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Testemunho Vocacional

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Publicado em 26 agosto 2025
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1º- CONGRESSO DA FAMÍLIA CARMELITANA DO BRASIL EM APARECIDA-SP

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Publicado em 04 agosto 2025
  • Artigos do Frei Carlos Mesters,
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  • Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida,
  • 1º- CONGRESSO DA FAMÍLIA CARMELITANA DO BRASIL
  • Congresso da Família Carmelitana do Brasil
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Com grande alegria, a Família Carmelitana do Brasil se reuniu no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida para um encontro marcado pela espiritualidade, fraternidade e vivência da consagração ao Carmelo. Foram dois dias de fortalecimento da espiritualidade carmelita para continuar a missão no mundo com o ardor no coração, animados e confiantes.

Por Frei Petrônio de Miranda, O. Carm e Paulo Daher

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“Subir a Montanha para Contemplar e descer a planície para evangelizar”. Dom Orlando Brandes, Arcebispo de Aparecida.

 

Este pensamento de Dom Orlando Brandes, Arcebispo de Aparecida, resume o que nós- Frades, Freiras, leigos e leigas- vivenciamos entre os dias 2 e 3 de agosto-2025 no Santuário Nacional de Aparecida, São Paulo o nosso 1º Congresso da Família Carmelitana do Brasil com a presença de mais de 700 participantes.

Além da presença dos 41 Sodalícios da Província Carmelitana Fluminense, de representantes da Província Carmelitana Pernambucana, frades e leigos da Ordem Terceira e Fraternidades e do Comissariado Geral do Paraná- Leigos e Frades- tivemos também a participação das Irmãs Carmelitas Missionárias de Santa Teresa do Menino Jesus, das Irmãs Carmelitas da Divina Providência e das Irmãs Missionárias Carmelitas além de diversas Fraternidades do Escapulário do Sudeste e Nordeste.

Para nos ajudar na reflexão do tema; Peregrinos de Esperança Rumo ao Monte Carmelo, tivemos a presença ilustre do nosso Prior Geral, Frei Miceal O’Neill, O. Carm., e do Conselheiro das Américas, Frei Luis Mazza, O. Carm, além do confrade, Frei Gilvander Luiz Moreira, O. Carm, Prior da Comunidade Carmelitana Santa Edith Stein, de Belo Horizonte –MG; da nossa irmã da OTC, Teresa Matos de Sousa, do Sodalício da Vila Kosmos- Vicente de Carvalho/RJ; do Geraldino do Espírito Santo, da Ordem Terceira do Carmo do Comissariado Geral do Paraná; do Silvano Tenório Felix, Prior da Ordem Terceira do Carmo de Campo Limpo/SP, Sodalício Santo Alberto de Jerusalém; Frei Adailson Quintino, O. Carm., Prior Provincial da Província Carmelitana Fluminense; Frei Carlos Mesters, O. Carm.; Sr. José Araújo Filho, Ordem Terceira do Carmo da Provincia Carmelitana Pernambucana- Sodalício Senhor Bom Jesus dos Passos/ SE.

“Eu não posso dizer que sou contemplativo se não tenho um bom relacionamento com o meu sodalício”, afirmou a Teresa em sua reflexão. Por sua vez o Frei Gilvander, O. Carm., falando sobre o tema; Rumo ao Monte Carmelo na Justiça Social: Um Olhar para a Espiritualidade Carmelitana sob a ótica do Profetismo- Anúncio e Denuncia, ressaltou a importância do testemunho em um mundo em constantes mudanças e desafios, desde político, econômico, religioso e social.

Por sua vez o Prior Geral, Frei Miceal O’Neill, O. Carm., falando sobre o tema central do Congresso; Peregrinos de Esperança Rumo ao Monte Carmelo, enfatizou a importância de termos esperança frente os diversos desafios onde a Ordem do Carmo está presente enquanto família que bebe da mesma fonte. “Certa vez ao participar de um encontro um leigo falou, EU TAMBÉM SOU CARMELITA”! Para muitos Frades, carmelita era apenas monjas e Frades. Agora não, SOMOS TODOS NÓS”! Afirmou.

Destacamos ainda a experiência e testemunho do Geraldino do Espírito Santo, Ordem Terceira do Carmo do Comissariado  Geral do Paraná, com o tema: Rumo ao Monte Carmelo em Solidariedade e Missão: Um Olhar para a Espiritualidade Carmelitana sob a ótica Missionária. De uma maneira muito pessoal e emotiva, ele relatou a Espiritualidade Carmelitana no resgate da dignidade da pessoa a partir da sua própria vida.

Já o Padre Provincial da Província Carmelitana Fluminense, Frei Adailson Quintino, O. Carm., falou sobre o tema: Rumo ao Monte Carmelo na Solidariedade, destacando a importância da Espuriedade do Carmo enquanto compromisso no resgate social. “A Associação São Martinho é um exemplo concreto que nós nos comprometemos defesa da vida e no resgatem Social”. Afirmou.

Já o Sr. José Araújo Filho, da Ordem Terceira do Carmo do Sergipe,  Provincia Carmelitana Pernambucana- Sodalício Senhor Bom Jesus dos Passos/ SE, falando sobre o tema: Rumo ao Monte Carmelo na Contemplação: Um Olhar para a dimensão Orante- Contemplativa na Ordem Terceira do Carmo, destacou a importância da oração a partir da Regra da Ordem Terceira do Carmo levando-nos a valorizar o conhecimento sobre a riqueza espiritual da nossa história.

Tivemos ainda o Conselheiro Geral para as Américas, Frei Luis Mazza, O. Carm, com o tema: Rumo ao Monte Carmelo com os leigos (as) Carmelitas: Um Olhar para a Ordem do Carmo sob a ótica da presença dos leigos (as) no mundo. Em sua reflexão, além de mostrar a importância da presença dos leigos na Ordem, nos fez abrir os olhos para a Missão enquanto Peregrinos de Esperança dento da família Carmelitana: “Vocês não são de terceira categoria, vocês são Carmelitas”. Afirmou.

Destacamos ainda a conferência do Silvano Tenório Felix, Prior da Ordem Terceira do Carmo de Campo Limpo/SP, Sodalício Santo Alberto de Jerusalém que nos presenteou com uma bela reflexão sobre o tema: Rumo ao Monte Carmelo na Missão Laical: O Protagonismo do leigo (a) na história da Ordem do Carmo e nos dias de hoje. Levando-nos a refletir sobrea a nossa Missão não apenas na Ordem mas na Igreja a partir das nossas relações no mundo do trabalho e familiar.

O Congresso foi também marcado por homenagens e reconhecimentos da Ordem pela missão exercidas nos diferentes Sodalícios e Fraternidades não apenas em nossa Província, mas em todo o Brasil. “Agradeço pelo reconhecimento do nosso trabalho em São João Del-MG”, afirmou o Monsenhor Geraldo Magela, após receber o Diploma e Bênção das mãos do Prior Geral. Por sua vez jovem Douglas Levi Batista Lopes, da OTC de São João Del Rei/MG foi homenageado enquanto incentivador e propagador da Espiritualidade Carmelitana naquela cidade.

Por último, destacamos três homenagens, primeiro o Frei Carlos Mesters, O. Carm., 94 anos,  referência da Ordem do Carmo e da família carmelitana no que se refere ao movimento bíblico- espiritual. Segundo o Paulo Daher, enquanto Coordenador  da Comissão Provincial para Ordem Terceira da Província Carmelitana Fluminense. Merece destaque ainda o sr. Carlos Borges, do Sodalício da Esplanada/SP, ele foi o grande homenageado do Congresso enquanto “Peregrino de Esperança e da Caridade” junto aos pobres da cidade de São Paulo. “Na Segunda Guerra Mundial os ricos tinham dinheiro mas não tinha comida, hoje temos comida, mas não temos dinheiro”. Afirmou. Atualmente ele está em um abrigo de idosos e faz tratamento para combater um câncer na cidade de São Paulo.

O auge do Congresso foi a Santa Missa celebrada por Dom Orlando Brandes, Arcebispo de Aparecida e concelebrada por vários padres presentes. “O Pai Elias nos recorda, estou na montanha cheio do zelo pelo Senhor. Eu me consumo de zelo. vamos todos nós, com os carmelitas nos consumir de zelo pelo Pai, de zelo pelo Reino e de zelo por Nosso Senhor Jesus Cristo... O Escapulário é uma Esperança de Salvação”. Afirmou.

*A Caminho de Aparecida- O Carmelo e a Contemplação.

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Publicado em 31 julho 2025
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A Ordem sempre afirmou que a contemplação está no coração de nossa vocação. O Institutio Primorum Monachorum, que desde o século 14 foi o documento para a formação de todos os jovens carmelitas, diz: “O objetivo dessa vida tem duplo sentido: Uma parte alcançamos através de nosso próprio esforço e do exercício das virtudes, com a ajuda da graça divina. Isso significa oferecer a Deus um coração que é sagrado e puro da verdadeira mancha do pecado. Alcançamos este objetivo quando somos perfeitos e ‘in Carith’, isto é, escondido naquela caridade que o Homem Sábio diz: ‘O amor cobre todas as ofensas’ (Pr 10,12). ... O outro objetivo desta vida nos é concedido como um dom gratuito de Deus; ou seja, saborear algo no coração e experimentar na mente o poder da presença divina e da doçura da glória celestial não apenas após a morte mas também nesta vida mortal (Livro 1, cap. 2). Santa Teresa e São João da Cruz foram formados na tradição carmelitana e conduziram a Ordem de volta à sua inspiração inicial, assim como todas as outras reformas através da história da Ordem. Santa Teresa e São João da Cruz são modelos de gênios espirituais e, para aqueles que desejam compreender mais o desenvolvimento da contemplação dentro da pessoa, é essencial estudar estes santos.

Nesta apresentação do carisma carmelitano, a Ordem declara nas Constituições dos frades: “Os carmelitas buscam viver em fidelidade a Jesus Cristo através do compromisso de buscar a face do Deus vivo (a dimensão contemplativa da vida), através da fraternidade e do serviço no meio do povo” (Const. 14). Outro artigo nas Constituições diz: “A tradição da Ordem tem interpretado a Regra e o carisma inicial como expressões da dimensão contemplativa da vida e os grandes mestres espirituais da Família Carmelitana sempre se voltaram para esta vocação contemplativa” (Const. 17). De acordo com as Constituições, a contemplação “é uma experiência transformadora do amor esmagador de Deus. Esse amor nos esvazia de nossa maneira humana de pensar, amar e agir, limitada e imperfeita, divinizando-a” (Const. 17). Nas Constituições das Congregações afiliadas e na recentemente aprovada Regra da Ordem Terceira, aparece a mesma insistência na contemplação.

A Ratio Institutionis Vitae Carmelitanae (o documento da formação ao qual nos referiremos como Ratio) dos frades, esclarece o papel da contemplação no carisma da Ordem: “A dimensão contemplativa não é meramente um dos elementos de nosso carisma (oração, fraternidade e serviço): ela é o elemento dinâmico que os une.

Na oração nos abrimos para Deus que, por sua ação, nos transforma gradualmente através de todos os grandes e pequenos eventos de nossas vidas. Esse processo de transformação nos possibilita iniciar e manter relacionamentos fraternos autênticos. Ele nos faz desejosos de servir, capazes de compaixão e de solidariedade, e nos permite colocar diante do Pai as aspirações, angústias, esperanças e súplicas do povo.

A fraternidade é o teste básico da autenticidade da transformação que está acontecendo dentro de nós” (Ratio 23). A Ratio continua dizendo: “Através dessa transformação gradual e contínua em Cristo, que é realizada dentro de nós pelo Espírito, Deus nos chama em sua direção numa jornada interior que nos leva das margens dispersivas da vida ao âmago de nosso ser, onde Deus mora e nos une a ele.

O processo interior que leva ao desenvolvimento da dimensão contemplativa nos ajuda a adquirir uma atitude de abertura à presença de Deus em nossa vida, nos ensina a ver o mundo com os olhos de Deus e nos inspira a buscar, reconhecer, amar e servir a Deus naqueles que estão à nossa volta” (Ratio 24).

O objetivo da jornada contemplativa é nos tornarmos amigos amadurecidos de Jesus Cristo a tal ponto que seus valores se tornem nossos valores e comecemos a ver com os olhos de Deus e a amar com o coração de Deus. A contemplação autêntica deve encontrar expressão num compromisso de serviço, quer seja realizado através de um apostolado ativo, quer dentro de um mosteiro. Quando contempla o mundo, Deus vê para além do exterior. Deus vê a motivação do coração humano. A autêntica experiência de Deus de uma comunidade contemplativa nos leva a tornar nossa “a missão de Jesus, que foi enviado para proclamar a Boa Nova do Reino de Deus e a realizar a libertação total da humanidade de todo pecado e opressão” (Ratio, 38).

 

Ver com os olhos de Deus

No documento pós-sinodal Vita Consacrata, o papa João Paulo II afirma: “No início de seu ministério, na sinagoga de Nazaré, Jesus anuncia que o Espírito o consagrou para evangelizar os pobres, proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor (cf. Lc 4,16-19). Assumindo a missão do Senhor como sua, a Igreja proclama o Evangelho a todo homem e mulher comprometendo-se com sua salvação integral. Mas com especial atenção, numa opção realmente preferencial, ela se volta para aqueles que suportam grande fraqueza e, portanto, são carentes. ‘Os pobres’, em diversos estados de aflição, são os oprimidos, aqueles às margens da sociedade, os anciãos, os enfermos, os jovens, qualquer um e todos que sejam considerados e tratados como ‘os últimos’. A opção pelos pobres é inerente à própria estrutura do amor vivido em Cristo. Portanto, todos os discípulos de Cristo são fiéis a esta opção. Mas aqueles que desejam seguir o Senhor mais de perto, imitando suas atitudes, sentir-se-ão envolvidos de modo muito especial. A sinceridade de sua resposta ao amor de Cristo os levará a viver uma vida de pobreza e a abraçar a causa do pobre. De acordo com o carisma, para cada instituto, isto significa adotar um modo de vida simples e austero, tanto como indivíduo quanto como comunidade. Fortalecidas por esse testemunho vivo e, de certa forma, consistente com sua opção de vida e mantendo sua independência diante das ideologias políticas, as pessoas consagradas serão capazes de denunciar as injustiças cometidas contra tantos filhos e filhas de Deus e  a comprometerem-se com a promoção da justiça na sociedade onde trabalham” (VC 82).

Fiéis às Escrituras, a Igreja e a Ordem fizeram a opção preferencial pelos pobres porque Cristo foi enviado para levar a Boa Nova aos pobres (Lc 4,18). Não podemos permanecer insensíveis diante do apelo dos pobres (cf. Ex 22, 22.26; Eclo 21,5). Um compromisso com a Justiça e a Paz significa, necessariamente, fazer algo concreto pelos pobres mas também exige fazer perguntas. Por que existe essa situação? O que podemos fazer? Obviamente as razões para a situação de pobreza de tantos no mundo e as razões para a falta da verdadeira paz são extremamente complexas. Esta opção preferencial vem de uma vocação contemplativa. “A autêntica jornada contemplativa nos permite descobrir nossa própria fragilidade, nossa fraqueza, nossa pobreza, - em suma, o nada da natureza humana: tudo é graça. Através dessa experiência, crescemos em solidariedade com aqueles que vivem em situação de privação e de injustiça. Quando nos permitimos ser desafiados pelos pobres e oprimidos, somos gradualmente transformados e começamos a ver o mundo com os olhos de Deus e a amar o mundo com seu coração. Com Deus, ouvimos o clamor dos pobres e nos empenhamos em partilhar o cuidado, o interesse e a compaixão Divina pelos mais pobres e menores.

 Isso nos leva a profetizar diante dos excessos do individualismo e do subjetivismo que vemos na mentalidade de hoje – diante das muitas formas de injustiça e de opressão dos indivíduos e dos povos” (Ratio, 43).

A razão fundamental para a existência de tanta pobreza no mundo está nas profundezas do coração humano. É um grande erro culpar apenas os outros por esta situação, porque cada um de nós tem alguma responsabilidade. O compromisso com a Justiça e a Paz deve estar de mãos dadas com o processo contemplativo de assumir a vontade de Cristo, de forma que nosso serviço aos pobres não se torne um modo sutil de fazer com que os pobres nos sirvam. O coração humano é muito ambíguo e, para servir de acordo com a vontade e o coração de Deus, devemos nos submeter à purificação profunda, que é uma parte íntima do processo contemplativo (Tg 4,8; Hb 4,12-13).

*O DEUS DA NOSSA CONTEMPLAÇÃO. CARTA DO PRIOR GERAL À FAMÍLIA CARMELITA.  01 de Janeiro de 2004, Solenidade de Maria Mãe de Deus-Dia Mundial de Oração pela Paz. Joseph Chalmers, O. Carm., Prior Geral

A Caminho de Aparecida- Conferência do Frei Gilvander Moreira, Carmelita.

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Publicado em 26 julho 2025
  • Frei Gilvander Luís Moreira,
  • Frei Gilvander Moreira,
  • VOCAÇÃO E PROFETISMO
  • profetismo ou difamação
  • MISSÃO E PROFETISMO
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  • RUMO AO MONTE CARMELO NA LUTA PELA JUSTIÇA SOCIAL
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RUMO AO MONTE CARMELO NA LUTA PELA JUSTIÇA SOCIAL: UM OLHAR PARA A ESPIRITUALIDADE CARMELITANA SOB A ÓTICA DO PROFETISMO - DENÚNCIA E ANÚNCIO

 

 

Por Frei Gilvander Moreira[1]

 

Que beleza realizarmos mais um Encontro da Família Carmelitana do Brasil, no Santuário Nacional de Aparecida do Norte, SP, com o Tema: Peregrinos de Esperança rumo ao Monte Carmelo! Momento de kairós, tempo propício para fraternalmente vivenciarmos a proximidade entre as diversas expressões da Família Carmelitana do Brasil sob a ótica do Ano Jubilar e, em oração, reflexão e encontro, seguirmos caminhando unidos/as buscando nos abastecer espiritualmente para cotidianamente colocarmos em prática o carisma carmelitano, que se constitui no tripé: Fraternidade, Contemplação e Profetismo.  

Importante ressaltar que estas três dimensões do nosso carisma se inter-relacionam, ou seja, para testemunharmos uma vida de fraternidade é preciso sermos pessoas contemplativas e proféticas. Para sermos pessoas contemplativas precisamos vivenciar a fraternidade ad intra e ad extra e exercermos a profecia. E não dá para sermos pessoas proféticas se não somos pessoas fraternas e contemplativas.

Faz bem recordarmos que a fraternidade autêntica tem duas dimensões que se alimentam mutualmente: a fraternidade interna na nossa comunidade e a fraternidade externa com o povo da nossa cidade e na sociedade, prioritariamente fraternidade com as pessoas empobrecidas.

A contemplação não pode ser reduzida à noção de ficar meditando, estático e tentando, de olhos fechados, observar o mistério de Deus. A palavra ação está na palavra contemplAÇÃO. Logo, o sentido mais profundo de contemplação diz respeito a assimilar o jeito de ser e de agir de Deus, mistério de infinito amor que nos envolve, tão bem nos revelado por Jesus Cristo. Em outras palavras, uma pessoa contemplativa vive, convive e atua sendo expressão do reflexo da luz e da força divina no mundo. Assim como na segunda metade do século I da era cristã, pessoas das comunidades cristãs da periferia da grande cidade de Antioquia perceberam que os discípulos e as discípulas de Jesus Cristo eram tão parecidas com o mestre galileu que disseram pela primeira vez: “Estes são cristãos” (At 11,26), quer dizer, semelhantes a Cristo.

A dimensão da Profecia no Carisma Carmelitano, que é o nosso tema aqui, não se reduz a serviço pastoral. Faz bem recordarmos um pouco o que a Bíblia nos diz sobre a dimensão profética da vida. A Bíblia respira profecia do Gênesis ao Apocalipse: “Se calarem a voz dos profetas...” Centenas de vezes aparece na Bíblia a expressão Palavra de Javé/Deus, sempre para indicar profecia. Ora dizendo: consolai os aflitos, e outra hora pedindo: incomodai os exploradores! Ninguém pode tocar o corpo dos escritos proféticos na Bíblia e na vida sem sentir a batida do coração divino.

A partir do livro do Êxodo, constatamos como Javé é um Deus que ouve os clamores das pessoas escravizadas e desce para libertá-las (Ex 3,7-9). No início do Gênesis, se diz que o Espírito está nas águas, permeia e perpassa tudo (Gn 1,2). Tendo “nascido de mulher” (Gl 4,4), em Jesus de Nazaré, Deus se encarna, descendo e assumindo a condição humana. O livro do Apocalipse nos diz que Deus larga o céu, desce, arma sua tenda entre nós e vem morar conosco definitivamente (Ap 21,1-3). Nosso Deus não é apenas um Deus transcendente, mas transdescendente, pois está sempre descendo e abraçando o humano nas entranhas da história, dos fatos e acontecimentos. Nosso Deus age na história.

Pessoa profética é porta voz do Deus da vida, não só pelo que fala, mas principalmente por ser testemunha viva do projeto de vida anunciado pelo Evangelho de Jesus Cristo. A palavra “profeta” vem do verbo pro-ferir, que significa falar por antecipação. Etimologicamente a palavra “profeta” significa “aquele que profere uma mensagem em nome de Deus”. O profeta e a profetisa escutam o Oráculo de Deus. Os oráculos proféticos, normalmente, são introduzidos com uma fórmula característica: “Assim disse Javé....” ou “Oráculo de Javé” (Jr 9,22-23). A expressão “ne’um YAHWEH”, em hebraico, geralmente traduzida por “oráculo de Javé” ou “Palavra de Javé”, significa "sussurro, cochicho de Deus no ouvido do profeta ou da profetisa". 

Para entender um cochicho, um sussurro, é preciso fazer silêncio, prestar muita atenção, estar em sintonia, ter proximidade, ser amigo etc. Portanto, Deus não falava claramente aos profetas, como nós, muitas vezes pensamos que falava. Do mesmo modo que falava aos profetas e profetisas, Deus fala hoje a nós. Deus cochicha (sussurra) em nossos ouvidos a partir da realidade do povo, prioritariamente a partir dos empobrecidos e superexplorados. Precisamos colocar nossos ouvidos e nosso coração pertinho do coração das pessoas injustiçadas para que possamos escutar Deus. Mais do que fazer cursos de oratória, precisamos de cursos de escutatória. Para ouvir os clamores mais profundos das pessoas violentadas na sua dignidade é necessário conviver com elas.

Todas as vezes que na Bíblia fala que “desceu o Espírito de Deus sobre...” diz também que os atingidos pelo Espírito de Deus começam a profetizar (cf. Nm 11,29; At 19,4-6). A profecia é uma consequência direta da ação do Espírito Santo. Logo, um bom critério para saber se estamos vivendo uma verdadeira experiência no Espírito de Deus é nos perguntar: “Estamos nos tornando pessoas proféticas?”

Na Bíblia, encontramos várias fases da profecia. Ao mudar o contexto histórico, a profecia muda também o jeito de ser realizada. Inicialmente, profetas eram conselheiros do rei. Acreditava-se que com boa orientação as autoridades não iriam se corromper e seriam fieis à vivência da ética, do amor ao próximo e solidárias com todos e todas. Mas depois, profetas perceberam a necessidade de denunciar reis, sacerdotes, falsos profetas, príncipes que estavam se corrompendo no exercício do poder, seja ele político, religioso ou econômico. Entretanto, outros profetas descobriram que não bastava denunciar as mazelas, injustiças, violências e corrupções de autoridades, mas que precisavam denunciar o sistema da monarquia, pois o sistema monárquico estava gerando e reproduzindo opressões e explorações. De fato, é muito difícil ser íntegro em um ambiente e contexto opressor e explorador.

Com a dominação imposta pelo Império Assírio, depois pelo Império Babilônico, o que desmantelou a autonomia e a soberania que o povo tinha conquistado na terra prometida por Deus, tendo sido o território invadido, Jerusalém e o templo destruídos e o povo enxotado para o exílio, o sofrimento se tornou quase insuportável e exigiu que os profetas e as profetisas, para serem mensageiros/as de Deus no meio do povo exilado, exercessem o consolo e anunciassem projetos de esperança. Muita gente chegou a pensar: “Deus nos abandonou” (Lm 3,31-33; Jer 25,38; Rm 1,24). Outros perguntavam angustiados: “Onde está Deus?” (Sl 115,2-3; 1 Rs 19; Jo 4,23-24). Em contexto parecido com um vale de ossos ressequidos (Cf. Ez 37,1-14), ser pessoa terna, compassiva, amorosa, acolhedora e solidária se tornou sinal de que Deus estava no meio do povo e esta experiência resgatou a esperança de que as injustiças poderiam ser superadas, pois se experimentava que Deus estava presente no meio do povo sofrido, mas que continuava vivendo relações de fraternidade. Em tempos de exílio, de profundo opressão, a profecia clama para ser vivenciada como solidariedade, conforto, ternura, cuidado, presença amorosa ao lado de quem está sofrendo muito.

Com o caminhar da história, em contexto de internacionalização, a profecia assumiu a roupagem de apocalíptica. Tornou-se necessário usar linguagem simbólica, animar a resistência, cultivar a esperança, denunciar as injustiças e anunciar projetos de esperança, mas com muita criatividade. Em tempos de ditadura militar, no estilo de profecia em roupagem apocalíptica, Chico Buarque e Milton Nascimento cantavam: “Pai, afasta de mim este cálice (= cale-se!)”, atualizando a profecia dos Evangelhos de Mateus (Mt 26,39) e Lucas (Lc 22,42).

Para nós carmelitas é uma graça, mas também grande responsabilidade termos como inspiradores do nosso carisma os profetas Elias e Eliseu e Maria, a mãe de Jesus e nossa mãe, que no seu jeito de viver combinou muito bem Fraternidade, Contemplação e Profecia.

O Profeta Elias foi um intransigente defensor dos pequenos. Elias se fez solidário e teve a coragem de denunciar a brutal injustiça e violência praticada pelo rei Acab e a rainha Jezabel, seguidores do ídolo Baal. Em meados do século IX a.C., o profeta Elias ferveu o sangue de indignação quando ouviu e viu que o rei Acab, a primeira dama Jezabel e latifundiários estavam reforçando a latifundiarização da terra prometida pelo Deus da vida ao povo Sem Terra, filhos/as de Abraão e Sara. A terra para o povo da Bíblia é herança de Deus (Lev 25,23-26: “A terra a Deus pertence...”), deve ser passada de pai para filho/a para usufruto; jamais ser considerada uma mercadoria. “Javé me livre de vender a herança de meus pais” (I Rs 21,3), respondeu Nabot, um pequeno agricultor, ao receber uma proposta indecorosa do rei que desejava comprar seu sítio para anexá-lo ao grande latifúndio que já tinha acumulado.  O rei Acab se irritou com a resistência de Nabot. Jezabel, rainha adepta do ídolo Baal, manipulou a religião e a justiça para roubar a terra do sitiante. Caluniou, criminalizou e demonizou Nabot que, com o beneplácito do poder Judiciário, foi condenado à pena de morte na forma de apedrejamento. Morte que mata aos poucos. Hoje, o “apedrejamento” aos empobrecidos acontece por meio de calúnias, humilhações e, muitas vezes, com o veredicto da justiça. Mais de 6 milhões de indígenas e outros 6 milhões de negros já foram os Nabots no Brasil. Com a cumplicidade da classe dominante e a omissão de muitos, mais de 30 mil jovens estão sendo exterminados no Brasil anualmente, na guerra química, não declarada,   das drogas.

Mas a opressão dos pobres e o sangue dos mártires suscitam profetas. O profeta Elias, ao ouvir que o rei Acab estava invadindo o pequeno sítio de Nabot, após o ter matado, em alto e bom som, profetizou: “Você matou, e ainda por cima está roubando? Por isso, assim diz Javé (Deus solidário e libertador): No mesmo lugar em que os cães lamberam o sangue de Nabot, lamberão também o seu. Farei cair sobre você a desgraça” (I Rs 21,19.21). Acab desencadeou uma grande perseguição ao profeta Elias, que fugiu, mas refez sua experiência do Deus da vida e continuou lutando ao descobrir que não estava sozinho na luta. Outros sete mil profetas conspiravam com ele e ao lado dele. Elias inspirou Eliseu, que inspirou Jesus de Nazaré, que inspira milhões de pessoas cristãs pelo mundo afora. Acab teve morte sofrida, parecida com a do ditador Garrastazu Médici no Brasil.

O profeta Eliseu recebeu a herança profética do profeta Elias e seguiu sua missão combinando solidariedade com denúncias das violências. Maria, mãe de Jesus e nossa mãe, também foi exemplar ao combinar fraternidade, contemplação e profecia, o que está muito bem apresentando no livro de frei Carlos Mesters, “Maria, a mãe de Jesus”, da Editora Vozes, 1977.

Maria vivenciou a profecia combinando numa perfeita harmonia a solidariedade com o povo, a ternura, o cuidado, o amor a Jesus e a todo o povo e tendo a coragem de não arredar o pé da luta ao lado de seu filho Jesus Cristo permanecendo fiel e o acompanhando até a cruz junto com algumas outras mulheres e continuando a caminhada ao lado das primeiras pessoas e comunidades que fizeram a experiência de que Jesus Cristo está ressuscitado e vivo em nós e no nosso meio.

As primeiras comunidades cristãs alimentadas pelo Evangelho de Lucas fizeram questão de apresentar Maria como mulher profetisa ao inserir no evangelho o Cântico de Maria, o Magnificat (Lc 1,46-55), onde se canta a utopia divina de que “Deus derruba do trono os poderosos e eleva os humildes, aos famintos enche de bens e despede os ricos de mãos vazias” (Lc 1,52-53).

Enfim, com os profetas Elias e Eliseu, com nossa mãe Maria, com Santa Teresa d’Ávila, São João da Cruz, Santa Terezinha, São Tito Brandsma e toda as pessoas que integram a Família Carmelitana, no passado e no presente, sigamos rumo ao Carmelo nos dedicando com muito amor à vivência do carisma carmelitano que nos pede uma harmonia entre Fraternidade, Contemplação e Profecia.

Que a nossa caminhada carmelitana continue iluminada e inspirada com zelo profético, como peregrinos/as de esperança, desejosos/as de transformar realidades para que o Reino de Deus se concretize a partir do aqui e do agora. 

 

 

[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI e Ocupações Urbanas; autor de livros e artigos. E-mail: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar. – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br      –       Canal no you tube: https://www.youtube.com/@freigilvander      –    No instagram: @gilvanderluismoreira - Facebook: Gilvander Moreira III

 

A Caminho de Aparecida- Congresso da Família Carmelita do Brasil. Texto Base, Frei Carlos Mesters, O. Carm

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Publicado em 24 julho 2025
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  • PEREGRINOS DA ESPERANÇA RUMO AO MONTE CARMELO

OS SETE VALORES BÁSICOS DA REGRA DO CARMO CARMELITAS, PEREGRINOS DA ESPERANÇA RUMO AO MONTE CARMELO EM OBSÉQUIO DE JESUS CRISTO

Frei Carlos Mesters, O. Carm

 

 

OS SETE VALORES BÁSICOS DA REGRA DO CARMO

 

  1. A centralidade de Jesus na Regra do Carmo

 “Viver em obséquio de Jesus Cristo”

 

  1. A Lectio Divina na Regra do Carmo

O jeito próprio de se fazer Lectio Divina no Carmelo

A Regra, ela mesma, é fonte e fruto da Lectio Divina

 

3.A Oração na Regra do Carmo

O jeito de orar no Carmelo, sugerido e recomendado pela Regra:

Ritmo e Objetivo da oração:

 

  1. O trabalho na Regra do Carmo

O texto da Regra sobre o trabalho

O contexto da Regra sobre o trabalho:

 

  1. O silêncio na Regra do Carmo

As várias partes do texto da Regra sobre a prática do Silêncio

Os dois aspectos do silêncio profético recomendado pela Regra

 

  1. A fraternidade mendicante na Regra do Carmo

As características da fraternidade mendicante na Regra do Carmo:

Ser fraternidade orante e profética no meio do povo.

 

  1. A Dimensão Eliano-Mariana na Regra do Carmo

Viver em obséquio de Jesus Cristo como fraternidade orante e profética no meio do povo

Como irmãos e irmãs da Virgem Maria do Carmo

Como Eliseu irradiar o Espírito do profeta Elias

 

 

  1. Carmelitas, Peregrinos da Esperança

A Regra do Carmo escrita por Alberto para os Carmelitas

 

Os primeiros carmelitas eram peregrinos. Tinham vindo da Europa para a Terra de Jesus. Um peregrino não vive parado. Ele sabe o que quer e para onde ele vai. Ele anda e procura, porque não está satisfeito com a situação presente, e busca um objetivo para além do presente. A motivação mais profunda da peregrinação dos carmelitas é a certeza de que existe uma luz, não só no fim do túnel, mas dentro do túnel, dentro da vida, não só depois da morte.

O carmelita peregrino sente dentro de si algo que vem da raiz da vida humana: “Tu nos fizeste para Ti, e o nosso coração está irrequieto até que não descanse em Ti”. Existe luz dentro do túnel, dentro da vida. É esta esperança que anima o peregrino, anima os carmelitas. Somos peregrinos da esperança, e esta esperança não decepciona:

A luz que nos orienta nesta nossa caminhada para Deus é o texto escrito pelos primeiros carmelitas lá no Monte Carmelo, no qual descrevem a maneira como eles procuravam viver a vida em obséquio de Jesus Cristo. Eles queriam ter a aprovação da igreja para poder levar esta vida que eles estavam levando lá no Monte Carmelo. Alberto, o patriarca de Jerusalém, superior da igreja na Terra Santa, leu o texto da vida dos Carmelitas. Gostou e o aprovou; colocou nele a sua assinatura como sendo da sua autoria. Isto foi no ano 1207. No ano 1238, diante da ameaça do avanço dos muçulmanos na Terra Santa, os carmelitas foram morar na Europa. A aprovação oficial da parte da autoridade da igreja veio 40 anos depois no dia 1 de outubro de 1247 pelo Papa Inocêncio IV. A aprovação animou muito aos carmelitas e os confirmou na sua caminhada.

 

2.Os sete valores básicos da Regra do Carmo

 

  1. A centralidade de Jesus na Regra do Carmo

Os números em que a Regra fala de Jesus

Centralidade da pessoa de Jesus na Regra

“Viver em obséquio de Jesus Cristo”

 

  1. A Leitura orante da Bíblia na Regra do Carmo

A Regra recomenda nove vezes, explicitamente, a Lectio Divina

O jeito próprio de se fazer Lectio Divina no Carmelo

A Regra, ela mesma, é fonte e fruto da Lectio Divina

 

  1. A Oração na Regra do Carmo

O Ambiente de oração, sugerido e recomendado pela Regra:

O jeito próprio de orar no Carmelo, sugerido e recomendado pela Regra:

Ritmo e Objetivo da oração:

 

  1. O trabalho na Regra do Carmo

O texto da Regra sobre o trabalho

O contexto da Regra sobre o trabalho:

 

  1. O silêncio na Regra do Carmo

As várias partes do texto da Regra sobre a prática do Silêncio

Os dois aspectos do silêncio profético recomendado pela Regra

 

  1. A fraternidade mendicante na Regra do Carmo

As características da fraternidade mendicante na Regra do Carmo:

Ser fraternidade orante e profética no meio do povo.

 

  1. A Dimensão Eliano-Mariana na Regra do Carmo

Elias:  o profeta do zelo pela causa do Senhor

Maria:  a mãe de Jesus, ouve a Palavra e a coloca em prática

Eliseu:  transmite e irradia para todos a experiência do Deus de Elias

 

  1. A centralidade de Jesus na Regra do Carmo- Os números em que a Regra fala de Jesus

Jesus é uma presença constante na Regra, tão constante, que nem sequer é mencionado a cada momento. Os números em que Jesus é mencionado explicitamente são os seguintes:

Rc 2: No prólogo, a Regra define o objetivo da vida no Carmelo: “viver em obséquio de Jesus Cristo e servir a ele de coração puro e consciência serena”.

Rc 10: O caminho para chegar a esse objetivo é “meditar dia e noite na lei do Senhor”. O Senhor é Jesus. Sua lei é o evangelho a ser meditado em vigílias de oração.

Rc 14: A fonte para manter-se no caminho é a Eucaristia diária no oratório, onde se vive o Mistério da morte e ressurreição de Jesus.

Rc 16: Um meio importante para não perder o rumo é a contínua atenção à pessoa de Jesus durante o ano, desde a exaltação da Cruz até o dia da Ressurreição.

Rc 18: Um aviso é dado aos que querem seguir Jesus: terão muita perseguição; terão a cruz como parte da sua vida.

Rc 20: No conselho para ler as cartas de Paulo se diz que Jesus nos fala pela boca de São Paulo. Suas cartas ensinam como ter em nós os sentimentos de Jesus.

Rc 20: Aos que não levam a sério a vida no Carmelo, a Regra ordena e suplica, em nome de Senhor Jesus Cristo, para que trabalhando em silêncio e ganhem seu pão.

Rc 21: A Regra recomenda a prática do silêncio, pois conforme a palavra do Senhor no Evangelho, de toda palavra inútil teremos de prestar conta a Deus.

Rc 22:  Pede ao prior que procure imitar o exemplo de serviço que Jesus nos dá no Evangelho: “Quem quiser ser o primeiro deve ser o servo de todos”

Rc23:  Aconselha aos súditos de ver a Jesus na pessoa do superior: “Quem ouve a vocês é a mim que ouve”

Rc24:  Suscita em todos a esperança do retorno de Jesus quando, evocando a parábola do Samaritano, diz que o Senhor na sua volta nos pagará.

 

  1. Centralidade da pessoa de Jesus na Regra

A presença de Jesus transparece nas linhas e nas entrelinhas da Regra. No prólogo, ela apresenta Jesus como objetivo e ideal supremo da vida no Carmelo: “viver em obséquio de Jesus Cristo”. Em seguida, a Regra descreve o caminho para se chegar a realizar este objetivo e alcançar o ideal. No epílogo, Jesus aparece como aquele cuja presença se busca e cuja vinda se espera. Ao longo das páginas da Regra, do começo ao fim, Jesus aparece como aquele que chama, anima, avisa, orienta, critica, suplica, ordena, recomenda, propõe, sugere e aconselha.

 

  1. “Viver em obséquio de Jesus Cristo”

Esta expressão vem do apóstolo Paulo (2Cor 10,5). Ela tem o mesmo significado da expressão seguir Jesus.  Nos evangelhos, “Seguir Jesus” indica três coisas importantes:

  1. Imitar o exemplo do Mestre: Jesus era o modelo a ser imitado e reproduzido na vida do discípulo (Jo 13,13-15). Seguir Jesus na convivência diária permitia um confronto constante.
  2. Participar do destino do Mestre. O seguidor devia "estar com ele nas tentações" (Lc 22,28; Jo 15,20; Mt 10,24-25), estar disposto a morrer com ele (Jo 11,16). Devia servir a ele com seus bens e subir com ele até o Calvário (Mc 15,41-42).
  3. Ter a vida de Jesus dentro de si: À luz da ressurreição, acrescentou-se uma terceira dimensão: viver a vida de Jesus. "Vivo, mas não sou eu, é Cristo que vive em mim" (Gl 2,20). Identificar-se com Jesus ressuscitado. É a dimensão mística da vivência cristã, fruto da ação do Espírito.

 

2.A Lectio Divina

na Regra do Carmo

Apesar de curta, a Regra repete nove vezes que devemos meditar a Palavra de Deus. Nestas recomendações transparece o jeito próprio de se fazer a Lectio Divina no Carmelo. A Regra, ela mesma, é fruto da meditação constante da Palavra de Deus:

  1. A Regra recomenda nove vezes, explicitamente, a Lectio Divina
  2. Rc 7 Ouvir a Sagrada Escritura durante as refeições
  3. Rc 10 Meditar dia e noite a Lei do Senhor
  4. Rc 11 Rezar as horas canônicas (que são feitas de Salmos e leituras bíblicas)
  5. Rc 14 Participar diariamente da Eucaristia (toda feita de textos bíblicos)
  6. Rc 19 Ter pensamentos santos (que são fruto da Leitura do Livro Santo)
  7. Rc 19 A Palavra, a espada do Espírito, deve habitar na boca e no coração
  8. Rc 19 Agir sempre de acordo com a Palavra de Deus
  9. Rc 20 Ler com freqüência as cartas de Paulo
  10. Rc 22 Ter diante de si o exemplo de Jesus como aparece nos evangelhos
  11. O jeito próprio de se fazer Lectio Divina no Carmelo

A porta que a Regra abre para a Palavra de Deus entrar na nossa vida

*  Pela leitura pessoal: meditação na cela (Rc 10); a Palavra na boca e no coração (Rc 19), ter pensamentos santos (Rc 19); agir em tudo conforme a Palavra de Deus (Rc 19).

*  Pela leitura comunitária: ouvir juntos a Palavra no refeitório (Rc 7); na capela, duran­te a Eucaristia (Rc 14); no Ofício Divino (Rc 11).

O método dos quatro degraus da Lectio Divina

*  Lectio: A Palavra é lida no refeitório (Rc 7), Eucaristia (Rc 14), Ofício Divino (Rc 11);, na cela (Rc 10).

*  Meditatio: A Palavra, lida e ouvida, é meditada dia e noite, na cela (Rc 10), desce da boca para o coração (Rc 19) e produz pensamentos santos (Rc 19).

*  Oratio: A Palavra, lida, ouvida e meditada, é envolvida pela oração no Ofício Divino (Rc 11), na Eucaristia (Rc 14), na Cela, onde o carmelita vigia em orações (Rc 10).

*  Contemplatio: A Palavra comunica a visão de Deus, invadindo o pensamento, a boca e o coração (Rc 19) e, assim, tudo é feito na Palavra do Senhor (Rc 19).

A Regra recomenda uma leitura fiel à Tradição

*  A Lectio Divina é uma atitude de vida que vem da tradição renovadora dos mendican­tes, cujo quadro de referências era o modelo da comunidade dos Atos dos Apóstolos. Este mesmo modelo está na base da parte central da Regra (Rc 10 a 15)

*  A Regra sistematiza o ensinamento dos Santos Padres (Rc 2) e pede que a leitura se faça de acordo com os costumes da Igreja (Rc 11) e da tradição litúrgica (Rc 11).

  1. A Regra, ela mesma, é fonte e fruto da Lectio Divina

A Regra do Carmo não só recomenda a Lectio, mas também a pratica. Ela exprime o seu próprio pensamento com frases tiradas da Bíblia. É difícil saber exatamente quantas vezes a Regra usa a Bíblia para descrever a Norma de Vida dos primeiros Carmelitas. Alguns acham que é mais de cem vezes! Ela usa a Bíblia sem citar, cita sem verificar, junta e separa as frases da Bíblia como e quando quer, muda e adapta conforme lhe parece útil, como se fosse a sua própria palavra. Esta maneira de usar a Bíblia é fruto de longa e assídua leitura, marcada pela familiaridade, pela liberdade e pela fidelidade. Os primeiros carmelitas, conheciam a Bíblia de memória e a assimilaram em suas vidas a ponto de já não distinguirem mais entre as suas próprias palavras e as palavras da Bíblia.

 

  1. A Oração na Regra do Carmo
  2. O Ambiente de oração, sugerido e recomendado pela Regra:

*Na descrição da infraestrutura (Rc 4-9): o lugar de moradia deve ser deserto ou apto para a vida no Carmelo (Rc 5); a preocupação com a cela individual para cada frade garante o diálogo com Deus (Rc 6); a leitura da Bíblia durante as refeições ajuda a manter-se na presença de Deus  (Rc 7).

*Na descrição do ideal (Rc 10-15): permanecer sempre na cela, a não ser que por algum motivo legítimo deva ausentar-se (Rc 10); o oratório no meio das celas obriga a sair de si mesma, todos os dias, cada vez de novo Rc (14); a correção fraterna semanal ajuda a manter vivo o ideal da presença de Deus (Rc 15).

*Na descrição dos meios (Rc 16-21): a prática do jejum, desde a exaltação da Cruz até à Páscoa, nos confronta com a pessoa de Jesus e orienta a seqüência do tempo para a oração (Rc 16); a abstinência de carne e de tantas outras “carnes” ajuda a aprofundar o “VacareDeo” (Rc 17); o uso das armas espirituais ajuda a manter vivas a fé, a esperança e o amor (Rc 19); o trabalho ocupa a mente e impede a distração (20); a prática do silêncio cria ambiente para escutar a Deus (21).

  1. O jeito próprio de orar no Carmelo, sugerido e recomendado pela Regra:

*Oração pessoal: dia e noite, meditando na lei do Senhor e vigiando em orações (Rc 10). É como sístole e diástole. Imita a vida dos apóstolos: “dedicar-se inteiramente à oração e à palavra” (At 6,4). A Regra não pede “orações”, mas pede que sejamos “oração”. Alguém pode até rezar muitas orações e não ser pessoa orante.

*Oração comunitária: o ofício divino e a reza do Pai-Nosso, diariamente. Deve ser oração e não desobriga de consciência. A Regra insiste na reza dos Salmos que são o lado orante da história do Povo de Deus. O Pai nosso é o salmo de Jesus e o resumo orante de tudo que Jesus ensinou.

*Eucaristia diária: para que a vida de Jesus entre em nós e que possamos chegar a dizer: “Vivo, mas não sou eu; é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Promove a identificação com Jesus. A fração do pão era um elemento básico da vida dos primeiros cristãos (At 2,46). A eucaristia celebra a libertação da escravidão do Egito.

  1. Ritmo e Objetivo da oração:

*Ritmo: O lado orante da vida em obséquio de Jesus tem um tríplice ritmo:

Diário: diariamente eles devem celebrar a eucaristia, rezar o ofício e meditar a lei do Senhor.

Semanal:         uma vez por semana devem fazer revisão de vida e verificar se estão vivendo realmente em obséquio de Jesus.

Anual: durante o ano, seguem o calendário litúrgico, e fazem jejum, desde a festa da Santa Cruz até Páscoa.

*Objetivo: Tanto o ambiente da oração como a oração em si, ambos têm como objetivo: levar as pessoas a esvaziar-se para Deus e a viver em obséquio de Jesus Cristo. 

 

  1. O trabalho na Regra do Carmo
  2. O texto da Regra sobre o trabalho

São dois os motivos que levam a Regra a insistir no trabalho. (1) O primeiro motivo é: impedir a entrada de hóspedes indesejados dentro de nós. Vocês devem fazer algum tipo de trabalho, para que o diabo sempre os encontre ocupados e não consiga, através da ociosidade de vocês, encontrar alguma brecha para penetrar em suas almas. Ou seja, na porta da alma do Carmelita deve estar escrito: Ocupada! Trabalhando! Entrada proibida!!(2) O segundo motivo é: viver do próprio trabalho. Quem não quiser trabalhar também não coma. Neste ponto, a Regra invoca longamente o exemplo de Paulo que trabalhava para poder sobreviver e não ser peso para ninguém. O trabalho é um meio de inserção no meio dos "menores" e faz com que o relacionamento entre os membros da comunidade seja mais harmonioso, pois impede que um seja peso inútil para os outros. A realidade dura da vida, marcada pelo trabalho, faz parte integrante do caminho que conduz até Deus.

  1. O contexto da Regra sobre o trabalho:

Contexto anterior: Nos números anteriores (Rc 18 e 19), a Regra fala da armadura de Deus. O trabalho (Rc 20) faz parte desta armadura. Além da cintura, couraça, capacete, escudo, espada, o carmelita deve usar como arma o trabalho. A Regra não especifica qual seja o tipo de trabalho. Naquele tempo, podia ser um trabalho mais espiritual: meditação, leitura, estudo, copiar livros, ou um trabalho mais corporal: criação de animais, trabalho na roça, construção. Hoje em dia, poderá ser este ou um outro tipo de trabalho.

Contexto posterior: No fim do capítulo sobre o trabalho (Rc 20), citando a carta de Paulo, a Regra conclui pedindo que os frades trabalhem em silêncio. Logo em seguida, no início do capítulo sobre o silêncio (Rc 21), ela retoma este mesmo assunto dizendo: O apóstolo recomenda o silêncio quando manda que se trabalhe em silêncio. Para a Regra, trabalho e silêncio se completam. O trabalho é o lado exterior de uma luta que, através do silêncio, atinge o interior.

Este duplo contexto anterior e posterior revela dois aspectos importantes do trabalho. Através do trabalho, de um lado, impedimos a entrada do diabo de fora para dentro de nós e, de outro lado, facilitamos a saída, de dentro para fora de nós, da força que nasce e cresce em nós pela prática do silêncio. Através do trabalho, lutamos para que a maldade não entre em nós e, ao mesmo tempo, esta luta faz com que, a partir de dentro, através do silêncio, a salvação do Senhor e a bênção no Espírito Santo, desejadas a todos no prólogo da Regra (Rc 1), sejam liberadas para fora sobre a comunidade e, através da comunidade, sobre a sociedade. Pois dentro da gente, no mais profundo de nós, na raiz do nosso ser, habita Deus. É lá naquela presença silenciosa de Deus em nós, que está a célula inicial da vitória.

O trabalho cria, assim, uma estrada de mão única. De fora para dentro, é mão proibida. De dentro para fora, corre a força da vida nova, gerada pelo silêncio e liberada pelo trabalho. Realmente, “este caminho santo e bom, é nele que devemos andar”.

 

  1. O silêncio na Regra do Carmo
  2. As várias partes do texto da Regra sobre a prática do Silêncio

1) Descreve o valor do silêncio. Cita duas frases do profeta Isaías: "A justiça é cultivada pelo silêncio", e “É no silêncio e na esperança, que se encontrará a vossa força”. Por ser recomendado pelo profeta, este silêncio é profético!

2) Organiza a prática do silêncio. Adapta o silêncio ao ritmo diferente do dia e da noite. O silêncio da noite nos envolve e nos faz silenciar. O dia é mais barulhento e produz distração. Exige um esforço interior maior para fazer silêncio.

3) Recomenda o controle da língua. Com frases da Bíblia, aponta os perigos do muito falar e ensina como fazer para cultivar o silêncio.

4) Aponta o objetivo da prática do silêncio. A prática do silêncio procura evitar uma que­da sem cura que conduz à morte. O silêncio enfrenta a morte e conduz à vida!

5) Resumo final: No fim, retoma a frase inicial do profeta reafirmando que a prática do silêncio é o caminho para a justiça.

  1. Os dois aspectos do silêncio profético recomendado pela Regra

O primeiro aspecto do silêncio profético tem a ver com a luta pela justiça e está expres­so na frase de Isaías: A justiça é cultivada pelo silêncio. Cultivar a justiça pelo silêncio significa fazer silenciar, dentro de nós, tudo aquilo que impede a visão justa das coisas. Significa fazer com que a realidade apareça do jeito que ela é em si mesma e não como aparece desfigurada através da propaganda e da ideologia dominante. Este primeiro aspecto do silêncio é fruto do esforço nosso. Exige disciplina e controle, estudo e reflexão. Hoje em dia, o fluxo das palavras e imagens é tanto que nos impede de perceber a realidade tal como ela é. Envolve-nos de tal maneira, que acabamos achando normal o que, na realidade, é uma situação de morte. Por exemplo, a violência tornou-se tão normal e tão presente, que já nos acostumamos. Vivemos numa situação de morte, e não nos damos conta. E muitas vezes, o consumismo mata qualquer esforço de consciência crítica. O silêncio profético coloca o dedo nesta ferida escondida. O profeta aponta a morte, não porque gosta da morte, mas sim para que a vida possa manifestar-se. É uma exigência da própria vida que sejam apontados os falsos e ilusórios caminhos da morte, para que possamos despertar e iniciar a mudança ou conversão, tanto na vida pessoal como na convivência social. Este cultivo consciente do silêncio gera em nós a justiça.

O segundo aspecto do silêncio profético é fruto da ação do Espírito de Deus em nós e está expresso na segunda citação do profeta Isaías: No silêncio e na esperança está a força de vocês. Desobstruído o acesso à fonte pelo esforço ativo nosso que procura conhecer a realidade tal como ela é, a água brotará de dentro de nós e inundará o nosso ser. O silêncio produzido em nós pelo confronto com a situação de morte, apesar de doloroso, é fonte de esperança e de vida. Produz a força da resistência. Dá força para a gente agüentar a situação de morte, porque acreditamos que da morte do trigo caído na terra vai brotar vida nova. É a caminhada na Noite Escura  à espera da chegada da luz, de que fala São João da Cruz.

 

  1. A fraternidade mendicante na Regra do Carmo

A novidade da vida mendicante é a insistência na fraternidade como revelação da Boa Nova do amor de Deus para com os “menores”, os pobres. Fraternidade mendicante era a fraternidade dos “menores”, isto é, do povo pobre que necessitava criar entre si laços de solidariedade para poder sobreviver nas cidades. Ser mendicante significava optar em viver numa fraternidade pobre, de “menores”. Eles eram chamados frades menores.

  1. As características da fraternidade mendicante na Regra do Carmo:
  2. Ter um prior a ser escolhido entre os confrades (Rc 4).

            A primeira coisa que a Regra estabelece é ter um prior e não um abade. O prior é eleito pelos frades e não imposto de cima. Ele exerce a sua autoridade em conjunto com os outros frades, na escolha do lugar (Rc 5), na indicação da cela (Rc 6). Assim, envolve a todos e cria neles um senso de co-responsabilidade e de participação.

  1. Não mudar de “lugar” (convento) (Rc 8).

            Numa fraternidade mendicante, o compromisso não é, como no eremitismo anterior, com um determinado monge mais santo, mas sim com a comunidade e com o ideal expresso na Regra. Para impedir o retorno a esse eremitismo a Regra estabelece: Não é permitido a nenhum irmão, a não ser com licença do prior em exercício, mudar-se de lugar de moradia que lhe foi indicado ou trocá-lo com outro.O eremita carmelita renuncia à itinerância e submete sua vida ao julgamento da comunidade.

 

  1. A cela do prior que deve ficar na entrada (Rc 9)

            O mesmo vale para a cela do prior que deve ficar na entrada. Tanto os novos candidatos como os visitantes e peregrinos que vêm ao lugar, todos são acolhidos e orientados pelo prior que representa a comunidade.

  1. Não ter propriedade, mas possuir tudo em comum (Rc 12)

            A comunhão de bens era um ponto característico das fraternidades mendicantes. A preocupação, para que tudo seja distribuída de acordo com as necessidades de cada um, é uma expressão desta fraternidade.

  1. Por serem evangelizadores itinerantes dos pobres, podem ter jumentos (Rc 13)

            Este número foi acrescentado em 1247. Como acontecia em toda fraternidade mendi­cante, os frades carmelitas se ausentam de casa para o trabalho da evangelização. Em vista deste trabalho se permite que eles tenham jumentos para poder viajar.

  1. Todos são responsáveis pelo todo e pelo bem-estar de cada um (Rc 15)

            A reunião semanal é uma expressão típica da cultura capitular, própria das fraternidades mendicantes. Nela se tratava do bem comum e do bem-estar de cada um e da correção fraterna (15);

  1. Nas viagens missionárias podem comer carne que o povo lhes oferece (Rc 17)

            Inicialmente, não podiam comer carne, mas a vida mendicante os levou a pedir reformulação deste ponto e a licença de comer carne foi aprovada pelo papa em 1247.

  1. Ser fraternidade orante e profética no meio do povo.

A fraternidade não é uma tarefa a mais ao lado das outras, mas sim uma atitude de vida que deve permear tudo. Fraternidade é como “meditar dia e noite na lei do Senhor”. Assim como Deus é presença constante, também o irmão e a irmã devem ser presença constante. O exercício da fraternidade nasce da experiência de Deus e conduz para uma experiência mais profunda de Deus.

Além do que já vimos, vários outros números da Regra estimulam a vivência da fraterni­dade: a eucaristia como dom da entrega de si pelos outros é a raiz da fraternidade (Rc 14); o ofício em comum favorece o sentimento fraterno de estarmos juntos diante do Pai (Rc 11); a mesa comum (Rc 7), a partilha dos bens (Rc 12) e o trabalho em comum pelo sustento (Rc 20) favorecem a fraternidade. A fraternidade é prova de fogo!

  

  1. A Dimensão Eliano-Mariana na Regra do Carmo

A Regra não fala de Maria nem dos profetas Elias e Eliseu. Por que? Esta pergunta não tem resposta clara. Mas alguma luz pode ser encontrada. Talvez seja, porque as pessoas não costumam falar daquilo que é evidente e conhecido por todos. Um pressuposto de que não é necessário falar. Talvez seja, porque os dois únicos pedaços da terra que não podem ser vistos são exatamente aqueles que se encontram debaixo dos nossos pés e nos sustentam. Talvez seja, porque ainda não soubemos analisar suficientemente todos os aspectos e dimensões da Regra nas suas linhas e entrelinhas.

A Regra fala da “Fonte no Monte Carmelo” (Rc 1), junto da qual viviam os eremitas sob a obediência do irmão B. Era normal supor que a fonte no Monte Carmelo era a fonte do Profeta Elias, mencionada na Bíblia por ocasião do sacrifício, realizado na presença de todo o povo, para provar que Javé era o Deus verdadeiro. Assim quando se fala da Igreja do Santo Sepulcro, todos entendem que se trata do Sepulcro de Jesus. Não é necessário acrescentar “de Jesus”. O mesmo vale para a “Fonte no Monte Carmelo”. Não é necessário dizer que é de Elias.

O mesmo vale para o Oratório que tinha sido construído no meio das celas (Rc 14). Todos sabiam que este Oratório era dedicado à Santa Maria do Monte Carmelo. Tanto assim que os frades que viviam ao redor deste oratório receberam do povo o nome que carregamos até hoje: “Irmãos da bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo”.

Nas outras Ordens, a vida dos fundadores era o modelo para os seus seguidores saberem como viver em obséquio de Jesus Cristo. Por exemplo, São Francisco para os franciscanos, São Domingos para os dominicanos. Com os primeiros carmelitas aconteceu o contrário. Eles não tinham fundador. Eles eram os fundadores que escolheram para si os modelos de Elias e de Maria para saber como viver em obséquio de Jesus. Escolheram Elias e , por isso, foram morar no Monte Carmelo, onde eram bem vivas a presença e a memória do profeta Elias. E lá no Monte Carmelo construíram a capela em honra de Santa Maria do Monte Carmelo. Assim, inspirando-se em Elias e Maria iniciaram a viver em fraternidade agrupados ao redor do irmão B, ao qual prometiam obediência.

Sentindo que esta sua vida era diferente dos outros grupos religiosos, quiseram uma aprovação da Igreja. Por isso, elaboraram uma proposta ou esboço, que levaram ao patriarca Alberto, para que desse a sua aprovação (Rc 3). Assim, a Regra do Carmo, elaborada pelos fundadores, redigida por Alberto e aprovada pelo Papa Inocêncio IV, no fundo, nada mais é do que a descrição do caminho daqueles que procuravam viver em obséquio de Jesus Cristo imitando o modelo de vida do Profeta Elias e da Virgem Maria, a Mãe de Jesus.

O caminho descrito na Regra é progressivo. Descreve a lenta subida do Monte Carmelo que desemboca no silêncio profético que faz pensar no profeta Elias (RC 21). É também uma caminhada progressiva de escuta atenta da Palavra (Rc 10), para que a Palavra se encarne em nós como em Maria. Elias e Maria estão presentes na Regra, tão presentes quanto o olho que vê tudo e não pode ver-se a si mesmo. 

A Caminho de Aparecida-Conferência de Frei Carlos Mesters, O. Carm

Detalhes
Publicado em 23 julho 2025

Congresso da Família Carmelitana do Brasil. 02-3 de agosto-2025 em Aparecida, São Paulo.

 

AS DEZ FONTES DA ESPERANÇA-Carmelitas Peregrinos da esperança: Um Olhar para a Regra do Carmo sob a ótica Bíblica.

Frei Carlos Mesters, O. Carm

 

As dez fontes da esperança que sempre renascem para o povo de Deus poder sair da escuridão e reencontrar a luz de Deus na vida

 

A ORAÇÃO, A FRATERNIDADE E A PROFECIA ALIMENTAM NOSSA VIDA E NOSSA MISSÃO

  

  1. O ponto de partida: Carmelitas Peregrinos da esperança.
  2. Os primeiros 40 anos: de Alberto a Inocêncio, de 1207 a 1247
  3. Os Dez passos da recuperação da esperança
  4. Descobrir a luz que existe dentro da escuridão do cativeiro
  5. A nova leitura da natureza abre os olhos do povo
  6. Redescobrir e experimentar o Amor eterno de Deus
  7. A nova imagem de Deus: Deus da família
  8. A nova luz no coração e nos olhos gera uma nova leitura do passado
  9. Deus liberta, salva e conduz o seu povo com um poder criador
  10. Os Dois Livros de Deus: Natureza e Bíblia
  11. A nova Missão do Povo de Deus: servir e ajudar, socorrer e salvar
  12. Uma nova Pastoral: ternura e diálogo, reunião e consciência crítica
  13. Uma nova celebração da vida: a lição dos Salmos

* Documento Básico da Família Carmelitana

 

  1. O ponto de partida: Carmelitas Peregrinos da esperança.

A família Carmelitana nasceu no Monte Carmelo. Os primeiros carmelitas eram peregrinos. Tinham vindo da Europa para a Terra de Jesus. Um peregrino não vive parado. Ele sabe o que quer e para onde ele vai. Ele anda e procura, porque não está satisfeito com a situação presente, e busca um objetivo para além do presente. A motivação da peregrinação dos carmelitas é a certeza de que existe uma luz, não só no fim do túnel, mas dentro do túnel, dentro da vida, não só depois. O peregrino sente dentro de si algo que vem da raiz da vida humana: “Tu nos fizeste para Ti, e nosso coração está irrequieto até que não descanse em Ti”. Existe luz dentro do túnel, dentro da vida. É esta esperança que anima o peregrino, anima os carmelitas. Somos peregrinos da esperança, e esta esperança não decepciona:

A luz que nos orienta nesta nossa caminhada para Deus é o texto escrito pelos primeiros carmelitas lá no Monte Carmelo, no qual descrevem a maneira como eles procuravam viver a vida em obséquio de Jesus Cristo. Eles queriam ter a aprovação da igreja para poder levar esta vida que eles estavam levando lá no Monte Carmelo. Alberto, o patriarca de Jerusalém, superior da igreja na Terra Santa, leu o texto da vida dos Carmelitas. Gostou e o aprovou; colocou nele a sua assinatura como sendo da sua autoria. Isto foi no ano 1207. No ano 1238, diante da ameaça do avanço dos muçulmanos na Terra Santa, os carmelitas foram morar na Europa. A aprovação oficial da Regra da parte da autoridade da igreja veio 40 anos depois no dia 1 de outubro de 1247 pelo Papa Inocêncio IV. A aprovação da Igreja animou muito aos carmelitas e os confirmou na sua caminhada.

  1. Os primeiros 40 anos, desde a concepção até o nascimento
  2. O ano de 1207: Alberto escreve a “Forma de Vida”
  3. O ano de 1226: Honório III diz: “É Forma de Vida válida para todos!”
  4. O ano de 1229: Gregório IX diz: “Vocês não podem ter propriedades!”
  5. O ano de 1238: o retorno dos carmelitas para a Europa
  6. O ano de 1246: o Papa Inocêncio IV diz: "Bispos! Aceitem os carmelitas!”
  7. O ano de 1246: realização do primeiro Capítulo Geral da Ordem
  8. O ano de 1247: Aprovação definitiva da Regra do Carmo pelo Papa Inocêncio IV
  9. Os 10 passos de recuperar a esperança: a luz que veio do cativeiro

No mês de agosto do ano 587 antes de Cristo, Nabucodonosor, rei da Babilônia entrou na terra do Povo de Deus, esmagou a última resistência, destruiu a cidade de Jerusalém e o Templo de Deus, matou muita gente e levou muitas pessoas para o cativeiro. Destruiu tudo que tinha sido sinal da presença viva de Deus no meio do povo: o Templo, a Monarquia, o culto, os sacerdotes e entregou a terra a outros. O povo que sobrou já não passava de um grupo étnico, sem autonomia, sem poder, sem rumo, sem templo, sem anúncio para anunciar. E muitos diziam: “Javé me abandonou, o Senhor se esqueceu de mim!” (Is 49,14). Foi a total escuridão da fé, era a noite escura da esperança. Mas sobrou a pergunta: “Deus, onde estás?”

Vamos ver de perto como, naquele terrível cativeiro da Babilônia (587-538), renasceu a fé e reapareceu um novo caminho de esperança. Vamos ver dez pontos que marcaram a caminhada do renascimento do povo de Deus. Não se trata de uma sequência cronológica, mas sim de dez aspectos da nova esperança que nasceu. Eles são o Decálogo da Esperança.

São dez passos para nós Carmelitas reanimarmos a nossa fé no Deus presente no meio de nós, renovar nossa esperança nas promessas dos profetas, e assumir nosso compromisso com o amor-doação para continuar a viver em obséquio de Jesus Cristo, animados e orientados pela Regra e pela luz que nos vem das três estrelas que brilham no céu do Carmelo: Elias, o profeta do zelo pela causa do Senhor (1Rs 19,10); Maria, a mãe de Jesus, que ouve a Palavra e a coloca em prática (Lc 11,27-28) e Eliseu, o herdeiro sucessor que transmite e irradia para todos a experiência do Deus de Elias (cf. 2Rs 2,14-15)).  

  1. Os dez passos para sair da escuridão e reencontrar a luz da esperança

 

  1. Descobrir a luz que existe dentro da escuridão do cativeiro

Todos nós, em momentos difíceis de escuridão, costumamos dizer: “Existe luz no fim do túnel”. Este modo de falar supõe que dentro do túnel não existe luz. No túnel só existe escuridão. Na época do cativeiro, porém, a luz que reanimou a esperança do povo não foi a luz no fim do túnel, mas sim a luz dentro da escuridão do túnel. Foi a redescoberta da fé que nos diz: “Deus está conosco”, Ele está no meio de nós!  É a certeza que está expressa no próprio nome de Deus: Yahweh, hwhy, Javé, Emanuel, Deus conosco.

Um exemplo significativo desta redescoberta da luz na escuridão transparece neste trecho da 3ª Lamentação, na qual Deus aparece como o autor dos males que o povo estava sofrendo no cativeiro. Diz o autor desta terceira lamentação

“(Ele, Deus),

12 Disparou seu arco, e fez de mim o alvo de suas flechas.

13 Em meus rins ele cravou suas flechas, tiradas de sua aljava.

14 Eu me tornei uma piada para todos os povos, a gozação de todo o dia.

15 Encheu meu estômago de amargura, embriagou-me de fel.

16 Fez-me dar com os dentes numa pedra, estendeu-me na poeira.

17 Fugiu a paz do meu espírito, a felicidade acabou.

18 Eu digo: "Acabaram minhas forças e minha esperança em Yahweh (Javé)".

19 Lembra-te de minha miséria e sofrimento, o fel que me envenena.

20 Guardo triste essa lembrança e me sinto abatido.

21 Mas existe alguma coisa que eu lembro e me dá esperança:

22 o amor de Javé não acaba jamais e sua compaixão não tem fim.

23 Pelo contrário, renovam-se a cada manhã: "Como é grande a tua fidelidade!"

24 Digo a mim mesmo: "Javé é minha herança", por isso nele espero.

25 Javé é bom para os que nele esperam e o procuram.

26 É bom esperar em silêncio a salvação de Javé.

A quase casual lembrança do Nome Yhwh (Lm 3,18) abriu a porta da memória e o autor começou a lembrar o passado vivido com Yhwh. A palavra-chave é recordar, lembrar. Re-cordar significa fazer passar tudo de novo pelo coração. O autor do lamento não foge do confronto com o seu passado. A dor, causada pela destruição de Jerusalém e pela desintegração do povo, tem algo a lhe dizer. Sem medo, ele começa a recordar, a mexer na ferida, pois lá no mais fundo da memória do coração, existe algo "que me faz ter esperança!" (Lm 3,20). Por isso ele aguenta, sem desfalecer.

O nome Yhwh é o fundamento desta teimosia. Algo começa a renascer, a borbulhar do pântano da dor. O nome de Deus, vindo de fora e entrando no ouvido, fez acordar dentro dele a saudade de Deus que existe na raiz do coração humano: “Tu nos fizeste para Ti, e o nosso coração estará irrequieto até que não descanse em Ti!” (Confissões de S. Agostinho 1,1)

Veja estes textos de Isaías que deixam transparecer algo desta luz dentro das trevas do cativeiro. É a escuridão luminosa da noite escura da fé: Is 42,16;  49,6;  51,4-5;  53,11;  58,8-10;  60,19.

 

  1. A nova leitura da natureza abre os olhos do povo

Naquele desespero generalizado do cativeiro sem luz, o profeta Jeremias soube reencontrar este outro motivo de esperança. Eis o que ele dizia ao povo exilado:

“Assim diz Yhwh , aquele que estabelece o sol para iluminar o dia e ordena à lua e às estrelas para iluminarem a noite, aquele cujo nome é Yhwh dos exércitos: quando essas leis falharem diante de mim - oráculo de Yhwh - então o povo de Israel também deixará de ser diante de mim uma nação para sempre!” (Jr 31,35-36).  “Se vocês puderem romper a minha aliança com o dia e com a noite, de modo que já não haverá mais dia nem noite no tempo certo, também será rompida a minha aliança com o meu servo Davi” (Jr33,20-21).

É como se Jeremias dissesse ao povo: Vocês dizem que Deus já não cuida de nós, e que nós deixamos de ser povo de Deus! Eu digo para vocês que Ele não nos abandonou. E sabem por quê? É que o sol vai nascer amanhã. Nabucodonosor pode ser forte, mas ele não consegue impedir o nascimento do sol amanhã cedo.

Jeremias ajudou o povo a ler a natureza com um novo olhar de fé. Era nos fenômenos da natureza que ele via um sinal da presença amiga de Deus e da sua fidelidade para com o povo: na sequência inalterada dos dias e das noites; no sol que se levantava todos os dias sobre a cidade destruída; na lua minguante e crescente; na alternância das estações do ano: primavera, verão, outono e inverno; nas chuvas, nas plantas e sementes, etc.

Tudo isto era para Jeremias um sinal da certeza de que Deus continuava fiel ao seu povo. Ele não havia rompido sua aliança, como alguns andavam dizendo (cf. Is 49,14). A dinâmica inalterada da natureza tornou-se o sinal mais seguro da presença amiga de Deus no meio do seu povo.

 

  1. Redescobrir e experimentar o Amor eterno de Deus

Foi nesta mesma situação escura sem horizonte, que os profetas desenterraram a raiz do amor fiel de Deus. Jeremias traz estas palavras de Deus. Ele diz: “De longe Yhwh me apareceu: Eu te amei com um amor eterno, por isso conservei para ti o amor” (Jr 31,3). E esta outra afirmação de Isaías: “Em um momento de cólera escondi de ti o meu rosto, mas logo me compadeci de ti, levado por um amor eterno, diz Yhwh, o teu redentor” (Is 54,8; cf. Is 41,8-14.). Foram os profetas, sobretudo Jeremias, Oséias e Isaías, que souberam redescobrir esta dimensão infinita do amor gratuito de Deus (cf. Is 41,8-14; 49,15;Jr 31,31-37; Os 2,16).

Nas entrelinhas destas frases, a gente adivinha a seguinte descoberta. É como se Deus, o namorado, dissesse ao povo, sua namorada: Depois de tudo que você fez, você já não mereceria ser amada. Mas meu amor por você não depende do que você fez por mim ou contra mim. Quando comecei a amar você, eu o fiz com um amor eterno. Por isso, apesar de tudo que você me fez, apesar de todos os seus defeitos, eu gosto de você, eu amo você para sempre! Mesmo você me matando, eu amo você. Jesus deu a prova deste amor eterno quando pediu que Deus perdoasse o soldado que o estava matando na cruz (Lc 23,34).

A redescoberta da certeza do amor de Deus devolveu ao povo a autoestima, ajudou-o a superar o sentimento de culpa e levou-o a dar uma resposta de amor na observância dos Dez Mandamentos. Agora eles sabem que nada, nem mesmo o fracasso, pode separá-los do amor eterno de Deus (Is 40,1-2ª; 41,9-10.13-14; 43,1-5; 44,2; 46,3-4; 49,13-16; 54,7-8; etc. cf. Rm 8,35-39).

 

  1. A nova imagem de Deus: Deus de família

Para os que estavam no cativeiro nada sobrou da monarquia, nem da organização como povo organizou que vive na sua terra. O que sobrou para eles e que os unia entre si eram os laços familiares: pai, mãe, irmãos, irmãs. Nada mais.

Ora, foi neste pequeno espaço que lhes sobrava da “casa”, da família, da pequena comunidade, que renasceu neles a experiência de Deus. A imagem de Deus, transmitida pelos discípulos de Isaías, reflete este ambiente familiar da Casa. Deus é Pai (Is 63,16; 64,7), é Mãe (Is 46,3; 49,15-16; 66,12-13), é Marido (Is 54,4-5; 62,5), é o parente próximo (irmão mais velho) (Is 41,14; 43,1).

 

* Deus é Pai: “Tu és o nosso pai, pois Abraão não nos reconhece mais e Israel não se lembra de nós. Yhwh, tu és o nosso pai. Teu nome é, desde sempre, Nosso Redentor” (Is 63,16).  “Yhwh, tu és o nosso pai; nós somos o barro, e tu és o nosso oleiro; todos nós somos obra de tuas mãos” (Is 64,7).

* Deus é Mãe: “14Sião dizia: "Yhwh me abandonou; o Senhor se esqueceu de mim." 15Por acaso pode a mãe se esquecer da sua criancinha de peito? Não se compadecerá ela do filho do seu ventre? Ainda que as mulheres se esquecessem eu não me esqueceria de ti. 16Eis que te gravei nas palmas da minha mão, os teus muros estão continuamente diante de mim” (Is 49,14-16). ”Como a uma pessoa que a sua mãe consola, assim eu vos consolarei; sim, em Jerusalém sereis consolado”  (Is 66,13).

 

* Deus é Marido: “Porque o teu marido será o teu criador, Yhwh dos Exércitos é o seu nome. O Santo de Israel é o teu redentor, ele se chama o Deus de toda a terra. 6Como a uma esposa abandonada e acabrunhada, Yhwh te chamou; como à mulher da sua mocidade, que teria sido repudiada, diz o teu Deus. 7Por um pouco de tempo te abandonei, mas agora com grande compaixão torno a recolher-te. 8Em um momento de cólera escondi de ti o meu rosto, mas logo me compadeci de ti, levado por um amor eterno, diz Yhwh , o teu redentor” (Is 54,5-8). “Como um jovem desposa uma virgem, assim te desposará o teu edificador. Como a alegria do noivo pela sua noiva, tal será a alegria que o teu Deus sentirá em ti” (Is 62,5).

 

* Deus é Irmão mais velho (Redentor): “16Com efeito, tu és o nosso pai. Ainda que Abraão não nos conhecesse e Israel não tomasse conhecimento de nós, tu, Yhwh, és nosso pai, nosso redentor: tal é o teu nome desde a antiguidade” (Is 63,16).  “8Em um momento de cólera escondi de ti o meu rosto, mas logo me compadeci de ti, levado por um amor eterno, diz Yhwh, o teu redentor” (Is 54,8).

Yhwh, o Deus que antes estava ligado ao Templo, ao culto oficial, ao sacerdócio, ao clero, à monarquia, agora está perto deles, “em casa”; casa pequena, quebrada e, humanamente falando, sem futuro, mas Casa, e não Templo. Eles não retomaram as antigas imagens religiosas, mas usaram imagens novas tiradas da vida familiar e comunitária que eles estavam vivendo lá no cativeiro. Humanizaram a imagem de Deus e começaram a olhar a família, a pequena comunidade, como o espaço do reencontro com Deus. Deus agora se esconde e se revela (cf. Is 45,15) lá onde antes ninguém o procurava: em casa, no relacionamento familiar, nas pequenas comunidades de base, no meio do povo exilado e excluído!

Esta é também a renovação que acontece hoje entre nós a partir das Comunidades Eclesiais de Base. Foi a partir deste mundo pequeno e limitado da “casa”, sem prestígio e sem poder, que tudo renasceu e continua renascendo, até hoje. Foi assim que os primeiros cristãos recomeçaram, reorganizando-se em pequenas comunidades de várias famílias (cf. Ex 12,4).

 

  1. A nova luz nos olhos gera uma nova leitura do passado

A nova maneira de olhar a natureza, a redescoberta do amor eterno e o reencontro com Deus na "casa", na família, deram olhos novos para entender, de maneira nova, tudo aquilo que Deus tinha feito com eles no passado.

Eles começaram a reler os valores da vida que no passado haviam orientado o povo. Mantinham as mesmas palavras, mas davam a elas um novo sentido e as colocavam numa nova perspectiva. Eis alguns exemplos:

* O povo de Deus já não é uma raça: agora os estrangeiros também fazem parte (Is 56,3.6-7).

* O templo já não é só para os judeus: agora é casa de oração para todos os povos (Is 56,7).

* O culto é universal: os estrangeiros também participam (Is 56,6-7).

* O sacerdócio não é só de Levi: estrangeiros vão receber o mesmo sacerdócio (Is 66,20-21).

* O reino já não é a monarquia de Davi, mas sim o Reino do próprio Deus (Is 52,7; 43,15).

* O messias, (o ungido) não é só o rei Davi, mas também Ciro, o Rei dos persas (Is 45,1; 44,28).

* A eleição não é um privilégio, mas um serviço a ser prestado a toda a humanidade (Is 42,1-4).

* A missão não é o povo ser um grupo separado, mas sim ser a “Luz das Nações” (Is 42,6; 49,6)

* A lei de Deus não é só de Israel: todos os povos nela encontram uma luz (Is 2,1-5).

* Jerusalém não é a capital de Judá: é centro de peregrinação para todos os povos (Is 60,1-7).

Começaram a reler tudo: a natureza, a história, a política, a criação, o passado e o presente e assim reintegravam a vida desintegrada do povo exilado. Foi um longo processo de séculos. A síntese final desta releitura, iniciada no cativeiro, é a própria Bíblia, é o Antigo Testamento.

 

  1. Deus liberta, salva e conduz o seu povo com um poder criador

De todos os livros da Bíblia, os capítulos 40 a 66 do livro de Isaías são os que mais usam a palavra criar, mais de vinte vezes! O verbo criar (arb, BARÁ) indica a qualidade da ação com que Deus acompanha e cuida do seu povo. Deus cria o universo e a terra; cria também o povo e o Êxodo (Is 43,15). Tudo é fruto da ação criadora de Deus. “Yhwh que te criou, é o mesmo que estendeu os céus e fundou a terra” (Is 51,13). Ele liberta, salva e conduz o povo com um poder criador (Is 40,25-31).

Ação salvadora e ação criadora se identificam. O Deus que chama Abraão é o Deus Criador. O Deus que cria o mundo é o Deus que chama Abraão. Iluminação mútua entre Criação e Salvação! É a mesma ação. Ao lado das Dez Palavras (Dez Mandamentos) que estão na origem da Aliança, eles começam a dar atenção às Dez Palavras que estão na origem das Criaturas. Ao lado da Lei da Aliança, descobrem a Lei da Criação.

A Lei de Deus entregue ao povo no Monte Sinai tinha no seu centro as Dez Palavras divinas da aliança, os Dez Mandamentos (Ex 20,1-17; Dt 5,6-22). Da mesma maneira, a narrativa da Criação tem no seu centro Dez Palavras divinas. O autor que fez a redação da narrativa da Criação (Gn 1,1-2,4ª) repete dez vezes a expressão “e Deus disse”. Como fez para o povo, assim Deus faz para as criaturas: “fixou-lhes uma lei que jamais passará” (Sl 148,6):

 

1. Gn 1,3         E Deus disse: haja luz

2. Gn 1,6         E Deus disse: haja um firmamento

3. Gn 1,9         E Deus disse: que as águas se juntem e apareça o continente

4. Gn 1,11       E Deus disse: que a terra produza relva verde

5. Gn 1,14       E Deus disse: que haja luzeiros no firmamento

6. Gn 1,20       E Deus disse: que as águas fiquem cheias de seres vivos

7. Gn 1,24       E Deus disse: que a terra produza seres vivos

8. Gn 1,26       E Deus disse: façamos o ser humano à nossa imagem e semelhança

9. Gn 1,28       E Deus disse: sejam fecundos

10. Gn 1,29     E Deus disse: dou as ervas como alimento.

E Deus

Disse

 

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Esta maneira de descrever a ação criadora de Deus é bem mais que um jogo de palavras. As Dez Palavras da Criação são a expressão da nova leitura da natureza. A admirável harmonia do universo é fruto da obediência das criaturas às Dez Palavras com que Deus enfrentou e venceu o caos.

O caos do cativeiro surgiu porque o povo não tinha observado as Dez Palavras da Lei da Aliança. As criaturas, ao contrário do povo, sempre observam a Lei da Criação. Por isso existe a harmonia na natureza. No Pai-Nosso Jesus dirá: “Seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu”. Jesus pede que cheguemos a observar a Lei da Aliança com a mesma perfeição com que o sol e as estrelas do céu observam a Lei da Criação. Na harmonia do universo as Comunidades descobrem como realizar sua missão. O Decálogo da Criação descreve a ação amorosa de Deus em nosso favor, o Decálogo da Aliança descreve como deve ser a resposta amorosa do ser humano a Deus.

 

  1. Os Dois Livros de Deus: Natureza e Bíblia

1º LIVRO: a natureza

O primeiro livro de Deus não é a Bíblia, mas sim a natureza, o universo, a vida, o mundo, os fatos, a história. É através do Livro da Natureza ou da Vida que Deus quer falar conosco. Deus criou as coisas falando. Ele disse: “Luz!” E a Luz começou a exisitir (Gn 1,3). Tudo que existe é a expressão de uma palavra divina, como tão bem verbaliza o salmo:

 

O céu manifesta a glória de Deus, e o firmamento proclama a obra de suas mãos.

O dia passa a mensagem para outro dia, a noite a sussurra para a outra noite.

Sem fala e sem palavras, sem que a sua voz seja ouvida,

a toda a terra chega o seu eco, aos confins do mundo a sua linguagem (Sl 19,2-5).

Cada ser humano é uma palavra ambulante de Deus (Gn 1,27). As crianças são palavra de Deus para os pais; os pais são palavra de Deus para as crianças. Mas nós já não nos damos conta de que estamos vivendo no meio do livro de Deus e que cada um de nós é uma página viva deste livro divino. Há algo que nos impede de reconhecer a presença da Palavra na vida, algo que “sufoca a verdade” (Rom 1,18; cf Is 44,20; Sl 36,3). O que é que nos impede?

Santo Agostinho diz que foi o pecado, isto é, esta nossa mania de querer dominar tudo, de tratar a natureza como mercadoria e de achar que somos donos de tudo. Este é o nosso pecado que “sufoca a verdade”. Por isso, as letras do Primeiro Livro de Deus se atrapalharam, e já não conseguimos descobrir a fala de Deus no Livro da Vida. Perdemos o olhar da contemplação, a capacidade de admirar. Para remediar este nosso mal nasceu a Bíblia, o Segundo Livro de Deus. 

2º LIVRO: a Bíblia

A Bíblia foi escrita, não para substituir o Livro da Vida, mas para ajudar-nos a entendê-lo melhor e a descobrir nele os sinais da presença de Deus. A leitura orante da bíblia nos devolve o olhar da contemplação, ajuda a decifrar o mundo e faz com que o Universo torne-se novamente uma revelação de Deus, volte a ser o que deve ser “O Primeiro Livro de Deus”.

A bíblia é o fruto da ação do Espírito de Deus e de um demorado processo de busca do ser humano. Impelido pelo desejo de encontrar Deus nas crises e depressões da vida, o povo foi descobrindo os sinais da presença divina e, dentro dos critérios da cultura da época, transmitia para os filhos as suas descobertas. Assim foi nascendo a Tradição Viva do Povo de Deus, transmitida oralmente de geração em geração, desde os tempos de Abraão e Sara.

Foi na comunidade do cativeiro, a partir da redescoberta do amor de Deus, que começou a ser articulada a redação final desta tradição oral do povo de Deus que é a Bíblia. A Bíblia é o resultado da leitura que o povo hebreu conseguiu fazer da vida e da natureza para descobrir nelas a fala amorosa de Deus. Este Segundo Livro de Deus ajudou o povo a entender melhor o Primeiro Livro de Deus.

Aqui vale a pena retomar uma palavra de Clemente de Alexandria, um sábio africano do século IV. Ele dizia: “Deus salvou os judeus judaicamente, os gregos, gregamente, os bárbaros, barba­ramente”. E nós podemos continuar: “Salva os brasileiros, brasileiramente". Os judeus, os gregos e os bárbaros, cada um no seu tempo e na sua cultura, no meio das crises, foram capazes de descobrir os sinais da presença de Deus em suas vidas. Assim também nós estamos sendo desafiados a fazer hoje o mesmo que eles fizeram: com a ajuda da Bíblia descobrir a presença divina dentro da nossa realidade; criar maneiras novas de celebrar que respondam ao desejo mais profundo do coração humano; irradiar esta fé para os outros como uma grande Boa Nova de Deus para a vida humana.

 

  1. A nova Missão do Povo de Deus: servir, ajudar, socorrer, salvar

Foi no ambiente do cativeiro da Babilônia, que o povo redescobriu sua missão como Povo de Deus: não mais para ser um povo glorioso, colocado acima dos outros povos, mas para ser um povo servo, Servo Sofredor, cuja missão é revelar o amor de Deus, irradiar a bondade de Deus, difundir a justiça, não desanimar nunca e, assim, ser a "Luz das Nações" (Is 42,6; 49,6). Os quatro cânticos do Servo de Yhwh falam desta missão (Is 42,1-9; 49,1-6; 50,4-9; 52,13-53,12). Na figura do Servo eles apresentam ao povo exilado um modelo de como ele deve entender e realizar a sua missão como Povo de Deus. 

A figura do Servo de Yhwh não é um indivíduo determinado, mas é o próprio povo. É o povo do cativeiro, descrito no quarto cântico como um povo oprimido, sofredor, desfigurado, sem aparência de gente e sem um mínimo de condição humana, povo explorado, maltratado e silenciado, sem graça nem beleza, cheio de sofrimento, evitado pelos outros como um leproso, condenado como criminoso, sem julgamento nem defesa (Is 53,2-8). Retrato perfeito da metade da humanidade de hoje!

Os quatro cânticos do Servo de Deus são uma cartilha para ajudar o povo, tanto de ontem como de hoje, a descobrir e a assumir a sua missão. Descrevem os quatro passos que o Servo deve percorrer para realizar a sua missão: O primeiro cântico (Is 42,1-9) descreve como Deus escolhe e apresenta o povo oprimido para ser o seu Servo. O segundo (Is 49,1-6) mostra como este povo, ainda sem fé em si mesmo, vai descobrindo com dificuldade a sua missão. O terceiro (Is 50,4-9) relata como o povo assume a sua missão e a executa apesar da perseguição. E o quarto cântico (Is 52,13 a 53,12) é uma profecia a respeito do futuro do Servo e da sua missão: ele vai ser morto, mas a sua morte será fonte de salvação para todos.

No fim, um breve resumo dos quatro cânticos define a missão do Servo (Is 61,1-2). Foi este resumo que Jesus escolheu para apresentar-se com a sua missão na comunidade de Nazaré (Lc 4,18). Jesus é o primeiro que percorreu os quatro passos, do começo até o fim. Por isso, ele se tornou a chave principal para que possamos entender todo o significado e alcance da missão do Servo, descrita no livro de Isaías.

Em Jesus, a profecia do Servo de Deus retomou forma e vigor. Ele disse: “Eu não vim para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate de muitos” (Mt 20,28). Aprendeu de sua Mãe que disse: "Eis aqui a serva do Senhor!" (Lc 1,38). Ela o aprendeu da tradição dos Anawim, para os quais o povo de Deus está no mundo não para dominar, mas para servir. Eles esperavam o Messias Servidor. Foi assim que o entenderam os primeiros cristãos. Jesus era visto por eles como o Servo de Deus (cf. At 3,13.26; 4,27.30). Ser servo de Deus era o título com que eles se identificavam a si mesmos (Rm 1,1): “servos da justiça” (Rm 6,18), “servos de Deus” (Rm 6,22).

 

  1. Uma nova Pastoral: ternura, diálogo, reunião e consciência crítica

A gratuidade da presença de Deus no meio de nós torna-se a fonte de uma nova pastoral que transparece nas linhas e entrelinhas dos capítulos 40 a 66 do livro de Isaías. Eis alguns aspectos desta pastoral:

* Ternura

Para uma pessoa que vive machucada e triste na solidão do cativeiro, não basta você gritar para que ela levante a cabeça e tenha esperança; não basta usar os argumentos da análise crítica da realidade para que ela comece a enxergar a situação com esperança renovada. É necessário, antes de tudo, cuidar das feridas do coração, acolhê-la com muita ternura. De fato, as primeiras palavras do livro dos discípulos de Isaías são: “Consolem, consolem o meu povo!” (Is 40,1). E elas ressoam pelas páginas do livro inteiro, do começo ao fim.

Os discípulos têm uma conversa atenciosa, cheia de ternura e consolo, de encorajamento e acolhimento. “Não gritam nem apagam a vela que ainda solta um pouco de fumaça” (Is 42,2-3). Eles mesmos machucados, não machucam; oprimidos, não oprimem, mas tratam e acolhem o povo com muito respeito. Tentam chamar as pessoas pelo próprio nome (Is 43,1). Usam linguagem simples, concreta e direta, numa atitude de ternura nunca vista antes, que funciona como bálsamo, e dispõe as pessoas para olhar a realidade com mais objetividade. Há muitas expressões e imagens de ternura espalhadas pelos capítulos 40 a 66 de Isaías: Is 40,1-2ª; 43,1-5; 44,2; 46,3-4; 49,13-16; etc. Eis um exemplo: “Tu és o meu servo! Eu te escolhi, não te rejeitei. Não temas, porque eu estou contigo. Não fique apavorado, pois eu sou o teu Deus. Eu te fortaleço, sim, eu te ajudo, eu te sustento com a minha direita justiceira!  ...  Não temas! Sou eu que te ajudo! Não temas, vermezinho de Jacó, meu bichinho de Israel! Eu mesmo te ajudarei. Oráculo de Yhwh, teu redentor é o Santo de Israel!”(Is 41,9-10.13-14; cf Is 54,7-8).

 

* Diálogo

Nos capítulos 40 a 66 de Isaías, do começo ao fim, transparece uma atitude de escuta e diálogo. Eles conversam, fazem perguntas, questionam, criticam, levam o povo a refletir sobre os fatos (cf. Is 40,12-14.21.25-27; etc.). Ensinam dialogando em pé de igualdade com o povo. Este jeito de ensinar é próprio de quem se considera discípulo e não dono da verdade: “O Senhor me deu uma língua de discípulo para que eu saiba trazer ao cansado uma palavra de conforto. De manhã em manhã ele me desperta, sim, desperta meu ouvido, para que eu ouça como os discípulos” (Is 50,4)

Um discípulo não absolutiza seu próprio pensamento, nem impõe suas ideias, mas sabe ensinar escutando, aprendendo dos outros. Eis um exemplo de como faziam: “Por que dizes tu, Jacó, e por que afirmas tu, Israel: “O meu caminho está oculto a Yhwh ; meu direito passa despercebido a Deus?” Então não sabes? Por acaso não ouviste isto? Yhwh é um Deus eterno, criador das regiões mais remotas da terra. Ele não se cansa nem se fatiga, sua inteligência é insondável” (Is 40,27-28)

Por este seu jeito de conviver e de tratar com o povo, os discípulos não só falam sobre Deus, mas também o revelam. Eles comunicam algo daquilo que eles mesmos vivem. Deus se faz presente nesta atitude de ternura e de diálogo. O povo se dá conta de que o Deus dos discípulos é diferente do deus da Babilônia, diferente também da imagem de Deus que eles ainda carregavam na memória, da época da monarquia, de antes da destruição do Templo. Assim, aos poucos, os olhos se abrem. O povo começa a perceber algo do novo que estava acontecendo. “Não estão vendo?”(Is 43,19)

Até hoje, estes primeiros passos são o mais difíceis, os mais lentos e os mais importantes. Foi necessária muita paciência da parte dos discípulos, para que aquele povo exilado no cativeiro se reanimasse a crer novamente em si mesmo e em Deus, e se levantasse (Is 49,4.14).

 

* Reunião

É neste mesmo período do cativeiro que eles começaram a insistir de novo na observância da lei já antiga do sábado (Is 56,2.4; 58,13-14; 66,23; cf. Gen 2,2-3). Era para que o povo tivesse ao menos um dia por semana para se encontrar, partilhar sua fé, louvar a Deus e animar-se uns aos outros. Faziam reunião de noite e perguntavam: “Elevai os olhos para o alto e vede: Quem criou estes astros? É ele que faz sair o seu exército em número certo e fixo; a todos chama pelo nome. Tal é o seu vigor, tão grande a sua força que nenhum deles deixa de apresentar-se. Por que dizes tu, Jacó, e por que afirmas, Israel: "O meu caminho está oculto a Yhwh; o meu direito passa despercebido a Deus?" (Is 40,26-27)

Nestas reuniões eles refrescavam a memória (Is 43,26; 46,9), contavam as histórias de Noé, de Abraão e Sara, da Criação, lembravam o êxodo (Is 43,16-17), apontavam os fatos da política e perguntavam: “Quem é que faz tudo isto?" (Is 41,2). A resposta era sempre a mesma: "É Yhwh, o Deus do povo, o nosso Deus!". Assim, a natureza deixava de ser o santuário dos falsos deuses; a história já não era mais decidida pelos opressores do povo; o mundo da política já não era mais o domínio de Nabucodonosor. Por trás de tudo começam a reaparecer os traços do rosto de Yhwh, o Deus do povo. A natureza, a história e a política deixam de ser estranhas e hostis ao povo e tornam-se aliadas dos pobres na sua caminhada como Servo de Deus.

 

* Consciência crítica

Foi necessária muita paciência para que o povo se reanimasse a crer novamente em si mesmo e em Deus (Is 49,4.14). O desânimo era muito grande. Eles eram como o profeta Elias deitado debaixo da árvore querendo morrer: “Basta, Senhor! Tira-me a vida, porque não sou melhor que meus pais” (1Rs 19,4). Até para cantar eles tinham perdido o gosto (Sl 137,1-6). Este desânimo tinha duas causas, ligadas entre si como os dois braços de uma balança: uma externa que, de fora, pesava sobre eles, a saber: a destruição de Jerusalém, o exílio, a perda de todos os apoios e direitos; a outra interna que, por dentro, esvaziava o coração: a falta de visão e de fé, o peso morto da antiga visão de Deus. Deus parecia ter perdido o controle da situação. Nabucodonosor parecia ser o dono de tudo. Desequilibrou-se a balança da vida!

Os discípulos de Isaías atacavam as duas causas: desfaziam o peso da opressão e enchiam o vazio do coração. Para desfazer o peso da opressão eles usavam o bom senso e faziam uma análise crítica da realidade. Desmascaravam o poder que os oprimia e a ideologia dominante que os enganava. Tudo era analisado e criticado com ironia e precisão, e confrontado com a nova visão que a fé em Deus lhes comunicava. Eles diziam ao povo: “Vejam: as nações [que nos oprimem] são como gotas num balde, e não valem mais que poeira num prato da balança. Vejam: as ilhas pesam como um grão de areia” (Is 40,15; cf. Is 40,17.22.23; 41,6-7.21-29; 44,18-20.25; 47,1-15). Para encher o vazio do coração os discípulos ajudavam o povo a ler de maneira nova o mundo que os envolvia e a perceber nele os sinais da presença amorosa de Yhwh: “Por um pouco de tempo te abandonei, mas agora com grande compaixão torno a recolher-te. Em um momento de cólera escondi de ti o meu rosto, mas logo me compadeci de ti, levado por um amor eterno, diz Yhwh, o teu redentor” (Is 54,7-8; cf. Is 55,8-11; 41,1-5; 44,27-28; 45,1-7). Assim, eles iam descobrindo que a casa preferida de Deus era no meio do seu povo oprimido e exilado. Deus fez opção pelos pobres: "Eu estou contigo!" (Is 41,10). “Troco tudo por ti!” (Is 43,4). É lá, no povo do cativeiro, que Ele, Deus, deve ser procurado (Is 55,6), e é lá que Ele quer que este povo seja "Luz das Nações” (Is 42,6).

Deste modo, enchendo o vazio do coração (causa interna) e enfraquecendo o peso da opressão (causa externa), eles deslocavam o peso da balança. O povo se equilibrava de novo na vida. Agora, já não era a perseguição que enfraquecia a fé, mas sim é a fé renovada e esclarecida que enfraquecia o poder dos poderosos. A face de Deus reaparecia na vida. O povo, reanimado por esta Boa Notícia, despertava (Is 51,9.17; 52,1), se punha de pé (Is 60,1), começou a cantar (Is 42,10; 49,13; 54,1; 61,10; 63,7) e a resistir (Is 48,20).

 

  1. Uma nova celebração da vida: a lição dos salmos

O livro dos Salmos nasceu ao longo dos séculos. Sua redação final é depois do cativeiro, em torno dos séculos V ou IV aC. Só uma parte das orações do povo está no Livro dos Salmos. A outra parte está espalhada pela Bíblia inteira, tanto no AT como no NT. Os Salmos são o lado orante da história do povo de Deus. Neles há de tudo: Lei, História, Sabedoria, Profecia. Eles revelam o olhar orante do povo sobre a Criação de Deus. Ajudam a rezar os fenômenos da natureza.

Temos que recuperar a criatividade e a capacidade de admirar. Nesse ponto, o povo da Bíblia dá lição a todos nós. Apesar de todas as suas limitações, eles souberam ler o Livro da vida. Souberam descobrir e cantar a beleza do Universo que revela o amor de Deus e a grandeza do Criador. Souberam verbalizar e transmitir suas descobertas, enriquecendo as gerações seguintes.

Quando um artista tem uma inspiração, ele procura expressá-la numa obra de arte. A arte que daí resulta carrega dentro de si essa mesma inspiração. Por isso, as obras de arte atraem e mexem tanto com as pessoas. O mesmo acontece quando lemos e meditamos a Bíblia. A inspiração que conduziu os autores ou autoras a compor os salmos, continua presente naquelas antigas orações. Através da nossa leitura atenta e orante esse mesmo Espírito entra em ação e começa a atuar para revelar em nós a mesma imagem de Deus expressa no texto. Eis alguns destes salmos:

Salmo 8: “A Tua presença irrompe por toda a terra!” Deus se revela na natureza

Salmo 19(18): “Os céus cantam a glória de Deus!”  Eles são expressão da Lei de Deus

Salmo 46(45): “Deus é nosso refúgio e nossa força!” Ele está conosco! Não ter medo

Salmo 104(103): “Envia teu Espírito e tudo será criado!” A ordem da Criação vem de Deus

Salmo 136(135): “Criou o céu e a terra! Eterno é seu amor!” Tudo é revelação do amor

Salmo 139(138): “Tu me conheces quando estou sentado!”  O Criador está presente em tudo

Salmo 148: “Aleluia! Louvai a Yhwh todas as criaturas!” Convite ao louvor universal

Estes Salmos nos dão uma ideia do que significava para aquele povo do cativeiro da Babilônia a fé no poder criador de Deus. Quando cantam a criação do universo e falam do Deus Criador, não é para dar informações sobre como Deus tinha criado o mundo no passado, mas sim para comunicar quem era o Deus que estava com eles lá no cativeiro, no mais fundo do fundo do poço, naquela escuridão sem luz, naquele desânimo sem futuro, e qual o poder criador que ele usava para acompanhar o seu povo! A redescoberta surpreendente da presença criadora da palavra de Deus naquela vida oprimida do cativeiro desumano, sem rumo e sem sentido, foi como a ressurreição do povo que iluminou a vida e a própria natureza! Humanizou a Vida!

A Caminho de Aparecida- A Família Carmelitana

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Publicado em 22 julho 2025
  • Família Carmelitana,
  • Encontro da Família Carmelitana em Aparecida,
  • Congresso da Família Carmelitana 2025,

*Frei Carlos Mesters, O. Carm.

 

1-Ordens Terceiras.

As Ordens Terceiras existem no Brasil há vários séculos. Na região de Minas Gerais, elas entraram bem antes dos frades e foi a existência das Ordens Terceiras que atraiu os frades para Minas. Graças à atuação dos irmãos e irmãs terceiros, a Devoção à Nossa Senhora do Carmo já existia por lá antes de nós, os frades, chegarmos. Basta ver como em Minas existe o maior numero de cidades e paróquias com o nome de Nossa Senhora do Carmo.

Hoje em dia, a variedade entre os sodalícios é grande e apresenta um campo, onde podemos e devemos ajudar muito. Há sodalícios antigos que tem dificuldade em se atualizar, pois sua piedade está limitada em esquemas antigos. Mas há sodalícios novas com grande vitalidade e atuação

 

2-Congregações Carmelitas.

 

  1. As Irmãs Carmelitas da Divina Providência. Congregação fundada em 1898, ligada à Igreja do Carmo na Lapa no Rio de Janeiro,.
  2. As Irmãs Missionárias Carmelitas no Nordeste. Congregação fundada em 1936 pelo frei Casanova. O lema delas é muito significativo: “Ir aonde ninguém quer ir”.
  3. As Irmãs Carmelitas Missionárias de Santa Terezinha do Menino Jesus. Congregação fundada na Itália nos anos 20 do século XX por frei Lourenço van den Ehrenbeemd, carmelita da nossa Ordem, e pela irmã Crossifissa. Graças à ajuda do Dom Eliseu van de Weyer, bispo carmelita de Paracatu, elas vieram ao Brasil em 1947 e criaram a primeira comunidade em Paracatu. Hoje, Colégio Dom Eliseu.
  4. As Irmãs Carmelitas do Instituto Nossa Senhora do Carmo. Congregação fundada na Itália. Vieram para o Brasil a pedido de um padre Salesiano, missionário em Manaus e irmão de uma das irmãs desta Congregação, irmã Amabile. Inicialmente, não tiveram muito contato conosco. Só nos últimos anos, a pedido da própria superiora geral de Roma, fizeram uma fundação nova em Unaí.
  5. As Irmãs Carmelitas da Madre Candelária. Congregação fundada na Venezuela por uma pobre viúva. Atualmente está se expandindo para a Bolívia e o Brasil (2003). Vieram para Capim Branco em Minas, mas não puderam continuar lá. Com a ajuda das irmãs carmelitas da Divina Providência foram para Mariana, MG.
  6. O grupo Donum Dei veio ao Brasil em 1978. É um Instituto leigo, nascido na França depois da guerra que existe nos quatro Continentes com mais de 600 membros. Elas têm uma comunidade na favela do Pavãozinho no Rio. Tem contato com nossa comunidade da Lapa, mas participam muito pouco nos encontros inter-carmelitanos.
  7. Temos contato com várias outras Congregações Carmelitas ligadas aos carmelitas descalços. Irmãs Carmelitas missionárias do Sagrado Coração do México que tem duas comunidades na Diocese de Volta Redonda. Um grupo de irmãs Carmelitas com casa em Betim, MG. Outra congregação com casa em Jacareí e outra com casa em Belém do Pará

3-Mosteiros

Em 1947 a pedido de Dom Gabriel Couto, O.Carm, vieram as primeiras irmãs Carmelitas holandesas para Jaboticabal. Conseguiram realizar uma nova fundação em Paranavaí. Uma outra fundação em Petrolina fracassou. Estão pensando seriamente numa fundação no Nordeste, numa das dioceses dos nossos bispos carmelitas. Importante nós ajudarmos.

Vários dos nossos frades mantêm contatos com as irmãs carmelitas descalças de vários mosteiros do ramo Descalço. Há assessoria da nossa parte para elas, e participação em seus encontros.

 

4-Grupos de Leigos e Leigas Carmelitas.

Ao redor de quase todas as nossas casas e ao redor das Congregações estão surgindo grupos carmelitas de leigas e leigos. Alguns deles já têm a sua organização própria e autônoma, como a Fraternidade Carmelita Leiga em Minas Gerais que tem vários grupos em Belo Horizonte, Ouro Preto e Marimbá. Ao redor das Carmelitas Missionárias de Santa Terezinha do menino Jesus está surgindo um grupo de leigos que pedem nossa assessoria.

Também neste ponto temos muito a aprender dos nossos irmãos descalços. Entre eles existe a Ordem Carmelita Descalço Secular, OCDS, que tem sua organização e autonomia. Estão divididos em Províncias com seus encontros e capítulos. Participaram ativamente no Congresso do ALACAR em Bogotá em 2009.

 

5-Iniciativas inter-carmelitanas

Na segunda metade do século cresceu entre nós a consciência de pertencermos todos e todas à mesma Família Carmelitana. Dos anos sessenta até o ano 2000, apareceram muitas iniciativas em nível inter-carmelitano. Este fenômeno está acontecendo não só entre nós, mas em praticamente todas as Ordens e Congregações Religiosos. Trata-se de algo do rumo do Espírito de Deus. O Carisma não pertence aos frades. Pertence à Igreja, e a sua riqueza aparece quando a vivência do carisma é partilhada por frades, irmãs, leigas e leigos. Vou tentar enumerar algumas destas iniciativas:

 

6-Entre as três Províncias.

Em termos das três províncias, sobretudo da província nossa com a do Nordeste, há muitas iniciativas:

1) Os estudantes frades do Nordeste durante muitos anos estudaram conosco aqui em São Paulo;

2) Um frade da nossa província, frei Sebastião Boerkamp foi provincial da Província do Nordeste durante vários anos;

3) Por ocasião do sétimo centenário do Escapulário em 1951, houve a visita da Virgem Peregrina em todo o Brasil. Partiu do Nordeste e teve muita participação da nossa província.

4) Na crise dos anos pós-conciliares diminuiu um pouco, mas recomeçou nos anos 80:

*  1982-1991: noviciado comum das três Províncias em Camocim

*  Várias interrupções da parte da nossa Província e do Comissariado do Paraná.

*  2001-2004: noviciado comum em Graciosa

*  2005-2007: noviciado comum em Camocim

*  2008-2010: noviciado comum em São Cristóvão-

5) Criou-se a Casa de Teologia interprovincial em Belo Horizonte.

6) Ajuda mútua entre frades

7) Novo Noviciado em 2011 em BHZ

 

7-Entre os frades, monjas, irmãs e leigos

Neste nível foram tomadas muitas iniciativas desde os anos sessenta. Lembro aqui só algumas:

*  EICAL: Encontros Intercarmelitanos da AL, iniciados pelo frei Rafael Cecca OCD do México

*  EICAB: Continuação do EICAL no Brasil

*  APEC: Aprofundamento da Espiritualidade Carmelitana, iniciada pelas irmãs Carmelitas da Divina Providência em Mariana MG , julho de 1985,

*  INTERCAB: Encontros Intercarmelitanos do Brasil, iniciados em 1987 e continuados, anual­mente, até o ano passado. Terá continuidade no ano que vem, assumida pelos superiores e superioras carmelitas do Brasil na sua última reunião.

*  Carmelo-Bíblia: fruto do INTERCAB com participação grande dos jovens. Funcionou até 1996. Sua continuação foi a preparação para o novo Milênio, que produziu os três cadernos sobre Fraternidade, Mística e Profecia.

*  Carmelo-Solidariedade: fruto do INTERCAB e funciona até hoje, anualmente no início do mês de fevereiro no Mosteiro Monte Carmelo, Curitiba.

*  Carmelo-Missão: fruto do INTERCAB: cada dois anos, animado pela equipe do Nordeste

*  Carmelo-Liturgia (não teve futuro)

*  Carmelo-História (não teve futuro)

*  Encontros das irmãs e irmãos inseridos, realizados algumas vezes  no Nordeste nos anos 80.

*  Retiros Carmelitanos: realizados várias vezes no Carit, Rio de Janeiro, nos anos 80 e 90, e teve como fruto a elaboração do retiro de 40 dias do Profeta Elias

*  Visitas mútuas e realização da Pascuela,

*  Ajudas mútuas em cursos e hospedagem,

*  Noviciado em comum,

*  Encontros inter-carmelitanos de junioristas,

*  Assessorias várias,

*  Jornadas missionárias,

*  Atividades e contribuições de frei Boaga e irmã Camélia: fizeram muitos cursos em vários lugares, desde os anos 80 e produziram vários escritos de formação sobre a Regra do Carmo, o Profeta Elias e sobre Nossa Senhora.

*  Publicações

*  Eremitério Profeta Elias, Lídice RJ, fundado e orientado por Dom Vital,

*  Preparação para os votos perpétuos

*  Comissão mixta OC-OCD da América Latina

*  ALACAR e os dois congressos do ALACAR,

*  Encontros periódicos dos Superiores e Superioras Carmelitas da AL

*  FOCAL

*  SICAL (não teve futuro)

*  Elaboração de um Plano Global da presença e atividade nossa neste Continente.

*  Elaboração de um Plano Global para o Carmelo do Brasil com os seguintes itens e programas:

01  Carisma e Espiritualidade

02  Vida em fraternidade: formação e Família Carmelitana

03  Missão profética: serviço ao povo de Deus

Projeto inter-carmelitano de Caririaçu

Última reunião dos Superiores e Superioras do Brasil

Todas estas iniciativas em termos de Família fazem parte do rumo do Espírito. É um sinal dos tempos, um apelo à nossa consciência. Um desafio.

* Assembleia Formandos Carmelitas em Itú, 3 a 5 de julho de 2010.

 

Elias: Experiência de Deus que reconstroi a pessoa e faz redescobrir a missão

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Publicado em 21 julho 2025
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  • Ordem do Carmo,
  • Profeta Elias,
  • Levanta Elias,
  • ESPIRITUALIDADE CARMELITANA,
  • Ordem dos Irmãos da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo,
  • Santo Elias,
  • TRÍDUO DE SANTO ELIAS,
  • Elias no deserto,
  • Elias Tesbita,

Frei Carlos Mesters, O. Carm

  1. O Contexto

Elias parecia forte e invencível no confronto com os profetas de Baal (1Rs 18,20-40). Mas diante da ameaça de Jezabel, ele aparece como é na realidade: fraco e vulnerável, "igual a nós" (Tg 5,17). Com medo de ser morto, foge do país, vai o deserto (1Rs 19,1-3). Como no êxodo e no Karit, Elias é alimentado por Deus, mas ele não percebe a mão de Deus e só quer comer, beber, dormir e ficar longe de tudo (1Rs 19,5). Deus não desiste. O anjo volta uma segunda vez (1Rs 19,7). Finalmente, Elias desperta e, alimentado por Deus, reencontra sua força. Caminha quarenta dias e quarenta noites até a Montanha de Deus (1Rs 19,8).

Elias busca reen­contrar Deus no mesmo deserto onde, séculos antes, tinha nascido o povo no encontro com Deus. Mas a sua busca parece não estar bem orientada. Chegando no Monte Horeb e interrogado por Deus, ele afirma por duas vezes ter muito zelo, mas, na realidade, está fugindo com medo de morrer (1Rs 19,10.14). Ele parece não enxergar bem as coisas, pois diz que ficou sozinho, enquanto havia sete mil que não tinham dobrado os joelhos diante de Baal (1Rs 19,18). Deus o manda sair da gruta e ficar na entrada, pois "Deus vai passar" (1Rs 19,11). Elias sai da gruta, mas a gruta não sai dele. Ele continua com a mesma visão limitada, achando que é ele quem defende a Deus! (1Rs 19,14)

  1. A experiência de Deus: A desintegração de um mundo

Deus vai passar! A nova experiência de Deus desintegra o mundo de Elias. Primeiro, um furacão! Depois, um terremoto! Depois, o fogo! No passado, ao concluir a Aliança com o povo naquela mesma Montanha Horeb ou Sinai, Deus tinha se manifestado no furacão, no tremor da montanha e nos raios de fogo (Ex 19,16). Eram os sinais tradicionais da presença atuante de Deus no meio do povo. Eram estes os critérios que orientavam a Elias na sua busca de Deus. Ele mesmo tinha experimentado a presença de Deus no fogo quando enfrentou os profetas de Baal.

Elias estava fazendo uma coisa certa. Ele buscava Deus voltando às origens do povo. Ele voltou à experiência de Deus no Êxodo. Mas os critérios da sua busca estavam desatualizados. Ele vivia no passado. Encerrou Deus dentro dos critérios! Queria obrigar Deus a ser como ele, Elias, o imaginava e desejava. Por isso acontece o inesperado, a surpresa total: Deus nao estava mais no furacão, nem no terremoto, nem mesmo no fogo que tinha sido sinal da presença de Deus, pouco antes, no Monte Carmelo!

É a desintegração do mundo de Elias. A crise mais violenta e mais dolorosa que se possa imaginar! Cai tudo! Pois se Deus não está aqui nestes sinais de sempre, então Ele não está em canto nenhum! É o silêncio de todas as vozes! Por isso mesmo, abre-se para Elias um novo horizonte

  1. A experiência de Deus: A reconstrução de um novo mundo

Este silêncio total, a língua hebraica expressa-o dizendo: “voz de calmaria suave”, (qôl demamáh daqqáh). As traduções costumam dizer: “Murmúrio de uma brisa suave” A palavra hebraica, demamáh, usada para indicar a calmaria, vem da raiz DMH que significa parar, ficar imóvel, emudecer. A brisa suave indica algo, uma experiência, que, de repente, faz emudecer, faz a pessoa ficar calada, cria nela um vazio e, assim, a dispõe para escutar. “Vacare Deo”! Esvazia a pessoa, para que Deus possa entrar e ocupar o lugar. Ou melhor, Deus entrando provoca o vazio e o silêncio. Silêncio sonoro, solidão povoada!

Elias cobriu o rosto com o manto (1Rs 19,13). Sinal de que ele tinha experimentado a presença de Deus exatamente naquilo que parecia ser a ausência total de Deus! A escuridão se iluminou por dentro e a noite ficou mais clara que o dia. Não é ele, Elias, que defende a Deus, mas é Deus que defende a Elias. É a libertação de Elias. Reencon­trando-se com Deus, ele se reencontra consigo mesmo. A experiência de Deus reconstroi a pessoa e lhe revela a sua missão (1Rs 19,15-18)!

Refeito pelo encontro com Deus, Elias redescobre sua missão (1Rs 19,15-18) e se preocupa em dar-lhe continuidade, indicando Eliseu como sucessor (Rs 19,19-21). Antes, ele queria morrer. Já não via mais sentido no que fazia. Agora, a nova experiência de Deus mudou tudo. Ele volta para o lugar onde queriam matá-lo. Já não tem mais medo. Em vez de querer morrer, quer que sobreviva a sua missão. Sinal de que novamente crê no que faz e deve fazer.

*ESPIRITUALIDADE CAREMELITANA: A capa branca que usam à imitação de Elias e seu significado.

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Publicado em 08 julho 2025
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  • A Capa dos Carmelitas,
  • Profeta Eliseu,
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  • Uso do hábito

   

Prova-se também com a autoridade da Sagrada Escritura que Elias Tesbita, o primeiro fundador desta religião, usou como veste a capa. Com este hábito cobriu seu rosto no monte Horeb quando Deus passou diante dele. Pôs esta capa sobre Eliseu quando o recebeu por discípulo.

Esta capa ou manto era uma veste redonda que cobria o corpo por cima da outra veste e descia do pescoço até a metade das pernas; era aberta na frente e fechada ao redor; era estreita em cima e amplamente aberta em baixo.

Quando Elias se separou de Eliseu para ir ao paraíso de delícias lhe jogou esta capa.   Com esta capa Elias ensinou que os monges que abraçam esta religião devem levar por cima do hábito a capa branca da maneira que o Senhor lhe mostrou em profecia; vestidos a Sabac (à maneira de Sabac), pai de Elias. Pois antes que lhe nascesse seu filho Elias Sabac viu em sonhos que uns homens vestidos de branco o saudavam.

Com esta visão foi-lhe anunciado como se vestiriam os imitadores que seu filho teria na vida monástica. Vendo Sabac aqueles varões vestidos de branco, conheceu em espírito os religiosos que seu filho havia de fundar. E os viu vestidos de branco porque seriam imitadores de Elias que era o modelo da forma de viver da vida monástica e o imitariam, não só na íntegra brancura da alma, vivendo uma íntima pureza, mas também na brancura do hábito que usavam por cima da veste que cobria seu corpo.

Levar a capa branca significa que os monges que abraçaram esta profissão devem guardar a pureza de seus pensamentos e desejos junto com a pureza do corpo, segundo o mandamento do Apóstolo ao dizer: “Purifiquemo-nos de tudo que mancha a carne e o espírito, aperfeiçoando nossa santificação com o temor de Deus” (Cor 7, 1), “porque Deus não nos chamou para a imundície, mas para a santificação”(Tes 4,7).

Elias que foi o primeiro que introduziu entre os monges o uso desta capa branca quis simbolizar com ela que o monge, vestido com sua capa branca, deve conservar intacta a pureza, não só de sua alma, mas também de seu corpo.

Desta veste disse Jó ao Senhor: “me vestiste de pele e de carne” (Jó 10, 11), guarde-a, pois, o monge sempre limpa pela pureza, como está escrito: “em todo o tempo estejam teus vestidos limpos e brancos” (Ecl 9, 8).

* Livro da Instituição dos Primeiros Monges Fundados no Antigo Testamento e que perseveram no Novo.

Por Juan Nepote Silvano, Bispo XLIV de Jerusalém.

O Profeta Eliseu e a tradição do Carmelo

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Publicado em 08 julho 2025
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  • Elias e Eliseu,
  • Eliseu no Monte Carmelo
  • O duplo espírito de Elias

Por Dom Frei Wilmar Santin, O.Carm.

 

Na Bíblia

O ciclo de Eliseu (2Rs 2-9.13,1-10) está ligado com o de Elias. A vocação de Eliseu está colocada após a teofania do Horeb (1Rs 19,16-21). Segundo a ordem divina, ele é aquele que deve suceder ao Tesbita. Por isso torna-se seu servidor e discípulo (2Rs 2,1-18). Pelo fato de acompanhar e ser testemunha do rapto de Elias, Eliseu herda o duplo espírito do Tesbita (2Rs 2,1-18). O carro e os cavalos que raptaram Elias constituem a escolta invisível de Eliseu (2Rs 6,17). Numerosos milagres e prodígios exaltam “o homem de Deus”, o taumaturgo a serviço dos pobres e que intervém na política. Morto, o seu cadáver ressuscita um morto (2Rs 13,20-21). No livro do Eclesiástico, o seu elogio segue o do seu mestre (Eclo 48,12-14) e recorda o dom do espírito de Elias que recebeu durante o rapto. Entre as suas obras maravilhosas é indicada a ressurreição de um morto após a sua morte. A cura de Naamã, o Sírio, é recordada no Evangelho (Lc 4,27), também depois de recordar Elias.

 

Por duas vezes a Bíblia menciona a estada de Eliseu no Monte Carmelo: para lá ele se retira após o episódio dos meninos devorados pelos ursos (2Rs 2,25) e ali a sunamita vai encontrá-lo para suplicar-lhe que devolva a vida ao seu filho (2Rs 4,25). Uma gruta com dois patamares era considerada como a “casa de Eliseu”, aquela onde ele recebeu a visita da sunamita. Ali foi construída uma laura (cenóbio) bizantina conhecida como Mosteiro de S. Eliseu.

 

Nascimento de Eliseu

O provincial carmelita da Catalunha, Felipe Ribot (+ 1392), recorda o prodígio que acompanhou o nascimento de Eliseu, assim como foi contado por Isidoro de Sevilha e Pedro Comestor: “ao nascimento de Eliseu um dos novilhos de ouro adorados pelos filhos de Israel mugiu atravessando o jardim de Eliseu. Um sacerdote do Senhor o escutou em Jerusalém e, inspirado por Deus, proclamou: ‘nasceu em Israel um profeta que destruirá todos os ídolos esculpidos e fundidos”. Só João de Hornby, carmelita inglês do século XIV, indica que Eliseu era descendente de Arão, como Elias, enquanto que a Vitae Prophetarum e Isidoro mencionam “a tribo de Rubem”.

 

 

Eliseu, figura de Cristo

Como Elias, Eliseu é apresentado pelos Padres da Igreja como figura de Cristo enquanto taumaturgo. Já Orígenes chamava Cristo “o Eliseu espiritual que purifica no mistério batismal os homens cobertos pela sujeira da lepra” (Hom. sobre Lucas 33,5). Eliseu estendendo-se sobre o menino anuncia a Encarnação de Cristo que se faz pequeno para salvar-nos. O vaso novo lançado com sal na água (episódio amplamente desenvolvido pelos Padres Latinos), o sal que purifica as águas, o machado recuperado, são figuras de Cristo. Multiplicando os pães de cevada para cem pessoas, iluminando os olhos do seu servo e cegando os de seus inimigos, curando Naamã com o banho no rio Jordão, Eliseu é ainda figura do Messias. A ressurreição de um morto ao contato com os seus ossos prefigura da descida de Cristo aos infernos para dar vida aos mortos. No sermão 128 de Cesário, a viúva libertada da sua indigência, graças ao milagre operado por Eliseu, prefigura a Igreja libertada do pecado à vinda do Salvador; a sunamita estéril, que concebe pela oração de Eliseu, é também figura da Igreja estéril antes da vinda de Cristo. Igualmente João Baconthorp (+ 1348) faz o paralelo entre os milagres de Elias e de Eliseu com os de Jesus (Speculum 2).

 

Eliseu, modelo do monge

Numerosos Padres da Igreja atestam a virgindade de Eliseu seguindo a de Elias. Para São Jerônimo “na Lei antiga, a fecundidade era objeto de bênção. Mas pouco a pouco entretanto, na medida em que a messe se torna mais abundante, foi enviado um ceifador: Elias que foi virgem. Eliseu também o foi, como do mesmo modo os filhos dos profetas” (Ep. 22). Os carmelitas medievais reproduziram estas linhas insistindo sobre o fato que Elias e Eliseu foram os primeiros a consagrarem-se a Deus na virgindade. Pe. Daniel da Virgem (+ 1678) explica que o celibato honra e imita por antecipação a Virgem Maria: “Eliseu conheceu antecipadamente e imitou a pureza da Virgem Mãe de Deus” (Vida de Santo Eliseu, pref.).

A oração tem um papel primordial na vida de Eliseu: é a fonte dos milagres que o Senhor faz através dele. No texto bíblico, isto é expresso explicitamente através da ressurreição do filho da sunamita, por isto o Senhor abre os olhos do seu servo para cegar os arameus. Os Padres da Igreja acentuam ainda mais o papel da oração: ele obtém um filho para a sunamita, faz submergir o machado caído na água do rio Jordão. Assim através de Eliseu os carmelitas fazem jorrar o seu apostolado pelo colóquio com Deus.

A renúncia inicial de Eliseu, que sacrifica os bois e o arado antes de seguir Elias, é um exemplo de exortação para se afastar das preocupações mundanas (Jerônimo, Ep. 71,3). A recusa dos presentes de Naamã fornece aos Padres um belo exemplo de afastamento dos bens. Para Cassiano, Eliseu é um dos fundadores do monaquismo e, de modo especial, um mestre da pobreza (Inst. 7, 14,2).

Amona (século IV), discípulo de Antonio o Grande, canta todos aqueles que obedeceram aos seus pais, cumprindo a sua vontade com a obediência perfeita em tudo. Eliseu é um dele (Ep. 18). Isaías de Scete (+ 491) exorta à obediência com o exemplo de Eliseu (Asceticon 7). A homilia bizantina mais freqüentemente indicada para a festa de Santo Elias é um comentário sobre o Profeta Elias, o Tesbita, atribuída a São João Damasceno, sem dúvida provém do ambiente monástico. A menção de Eliseu põe em relevo a sua ligação total a Elias: “Tendo deixado tudo, casa, campos, bois, ele o segue, servindo-lhe em tudo e totalmente ligado à sua pessoa. Elias, que viveu dali em diante com Eliseu a quem havia também consagrado profeta segundo um oráculo divino, estava dia após dias reunido com ele sob o mesmo teto, compartilhando o mesmo estilo de vida, absolutamente inseparáveis”.

Atanásio de Alexandria, na vida de Antão, mostra que Eliseu via Giezi distante e as forças que o protegiam porque o seu coração era puro, escopo de toda ascensão monástica. João Baconthorp considera em Eliseu o carmelita aplicado à contemplação que “vê” Deus, destinado a trazer no seu coração a chama ardente e irradiante e a palavra de vida, como Maria, e a imitação de Elias e de Eliseu que viveram a vida contemplativa no Carmelo (Laus 2,2). Pe. Daniel da Virgem na suaVida do Santo Profeta Eliseu reassume os papéis respectivos de Elias e de Eliseu: “Inaugurando a vida religiosa, monástica e eremita, Elias a plantou, Eliseu depois a irriga e grandemente a divulga”.

 

Eliseu, discípulo de Elias

Nas Antiguidades Judaicas de Flávio Josefo e em numerosos escritos patrísticos seja do Oriente como do Ocidente, Eliseu está constantemente presente como discípulo de Elias, seu filho espiritual, seu herdeiro. Jacques de Saroug (449-521), autor de sete discursos em métrica que representam longamente a figura de Eliseu e a sua mensagem, utiliza diversos epítetos. Igualmente Máximo de Torino (+ 408/423), de quem duas homilias se referem a Eliseu: “Porque se admirar que os anjos, que levaram o mestre, levam o discípulo (…)? De fato ele mesmo é o filho espiritual de Elias, herdeiro da sua santidade” (Sermão 84). Os Diálogos do Papa Gregório Magno muitas fazem eco às façanhas de Eliseu. Se a “rubrica prima” das Constituições de 1289 se contenta de justapor Elias e Eliseu, João de Cheminot, depois João de Venette especificam que Eliseu é “discípulo” de Elias. Porém as Constituições de 1357 foram assim modificadas: “A partir do Profeta Elias e de Eliseu, seu discípulo”.

 

Eliseu, o discípulo por excelência

Eliseu não é discípulo de Elias somente. Seguindo a tradição hebraica que se encontra nas Vitae prophetarum, na introdução de São Jerônimo em seu Comentário ao livro de Jonas e algum outro escrito patrístico, Jonas seria o filho da viúva de Sarepta, ressuscitado pelo profeta e que se tornou discípulo de Elias: “Jonas, depois da sua morte, foi ressuscitado pelo profeta Elias: o seguiu, sofreu com ele e, por sua obediência ao profeta, mereceu receber do dom da profecia” (Sinassário árabe jacobita de 22 de setembro). João Baconthorp conhecia esta tradição que provém de São Jerônimo. João de Cheminot, seguindo Felipe Ribot, indica como primeiro discípulo o servo que Elias deixou em Bersabéia, quando fugia de Jesabel (1Rs 19, 3). Este servo é aquele que Elias enviou ao cume do Monte Carmelo para observar a chegada da chuva (1Rs 18, 43).

Segundo as Vitae prophetarum, Abdias, o intendente de Acab que escondeu os cem profetas em grupos de cinqüenta, enviado por Acazias, (1Rs 18, 3-4) tornou-se discípulo de Elias. Teodoro Bar-Koni, autor nestoriano do século VIII, especifica que ele recebeu o dom da profecia após ter seguido Elias. Os carmelitas medievais enumeram Abdias entre os grandes discípulos de Elias.

Felipe Ribot é o único carmelita do século XIV a mencionar o profeta Miquéias como discípulo de Elias.

Para Cheminot e Ribot, Eliseu ocupa o primeiro lugar no grupo dos discípulos do Profeta Elias.

 

O duplo espírito de Elias

Eliseu é o sucessor de Elias que recebeu o seu duplo espírito, quando viu seu rapto (2Rs 2, 9-13). De acordo com uma tradição hebraica, Eliseu realizou 16 milagres, enquanto que Elias havia feito 8. A partir do século XII, Ruperto de Deutz fez o mesmo cálculo (A Vitória do Verbo de Deus). Para São Jerônimo, o duplo espírito se manifesta com os milagres maiores. Para Felipe Ribot, o duplo espírito é o dom da profecia que consente prever o futuro e o dom dos milagres: «Eis porque lhe dá a direção do magistério espiritual de todos os religiosos que tinha instituído.Como sinal disto, ele deu a Eliseu o seu hábito como sinal distintivo do seu instituto, deixando-lhe o seu manto, quando foi levado ao céu» (nº 149). A partir do século XVI, outros – como Pedro da Mãe de Deus, carmelita descalço holandês – vêem no duplo espírito o espírito da contemplação e da ação: «Os discípulos do Carmelo (…) estão obrigados por vocação a pedir sempre a Deus o duplo espírito de Elias (…), isto é, o espírito de oração e de ação, o verdadeiro espírito do Carmelo» (As Flores do Carmelo).

Santa Teresa de Ávila evoca juntos Elias e Eliseu numa poesia: «Seguindo o Pai Elias, nós combatemos a nós mesmas, com a sua coragem e o seu zelo, ó Monjas do Carmelo. Após ter renunciado a nosso prazer, busquemos o forte Espírito de Eliseu, ó Monjas do Carmelo» (Caminho para o céu). Notemos que na sua correspondência ou nas Relações, Santa Teresa designa frequentemente com o nome de Eliseu o seu caro filho, Pe. Jerônimo Gracián.

Em Lisieux, Santa Teresa do Menino Jesus, que morava na cela Santo Eliseu do dormitório Santo Elias, muito naturalmente alude ao duplo do espírito: «Recordando-me da oração de Eliseu ao seu pai Elias, quando ele ousou pedir-lhe o dobro do seu espírito, me apresentei diante dos Anjos e dos santos, e lhe disse (…) ouso pedir-lhes que me concedam o dobro do vosso amor» (Ms B 4r).

 

Prior dos filhos dos profetas

O apologista São Justino se refere ao episódio do ferro do machado caído na água que Eliseu fez boiar com um pedaço de madeira (2Rs 6, 1-7). Onde o texto bíblico diz simplesmente que os filhos dos profetas queriam construir um lugar de moradia, Justino precisa que estes estavam cortando a madeira destinada pra construir «a casa para aqueles que queriam repetir e meditar a lei e os preceitos de Deus» (Diálogo com Trifão, 86). Esta paráfrase se tornará no século XIII o coração da Regra dos carmelitas que se consideram os sucessores dos filhos dos profetas para «meditar dia e noite na lei do Senhor».

Gerado à vida pelo Espírito de Elias, Eliseu pode por sua vez gerar filhos, chamados na Bíblia de «filhos dos profetas». Teodoreto de Ciro apresenta Eliseu à testa do «coro» dos profetas que o consideravam como «prior» deles (Quaest4 Re 6, 19).

Felipe Ribot mostra como Eliseu é reconhecido «pai» dos filhos dos profetas: «Vendo Eliseu revestido do hábito de Elias, reconheciam que estava repleto do espírito de Elias e o receberam imediatamente como pai deles e mestre no lugar de Elias» (nº 149). Ele ensina aos filhos dos profetas, dá a eles ordens, organiza a comunidade religiosa instituída por Elias. Igualmente para João Soreth, após a ascensão de Elias, os filhos dos profetas «o veneraram, como superior deles, porque substituía Elias no governo dos eremitas».

 

Os caçoadores de Eliseu

Segundo a Haggadah, os caçoadores de Eliseu não são meninos, mas adultos que se comportam como meninos tolos. O número de pessoas devoradas pelos dois ursos corresponde então aos 42 sacrifícios ofertados por Balac (Nm 23). Os Padres Latinos não se referiram a esta tradição e dão uma interpretação anti-hebraica: Vespasiano e Tito – os dois ursos – aniquilaram Jerusalém 42 anos após a Paixão de Cristo, escarnecido pelos hebreus. Por outro lado o grito «sobe, careca» é um insulto a Elias para transformar em chacota o seu rapto. João Baconthorppensa nos detratores da Ordem: Eliseu ensina o respeito devido à antiguidade da Ordem como para cada forma de velhice (Laus 2, 1).

 

A sepultura de Eliseu

Um tradição hebraica tardia, bem atestada na Patrística (Jerônimo, Egéria, Anônimo de Piacenza, Isidoro de Sevilha, Beda o Venerável), localiza a tumba de Eliseu em Sebaste na Samaria, com as tumbas de Abdias e de João Batista. Os carmelitas da Idade Média (João de Cheminot, Speculum 1; João de Hildesheim,Diálogo) conheciam esta tradição. A sepultura de Eliseu foi violada por Juliano o Apóstata no século IV. Parte dos ossos foi transferida para Alexandria e para Constantinopla, e dali para Ravenna em 718 e colocada na igreja de São Lourenço. No Capítulo Geral de 1369, autorizou-se a Ordem a fazer investimento econômico para obter as relíquias de Eliseu. A igreja foi destruída em 1603 e se ignora a sorte das relíquias, entretanto se mostra na igreja de Santo Apolinário a cabeça de Santo Eliseu.

Culto litúrgico

O primeiro decreto oficial aprovando a festa de Santo Eliseu para o dia 14 de junho, data na qual o profeta é festejado no rito bizantino, se encontra nas Constituições de 1369. Foi promulgada no Capítulo Geral de Florença de 1399. Em 1564 se adicionou uma oitava à celebração da festa. No calendário da Reforma Teresiana, em 1609, a memória de Eliseu recebe a categoria de festa de primeira classe, mas em 1617 foi reduzida à condição de segunda classe, com oitava, e depois abandonada em 1909. As Constituições O. Carm. de 1971 determinavam: “Com oportuna solenidade sejam celebradas as festas dos pais da Ordem Elias e Eliseu, do protetor S. José e dos nossos santos” (nº 72). Mas na reforma litúrgica de 1972, Eliseu foi excluído do calendário dos dois ramos do Carmelo. Por solicitação dos Carmelitas da Antiga Observância, a re-introdução da memória de Santo Eliseu foi aceita pela Sagrada Congregação do Culto Divino e da Disciplina dos Sacramentos em 1992.

 

Conclusão

Elias e Eliseu são considerados o ponto de partida de uma sucessão ininterrupta de monges no Antigo Testamento e depois no Novo Testamento, antes de serem mais simplesmente os inspiradores dos Carmelitas dos quais estes querem ser seus imitadores e ainda mais seus filhos. A devoção ao profeta Eliseu conheceu um eclipse de uns 30 anos após o Concílio Vaticano II: a reforma litúrgica do Próprio do Carmelo não conservou a sua festa, as Constituições O. Carm. (1971) e as dos Carmelitas Descalços (1991) nomeiam o profeta Elias somente quando se referem à tradição bíblica da Ordem. Por sorte, diversos estudos o recolocaram no seu lugar (Carmel 1994/1). As Constituições O. Carm. de 1995 dizem: “O Carmelo celebra, com especial devoção, os seus Santos, colhendo neles a expressão mais viva e genuína do carisma e da espiritualidade da Ordem ao longo dos séculos. Com particular solenidade, sejam celebradas a festividade de Santo Elias Profeta, a memória de S. Eliseu Profeta e as festas dos protectores da Ordem, a saber, S. José, S. Joaquim e Santa Ana” (nº 88).

De fato o Carmelo reconhece como seus inspiradores, não só o Tesbita, mas juntos Elias e Eliseu, porque nesta mesma relação se manifesta o carisma do Carmelo.

*A Caminho de Aparecida: Um Caráter Profético da vida e Espiritualidade Carmelitana

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Publicado em 16 junho 2025
  • Ordem Terceira do Carmo,
  • ESPIRITUALIDADE CARMELITANA,
  • VENERÁVEL ORDEM TERCEIRA DO CARMO,
  • A ESPIRITUALIDADE CARMELITANA
  • Profetismo na Ordem do Carmo,
  • Encontro da Família Carmelitana em Aparecida,
  • Congresso da Família Carmelitana 2025,
  • AS ÉPOCAS DO CORAÇÃO,

(Do Livro; AS ÉPOCAS DO CORAÇÃO, de John Welch, O. Carm. Whitefriars Hall, Washington)

Um escritor sugeriu que a vocação carmelita é estar suspenso entre o céu e a terra, sem encontrar apoio em nenhum dos lugares.  Esta é uma forma dramática de dizer que no fundo  nossa fé, nossa esperança e nossa confiança em Deus tem que ser seu próprio apoio e Deus nos conduz mais além de nossos feitos mundanos e espirituais.   No final de sua vida Teresa de Lisieux achou  que a esperança pelo céu sustentada em toda sua vida se esvaía.  João da Cruz nos lembrou as observações de São Paulo: se já temos aquilo que esperamos, já não é esperança; a esperança está naquilo que não possuímos. A espiritualidade de João da Cruz tem sido descrita como uma contínua interpretação da natureza de Deus .

Será que esta suspeita que temos quanto às intenções e as construções humanas nos converte, a nós carmelitas, em uns eternos estressados?  Ou, ao contrário, nos permite fazer uma avaliação inteligente do coração humano e de sua tendência a criar ídolos? Não será isto realmente um exercício de libertação que vai nos libertando de todas as formas em que nos escravizamos e nos entregamos aos ídolos?  Não é a crítica carmelita um desafio para não nos apegarmos a nada, para que nada seja o centro de nossa vida, além do mistério que a envolve.  E nessa pureza de coração, somente conseguida pela ação do Espírito de Deus, somos capazes de amar aos outros e viver neste mundo sabiamente.  O desafio carmelita é cooperar com o amor de Deus, algumas vezes obscuro, que nos  vivifica e nos cura .

Esta contínua escuta para aproximar-nos de Deus, por meio de todas as palavras e estruturas que conseguimos, é a tarefa profética do Carmelo.  Que Deus seguimos? O deus de nossas afeições? O deus das ideologias ou das teologias ilimitadas? Os deuses opressores dos sistemas econômicos e políticos? Os deuses de todos os “ismos” de nosso tempo? Ou é nosso Deus o Deus que transforma, cura , liberta  e vivifica?

O arcebispo Oscar Romero foi um clérigo tradicional , cuidadoso e estudioso.  Era um bom homem , reservado, piedoso, orante.   Mas sua conversão chegou quando viu no outro o rosto de Cristo, um rosto diferente  do Cristo  de sua piedade e de sua oração, um rosto  diferente de sua teologia, um rosto diferente do Cristo familiar à hierarquia de El Salvador. Era o rosto de Cristo no rosto do povo de El Salvador; era o rosto de Cristo verdadeiramente encarnado  na história e nas lutas do povo.  Romero disse:

Aprendemos a ver o rosto de Cristo – o rosto de Cristo que é também  o rosto do ser humano que sofre, o rosto do crucificado, o rosto do pobre, o rosto do santo e o rosto de cada pessoa – e amamos a cada um com o critério pelo qual seremos julgados: “tive fome e me deste de comer”.

Os ídolos de nosso tempo não são somente os amores pessoais e as possessões, mas especialmente  os ídolos do poder, do prestígio, do controle  e o domínio que deixam a maior parte da humanidade fora do banquete da vida.   Romero comentou:

A pessoa pobre é aquela que se converteu a Deus e põe toda a sua fé NELE, e a pessoa rica é aquela que não se converteu a Deus  e põe sua confiança nos ídolos: dinheiro, poder, bens materiais... Nosso trabalho deve procurar converter-nos a nós mesmos e a todo povo para este autêntico significado da pobreza.       

Muitas de nossas províncias tem participado na confrontação com os ídolos de nosso tempo através dos movimentos de libertação em muitas  regiões do mundo, que incluem Filipinas, América Latina, América do Norte, África, Indonésia e o Leste da Europa. Hoje em dia as diferenças entre o norte e  o sul apontam para os ídolos dos “ismos” que mantém a maioria do mundo em uma condição de marginalização.

 

Resumo

A fome do nosso coração nos lança ao mundo em busca de alimento. De muitas formas perguntamos ao mundo. Viste aquele que fez isto em meu coração e o deixou chorando? Nosso coração vai se dispersando sobre a terra enquanto vamos perguntando a cada pessoa, a cada objeto de posse  e a cada atividade que nos diga mais a respeito do Mistério que está no centro de nossas vidas.

A alma apaixonada pelos mensageiros de Deus, confunde-os com Deus mesmo. Tomamos as coisas boas de Deus e lhes pedimos que sejam deuses. O coração, cansado de sua peregrinação, tenta assentar-se  e construir um lar para si. Coloca seus desejos mais profundos nas relações, posses, planos, atividades, metas e pede a tudo isto que sacie sua fome profunda.  Pedimos muito e como nada pode corresponder às nossas expectativas, começam a desmoronar-se.  Mais e mais os santos carmelitas nos lembram que só Deus é o alimento que pode saciar a fome do nosso coração.

 

Perguntas para refletir:

1-Quais são os ídolos, os não-negociáveis, que se transformam em parte da minha vida?  Quais são essas coisas  sem as quais não posso passar?  Eu as estou prejudicando com meu apego?

2-Onde e como tenho me tornado  uma pessoa sem liberdade na vida?  Sinto-me livre para seguir meus desejos mais profundos?   Sou livre para escutar as necessidades da minha comunidade?

3-Tenho estado inconscientemente construindo meu próprio reino no lugar de estar preocupado pelo reino de Deus? Sem perceber, tenho tirado Deus do centro da minha vida e tenho colocado nesse centro meus objetivos, meu trabalho profético, minha compreensão das exigências do reino? Ao longo dos anos tenho me esquecido de perguntar:  o que é que Deus quer?

3-As paixões que me trouxeram ao Carmelo têm sido domesticadas ou vão se desvanecendo?  Tenho me transformado numa pessoa compulsivamente ativa, talvez sentindo-me mais como um funcionário de uma instituição do que como um discípulo do Senhor?

*Congresso da Família Carmelitana do Brasil. De 2-3 de agosto/ 2025 em Aparecida, São Paulo.

Ordem Terceira do Carmo de São João Del Rei/MG: Nota de Falecimento.

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Publicado em 06 maio 2025
  • NOTA DE FALECIMENTO,
  • Ordem Terceira do Carmo de São João del Rei
  • Morre a Priora da OTC de São João Del Rei,
  • Priora Valéria Maria Pinto,
  • Valéria Maria Pinto

 

Segunda-feira, 5 de maio-2025. Com pesar, comunicamos o falecimento da priora, Sra. Valéria Maria Pinto, da Venerável Ordem Terceira do Carmo de São João Del Rei/MG. O sepultamento será amanhã com missa de Corpo Presente, às 9h, na Igreja do Carmo.

P. Saverio Cannistrà, OCD é o novo Arcebispo Metropolitano de Pisa

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Publicado em 07 fevereiro 2025
  • Bispo Carmelita,
  • Frei Savério Cannistrá,
  • Pe. Saverio Cannistrà,
  • NOVO BISPO CARMELITA
  • Padre Saverio Cannistrà,
  • novo Arcebispo Metropolitano de Pisa
  • ex-Superior Geral dos Carmelitas Descalços
  • Monsenhor Saverio Cannistrà, OCD,
  • Padre Saverio Cannistrà OCD

 

O Santo Padre aceitou a renúncia ao cuidado pastoral da Arquidiocese Metropolitana de Pisa (Itália), apresentada por Sua Excelência Monsenhor Giovanni Paolo Benotto.

O Santo Padre nomeou Arcebispo Metropolitano de Pisa (Itália) o Rev. Padre Saverio Cannistrà, OCD, ex-Superior Geral dos Carmelitas Descalços e até agora Vigário Paroquial de San Pancrazio, em Roma.

 

Curriculum vitae

Sua Excelência Monsenhor Saverio Cannistrà, OCD, nasceu em Catanzaro em 3 de outubro de 1958. Depois de se formar em Filologia Românica na  Scuola Normale Superiore  em Pisa, ele teve experiência de trabalho como editor em uma editora. Em 17 de setembro de 1985, ingressou no noviciado da Província Italiana da Toscana da Ordem dos Carmelitas Descalços e emitiu sua profissão perpétua em 14 de setembro de 1990. Em 24 de outubro de 1992, foi ordenado sacerdote.

Ocupou os seguintes cargos e realizou estudos posteriores: Doutorado em Teologia Dogmática na  Pontifícia Universidade Gregoriana  de Roma (1998); Professor de Teologia Trinitária na Pontifícia Faculdade Teológica e Instituto de Espiritualidade “ Teresianum ” em Roma (1995-2003); Professor de Cristologia e Antropologia Teológica na  Faculdade Teológica da Itália Central  em Florença (2003-2009). Em 2007 foi eleito membro do Conselho Presidencial da Associação Teológica Italiana.

Na Província Toscana dos Carmelitas Descalços foi: Conselheiro Provincial (1996-2002); Mestre de Postulantes e Estudantes (1999-2008); Provincial (desde 2008). Foi também Reitor Geral da Ordem dos Carmelitas Descalços (2009-2021). Ele é membro do Conselho Presbiteral da Arquidiocese Metropolitana de Florença e atualmente é Vigário Paroquial na Igreja de San Pancrazio, em Roma.

 

Carta à Igreja de Pisa por SE Padre Saverio Cannistrà OCD

Excelência, irmãos no sacerdócio, caríssimos irmãos e irmãs,

O Papa Francisco me pediu para me colocar a serviço do povo de Deus em Pisa. Aceitei com espírito de fé e obediência, ciente das minhas muitas limitações. Tentarei realizar esta bela e grandiosa tarefa da única maneira que conheço: rezando, meditando e ouvindo a Palavra de Deus, nas muitas formas e modos em que ela nos chega diariamente. Desejo de todo o coração anunciar, celebrar e testemunhar o que eu mesmo recebi. Sei que nesta tarefa, que está além das capacidades de um homem só, não estarei sozinho. Lembro-me de uma frase de Santa Teresa de Jesus, minha mãe no Carmelo, que dizia: "A obediência dá força". Creio que muitos de nós já experimentamos isso: a graça não abandona aqueles que se colocam a serviço do plano de Deus. Pelo contrário, ela transborda, preenche e nos capacita a realizar o que nem a inteligência pode entender nem a capacidade humana de realizar.

Não sei, no entanto, o que exatamente me espera. Não tenho planos nem agendas. Precisarei de tempo para ver, ouvir e aprender. Por enquanto só tenho meu pequeno "aqui estou" para apresentar ao Senhor e a vocês, irmãos e irmãs. Mas estou feliz por ter sido enviado para Pisa, uma cidade que amo, onde estudei, descobri minha vocação religiosa e fui ordenado padre. Com alegria me preparo para caminhar com vocês pelos caminhos desta história e desta terra que o Senhor agora me deu como minha. E desde já agradeço a vossa benevolente e indulgente acolhida: agradeço a Monsenhor. João Paulo, os sacerdotes, os religiosos e as religiosas, os leigos e leigas e todos os homens e mulheres de boa vontade desta diocese. Peço que rezem por mim. Confiai-me em particular à intercessão de São Ranieri, nosso padroeiro.

Dirijo-vos estas poucas palavras que o meu coração me dita neste momento, do lugar onde vivi, trabalhei e, sobretudo, amei durante os últimos dois anos e meio, isto é, a igreja e a comunidade de São Pancrácio, em Roma. Agradeço ao Senhor por este tempo que ele me deu. Encontrei muitos irmãos e irmãs que me testemunharam sua vida de fé, seu amor a Jesus e à Igreja, seu compromisso concreto com os mais pobres e necessitados.

Agradeço a Deus pela comunidade carmelita na qual tive o privilégio de passar estes anos, em particular pelo dom inestimável dos meus irmãos mais novos, que me foram confiados como formadores. Deixar tudo isso, deixar esses amigos, irmãos e filhos não é um sacrifício pequeno, mesmo sabendo que na realidade não os estou deixando, mas entregando-os àqueles que os confiaram a mim apenas por um tempo. Parece-me que agora entendo que o Senhor queria me fazer crescer na experiência da paternidade, para que eu pudesse exercê-la mais amplamente em relação a todo o povo de Deus.

Falo com vocês de um lugar sagrado e rico em história, onde um jovem chamado Pancrácio deu sua vida por Cristo há 17 séculos. Deste lugar também um grande pastor e doutor da Igreja, São Gregório Magno, pregou sobre a caridade fraterna, que é dar a vida pelos amigos. Coloco essas memórias da história pessoal e coletiva na bagagem que carrego comigo. Espero que não esteja muito bagunçado porque preciso de bastante espaço vazio para acomodar a riqueza que me espera em minha nova terra natal. Mas a bagagem que você carrega no coração não pesa nem ocupa espaço. O tamanho do coração é proporcional à caridade que nele habita. E é isso que peço ao Senhor para mim e para você. Unamo-nos nesta oração: Abre os nossos corações, Senhor, renova-os e fortalece-os com o sopro do teu Espírito. Amém Fonte: https://diocesidipisa.it

Olhar Carmelitano nesta quinta-feira, 6 de fevereiro-2025.

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Publicado em 06 fevereiro 2025
  • Bispos carmelitas,
  • OLHAR CARMELITANO,
  • Pe. Saverio Cannistrà,
  • Arquidiocese Metropolitana de Pisa
  • Superior Geral dos Carmelitas Scalzi
  • Vigário Paroquial de San Pancrazio,
  • Padre Saverio Cannistrà,
  • Frei Saverio Cannistrà é nomeado bispo,

 

Renúncia e nomeação, 06.02.202

Renúncia e nomeação do Arcebispo Metropolitano de Pisa (Itália)

O Santo Padre aceitou a renúncia ao governo pastoral da Arquidiocese Metropolitana de Pisa (Itália), apresentada por Sua Excelência Monsenhor Giovanni Paolo Benotto.

O Santo Padre nomeou como Arcebispo de Pisa (Itália) o Rev. Pe. Saverio Cannistrà, OCD, como Superior Geral dos Carmelitas Scalzi e último Vigário Paroquial de San Pancrazio, em Roma. Fonte: https://infovaticana.com

 

Tudo por amor: o sacrifício heroico das carmelitas descalças de Compiègne

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Publicado em 20 dezembro 2024
  • Santa Teresa de Ávila
  • carmelitas descalças de Compiègne,
  • Carmelo de Compiègne

Com procedimento de canonização equipolente, o Papa Francisco decidiu estender à Igreja inteira o culto das 16 carmelitas descalças de Compiègne guilhotinadas durante a Revolução Francesa.

 

Bernadette Mary Reis

Percorrendo os anais da história, vemos que há momentos em que as religiosas desempenharam um papel importante no curso dos eventos humanos. É o caso, por exemplo, das mártires carmelitas descalças de Compiègne. Muitos já ouviram falar delas, mas talvez não saibam que o seu sacrifício ajudou a pôr fim ao Regime do terror.

Tudo começa com um sonho. Em 1693, uma mulher deficiente de 29 anos que vivia no Carmelo de Compiègne sonhou com Jesus em companhia da sua Mãe, de Santa Teresa de Ávila e de duas carmelitas que tinham vivido no mesmo mosteiro. Depois de receber instruções sobre a própria vocação, teve uma visão na qual vê várias religiosas carmelitas escolhidas para “seguir o Cordeiro”. Um salto no tempo, para 1786: madre Teresa de Santo Agostinho, nova priora eleita do mesmo mosteiro, encontra um relato da visão que a irmã Elisabeth Baptiste teve antes de emitir os seus votos como irmã carmelita. Madre Teresa tem um pressentimento de que este sonho seja uma profecia relativa à sua comunidade.

Alguns anos mais tarde, a revolução eclodiu na França, o que desencadeou então o Regime do terror. Em fevereiro de 1790, ratificou-se a suspensão provisória dos votos religiosos. A 4 de agosto, os bens da comunidade carmelita foram inventariados; no dia seguinte, todas as religiosas foram interrogadas e foi-lhes oferecida a oportunidade de renunciarem aos votos. Para grande pesar dos líderes revolucionários, todas as religiosas expressaram a sua firme determinação em permanecerem fiéis aos próprios votos até à morte. Páscoa de 1792: a 6 de abril, tornou-se ilegal usar o hábito religioso; dois dias depois, o sonho da irmã Elisabeth Baptiste foi contado às irmãs da comunidade. Os acontecimentos precipitam: em agosto, os mosteiros femininos foram fechados e despejados e os bens das religiosas foram apreendidos.

 

Ato de salvação das irmãs pela salvação da França

As 20 irmãs carmelitas de Compiègne deixaram o seu mosteiro a 14 de setembro, festa da Exaltação da Cruz. Com a ajuda de amigos, encontraram refúgio em quatro localidades diferentes e conseguiram comprar um hábito civil para cada uma: não tinham dinheiro suficiente para comprar sequer uma troca de roupa e o seu pedido de apoio ao governo não foi atendido. Pouco tempo depois, madre Teresa de Santo Agostinho consultou as quatro religiosas do coro, as mais idosas, sobre a proposta a fazer a toda a comunidade para oferecerem a própria vida pela salvação da França: a sua proposta enraizava-se no próprio desejo de Santa Teresa de Ávila de reformar o Carmelo. Compreensivelmente, ela encontrou resistência: quem se submeteria voluntariamente à decapitação por meio da guilhotina recém-inventada?

Estranhamente, contudo, em poucas horas as duas religiosas mais idosas pediram perdão à priora pela falta de coragem: isto preparou o caminho para a madre Teresa, que propôs um ato de doação da vida aos outros membros da comunidade. A partir de 27 de novembro, todas as religiosas recitavam um “ato de doação de si” pela salvação da França, escrito pela priora. Mais tarde, foi acrescentada uma intenção para que cada vez menos pessoas fossem executadas com a guilhotina, e pela libertação das pessoas presas.

A 21 de junho de 1794, os soldados revistaram os aposentos das religiosas. No dia seguinte foram presas com base em provas que surgiram durante a busca, usadas para provar que continuavam a viver uma vida consagrada e que simpatizavam com a monarquia. A comunidade carmelita, que naquele momento contava 16 religiosas, foi para a prisão no ex-convento da Visitação com 17 irmãs beneditinas inglesas. A 12 de julho, o presidente da câmara municipal de Compiègne entrou no convento com os soldados, surpreendido ao encontrar as mulheres vestidas com os seus hábitos religiosos: o único hábito civil que possuíam estava completamente encharcado. Neste ponto, a partida para Paris, onde as espera o julgamento, é inevitável. A 17 de julho, as 16 irmãs carmelitas, com outros 24 prisioneiros, foram consideradas culpadas de serem “inimigas do povo” — entre outras acusações — e condenadas à morte. As religiosas prepararam-se para a realização do sonho profético: em breve seguiriam o Cordeiro.

 

A beatificação das mártires

Naquela mesma noite, ecoou em Paris a voz das religiosas que cantaram o Ofício divino enquanto atravessavam as ruas da cidade; o carrasco permitiu-lhes terminar as orações pelos moribundos, incluindo o canto do Te Deum, seguido pelo Veni Creator e a renovação dos seus votos. Ao subir para o patíbulo, receberam a última bênção da priora, beijaram a imagem de Nossa Senhora e seguiram o Cordeiro sacrificial.

Robespierre foi detido dez dias mais tarde e executado no dia seguinte. O Regime do terror terminou, deixando pouco espaço para dúvidas de que o Senhor tinha aceite o sacrifício da vida das religiosas. As mártires de Compiègne foram beatificadas por Pio X em 1909. 

Durante a audiência concedida, na quarta-feira (18/12), ao prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, cardeal Marcello Semeraro, o Papa Francisco aprovou os votos favoráveis da Sessão Ordinária dos Cardeais e Bispos, Membros do Dicastério, e decidiu estender a toda a Igreja o culto à Beata Teresa de Santo Agostinho, no século, Maria Madalena Claudia Lidoine, e as 15 companheiras da Ordem das Carmelitas Descalças de Compiègne, mártires, mortas por ódio à fé durante a Revolução Francesa, em 17 de julho de 1794, em Paris, França, inscrevendo-as no catálogo dos Santos, Canonização Equipolente, uma prática iniciada por Bento XIV com a qual o Papa estende o culto de um servo de Deus ainda não canonizado a toda a Igreja por meio de um decreto. A Beata Teresa de Santo Agostinho e suas companheiras são agora santas. Fonte: https://www.vaticannews.va

São santas as religiosas carmelitas descalças de Compiègne, guilhotinadas em 1794, em Paris.

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Publicado em 19 dezembro 2024
  • Revolução Francesa
  • carmelitas descalças de Compiègne,
  • arcebispo Eduardo Profittlich,
  • Beato Elia Comini,
  • Beato Eduardo Profittlich,

Com procedimento de canonização equipolente, o Papa Francisco decidiu estender à Igreja inteira o culto das 16 carmelitas descalças de Compiègne guilhotinadas durante a Revolução Francesa. Serão beatos dois mártires: um do comunismo, o arcebispo Eduardo Profittlich, e um do nazismo, o sacerdote Elia Comini. Tornam-se veneráveis os servos de Deus Áron Márton, bispo, Giuseppe Maria Leone, sacerdote, e Pietro Goursat, leigo francês.

 

Vatican News

Durante a audiência concedida, nesta quarta-feira (18/12), ao prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, cardeal Marcello Semeraro, o Papa Francisco aprovou os votos favoráveis da Sessão Ordinária dos Cardeais e Bispos, Membros do Dicastério, e decidiu estender a toda a Igreja o culto à Beata Teresa de Santo Agostinho, no século, Maria Madalena Claudia Lidoine, e 15 companheiras da Ordem das Carmelitas Descalças de Compiègne, mártires, mortas por ódio à fé durante a Revolução Francesa, em 17 de julho de 1794, em Paris, França, inscrevendo-as no catálogo dos Santos, Canonização Equipolente, uma prática iniciada por Bento XIV com a qual o Papa estende o culto de um servo de Deus ainda não canonizado a toda a Igreja por meio de um decreto. A Beata Teresa de Santo Agostinho e suas companheiras são agora santas.

A Comunidade de Compiègne foi a quinquagésima terceira fundação da ordem na França, que ocorreu após a chegada ao país da Beata Ana de Jesus, discípula de Santa Teresa de Ávila. Com a eclosão da Revolução, membros do Comitê de Saúde Pública local foram ao convento para induzir as religiosas a abandonar a vida religiosa. Elas se recusaram e, quando - entre junho e setembro de 1792 - os episódios de violência aumentaram, seguindo a inspiração da priora, irmã Teresa de Santo Agostinho, todas se ofereceram ao Senhor como um sacrifício para que a Igreja e o Estado pudessem encontrar a paz.

Expulsas do mosteiro, separadas e vestidas com roupas civis, elas continuaram sua vida de oração e penitência, embora divididas em quatro grupos em várias partes de Compiègne, mas unidas por correspondência, sob a direção da superiora. Descobertas e denunciadas, em 24 de junho de 1794, foram transferidas para Paris e encarceradas na prisão Conciergerie, onde também estavam detidos muitos sacerdotes, religiosos e religiosas condenados à morte.

As religiosas carmelitas também foram exemplares em sua prisão. Em 17 de julho, no dia seguinte à festa de Nossa Senhora do Carmo, que elas tinham celebrado na prisão entoando hinos de júbilo, as dezesseis foram condenadas à morte pelo tribunal revolucionário por, entre outros motivos, “fanatismo” relacionado à sua fervorosa devoção aos Sagrados Corações de Jesus e Maria.

Distribuídas em duas carroças, enquanto eram conduzidas para a execução, cantaram os Salmos e, quando chegaram ao pé da guilhotina, entoavam o Veni creator, renovando seus votos uma após a outra. Seus corpos foram enterrados numa vala comum, junto com os de outros condenados, no local que se tornou o atual cemitério de Picpus, onde uma placa recorda seu martírio. Elas foram beatificadas na Basílica de São Pedro por São Pio X em 27 de maio de 1906.

 

Beato Eduardo Profittlich, mártir durante o comunismo

Durante a mesma audiência, Francisco também autorizou o Dicastério a promulgar o decreto relativo ao martírio do servo de Deus Eduardo Profittlich, da Companhia de Jesus, arcebispo titular de Adrianópolis e administrador apostólico da Estônia. Nascido em 11 de setembro de 1890 em Birresdorf, Alemanha, faleceu em 22 de fevereiro de 1942 ex aerumnis ordinis (devido ao sofrimento sofrido na prisão) em Kirov (Rússia).

Criado no seio de uma numerosa família camponesa, depois de concluir os estudos clássicos, em 1912, ingressou no seminário de Trier, mas no ano seguinte, atraído pela espiritualidade dos jesuítas, foi aceito no noviciado em Heerenberg, na Holanda. Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, ele foi chamado de volta ao exército alemão e designado para o serviço de saúde. Depois da guerra, retomou os estudos de Filosofia e Teologia, tornando-se sacerdote em 27 de agosto de 1922. Enviado para a Polônia, obteve o doutorado em filosofia e o doutorado em Teologia na Universidade Jaguelônica de Cracóvia; mais tarde foi enviado para a Estônia como parte da Missão Oriental da Companhia de Jesus e a paróquia dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo em Tallinn foi confiada aos seus cuidados pastorais. Em 11 de maio de 1931, Pio XI nomeou-o administrador apostólico da Estônia, onde Profittlich apoiou significativamente o desenvolvimento da comunidade cristã local com seu trabalho. Em novembro de 1936, foi nomeado arcebispo titular de Adrianópolis por Pio XI e recebeu a consagração em dezembro seguinte. Após a invasão soviética da Estônia, em 17 de junho de 1940, quase todos os sacerdotes foram presos: Profittlich poderia ter regressado a casa, mas optou por permanecer na Estônia, com os seus fiéis. Em 27 de junho de 1941 foi preso e deportado para Kirpov, na Rússia, onde foi submetido a várias torturas, às quais respondeu declarando que a sua única missão tinha sido destinada à educação religiosa dos fiéis que lhe foram confiados. Condenado à morte, faleceu antes da execução da pena devido ao sofrimento da prisão.

 

Beato Elia Comini, mártir do nazismo

Outro decreto relativo a um mártir é o do servo de Deus Elia Comini, sacerdote salesiano nascido em Calvenzano di Vergato (Itália) em 7 de maio de 1910 e assassinado in odium fidei, em 1º de outubro de 1944, em Pioppe di Salvaro (Itália).

Nascido numa família modesta, Comini frequentou a escola dos herdeiros de Dom Bosco em Finale Emilia, onde se amadureceu a sua vocação. Em 1926, depois do noviciado, fez a primeira profissão e foi enviado para completar os estudos em Turim Valsalice e na Universidade Estadual de Milão. Em 16 de março de 1935 foi ordenado sacerdote e dedicou-se à educação dos jovens nas escolas salesianas de Chiari e Treviglio, onde também se tornou diretor.

Todos os anos passava um período de férias com a sua mãe idosa e ajudava o pároco de Salvaro, onde vivia a sua família de origem, no serviço pastoral da aldeia. Mesmo no verão de 1944, o servo de Deus foi para lá, embora aquela área estivesse no centro dos combates envolvendo soldados alemães, aliados e grupos de guerrilheiros.

Naquele contexto de guerra, pe. Elia, juntamente com o pároco, organizou o acolhimento de várias famílias deslocadas que encontraram refúgio na paróquia de San Michele in Salvaro. Colaborou com eles um jovem sacerdote dehoniano, padre Martino Capelli, com quem pe. Elia estabeleceu um bom entendimento.

Quando os soldados nazistas se espalharam pela zona de Monte Sole, pe. Comini prestou ajuda à população, enterrando os mortos e escondendo cerca de setenta pessoas numa sala adjacente à sacristia. A pedido de um grupo de guerrilheiros, ele celebrou uma missa em memória de alguns de seus caídos em batalha. No dia 29 de setembro de 1944, depois do massacre perpetrado pelos nazistas na cidade vizinha chamada “Creda”, o servo de Deus, junto com o padre Cappelli, correu para levar conforto aos moribundos. Ao chegar, acusado por um informante de ser espião dos guerrilheiros, foi preso e obrigado a transportar munições. Foi levado com o padre Cappelli e mais cem presos, incluindo outros três sacerdotes, para um estábulo em Pioppe di Salvaro, onde testemunhou os numerosos atos de violência perpetrados pelos invasores, sempre pronto a confortar, ajudar e proporcionar o ministério da Confissão.

Fracassadas as tentativas de mediação com que várias partes tentaram salvá-lo, na noite de 1° de outubro de 1944 o servo de Deus foi assassinado junto com o padre Cappelli e um grupo de outras pessoas consideradas “inaptas para o trabalho”, apesar de gozarem de boa forma física. Durante a execução de cerca de quarenta pessoas metralhadas, o corpo do pe. Comini protegeu um dos três sobreviventes do que ficou conhecido como massacre de Pioppe di Salvaro. O sobrevivente, testemunha decisiva destes fatos, contribuiu para dar a conhecer o martírio do servo de Deus, cujo corpo, como o das outras vítimas, se tinha perdido nas águas do Rio Reno.

 

Os veneráveis ​​Áron Márton, Giuseppe Maria Leone e Pietro Goursat

Quanto aos servos de Deus que se tornam veneráveis, são Áron Márton, bispo de Alba Julia, nascido em 28 de agosto de 1896, em Csíkszentdomokos (atual Romênia) e falecido em 29 de setembro de 1980 em Alba Iulia (Romênia); Giuseppe Maria Leone, sacerdote professo da Congregação do Santíssimo Redentor, nascido em 23 de maio de 1829 em Casaltrinità (atual Trinitapoli, Itália) e falecido em Angri (Itália) em 9 de agosto de 1902; e Pietro Goursat, fiel leigo, nascido em 15 de agosto de 1914 em Paris (França) e ali falecido em 25 de março de 1991.

Áron Márton lutou na Primeira Guerra Mundial antes de se tornar sacerdote, dedicando-se também ao ensino. Como bispo de Alba Julia, dedicou-se a fortalecer os laços entre o clero, dividido pela guerra e pelo ódio racial. Durante os anos da Segunda Guerra Mundial, ele se posicionou abertamente contra as leis raciais nazistas e cuidou de refugiados, exilados e judeus. No pós-guerra, a sua ação pastoral visava salvaguardar a fé contra o ataque dos comunistas romenos que oprimiam a minoria húngara na Transilvânia. Preso em 1949, foi julgado e condenado a duras prisões e trabalhos forçados. Ele também sofreu muito fisicamente e, depois de deixar a liderança de sua diocese, em 2 de abril de 1980, por estar doente com câncer, morreu poucos meses depois.

Giuseppe Maria Leone estudou no seminário apesar da oposição do pai e, após o noviciado com os Redentoristas, fez a profissão religiosa em 1851. Depois de ter estado em Vallo della Lucania e Angri, quando, em 1860, as ordens religiosas foram suprimidas, regressou à sua cidade natal realizando um fecundo apostolado em colaboração com o clero local. Tornou-se pregador e confessor, mantendo-se próximo das famílias afetadas pela epidemia de cólera que se espalhou pela população em 1867. Em 1880, quando foi possível retomar a vida religiosa, regressou na comunidade redentorista de Angri e assumiu diversas funções, dedicando-se também à publicação e reedição de algumas das suas obras de caráter ascético e espiritual. Distinguiu-se como confessor, diretor espiritual e pregador de exercícios espirituais a sacerdotes, seminaristas e religiosas, contribuindo significativamente para a renovação da vida religiosa e também para o crescimento espiritual dos fiéis leigos. De saúde muito debilitada, seu estado piorou no início de 1902 e ele faleceu poucos meses depois.

Pietro Goursat viveu uma infância difícil devido a um pai com problemas mentais que abandonou a família. Leigo consagrado, desenvolveu intensa atividade no meio cultural francês e, ao se reaproximar do pai, desenvolveu um interesse crescente pelos pobres e pelas pessoas com dificuldades físicas e mentais, dedicando-se sobretudo aos jovens ameaçados pelas drogas e pela delinquência, tanto que acolheu alguns deles na casa-barco Péniche. Iniciou alguns grupos de oração que chamou de “Emanuel”, organizando sessões de formação para eles no Santuário do Sagrado Coração de Jesus em Paray-Le-Monial. O bispo local confiou o cuidado deste santuário à Comunidade Emanuel, que o tornou um importante centro de espiritualidade. Depois de sofrer um infarto, em 1985, decidiu retirar-se do governo da Comunidade, passando a última parte de sua vida escondido e em oração, numa atitude de confiante abandono a Deus. Fonte: https://www.vaticannews.va

Venerável Ordem Terceira do Carmo- Sodalício da Lapa- Rio de Janeiro: 114 Anos!

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Publicado em 09 dezembro 2024
  • VENERÁVEL ORDEM TERCEIRA DO CARMO,
  • Solenidade da Imaculada Conceição,
  • Venerável Ordem Terceira do Carmo da Lapa
  • Dom Orani João Tempesta
  • Sodalício da Lapa

 

OLHAR CARMELITANO. 114 Anos! Na Solenidade da Imaculada Conceição, a Venerável Ordem Terceira do Carmo- Sodalício da Lapa- Rio de Janeiro, celebrou os 114 Anos de presença Carmelitana através dos leigos na cidade do Rio. Também nesta mesma data, o jovem Anderson, iniciou a sua caminhada no noviciado. Na oportunidade, foi lida a saudação do Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta O. Cist, aos irmãos e irmãs do Carmo da OTC. Parabéns!

Congresso do Laicato Carmelita: Frei Benny Phang-04

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Publicado em 25 setembro 2024
  • Província Carmelitana Fluminense,
  • Instituto Madona del Carme de Sassone,
  • Congresso Internacional do Laicato Carmelita,

Imagens do Congresso Internacional do Laicato Carmelita que aconteceu em Sassone, Roma-Itália, de 15-19 de setembro de 2024. O Congresso teve a participação de 200 Carmelitas provenientes de 30 países. Do Brasil se fez presente a Província Carmelitana Fluminense, com 16 carmelitas e a Província Carmelitana Pernambucana, com 2. A temática voltou o olhar para a Igreja Sinodal a partir do tema; Carmelitas Leigos: Chamados a iluminar o mundo. Além da participação do Superior Geral da Ordem do Carmo, Frei Miceál O´Neill, O. Carm, tivemos também a participação do Vice- Geral, Frei Benny Phang, O. Carm e a participação de vários leigos do mundo que relataram as suas experiências carmelitanas nas diferentes culturas a partir do tema proposto pelo responsável do Congresso, Frei Luis José Maza Subero, O. Carm, Conselheiro Geral da Ordem do Carmo para as Américas e da sua equipe. No vídeo, a conferência do Vice- Geral, Frei Benny Phang, O. Carm (4ª Parte)

Carmo do Rio de Janeiro, 25 de setembro-2024. Imagens: Frei Petrônio de Miranda, O. Carm (Olhar Jornalístico)  www.instagram.com/freipetronio

Congresso do Laicato Carmelita: Frei Benny Phang-01

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Publicado em 24 setembro 2024
  • Carmelitas,
  • Frei Benny,
  • Order of Carmelites, Order of the Brothers of the Blessed Virgin Mary of Mount Carmel,
  • Order of the Brothers of the Blessed Virgin Mary of Mount Carmel,
  • Friars Carmelite,
  • Congresso Internacional do Laicato Carmelita,
  • Congresso do Laicato Carmelita,

Imagens do Congresso Internacional do Laicato Carmelita que aconteceu em Sassone, Roma-Itália, de 15-19 de setembro de 2024. O Congresso teve a participação de 200 Carmelitas provenientes de 30 países. Do Brasil se fez presente a Província Carmelitana Fluminense, com 16 carmelitas e a Província Carmelitana Pernambucana, com 2. A temática voltou o olhar para a Igreja Sinodal a partir do tema; Carmelitas Leigos: Chamados a iluminar o mundo. Além da participação do Superior Geral da Ordem do Carmo, Frei Miceál O´Neill, O. Carm, tivemos também a participação do Vice- Geral, Frei Benny Phang, O. Carm e a participação de vários leigos do mundo que relataram as suas experiências carmelitanas nas diferentes culturas a partir do tema proposto pelo responsável do Congresso, Frei Luis José Maza Subero, O. Carm, Conselheiro Geral da Ordem do Carmo para as Américas e da sua equipe. No vídeo, a conferência do Vice- Geral, Frei Benny Phang, O. Carm (1ª Parte)

Carmo do Rio de Janeiro, 24 de setembro-2024. Edição do vídeo e imagens: Frei Petrônio de Miranda, O. Carm (Olhar Jornalístico)

Venerável Ordem Terceira do Carmo- Sodalício de São José dos Campos, São Paulo.

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Publicado em 26 agosto 2024
  • Sodalício de São José dos Campos,
  • Casa das irmãs Carmelitas do Divino Coração de Jesus
  • irmãs Carmelitas do Divino Coração de Jesus

No último final de semana- Dias 24 e 25 de agosto- em Jacareí, São Paulo. Tivemos o Retiro na Casa das irmãs Carmelitas do Divino Coração de Jesus.

( https://carmeldcj.org/ ). No Domingo 25, além da Eleição da nova mesa administrativa, tivemos a entrada no Noviciado, Votos Temporários e Votos Perpétuos. www.olharjornalistico.com.br www.instagram.com/freipetronio

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