A liturgia deste domingo reflete sobre o sentido da história da salvação e diz-nos que a meta final para onde Deus nos conduz é o novo céu e a nova terra da felicidade plena, da vida definitiva. Este quadro (que deve ser o horizonte que os nossos olhos contemplam em cada dia da nossa caminhada neste mundo) faz nascer em nós a esperança; e da esperança brota a coragem para enfrentar a adversidade e para lutar pelo advento do Reino.
O Evangelho oferece-nos uma reflexão sobre o percurso que a Igreja é chamada a percorrer, até à segunda vinda de Jesus. A missão dos discípulos em caminhada na história é comprometer-se na transformação do mundo, de forma a que a velha realidade desapareça e nasça o Reino. Esse "caminho" será percorrido no meio de dificuldades e perseguições; mas os discípulos terão sempre a ajuda e a força de Deus.
A segunda leitura reforça a ideia de que, enquanto esperamos a vida definitiva, não temos o direito de nos instalarmos na preguiça e no comodismo, alheando-nos das grandes questões do mundo e evitando dar o nosso contributo na construção do Reino.

LEITURA II - 2Tes 3, 7-12

Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses

Irmãos:
Vós sabeis como deveis imitar-nos,
pois não vivemos entre vós desordenadamente,
nem comemos de graça o pão de ninguém.
Trabalhamos dia e noite, com esforço e fadiga,
para não sermos pesados a nenhum de vós.
Não é que não tivéssemos esse direito,
mas quisemos ser para vós exemplo a imitar.
Quando ainda estávamos convosco,
já vos dávamos esta ordem:
quem não quer trabalhar, também não deve comer.
Ouvimos dizer que alguns de vós vivem na ociosidade,
sem fazerem trabalho algum,
mas ocupados em futilidades.
A esses ordenamos e recomendamos,
em nome do Senhor Jesus Cristo,
que trabalhem tranquilamente,
para ganharem o pão que comem.

AMBIENTE

Continuamos a ler a Segunda Carta aos Tessalonicenses. O seu autor dirige-se - como já vimos nos domingos anteriores - a uma comunidade que vive com entusiasmo a sua fé e que dá um testemunho vigoroso e comprometido da sua adesão ao Evangelho de Jesus, mesmo no meio das dificuldades e das perseguições... No entanto, a partida precipitada de Paulo (que teve de deixar Tessalônica à pressa para fugir a uma cilada armada contra ele pelos judeus da cidade) não permitiu que a catequese ficasse completa e que certas questões de fé fossem suficientemente desenvolvidas e amadurecidas. Uma dessas questões - que inquietava grandemente os tessalonicenses - era a da segunda vinda do Senhor.
Nesta carta percebe-se, claramente, que alguns cristãos de Tessalônica, persuadidos de que a vinda do Senhor estava muito próxima, viviam "nas nuvens", negligenciando os seus deveres de todos os dias (2 Tes 2,1-2). Agora, a única coisa que faz sentido - dizem eles - é ter os braços, os olhos e o coração voltados para o céu, esperando a vinda gloriosa do Senhor. Esta atitude compreende-se ainda melhor à luz da antropologia grega, segundo a qual o homem deve viver voltado para o mundo ideal e espiritual, fugindo o mais possível do terreno e material; o trabalho manual - de acordo com esta perspectiva - é degradante, sem valor algum para a construção da pessoa e deve ser evitado a todo o custo... É este o enquadramento da nossa leitura.

MENSAGEM

O autor da Segunda Carta aos Tessalonicenses rejeita totalmente esta concepção e a atitude daqueles que - com a desculpa da iminência da vinda do Senhor - vivem ocupados com futilidades e não fazem nada de útil. Nas entrelinhas percebemos a perspectiva de inspiração semita, segundo a qual a condição corporal do homem não é um castigo; portanto, o trabalho manual não envelhece, mas dignifica.
De resto, o autor da carta dá como exemplo o próprio Paulo: ele nunca escolheu a ociosidade, nem viveu à custa de quem quer que fosse ("trabalhamos noite e dia com esforço e fadiga, para não sermos pesados a nenhum de vós" - vers. 8); até mesmo durante as suas viagens missionárias, Paulo nunca aceitou qualquer pagamento - o que mostra que o seu amor pelos cristãos e pelas comunidades é sincero e nunca teve qualquer interesse material.
O tom desta passagem é exigente, solene, autoritário, pois está em jogo algo de fundamental - a harmonia da comunidade. É que, se numa comunidade houver parasitas que vivem à custa dos demais, rapidamente a comunidade chegará a uma situação insustentável: o equilíbrio romper-se-á, surgirão os conflitos, as acusações, as divisões e a fraternidade será uma miragem. Viver em comunidade exige a repartição equitativa dos recursos a que a comunidade tem acesso; mas exige, também, a responsabilização de todos os membros, a fim de que todos ponham ao serviço dos irmãos os próprios dons e contribuam para a construção, para o equilíbrio e para a harmonia comunitárias.

ATUALIZAÇÃO

Considerar os seguintes pontos:Ao contrário do que dizem alguns "iluminados", o cristianismo não fomenta a evasão deste mundo, nem pretende fazer alienados que vivam de olhos postos no céu e passem ao lado das lutas dos outros homens... Pelo contrário, o cristianismo vivido com verdade, seriedade e coerência potência um empenhamento sincero na construção de um mundo mais justo e mais fraterno, todos os dias, vinte e quatro horas por dia. O "Reino de Deus" é uma realidade que atingirá o ponto culminante na vida futura; mas começa a construir-se aqui e agora e exige o esforço e o empenho de todos. A minha atitude é a de quem se comprometeu com o "Reino" e procura construí-lo em cada instante da sua existência?

Nas comunidades cristãs encontramos, com frequência, pessoas que falam muito e mandam muito, mas fazem muito pouco e, muitas vezes, ainda se aproveitam dos trabalhos dos outros para se enfeitar de louros... Também encontramos aqueles que são apenas "consumidores passivos" daquilo que a comunidade constrói, mas não se esforçam minimamente por colaborar. Qual é a minha atitude face a isto? Dou o meu contributo na construção da comunidade? Ponho a render os meus dons?

A Palavra interpela também as comunidades religiosas... A vida religiosa pode ser apenas uma vida cômoda (com cama, mesa e roupa lavada garantidas) para pessoas que gostam de viver instaladas, arrumadas, sem ambições... É preciso cuidado para não nos tornarmos parasitas da sociedade (e, muitas vezes, de pessoas que vivem muito pior do que nós e que ainda partilham conosco o pouco que têm): a nossa missão é tornarmo-nos "sinais" que anunciam o mundo novo e trabalhar para que esse mundo novo seja uma realidade.

*LEIA A REFLEXÃO NA ÍNTEGRA. Clique no link- EVANGELHO DO DIA- AO LADO