O preço do Congresso ALACAR é: US$ 360
O dia de chegada é 6 novembro e o dia de saída e 11 novembro para todos. Com informações do Frei Raul Maravi, O. Carm. Conselheiro Geral da Ordem do Carmo

(Quem desejar participar da Província Carmelitana de Santo Elias (Bahia, Sudeste e Centro-Oeste), favor entrar em contato com Frei Petrônio de Miranda, Delegado Provincial para Ordem Terceira do Carmo. E-mail. Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.).

No Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja[1], o único e mesmo Espírito suscitou muitas vezes variedades de dons e carismas, como os das várias famílias religiosas, que oferecem aos seus membros os auxílios de uma estabilidade maior no seu modo de viver a vida de caridade e uma doutrina excelente para se alcançar a perfeição e a comunhão fraterna na milícia de Cris-to[2].

Alguns leigos, por um chamado e vocação particulares, participam do carisma das famílias religiosas, que é patrimônio comum do Povo de Deus e para eles se torna também fonte de energia e escola de vida. A própria Igreja nisto os aprova e encoraja, convidando-os a se esforçarem por assimilar fielmente a marca particular de espiritualidade própria de tais famílias[3].

E desta maneira poderão ser ajudados melhor na missão que diretamente lhes cabe de iluminar e dar o justo valor a todas as realidades temporais, de maneira tal que se façam segundo os desígnios de Jesus, se desenvolvam e sejam um louvor ao Criador e Redentor[4] num mundo secularizado, que vive e se comporta "como se Deus não existisse"[5].

Colaborando com a "Nova Evangelização", que permeia toda a Igreja, os leigos superam em si mesmos a ruptura entre o Evangelho e a vida, refazendo com a sua atividade quotidiana em meio da família, do trabalho e da sociedade, a unidade de uma vida que no Evangelho encontra inspiração e força para se realizar em plenitude[6].

Vínculo fundamental do Terceiro com a própria Ordem é a Profissão, mediante a qual, segundo um nosso costume antigo, pode emitir os votos de castidade e obediência, de acordo com os deveres do próprio estado de vida, afim de consagrar-se mais profundamente a Deus e oferecer-lhe um culto mais perfeito.

Tudo o que o Terceiro expressa com a sua Profissão nada mais é do que um reassumir com mais intensidade as promessas do batismo de amar a Deus acima de todas as coisas e de renunciar a Satanás e às suas seduções; a originalidade neste ato de amor consiste nos meios que o Terceiro escolhe para aí chegar. A lei fundamental do cristão, que o compromete a amar a Deus e aos ou-tros com todo o seu ser, exige de todos a proclamação constante do primado de Deus[7], a rejeição da possibilidade de servir a dois senhores[8] e o amor aos outros acima de qualquer egoísmo[9].

A castidade e a obediência do Terceiro, que também re-clamam um profundo senso de pobreza, traduzem no setor dos bens econômicos, da sexualidade e do poder, o imperativo de não servir a falsos ídolos[10]: a santidade cristã é o amor de Deus e dos outros acima de qualquer encaracolar-se egoisticamente sobre si mesmos. Em virtude do voto de obediência, os Terceiros deverão obedecer aos Superiores da Ordem e ao Assistente do sodalício em tudo o que, segundo esta Regra, lhes for mandado para o bem da sua vida espiritual. Pelo voto de castidade estão obrigados a observar esta virtude, segundo os deveres do próprio estado.

Com justiça os Terceiros olham para os Carmelitas consagrados na vida religiosa, para terem uma orientação espiritual válida, mas, por sua vez, a sua contribuição, além do elemento secular que lhes é específico, comporta aprofundamento (eficaz) dos vários aspectos do carisma, seja chamando a atenção para os valores mais espirituais do Carmelo, seja indicando novos dinamismos apostólicos[11]. Neste sentido os Terceiros sentem-se membros do Carmelo jure pleno (plenamente comprometidos na vida e no apostolado da Família Carmelitana).

    [1]. cf. Cl 1,18

    [2]. cf. LG 43

    [3]. AA 4; CfL 29; VC 54

    [4]. LG 31

    [5]. Const.Ord.Carm.

    [6]. CfL 34

    [7]. Mt 22,37

    [8]. Mt 6,24

    [9]. Mt 22,39

    [10]. cf. Ex 20,3

    [11]. VC 55

*Da Regra da OTC

Frei Carlos Mesters, O. Carm.

1-O caminho de Abraão e Sara: caminho de todo o povo

“Vocês que buscam a justiça e procuram a Deus. Olhem para a rocha de onde foram talhados, olhem para a pedreira de ontem foram extraídos. Olhem para Abraão, seu pai, e para Sara, que os deu à luz, Quando os chamei eles eram um só, mas se multiplicaram por causa da minha bênção!” (Is 51,1-2)

As histórias Abraão e Sara (Gn 12 a 22) refletem não em primeiro lugar a história do casal no longínquo passado de 1800 antes de Cristo, mas são modelo para o povo do Cativeiro saber como combinar a busca de Deus e a busca da justiça. Deixam transparecer como foi difícil para o povo unir estas duas dimensões da caminhada que Deus estava pedindo e os discípulos estavam propondo. 

Javé disse a Abrão: "Saia de sua terra, do meio de seus parentes e da casa de seu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei. Eu farei de você um grande povo, e o abençoarei; tornarei famoso o seu nome, de modo que se torne uma bênção. Abençoarei os que abençoarem você e amaldiçoarei aqueles que o amaldiçoarem. Em você, todas as famílias da terra serão abençoadas". Abrão partiu conforme lhe dissera Javé. E Ló partiu com ele. Abrão tinha setenta e cinco anos quando saiu de Harã. Abrão levou consigo sua mulher Sarai, seu sobrinho Ló, todos os bens que possuíam e os escravos que haviam adquirido em Harã. Partiram para a terra de Canaã e aí chegaram.  (Gn 12,1-5)

A promessa de ser pai de um povo e fonte de bênção para toda a humanidade é bonita e atrai. Mas a condição para alguém poder ser pai de um povo é ter ao menos um filho. Abraão já tinha 75 anos e sua esposa Sara era estéril. A condição para Abraão crer na promessa de Deus era crer que Sara sua mulher pudesse ter um filho. Difícil crer nesta promessa! Era mais fácil crer na observância, isto é, no projeto que os dois iam elaborando como possível alternativa para uma promessa aparentemente impossível. Assim fizeram Abraão e Sara. Era muito difícil para eles combinar as duas buscas: de Deus e da justiça. Eles foram aprendendo a duras penas, ao longo dos anos.

Foram quatro as propostas alternativas que os dois fizeram para ficar só com a observância, sem precisar crer na promessa, sem precisar levar a sério a busca de Deus. Mas foram três as pancadas que levaram, três impasses que enfrentaram, três fracassos que sofreram, até renascer e descobrir o caminho. No fim aprenderam! Vejamos as três propostas:

A primeira proposta alternativa de Abraão e Sara à promessa de Deus: Eliezer

Humanamente falando, a promessa de Deus ultrapassava as possibilidades reais do casal. Abraão já era velho e Sara não podia ter nenê. A primeira proposta de Abraão para tentar uma saída foi a de apresentar Eliezer como alternativa (Gn 15,1-6). Conforme as leis da época ele poderia adotar Eliezer como filho. O filho de Eliezer seria neto de Abraão e a promessa de poder ser pai de um povo estaria garantida. No fundo, Abraão não acreditava na promessa e achava que a realização da mesma ia ter que depender do esforço dele mesmo, da observância dele. Mas Deus disse: “Eliezer, não! Vai ter que ser filho seu!” É a primeira rasteira. Tudo voltou à estaca zero!

A segunda proposta alternativa de Abraão e Sara à promessa de Deus: Ismael

Para poder crer na promessa, Abraão devia crer em Sara, e Sara devia crer em Abraão. Não basta crer em Deus abstratamente. A promessa está ligada a pessoas concretas. “Como se pode realizar isto se não conheço homem?” (Lc 1,34) A segunda proposta foi a de apresentar Agar, escrava de Sara, para ser mãe do futuro filho (Gn 16,1-16). É que, novamente, os dois não deram conta de crer na promessa. Achavam que ela só poderia realizar-se através de Agar, isto é, através da observância do projeto que eles tinham imaginado e proposto a Deus. Nasceu Ismael, filho de Abraão e Agar. O nome Ismael significa “Deus ouviu!” Através de Ismael, filho de Abraão, o povo estaria garantido. Novamente, vem a resposta de Deus: “Ismael não. Terá que ser filho de Sara!” (Gn 17,15-19). É a segunda rasteira. E novamente, tudo voltou à estaca zero!

A terceira proposta alternativa de Abraão e Sara à promessa de Deus: Isaque

Abraão recebeu a visita de três peregrinos e os recebeu com muita hospitalidade (Gn 18,1-8). Os três diziam que Sara ia ter nenê no ano seguinte. Sara riu (Gn 18,9-15). Abraão também riu (Gn 17,17). Todos rimos, porque não acreditamos na promessa. Só acreditamos no que nós fazemos para Deus, e não no que Deus é capaz de fazer por nós. Mas finalmente, Abraão consegue crer em Sara e nasce o filho que recebe o nome de Isaque, o que significa Risada (Gn 21,107). De Deus não se ri. Falou, está falado! Podes crer! O nascimento de Isaque clareou o horizonte. Finalmente, o povo estava garantido, a bênção prometida ia poder irradiar-se para todas as nações da terra. Mas aqui acontece uma coisa muito sutil. Agora que Isaque nasceu, a esperança de Abraão tem um fundamento concreto e palpável: o filho. E imperceptivelmente o fundamento da esperança passa de Deus que oferece o dom, para o dom oferecido por Deus. E aí a palavra de Deus chega até Abraão: “Vai sacrificar o teu filho Isaque no lugar que eu te mostrar!” (Gn 22,1-2). É a terceira rasteira. Estaca zero de novo. Tudo voltou para antes do começo.

A resposta final de Abraão e Sara à promessa de Deus: a entrega total

Desta vez, Abraão não discute, não diz nada. Ele é obediência muda. Apenas age (Gn 22,3-10). Não se fica sabendo o que ele pensa. Cada leitor ou leitora preenche a parte que falta na história confrontando sua atitude com a de Abraão. No último momento, Deus manda Abraão parar. Não pode sacrificar o filho (Gn 22,11-19). Basta a obediência, interpretada pela carta aos hebreus da seguinte maneira: “Abraão acreditava que Deus é capaz de tirar vida da própria morte”, e acrescenta: “Isso é um símbolo para nós” (Hb 11,17-19). Nesse momento, Abraão alcança a justiça! (Rom 4,3; Gn 15,6) A busca de Deus e a busca da justiça se identificam plenamente!

Poderíamos continuar o comentário da carta aos hebreus dizendo: Todos nós, casados ou solteiros, todos e todas temos um Isaque. Chegará o dia em que Deus pede: Vai sacrificar o teu filho Isaque no lugar que eu te mostrar! Sacrifique esse seu Isaque, para que a esperança seja colocada em Deus e para que, a partir dela, possa nascer a prática da justiça, fruto da gratuidade total. 

2-A resistência de Moisés, resistência de todos nós

O profeta não entende tudo. Jeremias, por exemplo, ficava devendo a resposta a respeito da injustiça que se alastrava no meio do povo (Jer 12,1). Dentro do profeta, alegria e dor, esperança e angustia, o claro e o escuro convivem na mesma pessoa. A Palavra que chama constitui, ao mesmo tempo, a alegria e o drama do profeta(Jer 15,16).

A raíz desta contradição aparente está não só nas contradições da vida e da situação social, mas também no próprio Deus. A experiência de Deus transmite uma certeza que não se traduz em certezas humanas. A certeza que Deus comunica é uma só: "EU ESTOU CONTIGO!" Ela não faz a pessoa chamada ficar mais inteligente ou mais perspicaz, não muda o seu caráter, nem aumenta o grau do seu conhecimento. Ela é como a luz do sol que de repente ilumina tudo, transformando a visão do mundo, sem mudar nada. Ela ajuda o profeta a relativizar tudo em função do único absoluto que é Deus e a vida do povo, ambos fonte da sua missão.

O diálogo entre Deus e Moisés que se prolonga por vários capítulos (Ex 3,1 a 4,18) é o diálogo de todos nós com Deus, com a realidade, com a consciência que nos incomoda, com o nosso medo, com a nossa vocação. É um verdadeiro arquétipo.

No contexto deste longo diálogo, a Bíblia explica o significado do nome de Deus JHWH (Ex 3,10-15). Estes poucos versos têm uma densidade teológica muito grande. Foram compostos durante o exílio e refletem a profunda nova experiência de Deus que tiveram naqueles anos difíceis. Descrevem o ideal da fé e o ideal que nós deveríamos poder alcançar na contemplação. É nestes versículos que o autor procura explicar todo o significado e o alcance do nome JHWH.

Basicamente, o significado do antigo nome JHWH é explicado através de um recurso literário engenhoso, pelo o nome deve ser entendido como aprofundamento da primeira resposta de Deus a Moisés: Estou com você.

Eis os esquema:

Quem sou eu para ir ao faraó?

Estou com você

Qual o seu nome?

Estou que estou

Assim dirás: Estou me mandou

Assim dirás: Está me mandou

Este é o meu nome para sempre

Assim serei invocado de geração em geração

Deus não oferece dinheiro nem armas, nem diploma. Apenas diz: Vai! Estou com você! Nada mais. Não permite acesso mágico. O único acesso a Deus é a entrega total na fé na certeza de que ele está conosco. Só quando eu tiver a coragem de me entregar e de deixar Deus ser Deus na minha vida, poderei ter a certeza absoluta da presença libertadora divina na minha vida.

E Deus não quer ter outro nome, a não ser este. É o nome que ele quis assumir conosco no momento de se comprometer conosco para nos libertar do poder do Faraó.

Mas Moisés não se deu por vencido, e o diálogo continua com várias intervenções da parte de \Moisés e várias respostas da parte de Deus, sempre na mesma dimensão e rumo:

Dificuldade de Moisés: “E se não acreditarem em mim (Ex 4,1). Moisés esconde o seu medo e falta de fé atrás da pretensa falta de fé do povo: “O povo não vai acreditar em mim!” Deus faz ele realizar três sinais milagrosos: mudar bastão em serpente (Ex 4,2-5), fazer a mão ficar cheia de lepra (Ex 4,6-8) e mudar água do rio em sangue (Ex 4,9).

Mas Moisés inventa outra dificuldade: “Meu Senhor, eu não tenho facilidade para falar!” (Ex 4,10). Deus desfaz o argumento, pois ele é o criador da boca dos homens (Ex 4,11-12).

Moisés insiste: “Não meu, senhor, mande a quem quiser!” (Ex 4,13). Ou seja, mande a quem quiser, mas não a mim. Aqui Moisés falou claro, Deixou de esconder-se atrás de pretextos e refúgios e disse o que estava no fundo do seu coragem: “Não quero! Mande um outro!” E Deus também falou claro expressando novamente a sua vontade com relação à missão de Moisés: E você vai! Pode levar Aarão com você, que tem língua boa para falar!” (Ex 4,14-17).

Moisés aceitou a vontade de Deus, foi para casa e disse ao sogro: “Vou voltar para o Egito para ver se meus irmãos ainda vivem”. O sogro respondeu: “Vai em paz!” (Ex 4,18).

O que teria acontecido se Moisés não tivesse ido? Talvez tivesse sido um bom executivo do faraó, um devoto fiel do Deus Rá, divindade suprema do sistema piramidal. Talvez tivesse recebido, depois da sua morte, uma pequena pirâmide como sepultura e os arqueólogos do século XXI talvez o descobrissem, e nós não estaríamos aqui. A história teria tomado um outro rumo.

Frei Carlos Mesters, O. Carm 

A variedade da maneira de chamar e de dar resposta à vocação

A Palavra que chama, às vezes, se impõe com força irresistível: fogo dentro dos ossos (Jer 20,9); martelo que rebenta as rochas (Jer 23,29). Outras vezes, deixa total liberdade. Outras vezes, deixa a pessoa na revolta e no sofrimento, outras vezes na alegria. Para uns, o chamado vem com muita clareza como palavra de Deus, para outros não há clareza nenhuma, nem percebem nada de Deus. Sentem apenas uma necessidade humana que não pode ficar sem resposta. E quando no julgamento final Deus o elogia, eles dizem: “Quando foi que vi o senhor com fome e sede, sem roupa e na prisão, doente? Não estou lembrado!” E Deus responde: “Foi quando você ajudou aquele pobre. Era eu!

A variedade é grande. Nenhuma vocação se repete. Nenhum rosto se repete, embora todos tem mais ou menos a mesma estrutura. Com uma grande variedade a vocação se faz presente na vida das pessoas. Vejamos de perto na Bíblia. Vamos percorrer as páginas da Bíblia, desde o tempo dos patriarcas e matriarcas, olhando de perto o chamado das pessoas mais conhecidas, dando uma breve chave de leitura. Veremos sucessivamente os períodos dos (1) Patriarcas e Matriarcas, (2) Êxodo, (3) Juízes, (4) Reis, (5) Profetas, (6) Exílio e pós exílio, (7) inter­testamento, (8) tempo da vida de Jesus, (9) época das Comunidades dos primeiros cristãos e (10), finalmente, de Jesus, ele mesmo. Damos apenas uma breve chave de leitura , para que a gente possa perceber esta variedade tanto no chamado como na resposta. Mais adiante, vamos olhar mais de perto algumas vocações especiais para poder confrontar melhor com as nossas vocações hoje. Algumas pessoas recebem muitas vocações. Não dá para ver tudo de todos. Vamos dar uma olhada rápida no grande álbum da Família ou do Povo de Deus.

Passando os olhos pelo álbum da Família de Deus

1-Época dos Patriarcas e Matriarcas

Abraão

Chamado para ser pai de um povo, não consegue acreditar na promessa de Deus. Inicialmente, só consegue nos projetos que ele mesmo propõe como alternativa. Mas após três tentativas frustradas consegue crer e se entrega (Gn 12,1-3;15,1-6;17,15-22;22,1-18)

Sara

Quando chamada, deu risada como seu marido Abraão. Risada de incredulidade. Não conseguiu crer no chamado. Pois não conseguiu crer em si mesma e em Abraão. Era difícil crer, pois já era de idade avançada e estéril. Como crer que poderia ser mãe! (Gn 18,9-15).

Agar

Chamada através de uma ordem de Sara, sua patroa, é por ela desprezada e excluída; mas Deus continua fiel e a sustenta. A fidelidade desprezada de Agar recebe uma recompensa: ela chega a ter uma experiência profunda do próprio Deus (Gn 16,1-16; 21,8-21).

Jacó

Chamado para ser Israel, lutou com o anjo (o próprio Deus) a noite toda, até que fosse abençoado (Gn 32,23-33). Passagem misteriosa que recebeu muitas interpretações ao longo dos século. É um verdadeiro arquétipo para significar as lutas que as pessoas travam com Deus em suas vidas. Oferece esperança de vitória.

2-Época do Êxodo

Moisés

Primeiro sentiu o chamado diante da opressão do seu povo e chegou a matar um egípcio. Teve medo e fugiu. Mais amadurecido, é chamado novamente para libertar o povo. Novamente tem medo e arruma várias desculpas, mas no fim a vocação é mais forte que a resistência medrosa e ele acaba aceitando (Ex 3,11.13; 4,1.10.13).

Miriam

Chamada pelo seu próprio talento e pela necessidade do momento, convoca as mulheres para celebrar a vitória depois da travessia do mar vermelho (Ex 15,20). O Cântico de Miriam é um dos textos mais antigos da Bíblia, ao redor do qual foi se juntando o resto como cera ao redor do pavio.

Aarão

Chamado por intermédio de Moisés, seu irmão, para ser porta-voz e sacerdote (Ex 4,14-15). É da tribo de Levi, tribo sacerdotal. O chamado se torna tão forte que o clã de Aarão se impõe às outras família da tribo de Levi. Ele consegue a função central no templo de Jerusalém e os outros clãs da tribo se tornam ajudantes.

Os Setenta

Diante da impossibilidade de assumir sozinho a coordenação da vida do povo, aconselhado pelo bom senso do seu sogro Jetro, Moisés descentraliza o poder e chama setenta pessoas para participar na coordenação. O chamdo nasce das necessidades concretas da coordenação do povo. São chamados de acordo com certos critérios para poder servir ao povo (Ex 18,21-22; Núm 11,16).

Josué

Foi o que mais ajudava Moisés. Foi fiel nos momentos difíceis e nas crises. É desta sua condição de companheiro fiel que nasce o chamado para suceder a Moisés. Moisés mesmo o apr4esenta ao povo como seus sucessor e dá a ele, várias vezes, a ordem: "Sê forte e corajoso!" (Jos 1,6-9).

3-Época dos Juízes

Debora

O chamado mesmo foi um tal de Baraq, que não se sentiu em condições para realizar a libertação do povo e chamou Débora para libertar o povo num momento difícil da sua história. Débora, por sua vez, chama outras pessoas para ajudá-la na tarefa (Jz 4,1-10).

Gedeão

Um lavrador bem simples, oprimido pela dominação, sente o chamado, mas não consegue acreditar no chamado que recebe e pede uma dupla confirmação. SE não fosse a simplicidade de Gedeão, parece até uma provocação a Deus. (Jz 6,11-40).

Ana

Uma senhora casada que não pode ter nenê, pois é estéril. Recebe o chamado para ser mãe do profeta no momento em que derrama sua alma na presença do Senhor. Responde ao chamado criando o menino e dedicando-o à missão da vida dele (1 S 1,9-18).

Samuel

Chamado, não se dá canto. Não percebe o chamado; precisa da ajuda de de uma pessoa mais velha para orientá-lo. O velho Eli o orienta e o ajuda a percebê-lo:"Fala, Senhor, teu servo escuta!" Esta ajuda mútua fez nascer uma vocação muito importante (1 Sm 3,1-18).

4-Época dos Reis e Profetas

Saul

Mesmo chamado por aclamação (1S 11,12-15), por unção (1S 10, 1-8) e por sorteio (1S 10,17-24), não soube manter-se na fidelidade.

Davi

Chamado por unção (1S 16,1-13) e a convite do povo para ser rei de Judá (2S 2,1-4) e de Israel (2S 5,1-5). É exaltado na Bíblia como rei fiel. Na realidade, dentro dos nossos conceitos não parece ter sido tão fiel. O poder do rei era absoluto e naquele tempo não percebiam os limites deste poder.

Salomão

Indicado para ser rei por ser filho de Davi e por conspiração palaciana (1R 1,28-53).

Jeú

Chamado por Elias e Eliseu para enfrentar os abusos do rei foi mais abusado que os rei

Ezequias

A conjuntura política favorável levou Ezequias a promover uma reforma profunda para evitar o desastre sofrida pelo Estado de Israel

Josias

É chamado a servir o povo como rei através de circunstâncias políticas (2 R 21,23-24; 22,1).

5-Época dos Profetas e dos Reis

Elias

Obedece a um chamado da Palavra de Deus e do povo (1R 21, 17ss) e é conhecido como o homem sempre disponível para a ação do Espírito (1R 18,12).

Eliseu

Recebe o chamado de Elias, pede licença para se despedir dos pais e vai atrás de Elias, largando tudo (1R 19,19-21).

Amós

Percebe o chamado como algo irresistível, que sobe da situação de opressão e exploração do povo (Am 3,3-8; 7,15).

Oséias

Um drama familiar e uma experiência forte de amor levaram-no à descoberta da sua missão no meio do povo (Os 1,1-3,5).

Isaías

Tem uma profunda experiência de Deus, descobre a sua incapacidade, mas se oferece: "Eis-me aqui!" (Is 6,1-13).

Jeremias

Na hora de perceber o chamado, fica meio gago e se desculpa: "Sou apenas uma criança!" (Jer 1,4-10).

Ezequiel

Quando recebe o chamado de ser a sentinela do povo, fica mudo por vários dias (Ez 3,25-27).

Jonas

É a imagem do profeta que não tem coragem de assumir o chamado, e foge (Jon 1,3).

6-Época do do pós exílio

Neemias

O chamado vem através das exigências da situação do povo e de um convite do rei da Pérsia (Ne 2,1-8).

Esdras

Vê um chamado de Deus na missão que ele recebe do rei da Pérsia de organizar o povo (Esd 7,11-26).

Matatias

Percebe e assume o chamado no momento de ser confrontado com a opressão e a perseguição do povo (1M2,1-28).

Judas Macabeu

É chamado para liderar as batalhas por ser o filho mais corajoso de Matatias (1Mac 2,66).

Rute

Percebe e assume o chamado através da sua solidariedade com Noemi que ficou viúva sem futuro (Rute 1,15-18).

Descobre o chamado na contradição provocada pelo catecismo da época que dizia: Todo sofrimento é castigo pelo pecado. A consciência dele dizia: não pequei para merecer esta condenação. Lutou e foi fiel à vocação criticando uma idéia falsa de Deus até morrer.

Ester

Era uma criança órfã, adotada pelo tio mardoqueu. Por um destino não previsto acabou sendo rainha. Chamada a ser libertadora do seu povo com risco da própria vida. rainha por causa da sua beleza (Est 2,15-17);  com risco da própria vida liberta o seu povo (Est 4,12-17).

Judite

Chamada para libertar o povo num momento de extrema angústia (Jt 8,1-36), confia no Deus que É o "Deus dos humildes, socorro dos oprimidos, protetor dos fracos, abrigo dos abandonados, salvador dos desesperados" (Jt 9,11).

 7-Época do intertestamento

Zacarias

Não foi capaz de crer no chamado e ficou mudo (Lc 1,11-22).

Isabel

Acreditou no chamado, concebeu e tornou-se capaz de reconhecer a presença de Deus em Maria (Lc 1,23-25.41-45).

João Batista

Chamado desde o seio materno (Lc 1,11-17), assume a missão com coragem (Mc 6,17-29). É o primeiro profeta depois de muitos séculos de silêncio (Lc 1,59-66; Mt 11,7-15).

José

Chamado a ser o esposo de Maria, rompe com as normas do machismo da época e não manda Maria embora (Mt 1,18-25).

Maria

Acostumada a ruminar os fatos (Lc 2,19.51), percebe e acolhe a Palavra, trazida pelo anjo Gabriel, a ponto de encarná-la em sua própria vida (Lc 1,26-38).

8-Época do tempo da Vida de Jesus

Pedro

Chamado durante uma pescaria (Mt 4,18-20), teve várias recaídas (Mc 8,31-33; Mt 14,28-31; 26,30-35) até firmar-se de verdade (Jo 21,17).

João

Na hora do chamado abandonou tudo para seguir a Jesus (Mc 1,20). Tornou-se o discípulo amado (Jo 13,23). Lembrava até a hora do chamado de Jesus: quatro da tarde (Jo 1,39).

Mateus

Publicano desprezado, chamado a ser apóstolo para seguir Jesus (Mt 9,9).

Judas

Chamado a ser apóstolo (Mc 3,19), não soube crer no perdão (Mt 27,3-10)

Madalena

Chamada por Jesus a ser a primeira testemunha da ressurreição (Mc 16,1.9; João 20,11-18).

Samaritana

Teve dificuldade em perceber o chamado (Jo 4,7-30), mas tornou-se uma grande apóstola no meio do seu povo (Jo 4,39-42)

 9-Época das comunidades dos Primeiros Cristãos

Matias

Chamado a ser apóstolo por sorteio, após uma reunião dos outros onze apóstolos (At 1,15-26).

Apóstolos

Foram chamados para estar com Jesus, para anunciar a palavra e para combater o poder do mal (Mc 3,13-19)

Barnabé

O primeiro a partilhar os seus bens (At 4,36s), É chamado a enfrentar missões difíceis (At 9,26-27; 11,22.25; 13,2).

Paulo

O chamado o derruba na estrada (At 9,4); ele fica cego (At 9,3). Foi chamado num momento em que tudo indicava o contrário, pois era perseguidor (At 9,1-19).

Lídia

Sente o chamado ao ouvir a pregação de Paulo; torna-se a primeira coordenadora das Comunidades na Europa (At16,14s).

Febe

Chamada a ser diaconisa, torna-se "irmã" de Paulo e presta seu serviço a muita gente (Rom 16,1-2)

Timóteo

Preparado pela formação recebida em casa (2Tim 1,5; 3,14), é chamado a ser companheiro de Paulo (At 16,1-3).

Prisca e Aquila,

Casal amigo de Paulo. Os dois respondem ao chamado combinando as exigências das comunidades com as possibilidades da sua profissão (At 18,2-3; Rm 16,3-5)

10-Época de Jesus, ele mesmo

JESUS

Aprofunda a sua vocação convivendo com o povo pobre durante trinta anos em Nazaré. Assim, o Filho de Deus, descobre que o Pai o chama a realizar a missão de Messias de acordo com profecia do Servo de Javé (cf Lc 4,18-19 e Is 61,1-2).

A variedade das vocações dentro do mesmo Projeto de Deus

Esta série de "fotografias" do álbum da Família de Deus mostra a variedade com que Deus chama as pessoas para manifestar-lhes a sua vontade. Umas são chamadas para libertar o povo; outras, para organizá-lo, para presidir suas assembléias, organizar o culto, cantar, profetizar, denunciar, animar, anunciar, guiar, reprimir, governar, aconselhar. Missões grandes e pequenas, importantes e menos importantes, ligadas ao povo todo e ligadas a um pequeno grupo. Missões que valem para sempre ou para muitas gerações, outras que valem para pouco tempo ou só para a pessoa que a recebe.

Para chamar as pessoas, Deus usa os mais variados meios de comunicação: sorteio, aclamação, indicação da comunidade, percepção das necessidades do povo, ação de bravura, perigo de guerra, chamado interior, aparição de anjo, sonhos, chamado de um companheiro,....  Nenhuma vocação se repete!

O chamado de Deus não tira a liberdade das pessoas, pois elas reagem: "Quem sou eu?" Cada um reage do seu jeito diante da missão que recebe. Cada um trava duas lutas: a grande luta da transformação do mundo e a pequena luta dentro de si mesmo da conversão pessoal. As duas são igualmente importantes.

Experiência do Deus do povo

A experiência de Deus traz consigo a sua própria evidência. Nela está a fonte da liberdade dos profetas frente aos poderosos. Não existe um livrinho ao qual o profeta teria que obedecer, para que os outros pudessem verificar: "Este profeta é verdadeiro. Ele vem de Deus!" Deus é livre e não obedece aos nossos critérios.

É uma experiência do Deus dos pais. Por isso mesmo ela traz consigo tudo o que Deus fez no passado. O profeta torna-se, assim, de certo modo, a memória crítica do povo. Lembra coisas incómodas que muitos gostariam de esquecer.

É a experiência do mesmo Deus que tirou o povo do Egito: Deus libertador, Deus da aliança, chamado Javé. O profeta torna-se assim o homem que encarna as exigências da aliança e da lei de Deus.

Experiência do povo de Deus

A experiência da santidade de Deus e das suas exigências é, ao mesmo tempo, a experiência do pecado, da quebra da aliança, das falhas que existem no povo; experiência daquilo que o povo deveria ser e não é(Is 6,5).

Onde aparece caco de vidro no chão, a gente pára e diz: "Alguma janela foi quebrada!" Onde aparece o pobre no meio do povo, o profeta pára, capta a mensagem e diz: "A aliança foi quebrada!" Alguns se acostumam com os cacos e os ignoram. O profeta, po­rém, faz o contrário. Confronta o povo com os pobres que sobraram do desastre da quebra e exige mudança em nome de Deus e em nome da origem do próprio povo.

Os "cacos" que no Antigo Testamento revelavam a quebra da aliança, eram os "empobrecidos", os "orfãos", as "viúvas", os "estrangeiros". A presença destes grupos margi­na­li­za­dos dentro da comunidade revelava que algo estava errado. O povo estava ferido, uma chaga viva(Is 1,6; Jer 30,12-15; 14,17-18; 15,18).

Uma sugestão para aprofundar a vocação na Bíblia

Você pode completar a longa lista de chamados que ocorrem na Bíblia, pois no álbum da Família de Deus tem muito mais fotografias. Em seguida, vale a pena aprofundar o assunto através das seguintes perguntas:

  1. Qual o objetivo último, que a vocação quer atingir em todos estes chamados?
  2. Qual a missão de cada um? Como ela contribui para a realização do Projeto de Deus?
  3. Quais os critérios de escolha? O que há de comum nos vários critérios?
  4. Quais os recursos para realizar a missão?
  5. Quais os problemas que a pessoa chamada encontra, dentro e fora de si mesma, na execução da missão, e como os enfrenta?
  6. Vocação e situação do povo: como os dois estão relacionados entre si nestes cha­ma­dos?
  7. Quais os traços do rosto de Deus que transparecem nestes chamados?

Nas próximas horas, veja artigos, fotos e vídeos. Aguarde. 

ANO DO LAICATO CARMELITANO... A Missão continua no próximo sábado, dia 18, em Campinas, São Paulo. Acompanhe tudo aqui no olhar

Imagens do encontro dos Sodalícios da Ordem Terceira do Carmo de Minas- Juiz de Fora, Barbacena, São João Del Rei, João Monlevade, Belo Horizonte, Ouro Preto, Serro, Diamantina e Sabará- o encontro foi realizado no Convento do Carmo de Belo Horizonte/MG, no dia 11 de agosto-2018. Informações sobre a Ordem Terceira do Carmo com o Delegado Provincial, Frei Petrônio de Miranda, O. Carm. E-mail: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.

OS CARMELITAS NO RIO GRANDE DO SUL (Cidade de Eldorado do Sul ). No Dia 2 de setembro próximo, vc vai acompanhar aqui e nas mídias sociais, a abertura de uma frente Missionária na grande Porto Alegre. No vídeo, o Padre Provincial, Frei Evaldo Xavier, O. Carm, faz o comunicado para os Sodalícios da Ordem Terceira do Carmo de Minas Gerais

OS CARMELITAS EM JACOBINA-BA. Natal dos presos celebrado por Frei Petrônio de Miranda, Carmelita. (17/12/2008). VEJA OUTRAS FOTOS NO INSTAGRAM. CLIQUE AQUI: www.instagram.com/freipetronio

 Frei Bruno Secondin  O.Carm.

Eis o grande tema carmelita: até as pessoas menos instruídas sabem que o ideal carmelitano é o da vida de oração. E em torno deste ponto focal deveriam convergir todas as outras coisas: o horário, a  moradia, a  formação espiritual, o sentido da maturidade espiritual, a direção espiritual, o apostolado. Não vou entrar em toda esta literatura, que muitas vezes é mais apologética do que útil. Quero tocar neste argumento sob um outro ponto de vista

- Uma tradição de conflitos e de hipocrisias: se é grande a glória para o Carmelo neste campo – e disto ninguém duvida – é preciso também reconhecer que as hipocrisias não faltam. E também são abundantes as manipulações. A primeira hipocrisia é a de uma vida real que na verdade não parece dar esta importância à oração e à meditação assídua da Palavra, da qual nasce o vigiar nas orações. A solidão da cela era vista – e é vista ainda tantas vezes – como a ocasião para se rezar um pouco, qualquer que seja a forma de oração. Ao contrário, segundo a Regra, se está na cela sobretudo para meditar na Palavra, e fazê-la florir numa resposta orante e perscrutadora (vigilantes: R 10). Sobre a solidão, o silêncio, a oração mais ou menos intensa forjaram-se tantas histórias no Carmelo: em nome do espírito primitivo, das não-mitigações, da perfeição, etc.

- Uma releitura das intenções originais do carisma nos ajuda a superar razões de polêmica e a reencontrar um sentido novo para esta característica do Carmelo. Na releitura nova da Regra os capítulos 10-17 formam um bloco único, e representam o modelo de Jerusalém. E, por conseqüência devem ser interpretados numa unidade dinâmica. Se assim fizermos, veremos bem como a Palavra ouvida e meditada na solidão floresce em oração vigilante e em louvor sálmico, mas também em partilha dos bens e dos sentimentos do coração. E tudo encontra o seu vértice na celebração eucarística, que é plenitude do que a Palavra anuncia e promete, e fermento para que a vida se transforme em koinonia e seja transfigurada na sobriedade e na solidariedade  em nome da  Palavra (cf. a pregação itinerante: R 17).

- A oração como vigilância: não pode ser interpretada como um tempo noturno roubado ao sono para rezar. Mas antes como uma gramática do desejo: acende-se no coração a certeza de uma presença e de um projeto, cujos contornos se procuram na práxis (louvor, partilha, páscoa diária, reconciliação, luta espiritual, ascese flexível, etc.). Mas também se propõe fazer de toda a existência uma espera vigilante, um estar de sentinela, apaixonados e implorantes. Não é, portanto, a quantidade ou o método que faz do Carmelo uma comunidade orante. Mas este coração que vibra e espera, perscruta e implora, purifica-se e põe em prática a Palavra.

- Orar como Igreja e em nome da Igreja: este é na realidade o verdadeiro sentido da vocação carmelita à oração. Uma oração não de horários e de tamanho, mas de coração que ama e que implora, de paixão pelo Reino que trabalhosamente se faz luz na história. Orar como Igreja é principalmente deixar-se amar e convocar,. falar ao coração e salvar por meio da Palavra e da mesa eucarística, da solidão e da corresponsabilidade, do trabalho e do silêncio, da fidelidade à sabedoria dos séculos e da abertura ao novo que vai chegando. Se relermos os nossos grandes mestres sob esta perspectiva, encontraremos muitas confirmações, mas também um convite a mudar de esquema..

- Uma oração teologal e não só orações: olhando-se bem para a Regra, mas ainda para a nossa história e a nossa espiritualidade, descobrimos que a oração nunca se desprende da história, antes está entrelaçada dentro da história, impregnada de história. Reconhecemos que Deus está fazendo crescer  os seus desígnios dentro da história: rezamos desde dentro da nossa experiência de Filhos, e Cristo primogênito reza conosco e em nós. Verdadeiramente rezamos antes de tudo com esta consciência, nele reconhecendo misericórdia, perdão, ternura, fidelidade. A síntese é a oração do Pai Nosso, que justamente vale tanto quanto o breviário inteiro.

- Uma oração eclesial: enquanto fruto do Espírito, que anima a Igreja, conhece os seus gemidos e aspirações, e os eleva em nosso favor até onde está o Pai (Rm 8,26). Trata-se certamente de uma experiência pessoal autêntica, que nasce do coração e da interioridade, mas não se fecha sobre si mesma, exprime ao mesmo tempo a comunhão dos irmãos, dos filhos de Deus, do edifício espiritual que vai crescendo sob a guia do Espírito. Não percamos de vista a função central da capela dedicada a Maria: a oração, que nasce na interioridade de cada um, tende por sua natureza a se manifestar em expressões compartilhadas por todos, como expressão coral de uma família , de uma comunidade.

- Uma oração que é via para crescimento em humanidade: retenhamos que hoje é muito importante colocar a nossa atenção sobre o dinamismo do crescimento na autoconsciência cristã através da oração e o orar. Para que todos nos demos conta de que aqui justamente está uma das grandes dificuldades da nossa oração: que ela se torne não só um problema de quantidade e de tempo, de fórmulas e de gestos, mas sobretudo de crescimento dinâmico, de maturidade global. A Regra propõe-nos uma experiência unificada e unificante com o mistério da salvação, que se realiza no tempo e caminha para a plenitude do Reino escatológico. O escopo final é uma existência transfigurada, em que tudo vem à luz em síntese: é este o sentido dos últimos três capítulos do texto. E nós devemos ajudar os jovens a se encaminharem até este modelo, dinâmico, co-envolvente, sem perigosas dicotomias. Se, pelo contrário, a nossa preocupação é a de ensinar as descrições metodológica e psicológicas dos nossos mestres, nós nunca formaremos orantes de coração vigilante.

A palavra é uma lâmpada para os nossos passos [cf. Sl 118 (119) 105]. Queremos completar esta nossa exposição mais uma vez com um texto bíblico, que talvez raramente tenhamos lido. São alguns versículos do Sirácide 35,9-18. Limito-me a algumas anotações para ajudar na interpretação.

- A hipocrisia do culto sem justiça: não se pode separar o culto a Deus do modo de viver, seguindo uma moral dupla. Deus não se deixa enganar pelas aparências quando se oferece os frutos de ações perversas. Não basta rezar pessoalmente com intensidade, é preciso saber distinguir a desonestidade em tantas situações e não concordar com a hipocrisia.

- O semblante alegre , com ânimo bem disposto: não há verdadeiro diálogo com Deus se não existe amor e alegria ao fazê-lo, desejo de encontrá-lo. No constrangimento e no medo não floresce verdadeira oração. Mas a alegria nasce também da resposta de Deus, gratuita e generosa. “Bela é a misericórdia no tempo da aflição: é como nuvens que trazem a chuva no tempo da seca (Sr 35,24)”.

- Deus ouve a prece do oprimido: a Escritura toda no-lo testemunha. Deus conhece e escuta a súplica e o desabafo. Quer dizer que é lícito desabafar-se e gritar; mas também que aquele que ama a Deus deve  aguçar os próprios ouvidos e abrir o próprio coração para escutar como Deus e a reagir como Ele, “restabelecendo a eqüidade”.

- Rezar com o corpo: notemos a ênfase corpórea deste modo de orar. Reforça o sentido da luta, da fadiga, da solidão; é também expressão de uma fé tenaz e confiante. É o corpo todo e a vida que se fazem oração; não é apenas um dizer orações de qualquer maneira.

- Caminho de crescimento. Seja para quem implora e desafia as nuvens para se fazer escutar , seja para a história da humanidade, a oração do humilde torna-se graça que abala as injustiças e faz realizar a justiça e a misericórdia. Bartolomeu de las Casas foi justamente lendo este texto que se converteu de clérigo conquistador em profeta dos oprimidos.

Para meditar ou, trabalho em grupo:

  1- Estamos convencidos de que devemos repensar o sentido da nossa vocação para a oração?

  2-Como tornar-se Igreja orante e não só fazer orações?

  3-Como crescer em humanidade e solidariedade rezando?

*Frei Dom Vital Wilderink, O. Carm. In Memoriam.

Alto do Rio das Pedras 13.08.2003. (Publicado no Informativo das Irmãs Carmelitas DP)

Toda manhã, nos intervalos do noticiário, uma difusora da Rede Católica de Rádio transmite um lembrete musicado: "Avancem para águas mais profundas: mergulho na vida, encarnar a história, ouvir o chamado do Senhor". Um convite que faz refletir, ou melhor, faz meditar, porque na perspectiva cristã a vocação não é um determinado setor da nossa vida a ser considerado no seu relacionamento com outros setores, mas atinge os próprios fundamentos da totalidade do nosso ser. Por isto mesmo, o que se pode dizer sobre ela, permanecerá sempre uma frase incompleta. O que um autor medieval afirmava em relação à exegese da Palavra de Deus vale também para a vocação: Sic semper invenitur, ut semper supersit quod inveniatur. Traduzindo em vista das presentes páginas sobre vocação: elas foram escritas para descobrir o que nelas não está escrito. De fato, sempre haverá novos horizontes a serem abertos, não só na reflexão teológica, mas também na própria vivência sem a qual a teologia vocacional corre o risco de permanecer abstrata.

Se perguntássemos a um grupo de pessoas que se consideram "vocacionadas", o que significa a vocação para cada uma delas, as respostas, provavelmente introduzidas por um silêncio, não seriam as mesmas. O que mostraria que a palavra vocação não traduz um conceito que define uma realidade, e que, pelo menos intencionalmente, pretende ser unívoco. A palavra vocação escapa da precisão de um conceito. Não que a nossa racionalidade não faça parte da esfera vocacional. A razão nos ajuda a fazer coisas razoáveis. Mas o razoável não esgota aquilo que chamamos "nossa vocação". Paulo apóstolo teve que cair do cavalo para descobrir a vocação dele. Não que o despertar vocacional precisa sempre de acontecimentos extraordinários. O que há de extraordinário é a própria vocação. Não deixa de ser paradoxal, pois é na contingência da vida que se ouve o chamado do Senhor, ou seja, é tocando nos próprios limites que se percebe um chamado que transcende esses mesmos limites. João o evangelista se recordava até da hora em que Jesus se voltou para ele: "Era a hora décima, aproximadamente". Aliás, o Evangelho de João conta também com certos detalhes circunstanciais, como se iniciou a história vocacional de outros apóstolos. Não faltará entre nós quem se lembra quando e como percebeu o chamado do Senhor, e, quem sabe, as hesitações que teve em segui-lo, ou as reações pouco favoráveis de parentes e pessoas amigas.

O discernimento vocacional é mais uma questão do coração que de argumentos. Magis in corde quam in codice, como diziam os antigos monges. Não pensemos, porém, que o discernimento pertence só aos começos da vocação. É um exercício que é necessário ao longo de toda a caminhada , embora seus pontos de referência e dimensões vão mudando. Essas mudanças do eixo no discernimento podem ser comparadas com a leitura que fazemos dos textos bíblicos: no decorrer do tempo vão revelando sentidos novos. João Cassiano nas suas conferências aos monges, já falava disso: "Na medida em que, através dessa leitura, o nosso espírito progride, também a face das Escrituras começa a mudar. Atingimos uma compreensão mais profunda cuja beleza aumenta na medida dos nossos progressos. Com efeito, os aspectos das Escrituras se adaptam à capacidade da inteligência humana"

Na linguagem bíblica o coração é o centro do nosso ser, o lugarzinho profundo onde se escondem e donde brotam as nossas aspirações e opções mais profundas. Estas não passam por cima da contingência da nossa vida que pode ter seus momentos cruciais, mas que também é feita das pequenas coisas de cada dia. A consciência vocacional surge quando na vida e na história, com suas alegrias e tristezas, se começa a vislumbrar uma terceira dimensão da realidade que os sentidos e a razão não captam. É um avançar para águas mais profundas. É um processo cujo ritmo não é o mesmo para todos. Frequentemente é interrompido por falta de discernimento, de silêncio interior, ou mesmo por falta de paciência com o próprio Deus.

A palavra vocação, ao ser pronunciada, desdobra-se em vários sentidos que ela vai revelando e, ao mesmo tempo, cobre com um véu. Fala de algo que é profundamente nosso mas, simultaneamente, superior a nós. É uma palavra que soa como um símbolo. O símbolo é símbolo quando estabelece uma relação com quem o percebe. É uma relação entre um sujeito e um objeto. Símbolo vem do verbo grego sumbállo, jogar, lançar envolver conjuntamente Um símbolo que não fala diretamente, deixa de ser símbolo.O símbolo não revela seu sentido e permanecerá letra morta, se não se superar uma dicotomia entre o que é objetivo e o que é subjetivo. É o que acontece com a palavra vocação. Ela não é interpretada num conteúdo objetivo de conhecimento racional, porque diz respeito a uma dimensão fundamental da nossa existência. Aqui vale a expressão de P. Evdokimov, teólogo ortodoxo: "Não é o conhecimento que ilumina o mistério, é o mistério que ilumina o conhecimento". Alguém poderá ajudar-me a ler um símbolo da palavra vocação mas o seu sentido não depende de uma interpretação que vem de fora: ele é captado no próprio processo da vivência vocacional. Por esta razão a introspecção, a presença a si mesmo, é um elemento metodológico indispensável para quem quer refletir sobre vocação.

Vocação não é uma construção mental, ela é sempre histórica. Envolve dados antropológicos bem concretos. Mas também não é uma disposição natural e espontânea que orienta uma pessoa no sentido de uma atividade, uma função ou profissão. Não que os nossos pendores ou tendências sejam excluídas da vocação cristã. Já dissemos que a vocação não passa por cima da nossa realidade humana, embora como opção, isto é, enquanto resposta a um chamado, não deixe de exigir renúncias. A vocação na perspectiva cristã supõe uma abertura para o Mistério que orienta a nossa vida do interior e do exterior.

A vocação será sempre uma busca e, portanto, uma interrogação. A vocação nasce quando identificamos nos nossos desejos, perguntas e temores a voz do Senhor: "Que procurais?" Frequentemente nós mesmos  não sabemos definir o que buscamos. A nossa resposta é outra pergunta: "Mestre onde moras?" Jesus não tem endereço fixo: "Vinde e vede". Meio desajeitados, seguimos os passos dele. Edith Stein tinha razão quando dizia: "Tenho certeza de que o Senhor me conduz, mas, aonde, não sei ".

*Dom Frei Vital Wilderink, O Carm- Eremita Carmelita e 1º Bispo de Itaguái/RJ - foi vítima de um acidente de automóvel quando retornava para o Eremitério, “Fonte de Elias”, no alto do Rio das Pedras, nas montanhas de Lídice, distrito do município de Rio Claro, no estado do Rio de Janeiro. O acidente ocorreu no dia 11 de junho de 2014. O sepultamento foi na cidade de Itaguaí/RJ, no dia 12, na Catedral de São Francisco Xavier, Diocese esta onde ele foi o primeiro Bispo.