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Dom Milton Kenan, Bispo da Diocese de Barretos, São Paulo.
Santa Teresa do Menino Jesus foi desde sua infância uma jovem fascinada pelos padres. Ela os amara com um amor extraordinário. Trata-se de uma compreensão do sacerdócio que evolui, com o passar do tempo.
Na sua infância Teresa convive com um círculo restrito de padres, quando os encontros são ocasionais e com uma certa distância. Na sua adolescência, a partir da peregrinação que faz na companhia de seu pai Luís Martin e Celina à Roma, Teresa tem a oportunidade de conviver com um grupo de setenta e cinco padres; que lhe permite mudar o seu conceito e ver uma transformação no relacionamento com eles. Finalmente, nos últimos anos de sua vida, através das correspondências com o seminarista Bellière e o neo-sacerdote Roulland, Teresa tem a possibilidade de estabelecer com eles uma verdadeira fraternidade e maternidade espirituais.
Um dos textos mais sugestivos de Teresa no que diz respeito a sua relação com os padres nós o encontramos na descrição que faz da peregrinação á Roma, por ocasião do Jubileu de Ouro Sacerdotal do Papa Leão XIII (7/11-2/12/1887): “A segunda experiência que eu fiz diz respeito aos padres. Não havendo jamais vivido na intimidade deles, eu não podia compreender a finalidade principal da reforma do Carmelo. Rezar pelos pecadores me encantava, mas rezar pelas almas dos padres, que eu acreditava mais puras que o cristal, me parecia espantoso!...Ah! eu compreendi minha vocação na Itália, não foi preciso procurar muito longe um conhecimento tão útil...Durante um mês eu vivi com muitos santos padres e eu vi que, se a sublime dignidade deles os eleva acima dos anjos, eles não deixam de ser por isso homens fracos e frágeis...Se os santos padres que Jesus chama no seu Evangelho: “o sal da terra” mostram em sua conduta que têm uma extrema necessidade de orações, que dizer então dos que são tíbios? Jesus não disse ainda: “Se o sal perder o seu valor, como recuperará o seu sabor? Oh minha Mãe! Como é bela a vocação que tem por finalidade de conservar o sal destinado às almas! Esta é a vocação do Carmelo, porque o único fim de nossas orações e de nossos sacrifícios é de ser apóstola dos apóstolos, rezando por eles enquanto evangelizam as almas pelas suas palavras e sobretudo pelos seus exemplos...Preciso me deter se eu continuo falando sobre isso não terminaria jamais!....” (A, 56r-56v).
Teresa reafirma a sublime dignidade dos sacerdotes, honrados por Deus mais do que todos os homens, mais do que os próprios anjos, enquanto descobre que são ao mesmo tempo homens fracos, frágeis que têm tanta necessidade da sua oração. Esta descoberta não a escandaliza, não diminui a fé no sacerdócio, nem o seu amor pelos sacerdotes. Ao contrário, é uma graça, um crescimento no amor, num amor mais maduro, mais realista, amor de mãe pelos filhos fracos e frágeis. Assim, a partir deste momento, Teresa se empenhará até o fim pela santificação dos sacerdotes, na grande perspectiva da Missão da Igreja pela salvação de todos os homens. A sua mensagem aos sacerdotes será uma palavra de amor e de santidade: sempre o ensinamento do Amor de Jesus. Teresa é consciente de ser como a Madalena apostolorum apostola. (Léthel, L´amore de Cristo centro dela Vita Sacerdotale, in La prospectiva de alcuni Santi, p. 5).
Seu amor pelos padres e a oração por eles são temas constantes em sua correspondência com Celina, até sua entrada no Carmelo (cf. Cartas 94, 96, 101, 108, 122).
Acompanhando o relato do Manuscrito C, chegamos ao ponto de poder acompanhar Teresa no relacionamento com seus “irmãos espirituais” Maurice Bellière e Adolphe Roulland.
Teresa diz que um dos seus grandes desejos era ter a graça de ter um irmão sacerdote que pudesse subir o altar que pudesse pensar todos os dias nela no santo altar (C 31v). O que parecia impossível, uma vez que seus irmãozinhos morreram precocemente, Deus os realiza concedendo unir os laços de sua alma a dois de seus apóstolos que se tornaram seus irmãos (ibid.).
As palavras com que Teresa descreve a realização do seu sonho são de uma intensidade extraordinária: “Foi nossa Sta. Mãe Teresa que me enviou para ramalhete de festa em 1895 meu primeiro irmãozinho. Eu estava na lavandeira bem ocupada com o meu trabalho quando madre Inês de Jesus me tomando à parte leu-me uma carta que acabara de receber. Era um jovem seminarista, inspirado, dizia ele, por Sta. Teresa, que vinha pedir uma irmã que se dedicasse especialmente à salvação de sua alma e o ajudasse com suas orações e sacrifícios quando ele fosse missionário a fim de que pudesse salvar muitas almas. Prometia ter sempre uma lembrança por aquela que se tornasse sua irmã, quando pudesse oferecer o Santo Sacrifício. Madre Inês de Jesus me disse que queria que fosse eu a me tornar a irmã desse futuro missionário. Madre, dizer-vos minha felicidade seria impossível, meu desejo cumulado de maneira inesperada fez nasce r no meu coração uma alegria que chamarei infantil, pois preciso remontar aos dias de minha infância para a encontrar a lembrança dessas alegrias tão vivas que a alma é pequena demais para conte-las, nunca desde anos eu tinha provado esse gênero de felicidade. Sentia que desse lado minha alma era nova, era como se pela primeira vez se tivesse tocado cordas musicais que até então estavam no esquecimento” (C31v-32r).
Teresa emprega por Bellière, e posteriormente, por Roulland todas as suas energias espirituais, “doravante, Teresa, irmão espiritual do futuro sacerdote, rezará, amará, sofrerá por dois, não aumentando o volume de sua oração e de sua atividade, mas crescendo no fervor do amor que é o único capaz de dar um valor maior aos sofrimentos e ás obras”.
O ápice da “prova da fé” que se consumará com sua morte, Teresa diz que não tendo o gozo da fé, esforça-se por realizar ao menos as suas obras. Entre as obras realizadas por Teresa, na maior escuridão interior, está a de socorrer seu “irmãozinho”, oferecendo por ele o sofrimento psíquico, a obscuridade da fé, que se tornam para ela fonte de apostolado escondido.
A “grande” prova que Teresa enfrenta será o silencio de Bellière: “É preciso reconhecer que primeiro não tive consolações para estimular meu zelo; depois de ter escrito uma carta encantadora cheia de coração e de nobres sentimentos para agradecer a madre Inês de Jesus, meu irmãozinho não deu mais sinal de vida senão no mês de julho seguinte, exceto que enviou sua carta no mês de novembro para dizer que entrava na caserna” (C 32r).
De novembro de 1896 a agosto de 1897, Teresa manterá uma correspondência frequente com Bellière (algo excepcional na vida de uma carmelita no final do século passado). Jamais perde de vista o fim daquela união: “Eu lhe peço que sejais, não somente um bom missionário, mas um santo todo abrasado do amor de Deus e das almas” (Carta 198); “Ah! O que nós lhe pedimos (a Jesus), é de trabalhar por sua glória, é de amá-lo e faze-lo amado” (Carta 220); “Querido irmãozinho, no momento de comparecer diante do bom Deus, eu compreendo mais do que nunca que não há senão uma coisa necessária, é de trabalhar unicamente por Ele e de nada fazer por si e pelas criaturas” (Carta 244).
Como se não bastasse um irmãozinho para satisfazer seus desejos e cumula-la de tão grande alegria, a Providência divina destina-lhe um segundo irmão: o jovem missionário Pe. Adolphe Roulland. Sob o sigilo da obediência, Teresa atende agora ao pedido de Madre Maria de Gonzaga, e acolhe o jovem missionário Roulland como seu novo irmão espiritual:
“No ano passado, no fim do mês de maio, lembro-me que um dia mandastes chamar-me diante do refeitório. O meu coração batia bem forte quando cheguei até vós, Madre querida, perguntava-me o que podíeis ter a me dizer, pois era a primeira vez que me mandáveis chamar assim. Depois de ter-me dito para sentar-me, eis a proposta que me fizestes: - Quereis encarregar-vos dos interesses espirituais de um missionário que deverá ser ordenado padre e partir proximamente e depois, Madre, lestes a carta desse jovem Padre a fim de que eu soubesseexatamente o que ele pedia. Meu primeiro sentimento foi um sentimento de alegria, que deu logo lugar ao temor. Eu vos expliquei, Madre bem-amada, que tendo já oferecido meus pobres méritos para um futuro apóstolo, acreditava não poder fazê-lo ainda nas intenções de outro e que, aliás, havia muitas irmãs melhores do que eu que poderiam responder ao seu desejo. Todas as minhas objeções foram inúteis, vós me respondestes que se podia ter vários irmãos. Então vos perguntei se a obediência não poderia dobrar seus méritos. Vós me respondestes que sim, dizendo-me várias coisas que me faziam ver que eu precisava aceitar sem escrúpulo um novo irmão” (C 33r-33v).
Ao escolher Teresa como “irmã espiritual” do jovem missionário Roulland, a Madre Maria de Gonzaga revela uma particular estima da Priora em relação à jovem Carmelita. Dirá de viva voz ao Pe. Roulland: “É a melhor entre minhas boas”; e lhe escreverá: “Vós tendes uma auxiliar muito fervorosa, a pequena querida é toda de Deus”.
Madre Maria de Gonzaga não só aprecia o valor religioso de Teresa, mas sua verdadeira vocação missionária, confirmando o que Teresa já havia escrito: “É preciso, vós me havíeis dito, para viver nos Carmelos estrangeiros uma vocação toda especial; muitas almas acreditam-se chamadas para isso sem sê-lo de fato. Vós me disseste também que eu tinha esta vocação e que unicamente minha saúde foi um obstáculo (C 10rº). Maria de Gonzaga quis dar à Teresa a alegria de realizar, ao menos em parte, sua vocação trabalhando com um Missionário.
Escrevendo a Roulland, Teresa revela a consciência de que os laços que os unem é o da oração e da mortificação (Carta 189), de que jesus se dignou uni-los “pelos laços do apostolado” (Carta 193), de que a sua “única arma é o amor e o sofrimento”; enquanto que Roulland possui “a espada da palavra e dos trabalhos apostólicos” (Carta 193) e partilhar com ele o seu desejo: “nosso único desejo é de nos assemelhar ao nosso adorável mestre que o mundo não quis reconhecer porque Ele se aniquilou, tomando a forma e a natureza de escravo” (Carta 201).
Ao contrário do seminarista Bellière que silenciou por vários meses, após o primeiro contato com o Carmelo de Lisieux, Adolphe Roulland proporciona à Teresa grandes alegrias: no dia 28 de junho é ordenado sacerdote; e no dia 3 de julho celebra na capela do Carmelo a sua primeira missa, tendo oportunidade de encontrar-se com Teresa no locutório do convento, onde pode compartilhar com ela, suas expectativas em relação à sua partida próxima para a China (2 de agosto de 1896) e os detalhes do território de missão (Su-Tchen).
Não só Teresa via satisfeitos os seus desejos de estar unida a “irmãos espirituais” que pudessem realizar por ela o que ela acreditava que o fariam seus irmãos de sangue, caso estivessem vivos; mas Teresa vê realizada nesta escolha a sua vocação:
‘No fundo, Madre, eu pensava como vós e até, visto que O zelo de uma carmelita deve abrasar o mundo, espero com a graça de deus ser útil a mais de dois missionários e não poderei esquecer de rezar por todos, sem deixar de lado os simples padres cuja missão às vezes é tão difícil de cumprir como a dos apóstolos que pregam aos infiéis. Enfim quero ser filha da Igreja como era nossa Mãe santa Teresa e rezar nas intenções de nosso Sto. Padre o Papa, sabendo que suas intenções abraçam o universo. Eis a meta geral de minha vida, mas isso não me teria impedido de rezar e de unir-me especialmente às obras de meus anjinhos queridos se tivessem sido padres. Pois bem! Eis como me uni espiritualmente aos apóstolos que Jesus me deu como irmãos: tudo o que me pertence, pertence a cada um deles, sinto bem que Deus é bom demais para fazer divisões, Ele é tão rico que dá sem medida tudo o que lhe peço....Mas não credes, Madre, que me perco em longas enumerações” (C 33v).
Apóstola com os Apóstolos é em poucas palavras a vocação de Santa Teresa do Menino Jesus. Uma dimensão da sua vocação que não pode passar despercebida à nossa meditação sobre o seu ultimo manuscrito. Junto dela precisamos aprender a fazer nossa as intenções do Papa que alcançam o mundo inteiro e, amar os “simples” padre cuja missão nem sempre é mais fácil do que aqueles que anunciam o Evangelho aos infiéis.
Nossa meditação sobre os laços que unem Teresa do Menino Jesus aos padres completa-se com a referencia ao Padre Jacinto Loyson (1827-1912). Trata-se de um sacerdote carmelita, ordenado em 1851, que tornara-se célebre por suas pregações durante diversos Adventos em Notre Dame de Paris. Foi Provincial dos Carmelitas Descalços, amigos do Cardeal Newman e de outras pessoas célebres. Em 1869, ele rompeu com a Igreja Católica, justamente alguns anos antes do Concilio Vaticano I. Desposou uma viúva protestante, norte americana, a Sra. Mériman, com quem tivera um filho. Fundou a Igreja do Livre Espírito, cujos princípios eram: o matrimonio dos sacerdotes, uma forte oposição à infabilidade papal, a reinvindicação da missa na língua vernácula e a abolição das classes nos funerais. Ele percorre toda a França fazendo conferencias, provocando escândalos e agitação.
Desde que tomou conhecimento da situação, em 1891 (quando Loyson fazia suas conferencias na Normandia), através dos recortes do jornal que comentavam as conferencias de Loyson na cidade vizinha de Caen, Teresa se engaja numa oração fervorosa e constante pela sua conversão e convidará Celina para que faça o mesmo.
É interessante observar que, enquanto a opinião pública católica indignada e as próprias irmãs de Teresa junto da Ordem do Carmelo qualificam Loyson com adjetivos duros; os jornais o chamam de “monge renegado”; Paulina o chama de “infeliz”. Teresa tem expressões bem diferentes: trata-se para ela de um “infeliz pródigo”, “esta pobre ovelha desgarrada”, “nosso irmão, um filho da Santa Virgem” (Carta 129). Ela rezará por ele até a sua morte: “dia virá em que ele abrirá os olhos e então quem sabe se a França não será percorrida por ele com uma finalidade diferente a que se propusera. Não deixemos de rezar, a confiança faz milagres” (Carta 129).
No dia 19 de agosto de 1897, festa de S. Jacinto, esgotada pela doença, com os nervos à flor da pele, incapaz de suportar a longa cerimonia litúrgica prevista naquela época, Teresa faz a sua última comunhão sobre esta terra, com o pensamento e as orações voltadas para o ex-carmelita Jacinto Loyson.
*Reflexão do Retiro- Na companhia e sob a guia de Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face.
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Santa Teresinha do Menino Jesus, Carmelita
Minha vida é um instante, uma hora passageira
Minha vida é um só dia, que escapa e que foge
Tu o sabes, o meu Deus, pra te amar na terra
Eu só tenho só hoje!
Oh! Eu te amo, Jesus, minh'alma suspira por ti
Sê, por um dia apenas, meu doce apoio
Vem reinar no meu coração, dá-me teu sorriso
Só por hoje!
Que m'importa, Senhor, se o futuro é sombrio
Rezar pelo amanhã? Oh! Não, eu não posso!
Conserva puro meu coração, cobre-me com tua sombra
Só por hoje!
Se penso no amanhã, temo minha inconstância
Sinto nascer no coração a tristeza e o enjoo
Mesmo assim, meu Deus, quero a prova e o sofrimento
Só por hoje.
Devo te ver em breve nas praias eternas
O’ Piloto Divino! Cuja mão me conduz
Sobre as ondas encapeladas guia em paz meu barquinho
Só por hoje.
Ah! Deixa-me, Senhor, me esconder na tua Face
Lá não ouvirei mais do mundo o vão barulho
Dá-me teu amor, conserva-me tua graça
Só por hoje.
Perto do teu Divino Coração, esqueço tudo que passa
Não temo mais os receios da noite
Ah! Dá-me, Jesus, nesse Coração um lugar
Só por hoje.
Pão vivo, Pão do Céu, divina Eucaristia
O’ Mistério sagrado, que o Amor produziu!...
Vem habitar no meu coração, Jesus, minha Hóstia branca
Só por hoje.
Digna-te unir-me a ti, Vinha Santa e sagrada
E meu fraco ramo te dará seu fruto
E poderei te oferecer um cacho dourado
Senhor, desde o dia de hoje.
Esse cacho de amor, cujos grãos são as almas
Pra formá-lo eu só tenho esse dia, que foge
Ah! Dá-me, Jesus, de um Apóstolo as chamas
Só por hoje.
O’ Virgem Imaculada! És tu minha Doce Estrela
Que me dá Jesus e que a Ele me une
O’ Mãe! Deixa-me descansar sob teu manto
Só por hoje.
Meu Anjo guardião, cobre-me com tua asa
Ilumina com tua luz a estrada que sigo
Vem dirigir meus passos... ajuda-me, te peço
Só por hoje.
Senhor, quero te ver sem véu e sem nuvens
Mas ainda exilada, longe de ti desfaleço
Que não me seja ocultado teu amável rosto
Só por hoje.
Voarei bem longe para teus louvores cantar
Quando descer na minh'alma o dia sem ocaso
Então, eu cantarei com a lira dos Anjos
O eternal dia de hoje!...
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Frei Gabriel O. Carm. Convento do Carmo, Mogi das Cruzes-SP.
Mês de outubro, Mês das Missões. Sem ter saído do Convento, Santa Teresinha foi proclamada Padroeira das Missões pelo Papa Pio XI no dia 14 de dezembro de 1927. Portanto ser missionário não é diretamente uma questão de ultrapassar fronteiras, mas sim uma questão de muito amor.
A santidade vivida e pregada por Teresinha gerou uma verdadeira revolução na Igreja e não é exagerado afirmar que ela preparou o terreno para a teologia que veio à luz no Concílio Vaticano II. Nem é de estranhar que várias Conferências Episcopais - e entre elas a do Brasil - tenham pedido ao Papa para conceder-lhe o título de Doutora da Igreja.
Qual é então esta Santidade Revolucionária que cativa tanta gente? Basta lembrar as inúmeras igrejas a ela dedicadas, as pessoas numerosas que trazem o seu nome, as Ordens e Congregações que vivem o seu carisma, os últimos papas com bispos, padres e seminaristas que demonstraram e demonstram singular devoção para com ela.
Neste artigo quero apresentar três pontos sobre a Santidade Revolucionária proclamada por Teresinha.
- A santidade não consiste na ausência total de falhas e pecados, mas na total confiança e entrega nas mãos de Deus. Santa Teresinha discorda resolutamente da ideia: santidade = perfeição.
Não se trata, portanto, de ser mais puro, mais bonito, mais irrepreensível e sim de crescer na confiança.
Não será problema ter um certo número de falhas e erros, se prevalecer o pensamento de que Deus é Amor Infinito, que nos dá todo o direito de confiarmos nele. Não se acentua mais a pessoa humana, mas o próprio Deus. Não diga: "Eu quero tornar-me santo", mas "Como sois bom, Senhor!" Em vez de exigências, a santidade agora torna-se dom. Não sou Eu quem me devo tornar virtuoso, mas "posso eu confiar em Deus".
- Não se exige um aparato especial para se tornar santo. Nenhuma vontade férrea, nenhum bom caráter, nenhuma coragem extraordinária. O objetivo já não é tornar-se grande, mas pequeno; não é tornar-se rico, mas pobre. O fato de que a Igreja privilegia hoje os pobres provavelmente tem ligação com a descoberta de Santa Teresinha. Quanto a Deus são evidentes esta escolha e opção, pois "Derrubou os poderosos dos seus tronos e no alto colocou os humildes. Cumulou de bens os que passavam fome e mandou embora os ricos com as mãos vazias" (Lc 1,52-53).
O principal já não é mais ter êxitos, mas sim aceitar as próprias fraquezas e incapacidades que se revelam na frustração, e até alegrar-se com elas. O que antigamente era obstáculo torna-se agora um meio, um impulso para frente. É preciso aceitar a própria miséria e estar aberto para Deus a fim de atrair a sua Misericórdia.
- A santidade não exige mais uma ascese extraordinária. Santa Teresinha rompe com a tradicional concepção de ascese: sabe que as penitências não ajudam tanto assim. Santa Teresa de Ávila (1515-1582) escrevia com entusiasmo sobre um dos seus confessores, provavelmente o dominicano Garcia de Toledo, contando que era uma pessoa fraca e doente que recebia do Senhor a necessária força física para fazer penitências. Hoje não dá para pensar que Teresinha poderia escrever tal coisa. Ela sabia que não é importante que se tenha força suficiente para fazer penitências. Ela aponta diretamente para o essencial. Em vez de correr o risco de tornar-se grande através de dura penitência física apresenta-se agora o trabalho de renunciar à vontade própria. E isto se faz de maneira eficiente quando se aproveita das mil ocasiões que a vida de cada dia nos oferece: não é cobrando os seus próprios direitos, mas colocando-se a serviço dos irmãos através de milhares de pequenos gestos. "Pai, Senhor dos céus e da terra, eu vos agradeço porque escondestes estas coisas aos orgulhosos e as revelastes aos pequeninos", disse Jesus (cf. Lc 10,21).
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*Dom Frei Vital Wilderink, O. Carm. In Memoriam
O ser humano tem uma tendência natural à sua melhor realização. Neste sentido ele se define pelo desejo, pela esperança. A experiência nos mostra que essa busca de felicidade descamba frequentemente para um egoísmo. Numa sociedade de consumo comandada pelo sistema econômico neoliberal, o individualismo encontra um terreno particularmente propício, cuidadosamente regado pela mídia. Não faltaram outras pessoas ou correntes que procuraram abranger sociedades inteiras num vasto movimento de esperança inspirado por determinadas ideologias, como o comunismo ou vários modelos de nacionalismo. Mas também nestes casos os quadros da felicidade prometida acabaram despencando.
A França, na época em que Teresa viveu, era caracterizada por um ateísmo e virulento anticlericalismo., especialmente entre as elites intelectuais. Como podia seu ingresso num convento de clausura ser um gesto de esperança? Não era antes uma fuga, uma evasão egoísta mascarada por pensamentos piedosos sobre a salvação dos pecadores? Afinal, em que consistia a esperança de Teresa de Lisieux? Que a justiça de Deus acertasse as contas com os que não acreditavam nele? Sim, a justiça de Deus estava na mira da Carmelita porque contempla e adora as suas perfeições divinas através de sua infinita misericórdia: “a própria justiça (talvez mais do que qualquer outra) se me afigura revestida de amor”. Não é na situação deplorável do mundo que ela fixa seu olhar: “meus desejos, minhas esperanças, vão às raias do infinito”. A esperança da Teresa é realmente teologal. vai ao seu verdadeiro ponto de apoio. Ela não parte de uma espécie de pressuposição de que um número de criaturas humanas sofrerá a condenação eterna, como determinadas interpretações teológicas do mistério da predestinação apregoavam. Este fatalismo não aparece no vocabulário de Teresa, permeado pela certeza da gratuidade da infinita misericórdia divina. Para a sua ousadia temerária não há como não apostar nesta última.
Aqui aparece, talvez, um traço característico da visão feminina do mistério de Deus à qual, durante séculos, foi vedado o acesso ao pensamento teológico elaborado pelos homens. Não é isto que ela deixa entrever quando constata que Deus é pouco amado na terra ...mesmo pelos padres e religiosos? Teresa desejou ser identificada ao Amor. O amor não seria amor se não fosse uma sede de expansão, de doação. Por isto a esperança alarga seus horizontes à medida que nos animam os sentimentos de Cristo (cf. Fl 2,5): “Cristo que morreu por nós quando éramos ainda pecadores”(Rm 5,8). Já na sua adolescência Teresa, apelando à misericórdia de Deus revelada na Paixão e Cruz de Jesus, se empenhara na conversão de Pranzini, cujo processo de condenação pela justiça francesa havia acompanhado através da imprensa. Foi “meu primeiro filho”, como ela comentaria mais tarde. Sempre serviço da misericórdia divina, ela adotará outros pecadores. E quando, na Festa da Santíssima Trindade, em 1896, se oferece a Deus como vítima do seu amor misericordioso, ela faz um ato de esperança cega. Ela a justifica dirigindo-se a Deus: “Ó luminoso farol do amor, sei como achegar-me até a ti, descobri o segredo de apossar-me de tua chama”. Familiarizada com as cartas de Paulo apóstolo, Teresa escreve: “Não deixava de esperar contra toda esperança”. Certamente, ao citar estas palavras, não previa o alcance delas quando sua esperança, durante a prolongada provação da fé, vai estender-se a todos os pecadores. Nesta longa noite Teresa mergulha na experiência da escuridão daqueles que não acreditam no Céu. Privada da alegria que lhe era proporcionada pela esperança da proximidade do Céu, ela compartilhava a condição dos pecadores, unia-se a eles. Mesmo assim recebe esta provação como um dom pelo qual Cristo a associa à obra da redenção e à esperança da sua fecundidade: “Senhor, vossa filha compreendeu vossa luz divina. Pede-vos perdão em lugar de seus irmãos. Pelo tempo que quiserdes, aceita comer o pão da dor, e da mesa coberta de amargura, onde comem os pobres pecadores, não quer levantar-se antes do dia que determinardes”.
Teresa se compara aqui a uma criança na estação ferroviária, esperando seus pais que devem acomodá-la dentro de trem. Mas eles não chegam, e o trem parte! E ela acrescenta: “mas haverá outros trens, não perderei todos...”. Teresa não perdeu a esperança. Contudo, esta esperança ficou como que desativada. Ela doou a sua força para outros, para os inúmeros outros. Ela se lançou no insondável mistério do Amor de Deus para amar com esse Amor o mundo.
*Dom Frei Vital Wilderink, O Carm- Eremita Carmelita- foi vítima de um acidente de automóvel quando retornava para o Eremitério, “Fonte de Elias”, no alto do Rio das Pedras, nas montanhas de Lídice, distrito do município de Rio Claro, no estado do Rio de Janeiro. O acidente ocorreu no dia 11 de junho de 2014. O sepultamento foi na cidade de Itaguaí/RJ, no dia 12, na Catedral de São Francisco Xavier, Diocese esta onde ele foi o primeiro Bispo.
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*Dom Frei Vital Wilderink, O. Carm. In Memoriam
Foi em 21 de junho de 1963 na Praça de São Pedro. Não eram apenas o entusiasmo contagiante da multidão ali presente nem a minha idade ainda juvenil que me fizeram pular de alegria quando o Cardeal Ottaviani anunciou o gaudium magnum do “habemos Papam ... Johannem Baptistam Montini... “
Durante os anos que passei em Roma, não faltaram encontros com Paulo VI em audiências gerais e outras mais restritas. A realização do Concílio Vaticano II, ainda em curso naquela época, fazia-nos mais atentos às palavras e aos gestos do Santo Padre. O seu encontro com o Patriarca Atenágoras, fixado em fotografia, permanece até hoje um ícone do ecumenismo que o atual Pontífice João Paulo II reproduz e multiplica com novas e esperançosas tonalidades.
Mas, a lembrança mais viva que guardo de Paulo VI refere-se à sua visita à Colômbia, em agosto de 1968, por ocasião da abertura da Conferência de Medellín. Era a época em que os países da América Latina, já atingidos por tantas situações de injustiça, estavam sendo invadidos por regimes ditatoriais. A presença física do Papa entre nós parecia abrir um espaço momentâneo para o grito do povo sofrido. E Paulo VI assumiu esse grito. As manchetes dos jornais reproduziam as suas palavras e chamavam-no “advogado dos pobres”. É claro que nos comentários jornalísticos não faltavam determinadas opções ideológicas. Lembro-me de uma pequena publicação que apresentava na folha de rosto uma foto do Papa, ladeada pelos retratos de Che Guevara e Camilo Torres. Naqueles anos havia, mesmo em ambientes cristãos, acaloradas discussões sobre a legitimidade da violência em certas circunstâncias. Recorria-se a antigos teólogos que tinham tratado do atentado contra tiranos, e à doutrina moral que falava da autodefesa. Haveria possibilidade de resolver o problema essencial da América Latina sem o recurso à violência? Paulo VI respondia: “Con la misma lealtad con la qual reconecemos que tales teorias y prácticas encuentram frecuentemente su última motivación en nobles impulsos de justicia y de solidaridad, debemos decir y reafirmar que la violência no es evangélica ni cristiana”.
O documento de Paulo VI que talvez me tenha marcado mais profundamente não só na ação pastoral mas também no caminho da vida espiritual, foi o Evangelii Nuntiandi sobre a evangelização no mundo contemporâneo. Aproveitando todo o material de reflexão pastoral e teológica acumulado na preparação e realização do Sínodo dos Bispos de 1974, Paulo VI, apelando ao seu múnus de sucessor de Pedro, assume a tarefa de confirmar e reconfortar os seus irmãos para que, animados pela esperança, se empenhem em anunciar o Evangelho em tempos de incertezas. Já no primeiro parágrafo o documento revela que seu próprio autor compartilha com seus irmãos o medo e a angústia - expressões da existência humana -, diante do desafio da missão evangelizadora num contexto de desorientação. A fé de Paulo VI não deixava de ser uma busca feita às apalpadelas para encontrar uma síntese entre a fidelidade à única verdade da Revelação e a problemática da sua transmissão. Devemos muito a Paulo VI, peregrino na fé!
Faço parte do número dos últimos bispos nomeados por Paulo VI. A minha ordenação episcopal aconteceu uma semana depois da sua morte. Na minha primeira visita ad limina apostolorum rezei e meditei junto aos túmulos de Pedro e de Paulo VI. O túmulo do Papa Montini corresponde bem ao último adendo que escreveu no seu testamento, testemunho singelo da fé de um humilde cristão: “Não desejo nem túmulo especial, nem qualquer monumento. Alguns sufrágios”.
*Dom Frei Vital Wilderink, O Carm- Eremita Carmelita- foi vítima de um acidente de automóvel quando retornava para o Eremitério, “Fonte de Elias”, no alto do Rio das Pedras, nas montanhas de Lídice, distrito do município de Rio Claro, no estado do Rio de Janeiro. O acidente ocorreu no dia 11 de junho de 2014. O sepultamento foi na cidade de Itaguaí/RJ, no dia 12, na Catedral de São Francisco Xavier, Diocese esta onde ele foi o primeiro Bispo.
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*Dom Frei Vital Wilderink, O. Carm. In Memoriam
Com 15 anos de idade, Teresa Martin queria entrar no Carmelo. Acompanhada de seu pai, foi falar com o Bispo diocesano para conseguir a autorização. Levantou os cabelos para parecer mais velha. Não adiantou. Aproveitou de uma viagem à Itália para pedir licença ao Papa Leão XIII. Também a audiência com o Papa não parecia ter dado resultado. Mas o interesse dele pelo caso de Teresinha levou o Bispo a conceder a tão esperada licença.
Dia 30 de setembro de 1897, Teresa morre no mosteiro das carmelitas de Lisieux. Seus dois pulmões estavam gravemente atingidos pela tuberculose. Sufocada, ela pronuncia suas últimas palavras: “Meu Deus...eu... vos amo”!
Celebramos o primeiro centenário da morte dessa jovem carmelita. Inúmeros livros foram escritos sobre o breve percurso da sua vida. Pode ser que nem todos sejamos entusiastas de sua “História de uma alma”. A sua linguagem, marcada por um universo religioso que não é nosso, pode provocar em leitores do nosso tempo uma certa alergia. Como não é a todos que agrada a tradicional imagem da santa desfolhando pétalas das rosas que ela segura nos braços. No entanto, se por baixo desses enfeites não houvesse um segredo mais profundo, não se explicaria a atração que, durante o último século, Teresa de Lisieux tem exercido sobre inúmeros católicos. Mesmo no Brasil existem cerca de 111 paróquias dedicadas a ela, sem contar as capelas.
O que, sem dúvida, chamou a atenção do mundo cristão foi a espiritualidade de Teresinha. Ela mesma falava do seu Pequeno Caminho. Não foi a partir de uma teoria bem elaborada mas a partir de sua experiência de cada dia que ela reconheceu e aceitou progressivamente a sua pequenez e fragilidade. Mesmo com seus imensos desejos, ela descobriu que só tinha pequenas coisas para oferecer a Deus. Tanto assim que pessoas próximas a ela questionavam a santidade da jovem carmelita. É que a pequenez e a confiança em Deus constituíam o fundamento da sua doutrina. Ela descobre no seu amor próprio a causa de suas inquietações, de suas tristezas e das humilhações que a deixam aborrecida. Não se revolta contra essa descoberta mas encara de frente a sua realidade. Nem por isto renuncia aos seus desejos audaciosos para entregar-se a uma mediocridade. Sabe fazer de sua fragilidade o material para servir ao seu projeto de santidade. Entendeu que sua fraqueza não a afastava de Deus que veio ao nosso mundo, para partilhar na precariedade humana a pobreza radical do homem a fim de transformá-la na sua força divina. Esta consciência leva Teresinha a sentar-se à mesa dos pobres e dos pecadores. Sua fé e esperança a fazem oferecer-se como vítima ao amor misericordioso de Deus. É o segredo do seu elã missionário no qual ela quer atingir a todos, sem exclusão, mesmo os ateus, para que encontrem o caminho para o amor de Deus que salva e liberta.
Mas o seu Pequeno Caminho precisava ser testado. Se a fé e a esperança faziam crescer a sua entrega de amor, esta continuaria mesma numa aparente ausência de fé e esperança?
Nos últimos dezoito meses da sua vida, a fé de Teresinha foi duramente provada. Ela já estava atingida pela tuberculose quando, na noite de 2 ao 3 de abril de 1896, a doença se manifestou por uma primeira expectoração de sangue. Alguns dias depois a sua alma começou a ser torturada por dúvidas sobre a fé. Se os seus sofrimentos físicos, sempre mais fortes, já provocavam uma sensação de impotência, a noite das dúvidas tirava o último apoio para suportá-los. O olhar da fé dá uma visão nova da vida. É dentro dessa visão que o cristão encontra o sentido da existência, a razão de ser, de viver, de agir, de servir e de sofrer. Uma prova de fé questiona tudo o que a pessoa suporta. Provoca nela uma vertigem, a vertigem do nada. Todo o equilíbrio de seu ser é ameaçado. “Acreditas sair um dia do nevoeiro que te envolve, avança, avança, alegra-te com a morte que te dará, não aquilo que tu esperas, mas uma noite ainda mais profunda, a noite do nada”. Quem poderia ter escrito essas palavras, seria Nietzsche, filósofo contemporâneo de Teresa, que proclamou a morte de Deus. Mas foi a própria Teresinha que as escreveu na sua cama, três meses antes de morrer. Ela acrescentava: “Não quero escrever mais, receio blasfemar... receio até ter falado demais...”.
Teresa vivia na França do fim do século XIX. Época em que o racionalismo e o cientíssimo espalhavam uma descrença agressiva e um anticlericalismo sarcástico. Teresa, mergulhada na noite da dúvidas, compreende que certos ateus podem de boa fé e sem ir contra seu pensamento negar a existência do Céu. Mesma tendo guardado a sua inocência batismal, Teresa chega até o fundo da sua pequenez e, desta maneira, ao núcleo daquilo que constituía toda a sua razão de viver: sua relação com Deus. É uma tomada de consciência, uma aceitação. Jamais poderia suportar com lucidez essa desapropriação de si mesma, se não fosse habitada por um grande Amor, mistério que vai além de suas próprias iniciativas e possibilidades. A descoberta desse mistério maior de Deus, se faz a partir da experiência das nossas mãos vazias. É disto que brota em Teresa a atitude de confiança e de abandono. É o caminho que ela indica para todos, sentando-se à mesa dos incrédulos e pecadores.
A nossa época não conhece o ateísmo virulento do tempo de Teresinha. O que sempre mais se impõe em nossos dias é uma espécie de vazio que nenhuma ideologia consegue preencher. A ciência e a tecnologia fazem o homem viver no ritmo de “projetos”. São valores relativos mas que não geram uma sabedoria, um sentido último de todos esses significados particulares. Há uma sensação de banalidade que escurecem o sentido da própria vida e história humana.
Teresa de Lisieux, figura simples e afável, aparentemente sem problemas, mas mergulhada nas torturas da dúvida, provoca uma brecha na crosta das verdades convencionais do homem moderno. Sentemo-nos com ela à mesa para que nos fale da sua vida tão cheia de humanidade e de sabor de Deus.
*Dom Frei Vital Wilderink, O Carm- Eremita Carmelita- foi vítima de um acidente de automóvel quando retornava para o Eremitério, “Fonte de Elias”, no alto do Rio das Pedras, nas montanhas de Lídice, distrito do município de Rio Claro, no estado do Rio de Janeiro. O acidente ocorreu no dia 11 de junho de 2014. O sepultamento foi na cidade de Itaguaí/RJ, no dia 12, na Catedral de São Francisco Xavier, Diocese esta onde ele foi o primeiro Bispo.
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Frei Carlos Mesters, Carmelita
Dia 1 de outubro é a festa de Santa Terezinha. É difícil você encontrar no Brasil um católico que nunca ouviu falar de Santa Terezinha ou uma capela por menor que seja, onde não se encontre uma imagem da Santa. Quem foi essa Terezinha para chegar a ser tão conhecida no Brasil inteiro? Ela era uma jovem francesa do fim do século 19 que aos quinze anos de idade entrou num convento carmelita e, nove anos depois, aos 24 anos de idade, após longos meses de muito sofrimento, morreu de tuberculose no dia 1 de outubro de 1897. Nunca saiu do convento. Quando ela morreu, uma irmã da comunidade dizia não ter encontrado nada de extraordinário na vida dela. Qual é então o segredo dessa santa carmelita para chegar a ser conhecida e amada de tanta gente até hoje? Qual o caminho que ela abriu para nós?
São dois os caminhos de Deus até nós e de nós até Deus. O primeiro é este: Deus, na sua bondade, tomou a iniciativa e, sem mérito algum da nossa parte, chegou até nós, nos acolheu e nos abraçou. É o caminho da gratuidade do amor. O outro caminho é este: Uma vez aceito o amor de Deus, nós devemos dar a nossa resposta e realizar o que o amor pede de nós. É o caminho da observância dos mandamentos. Gratuidade e Observância! Dois caminhos, dois lados da mesma medalha: dom de Deus e esforço nosso; providência divina e eficiência humana; festa e luta; fé e política; sonhar e planejar, graça e lei. Um lado só, sem o outro, tornaria incompleto nosso relacionamento com Deus. No passado, em algumas épocas da história da igreja, insistia-se mais na gratuidade: "Deus nos ama!" E às vezes, o povo caía num ritualismo vazio sem compromisso. Em outras épocas, insistia-se mais na observância: "Temos que cumprir a Lei!" E às vezes, se caía num legalismo exagerado que gerava nas pessoas o medo de Deus.
No fim do século 19 na França, época em que vivia Teresinha, o acento caía na observância, no legalismo, com prejuízo para a vivência da gratuidade do amor. O rigor e o medo marcavam a piedade do povo, mostravam um Deus distante e exigente. Tudo parecia pecado. Era proibido comungar todos os dias. Insistia-se mais nas práticas da penitência, ameaçando o povo com o castigo do inferno. Teresinha nasceu e cresceu neste ambiente burguês e conservador. No mosteiro carmelita, em que acabava de entrar, a espiritualidade era de observância e de rigor. O ideal da santidade eram as práticas de penitência, jejum rigoroso, grandes sacrifícios, longas orações. Não se lia a Bíblia. Na biblioteca do convento só havia um único exemplar da Bíblia. Para uma irmã poder ler a Bíblia precisava da licença da superiora. Então, como Teresinha conseguiu romper com este modo tão rigoroso de viver a vida? Como ela conseguiu vencer o medo de Deus e alcançar essa sabedoria tão grande a ponto de tornar-se doutora da Igreja, mestra de todos nós?
Em Teresinha transparece uma nova imagem de Deus. Ao longo dos poucos anos de sua vida, escondida num convento, ela redescobriu o rosto amado de Deus como nosso Pai, que tinha sido esquecido. O seu jeito de lidar com Deus era diferente. A frase de Terezinha que melhor resume a mensagem da sua vida é esta que ela dirige a Deus no fim da sua vida: "No crepúsculo desta vida aparecerei diante de vós com as mãos vazias!" Ela entrou no convento para tornar-se uma santa. Ela pensava que a santidade devesse ser fruto do seu próprio esforço. Ela ouvia falar dos grandes santos e santas, das duras penitências e das longas orações que eles faziam, das virtudes que praticavam, dos sacrifícios e gestos heróicos. Assim eles acumulavam méritos para poder merecer o céu. Terezinha sentia-se pequena e frágil, cheia de defeitos, incapaz de alcançar esse ideal de santidade, pois ela dormia durante a longa meditação de manhã, não gostava muito do terço, sentia antipatias de certas irmãs, e quando fazia uma penitência maior ficava doente. E pensava: “Eu, do jeito que eu sou nunca vou alcançar a santidade. Sou pequena demais e sem força. Sou uma criança. Como é que faço para ser santa?”.
Ela encontrava uma luz nas coisas pequenas e grandes que tinham acontecido com ela na história da sua vida: a experiência do amor do próprio pai que ela experimentou, sobretudo depois do trauma que viveu com a perda da mãe aos 4 anos de idade; a experiência vivida na noite de Natal em que de repente, sem esforço algum da parte dela mesma, ela conseguiu superar o seu problema afetivo do choro e ter um domínio maior de si mesma. De tudo isto ela foi tirando a seguinte conclusão: Deus conseguiu realizar em mim coisas que eu mesma não era capaz de realizar; se Deus é Pai, como meu pai aqui na terra, ele deve gostar de crianças pequenas e frágeis como eu; a mãe gosta quando a criança dorme tranqüila no colo.
Terezinha soube viver as pequenas e grandes experiências da vida à luz da sua fé em Deus como Pai. Aos poucos, através de muito sofrimento, ela foi descobrindo quem é Deus. Deus, na sua infinita bondade e misericórdia, ele me acolhe e me carrega nos seus braços. Amor não se merece. Amor se recebe de graça! Não adianta a gente querer acumular méritos para poder merecer o amor. No fim da sua vida, Terezinha já não observava a lei de Deus para merecer o céu, mas só e unicamente para agradecer o amor recebido de Deus. Perto da morte, ela se encontra de mãos vazias: "No crepúsculo desta vida aparecerei diante de vós com as mãos vazias!" Terezinha não acumulou nada. Pelo contrário! Esvaziou-se e entregou-se. Foi se doando, sem se preocupar com a sua própria salvação. Não acumulou méritos nem sabedoria. Não quis crescer para o alto. Ela dizia: "É descendo que se sobe! É diminuindo que se cresce!"
Pelo seu testemunho, ela nos revelou um novo rosto de Deus! A sua vida, tão curta e aparentemente tão insignificante, é uma prova viva de que Deus, ele mesmo na sua bondade imensa, é a maior Boa Notícia para nós, seres humanos. Terezinha tem uma mensagem muito atual para nós que vivemos neste sistema neoliberal em que a acumulação é a lei mais forte que governa o mundo. Viver como ela viveu obriga a gente a andar na contramão e cria o espaço para uma nova convivência humana. Tudo isto não eram apenas idéias bonitas. Nem idéias não eram. Eram vivências que aos poucos foram brotando revelando seu conteúdo para a própria Teresinha que mais vivia as coisas do que as sabia.
Como jovem, ela sentia impulsos grandes e desejos enormes de ser santa. Ela se dizia: “Um desejo tão grande, se Deus o coloca em mim, então Ele também deve indicar como realizá-lo. Ela queria ser tudo ao mesmo tempo: santa, doutora, profetisa, sacerdotisa, mártir, e percebia que isto não era possível. Mas por outro lado pensava: se este desejo existe em mim, deve haver um caminho para realizá-lo, pois um desejo assim vem de Deus. Lendo a Bíblia, ela descobriu: “Sem o amor nada sou!” Aí ela concluiu: “No coração de minha mãe a Igreja, eu serei o amor! Aí posso ser tudo ao mesmo tempo: santa, doutora, profetisa, sacerdotisa, mártir, pois sem o amor eles não funcionam”.
Dezoito meses antes da sua morte, a escuridão baixou sobre Terezinha. Era como se Deus não existisse, como se o céu fosse uma ilusão, como se a fé fosse o maior engano da história da humanidade. Como Jesus na cruz, ela rezou muitas vezes: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” Mas a sua fé era maior que a escuridão. E ela repetia: “Deus está comigo! Ele não me abandonou. O amor é maior” Assim ela viveu na escuridão total durante a terrível doença da tuberculose, irradiando alegria e paciência, tendo por dentro a crise da escuridão, contra a qual ela resistia agarrando-se à fé, até à a hora da morte. Tudo isto revela uma pessoa muito madura, apesar de ter apenas vinte e poucos anos. Como diz o livro de Sabedoria: "Amadurecida em pouco tempo, ela atingiu a plenitude de uma vida longa!" (Sb 4,13)
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Santa Teresinha do Menino Jesus, Carmelita.
Ó Jesus, meu divino Esposo! Que eu não perca jamais a segunda veste de meu Batismo! Tira-me deste mundo, antes que cometa a mais leve falta voluntária. Que sempre procure e encontre só a ti. Que as criaturas nada sejam para mim, e eu nada seja para elas, mas que tu, meu Jesus, sejas tudo!...
Não possam as cousas da terra jamais conturbar minha alma. Nada conturbe minha paz! Jesus, não te peço senão a paz e também o amor, o amor infinito, sem outro limite senão tu mesmo...
Amor que já não seja eu, mas que sejas tu, meu Jesus. Por ti, Jesus, morra eu mártir, o martírio do coração ou do corpo, antes, de ambos...
Faze-me cumprir meus votos em toda a sua perfeição, e leva-me a compreender o que uma esposa tua deve ser.
Faze que nunca seja molesta à comunidade, e que ninguém se desvele por mim; que eu seja tida, espezinhada, esquecida, qual grãozinho de areia que te pertence, Jesus. Faça-se em mim tua vontade de uma maneira perfeita. Possa alcançar a mansão que antecipadamente me foste preparar...
Deixa-me, Jesus, salvar muitas almas; que no dia de hoje, não seja condenada nenhuma, e sejam salvas todas as almas do purgatório...
Perdoa-me, Jesus, se digo cousas que não devo dizer. Só quero alegrar-te e consolar-te.
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Santa Teresinha do Menino Jesus, Carmelita.
Jesus atraiu-nos juntas, embora por caminhos diferentes, juntas ele nos elevou acima de todas as coisas frágeis deste mundo, cuja figura passa (cf. 1Cor 7,31). Ele colocou, por assim dizer, todas as coisas sob nossos pés. Como Zaqueu subimos em uma árvore para ver Jesus... Então, podíamos dizer com São João da Cruz: “Tudo é meu, tudo é para mim, a terra é minha, os céus são meus, Deus é meu e a Mãe de meu Deus é minha” (Oração da alma abrasada de amor).
A propósito da Virgem Santíssima, devo lhe confiar uma das minhas simplicidades com ela. Às vezes, surpreendo-me a lhe dizer: “Mas, minha boa Santíssima Virgem, acho que sou mais feliz do que a senhora, pois a tenho como Mãe, e a senhora não tem a Santíssima Virgem para amar...
É verdade que a senhora é a Mãe de Jesus, mas a senhora nos deu inteiramente esse Jesus... e Ele, na cruz, no-la deu como Mãe. Assim, somos mais ricos do que a senhora, visto que possuímos Jesus e a senhora é nossa também. Outrora, na sua humildade, a senhora desejava ser, um dia, a servazinha da feliz Virgem, que teria a honra de ser a Mãe de Deus e eis que eu, pobre criaturinha, sou não sua serva, mas sua filha, a senhora é a Mãe de Jesus e minha Mãe”. Sem dúvida, a Santíssima Virgem deve sorrir de minha ingenuidade e, contudo, o que lhe digo é muito verdadeiro!...
*Retiro Espiritual Carmelitano n. 6: A CAMINHO COM TERESA DO MENINO JESUS- Subsídio elaborado por AUGUSTA DE CASTRO COTTA C.D.P. e EMANUELE BOAGA O.Carm. In Memoriam.
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Frei Adriano Staring, O. Carm.
"esperança e confiança"
A confiança, como virtude cristã, faz parte da virtude teológica da esperança. É uma "esperança mais resolvida". A esperança sobrenatural tem dois objetivos: a própria felicidade no céu e a ajuda divina da graça. A esperança vem da fé e encoraja, por sua vez, a fé, também provém do amor porque o amor nos ajuda a chegar a Deus como seu fim e supremo bem.
A felicidade eterna está além das nossas forças naturais e, como a graça é uma dádiva que nos faz Deus. Para os cristãos a esperança em Deus é a esperança em Jesus Cristo que mereceu o céu por nossa causa e que nos dá sua graça através da igreja.
A confiança em Deus não exclui a confiança em si mesmo. Deus também criou as nossas forças naturais, os nossos dons e as nossas faculdades. No homem existe sempre o perigo de se atribuir tudo a si próprio, mas isso não acontece com os santos. Durante o período de quietude, houve uma tentativa de excluir o desejo e as ações e interesse pessoal da vida espiritual para, assim, alcançar o nível de "pureza" e amor altruísta. Também podem ser encontradas expressões exasperadas de completa timidez para a natureza humana e suas faculdades em certos autores espirituais ortodoxos do século XVII.
A esperança faz referência ao futuro, e este futuro é, em grande parte, desconhecido. A confiança, porém, traz consigo tanto a magnanimidade como a força do Espírito. As pessoas que estão angustiada com medo ou são covarde não chegam muito longe no que se refere à vida espiritual, enquanto aqueles que possuem grandes preocupações e magnanimidade se o conseguirem. São pessoas que se arriscam a realizar grandes obras e as realizam ainda através de dificuldades e obstáculos.
Sabem que correm riscos, mas mantêm a confiança e não admitem fracassos que os desencorajar. Têm uma visão ampla, são tenazes e perseverantes mesmo perante situações difíceis que parecem desesperadas. Os fracos e temerosos confiam neles porque sabem que lhes podem proporcionar segurança e confiança.
"A confiança de Tito Brandsma"
Tito Brandsma, pertencia a este tipo de pessoas, um homem de iniciativas e projetos, que fazia o que se propunha mesmo que lhe custasse a vida. Sua confiança, mesmo nas coisas que não tinham nada a ver com a felicidade eterna ou a graça divina, era confiança em Deus, porque tinha certeza de que tudo aquilo que ele era capaz de fazer era um dom de Deus, que nos acredito e Deu-nos a ajuda e as faculdades necessárias.
Quando ofereceram ao Carmelita holandês uma missão na ilha de Java, Tito escreveu ao seu amigo Hubert Driessen: "Audazes fortuna adiuvat" - a fortuna ajuda os audazes - isso é o que diz o provérbio, eu diria desta forma: "Informadores Deus"- Deus ajuda aqueles que têm confiança (carta de 17 de dezembro de 1920) seu irmão Henry diz: Ele tem uma grande confiança em Deus. Em todos os seus projetos ele conta acima de tudo com a ajuda de Deus. Muitas vezes diz: " Deus proverá ". Não via dificuldades, era um grande optimista e muitas vezes dizia " ainda existe um Deus " (sumário do processo página 43, números 75, 78 c e 80 A sua irmã gatske dizia a mesma coisa:
" sempre confiei em Deus. Costumava falar da bondade de Deus. Ele também encorajou outras pessoas a confiarem nele. Muitas vezes dizia: " devemos deixar Deus fazer tudo... Rezem e confiem em Deus. Repetia muitas vezes as palavras de São Paulo: omnia possum in eo qui me confortat. Também dizia! Deus é tão bom! " Faça o melhor que sabe, Deus fará o resto ".
Mesmo diante de projetos ou assuntos complicados ele confiava em Deus e nos pedia que rezemos ". (sumário n. 75,76,77,79,80 Páginas 32-33. O seu colega, aloysius van staaij, disse: " Ele tinha uma grande confiança em Deus. Em todos os seus projetos ele contava, sobretudo com a ajuda de Deus. Não via dificuldades, era um grande optimista e muitas vezes dizia: Ainda há Deus!" e também " Deus cuidará disso " (sumário n. 75, 80 e 78c páginas 75: outro colega de turma, p. Adalbertus Lokkers dizia " o trabalho duro nunca o fazia sentir medo, as dificuldades, simplesmente, não existiam para ele porque confiava em Deus (n 80 página 59). O Padre Bonaventure disse a eln: "a sua confiança em Deus não tinha limites. Esta confiança veio da sua fé que era excepcional.
No seu interior havia otimismo e tinha muita confiança na bondade e na graça de Deus. Também fazia com que os outros confiarão em Deus e diziam: "Não se preocupem, tudo se resolverá". Mesmo diante de empresas difíceis mostrava a sua confiança em Deus e continuava a trabalhar para que os seus projetos tivessem um feliz desfecho (sumário n. 75, 76, 79, 80 pag 65.
Ele continuou a ser a mesma pessoa quando foi nomeado professor da Universidade de nijmegen: a confiança em Deus enchia o seu ser, nunca se alarmou ou sentiu medo. Estou convencido de que ele possuía a virtude da esperança de uma forma excepcional. Costumava dizer: " não tenham medo tudo se resolverá. Também encorajou os outros a confiarem em Deus. "olhem para o céu, nosso pai está lá cuidando de nós " (Anna Kersten, sumário n 75, 79 página 67). "na verdade tinha grande confiança em Deus ". Sua virtude principal era a confiança em Deus e no poder da oração (o.j.s van rooij, Ordem Carmelita n 76 e 78 c).
O p. Borromeus Tiecke, um estudante do p. Tito disse: " tenho a impressão de que este servidor de Deus confiava em Deus mais do que o normal. Isto era particularmente evidente em muitas das suas atividades, incluindo a sua atividade como professor. Não confiava muito em si, pelo contrário, seguindo o exemplo da grande santa Teresa, depositava a sua confiança apenas em Deus. Animava os outros transmitindo a bondade de Deus. Costumava dizer que Deus tomaria conta de nós se tivéssemos sido fiéis às regras. O servidor de Deus também animava os outros para que depositadas a sua confiança em Deus. Tenho a impressão de que em muitos aspectos da sua vida foi heroica, mesmo antes do seu martírio, especialmente no que se refere à sua confiança em Deus. (sumário 75, 76, 19 extraído das páginas 89,90,95).
O irmão Joseph Pelgrin é da mesma opinião: " acredito que a sua confiança em Deus era plena, e possuía uma absoluta confiança em Deus. Até nos pedia que rezemos para que tivessem confiança em Deus e muitas vezes dizia "tudo se arranja". Ainda nos momentos difíceis confiava que tudo se resolveria com a ajuda Deus (n. 75, 78 c, 79,80).
Os seus colegas da universidade emitiam os mesmos julgamentos: "Ele dizia para nos depositar a confiança em Deus e dizia: " ainda existe o nosso senhor!" (professor frutten n 79). Este optimismo estava ligado à sua confiança na Divina Providência. Tenho a impressão de que isto não era apenas uma virtude natural. Confiava em Deus mesmo para os seus assuntos universitários e para o seu futuro: "lá seremos todos iguais" (msgr c. Bellon n 75 e 78 c) "
A conhecida professora Cristina Mohrman afirma: " das suas lições se claramente que para ele a esperança cristã era uma realidade que estava presente em todos os momentos e que estava além do cotidiano. Era algo que não tinha complicações, algo simples. Uma frase normal nele era " Como sabeis... num futuro, no céu..." tal otimismo cristão (que por vezes os observadores seculares poderiam parecer uma confiança excessiva ou uma frivolidade), veio da sua contínua união com Deus. Uma expressão habitual nele era: "Nosso Senhor se preocupa disso". Com seu grande otimismo e confiança em Deus costumava carregar de um trabalho excessivo mas isso nunca parecia perturbar sua serenidade e sua tranquilidade (Proc. N, 75, 76, 77, 80, 84)"
Os seus alunos religiosos dão-nos uma visão mais teológica. " as suas mais eminentes virtudes eram a sua infinita confiança em Deus. Tenho a impressão de que tinha uma confiança em Deus sobrenatural, num grau mais alto do que o normal. Ele aspirava a união com Deus. A sua confiança em Deus baseava-se nisto. Estimulava os outros para que tivessem a mesma confiança em Deus (M. Artigos 64° C, 75° e 76°. "era inspirado pela virtude sobrenatural da esperança a um nível mais alto do que o normal, porque acreditava firmemente que seria salvo através do amor de Cristo. Mais de uma vez conto dessa forma: " Lide com amor para Deus e para Cristo e o paraíso virá por si mesmo ". costumava dizer; "O Senhor cuidará disso. Também influenciava os outros para que depositadas a sua confiança em Deus e rezar não apenas orações de petição, mas também orações de resignação. Mais de uma vez nos mostrou a sua confiança em Deus nos momentos de dificuldade. Tinha plena confiança na providência (B Meijer n 75, 76, 78c, 79, 80).
O biógrafo do Padre Tito, h aukes expôs: "a partir de seus escritos e pesquisas você pode deduzir que a esperança era a base de sua espiritualidade. Daqui decorre a sua contínua preocupação com os outros. Através desta atmosfera de confiança em Deus ele entrou na minha alma e na de outras pessoas (sum n 76 pag. 152).
Alguns achavam que Tito confiava demais nos homens e que era demasiado ingênuo para julgar os outros. Costumava ajudar muitas pessoas que não mereciam ser ajudados e, por vezes, se a sua caridade. Tito sabia disso, mas apesar disso não se sentia enganado. O Pai celestial também faz o sol brilhar igualmente para os cruéis e para os bons e que a chuva caia para os justos e para os injustos (Mateus 5:45).
O Pe. Tito estava convencido de que mesmo no interior dos piores homens havia algo de bom. Um dos seus companheiros de prisão, conta: "costumava dizer que os homens das ss estavam ao serviço de himmler e que tinham de cumprir as suas ordens por obrigação. De Himmler dizia que apesar de estar possuído pelos instintos alemães ainda era um ser humano ". (c. De Graaf, sum n. 60 pag, 316) no campo de dachau: "falava com muita naturalidade mesmo com o chefe das celas Becker que pertencia às ss e que muitas vezes lhe insultava e batia. Às vezes eu dizia ao Pe. Tito "Não fales com esses homens". Ele respondia :" por isso não devemos abandonar. Quem sabe se ainda não há nada neles? (Sum 60 a, p 354, R. Tijhuis. O. Carmelita). Quem sabe? Antes da sua execução em 1946, Fritz Becker se reconciliou com Deus (p. Lenz " Cristo em dachau 1956 pag 400
"Confiava em defesa da fé"
Em Maio de 1940, a Holanda foi ocupada pelos alemães e imediatamente foram impostas restrições nas igrejas para favorecer e propagar o nacional socialismo. Em fevereiro de 1941, foram tomadas medidas contra os religiosos e os padres que se tinha com o ensino. O Padre Tito era o presidente da FEDERAÇÃO DOS DIRETORES DAS ESCOLAS CATÓLICAS DO ENSINO PRIMÁRIO, médio e superior e organizou um protesto geral.
"neste momento, sou o defensor da lei destas escolas e, por agora, só estamos a lidar com padres e religiosos, mas quem sabe o que acontecerá amanhã? Se não adptarmos uma posição, seremos esmagados. Em todo o caso, eles têm de saber o que nós consideramos como os nossos direitos. Aconteça o que acontecer, tentaremos manter a calma e aceitar-nos ao inevitável. Deus terá a última palavra. Estaremos seguros nas suas mãos. Ninguém pode resistir ao seu modo de ordenar as coisas (sum p 418 carta 8-3-1941)
Ele disse aos seus colaboradores da secretária das escolas de ensino médio carmelitas: deixem as coisas para Deus, confiem em nosso Deus, tudo voltará ao seu tempo" (p flor haagen, n. 77) devem depositar mais confiança na providência de Deus (p. Rafael Gooijer n 78) "era um homem com uma confiança em Deus ilimitada (Ibid n 75-77).
O seu parceiro na luta para a defesa do ensino católico, Dr. J. De Boer diz: "mesmo de um modo inconsciente, este comportamento a depositar a nossa confiança em Deus. O Pe. Tito sofria de suas iniciativas na imprensa católica e especialmente nas escolas, mas ele acreditava que Deus levaria tudo da melhor maneira.
"O Mártir na prisão e nos campos de concentração"
Isolado, na prisão de Scheveningen (20 de Janeiro-12 de março de 1942), o Pe. Tito refletiu no seu diário os primeiros dias: "embora não sei como vai terminar isso, sei muito bem que estou nas mãos de Deus" quem pode me separar do amor de Deus?" Ele é meu único refúgio e me sinto protegido e Feliz. Ficaria aqui para sempre se Deus quisesse assim. Muito raramente estive tão feliz. (sum pag 500 e 502).
Mas especialmente no duro campo de mersfoort (12 de março de 28 de abril de 1942) podemos apreciar a sua grande confiança quando animava os outros prisioneiros.
"costumava dizer que estávamos todos nas mãos de Deus e tínhamos que confiar nele. Nas suas conversas conosco manifestava a sua esperança na eterna felicidade: celebrando para depositar a nossa confiança em Deus. Ele colocava a sua confiança e a força da sua esperança em Deus, em Jesus e na cruz. Confiava em Deus e no poder da oração. Também foi um incentivo para mim. Entre outras coisas, disse-me que estávamos nas mãos de Deus. Posso declarar que ele deu provas convincentes da sua grande confiança em Deus (Padre Verhulst, sumário n 60 B, 76, 78 c, 79 80 páginas 263-264)"
Outro parceiro:
"Considero que as suas mais eminentes virtudes eram: a bondade, a misericórdia e a sua infinita confiança em Deus. A sua confiança em Deus era muito considerável e veio do seu mais profundo ser. Chamava a atenção para os outros sobre a bondade divina e em mais de uma ocasião me disse: "temos um pai no céu que é bom " nunca falava de fracassos e erros, costumava repetir "deposita sua confiança em Deus e no poder da oração. Estimulava os outros para que depositadas a sua confiança em Deus e a orar. Uma vez agarrou-me pelo ombro e disse: "Não se preocupe, temos um pai no céu que é infinitamente bom. Não penses mais nisso (T. Van mierlo são números 64 c, 75-77-78 C-79 pag 271-271) ".
O Padre J. Aalders confirma-nos isto: "Ele era o símbolo da confiança em Deus para nós e, valor aos outros detidos. Todos, até aqueles que não eram católicos confiavam nele. Embora estivesse sempre optimista, estava convencido de que não o libertar. Confiava em Deus e no poder da oração. O seu valor e confiança eram plenas ou para dizer melhor não só possuía confiança, mas confiança em Deus. (sum números 76, 78c pag 285 e 289, se nas mãos de Deus. Confiava em Deus e no poder da oração e animava os outros a que (l. Siegmund, sum números 77 e 78c páginas 311-312 os não-católicos, também confirmam isto.
O Coronel a. Fogteloo afirma: "a sua grande força de espírito e a sua alegria revelava que confiava em Deus plenamente (Sum 64 pag 260). Um Doutor Luterano disse: "tinha grande influência no campo de concentração. Dava mostras da sua confiança em Deus em tudo o que fazia (p. H Ronge, sum n 77 e 80 pag 299) um professor não crente: "deixava tudo nas mãos de Deus" (G. Boarst n 75 p 394
Quando voltou para a prisão de Scheveningen (28 de abril-16 de maio de 1942), onde soube que o seu destino era Dachau, Tito Brandsma combateu uma cela com dois jovens protestantes. Um deles testemunhou: "a sua confiança em Deus era imensa. Confiava na cruz de Cristo e na sua graça. Estava convencido de que depois de um curto período de tempo atingiria o paraíso:- esta era a sua esperança - e nos mostrava a felicidade que virá. Se fosse aos desejos de Deus por inteiro e dizia que nada aconteceria se esse não fosse o desejo de Deus. Confiava em Deus e na oração. Aqueles dias foram inesquecíveis para nós, sustentados pela sua confiança em Deus (c de graaf, sum números 75, 77, 77 c, 80 pag 320) ".
Outro companheiro de prisão afirma: " confiava no céu em grande forma. Confiava na oração e até conseguiu que eu rezasse. A sua confiança em Deus era plena. Tudo foi mais difícil para ele do que para mim (h. Van Nievwenhoven Sum. Nos. 76, 78c, 80 pag. 326-327
O próximo passo para Dachau foi a prisão de kleve na Alemanha. Segundo o capelão da prisão, praticava a confiança em Deus em grande medida. Quando todas as tentativas para o tinham falhado não mostrou o mais ligeiro sinal de fracasso, depressão ou desespero, pelo contrário permanecia sereno, alegre e com plena confiança em Deus (sumário n 75 e 77 pag 336).
O companheiro de prisão holandês afirmou: "mostrava uma confiança total em Deus. Costumava falar do céu. Mais de uma vez ouvi-o dizer: "estamos nas mãos de Deus." Estava sempre feliz e de bom humor. Confiava em Deus e no poder da oração. Só me dizer " de groot tens que rezar. (Sum 75-77 78 c).
No Campo de Dachau (19 de junho-26 de julho de 1942): Um Padre Alemão, Heinrich Rupieper, esteve com Tito durante a viagem de kleve a Dachau que durou sete dias e também esteve no mesmo edifício que Tito dez Dias. "Deu-me a impressão de que era uma pessoa especial, submisso aos desejos de Deus e tranquilo. Dizia: "estamos nas mãos do nosso Senhor. Permanecia calmo e resignado. "Não deixe que as coisas te desanimar, Deus proverá e voltará a colocar tudo em seu lugar (Sum 55 e 62, pag 347-348).
A confiança em Deus era palpável e se via em sua felicidade, seu bom humor e sua admirável, paciência e tolerância " (J. R rothkrans sum n 64, p. 390
A última semana que passou no hospital do campo quando estava prestes a morrer, Tito Brandsma manteve a mesma atitude. A enfermeira que mais tarde teria de administrar a injeção letal testemunhou: "veio dar-me o seu Rosário para me fazer rezar. Disse-lhe que não era capaz de rezar pelo que o seu Rosário era inútil para mim. Disse-me que embora eu não soubesse rezar podia pelo menos recitar a segunda parte do Rosário: "Rogai por nós pecadores" eu ri disso. Disse-me que se eu rezava muito não estaria perdida. (fas reservado n 60 B PAG 4).
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*Frei Egídio Palumbo , O. Carm
O projeto de vida da Regra do Carmo, no seu capítulo VI, delineia uma fraternidade aberta ao mundo num estilo de acolhimento carinhoso e disponibilidade total, mas amadurecido no discernimento, tendo como motivo bíblico inspirador a hospitalidade acolhedora de Abraão assentado junto à entrada da sua tenda (Gn 18,1-4; Hb 13,2). Juntamente com esta observação não se pode esquecer de que na tradição dos frades o convento é o lugar do convenire, do encontro familiar, da "koinonia" que é aberta e irradiante etc.
Pois bem; as comunidades carmelitas, ao menos aquelas que têm estruturas e meios adequados, poderiam estar abertas ao acolhimento de todos os que pretendem fazer experiência de oração, de escuta orante da Palavra, de tempos de deserto. Trata-se de oferecer, com a força do testemunho e comunicação da fé, os frutos mais amadurecidos do nosso estar todos os dias diante de Deus como fraternidade contemplativa e em oração.
Esta é uma diaconia que muitas vezes os nossos bispos e leigos cristãos mais comprometidos pedem aos religiosos, àqueles especialmente que são herdeiros de uma tradição espiritual fecunda e significativa na história da Igreja. E será que nós, Carmelitas, não estamos entre estes?
* Fraternità Carmelitana - Pozzo di Gotto - 1993.
0 CARMELO-A SERVIÇO DA NOVA EVANGELIZAÇÃO: Carisma, Espiritualidade, Missão- apontamentos . Tradução, Frei Pedro Caxito O. Carm. In Memoriam.
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Frei Bruno Secondin, O. Carm.
"Uma coisa é perceber uma renovação da espiritualidade, outra coisa é poder definir os seus contornos. É certamente mais fácil tecer a história da Espiritualidade do que esboçar a sua perspectiva. Uma das razões disto está na dificuldade de discernir as tendências do momento, que não passam de sopro de um instante, e as tendências de fundo, que a longo prazo estruturam a vida espiritual das novas gerações. Na espiritualidade há formas, fenômenos superficiais, que se concretizam em "slogans", em frases-chaves, em livros de sucesso, para com os quais a frieza pode também ser radical depois de alguns anos de enfatuação e interesses agudos. Estas metamorfoses não são certamente sem significado para a espiritualidade de uma época, mas, se interessam à história futura, complicam a pastoral imediata" (A.M.Besnard).
Abrimos com esta frase de um perito prematuramente desaparecido. Indica-nos logo como seja difícil colher os elementos de importância e essenciais no interior de uma história que passa ligeiro, onde desmanchamos as coordenadas culturais e confundimos as mudanças simples de situações e de mentalidade, julgando-as sinais de fortes novidades. Vivemos num mundo que muitos já cha-mam de vítima da pós-modernidade, porque submetido a um excesso de vitalismo e de "experiências" consumadas à pressa, sem raízes nem profundidade. Isso poderia ser também propício a uma recuperação de valores "outros", fora do domínio pan-econômico e das leis de eficiência e racionalidade. Valores alternativos como a gratuidade, a festa, a interioridade, a sobriedade, a contempla-ção, a própria mística, parecem mais desejáveis hoje do que no passado e numa escala mais ampla, até mesmo fora das próprias tradições religiosas.
Se existe uma função urgente e própria para a espiritualidade hoje, direi que é a de um "saber orientador", de uma sabe-doria de vida e de esperanças, no contexto de situações complexas e ambíguas. a espiritualidade conhece entre os seus elementos primordiais e inspiradores, a peregrinatio, a itinerância, o êxodo contínuo, não somente interior, mas também exterior. Através de tal experiência entrava-se numa relação nova com a natureza e as pessoas, aprendia-se o valor e a beleza da criação, as diversidades das estações e das moradas humanas, os ritmos da vi-da e da luz, mas sobretudo a pessoa tornava-se ela mesma, movendo-se, realizava-se no mover-se, no trocar de horizontes e encontros, numa provisoriedade, que assinalava os valores permanentes e dava saliência à meta, para onde se tendia.
Deveríamos revalorizar esta tradição itinerante, não só como valor pessoal, ascético e de desprendimento, mas como proposta cultural, como nova fraternidade com as pessoas e com a terra, como diálogo maravilhado e contemplativo com a natureza. Não obstante a "grande mobilidade atual, de fato temos perdido este va-lor vital, carregado de mediações cósmicas e naturais, pois esta-mos expatriados, não porém a caminho; sobretudo não aparece a amplidão do quærere Deum veritatis, que caracterizou séculos de espiritualidade.
O novo espiritualismo
Queremos, enfim, dizer uma palavra sobre o novo espiritualismo emergente nestes últimos tempos. Neste caso também não podemos estender-nos além da simples esquematização e alguns rápidos acenos.
Assistimos, como todos com facilidade podemos verificar, a um crescente interesse pela espiritualidade. Espera-se muito desta sabedoria de vida, e no mercado editorial há abundância de colunas e dicionários, introduções e ajornamentos. Pessoalmente eu não seria assim tão entusiasta, porque parece-me que se esteja verificando o estado típico de uma moda, que leva ao puro consumo e transforma uma exigência vital autêntica em mera compensação para os dissabores escondidos e remotos da alma.
Contrariamente ao que aconteceu há algum decênio, a mística também está conhecendo alguma revalorização. E até podemos falar de neo-mística, porquanto temos experiências de "imediatismos" novos do divino, através, por exemplo, da luta pela libertação, da participação nas tragédias obscuras dos povos
- pensemos no holocausto -, da experiência de não-violência, do diálogo inter-religioso, da preocupação ecológica e cósmica. São novos traços, de indivíduos e talvez coletivos também, que merecem aprofundamento. Eu apresentaria a força profética e libertadora da experiência religiosa, que se vive nas CEBs da América Latina. É convicção minha que desta maneira se estão alcançando as alturas da "mística", embora que por novas estradas se compararmos com as categorias clássicas, que eram mais individualistas e nos séculos recentes demasiado restritas somente ao itinerário pelo campo da oração mental.
De muita moda há alguns anos atrás, mas interessante ainda é o fascínio do Oriente, com a sua sabedoria e capacidade de harmonia entre o corpo, a alma, o ambiente e o sentido da transcendência. Uma valorização objetiva deve prestar atenção aos sintomas de interesse de sinal exotérico e à busca de uma nova "gnósis". Nem se deve deixar passar que efetivamente temos necessidade cultural de explorar os caminhos para a globalidade e para a harmonia.É certo que é precisamente do Oriente que nos chegam os comprovados e interessantes itinerários para tal globalidade.
E no momento apresenta-se o fenômeno da Nova Era (New Age); é um fenômeno complexo de neognose popular e pós-moderna, uma forma de religiosidade desvanecente e sincretista, que funde juntamente tradições, religiões, culturas diferentes, e enumera entre os seus pais cientistas como Frijof Capra e Gregory Bateson. Poderíamos chamá-la de religião epistemológica, capaz de exprimir a sua própria concepção do mundo, utilizando tanto o registro da mística católica ou ortodoxa, mas também o da alternativa e exotérica, quanto o da racionalização do mundo. Não se trata de uma religião organizada, antes, as formas organizadas e as fórmulas dogmáticas são rejeitadas em favor de uma nova espiritualidade, que transcenda os limites religiosos e culturais, para fazer nascer uma nova consciência universal. Vai aqui um texto: "As crises da nossa época forçam as religiões do mundo a liberar uma nova forma espiritual, que há de transcender qualquer limite religioso, cultural e nacional, para fomentar uma nova consciência de unidade da comunidade humana e o nascimento de uma dinâmica espiritual, que permita encontrar uma solução para os problemas mundiais. Afirmamos a necessidade de uma nova espiritualidade despojada de todo ilhamento e orientada para o nascimento de uma consciência planetária".
Na base desta nova espiritualidade colocam o contacto direto com o divino; justamente esta experiência direta, este acesso à dimensão mística e a expectativa de uma consciência cósmica, pacífica e unificadora são as suas formas mais claras. A transformação da consciência pessoal (com a chegada da era do Aquário) despertará capacidades místicas não conhecidas ou sufocadas pelas religiões tradicionais.
Em todo caso está muito difundida a necessidade do divino "experimentável" de modo imediato e tranqüilizador. Sob formas variadas podemos sempre encontrá-la: populares, irracionais, gnósticas, demoníacas, visionárias. É toda uma floração de tendências e de mestres, de santuários e de correntes; donde se mostra evidente a urgência de um discernimento inculturado, que não pode ser feito sem uma formação teológica específica do crente na seriedade e na circunspeção crítica. A gula pelo "divino" imediatamente disponível denuncia o mal estar do homem tecnopolitano, violentamente expropriado de muitos elementos afetivos e emotivos. Devemos não confundir o esbanjamento de sensações com a verdadeira experiência de Deus, que é também acompanhada por escuridão e pela pobreza de emoções. Ao invés, as experiências coletivas e traumáticas vividas neste século na Europa ou em outras partes, como o holocausto, os genocídios, o totalitarismo, vieram demonstrando novos sentidos de percurso à experiência de Deus em condições de total escuridão espiritual e de uma nova barbárie.
Recordemos, enfim, os novos movimentos eclesiais. Devem certamente ser interpretados como laboratórios de novas formas de espiritualidade, mas infelizmente tornam-se às vezes promotores de certos tipos de "mística", como aquela sob o efeito de algum álcool, isto é, desempenhada num exílio da história, colocando assim a necessidade de experiência espiritual em curto-circuito, devido a respostas imediatas e absolutas, mesmo fundamentalistas e privadas de espessura histórica e numa fuga da fadiga de procurar a Deus nos claro-escuros da história e nas falências mais do que nas vertigens visionárias.
Outros elementos agora deverão ser ao menos elencados, como provas do avanço do espiritualismo: por isso aceno à volta da oração silenciosa, contemplativa, ecológica, simbólica, corporal, às vezes sincretistas, talvez; aceno também ao avanço da lectio divina, que passa da escola de oração à prática popular (como está acontecendo na América Latina), ou ao percurso de evangelização inculturada, no qual é preciso saber distinguir a tentação para uns poucos a um comportamento de puro arqueologismo e a promoção de um autêntico "homem novo". plasmado pela Palavra Viva e pelo Deus Vivo.
E sempre neste âmbito da oração mostrar-me-ia um pouco preocupado com a atual aridez quanto à criatividade litúrgica; tem-se a impressão de que a gente se encontre de novo muito mais comodamente se for em torno de um formalismo ritual, repetitivo, empobrecido e apagado. A criatividade selvagem dos inícios do pós-concílio talvez não foi sempre digna de louvor nem ortodoxa, mas a atual tendência ao ritualismo estandardizado e burocrático, sem dúvida, não promete nada de bom. Daí a espiritualidade não tirará a não ser desgostos e ressequimento.
Não se torna fácil explicar como viver "espiritualmente" o desvio entre tempo vivido, que é lento e polimorfo, e tempo refigurado, que se mostra sempre mais acelerado e fugaz. Muito menos sabemos como conciliar a tensão entre espaço e tempo tão aproximados pelos novos meios de comunicação e transporte e que ultrapassam a nossa capacidade de os assimilar e viver com integridade, como também a necessidade de "jazidas" culturais, isto é, de memórias, de narrações, de gradualidade e carga moral. As convicções humanas de conhecimento não bastam: exigem-se recursos morais muito mais consistentes, mas esses no momento não são muito evidentes, porque o progresso técnico-científico parece não saber poupar-nos resultados desumanizantes.
Julgo sugestiva uma idéia do célebre A.Chouraqui, conhecido judeu, tradutor original da Bíblia em linguagem corrente. Escreve ele que é necessário "redimir Babel, se é que desejamos oferecer uma possibilidade de sobrevivência ao planeta Terra". Segundo ele a nossa situação de linguagens que se anulam umas às outras é devida à falta de silêncio, ao envenenamento por meio de palavras e jogo de palavras vazios, que impedem que se entre em diálogo profundo. "O homem novo, nos limiares do terceiro milênio, deverá libertar-se da escravidão às palavras e ao fascínio de Babel, para reconstruir a cidade dos homens sobre uma terra finalmente reconciliada".
Alguém falou sobre a "caverna" de Platão, no fundo da qual o homem vê como projetadas as realidades "hiperurânicas" (supracelestes), que são as fundamentais, mas sem poder conhecê-las diretamente na sua realidade e muito menos vivê-las. Estamos, na verdade, numa época de representações indiretas, de vida mediata e refletida por palavras e imagens, que substituem a existência real. Até mesmo a experiência do crer, do ser "igreja", isto é, "convocação", corre o perigo de tornar-se um processo de mediação. Somos cidadãos e crentes via cabos submarinos: no lugar da comunicação pessoal e personalizadora, estamos em contacto simulado através de um tubo catódico ou de uma rede de fibras óticas ou por um rio de documentos e discursos.
E além do mais estamos todos juntos envolvidos no consumo "ritual" da mídia de toda qualidade, sem que reste dentro de nós senão um vago fragmento, alguma tira de artigo, algum flash de alguma imagem, alguma bomba enlouquecida de emoções e medos. Estamos não só atacados pelos flancos, mas ainda plagiados e manipulados, substituídos nos significados e opções por plausibilidades convencionais, pelo jogo de espelhos simuladores: um verdadeiro excesso de ficção.
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Frei Victor Octávio Kruger Júnior, O. Carm. Jaboticabal, São Paulo. Agosto-2017.
OFERECE ALGUNS EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS PARA SE TER E VIVENCIAR UM OLHAR CONTEMPLATIVO.
OLHAR RAIO X, por dentro, um olhar além das aparências, um olhar critico e ao mesmo tempo um
OLHAR FOTOGRÁFICO só detecta, é superficial.
OLHAR MÍSTICO, olhar o invisível, além dos sentidos para se deixar empolgar, encantar, estarrecer, ficar maravilhado, um olhar que ultrapassa o mundo visível, mas que não o dispensa.
COMO EQUILIBRAR ESSES OLHARES?
INTIMIDADE COM A PALAVRA DE DEUS. ROTC 39
01- A LECTIO DIVINA. LEITURA ORANTE DA BÍBLIA.
Meditar dia e noite na Palavra para transformar-se em Jesus. ” Não sou eu que vivo é Cristo que vive em mim ” ROTC 18 .
“ E TUDO QUE VOCÊS TIVEREM DE FAZER, SEJA LÁ O QUE FOR, QUE SEJA FEITO NA PALAVRA DO SENHOR “. RC 19 Suporte contemplativo para atitudes lúcidas e ousadas.
02- ORAÇÃO NAS SUAS VÁRIAS FORMAS ATÉ QUE ELA SE TORNE VIDA.
Pessoal, comunitária, litúrgica e informal, para estabelecer uma amizade íntima com Deus. Deus é meu parceiro e “ assim, avançar para águas mais profundas " ROTC 39. Suplantar a mesmice e o medo. A oração é a porta para a vivenciar a contemplação.
O ROSÁRIO COM OS SEUS MISTÉRIOS. A Bíblia popular. ROTC 41
03- TRABALHO CONTINUADO E COM DEDICAÇÃO. Não fazer por fazer.
Preferencialmente como serviço aos empobrecidos e marginalizados. ROTC 28 e 46. Fazer com gosto, prazer, paixão. FAZER COM ZELO ARDENTE.
04 -EXERCÍCIO DO SILÊNCIO E DA SOLIDÃO.
Escutar atentamente o necessitado capacita para a missão profética.
EXPERIÊNCIA DO DESERTO. O RETIRAR-SE.
Descobrir o que Deus quer de cada um de nós, e como quer. ROTC 22 E 48.
05- FRATERNIDADE, PARTILHAR DONS E BENS.
Caridade exercitada com “ZELO ARDENTE”.
06- JEJUM E ABSTINÊNCIA.
Configurar-se aos “ menores “, dos descartáveis.
07- SACRAMENTOS / CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA / CELEBRAÇÕES E NOVENAS / GRUPO DE ORAÇÃO, ESTUDOS, CATEQUESE, EVANGELIZAÇÃO ...
Arsenal para a relação pessoal com Deus e as pessoas. Educação da fé.
08- EXERCÍCIO DE UMA FRATERNIDADE ACOLHEDORA EM VISTA DA HUMANIZAÇÃO.
Testemunhar uma autêntica universalidade sem discriminar ninguém. ROTC 45
09- MISSÃO PROFÉTICA.
Lucidez e ousadia para denunciar tudo o que atrapalha, estraga a vida e anunciar com convicção e alegria aquilo de bom que faz construir o Reino de Deus. ROTC 35 e 49
10- FESTA.
Gosto, prazer de estar como irmãos. Companheirismo.
11- CONTEMPLAÇÃO.
Para purificar o jeito de ver as coisas integrar os 3 olhares e assim crescer em intimidade com Deus para ter os mesmos “ sentimentos” de Deus, olhos e coração. “Tende em vós os ...”
MUSCULAÇÃO ( “Quando sou fraco sou forte” ) bombar para enfrentar o peso da vida com coragem e exercitar o olhar além das aparências. Arriscar-se e vencer conflitos pois fazem parte do crescimento pessoal e comunitário.
DANÇA ( Para não dançar na vida ... ) ter um projeto claro de vida.
PILATES ( Alongar a vida com a Palavra de Deus para tornar-se uma pessoa plural, adaptável. Uma pessoa que sabe se compor com as outras num exercício de fraternidade. Uma pessoa confiável, agradável. )
NATAÇÃO ( “Avançar para águas mais profundas”. Não ficar só na superfície, não ser superficial. Perder o medo das ondas da vida, mas, cuidado para não ir na onda. Espirito crítico. É saudável desconfiar.
A OLIMPÍADA ESPIRITUAL, como saber “jogar” com esses olhares para não ser inocente útil e nem Maria vai com as outras. “ Ganhar a medalha dourada. Combater o bom combate “.
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Santa Teresinha do Menino Jesus, Carmelita.
“Minha vocação é o AMOR”. (Ms B, f. 3r)
“O amor pode suprir uma longa vida. Jesus não considera o tempo, pois no céu o tempo não existe mais. Ele só deve considerar o AMOR”. (CT 111)
Para Santa Teresinha Jesus é, no plano doutrinal, o Cristo. Entretanto, no plano afetivo, ao empregar o nome Jesus, demonstra familiaridade e proximidade com Ele, entrega amorosa “nota dominante” de sua doutrina e de sua vida e característica de sua santidade. Queria amar o bom Deus de forma muita intensa. E “o bom Deus” é Jesus. Na parede de sua cela escrevera: “Jesus é o meu único amor” (Proc. Ord., 1730). “Com o amor não somente avanço, mas vôo” (Ms A, f. 80v). Sua divisa carmelitana era “O amor, só com amor se paga”, lema tomado de João da Cruz (Cântico espiritual, estr. 9,7). “A cada instante o Amor Misericordioso me renova, purifica e não deixa em meu coração vestígio algum de pecado” (Ms A, f. 84r). O amor é para Santa Teresinha a fonte de energia que fecunda toda a sua vida espiritual.
Para compreender o amor de Deus e traduzi-lo em palavras compreensíveis desde a Bíblia, passando pela Liturgia e pelos santos, precisamos de usar muitos raciocínios e elecubrações. Santa Teresinha pouco usa a literatura teológica para compreender o AMOR. Sua atitude preferida, no amor como em tudo o mais, é uma atitude vivencial muito profunda: aquela que reconhece a transcendência divina e os privilégios da graça da filiação divina, conciliando com audaciosa confiança a dimensão da justiça e da misericórdia do amor de Deus. O caráter filial de seu amor é o corolário de sua síntese de vida: permanecer sempre “bem pequenina” em face de Deus, confiante como a criancinha em seu pai, sabendo ser-lhe agradecida seja quando está adormecida, seja quando está acordada (Ms A, f. 75v).
Santa Teresinha expressa seu amor em gestos concretos, para “agradar a Jesus”, num eco ao próprio Jesus: “Faço sempre aquilo que é do agrado de meu Pai” (Jo 8,29). Perguntava-se às vezes angustiada: “O puro amor existirá mesmo em meu coração? Meus imensos desejos não são um sonho, uma loucura? ” (Ms B, f. 4v). Desejava viver um amor desinteressado; amar o bom Deus por Ele mesmo, sem qualquer introversão egoística. São frequentes as suas palavras confirmando este anseio. Numerosas vezes fala deste seu desejo ardente e confidencia que teria medo se “Jesus me dissesse que sou egoísta” (CT 65).
*Retiro Espiritual Carmelitano n. 6: A CAMINHO COM TERESA DO MENINO JESUS- Subsídio elaborado por AUGUSTA DE CASTRO COTTA C.D.P. e EMANUELE BOAGA O.Carm. In Memoriam.
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Santa Teresinha do Menino Jesus, Carmelita.
Jesus atraiu-nos juntas, embora por caminhos diferentes, juntas ele nos elevou acima de todas as coisas frágeis deste mundo, cuja figura passa (cf. 1Cor 7,31). Ele colocou, por assim dizer, todas as coisas sob nossos pés. Como Zaqueu subimos em uma árvore para ver Jesus... Então, podíamos dizer com São João da Cruz: “Tudo é meu, tudo é para mim, a terra é minha, os céus são meus, Deus é meu e a Mãe de meu Deus é minha” (Oração da alma abrasada de amor).
A propósito da Virgem Santíssima, devo lhe confiar uma das minhas simplicidades com ela. Às vezes, surpreendo-me a lhe dizer: “Mas, minha boa Santíssima Virgem, acho que sou mais feliz do que a senhora, pois a tenho como Mãe, e a senhora não tem a Santíssima Virgem para amar...
É verdade que a senhora é a Mãe de Jesus, mas a senhora nos deu inteiramente esse Jesus... e Ele, na cruz, no-la deu como Mãe. Assim, somos mais ricos do que a senhora, visto que possuímos Jesus e a senhora é nossa também. Outrora, na sua humildade, a senhora desejava ser, um dia, a servazinha da feliz Virgem, que teria a honra de ser a Mãe de Deus e eis que eu, pobre criaturinha, sou não sua serva, mas sua filha, a senhora é a Mãe de Jesus e minha Mãe”. Sem dúvida, a Santíssima Virgem deve sorrir de minha ingenuidade e, contudo, o que lhe digo é muito verdadeiro!...
*Retiro Espiritual Carmelitano n. 6: A CAMINHO COM TERESA DO MENINO JESUS- Subsídio elaborado por AUGUSTA DE CASTRO COTTA C.D.P. e EMANUELE BOAGA O.Carm. In Memoriam.
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