bianca Fraccalvieri - Cidade do Vaticano

Após a missa da Solenidade da Epifania do Senhor, celebrada na Basílica de São Pedro, o Papa Francisco rezou a oração mariana do Angelus, deste domingo (06/01).      

“Hoje, Solenidade da Epifania do Senhor, é a festa da manifestação de Jesus, simbolizada pela luz. Nos textos proféticos, esta luz é promessa. Promete-se a luz. Isaías, de fato, se dirige a Jerusalém com essas palavras: «Levante-se, brilhe, pois chegou a sua luz, a glória do Senhor brilha sobre você»”, frisou o Pontífice em sua alocução.

Segundo o Papa, “o convite do profeta a se levantar por que vem a luz aparece surpreendente, porque se insere depois do duro exílio e das inúmeras opressões que o povo havia vivido".

 

Herodes e os escribas têm um coração duro

“Este convite, hoje, ressoa também para nós, que celebramos o Natal de Jesus e nos encoraja a deixar-nos alcançar pela luz de Belém. Também nós fomos convidados a não nos deter nos sinais exteriores do acontecimento, mas a recomeçar dele e percorrer em novidade de vida o nosso caminho de homens e fiéis.”       

 “A luz que o profeta Isaías tinha preanunciado, no Evangelho está presente e foi encontrada. Jesus, nascido em Belém, cidade de Davi, veio para trazer a salvação aos próximos e distantes: a todos. O evangelista Mateus mostra diversas maneiras com as quais se pode encontrar Cristo e reagir à sua presença.”

O Papa destacou que “Herodes e os escribas de Jerusalém têm um coração duro, que se obstina e rejeita a visita daquele Menino. É uma possibilidade, fechar-se para a luz. Eles representam os que, também nos nossos dias, têm medo da vinda de Jesus e fecham o coração aos irmãos e às irmãs que necessitam de ajuda. Herodes tem medo de perder o poder e não pensa no verdadeiro bem das pessoas, mas na própria vantagem pessoal. Os escribas e os chefes do povo têm medo porque não sabem olhar além das próprias certezas, não conseguindo assim colher a novidade que está em Jesus.”

Magos, abertos à novidade

“Bem diferente é a experiência dos Magos. Vindos do Oriente, eles representam todos os povos distantes da fé hebraica tradicional. E mesmo assim, se deixam guiar pela estrela e enfrentam uma longa e arriscada viagem para chegar à meta e conhecer a verdade sobre o Messias. Os Magos estavam abertos à “novidade”, e a eles se revela a maior e mais surpreendente novidade da história: Deus feito homem. Os Magos se prostram diante de Jesus e oferecem dons simbólicos: ouro, incenso e mirra; porque a busca do Senhor implica não somente a perseverança no caminho, mas também a generosidade do coração.”

“Por fim, voltam para a sua terra», e diz o Evangelho que eles voltaram “por outro caminho”, disse Francisco.

“ Irmãos e irmãs, toda vez que um homem e uma mulher encontra Jesus, muda o caminho, volta para a vida de forma diferente, volta renovado “por outro caminho”. ”

"Regressaram “ao seu país” levando dentro de si o mistério daquele Rei humilde e pobre. Podemos imaginar que contaram a todos a experiência vivida: a salvação oferecida por Deus em Cristo é para todos os homens, próximos ou distantes. Não é possível tomar posse daquele Menino: Ele é um dom para todos.”

Deixar-se iluminar pela luz de Jesus

“Também nós, façamos um pouco de silêncio em nosso coração e deixemo-nos iluminar pela luz de Jesus que provém de Belém. Não permitamos aos nossos medos de fechar-nos o coração, mas tenhamos a coragem de abrir-nos a esta luz que é mansa e discreta”, disse ainda o Papa.

“Então, como os Magos, experimentaremos uma grande alegria que não poderemos manter para nós. Que Nos sustente neste caminho a Virgem Maria, estrela que nos conduz a Jesus, e Mãe que mostra Jesus aos Magos e a todos aqueles que se aproximam dele.”

Apelo em prol dos migrantes 

Após a oração mariana do Angelus, o Papa Francisco recordou que há vários dias quarenta e nove migrantes salvos no Mar Mediterrâneo estão a bordo de dois navios de organizações não governamentais, em busca de um porto seguro onde desembarcar.

“Faço um apelo aos líderes europeus a fim que demostrem solidariedade concreta a essas pessoas.”

Saudação às Igrejas Orientais

A seguir, Francisco lembrou que algumas Igrejas orientais, católicas e ortodoxas, que seguem o Calendário Juliano, celebrarão o Natal, nesta segunda-feira (07/01).

“A elas dirijo minhas cordiais e fraternas saudações no sinal de comunhão entre todos nós cristãos, que reconhecem Jesus como Senhor e Salvador. Um Feliz Natal!”

“A Epifania é também a Jornada Missionária dos Meninos que este ano convida os adolescentes missionários a serem “atletas de Jesus”, para testemunhar o Evangelho na família, na escola e nos lugares de diversão.”

O Papa saudou todos os peregrinos, famílias, paróquias e associações provenientes da Itália e outros países.

Valores da Epifania

Uma saudação especial foi dirigida ao cortejo histórico e folclórico que promove os valores da Epifania e que este ano é dedicado à Região de Abruzzo.

Recordou também o cortejo dos Magos que se realiza em muitas cidades da Polônia com uma grande participação de famílias e associações. Fonte: https://www.vaticannews.va

A liturgia deste domingo leva-nos à manifestação de Jesus como “a luz” que atrai a Si todos os povos da terra. Essa “luz” incarnou na nossa história, a fim de iluminar os caminhos dos homens com uma proposta de salvação/libertação.

No Evangelho, vemos a concretização dessa promessa: ao encontro de Jesus vêm os “Magos”, atentos aos sinais da chegada do Messias, que O aceitam como “salvação de Deus” e O adoram. A salvação, rejeitada pelos habitantes de Jerusalém, torna-se agora uma oferta universal.

A segunda leitura apresenta o projeto salvador de Deus como uma realidade que vai atingir toda a humanidade, juntando judeus e pagãos numa mesma comunidade de irmãos – a comunidade de Jesus.

MENSAGEM

Os numerosos detalhes do relato demonstram, claramente, que o propósito de Mateus não é de tipo histórico, mas catequético.

Notemos, em primeiro lugar, a insistência de Mateus no facto de Jesus ter nascido em Belém de Judá (cf. Mt 2,1.5.6.7). Para entender esta insistência temos de recordar que Belém era a terra natal do rei David. Afirmar que Jesus nasceu em Belém é ligá-l’O a esses anúncios proféticos que falavam do Messias como o descendente de David que havia de nascer em Belém (cf. Miq 5,1.3; 2Sam 5,2) e restaurar o reino ideal de seu pai. Com esta nota, Mateus quer aquietar aqueles que pensavam que Jesus tinha nascido em Nazaré e que viam nisso um obstáculo para O reconhecerem como Messias.

Notemos, em segundo lugar, a referência a uma estrela “especial” que apareceu no céu por esta altura e que conduziu os “Magos” para Belém. A interpretação desta referência como indicação histórica levou alguém a cálculos astronômicos complicados para concluir que, no ano 6 a.C., uma conjunção de planetas explicaria o fenômeno luminoso da estrela refulgente mencionada por Mateus; outros andaram à procura do cometa que, por esta época, devia ter sulcado os céus do Médio Oriente … Na realidade, não podemos entender esta referência como histórica, mas antes como catequese sobre Jesus. Segundo a crença popular, o nascimento de uma personagem importante era acompanhado da aparição de uma nova estrela. Também a tradição judaica anunciava o Messias como a estrela que surge de Jacob (cf. Nm 24,17). É com estes elementos que a imaginação de Mateus, posta ao serviço da catequese, vai inventar a “estreia”. Mateus está, sobretudo, interessado em fornecer aos cristãos da sua comunidade argumentos seguros para rebater aqueles que negavam que Jesus era o Messias esperado.

Temos, ainda, as figuras dos “Magos”. A palavra grega “magos”, usada por Mateus, abarca um vasto leque de significados e é aplicada a personagens muito diversas: mágicos, feiticeiros, charlatães, sacerdotes persas, propagandistas religiosos … Aqui, poderia designar astrólogos mesopotâmios, entrados em contato com o messianismo judaico. Seja como for, esses “Magos” representam, na catequese de Mateus, esses povos estrangeiros de que falava a primeira leitura (cf. Is 60,1-6), que se põem a caminho de Jerusalém com as suas riquezas (ouro e incenso) para encontrar a luz salvadora de Deus que brilha sobre a cidade. Jesus é, na opinião de Mateus e da catequese da Igreja primitiva, essa luz.

Além de uma catequese sobre Jesus, este relato recolhe, de forma paradigmática, duas atitudes que se vão repetir ao longo de todo o Evangelho: o povo de Israel rejeita Jesus, enquanto que os “Magos” do oriente (que são pagãos) O adoram; Herodes e Jerusalém “ficam perturbados” diante da notícia do nascimento de Jesus e planeiam a sua morte, enquanto que os pagãos sentem uma grande alegria e reconhecem-n’O como o seu Senhor.

Mateus anuncia, aqui, que Jesus vai ser rejeitado pelo seu povo; mas vai ser acolhido pelos pagãos, que entrarão a formar parte do novo Povo de Deus. O itinerário seguido pelos “Magos” reflete o processo que os pagãos seguiram para encontrar Jesus: estão atentos aos sinais (estrela), percebem que Jesus traz a salvação, põem-se decididamente a caminho para O encontrar, perguntam aos judeus – que conhecem as Escrituras – o que fazer, encontram Jesus e adoram-n’O. É muito possível que um grande número de pagano-cristãos da comunidade de Mateus descobrisse neste relato as etapas do seu próprio caminho em direção a Jesus.

ATUALIZAÇÃO (EVANGELHO - Mt 2,1-12)

Em primeiro lugar, meditemos nas atitudes das várias personagens que Mateus nos apresenta em confronto com Jesus: os “Magos”, Herodes, os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo … Diante de Jesus, eles assumem atitudes diversas que vão desde a adoração (os “Magos”) até à rejeição total (Herodes), passando pela indiferença (os sacerdotes e os escribas: nenhum deles se preocupou em ir ao encontro desse Messias que eles conheciam bem das Escrituras). Identificamo-nos com algum destes grupos? Não é fácil “conhecer as Escrituras”, como profissionais da religião e, depois, deixar que as propostas e os valores de Jesus nos passem ao lado?

Os “Magos” são apresentados como os “homens dos sinais”, que sabem ver na “estrela” o sinal da chegada da libertação. Somos pessoas atentas aos “sinais” – isto é, somos capazes de ler os acontecimentos da nossa vida e da história do mundo à luz de Deus? Procuramos perceber nos “sinais” a vontade de Deus?

Impressiona também, no relato de Mateus, a “desinstalação” dos “Magos”: viram a “estreia”, deixaram tudo, arriscaram tudo e vieram procurar Jesus. Somos capazes da mesma atitude de desinstalação, ou estamos demasiado agarrados ao nosso sofá, ao nosso colchão, à nossa televisão, à nossa aparelhagem, à nossa internet? Somos capazes de deixar tudo para responder aos apelos que Jesus faz através dos irmãos?

Os “Magos” representam os homens de todo o mundo que vão ao encontro de Cristo e que se prostram diante d’Ele. É a imagem da Igreja, essa família de irmãos, constituída por gente de muitas cores e raças, que aderem a Jesus e que O reconhecem como “o Senhor”.

LEIA A REFLEXÃO NA ÍNTEGRA. CLIQUE NO LINK AO LADO- Evangelho do Dia.

A oração feita em silêncio, do fundo do coração, e que gera mudanças na vida, e não aquela que desperdiça palavras. Na Audiência Geral desta quarta-feira, o Papa Francisco deu continuidade a seu ciclo de catequeses sobre a oração do Pai Nosso.

Jackson Erpen – Cidade Vaticano

Na primeira Audiência Geral do ano de 2019, o Papa deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre o Pai Nosso, iniciado em 5 de dezembro, inspirando-se  nesta quarta-feira na passagem de Mateus 6, 5-6.

O Evangelho de Mateus – explicou Francisco aos 7 mil presentes na Sala Paulo VI – coloca o texto do “Pai Nosso” em um ponto estratégico, no centro do Sermão da Montanha (Mt 6, 9-13). Reunidos em volta de Jesus no alto da colina, uma “assembleia heterogênea” formada pelos discípulos mais íntimos e por uma grande multidão de rostos anônimos é a primeira a receber a entrega do Pai Nosso.

O Evangelho é revolucionário

Neste “longo ensinamento” chamado “Sermão da Montanha”, de fato, Jesus condensa os aspectos fundamentais de sua mensagem:

 “Jesus coroa de felicidade uma série de categorias de pessoas que em seu tempo - mas também no nosso! – não eram muito consideradas. Bem-aventurados os pobres, os mansos, os misericordiosos, os humildes de coração ... Esta é a revolução do Evangelho. Onde está o Evangelho há uma revolução. O Evangelho não deixa quieto, nos impulsiona, é revolucionário".

"Todas as pessoas capazes de amar, os pacíficos que até então ficaram à margem da história, são, ao contrário, construtores do Reino de Deus”. É como se Jesus  - explica o Papa - estivesse dizendo: “em frente, vocês que trazem no coração o mistério de um Deus que revelou sua onipotência no amor e no perdão!”

Desta porta de entrada, que inverte os valores da história, brota a novidade do Evangelho:

A lei não deve ser abolida, mas precisa de uma nova interpretação, que a leve de volta ao seu significado original. Se uma pessoa tem um bom coração, predisposto a amar, então compreende que cada palavra de Deus deve ser encarnada até suas últimas consequências. O amor não tem limites: pode-se amar o próprio cônjuge, o próprio amigo e até mesmo o próprio inimigo com uma perspectiva completamente nova”.

Este é “o grande segredo que está na base de todo o Sermão da Montanha: sejam filhos de vosso Pai que está nos céus”, disse o Pontífice, chamando a atenção para o fato de que em um primeiro momento, estes capítulos do Evangelho de Mateus podem parecer um discurso moral, evocar uma ética tão exigente a ponto de parecer impraticável. Mas pelo contrário, “descobrimos que são sobretudo um discurso teológico:

“O cristão não é alguém que se esforça para ser melhor do  que os outros: ele sabe que é pecador como todos. O cristão é simplesmente o homem que para diante da nova Sarça Ardente, da revelação de um Deus que não traz o enigma de um nome impronunciável, mas que pede a seus filhos que o invoquem com o nome de "Pai", para deixar-se  renovar por seu poder e de  refletir um raio de sua bondade por este mundo tão sedento de bem, tão à espera de boas notícias”.

Coerência cristã

E Jesus – explica o Papa – introduz o ensinamento da oração do “Pai Nosso” distanciando dois grupos de seu tempo, começando pelos hipócritas”, que rezam nas praças  e sinagogas para serem vistos. “Há pessoas – disse o Francisco - que são capazes de tecer orações ateias, sem Deus: fazem isso para serem admiradas pelos homens”, completando:

“E quantas vezes nós vemos o escândalo daquelas pessoas que vão à igreja, estão lá todo o dia, ou vão todos os dias, e depois vivem odiando os outros e falando mal das pessoas. Isto é um escândalo. Melhor não ir à igreja. Viva assim como ateu. Mas se você vai à igreja, viva como filho, como irmão e dá um verdadeiro testemunho. Não um contratestemunho”.

A oração cristã, pelo contrário, não tem outro testemunho crível  senão a própria consciência, onde se entrelaça intensamente um diálogo contínuo com o Pai.

Rezar com o coração

Jesus então, continuou Francisco – “toma distância das orações dos pagãos” - que acreditavam ser ouvidos pela força das palavras. O Papa recorda a cena do Monte Carmelo, onde diferentemente dos sacerdotes de Baal que gritavam, dançavam, pediam tantas coisas, é ao Profeta Elias, que fica calado, que o Senhor se revela:

Os pagãos pensam que falando, falando falando, se reza. Também eu penso aos tantos cristãos que acreditam que rezar – desculpem-me – é falar a Deus como um papagaio. Não! Rezar se faz do coração, de dentro”.

O Pai Nosso – reitera o Santo Padre - “poderia ser também uma oração silenciosa: basta no fundo colocar-se sob o olhar de Deus, recordar-se de seu amor de Pai, e isto é suficiente para serem ouvidos”.

Deus não precisa de sacrifícios para conquistar seu favor

“Que bonito pensar que o nosso Deus não precisa de sacrifícios para conquistar o seu favor! Ele não precisa de nada, nosso Deus: na oração pede somente que tenhamos aberto um canal de comunicação com ele, para nos descobrirmos sempre seus amados filhos”, disse o Papa ao concluir.

Após o resumo da catequese nas diversas línguas, houve a apresentação de um grupo cubano de dança e malabarismo. Fonte: https://www.vaticannews.va

O próprio Jesus nasceu em condição de privação, “não por acaso nem por um incidente”, observou, mas “quis nascer assim, para manifestar o amor de Deus pelos humildes e os pobres e, deste modo, lançar no mundo a semente do Reino de Deus, Reino de justiça, amor e paz”, disse o Papa no Te Deum de ação de graças pelo ano transcorrido.

Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano

“Também durante este ano que chega ao fim, muitos homens e mulheres viveram, e vivem, em condições de escravidão, condições indignas de pessoas humanas”: disse o Papa Francisco no final da tarde desta segunda-feira, 31 de dezembro, no Te Deum – celebração de Ação de Graças – na Basílica de São Pedro, durante as Primeiras Vésperas da Solenidade da Santa Mãe de Deus, Maria, que a Igreja celebra em 1º de janeiro.

No final do ano, a Palavra de Deus acompanha-nos com estes dois versículos do apóstolo Paulo (cf. Gal 4, 4-5). São expressões breves e densas: uma síntese do Novo Testamento que dá sentido a um momento “crítico” como é sempre uma passagem de ano, ressaltou o Pontífice no início da homilia, atendo-se à liturgia das Primeiras Vésperas.

Plenitude do tempo

A primeira expressão que nos sensibiliza, disse Francisco, é “plenitude do tempo”. Assume uma ressonância particular nestas horas finais dum ano solar, em que sentimos ainda mais a necessidade de algo que encha de significado o transcorrer do tempo. Algo, ou melhor, alguém. E este “alguém” veio. Deus enviou-o: é “o seu Filho”, Jesus.

“Celebramos há pouco o seu nascimento: nasceu duma mulher, a Virgem Maria; nasceu sob a Lei, um menino judeu, sujeito à Lei do Senhor.” Mas, como é possível? Como pode ser isto o sinal da “plenitude do tempo”?, questionou o Santo Padre, acrescentando:

“Claro, por enquanto é quase invisível e insignificante, mas, dentro de pouco mais de trinta anos, aquele Jesus desencadeará uma força inaudita, que dura ainda e durará ao longo da história inteira. Esta força chama-se Amor. É o amor que dá plenitude a tudo, mesmo ao tempo; e Jesus é o ‘concentrado’ de todo o amor de Deus num ser humano.”

Para resgatar: fazer sair da escravidão e restituir a liberdade

São Paulo diz, claramente, o motivo porque o Filho de Deus nasceu no tempo, qual é a missão que o Pai Lhe confiou para realizar: nasceu “para resgatar”, frisou o Papa.

“Esta é a segunda palavra que nos sensibiliza: resgatar, isto é – prosseguiu –, fazer sair duma condição de escravidão e restituir à liberdade – à dignidade e à liberdade próprias de filhos.”

A escravidão que o apóstolo tem em mente é a da “Lei”, explicou Francisco, “entendida como um conjunto de preceitos que devem ser observados, uma Lei que certamente educa o homem, é pedagógica, mas não o liberta da sua condição de pecador”; antes, de certo modo “crava-o” a esta condição, impedindo-o de atingir a liberdade do filho, observou.

Convite à reflexão e ao arrependimento

“Deus Pai enviou ao mundo o seu Filho Unigênito para desenraizar do coração do homem a escravidão antiga do pecado e, assim, restituir-lhe a sua dignidade”, disse Francisco convidando à reflexão e ao arrependimento: “devemos deter-nos; deter-nos a refletir com amargura e arrependimento porque também durante este ano que chega ao fim, muitos homens e mulheres viveram, e vivem, em condições de escravidão, condições indignas de pessoas humanas”.

“Também na nossa cidade de Roma, há irmãos e irmãs que, por vários motivos, estão neste estado. Penso, de modo particular, naqueles que vivem sem um lar. São mais de dez mil. De inverno, a sua situação é particularmente dura. Todos eles são filhos e filhas de Deus, mas diferentes formas de escravidão, por vezes muito complexas, levaram-nos a viver no limite extremo da dignidade humana.”

Manifestação do amor de Deus pelos humildes e os pobres

Francisco disse ainda que o próprio Jesus nasceu em condição semelhante, “não por acaso nem por um incidente”, observou, mas “quis nascer assim, para manifestar o amor de Deus pelos humildes e os pobres e, deste modo, lançar no mundo a semente do Reino de Deus, Reino de justiça, amor e paz”.

“A Igreja que está em Roma não quer ficar indiferente às escravidões do nosso tempo, nem limitar-se a observá-las e prestar-lhes assistência, mas quer estar dentro desta realidade, próxima a estas pessoas e situações.”

A santa mãe Igreja eleva seu hino de louvor a Deus

“Apraz-me encorajar esta forma da maternidade da Igreja, ao celebrarmos a maternidade divina da Virgem Maria”, disse por fim o Papa, acrescentando:

“Contemplando este mistério, reconhecemos que Deus ‘nasceu de uma mulher’ para que nós pudéssemos receber a plenitude da nossa humanidade, ‘a adoção de filhos’. Pelo seu abaixamento, fomos solevados. Da sua pequenez, veio a nossa grandeza. Da sua fragilidade, a nossa força. De Ele Se fazer servo, a nossa liberdade.”

“Que nome dar a tudo isso, senão Amor? Amor do Pai e do Filho e do Espírito Santo, a Quem a santa mãe Igreja eleva em todo o mundo, nesta tarde, o seu hino de louvor e agradecimento”, concluiu Francisco.

A liturgia encerrou-se com a exposição do Santíssimo Sacramento, o canto do tradicional hino Te Deum de ação de graças pelo ano transcorrido e a Bênção Eucarística, ao término da qual o Santo Padre, deixando a Basílica Vaticana, deslocou-se até a Praça São Pedro detendo-se em oração diante do Presépio montado no centro da praça. Fonte: www.vaticannews.va