Beato Frei Tito Brandsma, Camelita, Jornalista e Mártir da 2ª Guerra Mundial.

             É de notar que, já no primeiro século da sua existência no Ocidente, a Ordem possui uma vida mística claramente delineada e própria, como tivemos ocasião de explicar. Deste modo o Carmo assume uma posição peculiar na Igreja. Talvez esta graça especial, que a Ordem recebeu para a sua vida mística, seja uma afirmação da sua vocação. Pertence ao Carmelo o privilégio de honrar como modelo e exemplo o grande Profeta do Antigo Testamento e de considerar a vida de Elias como o paradigma da vida que se pratica na escola do Carmelo. Por este modelo a Ordem plasmou a sua escola que descobre na contemplação o ideal mais sublime. "Todos nós que trazemos o sagrado hábito do Carmo somos chamados à oração e contemplação e descendemos da casta daqueles nossos santos Padres do Monte Carmelo que em tão grande soledade e com tanto desprezo do mundo buscaram este tesouro, esta pérola preciosa de que falamos. Todavia, assim digo eu, poucos de entre nós nos dispomos para que o Senhor no-la faça encontrar" (Castelo Interior, Quinta Morada, c. 1).

            A Mãe dos Espirituais e o Doutor Místico, Santa Teresa e São João da Cruz, são, nesta escola, os grandes mestres da vida espiritual, exemplos luminosos e os mais conhecidos do misticismo carmelitano. Afora estas grandes e eminentes figuras, porém, a Ordem produziu tão numerosos escritores místicos, tanto homens como mulheres, que ocupa um dos primeiros lugares entre os autores e mestres da vida espiritual. Pela história do antigo Carmelo sabemos que desde o início se manifestou esta vocação especial para a vida mística e já era o seu ideal constate muito antes da reforma de Santa Teresa e de São João da Cruz, que conferiram tão grande relevo à contemplação.

*DO LIVRO: A BELEZA DO CARMELO- O SANTO PROFETA ELIAS.

Beato Frei Tito Brandsma, Camelita, Jornalista e Mártir da 2ª Guerra Mundial.

             A espiritualidade Carmelitana concebe a vida espiritual como algo orgânico que cresce. Neste ponto a vida do profeta dá-nos outra lição notável. A vida espiritual, do mesmo modo que a vida natural, pede alimento. A Sagrada Escritura narra que Elias, robustecido pelo alimento que o Anjo lhe ministrou, andou quarenta dias e quarenta noites até ao monte Horeb, onde lhe foi dado contemplar a Deus. A vida espiritual e a vida mística anseiam pelo santo Alimento que Deus nos dá no Santíssimo Sacramento da Eucaristia.

            Na escola do Carmelo a vida contemplativa e mística é fruto da vida eucarística. A vida de Elias apresenta um dos mais típicos símbolos, prefigurativos do Santíssimo Sacramento do altar, fonte da nossa vida de oração. O pão milagroso que o Anjo lhe deu é uma imagem perfeita do alimento eucarístico por cuja força percorremos a jornada da vida terrena.

            O culto especial da Eucaristia não é exclusivo da Ordem do Carmo. Contudo, é lícito afirmar que tem sido sempre uma parte importante da tradição carmelita. Os nossos conventos foram em muitas ocasiões verdadeiros centros de culto eucarístico. Santa Maria Madalena de Pazzi sentiu-se atraída para o Carmelo de Florença porque as religiosas deste mosteiro recebiam diariamente a Sagrada Comunhão, costume pouco comum naquele tempo. Para Santa Teresa não havia maior alegria do que a abertura de uma nova igreja ou capela, novas moradas para o Senhor. A Regra prescreve que todos os membros da Comunidade Carmelita assistiam diariamente a Santa Missa e que a capela esteja no centro do claustro, facilmente acessível a qualquer hora do dia, e que as Horas Canônicas sejam rezadas na presença do Santíssimo Sacramento.    

            Por ser uma Ordem mendicante, a arquitetura das igrejas e conventos costuma ser simples, mas a pobreza não se estende a ornamentação das igrejas e dos altares. Nisto nota-se uma divergência acentuada dos costumes de outras Ordens mendicantes por exemplo, a dos Capuchinhos, em que a pobreza atinge o próprio santuário.

            Eis em breves traços a tradição eucarística do Carmelo. Com Elias caminhamos pela força do pão divino. Já que na oração nos achegamos a vida divina, lembremos continuamente o mandamento do Salvador: "Se não comerdes a Carne do Filho do Homem e não beberdes o Seu Sangue, não tereis a vida em vós". Da mesma maneira que a comunhão de Elias no pão milagroso do deserto o conduziu na sua caminhada até a contemplação de Deus no Horeb, assim também a Eucaristia deve conduzir-nos a contemplação da Sua Santa Face. Nas cavernas de Horeb Deus falou ao Profeta no murmúrio da brisa ligeira. O Senhor não estava na tempestade nem no terremoto, mas na leve aragem. É desta maneira que na Comunhão havemos de contemplá-lo sob as espécies eucarísticas e nas profundezas do nosso espírito, pois Deus passa aí.

*DO LIVRO: A BELEZA DO CARMELO- O SANTO PROFETA ELIAS.

No vídeo, o Frei Petrônio de Miranda, Padre Carmelita e Jornalista/RJ, mostra imagens da oração da manhã do dia 25, terça-feira. O Retiro, de 24-28 de julho, acontece na Casa de Retiros São José, dos Padres Redentoristas. Belo Horizonte- MG. 25 de julho-2017.

Frei Petrônio de Miranda, Padre Carmelita e Jornalista.

Convento do Carmo da Lapa, Rio de Janeiro. 22 de julho-2017.

 

No silêncio da noite

Procure não falar muito; e faça uma autoavaliação do seu caminhar

Procure não gritar, a natureza dorme e merece o nosso olhar contemplativo.

Procure não fugir da sua existência; olhe-se no espelho e se conheça.

Procure a pessoa amada, ame-a; talvez esta seja a última noite.

Procure ouvir o canto dos grilos e perceba a harmonia da natureza.

 

No silêncio da noite

Peça perdão pelos seus erros e tente recomeçar uma nova vida amanhã.

Agradeça pelo dom da vida e viva-a com prazer com, e pelos problemas.

Olhe para o céu e tenha a alegria de poder dizer: “Vivi mais um dia”!

Recarregue a sua energia e canalize-a na manhã que Deus lhe ofertará.

Saia de casa e fique a sós contemplando a escuridão. Ela nos ensina a valorizar o dia.

 

 No silêncio da noite

Seja corajoso e saiba retirar as pedras que irão colocar amanhã no seu caminhar.

Não reclame da escuridão da vida, olhe pela janela e veja o brilho das estrelas.

Não esconda os seus erros e a sua arrogância. Afinal, você é humano e limitado.

Não seja imaturo culpando os outros pelos fracassos da vida. Assuma-se pecador.

Não apague as luzes que Deus acendeu. Ele quer ver você brilhando.

 

No silêncio da noite

Procure valorizar-se, sentir o pulsar do coração e jogar fora todo pessimismo.

Prepare-se para viver o dia de amanhã como se fosse o primeiro da sua vida.

Não alimente o rancor e o ódio. Esqueça toda maldade cometida neste dia.

Olhe em volta e perceba quantas pessoas torcem pelo seu sucesso.

Não some as críticas, coloque-as na escada e faça um degrau para subir na vida.

 

No silêncio da noite

Deixe de lado os maus momentos vividos na família e ame-a com todos os defeitos.

Não espere por milagres ou mágicas, Deus o fez inteligente, use para subir na vida

Amanhã, esqueça os fracassos e não deixe a depressão bater na sua porta.

Não fuja dos problemas, enfrente-os de cabeça erguida, Deus está com você!

Não fique preocupado com que os outros pensam de você. Você é você, só você.

 

No silêncio da noite

Você não tem apenas o travesseiro como amigo. Muitos são felizes porque você existe.

Sinta a força que você tem quando fala. Amanhã, ouse comunicar sem medo de errar.

Assuma-se como o mais importante da família e não deixe se levar por críticas

Não tenha medo de carregar a cruz ou deparar com espinhos, depois vem as rosas.

Não tenha medo da escuridão, ela é irmã do sol que brilhará no amanhecer. 

Enfim, esta noite vai passar, você sabia?...

LADAINHA DE SANTO ELIAS. (Festa, 20 de julho)

Adaptação: Frei Petrônio de Miranda, O. Carm.

Convento do Carmo da Lapa, Rio de Janeiro. 20 de julho-2017.

 

Senhor tende piedade de nós!

Senhor tende piedade de nós!

Jesus Cristo tende piedade de nós!

Jesus Cristo tende piedade de nós!

Senhor tende piedade de nós!

Senhor tende piedade de nós!

Deus Pai do Céu, tende piedade de nós.

Deus Filho Redentor do mundo, tende piedade de nós.

Deus Espírito Santo, tende piedade de nós.

Santíssima Trindade que sois um só Deus,

Tende piedade de nós.

Nossa Senhora do Carmo. Rogai por nós!

São José Patrono do Carmelo. Rogai por nós!

Santo Elias Pai e guia do Carmelo. Rogai por nós!

Que foste nutrido por um corvo no deserto. Intercedei por nós!

Santo Elias Pai dos eremitas. Rogai por nós!

Que perseverante na contemplação da lei do Senhor. Rogai por nós!

Santo Elias modelo de justiça. Rogai por nós.

Que chamaste Eliseu para ser o teu sucessor. Intercedei por nós!

Santo Elias propagador da verdade. Rogai por nós!

Que pela vossa oração abristes o céu e conseguistes a chuva. Rogai por nós!

Santo Elias protetor das viúvas. Rogai por nós!

Que fostes apaixonado pelo zelo do Senhor Deus. Intercedei por nós!

Santo Elias precursor de Cristo. Rogai por nós!

Que aparecestes com Moisés no Monte Tabor. Rogai por nós!

Que caminhastes pelo deserto até a montanha de Deus. Rogai por nós!

Santo Elias zeloso defensor do culto do Deus único. Intercedei por nós!

Que vos compadecestes da viúva de Sarepta. Rogai por nós!

Santo Elias mestre dos profetas. Rogai por nós!

Que encontrastes o senhor no silêncio e na oração. Rogai por nós!

Santo Elias defensor dos pobres e perseguidos. Intercedei por nós!

Que caminhastes sempre na presença do Senhor. Rogai por nós

Santo Elias mestre da oração. Rogai por nós!

Que encontrastes vida na nuvenzinha para regar a terra. Rogai por nós!

Santo Elias perseguido por causa da justiça. Intercedei por nós!

Que pelo Senhor Deus fostes consolado na noite escura. Rogai por nós!

Santo Elias arrebatado aos céus em um carro de fogo. Rogai por nós!

Santo Elias livra-nos do medo e da depressão. Rogai por nós!

Santo Elias testemunha da transfiguração de Jesus. Intercedei por nós!

Santo Elias defensor do verdadeiro Deus no Monte Carmelo. Rogai por nós

Santo Elias denunciador das injustiças sociais. Rogai por nós.

Santo Elias intercede a Deus Pai pelos desempregados. Rogai por nós.

Santo Elias inspiração da Igreja em saída. Intercedei por nós!

Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo: Perdoai-nos Senhor!

Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo: Ouvi-nos, Senhor!

Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo: Tende piedade de nós!

Cel: Rogai por nós, santo Elias, nosso Pai e Guia do Carmelo.

Todos: Para que sejamos dignos das promessas de Cristo! Amém

Oração.

Deus eterno e onipotente, que concedestes a Santo Elias, vosso profeta e nosso pai espiritual, a graça de viver na vossa presença e de se inflamar de zelo pela vossa glória. Fazei que, procurando sempre a vossa presença, nos tornemos testemunhas do vosso amor. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo. Amém

COMENTÁRIO

O profeta Elias aparece nas Sagradas Escrituras como o homem de Deus que caminha na presença do Senhor, e que, abrasado de zelo, luta pela defesa do culto do único Deus verdadeiro. Defendeu os direitos de Deus num desafio público, realizado no monte Carmelo entre ele e os sacerdotes de Baal. Entregou-se à íntima experiência do Deus vivo no monte Horeb. Nele se inspiraram os primeiros eremitas que, por volta do séc. XII, iniciaram no Monte Carmelo um novo estilo de vida que originou a Ordem dos Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo. Por este motivo, o profeta Elias é considerado o Fundador ideal da Ordem.

ANTÍFONA DE ENTRADA 1Rs 17, 1

O profeta Elias disse: «Vive o Senhor, Deus de Israel, a quem eu sirvo».

ORAÇÃO COLETA

Deus eterno e onipotente, que concedestes ao bem-aventurado Elias, vosso profeta e nosso pai, a graça de viver na vossa presença e de se inflamar de zelo pela vossa glória,

Fazei que, procurando sempre a vossa presença, nos tornemos testemunhas do vosso amor. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

1ª LEITURA: 1Rs 19,1-9.11-14

Leitura do primeiro livros dos Reis.

Acab contou a Jezabel tudo que Elias tinha feito e como tinha passado ao fio da espada todos os profetas de Baal. Então Jezabel mandou um mensageiro a Elias para lhe dizer: “Os deuses me cumulem de castigos, se amanhã, a esta hora, eu não tiver feito contigo o mesmo que fizeste com a vida desses profetas”. Elias ficou com medo e, para salvar sua vida, partiu. Chegou a Bersabéia de Judá e ali deixou o seu servo. Depois, adentrou o deserto e caminhou o dia todo. Sentou-se, finalmente, debaixo de um junípero e pediu para si a morte, dizendo: “Agora basta, Senhor! Tira a minha vida, pois não sou melhor que meus pais”. E, deitando-se no chão, adormeceu à sombra do junípero. De repente, um anjo tocou-o e disse: “Levanta-te e come!” Ele abriu os olhos e viu junto à sua cabeça um pão assado na pedra e um jarro de água. Comeu, bebeu e tornou a dormir. Mas o anjo do SENHOR veio pela segunda vez, tocou-o e disse: “Levanta-te e come! Ainda tens um caminho longo a percorrer”. Elias levantou-se, comeu e bebeu, e, com a força desse alimento, andou quarenta dias e quarenta noites, até chegar ao Horeb, o monte de Deus. Chegando ali, entrou numa gruta, onde passou a noite. Então a palavra do SENHOR veio a ele, dizendo: “Que fazes aqui, Elias?” Ele respondeu: “Estou ardendo de zelo pelo SENHOR, Deus dos exércitos, porque os israelitas abandonaram tua aliança, demoliram teus altares, mataram à espada teus profetas. Só eu escapei; mas agora querem matar-me também”. O SENHOR disse-lhe: “Sai e permanece sobre o monte diante do SENHOR”. Então o SENHOR passou. Antes do SENHOR, porém, veio um vento impetuoso e forte, que desfazia as montanhas e quebrava os rochedos, mas o SENHOR não estava no vento. Depois do vento houve um terremoto, mas o SENHOR não estava no terremoto. Passado o terremoto, veio um fogo, mas o SENHOR não estava no fogo. E depois do fogo ouviu-se o murmúrio de uma leve brisa. Ouvindo isto, Elias cobriu o rosto com o manto, saiu e pôs-se à entrada da gruta. Ouviu, então, uma voz que dizia: “Que fazes aqui, Elias?”  Ele respondeu: “Estou ardendo de zelo pelo SENHOR, Deus dos exércitos, porque os israelitas abandonaram tua aliança, demoliram teus altares e mataram à espada teus profetas. Só eu escapei. Mas, agora, querem matar-me também”. – Palavra do Senhor.

SALMO DE MEDITAÇÃO

Diante dos meus olhos tenho presente o Senhor.

Protege-me, ó Deus: em ti me refugio.

Eu digo ao SENHOR: “És tu o meu Senhor,

Fora de ti não tenho bem algum”.

 

O SENHOR é a minha parte da herança e meu cálice.

Nas tuas mãos, a minha porção.

Para mim a sorte caiu em lugares deliciosos,

maravilhosa é minha herança.

 

Sempre coloco à minha frente o SENHOR,

Ele está à minha direita, não vacilo.

Disso se alegra meu coração, exulta a minha alma;

também meu corpo repousa seguro,

 

Pois não vais abandonar minha vida no sepulcro,

Nem vais deixar que teu santo experimente a corrupção,

O caminho da vida me indicarás,

alegria plena à tua direita, para sempre.

2ª LEITURA: 1Pd 1,8-12

Leitura da primeira carta de São Pedro.

Sem terdes visto o Senhor, vós o amais. Sem que agora o estejais vendo, credes nele. Isto será para vós fonte de alegria inefável e gloriosa, pois obtereis aquilo em que acreditais: a vossa salvação.  Esta salvação tem sido objeto das investigações e meditações dos profetas. Eles profetizaram a respeito da graça que estava destinada para vós. Procuraram saber a que época e a que circunstâncias se referia o Espírito de Cristo, que estava neles, ao anunciar com antecedência os sofrimentos de Cristo e a glória que viria depois.  Foi-lhes revelado que não para si mesmos, mas para vós é que estavam ministrando esses ensinamentos, que agora são anunciados a vós. Agora vo-los anunciam aqueles que vos pregam a Boa Nova em virtude do Espírito Santo, enviado do céu; são revelações que até os anjos desejam contemplar! – Palavra do Senhor.

EVANGELHO: Lc 9,28B-36

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.

Naquele tempo, Jesus levou consigo Pedro, João e Tiago, e subiu à montanha para orar. Enquanto orava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou branca e brilhante. Dois homens conversavam com ele: eram Moisés e Elias. Apareceram revestidos de glória e conversavam sobre a saída deste mundo que Jesus iria consumar em Jerusalém. Pedro e os companheiros estavam com muito sono. Quando acordaram, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com ele. E enquanto esses homens iam se afastando, Pedro disse a Jesus: “Mestre, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Nem sabia o que estava dizendo. Estava ainda falando, quando desceu uma nuvem que os cobriu com sua sombra. Ao entrarem na nuvem, os discípulos ficaram cheios de temor. E da nuvem saiu uma voz que dizia: “Este é o meu Filho, o Eleito. Escutai-o!” Enquanto a voz ressoava, Jesus ficou sozinho. Os discípulos ficaram calados e, naqueles dias, a ninguém contaram nada do que tinham visto. – Palavra da Salvação.

(Onde se celebra como Solenidade, diz-se o Credo).

PRECES

1-Para que, a exemplo de Santo Elias, Pai e Guia do Carmelo, possamos viver na presença de Deus e refazer a nossa história a partir da Boa Nova de Jesus Cristo, rezemos.

 Senhor, atendei a nossa prece.

 2-Para que, o exemplo de partilha da viúva de sarepta, nos inspire a vivermos uma fé solidária e comprometida com os menos favorecidos, rezemos.

 3- Para que, as nossas ações sejam coerentes com a fé que professamos no Deus vivo e verdadeiro do Profeta Elias, rezemos.

 4- Para que, em nossas noites escuras, não percamos de vista a presença amorosa do nosso Bom Deus, rezemos.

 5- Para que, na agitação do dia a dia, tenhamos a coragem de silenciar para ouvir a voz de Deus, rezemos.  

 6- Para que, inspirados em Santo Elias- O Profeta, não fechemos os olhos diante das injustiças sociais, rezemos ao Senhor.

ORAÇÃO SOBRE AS OFERENDAS

Aceitai, Senhor, os dons da vossa Igreja, e, assim como aceitastes o sacrifício do profeta Elias, dignai-Vos, de igual modo, receber as nossas ofertas de pão e vinho. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

PREFÁCIO O profeta Elias, amigo de Deus e apóstolo.

  1. O Senhor esteja convosco.
  2. Ele está no meio de nós.
  3. Corações ao alto.
  4. O nosso coração está em Deus.
  5. Demos graças ao Senhor nosso Deus.
  6. É nosso dever, é nossa salvação.

Senhor, Pai Santo, Deus eterno e onipotente é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação dar-Vos graças, sempre e em toda a parte, por Cristo nosso Senhor. Vós suscitastes profetas para que proclamassem que sois o Deus vivo e verdadeiro e conduzissem o vosso povo na esperança da salvação. Entre eles honrastes com a vossa divina amizade o profeta Elias, para que, devorado pelo zelo da vossa glória, manifestasse a vossa onipotência e a vossa misericórdia. Ele caminhou sempre na vossa presença e por isso o quisestes junto a Cristo no Tabor, como testemunha da Transfiguração, para se alegrar com a presença gloriosa do vosso Filho. Por isso, com os Anjos e os Santos, proclamamos a vossa glória, cantando numa só voz: Santo, Santo, Santo.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO Cfr 1Rs 19, 8

Elias comeu e bebeu, e, fortalecido com o alimento, caminhou até ao monte de Deus.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO

Fortalecidos com a comida e a bebida angélica da mesa do vosso Filho, concedei-nos, Senhor, que, procurando-Vos sempre por meio da fé, alcancemos a contemplação da vossa presença no monte santo da glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 BÊNÇÃO SOLENE

- Deus, nosso Pai, que hoje nos reuniu para celebrar a festa de Santo Elias, vos abençoe e proteja e vos confirme na sua paz.

  1. Amém

- Cristo Nosso Senhor, que manifestou de modo admirável em Santo Elias a força e a imagem do mistério pascal, faça de vós testemunhas fiéis do seu Evangelho.

  1. Amém.

- O Espírito Santo, que em Santo Elias nos deu um sinal da caridade divina, vos torne capazes de formar uma verdadeira comunidade de fé e amor.

  1. Amém.

- Abençoe-vos Deus todo-poderoso, Pai, Filho e Espírito Santo.

  1. Amém.

 

Levanta Elias. (1º Reis, 19, 1-18)

Frei Petrônio de Miranda, O. Carm.

 Levanta Elias, levanta, é hora de caminhar./ Levanta Elias levanta, é hora de Evangelizar. (bis)

 1- No fogo e no furacão, o Senhor aí não está. Na brisa suave Elias, Ele sempre, sempre vai passar. Elias do fogo e da espada, contigo vamos caminhar. Com os olhos de misericórdia, O Senhor vem abençoar.

 2-Não basta falar do sagrado, é preciso sempre acreditar. Nas noites escuras da vida, O Senhor vem iluminar. No Monte Carmelo lutastes, O Senhor fostes defender. Agora Elias na dor, Ele vem, vem te Proteger.

 3-Na pobre viúva chorando, com fome e seu filho a morrer. O Deus do Profeta Elias, vai logo, logo socorrer. No encontro da brisa suave, buscastes forças pra andar. Ensina-nos ó Santo Elias, na vida peregrinar.

 4- Olhando o povo que sofre, sem ter esperança e valor. Mostrai-nos ó Profeta Elias, a nuvenzinha do Senhor. Profetas e Profetisas, souberam Evangelizar. No Monte Carmelo Elias, o Cristo vamos encontrar.

Frei Joseph Chalmers O. Carm. Ex- Superior Geral da Ordem do Carmo.

Invocação

Ó Deus, és o Criador e Senhor de tudo. Destes à humanidade a inteligência para compreender muitas coisas e para construir a cidade terrena. Ajuda-nos a ter fé na tua providência e sabedoria para saber que não temos cidade duradoura aqui na terra. Envia teu Espírito que meditou sobre as águas no princípio da criação e ajuda-me a ouviu tua voz em todos os acontecimentos do dia. Por Cristo nosso Senhor.

Texto

Leia o texto atentamente pela primeira vez para compreender o sentido geral e para conhecer a história em detalhes.

1Rs 18, 41 Disse Elias a Acab: “Sobe, come e bebe, pois estou ouvindo o barulho da chuva.”

42 Enquanto Acab subia para comer e beber, Elias subiu ao cume do Carmelo, prostrou-se em terra e pôs o rosto entre os joelhos.

43 Disse a seu servo: “Sobe e olha para o lado do mar.” Ele subiu, olhou e disse: “Nada!” E Elias disse: “Retorna sete vezes.”

44 Na sétima vez, o servo disse: “Eis que sobe do mar uma nuvem, pequena como a mão de uma pessoa.” Então Elias disse: “Vai dizer a Acab: Prepara o carro e desce, para que a chuva não te detenha.”

45 Num instante o céu se escureceu com muita nuvem e vento e caiu uma forte chuva. Acab subiu ao seu carro e partiu para Jezrael.

46 A mão de Iahweh esteve sobre Elias, ele cingiu os rins e correu diante de Acab até a entrada de Jezrael.

Ler

Elias anunciou o fim da seca como o selo final sobre a vitória de Iahweh sobre Baal. Ele pede que o rei Acab suba, coma e beba. Essa refeição é uma lembrança do banquete da aliança que Moisés, Aarão e os setenta anciãos celebraram na montanha de Deus (Ex 24,9-14). Parece que Acab ainda está incluído como um membro da comunidade da aliança apesar de seus pecados.

Elias reza enquanto seu servo olha na direção do mar. O número sete (v. 43) é simbólico e indica “várias vezes”. O profeta está tão convencido do poder de Iahweh que aceita um longo atraso e o sinal de uma pequena nuvem como garantia da chuva. Antes da chuva, o céu se escurece. Isso é algo normal na Palestina durante o outono e o inverno antes de uma chuva torrencial.

As pessoas muitas vezes pensam que o fato de Elias correr na frente do carro de Acab seja um exemplo do poder arrebatador do profeta. No entanto, não seria possível que um ser humano corresse mais que um cavalo todo o caminho até Jezrael (cerca de 25 km). Uma pessoa pode correr em linha reta, mas o cavalo e o carro não seriam tão rápidos em solo instável. Com a chuva, a estrada estaria muito prejudicada. Elias queria voltar a Jezrael para mover a opinião popular contra Jezabel. Na literatura profética “a mão de Iahweh” (v. 46), é um modo comum de descrever a irresistível ação divina quanto ao ser humano (cf. 2Rs 3,15; Ez 1,3; 3,22). Ele cingiu os rins e correu. O profeta se transforma num humilde servo do rei, talvez para mostrar ao rei que voltou a ser fiel que Deus é digno de honra.

O desafio para aqueles que acreditam em Deus é confiar neste Deus e em nenhum outro, mesmo quando a alternativa parece mais relevante ou popular.

Refletir

Releia o texto para descobrir o que Deus quer lhe dizer. Aqui estão algumas perguntas para ajudar em sua meditação:

  1. Você confia em Deus em meio às muitas dificuldades deste mundo?
  2. Você consegue distinguir a presença de Deus nos “sinais dos tempos”?
  3. Deus é muito paciente com você. Você pode esperar por Deus?
  4. Você quer que Deus siga sua vontade ou está preparado para esperar pela vontade de Deus?
  5. O que significa para você ter esperança em Deus?

Responder

Esse texto do primeiro livro dos Reis surtiu um profundo efeito na espiritualidade carmelitana. Pelo menos a partir do final do século XIV, o sinal da pequena nuvem recebeu um significado mariano na Ordem Carmelitana. Um escritor carmelitano, Felip Ribot (+ 1391), escreveu:

Deus revelou a Elias que a pequena nuvem prefigurava uma menina, a Virgem Maria. A pequenez se referia à sua humildade. Ela nasceria de natureza humana sem pecado, simbolizado pelo mar. A criança que nascesse dela, estaria limpa de toda mancha de pecado, assim como aquela pequena nuvem emergindo do mar amargo, mas livre de toda amargura.[1]

Não podemos afirmar que o verdadeiro significado do texto é o que Felip Ribot escreveu, mas trata-se de um exemplo do pensamento medieval. A Palavra de Deus pode ter muitos sentidos de acordo com nossa receptividade. Nossa Senhora estava aberta à Palavra e à vontade de Deus. Maria é a primeira discípula do Senhor e modelo para a escuta da Palavra. Ela não apenas escutou a Palavra, mas também a colocou em prática (Lc 11,28). Maria pode nos ajudar a rezar. Ela guardou tudo o que aconteceu em sua vida em seu coração (Lc 2,51). Podemos aprender como responder à Palavra de Deus com a ajuda de Nossa Senhora. Com Maria, cantemos ao Senhor seu canto de alegria:

Magnificat

Maria, então, disse: “Minha alma engrandece o Senhor,

47 e meu espírito exulta em Deus em meu Salvador,

48 porque olhou para a humilhação de sua serva. Sim! Doravante as gerações todas me chamarão de bem-aventurada,

49 pois o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. Seu nome é santo

50 e sua misericórdia perdura de geração em geração, para aqueles que o temem.

51 Agiu com a força de seu braço, dispersou os homens de coração orgulhoso.

52 Depôs poderosos de seus tronos, e a humildes exaltou.

53 Cumulou de bens a famintos e despediu ricos de mãos vazias.

54 Socorreu Israel, seu servo, lembrado de sua misericórdia

55 – conforme prometera a nossos pais – em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre (Lc 1,46-55).

Repousar

O relacionamento pessoal com Deus é um conceito central para a jornada espiritual. Os escritores bíblicos usaram muitas metáforas pra descrever o relacionamento humano/divino e a realidade humana mais próxima foi a do matrimônio. Para crescermos em nosso relacionamento com Deus, vale a pena tentar aprender algo do desenvolvimento normal de um relacionamento humano. Penso que o processo espiritual no matrimônio e na vida consagrada é o mesmo, com exceção dos meios para alcançar o objetivo. A vida humana é uma escola de amor. Se não aprendermos a amar, mesmo que realizemos grandes coisas aos olhos do mundo, somos como um bronze que soa ou um címbalo que tine (1Cor 13,1). Pelo número de matrimônios que terminam em divórcio podemos compreender que aprender a amar não é fácil.

A oração é o portão pelo qual entramos no relacionamento com Deus e o caminho para manter viva a chama no relacionamento. Oração é comunicação com Deus. Marido e mulher não podem crescer em seu amor sem uma comunicação contínua. As regras que regulam os relacionamentos humanos também podem ser aplicadas ao relacionamento com Deus. A tentação quanto a oração é vê-la como um dever a ser realizado em vez de um caminho para se comunicar com Deus. Se fosse meramente uma obrigação, seria bem simples. Bastaria dizer as palavras certas ou preencher o tempo necessário. A oração é algo mais. Ela deve nos transformar. Se não acontece transformação alguma, algo não está certo com nossa oração ou com nossa vida.

O objetivo da vida espiritual é bem simples: tornar-se como Deus, ser capaz de ver a criação como Deus a vê e a amá-la como Deus ama. As vocações particulares (família, vida consagrada etc) são caminhos diferentes para alcançar os mesmos objetivos. Toda estrada deve ser um modo para aprendermos como Deus ama.

O relacionamento humano, compreendido como um modelo para o desenvolvimento de nosso relacionamento com Deus, tem seus limites. Cristo é muito mais do que um amigo. Ele é o único que pode nos restaurar e nos transformar totalmente, levando-nos à nossa plenitude. Num relacionamento humano normal, se um lado decide não continuar uma amizade, não há nada mais a ser dito ou feito. No entanto, Deus nos persegue continuamente porque só Deus sabe qual é nosso bem final.

Deus nos procura e nos convida a entrar mais profundamente no mistério da vida da Trindade. Somente em Deus podemos encontrar a resposta ao nosso próprio mistério. A oração começa com o convite que Deus nos apresenta de diferentes maneiras. Deus sempre tem muitos recursos. Deus vem a nós quer estejamos num bom lugar ou não. Deus nos chama desse lugar e nos convida a começar uma jornada na companhia divina. Se recusarmos, Deus repete o convite continuamente de modos diferentes. Deus nunca desiste de nós. Quando não respondemos positivamente, Deus nos guia delicadamente. Todo relacionamento é diferente, mas podemos aprender algo com as experiências alheias.

A oração é um relacionamento com Deus. Somos chamados a sermos amigos íntimos de Deus, em e através de Jesus Cristo. Não é fácil dar permissão a outra pessoa para entrar em nossas vidas e dar a essa pessoa a liberdade de percorrer os corredores de nosso coração, mas uma amizade profunda exige isso. Jesus Cristo quis nos transformar. O processo de transformação é longo e muitas vezes árduo. Deus nunca desiste de nós, mas devemos fazer nossa parte para que o grande trabalho de transformação seja realizado plenamente.

Na espiritualidade carmelitana, Maria é venerada como Mãe e Irmã. Ela nos ajuda, nos alimenta e nos acompanha em nossa jornada pela vida. Seu papel é acima de tudo nos ajudar a entrar e a crescer em nosso relacionamento com Deus. Não devemos apenas admirar seus privilégios. De certa forma, eles nos apontam para nosso próprio futuro. Maria pode nos ajudar mais facilmente se estivermos abertos à sua presença em nossas vidas.

Agir

A oração não é algo reservado apenas para momentos especiais, mas ela também deve afetar todo nosso dia e toda nossa vida. Devemos encontrar modos de manter vivo nosso relacionamento com Deus e permitir que ele influencie todos os nossos outros relacionamentos e tudo que fazemos.

Seu relacionamento com Deus pode sugerir muitas maneiras diferentes para continuar o diálogo íntimo com Deus durante o dia. Sugiro, no entanto, que você leve em seu coração algumas palavras e frases do texto sobre as quais estivemos meditando. Talvez elas possam lhe acompanhar durante todo o dia:

“Elias subiu ao cume do Carmelo”;

“prostrou-se em terra”;

“eis uma nuvem”;

“a mão de Iahweh”.

O profeta Elias demonstrou grande fé no Senhor quando disse a Acab que a chuva chegaria depois da longa seca. Dissemos que a pequena nuvem estava ligada a Nossa Senhora na espiritualidade carmelitana. Ela é a primeira discípula de seu Filho e modelo de fé para todos os cristãos. Na tradição carmelitana, Maria e o profeta Elias são duas figuras bíblicas que inspiram todos os carmelitas.[2]  Tente passar mais tempo hoje na companhia de Maria, nossa Mãe e Irmã. Ela é uma presença constante em nossa vida, quer gostemos ou não. Ela está sempre pronta a nos ajudar quando precisamos. Nós carmelitas usamos um escapulário[3]  para lembrar-nos dessa presença constante e de nosso dever de imitar as virtudes de Maria. Todas as orações dirigidas a Nossa Senhora podem nos ajudar a permanecer na presença de Deus porque não podemos pensar nela sem pensar em Deus.

*Do Livro- O SOM DO SILÊNCIO

 

[1] Emmanuele Boaga, The Lady of the Place, (Edizioni Carmelitane, Roma), 2001, pp. 50-51. Ver também Richard Copsey, ed. The Ten Books on the Way of Life and Great Deeds of the Carmelites, (St. Albert’s Press, U. K. & Edizioni Carmelitane, Rome, 2005) p. 82.

[2] Ver W. McGreal, At the Fountain of Elijah, pp. 114-122; P. Slattery, The springs of Carmel, pp. 35-63.

[3] Ver Joseph Chalmers, Mary the Contemplative, pp. 12-18.

COMENTÁRIO

Frei Carlos Mesters, O. Carm.

Elias teve a coragem de enfrentar o rei Acab, a rainha Jezabel e os 450 profetas de Baal. Convocou o povo no Monte Carmelo e lançou o desafio: "Até quando vocês vão mancar com as duas pernas? Se Javé é o Deus verdadeiro, sigam a Javé. Se é Baal, sigam a Baal" (1Rs 18,21). Elias provocou o povo para descer do muro e tomar uma decisão: seguir o falso deus Baal ou seguir Javé.

Como Elias, também nós devemos irradiar a presença de Deus e fazer com que o povo de novo se enamore de Deus, jogue fora os muitos ídolos do consumismo e aceite Javé como o único Deus verdadeiro. Esta é a nossa missão.

(Acompanhe AO VIVO logo mais às

18h aqui no Olhar Jornalístico)

Frei Joseph Chalmers O. Carm. Ex- Superior Geral da Ordem do Carmo.

Elias estava totalmente disponível para Deus. Ele permaneceu diante de Deus como um servo que espera instruções (1Rs 17,1; 18,15.36). Como todos os profetas, ele foi plenamente envolvido pela Palavra de Deus. Poderíamos afirmar que o sujeito de todo ciclo das histórias sobre Elias não é ele mesmo, mas Deus. Sua Palavra não foi apenas o motivo para a reflexão no silêncio e na solidão, mas também um fogo para extinguir o mal do coração humano. A total abertura de Elias à Palavra de Deus fez com que ele tivesse um estilo de vida especial. Elias quis ser um sinal visível em Israel, um sinal que desafiou as atitudes complacentes do povo. O profeta não concordou com as opiniões de seu tempo, mas estava preparado a não ceder para que toda sua vida pudesse ser uma crítica aberta aos valores do povo. Antes de mais nada, um profeta só pode ser sinal para os outros se ele mesmo se deixar envolver por Deus. Elias era um homem misterioso, conhecido por aparecer e desaparecer de repente (1Rs 18,12). Seu desaparecimento no carro de fogo causou um impacto profundo em Israel (2Rs 2,11).

As duas características principais de Elias são sua fidelidade e sua criatividade. Ele foi totalmente fiel às suas tradições religiosas e foi o campeão de fidelidade à aliança que Deus fez com o povo, num tempo em que a aliança estava quase desaparecendo. Elias rejeitou qualquer “diluição” de sua religião. Só Iahweh era Senhor em Israel e Elias não podia permitir a interferência de qualquer ídolo no território de Iahweh. Na disputa no Monte Carmelo, o profeta não teve medo de desafiar a todos: “Até quando claudicareis das duas pernas? Se Iahweh é Deus, segui-o; se é Baal segui-o” (1Rs 18,21).   Não era possível servir aos dois: no sacrifício no Monte Carmelo, Elias relembra seu povo da fé de seus ancestrais.

Ao mesmo tempo, o profeta Elias não teve medo de ser criativo nas questões religiosas. Quando o povo se estabeleceu em Israel, começaram a esquecer Deus. Iahweh foi muito importante para os israelitas quando estes vagavam pelo deserto, mas parece que tinha pouco a dizer no novo estilo de vida na Terra Prometida. Os israelitas preferiam adorar Baal. Ele era mais útil aos fazendeiros, pois de acordo com seus seguidores, era o senhor da chuva, do sol e da fertilidade em geral. Era preciso modernizar a imagem de Iahweh. Se Iahweh era realmente o verdadeiro Deus de Israel, ele precisava estar presente em todas as situações em que Israel se encontrava. Elias conseguiu transformar a imagem de Iahweh, mostrando que foi Iahweh e não Baal quem mandou a chuva e o fogo do céu. Iahweh era o Senhor de Israel, e não Baal. Elias sabia como fazer a Palavra de Deus falar de acordo com a realidade de sua época.

Para os judeus, Elias ainda é uma figura viva. Para os cristãos, ele representa um desafio para que façamos hoje o que ele fez. Apesar dos elementos que nos distraem em nosso mundo moderno, devemos permanecer fortes na verdade que recebemos. Ao mesmo tempo, devemos ser capazes de traduzir essa verdade eterna para os tempos que estão continuamente em transformação. Fidelidade sem criatividade dá a fé um anacronismo; criatividade sem fidelidade abandona a fé a toda fantasia momentânea.

A função de Elias na fé judaica pós-bíblica não era ser o precursor do Messias. Essa crença, comum no tempo de Jesus, demonstra que para os judeus Elias não foi – e ainda não é hoje – meramente uma figura histórica, mas uma pessoa viva. Depois de Moisés, Abraão e Davi, Elias é a figura do Antigo Testamento mais mencionada no Novo Testamento.

A escolha dos textos que se seguem do ciclo da saga de Elias foi motivada por sua utilidade para a oração. Trata-se de uma escolha pessoal. Este livro pode ser usado individualmente ou em grupos e não é necessário seguir a ordem dos capítulos. Antes de começar com os textos individuais, gostaria de falar sobre um método antigo de oração chamado Lectio Divina. Esse método nos ajuda a ler as histórias do profeta Elias.

*Do Livro- O SOM DO SILÊNCIO