O governo explora os mais pobres
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O governo explora os mais pobres
Quando até bancos se recusam a oferecer linha de crédito gestada pelo governo, é porque há algo de errado com ela
Notas & Informações, O Estado de S.Paulo
Às vésperas das eleições, o presidente Jair Bolsonaro lançou a última “bala de prata” para tentar arregimentar votos da parcela mais vulnerável da população. Quando ninguém mais esperava, o governo regulamentou o empréstimo consignado para beneficiários do Auxílio Brasil, medida que tem tudo para dar errado. A exemplo de várias outras políticas da administração bolsonarista, trata-se de uma iniciativa que não esconde a pretensão de explorar a miséria de uma forma inédita e indecorosa.
Até propor a linha de crédito via medida provisória, em março, e sancionar a proposta, em agosto, não havia passado pela cabeça de nenhuma autoridade do Executivo a ideia de definir critérios mínimos para as operações – nem mesmo a imposição de um teto para os juros de uma modalidade para pessoas que literalmente dependem de um programa de transferência de renda para se alimentar.
Entidades jurídicas e de defesa do consumidor pediram ao governo que realizasse estudos e ouvisse especialistas e a sociedade civil antes de regulamentar a proposta. Em um manifesto, elas alertaram que a concessão de crédito sem a análise real da capacidade de pagamento dos beneficiários era irresponsável e contrária ao ordenamento jurídico.
O governo poderia ter aproveitado a campanha para deixar a proposta morrer no esquecimento. Decidiu, no entanto, fixar um limite para os juros de 3,5% ao mês, ou 51,11% ao ano, maior que as taxas praticadas em consignados para trabalhadores do setor privado, do setor público, aposentados e pensionistas. Limitou, também, o comprometimento da renda dos beneficiários a 40% do valor permanente do Auxílio Brasil – ou seja, R$ 400, e não os R$ 600 que valerão somente até o fim do ano.
Para o diretor executivo da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, a linha de crédito continua a ser uma “temeridade”. Da forma como foi regulamentada, ela não resguarda nem mesmo o mínimo existencial, instituído por decreto publicado em julho para conter o superendividamento, que estabelece que uma renda de 25% do salário mínimo, ou R$ 303, deve ser preservada aos credores em qualquer renegociação de empréstimo.
O que chamou a atenção nesse arremedo de política pública não foram as críticas da Anefac e do Idec, que eram até esperadas, mas o desinteresse dos maiores bancos desde o momento em que a linha de crédito foi lançada. Quando até instituições financeiras, que pautam sua atuação pelo lucro, se recusam a aderir a uma proposta gestada pelo governo, é porque há algo muito errado com ela. Essa postura não se deu em razão da baixa remuneração ou temor de um calote. Ao contrário do governo, elas não quiseram assumir o risco reputacional de ofertar uma linha que explora sem pudor a parcela mais vulnerável da população. Como bem definiu o economista Ricardo Paes de Barros, um dos criadores do Bolsa Família, o consignado do Auxílio Brasil é mais uma evidência a corroborar o quanto o Estado se afastou dos mais pobres. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
ESCLARECIMENTO: CNBB SE PRONUNCIA SOBRE CANDIDATO CONHECIDO COMO PADRE KELMON
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Em atenção aos fiéis que enviaram perguntas à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), esclarecemos:
1- O senhor Kelmon Luís da Silva Souza, candidato que se apresenta como “padre Kelmon”, não é sacerdote da Igreja Católica Apostólica Romana, sem qualquer vínculo com a Igreja sob o magistério do Papa Francisco.
2- Oportuno ressaltar que, conforme vigência na Lei Canônica, os padres da Igreja Católica, em pleno exercício do ministério sacerdotal, não disputam cargos políticos, nem se vinculam a partidos. Fonte: https://www.cnbb.org.br
Padre Kelmon faz uso indevido de vestimentas religiosas; entenda
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Candidato à presidência pelo PTB, baiano utiliza acessórios associados a funções de liderança na igreja, além de touca que não faz parte de tradição
Por Gustavo Cunha — Rio de Janeiro
"Tem candidatos aqui que vestem uma roupagem para te enganar", afirmou Padre Kelmon (PTB), durante o debate no SBT entre candidatos a presidente da República, na última semana. Em eventos públicos — como o debate da TV Globo, nesta quinta-feira (29) —, o baiano de 45 anos sempre aparece com batina, touca e crucifixo. Especialistas explicam que as vestimentas não são compatíveis com a figura de um padre, de acordo com as convenções religiosas.
Kelmon se diz padre ortodoxo, mas nunca foi sacerdote das igrejas da comunhão ortodoxa no Brasil, como revelou a colunista do GLOBO Malu Gaspar. Se fosse, de fato, padre ou sacerdote — e se seguisse corretamente as diretrizes eclesiásticas —, Kelmon não utilizaria alguns dos acessórios que costuma ostentar publicamente. Tradicionalmente, os chapéus são usados por figuras de hierarquia superior. Os colares longos com um crucifixo (ou "cruz peitoral", como costumam ser chamados) também são elementos associados à função hierárquica de bispo ou cardeal.
Especialistas apontam que o uso indevido da cruz peitoral e do chapéu — ou de uma touca estampada com cruzes, acessório que não é reconhecido por cristãos ortodoxos no país — acaba criando a falsa imagem de liderança religiosa.
— Parece-me que esses elementos estão sendo usados de modo não convencional — afirma Rodrigo Coppe, historiador e professor do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. — Kelmon usa símbolos de hierarquias mais altas. E sobre o chapeuzinho, não dá para saber o que ele quer mostrar com isso.
Touca representa enigma
Entre adeptos da igreja ortodoxa, não há registros da utilização de toucas de pano como as utilizadas por Kelmon. Normalmente, os sacerdotes usam um chapéu em formato cilíndrico, de cor preta, com um pequeno véu que recai sobre as costas. Essa é a tradição.
— Nunca tinha visto um chapéu como o que ele usa. Esse é um acessório que não é conhecido — explica Coppe. — A tradição diz que esse chapéu era usado por monges da Antiguidade, do século IV ou V, quando se apareceu o que é chamado de "padre do deserto".
Símbolo de diferenciação nas igrejas, a batina — outra vestimenta usada por Kelmon — representa a negação para a vida terrena e secular. A roupa que se estende até os pés é marcada por 33 botões, número que representa a idade que Jesus Cristo teria quando foi morto.
— Essa vestimenta, junto com todos os acessórios, relembra aspectos eclesiásticos da Igreja Católica ou mesmo da Igreja Ortodoxa para quem tem funções de comando e liderança — acrescenta Coppe. — O máximo que um padre usa hoje é uma roupa preta com um celérrima, aquele detalhe branco no pescoço. Um padre não usa uma cruz. E também não usa uma touca. Fonte: https://oglobo.globo.com
A intolerável ameaça de Bolsonaro
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A poucos dias da eleição, o presidente continua ameaçando descumprir a vontade do eleitor. O País não pode ser refém do golpismo. As instituições têm os instrumentos para puni-lo
Notas & Informações, O Estado de S.Paulo
O presidente da República, Jair Bolsonaro, manifestou mais uma vez sua disposição de não respeitar a vontade do eleitor caso esta lhe seja desfavorável. Este jornal, que considera a alternância no poder e o respeito às instituições como algumas das mais preciosas bases da democracia, entende que é inaceitável que qualquer candidato, sobretudo na condição de presidente da República, lance suspeitas infundadas sobre o processo eleitoral e sobre a lisura da Justiça Eleitoral, tentando, assim, deslegitimar o resultado das urnas.
No Jornal da Record, quando o repórter lhe perguntou se aceitará o resultado das eleições caso seja derrotado, Bolsonaro respondeu: “Olha, eu vou esperar os resultados”. Na sequência, ainda levantou suspeitas sobre a imparcialidade da Justiça Eleitoral. Escancaram-se, assim, suas pretensões golpistas. As instituições precisam estar em alerta máximo.
Seguindo a cartilha do mau perdedor, Bolsonaro começou já em 2020 suas agressões ao sistema eleitoral, afirmando que as urnas eletrônicas eram suscetíveis de fraude. Depois, foi além, e, sem nenhum indício digno de nota, muito menos prova, disse que as eleições de 2014 e as de 2018 foram fraudadas.
Bolsonaro afirma que as urnas não são auditáveis. Mentira: elas têm 10 camadas de auditoria e seu código-fonte é aberto à inspeção das instituições. Afirma que as urnas são vulneráveis a ataques de hackers. Mentira: elas não entram em rede nem são acessíveis remotamente.
Se é lamentável que as instituições e as inúmeras demonstrações de integridade das urnas não tenham contido a estratégia sediciosa do presidente da República, é também um sinal do fracasso do bolsonarismo que ele não tenha logrado arrastar o mundo-político institucional para suas teses – e práticas – conspiratórias. Nenhum ator político relevante – nem sequer seus asseclas do Centrão –, nenhum dos Poderes da República, nenhuma instituição da sociedade civil corrobora sua desconfiança. Ainda assim, o presidente incitou o Ministério da Defesa, na tentativa de implicar as Forças Armadas, a realizar uma “apuração paralela” e flagrantemente inconstitucional das urnas. Chegou ao absurdo de convocar embaixadores internacionais para declarar que nossa democracia é fraudulenta.
É paradigmático que em 2021, quando o coronavírus ainda dizimava a vida de milhares de brasileiros e fustigava a economia do País, Bolsonaro tenha sequestrado a agenda do Congresso para uma pauta natimorta e sem nenhum clamor popular: o voto impresso. “Vai ter voto impresso em 2022 e ponto final”, disse na ocasião em mais um arroubo autoritário. “Se não tiver voto impresso, é sinal de que não vai ter eleição.” Nada exprime melhor, quase que literalmente, a cortina de fumaça ininterruptamente regurgitada pelo Palácio do Planalto para disfarçar o seu desgoverno que a fuligem preta dos blindados mobilizados por Bolsonaro para intimidar o Parlamento no dia da votação sobre o voto impresso.
A ex-presidente Dilma Rousseff exprimiu os sentimentos de muitos políticos – incluindo o do próprio clã Bolsonaro – ao afirmar que “pode fazer o diabo quando é hora das eleições”. O presidente vai além, e se mostra disposto a fazer o diabo para subvertê-las. Bolsonaro, que encerrou sua carreira militar com ameaças de bombas a quarteis, agora ameaça implodir o resultado das urnas.
É inaceitável que paire, após três décadas de redemocratização, o fantasma do golpe sobre as eleições. Ainda que Bolsonaro reedite com estonteante frequência suas acusações fraudulentas, não é tolerável normalizar esta atmosfera de exceção.
Mas só notas de repúdio não bastam. Há meios legais para punir eventuais atentados ao processo eleitoral. Há a legislação eleitoral, há a Lei de Defesa do Estado Democrático de Direito e há a Lei dos Crimes de Responsabilidade. Bolsonaro já é investigado pelo TSE por difundir informações falsas sobre o processo eleitoral. A Constituição legou ao Ministério Público, à Polícia Federal, ao Judiciário e ao Congresso todos os instrumentos necessários para impedir que as ameaças de Bolsonaro à liberdade política dos brasileiros e seus crimes contra a vontade do eleitor não fiquem impunes. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Repúdio a Lula e à esquerda leva a expurgo de pastores e até a fiel baleado
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Polarização nas igrejas evangélicas tem gerado apreensão na minoria de crentes progressistas
Anna Virginia BalloussierMaurício Meireles
SÃO PAULO
No dia 11 de agosto, a Congregação Cristã no Brasil, uma das igrejas pentecostais mais antigas do país, sem um histórico de engajamento político relevante, divulgou uma circular.
Assinada por sua cúpula, o Conselho dos Anciães Mais Antigos do Brasil, a nota desaconselhava o voto em candidatos ou partidos contrários "aos valores e princípios cristãos" ou que "proponham a desconstrução das famílias no modelo instruído na palavra de Deus, isto é, casamento entre homem e mulher".
Foi por causa dessa orientação que o irmão de Davi Augusto de Souza bateu boca com um pregador em Goiânia. Disse que igreja é para falar de Deus, não de política.
Duas semanas depois, um PM que tomou as dores do líder esbarrou com o parente do desafeto e disparou um tiro que atravessou suas duas pernas. Davi tinha ido à igreja naquele dia para tocar na banda.
Ele conta que tirou várias veias no que calcula terem sido umas sete cirurgias desde então. As dores intensas persistem. A carne ainda não cicatrizada é também um símbolo das feridas abertas que esta eleição tem deixado entre evangélicos.
A perseguição acontece sobretudo com crentes que manifestam simpatia a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou à esquerda em geral. A animosidade já levou ao expurgo de pastores desalinhados à maioria bolsonarista na liderança dos templos.
O saneamento ideológico atingiu três pastores que foram ao primeiro encontro da campanha lulista com esse segmento cristão.
Paulo Marcelo Schallenberger tinha moral no Gideões Missionários da Última Hora, congresso pentecostal sediado em Santa Catarina que projetou nomes como o deputado Marco Feliciano (PL-SP) —seu amigo, aliás. Em 2020, Paulo Marcelo chegou a ser candidato a vereador pelo Podemos, partido insuspeito de canhotismo político, que na época abrigava Feliciano. Também já foi filiado ao conservador PSC.
Em 2011, pregou no centenário da Assembleia de Deus no país, honra que dividiu com o pastor Silas Malafaia. Em fevereiro, após a Folha publicar reportagem mostrando sua aproximação com Lula, a Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, a mais poderosa das alas assembleianas, emitiu nota dizendo que Paulo Marcelo não era membro dela. Ele diz que a integrava desde 2004.
"Há pastores sendo excluídos de denominações, irmãos crentes proibidos de tocar na banda [da igreja], de tomar a Santa Ceia", diz o hoje candidato a deputado federal pelo Solidariedade, partido na coligação de Lula. "Vão passar muitos anos para a igreja evangélica no Brasil se curar desse mal."
Sergio Dusilek foi chamado de "ridículo" e "falso profeta" na semana em que renunciou à presidência da Convenção Batista Carioca. Estava sob pressão depois de afirmar que os evangélicos deveriam pedir perdão ao ex-presidente.
Aponta um "histórico de semeadura anti-esquerda" para explicar o comportamento dos pares batistas. E brinca: está até "pensando em virar petista, o que nunca fui".
Oliver Goiano, do Núcleo de Evangélicos do PT, diz que, em seu caso, o acossamento precedeu a chegada de Jair Bolsonaro (PL) no poder.
"Em 2018, recebi um telefonema de um amigo pedindo que eu me sentasse. ‘Você foi desligado da Ordem dos Pastores Batistas do Rio.’" Ele pastoreava na maior igreja batista de Maricá (RJ).
O estranhamento, segundo Goiano, começou quando o então prefeito da cidade, do PT, o procurou para falar sobre um seminário teológico. "Muitos pastores não podem falar que votam em Lula. É como se estivessem na Idade Média. Querem a cabeça, querem fogueira."
"Há um clima de intolerância, de desrespeito à opinião", diz Ed René Kivitz, teólogo e pastor da paulistana Igreja Batista de Água Branca. Ele foi alvo de polêmica própria, ao ser desligado da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil após dizer que a Bíblia precisava ser atualizada por conter trechos homofóbicos. A tônica da fala fez dele um pária entre colegas.
Demandas progressistas também provocaram rachas entre presbiterianos. Em julho, o Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil proibiu mulheres de pregar, e um grupo veio a público criticar "a violência simbólica que nos foi imposta", esculpida a partir de "interpretações machistas" da Bíblia. A igreja já tinha ensaiado publicar um repúdio ao "pensamento de esquerda", mas recuou.
Aliado de Bolsonaro, Malafaia diz que "você nunca vai ver um líder grande, e estou falando a liderança top", dizer que um crente não pode ser esquerda. "Isso aí é pastor, sabe, de um nível menor."
"Nunca vou dizer na minha igreja, ‘olha, você não vota em Lula’. Eu só mostro o que a esquerda pensa e o que nós pensamos, e quem é que pensa como nós pensamos?"
Segundo o pastor, o que há são "esquerdopatas" que "vêm com essa historinha de vitimização porque um cara teve uma briga". Incidentes como o de Goiás, diz, são raros num contingente tão grande de pessoas. "Num universo de mais de 60 milhões, isso não é nada."
Para Ed René, essa adesão ao conservadorismo que Bolsonaro soube capitalizar tão bem é favorecida por algumas teologias que circulam entre religiosos. Uma delas é a teologia da batalha espiritual.
"Justamente essa noção da luta do bem contra o mal, da luz contra as trevas. Esta linguagem bélica, que transforma o seu próximo não no seu divergente, mas no seu inimigo, alguém a ser eliminado."
A opinião da liderança, irradiada para a base da pirâmide, reforça essa ideia de que há forças demoníacas para derrubar. O pastor André Valadão, da Igreja Batista da Lagoinha, é um bom exemplo. Além de fazer parte de um clã de tradição no segmento, ele é o que podemos chamar de influencer evangélico.
Quando um seguidor quis saber se votar em Lula é pecado, respondeu em seu Instagram: "Não. É só falta de conhecimento da seriedade do mal e ideologia maligna por trás da esquerda".
"Quando a pessoa está determinada em te enviar para o inferno, ela vai até as últimas consequências", diz Luciana Pettersen, que vive na mineira São João Del-Rei. Ela se posiciona como feminista negra "e com posições políticas muito claras", o que "costumava ser um problema dentro de algumas igrejas".
"Lembro de uma em especial onde os jovens sempre me atacavam muito, principalmente no pós-culto, falando que eu ia para o inferno por acreditar nas coisas que eu acreditava."
A agressividade extrapolou as palavras no caso do fiel baleado em Goiás. Na cadeira de rodas, Davi ainda não sabe quando vai conseguir voltar após o ataque que sofreu num lugar onde as pessoas se chamam de irmão e irmã.
"Fui beber água, cumprimentei os amigos, esse rapaz estava lá. Cumprimentei e ele já me olhou diferente, sabe? Jogou água no meu rosto, me xingou de vagabundo, sacou a arma e já meteu bala em mim."
Davi diz que o policial que atirou nele sabia que sua família era petista. "Nem todos são. Alguns torcem pro Bolsonaro, outros pro Ciro [Gomes]. Eu sou petista, voto no PT. E vou votar de novo." Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Violência política contra a mulher
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A iniciativa da Lei n.º 14.192, de 4 de agosto de 2021, foi muito boa, mas devemos ficar atentos ao seu fiel cumprimento.
Luiza Nagib Eluf, O Estado de S.Paulo
Ninguém há de negar que o Brasil é um país violento contra as mulheres. Os números referentes aos feminicídios são elevados e estamos em 5.º lugar, no mundo, entre as culturas que mais desrespeitam a vida feminina, conforme dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (Acnudh). Além disso, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2021, o País teve, em 2020, 3.913 homicídios contra mulheres; 230.160 casos de lesão corporal dolosa por violência doméstica; e 1.350 feminicídios (crime de morte praticado contra mulheres pelo simples fato de serem mulheres).
Não bastassem esses dados, neste momento eleitoral brasileiro em que há várias mulheres candidatas a cargos públicos, inclusive à Presidência da República, a violência política contra elas parece ter explodido, a ponto de ser criada uma lei para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher (Lei n.º 14.192, de 4 de agosto de 2021). A situação é vergonhosa e trágica, mas, acima de tudo, é inadmissível.
Diante desta realidade nacional, a Lei n.º 14.192, de 4/8/2021, que estabelece normas para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher em nosso país, dispõe sobre os crimes de divulgação de fato ou vídeo com conteúdo inverídico no período da campanha eleitoral, criminalizando a violência política contra a mulher e assegurando a participação feminina em debates eleitorais, proporcionalmente ao número de candidatas nas eleições.
A iniciativa foi muito boa, mas, como brasileira que conhece o Brasil, creio que devemos ficar atentos ao fiel cumprimento da lei e à garantia de que os direitos e deveres nela previstos serão observados.
O artigo 3.º da lei em tela define “violência política contra a mulher” como sendo toda ação, conduta ou omissão com a finalidade de impedir, obstaculizar ou restringir seus direitos políticos. Da mesma forma, estão proibidas a divulgação de fatos ou atos que depreciem a condição de sexo feminino e as ofensas em relação à sua cor, raça ou etnia, bem como distribuir ou divulgar vídeos inverídicos ou assediar sexualmente as candidatas.
As penas impostas pela nova lei vão de 1 ano a 4 anos de reclusão e multa, mas elas podem ser majoradas em um terço se o crime é cometido contra gestante, idosa ou pessoa com deficiência.
Em resumo, a nova lei proíbe o menosprezo ou a discriminação à condição de mulher.
Diante do que está escrito no papel, torna-se imperioso lutar para que as determinações contidas na nova lei se transformem rapidamente em realidade. Estamos em pleno período eleitoral e as agressões se multiplicam rapidamente. Surgem grandes quantidades de informações falsas, acusações sem fundamento e até ataques à sexualidade feminina pela concorrência masculina. As mulheres sofrem desrespeito quando são jovens e quando são idosas; quando são feias e quando são lindas; quando são espertas e quando são tímidas; quando são inteligentes e quando são despreparadas. No entanto, é fácil de perceber que, se o Brasil fosse governado por mulheres, nós estaríamos muito melhores. Não que os homens todos mereçam nossa desconfiança – longe disso –, mas renovar os cargos de comando elegendo pessoas que se preocupam verdadeiramente com o bem comum seria uma experiência merecedora de aplausos.
Se queremos um Brasil pacificado, nada pode ser resolvido a tapa ou a bala. As agressões que vêm se repetindo entre partidários de tais ou quais grupos políticos são demonstrações vergonhosas de desrespeito aos direitos da cidadania, evidenciando a selvageria à qual se submete nossa sociedade. Além disso, pouco importa saber o quanto determinado candidato é potente ou viril, isso não pode interferir nas qualidades exigidas de um postulante a presidente da República. Da mesma forma, é impossível manter o respeito ao pleito eleitoral se a comunidade, dividida em grupos belicosos, continuar agredindo, insultando e até matando adversários.
Cabe ao povo brasileiro fazer uma revisão de costumes. Além de respeitar religiosamente os direitos humanos de todas e todos, será preciso buscar a convivência harmônica e pacífica mesmo diante daqueles que pensam diferente, sem jamais radicalizar nas ideias tentando impor um conceito próprio a terceiros, muito menos na base da agressão.
Tudo isso pode parecer óbvio, mas não é. Basta prestar atenção na forma como as mulheres são tratadas para entender que não existe respeito humano no Brasil. Como suportamos tanto ódio? A misoginia torna-se mais evidente quando se trata de mulher com pretensão a cargo público ou outra posição de poder, como concurso público de alto escalão e presidência de grandes empresas ou bancos. Evidentemente, nada disso é justificável.
A Lei n.º 14.192, de 4/8/2021, que pretende evitar a violência política contra a mulher, nem precisaria ter sido escrita, se nossa população tivesse noções mínimas de direitos humanos e de respeito ao próximo.
*ADVOGADA, É PROCURADORA DE JUSTIÇA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DE SP APOSENTADA. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Jovem é agredida com paulada na cabeça após discussão com apoiador de Bolsonaro no RJ
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Por Letícia França
Confusão aconteceu nesta sexta-feira, 23, no centro de Angra dos Reis; a vítima foi socorrida para o hospital, onde recebeu sete pontos no ferimento
Uma jovem de 19 anos foi agredida por um apoiador de Jair Bolsonaro nesta sexta-feira, 23, na cidade de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. A denúncia foi feita pela irmã da vítima, que também estava no local da discussão. De acordo com o relato, o agressor utilizou um pedaço de madeira para atingir Estéfane de Oliveira Laudano.
De acordo com a 166ª Delegacia Policial de Angra dos Reis, todos os envolvidos já prestaram depoimento. O autor foi autuado por lesão corporal e o caso foi encaminhado ao Juizado Especial Criminal (Jecrim).
A confusão teria começado após discordância política. “Estávamos em um bar entre amigos e comentamos sobre a publicação de um colega que dizia ‘Minha bandeira é verde e amarela. Meu voto é 13′. Achei engraçado e comentei em voz alta que não tinha amigo bolsonarista”, contou Esther de Oliveira Laudano, irmã da vítima. Segundo ela, após ouvir o comentário, um outro frequentador do bar se aproximou do grupo e gritou palavras de apoio a Bolsonaro. “Nós continuamos conversando e o ignoramos, mas ele seguiu com as provocações”, acrescentou.
Conforme o relato de Esther, o homem teria insistido nos insultos e ofensas contra ela e a irmã. “A dona do bar pediu para ele ir embora porque estava causando um alvoroço desnecessário no local”, explica. A jovem complementa que o homem chegou a se afastar, mas voltou pouco tempo depois com um pedaço de madeira e afirmando que elas “iriam apanhar igual a um homem”. “Minha irmã estava usando uma peruca. Ele a tirou, jogou no chão, segurou os braços dela e a acertou com a madeira”, relembra Esther.
Estéfane de Oliveira foi atingida na cabeça. A irmã conta que chegou a avançar sobre o agressor e desferir socos contra ele, mas parou no momento em que viu a caçula ensanguentada. A vítima foi socorrida para um hospital próximo ao bar, na região central de Angra dos Reis. Na unidade, ela precisou levar sete pontos na cabeça. Agora, já recebeu alta e segue em recuperação em casa.
Logo após a confusão, a irmã foi até a 166ª Delegacia Policial de Angra dos Reis para fazer a denúncia. Ela conta que os policiais fizeram uma ronda na região e conseguiram prender o suspeito da agressão. “Os próprios moradores seguraram ele na rua”, explica Esther. O homem foi levado para a delegacia para os procedimentos cabíveis. /COLABOROU JESSICA BRASIL SKROCH. Fonte: https://www.estadao.com.br
Polêmica racial envolvendo ACM Neto causa reviravolta na eleição da Bahia
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Polêmica racial envolvendo ACM Neto causa reviravolta na eleição da Bahia
Declaração de ex-prefeito de Salvador é alvo de sátiras de internautas e tem sido usada pela campanha do PT no horário eleitoral
'Bronzeamento' de ACM Neto em entrevista repercutiu nas redes sociais Reprodução
A corrida eleitoral para o governo da Bahia sofreu uma reviravolta nos últimos dias por causa de uma polêmica racial. Depois de meses em larga vantagem nas pesquisas, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil) perdeu 5 pontos percentuais no último levantamento do Datafolha, enquanto o petista Jerônimo Rodrigues subiu 12 pontos.
Se confirmado o viés de queda, a eleição, que caminhava para ser decidida no primeiro turno, com vitória do ex-prefeito, agora pode vir a ter uma segunda rodada.
Observadores da política local atribuem a guinada a um movimento politicamente desastroso: depois de se declarar pardo à Justiça Eleitoral, ACM Neto compareceu a uma entrevista na TV local exageradamente bronzeado e questionou os critérios do IBGE para classificação de raça no Brasil.
Desde que se declararam pardos à Justiça eleitoral, em agosto, ACM Neto e a vice, a empresária Ana Coelho (Republicanos), vinham sendo acusados de fraude.
Embora não haja cotas ou fundos especiais para negros, como os partidos tradicionalmente privilegiam homens e brancos no rateio dos recursos, colocar uma candidatura competitiva de um governador “negro” em um dos maiores colégios eleitorais do País pode servir à narrativa de que aquela legenda cumpriu o critério racial e não escanteou negros na divisão do dinheiro.
ACM Neto já havia se declarado pardo em 2016, mas na ocasião não houve polêmica a respeito. Desta vez, a vice Ana Coelho recuou e mudou sua declaração de cor para branca, mas ACM Neto manteve o status de pardo, que buscou justificar na entrevista concedida à TV Globo local na segunda-feira (12).
A emenda, porém, saiu pior do que o soneto. Além de surgir com um bronzeado destoante do seu tom de pele natural – o que levou os adversários a acusarem o ex-prefeito de ter feito bronzeamento artificial para aparecer na TV – , ele se enrolou ao dizer que jamais se consideraria negro.
“Eu me considero pardo. Você pode me colocar ao lado de uma pessoa branca, há uma diferença bem grande. (Agora) Negro, não. Não diria isso, jamais”, declarou ACM.
Só que, pelos critérios do IBGE, são considerados negros os pardos e pretos. Questionado sobre isso pelos jornalistas, ACM respondeu: “Então é erro do IBGE, não é meu. Simplesmente isso”.
Um detalhe: o DEM, partido que deu origem à União Brasil na fusão com o PSL, foi autor de uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra as cotas raciais em universidades públicas, o que também tem sido explorado contra o adversário.
A Bahia é o estado com a maior proporção de negros no Brasil. Em Salvador, cidade em que ACM Neto tem mais força eleitoral, 80% dos habitantes se declaram negros.
Até a entrevista, o episódio vinha sendo explorado pelo PT e outros adversários, mas sem grande repercussão. Depois, as declarações de ACM Neto se tornaram o assunto dominante na campanha.
O nome do ex-prefeito ficou nos trending topics do Twitter por três dias consecutivos, e as imagens da entrevista – especialmente as que ressaltam o tom do bronzeado – se tornaram alvo de memes e vídeos satíricos.
“É o ACM Negro deliberando melanina com a chave de Wakanda na mão”, ironiza um dos vídeos, em referência ao país fictício no qual é ambientado o filme Pantera Negra.
Outro vídeo faz paródia de um material institucional da prefeitura soteropolitana. “Para entender melhor sua descendência africana, pesquise no site da prefeitura o nosso projeto ‘ACM: Black or White?’, que explica que o que importa é o que você acha e pau no c* do IBGE!”, brinca o humorista Daniel Ferreira.
Três dias após a entrevista, a coligação do candidato petista passou a exibir uma peça de propaganda no horário eleitoral em que populares criticam a postura de ACM Neto.
Nela, o ex-prefeito é acusado de “apropriação racial”, de “impedir que pessoas negras entrem na política” e de ser “um homem branco, cheio de privilégios”. “Você acha isso correto?”, provoca o narrador do vídeo petista.
A ofensiva levou a campanha do União Brasil a acionar três vezes o Tribunal Regional Eleitoral baiano para retirar o vídeo do ar, mas todos os pedidos foram negados.
Nós procuramos a equipe de ACM Neto, que enviou uma nota negando ter tido qualquer prejuízo com a polêmica racial. “A campanha faz diversos grupos qualitativos em todo o estado e nada leva a crer que a população tenha sido impactada por esse ataque da oposição, que inclusive levou o tema para a propaganda eleitoral.”
A nota, porém, não explica o que teria provocado a queda no Datafolha. Pelo contrário. De acordo com ela, as pesquisas têm oscilado de acordo com o instituto, mas todas mostram ACM vencendo com “aproximadamente 60% dos votos válidos” – não é o caso do Datafolha.
Já o PT considera que o episódio será seu passaporte para a vitória, e por isso pretende continuar explorando a alegada negritude de ACM Neto em seus programas eleitorais.
Levantamento digital feito por adversários de ACM Neto aponta que, no universo de menções à entrevista, 93% dos comentários foram negativos, 5% neutros e apenas 2% positivos. Os termos mais associados ao ex-prefeito de Salvador foram “bronzeamento facial”, “piada”, “pardo”, “oportunismo” e “IBGE”. Fonte: https://oglobo.globo.com
'Mito'
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Movimentos fascistas costumam se escorar na farsa do 'escolhido por Deus'
Fábio Tofic Simantob
Advogado criminalista, é mestre em direito penal pela USP e vice-presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim)
Apesar de Jair Bolsonaro ser filho da velha política, o fenômeno bolsonarista não é. O fenômeno nasce a partir da ideia de "mito", que em nada condiz com a do medíocre deputado federal que fora até 2018. É a ideia de "mito" que o catapulta ao posto mais importante da República.
Sucede que "mito é uma narrativa", escreve o professor Everardo Rocha na sua contribuição para a coleção "Primeiros Passos", da Editora Brasiliense, na década de 1980. Prossegue ele: "O mito não fala diretamente, ele esconde alguma coisa (...) O mito é uma coisa inacreditável, algo sem realidade, é uma mentira; sua verdade, consequentemente, deve ser procurada num outro nível, talvez outra lógica".
Bolsonaro mais de uma vez se disse escolhido por Deus para presidir o Brasil. Os movimentos de cunho fascista costumam se ancorar nessa premissa. Usam termos que remetem a uma escolha divina, a um poder ancestral. Por isso seus líderes recebem designações como mito, "führer", "duce".
Em uma obra pouco conhecida ("Aspectos do Drama Contemporâneo"), que analisa aspectos psicológicos do fenômeno do nazismo na Alemanha, Carl Jung considera que a sociedade foi acometida por uma epidemia psíquica a partir do momento em que o inconsciente coletivo do povo alemão foi capturado por Hitler e seus asseclas.
Jung traça um perfil psicológico de Hitler, considerando-o uma manifestação simbólica do antigo deus germânico Wotan.
De fato, ninguém melhor do que um representante de Deus para conseguir dialogar com os demônios que a razão não consegue dominar. As formas racionais e pacíficas de solução de conflitos são encaradas como covardia e permissividade, típicas de um homem fraco, rendido às peias do comunismo cultural.
Daí a repulsa desses movimentos a tudo que vem da ciência e da razão. Tudo que tenta racionalizar e de alguma forma aplacar as manifestações puras que brotam da alma são tentativas de manipular a mente do povo.
Os movimentos fascistoides são contra o que Bolsonaro e seus seguidores gostam de chamar de "intelectualismo". Preferem a superfície dos sentimentos primitivos às construções do pensamento filosófico que, ao longo dos séculos, sedimentaram os valores da civilização.
Em "Minha Luta", Hitler atacava o bolchevismo judaico, ao mesmo tempo em que acusava os judeus capitalistas americanos de quererem dominar o mundo (uma cópia fajuta de "Os Protocolos dos Sábios de Sião", talvez a primeira fake news do mundo moderno). Ou seja, teses absolutamente contraditórias, que não operavam com a razão, nem com a lógica, e muito menos com a verdade, mas com o ódio ancestral do povo alemão pela imagem de um judeu medieval que só existia em seu inconsciente atávico. O judeu alemão era uma minoria insignificante, já em grande parte assimilada à sociedade alemã.
Bolsonaro toca no mesmo diapasão. Acusa empresários de globalistas por financiarem causas sociais e progressistas mundo afora —como é o caso de George Soros, mais de uma vez alvo de ataques de filhos do presidente em redes sociais.
Assim como a Alemanha e o mundo eram vítimas de um plano judaico para dominar o planeta, agora é a vez de progressistas —banqueiros ou sindicalistas, jornalistas ou políticos, não importa— serem acusados de usar métodos sub-reptícios para capturar todos os âmbitos da vida nacional. Vão se infiltrando na imprensa, nas universidades e nas escolas porque querem conquistar tudo com sua ideologia pagã. Qualquer semelhança não é mera coincidência.
As pessoas tendem a achar que o que define o nazismo é Auschwitz. Auschwitz foi o nazismo levado às últimas consequências. O nazismo, como fenômeno político, pode se reproduzir em maior ou menor grau em outros momentos e outros lugares, ainda que sem a violência do nazismo alemão.
Se é verdade que a história se repete como farsa, Bolsonaro é o produto mais bem acabado dessa história —ou dessa farsa, se preferirem.
TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Quem é o padre que acompanhou Bolsonaro na viagem para Londres
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Padre Paulo Antônio de Araújo compõe a comitiva presidencial ao lado do pastor evangélico Silas Malafaia
Além do pastor Silas Malafaia, o padre Paulo Antônio de Araújo acompanha o presidente Jair Bolsonaro (PL) no Reino Unido, para as cerimônias alusivas ao funeral da rainha Elizabeth II. Registros com o padre foram feitos pelo mandatário e pelo filho Eduardo Bolsonaro, que não especificaram o papel dos religiosos na agenda oficial.
De perfil discreto, o padre Paulo Antônio de Araújo não possui perfil nas redes sociais, diferentemente de Malafaia, que é bastante atuante no ambiente virtual.
Araújo integra a congregação católica Servos da Eucaristia, organização conservadora criada em 1979 na cidade de Ponta Grossa, no Paraná. Paranaense de 63 anos, ele ordenou-se na Igreja Católica em 1985.
A relação oficial de integrantes da comitiva ainda não foi divulgada pelo Palácio do Planalto ou pelo Itamaraty.
Também acompanham a comitiva presidencial a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e os filhos do presidente Flávio e Eduardo, além do chefe da assessoria internacional do Palácio do Planalto, Filipe Martins, e do ex-secretário de Comunicação do governo federal Fábio Wajngarten.
O maquiador e amigo da primeira-dama Agustin Fernandez publicou registros ao lado de Michelle em Londres, mas não especificou se viajou no avião presidencial. Ele é frequentemente visto com ela em agendas. Fonte: https://www.metropoles.com
Marina Silva: ‘Sou cristã e nunca instrumentalizei a fé nem as igrejas’
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Por Pedro Venceslau
Oito anos depois de apoiar Aécio Neves (PSDB) no 2° turno da campanha presidencial de 2014, a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, que disputa uma vaga de deputada federal em São Paulo pela Rede Sustentabilidade, anunciou, em tom solene, na segunda-feira passada, que se engajaria na campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Marina já fazia campanha colada em Fernando Haddad (PT), candidato ao governo do Estado. A ideia é ajudar a reduzir o antipetismo enraizado em parte da classe média, especialmente no interior, e também entre evangélicos.
Nessa entrevista ao Estadão, concedida por telefone em São Carlos, onde cumpria agenda ao lado de Haddad, Marina disse que relevou os ataques do PT e que as pesquisas mostram que o eleitorado de Lula hoje é muito maior que a esquerda ou direita.
Em 2014, a sra. foi muito atacada pela campanha da presidente Dilma e o PT, e apoiou Aécio Neves no 2° turno. A sra. relevou?
O tema relevar é o gesto que aconteceu na segunda-feira após uma conversa de duas horas em caráter individual. Após essa conversa houve um compromisso público e transparente em cima de um documento que está sendo reconhecido no mundo inteiro como uma agenda estratégica para tirar o Brasil da condição de pária ambiental. Colocar o Brasil no caminho de assinar o acordo com o Mercosul. Isso é olhar de baixo pra cima para ver o que está acima de nós. É isso que importa. Quando a banalização do mal ameaça o tecido social, homens e mulheres precisam defender a democracia e depois tratar de suas diferenças. Existem coisas que estão acima de nós. Acima de mim está a democracia, a proteção da Amazônia e a pobreza.
Como a sra., que é evangélica, explica a resistência dos evangélicos ao ex-presidente Lula e apoio ao presidente Jair Bolsonaro? Algumas lideranças apoiaram a sra. no passado.
Silas Malafaia já esteve com o presidente Lula e com José Serra. Comigo ele nunca esteve. Lideranças como Marcos Feliciano, Magno Malta, Renê Terranova e Bispo Manoel Ferreira já estiveram com Lula e Dilma. Esse papo de que Lula vai fechar igrejas não é verdade. Sou cristã evangélica da Assembleia de Deus e nunca instrumentalizei a fé nem as igrejas em minhas campanhas políticas. A maior parte dessas lideranças não caminharam comigo. Uma parte deles esteve com a presidente Dilma.
Esse é o momento de defender o voto útil para tentar evitar que tenha 2° turno?
Esse é o momento de mobilizar a sociedade para derrotar Bolsonaro. Temos que nos dirigir aos cidadãos donos de seu voto. Nesse momento difícil da história do Brasil a gente percebe o que Hannah Arendt chama de banalização do mal contaminando e degradando o tecido social brasileiro. Os homens e mulheres que defendem a democracia têm que se juntar para preservá-la. Fiz o gesto de uma recomposição política e programática. Acredito que o presidente Lula é quem reúne as melhores condições de ajudar o Brasil a derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo, que é a banalização do mal. É legítimo que existam candidaturas. É uma eleição em dois turnos. Não gosto dessa coisa de voto útil. Para mim essa atribuição deve ser útil da melhor forma possível.
Em 2018 a sra. foi vítima do voto útil. Neste ano o avalia que ele é necessário?
Em 2018, de fato, isso aconteceu, mas foi uma decisão das pessoas. Não vi um movimento. Por isso eu insisto: vamos dialogar com as pessoas. É legítimo que quem está disputando uma eleição queira ganhar no 1° turno. Se ganhar no 1° turno é melhor, mas se não ganhar será preciso um esforço maior de todos os democratas para criarmos um novo ecossistema político.
Como a sra. explica o fato de Bolsonaro colocar tanta gente na rua e a dificuldade do campo político que apoia Lula em mobilizar como no passado?
A pontuação do Lula nas pesquisas é muito maior que o recorte de esquerda e direita. São muito mais os brasileiros que não querem a continuidade do Bolsonaro. Não sei fazer a comparação entre as métricas das ruas. O importante é que a métrica da ética, democracia, liberdade de expressão e direitos humanos vai prevalecer em legítima defesa do Brasil. Fonte: https://www.estadao.com.br
O apito de cachorro
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Agressão de um deputado bolsonarista contra Vera Magalhães é consequência direta do ataque do presidente à jornalista, que ousou lhe fazer uma pergunta incômoda
O deputado estadual bolsonarista Douglas Garcia (Republicanos-SP) acossou a jornalista Vera Magalhães durante o debate entre os candidatos ao governo de São Paulo promovido anteontem pela TV Cultura. Na ocasião, disse que Vera era “uma vergonha para o jornalismo” – a mesma frase usada pelo presidente Jair Bolsonaro ao agredir a mesma jornalista durante recente debate entre candidatos à Presidência.
O episódio não serve somente para confirmar o padrão bolsonarista de desrespeito a mulheres, a jornalistas profissionais e à imprensa independente. Foi uma oportunidade para ver, na prática, como o discurso virulento de Bolsonaro se presta a atiçar seus camisas pardas a transformar palavras em ação. É a versão bolsonarista do “dog whistle”, expressão da política norte-americana que pode ser traduzida literalmente como “apito de cachorro” e que serve para definir frases do líder que são entendidas por seus seguidores como uma espécie de comando.
Assim, quando o presidente Bolsonaro ataca violentamente uma jornalista, o apito soa e essa jornalista se torna imediatamente alvo preferencial dos arruaceiros bolsonaristas. Portanto, o deputado que a agrediu não fez mais que emular seu adestrador. Esse truculento parlamentar não teria se sentido à vontade para intimidar uma jornalista, e ainda filmar sua agressão para torná-la pública como se fosse um grande feito, se seu líder, o presidente da República, já não o tivesse feito.
É por isso que aos bolsonaristas que pretendem se desvincular desse episódio, como é o caso de Tarcísio Gomes de Freitas, candidato a governador de São Paulo, não basta condenar o deputado Douglas Garcia. É preciso condenar o próprio presidente Bolsonaro, que soprou o apito. O candidato Tarcísio chamou o deputado de “idiota” e pediu desculpas à jornalista. Mas nada disse sobre a mesmíssima agressão que Bolsonaro cometeu contra Vera Magalhães.
Recorde-se que a jornalista Vera Magalhães se tornou foco dos fanáticos bolsonaristas porque fez uma pergunta que incomodou Bolsonaro durante um debate. Foi o que bastou para sua vida virar um inferno. Agressões contra jornalistas no exercício da profissão, quase sempre mulheres, tornaram-se norma desde que Bolsonaro chegou ao Palácio do Planalto.
Em vez de responder à pergunta – que dizia respeito à campanha de vacinação contra a covid-19 – ou até mesmo, se achasse que era o caso, contestar civilizadamente o modo como a questão foi formulada, Bolsonaro resolveu ofender Vera Magalhães em sua dignidade e profissionalismo. Eis o padrão de comportamento do presidente em relação à imprensa que não lhe presta vassalagem: um misto de agressividade e diversionismo. Diante de perguntas incômodas, Bolsonaro agride e desqualifica quem as formula, sem responder ao que foi perguntado.
Eventuais críticas ao trabalho da imprensa profissional e independente jamais serão mal recebidas em uma democracia. Os próprios jornalistas, não raras vezes, as expõem. O que é absolutamente inaceitável – e inconstitucional, vale lembrar – são agressões de qualquer natureza contra jornalistas no livre exercício da profissão.
É contraditório, mas não surpreendente, que bolsonaristas digam ser tão zelosos com a liberdade de expressão e com os preceitos constitucionais, mas não respeitem a liberdade de imprensa consagrada pela Constituição. O fato de alguém como o deputado Daniel Silveira, que faz da violência seu programa político, ser tido como um “herói” da liberdade de expressão no País por esses bolsonaristas mais empedernidos diz muito sobre a ideia de “liberdade” que Bolsonaro dissemina entre seus apoiadores.
A despeito de todas as agressões de que têm sido vítimas, jornalistas jamais deixarão de fazer as perguntas que tanto incomodam Bolsonaro. Mais cedo ou mais tarde, o presidente terá de responder sobre as “rachadinhas”, dezenas de imóveis comprados com dinheiro vivo e cheques suspeitos depositados na conta da primeira-dama por Fabrício Queiroz, o notório faz-tudo do clã Bolsonaro, entre outras perguntas inconvenientes. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Cabeleireira baiana aciona Tebet por uso de imagem na propaganda eleitoral
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Negra Jhô aparece em peça da candidata; campanha diz ter adquirido o vídeo em banco de imagens internacional
A cabeleireira baiana Valdemira Telma de Jesus Sacramento, famosa em Salvador como Negra Jhô, acionou na Justiça a campanha da presidenciável Simone Tebet (MDB) por uso indevido de sua imagem na propaganda eleitoral veiculada na televisão.
A cabeleira se notabilizou tanto no Brasil quanto no exterior pela valorização da estética afro nas ruas do Pelourinho, em Salvador. Dona de um salão de beleza especializado em turbantes e tranças, Negra Jhô já foi tema de composição do cantor Saulo, um dos clientes dela.
Negra Jhô aparece em um vídeo da candidata por um segundo, mas, alega, tempo suficiente para perder apoio para um evento que organiza na capital baiana. Na imagem, a cabeleireira está de turbante, em frente à porta de um casarão histórico no Pelourinho, onde trabalha.
Por meio de nota, a campanha de Tebet informou ter adquirido o vídeo no banco de imagens internacional Shutterstock. O conteúdo já foi removido tanto da propaganda da candidata quanto da plataforma que comercializa as imagens.
Negra Jhô disse que tomou um susto ao tomar conhecimento, por meio de terceiros, na sexta-feira (9), que a imagem dela estava sendo veiculada na propaganda da candidata, pelo menos, desde o feriado da Independência do Brasil, dia 7 de setembro.
"Eu sou uma mulher negra livre. Não sou escrava para ter a imagem vendida por um site", disse Negra Jhô. "É tanta gente que tira foto minha aqui no Pelourinho, mas não assinei nenhum termo para autorizar a comercialização de minha imagem."
Ao saber da veiculação na propaganda, Negra Jhô recorreu às redes sociais, no sábado (10), para repudiar o uso da imagem dela. Somente no Instagram, a mensagem da cabeleireira baiana foi transmitida para cerca de 15 mil seguidores.
"Eu, Valdemira Telma de Jesus Sacramento, conhecida no Brasil pelo nome artístico e social Negra Jhô, venho a público repudiar o uso indevido, e, sem autorização, da minha imagem na campanha eleitoral da candidata Simone Tebet, a qual nunca tive nenhum tipo de diálogo ou contato pessoal", disse no comunicado.
"Todxs sabem da minha índole, ética e compromisso com o meu povo preto. Repudio veementemente o uso da minha imagem. As providências cabíveis já estão sendo tomadas, e peço a todxs que me conhecem que compartilhem essa nota", finaliza o texto.
A advogada Helenice Santos, que representa a cabeleireira, informou já ter protocolado uma ação na 5ª Vara Cível e Comercial de Salvador com um pedido de indenização no valor de R$ 100 mil, além da retirada imediata da imagem da cliente da campanha e da plataforma.
Segundo a cabeleireira, a exposição involuntária na campanha da emedebista rendeu questionamentos sobre o posicionamento político dela.
"Nem sabia que essa moça era candidata nem que era senadora. A vida tá tão agitada, que nem tenho tempo de acompanhar a política, até porque já tenho meus candidatos", disse. "Não me senti bem ao ver o vídeo, como não estou bem até agora".
A repercussão do caso tem atrapalhado a organização da 13ª edição da Feijoada —evento cultural que será realizado com várias atrações, no próximo dia 25, no Pelourinho—, além de provocado a perda de apoio financeiro para a festa, argumenta.
"Quem viu, pensou: ô, Negra Jhô está com essa mulher, então não vou apoiar. Me prejudicou. Estou muito chateada", afirmou. "Eu tomei o maior susto porque passou na televisão aberta. A culpa não é nem da moça, coitada, mas da campanha dela", disse.
A advogada da cabeleireira informou que foi solicitada uma antecipação de tutela para retirar a imagem da cliente do vídeo, o que já foi cumprido.
Por nota, a assessoria de comunicação da campanha de Tebet informou que "a referida imagem foi adquirida pela campanha de Simone Tebet na plataforma Shutterstocks, um Banco de Imagens internacional".
"A imagem, em vídeo e foto, fica disponível, pode ser selecionada em sistema de busca por palavra-chave e foi licenciada rigorosamente dentro das normais legais. Mesmo diante disso, em razão e respeito às posições políticas da detentora, nossa campanha não vai mais fazer uso da mesma", finaliza o comunicado. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
'O Ministério da Defesa não terá qualquer acesso diferenciado às urnas', dizem fontes do TSE
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Defesa quer fazer apuração paralela de eleição, mas não há qualquer acordo sobre isso
Por Míriam Leitão
O TSE vai soltar uma nota esclarecendo o diálogo com os militares. A informação que eu consegui apurar é que não há decisão sobre os militares enviando QR Code de boletins de urnas para o Comando de Defesa Cibernética do Exército, fazendo essa apuração paralela.
– O Ministério da Defesa não terá qualquer acesso diferenciado às urnas
O que foi conversado naquela reunião em agosto é que as áreas técnicas da Defesa e do tribunal iriam desenvolver uma proposta de viabilidade dessa apuração que os militares querem fazer, para se decidir se seria possível.
A manchete da Folha de S. Paulo é de que os técnicos do Exército disseram que têm projeto para fazer essa conferência paralela, em que não usarão o sistema das informações das urnas disponíveis na internet, como costumeiramente qualquer pessoa pode fazer, mas sim o acesso direto em algumas das urnas. O jornal diz que fontes militares disseram que isso será feito em 385 urnas. Isso é negado pelo TSE.
(Atualização: O TSE divulgou nota no meio da manhã confirmando o que eu escrevi acima: que não houve nenhuma alteração nem qualquer acordo com as Forças Armadas para permitir acesso diferenciado real aos dados enviados para a totalização do pleito eleitoral pelos TREs, cuja realização é competência constitucional da Justiça Eleitoral)
Veja a íntegra da nota:
"O Tribunal Superior Eleitoral informa, em relação à apuração das eleições 2022, que não houve nenhuma alteração do que definido no primeiro semestre, nem qualquer acordo com as Forças Armadas ou entidades fiscalizadoras para permitir acesso diferenciado em tempo real aos dados enviados para a totalização do pleito eleitoral pelos TREs, cuja realização é competência constitucional da Justiça Eleitoral.
O TSE reitera informação amplamente divulgada em junho passado (https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2022/Junho/nota-de-esclarecimento-contagem-simultanea-de-votos-ja-e-possivel) sobre a contagem de votos, a partir da somatória dos BUs, ser possível há várias eleições e que para o pleito deste ano, foi implementada a novidade de publicação dos boletins de urnas pela rede mundial de computadores, após o encerramento da votação para acesso amplo e irrestrito de todas as entidades fiscalizadoras e do público em geral.
Independentemente dessa possibilidade, como ocorre há diversas eleições, qualquer interessado poderá ir às seções eleitorais e somar livremente os BUs de uma, de dez, de trezentas ou de todas as urnas." Fonte: https://oglobo.globo.com
A César o que é de César
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Ao condenar a manipulação religiosa para fins eleitorais, a CNBB faz importante defesa do regime democrático. O Estado é laico e, nele, deve imperar a liberdade política
Perante as inúmeras tentativas de usar a religião para angariar votos, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lembrou recentemente que a manipulação religiosa “desvirtua os valores do Evangelho e tira o foco dos reais problemas que necessitam ser debatidos e enfrentados em nosso Brasil”. Em nota publicada no último dia 2, os bispos católicos manifestaram preocupação com a instrumentalização da religião “protagonizada por políticos e religiosos”.
O problema não é teórico e vem causando danos muito além da própria liberdade política. A manipulação da religião para fins políticos tem sido ocasião de violência. No dia 31 de agosto, um fiel foi baleado dentro da igreja da Congregação Cristã no Brasil, em Goiânia, por discordar das falas do pastor que pregava o voto contra a esquerda. O disparo foi feito por um policial militar de folga que se envolveu na discussão política.
Em tempos confusos, como são os atuais, a nota da CNBB é muito importante, reafirmando um aspecto fundamental do regime democrático. A manipulação religiosa não é apenas um desvirtuamento de valores e convicções pessoais para fins político-eleitorais. Ao colocar o exercício da liberdade política como uma escolha entre o bem e o mal, essa instrumentalização da fé ataca o caráter laico do Estado – a separação entre Igreja e Estado – e a própria ideia de liberdade política. A mensagem dos manipuladores é a de que a adesão a um credo religioso implica uma específica escolha na urna. Não poucas vezes, a tramoia é feita sem nenhum pudor, sendo o próprio líder religioso candidato a cargo político.
Ao condenarem a manipulação religiosa, os bispos católicos reafirmam a existência de um âmbito de liberdade fundamental no Estado Democrático de Direito. Líder religioso não pode impor um determinado voto a seus fiéis – assim como patrão, cônjuge ou quem quer que seja não pode impor voto a ninguém. Há liberdade política, reconhecida e protegida pela Constituição.
A CNBB menciona um aspecto fundamental relativo à autonomia entre religião e política. “A Igreja (católica) é advogada da justiça e dos pobres, exatamente por não se identificar com os políticos nem com os interesses de partido”, diz a nota da entidade, citando um ensinamento do papa Bento XVI. A manipulação religiosa consiste justamente em identificar credo religioso com um político ou partido específico. Em suas expressões mais severas – que limitam de forma ainda mais radical a liberdade política –, essa manipulação chega a apresentar candidatos a cargos políticos como enviados de Deus.
É preciso defender a liberdade política. E, precisamente por existir liberdade política, cada pessoa tem o direito de definir o seu voto de acordo com suas convicções e sua visão de mundo. O caráter laico do Estado não impõe valores, sejam religiosos ou cívicos, a seus cidadãos. Cada um é livre para, dentro da lei, escolher e apoiar o que bem entender.
No caso dos católicos, os bispos lembram que “nossa fé comporta exigências éticas que se traduzem em compaixão e solidariedade concretas”. Logicamente, cada credo religioso tem suas doutrinas e suas especificidades. De toda forma, o que parece necessário destacar é a gritante incongruência entre discurso religioso (seja qual ele for) e desrespeito a quem pensa de forma diferente.
A manipulação religiosa da política tem sido fonte contínua de atritos e tensões, produzindo um ambiente de agressividade incompatível com o Estado Democrático de Direito. Segundo o Estadão revelou, lideranças evangélicas ligadas à esquerda estão preocupadas com a escalada da violência política, também dentro de instituições religiosas. Há disputa, pluralidade de ideias e embate de propostas, mas a democracia é fundamentalmente um regime de paz.
A liberdade – em suas diversas dimensões, também a política e a religiosa – não é um slogan vazio, e muito menos pretexto para agredir os demais. É um princípio fundamental inegociável, que, entre outras consequências, demanda respeito ao outro e à sua consciência. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Temores eleitorais
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Multiplicação de armas e tensões políticas justificam cuidados contra violência
O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal - Antonio Augusto/Secom/TSE
De 2018 até julho deste ano, cresceu em 187% no país o número de armas de fogo nas mãos de caçadores, atiradores e colecionadores (os chamados CACs), categoria beneficiada pelo afrouxamento do Estatuto do Desarmamento por meio de decretos presidenciais editados por Jair Bolsonaro (PL).
Há 1 milhão de artefatos apenas nas mãos desse grupo, o que eleva os temores quanto a degeneração da polarização política em violência física —o que pode acontecer mesmo sem pistolas ou revólveres, como se viu nesta sexta (9) com o assassinato à faca, segundo a polícia, de um petista por um bolsonarista em Confresa (MT).
Deve-se levar em consideração, além do número de produtos em circulação, a fragilidade do monitoramento de armas e munições a cargo do Exército e da Polícia Federal, além da retórica belicosa do mandatário maior da nação.
Dados do Observatório da Violência Política e Eleitoral (Giel/Unirio) apontam um aumento de 23% nos casos de violência contra lideranças políticas ante 2020. Foram 214 no primeiro semestre deste 2022, para 174 no mesmo período de dois anos atrás, quando se realizaram eleições municipais.
Às vésperas do 7 de Setembro, de forma monocrática, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, restringiu o número de armas e munições que podem ser adquiridas por CACs, antevendo mais casos de violência —como outro assassinato de petista por bolsonarista, em Foz do Iguaçu (PR), em julho deste ano.
A decisão, por defensável que seja, deveria caber ao plenário do STF. Isso não se dá porque o ministro Kassio Nunes Marques, indicado por Bolsonaro, travou o julgamento dos decretos de constitucionalidade mais que duvidosa por meio de um pedido de vista.
Não parece necessário tanto tempo de análise para concluir que as medidas violam o espírito da lei, o Estatuto do Desarmamento.
É importante que se assegure a segurança de eleitores e candidatos antes e no dia das eleições. Nesse sentido, deve-se também garantir que não haja armas próximas às seções eleitorais, como determinou o Tribunal Superior Eleitoral.
Cabe igualmente às forças de segurança garantir que o pleito ocorra de forma ordeira. Até aqui, 12 estados pediram ao TSE ajuda das Forças Armadas no primeiro turno.
Deve-se atentar para as diversas formas que a violência política pode assumir, incluindo assédio, coerção e humilhação. Desde a restauração da democracia, o país tem um histórico de eleições limpas e pacíficas a preservar. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Sakamoto: Bolsonarista mata petista horas após Jair defender 'extirpar' oposição
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Sakamoto: Bolsonarista mata petista horas após Jair defender 'extirpar' oposição
15 facadas e um machado não é legítima defesa, mas ódio; violência aumenta às vésperas do primeiro turno
Leonardo Sakamoto UOL
Polícia Civil afirma que o assassinato aconteceu na zona rural de Confresa (MT) – Divulgação
O Brasil produziu mais um cadáver por ódio político. Coincidentemente, a briga que levou ao crime começou algumas horas após o presidente da República defender, em comício na praia de Copacabana, que era necessário "extirpar da vida pública" adversários políticos da esquerda.
A Polícia Civil do Mato Grosso informou que Benedito dos Santos, eleitor de Lula, foi morto a golpes de faca e machado por Rafael de Oliveira, apoiador de Bolsonaro, após uma discussão política entre ambos na zona rural de Confresa, no Nordeste do Estado, descambar para a briga na noite de 7 de setembro.
"O que levou ao crime foi a opinião política divergente. A vítima estava defendendo o Lula e o autor, defendendo o Bolsonaro", afirmou o delegado Victor Oliveira ao portal G1. O assassino confessou o crime e está preso.
Santos teria dado um soco em Oliveira e pegado uma faca, mas foi desarmado e correu. Oliveira o perseguiu e passou a golpeou pelas costas. Já caído no chão, foi acertado com facadas no olho, no pescoço e na testa - segundo o delegado, foram 15 golpes. Depois, ele foi a um barracão buscar um machado para decapitar a vítima, que ainda estava viva, acertando-o no pescoço.
E 15 facadas e um machado não é legítima defesa, mas ódio.
A morte é uma péssima notícia para uma sociedade que vê a violência por motivos políticos escalar na medida que nos aproximamos do 1º turno das eleições.
O presidente já havia sido duramente criticado após o assassinato do tesoureiro do PT e guarda civil, Marcelo Arruda, pelo agente penitenciário bolsonarista Jorge Guaranho, em Foz do Iguaçu (PR), no dia 9 de julho.
Guaranho ficou sabendo da festa de aniversário de temática lulista de Arruda e foi lá provocar. O caso terminou com o petista morto e o bolsonarista preso.
Preocupado com o impacto do caso para a sua imagem, Bolsonaro deu declarações para encobrir que Guaranho reproduzia a sua retórica quanto a adversários. Em sua conta do Facebook, por exemplo, o assassino ecoava Bolsonaro em dezenas de postagens, chegando a afirmar que o Brasil precisa de uma "limpeza" dos petistas.
O presidente, desde então, diz que "fuzilar a petralhada" é figura de linguagem.
Com o caso de Foz do Iguaçu, Bolsonaro foi bastante cobrado para pedir a seus apoiadores em todo o Brasil baixarem a fervura. Mas, ao invés de condenar a violência e pedir para que seus seguidores e os demais brasileiros desarmem os espíritos para a eleição, Bolsonaro foi no sentido contrário.
Ele atuou para desmerecer a gravidade do caso, tentando, primeiro, convencer uma parcela da população de que foi um crime comum. Depois, buscando responsabilizar a vítima.
No dia 12 de julho, por exemplo, usou o famigerado "mas" para tentar mostrar que o "outro lado", ou seja, o do agressor, também tinha suas razões.
"Nada justifica a troca de tiros, mas lá fora... Está sendo concluída a investigação pela Polícia Civil do Paraná para a gente ver que teve um problema lá fora, onde o cara que morreu, que estava lá na festa, jogou uma pedra no vidro daquele cara que estava que estava no carro pro lado de fora. Depois ele voltou, e começou aquele tiroteio lá onde morreu o aniversariante", disse aos seus seguidores na porta do Palácio do Alvorada.
Depois, pediu desculpas porque vídeos mostraram que nenhuma pedra foi arremessada.
E na tentativa de convencer que esse tipo violência não tem cunho político, o presidente vem repetindo números de homicídios no Brasil, apontando que houve uma redução de mortes sob o seu governo. Para ele, se as mortes caíram no país, o bolsonarismo é vida, não morte, e ele não tem a ver com o ocorrido.
A sobreposição dos discursos de lideranças políticas, religiosas e sociais ao longo do tempo, fomentando ódio contra políticos, magistrados, jornalistas, entre outros, distorce a visão de mundo de seus seguidores e torna a agressão "necessária'' para tirar o país do caos e extirpar o "mal", alimentando a violência. Da mesma forma, a sobreposição de discursos afirmando que o crime não tem relação política acaba por normalizar a violência política, que passa a ser encarada como briga de bêbado na esquina.
Depois, neste Sete de Setembro, falando a seus seguidores no comício da praia de Copacabana, ele voltou à tônica: "Compare o Brasil, os países da América do Sul, compare com a Venezuela, compare com o que está acontecendo na Argentina e compare com a Nicarágua. De comum esses países têm nomes que são amigos entre si. Todos esses chefes dessas nações são amigos do quadrilheiro de nove dedos que disputa a eleição. Não é apenas voltar à cena do crime. Esse tipo de gente tem que ser extirpado na vida pública."
Com isso, ajuda a semear ainda mais sangue em uma eleição que será marcada por tumultos.
Não admira que o governo diga que não haverá violência política. Para ele, tudo isso é apenas "liberdade de expressão".
*Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato. Fonte: https://www.brasildefato.com.br
O Golpe da Independência
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É triste quando um povo celebra sua identidade e sua história desfilando tanques e cultivando cadáveres.
Cem anos atrás, o Brasil comemorava um século da independência com uma grande exposição internacional no Rio de Janeiro, em que se celebrava a entrada do País na modernidade do rádio e da eletricidade. Havia nela o Pavilhão da Estatística, dedicado à “ciência da certeza”, que apresentava os resultados do censo brasileiro de 1920, o primeiro em quase 50 anos (*). Fake news, nunca mais! 1922 foi, também, o ano da Semana de Arte Moderna, em que pintores e escritores se propunham a mostrar o Brasil como ele era e falava de verdade, do Macunaíma de Mário de Andrade aos operários de Tarsila do Amaral, livres das amarras da pintura clássica e do português castiço das velhas elites educadas em Coimbra.
O tema era o Brasil do futuro, e ninguém olhava muito para o dia em que, cem anos antes, a Família Real dera um golpe de Estado contra a revolução liberal portuguesa, que limitava seus poderes, e colocara a coroa brasileira na cabeça do herdeiro, Pedro I, “antes que um outro aventureiro o faça”, como diz a lenda. Mas a República Velha não se movia, e o povo, que havia assistido bestializado ao fim do Império, continuava sem entender o que República e mundo moderno lhe traziam.
Cinquenta anos depois, o Sete de Setembro foi comemorado olhando para trás, com o traslado do corpo de Dom Pedro para o Brasil. Eram os anos de chumbo, a repressão do governo militar brasileiro chegava a seu auge e Portugal vivia sob a ditadura do Estado Novo salazarista. Nada melhor do que o cadáver do jovem e impetuoso imperador para celebrar esta comunhão, trazido com todas as honras para repousar no Museu do Ipiranga. Faltava, no entanto, o coração, guardado no formol, que volta agora, finalmente, para o Brasil neste bicentenário que quase ninguém comemora e em que os fantasmas do autoritarismo e da violência política voltam a assombrar.
O que se comemora nos dias nacionais dos diversos países? Nos Estados Unidos, o 4 de julho marca o dia, em 1776, em que representantes das 13 colônias, reunidos num congresso, declararam sua separação da Grã-Bretanha; na França, o 14 de julho celebra a queda da Bastilha, em 1789, que marca o fim do absolutismo monárquico; no Chile, o 18 de setembro comemora a organização do primeiro governo autônomo do país; e, na Noruega, o 17 de maio celebra a primeira Constituição, de 1814. São todos de uma mesma época, de surgimento dos Estados nacionais, com seus três componentes centrais: um Estado moderno, ou seja, um governo organizado, com capacidade de angariar e utilizar bem recursos técnicos, financeiros e militares; cidadãos compartilhando a mesma história e dotados de direitos civis, políticos e sociais; e um território definido em que essa população vive, com fronteiras mantidas e defendidas pelo Estado e seus cidadãos, de forma soberana.
Dos três, o Brasil independente herdou um imenso e quase desconhecido território; um Estado patrimonial organizado para cobrar impostos e explorar as riquezas dos territórios que dominava; e uma população formada sobretudo por negros escravizados, indígenas, brancos e mestiços empobrecidos e analfabetos, vivendo no campo e na periferia das cidades. Desde a Colônia que setores da população se revoltavam contra os governantes, reivindicando autonomia, mas foram sufocados um a um. No Segundo Reinado, estavam todos dominados, com o imperador e uma pequena elite brincando de democracia constitucional.
Havia pessoas, mas não cidadãos, por muito mais tempo do que poderia. Estima-se que, quando os portugueses chegaram, cerca de 5 milhões de nativos viviam no território brasileiro. Trezentos anos depois, estes povos haviam sido exterminados ou se refugiado no interior desconhecido. No primeiro censo brasileiro, de 1872, dos 10 milhões de recenseados, menos de 5% foram classificados como indígenas, e desapareceram dos censos seguintes, até serem relembrados recentemente.
Nos países em que os habitantes se tornaram cidadãos, a educação pública teve um papel central. Nos Estados Unidos, na época da independência, 60% da população já sabia ler; em meados do século 19, eram quase 100%. Na Noruega, a educação pública já era obrigatória desde meados do século 18. No Chile e na Argentina, políticos intelectuais como Domingo Faustino Sarmiento e Andrés Bello estimularam a criação das primeiras redes de escolas públicas e de universidades modernas em meados do século 19. No Brasil, o tema da educação pública só começa a ser discutido na década de 1920, a primeira universidade é de 1934 e em 1960 metade da população era ainda analfabeta.
Se o lado positivo dos novos Estados nacionais foram a formação da cidadania e o desenvolvimento de um setor público representativo e capaz de apoiar e proteger seus cidadãos, o lado negativo foram o nacionalismo e o militarismo, jogando uns povos contra outros e enaltecendo o culto das armas e da violência. É bonito quando um povo celebra sua identidade e sua história dançando nas ruas e se confraternizando, como no Chile e na Noruega; mas triste quando o faz desfilando tanques e cultivando cadáveres.
(*) Sobre as comemorações da Independência e a história das estatísticas públicas no Brasil, vejam o recente livro do IBGE ‘As estatísticas nas comemorações da independência do Brasil’ (2022), editado por Nelson de Castro Senra. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Bolsonaro envergonha o País no Bicentenário
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Bolsonaro fez de tudo, exceto homenagear o Bicentenário. Aproveitou uma festa cívica para fazer descarada campanha eleitoral, usando recursos públicos e abusando de obscenidades
Era para ser um dia de grande festa cívica. O País comemorava o Bicentenário da Independência. Mas o presidente da República preferiu fazer campanha eleitoral, em uma lamentável confusão de âmbitos, com utilização político-partidária de recursos públicos e profusão de obscenidades. Jair Bolsonaro imprimiu ao 7 de Setembro o exato caráter de seu governo: uma administração que divide, envergonha e dá de ombros à lei e à moralidade.
Ontem, Jair Bolsonaro fez de tudo, exceto homenagear o Bicentenário. Não tem a mínima ideia do que significa ser chefe de Estado. No evento em Brasília, em dado momento, escanteou o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, para colocar a seu lado, em posição de destaque, Luciano Hang, bolsonarista de alta estirpe. Sem nenhum pudor, imperou o escárnio com a história do País.
Em vez de festa da Independência, o País assistiu ontem a atos de campanha de reeleição no mais genuíno estilo bolsonarista. Jair Bolsonaro não propôs nada nem se comprometeu com algum programa de governo. Fez grosseria pública, chegando a comparar sua mulher, Michelle, com a do ex-presidente Lula. Eis o nível daquele que diz defender a família brasileira. Entende-se bem por que é tão alta sua taxa de rejeição entre as mulheres. Jair Bolsonaro simplesmente provoca asco. Para que não houvesse dúvida do seu caráter, ainda puxou um indecoroso coro a respeito de sua alardeada virilidade. Em respeito ao leitor, não reproduziremos aqui o que disse o presidente, mas é o caso de perguntar: há limites para este senhor?
Tal é a sua desfaçatez que, no meio de obscenidades, Jair Bolsonaro ainda ousou recorrer ao discurso da “luta do bem contra o mal”, na manipuladora disjuntiva que só serve a quem não tem nada a apresentar ao País. Jair Bolsonaro encarna o bem? Ora, o verdadeiro bem não é mal-educado, não causa vergonha ao País e, nunca é demais lembrar, não manipula milhões em dinheiro vivo na compra de imóveis. O candidato que deseja se apresentar ao eleitor como o grande herói do combate à corrupção até agora não explicou a origem do dinheiro usado nos negócios imobiliários da família nem esclareceu as suspeitas de rachadinha que envolvem quase todo o clã Bolsonaro e seus agregados.
O mais triste do dia de ontem é que Jair Bolsonaro fez tudo isso e, a rigor, nada representou nenhuma novidade. Ele fez exatamente o que vem fazendo desde os tempos do Exército, quando ameaçava colocar bombas em quartéis e desrespeitava a farda e a hierarquia militares. Tanto é assim que, em um evento cívico da mais alta importância – a comemoração dos 200 anos da Independência do Brasil –, nem os presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, tampouco o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, estiveram presentes. Eles certamente anteviram o papelão de Bolsonaro e não quiseram passar constrangimento. Evitaram endossar as atitudes e as falas de um presidente da República que dá insistentes mostras de que nada entendeu sobre o cargo que ocupa e suas responsabilidades.
É preciso advertir, no entanto, que ontem o presidente Bolsonaro não apenas desrespeitou a dignidade do cargo e a natureza da festa cívica – o que por si só é lamentável. Não foi um deslize de quem é indiferente à civilidade e aos bons modos. Jair Bolsonaro infringiu a lei, seja porque se valeu da estrutura pública de um evento cívico para fazer campanha eleitoral, seja porque tentou de todas as formas usar o prestígio das Forças Armadas em proveito político-partidário.
Não há dúvida – e assim registram as pesquisas de opinião que Jair Bolsonaro tanto desacredita – que uma parcela significativa da população o apoia. Em diversas cidades, muita gente foi às ruas manifestar sua adesão ao bolsonarismo. O fato, no entanto, é que, seja qual for o tamanho do apoio popular, nada autoriza a infração da lei. Jair Bolsonaro não pode valer-se do cargo e do dinheiro do contribuinte para fazer campanha eleitoral. Em respeito ao regime democrático e às liberdades políticas, há limites civilizatórios e legais. A escandalosa violação das leis eleitorais promovida por Bolsonaro demanda uma punição exemplar. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Exército alerta moradores de Copacabana para 'possíveis danos' com os tiros de canhão no 7 de Setembro.
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Por Lauro Jardim
Os moradores dos prédios vizinhos ao Forte de Copacabana receberam hoje um alerta do Comando Militar do Leste, a propósito da festa militar-eleitoral idealizada por Jair Bolsonaro para supostamente comemorar nesta quarta-feira o Bicentenário da Independência.
O aviso é direto: por causa da salva de tiros programada, num total de 29 disparos, os vidros das janelas podem quebrar durante o evento. A recomendação, portanto, é: nada de janelas cerradas "a fim de evitar possíveis danos, tais como quebra ou fissura dos vidros."
Eis o comunicado curto endereçado à "prezada vizinhança":
"Haverá a realização de salva de tiros de artilharia no Forte de Copacabana de hora em hora, a partir das 8h da manhã. Às 16h, a última salva terá 21 tiros. Sugerimos que as janelas voltadas para o Forte estejam abertas durante os disparos, a fim de evitar possíveis danos, tais como quebra ou fissura dos vidros." Fonte: https://oglobo.globo.com
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