Dom Antonio de Assis Ribeiro

Bispo auxiliar de Belém (PA)

 

A Sagrada Escritura nos diz que há um tempo para cada coisa. Então é preciso saber discernir o momento certo de cada uma; quando iniciar e também quando terminar. “Debaixo do céu há momento para tudo, e tempo certo para cada coisa. Tempo para abraçar e tempo para se separar” (Ecle 3,1.5). Há um tempo para abraçar responsabilidades, permanecer nelas, encarar desafios, carregar peso, dar a própria contribuição servindo com alegria e generosidade.

Também há o tempo de abandonar o que se assumiu, de renunciar responsabilidades; tempo de reconhecimento de que a missão foi cumprida ou que as forças se esgotaram. Visto que só Deus é eterno, só as coisas divinas têm duração eterna (cf. Ecle 3,14). Somos todos marcados pela vulnerabilidade, por isso, com humildade é necessário reconhecer o momento justo de passar as nossas responsabilidades para outros. Essa é a sábia hora da sucessão.

 

Apego a cargos: a vaidade gera sofrimento

Somos estrangeiros sobre a terra (cf. Hb 11,13;1Pd 2,11). Neste mundo somos todos peregrinos caminhando rumo à nossa casa definitiva, a pátria celeste (cf. Hb 11,16;13,14). Por isso, como bem nos recorda a liturgia, somos convidados a viver com sabedoria entre as coisas que passam, abraçando as que não passam. Os cargos passam, os serviços mudam, as funções cessam, as nossas forças diminuem, a visão e a sensibilidade se perdem, o dinamismo da vida se enfraquece e tornamo-nos lentos. Por isso, não há motivos para o apego; a vaidade gera sofrimento quando se reconhece que é chegada a hora da mudança.

É triste encontrarmos comunidades, paróquias e outras instituições em situação de crises e conflitos, tristeza e mágoas, indignação e protestos por causa da mudança de líderes. Quem ama a Igreja serve sempre e não precisa de cargos, nem status. É bom que não esqueçamos que as possibilidades de servir, são muito mais abundantes do que a oferta de cargos. Quem quer cargos, não serve porque é vaidoso! Jesus nos alertou: “o maior de vocês deve ser aquele que serve a vocês” (Mt 23,11); “Estou no meio de vocês como quem está servindo” (Lc 22,27).

Na Igreja, ter cargos não é um direito, é um dom, é uma graça; é uma realidade que nos é conferida e, por isso, também tirada e transferida. Somente gratuitamente, com liberdade e desapegados, é que servimos como convém. Jesus nos ensina que no amor está o fundamento do serviço de líder (cf. Jo 21,1-19).

 

Só Jesus é permanente

Na Igreja as transferências de responsabilidades e alternância de funções é uma realidade que faz parte da sua natureza. Ninguém tem cadeira cativa! As mudanças fazem parte do caráter missionário, itinerante e peregrino da Igreja neste mundo, porque estamos em trânsito. Na Igreja todos mudamos em virtude das exigências do Reino de Deus. “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre” (Hb 13,8). O status de imutabilidade é unicamente reservado ao Senhor do tempo e do universo.

Na Igreja todos mudamos por causa da nossa obediência e disponibilidade à sua missão. Mudaram os apóstolos, mudam os papas, os cardeais, os bispos, os párocos, os superiores das congregações e devem mudar também todos os níveis de liderança em todos os contextos eclesiais. O Direito Canônico nos apresenta com naturalidade a questão das transferências em virtude da obediência à Igreja (cf. Cân 273); mas também por causa das necessidades e da utilidade ao povo de Deus. Isso deve acontecer todas as vezes quando o ordinário (bispo ou pároco), após justo discernimento, achar conveniente, por necessidade e por amor ao povo de Deus (cf. Cân. 1748).

Lamentavelmente, talvez por falta da justa compreensão, há pessoas que, como já afirmou o Papa Francisco, estão contagiadas pela “síndrome de eternidade” em seus cargos. O apego a cargos enfraquece a vida da Igreja; quando alguém por anos ou décadas, se mantém na mesma função, se empobrece pessoalmente e, dependendo da sua mentalidade e forma de atuação, gera graves perdas para a comunidade.

 

A sucessão na Sagrada Escritura

A Bíblia nos apresenta uma longa série de sujeitos que reconheceram o momento da justa mudança transferindo suas responsabilidades para outros. Assim encontramos a natural sucessão entre os patriarcas no serviço de liderança do povo de Deus: Abraão, Isaac, Jacó, José; o profeta Elias cede sua missão a Eliseu, o sacerdote Eli dá lugar a Samuel (cf. 1Sm 3-4) e, este por sua vez, idoso, estabeleceu seus filhos como juízes em seu lugar (cf. 1Sm 8,1-5). Certo é que nem todas as sucessões foram serenas como aquela da passagem do Rei Saul para Davi.

Merece especial atenção a passagem da liderança de Moisés para Josué. Certo dia, dirigindo-se a todo o povo Moisés declarou: “Tenho hoje cento e vinte anos e já não posso deslocar-me…”. Depois Moisés chamou Josué e, diante de todo Israel, lhe disse: “Sê forte e corajoso, pois és tu que introduzirás este povo na terra que o Senhor sob juramento prometeu dar a seus pais, e és tu que lhe darás a posse dela. O Senhor, que é o teu guia, marchará à tua frente, estará contigo e não te deixará nem te abandonará. Por isso, não temas nem te acovardes” (Dt 31,1.6-8).

Essa narração é comovente! Moisés idoso, cansado, desgastado, percebeu com sabedoria que era chegada a hora de passar o comando para alguém mais novo. O jovem Josué foi o escolhido! E já estava sendo preparado havia muito tempo! O bom líder, pensando no futuro, capacita sucessores. Apesar do temor, Josué aceitou a responsabilidade de continuar o processo de libertação do povo caminhando rumo à Terra Prometida. Otimista, Moisés anima o seu sucessor, sem ciúmes, nem temor!

Um dos mais graves males das instituições contemporâneas é a crise de liderança. Lamentavelmente isso acontece porque muitos se mantiveram a todo custo no poder por muito tempo, e não prepararam novos líderes. Líderes apegados aos próprios cargos provocam prejuízos aos liderados (povos, grupos, instituições), porque olham para si mesmos e não percebem que um dia deverão abandonar suas funções.

Quem não pensa no dinamismo da missão da Igreja, mas olha somente para o próprio cargo, é um líder egoísta, vaidoso, carente da visão de conjunto e de futuro. É preciso não ter medo de envolver novas pessoas e, se possível, mudar de ofício.

Também Jesus de Nazaré ao longo da sua vida terrena sempre manifestou a seus discípulos a consciência da sua provisoriedade corporal neste mundo (cf. Jo 7,33; 12,35; 14,1-4.30). São Paulo teve clara consciência de ter chegada a hora do fim da sua missão dizendo: “chegou o tempo da minha partida. Combati o bom combate, terminei a minha corrida, conservei a fé. Agora só me resta a coroa da justiça que o Senhor, justo Juiz, me entregará naquele Dia” (2Tim 4,6-8). Em cada comunidade há sempre muitas formas de engajamento no bom combate da fé. Quando percebemos isso nunca brigamos por cargos. Cada um é chamado a não procurar os próprios interesses, a exemplo de Cristo que, desapegou-se de seu status de ser igual a Deus, esvaziou-se a si mesmo e assumiu a condição de servo (cf. Fl 2,6-8). A disputa por cargos e status, desde o início da Igreja, tem gerado mal estar entre os discípulos de Jesus (cf. Mt 20,24). Cristo nos recorda que quem quer tornar-se grande deve aprender a servir e quem quer ser o primeiro deve fazer-se servo de todos (cf. Mt 20,26-28).

 

PARA A REFLEXÃO PESSOAL:

Quais são as causas do apego a cargos?

Por que em muitas de nossas comunidades há dificuldade da mudança de líderes?

Quais são as consequências do apego à cargos?

Fonte: https://www.cnbb.org.br

Apresentado na sede de La Civiltà Cattolica, em Roma, o livro que repropõe o último texto do cardeal Martini, integrado com considerações e comentários de Francisco sobre o ministério episcopal em uma ótica sinodal. Padre Casalone: contém intuições que inspiram quem realiza um serviço de responsabilidade em uma comunidade humana, eclesial e civil, porque indica um estilo de relacionamento, uma forma de exercer a autoridade que promove a pessoa, eleva as consciências e constrói comunidade.

 

Antonella Palermo - Vatican News

"Dois bispos que guardam e acompanham o rebanho de Deus". Cada um com um estilo distinto e a herança do comum seguimento nas pegadas de Inácio de Loyola". Foi assim que a irmã Nicla Spezzati, adoradora do sangue de Cristo, entrelaçou a experiência pastoral do falecido arcebispo de Milão, Carlo Maria Martini, e a do Bispo de Roma, o Papa Francisco, autores do livro "O Bispo o Pastor. A autoridade na Igreja é sempre "ao serviço" (San Paolo edizioni) apresentado neste dia 24 de fevereiro, na sede de La Civiltà cattolica, em Roma.

 

Casalone: um livro profundo e inspirador

O volume coloca novamente em circulação O Bispo, um texto hoje que não se encontra de Martini, acompanhado das considerações e comentários do Pontífice que nos permitem aprofundar o tema do vínculo entre o bispo e o povo. Foi a Fundação dedicada a Martini que propôs sua publicação por ocasião do décimo aniversário de sua morte. A Fundação quis ir além de uma simples operação celebrativa, criando uma continuidade entre as reflexões dos dois jesuítas, num momento em que a sinodalidade assume uma importância crucial.

"Este é o último livro que Martini escreveu e, portanto, reúne toda sua sabedoria a partir da experiência que teve, um livro profundo em toda sua simplicidade", diz padre Carlo Casalone SJ, presidente da Fundação Carlo Maria Martini. "E então ele tem muitas intuições que inspiram ou podem inspirar qualquer pessoa que realiza um serviço de responsabilidade em uma comunidade humana, seja eclesial, como é o caso do bispo ou outras formas de ministério, ou civil, porque ele indica um estilo de relacionamento, uma forma de exercer autoridade que promove a pessoa e é obediente à dinâmica da comunidade como um todo". Martini", aponta, "cuida da comunidade e ao mesmo tempo exerce a autoridade como um serviço às consciências para que elas não se abstenham da vida comunitária". Em certo sentido, ele volta ao conceito original de autoridade que significa "fazer crescer", fazer o outro autor, capaz de assumir na primeira pessoa aquelas responsabilidades que são próprias também em relação aos outros, e isto constrói a comunidade".

 

O Pastor, um homem de oração e misericórdia

As páginas do Bispo de Roma sobre as peculiaridades do pastor enfatizam como esta é uma figura que não nasceu em um laboratório, e que deve sempre se esforçar para se valer dos conselhos de seu clero e de seu povo, evitando todas as formas de carreirismo. No seu texto, o Papa Francisco escreve que Martini pretendia pintar uma imagem viva do bispo, concreta e sem falsas pretensões, usando "extrema franqueza". Revendo as reflexões que mais o marcaram, o Papa enfatiza a relação imprescindível com o Senhor que o bispo deve ter essencialmente na oração, a peculiaridade de ser um "homem de misericórdia", o fato de que ele deve agir como um "médico em um hospital de campo" e não deve negligenciar a relação com os jornalistas.

Este é um ponto que ele considera tão importante quanto o arcebispo de Milão. "Mesmo que alguns erros possam acontecer", diz Francisco, "devido a seu despreparo, o bispo deve saber que 'o importante é conduzir o barco em direção ao porto, comunicar-se verdadeiramente com o povo, saber entrar em uma relação quase pessoal com a ajuda da mídia'.

Especialmente em vista dos trabalhos sinodais atuais, Francisco enfatiza a necessidade de que o bispo, assim como Martini escreve, manifeste a comunhão com os outros bispos e com o Papa, e toda a paternidade espiritual para com os sacerdotes. E ele convida à reflexão sobre a necessidade de meios simplificados e rápidos de receber opiniões. Ciente de que não existe um pastor "standard" para todas as Igrejas, Francisco descreve brevemente o bispo como "aquele que vela, apoiando pacientemente os processos pelos quais o Senhor leva avante a salvação de seu povo". E recorrendo mais uma vez à metáfora do cheiro das ovelhas, ele acrescenta:

 

"Não basta vigiar, é preciso ter a mansidão, a paciência e a constância da caridade (Papa Francisco)".

 

Martini e Francisco, homens de escuta fraterna e universal

Nas palavras da irmã Nicla - que viveu recentemente a experiência sinodal em Praga n etapa continental europeia, onde a delegação italiana da qual ela fazia parte expressou sua voz fazendo muito uso do legado de Martini - o contínuo paralelismo entre Martini e Bergoglio se traduz em destacar como ambos "são bispos que recordam, a cada hora, a terra de origem e de realização, com a vitalidade dos homens em constante busca. Vitalidade que se torna um discernimento vigilante, um guia para escolher o essencial em cada circunstância". Ambos nos convidam a levar a sério o fato de nos tornarmos vizinhos, promovendo uma fraternidade que não só é desejada, mas possível. Ambos convidam "a escutar com o ouvido do coração" os pobres, prisioneiros, intelectuais, crentes e não crentes, jovens, evitando qualquer miopia particularista e sem recorrer precipitadamente, aponta a religiosa, a respostas pré-embaladas. Ambos se fazem intercessores pela paz.

 

Bizzeti: Martini em diálogo com as novidades da história e das pessoas

A apresentação do livro foi selada por monsenhor Paolo Bizzeti SJ, Vigário Apostólico da Anatólia, que compartilhou seu testemunho de uma região ferida, onde o exercício da autoridade episcopal tem que lutar, por um lado, com escassos recursos humanos e materiais e, por outro, com uma variedade de ritos e "modelos" de bispos que "devem necessariamente interpelar", também na ótica de realizar um efetivo caminho ecumênico. Bizzeti recorda sua relação com o cardeal Martini: desde o tempo em que era reitor do Pontifício Instituto Bíblico ("um homem tradicional, no melhor sentido do termo"), até a época da 32ª Congregação da Companhia de Jesus ("um homem que, embora já muito estruturado, se questionava, não se afastava de enfrentar as novidades da época"); desde o tempo em que em Milão reconhecia com extrema lucidez a complexidade do ministério e os inevitáveis limites a ele associados, até o período, finalmente, de Jerusalém, quando uma séria reflexão sobre o mistério da morte o ocupava e o preocupava.

Bizzeti também enfatiza a abertura total com que Martini concebeu e viveu sua missão pastoral: relações com judeus, com várias Igrejas locais, com não-crentes, em um estilo que nunca foi impositivo. Porque, de fato, trata-se de levar em conta constantemente o fato de que, ao mesmo tempo em que se impõe, espalharia o rebanho, por outro lado - nas palavras de Inácio de Antioquia - "onde está o bispo, aí está a Igreja". O importante é tirar o bispo de seu nicho, como escreve Martini, e vê-lo em contato com o povo. Mais sinodal do que isso... Fonte: https://www.vaticannews.va

Jovem encontrado no rio Iguaçu após se jogar da ponte dos Arcos em União da Vitória era seminarista

Já foi identificado pelo Instituto Médico Legal – IML de União da Vitória o corpo encontrado nas águas do rio Iguaçu após se jogar da ponte dos Arcos. Se trata de Vanderson Daniel Openkovski.

Vanderson tinha 20 anos e era natural de Rebouças. Ele estava cursando o 1º ano de Teologia no Seminário Diocesano de União da Vitória.

O jovem se jogou nas águas do rio Iguaçu na tarde de quinta-feira, sendo que após quatro dias de buscas, seu corpo foi encontrado nesse domingo, dia 26, na região de Porto Vitória. Fonte: https://canal4.tv.br


O Corpo de Bombeiros de União da Vitória foi acionado por volta das 10h40 deste domingo, 26, em Porto Vitória depois que populares avistaram um corpo boiando no Rio Iguaçu.
A equipe realizou buscas pelo local, no período da tarde, por volta das 15h40 o corpo foi localizado. A vitima é um jovem de 20 anos identificado como Vanderson Daniel Openkovski.
Vanderson era aluno no 1º ano de Teologia no Seminário Diocesano de União da Vitória, ele era natural de Rebouças.

 

A Diocese emitiu uma nota sobre o falecimento:


A Diocese de União da Vitória noticia com profundo pesar o falecimento do Seminarista Vanderson Daniel Openkovski.

Natural da cidade de Rebouças, Vanderson tinha 20 anos de idade e estava cursando o 1º Ano de Teologia, no Seminário Diocesano, em União da Vitória.

Unidos na fé, com seus pais, demais familiares e amigos, pedimos ao Espírito Santo Consolador, que fortaleça o coração de todo nós, que neste momento de luto, sofremos com a perda do Seminarista Vanderson. Fonte:

https://www.facebook.com/jornalidealnews

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A publicação da Diocese de União da Vitória noticiou e lamentou na madrugada desta segunda-feira (27/02), por volta de 1h, o falecimento de Vanderson Daniel Openkovski, seminarista natural de Rebouças.

A informação foi divulgada algumas horas depois de um corpo ter sido encontrado no rio Iguaçu, sem a relação confirmada oficialmente entre as duas situações. O seminarista será sepultado na manhã desta segunda-feira, em Rebouças. Fonte: https://www.facebook.com/portalculturasulfm

 

A família Rcc Diocese União da Vitória está de Luto pelo falecimento do Seminarista Vanderson Daniel Openkovski.

O mesmo era participante do Grupo de Oração Beata Helena Guerra no seminário Rainha das Missões e filho do ex- coordenador Diocesano da RCC Vanderlei Openkovski.
Nos unamos a família e amigos nesse momento de dor e rezemos pela sua alma e descanso eterno.
"Eu sou a Ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá." Jo 11, 25. Fonte: https://www.facebook.com/rccuniao

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Rapaz se joga de ponte e é levado pelas águas do Iguaçu, em União da Vitória

 

Bombeiros estão realizando varredura superficial no Rio Iguaçu, em busca do desaparecido.

 

Por volta das 16h desta quinta-feira (23), um rapaz foi visto se jogando da Ponte dos Arcos em União da Vitória. Um popular, que viu a cena, acionou imediatamente o Corpo de Bombeiros, que realiza buscas nesse momento.

Ainda não se tem informação da identidade do homem, porém testemunhas dizem que aparentava ser jovem, teria subido no topo dos arcos e se jogado de costas, sendo levado pelas águas do Rio Iguaçu.

Em grupos de WhatsApp, o popular que viu o ato e acionou os bombeiros diz que “Já na hora que vi o cidadão se jogando liguei para os bombeiros, infelizmente o rapaz não fez intenção nenhuma de se salvar, simplesmente descia sem sequer agitar os braços”.

Bombeiros fazem buscas superficiais, porém se chover as buscas precisarão ser suspensas. Fonte: https://canoinhasonline.com.br

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 Descanse em paz menino! E que Deus conforte a família.

Ao mesmo tempo é necessário e urgente buscar estratégia de debate na igreja sobre saúde mental. É preciso repensar como Igreja uma ajuda no âmbito de saúde mental desde a dimensão psicológica aos religiosos sejam (padres e seminaristas).

É preciso falar de saúde mental na igreja. Existe muitas pessoas tóxicas nesse ambiente.

Só rezar não soluciona os problemas. O pietismo vazio não ajuda em nada. Muito pelo contrario, leva a situações muito doloroso.

Não se pode só lamentar e depois esquecer.

A saúde mental precisa estar na agenda de formação em todos os sentidos. É preciso ser mais humano com o humano!

Daniel Andres Baez Brizueña. Fonte: https://www.facebook.com/danan1011

 

Um empresário de Ancara ofereceu uma casa para Mesut Hancer e propôs contratá-lo como funcionário administrativo em sua rede de televisão privada

 

Por AFP — Ancara

O momento de um pai segurando a mão da filha morta, registrado por um fotógrafo da AFP, foi uma das imagens que deram a volta ao mundo após o terremoto devastador de 6 de fevereiro na Turquia e na Síria.

Quase três semanas depois desta catástrofe que deixou mais de 44 mil mortos na Turquia, Adem Altan, o repórter fotográfico que registrou a imagem, voltou a se encontrar com o turco Mesut Hancer.

Pai de quatro filhos, entre eles a adolescente Irmak, que morreu aos 15 anos sob os escombros de um imóvel de oito andares, Hancer deixou recentemente a cidade de Kahramanmaras, no sudeste da Turquia, e foi morar na capital, Ancara.

— Também perdi minha mãe, meus irmãos e meus sobrinhos no terremoto. Mas não há nada comparável a enterrar um filho — explica o homem, na faixa dos 40 anos. — É uma dor indescritível.

Sua família tenta agora reconstruir a vida longe da arrasada Kahramanmaras, localizada perto do epicentro do tremor de magnitude 7,8, que também sacudiu o norte da Síria, causando quase 6 mil mortes no país. No total, o desastre matou mais de 50 mil pessoas.

A foto de Hancer, petrificado de dor e indiferente ao frio e à chuva, vestindo um casaco impermeável laranja, simbolizou a tragédia vivida por milhares de pessoas e gerou uma onda de solidariedade.

Um empresário de Ancara ofereceu-lhe uma casa e propôs contratar Hancer como funcionário administrativo em sua rede de televisão privada.

 

Filha é retratada como um anjo

Na sala de estar de sua casa nova, ele pendurou um quadro, presente de um artista, no qual Irmak é retratada com asas de anjo ao lado do pai.

— Não consegui soltar sua mão. Minha filha dormia como um anjo em sua cama — explica o pai, separado violentamente de um de seus filhos.

Quando o terremoto ocorreu, às 4h17 locais de 6 de fevereiro (22h17 do dia 5, horário de Brasília), Hancer trabalhava em sua padaria.

Imediatamente, ligou para a família e soube que sua casa tinha sofrido danos, mas não tinha desmoronado, e que sua mulher e que três de seus quatro filhos estavam sãos e salvos.

Mas a família não tinha notícias da filha caçula, Irmak, que naquela noite dormiu na casa da avó para passar mais tempo com as primas de Istambul, que tinham ido visitá-los.

Então, Hancer, muito preocupado, foi rapidamente para a casa da mãe e ali se deparou com o imóvel transformado em uma montanha de escombros. Em meio às ruínas, encontrou o corpo da filha.

Nenhuma equipe de socorristas apareceu na área nas 24 horas que se seguiram à catástrofe.

Hancer e outros moradores tiveram que se virar para tentar encontrar seus familiares e conhecidos debaixo dos escombros.

Ele tentou retirar o corpo da filha morta, erguendo blocos de concreto com as mãos. Mas era uma tarefa impossível.

Desesperado, frustrado e tomado por uma profunda tristeza, sentou-se ao lado do cadáver de Irmak.

— Peguei a mão dela, acariciei seu cabelo e beijei suas bochechas — lembra.

Minutos depois, viu o repórter fotográfico que retratava as consequências do terremoto.

— Faça fotos da minha filha — murmurou com a voz embargada por uma dor difícil de esquecer. Fonte: https://oglobo.globo.com

O Jornalismo profissional sobrevive

 

A desmoralização da imprensa profissional foi uma bandeira de campanha do então candidato Jair Bolsonaro em 2018 e se tornou uma política informal de governo após sua posse como presidente da República. Se é verdade que a vida de jornalistas que cobrem o exercício do poder nunca foi cômoda, não há precedentes para o que aconteceu no País nos últimos quatro anos desde pelo menos o fim da ditadura militar.

Quando não o fez pessoalmente, Bolsonaro açulou seus ministros, auxiliares e apoiadores mais radicalizados para ameaçar e agredir jornalistas. Como chefe de governo, o presidente dificultou tanto quanto pôde o exercício da liberdade de imprensa assegurada pela Constituição, seja banalizando a edição de decretos de sigilo, seja autorizando que órgãos da administração federal se esquivassem de determinações da Lei de Acesso à Informação.

Durante o governo Bolsonaro, os ataques a jornalistas e à liberdade de imprensa atingiram escala inaudita. A Associação Nacional de Jornais (ANJ) bem destacou há poucos dias, durante a cerimônia de entrega do Prêmio ANJ de Liberdade de Imprensa 2022, que nos últimos quatro anos aumentaram os processos judiciais contra jornalistas por supostos crimes cometidos contra a honra. Trata-se de mais uma forma de constranger o livre exercício de uma profissão que, nunca é demais lembrar, é protegida pela Constituição, regulamentada por lei e orientada por um código de ética muito rigoroso.

A bem da verdade, essa sórdida campanha para desacreditar o trabalho da imprensa – e, assim, minar a confiança dos cidadãos no trabalho dos jornalistas como forma de turvar a compreensão da realidade – não é um problema exclusivo da sociedade brasileira. Diversos países têm lidado com um dos grandes desafios da atual quadra do século 21: o restabelecimento de um consenso social mínimo acerca do que seja fato. A peculiaridade do caso brasileiro é que Bolsonaro, como chefe de Estado e de governo, pôs-se a liderar essa cruzada contra a imprensa profissional enquanto guardiã da verdade factual.

É típico de populistas que flertam abertamente com o autoritarismo atacar as instituições democráticas que, à sua maneira, traçam uma linha muito bem definida entre realidade e ficção. Não surpreende, portanto, que a imprensa profissional, como guardiã dos fatos, tenha sido alçada por Bolsonaro à condição de “inimiga do povo”. O mesmo aconteceu com instâncias do Poder Judiciário, como guardião das leis, e com as universidades, como centros de produção de conhecimento científico.

Essa disrupção provocada por Bolsonaro impôs desafios não apenas ao jornalismo, mas também aos tribunais superiores. No afã de salvaguardar a democracia nesses tempos esquisitos, ministros que devem zelar pelas liberdades garantidas pela Constituição tomaram decisões que, em alguns momentos, acabaram por enfraquecê-las. A liberdade de expressão não é absoluta, como nenhum direito é, mas é preciso ficar atento para que o remédio contra o golpismo não se torne veneno contra a democracia.

A despeito da magnitude de todos os ataques que sofreu, o jornalismo profissional resistiu e mostrou seu inestimável valor para a construção de uma sociedade mais bem informada e, consequentemente, mais livre e participativa. Todo o descalabro do governo Bolsonaro só veio à luz pelo incansável trabalho de jornalistas que não se intimidaram e desafiaram as barreiras que foram erguidas para dificultar o exercício da profissão.

Este jornal manteve a sociedade bem informada durante um governo que se notabilizou, entre outras razões, por sua recalcitrante hostilidade à imprensa profissional. A revelação de casos como o das “rachadinhas” da família Bolsonaro, o famigerado “orçamento secreto”, “os pastores do MEC” (esquema de corrupção montado no Ministério da Educação), entre tantas outras reportagens, deram ao Estadão papel de destaque no trabalho da imprensa de lançar luz onde o governo Bolsonaro queria que prevalecesse a sombra.

Em menos de um mês, Bolsonaro deixará o poder. Já a imprensa profissional seguirá onde sempre esteve: a serviço da sociedade, publicando as informações que apura com técnica, rigor ético e espírito público. Fonte: https://www.estadao.com.br

Para as mulheres negras, violências iniciam-se na concepção, passando pela saúde, educação, moradia e mercado de trabalho, finalizando com a interrupção da vida.

 

Amini Haddad Campos e Karen Luise Vilanova Batista de Souza, O Estado de S.Paulo

O movimento mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher teve início em 1981, intitulado “as mariposas” em homenagem às irmãs Pátria, Minerva e Maria Teresa, assassinadas em 25 de novembro de 1960, na República Dominicana, quando foram submetidas às mais diversas situações de violência e tortura. Na data, a Organização das Nações Unidas (ONU) celebra o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres.

No Brasil, os 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher consolidam ações entre 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, e 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos.

Violências contra mulheres, em especial contra negras, externam uma naturalizada “cultura” que hierarquiza homens e mulheres (subjugação do feminino) e pessoas brancas e negras (subjugação racial), com consequências sociais gravíssimas.

Segundo estudos (Violence against Women, do UN Department of Public Information) são decorrências desses condicionamentos do feminino a violência doméstica/familiar, a sexual e a psicológica; as ofensas e a exposição da intimidade nas mídias; o tráfico internacional de mulheres/meninas; a mutilação genital feminina; o matrimônio forçado; os leilões de meninas/mulheres; os feminicídios; a violência econômica (exploração doméstica, desnível na herança, diferenças salariais; a violência obstétrica; a seleção pré-natal à garantia de nascimento de meninos; o aborto de fetos femininos (desqualificação estabelecida); a eliminação de embriões femininos; a desnutrição de bebês meninas (do não desenvolvimento à morte); a delimitação de atividades (imposição); a limitação da identidade/personalidade, com imposição de véus, burcas, xadores; o turismo sexual; o descrédito/desqualificação de testemunhos de mulheres; o impedimento à cidadania (trabalho, votar/ser votada); a violência política contra mulheres; a perseguição; a discriminação representativa nas cúpulas (ausência de mulheres); a desqualificação feminina nas promoções de carreira (uso de termos pejorativos), entre outras ocorrências e situações categorizadas por vulnerabilidades múltiplas, que condicionam gradações majoradas de violações aos direitos humanos de mulheres e meninas.

Não se deve descurar das suscetibilidades profundas na sociedade. Assim, veem-se potencializadas as violações conforme perfil feminino, na modalidade de análise existencial (raça, etnia, deficiência) ou circunstancial (violações no momento do parto ou de atendimento médico, por exemplo).

Os direitos humanos são universais, mas as práticas para lhes darem concretude partem de paradigmas nos quais as mulheres e as pessoas negras não se sentem contempladas. Por isso, compete a todas as pessoas a adoção de práticas que busquem a superação do histórico emudecimento desses sujeitos, com a construção de um novo tempo no qual todas e todos sejam vertentes nobres de iniciativas à promoção da equidade. É importante que a sociedade civil e seus representantes possam dialogar com vistas à superação dessas modalidades de violência.

É nesse contexto que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) assumiu relevante compromisso à representação feminina nos espaços de poder, ciente de que há relação direta entre a invisibilidade do feminino e as graves violações aos direitos humanos, conforme expresso na Declaração de Pequim.

Com esse foco, foram adotadas ações para o desenvolvimento de políticas judiciárias de promoção da equidade para efetiva participação feminina, expressa na Resolução CNJ n.º 255/2018, bem como delimitação de acesso à justiça, conforme orientação para julgamento com perspectiva de gênero, por meio da Recomendação CNJ n.º 128/2022. A campanha dos 21 dias de ativismo pela equidade e fim da violência contra mulheres e meninas é mais uma ação do Conselho Nacional de Justiça que visa alcançar o equilíbrio e a justiça para todas as pessoas.

A escolha simbólica do Dia da Consciência Negra para dar início a essa agenda guarda consigo a necessidade de dar visibilidade ao que as estatísticas recorrentemente demonstram: mulheres negras são as maiores vítimas de feminicídio (Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 2021) e de outras tantas violações de direitos humanos que as colocam na base da pirâmide social.

Para as mulheres negras, em razão de sua dupla vulnerabilidade, as violências contra elas iniciam-se desde a sua concepção, passando pela saúde, educação, moradia e mercado de trabalho, finalizando com a interrupção de suas vidas, expressão máxima das violências de gênero e de raça, em processos de constante negação de humanidade.

Em uma sociedade democrática, evidencia-se um dever à existência do valor humanidade. Reconhece-se que a consecução desse valor, representativo de todas as pessoas, é sustentado no vetor do artigo 3.º da Constituição federal, que prevê como objetivo fundamental da República Federativa do Brasil promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

*JUÍZAS AUXILIARES DA PRESIDÊNCIA DO CNJ. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br

Jornalismo – a coragem de mudar

Fenômeno das redes estourou a bolha em que se confinavam alguns jornalistas que produziam notícias para muitos, menos para seu leitor real.

 

Carlos Alberto Di Franco, O Estado de S.Paulo

O jornalismo está fustigado não apenas por uma crise grave. Vive uma mudança cultural vertiginosa, mas fascinante. A revolução digital é um processo disruptivo. Quebra todos os moldes e exige uma baita reinvenção corporativa e pessoal. Quem não tiver disposição de mudar a própria cabeça, rápida e efetivamente, deve tirar o time de campo. A aceleração da mudança não admite demora nas tomadas de decisão. No nosso mundo informativo, o desafio não admite olhar de retrovisor.

O jornalismo vai morrer? Não. Nunca se consumiu tanta informação como na atualidade. Mas o modelo de negócios está na UTI. A publicidade tradicional evaporou. E não voltará. Além disso, perdemos o domínio da narrativa.

O modo de produzir informação e o diálogo com o consumidor romperam o esquema a que estávamos confortavelmente acostumados. As pessoas rejeitam intermediações – dos partidos, das igrejas, das corporações, dos veículos de comunicação.

O que fazer? Olhar para trás? Tentar fazer mudanças cosméticas? Fazer o papel ridículo das velhas de minissaia? Não. Precisamos olhar para a frente e descobrir incríveis oportunidades.

Mas é preciso, previamente, fazer uma autocrítica corajosa a respeito do modo como vemos o mundo e da maneira como dialogamos com ele.

Na prática, entre outras coisas, trata-se de entender que a produção da notícia começa pelo leitor. Nessa lógica, a audiência deixa de ser simples destinatária da informação para ser também sua proponente. Um processo fácil de ser descrito, mas, como em toda mudança de paradigma, altamente complexo em sua execução.

Nós, os profissionais da imprensa, por mais absurdo e contraditório que isso possa parecer, nos acostumamos a trabalhar de costas para a audiência. Uma frase que circula na classe é de que “jornalistas escrevem para jornalistas”. Ainda que dita quase sempre em tom de brincadeira, revela a sombria face da vaidade da nossa profissão. Será que, de fato, por vezes não temos esquecido nossa função social para buscar a admiração e sintonia de valores de colegas que, seguramente, terão acesso ao material que publicamos e postamos?

No jornalismo, abalado pela avalanche digital e que aos poucos e sofridamente se reergue, não há lugar para a presunção. A única obsessão permitida são os leitores. Eles são a peça-chave do trabalho editorial. Precisamos descobrir quem são, suas demandas reais, suas circunstâncias, seus interesses. Precisamos confessar a nós mesmos, envergonhados, que desconhecemos o rosto deles.

Abrir canais de diálogo, com sinceridade e verdadeiro interesse, é uma forma simples e barata de fortalecer os vínculos com a audiência. Passamos décadas certos de que éramos essenciais na vida da sociedade. E, de fato, parece-me que somos. Mas precisamos abrir-nos para o público, para que ele também reconheça o valor do jornalismo que faz diferença em sua vida.

Impõe-se colocar a audiência no centro do processo. Já não basta que definamos nós o que precisam os consumidores de informação. É preciso ouvir o que eles têm a dizer. Interagir com eles. Captar suas sugestões. Aceitar suas críticas. Abrir nossos espaços. O fenômeno das redes sociais estourou a bolha em que se confinavam alguns jornalistas que produziam notícias para muitos, menos para o seu leitor real.

Conversar com o leitor não é uma carga. É uma necessidade. E deve ser um prazer. Precisamos correr. Do contrário, corremos o risco de perder o momento da virada.

Penso que há uma crescente nostalgia de conteúdos editados com rigor, critério e qualidade técnica e ética. Há uma demanda reprimida de reportagem. É preciso reinventar o jornalismo e recuperar, num contexto muito mais transparente e interativo, as competências e a magia do jornalismo de sempre.

Jornalismo sem alma e sem rigor. É o diagnóstico de uma perigosa doença que contamina redações. O leitor não sente o pulsar da vida. As reportagens não têm cheiro do asfalto. É preciso dar novo brilho à reportagem e ao conteúdo bem editado, sério, preciso, isento.

É preciso contar boas histórias. Com transparência e sem filtros ideológicos. O bom jornalista ilumina a cena, o repórter manipulador constrói a história.

Sucumbe-se, frequentemente, ao politicamente correto. Certas matérias, algemadas por chavões inconsistentes que há muito deveriam ter sido banidos das redações, mostram o flagrante descompasso entre essas interpretações e a força eloquente dos números e dos fatos. Resultado: a credibilidade, verdadeiro capital de um veículo, se esvai pelo ralo dos preconceitos.

É preciso encantar o leitor com matérias que rompam com a monotonia do jornalismo declaratório. Menos Brasil oficial e mais vida. Menos aspas e mais apuração. Menos frivolidade e mais consistência. Além disso, os consumidores estão cansados do baixo-astral da imprensa. A ótica jornalística é, e deve ser, fiscalizadora. Mas é preciso reservar espaço para a boa notícia. Ela também existe. E vende o produto. O cidadão que aplaude a denúncia verdadeira é o mesmo que se irrita com o catastrofismo que domina muitas de nossas pautas.

O papel da informação no conturbado momento nacional mostra uma coisa: o jornalismo está mais vivo do que nunca.

*JORNALISTA. E-MAIL: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br

Frei Petrônio de Miranda, O. Carm. Padre Carmelita e Jornalista.

Convento do Carmo de Angra dos Reis/RJ. 5 de maio-2022.

 

Neste domingo, se a gente não aprisionar o Espírito Santo em nossas ideias conservadoras e em nosso mundinho e grupinhos fechados recheado de conceitos e pré-conceitos, mas ao contrário, nos abrir ao ruah, o vento ou sopro de Deus, o hálito de vida porque, “A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum” (1 Coríntios 12,7). Talvez seja Pentecostes, afinal, Ele sopra onde quer.

 

Neste domingo, se a gente abrir o coração e deletar o ódio que corrói as nossas relações - seja no campo social, profissional, político ou religioso- talvez seja Pentecostes, por que a sua presença em nossa vida não é ódio, fake News e violência, ao contrário, viver segundo o Espírito é saborear os seus frutos- digo; o amor, o gozo, a paz, a longanimidade, a benignidade, a bondade, a fidelidade, a mansidão e o domínio próprio, afinal, Ele sopra onde quer. ((Gl 5: 22-23)

  

Neste domingo, se a gente se livrar da religião mercadológica e lucrativa onde tudo pode em nome do aumento da nossa conta bancária, do Ibope e dos likes nas mídias sociais, mas acreditar que de fato hoje nasceu a Igreja (Atos dos Apóstolos 2,1-11). Talvez seja Pentecostes e, esse Sopro Divino venha limpar a nossa mente poluída com ideias produtivas, lucrativas, afinal, Ele sopra onde quer

 

Neste domingo, se a gente abrir a nossa mente para o Espírito Santo, talvez seja Pentecostes e  teremos Fortaleza para vencer as adversidades da pandemia do novo coronavírus, usaremos a Sabedoria na hora dizer sim ou não, pautaremos a nossa leitura bíblica com a Ciência Divina, teremos o Conselho como companheiro em nossas relações, seremos homens e mulheres capazes de nos abrir ao Entendimento, pautaremos a nossa fé na Piedade autêntica e verdadeira e, às 24 horas, teremos o Temor de Deus, afinal, Ele sopra onde quer

 

Neste domingo, se a gente não aproveitar da devoção ao Divino Espírito Santo para continuar apoiando os velhos coronéis da política neste ano eleitoral, talvez seja Pentecostes e, nos comprometendo com a justiça social, a defesa do planeta terra neste Dia Mundial do Meio Ambiente- a nossa casa em comum- possamos assumir o nosso protagonista de cidadãos conscientes. Afinal, Ele sopra onde quer.  

 

Neste domingo, se a gente gritar contra a injustiça social, a violência, o desemprego, o fanatismo político e a fome em nossa cidade e, de mãos dadas, construirmos a nossa história inspiradas na Boa Nova de Nosso Senhor Jesus Cristo caminhando na Unidade enquanto cristãos porque “A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum” (1 Coríntios 12,7). Talvez seja Pentecostes. Afinal, Ele sopra onde quer.  

 

Neste domingo, se a gente não esquecer que recebemos a ação do Espírito Santo em nossa vida através do batismo e da Crisma: “Recebereis o poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra. (At 1, 8) e que, cheios do Espírito, não vamos ter medo de estender as mãos e abrir os nossos corações para os jovens- nossos filhos e netos- no mundo da droga e do tráfico em nossa cidade- acolhendo, compreendendo e encarando de frente essa realidade que domina as nossas famílias – muitas delas igrejeiras e devotas. Talvez seja Pentecostes, afinal, Ele sobre onde quer.

Frei Petrônio de Miranda, O. Carm. Padre Carmelita e Jornalista.

Convento do Carmo de Angra dos Reis/RJ. 28 de maio-2022.

 

Quando somos fracos na fé e desistimos dos nossos objetivos nos fechando em nosso mundinho, não é o Espírito Santo que está do nosso lado, porque Ele nos concede o Dom da Fortaleza nos proporcionando coragem, foco e disposição para caminhar. Com este Dom vencemos os medos, as síndromes e depressão causada pela pandemia, o desemprego, a violência e o tráfico em nossos morros. Com este Dom, somos capazes de sermos fiéis à vida cristã neste mundo da relatividade, da mundanidade, do consumismo e do tudo pode em nome do prazer, do poder e do ter. 

 

Quando nós nos fechamos em nossas ideias e conceitos e não nos abrimos para a vontade da Boa Nova, não é o Espírito Santo, por que Ele nos concede o Dom da Sabedoria que nos adentra na mensagem revelada no Santo Evangelho e nos ajuda a compreender melhor a nossa fé e os acontecimentos da vida  que, segundo o santo Carmelita, São Tito Brandsma, nos faz  “ver o mundo com Deus no fundo”.

 

Quando negamos a ação do Espírito Santo na vida dos cientistas no combate a pandemia do novo coronavírus, seja através de uma crítica ou mesmo do nosso não à vacina, não é o Espírito Santo que está conosco, por que Ele nos concede o Dom da Ciência, e com este podemos aprimorar a nossa inteligência para crescermos na devesa da vida e da nossa própria fé, afinal, fomos criados para Deus e, segundo Santo Agostinho, “Só N`Ele podemos descansar”.  

 

Quando somos motivos de divisão, seja por questões religiosa, política ou social e fugimos da missão de conselheiros na família, não é o Espírito Santo que está conosco, por que Ele nos deu o Dom do Conselho, com este Dom, somos capazes de sair de cima do muro por que “Todas as coisas têm o seu tempo, e tudo o que existe debaixo dos céus tem a sua hora […]” (Ecl 3, 1-8). Ou seja, é o Espírito Santo que vai nos inspirará a dizer sim ou não na hora certa.

 

Quando desprezamos o nosso próximo porque é analfabeto e por não ter tido as mesmas oportunidades que nós- seja de frequentar ou boa Escola ou faculdade- não é o Espírito Santo, por que Ele nos concede o Dom do entendimento para compreender as verdades reveladas por Deus. Esse dom, Santa Teresinha do Menino Jesus, Carmelita, e tantos homens e mulheres que- sem o conhecimento da cátedra- receberam. Por esse Dom, podemos visualizar e ter consciência do nosso pecado e da ausência de Deus em nosso caminhar.

 

Quando nós nos fechamos em nossas devoções- muitas vezes alienadas e descomprometidas com a vida, não é o Espírito Santo, porque Ele nos concede o Dom da Piedade para vivermos uma relação comprometida e amorosa com Deus e com o próximo a partir do Evangelho. Piedade autêntica e verdadeira não é fanatismo ou desprezo dos documentos oficiais da Igreja, mas união com o magistério porque “Os fiéis, lembrando-se da palavra de Cristo aos Apóstolos: ‘Quem vos escuta escuta-me a Mim’ (Lc 10,16), recebem com docilidade os ensinamentos e as diretrizes que os seus pastores lhes dão, sob diferentes formas”. Sim, é preciso – sob pena de se criarem cismas ou “magistérios” paralelos – dar, sob o grau de assentimento que os pronunciamentos do Papa e dos Bispos o exijam, adesão aos seus ensinamentos e orientações; do contrário, podem recusar a voz do Pastor para seguir a um ladrão ou mercenário que, evidentemente, não é pastor (Jo 10,11-16). Afinal, quem diz: “Não siga o Magistério da Igreja”, de modo indireto ou até inconsciente, afirma: “Sigam a mim e às minhas doutrinas”. Eis o grave perigo! (Catecismo da Igreja).

 

Quando defendemos políticas assassinas contra a vida- seja o porte de armas, a volta da Ditadura militar, o aborto ou ameaçamos o sistema democrático do país- não é o Espirito Santo que está do nosso lado, por que Ele nos concede o Dom do Temor para amá-lo de todo o coração e, amar a Deus é essencialmente amar o nosso próximo que padece vítima de diversos políticos que se dizem cristãos, mas na verdade- diante de suas atitudes e projetos de governo- não temem, não amam e não respeitam o nosso Bom Deus. Portanto, o Dom do Temor é saber reverenciar, respeitar e reconhecer Deus em nosso caminhar enquanto Senhor da nossa Existência. Somente Ele é nosso tudo! 

Frei Petrônio de Miranda, O. Carm. Padre Carmelita da Ordem do Carmo e Jornalista.

Convento do Carmo de Angra dos Reis/RJ. 21 de maio-2022.

Quer ser um padre bonzinho e admirado por todos? Muito simples, seja medíocre. Isso mesmo! Esqueça o que Jesus falou sobre pobres, compaixão, inclusão social e defesa da vida. Finja que você mora em uma cidade onde não tem corruptos. Esqueça essa história de proteção do meio ambiente ou a defesa dos pobres. Não fale em questões políticas ou sociais. Portanto, a mediocridade é a solução para você ser amado, admirado e reconhecido por todos.

 

Quer ter uma vida “estável” sem muito agito, ou uma caminhada calma sem tempestades? Muito simples, seja medíocre! Dessa forma ninguém vai notar que você veio ao mundo para ser protagonista da sua história e fazer história. Pare com esta baboseira de ser autêntico e ter personalidade própria, fazendo assim, você não vai ter que enfrentar os fracassados e invejosos que ficam estacionados de braços cruzados, prontos para te criticar, apontar o dedo e condenar. Portanto, a mediocridade é a solução para os seus medos e a sua falta de coragem em tomar decisões e enfrentar a vida.

 

Quer ser uma freira, um frade, um monge, um missionário consagrado ou um seminarista amado por todos? Eu tenho a solução! Seja medíocre e não questione se a comunidade está sendo fiel aos seus objetivos. Deixe de lado essa história de fraternidade, correção fraterna, profetismo, missão, “sentir o cheiro das ovelhas” ou “eles tinham tudo em comum”. O que vale é a falsa harmonia e a cara de paisagem às 24 horas. Portanto, a solução real e sincera para caminhar na vida religiosa com sucesso é a mediocridade nua e crua.

 

Quer ser elogiado por todos? Simples, seja medíocre. Isso mesmo, sendo uma marionete nas mãos dos outros você não vai se dá ao trabalho de construir os seus caminhos e, com certeza, não vai ter quer cair, porque sempre haverá pessoas do seu lado para te guiar, controlar e falar o que você deve fazer, pensar ou se posicionar frente os diversos assuntos e problemas do mundo social, econômico, político e religioso. Portanto, a mediocridade será sempre a sua tábua de salvação. 

 

Quer ser bonzinho e santinho na convivência diária? Para esta formula eu também tenho o caminho mais curto e fácil. Do que que estou falando?  Da mediocridade, claro! Isso mesmo! Finja ser santo às 24 horas e seja medíocre. Seja bonzinho, tipo maria vai com as outras! Sendo assim, você vai ser um verdadeiro medíocre carimbado e será feliz para sempre! Quer dizer, feliz não, uma xerox da felicidade. Pelos menos você não será vítima de críticas e interrogações no trabalho, na família, na Igreja ou no círculo de amizade.  Portanto, a mediocridade é o melhor antídoto para a sua vidinha sem sal e sem açúcar.

 

Agora é o seguinte... Você quer ser autêntico, verdadeiro e único como todos deveria ser? Não tenha medo da cruz! denuncie os políticos revestidos de cordeiros- mas na verdade são os lobos modernos- que devoram os pobres. Não silencie diante de um seguimento comunitário com segundas intenções e grite contra uma religião fanática, mercadológica e interesseira. Fale para os quatro cantos que você encontrou Jesus Cristo e a sua Boa Nova, e não uma religião apenas de emoção, milagres, prosperidade, lambe-lambe, doce de coco ou suco de maracujá que fecha os olhos os excluídos. Não seja marionete e tenha a sua opinião sobre espiritualidade, política, economia e a própria vida. Enfim, não use máscaras e não tenha medo de ser você. E tenho dito!  

Renova-se o convite promovido pelo Dicastério para o Desenvolvimento Humano: de 22 a 29 de maio, no sétimo aniversário da encíclica do Papa Francisco, uma campanha de conscientização, iniciativas e boas práticas para enraizar a urgência de proteger a casa comum

 

Vatican News

A Semana Laudato si' está de volta, apresentando eventos com ressonância global, regional e local, cada um vinculado a um objetivo particular da encíclica Laudato si' e dos sete setores da Plataforma de Iniciativas Laudato si'. Todos eles serão focados no conceito de ecologia integral. Espera-se a participação de centenas de milhares de católicos para intensificar os esforços da Plataforma de Iniciativas: este é um novo instrumento que permite as instituições, as comunidades e as famílias de implementarem plenamente o Documento do Papa.

 

Biodiversidade, conflitos, crises climáticas, acolhida dos pobres

Entre os tópicos principais que serão explorados estão: como os católicos podem combater o colapso da biodiversidade; o papel dos combustíveis fósseis nos conflitos e na crise climática; como todos os cidadãos podem acolher os pobres na nossa vida diária. Entre os encontros programados, há um centralizado na possibilidade de dar força às vozes indígenas que terá a participação da Irmã Alessandra Smerilli, Secretária do mesmo Dicastério.

 

O programa: foco em aumentar a força das vozes indígenas

“Resposta ao Grito da Terra" é o tema da segunda-feira, 23 de maio, com um evento que será transmitido ao vivo da Universidade Católica Australiana de Roma. O tema será como reequilibrar os sistemas sociais com a natureza e contará com a participação do Padre Joshtrom Kureethadam: a sua contribuição será importante para dar força às vozes indígenas em vista da conferência da ONU sobre biodiversidade que será realizada este ano. O tema do dia seguinte será "Apoiar a ECO-mmunity: Acolher os pobres". A quarta-feira será dedicada à economia ecológica, analisada sob o aspecto dos combustíveis fósseis, da violência e da crise climática. Enquanto que na quinta-feira 26, o tema será a adoção de estilos de vida sustentáveis: investimentos coerentes com a fé. Na sexta-feira à tarde terá a pré-estreia de um documentário sobre a "Laudato si". No sábado à noite, será aprofundado o âmbito da espiritualidade ecológica. Por fim, no domingo 29 de maio será concluído com o tema da resiliência e empoderamento da comunidade como parte do caminho sinodal. Para as 15h deste dia conclusivo está previsto um encontro de oração.

 

Oradores internacionais

Os outros palestrantes serão: Theresa Ardler, Oficial de Ligação da Pesquisa Indígena na Universidade Católica Australiana, diretora e proprietária da Gweagal Cultural Connections; Vandana Shiva, fundadora da Navdanya Research Foundation for Science, Technology and Ecology na Índia e presidente da Navdanya International; Angela Manno, artista premiada; Greg Asner, diretor do ASU Centre for Global Conservation Discovery and Science.

O programa completo da Semana Laudato si' Week – está disponível no link LaudatoSiWeek.org – e inclui eventos em Uganda, Itália, Irlanda, Brasil e Filipinas e - com exceção do documentário - será transmitido nos canais Facebook e YouTube do Movimento Laudato si'. Fonte: https://www.vaticannews.va

Tito Brandsma

Letra e música: Frei Petrônio de Miranda, O. Carm

Convento do Carmo de Angra dos Reis/RJ. 08 de março-2022

 

1-A Igreja, ao Carmelo agradece, uma escola de santidade e oração. A Igreja, ao Carmelo enaltece: Fraternidade, Profetismo e Missão.

 

Tito Brandsma, Carmelita, Jornalista, nosso irmão. Com o Santo Escapulário vamos juntos em Missão.

 

2-Precisamos, em tempos difíceis, com Elias, na fonte beber. Nos porões, da humanidade, a verdade e a paz, sempre há de vencer.

 

3- No Carmelo, se pensar em Maria, é a nossa própria vocação. Comungar, todos os dias, pra chegar à contemplação.

 

4-A missão, dos carmelitas, não é grandes coisas fazer, mas, nas pequenas coisas, com grandeza, sempre viver.

 

5- A imprensa, depois dos templos, é o primeiro púlpito para ensinar. É a força da palavra e da verdade, contra a violência das armas a matar.

 

6- Pobre mulher, eu rezarei por você... Ainda que não saiba rezar. Pode pelo menos dizer: "Rogai por nós pecadores... Disse, com fé. 

 

7-Oração, não é um oásis no deserto da vida, mas é vida, em nosso viver. Meditando, na Boa Nova, seguindo Jesus Cristo para crescer. 

Frei Petrônio de Miranda, O. Carm

Convento do Carmo, São Paulo. 23 de março-2012.  

 

Vida? Que vida? No morro não se nasce, não tem passos, não tem laços, não tem braços. No morro tem fracasso, tem um grito, um suspiro, um lamento, um olhar e um destino já marcado, traçado, crucificado, condenado, amarrado e deletado.

 

No morro do Alemão ele nasceu. Era um dia de chuva. Os raios e trovões o acolheram naquela tarde quente. Sua mãe, Teresa Joaquina da Silva, vítima de um estupro com o traficante Pedrão da Pedra Lascada Quente, foi mais uma vítima das estatísticas violenta contra a mulher.   

 

Mulheres? No morro não tem mulheres. Lá tem objetos do prazer. Cobaia para traficar, bumbum para alegrar, cabelos para enfeitar, sorriso para enganar e carne para saborear. 

 

A família de Teresa era da Igreja do Apocalipse Ardente. Não importava se foi estupro ou não, para eles a criança tinha que nascer. Aborto era coisa do diabo e pecado mortal.

 

Pecado mortal? No morro não tem pecado. Todos querem sobreviver, lutar, ganhar a vida, cantar, ultrapassar os conceitos e pré-conceitos. Falar com Deus com o baseado na mão e dar glórias a Jesus com um tiro de escopeta. 

 

Mesmo assim, aquela aflita mãe tentou várias vezes matar o filho. Todas em vão. Foram nove meses gerando uma criança que seria vítima do destino ensanguentado e da falta de sorte. Destino por seguir os passos do pai e falta de sorte pôr a sua infância roubada.

 

Destino? Que destino! Destino se faz na raça, na luta e labuta, no tiro e no grito, no agito e na raça.

No dia treze de janeiro de 2013 nascia Pedrinho. Sua cor negra já trazia a marca da discriminação. Os seus olhos pareciam assustados, suas mãos inquietas eram como se já estivessem pedindo socorro.

 

Socorro? No morro não tem socorro, tem sorte, tem luta, labuta, corrida contra o tempo a morte e a sorte. Sim meu velho, no morro se vive o céu de manhã, o purgatório à tarde e o inferno à noite.

 

Por alguns anos aquela criança foi à alegria da casa. Teresona, nome de guerra da mãe, voltou a se encontrar com o traficante Pedrão. Entre a violência doméstica, o choro e a miséria, o menino crescia e convivia em um mundo cão.

 

Mundo cão? Cão é o dia cinzento, escuro e frio. Sim, frio nos becos, rua e vielas marcadas pelas balas berdidas, os sonhos partidos e as vidas cruzadas.

 

Aos oito anos Pedrinho desceu o morro. Mas para onde ele foi? Para a escola? Para o Parque de Diversões?  Não, não... Ele foi apresentado ao tráfico por seu pai. Religiosamente todos os dias às 13 horas, horário de pico na Praia do Leblon, lá estava o menino entre os carros, transeuntes e os turistas vendendo drogas, pedindo dinheiro e, muitas vezes, fazendo pequenos furtos.

 

Pai? Que pai? No mundo das drogas não se ama, não se perdoa, não se conversa, não se confia. Lá se troca, se vende, se mata, se consome e se despedaça.

 

Ao voltar para casa era recebido com gritos e a saudação das grandes mãos de sua mãe. Eram gritos de alegria? Sua mãe o abraçava? Não, não... Drogada e bêbada, aquela infeliz mulher xingava o filho e com as suas mãos batia no seu rosto e nas costas como se estivesse se vingando do estupro do seu pai. A cena se repetiu ao longo de cinco anos. Por sua vez, Pedrinho crescia cresceu revoltado e prometia a si mesmo que um dia daria um fim naquele inferno familiar.

 

Inferno? Inferno é ser negro, discriminado, favelado, sem ter nome, status social, uma família para amparar, uma mãe carinhosa para conversar e irmãos para brincar.

 

Finalmente naquela tarde, após roubar um turista na Lagoa, seguindo os mesmos passos do pai, Pedrinho comprou uma arma. Ao subir o morro estuprou uma mulher. A pobre jovem gritava, pedia socorro e como se estivesse voltado no tempo o menino viu nos olhos da vítima a sua própria mãe sendo violentada por seu pai. Passado e presente se encontraram naquela paranoia psicológica. O então adolescente, nos seus 17 anos não suportou a tal angustia e perturbação mental, pega o revólver calibre 38 de fabricação do exército e tira a sua própria vida.

 

Vida? Que vida? Foram 17 anos de morte. Sonhos despedaçados, alegria roubada, infância perdida, família falida e adolescência repartida. Sim meu caro leitor, céu e inferno, fogo e frio, destino e sorte. Tudo, tudo tinha parado no tempo e no espaço com aquele tiro fatal. Pedro da Pedra Lascada Quente- o pai ou Pedrinho- o filho? Não sei, só sei que as vidas se cruzaram, o temo parou, o morro sangrou e Teresa Joaquina da Silva- a mãe, até hoje nunca mais sonhou.

 

 

Arie G. Kallenberg

 

São muito poucos os textos dos primeiros autores Carmelitas que estabeleceram uma relação clara com a Ressurreição. Existe um texto notável escrito entre 1317 e 1345/1352 por John Baconthorpe, Laus Religionis Carmelitanae 48, pouco depois de 1312, o ano em que o Ordinário de Siberto de Beka foi prescrito para toda a Ordem. O capítulo 2 de Laus Religionis Carmelitanae aborda o modo como os Carmelitas mostram nos seus hábitos a graça da Ressurreição 49. Escreve Baconthorpe:

"Quando Cristo foi glorificado, o esplendor da sua divindade sobrepôs-se à sombra da sua humanidade – visto que a sua face resplandecia gloriosamente como o sol e as suas vestes eram brancas como a neve - como se durante algum tempo e de forma mística, envolvesse com carícias as vestes e as capas dos Carmelitas, mostrando a gloria da sua Ressurreição. Nessa mesma transfiguração apareceu o Pai dos Carmelitas, Elias, juntamente com Moisés. como testemunha da Lei, prefigurando misticamente a gloria e o esplendor da graça  [da Ressurreição]" 50.

Ao estudar mais profundamente o significado das duas cores (cinza e branco) dos mantos dos Carmelitas, no qual o branco simboliza o tempo de Graça e a união a Maria, conclui o capítulo com as seguintes palavras: "Então o apóstolo diz: 'Saiamos das trevas e lutemos com as armas de luz'. Desta forma, passamos do tempo da Graça para a glória da Ressurreição eterna" 51. Também no terceiro capítulo que trata o "Elogio do traje da Ordem dos irmãos Carmelitas" Baconthorpe estabelece uma relação entre o manto dos Carmelitas e a Ressurreição: "era então certo que os Carmelitas, que representavam tempos antigos com as suas roupas, deveriam agora mostrar a futura glória imaculada dos crentes de uma forma respeitável com os seus esplêndidos mantos. Isto acontece então no tempo de Graça". 52 Ele refere-se aqui ao facto de que o antigo manto de duas cores ter sido mudado para branco. Na sua opinião, esta mudança aconteceu graças à intervenção divina para que desse modo os Carmelitas pudessem "mostrar claramente aos crentes a paz eterna e a glória da Ressurreição" 53. De seguida diz que está a falar de uma ligação direta à liturgia dos Carmelitas que mais do que os outros celebram a Ressurreição do Senhor: "e particularmente estes irmãos celebram nas suas igrejas a liturgia da Ressurreição do Senhor, de um modo mais especial do que todos os outros 54. Este testemunho de John Baconthorpe pode ser considerado extraordinário por causa da relação explícita que estabelece entre a Ressurreição e a primeira liturgia Carmelita. Segundo os seus textos é óbvio que a liturgia da Ressurreição não é mera recordação de um acontecimento histórico, mas antes uma realidade dinâmica que passou da liturgia até ao âmago do pensamento e da vida espiritual dos Carmelitas medievais. Apesar de, até hoje, nenhum dos estudos de outros textos espirituais medievais ter produzido pontos de contato entre os elementos referidos, ainda assim estou convencido que ao longo dos séculos a influência da liturgia da Ressurreição, consciente ou inconscientemente, deixou a sua marca na maneira de pensar e de agir dos Carmelitas, uma vez que tinha de ser celebrada em todos os seus mosteiros desde o início do século XIV até ao século XVI. Num estudo recente sobre a Regra dos Carmelitas, Kees Waaijman55 abordou o tema da Ressurreição, não diretamente em termos da liturgia, mas dentro do contexto da Regra.

Seguem-se algumas afirmações da sua obra. A primeira citação refere-se ao capítulo décimo da Regra, capítulo que trata do oratório e da prática da união.

"Os antigos monges do deserto celebravam a Eucaristia uma vez por semana. No século XIII era diferente. A maioria das comunidades religiosas juntava-se todos os dias para a Eu­caristia. A reunião diária dá uma estrutura rítmica à vida. O facto de se juntarem diariamente, de manhã cedo, ao crepúsculo, dá ao dia um ritmo básico. O nascer do sol que conquista a noite deve ter sido intuitivamente entendido como sinal do Ressuscitado” 56

O encontro dos irmãos tinha uma dimensão litúrgica. O facto de virem todos juntos para a Eucaristia quase lembra a Ressurreição:

"A Eucaristia, afinal de contas, começa onde nós permitimos que o Senhor nos una num só. Ele convida-nos a escutar a sua palavra para que ela nos toque, forme o desejo no nosso coração e nos faça procurar a sua presença. Ele convida-nos a tornar o seu corpo e sangue, para nos lembrarmos d'Ele e nos identificarmos com Ele, para que entremos na sua morte e sejamos encontrados pelo próprio Deus.

A Eucaristia radicaliza o ato de sair de nós próprios: não somos nós quem vimos: mas somos conduzidos, conduzidos para a vastidão do Mundo para a profundeza da Morte para sermos encontrados, para sermos reunidos, para sermos unidos.

Esta é a perspectiva mística do facto de se reunir para a celebração da Eucaristia. Este movimento místico está lindamente representado através das palavras ‘de manhã cedo’, palavras que evocam a marcha silenciosa de Maria Madalena até ao túmulo: 'No primeiro dia da semana, ainda era escuro, Maria de Mágdala foi ao túmulo de manhã cedo...' (João 20:1). De manhã cedo os Carmelitas reúnem-se no oratório, e ninguém ocupa o centro. Como a noiva do Cântico dos Cânticos, também eles, enquanto ainda é noite, procuram Aquele a quem as suas almas amam.

À procura do amor através da escuridão da noite segue-se a experiência da Páscoa na escuta da voz suave: 'Miriam', o teu querido nome pronunciado por aquele que é amado pela tua alma. Segue-se a resposta não menos terna: 'Rabbouni'. Esta é a Páscoa do amor, a profundidade mística da Eucaristia. Aqui esta o coração do Carmelo". 57

No seu comentário sobre capítulo da Regra que trata o capítulo semanal, Kees Waaijman continua as suas reflexões sobre o Do­mingo, como o dia da celebração da Ressurreição:

"Identidade e reciprocidade soam mais profundamente quando colocadas no contexto do amor do Ressuscitado. A Eucaristia no dia da Ressurreição, a referência ao amor de Maria Madalena, a reunião dos apóstolos no primeiro dia da semana e o aparecimento no meio deles d'Aquele que ressuscitou - tudo isto centraliza o capítulo no contexto do amor d'Aquele que ressuscitou e se entregou na sua Palavra, no seu Corpo e Sangue…”58.

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46 Kallenberg, Fontes. 292.

 47 Idem, op. cit., 56.

48 Adrianus Staring, Medieval Carmelite Heritage. Roma, Institutum Carmelitanum 1989, 176-177.

49Adrianus Staring, Medieval Carmelite Heritage. 249: Capitulum II, Quod Carmelitae ostendunt in habitu gratiam resurrectionis.

50 Adrianus Staring, Medieval Carmelite Heritage, 249: “Cum etiam ipse Christus transfiguratus est, super umbram humanitatis suae claritas apparuit deitatis, quia resplenduit facies eius sicut sol, et vestimenta eius facta sunt alba sicut nix, ac si mystice habitum Carmelitarum et cappam pro tempore, quasi super umbram <humanitatis> gloriam resurrectionis praemonstrando, baiularet. In  ipsaque transfiguratione pater Carmelitarum Elias cum Moyse apparuit velut Legis testes, et gloriam ac splendorem gratiae mystice praefigurantes".

51 Adrianus Staring, Medieval Carmelite Heritage, 251: Unde apostolus: "Abiiciamus opera tenebrarum et induamur arma lucis". Et sic de tempore Gratiae pervenitur ad gloriam resurrectionis perpetuae.

54 Adrianus Staring, Medieval Carmelite Heritage, 251: Et ipsi quidem fratres officium resurrectionis Dominicae in ecclesia ceteris specialius exercent.

55 Kees Waaijman. De mystieke ruimte van de Karmel. Een uitleg van de Karmelregel. Kok Kampen-Carmelitana Gent. 1995. 230 pp.

56 Kees Waaijman. De mystieke ruimte van de Karmel, 100.

52 Adrianus Staring, Medieval Carmelite Heritage, 251: Dignum igitur fuit ut Carmelitae, qui tempora priora cum indumenti speculo monstrabant, ordinatim futuram resurrectionis gloriam fidelium, non habentem maculam, cum cappa splendida praesentarent. Unde sub tempore Gratiae.

53 Adrianus Staring, Medieval Carmelite Heritage, 251: ut sic pacem aeternam et resurrectionis gloriam...palam ostenderent  fidelibus

 

Arie G. Kallenberg

 

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38 Sibertus de Beka, Ordinaire, 9.

39 Joannes Cassianus, Collationes XXI, 11, 20; citado em Kees Waaijman, De Mystieke ruimte van de Karmel. Een uitleg van de Karmelregel. Kok Kampen-Carmelitana, Gent, 1995, 124.

40 Louis van Tongeren, Exaltio crucis, passim.

 

No livro Exaltatio Crucis 40, Louis van Tongeren descreve como as diferentes comemorações à volta da Cruz, especialmente a da Descoberta e a da Exaltação da Cruz, se desenvolveram ao longo dos séculos. Acerca deste assunto escreve: "A informação mais antiga relata uma festa para a dedicação anual de duas igrejas erguidas em Jerusalém em locais sagrados: a Basílica dos Mártires perto do Gólgota e (...) a chamada Igreja do Santo Sepulcro ou Igreja da Ressurreição" 41.

No princípio do século quarto, "de acordo com a tradição enraizado principalmente na lenda, Helena, a mãe de Constantino, o Grande, encontrou a cruz na qual Jesus morreu em Jerusalém. No lugar onde a encontraram depressa edificaram uma basílica em memória da cruz. Essa basílica dos Mártires foi inaugurada em 335 e pouco tempo depois transformou-se num grande complexo, enquanto, por cima do túmulo de Jesus que estava situado perto da Basílica foi construída a igreja da Ressurreição (...)" 42. Numa primeira fase Eusébio de Cesareia estabeleceu uma ligação entre a cruz e a Ressurreição. Dado que ele "substituiu a cruz pelo túmulo... Do ponto de vista de Eusébio a Ressurreição constituiu o coração e a alma da fé e ele desejava relacionar o túmulo com Constantino. Era seu objetivo, acima de tudo, acentuar a ressurreição e o túmulo, e não a cruz, porque queria principalmente realçar a divindade de Cristo e não o seu sofrimento" 43. Não demorou muito até que a cruz fosse vista como a cruz triunfante por meio da qual veio a salvação e onde Cristo reina como um rei 44. In hoc signo vinces: neste símbolo vencerás. Isto foi assim durante séculos.

Por volta de 1200 "deu-se no Ocidente uma mudança dramática na maneira de ver a cruz. A atenção centrou-se no Jesus histórico. Como resultado do trabalho de Bernardo de Claraval (1090-1153) e Francisco de Assis (1181/1182-1226) o modo de entender a cruz sofreu uma mudança decisiva. A ênfase já não era no Cristo crucificado vencedor da morte, mas no Cristo terrestre, que sofreu e morreu na cruz. Graças a uma interpretação realista de Mat. 10, 38 e 16, 24 relativa ao carregar a cruz à imitação de Cristo, fundamental era a identificação com o sofrimento de Cristo. O Cristo que viveu e triunfou na cruz da gloria deu lugar a um Cristo que sofreu uma morte dolorosa na cruz' 45.

A Via-Sacra voltou a ser realizada no Coliseu de Roma, com a participação de milhares de fiéis. Um momento tocante foi representado por duas mulheres, uma ucraniana e outra russa, que juntas carregaram a Cruz na XIII Estação, que narra a morte de Cristo.

 

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

A Paixão de Cristo encarnada na vida das famílias: o Coliseu de Roma concentrou hoje as alegrias e cruzes dos lares, durante a Via-Sacra desta Sexta-feira Santa, com a participação de dez mil pessoas.

Adentrando na cotidianidade de pais, avós e filhos, foram tocados temas da atualidade, como a educação, a pobreza, a migração, a pandemia, a doença e também a guerra. De fato, um dos momentos mais tocantes foi vivido durante a XIII Estação, que narra a morte de Jesus. Neste momento, a Cruz é carregada por duas famílias, uma ucraniana e outra russa, em especial por duas mulheres amigas que trabalham juntas em Roma. A câmera flagra o olhar de cumplicidade entre elas, enquanto o Pontífice cobre com a mão o seu rosto em profunda oração. 

O texto da meditação foi modificado no decorrer da celebração, para dar mais espaço à oração e ao silêncio, como explicou a Sala de Imprensa da Santa Sé: "Diante da morte, o silêncio é mais eloquente do que as palavras. Detemo-nos, portanto, num silêncio orante e cada um, no coração, reze pela paz no mundo."

Ao final das 14 estações, o Papa Francisco recitou a seguinte oração:

 

Pai misericordioso, que fazeis nascer o sol sobre bons e maus, não abandoneis a obra das vossas mãos, pela qual não hesitastes em entregar o vosso único Filho, nascido da Virgem,

crucificado sob Pôncio Pilatos, morto e sepultado no coração da terra, ressuscitado dentre os mortos ao terceiro dia, aparecido a Maria de Magdala, a Pedro, aos outros apóstolos e discípulos, sempre vivo na santa Igreja, o seu Corpo vivo no mundo.

 

Mantende acesa nas nossas famílias a lâmpada do Evangelho, que ilumina alegrias e sofrimentos, fadigas e esperanças: cada casa espelhe o rosto da Igreja, cuja lei suprema é o amor. Pela efusão do vosso Espírito, ajudai a despojar-nos do homem velho, corrompido pelas paixões enganadoras, e revesti-nos do homem novo, criado segundo a justiça e a santidade.

 

Segurai-nos pela mão, como um Pai, para que não nos afastemos de Vós; convertei ao vosso coração os nossos corações rebeldes, para que aprendamos a seguir desígnios de paz; fazei que os adversários se deem as mãos, para que saboreiem o perdão recíproco;

desarmai a mão levantada do irmão contra o irmão, para que, onde há ódio, floresça a concórdia.

 

Fazei que não nos comportemos como inimigos da cruz de Cristo, para participar na glória da sua ressurreição. Ele que vive e reina convosco, na unidade do Espírito Santo, para sempre. Amém. Fonte: https://www.vaticannews.va

Orani Joao, Cardeal Tempesta, O. Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

 

Esta semana – a Semana Santa – é um tempo propício para meditarmos, de modo mais especial, sobre os últimos acontecimentos da vida de Jesus Cristo, Nosso Senhor, em sua entrega plena de amor por nós.

Reflitamos sobre o início de tudo ou o início do fim da vida pública de Cristo neste mundo. É a história de um inocente traído, preso sem direito à ampla defesa, e abandonado pelos seus… Isso é o que vemos se olharmos, cruamente, para os relatos da prisão, sem levarmos em conta a total entrega de Jesus por você e por mim, naquela noite, depois de lavar os pés dos Apóstolos e querer ficar conosco, de modo perpétuo, na Eucaristia.

O primeiro ponto que nos chama a atenção é a traição de Judas, um dos doze, que sempre esteve com o Senhor. Por 30 moedas de prata ele entrega o Mestre e amigo com quem convivera por três anos e de quem fora discípulo. No meio dos discípulos, há um traidor…

O Senhor que é verdadeiro Homem também é verdadeiro Deus e, por isso tudo sabe, de modo a prever: “Um de vós há de me trair”. Cada um dos doze não apontou para o irmão, mas, ao contrário, examinou a própria consciência: “Acaso, serei eu, Senhor? ”, até que o verdadeiro culpado surge. É Judas. Pega o pão, come e sai para concretizar sua traição nefasta e vergonhosa. Volta com os soldados – que também cumpriam ordens – e ainda tem a desfaçatez de dar um beijo no Senhor, que o recrimina docemente: “Judas, com um beijo traís o Filho de Deus? ”

Tudo, porém, já estava feito e o desenlace, que já conhecemos, será celebrado nos próximos dias. O desespero não constrói nada de bom, só leva a desatinos, como o de Judas. Enforcou-se! Seu psicológico não aguentou tamanha covardia para com Aquele que só fez o bem a todos. Peçamos, aqui, duas graças a Deus: a de ser como os Apóstolos, na hora da Ceia, antes de acusar alguém, examinar primeiro a nossa consciência: “que fiz eu de mal, Senhor? Como posso mudar de vida?…” Mas também a de não ser como Judas que trai o Senhor, não mais por 30 moedas, mas, talvez, por um cargo, por um status social, pelo poder etc.

O segundo ponto desta meditação é o despojamento de Cristo totalmente humano ali no Horto das Oliveiras. Quando Pedro corta a orelha do servo do chefe de polícia, Jesus cura o ferido e repreende o líder do Colégio Apostólico mandando-o guardar a espada. Se não quisesse dar a vida por nós, pediria ao Pai e Ele mandaria legiões de anjos que, em pouco tempo, reduziria as centúrias de soldados a cinzas. Mas não é hora da grandeza, e, sim, do despojamento total.

Charles de Foucauld, assassinado em 1916, no Marrocos, Beato da Igreja, aprendeu com o Pe. Huvelin, seu diretor espiritual, uma verdade que bem se aplica a este momento da vida de Jesus e da nossa: “Aprendamos uma coisa, dizia o padre, devemos buscar sempre o último lugar, mas Cristo já o ocupou de tal maneira que só nos resta o penúltimo”. Ora, de Jesus aprendamos a superar a violência, derramando mais amor e nunca (nunca) sangue inocente.

O terceiro ponto, dentro da dramática prisão de Jesus, é a negação covarde de Pedro. Esteve sempre com o Senhor, tem o primeiro lugar entre os doze, fala, em sua teimosia, que vai morrer no lugar de Jesus, mas, na hora decisiva, nega o Mestre como o próprio Senhor previra. “Eu não conheço esse homem”. Que fracasso o de Pedro e também o nosso quando o Evangelho nos chama a dar testemunho de nossa fé com sadia radicalidade. Falamos também: “Estou pronto a morrer pelo Senhor”, mas depois O negamos, nem sempre somos fiéis até o fim.

É preciso, contudo, lembrar que, longe de entrar em um desespero angustiante, Pedro se arrependeu de sua covardia e chorou amargamente. Depois da Ressurreição, reafirmou por três vezes seu amor a Cristo, assumiu a sua função, pregou, de modo destemido, o Evangelho e morreu mártir, em Roma, crucificado de cabeça para baixo. Não se achou digno de falecer como Jesus. Aprendamos com Pedro, não a teimosia nem muito menos a covardia, mas o arrependimento salutar que perdoa as nossas faltas e restitui a nossa dignidade perdida.

O quarto ponto é o julgamento de Jesus em si. Quem O julga tenta se livrar do pecado de condenar um inocente, enquanto Jesus assume os pecados da humanidade. Eis a oposição entre a humildade do Deus-Homem e a arrogância de alguns homens que se julgam deuses e aptos a condenar à morte um inocente. Sem entrar nos detalhes longos do que ocorreu, pois os veremos na Sexta-feira Santa, na Celebração da Paixão, deixo um ponto para reflexão.

Os acusadores e condenadores de Jesus sabem que prendem e condenam um homem puro e soltam Barrabás, um malfeitor. No “calor” do momento pedem que o sangue de Cristo caia sobre eles em forma de maldição. Contudo, Jesus não paga o mal com o mal, mas, sim, com o bem. Retribui-lhes com a bênção de seu sangue redentor, ela dá a cada pecador, sinceramente arrependido, a graça do perdão e da vida eterna. Pensemos nisso. Amém! Fonte: https://catequizar.com.br

 

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba (MG)

 

Essa Semana não é diferente daquelas de outros anos, com abertura no Domingo de Ramos, na entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, capital da fé do Povo de Deus daquele tempo. Os ramos trazidos pelas pessoas representam a alegria pela presença daquele, apresentado pelos profetas, como a esperança para todos. Ao lado da esperança, estava a preocupação das autoridades de Jerusalém.

Na visão comum da sociedade de então, o rei, que ia nascer, profetizado na literatura do Antigo Testamento, viria como sendo o “salvador da pátria”, com capacidade além do que tinham os reis de seu tempo. Essa ideia causava espanto para as autoridades, e isso foi confirmado quando Jesus é acolhido pela multidão quando entrou, montado em um jumento, na cidade de Jerusalém.

A profundidade do mistério que envolve Jesus Cristo escapa aos olhos da cultura moderna, carente de fé. Não é fácil entender que, na paixão e morte do Senhor, estava o germe da vida cristã, culminando com a Ressurreição, com a Páscoa e com uma vida nova. Acompanhar esse itinerário da Paixão de Cristo na Semana Santa, em novos tempos, é ressignificar a dimensão do mistério da vida.

Já são mais de dois mil anos de cristianismo e os objetivos proféticos da vinda e da vida de Cristo ainda não atingiram o que fora proposto como aliança de Deus com o mundo. O mistério de Deus é colocado em segundo plano, ascendendo cada vez mais as práticas de tudo aquilo que degrada a dignidade da vida humana e o desrespeito para com a natureza, criada para o bem de todos.

A sensibilidade da Semana Santa toca no coração de quem admira Jesus como Deus e Homem, aquele que se despojou de todos os tipos de dignidade próprios de um rei. Foi realmente um caminho difícil, de martírio e de morte, assumido com liberdade e consciência clara quanto aos objetivos desse projeto do Pai. Foi como a semente plantada num campo, que morre para gerar nova vida.

O martírio vem acontecendo na vida de muita gente. É só olhar para a situação dos milhares de refugiados dos últimos tempos. No momento o mundo está sendo sensibilizado diante dos migrantes venezuelanos, dos ucranianos forçados a sair de seu país, sem rumo e sem perspectiva de futuro, buscando refúgio em outros países. A Paixão de Cristo, da Semana Santa, se repete na vida das pessoas. Fonte: https://www.cnbb.org.br

 

LÍLIAN BERALDOCOLABORAÇÃO PARA ECOA, DE BRASÍLIA (DF)

Ajudar o mundo a ser um lugar melhor para todos sempre foi o sonho de frei David dos Santos, 69. A busca por uma sociedade mais igualitária ganhou forma e objetivo em um momento crucial de sua vida: descobrir-se negro no Brasil. Foi a partir dessa autopercepção - e de tudo o que ela carrega - que frei David pautou sua vida e militância.

Ainda nos anos 1960, durante a ditadura militar, o jovem David já se angustiava por ver o sofrimento do povo brasileiro com crescimento de pessoas empobrecidas e do processo de favelização. Uma pergunta não saía de sua cabeça: "qual a minha missão nisso tudo?"

À época, ele avaliou o cenário e pensou que poderia ajudar o país sendo diplomata. "Fui para o Itamaraty, quando ele ainda era no Rio de Janeiro, pedir informação sobre o que fazer para ser diplomata. Lá, a pessoa que me atendeu foi bastante grosseira e falou que não conhecia diplomata negro. Falei: mas eu quero ser diplomata negro. Qual o problema? Não é um espaço público? E ele: 'Você fala inglês? Fala francês? Alemão? Esse espaço não é para você'."

A porta fechada foi decisiva para que ele mudasse os rumos profissionais, mas não para abandonar o sonho de transformar o planeta.

A ditadura militar se tornava mais e mais violenta e o jovem começou a pensar em alternativas e instituições que pudessem enfrentar o poder vigente, mas com menos danos pessoais. Ele encontrou na Igreja Católica a aliada que procurava e foi estudar no Seminário de Petrópolis (RJ).

Eu quis ser frei para ajudar os pobres sem ser classificado pela ditadura como comunista. Foi o meu processo de doação radical a essa causa. Uma busca de como servir ao mundo.

Frei David, ativista e fundador da Educafro

 

Cursinho para pobres e negros

Durante um evento para adolescentes negros na Baixada Fluminense, frei David perguntou quantos da plateia estavam se preparando para entrar no ensino superior. A resposta foi muito diferente da que ele esperava. Apenas duas pessoas das mais de 100 presentes tinham a intenção de seguir os estudos.

"O passo seguinte foi criar o pré-vestibular comunitário para jovens pobres poderem se preparar para disputar o espaço com os ricos e fazerem a sua faculdade", conta. Surgiu assim a Educafro, ONG que há mais de 30 anos ajuda jovens pobres, em especial negros, a entrarem em universidades em todo o país.

Com sede em São Paulo, a Educafro já garantiu o acesso ao ensino superior a cerca de 100 mil pessoas e esteve à frente de importantes conquistas da população preta e parda, como a Lei de Cotas nas universidades.

 

Sementes e vidas transformadas

Um dos muitos alunos a passar pelos bancos da ONG foi o assessor parlamentar Ewerton da Silva Carvalho, 30. "Quando eu cheguei, não tinha perspectiva nenhuma de vida. Minha família é muito pobre, não tinha condição de me ajudar nem com passagem", relembra o advogado.

"A Educafro me ajudou a tornar real esse sonho. Foi lá que eu descobri cursinhos comunitários, a existência de políticas de cotas, a entender sobre política. E isso me ajudou a entrar na faculdade sabendo qual era o meu lugar na sociedade", conta Ewerton, que fez cursinho pré-vestibular na instituição e conseguiu uma bolsa de 100% no Programa Universidade para Todos (Prouni).

O advogado credita sua formação profissional e humana aos trabalhos de frei David. "Considero o frei David como um pai. Uma pessoa que moldou o meu caráter todos esses anos. Aprendi muitas coisas com ele. Concordei e discordei", conta Ewerton. A passagem pelo projeto foi tão importante que hoje atua no setor jurídico da Educafro e representa a instituição no Conselho Nacional de Segurança Pública e Defesa Social do Ministério da Justiça.

Também formada em direito, Keit Lima, 30, afirma que frei David é uma das pessoas mais comprometidas com a equidade racial e com a diminuição da desigualdade no Brasil. "Falar sobre a Educafro é falar sobre comprometimento e coletividade. É uma organização que transforma vidas, e eu sou uma dessas vidas", afirma Keit, que conheceu a Educafro em 2009 e foi aluna da ONG.

 

Acesso à educação e oportunidades de trabalho

Outra linha de atuação da Educafro é a luta pela garantia de um sistema de cotas, não apenas na educação, mas em diversas áreas. No início dos anos 2000, quando as ações afirmativas começaram a ser pensadas no Brasil, frei David era voz potente em prol da população negra e presença constante nos debates e na imprensa.

As primeiras experiências de cotas raciais começaram a ser implantadas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), em 2003, e na Universidade de Brasília (UnB), em 2004.

Quase uma década após a criação das primeiras políticas de reserva de vagas para pretos e pardos no ensino público brasileiro, a Lei de Cotas (Lei 12.711/2012) foi aprovada com abrangência nacional, incluindo como critério de reserva de vagas não só a raça como a condição socioeconômica.

"Lotar a votação de negros e negras gritando por seus direitos foi a grande diferença. Se deixasse só na mão de deputados e senadores, até hoje, não teria cota para negro", lembra David das caravanas de jovens até o Congresso Nacional.

Com a conquista das cotas no ensino superior e o consequente aumento de pretos e pardos com graduação, a Educafro estendeu sua linha de atuação para cursinhos preparatórios para concursos de grande visibilidade econômica e social.

"Temos preparatório para concursos do MPF, da Defensoria, de cartórios, de magistratura e assim vai. Atendendo as pessoas que já ganharam reforço da Educafro pelas cotas, na graduação, e agora precisam de reforço, via curso, para entrada em vagas de alta demanda em que não se tem negros", explica. Para essa empreitada, frei David pede apoio de instituições e entidades para que ofereçam bolsas em parceria com a Educafro.

 

Vitória recente

Na luta incansável para inclusão de pretos, pardos e pobres, frei David comemora uma conquista recente: a aprovação, pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), das cotas para afrodescendentes nos concursos de cartórios. Segundo ele, foram 3 anos de batalhas até aprovação da reserva mínima de 20% das vagas para negros. A resolução é válida para os cartórios nos 27 Tribunais de Justiça do Brasil.

A aprovação não escapou de polêmicas e, segundo ele, escancara o racismo ainda presente na sociedade. "No edital do concurso de cartório para o Tribunal de Justiça de São Paulo, por exemplo, estava expresso que os pobres - e os negros são pobres - tinham só um dia para fazer a inscrição com isenção de taxa. Quem é rico tinha 30 dias para fazer a inscrição. Nós, negros, somos as grandes vítimas dessa exclusão. O racismo estrutural está aí", critica. No Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 56,2% da população se declara negra.

 

Processos como arma contra racismo

Em uma sociedade estruturalmente racista, a Educafro busca novos mecanismos para combater essa violência direcionada à população negra. Depois de muitos anos de estudo sobre o tema, a entidade compreendeu que uma importante frente de trabalho é a abertura de processos por danos coletivos - uma prática pouco usual no Brasil.

"Tinha um episódio de racismo, fazíamos passeata, chorávamos e acabava por ali. Agora, tem também o processo contra o causador do racismo pedindo danos coletivos", afirma.

Para frei David, essa é uma importante batalha que mostra o amadurecimento da população afrodescendente brasileira. "É mais uma maneira de mostrar que o povo negro está atento e com mais consciência de direitos." Fonte: https://www.uol.com.br

 

Fortes chuvas em Angras dos Reis causam deslizamentos em Angra dos Reis; levantamento parcial elaborado por técnicos da prefeitura em 2019 identificou que mais de 14,6 mil imóveis estão em áreas de risco na cidade Foto: Prefeitura de Angra dos Reis/via Reuters - 02/04/2022

Entre os bairros mais ameaçados, está Monsuaba (com 501 edificações), o mais afetado pela chuva que atingiu a Costa Verde do Rio nos últimos dias, causando deslizamentos e mortes

 

Priscila Mengue, O Estado de S.Paulo

Levantamento parcial elaborado por técnicos da prefeitura de Angra dos Reis em 2019 identificou que mais de 14,6 mil imóveis estão em áreas de risco. Entre os bairros mais ameaçados, está Monsuaba (com 501 edificações), o mais afetado pela chuva que atingiu a Costa Verde do Rio nos últimos dias, causando deslizamentos e mortes.

O mapeamento não informa a classificação de risco dos locais (de baixo a muito alto). Segundo o documento, a avaliação foi feita in loco, por meio de vistorias em conjunto com a Defesa Civil.

Em 2013, o Departamento de Recursos Minerais (DRM-RJ) publicou o Diagnóstico Sobre Risco a Escorregamentos no Estado do Rio, no qual apontava Angra dos Reis, Niterói, Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo como as cidades com mais setores de risco iminente. Petrópolis, na região serrana, teve a maior tragédia da sua história neste ano, com 234 mortos após um temporal recorde em fevereiro.

(As regiões têm) Características que apontam para uma possibilidade muito alta de ocorrência de escorregamentos com danos: vertentes íngremes, amplitudes topográficas expressivas, maciços rochosos fraturados, depósitos de tálus e solos residuais dispostos diretamente sobre rocha, combinadas com ocupação urbana densa e vulnerável”, aponta o documento do DRM-RJ.

O documento reconhece que desastres não são um risco só quando há eventos extremos. Ele ressalta que há locais com “alta probabilidade de ocorrência de escorregamentos com danos, mesmo num cenário de chuvas não excepcionais, ou seja, chuvas regulares que ocorrem todos os anos, principalmente no verão”.

O Plano de Emergência do Estado, de 2020, admite “grande dificuldade de realocar e remover grandes contingentes populacionais em uma região de topografia acidentada”, como a Região Serrana, Costa Verde, Sul Fluminense, entre outras. Isso, continua o documento, é “um dos maiores entraves a qualquer política que vise ou venha a objetivar a prevenção de desastres naturais.” Cientistas dizem que eventos climáticos extremos ficarão cada vez mais frequentes com o aquecimento global.

 

Levantamento de 2011 aponta 318 casas em risco em Paraty

Uma carta geológica elaborada pelo Departamento de Recursos Minerais (DRM-RJ) em 2011 apontou 38 setores de "risco iminente a escorregamentos" em Paraty, incluindo 318 casas, além de outros imóveis, como escolas, pousadas e bares. Na época, a estimativa era de que 1.274 pessoas estavam “sob risco”.

No Plano de Contingências do Estado do Rio de Janeiro Para Chuvas Intensas - Verão 2021/2022, é destacado que "desastres no Estado do Rio de Janeiro têm ocorrido com frequência e intensidade e acompanham a expansão desordenada das áreas urbanas e também devido às mudanças climáticas globais". "As necessidades estruturais, humanas e ambientais, bem como as políticas públicas que, em geral, não contemplam de forma eficiente o tema desastre, refletindo no aumento do número de mortos, feridos, causando danos e prejuízos públicos e privados vultosos, insegurança de investidores e estagnação econômica do Estado." Fonte: https://brasil.estadao.com.br