7 de setembro-Nossa Senhora do Rosário
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Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Celebramos no dia 07 de outubro a memória litúrgica de Nossa Senhora do Rosário. É mais um título dedicado a Mãe de Jesus, esse não especificamente ligado a alguma aparição, mas a espiritualidade do santo Rosário. Por isso, ao longo desse mês somos convidados a rezar o terço todos os dias, por ser o mês dedicado à Nossa Senhora do Rosário.
A tradição dessa festa vem bem de antigamente, quando monges eremitas rezavam a oração da ave-maria usando pedrinhas para fazer a contagem. Surgiu desde então a tradição de rezar o Rosário e invocar a Mãe de Jesus. Em cada Ave-Maria oferecemos rosas a Nossa Senhora e ao rezar o terço agradecemos a intercessão de Nossa Senhora por nós. Em cada mistério contemplamos passagens a respeito da vida pública de Jesus, em alguns deles, é claro com a presença da Virgem Maria. Ou seja, rezamos à Mãe contemplando os mistérios da vida do Filho Jesus.
A oração do terço deve ser diária, o terço deve ser a arma do cristão no bom sentido, devemos carregar o nosso terço no bolso e rezá-lo diariamente, não só no mês de outubro, mas ao longo de todo o ano. Não se conhece quem tenha feito um pedido a Nossa Senhora e não tenha sido por Ela prontamente atendido. Peçamos através da reza do terço a intercessão de Nossa Senhora por nós e por nossa família, que ela passe na frente diante das nossas dificuldades. Sempre quando temos uma situação difícil para resolver recorramos a Virgem Maria para que interceda por nós junto à Jesus.
São cinco os mistérios do terço e em cada mistério contemplamos alguma passagem da vida de Jesus. Temos agora o mistério da luz que foi instituído pelo papa São João Paulo II no ano de 2002. Podemos contemplar todos os mistérios num só dia e dessa forma rezaremos o rosário completo, ou os mistérios em seus respectivos dias e dessa forma rezaremos o terço.
Antigamente, na origem da reza do rosário os missionários eram dispensados da reza do saltério, que possui 150 salmos que, na época, exigia grandes livres difíceis de transpórtar, e então rezavam a oração do rosário que compunha, na ocasião um total de cento e cinquenta Ave-Marias. São Beda, chamado de venerável (VII – VIII), sugeriu que para compor o rosário fossem colocados vários grãos em um barbante.
Ao longo dos anos a oração do rosário foi se aperfeiçoando, no ano de 1214, a Santa Igreja estabeleceu na forma é método que conhecemos hoje. Antes disso, as Ave-Marias não eram como agora, nem mesmo os mistérios contemplados e entre outros ingredientes da oração. A origem se deu com a aparição da Santíssima Virgem à São Domingos de Gusmão, fundador dos dominicanos. Outro Santo, São Luís Maria Grignion de Monfort relata a origem do Rosário.
Conta a tradição que São Domingos de Gusmão, procurava converter os albigenses, também conhecidos como (puros), eram um grupo de hereges, eles negavam a existência de um único Deus e não aceitavam Jesus, negando a sua divindade. Dessa foram, o Santo procurava converter os heréticos e enfrentava uma grande resistência. Por isso, ele teve a revelação da Virgem Maria, quando resolveu entrar no deserto para ficar um momento a sós e rezar. “Quero que alcances estas almas endurecidas e as conquiste para Deus, com a oração do meu Saltério”. Isso foi o que a Virgem Maria disse a ele, e podemos encontrar no livro de Monfort (MONTFORT, 2019, p. 42-43).
Logo após, houve a batalha de Lepanto (Grécia, junto ao porto de Corinto), comandada por João da Áustria, em 07 de outubro de 1571. O Papa Pio V, recomendou que diante da revolta os cristãos rezassem o rosário, através da carta breve Consueverunt (1569). Essa era uma batalha extremamente importante, pois dela dependia a presença do catolicismo na Europa ocidental. Com a vitória adquirida, ele institui a festa de Nossa Senhora do Rosário no mesmo dia da batalha e reconheceu que a vitória se deu por meio da oração do rosário e intercessão da Virgem Maria.
O Pontífice instituiu a festa inicialmente chamada de Santa Maria da Vitória, em 1573, o Papa Gregório XIII tornou a festa obrigatória em toda a Diocese de Roma e para as confrarias do Santo Rosário, sob o título de Santíssimo Rosário da Bem-aventurada Virgem Maria. Em 1716, o Papa Clemente XI inscreveu a festa no calendário romano, estendendo-se para toda a Igreja.
O Papa Leão XIII adicionou a ladainha Mariana a invocação “Rainha do Santíssimo Rosário”, em 10 de dezembro de 1883. Em 1913, o Papa Pio X, fixou a data da celebração em 07 de outubro, como permanece até hoje. Por isso, o mês de outubro é o Mês do Rosário e devemos fazer um esforço para rezarmos o terço durante esse mês. Através da oração do terço conseguiremos muitas graças para a nossa vida e venceremos muitas batalhas. Confie nessa oração, reúna a família e peça a proteção de Maria.
O Papa São João Paulo II, além de instituir um novo mistério ao Rosário, publica a carta Rosarium Virginis Mariae (2002). Espero que possamos nutrir o desejo de rezar o Rosário todos os dias e coloquemos como intenção a paz. Persistamos em nossos pedidos e anseios e com certeza a mãe de Jesus nos atenderá. A arma do cristão deve ser o terço, o cristão deve sempre trazer o terço no bolso ou na bolsa e no caminho do trabalho, da escola ou faculdade, rezar diariamente. Fonte: https://www.cnbb.org.br
Vizinho à igreja fechada: comerciante relata que estabelecimentos 'prestam favores' a criminosos no Andaraí
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Paróquias de São José e Nossa Senhora das Dores chegou a ser fechada após ameaça

Cartaz com aviso de suspensão das atividades foi retirado nesta sexta-feira — Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
Por João Vitor Costa
— Rio de Janeiro
A Paróquia de São José e Nossa Senhora das Dores, no Andaraí, foi fechada na última quinta-feira após ameaças de criminosos, que também chegaram a cobrar R$ 1 mil do pároco. Instalado na Rua Barão de Mesquita, endereço também de um batalhão da Polícia Militar e outro da Polícia do Exército, o templo religioso tem comércios no entorno que não pagam "taxas de segurança" a criminosos, substituídas por favores.
— Nunca cobraram nada. Só pedem favores no comércio do entorno, como quentinhas ou cestas básicas — relatou um comerciante, que respondeu ironicamente sobre o destino das doações. — Um negócio "sério". Seríssimo (risos). Aqui mudou muito: estou há 25 anos e nunca foi tão complicado quanto agora.
— Ninguém passou aqui. A gente fica só atento — disse outro comerciante, vizinho à São José.
Um aviso de suspensão das atividades chegou a ser colado na porta da paróquia. No dia seguinte, o templo foi reaberto. Uma viatura da PM está baseada na esquina das ruas Barão de Mesquita e Sousa Cruz, fazendo a segurança ao lado da igreja.
Essa foi a primeira vez que a paróquia precisou ser fechada após ameaças. Até o momento, não se sabe de onde partiu a ligação. Entre as hipóteses, está ainda a de que um estelionatário possa ter se aproveitado do clima de tensão nas comunidades do entorno para tentar tirar dinheiro da igreja.
Após a tomada do Comando Vermelho (CV) no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, esta é a última área do Terceiro Comando Puro (TCP) na Grande Tijuca. Os morros do Borel e do Andaraí também são dominadas pelo CV. No último sábado, dia de Cosme e Damião, a igreja dedicada aos santos gêmeos precisou fechar às pressas depois que um homem foi morto praticamente em frente ao templo religioso.
— Eles (bandidos) não respeitam mais coisa nenhuma. Sábado, teve tiroteio na porta da igreja, deixou dois feridos. Os caras descem o morro para duelar na rua. As calçadas cheias de criança e os vagabundos botando o terror? Infelizmente, não é só aqui — desabafa um morador da Rua Leopoldo.
A Paróquia de Cosme e Damião, então, voltou a ser fechada na quinta-feira, após ameaça de bandidos. Nesta sexta-feira, o templo também foi reaberto. Um trailer foi instalado pela PM na porta paróquia, para basear uma quantidade maior de policiais, além de viaturas.
Em nota, a corporação informa que foi implementado um policiamento preventivo, em conjunto com a 10ª UPP/6º BPM (Borel), no Andaraí, para "prevenir eventuais confrontos entre grupos rivais, garantindo a preservação da ordem pública, a segurança da comunidade e o pleno funcionamento das atividades religiosas e sociais na região". Uma reunião com lideranças religiosas foi marcada para "compreender detalhadamente os fatos, prestar orientações e reforçar o compromisso da Polícia Militar com a proteção da comunidade e a manutenção da normalidade no bairro", informa a PM.
Já a Arquidiocese do Rio informou, em nota, que "por prudência diante da instabilidade na região do Andaraí, algumas paróquias cancelaram suas atividades no dia 2/10/2025, mas tais atividades já se encontram normalizadas". Também esclareceu que "não solicitou reforço no policiamento; entretanto, as autoridades competentes, de forma espontânea, se colocaram à disposição e reforçaram a presença policial na região, visando a integridade dos fiéis, das comunidades paroquiais e de todos os moradores". Fonte: https://g1.globo.com
Santos Anjos da Guarda
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Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Celebramos no dia 02 de outubro a memória litúrgica dos Santos Anjos da Guarda. No dia 29 de setembro celebramos a festa dos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael e no dia 02 de outubro a memória dos Anjos da Guarda. Os Arcanjos nos ajudam através de Miguel no combate contra mal, através de Rafael a enfrentar a doença e através de Gabriel a anunciar a Palavra de Deus. Os Anjos da Guarda nos protegem no dia a dia nos livrando dos perigos, devemos sempre rezar a oração ao Anjo da Guarda: “Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, sempre me rege, me guarde e me ilumine, Amém!”
Existe uma hierarquia celeste conforme rezamos em alguns prefácios da santa missa, arcanjos, querubins, tronos, dominações, serafins, principados e os anjos. Rezemos diariamente ao nosso santo Anjo da Guarda, eles a exemplos dos nossos santos de devoção são nossos intercessores junto de Deus. Portanto, rezemos sobretudo para que a milicia celeste interceda por nós, principalmente aos arcanjos para enfrentar as dificuldades da vida e testemunharmos Jesus Cristo e ao Anjo da Guarda para que nos livre de todo e qualquer mal no dia a dia.
Por isso, se possível participe da Santa Missa nesse dia dedicado aos Anjos da Guarda, pedindo a intercessão deles para a sua a vida e agradecendo por eles nos terem livrado do mal até aqui. Os anjos fazem parte da Igreja celeste, por isso, eles têm um lugar especial do mesmo modo que os santos, e por isso, a Igreja reza por eles. Dessa maneira, podemos dizer que os anjos existem sim e intercedem por nós, e ainda, são os anjos que nos receberão no céu.
Não podemos deixar cair no esquecimento a devoção popular aos Anjos da Guarda. Temos que resgatar para as novas gerações, filhos, netos, afilhados e sobrinhos, a oração ao Anjo da Guarda e ensiná-los a pedir a proteção dos Santos anjos pela manhã ao sair de casa, em momentos de dificuldade e a noite antes de dormir.
Algumas pessoas também passam por nossa vida como anjos, nos ajudam nos momentos de dificuldades, estendem a mão para nós. Seja oferecendo emprego, dinheiro para sanar alguma dívida, ou até mesmo emprestam os ouvidos para nos escutar. São pessoas em que podemos contar todas as horas e que oferecem seu ombro amigo para nos dar força na caminhada da vida. Quem tem um amigo, encontrou um tesouro e ninguém pode viver sozinho, mas tem a necessidade de se relacionar com o outro.
Rezemos nesse dia por nosso protetor que é o Anjo da Guarda, para que continue nos livrando de todos os perigos. Os anjos são enviados de Deus para nos ajudar e direcionar para o caminho do bem. Eles representam a imagem do Deus uno e trino e nos transmitem a paz que vem do Senhor.
A palavra Anjo significa: “enviado, mensageiro divino”, encontramos na Sagrada Escritura algumas menções sobre os anjos serem mensageiros divinos, como por exemplo no salmo 91: “Pois Ele encarregará seus anjos de guardar-te em todos os teus caminhos”. Na anunciação do anjo a Maria e em outros momentos da vida de Jesus observamos a presença dos anjos como mensageiros do Senhor. O Cristo é o primogênito de toda a criatura, nosso irmão e modelo.
Os anjos intercedem por cada um de nós e nos livram de todo o mal, sempre estarão prontos para nos proteger. Como por exemplo está descrito em Mateus: “Guardai-vos de desprezar algum desses pequeninos, pois eu vos digo, nos céus os seus anjos se mantêm sem cessar na presença do meu Pai que está nos céus” (Mt 18,10).
A menção dos Anjos da Guarda como nossos protetores está presente em outros trechos da Sagrada Escritura, como no livro dos Atos dos Apóstolos, carta aos Hebreus, e ainda nos escritos de São Bernardo e Santo Tomás de Aquino. Confiemos na intercessão dos santos Anjos da Guarda e que eles nos apontem o caminho até Deus. “Não são todos (os anjos) eles espíritos cumpridores de funções e enviados a serviço, em proveito daqueles que devem receber a salvação como herança?” (Hb 1,14). Os anjos cumprem uma missão dada por Deus, são mensageiros do Senhor aqui na terra.
Desde o ano 800, a festa dos Anjos da Guarda era celebrada na Inglaterra, e a partir do ano 1111 surgiu a oração que apresentaremos a seguir. Da Inglaterra essa festa se estendeu universalmente, mais precisamente a partir do ano 1608 por determinação do Sumo Pontífice Paulo V. Rezemos agora a oração milenar dos santos Anjos da Guarda: “Anjo do Senhor – que por ordem da piedosa providência Divina, sois meu guardião – guardai-me neste dia (tarde ou noite); iluminai meu entendimento; dirigi meus afetos; governai meus sentimentos para que eu jamais ofenda ao Deus e Senhor. Amém”.
Celebremos com alegria a memória litúrgica dos santos anjos da guarda, se possível participe da missa nesse dia dedicado a eles, se não for possível reze ao longo do dia um Pai Nosso, uma Ave-Maria, uma glória ao Pai e a oração do Santo Anjo pedindo a intercessão dele por você. Acreditemos na intercessão dos anjos por nós. Fonte: https://www.cnbb.org.br
26º- Domingo do Tempo Comum- Havia um homem rico
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Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)
Havia um homem rico! A abertura de Lucas 16,19 é simples e lapidar. Não há nome, apenas uma condição que ocupa a cena. O grego fala de púrpura e linho finíssimo, porphyra e byssos, tecidos caros que tingem o corpo de distinção. O narrador acrescenta que ele se banqueteava “todos os dias” com esplendor, sugerindo uma vida inteira voltada para si, sem intervalo para a compaixão.
À porta, jogado como quem foi descartado, está Lázaro, um pobre com nome, e o seu nome já vale como teologia, pois significa “Deus ajuda”.
A narrativa de Lucas coloca lado a lado anonimato revestido de luxo e pobreza nomeada, invertendo a lógica social que costuma conhecer o rico e esquecer o pobre. Lázaro está coberto de feridas, desejava saciar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico e cães vinham lamber-lhe as feridas. Os cães, figuras impuras na cultura daqueles dias, tornam-se os únicos a tocar o corpo ferido.
O rico nunca atravessa o próprio portão para encontrar o outro. Nesse quadro dramático a morte chega para ambos.
Lázaro é levado pelos anjos ao seio de Abraão, imagem de consolo e banquete, lugar de proximidade ao patriarca. O rico morre e é sepultado, mas o detalhe que se segue é decisivo. No Hades, em tormentos, ele levanta os olhos e vê ao longe Abraão e Lázaro ao seu lado. O primeiro pedido que faz revela que nada mudou no seu modo de ver. Chama Abraão de pai e pede que Lázaro venha aliviar sua língua com umedecer de água. A cena desnuda o coração. Mesmo depois da morte, continua a ver Lázaro como subordinado, alguém que deveria servi-lo. Abraão responde com uma palavra que mistura ternura e verdade. Chama-o de filho e convida-o a lembrar que, em vida, recebeu bens, enquanto Lázaro recebeu males. Agora o consolo mudou de lugar e há um abismo que não permite passagem.
O abismo não é só um traço do além, mas figura do intervalo que o rico cavou em vida. A porta que nunca atravessou transformou-se em um precipício entre os mundos. Lázaro estava a poucos passos, mas esse pouco era vasto, porque o coração do rico não reconhecia proximidade. É uma geografia moral.
Os passos que não damos tornam-se distâncias que não se cruzam depois. A justiça da parábola não nasce de uma decisão tardia, mas brota da verdade de uma vida inteira inclinada sobre si.
O rico tenta um segundo pedido. Se Lázaro não pode vir, que ao menos vá avisar seus cinco irmãos, para que não venham parar no mesmo lugar. Abraão responde com sobriedade: eles têm Moisés e os Profetas! Que os ouçam!
A conversão não depende de espetáculos. Depende de ouvir a Escritura que já pede mãos abertas e coração vigilante. O rico insiste que se alguém dentre os mortos for até eles, hão de se arrepender. Abraão encerra o diálogo com lucidez que desarma a curiosidade do milagreiro. Se não escutam Moisés e os Profetas, nem mesmo se alguém ressuscitar os convencerá.
Esse texto é para uma comunidade que já conhece a ressurreição de Jesus. Por isso, o recado é claro.
A exegese do relato ganha espessura quando o recolocamos no arco do Evangelho. Pouco antes, Jesus advertira que ninguém pode servir a Deus e ao dinheiro. Lucas acrescenta que os fariseus, amigos do dinheiro, zombavam dele, e Jesus lhes disse que Deus conhece os corações. A parábola cai exatamente nessa discussão. Não é uma condenação genérica da riqueza, e sim uma denúncia de um modo de vida que ignora a proximidade do pobre e transforma bens em muralhas. Em Lc 14, os convidados de um banquete buscam os primeiros lugares e recusam a presença dos pequenos. Em Lc 15, o Pai faz festa pela volta do filho perdido. Em Lc 16, um administrador astuto aprende a usar o dinheiro para o futuro. O homem rico da nossa história ignora tudo isso. Festeja a si mesmo, não usa os bens para fazer amigos junto a Deus, não vê o irmão à porta. A parábola narra a omissão que se repete até virar crueldade.
Também a escolha dos termos carrega precisão. O rico é plousios, palavra que no contexto ressoa advertência. Lázaro é ptōchos, o pobre que não tem de onde tirar sustento. Ele “foi colocado” à porta, sugerindo que outro o pôs ali, como quem deposita o que não quer guardar. A mesa do rico tem migalhas que caem. Lucas deixa ver que bastaria pouco para mudar o destino daquele homem. A resposta de Abraão retoma a lógica dos “ai de vós, ricos” e das bem-aventuranças “felizes vós, os pobres” do capítulo 6. A inversão não é capricho nem vingança. É a justiça do Reino que coloca cada um no lugar que corresponde ao amor que praticou.
Lázaro chega ao banquete que não se encerra. A ironia é fina: quem mais comia descobre a fome, quem mais sofria, pelo critério da misericórdia, chega à saciedade.
Quando a narrativa se apoia em “Moisés e os Profetas”, convoca passagens que o ouvinte reconhecia de memória. A Lei que ordena abrir a mão ao pobre. Os profetas que denunciam o luxo e banquetes indiferentes enquanto o povo geme, quase que convocando Isaías que chama de jejum verdadeiro partir o pão com quem tem fome.
O rico, daquele tempo, e de hoje em dia, não precisa de revelações extraordinárias, basta cumprir o que já fora dito e a regra universal da fraternidade. Por isso, o pedido de um sinal vindo dos mortos soa como fuga. O problema não estava na falta de luz, mas na recusa do olhar.
O rico chama Abraão de pai e é reconhecido como filho. A descendência não é negada, contudo, a herança é distribuída para quem chama de irmão aquele que está caído à porta. O parentesco com o patriarca não dispensa a prática da justiça. O homem que vestia púrpura e linho ignorou o fio que entrelaça a mesa de Deus com a mesa da humanidade. Fonte: https://www.cnbb.org.br
Papa nomeia novo Prefeito do Dicastério para os Bispos
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Dom Filippo Iannone, O. Carm, também foi nomeado Presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina (CAL)
A Sala de Imprensa da Santa Sé divulgou, em seu boletim da sexta-feira, 26, que “o Santo Padre nomeou como Prefeito do Dicastério para os Bispos e Presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina (CAL), a Sua Excelência Reverendíssima Monsenhor Filippo Iannone, O.Carm, até então Prefeito do Dicastério para os Textos Legislativos”.
Nascido na Itália, Dom Filippo, 67 anos, tomará posse na função em 15 de outubro. Este Dicastério tinha como prefeito anteriormente o Cardeal Robert Prevost, eleito Papa no Conclave em 8 de maio deste ano.
No mesmo comunicado, é informado que Leão XIV confirmou como Secretário do Dicastério para o Bispos por mais cinco anos o Monsenhor Ilson de Jesús Montanari, brasileiro; e por igual tempo, o Monsenhor Ivan Kovač como Subscretário do mesmo Dicastério.
TRAJETÓRIA ECLESIAL
Carmelita, jurista e canonista, Dom Filippo Iannone possui vasta experiência em tribunais, universidades pontifícias e na vida diocesana. Ocupou diversos cargos em Roma, incluindo o de membro do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica, consultor da então Congregação para os Institutos de Vida Consagrada, membro do Conselho para os Assuntos Jurídicos da Conferência Episcopal Italiana (CEI), Presidente da Comissão para os Edifícios Religiosos e membro da Conferência Episcopal do Lácio.
Nomeado Bispo Auxiliar de Nápoles em 2001, por São João Paulo II, ali permaneceu até 2009, quando foi nomeado por Bento XVI como Bispo de Sora-Cassino-Aquino-Pontecorvo. Em 2012, foi designado como Vice-gerente de Roma, permanecendo na função até 2017, quando o Papa Francisco o nomeou Secretário adjunto do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos. Tornou-se presidente do mesmo organismo em 7 de abril de 2018.
(Com informações do Vatican News em Espanhol e Português). Fonte: https://osaopaulo.org.br
Polícia investiga morte de homem com esquizofrenia após ser enforcado dentro de Igreja Universal em Marechal Hermes
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Giusepe Bastos de Sousa, de 31 anos, chegou a ser levado para a UPA do bairro, mas morreu um dia depois
Por Madson Gama
— Rio de Janeiro
A Polícia Civil do Rio de Janeiro (PCERJ) abriu um processo para investigar a morte de um homem com esquizofrenia paranoide que morreu um dia após sofrer agressões dentro de uma unidade da Igreja Universal do Reino de Deus na Rua Aurélio Valporto, em Marechal Hermes, na Zona Norte do Rio. A família conta que Giusepe Bastos de Sousa, de 31 anos, que foi diagnosticado com a doença há cinco, teve um surto em casa por volta das 17h do último domingo, ficou agressivo e saiu para a rua. A mãe foi atrás e o encontrou dentro do templo, que Giusepe frequentava há cerca de três anos, já estirado no chão e imobilizado por um pastor. Logo em seguida, ligou para uma das irmãs da vítima, a operadora de telemarketing Desire Bastos de Sousa, que testemunhou o irmão já inconsciente ao chegar ao local.
— O pastor estava em cima do meu irmão com todo o peso dele, imobilizando seu pescoço. Meu irmão já não apresentava sinais de vida; estava desacordado. Os membros da igreja não queriam deixar que eu me aproximasse dele, dizendo que ele estava dormindo e que iria ficar tudo bem. Então, chamamos o Samu. Os socorristas entraram na igreja e pediram que o pastor saísse de cima dele. Não encontraram sinais vitais no pulso e tentaram reanimá-lo. Até que, na terceira tentativa, ele apresentou pulsação, apesar de ainda estar muito mole, e o levaram para a UPA de Marechal Hermes — detalhou Desire. — Tudo aconteceu no estacionamento da igreja. Enquanto isso, o culto continuava acontecendo normalmente, mesmo com meu irmão quase morto.
De acordo com a irmã, os membros da igreja alegaram que Giusepe chegou exaltado, quebrou um dos portões e tentou agredir uma pessoa no local.
— Mesmo que isso seja verdade, ele era esquizofrênico e estava em surto. Não estava fazendo aquilo de forma racional, estava doente. Bastava simplesmente o conterem, segurando braços e pernas, já que havia homens fortes no local. Poderiam até amarrar, contanto que não tirassem a vida dele, e chamar a polícia. Mas asfixiaram e mataram meu irmão. Outras pessoas da minha família que chegaram antes de mim disseram que tinha uns quatro homens em cima dele. Foi uma covardia — protesta a irmã.
Antes de ser diagnosticado com esquizofrenia, Giusepe praticava atividade física — Foto: Reprodução
A morte de Giusepe foi declarada na manhã de segunda-feira (15). A declaração de óbito emitida pela unidade de saúde informa que foram identificados sinais de asfixia por constrição da região cervical, que ocorre quando há compressão do pescoço, e broncoaspiração, entrada acidental de substâncias no pulmão, como saliva. Foram identificadas escoriações e hematomas no antebraço e nos dedos direitos e na parte da frente do pescoço.
— Quando fui ver o corpo dele, havia sinais claros de enforcamento e estrangulamento, com marcas roxas no pescoço e feridas na boca, no braço e na testa dele — lamenta Desire.
A Fundação Saúde, que administra a Unidade de Pronto Atendimento de Marechal Hermes, informa que o paciente deu entrada na unidade na noite de domingo em estado grave e que ele foi prontamente atendido por equipe multidisciplinar, que prestou toda a assistência necessária a seu quadro de saúde. Apesar dos esforços, diz, o paciente morreu na manhã de segunda-feira.
O caso foi registrado na 30ª DP Marechal Hermes ainda no domingo, antes da morte, como lesão corporal.
— Já ouvimos algumas pessoas. Hoje (quarta-feira), estivemos lá. A igreja informou que não há gravação de imagem das câmeras. Estamos aguardando o laudo cadavérico para indicação exata da causa da morte, quais as lesões que ele possui e para retificar o registro de acordo com a causa da morte — diz o delegado Flávio Loureiro.
"O melhor dos quatro filhos"
Desire descreve Giusepe como alguém originalmente caseiro, carinhoso e inteligente. Gostava de ler, desenhar e ver filmes.
— Meu irmão era o melhor entre os quatro filhos que minha teve. Não bebia, não usava drogas e não costumava ficar na rua. Tinha uma vida ativa antes da doença, serviu ao Exército, trabalhou como garagista e malhava, além de sempre ter o hábito de buscar a Deus. Era respeitoso, sábio e calmo. Mas, infelizmente, houve uma mudança de personalidade após o diagnóstico da esquizofrenia. A família sempre tentou tratamento, mas ele não conseguiu reconhecer que estava doente e que precisava de ajuda. Não aceitava tomar medicamentos, apesar dos esforços insistentes da família. E se tornou alguém muito desconfiado, o que é uma característica da doença — relata Desire.
O corpo de Giusepe foi sepultado na tarde de quarta-feira, no Cemitério de Irajá. A irmã diz que a família está inconformada.
— Até agora, não estou conseguindo digerir o que aconteceu. Não consigo achar conforto e ficar bem. Se eu não tomar remédio, eu não durmo. Meu pai está desolado, porque meu irmão era o melhor amigo dele. Era com quem ele conversava sempre que chegava do trabalho. A família toda está indignada com a situação. Todo mundo que conhecia verdadeiramente o meu irmão sabe que ele não merecia isso, que ele não era um monstro. Ele não merecia esse fim — lamenta Desire. — O mínimo agora é que a Justiça seja feita. Que todos paguem. Não pode haver alívio para quem tirou o filho, o irmão, uma pessoa querida das nossas vidas.
O que diz a Igreja Universal
Questionada, a Igreja Universal diz que, no último domingo, "um homem em estado de agitação chegou ao templo em Marechal Hermes, causando preocupação entre os presentes. Durante o episódio, ele se feriu ao quebrar uma porta de vidro e agrediu um frequentador. A situação envolveu também uma voluntária da Igreja, que foi perseguida até o estacionamento. A equipe da Igreja agiu prontamente para proteger os presentes e aguardou a chegada do Samu e da polícia, já acionados. A Instituição registrou boletim de ocorrência e está colaborando com as autoridades competentes". Fonte: https://oglobo.globo.com
Quinta-feira, 18 de setembro-2025. 24ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Ó Deus, criador de todas as coisas, volvei para nós o vosso olhar e, para sentirmos em nós a ação do vosso amor, fazei que vos sirvamos de todo o coração. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 7,36-50)
36Um fariseu convidou Jesus a ir comer com ele. Jesus entrou na casa dele e pôs-se à mesa. 37Uma mulher pecadora da cidade, quando soube que estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um vaso de alabastro cheio de perfume; 38e, estando a seus pés, por detrás dele, começou a chorar. Pouco depois suas lágrimas banhavam os pés do Senhor e ela os enxugava com os cabelos, beijava-os e os ungia com o perfume. 39Ao presenciar isto, o fariseu, que o tinha convidado, dizia consigo mesmo: Se este homem fosse profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que o toca, pois é pecadora. 40Então Jesus lhe disse: Simão, tenho uma coisa a dizer-te. Fala, Mestre, disse ele. 41Um credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos denários e o outro, cinqüenta. 42Não tendo eles com que pagar, perdoou a ambos a sua dívida. Qual deles o amará mais? 43Simão respondeu: A meu ver, aquele a quem ele mais perdoou. Jesus replicou-lhe: Julgaste bem. 44E voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para lavar os pés; mas esta, com as suas lágrimas, regou-me os pés e enxugou-os com os seus cabelos. 45Não me deste o ósculo; mas esta, desde que entrou, não cessou de beijar-me os pés. 46Não me ungiste a cabeça com óleo; mas esta, com perfume, ungiu-me os pés. 47Por isso te digo: seus numerosos pecados lhe foram perdoados, porque ela tem demonstrado muito amor. Mas ao que pouco se perdoa, pouco ama. 48E disse a ela: Perdoados te são os pecados. 49Os que estavam com ele à mesa começaram a dizer, então: Quem é este homem que até perdoa pecados? 50Mas Jesus, dirigindo-se à mulher, disse-lhe: Tua fé te salvou; vai em paz.
3) Reflexão
O evangelho de hoje traz o episódio da moça de perfume que foi acolhida por Jesus durante uma refeição na casa de Simão, o fariseu. Um dos aspecto da novidade que a Boa Nova de Deus traz é a atitude surpreendente de Jesus para com as mulheres. Na época do Novo Testamento, a mulher vivia marginalizada. Na sinagoga ela não participava, na vida pública não podia ser testemunha. Muitas mulheres, porém, resistiam contra sua exclusão. Desde os tempos de Esdras, crescia a marginalização das mulheres pelas autoridades religiosas (Esd 9,1 a 10,44) e crescia também a resistência das mulheres contra a sua exclusão, como transparece nas histórias de Judite, Ester, Rute, Noemi, Suzana, da Sulamita e de tantas outras. Esta resistência encontrou eco e acolhida em Jesus. No episódio da moça do perfume transparecem o inconformismo e a resistência das mulheres no dia-a-dia da vida e o acolhimento que Jesus lhes dava.
Lucas 7,36-38: A situação que provocou o debate
Três pessoas totalmente diferentes se encontram: Jesus, Simão, o fariseu, um judeu praticante, e a moça, da qual diziam que era pecadora. Jesus está na casa de Simão que o convidou para um jantar. A moça entra, coloca-se aos pés de Jesus, começa a chorar, molha os pés de Jesus com as lágrimas, solta os cabelos para enxugá-los, beija e unge os pés com perfume. Soltar os cabelos em público era um gesto de independência. Jesus não se retrai nem afasta a moça, mas acolhe o gesto dela.
Lucas 7,39-40: A reação do fariseu e a resposta de Jesus
Jesus estava acolhendo uma pessoa que, conforme os costumes da época, não podia ser acolhida, pois era pecadora. O fariseu, observando tudo, critica Jesus e condena a mulher: "Se este homem fosse um profeta, saberia que tipo de mulher é esta que o toca, pois é uma pecadora!" Jesus usa uma parábola para responder à provocação do fariseu.
Lucas 7,41-43: A parábola dos dois devedores
Um devia 500 denários, o outro, 50. Nenhum dos dois tinha como pagar. Ambos foram perdoados. Qual dos dois terá mais amor? Resposta do fariseu: "Amará mais aquele a quem mais se perdoa!". A parábola supõe que os dois, tanto o fariseu como a moça, tinham recebido algum favor de Jesus. Na atitude que os dois tomam diante de Jesus, mostram como apreciam o favor recebido. O fariseu mostra o seu amor, a sua gratidão, convidando Jesus para o jantar. A moça mostra o seu amor, a sua gratidão, através das lágrimas, dos beijos e do perfume.
Lucas 7,44-47: O recado de Jesus para o fariseu.
Depois de receber a resposta do fariseu, Jesus aplica a parábola. Mesmo estando na casa do próprio fariseu, a convite do mesmo, Jesus não perde a liberdade de falar e de agir. Defende a moça contra a crítica do judeu praticante. O recado de Jesus para os fariseus de todos os tempos é este: "Aquele, a quem pouco foi perdoado, mostra pouco amor!" Um fariseu acha que ele não tem pecado, porque observa em tudo a lei. A segurança pessoal que eu, fariseu, crio para mim pela observância das leis de Deus e da Igreja, muitas vezes, me impede de experimentar a gratuidade do amor de Deus. O que importa não é a observância da lei em si, mas sim o amor com que observo a lei. E usando os símbolos do amor da moça, Jesus dá a resposta ao fariseu que se considerava em paz com Deus: "Você não me deu água para lavar os pés, não me deu o beijo de acolhida, não me deu água de cheiro! Simão, apesar de todo o banquete que me ofereceu, você tem pouco amor!"
Lucas 7,48-50: Palavra de Jesus para a moça
Jesus declara a moça perdoada e acrescenta: "Tua fé te salvou! Vai em paz!" Aqui transparece a novidade da atitude de Jesus. Ele não condena, mas acolhe. E foi a fé que ajudou a moça a se recompor e a se reencontrar consigo mesma e com Deus. No relacionamento com Jesus, uma força nova despertou dentro dela e a fez renascer.
4) Para um confronto pessoal
1) Onde, quando e como as moças são desprezadas pelos fariseus de hoje ?
2) A moça certamente não teria feito o que fez, se não tivesse antes a certeza absoluta de ser acolhida por Jesus. Será que os marginalizados e os pecadores de hoje têm a mesma certeza a nosso respeito?
5) Oração final
O Senhor é bom, sua misericórdia é eterna e sua fidelidade se estende de geração em geração. (Sl 99)
Terça-feira, 16 de setembro-2019. 24ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Ó Deus, criador de todas as coisas, volvei para nós o vosso olhar e, para sentirmos em nós a ação do vosso amor, fazei que vos sirvamos de todo o coração. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 7,11-17)
11No dia seguinte dirigiu-se Jesus a uma cidade chamada Naim. Iam com ele diversos discípulos e muito povo.12Ao chegar perto da porta da cidade, eis que levavam um defunto a ser sepultado, filho único de uma viúva; acompanhava-a muita gente da cidade.13Vendo-a o Senhor, movido de compaixão para com ela, disse-lhe: Não chores! 14E aproximando-se, tocou no esquife, e os que o levavam pararam. Disse Jesus: Moço, eu te ordeno, levanta-te.15Sentou-se o que estivera morto e começou a falar, e Jesus entregou-o à sua mãe.16Apoderou-se de todos o temor, e glorificavam a Deus, dizendo: Um grande profeta surgiu entre nós: Deus voltou os olhos para o seu povo.17A notícia deste fato correu por toda a Judéia e por toda a circunvizinhança.
3) Reflexão Lucas 7,11-17
O evangelho de hoje traz o episódio da ressurreição do filho da viúva de Naim. É esclarecedor o contexto literário deste episódio no capítulo 7 do Evangelho de Lucas. O evangelista quer mostrar como Jesus vai abrindo o caminho, revelando a novidade de Deus que avança através do anúncio da Boa Nova. A transformação e a abertura vão acontecendo: Jesus acolhe o pedido de um estrangeiro não judeu (Lc 7,1-10) e ressuscita o filho de uma viúva (Lc 7,11-17). A maneira como Jesus revela o Reino surpreende aos irmãos judeus que não estavam acostumados com tão grande abertura. Até João Batista ficou perdido e mandou perguntar: “É o senhor ou devemos esperar por outro?” (Lc 7,18-30). Jesus chegou a denunciar a incoerência dos seus patrícios: "Vocês parecem crianças que não sabem o que querem!" (Lc 7,31-35). E no fim, a abertura de Jesus para com as mulheres (Lc 7,36-50).
Lucas 7,11-12: O encontro das duas procissões
“Jesus foi para uma cidade chamada Naim. Com ele iam os discípulos e uma grande multidão. Quando chegou à porta da cidade, eis que levavam um defunto para enterrar; era filho único, e sua mãe era viúva. Grande multidão da cidade ia com ela”. Lucas é como um pintor. Com poucas palavras consegue pintar o quadro tão bonito do encontro das duas procissões: a procissão da morte que sai da cidade e acompanha a viúva que leva seu filho único para o cemitério; a procissão da vida que entra na cidade e acompanha Jesus. As duas se encontram na pequena praça junto à porta da cidade de Naim.
Lucas 7,13: A compaixão entra em ação
“Ao vê-la, o Senhor teve compaixão dela, e lhe disse: Não chore!" É a compaixão que leva Jesus a falar e a agir. Compaixão significa literalmente “sofrer com”, assumir a dor da outra pessoa, identificar-se com ela, sentir com ela a dor. É a compaixão que aciona em Jesus o poder, o poder da vida sobre a morte, poder criador.
Lucas 7,14-15: "Jovem, eu lhe ordeno, levante-se!"
Jesus se aproxima, toca no caixão e diz: "Jovem, eu lhe ordeno, levante-se!" O morto sentou-se, e começou a falar. E Jesus o entregou à sua mãe”. Às vezes, na hora de um grande sofrimento provocado pelo falecimento de uma pessoa querida, as pessoas dizem: “Naquele tempo, quando Jesus andava pela terra havia esperança de não perder uma pessoa querida, pois Jesus poderia ressuscitá-la”. Elas olham o episódio da ressurreição do filho da viúva de Naim como um evento do passado que apenas suscita saudade e uma certa inveja. A intenção do evangelho, porém, não é suscitar saudade nem inveja, mas sim ajudar-nos a experimentar melhor a presença viva de Jesus em nós. É o mesmo Jesus, capaz de vencer a morte e a dor da morte, que continua vivo no meio de nós. Ele está hoje conosco e, diante dos problemas e do sofrimento que nos abatem, ele nos diz: “Eu lhe ordeno: levante-se!”
Lucas 7,16-17: A repercussão
“Todos ficaram com muito medo, e glorificavam a Deus, dizendo: "Um grande profeta apareceu entre nós, e Deus veio visitar o seu povo." E a notícia do fato se espalhou pela Judéia inteira, e por toda a redondeza” É o profeta que foi anunciado por Moisés (Dt 18,15). O Deus que nos veio visitar é o “Pai dos órfãos e o protetor das viúvas” (Sl 68,6; cf. Judite 9,11).
4) Para um confronto pessoal
1) Foi a compaixão que levou Jesus a ressuscitar o filho da viúva. Será que o sofrimento dos outros provoca em nós a mesma compaixão? O que faço para ajudar o outro a vencer a dor e criar vida nova?
2) Deus visitou o seu povo. Percebo as muitas visitas de Deus na minha vida e na vida do povo?
5) Oração final
Aclamai o Senhor, por toda a terra. Servi o Senhor com alegria. Vinde, entrai exultantes em sua presença. (Sl 99,1-2)
A Cruz: lugar onde nasce a esperança
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Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)
A liturgia da Exaltação da Santa Cruz nos convida a contemplar o madeiro no qual Cristo entregou a vida por nós. Aos olhos do mundo, a cruz é sinal de fracasso, humilhação e morte. Mas, na fé, descobrimos que ela é o trono de Cristo, onde Ele reina pelo amor e inaugura um novo tempo para toda a humanidade: não mais o domínio do pecado e da morte, mas o reinado da graça e da vida no Espírito.
Na Carta aos Romanos, Paulo ensina que o batismo nos une de tal forma à cruz de Cristo que podemos dizer: fomos “sepultados com Ele na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dos mortos, também nós vivamos uma vida nova” (Rm 6,4). Pela cruz, morremos para o pecado; pela ressurreição, vivemos para Deus. A cruz não é, portanto, um episódio isolado da vida de Jesus: é o ponto decisivo da história humana. Nela, o amor venceu o egoísmo, a obediência venceu a rebeldia, a vida venceu a morte.
A cruz: vitória que sustenta a esperança
Paulo sabe que essa vitória não nos dispensa da luta. O pecado ainda tenta dominar “os nossos membros” (Rm 6,12), e as forças de morte continuam presentes no mundo. Mas quem vive unido a Cristo já não pertence à velha escravidão. A cruz se torna, então, a força que sustenta a nossa resistência e o fundamento da nossa esperança: “a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo” (Rm 5,5).
Celebrar a Exaltação da Santa Cruz é reconhecer que nossa liberdade custou o preço do sangue de Cristo. Por isso, não podemos viver de forma superficial ou indiferente. Aquele que foi “obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2,8) nos chama a viver na novidade de vida, como servidores da justiça e construtores de paz.
O capítulo 7 de Romanos lembra que, antes da cruz, estávamos sob o peso da Lei, incapazes de cumprir plenamente a vontade de Deus. A cruz liberta desse “corpo de morte” (Rm 7,24) e abre o caminho para o dom do Espírito, que escreve a Lei no coração e nos conduz à vida eterna. Assim, a cruz não é um fardo inútil, mas a ponte entre a nossa fragilidade e a misericórdia de Deus.
A espiritualidade da Cruz
Viver a espiritualidade da cruz significa aprender a olhar para a vida a partir do amor que se entrega totalmente. A cruz não é um convite ao sofrimento pelo sofrimento, mas à doação livre que transforma o sofrimento em oferta de amor.
Quando o cristão carrega a sua cruz — seja nas lutas diárias, nas renúncias silenciosas, no cuidado fiel pelos outros —, ele se une ao caminho de Cristo e participa de sua obra redentora. A espiritualidade da cruz nos ensina a confiar mesmo quando não compreendemos, a perdoar quando fomos feridos, a servir quando seria mais fácil recuar.
Assim, a cruz se torna uma escola de humildade, fortaleza e misericórdia, moldando em nós o coração do próprio Cristo, que venceu não com poder e violência, mas com a força mansa e invencível do amor.
A Cruz: reconciliação e missão
A Igreja proclama: “Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos, porque pela vossa santa cruz remistes o mundo.” A esperança cristã nasce desse mistério: o Filho de Deus assumiu o que havia de mais doloroso e vergonhoso em nossa condição humana e o transformou em fonte de vida. Quem abraça a cruz, abraça a certeza de que nada — nem o pecado, nem a morte — poderá separar-nos do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus (cf. Rm 8,39).
A cruz permanece erguida no centro da história como sinal de definitivo de reconciliação. É nela que Deus nos reconcilia consigo e nos dá a missão de reconciliar o mundo: famílias feridas, sociedades divididas, povos em conflito. Olhar para a cruz é deixar-se configurar ao Crucificado, para que também nossas palavras e gestos se tornem sementes de esperança.
Que, ao celebrarmos a Exaltação da Santa Cruz, renovemos nossa decisão de viver como batizados: mortos para o pecado, vivos para Deus, peregrinos de esperança. Pois na cruz encontramos a resposta para o clamor humano e a garantia de que a graça sempre terá a última palavra. Fonte: https://www.cnbb.org.br
Padre Ruan anuncia afastamento da Paróquia de Independência
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A comunidade católica de Independência foi surpreendida na noite deste domingo (07) com o anúncio do afastamento do padre Ruan Cordeiro da Paróquia Senhora Sant’Ana, da cidade de Independência. O comunicado teria sido feito aos fiéis, pelo Padre Denilson, durante a celebração da missa dominical.
Até o momento, não há comunicado oficial da Diocese de Crateús sobre o caso. No entanto, circula uma versão de que a decisão de afastamento teria partido do próprio religioso e outra de que a decisão teria sido da Diocese.
Testemunhas relataram que, logo após a notícia, padre Ruan deixou o templo e teria embarcado em um veículo que o aguardava em frente à igreja.
Conhecido por sua forma carismática de evangelizar e por unir fé e tradições nordestinas como a vaquejada, padre Ruan ganhou destaque nos últimos meses, inclusive viralizando em redes sociais. O afastamento, portanto, gerou surpresa e forte repercussão entre os fiéis da região.
Agora, a comunidade aguarda definição sobre quem assumirá a condução da Paróquia Senhora Sant’Ana e detalhes sobre os rumos pastorais após a saída do sacerdote.
Padre quiterianopolense
Antônio Ruan Cordeiro Oliveira foi o primeiro filho de Quiterianópolis a se ordenar padre. Sua ordenação foi no dia 10 de fevereiro de 2024, em missa na Igreja da Santíssima Trindade, em Quiterianópolis, presidida pelo bispo da Diocese de Crateús, Dom Ailton Menegussi.
Reportagem: Nossa TV Crateús/Cícero Lacerda Fonte: https://blogdowilrismar.com.br
Mãe de Acutis: Carlo é uma ponte que leva a Jesus.
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No dia da canonização do filho, Antônia Salzano fala da emoçõe de um evento que mudou a vida dela e de sua família: muitos se converteram ao ver seu exemplo, e sua lembrança mais querida é a generosidade que ele sempre demonstrou em amar a Deus e ao próximo.

Antonia Salzano Acutis, mãe de Carlo.
Daniele Piccini – Cidade do Vaticano
Não é fácil imaginar os sentimentos de uma mãe ao ver seu filho ser proclamado Santo diante de dezenas de milhares de pessoas, tendo a consicência que são milhares os devotos em todo o mundo, que a ele dirigem orações e o guardam em seus corações.
Antonia Salzano, mãe de Carlo Acutis, estava presente neste domingo, 7 de setembro, juntamente com o marido e os filhos, na Missa de canonização presidida pelo Papa Leão XIV. Ela compartilha com a Rádio Vaticano o caminho que percorreu ao longo desses anos, e que culminou na cerimônia na Praça de São Pedro.
Sra. Acutis, como a senhora vivenciou as horas que antecederam a Missa de canonização?
Estou feliz porque é certamente o ápice de um caminho que durou muitos anos, durante a qual recebemos tantas surpresas maravilhosas do Carlo. Todos os dias recebemos notícias de milagres e conversões. Portanto, os fiéis certamente ficarão contentes. Estou emocionada, mas também calma, serena, porque esta canonização terá os efeitos que todos os fiéis esperavam. O Carlo tem fiéis em todo o mundo — da China, do Japão, dos Estados Unidos, da América Latina. Estou especialmente feliz por eles. Acredito que o Carlo está tocando tantos corações, tantas vidas, com seu exemplo, com sua fé contagiante, e isso me deixa muito feliz.
Há alguma lembrança específica do seu filho que lhe vem à mente com mais insistência neste momento?
O Carlo deixou tantas lembranças bonitas, sua grande fé, sua grande devoção. Lembro-me de que, quando ele estava organizando a exposição sobre os Milagres Eucarísticos, ele estava preocupado. "Há filas que se estendem por quilômetros em um show, em um jogo de futebol - disse ele - mas eu não vejo essas filas em frente ao Sacrário onde está a vida e a presença real de Cristo."
E eu me lembro dele trabalhando, quando eu estava de férias, até às duas ou três da manhã, e minha mãe, que dormia com ele, dizia: "Mas, Carlo, deixe a Igreja fazer essas coisas!". Mas ele passava todos os verões organizando as coisas. Ele fazia questão de que as pessoas entendessem a importância da Eucaristia. Certamente, a lembrança mais querida que tenho de Carlo é essa generosidade, esse amor pelos outros e, acima de tudo, por Deus.
Como você imagina sua vida a partir de amanhã?
Minha vida de fé será sempre a mesma. A vida é uma caminhada rumo à santidade. Espero que nós também possamos progredir, porque todos somos limitados, estamos em uma jornada, nosso destino é o céu. Mas a vida apresenta obstáculos, fragilidades, temos tantas. Gostaria de ter essas graças suficientes para ajudar a mim e à minha família. Gostaria também de poder seguir esse caminho de santificação. Mas gostaria que todos os devotos de Carlo também recebessem essa graça. Ele serve como uma ponte, uma ponte para chegar a Jesus. Fonte: https://www.vaticannews.va
Canonização de Pier Giorgio Frassati: exemplo de fé, juventude e compromisso com os pobres
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No próximo dia 7 de setembro, a Praça de São Pedro, no Vaticano, recebe um momento histórico para a Igreja: a celebração eucarística e o rito da canonização do Beato Pier Giorgio Frassati, ao lado do Beato Carlo Acutis. A celebração será presidida pelo Papa Leão XIV, às 5h (de Brasília).
Nascido em Turim, em 1901, Frassati viveu apenas 24 anos, mas deixou um testemunho de fé, alegria e serviço que continua inspirando jovens e adultos em todo o mundo. Apaixonado pela Eucaristia e devoto da Virgem Maria, ele assumiu o lema “oração, ação e sacrifício” como caminho para a santidade.
Serviço aos pobres e relação com o Brasil e os jovens
Um dos aspectos mais marcantes da vida de Frassati foi seu vínculo com a Sociedade de São Vicente de Paulo. Ainda estudante, ele se uniu às Conferências Vicentinas em Turim e dedicou sua juventude ao serviço dos mais vulneráveis: visitava doentes, distribuía alimentos e roupas e partilhava tempo e atenção com os mais necessitados.
Essa ligação com os vicentinos aproxima Frassati do Brasil, país que abriga a maior Sociedade de São Vicente de Paulo do mundo. Milhares de jovens vicentinos brasileiros reconhecem nele um modelo de espiritualidade e de compromisso social, já que Frassati é considerado Padroeiro das Juventudes Vicentinas.
Um jovem apaixonado por Deus e pela vida
Frassati conciliava seu amor aos pobres com uma vida intensa e cheia de entusiasmo. Montanhista, amante das artes e engajado politicamente em defesa da justiça social, ele fazia da amizade e da convivência com os colegas ocasiões de apostolado. Seu testemunho mostra que a santidade não está distante da vida cotidiana, mas pode florescer na simplicidade de cada dia.
O Papa Leão XIV recordou recentemente que “a vida de Pier Giorgio, simples e luminosa, nos lembra que, assim como ninguém nasce campeão, também ninguém nasce santo”. Sua canonização confirma a atualidade de seu exemplo, sobretudo para os jovens que buscam unir fé, compromisso social e alegria de viver.
Ao ser elevado às honras dos altares, Pier Giorgio Frassati passa a ser reconhecido universalmente como Santo, deixando para a Igreja e para o Brasil uma herança de esperança e coragem: a certeza de que é possível ser cristão no mundo, vivendo a fé com autenticidade e transformando-a em serviço ao próximo.
Dados biográficos
Pier Giorgio Frassati nasceu em Turim, em 6 de abril de 1901, em uma família de prestígio: o pai, Alfredo, era fundador e diretor do jornal La Stampa, e a mãe, Adelaide Ametis, uma artista de temperamento forte. Desde cedo, Pier Giorgio revelou uma fé que surpreendia em meio a um lar de convicções diversas: o pai, agnóstico; a mãe, formalmente crente. Essa fé, amadurecida ao longo dos anos, tornou-se o centro de sua vida.
Estudou no Instituto Social, dos jesuítas, onde passou a comungar diariamente e se engajou nas Conferências Vicentinas, dedicando-se ao serviço dos pobres. Em 1918 ingressou no Politécnico de Turim, com o desejo de ser engenheiro de minas para estar próximo dos trabalhadores. Foi ativo na Juventude Católica, adotando como lema: oração, ação e sacrifício.
Com uma vida de intensa espiritualidade, sustentada pela Eucaristia, oração e leitura da Palavra de Deus, Pier Giorgio via Cristo nos mais necessitados. Percorria as ruas de Turim, visitava os bairros pobres, os hospitais e o Cottolengo, sempre levando apoio material e espiritual. Ao mesmo tempo, participou da vida social e política, ingressando no Partido Popular Italiano e posicionando-se firmemente contra o fascismo nascente.
Apaixonado pelas montanhas, pela arte e pela amizade, reunia jovens em grupos que uniam lazer, cultura e evangelização. Ingressou na Ordem Terceira Dominicana em 1922, assumindo o nome de “Fra Girolamo”.
Sua vida, marcada pela alegria, generosidade e compromisso cristão, foi interrompida aos 24 anos, em 4 de julho de 1925, quando contraiu poliomielite fulminante ao servir os pobres. Seu funeral reuniu multidões, revelando a grandeza de seu testemunho. Em 1990, foi beatificado por São João Paulo II, que o chamou de “o homem das oito bem-aventuranças”.
O Papa Francisco, em novembro de 2024, reconheceu o milagre que abriu caminho para a canonização do beato. Pela intercessão de Pier Giorgio, o seminarista Juan Gutierrez de Los Angeles (EUA), de 38 anos, recebeu uma cura depois de rezar a novena de Frassati.
Juan, que se tornou padre em junho de 2023, rompeu o tendão de Aquiles em um jogo de basquete em 2017, enquanto ainda era seminarista. Impelido pela preocupação com sua recuperação e despesas do tratamento, recorreu à intercessão do beato.
Enquanto rezava um dos dias da novena em uma capela, sentiu algo incomum ao redor do seu machucado, como a sensação de calor provocada por fogo. Embora não tivesse fogo algum, Gutierrez se sentiu tocado espiritualmente e direcionou seu olhar para o sacrário.
Quando se deu conta, recebeu a cura física e conseguiu andar normalmente. Ao retornar ao médico que acompanhava o seu caso, recebeu a confirmação de que não haveria mais necessidade de cirurgia, pois o rompimento havia desaparecido. Fonte: https://www.cnbb.org.br
Anistia para um novo golpe
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Quando passa-se a aviltar nossa soberania para tentar obter a anistia, não se pretende pacificação
Por Miguel Reale Júnior
Advogado, professor titular sênior da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Paulista de Letras e ex-ministro da Justiça
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, declarou que, se eleito, seu primeiro ato será conceder a graça (indulto pessoal) a Jair Bolsonaro, que, por óbvio, reconhece que será condenado. Dessa maneira, seu principal compromisso é desfazer a decisão em defesa da democracia editada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Que começo!
Assim, é evidente que a anistia ganhará impulso por causa de bajuladores de Bolsonaro, que pretendem ser ungidos como candidatos in pectore do ex-presidente. A anistia será tema da direita a partir de agora. Por isso, dedico-me a analisar o significado do instituto e seu possível cabimento.
O legislador, ao criar uma norma incriminadora, avalia a conduta escolhida como lesiva a um valor importante à convivência social, tanto que ameaça a imposição de pena, caso seja praticada a conduta violadora.
Colhe, portanto, o legislador na realidade social quais os valores vivenciados pela sociedade que devam ser reputados essenciais, sendo contraponto eventual a revogação da norma incriminadora ou a anistia. Determinado comportamento delituoso pode ser considerado não mais lesivo graças à anistia, deixando de incidir a resposta penal. O fato criminoso, sucedido em dadas condições, quando objeto de anistia, torna-se indiferente perante a lei penal.
A qualificação como delito desfaz-se e, de conseguinte, suprime-se o processo ou as consequências penais, em caso de já aplicadas. Como medida excepcional, que suspende a aplicação da norma penal, cabe perquirir quando se justifica a anistia.
São valores protegidos pelos artigos 359-L e 359-M do Código Penal o livre exercício dos Poderes e a incolumidade do governo legítimo, fruto do pluralismo político e da escolha do governante por via do voto direto, secreto e universal, sendo vedada a cassação de direitos políticos, a serem perdidos apenas em razão de condenação criminal.
Resta, então, ver em que situações a tutela destes valores protegidos pelo Direito Penal poderia ser excepcionalmente suspensa. São três hipóteses:
1) Considerar que, na forma praticada, os comportamentos delituosos deixaram de ser tidos como lesivos ao bem jurídico “Estado de Direito” e devem ficar isentos de repressão penal;
2) Ser medida de transição, na passagem de um regime autoritário para o Estado de Direito; e
3) Ser providência que o titular do Poder legítimo toma diante dos antagonismos existentes, para promover uma pacificação.
Nenhuma das três hipóteses, todavia, se apresenta a justificar o levantamento da resposta penal ao ataque ao Estado de Direito promovido por Bolsonaro e sua trupe.
As tentativas de golpe de Estado e de impedir o exercício dos Poderes permanecem como ferida na consciência da sociedade, não havendo esgarçamento da importância da democracia a ser reafirmada por meio da resposta penal. A desmoralização contínua do processo eleitoral foi o pano de fundo indutor da violência dos acólitos no seu avanço sobre a sede dos Três Poderes. Esta forte imagem de destruição ainda perdura na mente dos brasileiros.
A segunda hipótese corresponde à anistia de agosto de 1979, proposta pelo presidente Figueiredo, que, mesmo em projeto deficiente, afirmava: “A anistia reabre o campo da ação política, enseja o reencontro, reúne e congrega a construção do futuro”.
Estávamos em meio ao processo de distensão, o gradualismo, como se pode constatar da Lei de Segurança Nacional de 1983, em cujo artigo 16 constava como crime: “Integrar ou manter associação, partido (...) que tenha por objetivo a mudança do regime vigente ou do Estado de Direito”. Reconhecia-se, portanto, que do regime vigente passava-se ao Estado de Direito. Era um momento de transição para o Estado de Direito.
Em fins de 2022 não se estava em transição política, apenas dando-se continuidade à democracia, malgrado as diatribes de Bolsonaro contra o sistema eleitoral.
A terceira hipótese diz respeito a ser a anistia uma ferramenta para apaziguamento. Os atuais defensores da anistia não procuram pacificação, mas impunidade. Realizam campanha agressiva, a demonstrar a total falta de obediência ao jogo democrático, de que é exemplo o motim promovido pelos parlamentares bolsonaristas que ocuparam pela força a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados.
Os deputados não exerceram o legítimo expediente da obstrução, próprio do jogo parlamentar, mas impediram com violência que a Câmara dos Deputados viesse a exercer suas funções, em conduta similar à que é objeto do pedido de anistia.
A campanha em curso pela anistia, cujo único beneficiário que interessa é Bolsonaro, incluiu em sua estratégia o ataque ao nosso país pela potência norte-americana. Quando passa-se a aviltar nossa soberania para tentar obter a anistia, não se pretende pacificação.
Os crimes contra o Estado de Direito são imprescritíveis, a indicar que não basta o passar do tempo para se extinguir a punibilidade. Como medida excepcional, é preciso mais, ou seja, a ocorrência das hipóteses acima mencionadas, o que não sucede. Com essa anistia, apenas corre-se o risco de animar a preparação de novo golpe. Fonte: https://www.estadao.com.br
Quarta-feira, 3 de setembro-2025. 22ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Deus do universo, fonte de todo bem, derramai em nossos corações o vosso amor e estreitai os laços que nos unem convosco para alimentar em nós o que é bom e guardar com solicitude o que nos destes. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 4,38-44)
Naquele tempo, 38Saindo Jesus da sinagoga, entrou na casa de Simão. A sogra de Simão estava com febre alta; e pediram-lhe por ela. 39Inclinando-se sobre ela, ordenou ele à febre, e a febre deixou-a. Ela levantou-se imediatamente e pôs-se a servi-los. 40Depois do pôr-do-sol, todos os que tinham enfermos de diversas moléstias lhos traziam. Impondo-lhes a mão, os sarava. 41De muitos saíam os demônios, aos gritos, dizendo: Tu és o Filho de Deus. Mas ele repreendia-os severamente, não lhes permitindo falar, porque sabiam que ele era o Cristo. 42Ao amanhecer, ele saiu e retirou-se para um lugar afastado. As multidões o procuravam e foram até onde ele estava e queriam detê-lo, para que não as deixasse. 43Mas ele disse-lhes: É necessário que eu anuncie a boa nova do Reino de Deus também às outras cidades, pois essa é a minha missão. 44E andava pregando nas sinagogas da Galiléia.
3) Reflexão Lucas 4,38-44 (Mc 1,29-39)
O evangelho de hoje traz quatro assuntos diferentes: a cura da sogra de Pedro (Lc 4,38-39), a cura de muitos doentes à noite, depois do sábado (Lc 4, 40-41), a oração de Jesus num lugar deserto (Lc 4,42) e a sua insistência na missão (Lc 4,43-44). Com pequenas diferenças Lucas segue e adapta as informações que tirou do evangelho de Marcos.
Lucas 4,38-39: Jesus restaura a vida para o serviço
Depois de participar da celebração do sábado, na sinagoga, Jesus entra na casa de Pedro e cura a sogra dele. A cura faz com que ela se coloque imediatamente de pé. Com a saúde e a dignidade recuperadas, ela se põe a serviço das pessoas. Jesus não só cura, mas cura para que a pessoa possa colocar-se a serviço da vida.
Lucas 4,40-41: Jesus acolhe e cura os marginalizados
Ao cair da tarde, na hora do aparecimento da primeira estrela no céu, terminado o sábado, Jesus acolhe e cura os doentes e os possessos que o povo tinha trazido. Doentes e possessos eram as pessoas mais marginalizadas naquela época. Elas não tinham a quem recorrer. Ficavam entregues à caridade pública. Além disso, a religião as considerava impuras. Elas não podiam participar na comunidade. Era como se Deus as rejeitasse e as excluísse. Jesus as acolhe e as cura impondo a mão em cada um. Assim, aparece em que consiste a Boa Nova de Deus e o que ela quer atingir na vida da gente: acolher os marginalizados e os excluídos e reintegrá-los na convivência.
“De muitas pessoas saíam demônios, gritando: “Tu és o Filho de Deus”. Jesus os ameaçava e não os deixava falar, porque os demônios sabiam que ele era o Messias”. Naquele tempo, o título Filho de Deus ainda não tinha a densidade e a profundidade que o título tem hoje para nós. Significava que o povo reconhecia em Jesus uma presença todo especial de Deus. Jesus não deixava os demônios falar. Ele não queria propaganda fácil por meio do impacto de expulsões espetaculares.
Lucas 4,42a: Permanecer unido ao Pai pela oração
“Ao raiar do dia, Jesus saiu, e foi para um lugar deserto. As multidões o procuravam, e, indo até ele, não queriam deixá-lo que fosse embora”. Aqui Jesus aparece rezando. Ele faz um esforço muito grande para ter o tempo e o ambiente apropriado para rezar. Levantou mais cedo que os outros e foi para um lugar deserto, para poder estar a sós com Deus. Muitas vezes, os evangelhos nos falam da oração de Jesus no silêncio (Lc 3,21-22; 4,1-2.3-12; 5,15-16; 6,12; 9,18; 10,21; 5,16; 9,18; 11,1; 9,28;23,34; Mt 14,22-23; 26,38; Jo 11,41-42; 17,1-26; Mt Mc 1,35; Lc 3,21-22). É através da oração que ele mantém viva em si a consciência da sua missão.
Lucas 4,42b-44: Manter viva a consciência da missão e não se fechar no resultado
Jesus tornou-se conhecido. O povo ia atrás dele e não queria que ele fosse embora. Jesus não atendeu ao pedido e disse: "Devo anunciar a Boa Notícia do Reino de Deus também para as outras cidades, porque para isso é que fui enviado." Jesus tem muito clara a sua missão. Não se fecha no resultado já obtido, mas quer manter bem viva a consciência da sua missão. É a missão recebida do Pai que o orienta na tomada das decisões. Foi para isto que fui enviado! E aqui no texto esta consciência tão viva aparece como fruto da oração.
4) Para um confronto pessoal
1) Jesus tirava tempo para poder rezar e estar a sós com o Pai? Eu tiro tempo para rezar e estar a sós com Deus?
2) Jesus mantinha viva a consciência da sua missão. E eu, será que, como cristã ou cristão, tenho consciência de alguma missão ou vivo sem missão?
5) Oração final
Nossa alma espera no Senhor, porque ele é nosso amparo e nosso escudo. Nele, pois, se alegra o nosso coração, em seu santo nome confiamos (Sl 32)
Terça-feira, 2 de setmbro-2025. 22ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Deus do universo, fonte de todo bem, derramai em nossos corações o vosso amor e estreitai os laços que nos unem convosco para alimentar em nós o que é bom e guardar com solicitude o que nos destes. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 4,31-37)
Naquele tempo, 31Jesus desceu a Cafarnaum, cidade da Galiléia, e ali ensinava-os aos sábados. 32Maravilharam-se da sua doutrina, porque ele ensinava com autoridade. 33Estava na sinagoga um homem que tinha um demônio imundo, e exclamou em alta voz: 34Deixa-nos! Que temos nós contigo, Jesus de Nazaré? Vieste para nos perder? Sei quem és: o Santo de Deus! 35Mas Jesus replicou severamente: Cala-te e sai deste homem. O demônio lançou-o por terra no meio de todos e saiu dele, sem lhe fazer mal algum. 36Todos ficaram cheios de pavor e falavam uns com os outros: Que significa isso? Manda com poder e autoridade aos espíritos imundos, e eles saem? 37E corria a sua fama por todos os lugares da redondeza.
3) Reflexão Lucas 4,31-37
No evangelho de hoje, vamos ver de perto dois assuntos: a admiração do povo pela maneira de Jesus ensinar e a cura de um homem possuído por um demônio impuro. Nem todos os evangelistas contam os fatos do mesmo jeito. Para Lucas, o primeiro milagre é a calma com que Jesus se livrou da ameaça de morte da parte do povo de Nazaré (Lc 4,29-30) e a cura do homem possesso (Lc 4,33-35). Para Mateus, o primeiro milagre é a cura de uma porção de doentes e endemoninhados (Mt 4,23) ou, mais especificamente, a cura de um leproso (Mt 8,1-4). Para Marcos, foi a expulsão de um demônio (Mc 1,23-26). Para João, o primeiro milagre foi em Caná, onde Jesus transformou água em vinho (Jo 2,1-11). Assim, na maneira de contar as coisas, cada evangelista mostra qual foi, segundo ele, a maior preocupação de Jesus.
Lucas 4,31: A mudança de Jesus para Cafarnaum
“Jesus foi a Cafarnaum, cidade da Galiléia, e aí ensinava aos sábados”. Mateus diz que Jesus foi morar em Cafarnaum (Mt 4,13). Mudou de residência. Cafarnaum era uma pequena cidade junto ao entroncamento de duas estradas importantes: uma que vinha da Ásia Menor e ia para Petra no sul da Transjordânia, e a outra que vinha da região dos rios Euphrates e Tigris e descia para o Egito. A mudança para Cafarnaum facilitava o contato com o povo e a divulgação da Boa Nova.
Lucas 4,32: Admiração do povo pelo ensino de Jesus
A primeira coisa que o povo percebe é o jeito diferente de Jesus ensinar. Não é tanto o conteúdo, mas sim o jeito de ensinar, que impressiona. “Jesus falava com autoridade”. Marcos acrescenta que, por este seu jeito diferente de ensinar, Jesus criava consciência crítica no povo com relação às autoridades religiosas da época. O povo percebia e comparava: Ele ensina com autoridade, diferente dos escribas” (Mc 1,22.27). Os escribas da época ensinavam citando autoridades. Jesus não cita autoridade nenhuma, mas fala a partir da sua experiência de Deus e da vida.
Lucas 4,33-35: Jesus combate o poder do mal
O primeiro milagre é a expulsão de um demônio. O poder do mal tomava conta das pessoas e as alienava. Jesus devolve as pessoas a si mesmas. Devolve a consciência e a liberdade. E ele o faz pelo poder da sua palavra: "Cale-se, e saia dele!" Ele dizia em outra ocasião: “Se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus chegou para vocês” (Lc 11,20). Hoje também, muita gente vive alienada de si mesma pelo poder dos meios de comunicação, da propaganda do governo e do comércio. Vive escrava do consumismo, oprimida pelas prestações e ameaçada pelos cobradores. Acha que não vive direito enquanto não comprar aquilo que a propaganda anuncia. Não é fácil expulsar este poder que hoje aliena tanta gente, e devolver as pessoas a si mesmas!
* Lucas 1,36-37: A reação do povo: ele manda nos espíritos impuros primeiro impacto
Além do jeito diferente de Jesus ensinar as coisas de Deus, o outro aspecto que causava admiração no povo era o seu poder sobre os espíritos impuros: "Que palavra é essa? Ele manda nos espíritos impuros com autoridade e poder, e eles saem". Jesus abre um novo caminho para o povo poder conseguir a pureza através do contato com ele. Naquele tempo, uma pessoa impura não podia comparecer diante de Deus para rezar e receber a bênção prometida a Abraão. Teria que purificar-se, primeiro. Havia muitas leis e normas que dificultavam a vida do povo e marginalizavam muita gente como impura. Mas agora, purificadas pela fé em Jesus, as pessoas podiam comparecer novamente na presença de Deus e rezar a Ele, sem necessidade de recorrer àquelas complicadas e, muitas vezes, dispendiosas normas de pureza.
4) Para um confronto pessoal
1) Jesus provocava a admiração do povo. A atuação da nossa comunidade aqui no bairro provoca alguma admiração no povo? Qual?
2) Jesus expulsava o poder do mal e devolvia as pessoas a si mesmas. Hoje, muita gente vive alienada de si mesma e de tudo. Como devolve-las a si mesmas?
5) Oração final
O Senhor é clemente e compassivo, longânime e cheio de bondade. O Senhor é bom para com todos, e sua misericórdia se estende a todas as suas obras (Sl 144, 1)
22º - Domingo do Tempo Comum: Um Olhar para a fome no mundo
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Flagelo da fome
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
A crueldade do flagelo da fome em Gaza é ferida que precisa doer em toda a civilização contemporânea para ser adequadamente tratada. As cenas de aflição e de desespero expressam os atrasos humanitários neste tempo de tantas conquistas científicas e tecnológicas, insuficientes diante das bizarrices políticas que geram situações de extermínio. Confrontar a crueldade em Gaza, com juízo austero, é exigência para as autoridades diretamente envolvidas no conflito. Essa exigência precisa envolver também líderes de outras partes do mundo, chamados a exercer a corresponsabilidade cidadã. O planeta não pode aceitar, pacificamente, que seres humanos padeçam com a fome. Um flagelo que também ameaça crianças e idosos, no alto dos morros, diante de lugares onde se consome até o desperdício. A chaga do flagelo da fome está também, ainda, como mácula no tecido da sociedade brasileira.
Compadecer-se diante do semelhante privado do direito essencial à alimentação pode levar à conquista de um novo estilo de vida que inspire consumo mais responsável. A humanidade não pode normalizar situações em que pessoas correm para obter comida sob o risco de serem exterminadas, ou lentamente morrem por falta de adequada alimentação. A fome em Gaza e em outros lugares do mundo merece tornar-se pauta mundial, de modo interpelante e transformador, para além das abordagens restritas ao marketing político-eleitoral. A construção de soluções exige a consideração de valores e princípios norteadores, em um horizonte ético-moral capaz de inspirar respostas organizacionais sistêmicas com propriedades para banir o flagelo da fome, onde ele está e cresce. As guerras tarifárias, as disputas que levam ao confronto bélico, a defesa de privilégios, a corrupção e certos “interesses de mercado” precisam ser confrontados a partir de valores e princípios que representem luz de esperança. Trata-se de investimento para fazer surgir nova cidadania, convencendo a sociedade que vale a pena ser justa e solidária. A Doutrina Social da Igreja Católica apresenta o princípio da solidariedade como cláusula pétrea, respeitado o valor comum que todos partilham – iguais em direito e dignidade.
O princípio da solidariedade é iluminado pela consciência universal da interdependência entre pessoas e povos. Sem essa consciência, convive-se com imposições autoritárias e manipulações interesseiras em detrimento do bem de todos. O antídoto para esses males é a adoção da solidariedade como princípio social e virtude moral. A solidariedade, enquanto princípio social, ordena as instituições para livrá-las de manipulações e estreitamentos organizacionais, libertando-as de lógicas que ameaçam o bem comum. Na condição de virtude moral, a solidariedade é mais que expressão de um simples sentimento. Torna-se compromisso para agir, de modo determinante, na promoção do bem comum, emoldurando a prática da justiça que busca superar as várias situações de pobreza.
A promoção do bem comum é indissociável do exercício da solidariedade, lembrando que a luta pelo bem partilhado por todos é indispensável alavanca para se alcançar a paz. O Magistério Social da Igreja Católica afirma: ao reconhecer os laços que unem as pessoas e os grupos sociais, abre-se um espaço para a liberdade humana e o crescimento comum de todos. Aqueles que são capazes de enxergar os laços que unem as pessoas e grupos capacitam-se para exercer a liderança de modo humanista, tornando-se políticos com envergadura de estadistas e cidadãos que buscam a igualdade social, para além de individualismos e particularismos. Abre-se a possibilidade de uma compreensão iluminada pela consciência de que os bens da Terra foram criados por Deus para serem sabiamente administrados por todos. Bens que devem ser partilhados com equidade, segundo a justiça e a caridade. O flagelo da fome há, pois, de ser vencido pelo respeito e aplicação do princípio da destinação universal dos bens – orientação moral e cultural.
A fome é um problema moral e ecológico que atinge a humanidade. O princípio ético da destinação universal dos bens desafia a inteligência humana ante a necessidade de encontrar caminhos e práticas que, de fato, sejam capazes de vencer a fome. A humanidade não pode continuar a conviver com as justificativas terroristas daqueles que buscam matar de fome os inocentes e indefesos. O caminho que leva à solução desse grave problema é longo e, por isso mesmo, gera aflições, pois o compromisso moral de salvar vidas é urgente, quem passa fome tem uma necessidade inadiável. Os bens da criação não podem se reduzir apenas à consideração comercial. Essa consideração precisa ser confrontada com o direito básico à segurança alimentar, de modo sensível, prioritariamente, à realidade dos pobres.
Desconsiderar o sofrimento de quem tem fome é imoral e abominável. A sociedade precisa gritar contra os desperdícios e exigir de políticos o enfrentamento desse mal. Quem tem fome tem pressa. O apelo é tomar sobre si responsabilidades e fomentar ações, em uma sociedade que precisa de governantes, magistrados, cidadãos, todos dedicados a vencer a fome e, assim, superar ferida dolorosa na história da humanidade. Fonte: https://www.cnbb.org.br
Lectio Divina- Martírio de São João Batista - 29 de agosto
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Frei Carlos Mesters, O. Carm
1) Oração
Ó Deus, quisestes que São João Batista fosse o precursor do nascimento e da morte do vosso Filho; como ele tombou na luta pela justiça e a verdade, fazei-nos também lutar corajosamente para testemunhar a vossa palavra. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Marcos 6,17-29)
17Pois o próprio Herodes mandara prender João e acorrentá-lo no cárcere, por causa de Herodíades, mulher de seu irmão Filipe, com a qual ele se tinha casado.18João tinha dito a Herodes: Não te é permitido ter a mulher de teu irmão.19Por isso Herodíades o odiava e queria matá-lo, não o conseguindo, porém.20Pois Herodes respeitava João, sabendo que era um homem justo e santo; protegia-o e, quando o ouvia, sentia-se embaraçado. Mas, mesmo assim, de boa mente o ouvia.21Chegou, porém, um dia favorável em que Herodes, por ocasião do seu natalício, deu um banquete aos grandes de sua corte, aos seus oficiais e aos principais da Galiléia.22A filha de Herodíades apresentou-se e pôs-se a dançar, com grande satisfação de Herodes e dos seus convivas. Disse o rei à moça: Pede-me o que quiseres, e eu to darei.23E jurou-lhe: Tudo o que me pedires te darei, ainda que seja a metade do meu reino.24Ela saiu e perguntou à sua mãe: Que hei de pedir? E a mãe respondeu: A cabeça de João Batista.25Tornando logo a entrar apressadamente à presença do rei, exprimiu-lhe seu desejo: Quero que sem demora me dês a cabeça de João Batista.26O rei entristeceu-se; todavia, por causa da sua promessa e dos convivas, não quis recusar.27Sem tardar, enviou um carrasco com a ordem de trazer a cabeça de João. Ele foi, decapitou João no cárcere,28trouxe a sua cabeça num prato e a deu à moça, e esta a entregou à sua mãe.29Ouvindo isto, os seus discípulos foram tomar o seu corpo e o depositaram num sepulcro.
3) Reflexão
Hoje comemoramos o martírio de São João Batista. O evangelho traz a descrição de como João Batista foi morto sem processo, durante um banquete, vítima da corrupção e da prepotência de Herodes e sua corte.
Marcos 6,17-20. A causa da prisão e do assassinato de João.
Herodes era um empregado do império romano. Quem mandava mesmo na Palestina, desde 63 antes de Cristo, era César, o imperador de Roma. Herodes, para não ser deposto, procurava agradar a Roma em tudo. Insistia sobretudo numa administração eficiente que desse lucro ao Império e a ele mesmo. A preocupação de Herodes era a sua própria promoção e segurança. Por isso, reprimia qualquer tipo de subversão. Ele gostava de ser chamado de benfeitor do povo, mas na realidade era um tirano (cf. Lc 22,25). Flávio José, um escritor daquela época, informa que o motivo da prisão de João Batista era o medo que Herodes tinha de um levante popular. A denúncia de João Batista contra a moral depravada de Herodes (Mc 6,18), foi a gota que fez transbordar o copo, e João foi preso.
Marcos 6,21-29: A trama do assassinato.
Aniversário e banquete de festa, com danças e orgias! Era o ambiente em que os poderosos do reino se reuniam e no qual se costuravam as alianças. A festa contava com a presença “dos grandes da corte, dos oficiais e das pessoas importantes da Galiléia”. É nesse ambiente que se trama o assassinato de João Batista. João, o profeta, era uma denúncia viva desse sistema corrupto. Por isso, ele foi eliminado sob pretexto de um problema de vingança pessoal. Tudo isto revela a fraqueza moral de Herodes. Tanto poder acumulado na mão de um homem sem controle de si! No entusiasmo da festa e do vinho, Herodes fez um juramento leviano a uma jovem dançarina. Supersticioso como era, pensava que devia manter esse juramento. Para Herodes, a vida dos súditos não valia nada. Dispunha deles como dispunha da posição das cadeiras na sala. Marcos conta o fato tal qual e deixa às comunidades e a nós a tarefa de tirarmos as conclusões.
Nas entrelinhas, o evangelho de hoje traz muitas informações sobre o tempo em que Jesus vivia e sobre a maneira como era exercido o poder pelos poderosos da época. Galiléia, terra de Jesus, era governada por Herodes Antipas, filho do rei Herodes, o Grande, desde 4 antes de Cristo até 39 depois de Cristo. Ao todo, 43 anos! Durante todo o tempo que Jesus viveu, não houve mudança de governo na Galiléia! Herodes era dono absoluto de tudo, não prestava conta a ninguém, fazia o que bem entendia. Prepotência, falta de ética, poder absoluto, sem controle por parte do povo!
Herodes construiu uma nova capital, chamada Tiberíades. Sefforis, a antiga capital, tinha sido destruída pelos romanos em represália contra um levante popular. Isto aconteceu quando Jesus tinha em torno de sete anos de idade. Tiberíades, a nova capital, foi inaugurada treze anos mais tarde, quando Jesus tinha seus 20 anos. Era chamada assim para agradar a Tibério, o imperador de Roma. Tiberíades era um quisto estranho na Galiléia. Era lá que viviam o rei, “os magnatas, os generais e os grandes da Galiléia” (Mc 6,21). Era lá que moravam os donos das terras, os soldados, a polícia, os juizes muitas vezes insensíveis (Lc 18,1-4). Para lá eram levados os impostos e o produto do povo. Era lá que Herodes fazia suas orgias de morte (Mc 6,21-29). Não consta nos evangelhos que Jesus tenha entrado nessa cidade.
Ao longo daqueles 43 anos do governo de Herodes, criou-se toda uma classe de funcionários fieis ao projeto do rei: escribas, comerciantes, donos de terras, fiscais do mercado, publicanos ou coletores de impostos, militares, policiais, juizes, promotores, chefes locais. A maior parte deste pessoal morava na capital, gozando dos privilégios que Herodes oferecia, por exemplo, isenção de impostos. Outra parte vivia nas aldeias. Em cada aldeia ou cidade havia um grupo de pessoas que apoiavam o governo. Vários escribas e fariseus estavam ligados ao sistema e à política do governo. Nos evangelhos, os fariseus aparecem junto com os herodianos (Mc 3,6; 8,15; 12,13), o que reflete a aliança que existia entre o poder religioso e poder civil. A vida do povo nas aldeias da Galiléia era muito controlada, tanto pelo governo como pela religião. Era necessário ter muita coragem para começar algo novo, como fizeram João e Jesus! Era o mesmo que atrair sobre si a raiva dos privilegiados, tanto do poder religioso como do poder civil, tanto em nível local como estadual.
4) Para um confronto pessoal
- Conhece casos de pessoas que morreram vítimas da corrupção e da dominação dos poderosos? E aqui entre nós, na nossa comunidade e na igreja, há vítimas de desmando e de autoritarismo? Dê um exemplo.
- Superstição, covardia e corrupção marcavam o exercício do poder de Herodes. Compare com o exercício do poder religioso e civil hoje nos vários níveis tanto da sociedade como da Igreja.
5) Oração final
É em vós, Senhor, que procuro meu refúgio; que minha esperança não seja para sempre confundida. Por vossa justiça, livrai-me, libertai-me; inclinai para mim vossos ouvidos e salvai-me. (Sl 70, 1-2)
Quinta-feira, 28 de agosto-2025. 21ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Ó Deus, que unis os corações dos vossos fiéis num só desejo, dai ao vosso povo amar o que ordenais e esperar o que prometeis, para que, na instabilidade deste mundo, fixemos os nossos corações onde se encontram as verdadeiras alegrias.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 24, 42-51)
42Vigiai, pois, porque não sabeis a hora em que virá o Senhor.43Sabei que se o pai de família soubesse em que hora da noite viria o ladrão, vigiaria e não deixaria arrombar a sua casa.44Por isso, estai também vós preparados porque o Filho do Homem virá numa hora em que menos pensardes.45Quem é, pois, o servo fiel e prudente que o Senhor constituiu sobre os de sua família, para dar-lhes o alimento no momento oportuno?46Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, na sua volta, encontrar procedendo assim!47Em verdade vos digo: ele o estabelecerá sobre todos os seus bens.48Mas, se é um mau servo que imagina consigo:49- Meu senhor tarda a vir, e se põe a bater em seus companheiros e a comer e a beber com os ébrios,50o senhor desse servo virá no dia em que ele não o espera e na hora em que ele não sabe,51e o despedirá e o mandará ao destino dos hipócritas; ali haverá choro e ranger de dentes.
3) Reflexão Mateus 24, 42-51
O evangelho de hoje, festa de Santo Agostinho, fala da vinda do Senhor no fim dos tempos e nos exorta à vigilância. Na época dos primeiros cristãos, muita gente achava que o fim deste mundo estava perto e que Jesus voltaria logo. Hoje, muita gente acha que o fim do mundo está perto. Por isso, é bom refletir sobre o significado da vigilância.
Mateus 24,42: Vigilância
“Portanto, fiquem vigiando! Porque vocês não sabem em que dia virá o Senhor de vocês”. A respeito do dia e da hora do fim do mundo, Jesus tinha dito: "Quanto a esse dia e essa hora, ninguém sabe nada, nem os anjos, nem o Filho, mas somente o Pai!" (Mc 13,32). Hoje, muita gente vive preocupado com o fim do mundo. Nas ruas das cidades, você vê escrito nas paredes: Jesus voltará! E como será esta vinda? Depois do ano 1000, apoiados no Apocalipse de João (Apc 20,7), começaram a dizer: “De 1000 passou, mas de 2000 não passará!” Por isso, na medida em que o ano 2000 chegava mais perto, muitos ficavam preocupados. Teve até gente que, angustiada com a proximidade do fim do mundo, chegou a cometer suicídio. Outros, lendo o Apocalipse de João, chegaram a predizer a hora exata do fim. Mas o ano 2000 passou e nada aconteceu. O fim não chegou! Muitas vezes, a afirmação “Jesus voltará” é usada para meter medo nas pessoas e obrigá-las a frequentar uma determinada igreja! Outros ainda, de tanto esperar e especular em torno da vinda de Jesus, já nem percebem mais a presença dele no meio de nós, nas coisas mais comuns da vida, nos fatos do dia-a-dia.
A mesma problemática havia nas comunidades cristãs dos primeiros séculos. Muita gente das comunidades dizia que o fim deste mundo estava perto e que Jesus voltaria logo. Alguns da comunidade de Tessalônica na Grécia, apoiando-se na pregação de Paulo, diziam: “Jesus vai voltar logo!” (1 Tes 4,13-18; 2 Tes 2,2). Por isso, havia até pessoas que já não trabalhavam, porque achavam que a vinda fosse coisa de poucos dias ou semanas. “Trabalhar para que, se Jesus vai voltar logo?” (cf 2Ts 3,11). Paulo responde que não era tão simples como eles imaginavam. E aos que já não trabalhavam avisava: “Quem não quiser trabalhar não tem direito de comer!” Outros ficavam só olhando o céu, aguardando o retorno de Jesus sobre as nuvens (cf At 1,11). Outros reclamavam da demora (2Pd 3,4-9). Em geral, os cristãos viviam na expectativa da vinda iminente de Jesus. Jesus viria realizar o Juízo Final para encerrar a história injusta deste mundo cá de baixo e inaugurar a nova fase da história, a fase definitiva do Novo Céu e da Nova Terra. Achavam que isto aconteceria dentro de uma ou duas gerações. Muita gente ainda estaria viva quando Jesus fosse aparecer glorioso no céu (1Ts 4,16-17; Mc 9,1). Outros, cansados de esperar, diziam: “Ele não vai voltar nunca! (2 Pd 3,4).
Até hoje, a vinda de Jesus ainda não aconteceu! Como entender esta demora? É que já não percebemos que Jesus já voltou, já está no nosso meio: “Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo." (Mt 28,20). Ele já está do nosso lado na luta pela justiça, pela paz, pela vida. A plenitude ainda não chegou, mas uma amostra ou garantia do Reino já está no meio de nós. Por isso, aguardamos com firme esperança a libertação plena da humanidade e da natureza (Rm 8,22-25). E enquanto esperamos e lutamos, dizemos acertadamente: “Ele já está no meio de nós!” (Mt 25,40).
Mateus 24,43-51: O exemplo do dono da casa e seus dois empregados
“Compreendam bem isto: se o dono da casa soubesse a que horas viria o ladrão, certamente ficaria vigiando, e não deixaria que a sua casa fosse arrombada”. Jesus deixa bem claro. Ninguém sabe nada a respeito da hora: "Quanto a esse dia e essa hora, ninguém sabe nada, nem os anjos, nem o Filho, mas somente o Pai!" O que importa mesmo não saber a hora do fim deste mundo, mas sim ter um olhar capaz de perceber a vinda de Jesus já presente no meio de nós na pessoa do pobre (cf Mt 25,40) e em tantos outros modos e acontecimentos da vida de cada dia. O que importa é abrir os olhos e ter presente o exemplo do bom empregado de que Jesus fala na parábola.
4) Para um confronto pessoal
- Perguntas para a reflexão:
- Em que sinais o povo se apóia para dizer que o fim do mundo está perto? Você acha que o fim do mundo está perto?
- O que responder aos que dizem que o fim do mundo está próximo? Qual a força que anima você a resistir e ter esperança?
5) Oração final
Dia a dia vos bendirei, e louvarei o vosso nome eternamente. Grande é o Senhor e sumamente louvável, insondável é a sua grandeza. (Sl 144, 2-3)
Santa Mônica mulher de oração a ser imitada
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A Igreja recorda hoje Santa Mônica, mãe de Santo Agostinho. O Papa Francisco apontou-a várias vezes como modelo a imitar, especialmente por sua constante oração a Deus, um diálogo de fé que sustentou a sua caminhada cristã.
Tiziana Campisi – Vatican News
Uma mulher tenaz e amorosa, com uma fé sólida: este é o retrato de Santa Mônica. Esposa virtuosa e mãe cuidadosa, ela alimentou sua fé com a oração, prática piedosa e escuta da Palavra de Deus. O seu é o exemplo de oração incessante que deveria alimentar a fé de todo cristão. E, de fato, a oração é o "segredo" da vida de Mônica, um diálogo com Deus que nunca se interrompeu. Uma oração que, embora às vezes parecesse que não era ouvida, foi insistente, sustentada pela vontade de ferro de querer ser uma boa esposa e de ver seus filhos seguros no porto de Deus. Em uma meditação matinal proposta na Capela da Casa de Santa Marta (11 de outubro de 2018), o Papa chamou a oração "uma trabalho: um trabalho que nos pede vontade, nos pede constância, nos pede determinação, sem vergonha". (...) Uma oração constante e intrusiva. Pensemos em Santa Mônica, por exemplo, quantos anos ela rezou assim, mesmo com lágrimas, pela conversão de seu filho. O Senhor finalmente abriu a porta".
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A oração escola de perfeição
E foi precisamente na oração que Mônica alcançou a Sabedoria e a perfeição, tanto que um dia, conversando com seu filho Agostinho, agora determinado a dar sua vida inteiramente pela Igreja, sabendo-o na vida de Cristo, desejando a plenitude em Deus e bem-aventurança eterna, ela disse que a vida não tinha mais nenhuma atração para ela. E perto da morte, encontrando-se em Óstia, longe da Numídia, a região do norte da África onde nasceu, ela comentou com seus parentes que não queriam deixar que seus restos mortais ficassem em uma terra estrangeira, recomendou: "enterrem este corpo onde ele está, sem nenhuma piedade. Peço a você apenas uma coisa: lembrem-se de mim, onde quer que vocês estejam, diante do altar do Senhor" (Conf. IX, 11.27).
Mônica em diálogo com Deus
Sem dúvida, Mônica não teria conseguido tal visão de sua existência se não tivesse alimentado sua vida cristã com a oração. A Irmã Ilaria Magli, monja agostiniana do Mosteiro dos Santos Quatro Coroados, de Roma, explica o que caracterizou a conversa de Santa Mônica com Deus:
- - O que certamente distingue sua oração é sua tenacidade e insistência em arrancar Agostinho tanto da seita maniqueísta como de todos os erros de sua adolescência, a fim de trazê-lo àquela certa felicidade que é a estabilidade com Deus. Esta insistência, e esta grande liberdade que a mulher e mãe Mônica tinha para com Deus, gosto um pouco de compará-la à mulher sirofenícia do Evangelho que, para sua filha doente, insiste também diante das respostas que parecem bruscas de Jesus e quer a todo custo conseguir a cura de sua filha, com aquela liberdade que não a faz dizer: "Ah, olha, Senhor, é verdade, tens razão, eu não pertenço à casa de Israel". Com licença, estou indo embora". Não, não, ela insiste e insiste. Isto realmente nos ensina perseverança e confiança em um Pai que nos salva. E também me parece que, além da insistência, há este belo fato que é fundamentalmente a maternidade, isto é, rezar como sendo ventres que continuamente geram vida. Agostinho nos conta isso sobre Mônica, que ela havia criado seus filhos dando à luz tantas vezes quantas as que viu se afastando de Deus. Isto diz que a oração parte da própria essência de uma realidade, que para Mônica era a maternidade, sendo ela precisamente uma mulher que deseja a vida de seus filhos. E isto não nos separa também de uma oração que está ancorada em nosso tecido vital, de nosso ser mulheres ou homens, sacerdotes ou homens consagrados, mulheres casadas ou mulheres que vivem a castidade, mas ancoradas à sua realidade. Portanto, uma mulher, mãe, Mônica, que insiste na vida e dá à luz e gera, continuamente à vida, vida concreta, mas também vida na fé.
O que Santa Mônica aprendeu com a oração?
R.- Parece-me que Mônica, entretanto, fosse uma mulher que rezava muito. Agosinho nos lembra dela quando passava um tempo em Milão ouvindo Ambrósio. E o espaço que ele dedicava à escuta, à oração, deu a Mônica esse conhecimento, essa Sabedoria que é precisamente o sabor da presença de Deus em sua vida e em sua história. E talvez Mônica também aprende e nos ensina que estar com Deus, "desperdiçando nosso tempo", torna possível adquirir um bom sabor da vida que é esta eternidade, que então se encarna nos fragmentos de nossa existência. É bonito quando Agostinho, nos diálogos com seus amigos neste caminho de busca, agora próximo da conversão, vê Mônica também presente que lança estas pérolas de sabedoria. Mas de onde vem essa sabedoria nela que não tem os fundamentos filosóficos que esses jovens têm? Vem precisamente desta bela Sabedoria que é o Evangelho, que é a escuta dos textos, que é esta oração, este sabor que torna Deus presente na história e que torna você sábio.
Como cultivar a oração hoje?
- - Hoje é tão difícil rezar - porque estamos todos imersos numa sociedade extremamente frenética e apressada - que parar e adorar o Santíssimo Sacramento, ler as Escrituras, neste tempo livre, parece, precisamente, uma perda de tempo; não é tempo explorável, não tem lucro. Cultivar a oração significa, enquanto isso, aprender que somente tomando tempo, tomando espaço durante o dia, chegaremos àquela Sabedoria que Mônica nos ensinou, que é a de garantir que em todas as coisas que fazemos ali esteja aquela reverberação da eternidade que Deus nos dá. Depois há um espaço sagrado a preservar - a partir da própria interioridade, da escuta da Palavra, de uma oração, também vocal, daquela que é a forma pessoal de oração - mas para chegar a esta conexão com a realidade, esta compreensão de toda a realidade, com sua fadigas e alegrias, com as doenças e as dores, com as solidões e os vazios. É nesta realidade que Deus nos fala. Para Mônica Deus falou precisamente através de um sofrimento que era a distância de Agostinho de Deus, também de seu marido. E ele a levou a assumir na oração este grito materno.
Assim, estar verdadeiramente ancorado à própria história, à própria vida, faz com que a doação de espaços de silêncio torne a vida plena, bela, cheia de Deus. Porque, nos lembra o próprio Agostinho, estamos inquietos, temos um coração continuamente ansioso, preocupado, até que O encontramos, até que descansamos n’Ele. Significa alcançar, trazer para cá, acolher aqui aquele Paraíso e aquela eternidade que o Senhor quer nos dar em cada fragmento do dia. Isto podemos aprender com a oração e podemos cultivar se aprendermos a descobrir aquele desejo básico que é uma felicidade que habita em nós, que está escrito em nossos corações. Assim, fazer florescer novamente este desejo que habita em nosso coração significa então aprender, lentamente, a tomar tempo e permanecer dentro desta bela escola da vida. Fonte: https://www.vaticannews.va
Quarta-feira, 27 de agosto-2025. 21ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Ó Deus, que unis os corações dos vossos fiéis num só desejo, dai ao vosso povo amar o que ordenais e esperar o que prometeis, para que, na instabilidade deste mundo, fixemos os nossos corações onde se encontram as verdadeiras alegrias.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 23, 27-32)
27Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Sois como sepulcros caiados: por fora parecem belos, mas por dentro estão cheios de ossos de cadáveres e de toda podridão! 28Assim também vós: por fora, pareceis justos diante dos outros, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e injustiça. 29Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Construís sepulcros para os profetas e enfeitais os túmulos dos justos, 30e dizeis: ‘Se tivéssemos vivido no tempo de nossos pais, não teríamos sido cúmplices da morte dos profetas’. 31Com isso, confessais que sois filhos daqueles que mataram os profetas. 32Vós, pois, completai a medida de vossos pais!
3) Reflexão
Estes dois últimos Ais, que Jesus pronunciou contra os doutores da lei e os fariseus do seu tempo, retomam e reforçam o mesmo tema dos dois Ais do evangelho de ontem. Jesus critica a falta de coerência entre a palavra e a prática, entre o interior e o exterior.
Mateus 23,27-28: O sétimo Ai contra os que se parecem sepulcros caiados
“Vocês: por fora, parecem justos diante dos outros, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e injustiça”. A imagem de “sepulcros caiados” fala por si e não precisa de comentário. Jesus condena os que mantêm uma aparência fictícia de pessoa correta, mas cujo interior é a negação total daquilo que querem fazer aparecer para fora.
Mateus 23,29-32: O oitavo Ai contra os que enfeitam os sepulcros dos profetas, mas não os imitam
Os doutores e fariseus diziam: “Se tivéssemos vivido no tempo de nossos pais, não teríamos sido cúmplices na morte dos profetas”. E Jesus conclui: pessoas que falam assim “confessam que são filhos daqueles que mataram os profetas”, pois eles dizem “nossos pais”. E Jesus termina dizendo: “Pois bem: acabem de encher a medida dos pais de vocês!” De fato, naquela altura dos acontecimentos, eles já tinham decidido matar Jesus. Assim acabavam de encher a medida dos pais.
4) Para um confronto pessoal
1) São mais dois Ais, mais dois motivos para receber uma crítica severa da parte de Jesus. Qual das dois cabe em mim?
2) Qual a imagem de mim mesmo que eu procuro apresentar aos outros? Ela corresponde ao que sou de fato diante de Deus?
5) Oração final
Felizes os que temem o Senhor, os que andam em seus caminhos. Poderás viver, então, do trabalho de tuas mãos, serás feliz e terás bem-estar. (Sl 127, 1-2)
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