A oração deve nos tornar responsáveis pelo que pedimos; caso contrário, ela não passa de magia e de superstição. (...) Deus não pode fazer nada sem a nossa participação, o que explica a sua ausência e sua impotência quando a oração não comporta nenhum compromisso.

A reflexão é de Raymond Gravel, padre da Diocese de Joliette, Canadá, e publicada no sítio Réflexions de Raymond Gravel, comentando as leituras do 29º Domingo do Tempo Comum – Ciclo C do Ano Litúrgico. A tradução é de André Langer.

 

Referências bíblicas:
Segunda leitura: 2 Tm 3,14-4,2
Evangelho: Lc 18,1-8

 

Eis o texto.

Quem está no caminho do Reino? No domingo passado, vimos que é aquele que voltou no caminho, que voltou atrás, para tomar e abrir novos caminhos, que se encontra no caminho do Reino. Hoje, vemos que é aquela que reza com insistência e perseverança que se encontra no caminho do Reino. Por outro lado, a oração deve nos tornar responsáveis pelo que pedimos; caso contrário, não passa de magia e de superstição: “A oração não nos dispensa de lutar, mas ela deve permitir que as armas da nossa luta sejam aquelas do Evangelho. Nós, talvez, resolveríamos os problemas da nossa comunidade e da Igreja em geral com maior serenidade, se soubéssemos rezar com efetividade e sem jamais nos cansar” (A.-M. Bernard). Mas o que devemos compreender da Palavra de Deus que nós proclamamos hoje?

 

A oração como expressão da fé

No evangelho de hoje, através de uma parábola que coloca em cena um juiz iníquo e uma mulher completamente privada, primeiramente porque ela é mulher e também viúva, portanto, sem recursos, o Cristo do Evangelho de Lucas nos diz que é preciso rezar com insistência e perseverança. Eu teria vontade de dizer: dize-me como tu rezas e eu te direi em que tipo de Deus tu acreditas! O que me faz dizer isso é a resposta de Jesus, no final do evangelho, traduzida em uma pergunta: “Mas, o Filho do Homem, quando voltar, encontrará fé sobre a terra?” (Lc 18,8b).

Com efeito, no momento em que Lucas escreve, muitos haviam perdido toda esperança. Eles acreditavam que Jesus voltaria logo para inaugurar o Reino que ele havia anunciado. Mas não veio nada, nem o Senhor, nem os tempos novos. Eles continuam suplicando. E nada! Por que, então, os fazia esperar assim? Teria Deus ficado surdo aos seus apelos assim como o juiz iníquo implorado com insistência por esta pobre viúva. Não parece ser esta, de certa forma, a nossa atitude em relação a Deus, que parece estar ausente da nossa vida e surdo às nossas orações? Pessoalmente, é exatamente isso que estou vivendo atualmente, diante desta terrível doença que me atinge e que me tira todas as minhas energias. Quando rezamos, em que Deus acreditamos? O que lhe pedimos? Recordemos aquilo que dizia o cardeal francês Etchegaray em relação à oração: “A oração não é nem refúgio, nem fuga, nem apelo ao milagre. A verdadeira oração exige que nós procuremos fazer aquilo que pedimos para Deus fazer”.

Esta é uma coisa mais do que difícil de fazer! Por outro lado, se a viúva do evangelho obtém justiça, não é por causa desse juiz iníquo. Foi simplesmente por sua tenacidade, por sua perseverança e por seu compromisso que ela obteve justiça. O mesmo vale para cada um de nós; não é porque Deus se pareça a esse juiz iníquo. Não! Simplesmente porque Deus não pode fazer nada sem a nossa participação, o que explica a sua ausência e sua impotência quando a oração não comporta nenhum compromisso. O cardeal Etchegaray continua: “Se eu peço o pão nosso de cada dia, devo eu mesmo dar esse pão para quem ele falta. Se eu rezo pela paz, devo eu mesmo me comprometer com o estabelecimento da paz. A oração não é feita de palavras ao vento: nós só podemos rezar quando estamos inteiramente comprometidos com o que pedimos”.

Assim, diremos, Deus é paciente e foi o que disse o religioso francês, André Rebré: “Em relação à paciência de Deus, o que significa a nossa impaciência? Ela desqualifica os homens chamados a serem parceiros de Deus para tornarem a terra mais humana, e aumentar a paz, a justiça e a liberdade. Para isso é necessário tempo, todo o tempo da história, mas também o trabalho, as iniciativas e as lutas dos homens, o testemunho de fé dos crentes. Porque o tempo da paciência de Deus reclama a nossa atividade, como aquela da viúva que multiplica as tratativas. Teremos nós a mesma obstinação, a mesma confiança, a mesma fé que ela? É a pergunta que Jesus nos faz: O Filho do Homem quando vier, encontrará fé sobre a terra?”.

 

A fé como compromisso

Mas, qual é o fundamento da nossa fé? Os dogmas? A regras? As leis? Não! A nossa fé se fundamenta sobre a Palavra de Deus. Uma Palavra que nós encontramos, em primeiro lugar, nos textos sagrados e que nos fala de justiça, paz, liberdade. Mas também uma Palavra que deve ser dita hoje, para o mundo de hoje. É por isso que a Palavra não pode ficar fechada nos textos sagrados; ela precisa ser atualizada. Se a Palavra é viva e pode ainda falar de justiça, de paz e de liberdade às mulheres e aos homens do nosso tempo, ela necessita desta liberdade de palavra para exprimir uma Palavra nova de Deus; caso contrário, que paremos de afirmar que a Palavra de Deus é viva.

Na segunda leitura a Timóteo, Paulo nos diz: “Proclama a palavra, insiste, no tempo oportuno e no inoportuno, refuta, ameaça, exorta com toda a paciência e doutrina” (2 Tm 4,2). Existe um risco de dizer e proclamar a Palavra, porque a Palavra deve necessariamente perturbar, porque ela fala de justiça, de paz e de liberdade; o que perturba todo o mundo. É e por isso que Paulo acrescenta: “Pois virá um tempo em que alguns não suportarão a sã doutrina... Desviarão os seus ouvidos da verdade, orientando-os para as fábulas” (2 Tm 4,3-4). O que isto quer dizer? Ao interpretar, muitas vezes, os textos bíblicos de maneira literal, não fizemos destes relatos fábulas que afastaram e que ainda afastam mais de um crente? Como, então, exprimir uma Palavra nova de Deus, uma Palavra que liberta e que dá esperança a pessoas que já não querem mais ouvir a Palavra, porque se desiludiram com as interpretações fundamentalistas que fizemos? Os missionários do Evangelho necessitam, pois, de honestidade para reconhecer seus erros e a humildade de não pretender deter a verdade sobre Deus e sobre o mundo.

A fé não pode ser uma certeza; ela só pode ser uma esperança. Foi, sem dúvida, o que fez Bernanos dizer: “Minha fé é 24 horas de dúvida, menos um minuto de esperança”. A fé cristã não é um saber, nem uma ideologia; ela é o encontro com alguém, com Cristo, com o Filho de Deus, que João chama de Palavra: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Comprometer-se a segui-lo é tornar-se Palavra e Verbo de Deus: “Mas a todos que o receberam deu o poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1,12). E mais ainda: “Ele, que não foi gerado nem do sangue, nem de uma vontade da carne, nem de uma vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1,13). A fé como compromisso nos torna, pois, filhos e filhas de Deus, dos Cristos ressuscitados, dos Cristos vivos. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

A reflexão bíblica é elaborada por Adroaldo Palaoro, padre jesuíta, comentando o evangelho do 29° Domingo do Tempo Comum - Ciclo C (20/09/2019) que corresponde ao texto bíblico de Lucas 18,1-8.

 

O maior poder do mundo não é a bomba, nem o grande capital, nem um estado autoritário e violento, nem uma igreja triunfante, mas o rosto impotente do órfão, da viúva, do refugiado, do excluído..., o rosto que sofre e se indigna, que olha e suplica, pois carrega no mais profundo de si mesmo toda a energia de Deus; este é o poder que desestabiliza, o grito dos indignados. Falamos da eficácia do “rosto suplicante”, ou seja, do argumento dos indignados que gritam com seu rosto, exigindo justiça.

Vivemos em um mundo que parece dominado pela voz daqueles que vivem para impor e abafar a voz dos mais vulneráveis, um mundo fundado na propaganda de um sistema que quer silenciar todos os gritos e enganar-nos a todos com o circo midiático das mentiras organizadas (fake news).

Para que este mundo se transforme e a justiça se faça presente, continua sendo necessário o grito das viúvas, a indignação dos pobres e excluídos, a voz de todos os oprimidos da terra, aos quais o mesmo Jesus diz: “juntai-vos e gritai ao Deus onipotente”.

Pois bem, é chegado o momento de nos comprometer a elevar a voz, como tantos homens e mulheres de nosso tempo. Chegou o momento dos(das) grandes indignados(as), como a viúva do evangelho com sua palavra suplicante e com sua voz que denuncia todo tipo de injustiça.

“É muito bom gritar através das personagens o que quero gritar para o mundo” (Adriana Esteves)

Em um mundo onde a realidade feminina era invisível, Jesus tornou-a visível. Sua conduta e seu ensinamento foram radicalmente “contra-culturais” com relação à mulher. Ele foi um autêntico reformador e inclusive revolucionário. Considerando seus gestos e palavras, percebe-se que Jesus se mostrava sensível a tudo o que pertencia à esfera feminina, em contraposição ao mundo masculino cultural, centrado na dominação e submissão da mulher.

Com sua presença e sua linguagem Jesus faz emergir o mundo vital das mulheres; ao tirá-las do seu anonimato e trazê-las à luz, Ele realça e louva os traços característicos da mulher. Por isso, Jesus narrou preciosas parábolas tendo as mulheres como protagonistas, especialmente as mais pobres, como no Evangelho deste domingo: Jesus deu voz àquela que, por sua condição de viuvez, não tinha chance nenhuma de expressar seu clamor por justiça.

A mensagem e a prática de Jesus, portanto, significam uma ruptura com a situação imperante e a introdução de um novo tipo de relação, fundado não na ordem patriarcal da subordinação, mas no amor como mútua doação que inclui a igualdade entre homem e mulher. A mulher irrompe como pessoa, filha de Deus, destinatária do sonho de Jesus e convidada a ser, junto com os homens, também discípula e membro de um novo tipo de comunidade.

Em um contexto social e religioso no qual as relações se estabelecem através do poder, da hierarquia, da maneira de exercer a autoridade, onde o mais forte se impõe sobre o fraco, o rico sobre o pobre, o homem sobre a mulher, o que possui informação sobre o ignorante, a cena da parábola deste domingo nos introduz em uma nova ordem das relações que devem caracterizar o Reino.

A maneira de Jesus tratar as pessoas marginalizadas, sobretudo as viúvas, pôs em marcha um movimento de inclusão que quebrava toda pretensão de poder e de imposição.

Na tradição bíblica, as viúvas são, juntamente com os órfãos e os estrangeiros, as pessoas mais indefesas, as mais pobres entre os pobres. A viúva, de modo especial, é o símbolo por excelência da pessoa que vive só e desamparada; ela não tem marido nem filhos que a defendam e não conta com nenhum apoio social. É nesta situação de total abandono que sua vida se converte em um grito: “Fazei-me justiça!”.

Na Bíblia, as viúvas aparecem submetidas à arbitrariedade dos poderosos, mas tem uma voz que chega até Deus. Elas ocupam um lugar especial no evangelho de Lucas, visibilizada aqui na parábola da viúva suplicante, aquela do grito que tudo consegue. Sua persistência inspira em todos nós a luta por libertação das estruturas de dominação, em todas as dimensões da vida.

Contrariamente àqueles que pensam que não vale a pena sair às ruas para gritar e protestar (no plano social e religioso, político e eclesial), o evangelho deste domingo nos situa diante do grito da viúva, capaz de mudar a ordem injusta do sistema.

Muitas vezes, tudo parece ficar restrito a um grito, mas esse grito é mais profundo e eficaz que todas as vozes opressoras, ocas, prepotentes, intolerantes, do sistema dominante. Esse grito da viúva que chega ao coração de Deus (e à cabeça do juiz injusto), continua sendo promessa de vida para nós.

Jesus também foi um indignado que adotou uma atitude crítica e rebelde frente ao sistema político e religioso de seu tempo; Ele se comportou como um “transgressor”, frente à ordem estabelecida, centrada no poder e na exclusão.

O conflito, nascido de sua indignação, define seu modo de ser, caracteriza sua forma de viver e constitui o critério ético de sua prática libertadora. A transgressão e a resistência foram as opções fundamentais durante os anos de sua atividade pública, tanto no terreno religioso como no político, ambos inseparáveis em uma teocracia que não suportava sua liberdade e tornou-se a chave para explicar seu trágico final.

A indignação de Jesus de Nazaré com os poderes econômicos, religiosos, políticos e patriarcais constitui um desafio para os cristãos e cristãs de hoje e um chamado a incorporar-se ao movimento dos indignados. E não para sacralizá-lo, mas para mobilizar e somar forças no empenho por “um outro mundo possível”.

Precisamos alimentar uma espiritualidade da indignação, quando é preciso reagir frente à impiedade, à violência e à injustiça que campeiam e envenenam as relações entre as pessoas. Somos habitados pelo mesmo Espírito que movia Jesus a ser presença original e provocativa no contexto do seu tempo.

Na vivência do seguimento de Jesus, há algo contraditório entre nós cristãos: somos seguidores do maior transgressor da história e, no entanto, nos acovardamos escondidos atrás de leis, doutrinas, ritos, que nos levam a alimentar uma cultura de indiferença e de frieza frente à realidade que nos cerca. Precisamos ativar a atitude evangélica da denúncia nesta sociedade perplexa que somos, neste tempo incerto que vivemos, neste planeta ameaçado que habitamos.

Em definitiva, trata-se de deixar ressoar o clamor dos(as) “descartados”, tantas pessoas e grupos hoje excluídos do direito ao pão, ao trabalho, à terra, ao teto, à justiça...; deixar ecoar o grito da terra frente a tanta destruição; deixar fluir últimos e dos excluídos é escutar a voz do próprio Deus que “derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes”.

 

Para meditar na oração

Orar, como diz S. Inácio de Loyola, é buscar e encontrar Deus em todas as o grito de tantas vítimas da violência institucionalizada. Se pararmos para escutar, ouviremos gritos insistentes. Há um clamor uníssono tão forte capaz de atravessar os céus, ultrapassar as nuvens e não deixar de ser escutado. No fundo, é o próprio Deus que grita nos seus filhos e filhas; escutar o grito dos coisas, detectar sua presença como anúncio ou como denúncia, como carícia ou como grito. A oração é sempre um clamor, é uma aspiração, é gemido do Espírito em nós, expressão dos desejos mais profundos da humanidade e do próprio coração.

A oração, portanto, não é nunca um clamor estéril, nem sequer um desafogo psíquico, mas um desejo esperançado, fundado na confiança de que o Deus, todo misericórdia e cuidado a partir dos últimos, não abandona nunca.

- Frente ao contexto social e político no qual vivemos, sua voz está a serviço de quem?

- Sua voz é prolongamento do grito indignado da viúva ou é voz conivente com a morte?. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

Sínodo, coletiva de imprensa: entre as propostas, a de um rito amazônico

Apresentados na Sala de Imprensa da Santa Sé os relatórios dos Círculos Menores. Entre os participantes estavam dom Mário Antônio da Silva, Bispo de Roraima (Brasil), dom Rino Fisichella, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, Mauricio Lopez, secretário executivo Repam e irmã Daniela Adriana Cannavina, secretária geral da Clar (Colômbia).

 

Amedeo Lomonaco, Silvonei José - Cidade do Vaticano

Os relatórios dos Círculos Menores não são textos definitivos, mas são um primeiro passo de um tecido nascido da escuta e orientado pelo discernimento. Em alguns grupos, o debate e o confronto estão abertos. As posições dos padres sinodais nem sempre coincidem, mas cada um oferece a sua própria contribuição. Com essa premissa, o padre Giacomo Costa, secretário da Comissão de Informação, abriu a coletiva para a apresentação dos relatórios dos Círculos Menores na Sala de Imprensa da Santa Sé.

 

Renovação e fortalecimento da vida consagrada

O Sínodo sobre a Região Pan-amazônica é também uma exortação. Irmã Daniela Adriana Cannavina, secretária geral da Clar (Colômbia) reiterou que o convite é pensar na Amazônia e abrir novos caminhos para a Igreja. É necessário torná-los possíveis e praticáveis, indo além dos medos. Ir. Daniela Adriana Cannavina lembrou também que durante o trabalho sinodal foi dado espaço às contribuições das mulheres. Referindo-se à vida consagrada, indicou uma prioridade: a de continuar a promover uma vida centrada no Evangelho. Devemos resistir à indiferença, acrescentou, porque a vida consagrada é um ícone da aceitação da vida. Ela também indicou quatro chaves fundamentais. A primeira é a da inculturalidade. A segunda é a itinerância que assegura a presença de uma Igreja em saída. As outras duas chaves para abrir novos caminhos são o fortalecimento da presença missionária, a partir dos carismas, e a promoção do diálogo entre pastores e leigos em um ambiente de co-responsabilidade.

 

Universalidade e complementaridade

A experiência do caminho sinodal é única. Cada Sínodo é uma emoção intelectual cada vez mais profunda. Dom Rino Fisichella, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, sublinhou que o Sínodo nos exorta a refletir também sobre o significado da universalidade da Igreja. A Igreja, disse ele, é uma só, mas é composta por muitos povos, um diferente do outro. Todos os povos devem ser respeitados e isto, explicou dom Fisichella, implica também o reconhecimento da complementaridade: cada povo, cada cultura e cada tradição têm algo a dizer para que o patrimônio comum possa ser compreendido e iluminado. Cada cultura da Amazônia, acrescentou, expressa algum elemento que nos permite compreender a grandeza da fé cristã.

 

Rito amazônico

Dom Rino Fisichella lembrou também que foi feita uma proposta para seguir o caminho de um "rito amazônico" que permita desenvolver sob o aspecto espiritual, teológico, litúrgico e disciplinar, a singular riqueza da Igreja Católica na Amazônia. Os ritos, explicou o presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, são a expressão da evangelização: quando o anúncio do Evangelho atinge uma cultura, é inculturado através das formas mais coerentes para expressar o mistério.  Na época contemporânea, um rito, limitado apenas à liturgia, foi concedido para o caminho neocatecumenal. No caso do rito amazônico, especificou dom Fisichella, "estamos diante de uma proposta que diz respeito ao rito em sua totalidade".

 

Abrir novos caminhos

Este Sínodo é uma oportunidade que temos para nos colocarmos em contato com a vida, com o ambiente, mas sobretudo com a vida das comunidades. Dom Mário Antônio da Silva, bispo de Roraima (Brasil), ressaltou que a assembléia sinodal é uma oportunidade para escutar a voz da Amazônia. É uma oportunidade para reconhecer os caminhos já traçados pelos mártires e abrir novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral. Recordando a realidade da sua diocese, identificou a migração como um dos principais desafios. Há uma crise humanitária e o Papa Francisco, explicou, nos convida a sermos capazes, como Igreja, de acolher, proteger, promover e integrar os migrantes. Também são necessários novos colaboradores para chegar até mesmo às pequenas comunidades, longe das pequenas cidades. Entre as propostas há também a dos "viri probati", isto é, a ordenação de adultos casados. O celibato, disse o prelado, é um dom da Igreja e deve ser considerado como algo muito precioso. Dom Mário Antônio da Silva recordou então que o Papa Francisco nos pede que prestemos atenção a toda a Criação. A ecologia integral, acrescentou, leva-nos a pensar também nas gerações futuras.

 

Ver a realidade com o olhar de Deus

A coletiva de imprensa também teve um momento de silêncio e reflexão que durou 30 segundos. A propor esse momento de silêncio foi Mauricio Lopez, secretário da Rede Eclesial Panamazônica (Repam), depois de fazer a pergunta: qual é o olhar de Deus sobre a realidade amazônica? É necessário observar a realidade, disse ele, com o olhar de Deus. Quero voltar ao lugar onde trabalhamos todos os dias e dizer ao povo da Amazônia, destacou Mauricio Lopez, que honramos suas vidas. Quero dizer, as vozes de vocês foram ouvidas. As periferias, acrescentou, não querem roubar o lugar do centro: trata-se de iluminar o centro a partir das periferias. E não se deve perder de vista o que é realmente importante: as pessoas. Seguindo o itinerário proposto pelo Papa Francisco, disse Mauricio López, devemos promover uma autêntica conversão pastoral, ecológica e sinodal, a conversão ecológica.

 

Pecados ecológicos

Em resposta às perguntas dos jornalistas, os participantes da coletiva de imprensa focaram sobre o tema dos pecados ecológicos. Irmã Daniela Adriana Cannavina disse que a exclusão dos irmãos indígenas, a pobreza por causa das atividades de mineração, são pecados. Tudo isso, disse ela, que aproxima a vida à morte é pecado. Dom Rino Fisichella explicou que o pecado é o fechamento do homem em si mesmo: quem vive neste fechamento corre o risco de morrer de asfixia. O pecado fundamental é o comportamento do homem que se fecha diante de Deus. A criação, observou dom Fisichella, é uma manifestação de Deus. Quando alguém não reconhece Deus na criação, disse, não há desculpa e se cai numa dimensão de pecado. Dom Mário Antônio da Silva pediu uma conversão sincera: tudo isso, explicou ele, que nos leva ao uso necessário e sensato dos bens da Criação é virtuoso. Tudo o que, pelo contrário, nos leva a utilizar os bens da criação para o lucro não só "fede", mas traz consigo a injustiça.

 

Fundos e solidariedade

Uma jornalista recordou que a Fundação Ford, que não é contrária ao aborto, conseguiu fundos para a Rede Eclesial Panamazônica (Repam). Dom Mário Antônio da Silva lembrou que a Igreja defende a vida desde a concepção até o fim natural. Os fundos, disse ele, devem ser utilizados para promover a vida das crianças, das mulheres e das famílias. A Repam, sublinhou o prelado, usa as doações feitas por fundações para promover a vida. O Prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, disse que considera uma coisa boa que o dinheiro seja usado para promover obras de caridade.

 

Sínodo: trabalhos em andamento

A coletiva de imprensa terminou com um breve retrato da situação atual dos trabalhos sinodais. As propostas feitas até agora, disse finalmente dom Mário Antônio da Silva, são até o momento discussões que estão em andamento. Esta é ainda uma fase de coleta das propostas que serão depois confiadas ao discernimento. A próxima fase, concluiu, será a do documento final a ser confiado ao Papa e ao seu discernimento. Fonte: https://www.vaticannews.va

Padre Justino Sarmento Resende é um dos raros sacerdotes indígenas e o único a participar do Sínodo para Amazônia. Salesiano, ele vem da tribo Tuyuka, em São Gabriel da Cachoeira (AM), e é especialista em espiritualidade indígena e pastoral inculturada. Nas discussões do Sínodo de hoje, dia 17 de outubro, padre Justino falou sobre as barreiras para a formação de sacerdotes indígenas.

A história pessoal do padre já mostra como a sociedade tem dificuldade de enxergar que indígenas podem e devem ser sacerdotes, caso sejam chamados a essa vocação. Segundo padre Justino, sua vocação surgiu ainda muito jovem, quando viu missionários catequizando seus avós, com muita boa vontade, mas com grande dificuldade de comunicação e de entender a língua Tuyuka. “Foi aí que eu pensei que poderia ser sacerdote para transmitir a Palavra de Deus na minha própria língua”.

Quando decidiu estudar num seminário, sofreu resistência de todos os lados, inclusive de um padre. “Os não indígenas achavam que nós não tínhamos capacidade de compreender as disciplinas exigentes da formação de sacerdotes. Meus familiares também não apoiaram. Minha mãe chorou porque queria criar os netos e essa questão da família é muito forte para os nossos povos. Meu avô disse que ser padre não é para nós Tuyukas. Até o padre que acompanhava de vez em quando nossa tribo falou que ser sacerdote não é para indígenas, nós deveríamos era jogar bola”, contou padre Justino.

O caminho não foi simples: “tive que estudar muito e continuo estudando até hoje, depois de 25 anos de sacerdócio. Precisei de uma formação básica para ser padre. Depois de concluir o seminário, voltei a estudar missiologia. Quando percebi a importância de ter mais pessoas envolvidas na educação escolar indígena, fiz um mestrado em educação. Sigo estudando para encontrar respostas para a pergunta: como nós podemos ajudar a construir novas maneiras de evangelizar na Amazônia?”, indaga o sacerdote.

Padre Justino realiza oficinas e encontros sobre inculturação e evangelização para indígenas. Ele escreveu o livro “A Boa Nova das culturas indígenas acolhe a Boa Nova de Jesus”, que ainda não foi publicado, mas já é usado como texto base nas catequeses das tribos onde atua. “Trouxe ao Sínodo essa ideia de que a inculturação é um processo importante e necessário, não é descaracterizar a eucaristia nem impor o catolicismo aos indígenas, é levar a Palavra dentro da nossa cultura, da nossa língua. Os indígenas precisam viver a mensagem de Jesus da melhor forma possível.”

Quando questionado sobre a proposta de ter sacerdotes casados nas tribos da Amazônia e sobre a dificuldade de os indígenas viverem o celibato, padre Justino foi enfático: “o celibato não é fácil para ninguém. É um dom de Deus. Pessoas de qualquer cultura no mundo podem vivê-lo. Deve ser uma decisão livre, não imposta. É difícil para mim como para qualquer outro padre não indígena”.

Manuela Castro – Cidade do Vaticano. Fonte: http://www.cnbb.org.br

Frei Carlos Mesters, O. Carm.

 

1) Oração

Ó Deus, que escolhestes São Lucas para revelar em suas palavras e escritos

o mistério do vosso amor para com os pobres, concedei aos que já se gloriam do vosso nome perseverar num só coração e numa só alma, e a todos os povos do mundo ver a vossa salvação. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho (Lucas 10, 1-9)

1Depois disso, designou o Senhor ainda setenta e dois outros discípulos e mandou-os, dois a dois, adiante de si, por todas as cidades e lugares para onde ele tinha de ir.2Disse-lhes: Grande é a messe, mas poucos são os operários. Rogai ao Senhor da messe que mande operários para a sua messe.3Ide; eis que vos envio como cordeiros entre lobos.4Não leveis bolsa nem mochila, nem calçado e a ninguém saudeis pelo caminho.5Em toda casa em que entrardes, dizei primeiro: Paz a esta casa! 6Se ali houver algum homem pacífico, repousará sobre ele a vossa paz; mas, se não houver, ela tornará para vós.7Permanecei na mesma casa, comei e bebei do que eles tiverem, pois o operário é digno do seu salário. Não andeis de casa em casa.8Em qualquer cidade em que entrardes e vos receberem, comei o que se vos servir.9Curai os enfermos que nela houver e dizei-lhes: O Reino de Deus está próximo.

 

3) Reflexão

*  Hoje, festa do evangelista São Lucas, o evangelho traz o envio dos setenta e dois discípulos que devem anunciar a Boa Nova de Deus nos povoados, aldeias e cidades da Galileia. Os setenta e dois somos todos e todas nós que viemos depois dos Doze. Através da missão dos discípulos e discípulas, Jesus tenta resgatar os valores comunitários da tradição do povo que estavam sendo abafados pelo duplo cativeiro da dominação romana e da religião oficial. Jesus procura renovar e reorganizar as comunidades para que sejam novamente uma expressão da Aliança, uma amostra do Reino de Deus. Por isso, ele insiste na hospitalidade, na partilha, na comunhão de mesa, na acolhida aos excluídos. Esta insistência de Jesus transparece nos conselhos que dava aos discípulos e às discípulas quando os enviava em missão. No tempo de Jesus havia vários outros movimentos que, como Jesus, procuravam uma nova maneira de viver e conviver, por exemplo, João Batista, os fariseus e outros. Eles também formavam comunidades de discípulos (Jo 1,35; Lc 11,1; At 19,3) e tinham seus missionários (Mt 23,15). Mas como veremos havia uma grande diferença. 

Lucas 10,1-3: A Missão.

Jesus envia os discípulos para os lugares aonde ele próprio deve ir. O discípulo é porta-voz de Jesus. Não é dono da Boa Nova. Ele os envia dois a dois. Isto favorece a ajuda mútua, pois a missão não é individual, mas sim comunitária. Duas pessoas representam melhor a comunidade.

Lucas 10,2-3: A Co-responsabilidade.

A primeira tarefa é rezar para que Deus envie operários. Todo discípulo e discípula deve sentir-se responsável pela missão. Por isso deve rezar ao Pai pela continuidade da missão. Jesus envia seus discípulos como cordeiros no meio de lobos. A missão é tarefa difícil e perigosa. Pois o sistema em que eles viviam os discípulos e ainda vivemos era e continua sendo contrária à reorganização do povo em comunidades vivas.

Lucas 10,4-6: A Hospitalidade.

Ao contrário dos outros missionários, os discípulos e as discípulas de Jesus não podem levar nada, nem bolsa, nem sandálias. Mas devem levar a paz. Isto significa que devem confiar na hospitalidade do povo. Pois o discípulo que vai sem nada levando apenas a paz, mostra que confia no povo. Acredita que vai ser recebido, e o povo se sente respeitado e confirmado. Por meio desta prática o discípulo critica as leis de exclusão e resgata os antigos valores da convivência comunitária. Não saudar ninguém pelo caminho significa que não se deve perder tempo com coisas que não pertencem à missão.

Lucas 10,7: A Partilha.

Os discípulos não devem andar de casa em casa, mas sim permanecer na mesma casa. Isto é, devem conviver de maneira estável, participar da vida e do trabalho do povo do lugar e viver do que recebem em troca, pois o operário merece o seu salário. Isto significa que devem confiar na partilha. Assim, por meio desta nova prática, eles resgatam uma antiga tradição do povo, criticam a cultura de acumulação que marcava a política do Império Romano e anunciam um novo modelo de convivência.

Lucas 10,8: A Comunhão de mesa.

Os fariseus, quando iam em missão, iam prevenidos. Achavam que não podiam confiar na comida do povo que nem sempre era ritualmente “pura”. Por isso, levavam sacola e dinheiro para poder cuidar da sua própria comida. Assim, em vez de ajudar a superar as divisões, as observâncias da Lei da pureza enfraqueciam ainda mais a vivência dos valores comunitários. Os discípulos de Jesus devem comer o que o povo lhes oferece. Não podem viver separados, comendo sua própria comida. Isto significa que devem aceitar a comunhão de mesa. No contato com o povo, não podem ter medo de perder a pureza legal. Agindo assim, criticam as leis da pureza em vigor e anunciam um novo acesso à pureza, isto é, à intimidade com Deus.

Lucas 10,9a: A Acolhida aos excluídos.

Os discípulos devem tratar dos doentes, curar os leprosos e expulsar os demônios (Mt 10,8). Isto significa que devem acolher para dentro da comunidade os que dela foram excluídos. Esta prática solidária critica a sociedade excludente e aponta saídas concretas. É o que hoje faz a pastoral dos excluídos, migrante e marginalizados.

Lucas 10,9b: A chegada do Reino.

Caso todas estas exigências forem preenchidas, os discípulos podem e devem gritar aos quatro ventos: O Reino chegou! Anunciar o Reino não é em primeiro lugar ensinar verdades e doutrinas, mas sim levar a uma nova maneira de viver e de conviver como irmãos e irmãs a partir da Boa Nova que Jesus nos trouxe de que Deus é Pai/Mãe de todos nós.

 

4) Para um confronto pessoal

1) Hospitalidade, partilha, comunhão de mesa, acolhida aos excluídos: são as pilastras que sustentam a vida comunitária. Como isto está sendo realizado na minha comunidade?

2) O que é para mim ser Cristão ou ser Cristã? Numa entrevista na TV, alguém respondeu ao repórter: “Sou cristão procuro viver o evangelho, mas não participo na comunidade da Igreja”. O repórter comentou: “Então você se considera um bom jogador de futebol, mas não faz parte de nenhum time!” É o meu caso?

 

5) Oração final

Glorifiquem-vos, Senhor, todas as vossas obras, e vos bendigam os vossos fiéis. Que eles apregoem a glória de vosso reino, e anunciem o vosso poder. (Sl 144, 10-11)

Pela primeira vez nos informes diários à imprensa feitos pelo Vaticano durante o Sínodo dos Bispos para a Amazônia deste ano uma voz discordante surgiu hoje, quarta-feira, para falar da ideia de ordenação de homens casados como forma de resolver a escassez sacerdotal na região. A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada por Crux, 16-10-2019. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

“Não vejo no celibato o obstáculo principal” para se ter mais padres, disse Dom Wellington Vieira, da Diocese de Cristalândia, no Tocantins, enfatizando que ninguém o nomeara porta-voz da assembleia sinodal, mas mesmo assim fez questão de acrescentar: “Acho que muitos no sínodo compartilham da minha opinião”.

“Com certeza, o maior problema é a nossa incoerência, é a nossa infidelidade, são os escândalos, a falta de santidade que, muitas vezes, por meio dos ministros ordenados, tornam-se um impedimento para que os jovens decidam seguir esse caminho”, disse o religioso.

“Temos que permitir que as pessoas possam ouvir o chamado de Jesus, e às vezes por causa das nossas ações elas ficam incapacitadas de ouvir”, disse Dom Wellington Vieira.

“Eu tenho a certeza que tendo uma vida santa, não terei falta de ministros ordenados em minha Igreja particular. Muitos jovens, com todas as ofertas do mundo contemporâneo, estão perdidos, procurando valores nos quais se apoiar”, continuou o bispo de Cristalândia, acrescentando: “Não posso acreditar que Jesus tenha perdido o seu poder de atração”.

O prelado brasileiro também trouxe uma outra dimensão do debate em torno da escassez de padres, que é o desequilíbrio na forma como estes estão distribuídos. Dentro dos países, disse ele, às vezes os padres não querem assumir os trabalhos em lugares normalmente considerados difíceis.

“Temos um problema com uma distribuição igualitária no nível local”, disse. “A falta de padres poderia ser mitigada se distribuíssemos melhor, mas às vezes nem sempre existe um espírito missionário, uma disposição para ir a regiões de fronteira e áreas difíceis”.

Reconhecendo que a questão de como resolver a escassez de padres e garantir que as pessoas tenham acesso aos sacramentos vem sendo discutida no Sínodo dos Bispos, Dom Wellington falou que “temos muitas ideias que são também diferentes”.

Contudo, o prelado de 51 anos afirmou que não tem havido desentendimentos no encontro.

“As pessoas acham que estamos discutindo ou brigando uns contra os outros, mas não é o caso”, disse ele, alegando que o sínodo está sendo marcado por um “ambiente muito fraternal de um respeito grande e mútuo”.

Os assessores oficiais do Vaticano, no entanto, se esforçaram em salientar, nesta quarta-feira, que os participantes não querem o que os debates fiquem centrados em alguns problemas específicos, e sim que querem focalizar o quadro mais amplo das temáticas.

“Olhamos para a árvore, não para os ramos”, disse Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação do Vaticano, ao tentar expressar aquilo que descreveu como um sentimento comum dentro da assembleia sinodal.

“Estamos mais ou menos na metade do caminho, e o que surgiu ontem com bastante força é uma necessidade compartilhada por toda a assembleia, e nos pequenos grupos também: não focalizar os temas individuais que dividem o processo sinodal, mas identificar uma visão comum e unificada”, disse Ruffini.

Em seguida, Ruffini destacou vários temas gerais que, segundo disse, emergiram nos debates até o momento.

  • A proteção do meio ambiente amazônico como parte da “casa comum” da humanidade, que leva a um chamado à conversão ecológicae denuncia os pecados ecológicos.
  • A interculturalidade e o diálogo como partes-chave da missão da Igreja.
  • O acesso aos sacramentos.
  • A educação/formação do clero e dos leigos.
  • Leigos e leigas.
  • A migração, o despovoamento de áreas rurais e a vida nas cidades.
  • Os direitos humanos.

O destino dos povos indígenas amazônicos foi destacado quarta-feira por Yesica Patiachi Tayori, agente pastoral do Vicariato Apostólico de Puerto Maldonado, no Peru, e especialista na língua e cultura do povo Harakbut.

“Os indígenas no sínodo são os guardiões da floresta, mas cuidar da nossa casa comum é responsabilidade de todos”, disse ela.

“Estamos com medo de perder os nossos idiomas, sermos extintos, sufocados por modelos de desenvolvimento que vêm de fora”, explicou Patiachi Tayori.

“Pedimos que o Santo Padre leve a nossa mensagem às autoridades internacionais, nos ajudando a não sermos extintos, respeitando os nossos costumes, as nossas tradições e os nossos idiomas, bem como o nosso direito de viver a autodeterminação”, concluiu.

Houve algumas palavras sobre o papel da mulher nos informes à imprensa dados nesta quarta-feira, com Dom Wellington Vieira e Dom Pedro José Conti, da Diocese de Macapá, destacando os papéis na linha de frente desempenhados por elas na região. Nenhum deles, no entanto, respondeu diretamente a perguntas sobre a possibilidade de mulheres ordenadas ao diaconato ou sobre a representação delas no próprio sínodo.

Finalmente, um jornalista do sítio LifeSite News perguntou sobre uma estátua indígena de uma mulher grávida nua exibida na cerimônia nos jardins do Vaticano pouco antes de a assembleia sinodal começar. O profissional de imprensa perguntou qual era precisamente o significado espiritual da estátua.

Ruffini disse que iria procurar mais informações sobre o assunto, porém respondeu dizendo que, a seu ver, era simplesmente uma estátua a representar a vida e que “procurar ver um símbolo pagão é ver o mal onde não existe o mal”.

O padre jesuíta italiano Giacomo Costa, que também tem ajudado nos informes diários à imprensa, falou que a sua impressão era a de que a estátua retratava uma “indígena que traz a vida e que representa a vida”.

“Penso que seja só uma figura feminina sem nenhum valor sagrado ou pagão”, disse ele, expressando um ceticismo com os que dizem que a estátua poderia ser também uma representação indígena da Virgem Maria.

Na quarta e na quinta-feira desta semana, os participantes do Sínodo dos Bispos estarão reunidos em 12 pequenos grupos de trabalho organizados por idioma, que estão divididos em cinco grupos espanhóis, quatro de língua portuguesa, dois italianos e um inglês/francês. É o segundo ciclo das sessões em pequenos grupos, com a ideia sendo a de produzir ideias para a comissão redatora que tem trabalhado sobre uma versão preliminar do documento final do sínodo.

Na quarta-feira, Ruffini informou que o Vaticano deseja divulgar cópias dos relatórios produzidos nos pequenos grupos na sexta-feira de tarde. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

Dom Pedro Brito propôs no Sínodo da Amazônia, a urgência de confessar nossos pecados ecológicos. Porém, em torno do investimento em mineração por parte das congregações religiosas e a Igreja Católica, confessa não ter feito essa reflexão anteriormente. “Não tinha essa reflexão”, diz levantando as sobrancelhas. “Porém é evidente que com esse tipo de investimentos estamos ajudando a manter essas empresas que degradam o ambiente, matam o ambiente e tiram vidas. É importante que façamos um exame de consciência nesse sentido. Um exame de consciência sobre como estamos contribuindo para matar a vida – onde está Deus -, pensando somente no lucro econômico”. A reportagem é publicada por REPAM, 15-10-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

Dom Pedro Brito Guimarães, arcebispo de Palmas, Brasil, defende que falar dos pecados ecológicos “não é uma criação própria”, se fundamenta em estudos acadêmicos profundos de teologia dos sacramentos que realizou na Universidade Gregoriana. “Então, eu falo da compreensão que tenho dos sacramentos. E entre esses sacramentos está o da penitência. Se nós olharmos os manuais de teologia dos sacramentos, encontramos que se fala muito de pecados pessoais, como desobedecer, não ir à missa, falar mal de alguém, esses pecados são existenciais, individualistas”, explica.

Nesses manuais, diz dom Brito, “não existe o pecado que é mais grave, matar o homem que Deus criou”. Um pecado ecológico é um pecado contra Deus, porque ele é o criador de todas as coisas. Eu acredito em Deus, o pai criativo de todas as coisas. O decálogo fala de amar a Deus acima de todas as coisas, de não matar, de roubar, de não querer as coisas dos outros e o que mais fazemos é isso”, assegura decisivamente.

Poluímos as águas, os rios e o ar que respiramos estão cheios de veneno, os alimentos que ingerimos causam câncer. Nós não confessamos esses pecados. “Confesso que ainda não confessei, mas pedirei por eles em confissão”.

Se queremos viver uma ecologia integral, em que tudo está interligado, devemos confessar que, quando matamos a natureza, estamos pecando contra Deus e contra as gerações que vieram depois de nós. Que mundo vamos entregar para nossos filhos, netos e descendentes?

Referindo-se à proposta de uma Campanha de Desinvestimento, proposta pela Rede Igrejas e Mineração, ele diz: “a natureza é uma entidade de direitos, assim como tenho o direito de comer, me vestir, respeitar as leis, a natureza também tem direitos. Ela tem o direito de sobreviver. Mas nós avalizamos seus direitos – ela não fala, ela não pode apresentar uma lei – mas ela é sujeita de direitos. Ela tem o direito de viver. Os rios têm o direito de correr, as nuvens o direito de cair livremente como a chuva, porque são os direitos da natureza. Se violarmos esses direitos, estaremos violando uma lei, a lei de Deus”.

Segundo o padre Dário Bossi, religioso comboniano da Rede Igrejas e Mineração, essas são algumas das razões pelas quais as congregações religiosas e as várias entidades e instituições da Igreja Católica devem desinvestir em empresas de mineração e outras indústrias extrativistas:

- As organizações da Igreja ou de inspiração Católica não deveriam investir em projetos de morte.

- Um projeto de morte é uma iniciativa econômica que leva à destruição de ecossistemas, afeta modos de vida e viola os direitos humanos.

- Investir não é uma atividade trivial e inconsciente é uma maneira de decidir que tipo de atividades econômicas serão promovidas. Os fluxos de capital são o caminho para alimentar e "nutrir" práticas econômicas.

- Os investimentos como expressão de decisões e valores não devem privilegiar a lucratividade, mas também levar em consideração os impactos nas áreas de influência dos projetos e os estilos de vida que eles sustentam e promovem.

- Investir em combustíveis fósseisfrackingmineração e agronegócio produz impactos negativos irreversíveis. Muitos projetos de morte estão localizados na bacia amazônica.

- Os investimentos católicos podem ser uma oportunidade para promover estilos de vida sustentáveis no contexto em que uma mudança sistêmica global está ocorrendo.

- No entanto, não se deve esquecer que as novas tecnologias promovidas como parte da mudança global do modelo de energia também exigem matérias-primas como o lítio (para baterias de carros elétricos). Essa extração tem um impacto nos ecossistemas e comunidades que devem ser considerados na hora de investir. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

 

 

1) Oração

Ó Deus, sempre nos preceda e acompanhe a vossa graça para que estejamos sempre atentos ao bem que devemos fazer. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho (Lucas 11, 47-54)

Naquele tempo disse Jesus: 47Ai de vós, que edificais sepulcros para os profetas que vossos pais mataram. 48Vós servis assim de testemunhas das obras de vossos pais e as aprovais, porque em verdade eles os mataram, mas vós lhes edificais os sepulcros. 49Por isso, também disse a sabedoria de Deus: Enviar-lhes-ei profetas e apóstolos, mas eles darão a morte a uns e perseguirão a outros. 50E assim se pedirá conta a esta geração do sangue de todos os profetas derramado desde a criação do mundo, 51desde o sangue de Abel até o sangue de Zacarias, que foi assassinado entre o altar e o templo. Sim, declaro-vos que se pedirá conta disso a esta geração! 52Ai de vós, doutores da lei, que tomastes a chave da ciência, e vós mesmos não entrastes e impedistes aos que vinham para entrar. 53Depois que Jesus saiu dali, os escribas e fariseus começaram a importuná-lo fortemente e a persegui-lo com muitas perguntas, 54armando-lhe desta maneira ciladas, e procurando surpreendê-lo nalguma palavra de sua boca.

 

3) Reflexão   Lucas 11,47-54

Novamente, pela enésima vez, o evangelho de hoje fala do conflito entre Jesus e as autoridades religiosas da época.

Lucas 11,47-48: Ai de vocês, que constroem túmulos para os profetas

“Ai de vocês, porque constroem túmulos para os profetas; no entanto, foram os pais de vocês que os mataram. Com isso, vocês são testemunhas e aprovam as obras dos pais de vocês, pois eles mataram os profetas, e vocês constroem os túmulos”. Mateus diz que se trata de escribas e fariseus (Mt 23,19). O raciocínio de Jesus é claro. Se os pais mataram os profetas e os filhos construíram os túmulos, é porque os filhos  aprovaram o crime dos pais. Além disso, todo mundo sabe que profeta morto não incomoda. Deste modo os filhos tornam-se testemunhas e cúmplices no mesmo crime (cf. Mt 23,29-32).

Lucas 11,49-51: Pedir contas do sangue derramado desde a criação do mundo

“É por isso que a sabedoria de Deus disse: 'Eu lhes enviarei profetas e apóstolos. Eles os matarão e perseguirão, a fim de que se peçam contas a esta geração do sangue de todos os profetas, derramado desde a criação do mundo, desde o sangue de Abel até o sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar e o santuário'. Sim, eu digo a vocês: pedirão contas disso a esta geração”. Comparado com o evangelho de Mateus, Lucas costuma oferecer uma versão abreviada do texto de Mateus. Mas aqui ele acrescentou a observação: “derramado desde a criação do mundo, desde o sangue de Abel”. Ele fez a mesma coisa com a genealogia de Jesus. Mateus, que escrevia para os judeus convertidos, começa em Abraão (Mt 1,1.2.17), enquanto Lucas vai até Adão (Lc 3,38). Lucas universaliza e inclui os pagãos, pois escreve o seu evangelho para os pagãos convertidos. A informação sobre o assassinato de Zacarias no Templo é dada pelo livro das Crônicas: “Então o espírito de Deus se apoderou de Zacarias, filho do sacerdote Joiada. Ele se dirigiu ao povo e disse: "Assim fala Deus: Por que é que vocês estão desobedecendo aos mandamentos de Javé? Vocês vão se arruinar. Vocês abandonaram Javé, e ele também os abandona!" Então eles se reuniram contra o profeta e, por ordem do rei, o apedrejaram no pátio do Templo de Javé”.  (2Cr 24,20-21). Jesus conhecia a história do seu povo até nas minúcias. Ele sabe que vai ser o próximo na lista de Abel até Zacarias. Até hoje a lista continua aberta. Muita gente é morta pela causa da justiça e da verdade.

Lucas 11,52: Ai de vocês, especialistas em leis

  “Ai de vocês, especialistas em leis, porque vocês se apoderaram da chave da ciência. Vocês mesmos não entraram, e impediram os que queriam entrar". Fecham o Reino como? Eles pensam ter o monopólio da ciência a respeito de Deus e da lei de Deus e impõem o seu modo de ver aos outros, sem deixar margem para um pensamento diferente. Apresentam Deus apenas como juiz severo e em nome de Deus impõem leis e normas que não têm nada a ver com os mandamentos de Deus, falsificam a imagem do Reino e matam nos outros o desejo de servir a Deus e ao Reino. Uma comunidade que se organiza ao redor deste falso deus “não entra no Reino”, nem é expressão do Reino, e impede que seus membros entrem no Reino. É importante notar a diferença entre Mateus e Lucas. Mateus fala da entrada no Reino do céu e a frase é redigida na forma verbal do presente: "Ai de vocês, doutores da Lei e fariseus hipócritas! Vocês fecham o Reino do Céu para os homens. Nem vocês entram, nem deixam entrar aqueles que desejam” (Mt 23,13). A expressão entrar no Reino do Céu pode significar entrar no céu depois da morte, mas é mais provável que se trate da entrada na comunidade ao redor de Jesus e nas comunidades dos primeiros cristãos. Lucas fala da chave da ciência e a frase é redigida na forma verbal do passado. Lucas simplesmente consta que a pretensão dos escribas de possuir a chave da ciência a respeito de Deus e da lei de Deus impediu a eles de reconhecer Jesus como Messias e impediu que o povo judeu reconhecesse Jesus como messias: Vocês se apoderaram da chave da ciência. Vocês mesmos não entraram, e impediram os que queriam entrar.

Lucas 11,53-54: Reação contra Jesus

A reação das autoridades religiosas contra Jesus foi imediata. “Quando Jesus saiu daí, os doutores da Lei e os fariseus começaram a tratá-lo mal, e a provocá-lo sobre muitos pontos. Armavam ciladas, para pegá-lo de surpresa em qualquer coisa que saísse de sua boca”. Considerando-se os únicos intérpretes verdadeiros da lei de Deus, tentam provocar Jesus em torno da interpretação da Bíblia para poder pegá-lo de surpresa em qualquer coisa que saísse de sua boca. Assim, continua e cresce a oposição contra Jesus e cresce o desejo de elimina-lo (Lc 6,11; 11,53-54; 19,48; 20,19-20; 22,2).

 

4) Para um confronto pessoal

1) Muitas pessoas que queriam entrar foram impedidos de entrar ou deixaram de crer por causa de atitudes ante-evangélicas de sacerdotes. Você tem experiência neste ponto?

2) Os escribas começaram a criticar Jesus que pensava e agia diferente deles. Não é difícil encontrar motivos para criticar quem pensa diferente de nós. Você tem experiência neste ponto?

 

5) Oração final

O Senhor fez conhecer a sua salvação. Manifestou sua justiça à face dos povos. Lembrou-se de sua bondade e de sua fidelidade em favor da casa de Israel. Os confins da terra puderam ver a salvação de nosso Deus. (Sl 97, 2-3)

1) Oração

Ó Deus, sempre nos preceda e acompanhe a vossa graça para que estejamos sempre atentos ao bem que devemos fazer. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho (Lucas 11, 42-46)

Naquele tempo disse Jesus: 42Ai de vós, fariseus, que pagais o dízimo da hortelã, da arruda e de diversas ervas e desprezais a justiça e o amor de Deus. No entanto, era necessário praticar estas coisas, sem contudo deixar de fazer aquelas outras coisas. 43Ai de vós, fariseus, que gostais das primeiras cadeiras nas sinagogas e das saudações nas praças públicas! 44Ai de vós, que sois como os sepulcros que não aparecem, e sobre os quais os homens caminham sem o saber. 45Um dos doutores da lei lhe disse: Mestre, falando assim também a nós outros nos afrontas. 46Ele respondeu: Ai também de vós, doutores da lei, que carregais os homens com pesos que não podem levar, mas vós mesmos nem sequer com um dedo vosso tocais os fardos.

 

3) Reflexão

No Evangelho de hoje continua o relacionamento conflituoso entre Jesus e as autoridades religiosas da época. Hoje, na igreja acontece o mesmo conflito. Numa determinada diocese, o bispo convocou os pobres a participar ativamente. Eles atenderam ao pedido e em grande número começaram a participar. Surgiu um grave conflito. Os ricos diziam que foram excluídos e alguns sacerdotes começaram a dizer: “O bispo só faz política e esquece o evangelho!”

Lucas 11,42: Ai de vocês, que deixam de lado a justiça e o amor

“Ai de vocês, fariseus, porque vocês pagam o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as outras ervas, mas deixam de lado a justiça e o amor de Deus. Vocês deveriam praticar isso, sem deixar de lado aquilo”.  Esta crítica de Jesus contra os líderes religiosos daquela época pode ser repetido contra muitos líderes religiosos dos séculos seguintes, até hoje. Muitas vezes, em nome de Deus, insistimos em detalhes e esquecemos a justiça e o amor. Por exemplo, o jansenismo tornou árida a vivência da fé, insistindo em observâncias e penitências que desviaram o povo do caminho do amor. A irmã carmelita Santa Teresa de Lisieux foi criada nesse ambiente jansenista que marcava a França no fim do século XIX. Foi a partir de uma dolorosa experiência pessoal, que ela soube recuperar a gratuidade do amor de Deus como a força que deve animar por dentro a observância das normas. Pois, sem a experiência do amor, as observâncias fazem de Deus um ídolo.

A observação final de Jesus dizia: “Vocês deveriam praticar isso, sem deixar de lado aquilo”. Esta advertência  faz lembrar uma outra observação de Jesus que serve de comentário: "Não pensem que eu vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim abolir, mas dar-lhes pleno cumprimento. Eu garanto a vocês: antes que o céu e a terra deixem de existir, nem sequer uma letra ou vírgula serão tiradas da Lei, sem que tudo aconteça. Portanto, quem desobedecer a um só desses mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazer o mesmo, será considerado o menor no Reino do Céu. Por outro lado, quem os praticar e ensinar, será considerado grande no Reino do Céu. Com efeito, eu lhes garanto: se a justiça de vocês não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus, vocês não entrarão no Reino do Céu" (Mt 5,17-20) 

Lucas 11,43: Ai de vocês, que gostam dos lugares de honra

“Ai de vocês, fariseus, porque gostam do lugar de honra nas sinagogas, e de serem cumprimentados em praças públicas”.  Jesus chama a atenção dos discípulos para o comportamento hipócrita de alguns fariseus. Estes tinham gosto em circular pelas praças com longas túnicas, receber as saudações do povo, ocupar os primeiros lugares nas sinagogas e os lugares de honra nos banquetes (cf. Mt 6,5; 23,5-7). Marcos acrescenta que eles gostavam de entrar nas casas das viúvas e fazer longas preces em troca de dinheiro! Pessoas assim vão receber um julgamento mais severo (Mc 12,38-40). Hoje acontece o mesmo na nossa igreja.

Lucas 11,44: Ai de vocês, túmulos escondidos

“Ai de vocês, porque são como túmulos que não se vêem, e os homens pisam sobre eles sem saber". Lucas modificou a comparação. Em Mateus se diz: “Vocês são como sepulcros caiados: por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e podridão! Assim também vocês: por fora, parecem justos diante dos outros, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e injustiça” (Mt 23,27-28).  A imagem de “sepulcros caiados” fala por si e não precisa de comentário. Por meio dela, Jesus condena os que mantêm uma aparência fictícia de pessoa correta, mas cujo interior é a negação total daquilo que querem fazer aparecer para fora. Lucas fala em sepulcros escondidos: “Ai de vocês, porque são como túmulos que não se vêem, e os homens pisam sobre eles sem saber". Quem pisa ou toca num sepulcro torna-se impuro, mesmo quando o sepulcro existe escondido debaixo do chão. A imagem é muito forte: por fora, o fariseu de sempre parece justo e bom, mas esse aspecto é um engano, pois dentro dele existe um sepulcro escondido que, sem o povo se dar conta, espalha um veneno que mata, comunica uma mentalidade que afasta de Deus, sugere uma compreensão errada da Boa Nova do Reino. Uma ideologia que faz do Deus vivo um ídolo morto!

Lucas 11,45-46: Crítica do doutor da lei e a resposta de Jesus

“Um especialista em leis tomou a palavra, e disse: "Mestre, falando assim insultas também a nós!"  Na resposta Jesus não voltou atrás mas deixou bem claro que a mesma crítica valia também para os escribas: "Ai de vocês também, especialistas em leis! Porque vocês impõem sobre os homens cargas insuportáveis, e vocês mesmos não tocam essas cargas nem com um só dedo”. No Sermão da Montanha, Jesus expressou a mesma crítica que serve de comentário: “Os doutores da Lei e os fariseus têm autoridade para interpretar a Lei de Moisés. Por isso, vocês devem fazer e observar tudo o que eles dizem. Mas não imitem suas ações, pois eles falam e não praticam. Amarram pesados fardos e os colocam no ombro dos outros, mas eles mesmos não estão dispostos a movê-los, nem sequer com um dedo” (Mt 23,2-4).  

 

4) Para um confronto pessoal

1) A hipocrisia mantém uma aparência enganadora. Até onde atua em mim a hipocrisia? Até onde a hipocrisia atua na nossa igreja?

2) Jesus criticava os escribas que insistiam na observância disciplinar das coisas miúdas da lei como dízimo da hortelã, da arruda e de todas as ervas, e esqueciam de insistir no objetivo da lei que é a prática da justiça e do amor. Vale para mim esta crítica?

 

5) Oração final

Feliz o homem que não procede conforme o conselho dos ímpios, não trilha o caminho dos pecadores, nem se assenta entre os escarnecedores. Feliz aquele que se compraz no serviço do Senhor e medita sua lei dia e noite. (Sl 1, 1-2)

1) Oração

Ó Pai, que resumistes toda lei no amor a Deus e ao próximo, fazei que, observando o vosso mandamento, consigamos chegar um dia à vida eterna. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho  (Lucas 9,18-22)

18Num dia em que ele estava a orar a sós com os discípulos, perguntou-lhes: Quem dizem que eu sou? 19Responderam-lhe: Uns dizem que és João Batista; outros, Elias; outros pensam que ressuscitou algum dos antigos profetas.20Perguntou-lhes, então: E vós, quem dizeis que eu sou? Pedro respondeu: O Cristo de Deus.21Ordenou-lhes energicamente que não o dissessem a ninguém.22Ele acrescentou: É necessário que o Filho do Homem padeça muitas coisas, seja rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas. É necessário que seja levado à morte e que ressuscite ao terceiro dia.

 

3) Reflexão   Lucas 9,18-22  (Mc 8,27-29)

O evangelho de hoje retoma o mesmo assunto do evangelho de ontem: a opinião do povo sobre Jesus. Ontem, era a partir de Herodes. Hoje, é o próprio Jesus que faz um levantamento da opinião púbica e os apóstolos respondem dando a mesma opinião de ontem. Em seguida, vem o primeiro anúncio da paixão, morte e ressurreição de Jesus.

Lucas 9,18: A pergunta de Jesus depois da oração.

“Certo dia, Jesus estava rezando num lugar retirado, e os discípulos estavam com ele. Então Jesus perguntou: Quem dizem as multidões que eu sou?". No evangelho de Lucas, em várias oportunidades importantes e decisivas Jesus aparece rezando: no batismo quando assume sua missão (Lc 3,21); nos 40 dias no deserto, quando vence as tentações do diabo com a luz da Palavra de Deus (Lc 4,1-13); na noite antes de escolher os doze apóstolos (Lc 6,12); na transfiguração, quando com Moisés e Elias conversa sobre a paixão em Jerusalém (Lc 9,29); no horto, quando enfrenta a agonia (Lc 22,39-46); na cruz, quando pede perdão pelo soldado (Lc 23,34) e entrega o espírito a Deus (Lc 23,46).

Lucas 9,19: A opinião do povo sobre Jesus

“Eles responderam: "Alguns dizem que tu és João Batista; outros, que és Elias; mas outros acham que tu és algum dos antigos profetas que ressuscitou."   Como Herodes, muitos achavam que João Batista tivesse ressuscitado em Jesus. Era crença comum que o profeta Elias devia voltar (Mt 17,10-13; Mc 9,11-12; Ml 3,23-24; Eclo 48,10). E todos alimentavam a esperança da vinda do profeta prometido por Moisés (Dt 18,15). Resposta insuficientes.

Lucas 9,20: A pergunta de Jesus aos discípulos.

  Depois de ouvir as opiniões dos outros, Jesus perguntou: “E vocês, quem dizem que eu sou?”. Pedro respondeu: “O Messias de Deus!”  Pedro reconhece que Jesus é aquele que o povo está esperando e que vem realizar as promessas. Lucas omite a reação de Pedro tentando dissuadir Jesus de seguir pelo caminho da cruz e omite também a dura crítica de Jesus a Pedro (Mc 8,32-33; Mt 16,22-23).

Lucas 9,21: A proibição de revelar que Jesus é o Messias de Deus

Então Jesus proibiu severamente que eles contassem isso a alguém”. Eles estão proibidos de revelar ao povo que Jesus é o Messias de Deus. Por que Jesus proibiu? É que naquele tempo, como já vimos, todos esperavam a vinda do Messias, mas cada um do seu jeito: uns como rei, outros como sacerdote, outros como doutor, guerreiro, juiz, ou profeta! Ninguém parecia estar esperando o messias servidor, anunciado por Isaías (Is 42,1-9). Quem insiste em manter a idéia de Pedro, isto é, do Messias glorioso sem a cruz, nada vai entender e nunca chegará a tomar a atitude do verdadeiro discípulo. Continuará cego, como Pedro, trocando gente por árvore (cf. Mc 8,24). Pois sem a cruz é impossível entender quem é Jesus e o que significa seguir Jesus. Por isso, Jesus insiste novamente na Cruz e faz o segundo anúncio da sua paixão, morte e ressurreição.

Lucas 9,22: O segundo anúncio da paixão

E Jesus acrescentou: "O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto, e ressuscitar no terceiro dia". A compreensão plena do seguimento de Jesus não se obtém pela instrução teórica, mas sim pelo compromisso prático, caminhando com ele no caminho do serviço, desde a Galiléia até Jerusalém. O Caminho do seguimento é o caminho da entrega, do abandono, do serviço, da disponibilidade, da aceitação do conflito, sabendo que haverá ressurreição. A cruz não é um acidente de percurso, mas faz parte deste caminho. Pois num mundo, organizado a partir do egoísmo, o amor e o serviço só podem existir crucificados! Quem faz da sua vida um serviço aos outros, incomoda os que vivem agarrados aos privilégios, e sofre. 

 

4) Para um confronto pessoal

1) Acreditamos todos em Jesus. Mas um entende Jesus de um jeito, outro o entende de outro jeito. Qual é, hoje, o Jesus mais comum no modo de pensar do povo?

  1. Como a propaganda interfere no meu modo de ver Jesus? O que faço para não cair na arapuca da propaganda? O que, hoje, nos impede de reconhecer e de assumir o projeto de Jesus?

 

5) Oração final

Bendito seja o Senhor, meu rochedo, meu benfeitor e meu refúgio, minha cidadela e meu libertador, meu escudo e meu asilo (Sl 144, 1-2)

1) Oração

Ó Pai, que resumistes toda lei no amor a Deus e ao próximo, fazei que, observando o vosso mandamento, consigamos chegar um dia à vida eterna. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho  (Lucas 9,7-9)

7O tetrarca Herodes ouviu falar de tudo o que Jesus fazia e ficou perplexo. Uns diziam: É João que ressurgiu dos mortos; outros: É Elias que apareceu; 8e ainda outros: É um dos antigos profetas que ressuscitou. 9Mas Herodes dizia: Eu degolei João. Quem é, pois, este, de quem ouço tais coisas? E procurava ocasião de vê-lo.

 

3) Reflexão

O evangelho de hoje traz a reação de Herodes diante da pregação de Jesus. Herodes não sabe situar Jesus. Ele já tinha matado João Batista e agora quer ver Jesus de perto. Ameaças aparecem no Horizonte.

Lucas 9,7-8: Quem é Jesus?

O texto começa com um balanço das opiniões do povo e de Herodes sobre Jesus. Alguns associavam Jesus com João Batista e Elias. Outro o identificavam como um Profeta, isto é, como alguém que fala em nome de Deus, que tem a coragem de denunciar as injustiças dos poderosos e que sabe animar a esperança dos pequenos. É o profeta anunciado no Antigo Testamento como um novo Moisés (Dt 18,15). São as mesmas opiniões que o próprio Jesus vai colher dos discípulos quando perguntou: "Quem dizem as multidões que eu sou?" (Lc 9,18). As pessoas procuravam compreender Jesus a partir das coisas que elas mesmas conheciam, acreditavam e esperavam. Tentavam enquadrá-lo dentro dos critérios familiares do Antigo Testamento com suas profecias e esperanças, e da Tradição dos Antigos com suas leis. Mas eram critérios insuficientes. Jesus não cabia lá dentro. Ele era maior!

Lucas 9,9: Herodes quer ver Jesus

“Então Herodes disse: "Eu mandei degolar João. Quem é esse homem, sobre quem ouço falar essas coisas?" E queria ver Jesus”. Herodes, homem supersticioso e sem escrúpulo, reconhece ser ele o assassino de João Batista. Agora ele quer ver Jesus. Lucas sugere assim que ameaças começam a aparecer no horizonte da pregação de Jesus. Herodes não teve medo de matar João. Também não terá medo de matar Jesus. Por outro lado, Jesus, também não tem medo de Herodes. Quando lhe disseram que Herodes procurava prendê-lo, mandou dizer: “Vão dizer a essa raposa: eu expulso demônios, e faço curas hoje e amanhã; e no terceiro dia terminarei o meu trabalho” (Lc 13,32). Herodes não tem poder sobre Jesus. Quando na hora da paixão, Pilatos manda Jesus para ser investigado por Herodes, Jesus lhe dá nenhuma resposta (Lc 23,9). Herodes não merecia resposta.

De pai para filho

Às vezes se confundem os três Herodes que viveram naquela época, pois os três aparecem no Novo Testamento com o mesmo nome: 1) Herodes, chamado o Grande, governou sobre toda a Palestina de 37 a 4 antes de Cristo. Ele aparece no nascimento de Jesus(Mt 2,1). Matou as crianças de Belém(Mt 2,16). 2) Herodes, chamado Antipas, governou sobre a Galileia de 4 antes a 39 depois de Cristo. Ele aparece na morte de Jesus(Lc 23,7). Matou João Batista(Mc 6,14-29). 3) Herodes, chamado Agripa, governou sobre toda a Palestina de 41 a 44 depois de Cristo. Aparece nos Atos dos Apóstolos(At 12,1.20). Matou o apóstolo Tiago(At 12,2).

Quando Jesus tinha mais ou menos quatro anos, morreu o rei Herodes. Aquele que matou as crianças de Belém (Mt 2,16). O território dele foi dividido entre os filhos. Arquelau, um dos seus filhos, recebeu o governo sobre a Judeia. Ele era menos inteligente que o pai, mas mais violento . Só na tomada de posse dele, foram massacradas em torno de 3000 pessoas na praça do Templo! O evangelho de Mateus informa que Maria e José, quando souberam que este Arquelau tinha assumido o governo da Judeia, tiveram medo de voltar para lá e foram morar em Nazaré, na Galilea (Mt 2,22), governada por um outro filho de Herodes, chamado Herodes Antipas (Lc 3,1). Este Antipas ficou mais de 40 anos. Durante todos os trinta e três anos que Jesus viveu nunca houve mudança de governo na Galileia.

Herodes o Grande, o pai de Herodes Antipas, tinha construído a cidade de Cesaréia Marítima, inaugurada em no ano 15 antes de Cristo. Era o novo porto de escoamento dos produtos da região. Devia competir com o grande porto de Tiro no Norte e, assim, ajudar a desenvolver o comércio na Samaria e na Galileia. Por isso, já desde os tempos de Herodes o Grande, a produção agrícola na Galileia começava a orientar-se não mais a partir das necessidades das famílias como era antes, mas sim a partir das exigências do mercado. Este processo de mudança na economia continuou durante todo o governo de Herodes Antipas, mais de quarenta anos, e encontrou nele um organizador eficiente. Todos estes governantes eram subservientes. Quem mandava mesmo na Palestina, desde 63 antes de Cristo, era Roma, o Império.

 

4) Para um confronto pessoal

1) É perguntar sempre: quem é Jesus para mim?  

2) Herodes quer ver Jesus. Era curiosidade mórbida e supersticiosa. Outros querem ver Jesus porque querem encontrar um sentido para a vida. E eu qual a motivação que me empurra para ver e encontrar Jesus?

 

5) Oração final

Cumulai-vos desde a manhã com as vossas misericórdias, para exultarmos alegres em toda a nossa vida. Que o beneplácito do Senhor, nosso Deus, repouse sobre nós. Favorecei as obras de nossas mãos. Sim, fazei prosperar o trabalho de nossas mãos (Sl 89, 14.17)

1) Oração

Ó Pai, que resumistes toda lei no amor a Deus e ao próximo, fazei que, observando o vosso mandamento, consigamos chegar um dia à vida eterna. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho (Lucas 9,1-6)

Naquele tempo, 1Reunindo Jesus os doze apóstolos, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios, e para curar enfermidades. 2Enviou-os a pregar o Reino de Deus e a curar os enfermos. 3Disse-lhes: Não leveis coisa alguma para o caminho, nem bordão, nem mochila, nem pão, nem dinheiro, nem tenhais duas túnicas. 4Em qualquer casa em que entrardes, ficai ali até que deixeis aquela localidade. 5Onde ninguém vos receber, deixai aquela cidade e em testemunho contra eles sacudi a poeira dos vossos pés. 6Partiram, pois, e percorriam as aldeias, pregando o Evangelho e fazendo curas por toda parte.

 

3) Reflexão  Lucas 9,1-6

O evangelho de hoje traz a descrição da missão que os Doze receberam de Jesus. Mais adiante, Lucas fala da missão dos setenta e dois discípulos (Lc 10,1-12). Os dois se completam e revelam a missão da igreja.

Lucas 9,1-2. Envio dos doze para a missão.

“Jesus convocou os Doze, e lhes deu poder e autoridade sobre os demônios e para curar as doenças. E os enviou a pregar o Reino de Deus e a curar”.  Chamando os doze, Jesus intensificou o anúncio da Boa Nova. O objetivo da missão é simples e claro: eles recebem poder e autoridade para expulsar os demônios, para curar as doenças e para anunciar o Reino de Deus. Assim como o povo ficava admirado diante da autoridade de Jesus sobre os espíritos impuros e diante da sua maneira de anunciar a Boa Nova (Lc 4,32.36), o mesmo deverá acontecer com a pregação dos doze apóstolos.

Lucas 9,3-5. As instruções para a Missão

Jesus os enviou com as seguintes recomendações: não podem levar nada “nem bastão, nem sacola, nem pão, nem dinheiro, nem duas túnicas”.  Não podem andar de casa em casa mas “em qualquer casa onde entrarem, fiquem aí, até se retirarem do lugar”  Caso não forem recebidos, “sacudam a poeira dos pés, como protesto contra eles". Como veremos, estas recomendações estranhas para nós tem um significado muito importante.

Lucas 9,6. A execução da missão

E eles foram. É o começo de uma nova etapa. Agora já não é só Jesus, mas é todo o grupo que vai anunciar a Boa Nova de Deus ao povo. Se a pregação de Jesus já dava conflito, quanto mais agora, com a pregação de todo o grupo.

Os quarto pontos básicos da missão

No tempo de Jesus havia vários outros movimentos de renovação: essênios, fariseus, zelotes. Também eles procuravam uma nova maneira de conviver em comunidade e tinham os seus missionários (cf. Mt 23,15). Mas estes, quando iam em missão, iam prevenidos. Levavam sacola e dinheiro para cuidar da sua própria comida. Pois não confiavam na comida do povo que nem sempre era ritualmente “pura”. Ao contrário dos outros missionários, os discípulos e as discípulas de Jesus receberam recomendações diferentes que nos ajudam a entender os pontos fundamentais da missão de anunciar a Boa Nova:

1) Devem ir sem nada (Lc 9,3; 10,4). Isto significa que Jesus os obriga a confiar na hospitalidade. Pois quem vai sem nada, vai porque confia no povo e acredita que vai ser recebido. Com esta atitude eles criticam as leis de exclusão, ensinadas pela religião oficial, e mostravam, pela nova prática, que tinham outros critérios de comunidade.

2) Devem ficar hospedados na primeira casa até se retirar do lugar (Lc 9,4; 10,7). Isto é, devem conviver de maneira estável e não andar de casa em casa. Devem trabalhar como todo mundo e viver do que recebem em troca, “pois o operário merece o seu salário” (Lc 10,7). Com outras palavras, eles devem participar da vida e do trabalho do povo, e o povo os acolherá na sua comunidade e partilhará com eles casa e comida. Isto significa que devem confiar na partilha. Isto também explica a severidade da crítica contra os que recusavam a mensagem: sacudir a poeira dos pés, como protesto contra eles (Lc 10,10-12), pois não recusam algo novo, mas sim o seu próprio passado.

3) Devem tratar dos doentes e expulsar os demônios (Lc 9,1; 10,9; Mt 10,8). Isto é, devem exercer a função de “defensor” (goêl) e acolher para dentro do clã, dentro da comunidade, os excluídos. Com esta atitude criticam a situação de desintegração da vida comunitária do clã e apontam saídas concretas. A expulsão de demônios é sinal de que chegou o Reino de Deus (Lc 11,20).

4) Devem comer o que o povo lhes dava (Lc 10,8). Não podem viver separados com sua própria comida mas devem aceitar a comunhão de mesa. Isto significa que, no contato com o povo, não devem ter medo de perder a pureza tal como era ensinada na época. Com esta atitude criticam as leis da pureza em vigor e mostram, pela nova prática, que possuem outro acesso à pureza, isto é, à intimidade com Deus.

Estes eram os quatro pontos básicos da vida comunitária que deviam marcar a atitude dos missionários ou das missionárias que anunciavam a Boa Nova de Deus em nome de Jesus: hospitalidade, partilha, comunhão de mesa, e acolhida aos excluídos (defensor, goêl). Caso estas quatro exigências fossem preenchidas, eles podiam e deviam gritar aos quatro ventos: “O Reino chegou!” (cf. Lc 10,1-12; 9,1-6; Mc 6,7-13; Mt 10,6-16). Pois o Reino de Deus que Jesus nos revelou não é uma doutrina, nem um catecismo, nem uma lei. O Reino de Deus acontece e se faz presente quando as pessoas, motivadas pela sua fé em Jesus, decidem conviver em comunidade para, assim, testemunhar e revelar a todos que Deus é Pai e Mãe e que, portanto, nós, seres humanos, somos irmãos e irmãs uns dos outros. Jesus queria que a comunidade local fosse novamente uma expressão da Aliança, do Reino, do amor de Deus como Pai, que faz de todos irmãos e irmãs.

 

4) Para um confronto pessoal

1-A participação na comunidade tem ajudado você a acolher e a confiar mais nas pessoas, sobretudo nos mais simples e pobres?

2- Qual o ponto da missão dos apóstolos que tem maior importância para nós hoje? Por que?

 

5) Oração final

Afastai-me do caminho da mentira, e fazei-me fiel à vossa lei. Mais vale para mim a lei de vossa boca que montes de ouro e prata. (Sl 118, 29.72)

1) Oração

Ó Pai, que resumistes toda lei no amor a Deus e ao próximo, fazei que, observando o vosso mandamento, consigamos chegar um dia à vida eterna. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho (Lucas 8,19-21)

Naquele tempo, 19A mãe e os irmãos de Jesus foram procurá-lo, mas não podiam chegar-se a ele por causa da multidão. 20Foi-lhe avisado: Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e desejam ver-te. 21Ele lhes disse: Minha mãe e meus irmãos são estes, que ouvem a palavra de Deus e a observam.

 

3) Reflexão Lucas 8,19-21

O evangelho de hoje traz o episódio em que os parentes de Jesus, inclusive sua mãe, quiseram conversar com ele, mas Jesus não lhes deu atenção. Jesus teve problemas com a família. Às vezes, a família ajuda a viver o evangelho e a participar da comunidade. Outras vezes, ela atrapalha. Assim foi com Jesus e assim é conosco.

Lucas 8,19-20: A família procura Jesus

Os parentes chegam na casa onde Jesus estava. Provavelmente tinham vindo de Nazaré. De lá até Cafarnaum são uns 40 quilômetros. Sua mãe veio junto. Eles não entram, pois havia muita gente, mas mandam recado: "Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem te ver".  Conforme o evangelho de Marcos, os parentes não querem ver Jesus. Eles querem é levá-lo de volta para casa (Mc 3,32). Achavam que Jesus tinha enlouquecido (Mc 3,21). Provavelmente, estavam com medo, pois conforme a história informa, havia uma vigilância muito grande da parte dos romanos com relação a todos que, de uma ou de outra maneira, tinha liderança popular (cf. At 5,36-39). Em Nazaré na serra seria mais seguro do que na cidade de Cafarnaum.

Lucas 8,21: A resposta de Jesus

A reação de Jesus é firme: "Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus, e a põem em prática." Em Marcos a reação de Jesus é mais concreta. Marcos diz: “Então Jesus olhou para as pessoas que estavam sentadas ao seu redor e disse: Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe" (Mc 3,34-35). Jesus alargou a família! Ele não permite que a família o afaste da missão: nem a família (Jo 7,3-6), nem Pedro (Mc 8,33), nem os discípulos (Mc 1,36-38), nem Herodes (Lc 13,32), nem ninguém (Jo 10,18).

É a palavra de Deus que cria a nova família ao redor de Jesus: "Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus, e a põem em prática.". Um bom comentário deste episódio é o que diz o evangelho de João no prólogo: “A Palavra estava no mundo, o mundo foi feito por meio dela, mas o mundo não a conheceu. Ela veio para a sua casa, mas os seus não a receberam. Ela, porém, deu o poder de se tornarem filhos de Deus a todos aqueles que a receberam, isto é, àqueles que acreditam no seu nome. Estes não nasceram do sangue, nem do impulso da carne, nem do desejo do homem, mas nasceram de Deus. E a Palavra se fez homem e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória: glória do Filho único do Pai, cheio de amor e fidelidade” (João 1,10-14). A família, os parentes, não entenderam Jesus (Jo 7,3-5; Mc 3,21), não fazem parte da nova família. Só fazem parte da nova comunidade aqueles e aquelas que recebem a Palavra, isto é, que acreditam em Jesus. Estes nascem de Deus e formam a Família de Deus.

A situação da família no tempo de Jesus.

No tempo de Jesus, tanto a conjuntura política, social e econômica como a ideologia religiosa, tudo conspirava para o enfraquecimento dos valores centrais do clã, da comunidade. A preocupação com os problemas da própria família impedia as pessoas de se unirem em comunidade. Ora, para que o Reino de Deus pudesse manifestar-se, novamente, na convivência comunitária do povo, as pessoas tinham de ultrapassar os limites estreitos da pequena família e abrir-se para a grande família, para a Comunidade. Jesus deu o exemplo. Quando sua própria família tentou apoderar-se dele, reagiu e alargou a família (Mc 3,33-35). Criou comunidade.

Os irmãos e as irmãs de Jesus

A expressão “irmãos e irmãs de Jesus” é causa de muita polêmica entre católicos e protestantes. Baseando-se neste e em outros textos, os protestantes dizem que Jesus teve mais irmãos e irmãs e que Maria teve mais filhos! Os católicos dizem que Maria não teve outros filhos. O que pensar disso?  Em primeiro lugar, as duas posições, tanto dos católicos como dos protestantes, ambas têm argumentos tirados da Bíblia e da Tradição das suas respectivas Igrejas. Por isso, não convém brigar nem discutir esta questão com argumentos só de cabeça. Pois trata-se de convicções profundas, que têm a ver com a fé e com o sentimento de ambos. Argumento só de cabeça não consegue desfazer uma convicção do coração! Apenas irrita e afasta! Mesmo quando não concordo com a opinião do outro, devo sempre respeitá-la. Em segundo lugar, em vez de brigar em torno de textos, nós todos, católicos e protestantes, deveríamos unir-nos bem mais para lutar em defesa da vida, criada por Deus, vida tão desfigurada pela pobreza, pela injustiça, pela falta de fé. Deveríamos lembrar algumas outras frases de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância”(Jo 10,10). “Que todos sejam um, para que o mundo creia que Tu, Pai, me enviaste”(Jo 17,21). “Não o impeçam! Quem não é contra nós é a favor”(Mc 10,39.40). 

 

4) Para um confronto pessoal

1-A família ajuda ou dificulta a sua participação na comunidade cristã?

2-Como você assume o seu compromisso na comunidade cristã sem prejudicar nem a família e nem a comunidade?

 

5) Oração final

Escolhi o caminho da verdade, impus-me os vossos decretos. Ensinai-me a observar a vossa lei e a guardá-la de todo o coração. (Sl 118, 30.34)

No final da sua recente Plenária, os Bispos Católicos da Nigéria disseram que os ataques dirigidos ao Papa Francisco são inoportunos e os descrevem como “o proverbial mau vento que não traz nada de bom a ninguém, tendo em vista que existem outras vias mais legítimas para expressar opiniões ao Santo Padre”.

 

Cidade do Vaticano

A Segunda Assembleia Plenária da Conferência Episcopal da Nigéria (CBCN) teve lugar no Centro Pastoral da Divina Misericórdia, em Abeokuta, Estado de Ogun, de 11 a 20 do corrente mês de setembro.

 

Ataques são inoportunos

No seu comunicado, divulgado no final da Plenária, os Bispos criticam particularmente aqueles que dentro da Igreja estão a atacar o Papa Francisco. “O Santo Padre o Papa Francisco tem sido vítima de ataques nos últimos tempos. Mais preocupantes são os ataques provenientes de alguns níveis mais altos da Igreja em algumas partes do mundo. Como membros do Colégio Episcopal, do qual o Santo Padre é a Cabeça, consideramos esses ataques como o proverbial mau vento que sopra sem trazer nada de bom a ninguém, sobretudo tendo em mente que existem outras vias mais legítimas e tradicionalmente confirmadas para exprimir as nossas opiniões. ao Santo Padre”, escrevem os Bispos.

 

O Romano Pontífice è o sucessor de S. Pedro

Segundo os Prelados nigerianos, “para podermos conduzir o rebanho de Cristo na direção certa num mundo cheio de vozes contraditórias e confusas, nós, como Colégio, devemos falar com uma só voz. Nós reconhecemos, portanto, que "o Romano Pontífice, como sucessor de Pedro, é a fonte perene e visível e o fundamento da unidade tanto dos Bispos como de toda a comunidade dos fiéis". Reafirmamos a nossa fé e compromisso com o pontificado do Papa Francisco. Conseqüentemente, comprometemos-nos a dar a nossa lealdade e disponibilidade a ele no exercício do seu ministério petrino, e prometemos continuar a colaborar plenamente com ele no cumprimento do seu mandato divino como pastor da Igreja Universal”, lê-se no comunicado.

 

Bispos condenam xenofobia na África do Sul

No comunicado os bispos nigerianos condenam ainda os ataques xenófobos na África do Sul, e elogiam os seus colegas, os Bispos sul-africanos, por falarem clara e profeticamente, e também pela sua solidariedade para com as vítimas da xenofobia.

 “Denunciamos os terríveis ataques xenófobos na África do Sul, nos quais muitos estrangeiros, incluindo nigerianos, perderam suas vidas e/ou viram suas propriedades saqueadas e/ou se sentiram forçados a fugir do país para salvar suas vidas. Condenamos as infelizes represálias sobre investimentos percebidos como sul-africanos nalgumas partes da Nigéria, pois a soma de dois erros não é a verdade! Rezamos pelo repouso eterno dos que perderam a vida e mostramos nossa proximidade para com os enlutados e aqueles que sofreram ferimentos e pesadas perdas ”, dizem os Bispos no comunicado.

 

Insegurança contínua na Nigéria

Os Bispos também denunciam a contínua insegurança e o desrespeito pela vida humana predominante na sociedade nigeriana. E pedem ao governo para que priorize a segurança e a estabilidade da nação. Parte da solução, segundo os Prelados, está na criação de um ambiente propício para um desenvolvimento significativo. Fonte: https://www.vaticannews.va

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) emitiu nota, na tarde desta quinta-feira, 19 de setembro, sobre o enfraquecimento da participação da sociedade civil brasileira nos conselhos paritários, legítimos espaços de participação e controle social das políticas públicas.

No documento, a entidade afirma que “o governo não pode agir sozinho. A sociedade civil tem que participar. Não se pode desmontar as estruturas de participação social que exercem papel fundamental para nossa nação. Os clamores do povo, suas necessidades e a sensibilidade social vêm exatamente dessa participação e impactam a formulação das políticas públicas”.

Conheça a íntegra da nota:

 

Nota sobre os Conselhos Paritários

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) acompanha com apreensão a postura que o Executivo Federal vem adotando em relação aos conselhos paritários, legítimos organismos de participação popular na gestão da sociedade brasileira.

A recente publicação do Decreto nº 10.003/19, que altera procedimentos no Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), explicita esse modus operandi. A medida, de maneira abrupta, destituiu os conselheiros da sociedade civil, legitimamente eleitos e no exercício do mandato vigente. Além disso, violou o princípio da democracia participativa, oriundo da Constituição Federal, demonstrando uma equivocada compreensão dessa questão.

O governo não pode agir sozinho. A sociedade civil tem que participar. Não se pode desmontar as estruturas de participação social que exercem papel fundamental para nossa nação. Os clamores do povo, suas necessidades e a sensibilidade social vêm exatamente dessa participação e impactam a formulação das políticas públicas.

Os bispos do Brasil exortam todos os conselheiros e conselheiras, ligados às diversas instâncias governamentais do nosso país, a manterem a esperança. Acreditando na força do diálogo, esperam a revisão do decreto 10.003/19, bem como da postura em relação aos conselhos paritários. A cidadania e a democracia participativa contribuem para a construção de uma nação mais justa, fraterna, solidária e democrática.

Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, continue intercedendo pelo nosso País.

Brasília-DF, 19 de setembro de 2019

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte – MG
Presidente da CNBB

 

Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre – RS
1º Vice-Presidente da CNBB

 

Dom Mário Antônio da Silva
Bispo de Roraima – RR
2º Vice-Presidente da CNBB

 

Dom Joel Portella Amado
Bispo Auxiliar de S. Sebastião do Rio de Janeiro – RJ
Secretário-Geral da CNBB.

Fonte: http://www.cnbb.org.br

 

1) Oração

Ó Pai, que resumistes toda lei no amor a Deus e ao próximo, fazei que, observando o vosso mandamento, consigamos chegar um dia à vida eterna. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho (Lucas 8,16-18) 

 Naquele tempo, disse Jesus a multidão: 16Ninguém acende uma lâmpada e a cobre com um vaso ou a põe debaixo da cama; mas a põe sobre um castiçal, para iluminar os que entram. 17Porque não há coisa oculta que não acabe por se manifestar, nem secreta que não venha a ser descoberta. 18Vede, pois, como é que ouvis. Porque ao que tiver, lhe será dado; e ao que não tiver, até aquilo que julga ter lhe será tirado.

 

3) Reflexão  Lucas 8,16-18 

O evangelho de hoje traz três pequenos dizeres de Jesus. São frases soltas que Lucas colocou aqui logo depois da parábola da semente (Lc 8,4-8) e da sua explicação aos discípulos (Lc 8,9-15). Este contexto literário, em que Lucas colocou as três frases, ajuda a entender como ele quer que a gente entenda estas frases de Jesus.

Lucas 8,16: A lâmpada que ilumina

"Ninguém acende uma lâmpada para cobri-la com uma vasilha ou colocá-la debaixo da cama. Ele a coloca no candeeiro, a fim de que todos os que entram, vejam a luz”.  Esta frase de Jesus é uma pequena parábola. Jesus não explica, pois todo mundo sabia de que se tratava. Era algo da vida de todos os dias. Naquele tempo, não havia luz elétrica. Você imagine o seguinte. A família está reunida em casa. Começa a escurecer. Alguém levanta, pega a lamparina, acende e coloca debaixo de um caixote ou debaixo de uma cama. O que o pessoal vai dizer? Todo mundo vai gritar: “Seu bobo! Coloque a luz na mesa!” Numa reunião bíblica, alguém fez o seguinte comentário: A palavra de Deus é uma lamparina para ser acesa na escuridão da noite. Enquanto ela estiver dentro do livro fechado da Bíblia, ela é como a lamparina debaixo do caixote. Ela só é colocada na mesa e ilumina a casa, quando for lida em comunidade e ligada à vida.

No contexto em que Lucas colocou esta frase, ela se refere à explicação que Jesus deu da parábola da semente (Lc 8,9-15). É como se dissesse: as coisas que vocês acabaram de ouvir, vocês não devem guardá-las para si mesmos, mas devem irradiá-las aos outros. Um cristão não deve ter medo de dar testemunho e de irradiar a Boa Nova. Humildade é importante, mas é falsa a humildade que esconde os dons de Deus dados para edificar a comunidade (1Cor 12,4-26; Rom 12,3-8).

Lucas 8,17: O escondido se tornará manifesto

“Tudo o que está escondido, deverá tornar-se manifesto; e tudo o que está em segredo, deverá tornar-se conhecido e claramente manifesto.”  Esta segunda frase de Jesus, de acordo com o contexto em que foi posto por Lucas, também se refere aos ensinamentos que Jesus deu em particular aos discípulos (Lc 8,9-10). Os discípulos não podem conservá-los só para si, mas devem divulgá-los, pois fazem parte da Boa Nova de Deus que Jesus nos trouxe.

Lucas 8,18: Prestar atenção aos preconceitos

“Prestem atenção como vocês ouvem: para quem tem alguma coisa, será dado ainda mais; para aquele que não tem, será tirado até mesmo o que ele pensa ter". Naquele tempo, havia muitos preconceitos sobre o Messias que impediam o povo de entender de maneira correta a Boa Nova do Reino que Jesus anunciava. Por isso, esta advertência de Jesus com relação aos preconceitos tinha muita atualidade. Jesus pede aos discípulos para tomar consciência dos preconceitos com que escutam o ensinamento que ele lhes oferece. Através desta frase de Jesus, Lucas está dizendo às comunidades e a todos nós: “Prestem bem atenção nas idéias com que vocês olham para Jesus!”  Pois, se a cor dos óculos é verde, tudo aparece verde. Se for azul, tudo será azul! Se a idéia com que eu olho para Jesus for errada, tudo o que penso, recebo e ensino sobre Jesus estará ameaçado de erro. Se eu penso que o messias deve ser um rei glorioso, não vou entender nada do que Jesus ensina sobre a Cruz, sobre o sofrimento, perseguição e compromisso, e até vou perder aquilo que eu pensava possuir. Unindo esta terceira frase com a primeira, pode-se concluir o seguinte: quem segurar fechado em si o que receber e não o distribuir aos outros, perde aquilo que tem, pois vai apodrecer.

 

4) Para um confronto pessoal

1-Você já teve experiência de preconceitos que o impediam de perceber e de apreciar no seu devido valor, as coisas boas que as pessoas fazem?

2-Você já percebeu os preconceitos que estão por trás de certas histórias, piadas e parábolas que as pessoas contam?

 

5) Oração final

Senhor, quem há de morar em vosso tabernáculo? Quem habitará em vossa montanha santa? O que vive na inocência e pratica a justiça, o que pensa o que é reto no seu coração. (Sl 14)

Padre Casemiro veio da Polônia e, com sua simpatia, conquistou os fiéis da paróquia Nossa Senhora da Saúde

 

Paloma Oliveto

Conheci o padre Casemiro com uns 5 anos de idade. Na época, a Paróquia Nossa Senhora da Saúde era um pequeno salão, um "puxadinho". Com um português sofrível, aquele polonês gorducho e rosado, com uma eterna cara de menino, se esforçava para agradar a comunidade, ainda ressentida da saída do padre que o antecedeu. Minha família foi uma das primeiras que o acolheu.

Como era fácil gostar do padre Casemiro! As dificuldades com o idioma não o impediam de fazer piadas - que geralmente não dava para entender por causa do forte sotaque. Ele chorava de rir das próprias graças, com uma inocência comovente.

Padre Casemiro construiu a linda igreja que substitui o "puxadinho" com as próprias mãos. Mal tirava a batina e corria para a obra. A essas alturas, já era extremamente amado pela comunidade e já falava bem o português (mas continuava contando piadas que só ele entendia…). 

Sorria com os belos olhos azuis, que também lacrimejavam quando ele falava da Polônia. Nascido no pós-guerra, viveu os horrores de uma Europa devastada e viu seu país ser arbitrariamente anexado à União Soviética.

Apesar das saudades, nunca falou em partir. Amava o Brasil e a numerosa família que fez aqui, seus paroquianos, seus filhinhos.

A notícia da morte dele ainda parece um pesadelo. A ficha não caiu. Tento não pensar no horror que aqueles olhos expressaram enquanto lhe roubavam a vida. Antes, visualizo os olhos risonhos, bondosos, cheios de amor. Ainda molhados de tantas gargalhadas depois de contar piadas.. Adeus, "do widzenia", padre Casemiro! Agora vá fazer rir os anjos do céu. Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br

Objetos da Paróquia Nossa Senhora da Saúde foram roubados e o caseiro foi amarrado e sofreu escoriações nas mãos e nos braços

Na noite deste sábado (21), o padre polonês Kazimierz Wojno, 71 anos, mais conhecido como Casemiro, da Paróquia Nossa Senhora da Saúde, localizada na 702 Norte, foi estrangulado. Segundo informações da Polícia Militar do Distrito Federal, ele foi vítima de latrocínio, roubo seguido de morte.

Diversos objetos da Igreja foram roubados e o religioso foi encontrado com pés, mãos e pescoço amarrados. O caseiro José Gonzaga da Costa, 39, foi amarrado no local e conseguiu pedir socorro. Ele sofreu escoriações nos braços e nas mãos e foi transportado, estável e orientado, pelo Corpo de Bombeiros para o Hospital Regional da Asa Norte. 

Segundo fontes ouvidas pela reportagem, Casemiro vinha reclamando da insegurança no local há um bom tempo. Não foi a primeira vez que a Paróquia Nossa Senhora da Saúde foi alvo de roubo. Em abril deste ano, em pleno domingo de Páscoa, o sacrário da casa, estimado em torno de R$ 20 mil, foi furtado e encontrado três dias depois sendo negociado em um ferro-velho em Samambaia. O objeto usado para guardar as hóstias consagradas estava amassado, riscado e faltando um pedaço. 

Em nota, a Arquidiocese de Brasília lamentou a morte do padre Casemiro e informou acompanhar o caso. De acordo com a entidade, o religioso tem 46 anos de sacerdócio. "Convidamos a todos para participarem do velório e da missa e exéquias na Paróquia N. Sra. da Saúde, em horários a serem divulgados tão logo possível", frisou o texto. 

Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br

 

O ex-papa diz que os detratores ignoraram a sua questão principal quanto às origens da pedofilia sacerdotal. A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, publicada por La Croix International, 17-09-2019. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

Bento XVI deu início a uma nova polêmica ao publicar resposta pungente contra os críticos de um ensaio seu no qual culpa o Movimento de Maio de 68 que teria desencadeado os casos de abuso sexual de menores na Igreja.

O papa emérito de 92 anos originalmente apresentou a sua tese em um artigo de 6 mil palavras intitulado “A Igreja e os abusos sexuais”, publicado em abril deste ano na revista religiosa alemã Klerusblatt.

Uma série de pesquisadores alemães contestaram prontamente o artigo. Bento, que renunciou do papado em 2013, decidiu responder à crítica com uma “carta ao editor” da Herder Korrespondenz. Este prestigiado periódico teológico mensal publicou a carta na edição de setembro.

Intitulada “68 e os abusos”, a carta lamenta a “inadequação típica” da reação dos críticos ao ensaio e acusa-os de ignorar o foco principal do que havia sido dito.

“Os abusos são o resultado de um mundo sem Deus”

“Escrevi: ‘Um mundo sem Deus só pode ser um mundo sem significado (...) A sociedade ocidental é uma sociedade na qual Deus está ausente na esfera pública e não tem nada para oferecer a ela. E essa é a razão pela qual a sociedade perde cada vez mais sua noção de humanidade”, disse Bento XVI.

“Na maior parte das reações [ao seu ensaio original], até onde posso perceber, Deus não aparece e, portanto, exatamente aquilo que eu quis discutir não é discutido”.

Bento rebate especificamente Birgit Aschmann, professora de história europeia do século XIX na Universidade Humboldt, em Berlim. Em um artigo de quatro páginas publicado na edição de julho da Herder Korrespondenz, a professora alemã de 52 anos destacou que a pesquisa histórica “nada descobriu sobre uma falta geral de normas como resultado de uma revolução sexual (nos anos 60) e certamente não entre os católicos”.

“O que realmente influenciou-os em 1968 era algo bem diferente, a saber, a encíclica Humanae vitae”, afirmou ela no artigo.

 

Historiadora diz que Bento ignora as evidências científicas

Aschmann acusou Bento de ignorar os achados de pesquisas sociocientíficas. Ela o acusou de argumentar somente com base em “fragmentos de memória biográfica sem mesmo analisar qual era a representatividade deles”.

Na carta ao editor, Bento XVI menciona o artigo de Aschmann em uma única e breve porém pungente frase.

“O que me surpreende é que Deus, foco central do meu ensaio, não foi mencionado uma única vez nas quatro páginas do artigo da Sra. Aschmann”, disse o ex-papa.

Volker Resing, editor da Herder Korrespondenz, afirmou que a opinião de Bento sobre o Movimento de Maio de 68 era “puro pessimismo cultural”.

Em artigo postado no sítio eletrônico da Arquidiocese de Colônia em 28 de agosto, ele declarou que esta visão completamente negativa de sociedade leva à pergunta sobre o que aconteceu com as opiniões de Bento quanto à esperança cristã.

Resing apontou especificamente para estas palavras da encíclica de 2007, Spe Salvi, que Bento publicou no terceiro ano de pontificado.

“Nos foi dada esperança, esperança confiável, por virtude da qual podemos enfrentar o nosso presente. Quem tem esperança, vive diversamente; foi-lhe dada uma vida nova”.

 

Teólogo convida Bento XVI a trabalhar na divulgação de documentos do Vaticano

Enquanto isso, Magnus Striet, professor de teologia fundamental na Universidade de Friburgo, em Brisgóvia, Alemanha, também pôs em dúvida a análise de Bento.

Retoricamente perguntou: “Quem nomeou os bispos acusados hoje de acobertar casos de abuso sexual ou de ser eles próprios os perpetradores? Foram todos eles membros do Movimento de 1968?”

Em artigo postado no sítio eletrônico da Conferência dos Bispos Alemães, o teólogo de 55 anos criticou o ex-papa por não ter feito o suficiente para revelar aquilo que o Vaticano realmente sabe dos casos históricos de abuso sexual cometido pelo clero.

Striet afirmou que, em vez de se irritar com aquilo considera um declínio da sociedade, seria “mais útil” se Bento – que fora prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé por mais de 23 anos – exigisse que uma comissão independente tenha a permissão para examinar os documentos da citada Congregação, material que se encontra guardado desde 2000. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br