Frei Henrique Esteve, 0. Carm.

Não é, pois, de admirar-se que o Escapulário do Carmo juntamente com o Rosário se tenha tornado em quase toda parte uma forma universal da piedade mariana. Assim como realmente o Rosário ofereceu a forma ideal a consagração, que lhe é devida.

Esta universalidade é atestada pela história. Basta qualquer exemplo, já que esta verdade por si é evidente. Em 1953 José Falcone, de Piacenza, escrevia na sua “Crônica Carmelitana”: “Hoje em dia a Espanha floresce; ali não se vê casa onde não se encontre usado o hábito do Carmo para gozarem as infinitas indulgências carmelitanas... Não parece a Espanha juntamente com Portugal um grande convento carmelitano? Todos querem estar cobertos com esta arma desejada, que os torna intrépidos nas doenças corporais e espirituais.

Em toda a Espanha há conventos carmelitanos e inúmeras associações carmelitanas. Na Itália e especialmente na Sicília, no Reino de Napoles e na Lombárdia vêem-se inúmeros confrades assíduos e de mui grande devoção. Em Piacenza, somente no nosso catálogo os confrades passam de 10.000 entre homens e mulheres, seculares e frades de outras Ordens, padres seculares e monges regulares de diversas Ordens. A Alemanha, alta e baixa, conta um número incalculável de confrades, mas muitos foram malogrados por danados hereges. A França se destaca na religião; mas oprimida e agravada vem hoje sendo trabalhada pelos inimigos sacramentários.”

Assim também em época menos remota escreve o Padre Dominicano Petitot, aludindo â última aparição de N. Snra. em Lourdes, realizada em 16 de Julho de 1858: “Antes de se iniciarem as peregrinações a Lourdes, não houve em toda a Cristandade título mais em evidência do que o de NOSSA SENHORA DO MONTE CARMELO. Na época de Bernadete em todas as famílias cristãs a maior parte das crianças levava o Escapulário sobre o peito.” (Les apparitions de Notre Dame à Bernadete, Paris 1934, pg. 93).

A devoção do Escapulário começou a propagar-se especialmente no fim do século XVI, no tempo da contra-reforma, quando esta devoção era apresentada como sinal do verdadeiro espírito católico contra hereges e fautores das heresias. Naquele tempo os protestantes e jansenistas, juntamente com numerosos sábios, sob o pretexto de exaltar a devoção a Cristo, combatiam o culto mariano na Igreja, não sem grande dano paras almas. Em tais condições foi o Escapulário conservado por quase todos como meio e manifestação concreta da devoção mariana na Igreja, do mesmo modo que pouco depois a devoção ao Sagrado Coração de Jesus parecia quase encarnar o culto a Nosso Senhor.

Sem mais a devoção do Escapulário exprimia otimamente a doutrina da Igreja acerca de Nossa Senhora e o culto que lhe é devido. De modo particular, esta devoção patenteava praticamente a Sua mediação universal, sobre a qual se apoia a nossa consagração. Realmente, as duas promessas do Escapulário para a hora da morte e depois no purgatório, não são outra coisa senão uma esplêndida aplicação desta mediação universal: por aumentar a fé, na qual não pouco influi a nossa devoção.

Frei Jadival, 0. Carm. (Ex-Frade Carmelita)

Ia alta a lua nos céus da Bahia, naquela noite de 14 de janeiro. Tudo era quietude, pois a uma hora da madrugada, normalmente o Largo do Carmo é desértico. Quando de repente: - Fogo! Fogo! Fogo!

Estava em chamas o Casarão número 4, também conhecido como a casa que hospedava D. João VI, quando passava pela Bahia, e que hoje é uma triste lembrança desse régio tempo. Em ruínas, abrigava até esses dias algumas pessoas. Havia um pequeno bar, no térreo, e uma lojinha de artesanato. Era uma invasão do que sobrara do Palacete, que tinha dois pavimentos e uma fachada impotente. E foi justamente um desses moradores o pivô da tragédia. Contam que foi briga de casal. Sabe-se com certeza que a mulher jogara o candeeiro no assoalho, provocando um incêndio. Os vizinhos assustados correram para a rua. Ligaram para o Corpo de Bombeiros. E o alvoroço se apoderou de todos. Os palpites eram os mais desencontrados possíveis. Cada um tinha um ponto de vista, mas nada que debelasse o fogo. E os bombeiros não chegavam. O fogo cada vez mais voraz consumia o velho madeirame. Até que alguém foi buscar os bombeiros. Já se passara uma hora após o alarme. A lembrança do incêndio no bairro do Chiado em Lisboa, no ano passado, era muito recente, e as característica do Centro Histórico de Salvador são idênticas às do Chiado. Mas, finalmente, chegaram os bombeiros, e começaram a combater o incêndio. Durou pouco, a água dos heróis do fogo. Acabou-se a água e para agravar a situação a localidade não possui hidrante. O fogo ganhava a luta. Alguém dentre o povaréu, por resignação diante do irremediável, disse, não se sabe se por fé ou desdém!

- Agora só milagre! Vamos rezar, gritou dona Elza em desespero. Só um milagre mesmo, pois o vento naquela noite contribuía em tudo para aumentar o caos. Não tinha jeito. Tirem tudo o que puderem de suas casas!

Dona Elza é moradora do prédio número 6, lado para o qual o vento soprava. Devota a vida toda de Nossa Senhora do Carmo, pensava em voz alta: “Minha N. Sra. quero continuar tua vizinha. Não quero me mudar daqui, protege a minha casa”. Enquanto isto convidava o povo para rezar com ela. Lembrou-se da imagem do Sagrado Coração. Sugeriram que a trouxesse para fora. Ao que ela retrucou: “Não, o Sagrado Coração vai ficar lá, para proteger minha casa”. As seculares portas da Igreja do Carmo Estavam fechadas, e alheias às angústias do povo permaneciam indiferentes aos seus rogos. Mas, foi exatamente no Adro do Carmo, na soleira da Casa de Maria (como diz o Salmo 24,11: “Sim, vale mais um dia em teus átrios que milhares a meu modo, ficar no umbral da casa do meu Deus que habitar nas tendas do ímpio”) que Dona Elza e outras pessoas se ajoelharam rezando e implorando. E dona Elza pedia: Gente! Cante assim:  “Em chuvas de graças a Mãe se mostrou . E todo Carmelo feliz exultou. Flor do Carmelo, nossa alegria/ Salve, Salve, Maria!   (bis).

Ó, vinde cristãos, louvar a Maria! Com um hino singelo e terna alegria.Flor do Carmelo, nossa alegria/ Salve, Salve, Maria!   (bis).

De repente, a lua rainha da noite perde o brilho, ante o esplendor da Rainha dos Céus, que envia a seus filhos clementes uma copiosa chuva. É, isto mesmo, uma copiosa chuva! E foi muita chuva a desabar!

O povo ficou aturdido diante de tamanha coincidência. “Sorte” diziam alguns; “milagre de Nossa Senhora do Carmo”, diziam em lágrimas os devotos, em oração no Adro da Igreja do Carmo.

E a chuva veio com vontade. Entrou madrugada a dentro, impedindo que a aurora trouxesse o sol. Amanheceu nublado e chovendo em salvador.

E o incêndio? Ah, esse foi debelado pela abençoada chuva de Graças. Quando o dia clareou, apenas fumegavam os escombros. Dona Elza conta como chorou, ao ver atendidos os clamores que fizeram a N. Sra. do Carmo. Enquanto pediam, foram atendidos.

Na missa das sete da manhã, lá estava dona Elza ajoelhada aos pés do Altar-Mor, chorando agradecida.

Este fato pode ser confirmado, pois é verídico. Os envolvidos moram no Largo do Carmo, em Salvador- BA.

Frei Antônio Silvio, O. Carm.

Desde o início, os Carmelitas, e já vão mais de 800 anos, colocaram-se de uma forma surpreendente sob a proteção de Nossa Senhora. Não vamos esgotar o assunto em tão curto espaço. Vamos apenas recordar alguns fatos ilustrativos da devoção mariana vivida pelos Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo.

Um quadro

Uma das mais antigas pinturas da Ordem do Carmo retrata Nossa Senhora com o Menino Jesus no colo, e este lhe faz um carinho. Estudiosos contam que esta pintura – chamada “LA BRUNA” – representa a forma mais terna de devoção a Maria: o Carmelita se põe ao colo de Nossa Senhora, como um filho à procura de proteção. Ali, ele sabe que estará protegido e não irá cair. Pois, a mãe o ama e protege! O filho acaricia o rosto da mãe; assim, o Carmelita tem sentimentos de carinho e de ternura para com Maria, querendo viver à imitação do seu Filho bendito.

Uma história

Quando Santa Teresa de Jesus, ainda menina, perdeu sua mãe, ficou bastante aturdida, sem saber como seria sua vida sem sua mãe. Imediatamente, a menina Teresa correu a uma ermida de Nossa Senhora e pediu-lhe em fervorosa oração que a Virgem, dali por diante, substituísse sua mãe, e a tomasse sob sua proteção. Anos mais tarde, já mulher madura e freira Carmelita, empenhada na fundação de mosteiros reformados, Santa Teresa de Jesus testemunhou que foi atendida em sua prece adolescente e que jamais lhe faltaram o apoio e a proteção de tão bondosa mãe.

Um livro

Frei Miguel de Santo Agostinho, Carmelita do Século 18, escreveu um pequeno livro: “Tratado de Vida Marieforme”. Pequeno em páginas, porém grande em espiritualidade: o Carmelita deve imitar as virtudes e a vida de Nossa Senhora como um caminho de vida cristã, pois viver uma existência como a de Maria é caminhar com passos certos rumo ao céu. Maria é caminho.

A lição

Viver uma devoção carmelitana a Nossa Senhora é viver no exemplo e na imitação da Virgem do Carmo. É também viver como o Filho de Maria, Jesus Cristo, e ter os seus sentimentos para com sua Mãe e seu irmãos, os outros filhos de Maria nascidos ao pé da Cruz, que é a Igreja.

 *Dom Vital Wilderink O. Carm. In Memoriam

SIMBOLISMO MARIANO

Se perguntar-nos a uma pessoa que traz o bentinho, qual é a razão deste seu proceder, a resposta poderá variar, mas, em última análise, acentuará sempre uma relação entre o Escapulário e a Virgem Maria, E, de fato, tal relação existe. Mais ainda: é ela que dá ao Escapulário o seu valor específico. O Escapulário é símbolo da devoção mariana. A atração que ele exerce sobre o mundo católico, encontra a sua principal justificação na sua índole mariana.

Existe, infelizmente, muito ignorância acerca do Escapulário. Assim há pessoas que atribuem ao Escapulário uma força mágica, como se fosse um amuleto, ou então, vêem nele um salvo-conduto com que podemos entrar no céu, mesmo sem a veste nupcial. (1) No extremo oposto encontramos uma corrente que não oculta a sua aversão da devoção do Escapulário, como em geral de todas devoções particulares, ordens terceiras e confrarias. Tudo isto forma, segundo a sua opinião, um obstáculo para as almas que desejam aprofundar a sua vida de graça. De fato, não podemos negar que uma acumulação de devoções, de fitas, opas e medalhas facilmente enredam a alma na sua vida espiritual. O homem é demasiadamente limitado para aprofundar a sua vida cristã através de muitas devoções. Em si, porém, uma devoção, aprovada pela Igreja, é para isto um ótimo meio.

O que deu origem a tantas falsas apreciações do Escapulário, que vão da superstição até o desprezo, foi o desconhecimento do seu simbolismo. É numa parte desta riqueza, que queremos fixar a nossa atenção no presente artigo.

O HOMEM E O SÍMBOLO

Um estudante Brasileiro, ao passar pelas ruas de Roma, viu-se, de repente, em face de uma bandeira da sua pátria. Tal vista causou nele como que um choque elétrico e, ele quedou-se imóvel a fitar o “querido símbolo da Terra, da amada Terra do Brasil”. Enquanto o nosso estudante estava alí, imerso num mundo variado de sentimentos e lembranças, passavam outras pessoas pelo mesmo local. Estas lançavam um olhar curioso sobre a bandeira e continuavam, desinteressados, o seu caminho. Para elas aquela bandeira não era mais que uma das muitas que existe no mundo.

Em todos os tempos e em todos os lugares, o homem sentiu a necessidade de exprimir as suas idéias e intenções por meio de um símbolo. Esta necessidade, aliás, lança as suas raízes na própria natureza humana. O homem graças à sua alma, é capaz de desenvolver uma atividade espiritual. Porém, quando se trata de manifestar a sua experiência interior, ele necessita do seu corpo e do mundo material que o rodeia. Poder de expressão dentro da esfera espiritual, o homem não possui. Podemos portanto dizer que na atividade especificamente humana, há sempre um valor simbólico. Na sua linguagem, nos seus gestos, mesmo no seu silêncio esconde-se  e, ao mesmo tempo, manifesta-se sempre o seu mundo interior.

Para dar corpo à sua alma, o homem utiliza também as coisas materiais existentes fora dele. A matéria torna-se então, por assim dizer, a “tradução” das idéias e intenções humanas. Deste modo ela recebe uma certa dignidade, ela é de certa maneira humanizada. Isto já demonstra que o símbolo como símbolo existe apenas dependentemente do homem, da sua atual experiência interior. Recordemo-nos do estudante brasileiro. Para ele a bandeira existia formalmente como símbolo, ao passo que o interesse das pessoas estrangeiras não passava de estético.

O poder humano de criar símbolos não é ilimitado. Entre o símbolo e o simbolizado já devem existir certos pontos de contato, um certo parentesco. (2) O pelicano foi sempre indicado como símbolo do amor de Cristo, que quer, que seja a razão que o motivou. É claro que um falcão, p. ex., não serviria senão a um simbolismo oposto.

A necessidade de dar figura à sua experiência espiritual, o homem a sente de modo particular na sua relação para com Deus e todas as coisas religiosas. Por isto podemos compreender, porque os místicos, embora cientes da sua incapacidade de exprimir o inexprimível, usam tantas vezes de imagens nupciais.

Não é, pois, de admirar que o Carmelo, já desde muitos séculos, possua um símbolo da sua vida mariana. Teremos ainda ocasião de ver, quais são as razões que deram origem ao simbolismo mariana do Escapulário.

CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS

Certamente não era uma época tranqüila, aquela do século XIII, que viu desembarcar nos portos da Europa ocidental os primeiros Carmelitas. A vida social via-se sujeita a profundas transformações. Enquanto o feudalismo dos séculos anteriores desaparecia pouco a pouco, formavam-se no mesmo ritmo as famosas corporações medievais. Tais transformações não se limitaram ao exterior, mas influenciaram profundamente o modo de pensar e todas as manifestações da cultura medieval.

Durante a época feudalista, desenrolava-se a vida do homem em torno dos castelos. Somente assim podia-se levar uma vida segura. Afora os habitantes dos castelos, os barões, não existia uma classe que podia chamar-se independente. A independência daqueles fundava-se na possessão de terras. O simples lavrador e o artesão não podiam apelar para o seu trabalho a fim de valer-se dos seus direitos. Para proteger a sua vida e a das suas famílias contra perigos de várias espécies, eles  punham-se debaixo da proteção do senhor de um castelo. Este se lhes declarava protetor, caso se colocasse com todos os seus haveres aos seu serviço. Gravuras medievais conservaram para a posteridade a bela cerimônia com que se confirmava tal contrato. O vassalo ajoelhava-se perante o seu senhor, colocava as suas mãos nas do barão e prometia-lhe fidelidade. Em seguida, o senhor feudal cobria com o seu manto ao seu novo vassalo, significando com este gesto que ele era aceito na sua família. (3) Daí em diante o vassalo usava os brasões do seu senhor, que constituíam para ele como que o título dos direitos que o barão lhe havia concedido em forma de privilégios.

Pouco a pouco os artífices começaram a agrupar-se em cidades. O trabalho manual passou por um lento processo de especialização, motivando assim a origem das diversas corporações profissionais. Os direitos individuais, que antes se fundavam no poder e na proteção dos senhores feudais, encontravam agora uma base mais sólida no trabalho manual dentro das corporações para defender os seus direitos e para granjear novos privilégios, cada corporação tinha o seu representante junto ao soberano, na pessoa do seu chefe. Mudanças idênticas àquelas da sociedade medieval, operavam-se dentro da Igreja. A obra de S. Francisco e S. Domingos dava nova vida à Igreja. Enquanto as antigas ordens monásticas se caracterizavam pela possessão de terras, as ordens mendicantes baseavam a sua vida na atividade entre o povo. Isto dava-lhes direito de pedir esmolas.

Era, pois, este o aspecto que a Igreja e a sociedade apresentavam, quando os monges o Carmelo chegaram à Europa. Devido ao seu caráter eremítico, a Ordem não recebia acolhida muito benévola da parte do povo. O Prior Geral Simão Stock via com clareza que a continuação do antigo teor de vida significaria a morte da Ordem. Sem perder de vista o fim específico da Ordem, que é a vida contemplativa, o santo Geral trabalhou muito para dar uma nova estrutura ao Carmelo, que satisfizesse às exigência da vida européia. Em 1254, o para Inocêncio IV deu aos Carmelitas licença de pregar e ouvir confissões. No início, porém, eles encontraram no exercício deste ministério muita oposição da parte dos bispos e do clero secular.

É evidente que, estando os padres mais em contato com o povo, a espiritualidade carmelitana recebia uma profunda influência do novo ambiente. De modo particular salientam-se as características desta época na vida mariana da Ordem. A Ordem gloriava-se de trazer o título de Nossa Senhora do Carmo. De algum modo podemos avaliar o que significava isto para o medievo, quando nos lembramos da relação que existia entre o vassalo e o senhor feudal. Ora, a Ordem que pertencia a Nossa Senhora, encontrava-se em perigo. Ataques de várias espécies, ameaçavam até tirar-lhe a existência. O superior geral dirige-se à Patrona da Sua Ordem, suplicando-lhe com insistência um privilégio especial, que pusesse termo a esta oposição. A virgem Maria aparece, então, a Simão Stock, rodeada de anjos. E, dando-lhe o Escapulário da Ordem.

Na figura da virgem Maria, reconhecemos facilmente a senhora feudal da Idade Média. Porém, nota-se também claramente a influência da mentalidade corporativa. Nossa Senhora o privilégio com o Escapulário, que fazia parte essencial do hábito carmelitano. Assim  como os direitos do artesão se fundavam no trabalho dentro da sua corporação, de igual modo a vida dentro da Ordem do Carmo era requerida para a participação no privilégio mariano.

Passada a Idade Média, o simbolismo do Escapulário perdeu muitas das suas características medievais, para receber influências de outras épocas.

Típicas são as variações do século XVII. Conhecemos na história esta época como o século do absolutismo dos reis, principalmente franceses e espanhóis. Criou-se uma nova mentalidade cujos vestígios encontramos ainda na devoção mariana, como a compreendia um S. Luís Grignon de Montfort. A Virgem Maria era antes de tudo uma soberana em face da qual o devoto se considerava um servo, ou mesmo um prisioneiro e um escravo. Tal concepção oferece-nos o livro que o Carmelita turonense, Matias de S. João, escreveu sobre a devoção do Escapulário. Para ele, o Escapulário é considerado como vínculo que nos prende ao serviço da Virgem, um escudo que usamos na malícia espiritual, onde somo chefiados por nossa Imperatriz celeste. O P. Matias de São João já não acentua tanto a índole corporativa do Escapulário, como o fazia o medievo. Para este último o Escapulário era em primeiro o distintivo da Ordem do Carmo, portanto, de uma Ordem muito mariana. Somente mediante a vida mariana de que o Escapulário era o símbolo.

HÁBITO MARIANO

Apesar das muitas variações que a mentalidade das diversas épocas teceu em torno do simbolismo do Escapulário, este permaneceu intacto quanto ao essencial. O Escapulário é sempre símbolo da proteção da Virgem Maria sobre aquelas almas que, de modo total e permanente, a Ela se consagram.

Precisamos mais a relação entre Maria santíssima e o seu devoto, simbolizada pelo Escapulário, podemos dizer que os Carmelitas sempre consideraram Maria como sua Mãe. Já as constituições de 1357, oferecem-nos um testemunho explicito desta tradição do Carmelo. (5) Entre as respostas que o frade há de dar às perguntas acerca da origem e do caráter da Ordem, encontramos uma, segundo a qual a Virgem Maria foi ao Carmelo para visitar seus filhos. Certamente, tudo isto não passará de lenda. Porém, haverá testemunho mais vivo desta consciência dos Carmelitas de serem filhos de Maria? Mesmo o P. Matias de S. João, apesar das suas tendências regalistas, não pôde deixar de dizer que o Escapulário “nos eleva à qualidade não apenas de servo e de doméstico da Virgem santa, mas também aquela de seu irmão e de seu filho adotivo.” (6) E, finalmente, o nosso tempo ouve ainda ressoar a exclamação de S. Teresa de Lisieux, como que confirmando a tradição mariana do Carmelo.

A nossa consagração total à Virgem Mãe como filhos seus, simbolizada pelo Escapulário, é certamente a forma ideal da piedade mariana. Não é, pois, sem razão que Pio XII concede à devoção do Escapulário uma certa primazia. Isto justifica-se mais ainda porque a devoção do Escapulário tem o dom de intensificar e facilitar a nossa vida mariana. Não falamos agora do simbolismo do Escapulário, como fruto específico da mentalidade medieval. Antes somos de opinião que, como tal, ele terá pouco valor prático para o homem moderno, principalmente no Novo Mundo, cuja história desconhece o regime feudal. A espontaneidade é uma das qualidade indispensáveis ao símbolo. Ora, o simbolismo do Escapulário é de tal plasticidade, que deixa largo espaço para as preferências do ambiente e do indivíduo.

Devemos lembrar-nos que o Escapulário, como hábito carmelitano, é uma veste. A índole mariana desta veste provém do caráter mariano da Ordem do Carmo. Tal índole consolidou-se pela tradição multissecular da Ordem, segundo a qual a própria Virgem Maria entregou o Escapulário ao sexo prior geral, como sinal de predileção. Não é, pois, de admirar que o Escapulário já bem depressa, veio a ser chamado “hábito mariano” ou “ veste de Maria.” E cremos que o Escapulário, considerado sob este aspecto, conserva viva uma profunda significação, também para o mundo moderno.

Poderíamos comprar o Escapulário com um uniforme, que indica a função e a dignidade da pessoa que a veste. Poderíamos, ainda, pensar no papel fundamental da veste que é o de proteger o homem contra a concupiscência e as inclemência do clima. Facilmente pode-se relacionar estas condições com a proteção que a Virgem Maria exerce sobre aqueles que trazem o seu  hábito.

A força simbolizante do Escapulário, como veste mariana, pode atingir maiores profundezas. Como nenhuma outra, a verte está intimamente ligada a toda a personalidade do homem. A sagrada Escritura oferece-nos disto muitos exemplos. Na profecia de Isaias ouvimos cantar a Igreja, a Esposa de Cristo: “Rejubilo-me no Senhor...porque me revestiu do hábito da salvação”. (8) E quando S. Paulo quer exortar aos fiéis de levar uma vida realmente cristã, ele exclama repetidas vezes: “Revesti-vos do homem novo”.  (9) Não será difícil transferir estas comparações para o simbolismo do Escapulário. Quando nos revestimos da veste de Maria, queremos simbolizar com este gesto a nossa consagração à Mãe de Deus, que é também nossa Mãe. Esta entrega total atingirá o mais íntimo do nosso ser. Toda a nossa vida encontrará a sua inspiração em Maria e será assim profundamente Cristã. Sendo o Escapulário símbolo de uma vida mariana, compreende-se melhor o motivo do seu uso constante e ininterrupto.

No nosso mundo atual, que apresenta um aspecto assaz triste, presenciamos uma renovação da piedade mariana. Feliz presságio! O nascimento de Maria marcou o início da nossa salvação. Deus quis que a figura da Virgem se destacasse na história da salvação do mundo e de cada um de nós em particular. Cumpre-nos a nós tomar consciência viva desta verdade e, por conseguinte, introduzir Maria na nossa vida pessoal. Seja o, Escapulário o símbolo da realização deste intento!

AS PROMESSAS

A devoção do Escapulário consta de outro elemento, que merece um estudo especial. Referimo-nos às promessas, Nossa Senhora do Carmo seria uma desconhecida para a grande maioria dos fiéis, destes que agora com tanta piedade a veneram, visto que são as promessas que constituem o motivo por que tantos cristãos se revestem do Escapulário. Muitos viram neste motivo um egoísmo estreito, outros temeram o perigo de graves abusos. Perdia-se, porém, de vista a devoção do Escapulário em toda a sua plenitude. Esquecia-se de que o Escapulário é penhor de promessas em virtude da vida mariana que ele simboliza. Quando se separam estes dois elementos correlativos, facilmente se forma uma idéia errada da nossa devoção. Foi efetivamente a noção falsa da devoção que deu origem a muitas controvérsias. Esta oposição, que a devoção do Escapulário encontrou no decorrer dos séculos, não atacava a veracidade das visões, mas visava mostrar a ausência de base doutrinal. Pois, como alhures já observamos, não é autenticidade histórica que confere às promessas o seu verdadeiro valor. «Não se trata, diz pio XII, de uma coisa de somenos importância, mas de conseguir a vida eterna». É evidente que a verdade de tal promessa não pode depender de manuscritos mediáveis. Temos aqui uma questão religiosa cuja solução compete à teologia, não a investigações históricas. Quem, pois pretende defender a historicidade das visões com o fim de salvaguardar o valor das promessas, comete um grave erro e nega implicitamente o fundamento teológico das mesmas. Não negamos ser a história das visões de um grande valor. A experiência nos ensina que ela exerce sobre os fiéis uma grande atração e força de estímulo. Além disto, a narrativa das visões possui uma veracidade que supera a sua historicidade discutida. Tal veracidade é inerente a todas as lendas marianas que a Idade Média nos legou. Pois estas não são frutos de mera fantasia popular, mas exprimem na sua forma simples e comovente uma grande realidade, qual é a mediação universal da Virgem Maria.

O OBJETO DAS PROMESSAS

Em conformidade com a tradição, costuma-se distinguir, como anexas ao Escapulário, duas promessas: a preservação do fogo eterno e um auxílio especial da virgem às almas dos seus devotos, que ainda se encontram no purgatório. Para poder julgar acerca do valor teológico das promessas, veremos brevemente como elas se apresentam nas diversas fontes.

A terminologia com que vem enunciada a grande promessa, feita a S. Simão Stock, conservou durante os séculos, uma grande uniformidade. As variantes relatam apenas diferenças acidentais, que facilmente se reduzem ao texto. O objeto da promessa consiste, portanto, na preservação do fogo infernal, ou seja, na consecução da vida eterna. Visto que a morte em estado de graça é condição necessária para obter a felicidade eterna, o objetivo imediato da promessa é a graça da perseverança final. Por esta razão é que alguns autores consideram o Escapulário como sinal de predestinação.

Explicitamente a promessa refere-se apenas à hora da morte. No entanto, não podemos restringir a intervenção da Virgem Mãe a determinado momento. Entre a vida celeste e a vida terrena do cristão existe uma relação muito íntima. A vida eterna lança as suas raízes na vida presente. Quando alguém obtém a felicidade eterna, deve isto a um plano da divina Providência, que já à sua vida terrena dá uma direção definitiva.

Não podemos limitar a ação co-redentora de Maria aos últimos instantes da nossa vida mortal, porque ela faz parte do plano que a divina Providência traçou para a nossa vida. Que tal plano existe também na vida de grandes pecadores que somente se convertem no leito da morte, faz-nos ver a profunda significação de um antigo provérbio português: Deus escreve direito por linhas tortas.

Maiores dificuldades encontramos ao determinar o objeto do Privilégio Sabatino. Na sua versão mais conhecida, a tradição nos narra que a virgem apareceu ao Papa João XXII e lhe disse que haveria de livrar do Purgatório os confrades do Escapulário, no primeiro sábado depois da morte. Como condição exigiu que cada um guardasse a castidade conforme o próprio estado de vida.

Outros autores procuram evitar esta dificuldade e seguem um outro texto, não menos antigo, que traz «subito» em vez de «sabbato». Segundo eles, portanto, trata-se de um erro tipográfico. Uma outra variante encontramos em alguns documentos subsequentes: substituem o «sabbato» por «quantocius». Um exemplo ainda recente dá-nos o breve apostólico de Pio XII do ano de 1950. Escreve o santo Padre: «E certamente a Mãe piedosíssima, conforme aquela tradição chamada de Privilégio Sabatino, não deixará de interceder junto a Deus por seus filhos, quando no Purgatório estiverem a expiar seus pecados, a fim de que alcancem quanto antes a pátria eterna». Nota-se que a idéia da liberação, realizada pela virgem Maria desapareceu, para dar lugar a uma intercessão espiritual junto de Deus. Esta visita da Virgem ao Purgatório constituía para os teólogos do século XVII um outro ponto de discussão.

Quando os Papas, iteradas vezes, aprovaram o Privilégio Sabatino, não fizeram outra coisa senão confirmar a doutrina da Igreja sobre mediação universal de Maria Santíssima, que não somente diz respeito à Igreja militante, mas também à Igreja padecente. É esta a idéia central do Privilégio Sabatino, que, em si, é alheia aos pontos discutidos. A questão do sábado é um reflexo de uma profunda convicção medieval, segundo a qual o sábado era um dia consagrado, de modo especial, à Mãe de Deus. S. Pedro Damião (1007-1072) nos conta que já no seu tempo, em todos os sábados, se celebrava um missa em honra de Maria Santíssima.

É notável que alguns autores não falam da grande promessa, mas mencionam apenas o Privilégio Sabatino. Isto se explica pela relação íntima que existe entre as duas promessas. é evidente que o Privilégio Sabatino já pressupõe a grande promessa, ou seja, a  preservação do fogo eterno. De outra parte, a grande promessa é só plenamente realizada, quando a alma é livrada do Purgatório. Visto que o Privilégio Sabatino não acrescenta nada de essencialmente novo à grande promessa, a sua significação consiste em entender e explicar ele a grande promessa em favor de todos os fiéis, que pela recepção do Escapulário, se afiliaram à Ordem carmelitana.

Quando o Privilégio Sabatino exige como condição, a guarda da castidade conforme o estado de vida de cada um, não podemos concluir daí que qualquer transgressão exclui o devoto da participação da promessa mariana. Neste caso, a devoção do Escapulário já não seria mais «acomodada na sua própria simplicidade à índole de todas as pessoas». O que dissemos da grande promessa, vale também para o Privilégio Sabatino: não podemos restringir a determinado momento a intervenção salvifica de Maria. Se alguém, pois, caiu em pecado, receberá, por intercessão de Maria, a graça de fazer a devida penitência, para que de novo possa participar das suas promessas.

Surge agora uma pergunta: Afinal, que de extraordinário contém as promessas principalmente aquela feita a S. Simão Stock? Conta-se que S. Pio X disse, certa feita, que estava pronto a canonizar qualquer religioso que tivesse observado fielmente a regra e as constituições do seu instituto. O mesmo ele poderia ter afirmado de qualquer pessoa, que, durante a sua vida tivesse realizado o ideal cristão.

Certamente não se trata de uma especial economia de salvação. A ação co-redentora de Maria Santíssima não existe fora da economia da graça, instaurada por Cristo. No entanto, não podemos esquecer que a perseverança final é uma graça que não podemos merecer. Daí se pode avaliar o grande valor do auxílio e da proteção da Virgem, que, nestes privilégios nos são prometidos. Graças a este auxílio especial nos será dada a força de viver constantemente conforme o espírito do Escapulário e, depois desta vida, gozar a felicidade eterna.

AS CONTROVÉRSIAS

Não será inútil esboçar o cenário histórico da oposição, que a devoção do Escapulário encontrou, principalmente nos séculos XVII e XVIII. Como qualquer ciência deve a sua origem à existência de problemas, de igual forma, a teologia do Escapulário começou a formar-se como uma tentativa de resolver as dificuldades que se faziam contra a nossa devoção. Conhecendo estas controvérsias, compreender-se-á com maior clareza o que nos diz a doutrina católica sobre a devoção do Escapulário e, especialmente, sobre o valor das promessas.

No início do século XVII, a devoção já atingira uma grande florescência entre os fiéis. Tal incremento admirável explica-se como uma reação do espírito católico contra a pseudo-reforma protestante. Para a Igreja Maria é a «cheia de graça», a criatura em que a graça divina obteve uma vitória completa. O triunfo desta graça foi tal que conferiu a Maria um papel ativo na obra redentora de Cristo. A doutrina protestante, porém, nega a maternidade espiritual de Maria na ordem sobrenatural, como nega também a verdadeira vida da graça e, por conseguinte, rejeita o culto mariano da Igreja Católica.

Na Idade Média, esta adição teria sido de toda supérflua, visto que a noção de privilégio já pressupunha a idéia de uma vida a serviço do protetor. (8) Devemos, porém, lembrar-nos que a convivência social do século XVII já não tinha mais aquele caráter feudal da época medieval e, por conseguinte, a palavra «privilégio» tinha perdido a sua significação profunda.

Outra oposição, mais acerba, provinha de ambientes mais ou menos heterodoxos. Entre estes enumeramos os jansenistas e vários católicos, que se dedicavam ao estudo crítico da história eclesiástica. Enquanto as controvérsias com as autoridades eclesiásticas versavam acerca da interpretação católica da devoção, estes novos adversários eram mais radicais, porque atacavam a devoção na sua totalidade. Pretendiam eles voltar a um cristianismo mais puro como dos primeiros séculos, rejeitando todas as formas de piedade aparecidas em tempos posteriores. A crítica histórica do fim do século XVII estava profundamente impregnada do espírito geométrico e crítico de Descartes. O terreno sobre o qual ela se exercia com preferência era aquele da piedade popular, das lendas, das relíquias, das indulgências e das orações medievais. Os historiadores pensavam que deviam sacrificar tudo à verdade histórica, mesmo a piedade. (10) Voltar às fontes do cristianismo é, em si, uma tendência muito louvável. Não se pode esquecer, porém, que a letra da Sagrada Escritura e a antiga tradição necessitam de um contexto, que é o espírito da Igreja viva. A igreja não é um monumento histórico, mas uma realidade viva, social e, ao mesmo tempo, pessoal. É, pois, um grave erro querer eliminar todas as formas de piedade que, durante séculos, produziram para os fiéis tão opimos frutos. Tais devoções contém como que um epítome de toda a religião e uma norma prática para vida de perfeição. Quando se rejeitam as devoções aprovadas pela Igreja, facilmente se chega a rejeitar também os valores autenticamente cristãos nelas expressas. Tal aconteceu no protestantismo, como também no jansenismo. Não é, pois, de admirar, que  no jansenismo, se tenha perdido a genuína noção do cristianismo. A religião dos filhos de Deus mudou-se numa religião de justiça e de temor. A caridade já não era mais para os jansistas o «vínculo da perfeição» (Col. 3,14) mas, sim, a austeridade ascética. Lógica era, portanto, a sua atitude perante as diversas devoções marianas, tanto recomendadas pela Igreja. Não será necessário descrever por longo a sua oposição neste particular.

As controvérsias foram para os teólogos um estímulo para aprofundar o seu conhecimento da devoção do Escapulário. Assim é que, desde os meados do século XVII, começam a aparecer diversas obras de caráter científico sobre a nossa devoção. O êxito das controvérsias foi a aprovação definitiva da devoção do Escapulário. Esta foi dada por Bento XIII quando inseriu na liturgia da Igreja a festa de Nossa Senhora do Carmo, cuja celebração fora proibida em 1628, nas Igrejas não-carmelitanas.

Também hoje em dia há uma oposição contra a devoção do Escapulário. Em geral, funda-se esta oposição no pretexto de um renovamento litúrgico. Certamente não podemos senão aplaudir a tendência da espiritualidade moderna de encontrar na liturgia uma fonte para a vida espiritual. Esta tendência, aliás, é sobejamente confirmada pelas reformas litúrgicas que, desde S. Pio X, a Igreja vem fazendo e que – esperemos – ainda hão de continuar. Porém, isto não é motivo para eliminar as múltiplas formas de piedade, não estritamente litúrgicas. Entre a liturgia e a devoção do Escapulário não pode haver repugnância. Ambas podem unir-se numa síntese de vida verdadeiramente cristã.

Limitamo-nos no presente estudo, quase unicamente, a considerar as promessas sob o seu aspecto material. A fim de não ultrapassar os limites de uma artigo de revista, deixaremos a exposição teológica para uma próxima ocasião.

*Dom Frei Vital Wilderink, O Carm- Eremita Carmelita- foi vítima de um acidente de automóvel quando retornava para o Eremitério, “Fonte de Elias”, no alto do Rio das Pedras, nas montanhas de Lídice, distrito do município de Rio Claro, no estado do Rio de Janeiro. O acidente ocorreu no dia 11 de junho de 2014. O sepultamento foi na cidade de Itaguaí/RJ, no dia 12, na Catedral de São Francisco Xavier, Diocese esta onde ele foi o primeiro Bispo.

Santa Teresa Benedita da Cruz, (Edith Stein), Carmelita.

Estive hoje, junto a ti, ao pé da Cruz, e senti mais claramente do que antes que foi através dela que te tornaste nossa Mãe.Quando se desdobra uma mãe terrena, em seu amor fiel, para realizar a última vontade de seu filho! Mais ainda Tu, que é a escrava do Senhor!

O Ser e a Vida do Unigênito de Deus - também teu - porque teu ser e tua mesma vida - gerou os teus, contigo, em teu Coração. E com o sangue de amargas dores nova vida compraste a cada alma.

Tu a todos nós conheces: nossas feridas, nosso pranto... E também conhece a celeste luz o amor de teu Filho sobre nós, na eternidade, derramará. Para ti, não há preço demasiado alto, para levar-nos ao fim!. Mas aqueles que escolheste para que te sigam e um dia estejam junto a teu trono, devem estar firmes, contigo, ao pé da Cruz. Com seu sangue e sua dor hão de tecer perene coroa para resgatar as almas: herança tua, a ti deixada pelo Filho de Deus.

“Tudo que fizeste a um destes meus Irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizestes”. (Mt 25, 40.)

Frei Domingos Fragoso, 0. Carm.

 

A Devoção do Escapulário coloca a gente na caminhada de Maria de Nazaré. Isto significa:  É um convite para dar grande importância à vida do pobre. Você, talvez, fique desconfiado quando ouve alguém falar de pobreza. É assunto que está na boca da maioria das pessoas.

Você já percebeu que os países são divididos entre ricos e pobres? O Brasil é um país pobre: a maioria dos seus habitantes não tem nada, e a riqueza é privilégio de alguns. Os países ricos são uns poucos.

Por ocasião do Concílio Vaticano II, a Igreja tomou o partido dos pobres de maneira bem clara. Esta atitude refletiu-se no encontro dos bispos latino-americanos, em Medellin. E uma posição mais definida ainda em favor dos pobres foi tomada dez anos mais tarde, quando os bispos da América Latina novamente se reuniram em Puebla. Basta isto para notar que a pobreza é um dos problemas centrais da humanidade nos dias de hoje.

Os pobres têm um lugar especial no coração de Deus. No Sermão da Montanha, Jesus anuncia que o Reino de Deus está aberto aos pobres, pertence a eles. Faz ver que a marca de autenticidade de sua Palavra é o fato de que os pobres são libertados de seus sofrimentos e recebem o anúncio da Boa Nova. E vai mais longe: identifica-se com os pobres e considera como feito a si mesmo tudo o que é feito aos pobres. Jesus preferiu viver pobre, entre os pobres e morrer como um deles.

Pois bem, a Devoção do Escapulário motiva a tomar a sério a pobreza, a vida do pobre. Isto porque ela compromete o devoto a viver do jeito de Maria. Maria experimentou a dureza da vida dos pobres. Sempre aparece nos evangelhos como uma pessoa desprovida de posses. Mais ainda. Maria de Nazaré tinha os pobres na maior estima. Ela esperava um Mundo Novo, no qual os pobres famintos tivessem fartura e os ricos fossem despidos de mãos vazias.

Na sua simplicidade, o Escapulário do Carmo, colocando o devoto na estrada de Nossa Senhora, exige dele três coisas:

* Ter grande amor pelos pobres, como teve Jesus de Nazaré.

* Assumir atitude de denúncia de um mundo em que multidão de homens é violentada e injustamente reduzida à pobreza humilhante.

* Promover a chegada de um Mundo Novo de justiça e de fraternidade.

* Esta tomada de posição leva a uma descoberta muito importante:

* Todo cristão, especialmente o devoto do Escapulário, tem que ter espírito de pobreza.

Deus abre as portas do Reino para aqueles que se desprendem e se despojam da posse de bens passageiros, dominam a ganância e a ambição, e abrem as mãos para a doação generosa. Só estes terão o vigor necessário para assumir a causa dos pobres humilhados e para lutar por eles.

BEATO TITO BRANDSMA, CARMELITA, Este ano celebramos o 75º aniversário da morte do Beato Tito Brandsma no campo de concentração de dachau. Nesta ocasião, o dia 26 de julho (aniversário da morte) terá lugar um ato cívico na cidade de Nijmegen (Holanda) e 27 (memória litúrgica) uma missa solene na nossa igreja de Santa Maria in traspontina, em Roma. Fonte: Facebook/ Frei Fernando Millán Romeral, O. Carm. Prior Geral da Ordem do Carmo. 

Frei Angelino Wisssink O. Carm.

O Escapulário do Carmo é composto de dois pedacinhos de pano, presos por um cordão; uma parte pende no peito e outra nas costas; isto significa que devo olhar para frente, isto é, para o meu futuro, para o meu destino eterno, o céu! No céu, o Deus que adoraremos, no dizer de São João Evangelista, é Amor; e um amor profundo que existe no Deus Uno e Trino: Pai, Filho e Espírito Santo! Este amor é tão grande que no modo de pensar humano, transborda para fora, dando origem a este universo maravilhoso, que saiu do seio da SS. Trindade, que é a criatura humana, homem e mulher, feitos a sua imagem e semelhança, feitas também para conhecê-lo e amá-lo! Deus quer que a sua criatura predileta, homem e mulher, se voltem para Ele e para sempre!

FRENTE: Com o Escapulário em frente, no peito, olhando para o futuro, para o nosso destino eterno, devemos animar-nos e não cruzar os nossos braços e descansar; pelo contrário, como Jesus nos ensinou, devemos amar a Deus e manifestar este amor fazendo o bem aos nossos semelhantes, exatamente porque somos uma imagem de Deus!

COSTA: E com o Escapulário nas costas, devemos também olhar para trás, isto é, para o nosso passado! É bom meditar sobre a História da Salvação e ver a Misericórdia de Deus sobre o seu povo no Antigo Testamento e bem interpretar a vida de Cristo e a vida da Igreja! Meditar também na minha própria vida, na minha história para ver o que sou e o que poderia ter sido se tivesse cooperado com a Graça de Deus!

Frei Angelino Wisssink O. Carm.

O Escapulário do Carmo é um Sacramental muito simples e a nossa vida religiosa deve ser também muito simples como simples foi a vida de Nossa Senhora, venerada através do Escapulário! Deus não nos chama para coisas maravilhosas! Jesus quer que nós sejamos humildes; “aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração” disse Jesus! A simplicidade e a humildade de nossa vida devem caracterizar-se pelo cumprimento fiel de nossos deveres cotidianos e fazer tudo com amor; tudo quanto fazemos com amor é grande perante Deus!

O Escapulário do Carmo, colocado no pescoço, toca no meu corpo e isto faz lembrar uma realidade: eu sou o que sou realmente neste momento histórico e concreto de minha vida, neste lugar, nesta família e no convívio das pessoas que amo! Não devo imaginar um mundo abstrato como se eu estivesse vivendo no tempo de Cristo ou como se eu fosse uma pessoa importante, um governador por exemplo etc.!

O Escapulário do Carmo é composto de dois pedacinhos de pano, presos por um cordão; uma parte pende no peito e outra nas costas; isto significa que devo olhar para frente, isto é, para o meu futuro, para o meu destino eterno, o céu! No céu, o Deus que adoraremos, no dizer de São João Evangelista, é Amor; e um amor profundo que existe no Deus Uno e Trino: Pai, Filho e Espírito Santo! Este amor é tão grande que no modo de pensar humano, transborda para fora, dando origem a este universo maravilhoso, que saiu do seio da SS. Trindade, que é a criatura humana, homem e mulher, feitos a sua imagem e semelhança, feitas também para conhecê-lo e amá-lo! Deus quer que a sua criatura predileta, homem e mulher, se voltem para Ele e para sempre!

Com o Escapulário em frente, no peito, olhando para o futuro, para o nosso destino eterno, devemos animar-nos e não cruzar os nossos braços e descansar; pelo contrário, como Jesus nos ensinou, devemos amar a Deus e manifestar este amor fazendo o bem aos nossos semelhantes, exatamente porque somos uma imagem de Deus!

E com o Escapulário nas costas, devemos também olhar para trás, isto é, para o nosso passado! É bom meditar sobre a História da Salvação e ver a Misericórdia de Deus sobre o seu povo no Antigo Testamento e bem interpretar a vida de Cristo e a vida da Igreja! Meditar também na minha própria vida, na minha história para ver o que sou e o que poderia ter sido se tivesse cooperado com a Graça de Deus!

O ESCAPULÁRIO DO CARMO É TAMBÉM UMA VESTE.

O profeta Elias, que veneramos como o Inspirador de nossa Ordem do Carmo, antes de ser arrebatado ao céu entregou o seu manto a seu discípulo o Profeta Eliseu, que devia ser o seu sucessor; lá está na Bíblia: “O espírito de Elias repousou sobre Eliseu” (2 Reis, 14)!

Assim recebendo o Escapulário do Carmo, recebemos também algo do espírito de Maria: “Eis a serva do Senhor”! O Escapulário do Carmo é uma veste igual para todos, é um símbolo que significa: perante Deus e nossa Mãe Maria Santíssima, somos todos iguais; somos todos irmãos e irmãs; ninguém se julgue superior aos outros! E sob a égide de Nossa Senhora, a mulher do Proto – Evangelho, do Gênesis, devemos nos empenhar na luta pelo restabelecimento do Reino de Deus e fazer todo o possível para que haja entre nós uma verdadeira Fraternidade – A Fraternidade Carmelitana! O Escapulário, sinal – símbolo da minha Confraternidade; esta é a piedosa tradição das palavras de Maria na visão de São Simão Stock a 16 de julho de 1251!

Frei Emanuele Boaga, 0. Carm. In Memoriam

Na vereda outrora clara e acidentada do Itaperava cujas rochas brilhavam aos raios ardentes do sol alguns aventureiros, em busca do ouro, penetram nos sertões bravios dos campos dos Cataguases. Eis que a 16 de julho de 1698 esta bandeira chega até a encosta do Itacolomi, descobrindo e ocupando aí um ribeirão que denominaram de Ribeirão do Carmo, a fim de perpetuar a efeméride de Senhora do Carmo. Era chefe da expedição João Lopes de Lima, que fez aí quem era muito devoto.

Em 1703 a expedição do cel. Salvador Furtado de Mendonça redescobre a região que vai crescendo sob a picareta dos bandeirantes, às margens do aurífero Ribeirão do Carmo, sob a proteção da Virgem do Carmo, a Mãe e primeira Protetora da terra mineira. Já em 1711 é a região elevada à categoria de Vila [Ribeirão do Carmo], início da futura cidade de Mariana.

Na mesma cidade de Mariana foi fundada em 1751 a Ordem Terceira do Carmo. Sob a responsabilidade do mestre Domingos Moreira de Oliveira foi iniciada, em 1784, a construção da igreja do Carmo. A Ordem Terceira seguinte foi fundada em Ouro Preto, famosa pela bela igreja que fez construir e na qual se conserva a única decoração em cerâmica rococó do Estado de Minas. Neste templo trabalhou o grande escultor mineiro Antônio Francisco Lisboa, o “Alejadinho”,   que segundo uma tradição, teria recebido seu salário em ouro falso. Prosperaram e se difundiram as Ordens Terceiras do Carmo por todo o território das Minas Gerais, e deixaram grandes frutos espirituais. Igrejas também monumentais, em honra de Nossa Senhora do Carmo e sob cuidado das Ordens Terceiras, foram edificadas em São João del Rei, Sabará e Diamantina. Além disto, houve irmãos que difundiram pequenas capelas dedicadas a Nossa Senhora do Carmo, em muitos lugares de Minas Gerais que logo se transformaram em arraiais e vilas.

Para que se faça uma ideia de como foi forte esta devoção nas terras mineiras, basta citar o número de localidades que têm como nome oficial a sua invocação. Segundo Augusto de Lima Junior, que fez uma pesquisa particular sobre este assunto, ao ser proclamada a República em 1889 existia em Minas Gerais 21 localidades com o título de Nossa Senhora do Carmo, ou seja: N. Sra. do Carmo da Capela Nova Betim, N. Sra. do Carmo do Pará ou Cajurú, N. Sra. do Carmo da Bagagem, N. Sra. do Carmo do Frutal, N. Sra. do Carmo de Itabira, N. Sra. do Carmo dos Arcos, N. Sra. do Carmo do Japão, N. Sra. do Carmo do Campestre, N. Sra. do Carmo das Luminárias, N. Sra. do Carmo da Cachoeira, N. Sra. do Carmo da Escaramuça, N. Sra. do Carmo do Campo Grande (atual Campos Gerais), N. Sra. do Carmo de Cambuí, N. Sra. do Carmo da Cristina, N. Sra. do Carmo do Prata, N. Sra. do Carmo da Borda da Mata, N. Sra. do Carmo do Arraial Novo, N. Sra. do Carmo do Rio Claro, N. Sra. do Carmo da Cachoeira do Brumado, N. Sra. do Carmo de Morrinhos, N. Sra. do Carmo do Rio Verde. A estas localidades podem-se acrescentar o Município de Nossa Senhora do Carmo de Jabotá (erigido em 1842 e a seguir extinto), e a Freguesia de Nossa Senhora do Carmo de Pains, em 1884.

Nos tempos atuais, um decreto de 19/10/1979 do Governo do Estado determina a comemoração do dia 16 de julho como o dia do Estado de Minas Gerais, transferindo simbolicamente, nesse dia, a capital do Estado para Mariana.

 

Frei Emanuele Boaga, 0. Carm. In Memoriam

O Escapulário se tornou logo objeto de veneração na Ordem Carmelitana. São Simão Stock, também chamado Simão Anglus, por ser inglês, no assumir a direção geral da Ordem (1256 – 1265) encontrou dividida e em luta. Isso se atribuía à alteração da Regra (1247) e à transmissão da vida eremítica para o sistema das ordens mendicantes (cura de almas e estudo). Murmurava-se até que a “nova” Ordem do Carmo não era mais um caminho segura para o céu, Em sua aflição, Simão recorreu, confiante, à Mãe de Deus que lhe apareceu numa visão (1261?). Tinha nas mãos o hábito dos Carmelitas (o escapulário) e, apontando-o, disse: “Quem morrer com este traje não sofrerá o fogo eterno.”

Simão sentiu-se consolado e animado com esta visão. O escapulário nas mãos de Maria foi para ele o penhor de que sua Ordem se encontrava num caminho seguro para o céu e não na senda da perdição. A promessa da Padroeira da Ordem se aplica, em primeiro lugar, aos seus membros, mas também a cada um dos que usarem a veste do Carmo.

Para o povo cristão, esta promessa de Maria foi, naturalmente, um atrativo para se agregar à Ordem dos Carmelitas. Esta filiação se realiza pela entrega da veste religiosa, isto é, do escapulário. Isto levou ao uso de um escapulário em formato pequeno.

No início dos tempos modernos foram criadas muitas irmandades do escapulário que em fins do século XIV, passaram a celebrar como sua a festa principal da Ordem. A festa do Carmelo deveria ser uma ação de graças por todos benefícios recebidos da Mãe de Deus. Daí seu nome oficial: “Comemoração solene da Bem-aventurada Maria”.

A ideia da realização desta festa proveio da vitória dos Carmelitas numa discussão na Universidade de Cambridge (1347) sobre o direito de usarem a designação de “Irmãos de Nossa Senhora”, 17 de julho foi a data escolhida porque neste dia, em 1274, o Concílio de Lyon não suspendeu a Ordem, mas a confirmou como tal, o que foi considerado como proteção especial de sua Padroeira, Maria.

Para o povo fiel, porém, era muita mais importante a promessa feita por Nossa Senhora ao uso do escapulário. Assim quando a festa máxima dos carmelitas se tornou também a festa do escapulário foi ela, em 1470, antecipada para o dia 16 de julho.

            O Escapulário é essencialmente uma veste. Quem o recebe, em virtude de o ter recebido, é associado à Ordem do Carmo num grau mais ou menos íntimo. O Escapulário ou bentinho, de fato, é a miniatura do hábito desta Ordem, que para viver no seguimento e serviço de Jesus Cristo, escolheu a experiência espiritual da familiaridade com Maria, irmã, mãe e modelo.

           A agregação à Família Carmelitana e a familiaridade com Maria assumem um caráter fundamentalmente comunitário e eclesial, porque Maria "ajuda todos os seus filhos, onde quer e como quer que vivam, a encontrarem em Cristo o Caminho rumo à casa do Pai. E assim o Escapulário é um pequeno "sinal" do grande ideal do Carmelo: intimidade com Deus e amizade entre os discípulos.

O ESCAPULÁRIO DO CARMO

           1- Ligada à história e aos valores espirituais da Ordem dos Irmãos da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, a devoção a Maria se exprime, entre os carmelitas, mediante o Escapulário. Por isso quem o recebe torna-se membro da Família da Ordem e se compromete a viver a sua espiritualidade de acordo com as características do seu estado de vida.

TRAÇOS HISTÓRICOS

Um projeto mariano de vida evangélica

            A Ordem dos Irmãos da Santíssima Virgem Maria nasceu no Monte Carmelo, na Terra Santa, no século XII. Um grupo de eremitas oriundos do Ocidente, ali se estabeleceram para viverem o seguimento de Jesus na terra de Jesus. Diante do pedido deles, o Patriarca Alberto deu-lhes uma norma de vida, que, entre outras coisas, lhes pedia a construção, no meio das celas, de um oratório, onde se reunissem para a Eucaristia (1). Dedicaram-no a Maria, pretendendo deste modo ligar-se a Ela de maneira especial, a ponto de serem identificados, pelo povo primeiro, e depois oficialmente, como os "Irmãos da Santíssima Virgem Maria do Monte Carmelo".

            O itinerário evangélico ou o compromisso cristão dos Carmelitas assume, portanto, uma característica profundamente mariana. Na verdade, Maria engrandece o Senhor e exulta nas maravilhas do seu amor misericordioso (cf Lc 1,46); escuta e contempla no seu coração todos os acontecimentos, que se referem a Jesus (cf Lc 2,19.51). identifica-se com o seu povo, especialmente com os necessitados, com os pobres de pobreza espiritual e  material, com os marginalizados (cf Lc 1,39ss; Jo 2,3). é assídua na oração, aberta ao fogo do Espírito, que é a força de qualquer doação apostólica (cf At 1,14; 2,1-4).

COMENTÁRIO INICIAL

Boa noite!  Bem vindos e bem vindas ao quinto dia do nosso Novenário de Nossa Senhora do Carmo.

            No Brasil há 103 paróquias que têm Nossa Senhora do Carmo como padroeira. Apesar da devoção a Nossa Senhora do Carmo ter chegado ao Brasil já no século XVI, só tardiamente, ou seja, no século XVIII (1743), foi realizada a fundação da primeira Paróquia Nossa Senhora do Carmo. Isto se deve ao fato de que os carmelitas não assumiam paróquias no início de suas atividades no Brasil.

            No séc. XVIII temos a fundação de apenas duas paróquias Nossa Senhora do Carmo, a saber, as paróquias de Piracuruca (1743) e de Jucás (1755). No séc. XIX são fundadas 31; no séc. XX, 68. Por estes números constata-se um crescimento concreto da devoção.

Hoje, vamos nos unir aos conventos, catedrais, paróquias, comunidades, associações e congregações que também estão celebrando a Virgem do Escapulário.

(Beato Frei Tito Brandsma, do livro A Beleza do Carmelo).

Elaboração do Frei Martinho Cortez, O. Carm.

1- Os Irmãos do Monte Carmelo

            Uma tradição antiga e constante (1Rs 18) dizia que Elias havia entrevisto na pequena nuvem portadora de chuva e salvação para a terra seca de Israel — um protótipo de Nossa Senhora, a mãe do Redentor.

            Muito antes de a Ordem se fixar em definitivo no monte Carmelo — assim era o projeto inicial — havia por lá um santuário dedicado a santa Maria; com a nova estruturação, sob uma norma de vida, o santuário tornou-se centro da Ordem e os primeiros frades chamaram-se “Irmãozinhos de santa Maria do monte Carmelo”.

            A piedade mariana cresceu, porque todo dia se reuniam na capela para louvar a Deus e meditar. A oração comunitária se realizava sob o olhar da Mãe celeste, tornando-se a devoção por ela cada vez mais fervorosa e cheia de zelo. Deus quis que o primeiro mosteiro carmelita fosse construído na vizinhança da capela e se tornasse o coração da devoção a Maria. Esta devoção tinha íntima conexão com a comunidade estabelecida e o nome com que foram chamados pelos habitantes vizinhos era sua característica, característica de ex-cruzados que depuseram suas espadas para serem os “cavaleiros de Maria”!

            Quando Brocardo, o superior geral, estava para morrer, reuniu os carmelitas e exortou-os a honrar Maria com uma vida de virtude:  “Vocês são chamados de irmãozinhos de nossa Senhora; cuidem para que, depois de minha morte, seja sempre honrado esse nome!” Depois de confirmar os irmãos em vida, Brocardo confirmou-os até o fim, como Cristo no amor aos discípulos.

2 - Os filhos da Igreja

            A devoção a Maria continuou na Europa, servindo até para argumentar em favor de sua aprovação. Foi mantido o nome de “Irmãos de santa Maria”, que depois se tornou seu nome de aprovação oficial como Mendicantes. A “devoção à Mãe de Deus” tornou-se a característica preferida dos carmelitas, até para defender seus direitos perante a Igreja. Papas e bispos concederam indulgências aos membros da Ordem e fizeram empenho para rápida oficialização da mesma. Um dos mais esforçados superiores gerais, Simão Stock, compunha para ela lindas orações, das quais se conservaram até hoje o “Ave Stella matutina” e o “Flos Carmeli”. Sabendo Simão Stock da importância dessa característica mariana da Ordem, para ser aceita e amada pelo povo e oficializada pela Igreja — nunca deixou de crer confiantemente, de insistir valentemente e suportar com coragem as resistências contra uma nova ordem religiosa.

            A história da entrega do escapulário — verdadeira ou lendária — é um símbolo da atuação desse carmelita inglês tenaz e cheio de fé. A Ordem estava ameaçada por dois perigos imediatos: um, interno, a perda da vitalidade original; outro, externo, os adversários da sua existência eclesial.  Mas o santo conseguiu superar os ataques mais ferozes; sua atuação levou à expansão da devoção a Maria, com o tema de sua proteção de Mãe e Patrona, sinalizado em quem usasse  o hábito carmelita. O povo entendeu a mensagem e a vida da Ordem e acabou aproximando-se dos frades também para revestir-se do santo hábito. Muita gente tornou-se também, por agregação, “Filhos de nossa Senhora”, principalmente porque queriam gozar os benefícios espirituais ligados à intercessão da virgem Maria. Foi quando o escapulário substituiu lentamente o hábito completo, conservando o sentido essencial de compromisso com Jesus e com a Igreja, através de Maria e sua maternidade protetora!

3- Os filhos e irmãos da Virgem

            Na Ordem do Carmo e com a aprovação oficial das autoridades da Igreja, Maria é venerada com características próprias:

Ela é a mãe de Deus... Do monte Carmelo os frades olhavam na direção de Nazaré e recordavam a Anunciação, a Encarnação, a Maternidade divina. Contemplavam os mistérios e procuravam imitar Maria, tendo como consequência uma intimidade profunda, verdadeira união mística.

Ela é modelo e exemplar... A mais excelente das criaturas, modelo de todas as virtudes, espelho em que devemos mirar-nos. Na força desse exemplar, se o carmelita é autêntico, certamente cresce em virtude e santidade!

Ela está viva em nós!... A união passa a nós a própria vida marieforme; ela vive em nós, à semelhança do que diz Paulo em Gálatas 2,20 (“Cristo vive em mim”). Viver em Deus -Viver em Maria. O carmelita deve ser, se gosta do que é e  é sincero em sua profissão- outra Maria!