*Frei Dom Vital Wilderink, O. Carm. In Memoriam.

 

Você não pode aprender encontrar-se com Deus, você O encontra quando O encontra. Não existem técnicas nem rituais para trazer Deus. Deus, ele mesmo escolhe sua presença com total liberdade. “Eu sou aquele que sou ... ’Eu sou’ envia-me a vós” (Ex 3, 14). Este dado questiona determinadas práticas devocionais: você não pode obrigar Deus por meio de formas eu você mesmo escolheu. Deus não pode ser manipulado.

A relação face-a-face com Deus é absolutamente livre.  O valor de muitas técnicas que hoje em dia são importadas do Oriente só pode ser avaliado de acordo com a medida do respeito e da liberdade com que se aproximam de Deus e dos homens.

Miguel de Santo Agostinho conta que fica às vezes impressionado pela facilidade com que carmelitas adotam toda sorte de devoções. ‘Será que estas são realmente necessárias para um relacionamento real com Deus?  Aprofunde a nossa própria tradição e avalie a partir dela o que tem e não tem valor.

*Dom Frei Vital Wilderink, O Carm- Eremita Carmelita e 1º Bispo de Itaguái/RJ - foi vítima de um acidente de automóvel quando retornava para o Eremitério, “Fonte de Elias”, no alto do Rio das Pedras, nas montanhas de Lídice, distrito do município de Rio Claro, no estado do Rio de Janeiro. O acidente ocorreu no dia 11 de junho de 2014. O sepultamento foi na cidade de Itaguaí/RJ, no dia 12, na Catedral de São Francisco Xavier, Diocese esta onde ele foi o primeiro Bispo.

CAPÍTULO GERAL EM SETEMBRO. Nesta segunda, o Paulo Daher, coordenador da Comissão Provincial para Ordem Terceira do Carmo, foi escolhido pelo Conselho Geral da Ordem do Carmo para representar os leigos e Ordem Terceira do Carmo. Apenas 4 leigos foram convidados para o Capítulo Geral. O capítulo acontece em setembro em Sassone, Roma. Um de cada zona geográfica da Ordem. Parabéns ao Daher e a Província!

 

Viver em obséquio de Jesus Cristo.

Frei Bruno Secondin  O.Carm.

No Carmelo sempre estivemos convencidos da centralidade do seguimento do Senhor pela nossa vida. E com os novos comentários da Regra a cristologia tem sido melhor entendida e interpretada. E o cristocentrismo foi interpretado de maneira nova e mais inspiradora em comparação com a primeira. Sobretudo o sentido da frase inicial: “Viver em obséquio de Jesus Cristo e servi-lo fielmente de coração puro e consciência reta” (R 2) foi melhor precisado. É a chamada à norma suprema irrenunciável, que deve tudo guiar e filtrar. As várias prescrições da Regra  são a  aplicação prática e séria do seguimento.

Seguir e não imitar: temos prestado pouca atenção a este aspecto. E no entanto é importante, no contexto da nossa Regra. Naquele momento era intensa a religiosidade da imitação, da lembrança literal e biográfica. Pensemos no que fez São Francisco e na religiosidade popular do 1200. O Carmelo, ao invés, quis penetrar  dinamicamente na identidade e sabedoria do Mestre. Trata-se de um encontro na fé e no amor, na contemplação e na partilha mútua da mesma causa e da mesma meta. Seguimento exige adesão interior, empenho aberto, adaptação e criatividade, diversificação, etc.

- Uma comunidade de discípulos irmãos é a primeira conseqüência: não uma comunidade para fazer alguma coisa, ligada a uma obra a fazer funcionar. Mas um discipulado que se vive em várias modalidades, seguindo o Mestre, e cadenciando o tempo de acordo com o grande mistério da salvação. Veja-se o ritmo da ascese e o do combate: estão ligados à Páscoa e às exigências do Batismo (Páscoa pessoal).

- Viver em Cristo: encontramos algumas vezes esta expressão (R 1; 18; 20). Não se trata de uma indicação genérica, mas de um valor intenso. Isto quer dizer habitar na Palavra para ser impregnados e habitados pela Palavra (R 10; 19; 22) em todas as situações da vida. E, de fato, a Regra é como uma grande lectio divina, que traduz em decisões práticas, coerentes, toda a sabedoria da Palavra.

- Viver na presença sacramental de Cristo: sobretudo na celebração da Missa se mostra-se isto central e fonte de um dinamismo transformador, excepcional. Para lá devem, cada dia vir juntos (con-venire debeatis) e de lá apreender forma e estilo nos relacionamentos mútuos. Mas podemos reconhecer que há ainda outros sinais “sacramentais”, que se ressaltam: antes de tudo os irmãos e a sua participação viva no projeto  (propositum); as autoridades constituídas (o prior, o patriarca, os santos padres...) são mediação e epifania de uma presença de Cristo, que se deve acolher e amar; mas a própria estrutura do lugar é de um certo modo revelação de uma presença a ser amada e respeitada (cf. o templo no centro).

- Esperar a volta do Senhor: é um elemento muito importante na espiritualidade daquele tempo. E por isto havia tantas formas de devoção para salvar a própria alma no momento do juízo final. Na Regra este medo e esta forma de preocupação têm outro registro. Trata-se de uma espera vivida com fidelidade serena, de coração vigilante e transparência em tudo. Mas a espera da chegada definitiva torna-se sobretudo princípio inspirador para não absolutizar as normas e os resultados. Estímulo para uma identidade flexível e até mesmo nômade. “O quotidiano mover-se” até à Capela é sinal antropológico e topográfico de um caminhar rumo ao último encontro, totalmente transfigurados pela Palavra, pela Páscoa e pela fraternidade, pela sobriedade e pela vigilância.

 - Uma  cristologia aberta a novas experiências: justamente a  falta de formas devocionais evidentes (num contexto muito fanático por devoções) e a atenção aos valores vitais da cristologia (Palavra, Páscoa, luta espiritual, serviço, fraternidade, etc.) indicam um caminho cristológico  aberto e personalizado. O Carmelo  que padroniza em algumas imagens a sua cristologia (p.ex. o Menino, o Mestre, flagelado, crucificado, eucarístico, Sagrado Coração) não é conforme à Regra. Quando, ao invés, sabe fazer sintonia da variedade de respostas e de símbolos, de figuras e leituras de Cristo, aí então é fiel ao propositum.

À luz da Palavra. Uma preciosa confirmação desta cristologia no-la oferece o Evangelho de João: estou pensando no momento de se formar o primeiro grupo de discípulos (Jo 1, 35-51). Para completeza seria necessário incluir também as afirmações “cristológicas” do Batista. Normalmente lemos nesta página o processo vocacional: não está aí toda a verdade desta narrativa.

- Múltiplos títulos dados a Jesus: notemos que há uma dezena de títulos diversos dados pelos discípulos para indicar o que encontraram e o que querem comunicar. Começa João Batista por chamá-lo “Cordeiro de Deus”. Depois os dois discípulos o chamam de “Mestre” (Natanael também dirá o mesmo). André fala dele a Simão e o chama de “Messias”. Filipe o descreve como “Aquele sobre quem escreveram Moisés e os  profetas”; e acrescenta dados anagráficos: “Jesus, filho de José de Nazaré”. Natanael , enfim, o admira como “Filho de Deus e Rei de Israel”. Mas até Jesus mesmo se dá um título: “O Filho do homem”. Poderemos ainda acrescentar alguns títulos dados pelo Batista um pouco antes: “Aquele que existia primeiro; o habitado pelo Espírito”, “o que batiza no Espírito” (v. 33s).

- Ser discípulos para João é uma caminhada para a verdade, uma descoberta progressiva, que se torna uma confissão proclamada. Cada um contribui com a sua sensibilidade mais aberta (o Batista e André) ou mais tradicional (Natanael e Filipe). Não se trata de afirmações teóricas, de palavras já confeccionadas,  que se repetem. Trata-se de uma convicção amadurecida por dentro, conservando e refletindo, interpretando. A fé que anima a comunidade nutre-se e se consolida com o caminho de fé de cada um.

- Fruto dos microprocessos pessoais de reflexão e discernimento, de assombro e dúvida é a nova comunidade. Quem encontrou alguma coisa que o “tocou” por dentro comunica-o de maneira pessoal e convicta. A primeira carta de João também ainda recorda este processo de verificação e de comunicação (cf. 1Jo 1,1-4)

- Na Regra podemos também ver que não se impõem títulos que vinculam, quanto, de preferência, horizontes em cuja direção perscrutar. Depois cada um, conforme os carismas, encontra as suas preferências de imagens e de destaques. Prova disto são os nossos grandes Santos com a variedade de linguagem cristológica. É um modelo aberto, que nós também devemos assumir em vista de uma resposta pessoal e não repetitiva.

- Na formação justamente é necessário oferecer aos jovens a possibilidade de um encontro direto e pessoal, de uma resposta pessoal e original, não puramente repetitiva ou devocional.  E cada um deve tornar-se mediação para o outro, seja com as palavras, seja com os gestos,  para um aprofundamento e um encontro direto e iluminador (pensemos em Cefas-Pedro e em Natanael).

- Até  mesmo os próprios votos devem ser lidos e apresentados como um seguimento de Cristo pobre, casto, obediente, mas também orante e missionário. Então não haverá setores para controlar com escrúpulo, com medo de pecar. Mas serão modalidades de seguimento e de adesão conformadora, como diz a VC: “A vida consagrada constitui memória viva do modo de existir e de agir de Jesus como Verbo Encarnado diante do Pai  e diante dos irmãos” (VC 22). Aí está em jogo a diferença entre um comportar-se como “religioso” e uma maturidade de “crente”: dentro deve amadurecer a “confissão” de fé.

REFLEXÃO PESSOAL OU EM GRUPO:

1-Conseguimos reconhecer este tipo de cristologia na Regra?

2- Sabemos formar para uma adesão profunda e conformadora no seguimento, ou preferimos antes formas devocionais e práticas de piedade?

AO VIVO- 260 ANOS. Santa Missa na Catedral de Santo Antônio em Diamantina-MG, em Ação de Graças aos 260 Anos da Venerável Ordem Terceira do Carmo. Domingo, 26 de maio-2019. 

Na manhã desta segunda-feira, 27 de maio, o arcebispo metropolitano de Maceió recebeu alta médica, no Hospital Santa Casa de Misericórdia, e passa bem.

Em mensagem enviada para os fiéis, o metropolita disse: “Meus irmãos e irmãs está tudo tranquilo! Estamos caminhando para a renovação total. O coração novo, com exames em dia e saúde bem cuidada”, o arcebispo enfatizou que há muito trabalho a ser feito com a graça de Deus e que em breve estará de volta às atividades pastorais normais.

Dom Antônio Muniz ficará, em sua residência episcopal, de repouso durante 15 dias. Mas, passa muito bem e durante o tempo que esteve internado presidiu a Eucaristia diariamente.

O arcebispo estava internado desde a quinta-feira, 23, para realizar exames médicos e ao ser constatado um problema a equipe médica, liderada por Dr. José Wanderley Neto decidiu realizar, de imediato, um procedimento cirúrgico chamado “cateterismo”. Fonte: www.centenarioarqmaceio.com.br

Homilia do Frei Evaldo Xavier, O. Carm, Superior Provincial dos Carmelitas- Província Carmelitana de Santo Elias- na celebração dos 260 Anos da Venerável Ordem Terceira do Carmo de Diamantina-MG. 25 de maio-2019.

No olhar do dia desta quinta-feira 23, vamos conhecer o trabalho social da Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Lapa do Desterro, Rio de Janeiro. 23 de maio-2019

No dia de Santa Rita de Cássia, Santa Missa com Frei Petrônio de Miranda, O. Carm, direto da Igreja Nossa Senhora do Carmo da Lapa do Desterro- Igreja do Carmo, Rio de Janeiro. Divulgação:  www.instagram.com/freipetroniowww.twitter.com/freipetronio

Encontro das colaboradoras- Trabalhos Sociais- da Província Carmelitana de Santo Elias- Carmelitas, reunidas no Rio de Janeiro. De 21-23 de maio-2019.

O Frei Petrônio de Miranda, O. Carm, Delegado Provincial da Ordem Terceira do Carmo, celebrou a Santa Missa na Igreja de São João Batista em Saquarema, Rio de Janeiro neste domingo, 19 de maio-2019. Na celebração, 22 noviços e noviças- da Ordem Terceira do Carmo da Lapa/RJ- Grupo de Saquarema- receberam o hábito da Ordem Terceira do Carmo e iniciaram o Noviciado.  Fonte: https://www.facebook.com/Ordem-Terceira-do-Carmo-Saquarema-RJ-694065777689575

Música-A Missão do Frei Petrônio- do CD- Tempo do Carmelo (2ª CD do Frei Petrônio de Miranda, O. Carm)

Letra música: Frei Petrônio de Miranda, O. Carm (Gravação com a participação do Carlos Maka/RJ)

1-Frei Petrônio, Frei Petrônio, pra onde você vai? Diga lá, ó carmelita, nesta vida a caminhar / Eu vou, eu vou, eu vou, vou Evangelizar, com Santo Escapulário, de Jesus eu vou falar (bis)

2-Frei Petrônio, Frei Petrônio, onde é que você está, no Sudeste ou no Nordeste, vive a peregrinar/ Eu vou, eu vou, eu vou, vou Evangelizar, com Santo Escapulário, de Jesus eu vou falar (bis)

3- Frei Petrônio fala de política, religião e futebol, diga lá ô Frei Petrônio, abra logo o seu gogó. / Eu vou, eu vou, eu vou, vou Evangelizar, com Santo Escapulário, de Jesus eu vou falar (bis)

4- Frei Petrônio denuncia, os corruptos a roubar, lá no Norte ou no Sul, ele não para de gritar / Eu vou, eu vou, eu vou, vou Evangelizar, com Santo Escapulário, de Jesus eu vou falar (bis)

5- Frei Petrônio no Centro Oeste, também vai anunciar, a Boa Nova pra todos, ainda é tempo de sonhar/ Eu vou, eu vou, eu vou, vou Evangelizar, com Santo Escapulário, de Jesus eu vou falar (bis)

ORDEM TERCEIRA DO CARMO DE SAQUAREMA/RJ. (38º Sodalício) Neste domingo 19, tive a alegria de celebrar a Santa Missa de acolhimento dos 22 Noviços e Noviças da Ordem Terceira do Carmo da Lapa-Grupo de Saquarema e futuro Sodalício. Foi um momento de emoção para as irmãs Carmelitas da Divina Providência que lá residem e para todos os irmãos e irmãs que receberam o santo hábito. O nosso muito obrigado ao Padre da cidade, Pe. Rodrigo e aos irmãos noviços nas pessoas de Anderson e Davi que, além de preparar e organizar a celebração, ofereceram um belo almoço! Obrigado em nome do Carmo da Lapa, de Angra do Reis e Vicente de Carvalho que lá estiveram prestigiando este momento importante da caminhada dos novos e novas carmelitas naquela cidade. Muito obrigado!

42 - Os leigos Carmelitas, sustentados pela graça e guiados pelo Espírito, que os encoraja a viver com firmeza a vida cristã, seguindo as longas veredas do Carmelo, reconhecendo como irmãos e irmãs de quem quer que seja chamado a compartilhar o mesmo carisma. “O leigo Carmelita pode formar comunidade de diversos modos: na própria família, que é a Igreja doméstica; na paróquia onde é chamado a adorar Deus junto com os irmãos e a participar da vida comunitária; na própria comunidade terciária Carmelita, na qual encontra sustento para a caminhada espiritual; no ambiente de trabalho e no próprio meio onde vive”.

43 - A vida associativa dos leigos Carmelitas deve destacar- se pela simplicidade e autenticidade; cada comunidade deve ser um lar de fraternidade, onde cada um se sente em sua própria casa, acolhido, conhecido, valorizado, encorajado na caminhada, e quando necessário, corrigido com atenção e caridade.  Os leigos Carmelitas empenhem-se, portanto, em colaborar com os demais membros da Família Carmelita e com toda a Igreja, a fim de que esta realize a própria vocação missionária nas mais diversas situações e condições.

44 - A fraternidade se reflete também em sinais externos. Cada leigo Carmelita é como uma centelha de amor fraterno lançada em direção ao jardim da vida: deve ser capaz de incendiar quem quer que se aproxime. A vida familiar, o ambiente de trabalho ou profissional, os meios eclesiais frequentados por leigos Carmelitas, devem receber deles o calor que nasce de um coração contemplativo, capaz de reconhecer em cada um os traços da semelhança com o rosto de Deus. A comunidade de leigos Carmelitas toma-se, deste modo, um centro de vida autenticamente humana, porque autenticamente cristã. Da experiência de se reconhecerem como irmãos e irmãs, nasce a exigência de envolver outros na fascinante aventura humano-divina da construção do Reino de Deus.

45 - Em um mundo cada vez menor, mais vizinho, mais unido por vínculos diversos e complexos, os leigos Carmelitas devem sempre testemunhar a sempre autêntica universalidade, sabendo valorizar as riquezas e as potencialidades de cada um reconhecendo-se parte de uma família internacional e favorecendo todas as ocasiões possíveis de encontro e intercâmbio frutífero entre os membros da Ordem.

*Da Regra da Ordem Terceira do Carmo

Frei Carlos Mesters, O. Carm

Olhando a nossa história toda, desde o início no Monte Carmelo, desde a vinda para Europa em 1238, desde a reforma de João Soreth no século XV, desde a vinda para o Brasil em 1580, desde a restauração no começo do século XX, aparecem umas constantes, uns pontos comuns nas várias épocas que merecem nossas atenção e que podem ajudar para descobrir os desafios para nós, pois neles se revela algo do rumo do Espírito de Deus para nós.

Assinalo aqui as seguintes dez constantes que aparecem ao longo da nossa história. Existe um certo desdobramento ou repetição entre eles, mas o enfoque de cada um é diferente:

  1. A vontade de estar em dia com a Igreja que se renova, atentos aos Sinais dos Tempos,
  2. A tensão entre contemplação e serviço ao povo, desde Simão Stock e Nicola o Francês
  3. Criatividade e entusiasmo que cativa a juventude
  4. Cultivar o que é próprio do Carmelo e não perder a identidade
  5. Acentuar a dimensão comunitária e a dimensão de Família Carmelitana
  6. Aprofundar e reler sempre de novo o ideal do Profeta Elias: Mística e Profecia
  7. Aprofundar e atualizar a devoção a Maria: ouvir, meditar e praticar a Palavra
  8. Ser fiel à origem Mendicante
  9. Não ter medo de reconhecer os erros e limitações, viver em conversão permanente.

O resumo de tudo: Viver em Obséquio de Jesus Cristo

Penso que cada um destes dez pontos deve merecer nossa atenção para descobrir os desafios de Deus no começo deste novo milênio, para a nossa presença e missão aqui no Brasil, onde chegamos faz apenas um pouco mais de 400 anos, e em Moça,bique, onde o ardor missionário nos levou a irradiar a presença do Carmelo. Em cada uma destas constantes podemos e devemos perguntar:

  1. Como foi que isto aconteceu no passado?
  2. Como podemos dar continuidade?

Segue uma primeira tentativa de recolher alguns sinais de como no passado procuramos responder aos desafios dentro destas dez constantes da nossa história:

A vontade de estar em dia com a Igreja que se renova: atentos aos Sinais dos Tempos.

Desde o seu mais remoto início, mesmo antes de receber a Regra, os Carmelitas procuravam sintonizar com a Igreja que se renovava, e buscavam estar dentro do rumo do Espírito de Deus. Buscavam farejar e seguir os “sinais dos tempos e lugares”. Não tiveram medo de tomar decisões ousadas para dar continuidade à sua missão:

  1. Abandonar Europa e ir para a Terra Santa
  2. Desejo de estar com a Igreja, pois queriam ter uma Regra aprovada por Alberto e pelo Papa.
  3. Assumir a forma mendicante de Vida Religiosa desde o início
  4. Abandonar o Monte Carmelo para vir à Europa para dar continuidade à Missão, mesmo sem saber bem como seria.
  5. As várias reformas que surgiram em praticamente todos os séculos até hoje
  6. Mesmo sendo eremitas assumem ser missionários a pedido da Igreja.
  7. Sair de Portugal para o Brasil: viagem ao desconhecido da Terra de Santa Cruz: viagem de três meses, sem celular nem rádio.

Tensão entre contemplação e serviço ao povo, desde os tempos de Simão Stock e Nicola o Francês

Os Carmelitas, mesmo sendo eremitas, não viviam separados nem alienados da realidade do mundo, mas procuravam servir ao povo. Nunca deixamos para trás nossa origem que é o Monte Carmelo: cada comunidade é desafiada a ser um “Pequeno Carmelo” que acolhe e faz a pessoa sentir e experimentas os mesmos valores que marcavam a vida dos primeiros frades no Monte Carmelo.

  1. O lugar geográfico deu origem ao nosso nome: “Carmelitas” e não “Albertinos”.
  2. Quando voltam para a Europa, eles entram nas cidades para poder servir ao povo e souberam encontrar e recriar nas cidades o deserto do Carmelo.
  3. O Monte Carmelo deixou de ser apenas um lugar geográfico para tornar-se um ideal de vida.
  4. A escolha dos lugares levava em conta o ideal de vida orante, conforme pede a própria Regra.
  5. A preocupação em seguir a Reforma de Touraine aqui no Brasil
  6. O surgimento hoje de dois eremitérios no Brasil
  7. Até hoje definimos nossa vida como “Fraternidade Orante no meio do Povo”.

Criatividade, coragem e entusiasmo que cativa a juventude

Aqui temos uma característica que chama atenção até hoje e nos desafia: é a criatividade na maneira de ser fiel às duas exigências do carisma: mística e Profecia, oração e missão, fraternidade contemplativa e serviço ao povo.

  1. O lugar onde os primeiros carmelitas construíram os conventos logo depois que vieram para a Europa.
  2. Depois de menos de 70 anos (de 1238 a 1300) criaram mais de 160 conventos em toda a Europa. Sinal de muito entusiasmo e criatividade.
  3. Tendo 200 frades em Portugal, eles têm a coragem de seguir o rumo da Igreja e aceitam o pedido de enviar quatro frades para uma terra totalmente desconhecida. De 1580 a 1635, em mais ou menos cinqüenta anos, os quatro frades souberam aumentar o número até 200 frades no Brasil. Sinal de que souberam apresentar o ideal carmelitano para a juventude destas épocas.
  4. As várias formas de presença aqui no Brasil, tão diferente de Portugal. Deixaram um rastro da sua presença na Amazônia, até hoje.
  5. No fim do século XIX, atendendo ao pedido do Papa e do Padre geral, vieram os frades da Espanha, da Alemanha, da Holanda e da América do Norte. A decisão na Holanda foi tomada em quatro dias e um grupo de seis frades veio para o totalmente desconhecido.
  6. A formação dada era totalmente deficiente (frei Timóteo) e mesmo assim de dentro dos frades renasce a criatividade que começa a reler o carisma e dá lição a quem já pensa saber tudo.
  7. Hoje se constata a mesma criatividade entre os formandos nossos na América Latina, África e Ásia (Timor Leste)

Cultivar o que é próprio do Carmelo e não perder a identidade

A história do Carmelo no Brasil é um testemunho desta fidelidade dos frades ao que temos de próprio. Olhando o gênero das atividades, eles se dedicam à pastoral comum, mas insistem no que nos é próprio:

  1. Devoção a Nossa Senhora, Escapulário, (Minas, Amazonas, Pará)
  2. Devoção ao Senhor dos Sete Passos,
  3. Práticas próprias para vários momentos do ano litúrgico: Statio,
  4. Novenas, uma iniciativa começada com os carmelitas.
  5. Acentuar a dimensão comunitária e a dimensão de Família Carmelitana

Nascemos como um grupo leigo

  1. A dimensão comunitária e muito forte na Regra
  2. Éramos eremitas que viviam em comunidade

3.As iniciativas são tomadas sempre em comunidade, em grupos. Havia o exercício participativo da autoridade, próprio dos Mendicantes e que se reflete na nossa Regra.

  1. Desde a reforma de João Soreth já se abre para leigos e leigas
  2. No Brasil temos a criação das Ordens Terceiras em vários lugares.
  3. Além disso, a partir dos frades e ligados a eles, surgiram Ordens Terceiras em toda parte.
  4. Surgem muitas congregações religiosas femininas, e a partir das Congregações há muita colaboração em nível de Família.
  5. É importante o esforço OC-OCD que nasceu aqui e que está sendo retomado para a toda a Ordem.
  6. A pintura em Recife une todas as ordens ao redor da fonte de Elias.

Aprofundar e reler sempre de novo o ideal do Profeta Elias: Mística e Profecia

  1. Renasce sempre em todas as épocas, mas sobretudo hoje a dupla dimensão Mística e Profecia que nos marca desde o começo.
  2. Neste ponto, no século XX, o Carmelo da América Latina deu uma grande contribuição para renovar a visão que tínhamos do profeta Elias como modelo de Vida Carmelitana. Veja a Ratio
  3. A ONG KARIT da Espanha, inspirada na figura do Profeta Elias.
  4. Na liturgia tínhamos orações diárias especiais ao Profeta Elias
  5. A iconografia do Carmelo no Brasil.

Aprofundar e atualizar a devoção a Maria: ouvir, meditar e praticar a Palavra

  1. Carmelo Bíblia o preferido das jovens e dos jovens
  2. Trabalho bíblico com as comunidades
  3. Devoção a Nossa Senhora, sobretudo por meio do Escapulário
  4. Festas e orações próprias
  5. As imagens e festas nas nossas igrejas

Ser fiel à origem Mendicante

Esta origem está dentro de nós e sempre levanta a cabeça. Surgimos numa época de mudança política e social na Idade Média. Surgimos para estar do lado dos Menores para fazer com que a riqueza da tradição orante da Igreja, através da nossa fidelidade, chegasse a ajudar o povo das cidades.

Os mendicantes se caracterizam por uma

*  Vivência fraterna muito forte que não tem abade, mas tem prior;

*  Itinerância e disponibilidade que gera mobilidade para o serviço aos pobres;

*  Espiritualidade muito forte que irradia;

*  Partilha que tem tudo em comum.

  1. Na América Latina, o que mais tem é pobre e empobrecimento. Já houve várias iniciativa da parte dos grupos Mendicantes (franciscanos, dominicanos, carmelitas, mercedários e outros) para ver como esta raiz comum nos pode ajudar a ser mais fiéis ao que Deus pede de nós hoje aqui nestas nossas terras.
  2. Em Roma, por iniciativa do nosso Padre Geral Joseph Chalmers, começou um movimento de encontros entre os Superiores Gerais das várias Ordens Mendicantes.
  3. No início, devido ao desejo de poder servir melhor ao povo, os mendicantes se clericalizaram. Hoje, penso que devemos pensar em desclericalizar para poder encontrar novos formas de serviço ao povo de acordo com o que a Realidade e a Igreja estão pedindo.

Não ter medo de reconhecer os erros e limitação e viver em conversão permanente.

Erramos muito ao longo dos séculos, em parte devido às limitações inerentes à visão da Igreja que funcionava como quadro de referências para todas as atividades:

  1. Conversão: expulsão da TFP
  2. Aceitação de negros
  3. Releitura dos Santos e das Santas
  4. Abandono da visão colonialista

Resumo de tudo: Viver em Obséquio de Jesus Cristo

No fim, o que renasce em todo carmelita é o desejo de, como Maria, meditar dia e noite na Lei do Senhor; como Elias, ser um testemunho ambulante do Deus vivo e, assim, viver sempre mais em obséquio de Jesus e deixar que o Reino de Deus tome conta de toda a nossa vida.

Pe. Ricardo Nunes, da Diocese de Jaboticabal/SP- Ex-Frade Carmelita- e Frei Carlos Mesters, em visita ao Carmo da Lapa, Rio de Janeiro, nesta sexta-feira, 17 de maio-2019.