Pontífice causou alguns curtos-circuitos com abordagem mais pessoal de assuntos da geopolítica

 

Papa Francisco acena para multidão do papamóvel ao chegar a missa em Nairóbi, no Quênia - Thomas Mukoya - 26.nov.15/Reuters

Michele Oliveira

MILÃO (ITÁLIA)

De um lado, um dos pontífices mais comunicativos da Igreja moderna. De outro, uma máquina diplomática que tenta realizar seu trabalho por meio de ações contínuas e cuidadosas. Às vezes, essas duas forças agem juntas no papa Francisco, em nome do objetivo maior de favorecer o diálogo e a busca pela paz. Em outras, apesar de suas boas intenções, resultam em curto-circuitos.

Um desses desencontros aconteceu em torno de um dos temas mais enroscados da geopolítica atual, a Guerra da Ucrânia. Em abril do ano passado, poucas semanas após a invasão do Exército de Vladimir Putin ao país vizinho, o Vaticano convidou para o rito da via-crúcis, na Sexta-Feira Santa, uma mulher ucraniana e outra russa, que seguraram juntas, lado a lado, a cruz em parte do percurso que simboliza o caminho de Jesus à sua crucificação.

A ideia foi levada adiante apesar de queixas públicas nos dias anteriores à celebração, manifestadas tanto pelo embaixador de Kiev junto à Santa Sé, quanto pelo arcebispo da Igreja Greco-Católica Ucraniana, que considerou a cena "inoportuna". Um incidente diplomático que resultou do esforço de equidistância praticado naquele momento pelo papa Francisco.

"Havia um sentimento de perda por parte da Ucrânia, e a escolha do papa pareceu uma reconciliação imposta. E uma reconciliação pode ser um problema para quem está sofrendo uma guerra", comenta Andrea Gagliarducci, vaticanista da rede americana Catholic News Agency e da agência italiana ACI Stampa.

O episódio mostra como a diplomacia do papa Francisco tem sido caracterizada pela fluidez em sua década à frente da Igreja Católica, completada nesta segunda-feira (13). "Ele tem uma abordagem muito pessoal, mais que diplomática. E quando algo se baseia em um relacionamento pessoal, ele muda de acordo com as circunstâncias", afirma.

A diplomacia do papa é fluida também porque esse modo de agir do argentino acontece simultaneamente ao trabalho tradicional, com conversas e visitas calculadas, chefiado pela secretaria de Relações Exteriores do Vaticano, hoje a cargo do britânico Paul Gallagher. "No fim, é preciso entender como essas duas coisas se combinam. Não há uma linha a seguir precisa, a diretriz é o instinto do papa", diz Gagliarducci.

Ao longo dos meses, Francisco foi deixando de lado a equidistância em relação ao conflito, ao condenar com cada vez mais ênfase a guerra "absurda e cruel", ainda que tentando oferecer uma porta aberta a Putin. Em diversas ocasiões, manifestou disposição de viajar a Kiev e a Moscou para atuar como mediador, o que não tem perspectivas para acontecer. O problema, diz Gagliarducci, é que a mediação da Santa Sé não pode ser imposta. "Ela se oferece somente quando solicitada. E, para a Rússia, ainda não é o momento", afirma o vaticanista.

A busca pelo diálogo e a manutenção de pontes, seja entre o Vaticano e outros países, seja entre as próprias nações, é exercida por Francisco também por meio de suas viagens internacionais. Primeiro pontífice nascido fora da Europa depois de 13 séculos, o argentino deslocou o eixo dos destinos papais para países mais distantes de Roma, com especial atenção para Ásia e África.

Das 40 viagens já realizadas, 16 foram dentro do continente europeu, 11 para o asiático, oito para o americano e cinco para o africano. Com média de quatro partidas internacionais por ano –considerando a interrupção de 2020, em razão da pandemia–, ele supera seu antecessor, Bento 16, com três viagens por ano, sendo 17 de 24 para o continente europeu. O ritmo se aproxima, porém, do de João Paulo 2º, que fez 104 viagens, bem distribuídas pelo globo, ao longo de 26 anos de papado.

Pesam questões de saúde na comparação com Bento 16, mas as escolhas do argentino de ir a lugares mais remotos, como Mianmar, onde quase 90% da população é budista, refletem sua ideia de igreja. Mesmo na Europa, nunca foi a grandes católicos como França e Espanha, preferindo Bulgária e Romênia. "O papa é atento àquilo que acontece nas periferias, porque fala de uma 'Igreja em saída'", afirma Matteo Cantori, professor de história das relações entre Estado e Igreja da Universidade Niccolò Cusano, em Roma.

Presente na primeira exortação apostólica de Francisco, em novembro de 2013, a expressão "Igreja em saída" é um dos fundamentos do seu pontificado. Significa uma Igreja de portas abertas para todos, mas também missionária e proativa para ir ao encontro das pessoas, menos voltada para si própria. "Sua diplomacia deu muitos passos à frente. Ela olha para o futuro e não só dentro de determinadas fronteiras. Dá voz para quem não a tem, incluindo não-católicos e não-cristãos", diz Cantori.

Entre os momentos mais marcantes de suas viagens, estão a missa realizada no México, em 2016, na fronteira com os Estados Unidos, ponto simbólico pela imigração, a ida à ilha grega de Lesbos, no mesmo ano, que concentra campos de refugiados, e a recente visita à República Democrática do Congo, onde ouviu vítimas de violência do conflito local que se arrasta por décadas.

Em 2016, foi histórico o encontro, em Cuba, entre o papa e Cirilo, o líder da Igreja Ortodoxa Russa.

Além da Guerra da Ucrânia, restam ao menos dois outros pontos que testam a diplomacia do papa. O relacionamento com a China, com quem a Santa Sé não têm relações formais, ao mesmo tempo em que o Vaticano reconhece Taiwan diplomaticamente.

Foi no papado de Francisco, em 2018, que foi assinado um contestado acordo com Pequim sobre a nomeação de bispos, renovado novamente em outubro. O tratado buscava aliviar uma divisão de longa data entre a igreja oficial, apoiada pelo Estado chinês, e um rebanho clandestino leal ao Vaticano. Foi a primeira vez desde a década de 1950 no país asiático que ambos os lados reconheceram o papa como líder supremo da Igreja Católica.

Mais urgente, porém, é a crise com a Nicarágua, onde religiosos foram presos e instituições ligadas à igreja, como universidade e a Cáritas, foram nos últimos dias banidas pela ditadura de Daniel Ortega. "É uma situação de ataque à igreja muito forte. Ali, o problema é que é impossível o diálogo", diz o vaticanista Gagliarducci. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

ÁGUA PARA QUEM TEM SEDE

 

Dom Leomar Antônio Brustolin 
Arcebispo de Santa Maria (RS)

No Evangelho de João (4, 5-42), encontra-se o famoso diálogo de Jesus com uma mulher samaritana, à beira do poço de Jacó. Falando das coisas da vida, como tirar água do poço, Jesus vai fazendo a mulher entender que é preciso buscar uma água que sacie toda a sede humana. Temos sede de vida, de sentido, de ética.  

Jesus, como bom Mestre, vai conduzindo uma conversa que parecia impossível. Os samaritanos eram discriminados pelos judeus porque haviam se casado com povos não judeus e acabaram adquirindo costumes estranhos e diferentes dos galileus e dos judeus. Quem conversasse ou tivesse contato com um samaritano seria considerado impuro.  

O encontro se realiza diante de uma fonte de água. Esse era um lugar de encontros, conversas e de proximidade entre as pessoas que iam buscar água. O horário era meio-dia, o sol estava quente e Jesus, cansado pela viagem.  

Quando a mulher chega, Jesus lhe pede de beber, expressão de quem tem sede, mas não é de água. Ele quer ser acolhido para ele mesmo matar a sede que existe em todo coração humano. Jesus inicia o diálogo com aquela mulher sem acusar seus erros e pecados, não trata do sentimento de culpa e fracassos de sua vida. Ele se aproxima e pede algo que ela pode oferecer. 

A mulher se espanta, pois seria muito estranho um judeu usar o mesmo jarro (copo ou balde) de um samaritano. Ele ficaria impuro! Entre Jesus e a mulher existem barreiras culturais que parecem muros intransponíveis. Jesus a provoca dizendo: “Se conhecesses o dom de Deus!” Ele mostra a ela que todo ser humano tem sede de felicidade, mas muitas vezes se engana em buscas e encontros.  

Jesus fala à mulher de uma água viva que ele conhece. Ela, porém, pensa somente na água material e pergunta-lhe como ele tiraria essa água do poço. Jesus, então, revela para aquela estrangeira a verdadeira água da vida que somente ele pode dar. Contrária à atitude da mulher que não quer dar de beber a Jesus, o Mestre oferece, gratuitamente, sua água que é, na realidade, o Dom de si mesmo. 

A mulher fica interessada pela água que Jesus revela. Então, ela passa a pedir água a Jesus. Era isto que Jesus queria: despertar seu interesse pela água viva.  No fundo, essa mulher, como todo ser humano, tem sede de Deus.  

  De repente, porém, Jesus, aparentemente, muda de assunto: pede que ela chame o seu marido. Jesus quer fazê-la descobrir que ela procura um amor e não encontra, por isso teve muitos maridos e muitos ídolos, mas não tem um amor verdadeiro. A mulher se envergonha da situação. Jesus a coloca diante da realidade de sua existência marcada por buscas e fracassos. A samaritana teve diversos maridos que a seduziram e depois a abandonaram. Ela confiou neles, mas foi traída. Os vários maridos apontam para as várias realidades nas quais ela acreditou, mas não encontrou o que procurava.  

A mulher atesta que também ela espera o Messias que virá. E aqui está uma surpresa: Jesus se revela como o Messias. Sou Eu. É o ponto alto do encontro entre Jesus e a mulher. A samaritana está ouvindo a própria palavra feita carne que lhe fala. A verdadeira sede é saciada quando a verdade revelada não oprime o ser humano, mas revela seus desvios e erros, propondo caminhos novos. Todos temos sede, muitas vezes buscamos saciá-la em descaminhos da vida. Quaresma é tempo de repensar o estilo de vida que estamos levando, buscando a fonte da água vida. Só Jesus sacia nossa sede! Fonte: https://www.cnbb.org.br

Francisco passou a reformar a Igreja, nem tanto nas doutrinas e estruturas, mas a partir de dentro, no espírito que a animava

 

Dm Odilo Pedro Scherer

Dom Odilo Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo, escreve mensalmente na seção Espaço Aberto

 

Há dez anos, no dia 13 de março de 2013, acontecia a eleição do cardeal Jorge Mario Bergoglio, então arcebispo de Buenos Aires, ao cargo de bispo de Roma e papa de toda a Igreja Católica Apostólica Romana. Já era noite e a chuva fina e fria não impediu que uma multidão acorresse à Praça de São Pedro, no Vaticano, para conhecer o novo papa, ouvir suas primeiras palavras e receber sua bênção.

Eram grandes as expectativas por mudanças no Vaticano e à frente da Igreja inteira. A maioria das pessoas, porém, não teria imaginado tantas e tão grandes surpresas em pouco tempo: um primeiro papa jesuíta, um papa não europeu depois de muitos séculos, um papa latino-americano, argentino! Não menos surpreendeu o nome escolhido, pois nunca houve, antes, um papa Francisco. E, em vez de morar nos aposentos do palácio apostólico, como seus predecessores, ele se recolheu num pequeno apartamento da Casa Santa Marta, que serve também para outros moradores estáveis e hóspedes de passagem.

As mudanças, porém, não ficaram apenas em aspectos simbólicos, mas foram aparecendo nas suas palavras, seus gestos e decisões. Francisco passou a reformar a Igreja, nem tanto nas doutrinas e estruturas, mas a partir de dentro, no espírito que a animava. Escolheu um conselho de cardeais que encarregou de pensar, com ele, a reforma da Cúria romana, estrutura de organismos que cercam o papa e o auxiliam no governo da Igreja. Desde logo, falou que gostaria de ver uma Igreja próxima das pessoas, de suas lutas, seus sofrimentos e angústias. Comparou-a com um hospital de campo em tempos de guerra, que está no lugar onde há feridos, para os socorrer. Desafiou toda a Igreja a não se voltar apenas para si mesma, mas a sair ao encontro do povo, como “Igreja em saída missionária”. E criticou a imagem da Igreja como instituição clerical, recordando que ela é povo de Deus e comunidade de todos os que acolhem a fé eclesial e recebem o batismo. Por isso, Francisco passou a acenar, desde o começo do seu pontificado, para a sinodalidade eclesial, qualidade que implica a união e a participação de todos os membros na vida e missão da Igreja.

Suas atenções não se voltaram apenas para a própria instituição eclesial. Francisco está preocupado com os pobres e todo tipo de pessoas que sofrem. Por isso, ele tem feito gestos simbólicos e tomado iniciativas concretas em relação aos migrantes que, depois de passarem toda sorte de agruras nos seus lugares de origem, acabam sendo explorados por modernos traficantes de escravos e chegam às portas dos países ricos, sem serem acolhidos. O papa tem se preocupado com os grupos periféricos, todas as pessoas descartadas pelos preconceitos mais diversos e por sistemas e projetos econômicos, que priorizam mais o lucro e a acumulação do que a partilha. Faz insistentes e quase solitários apelos pela paz e a solução das guerras e conflitos mediante o diálogo e a negociação justa. Faz questão de visitar países e lugares periféricos, para destacar a dignidade de todos e levar palavras de ânimo às populações esquecidas.

Francisco busca o entendimento e a fraternidade entre todos. Nesse sentido, ele tem procurado aproximar adversários em torno da mesa do diálogo, partindo do princípio de que qualquer solução conseguida mediante o diálogo sincero e paciente é melhor que uma batalha vencida na guerra. Com frequência, volta ao argumento da fraternidade universal de todos os povos, ensinando que a humanidade, apesar de suas diferenças étnicas, raciais, culturais, sociais ou religiosas, é uma única família, onde todos têm a mesma dignidade e os mesmos direitos fundamentais. Para prevenir ou solucionar conflitos, é necessário, portanto, desenvolver e aprofundar laços fraternos efetivos entre todos os membros da grande família humana. Nesse sentido, Francisco promove o diálogo com outras religiões, partindo do princípio de que, antes mesmo das crenças e tradições religiosas, existe a base humana comum a todos os praticantes de religião, ou não praticantes, que deve ser valorizada. Além disso, a adoração de Deus não pode ser dissociada do interesse sincero pelas demais pessoas, que também são filhas de Deus.

Nos dez anos do pontificado de Francisco, cresceu a atenção da Igreja pelas questões ambientais. Não foi por opção ideológica, mas partindo do pressuposto de que o mundo não existe apenas para poucos nem para poucas gerações: o planeta Terra e o universo inteiro são a “casa comum” da grande família humana e seu cuidado está nas mãos do homem. Portanto, cabe-nos usufruir dos bens deste mundo para a existência digna de todos os seus habitantes. Não é justo que alguns vivam na superabundância, enquanto outros vivam na miséria. Ao mesmo tempo, cabe-nos zelar para que nossa habitação transitória não seja arruinada e permaneça acolhedora para todos os seus habitantes, presentes e futuros. Zelar bem pela casa comum é questão de justiça, amor ao próximo e respeito a Deus.

*CARDEAL-ARCEBISPO DE SÃO PAULO Fonte: www.estadao.com.br

Frei Carlos Mesters, O. Carm

 

1- Abertura  

Acolher as pessoas, invocar o Espírito Santo com uma prece ou um canto. Um momento e silêncio

2- Objetivo:  

Aprender como tornar transparente a vida para que ela nos revele algo de Deus. Baseando-se no que a Samaritana e os discípulos já sabem ou vivem, Jesus procura ajudá-los a perceber uma dimensão mais profunda nas coisas da vida, por exemplo, na água.

3- Chave:      

Durante a leitura, vamos prestar atenção na maneira como Jesus ajuda as pessoas a passar do visível e palpável para a percepção da presença invisível de Deus.

 

4- TEXTO: João 4,1-42 

Depois da leitura um momento de silêncio

 

5- Perguntas:

1- Como Jesus faz para que a Samaritana chegue a perceber que, dentro dela, existe uma fonte de água viva? Como faz para passar do sentido material e real da água para o sentido simbólico?

2- O que mais chamou a sua atenção na pedagogia de Jesus? Por que?

3- Onde, no Antigo Testamento, a água é associada ao dom da vida e ao dom do Espírito?

4- Em que pontos a pedagogia de Jesus nos questiona, provoca ou critica?

 

6- Preces: Transformar o texto em preces espontâneas

 

7- Salmo 120: “Por meus irmãos e amigos eu lhe desejo: A Paz esteja com você!”

 

Subsídios:

1-Jesus encontra a Samaritana perto do poço, o lugar tradicional de encontros e de conversas. Ele parte da necessidade bem concreta da sua própria sede e faz a mulher sentir-se necessária e servidora. Pela pergunta de Jesus ela descobre que Jesus precisa dela para ele poder resolver o problema da sua sede. Jesus desperta nela o gosto de ajudar e de servir.

2- Jesus usa a palavra água, ao mesmo tempo, nos dois sentidos: o sentido material, normal, da água que mata a sede, e o sentido simbólico da água como fonte de vida e dom do Espírito. Ou seja, Jesus usa uma linguagem que as pessoas entendem, mas, ao mesmo tempo, desperta nelas a vontade de aprofundar e de descobrir um sentido mais profunda nas coisas da vida.

3- O uso simbólico da água tem raiz na vida, na história e na tradição do povo. Jesus conhece as tradições do seu povo e nelas se apoia na conversa com a Samaritana. Sugerindo o sentido simbólico da água, ela evoca nela o Antigo Testamento, onde é frequente a mística da água como símbolo da ação de Deus nas pessoas. Jeremias, por exemplo, opõe a água viva da fonte à água de cisterna (Jr 2,13). Cisterna, quanto mais água você tira, tanto menos água terá. Fonte, quanto mais água você tira tanto mais água terá. Outros textos do Antigo Testamento: Is 12,3; 49,10; 55,1; Ez 47,1-3, etc.

4- O diálogo tem dois níveis.

1- O nível da superfície, do sentido material da água que mata a sede das pessoas. Neste nível, a conversa é tensa, e não tem continuidade. Quem acaba levando vantagem é a Samaritana, pois Jesus não conseguiu entrada na vida dela por esta porta.

2- O nível da profundidade, do sentido simbólico da água como imagem da vida nova trazida por Jesus. Neste nível, a conversa tem uma continuidade perfeita. Depois de ter revelado que ele mesmo, Jesus, é a vida nova, ele diz: “Vá, chama teu marido, e volta aqui!”(16). Pois Jesus é o verdadeiro marido que vem trazer a vida nova para a mulher que buscou a vida toda e até agora não tinha encontrado. Além disso, se o povo aceitar Jesus como “noivo”, terá acesso a Deus em qualquer lugar que seja, contanto que seja em espírito e verdade(23-24).

5- Jesus declarou sua sede, mas ele não chegou a beber. Sinal de que sua sede era simbólica. Tinha a ver com a sua missão. É sede que continua nele, a vida inteira, até à morte. Na Cruz, na hora de morrer, ele diz: “Tenho sede!”(Jo 19,28) Declarada sua sede pela última vez, ele pôde dizer: “Está tudo consumado!” (Jo 19,30)  Realizou sua missão.

Segundo o sacerdote, o invasor proferiu insultos por causa da pastoral de rua, fez ameaças e jogou o celular contra ele e os fiéis.

 

Por Louise Queiroga — Rio de Janeiro

Um homem entrou na igreja onde o padre Júlio Lancellotti celebrava uma missa na manhã desta sexta-feira (10) e interrompeu a celebração. Em dado momento, o invasor disse: "ah, vai sustentar vagabundo". Ele tinha como alvo a campanha de distribuição de alimentos a pessoas vulneráveis.

"Este morador da Moóca, hoje, invadiu a igreja interrompeu a missa aos gritos e me insultou por causa da pastoral de rua. Jogou o celular contra nós e proferiu ameaças", postou o sacerdote em rede social.

Segundo o padre, o autor das ameaças ainda voltou a lhe fazer provocações, já do lado de fora da igreja, depois da interrupção da missa. Ele criticava de forma exaltada as ações sociais que a comunidade da igreja realiza para as pessoas em situação de rua da região. Mais cedo, padre Julio havia realizado uma distribuição de alimentos num centro comunitário.

O ativista de direitos humanos Lucas Louback também fez uma postagem sobre o caso e apresentou mais detalhes. Lucas relatou que a invasão ocorreu no sacramento da Eucaristia, um momento importante da missa em que o sacerdote promove a transfiguração do pão e do vinho no corpo e sangue de Jesus Cristo, em memória de sua morte e ressureição, conforme ditam os dogmas do catolicismo.

"O padre é muito bom", disse uma das pessoas ajudadas, em vídeo publicado nesta sexta-feira.

"Durante o momento da Eucaristia celebrada pelo padre Júlio Lancelotti um homem interrompeu a violentamente missa. Isso ocorreu minutos antes a distribuição do café para população em situação de rua e vulnerabilidade", relatou Lucas.

O autor do post definiu a situação como "aporofobia". E explicou: "o ódio do homem era contra a população de rua e ao padre por ajudá-los", acrescentando que tal sentimento foi "direcionado a pessoas e a caridade e não ao que gera esse quadro".

Ao GLOBO, Lucas explicou que o invasor parecia querer culpar o padre pelo aumento da população de rua nas redondezas. O homem ainda teria atribuído ao religioso a responsabilidade pela suposta presença de tráfico de drogas no bairro. Segundo o ativista, a principal mensagem que ele passou, atrelada a uma série de preconceitos e proferida repetidamente, foi chamar as pessoas vulneráveis de "vagabundas" e "bandidas".

Essa não foi a primeira vez que o padre foi alvo de intolerância. Em dezembro de 2022, ele postou uma foto nas redes sociais segurando a imagem de um menino Jesus negro, diante da celebração do Natal. Lancellotti acabou recebendo críticas por causa da cor da pele do bebê na escultura. O religioso foi acusado de promover uma “militância”, "lacrar" e tentar “mudar a história”. Ao GLOBO, ele disse acreditar que o episódio pode ser entendido como um retrato do preconceito racial muito presente no país.

Numa entrevista anterior, feita em 2021, Lancellotti destacou que a manifestação de ódio aos pobres não é uma novidade.

— [Esse sentimento] Sempre existiu, mas aumenta na proporção em que aumenta a população de rua. Na Europa, eclodiu com o movimento dos refugiados e o termo foi cunhado pela filósofa Adela Cortina. É importante nominar um fenômeno que tem sido muito vivenciado aqui — afirmou na ocasião.

Com mais de 1,3 milhão de seguidores no Instagram e vinculado à Arquidiocese de São Paulo, o padre é conhecido por suas iniciativas de caridade. Nas redes sociais, ele mostra o trabalho que executa. Fonte: https://oglobo.globo.com

O corpo do padre foi localizado ontem em uma mata de Miradouro (Reprodução//Redes sociais)

Larissa Reis

O padre Douglas Ferreira Leite, que estava desaparecido desde a manhã de terça-feira (7) e foi encontrado morto ontem (9) a tarde, cometeu autoexteríminio. A informação foi confirmada nesta sexta-feira (10) pela Polícia Civil, que ainda investiga as circunstâncias da morte.

“A Polícia Civil confirma que o padre, de 35 anos, encontrado morto nessa quinta (9), em Miradouro, foi vítima de suicídio. O desaparecimento ocorreu nessa terça (7) em Fervedouro. As investigações prosseguem para completa elucidação dos fatos”, informou a corporação.

O corpo do padre foi localizado ontem em uma mata de Miradouro. O delegado Glaydson Ferreira, que comanda as investigações, diz que há a suspeita de que o líder religioso estivesse sendo vítima de extorsão.

“O que poderia ser a motivação estamos ainda investigando, mas tomamos conhecimento de que o padre, dias antes do sumiço, teria pegado quantias em dinheiro emprestado o que poderia levar a crer que ele estaria sendo extorquido ou outro delito”, disse.

Diocese lamenta a morte

Douglas saiu de Fervedouro, na Zona da Mata, por volta de 10h30 na terça-feira. Ele e outro padre viajaram com destino a São Francisco do Glória, cidade a pouco mais de 9 quilômetros de onde saíram.

Segundo a polícia, a vítima teria almoçado no local e não foi mais visto. O corpo dele foi encontrado na tarde de ontem, no município de Miradouro, a 22 quilômetros de Fervedouro.

Douglas Ferreira Leite, de 35 anos, fazia parte da comunidade da paróquia de Santa Bárbara, no município de Fervedouro, na Zona da Mata mineira. Em nota, a diocese de Caratinga lamentou a morte.

 

Onde conseguir ajuda?

Especialistas em saúde mental reforçam a necessidade de busca por ajuda em momentos difíceis, já que todos nós estamos sujeitos a enfrentar questões que nos atordoam e causam sofrimento. Por isso, a mensagem é: você não está sozinho (a).

Ligações para o CVV (Centro de Valorização da Vida) são gratuitas em todo o país. Por meio do telefone 188, pessoas que sofrem de ansiedade, depressão ou que correm risco de cometer suicídio conversam com voluntários da instituição e são aconselhados. A assistência também é prestada pessoalmente, por e-mail ou chat.

Chat de atendimento (clique aqui)

Ligue 188

Por e-mail (clique aqui)

Presencialmente (veja os postos de atendimento aqui)

Além do CVV, também existem no Brasil os Caps (Centros de Atenção Psicossocial). Trata-se de um serviço aberto constituído por uma equipe multiprofissional, que atua interdisciplinarmente no atendimento a pessoas com sofrimento ou transtorno mental.

 

*Larissa Reis Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.

Graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Vencedora do 13° Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, idealizado pelo Instituto Vladimir Herzog. Também participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

Fonte: https://bhaz.com.br

Corpo de Douglas Ferreira Leita, de 35 anos, será sepultado na tarde desta sexta-feira em Conceição de Ipanema, sua cidade natal. Morte gerou comoção de fiéis e colegas de clero

 

Por Arthur Leal

Padre Douglas, durante cerimônia da Diocese de Caratinga (MG). Sacerdote foi achado morto e pode ter sido vítima de golpistas Reprodução

A Polícia Civil de Minas Gerais já sabe que o padre Douglas Ferreira Leite, de 35 anos, se matou após ter sofrido uma tentativa de extorsão de "golpistas profissionais". Por enquanto, nenhum suspeito foi identificado, mas as investigações continuam. O corpo do sacerdote foi encontrado nesta quinta-feira, na cidade de Miradouro, com sinais de enforcamento, dois dias após seu desaparecimento ter sido registrado na delegacia. Poucas horas antes de morrer, ele havia pedido dinheiro emprestado a dois amigos, nos valores de R$ 5 e R$ 4 mil, sem dar maiores explicações, e apresentava comportamento estranho.

— Ele pegou dinheiro com duas pessoas, que já identificamos, em valores aproximados de R$ 5 e R$ 4 mil e estava sendo extorquido. Temos essa confirmação, mas ainda não podemos revelar muitos detalhes — revelou ao GLOBO o delegado Glaydson Ferreira, à frente do caso. — Seriam golpistas profissionais, o que dificulta a identificação.

O corpo do padre Douglas foi liberado ainda nesta quinta-feira pelo Instituto Médico Legal e o velório começou à meia-noite na Paróquia de Santa Bárbara, em Fervedouro (MG), sob forte emoção de fiéis. Uma missa foi realizada no início da manhã, às 7h, e às 15h ele será sepultado em Conceição de Ipanema, sua cidade natal, para onde está sendo levado em cortejo. Antes, às 13h, a Diocese de Caratinga realiza missa de exéquias.

Em nota publicada nesta quinta-feira, a Polícia Civil afirmou que o corpo do padre, cujo desaparecimento foi registrado dois dias antes, em Fervedouro, foi localizado em Miradouro. Em vídeo, o delegado Glaydson narrou o que se sabe até agora. Segundo ele, nenhuma linha de investigação é descartada por enquanto.

— Na quarta-feira, por volta de 19h30, nós fomos informados do desaparecimento do padre Douglas e imediatamente comparecemos ao local. Iniciamos as investigações, onde verificamos que o padre, na terça-feira, por volta de 10h30, saiu da cidade de Fervedouro, juntamente com seu amigo, também padre, em direção a São Francisco do Glória. A princípio, teriam almoçado no local e ele, por volta de 11h45, teria retornado de carro, sentido a Fervedouro, não sendo mais visto — conta o delegado. — Iniciamos investigações com a finalidade de localizar o corpo e, durante diligências, verificamos que estava justamente em um lugar próximo de onde o veículo que o padre utilizava foi abandonado, na cidade de Miradouro, próximo a um restaurante.

O investigador confirma que uma das possibilidades é de que o padre tenha sido vítima de extorsão antes de seu assassinato.

— O que poderia ter gerado a motivação nós ainda estamos investigando, mas tomamos conhecimento de que o padre, dias antes de seu sumiço, teria pegado quantias em dinheiro emprestadas, o que poderia levar a crer que ele estaria sendo extorquido ou outro delito — concluiu.

 

Dinheiro emprestado

A reportagem conversou com o padre Agrimaldo José Teixeira, da Paróquia São Francisco de Assis. Ele disse que, da última vez em que o padre Douglas foi visto, ele havia pedido dinheiro emprestado a um outro padre amigo, e estaria preocupado em pagar uma terceira pessoa que estaria cobrando esta quantia dele.

— O padre Fernando esteve com ele na terça-feira pela manhã e almoçou com ele. Foi depois desse almoço que ele sumiu. Ele comentou comigo que notou que ele estava um pouco estranho, preocupado, e disse que depois explicaria tudo — conta o padre Agrimaldo. — Como eles eram muito amigos, eram da mesma cidade (Conceição de Ipanema-MG), foram ordenados na mesma paróquia, o padre Douglas tinha proximidade e amizade com ele, e pediu dinheiro emprestado. Mas não explicou para que seria esse dinheiro. Parece que alguém estava cobrando ele por algum motivo.

 

Diocese publica nota de pesar

"A Diocese de Caratinga (MG) comunica, com grande pesar, o falecimento do Pe. Douglas Ferreira Leite, até então Vigário Paroquial da Paróquia de Santa Bárbara de Fervedouro.

O Pe. Douglas estava desaparecido desde o final da manhã do último dia 7 de março, quando havia sido visto pela última vez.

Na tarde de hoje, 9 de março de 2023, foi encontrado sem vida no município de Miradouro – MG.

Na firme esperança da ressurreição, bendizemos a Deus por seu frutuoso ministério sacerdotal, vivido com zelo e ardor, ao longo deste um ano e seis meses, desde sua ordenação presbiteral, no dia 15 de agosto de 2021.

Solidários aos familiares do Pe. Douglas, amigos e paroquianos, rezemos por seu descanso eterno ao lado do Cristo Bom Pastor, a quem serviu com tanto amor e doação. Pe. Douglas Ferreira Leite". Fonte: https://oglobo.globo.com

 

Pe. Wagner Souza

Diocese de Itaguaí RJ

A notícia do desaparecimento e hoje da morte do jovem irmão, Padre Douglas da diocese de Caratinga em Minas Gerais, faz tornar ainda mais evidente a figura do Sacerdote dos nossos tempos.

Infelizmente, ele não é o primeiro e nem faz muito tempo que tivemos conhecimento de um Padre encontrado depois de dias, sem vida e com suspeita de auto-extermínio no Brasil. Como diz o Papa Francisco, os Padres são como os aviões que só viram notícia depois que caem.

De fato, nenhum de nós observa e reconhece a maravilha de voar e chegar rápido de um canto a outro, sem preocupação com congestionamento ou qualquer interrupção nas estradas. Voamos e vemos aviões o tempo todo e nos parece normal, até descobrirmos que eles caem e muitas vezes, caem porque precisam de manutenção, passam por tribulações que não são capazes de superar e etc.

Assim são os Padres. Nós os vemos semanalmente ou diariamente prontos a nos servir, num mesmo lugar e no nosso horário, sempre disponível para satisfazer nossas preferências, afinal de contas hoje é possível escolher. Então se esse padre não me agrada eu mudo de Igreja e vou à Missa e passo a admirar o padre da outra Paróquia, enquanto ele não me contraria, porque se o fizer eu mudo novamente, afinal as opções são muitas...

Do outro lado, existe o Bispo ou o Superior, o Clero ou a Congregação, que muitas vezes acabam não percebendo que excedem nas cobranças, exigem muito e oferecem pouco. Esperam produção, obra funcionando, Igreja cheia e caixa alto, nada mais. Não importa a saúde, não importa o humor, nem muito menos o que se vive... Ficou Padre, precisa trabalhar. Tem que corresponder ao esperado e se virar.

Vida pessoal, perseguição no Seminário e depois, as reclamações do povo, indiferença por parte dos irmãos e a vida tem que continuar. Não importa o que aconteça, tem que celebrar, atender o povo, pregar bem e ai se alguém reclamar! Todos terão razão. Só o Padre que não.

Uma hora, essa cruz pesa.

Nem sempre se consegue manter o ânimo.

O brilho das velas se apagam, a Igreja se esvazia e na solidão da casa ou do quarto se percebe que a indiferença e a solidão se cruzaram e esta é a cruz a ser levada adiante.

Não importa como, com a ajuda de quem ou de que forma, é preciso ir, para que não se perca o ministério, as condições para a vida digna, enfim... O prestígio que se adquiriu com o Sacerdócio, através da Igreja.

Alguns se tratam, outros desistem e vão embora...

E, infelizmente existem os que por medo da vida que virão a viver, chegando ao seu limite, no ponto mais alto, desistem de tudo, inclusive deste mundo.

Uma pena!

Mas, devemos aproveitar desses sinais. Enxergar com atenção esta realidade e nos demorar um pouco mais nesse cenário, para fazermos algumas perguntas:

O que é um padre?

Para que serve?

Quando precisamos dele?

Qual sua real importância?

E Como podemos ajudar?

De que maneira podemos apoiar?

A partir disso, eu penso que as figuras de Cirineu e Verônica, podem nos inspirar a não permitir que o Calvário seja o fim. Mas, que dali mesmo morrendo com Cristo, seus Ministros ressurjam para uma vida nova de fato.

Pense nisso.

Reze isso!

Seja você Bispo, Padre, Religioso, Consagrado ou Leigo.

O Padre é importante para você. Fonte: https://www.facebook.com/wagner.souza.7923

O suposto autor do ataque, ex-membro desta denominação religiosa, também foi encontrado morto.

 

Elena G. Sevillano

A polícia alemã está investigando o tiroteio ocorrido na noite desta quinta-feira em um centro religioso das Testemunhas de Jeová na cidade de Hamburgo, no norte da Alemanha, que causou a morte de pelo menos sete pessoas -segundo alguns meios de comunicação seriam oito- e um número ainda indeterminado de feridos, vários deles gravemente. A estas vítimas mortais, segundo as investigações da Polícia, acresce a do alegado autor do atentado, também ele falecido e cujo corpo foi encontrado no local. O homem, entre 30 e 40 anos, era ex-membro desta confissão religiosa, noticiou o jornal alemão Der Spiegel. A motivação para o ataque é desconhecida neste momento. As autoridades darão uma coletiva de imprensa ao meio-dia em Hamburgo para oferecer detalhes da investigação.

O tiroteio começou depois das 21h. Nessa altura, começaram a ser recebidos os primeiros pedidos de socorro aos Bombeiros e à Polícia. Um grande número de ambulâncias e serviços de emergência foram enviados para a área. Os primeiros agentes chegaram muito rápido porque estavam próximos ao local. Eles ouviram um último tiro enquanto entravam no prédio e mais tarde encontraram uma pessoa sem vida no segundo andar, que acreditam ser o agressor, disse à televisão na madrugada o porta-voz da polícia presente no local, Holger Vehren.

O ataque ocorreu em um centro de culto das Testemunhas de Jeová na rua Deelböge, no distrito de Gross Borstel, ao norte da cidade. Toda a área foi isolada, com ruas e rodovias cortadas. Durante as primeiras horas, as forças de segurança pediram aos cidadãos que não abandonassem as suas casas e se refugiassem num edifício caso estivessem na rua. Já ao amanhecer, a situação havia se acalmado e a Polícia informou que o perigo para os transeuntes havia passado.

O local de culto das Testemunhas de Jeová onde ocorreu o tiroteio é um prédio de três andares localizado em uma rua de seis pistas em uma área esparsa de casas baixas. Os habitantes desta zona foram alertados através de uma aplicação de telemóvel que avisa para situações de emergência e que neste caso reportou “perigo extremo”. Segundo a mídia local, às sete da noite foi realizada uma cerimônia no Salão do Reino - nome com que esta confissão se refere aos seus locais de culto - à qual compareceram muitas pessoas.

A Polícia de Hamburgo ainda não forneceu um número definitivo de vítimas e simplesmente garante que “várias pessoas ficaram gravemente feridas; alguns morreram." As primeiras informações em sua conta no Twitter indicavam que uma operação em grande escala estava sendo realizada com muitas tropas no local e que ofereceriam mais informações assim que estivessem disponíveis. "Até agora, não há informações confiáveis ​​sobre o motivo do crime", diz o relato oficial, que pede aos cidadãos que não compartilhem fatos não verificados e não espalhem boatos.

As imagens mostraram na noite de ontem uma grande concentração de ambulâncias e viaturas policiais e dezenas de agentes em frente ao prédio, alguns deles com uniformes e armas de grupos de operações especiais. Muitos casacos estavam pendurados em um cabideiro no hall do prédio, o que poderia indicar que algum tipo de evento ou reunião estava acontecendo lá dentro com muitos participantes.

“Más notícias de Hamburgo”, disse o chanceler alemão Olaf Scholz em sua conta no Twitter na sexta-feira. Ele descreveu o ataque como um "ato brutal de violência". "Meus pensamentos estão com as vítimas e suas famílias", acrescentou, agradecendo o trabalho das forças de segurança. A notícia do ocorrido no centro é "chocante", disse o prefeito de Hamburgo, Peter Tschentscher, também em sua conta na rede social. “Minhas mais profundas condolências às famílias das vítimas. Os serviços de emergência estão a trabalhar a toda a velocidade para localizar o autor ou autores e esclarecer o que aconteceu", acrescentou.

Em uma declaração no site da comunidade, as Testemunhas de Jeová se declararam "profundamente afetadas pelo terrível tiroteio". “Nossas mais profundas condolências às famílias das vítimas e testemunhas oculares traumatizadas. Os ministros da igreja local estão fazendo todo o possível para ajudá-los neste momento difícil", disseram na nota. Fonte: https://elpais.com

 

*Elena G. Sevillano

É correspondente do EL PAÍS na Alemanha. Antes, lidava com informações judiciais e econômicas e fazia parte da equipe de Investigação. Como especialista em saúde, acompanhou a crise do coronavírus e co-escreveu o livro Estado de Alarma (Península, 2020). É formada em Tradução e Jornalismo pela UPF e mestre em Jornalismo pela UAM/El País.

Douglas Leite foi visto pela última vez na manhã de terça-feira (7). Diocese de Caratinga emitiu nota de pesar após corpo ser encontrado às margens da BR-116.

 

Por g1 Zona da Mata — Fervedouro

A Polícia Civil e a Diocese de Caratinga confirmaram a localização do corpo de Douglas Ferreira Leite, padre mineiro que estava desaparecido desde a manhã de terça-feira (7). O vigário, de 35 anos, atuava na Paróquia de Santa Bárbara, em Fervedouro.

O carro do sacerdote, um fusca, também foi encontrado nesta quinta-feira (9), próximo ao município de Miradouro.

Conforme informações da Polícia Civil, na terça, ele se deslocava de Fervedouro para São Francisco do Glória, em um trajeto de pouco mais de 10km. Ele teria saído de casa por volta das 10h30 e visto pela última vez por volta das 11h45.

Na tarde desta quarta (9), a Diocese de Caratinga publicou uma nota nas redes sociais confirmando o falecimento do religioso. Nascido em Conceição de Ipanema, na região do Vale do Rio Doce, ele foi ordenado em agosto de 2021.

Investigações

O caso está sendo investigado pela 34ª Delegacia de Polícia de Miradouro, com apoio da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Muriaé.

Ao g1, a Polícia Civil confirmou o encontro do corpo, nas proximidades onde o veículo foi localizado, em uma área de mata, próximo a um riacho às margens de BR-116, em Miradouro. Populares teriam sido os primeiros a localizarem o cadáver.

Os investigadores não descartam a possibilidade de suicídio.

A hipótese mais provável, e que ainda depende de verificação conclusiva, conforme a polícia, é que ele vinha sendo vítima de um golpe de extorsão e foi chantageado pelo criminoso. Fonte: https://g1.globo.com

NOTÍCIAS SOBRE O CASO

 

Padre desaparece após pedir dinheiro emprestado a outro religioso em Minas

Religioso atua na paróquia de Santa Bárbara, em Fervedouro, na Zona da Mata mineira. Desaparecimento foi comunicado pela Diocese de Caratinga

Bruno Luis Barros

O padre Douglas Ferreira Leite, de 35 anos, que atua na paróquia de Santa Bárbara, no município de Fervedouro, na Zona da Mata mineira, está desaparecido desde a manhã da última terça-feira (7/3).

A informação é do bispo Dom Emanuel Messias de Oliveira, em comunicado oficial emitido nessa quarta-feira (8/3) pela Diocese de Caratinga, no Vale do Rio Doce. Um boletim de ocorrência sobre o desaparecimento foi aberto ainda ontem. 

Conforme apurado pela reportagem junto à diocese, o religioso havia saído com destino ao município de Divino, onde participaria de um mutirão de confissões. Mas ele não chegou à cidade. O carro dele foi encontrado pelas autoridades policiais às margens da BR-116, em Miradouro.

Ao jornal Estado de Minas, o padre Agrimaldo José Teixeira comentou que o religioso havia pegado um dinheiro emprestado com outro padre da paróquia Santa Helena, no município de Caputira. “Ele não revelou o que faria com esse valor, mas parecia muito preocupado com alguma coisa”, disse. 

Natural de Conceição de Ipanema, padre Douglas Ferreira foi ordenado sacerdote em 15 de agosto de 2021 pelo bispo Dom Emanuel Messias de Oliveira, da Diocese de Caratinga. Ele começou a atuar na paróquia de Santa Bárbara em dezembro do ano passado. Anteriormente, ele conduzia as missas em Divino. 

Procurada pela reportagem, a Polícia Civil não deu mais informações, mas disse que o caso foi encaminhado à 34ª delegacia em Miradouro, onde a investigação está sendo conduzida. Fonte: https://www.em.com.br

 

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A Arquidiocese de Mariana solidariza-se com a Diocese de Caratinga (MG), pertencente à Província Eclesiástica de Mariana, pelo falecimento do Padre Douglas Ferreira Leite.

“Eu te tomei pela mão direita: Não tenha medo, eu mesmo o ajudarei” (Is 41,13)

A Diocese de Caratinga (MG) comunica, com grande pesar, o falecimento do Pe. Douglas Ferreira Leite, até então Vigário Paroquial da Paróquia de Santa Bárbara de Fervedouro.

O Pe. Douglas estava desaparecido desde o final da manhã do último dia 7 de março, quando havia sido visto pela última vez. Na tarde de hoje, 9 de março de 2023, foi encontrado sem vida no distrito de Bicuíba, em Miradouro – MG.

Na firme esperança da ressurreição, bendizemos a Deus por seu frutuoso ministério sacerdotal, vivido com zelo e ardor, ao longo deste um ano e seis meses, desde sua ordenação presbiteral, no dia 15 de agosto de 2021.

Solidários aos familiares do Pe. Douglas, amigos e paroquianos, rezemos por seu descanso eterno ao lado do Cristo Bom Pastor, a quem serviu com tanto amor e doação.

Dom Emanuel Messias de Oliveira
Bispo Diocesano

Fonte: https://arqmariana.com.br

A religião, sintoma de alienação na geração passada, ganha espaço nos dias que correm, sobretudo no mundo dos jovens

 

Carlos Alberto Di Franco

O jornalista Carlos Alberto Di Franco escreve quinzenalmente na seção Espaço Aberto

Hoje vou tratar de um assunto diferente. Talvez surpreendente nas páginas de um jornal: Deus está em alta. Isso mesmo. A nostalgia de valores transcendentes é patente. No Brasil e na camada mais jovem da população. Impressiona-me, e muito, o nível intelectual da moçada. Uma turma bem situada na vida profissional, mas que busca um sentido mais profundo para a sua vida. É curioso. Quando parece que o materialismo prático está ganhando de goleada, o jogo vira. Sempre foi assim na bimilenária experiência do cristianismo.

Relembro, aqui, um caso antológico: a experiência de um conhecido jornalista francês. Corria o dia 8 de julho de 1935: um rapaz de 20 anos que estava à procura de um amigo, com quem tinha combinado jantar, entrava, por engano, numa capela de Paris. Chamava-se André Frossard. Era filho do líder sindical L. O. Frossard, jornalista e primeiro-secretário do Partido Comunista Francês. Dizia-se “cético e ateu de extrema esquerda. Ainda mais do que cético, ainda mais do que ateu, indiferente e ocupado em coisa bem diversa do que um Deus que nem pensava mais negar”. Cinco minutos depois, saía de lá “católico, apostólico, romano, (...) transportado, levantado, retomado e envolvido pela onda de uma alegria inexaurível”.

O impacto existencial dessa conversão ficou registrado num livro que ocupou muito tempo as listas dos best-sellers: Deus Existe, Eu O Encontrei. André Frossard, jornalista de prestígio, cronista do Figaro, redator-chefe da revista Temps Présent e, de 1988 até sua morte, em 1997, membro da Academia Francesa de Letras, faz parte daquela estirpe de intelectuais que cinzelam a cultura dos povos.

Trata-se de um livro estimulante, quase interativo. O autor, armado de uma coragem afiada e de um bom humor cativante, assume um desafio inusitado. Frossard condensa, em 47 “questões”, cerca de 2 mil perguntas que lhe foram feitas por estudantes franceses. Em cada questão, expõe primeiro as objeções, assumindo lealmente o ponto de vista crítico, e depois formula respostas que extrai da sua “experiência da fé”. Por que viver? Ciência e fé são compatíveis? Deus é da esquerda ou da direita? A fé e o Big Bang. A bioética. A aids. O sofrimento humano. A liberdade. Eis, respingados ao acaso, alguns dos temas que compõem um mosaico de grande atualidade jornalística.

A liberdade, adverte Frossard, “não consiste em fazer o que se tem vontade, mas também o que não se quereria, por bom senso, por respeito aos outros e muitas vezes por amor, primeiro princípio de tudo aquilo que é, foi ou será”.

Num mundo tantas vezes dominado por uma visão utilitária e hedonista, Frossard rasga o generoso horizonte da autêntica liberdade. De fato, poucas ideias gozam, da parte dos homens em geral, de apreço tão imediato e universal quanto a liberdade, mas nem todos se aprofundam igualmente na sua essência. Muitos se conformam com uma concepção superficial desse conceito: a liberdade sugere-lhes simples espontaneidade, ausência de compromissos, e isso já é suficiente. Na sua defesa da liberdade, contudo, Frossard não fica num conceito descomprometido, mas mergulha na raiz existencial da liberdade: o amor.

A liberdade, para ele, tem uma vertente transcendental, uma orientação para Deus. Não é que a liberdade deixe de ser uma realidade humana para se tornar só ou principalmente um conceito de tipo religioso. Bem ao contrário. Precisamente por dizer respeito a Deus e ao fim último da vida, essa concepção da liberdade é radicalmente humana.

O livro de Frossard é de grande atualidade. O pêndulo da História aponta o reencontro do homem com suas raízes genuínas, sua inquieta peregrinação rumo ao Criador. Na verdade, a busca de Deus é um fato sociológico. A religião, sintoma de alienação na geração passada, ganha espaço nos dias que correm, sobretudo no mundo dos jovens.

Jornalistas competentes, imunes ao vírus da superficialidade, sabem decifrar o fenômeno religioso. Outros, reféns de um sectarismo anacrônico, sucumbem à patologia dos chavões. Alguns, por exemplo, equivocadamente imaginam que o influxo cristão sobre os assuntos temporais não deveria existir. Gostariam de ver a Igreja reduzida a uma espécie de ONG da boa vontade. A História, no entanto, demonstra que a Igreja sempre será “sinal de contradição”. E os seus seguidores, embora iguais aos demais, são ao mesmo tempo instrumentos de transformação.

A aparente tensão entre o cristão, cidadão do mundo, mas não refém do mundanismo, tem levantado uma falsa contraposição entre convicção e liberdade. Estabelece-se uma absurda incompatibilidade entre realidades que deveriam caminhar juntas. Entre uma pessoa de fé e um fanático existe uma fronteira nítida: o apreço pela liberdade. O fanático impõe, empenha-se em aliciar. A pessoa de fé, ao contrário, assenta serenamente em seus valores. Por isso a sua convicção não a move a impor, mas estimula a propor, a expor à livre aceitação dos outros as ideias que acredita dignas de serem compartilhadas.

A invulgar cultura do autor – seu tom coloquial, sem formalismo – e a sinceridade das suas reflexões são algumas notas características de um texto estimulante.

*JORNALISTA. E-MAIL: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.. Fonte: https://www.estadao.com.br

Pontífice cita gravidade de contexto econômico e demanda ação do alto escalão da Igreja Católica

 

O Papa Francisco revogou a isenção de pagamento de aluguel de cardeais, que agora precisarão custear sua própria moradia pagando os preços de mercado. Outros altos funcionários que não são isentos, mas recebem subsídio, não receberão mais o auxílio.

Segundo o Vatican News, o pontífice pediu um "sacrifício extraordinário para destinar maiores recursos à missão da Santa Sé" diante do "contexto econômico atual, que é particularmente grave". Além dos cardeais, são afetados pela medida chefes de dicastérios (espécie de ministério da Cúria Romana), presidentes, secretários, subsecretários, dirigentes e cargos equivalentes, o que inclui também auditores do Tribunal da Rota Romana.

As novas regras foram resumidas em um documento escrito por Maximino Caballero Ledo, leigo que comanda a Secretaria de Finanças do Vaticano e se reuniu com o papa no último dia 13. A decisão não foi comunicada oficialmente, embora tenha sido informada pelo Vatican News, o portal de notícias oficial do Vaticano. Uma alta autoridade da Santa Sé também confirmou à agência Reuters o teor da medida.

A decisão não altera os contratos imobiliários vigentes, que continuam com isenções e subsídios até seu término e só poderão ser renovados respeitando as novas regras —exceções devem ser autorizadas diretamente por Francisco. Também não está claro como os preços serão calculados, especialmente em relação a apartamentos que ficam dentro do Vaticano.

Há dois anos, o papa emitiu um decreto para cortar em 10% salários de cardeais e clérigos da Santa Sé com o objetivo de evitar demissões diante do agravamento da crise econômica causada pela pandemia da Covid-19.

Em 2020, Francisco tomou medidas para tornar mais transparentes fundos de caridade, em movimento para apertar o controle sobre as finanças do Vaticano e tentar contornar escândalos financeiros a compra de imóveis de luxo. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

 

É com imenso pesar que a Diocese de Amparo, através da sua Cúria Diocesana, informa o falecimento do padre Jamil Antônio da Costa, aos 42 anos.

Natural de Caconde - SP. Foi ordenado diácono no dia 26 de junho de 2011, na Basílica Nossa Senhora da Conceição, em sua cidade natal, aos 31 anos de idade. Em dezembro do mesmo ano recebeu o Sacramento da Ordem, das mãos de Dom Davi Dias Pimentel, então bispo da Diocese de São João da Boa Vista. Nesta exerceu o ministério sacerdotal colaborando no exercício de vigário paroquial.

Em 2012 iniciou sua missão ministerial na Diocese de Amparo como pároco da Paróquia São João Batista, em Amparo, a qual ficou à frente por 6 anos. No ano de 2018 foi transferido, assumindo como pároco a Paróquia Santa Rita de Cássia, em Itapira, onde permaneceu exercendo seu caminhar na Fé. Contribuiu como assessor eclesiástico diocesano do Movimento Legião de Maria, e atuava como assessor da Pastoral da Educação na Diocese.

O padre Jamil nos últimos meses realizava um tratamento oncológico, o qual o levou ao óbito nesta quarta-feira (01), no Hospital AC Camargo, em São Paulo.

Que Nossa Senhora da Imaculada Conceição receba seu filho devoto em seus braços, e acolha os corações de seus amigos e familiares.

Maiores informações sobre a Missa Exequial, velório e sepultamento serão dadas posteriormente assim que definidas. Fonte: https://www.instagram.com/diocesedeamparo

 

Cardeal Orani João Tempesta

Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ) 

 

Estamos no início da Quaresma. Uma das características do tempo da Quaresma é a penitência, sobretudo no comer e no beber. Tal penitência pode consistir numa simples abstinência, que é renúncia a algum alimento, ou pode chegar ao jejum, que consiste no privar-se das refeições de modo total ou parcial. É muito importante a prática de tal forma de penitência. Aliás, eram o jejum e a abstinência que, na Igreja Antiga, davam uma fisionomia própria ao tempo quaresmal. 

É necessário compreender o sentido profundo que o cristianismo dá a essas práticas, para não ficarmos numa atitude superficial, às vezes até folclórica ou, por ignorância pura e simples, desprezarmos algo tão belo e precioso no caminho espiritual do cristão. 

O jejum nos ensina que somos radicalmente dependentes de Deus. Na Escritura, a palavra nephesh significa, ao mesmo tempo, vida e garganta. A ideia que isso exprime é que nossa vida não vem de nós mesmos, não a damos a nós próprios; nós a recebemos continuamente: ela entra pela nossa garganta com o alimento que comemos, a água que bebemos, o ar que respiramos. Jamais o homem pode pensar que se basta a si mesmo, que pode se fechar para Deus. Quando jejuamos, sentimos uma certa fraqueza e lerdeza, às vezes, nos vem mesmo um pouco de tontura. Isso faz parte da “psicologia do jejum”: recorda-nos o que somos sem esta vida que vem de fora, que nos é dada por Deus continuamente.  

A prática do jejum, impede-nos, então, da ilusão de pensar que a nossa existência, uma vez recebida, é autônoma, fechada, independente. Nunca poderemos dizer: “A vida é minha; faço como eu quero!” A vida será, sempre e em todas as suas etapas, um dom de Deus, um presente gratuito, e nós seremos sempre dependentes dele. Esta dependência nos amadurece, nos liberta de nossos estreitos e mesquinhos horizontes, nos livra da autossuficiência e nos faz compreender “na carne” nossa própria verdade, recordando-nos que a vida é para ser vivida em diálogo de amor com Aquele que no-la deu. 

O alimento é uma de nossas necessidades básicas, um de nossos instintos mais fundamentais, juntamente com a sexualidade. A abstenção do alimento nos exercita na disciplina, fortalecendo nossa força de vontade, aguçando nossa capacidade de vigilância, dando-nos a capacidade para uma verdadeira disciplina. Nossa tendência é ir atrás de nossos instintos, de nossas tendências, de nossa vontade desequilibrada. Aliás, essa é a grande fraqueza e o grande engano do mundo atual. Dizemos: “não vou me reprimir; não vou me frustrar”, e vamos nos escravizando aos desejos mais banais e às paixões mais contrárias ao Evangelho e de amor pelo próximo.  

O próprio Jesus, de modo particular, e a Escritura, de modo geral, nos exortam à vigilância e à sobriedade. O jejum e a abstinência, portanto, são um treino para que sejamos senhores de nós mesmos, de nossas paixões, desejos e vontades. Assim, seremos realmente livres para Cristo, sendo livres para realizar aquilo que é reto e desejável aos olhos de Deus! O próprio Jesus afirmou que quem comete pecado é escravo do pecado! Não adianta: sem o exercício da abstinência, jamais seremos fortes. Não basta malhar o corpo; é preciso malhar o coração! 

O jejum tem também a função de nos unir a Cristo, no seu período de quarenta dias no deserto. Quaresma de Cristo, quaresma do cristão. Faz-nos, assim, participantes da paixão do Senhor, completando em nós o que faltou à cruz de Jesus. O cristão jejua por amor a Cristo e para unir-se a ele, trazendo na sua carne as marcas da cruz do Senhor. É uma união com o Senhor que não envolve somente a alma, com seus sentimentos e afetos, mas também o corpo. É o homem todo, a pessoa na sua totalidade que se une ao Cristo. Nunca é demais recordar que o cristianismo não é uma religião simplesmente da alma, mas atinge o homem em sua totalidade. Pelo jejum, também o corpo reza, também o corpo luta para colocar-se no âmbito da vida nova de Cristo Jesus. Também o corpo necessita, como o coração, ser esvaziado do vinagre dos vícios para ser preenchido pelo mel, que é o Espírito Santo de Jesus. 

 O jejum e a abstinência, fazem-nos recordar aqueles que passam privação, sobretudo a fome, abrindo-nos para os irmãos necessitados. Há tantos que, à força, pela gritante injustiça social em nosso País, jejuam e se abstêm todos os dias, o ano todo! O jejum nos faz sentir um pouco a sua dor, tão concreta, tão real, tão dolorosa! Por isso mesmo, na tradição mística e ascética da Igreja, o jejum e a abstinência devem ser acompanhados sempre pela esmola: aquele alimento do qual me privo, já não é mais meu, mas deve ser destinado ao pobre. É por isso que os pobres, antigamente, nos dias de jejum, pediam nas portas o “meu jejum”. Eis o jejum perfeito: ele me abre para Deus e para os irmãos. Neste ponto, é enorme a insistência seja da Sagrada Escritura, seja dos Padres da Igreja (os santos doutores dos primeiros séculos do cristianismo). 

Resta-nos, agora, passar da teoria à prática. Seja nossa Quaresma rica do jejum e da abstinência, enriquecidos com o bem da caridade fraterna, da esmola, que se efetiva na atenção e preocupação ativa e concreta pelos pobres de todas as pobrezas, sempre em sintonia com a Campanha da Fraternidade: “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt 14,16). Fonte: https://www.cnbb.org.br

Dom Eurico dos Santos Veloso

Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG) 

 

No início da nossa caminhada quaresmal, a Palavra de Deus convida-nos à “conversão” – isto é, a recolocar Deus no centro da nossa existência, a aceitar a comunhão com Ele, a escutar as suas propostas, a concretizar no mundo – com fidelidade – os seus projetos. Indo com Jesus ao deserto, aprendemos com Ele a vencer as ciladas da maldade, do demônio e a reafirmar nossa adesão ao Deus de amor e de bondade que nos leva pela sua mão. 

A primeira leitura – Gn 2,7-9;3,1-7 –  afirma que Deus criou o homem para a felicidade e para a vida plena. Quando escutamos as propostas de Deus, conhecemos a vida e a felicidade; mas, sempre que prescindimos de Deus e nos fechamos em nós próprios, inventamos esquemas de egoísmo, de orgulho e de prepotência e construímos caminhos de sofrimento e de morte. A figura da serpente, o tentador se manifesta aos nossos primeiros pais, de maneira ardilosa e vil, para induzir-lhes ao erro. Invertendo o mandamento apresentado por Deus, que tinha como finalidade preservar a vida humana e a integridade espiritual, a serpente sugere que Deus é um ser invejoso. E assegura que, caso comessem do fruto proibido, o homem e a mulher seriam como Deus. O resultado é aquilo que São Paulo desenvolve na segunda leitura de hoje: pelo pecado, a morte entrou no mundo. Os seus efeitos se estenderam a todos os homens, pois todos pecaram. 

A segunda leitura – Rm 5,12-19 – propõe-nos dois exemplos: Adão e Jesus. Adão representa o homem que escolhe ignorar as propostas de Deus e decidir, por si só, os caminhos da salvação e da vida plena; Jesus é o homem que escolhe viver na obediência às propostas de Deus e que vive na obediência aos projetos do Pai. O esquema de Adão gera egoísmo, sofrimento e morte; o esquema de Jesus gera vida plena e definitiva. Se por meio da transgressão de um só homem o gênero humano fora relegado à morte, é também por meio de um só homem, Jesus Cristo, que o dom gratuito, isto é, a graça de Deus, é derramado de  maneira vigorosamente mais abundante e superior sobre todos. Ora, se o pecado cometido por nossos primeiros pais resultou em condenação, o dom da graça, derramado por Jesus Cristo, resultou em justificação. Tudo isso, alcançado pelo preço de seu sangue, em perfeita obediência ao Pai. 

O Evangelho – Mt 4,1-11 – apresenta, de forma mais clara, o exemplo de Jesus. Ele recusou – de forma absoluta – uma vida vivida à margem de Deus e dos seus projetos. A Palavra de Deus garante que, na perspectiva cristã, uma vida que ignora os projetos do Pai e aposta em esquemas de realização pessoal é uma vida perdida e sem sentido; e que toda a tentação de ignorar Deus e as suas propostas é uma tentação diabólica e que o cristão deve, firmemente, rejeitar. Jesus venceu as tentações, as quais cederam outrora Adão e Eva, para nos devolver a possibilidade real de viver com Deus nesta vida e, depois, participar da vida divina nova e eternamente. Para tanto, precisamos vencer todas as tentações, simbolizadas pelas três propostas apresentadas pelo Tentador de Cristo. Revestido e guiado pelo Espírito Santo, Jesus  jejuou 40 dias e 40 noites – como Moisés em Ex 34,28 – e teve fome, como todo ser humano. Foi tentado e nunca cedeu às impertinências do Maligno. Jesus é provado no deserto e durante sua vida terrena sua condição de Filho e Messias até vencer completamente o mal, entregando-se na Cruz. 

Jesus nos ensina como superar as propostas enganadoras da sociedade moderna: as tentações do combate simplicista da fome, da sujeição à ambição do lucro e do uso mágico da religião e de Deus. 

Que o percurso quaresmal, em clima de sinodalidade eclesial, nos ajude a bem vivenciar nossa vocação cristã. O vigor do nosso testemunho cristão consiste em assimilar a Palavra de Deus. É ela que nos permite vencer as tentações da autorrefencialidade, da propagação dos discursos de ódio – dos quais podemos nos tornar agentes, potencializando-os nas redes sociais – , da adesão à lógica da competição, da indiferença ao clamor dos descartados que gritam por vida digna. 

Vençamos as tentações! Jesus continua nos chamando a adentrar ao deserto da nossa alma para vencer as forças demoníacas que só podem ser vencidas pela nossa abertura à Palavra da Salvação! 

Um dos gestos concretos deste domingo, bem como de toda a Quaresma, está em sintonia com a Campanha da Fraternidade em prol do combate à fome com a nossa atitude prática de oração que se transforma em ação, dando de comer a quem tem fome, a ser generoso, sobretudo neste tempo de graça, penitência e conversão. Fonte: https://www.cnbb.org.br

Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)

 

A Igreja Católica no Brasil, mesmo recebendo muitas críticas desleais, é uma entidade religiosa preocupada com a identidade espiritual das pessoas, mas também a vida em sua total dignidade. Justamente por isto que, a partir de 1962, vem realizando, todo ano, a Campanha da Fraternidade. Seu objetivo ultrapassa os limites da instituição para contribuir com o bem espiritual e social das pessoas. 

Muitas dessas Campanhas têm uma conotação realmente social, quase como contrapartida em relação a uma cultura que não valoriza os brasileiros como tais. A Igreja procura chegar junto para ajudar na reflexão do povo. É o que acontece neste ano de 2023, com o tema “Fraternidade e Fome”, num momento em que a fome no país tem chegado a patamares muito preocupantes.  

A oração da Quaresma precisa se transformar em ação para diminuir o sofrimento de tantas pessoas. Estamos diante de um desafio, quando o lema bíblico diz: “Dai-lhes voz mesmos de comer” (Mt 14,16). E o Brasil tem condição de sarar essa ferida angustiante da fome, usando os próprios recursos. A Campanha da Fraternidade não resolve o problema, mas é espaço de reflexão sobre o tema. 

O ser humano é “ser vivente”, que depende da natureza, da fertilidade do “jardim do Édem” (cf. Gn 2,7-8), onde deve existir fartura de alimento e o necessário para a sobrevivência. Ninguém deveria morrer de fome e nem passar fome em terras brasileiras com tantos recursos naturais e capacidade humana para o trabalho. A Campanha quer mostrar que alguma coisa está errada neste cenário. 

É interessante uma frase bíblica, que diz: “A transgressão de um só levou a multidão humana à morte” (Rm 5,15). O problema da fome no Brasil não seria fruto de transgressões e de pouca visão social e fraterna de muitos? Não é por falta de alimento, porque o país é privilegiado no setor da agricultura. Talvez a culpa, se assim podemos dizer, não estaria numa política mal gerida? 

Diz que Jesus “jejuou durante quarenta dias e quarenta noites, e, depois disso, teve fome” (Mt 4,2). Muitos brasileiros jejuam muito mais, chegando até morrer por isso. É uma das realidades que precisa sensibilizar a todos, porque o direito à vida não pode ser privilégio de uns em detrimento de outros. Por isto a Campanha da Fraternidade quer provocar a capacidade da partilha fraterna. Fonte: https://www.cnbb.org.br

Ensaio da bateria da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, no Rio de Janeiro - Tércio Teixeira/Folhapress

 

Fiéis e pastores colocam o bloco de Deus na rua, mas estratégia divide opiniões entre as denominações

 

Anna Virginia Balloussier

SÃO PAULO

Mal se avizinhava o Carnaval e soava o alarme dentro das igrejas evangélicas: corram para as montanhas! Bom, não precisava ser literalmente montanhas, mas a praxe entre fiéis era procurar retiros cristãos para se blindar do clima de profanação desvairada que eles acreditavam tomar conta das ruas.

Mas espera aí, não foi Jesus Cristo quem disse "ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura"? Qual o sentido em bater em retirada justamente na semana mais convidativa ao pecado da carne e outros tantos?

Nenhum, concluíram em 2006 membros de uma igreja então novata no neopentecostalismo brasileiro. Criada menos de uma década antes, já famosa por usar pranchas de surf como púlpito, a Bola de Neve lançou naquele ano sua bateria, a Batucada Abençoada, lembra o pastor Eric Vianna, 48.

"O que era a igreja antes? Ela se reunia em acampamentos cristãos durante o Carnaval. Mas a retirada da igreja entregava a cidade para toda sorte de malignidades que acontece durante o período", disse em depoimento. "Jesus nos diz que somos a luz do mundo, e não existe melhor momento de brilhar a luz do que nas trevas de Carnaval."

O fuzuê momesco, afirma o pastor à Folha, é impulsionado por "muitas pessoas que vivem suas vidas como se não houvesse amanhã e extrapolam seus limites como se fosse o último dia de suas vidas". Aí já viu: disparam os índices de acidente de carro, criminalidade, gravidez indesejada e problemas de saúde.

"A intenção da Batucada Abençoada é mostrar que existe uma opção para isso", diz o pastor. "Mostrar que é possível se divertir e se alegrar sem a necessidade de aditivos como bebidas alcoólicas ou drogas, e sem as consequências que perduram até mesmo pelo resto da vida."

Bola de Neve ainda é exceção. A maioria das igrejas vê com maus olhos a incorporação de elementos seculares, externos à religiosidade evangélica, ainda que na melhor das intenções —essa seria usar as armas do inimigo contra ele e expandir ainda mais a evangelização, como propõe o pastor Eric.

Um artigo do pastor e conferencista Renato Vargens no Pleno News, portal conservador acompanhado por crentes, resume bem esse repúdio à ideia de meter Deus no meio da festa pagã.

"Com o intuito de pregar o Evangelho no Carnaval, evangélicos de denominações diferentes criaram blocos e até mesmo escolas de samba cujo objetivo final é pregar aos foliões. Segundo os sambistas de Jesus, essa é uma maneira de evangelizar os perdidos que se encontram absortos em iniquidade e que precisam desesperadamente de Cristo."

Ledo engano, diz Vargens. "O que me preocupa efetivamente não é o desejo de evangelizar, tampouco a vontade de pregar as Boas Novas da Salvação Eterna aos que se perdem, e sim a forma escolhida para o desenvolvimento dessa missão."

Por mais nobre que seja o motivo, adotar símbolos carnavalescas "abre portas ao mundanismo, paganismo e à ausência de santidade", e isso não é bom, argumenta. "A Igreja foi chamada para pregar Cristo e o arrependimento de pecados e não um tipo de evangelho palatável, cujo foco principal é a satisfação humana." Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

“A fome é consequência de um sistema económico que nos atinge no Brasil, um descaso em relação aos pobres", são palavras do Cardeal Leonardo Steiner na coletiva de apresentação da Campanha da Fraternidade 2023

 

Vatican News

A Campanha da Fraternidade acompanha a vida da Igreja do Brasil durante a Campanha da Fraternidade desde há quase 60 anos. Um tempo para refletir e encontrar caminhos de conversão em torno a realidades presentes na sociedade brasileira. Em 2023, a Campanha da Fraternidade tem como tema “Fraternidade e Fome”, e como lema “Dai-lhes vós mesmos de comer”.

No Brasil 33 milhões de pessoas passam fome, uma realidade que também está presente na cidade de Manaus, denunciou o Cardeal Leonardo Steiner em coletiva de imprensa. Uma campanha que tem a sua história, segundo o Arcebispo de Manaus que acontece no “tempo da conversão, o tempo da penitencia, o tempo do jejum, o tempo da esmola, essa tentativa de nos aprofundarmos no Mistério Salvífico de Deus em Jesus Cristo, na sua Paixão, Morte e Ressurreição”.

Dom Leonardo insistiu em que “a Campanha da Fraternidade deseja entrar nessa dinâmica de conversão, de mudança, de transformação”. O Cardeal afirmou que “comer não é um direito, comer faz parte do humano, é mais do que direito. Sem comer o ser humano não subsiste, não vive”. Ele denunciou o que está a acontecer com o Povo Yanomami, que “por falta de comida, por uma desnutrição enorme, eles perdem o ânimo e a capacidade de viver, eles perdem o desejo de viver, perdem o desejo de ser”.

A fome é uma realidade preocupante em um país que em 2022 só 41,3% dos domicílios no Brasil tinham seus moradores em segurança alimentar, o que faz com que mais de 58% dos domicílios brasileiros, 125 milhões de pessoas, vivessem em algum nível de insegurança alimentar, sendo 15,5% os que conviviam com a fome, 33 milhões, um número repetido por 3 vezes pelo cardeal. Ele disse esperar que “essa Campanha da Fraternidade nos desperte”, chamando a entender que “ninguém é excluído do amor de Deus”, algo que contrasta com o fato de que “nós estamos deixando irmão e irmãs a passar fome”.

Uma realidade que “é consequência de um sistema económico que nos atinge no Brasil, um descaso em relação aos pobres”, ressaltou Dom Leonardo. Uma situação que tinha sido superada no passado, definindo a situação atual como uma amostra de que no Brasil “estamos perdendo a fraternidade, estamos perdendo a capacidade humana de nos ajudarmos, de nos auxiliarmos, de termos emprego suficiente para todos, de termos um sistema econômico que seja a favor de todas as pessoas e não apenas do sistema de mercado”. Diante disso ele chamou a refletir, mas também a realizar ações concretas em favor das pessoas que passam fome.

Algo que demanda “um pacto global na sociedade, entre as instituições, Igreja, mas também os governos, as empresas” em vista da superação da fome, segundo o Padre Geraldo Bendaham. Ele insistiu em que “tem saída, tem caminhos, a gente precisa mudar”, buscando uma economia solidária onde ocorra a partilha. O Coordenador de Pastoral da Arquidiocese de Manaus ligou a questão da fome com outras realidades, água, saneamento básico, educação...

O Padre Geraldo chamou a refletir sobre o desperdício de alimentos, algo que quer ser expressado no fato da Arquidiocese de Manaus realizar o lançamento da Campanha, que será realizado na Quarta-feira de Cinzas, no entorno da feira, abrindo assim as atividades que irão levar às comunidades a aprofundar nesse tema ao longo da Quaresma. Junto com isso, ele denunciou que “a sociedade tem criatividade, capacidade para superar a fome”, demandando políticas públicas que ajudem a superar a fome e fazer com que as desigualdades desapareçam no Brasil, um país que tem alimentos, mas onde muitas pessoas passam fome, algo que considera vergonhoso e que deve ser levado a sério pelos governos, “porque se trata de pessoas, seres humanos, nossos semelhantes”.

A Igreja de Manaus vem realizando diferentes iniciativas para ajudar a superar a fome, segundo o diácono Afonso Brito. Durante a pandemia a Arquidiocese ajudou 100 mil pessoas a superar a fome, um trabalho que continua e que está sendo coordenado pela Caritas Arquidiocesana e as Caritas Paroquiais. O objetivo é ajudar às famílias que passam fome a ter o mínimo possível, algo que é realizado com a doação de pessoas anônimas e de instituições públicas.

O Cardeal Steiner colocou como algo necessário “discutirmos e refletirmos sobre o sistema econômico que tem levado tantas pessoas a esse estado de fome”. Ele ressaltou outros elementos relacionados com a fome, como é a educação, a saúde, a cultura, os espaços de lazer. Manaus é um cidade onde é possível apalpar a fome, insistiu o Arcebispo, com situações muito difícil, uma realidade que se repete nas periferias das cidades brasileiras. Diante disso, ele disse esperar que a Campanha da Fraternidade possa ajudar a “abrir os olhos das pessoas, para que haja mais partilha, mas também haja uma reflexão e uma discussão sobre o próprio sistema econômico e a falta de políticas públicas que tem levado a essa situação”. Fonte: https://www.vaticannews.va

 

Dom Jaime Vieira Rocha 

Arcebispo de Natal (RN)

 

Prezados/as leitores/as, 

A Igreja, dentro do Ano Litúrgico, dará uma pausa no Tempo Comum, neste ano na 7ª semana, dia 22 de fevereiro, quarta-feira de cinzas, para iniciar outro tempo litúrgico, o Tempo da Quaresma. Serão 40 dias de experiência de conversão, de exortação para que o nosso espírito esteja purificado para celebrar o centro do Ano Litúrgico: a Páscoa da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, este ano a 9 de abril. Viveremos, como Igreja no Brasil, a experiência da Campanha da Fraternidade com o tema: “Fraternidade e fome” e lema: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16). 

O Tempo da Quaresma é pura graça para nós. Não se trata de fazer violência ao nosso corpo, de atitudes grosseiras com a nossa condição humana. Pelo contrário, trata-se de cuidar de nossa vida para que entendamos o imenso amor de Deus por nós, manifestado em Jesus Cristo. Trata-se de um tempo em que somos chamados a nos desvencilhar do que é supérfluo, do que nos maltrata, nos humilha e nos deixa nas trevas, humilhando e maltratando nossos semelhantes e até a nossa casa comum. É uma verdadeira graça de conversão, de fortalecer-nos para enfrentarmos as tentações que nos fazem andar sem sentido num mundo marcado por tantas orientações desnorteadoras.  

Neste ano em que somos conduzidos pelo Evangelho de São Mateus, Ano A, a Palavra de Deus nos apresentará a atitude de Jesus de vencer as tentações na força da Palavra. O Tempo da Quaresma é tempo de deixar que a Palavra nos fortaleça, nos anime e nos faça compreender que a vida é graça e vocação. Jesus vence as tentações com a firmeza de quem conta sempre com Deus. Eis o que dá sentido ao nosso caminhar de fé: Deus está sempre conosco. Contamos sempre com Ele. Depois, a Palavra nos iluminará com a transfiguração de Jesus. Queremos ser purificados? Ouçamos a voz da nuvem que envolveu Pedro, Tiago e João, no monte Tabor: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado. Escutai-o!”. A experiência da conversão nos coloca nesta escuta da voz do Pai. Diante de tantas vozes dissonantes, confusas, cheias de engano, a voz do Pai é agregadora, clara, certa e cheia de ternura. No terceiro domingo da Quaresma, o encontro de Jesus com a samaritana nos expõe a dinâmica da conversão: Jesus nos encontra, dialoga conosco. Ele revela a verdade de nossa vida. Não é motivado pelo desejo de humilhar-nos, de fazer-nos envergonhados, ou ainda, de maltratar-nos. O ditado “a verdade doi”, não se aplica a Jesus em relação à verdade de quem somos – Ele não entristeceu a samaritana – antes, a fez propagadora de sua mensagem. A conversão não nos faz grosseiro, amargos, tristes. Quaresma não significa encobrir o rosto, tornando nosso olhar terrificado ou apavorado. Saímos renovados quando encontramos a luz que é Jesus. No quarto domingo da Quaresma, a cura do cego de nascença nos lembra que Jesus nos liberta das trevas e nos faz homens e mulheres cheios de luz, capazes de ver a graça libertadora do Crucificado por amor. No último domingo da Quaresma, antes de entrarmos na Semana Santa, tendo como início o Domingo de Ramos, a Palavra nos apresentará a ressurreição de Lázaro. Cristo é a ressurreição e a vida. Ninguém morrerá se está com Ele. E mesmo aqueles que já experimentaram a morte, estes estão vivos para sempre com Ele.  

Durante os 40 dias desse tempo de penitência temos a graça de refletir sobre o que é a nossa vida, qual o sentido da vida, o que nos motiva a viver. Como membros da comunidade de Jesus, a Liturgia quaresmal nos levará a uma intensa experiência de retiro, isto é, de podermos fazer silêncio e escutar a voz de Deus que continua clamando: “Hoje, não fecheis o vosso coração, mas ouvi a voz do Senhor” (Sl 94, Antífona). Eis o primeiro e fundamental modo de viver a Quaresma: “ouvir a voz do Senhor”. A sua é uma voz que esclarece nossas ideias, aponta o caminho certo e seguro, revela o sentido da vida e dá motivos para viver e ser no mundo imagem de Deus. Fonte: https://www.cnbb.org.br

Padre Júlio Lancelotti é alvo de queixas mesmo sendo contra mudança e tendo denunciado irregularidades na gestão do imóvel, que prefeitura nega. Levantamento mostra que capital tinha, no ano passado, 42.240 pessoas nas ruas

 

Por Laura Mariano* e Elisa Martins — São Paulo

Hugo Martins e Júnior dependem do Núcleo São Martinho e não aprovam mudança: “quem mora ali não nos quer” Maria Isabel Oliveira

A cena se repete todos os dias: uma fila que atravessa o salão principal e sai para a rua se forma para a distribuição de café da manhã e almoço em um prédio na Mooca, na Zona Leste da capital paulista. Cerca de 600 pessoas são beneficiadas com o fornecimento gratuito de refeições, muitas vezes a única que receberão no dia. O programa é encabeçado pelo padre Júlio Lancelotti, reconhecido por seu trabalho com a população de rua, mantido pela prefeitura, e referência em São Paulo. Mas está prestes a sofrer uma mudança de endereço que causa apreensão no padre, nos assistidos e nos novos vizinhos.

Até o fim da semana, o governo municipal planeja transferir o serviço do Núcleo de Convivência São Martinho de Lima da Rua Siqueira Cardoso para a Rua Padre Adelino. A distância de um local a outro é de apenas 400 metros. Mas a polêmica em torno disso é grande, e envolve o descontentamento da população de rua e de vizinhos do novo local, e críticas e denúncias de irregularidade pelo padre Lancelotti, que a prefeitura nega.

— Como vamos atender a todas as pessoas se o número de comidas distribuídas cairá de 600 para 400? O local não nos comporta. Tem muito carro, o galpão é menor e a população de rua será ainda mais marginalizada — critica o padre. — Nem a vizinhança nem os atendidos querem essa mudança drástica.

Lancelotti afirma receber ameaças de pessoas que atribuem a ele a mudança:

— Estou sendo responsabilizado por algo que também não quero.

Moradores de um albergue em Água Rasa, Hugo Martins e Júnior buscam alimento todos os dias no Núcleo São Martinho. Os dois fazem coro às críticas.

— O lugar novo não comporta a gente, e quem mora ali não nos quer perto — diz Júnior.

Para os dois, o melhor seria continuar “onde o atendimento já funciona”. Hugo reclama que a realocação contribuirá para que a discriminação aumente.

 

42 mil nas ruas

Levantamento do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua mostrou que, no ano passado, 42.240 pessoas moravam nas ruas de São Paulo. O número é 30% superior ao do censo da prefeitura, que estimou essa população em 32 mil pessoas.

O novo prédio que abrigará o serviço do Núcleo São Martinho de Lima ainda está fechado. Na tarde de ontem, operários trabalhavam no local. Eles se mostraram incomodados e tiraram fotos da reportagem.

Já os vizinhos do novo endereço organizam um abaixo-assinado com comerciantes para que a mudança seja revertida. Morador da rua Padre Adelino há cinco anos, Sandro Ricardo afirma que a ida do núcleo dificultará a circulação no local, impactará o comércio e a segurança.

— Mudei da região central para cá justamente pelo medo de ser assaltado, de me deparar com pontos de tráfico, e para conseguir andar livremente. Essa região tem hospitais, creches, escolas, mercados e conjuntos habitacionais novos. Não tem cabimento essa mudança — reclama Sandro.

Outro comerciante, que não quis se identificar, diz ter receio de ter que fechar seu negócio que funciona na mesma rua há 35 anos:

— Tenho medo de renovar meu contrato de locação. Já ouvi falar de pessoas que não conseguiram vender seus imóveis por aqui por causa dessa decisão da prefeitura. Você acha mesmo que o cliente vai chegar, ver a desorganização do São Martinho aqui ao lado e estacionar o carro?

A polêmica vai além da oposição de assistidos e moradores. Segundo Lancelotti, há irregularidades não esclarecidas em relação à locação e às condições do prédio atual, sobre as quais que ele diz questionar a prefeitura desde 2020.

De acordo com o religioso, a administração municipal aluga o imóvel desde 2015 por R$ 28.150,48 mensais para as atividades do Núcleo São Martinho de Lima. Até novembro de 2019, esse valor era repassado aos antigos proprietários, que então ofereceram o imóvel à Caixa Econômica Federal para o pagamento de uma dívida. O padre afirma, porém, que durante oito meses os aluguéis continuaram sendo pagos aos donos anteriores.

Ele conta que questionou a gestão de Bruno Covas, à época prefeito de São Paulo, sobre a locação. O padre afirma que recebeu a informação de que assim que a prefeitura tomou conhecimento da alteração de titularidade do prédio suspendeu o pagamento do aluguel aos antigos proprietários.

— Poderiam dar mil justificativas, mas o que explica um pagamento num valor tão alto por oito meses? Quantas pessoas no Brasil recebem esse valor por mês? Não é a maioria do povo. Eu acho muito grave. A gente acaba achando que é até mais um caixa dois por aí. Sigo buscando respostas para isso — afirma.

 

Vistoria e propriedade

Procurada pelo GLOBO, a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social informou dois motivos para a mudança de endereço. O primeiro seria “em virtude da necessidade de reparos estruturais no imóvel atual constatada pela Coordenação de Engenharia e Manutenção”, após um vistoria feita em maio de 2022. Depois, acrescentou que a nova sede já estava “sendo providenciada desde abril do ano passado”, quando o novo proprietário do prédio onde funciona atualmente o serviço, e que teria adquirido o imóvel através de penhora da Caixa, fez uma solicitação do imóvel, que era locado diretamente pela pasta.

A secretaria afirmou ainda que o novo endereço terá capacidade para 400 pessoas e “continuará realizando a distribuição de café da manhã e almoço, além de manter as atividades já desenvolvidas”.

“Não haverá diminuição do atendimento para os conviventes do Núcleo de Convivência São Martinho. Atualmente, o serviço distribui até 800 refeições e atende entre 450 a 500 pessoas por dia”, completou o órgão em nota.

*Estagiária sob a supervisão de Elisa Martins. Fonte: https://oglobo.globo.com