"É apenas através da fé na ressurreição que podemos olhar para o abismo da morte sem nos deixarmos dominar pelo medo. Não só: mas também podemos atribuir à morte um papel positivo", disse Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira.

 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

"São José, padroeiro da boa morte" foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira (09/02).

Neste encontro semanal com os fiéis, Francisco "aprofundou a devoção especial que o povo cristão sempre teve por São José como padroeiro da boa morte". Essa devoção nasceu "do pensamento de que José morreu com a ajuda da Virgem Maria e de Jesus, antes que ele deixasse a casa de Nazaré". "Não há dados históricos", ressaltou o Papa, "mas como não se vê mais José na vida publica se pensa que ele morreu em Nazaré com a família e que Maria e Jesus o acompanharam na morte".

 

A pandemia de coronavírus colocou a morte em evidência

Amados irmãos e irmãs, talvez algumas pessoas pensem que esta linguagem e este tema sejam apenas uma herança do passado, mas na realidade a nossa relação com a morte nunca se relaciona com o passado, mas sempre com o presente. O Papa emérito Bento XVI disse nesses dias atrás, falando de si mesmo, que ele está diante da porta sombria da morte. É bonito agradecer ao Papa por ter essa lucidez aos 95 anos de dizer que está diante da porta sombria da morte. Um bom conselho ele nos dá! A chamada cultura do “bem-estar” procura remover a realidade da morte, mas de uma forma dramática a pandemia do coronavírus voltou a colocá-la em evidência. Foi triste, morte para todo lado. Muitos irmãos e irmãs perderam entes queridos sem poderem estar ao lado deles, e isto tornou a morte ainda mais difícil de aceitar e de elaborar. Uma enfermeira me disse que estava diante de uma senhora idosa que estava morrendo com Covid e ela disse que queria saudar os seus parentes antes de morrer. A enfermeira corajosa pegou o celular e ligou para os familiares. A ternura daquela despedida!

Segundo Francisco, "procuramos de todas as maneiras banir o pensamento da nossa finitude, iludindo-nos em pensar que podemos retirar o poder da morte e afastar o temor. A fé cristã não é uma forma de exorcizar o medo da morte, pelo contrário, nos ajuda a enfrentá-la. Antes ou depois todos nós passaremos por aquela porta".

 

O sudário não tem bolso

A seguir, o Papa disse que "verdadeira luz que ilumina o mistério da morte provém da ressurreição de Cristo. Existe uma certeza, Cristo ressuscitou, Cristo está vivo entre nós e esta luz nos espera atrás daquela porta sombria da morte".

"Prezados irmãos e irmãs, é apenas através da fé na ressurreição que podemos olhar para o abismo da morte sem nos deixarmos dominar pelo medo. Não só: mas também podemos atribuir à morte um papel positivo. De fato, pensar na morte, iluminada pelo mistério de Cristo, nos ajuda a olhar para a vida com novos olhos", disse ainda o Papa, acrescentando:

Nunca vi atrás de um carro fúnebre um caminhão de mudanças! Iremos sozinhos, sem nada no bolso do sudário, porque o sudário não tem bolso. Não tem sentido acumular se um dia morreremos. O que precisamos acumular é caridade, a capacidade de partilhar, de não ficar indiferentes às necessidades dos outros. De que serve discutir com um irmão, uma irmã, um amigo, um membro da família, ou um irmão ou irmã na fé, se um dia morreremos? De que adiante ficar bravo, ficar bravo com os outros? Diante da morte, tantas questões são redimensionadas. É bom morrer reconciliado, sem deixar ressentimentos e sem arrependimentos! Todos nós caminhamos em direção àquela porta.

 

Não podemos evitar a morte

Segundo Francisco, "para nós cristãos permanecem firmes duas considerações. A primeira é que não podemos evitar a morte, e por esta razão, depois de ter feito tudo o que era humanamente possível para curar a pessoa doente, é imoral envolver-se numa obstinação terapêutica". A segunda consideração diz respeito à qualidade da própria morte, da dor, do sofrimento. "Devemos ser gratos por toda a ajuda que a medicina procura dar, para que através das chamadas “curas paliativas”, cada pessoa que se está a preparar para viver a última parte da sua vida o possa fazer da forma mais humana possível. Contudo, devemos ter o cuidado de não confundir esta ajuda com desvios inaceitáveis que levam à morte. Devemos acompanhar as pessoas até à morte, mas não provocar a morte nem ajudar o suicídio. Saliento que o direito a cuidados e tratamentos para todos deve ser sempre uma prioridade, de modo a que os mais frágeis, particularmente os idosos e os doentes, nunca sejam descartados. A vida é um direito, não a morte, que deve ser acolhida, não administrada. E este princípio ético diz respeito a todos, e não apenas aos cristãos ou fiéis".

 

Os idosos são o tesouro da humanidade

A seguir, o Papa sublinhou um problema social, mas real: "planejamento". "Não sei se esta é a palavra certa", disse ele, "mas acelerar a morte dos idosos. Muitas vezes vemos numa determinada classe social que os idosos, por não terem meios, recebem menos medicamentos do que precisariam, e isto é desumano: isto não os ajuda, isto é levá-los à morte mais rapidamente. Isso não é humano nem cristão".

Os idosos devem ser tratados como um tesouro da humanidade: eles são a nossa sabedoria. Se eles não falam, e se são sem sentido, são o símbolo da sabedoria humana. São aqueles que nos precederam e nos deixaram muitas coisas bonitas, muitas lembranças, muita sabedoria. Por favor, não isole os idosos, não acelere a morte dos idosos. Cuidar de um idoso tem a mesma esperança que cuidar de uma criança, porque o início e o fim da vida é sempre um mistério, um mistério que deve ser respeitado, acompanhado e cuidado.

"Que São José nos ajude a viver o mistério da morte da melhor maneira possível. Para um cristão, a boa morte é uma experiência da misericórdia de Deus, que se aproxima de nós, até naquele último momento da nossa vida", concluiu o Papa. Fonte: https://www.vaticannews.va 

"Todos os dias o barco de nossa vida deixa as margens de casa para navegar no mar das atividades cotidianas; todos os dias tentamos "pescar distante", cultivar sonhos, levar adiante os projetos, viver o amor em nossas relações. Mas, muitas vezes, como Pedro, vivemos a "noite de redes vazias", a desilusão de trabalhar tanto e não ver os resultados desejados", disse Francisco no Angelus deste domingo.

 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco rezou a oração mariana do Angelus deste domingo (06/02), com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro.

A liturgia deste domingo nos leva às margens do Lago da Galileia. "A multidão se aglomerou ao redor de Jesus enquanto alguns pescadores desiludidos, incluindo Simão Pedro, lavam suas redes depois de uma noite ruim de pesca. Eis que Jesus entra no barco de Simão; depois, o convida a ir e a lançar de novo as redes", disse o Pontífice, convidando-nos refletir sobre estas duas ações de Jesus: primeiro ele entra no barco e depois convida a avançar para o lago.

 

Navegar no mar das atividades cotidianas

"Jesus entra no barco de Simão. Para fazer o que? ", perguntou o Papa. "Para ensinar", respondeu ele. "Ele pede aquele barco, que não está cheio de peixe e voltou à margem vazio, depois de uma noite de trabalho e desilusão. É uma bela imagem para nós também", disse ainda Francisco.

Todos os dias o barco de nossa vida deixa as margens de casa para navegar no mar das atividades cotidianas; todos os dias tentamos "pescar distante", cultivar sonhos, levar adiante os projetos, viver o amor em nossas relações. Mas, muitas vezes, como Pedro, vivemos a "noite de redes vazias", a desilusão de trabalhar tanto e não ver os resultados desejados: "Tentamos a noite inteira, e não pescamos nada". Quantas vezes nós também ficamos com uma sensação de derrota, enquanto desilusão e amargura nascem no coração. Dois carunchos perigosos.

 

O Senhor é o Senhor das surpresas

"O que o Senhor faz então? Escolhe entrar no nosso barco", pois "de lá ele quer anunciar o Evangelho", frisou o Papa.

Aquele barco vazio, símbolo de nossa incapacidade, torna-se a "cátedra" de Jesus, o púlpito de onde proclama a Palavra. O Senhor ama fazer isso: o Senhor é o Senhor das surpresas, dos milagres nas surpresas; entrar no barco de nossa vida quando não temos nada para oferecer-lhe; entrar em nossos vazios e enchê-los com sua presença; usar a nossa pobreza para anunciar sua riqueza, nossas misérias para proclamar sua misericórdia. Lembremo-nos disso: Deus não quer um navio de cruzeiro, basta-lhe um pobre barco "em ruínas", desde que o acolhamos, sim acolhê-lo. Não importa qual barco, mas acolhê-lo.

"Mas nós o deixamos entrar no barco de nossa vida? Colocamos à sua disposição o pouco que temos?", perguntou ainda o Papa. "Às vezes nos sentimos indignos dele porque somos pecadores. Mas esta é uma desculpa que o Senhor não gosta, porque o afasta de nós! Ele é o Deus da proximidade, da compaixão, da ternura e não busca o perfeccionismo, busca o acolhimento." Segundo o Papa, Deus diz a você também: "Deixe-me entrar no barco da sua vida". "Mas, Senhor, olha... ". Deixe-me entrar assim como ela é". Pensemos!", sublinhou Francisco.

 

Há sempre algo bonito e corajoso que pode ser feito

Assim, o Senhor reconstrói a confiança de Pedro. Entrando no barco, depois de ter pregado, lhe disse: "Avance para águas mais profundas". "Não era um momento propício para pescar, mas Pedro confia em Jesus. Não se baseia nas estratégias dos pescadores, que ele conhecia bem, mas se baseia na novidade de Jesus. Aquele encanto que o movia a fazer o que Jesus lhe dizia. Para nós também é assim: se acolhermos o Senhor em nosso barco, poderemos avançar", sublinhou o Papa, reiterando que "com Jesus se navega no mar da vida sem medo, sem ceder à desilusão quando nada se pesca e sem se render ao 'não há mais nada que possa ser feito'".

Sempre, tanto na vida pessoal quanto na da Igreja e da sociedade, há algo bonito e corajoso que pode ser feito, sempre. Sempre podemos recomeçar, o Senhor sempre nos convida a voltar ao jogo porque Ele abre novas possibilidades. Portanto, aceitemos o convite: afastemos o pessimismo e a desconfiança e partamos com Jesus! Até o nosso pequeno barco vazio testemunhará uma pesca milagrosa.

O Papa concluiu, pedindo a Maria, que acolheu o Senhor no barco da vida, para que nos encoraje e interceda por nós. Fonte: https://www.vaticannews.va

 

Os longos anos de caminhada podem nos levar a pensar que conhecemos bem o Senhor, e assim nos fecharmos às suas novidades e surpresas, fixos em nossas posições. Para evitar isto, devemos ter a mente aberta e o coração simples e humilde: "O Senhor pede uma mente aberta e um coração simples. E quando uma pessoa tem uma mente aberta, um coração simples, tem a capacidade de surpreender-se, de maravilhar-se. O Senhor nos surpreende sempre, é esta a beleza do encontro com Jesus".

 

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

“Que Nossa Senhora, modelo de humildade e disponibilidade, nos mostre o caminho para acolher Jesus.” E para acolher as suas novidades, devemos purificar-nos no "rio da disponibilidade e em muitos banhos saudáveis de humildade."

A reflexão do Papa Francisco no Angelus deste IV Domingo do Tempo Comum versa sobre a acolhida a Deus e seus desígnios, e parte do Evangelho de Lucas proposto pela Liturgia do dia, que “narra a primeira pregação de Jesus em sua cidade, Nazaré”, e "o êxito foi amargo", encontra "incompreensão e  também hostilidade".

De afto, "seus conterrâneos, mais do que uma palavra de verdade – começa explicando Francisco aos fiéis reunidos na Praça São Pedro - queriam milagres, sinais prodigiosos”. Mas “o Senhor não realiza nenhum e eles o rejeitam, porque dizem que já o conhecem desde criança, que é o filho de José, e assim por diante”, o que leva Jesus a pronunciar a célebre frase: "Nenhum profeta é bem recebido em sua terra".

 

Deus não coloca freios em seu amor

Mas se Jesus, conhecendo o coração dos conhecidos e sabendo dos riscos que corria de ser rejeitado, por que foi pregar em sua cidade assim mesmo? - pergunta o Papa -, ”por que fazer o bem a pessoas que não estão dispostas a te acolher?”:

Essa é uma pergunta que também nós muitas vezes nos fazemos. Mas é uma pergunta que nos ajuda a compreender melhor Deus: Ele, diante de nossos fechamentos, não retrocede: não coloca freios em seu amor. Vemos um reflexo disso naqueles pais que têm consciência da ingratidão de seus filhos, mas nem por isso deixam de amá-los e de fazer-lhes o bem. Deus é assim, mas em um nível muito mais elevado. E hoje ele convida também a nós a acreditar no bem, a não deixar de fazer o bem.

 

Humildade e disponibilidade

“Eles não foram acolhedores, e nós?”. A hostilidade em relação a Jesus – observou Francisco - também nos provoca. E para ilustrar os “modelos de acolhida que Jesus propõe hoje a seus conterrâneos e a nós”, volta seu pensamento aos dois livros de Reis, que falam de dois estrangeiros – a viúva de Sarepta de Sidônia e Naamã, o sírio – que acolhem Elias – “apesar da fome e embora o profeta fosse perseguido político-religioso” e Eliseu – “que o levou a se humilhar, a banhar-se sete vezes no rio, como se fosse uma criança ignorante”.

Quer a viúva como Naamã, “acolheram com sua disponibilidade e humildade. O modo de acolher Deus é sempre ser disponível, acolhê-Lo e ser humilde". Ou seja, a fé passa pela “disponibilidade e humildade. Eles “não rejeitaram os caminhos de Deus e de seus profetas; foram dóceis, não rígidos e fechados”:

Irmãos e irmãs, também Jesus percorre o caminho dos profetas: apresenta-se como não esperávamos. Não o encontra quem procura milagres, se nós buscarmos milagres não encontraremos Jesus, que busca novas sensações, experiências íntimas, coisas estranhas, não! Quem busca uma fé feita de poder e sinais externos. Não, não o encontrará. Somente o encontra, por outro lado, quem aceita seus caminhos e seus desafios, sem lamentações, sem suspeitas, sem críticas e sem cara feia.

 

Para evitar fechamentos, o Senhor pede mente aberta e coração simples

Assim, Jesus nos pede para acolhê-Lo na realidade cotidiana, na Igreja de hoje, nos necessitados, nos problemas na família, nos pais, nos filhos, nos avós, "acolher Deus ali, onde Ele está, e nos convida a nos purificarmos no rio da disponibilidade e em muitos banhos saudáveis ​​de humildade. É preciso humildade para encontrar Deus, para deixar-se encontrar por Ele”:

E nós, somos acolhedores ou nos assemelhamos aos seus conterrâneos, que achavam que sabiam tudo sobre ele? 'Eu estudei teologia, fiz aquele curso de catequese...eu sei tudo sobre Jesus', como um "tolo"... Não seja tolo, tu não conheces Jesus. Quem sabe, depois de tantos anos sendo crentes, pensamos que conhecemos bem o Senhor, com nossas ideias e nossos julgamentos, tantas vezes. O risco é de nos acostumarmos com Jesus, fechando-nos às suas novidades, ao momento em que Ele bate à porta e te diz uma coisa nova, quer entrar em ti. Nós devemos sair desse estar fixos em nossas posições. O Senhor pede uma mente aberta e um coração simples. E quando uma pessoa tem uma mente aberta, um coração simples, tem a capacidade de surpreender-se, de maravilhar-se. O Senhor nos surpreende sempre, é esta a beleza do encontro com Jesus".

Que Nossa Senhora, modelo de humildade e disponibilidade - disse ao concluir - nos mostre o caminho para acolher Jesus. Fonte: https://www.vaticannews.va

Na Audiência Geral desta quarta-feira, Francisco convidou aos pais, diante dos problemas dos filhos, a pensarem no Senhor, a pensarem em como José resolveu os problemas e a pedirem a José que os ajude. ".Nunca condenar um filho", acrescentou o Papa.

 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

"São José, homem que sonha" foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral, desta quarta-feira (26/01), realizada na Sala Paulo VI.

O Papa explicou que "na Bíblia, como nas culturas dos povos antigos, os sonhos eram considerados um meio pelo qual Deus se revelava. O sonho simboliza a vida espiritual de cada um de nós, aquele espaço interior, que cada um é chamado a cultivar e a proteger, onde Deus se manifesta e muitas vezes nos fala".

Segundo o Papa, "devemos dizer que dentro de cada um de nós não existe apenas a voz de Deus: existem muitas outras vozes. Por exemplo, as vozes de nossos medos, experiências passadas, das esperanças; e há também a voz do maligno que quer nos enganar e confundir. Portanto, é importante ser capaz de reconhecer a voz de Deus no meio de outras vozes. José demonstra que sabe cultivar o silêncio necessário e tomar as decisões justas diante da Palavra que o Senhor lhe dirige interiormente".

 

A oração faz nascer em nós a intuição do caminho de saída

Para entender como nos colocar diante da revelação de Deus, o Papa retomou quatro sonhos relatados no Evangelho que têm José como protagonista.

No primeiro sonho, o anjo ajuda José a resolver o drama que o aflige ao saber da gravidez de Maria, quando o anjo lhe apareceu em sonho e lhe disse para não ter medo de receber Maria como esposa. A resposta de José foi imediata, pois quando acordou fez conforme o Anjo do Senhor havia mandado.

Muitas vezes a vida nos coloca diante de situações que não entendemos e parecem sem solução. Rezar, nesses momentos, significa deixar que o Senhor nos mostre a coisa certa a ser feita.  De fato, muitas vezes é a oração que faz nascer em nós a intuição do caminho de saída. Como resolver aquela situação. Queridos irmãos e irmãs, o Senhor nunca permite um problema sem nos dar também a ajuda necessária para enfrentá-lo. Ele não nos joga ali no forno sozinhos. Não nos joga no meio dos animais ferozes. Não. O Senhor quando nos faz ver um problema ou revela um problema, nos dá sempre sua ajuda, sua presença para sair, para resolvê-lo.

 

A coragem de José para enfrentar as dificuldades

O segundo sonho revelador de José ocorre quando a vida do menino Jesus está em perigo. Ele pegou o menino Jesus e sua mãe e fugiram para o Egito e ficaram lá até a morte de Herodes.

Na vida fazemos experiência de perigos que ameaçam nossa existência ou a de quem amamos. Nessas situações, rezar significa escutar a voz que pode fazer nascer em nós a coragem de José para enfrentar as dificuldades sem sucumbir.

 

O medo também precisa da nossa oração

No Egito, José espera de Deus o sinal para poder voltar para casa. Este é o conteúdo do terceiro sonho. O anjo lhe revela que aqueles que queriam matar o menino morreram e ordena a José de partir com Maria e Jesus e retornar à sua pátria. Mas na viagem de volta, "quando soube que Arquelau reinava na Judéia, como sucessor de seu pai Herodes, teve medo de ir para lá". Depois de receber aviso em sonho, José partiu para a região da Galileia, e foi morar numa cidade chamada Nazaré. Esta é a quarta revelação.

O medo também faz parte da vida e ele também precisa da nossa oração. Deus não nos promete que não teremos mais medo, mas que, com sua ajuda, o medo não será o critério de nossas decisões. José experimenta o medo, mas Deus também o guia através do medo. O poder da oração ilumina as situações sombrias.

 

Os pais diante dos problemas dos filhos

A seguir, o Papa recordou "as muitas pessoas que são esmagadas pelo peso da vida e não conseguem mais esperar e nem rezar. Que São José as ajude a abrir-se ao diálogo com Deus, para reencontrar luz, força e paz".

Francisco recordou também "os pais diante dos problemas dos filhos. Filhos doentes, com doenças permanentes. Quanta dor ali! Pais que veem orientações sexuais diferentes nos filhos, como lidar com isso e acompanhar os filhos e não se esconder no comportamento de condenação. Pais que veem os filhos morrerem por causa de uma doença, e o mais triste, vemos todos os dias nos jornais, os jovens que fazem travessuras e morrem em acidentes de carro. Pais que veem os filhos não prosseguirem na escola, muitos problemas dos pais. Pensemos em como ajudá-los. A esses pais eu digo que não se espantem. Há muita dor, muita, mas pensem no Senhor, pensem em como José resolveu os problemas e peçam a José que os ajude. Nunca condenar um filho".

O Papa recordou as mães que visitam os filhos nas prisões. Uma mãe diante de um filho que errou e está preso, mas não o deixa sozinho, dá a cara e o acompanha. Esta coragem de pai e mãe que acompanham o filho sempre.

 

A oração não é um gesto abstrato ou intimista

O Papa concluiu, dizendo que "a oração nunca é um gesto abstrato ou intimista, como querem fazer estes movimentos espiritualistas mais gnósticos do que cristãos, não é isso. A oração está sempre indissoluvelmente ligada à caridade. Somente quando unimos o amor à oração, amor pelo filho e pelo próximo, conseguimos compreender as mensagens do Senhor. José rezava, trabalhava e amava, e por isso sempre recebeu o necessário para enfrentar as provações da vida. Confiemo-nos a ele e à sua intercessão".

 

Apelo pela paz na Ucrânia

No final da Audiência Geral, o Papa convidou a rezar pela paz na Ucrânia, e a fazê-lo muitas vezes durante este dia:

Peçamos ao Senhor com insistência que aquela terra possa ver florescer a fraternidade e superar feridas, medos e divisões. Que as orações e súplicas, que hoje se elevam ao Céu, toquem as mentes e os corações dos responsáveis na terra, para que façam prevalecer o diálogo, e o bem de todos seja colocado acima dos interesses de parte. Rezemos pela paz com o Pai Nosso: é a oração dos filhos que se dirigem ao mesmo Pai, é a oração que nos faz irmãos, é a oração dos irmãos que imploram reconciliação e concórdia. Fonte: https://www.vaticannews.va

 

No Domingo da Palavra de Deus, Francisco da importância do "hoje" de Deus e se dirigiu de modo especial aos pregadores, que devem apresentar o Evangelho sem moralismos e conceitos abstratos.

 

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

O Angelus deste domingo ensolarado e frio em Roma foi marcado por uma proposta do Papa Francisco: ler todos os dias um pequeno trecho do Evangelho de Lucas.

Aos milhares de fiéis reunidos na Praça São Pedro, o Pontífice comentou o Evangelho da Liturgia de hoje, quando Jesus inaugura a sua pregação.

 

O "hoje" de Deus

Ele vai até Nazaré, onde cresceu, e participa da oração na sinagoga, lendo um trecho do livro do profeta Isaías. E Jesus assim começa: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura”.

O Papa concentrou sua reflexão sobre a palavra hoje, que indica todas as épocas e permanece sempre válido. A profecia de Isaías remontava a séculos antes, mas Jesus "com a potência do Espírito" a torna atual e, sobretudo, a leva a termo.

Os conterrâneos de Jesus ficaram impressionados com a sua palavra, intuem que Nele há “algo a mais”, que é a unção do Espírito Santo.

“Às vezes, acontece que as nossas pregações e os nossos ensinamentos permaneçam genéricos, abstratos, não tocam a alma e a vida das pessoas. Por quê? Porque não tem a força deste hoje, aquele que Jesus 'preenche de sentido' com a potência do Espírito.”

 

As homilias: momentos para despertar, não adormecer

A pregação corre este risco: “Também muitas homilias - o digo com respeito, mas com dor - são abstratas e ao invés de despertarem a alma, a adormecem”, constatou o Papa, com os fiéis que começam a olhar o relógio se perguntando: "Quando isso vai terminar?". Sem a unção do Espírito, acrescentou Francisco, empobrece a Palavra de Deus, escorrega no moralismo e em conceitos abstratos; apresenta o Evangelho como distante, como se estivesse fora do tempo, longe da realidade.

“Mas uma palavra em que não pulsa a força do hoje não é digna de Jesus e não ajuda a vida das pessoas. Por isso, quem prega é o primeiro que deve experimentar o hoje de Jesus, de modo que possa comunica-lo no hoje dos outros.”

 

Uma proposta: a leitura diária do Evangelho de Lucas

Neste Domingo da Palavra de Deus, o Papa fez um agradecimento a todos os pregadores e os anunciadores do Evangelho, fazendo os votos de que vivam o hoje de Jesus.

“Lembremo-nos: a Palavra transforma um dia qualquer no hoje em que Deus nos fala”, disse ainda Francisco, convidando a ler diariamente o Evangelho, pois assim descobrimos que as palavras ali contidas foram feitas propositadamente para nós. E o Papa fez então uma proposta:

“Nos domingos deste ano litúrgico é proclamado o Evangelho de Lucas, o Evangelho da misericórdia. Por que não lê-lo, mesmo individualmente, um pequeno trecho todos os dias? Vamos nos familiarizar com o Evangelho, nos trará a novidade e a alegria de Deus!”

É a Palavra também que guiará o percurso sinodal que a Igreja há pouco empreendeu, disse Francisco, dando ressalto à palavra "discernimento". Que Nossa Senhora, concluiu, nos obtenha a constância para nos nutrir todos os dias do Evangelho.

 

A unidade por intercessão de Irineu

Depois do Angelus, o Papa citou a proclamação esta semana de Santo Irineu de Lyon como Doutor da Igreja, no contexto da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.

"A doutrina deste Santo pastor e mestre é como uma ponte entre Oriente e Ocidente: por isso, o indicamos como Doutor da Unidade, Doctor Unitatis. Que o Senhor nos conceda, por sua intercessão, trabalhar todos juntos pela plena unidade dos cristãos." Fonte: https://www.vaticannews.va

 

A ternura paterna foi o tema da catequese do Papa na desta quarta-feira (19/01), na Sala Paulo VI. Mais uma vez, Francisco falou da "revolução da ternura" e mencionou de modo especial a condição dos encarcerados. "É justo qe quem errou pague, mas é ainda mais justo que possa se redimir."

 

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

São Josépai na ternura: este foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira, 19 de janeiro.

O Pontífice recordou que não há nos Evangelhos relatos explícitos de como são José exerceu sua paternidade. Todavia, é possível compreender algo a partir do próprio Jesus, que sempre usou a palavra “pai” para falar de Deus e do seu amor.

Entre as muitas parábolas que tem a figura paterna como protagonista, Francisco citou a do Pai misericordioso e o acolhimento ao filho pródigo, narrada por Lucas.

O filho estava à espera de uma punição, contentando-se em ser tratado como um dos criados; e, ao contrário, vê-se abraçado pelo pai. “A ternura é algo maior do que a lógica do mundo”, comentou o Papa. “É um modo inesperado de fazer justiça.”

 

Deus não se assusta com nossos pecados

Por isso, acrescentou o Pontífice, jamais devemos esquecer que Deus não se assusta com nossos pecados:

“Vamos colocar isso na nossa cabeça: Deus não se assusta com nossos pecados, é maior do que os nossos pecados. É pai, é amor, é terno. Não se assusta com nossos pecados, nossos erros, nossas quedas, mas se assusta com o fechamento do nosso coração - isto sim O faz sofrer - com a nossa falta de fé no seu amor.”

Francisco contou uma encenação de uma peça teatral feita por jovens sobre a parábola do filho pródigo. O jovem pediu um lenço branco na janela como sinal de que o pai o havia perdoado. Mas quando regressou, encontrou a casa repleta de lenços. "Assim é a misericórdia de Deus. (...) Todos nós temos contas para resolver, mas fazer as contas com Deus é algo belíssimo, porque nós começamos a falar e Ele nos abraça. A ternura."

Há uma grande ternura na experiência do amor de Deus, disse ainda Francisco, convidando os fiéis a lembrarem quando experimentaram esta ternura e se, por nossa vez, nos tornamos suas testemunhas. A ternura não é uma questão emotiva ou sentimental: é a experiência de sentir-se amados.  Por isso é importante encontrar a Misericórdia de Deus, especialmente no Sacramento da Reconciliação. "Deus sempre nos perdoa, somos nós que nos cansamos de pedir perdão."

 

Revolução da ternura para não confundir redenção com punição

O Papa concluiu afirmando que nos fará bem espelharmo-nos na paternidade de José e nos questionar se permitimos ao Senhor de nos amar com a ternura.

“Sem esta ‘revolução da ternura’, corremos o risco de permanecer prisioneiros numa justiça que não permite erguer-se facilmente e que confunde a redenção com a punição”, disse ainda Francisco, dirigindo seu último pensando aos encarcerados:

“É justo que quem errou pague pelo próprio erro, mas é ainda mais justo que quem errou possa redimir-se do próprio erro. Não podem existir condenações sem 'janelas' de esperança. (...) Rezemos pelos encarcerados, para que nessas 'janelas' de esperança encontrem uma saída rumo a uma vilda melhor.”

E como tem feito neste ciclo dedicado a São José, o Pontífice concluiu a catequese com uma oração:

 

"São José, pai na ternura,
ensinai-nos a aceitar que somos amados precisamente naquilo que é mais débil em nós.
Concedei que não coloquemos qualquer obstáculo
entre a nossa pobreza e a grandeza do amor de Deus.
Suscitai em nós o desejo de nos aproximarmos do Sacramento da Reconciliação,
para que possamos ser perdoados e também que nos tornemos capazes de amar com ternura os nossos irmãos e irmãs na sua pobreza.
Estai próximo daqueles que erraram e que pagam o preço por isso;
ajudai-os a encontrar, juntamente com a justiça, a ternura para recomeçar.
E ensinai-lhes que a primeira maneira de recomeçar
é pedir sinceramente perdão, para sentir a carícia do Pai.". Fonte: https://www.vaticannews.va
 

 

A oração abre o céu, disse Francisco no Angelus

Comentando o Batismo de Jesus no rio Jordão, o Papa destacou a atitude de Cristo sempre em oração. “Rezar é a forma de deixar Deus agir em nós, de compreender o que Ele quer comunicar-nos mesmo nas situações mais difíceis, para ter a força para continuar.”

 

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

Como vai a minha oração? Esta foi a pergunta que o Papa dirigiu aos milhares de fiéis presentes na Praça São Pedro para a oração do Angelus dominical.

O Evangelho da liturgia de hoje fala do início da vida pública de Jesus, que começa com o Batismo no rio Jordão.

Francisco convidou os fiéis a se deterem num ponto específico, quando o Evangelho de Lucas relata que naquele momento Jesus “estava em oração" (Lc 3,21).

E isso se repete inúmeras vezes: no início de cada dia, muitas vezes à noite, antes de tomar decisões importantes Cristo está sempre em oração – o que revela uma relação íntima com o Pai.

Para Francisco, se trata de um grande ensinamento para nós, pois estamos todos imersos nos problemas da vida e em muitas situações emaranhadas, chamados a enfrentar momentos e escolhas difíceis que nos puxam para baixo.

Mas se não quisermos ser esmagados, precisamos elevar tudo para o alto. E é precisamente isto que a oração faz, que não é uma via de fuga nem um ritual mágico ou uma repetição de cânticos aprendidos de cor.

“Rezar é a forma de deixar Deus agir em nós, de compreender o que Ele quer comunicar-nos mesmo nas situações mais difíceis, para ter a força para continuar.”

 

Oração: diálogo, silêncio e grito

A oração, continuou Francisco, nos ajuda porque nos une a Deus, abre-nos a um encontro com Ele. “Sim, a oração é a chave que abre o coração ao Senhor.” É dialogar com Deus, é ouvir a sua Palavra, é adorar: ficar em silêncio e confiar-Lhe o que estamos vivendo. E por vezes é também gritar a Ele como Jó, para desabafar com Deus. "Ele nos entende bem, jamais fica bravo conosco."

Caros irmãos e irmãs, a oração - para usar uma bela imagem do Evangelho de hoje - "abre o céu": dá oxigênio à vida, respiro mesmo no meio dos afãs, e faz-nos ver as coisas de modo mais amplo.

Acima de tudo, permite-nos fazer a mesma experiência de Jesus no Jordão: faz-nos sentir como crianças amadas pelo Pai. Por isso, é importante saber a data do batismo, disse o Papa, convidando os fiéis a se informarem a respeito e refletirem:

“E hoje perguntemo-nos: como vai a minha oração? Será que rezo por hábito, sem querer, apenas recitando fórmulas? Ou será que cultivo a intimidade com Deus, diálogo com Ele, escuto a Sua Palavra?”

Entre as muitas coisas que fazemos, concluiu o Papa, não negligenciemos a oração: “Dediquemos tempo a ela, utilizemos invocações curtas para repetir com frequência, leiamos o Evangelho todos os dias”. Fonte: https://www.vaticannews.va

 

A Capela Sistina voltou a abrigar uma das celebrações mais sugestivas do ano, que não foi realizada no ano passado devido à pandemia. O Papa Francisco batizou 16 recém-nascidos, que recebem assim "a força de Jesus" para ir avante na vida.

 

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

Choros, fraldas e chupetas em meio à obra-prima dos afrescos da Capela Sistina: assim foi a missa presidida pelo Papa Francisco na festa do Batismo do Senhor.

Os protagonistas da cerimônia, como disse o Pontífice na homilia, foram os dezesseis recém-nascidos, filhos de funcionários do Vaticano, que receberam o Sacramento da iniciação cristã.

Nesta ocasião, Francisco faz sua reflexão sem um texto pré-escrito e neste domingo se inspirou num hino litúrgico que fala que o povo de Israel ia ao Jordão com os pés e a alma “descalços”, isto é, uma alma que desejava ser banhada por Deus, que não tinha nenhuma riqueza, que necessitava de Deus.

“Essas crianças hoje vêm aqui também com a alma descalça para receber a justificação de Deus, a força de Jesus, a força de ir avante na vida, receber a identidade cristã. É isto, simplesmente.”

Cabe aos pais e padrinhos proteger esta identidade, prosseguiu Francisco, esta é a tarefa de toda a vida e de todos os dias: “Fazê-los crescer com a luz que hoje receberão”.

“Esta é a mensagem de hoje: custodiar a identidade cristã.”

 

"Espírito de grupo"

Depois, como sempre faz nesta cerimônia, o Santo Padre deixou os pais à vontade para acudir os bebês. “Se tiverem fome, amamentem tranquilamente aqui, diante do Senhor”, disse às mães. “Não há problema.”

E se chorarem, “deixem gritar”, porque as crianças têm um espírito de comunidade, podemos dizer um “espírito de grupo”, brincou o Papa. Basta que um comece a chorar para que a orquestra dos demais acompanhe.

“E assim, com esta paz, vamos em frente nesta cerimônia e não esqueçam: receberão a identidade cristã e sua tarefa será custodiar esta identidade cristã.” Fonte: https://www.vaticannews.va

 

Perderam o significado. Tudo se tornou aparência: bispo italiano dispensa presença de padrinhos em batismos e crismas

Com um decreto que entrou em vigor no início do ano, o bispo de Mazara del Vallo determinou a suspensão da presença de padrinhos e madrinhas na celebração do Sacramento do Batismo para crianças, Confirmação e Iniciação Cristã para adultos. "É apenas uma figura formal e desprovida de significado. Tudo se tornou aparência”, lamenta o prelado. A decisão segue aquela já adotada por outras dioceses italianas.

 

Federico Piana- Cidade do Vaticano

“Havíamos chegamos ao ponto que muitos padrinhos e madrinhas, durante a celebração, sequer comungavam”. Dom Domenico Mogavero não mede as palavras para chegar ao cerne do problema: “O ofício de padrinho - afirma - perdeu o seu sentido original, limitando-se a uma presença litúrgica puramente formal”.

Eis porque na sua diocese siciliana de Mazara del Vallo, que dirige há quinze anos, determinou a suspensão da presença de padrinhos e madrinhas na celebração do Sacramento do Batismo para crianças, da Confirmação e da Iniciação Cristã para adultos.

O decreto, em vigor de 1° de janeiro último 'ad experimentum' até 2024, segue aqueles já adotados por outras dioceses italianas e estabelece que serão “os pais ou os responsáveis pela preparação religiosa do batismo a acompanhar, ​​diante do presbitério, aqueles que devem receber o Batismo ou a Crisma”. “Hoje – diz o prelado - padrinhos e madrinhas se tornaram figuras irrelevantes. Não se escolhe um homem ou uma mulher como ponto de referência por seu testemunho de fé”.

 

É uma figura que se esvaziou de sentido?

Certamente. No passado, especialmente na Igreja antiga, era significativo. Hoje se tornou uma figura que criou problemas, também em pessoas que não dão um testemunho de fé profunda. Houve casos de hipocrisia e falsidade: muitas pessoas, por exemplo, não revelaram sua condição de divorciados-casados novamente ou de estarem afastados da fé e da prática religiosa. Percebemos que tudo se tornou uma aparência. Deve ser ressaltado que o Código de Direito Canônico não impõe, nas celebrações, a presença de padrinho e madrinha.

 

Também a escolha se tornara formal?

Era feita de forma emocional e, às vezes, infantil. Várias vezes aconteceu-me que me pediram dispensa da idade útil para ser padrinho, para colegas de classe de doze anos ou para amiguinhos para brincar. Nem mesmo os crismandos se dão conta qual é o verdadeiro papel dos padrinhos e das madrinhas.

E depois, quase sempre, os padrinhos e madrinhas desaparecem após a cerimônia, quando, ao invés disso, deveriam acompanhar, por toda a vida, aquela pessoa que lhes foi confiada...

Trago um testemunho concreto, dado logo após que foi emitido o concreto. Em junho, quando anunciei minha intenção de emitir este decreto, uma pessoa me encontrou e me disse: faz quarenta anos que não vejo meu padrinho. Portanto, tomamos a decisão a partir de uma situação que já se tornou clara, ocupando-nos assim da dignidade dos sacramentos e do valor do testemunho cristão que não pode ser abandonado.

A figura dos padrinhos e das madrinhas poderá ser recuperada?

Depende muito de nós. Fomos nós - padres, bispos e comunidades cristãs - que assistimos ao esvaziamento de sentido destas figuras, sem opor nenhuma resistência. Quando percebemos que os padrinhos e madrinhas haviam se transformado em figuras coreográficas - servem apenas para dar um belo presente - deveríamos ter reagido para reverter a tendência. Nada fizemos e agora devemos ter a coragem de tomar uma decisão e de recomeçar com a presença dos catequistas e daqueles que preparam para a Crisma e os Sacramentos da Iniciação Cristã. Valorizamos essas figuras, deixando claro como são importantes também no caminho de aprendizagem e de testemunho do crismando ou do iniciado adulto. E se, um dia, alguém quiser resgatar a figura dos padrinhos do ponto de vista doutrinal e teológico, tudo bem: mas é preciso devolver a eles o verdadeiro sentido da missão. Fonte: https://www.vaticannews.va

 

Hoje, 28 de dezembro, é a memória litúrgica dos Santos Inocentes. Num tuíte, Francisco convida a rezar e defender as crianças dos "novos Herodes" que destroem sua inocência.

 

Isabella Piro – Vatican News

“Os novos Herodes dos nossos dias destroem a inocência das crianças sob o peso do trabalho escravo, da prostituição e da exploração, das guerras e da emigração forçada. #RezemosJuntos hoje por estas crianças e defendamo-las. #SantosInocentes.

Foi o que tuitou o Papa Francisco em sua conta @Pontifex na memória litúrgica dos Santos Inocentes celebrada nesta terça-feira (28/12), que lembra as crianças de Belém de até dois anos, mortas pelo Rei Herodes a fim de eliminar o Menino Jesus, anunciado pelas profecias como o Messias e novo rei de Israel.

 

152 milhões os menores obrigados a trabalhar

Hoje, como no passado, os Herodes ainda são muitos e há muitas armas que eles usam para destruir a inocência das crianças. Segundo o último relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), publicado em março de 2021, ainda existem 152 milhões de crianças e adolescentes, 64 milhões são meninas e 88 milhões são meninos, vítimas do trabalho infantil. Metade deles, 73 milhões, são obrigados a realizar trabalhos perigosos que põem em risco sua saúde, segurança e desenvolvimento moral. Muitos deles vivem em contextos de guerra e desastres naturais onde lutam para sobreviver, revistando nos destroços ou trabalhando nas ruas. Outros são recrutados como crianças soldados para lutar em guerras travadas por adultos.

 

Os "comerciantes da morte" devoram a inocência das crianças

Um fenômeno dramático e inaceitável contra o qual o próprio Papa Francisco levantou a voz em 2016, numa Carta aos bispos publicada em 28 de dezembro daquele ano: convidando os prelados a terem a coragem de defender os menores de tudo que "devora" sua inocência, o Pontífice recordou que "milhares de nossas crianças caíram nas mãos de bandidos, máfias, comerciantes da morte que só exploram as suas necessidades". Francisco citou os milhões de crianças sem instrução, vítimas do "tráfico sexual", menores obrigados a "viver fora de seus países por causa do deslocamento forçado", crianças que morrem de desnutrição e vítimas do trabalho escravo.

 

Nunca mais essas atrocidades!

"Se a situação mundial não mudar", escreveu o Papa, citando estimativas do UNICEF, "em 2030 haverá 167 milhões de crianças que viverão na pobreza extrema, 69 milhões de crianças menores de 5 anos que morrerão até 2030 e 60 milhões de crianças que não poderão frequentar a escola primária". Francisco não esqueceu “o sofrimento, a história e a dor dos menores abusados ​​sexualmente por sacerdotes”: “Um pecado que nos envergonha”, sublinhou, que devemos “deplorar profundamente” e pelo qual “pedimos perdão”. Daí o apelo do Pontífice a "renovar todos os nossos compromissos para que estas atrocidades não aconteçam mais entre nós".

 

"O nosso silêncio é cúmplice"

As palavras de Francisco de 2016 recordam as da mensagem Urbi et Orbi do Natal de 2014, durante a qual o Pontífice dirigiu um pensamento a "todas as crianças mortas e maltratadas hoje, as que são antes de verem a luz, privadas do amor generoso dos pais e sepultadas no egoísmo de uma cultura que não ama a vida, as crianças deslocadas por guerras e perseguições, abusadas e exploradas diante de nossos olhos e de nosso silêncio cúmplice; e as crianças massacradas sob os bombardeios, inclusive onde nasceu o filho de Deus”. "Ainda hoje o seu silêncio impotente grita sob a espada de tantos Herodes", sublinhou Francisco. Hoje, a sombra de Herodes está presente sobre o seu sangue. Realmente, há muitas lágrimas neste Natal, junto com as lágrimas do Menino Jesus!”

 

O recurso da oração

Mas há uma resposta a tudo isso, "à tragédia da matança de seres humanos indefesos, ao horror do poder que despreza e reprime a vida"? A oração é certamente um recurso, como o próprio Papa explicou na Audiência Geral de 4 de janeiro de 2017: "Quando alguém vem a mim e me faz perguntas difíceis, por exemplo: 'Diga-me, Padre: por que as crianças sofrem?', eu realmente não sei o que responder. Eu só digo: 'Olhe para o Crucifixo: Deus nos deu seu Filho, Ele sofreu, e talvez ali você encontrará uma resposta'. (...) Somente olhando para o amor de Deus que dá seu Filho, que oferece sua vida por nós, ele pode indicar alguma forma de consolo; sua Palavra é definitivamente uma palavra de consolo, porque nasce do pranto". Fonte: https://www.vaticannews.va

 

"Aprendamos de Nossa Senhora esta maneira de reagir: levantar-se, especialmente quando as dificuldades ameaçam nos esmagar. Levantar-se, para não ficar atolado nos problemas, afundando na autopiedade e caindo numa tristeza que nos paralisa. Olhemos ao nosso redor e procuremos alguém a quem possamos ajudar! Conheço algum idoso a quem possa fazer um pouco de companhia, um serviço, uma gentileza, um telefonema? Cada um pense nisso", disse Francisco.

 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco rezou a oração mariana do Angelus, deste domingo (19/12), com os fiéis e peregrinos presentes na Praça São Pedro.

Ouça e compartilhe

Na alocução que precedeu a oração, o Santo Padre recordou que o Evangelho deste domingo, IV Domingo do Advento, narra a visita de Maria a Isabel. Segundo Francisco, ao receber "o anúncio do anjo, a Virgem não fica em casa, pensando no que aconteceu e considerando os problemas e imprevistos, que certamente não faltaram. Pelo contrário, a primeira coisa que ela pensa é nos necessitados". "Em vez de ficar curvada sobre seus problemas", sublinhou o Papa, Maria "pensou em Isabel sua parente em idade avançada e grávida, uma coisa estranha, milagrosa. Maria parte com generosidade, sem se deixar amedrontar pelo desconforto do trajeto, respondendo a um impulso interior que a chama a estar perto e ajudar. Uma longa estrada, quilômetros e quilômetros. Não havia ônibus naquela época. Ela foi a pé. Ela saiu para ajudar. Como? Partilhando a alegria".

 

Maria doa a Isabel a alegria de Jesus

Maria doa a Isabel a alegria de Jesus, a alegria que ela carregava em seu coração e no ventre. Vai até ela e proclama os seus sentimentos, e esta proclamação dos sentimentos passou depois a ser uma oração, o Magnificat que todos nós conhecemos. O texto diz que Nossa Senhora "se levantou e foi às pressas. Ela se levantou e foi.

Na última etapa do caminho do Advento, Francisco nos convidou a deixarmo-nos guiar por estes dois verbos: "Levantar-se e caminhar às pressas. Estes são os dois movimentos que Maria fez e que nos convida a fazer em vista do Natal. Primeiramente, levantar-se. Depois do anúncio do anjo, se aproxima um período difícil para a Virgem: a gravidez inesperada a expôs a incompreensões, a punições severas, até mesmo à lapidação, na cultura daquele tempo. Imaginemos quantos pensamentos e perturbações ela teve! No entanto, ela não desanimou, não se abateu, mas se levantou. Não olhou para baixo para os seus problemas, mas para o alto, para Deus".

 

Levantar-se e ajudar os outros

"Não pensou em quem pedir ajuda, mas a quem levar ajuda. Sempre pensando nos outros: Maria é assim. Pensa nas necessidades dos outros. Ela fará o mesmo nas Bodas de Caná, quando vê que falta o vinho. É um problema dos outros, mas ela pensa nisso e procura encontrar uma solução. Maria pensa sempre nos outros, pensa em nós", disse ainda o Papa, acrescentando:

Aprendamos de Nossa Senhora esta maneira de reagir: levantar-se, especialmente quando as dificuldades ameaçam nos esmagar. Levantar-se, para não ficar atolado nos problemas, afundando na autopiedade e caindo numa tristeza que nos paralisa. Olhando para dentro e ficando na tristeza. Mas, por que se levantar? Porque Deus é grande e está pronto para nos reerguer, se nós estendermos a mão a Ele. Portanto, deixemos a Ele os pensamentos negativos, os medos que bloqueiam cada impulso e nos impedem de seguir em frente. E depois façamos como Maria: olhemos ao nosso redor e procuremos alguém a quem possamos ajudar! Conheço algum idoso a quem eu possa fazer um pouco de companhia, um serviço, uma gentileza, um telefonema? Cada um pense nisso. A quem posso ajudar? Eu me levanto e ajudo. Ajudando os outros, ajudaremos a nós mesmos a nos levantar das dificuldades.

 

Olhar em frente com confiança

A seguir, o Papa citou o segundo movimento de Maria: caminhar às pressas.

Isto não significa proceder com agitação, de forma ofegante, não quer dizer isso. Trata-se de conduzir nossos dias com um passo alegre, olhando em frente com confiança, sem nos arrastarmos com má vontade, escravos das reclamações, aquelas reclamações que arruínam muitas vidas, porque a pessoa coloca aquilo dentro e reclama, reclama. As reclamações levam a procurar sempre alguém a quem culpar.

"O caminho da casa de Isabel, Maria prossegue com o passo rápido de alguém cujo coração e vida estão cheios de Deus, cheios de sua alegria. Então nos perguntemos: como está meu "passo"? Sou ativo ou fico na melancolia, na tristeza? Sigo em frente com esperança ou paro para sentir pena de mim mesmo? Se continuarmos com o passo cansado de resmungo e fofoca, não levaremos Deus a ninguém. Levaremos somente amargura e coisas obscuras. Em vez disso, é tão bom cultivar um humor saudável, como fez, por exemplo, São Tomás Moro ou São Filipe Neri. Peçamos esta graça, a graça do humor saudável. Faz muito bem", disse o Papa, convidando a não nos esquecer "que o primeiro ato de caridade que podemos fazer ao nosso próximo é oferecer-lhe um rosto sereno e sorridente. É levar a ele a alegria de Jesus, como Maria fez com Isabel".

"Que a Mãe de Deus nos pegue pela mão, nos ajude a nos levantar e a caminhar às pressas para o Natal", concluiu o Papa. Fonte: https://www.vaticannews.va

 

“Erguei-vos e levantai a cabeça porque é justamente nos momentos em que tudo parece estar acabado que o Senhor vem para nos salvar; esperá-lo com alegria mesmo em meio às tribulações, nas crises da vida e nos dramas da história”, exortou o Papa comentando a liturgia desde I Domingo do Advento, em preparação para o Natal do Senhor

 

Raimundo de Lima - Vatican News

O Papa Francisco conduziu a oração do Angelus ao meio-dia deste domingo - o I Domingo do Advento - com os fiéis e peregrinos presentes na Praça São Pedro. Na alocução que precedeu a oração mariana, comentando o Evangelho da liturgia do dia ressaltou-nos que o mesmo nos fala da vinda do Senhor no final dos tempos.

“Jesus anuncia eventos desoladores e tribulações, mas justamente neste ponto nos convida a não ter medo. Por quê? Porque tudo vai correr bem? Não, mas porque Ele virá, disse Francisco destacando uma passagem do Evangelho:

Ele diz: "Erguei-vos e levantai a cabeça, pois está próxima a vossa libertação" (Lc 21,28). É bom ouvir esta palavra de encorajamento: erguei-vos e levantai a cabeça porque é justamente nos momentos em que tudo parece estar acabado que o Senhor vem para nos salvar; esperá-lo com alegria mesmo em meio às tribulações, nas crises da vida e nos dramas da história.

 

Jesus nos mostra o caminho

Mas como levantar a cabeça, como não nos deixarmos absorver por dificuldades, pelos sofrimentos, pelas derrotas? – perguntou o Santo Padre.

Jesus nos mostra o caminho com um forte apelo: "Cuidado para que vossos corações não fiquem pesados. Ficai acordados, portanto, orando em todo momento". "Ficai acordados": a vigilância. Detenhamo-nos sobre este importante aspecto da vida cristã, convidou o Pontífice.

 

Estar vigilantes

Pelas palavras de Cristo, vemos que a vigilância está ligada à atenção: cuidado, não se distraiam, ou seja, fiquem acordados! Vigilar significa isto: não permitir que o coração se torne preguiçoso e que a vida espiritual se enfraqueça na mediocridade. Ter cuidado porque se pode ser "cristãos adormecidos", sem impulso espiritual, sem ardor na oração, sem entusiasmo pela missão, sem paixão pelo Evangelho. E isto leva a "adormecer": a continuar com as coisas por inércia, a cair na apatia, indiferentes a tudo, exceto ao que nos convém.

Precisamos estar vigilantes para não arrastar nossos dias para o hábito, para não nos fazer ficar pesados - diz Jesus - pelas preocupações da vida. Hoje, então - prosseguiu -, é uma boa oportunidade para nos perguntarmos: o que pesa no meu espírito? O que me faz acomodar na poltrona da preguiça? Quais são as mediocridades que me paralisam, os vícios que me esmagam até o chão e me impedem de levantar a cabeça? E com relação aos fardos que pesam sobre os ombros dos irmãos, estou atento ou indiferente?

Estas perguntas nos fazem bem, porque ajudam a proteger o coração da preguiça, que é um grande inimigo da vida espiritual. Ela é aquela preguiça que nos mergulha na tristeza, que nos tira o gosto de viver e o desejo de fazer. É um espírito negativo, maligno que aprisiona a alma no torpor, roubando-lhe a alegria. O Livro dos Provérbios diz: "Guarda teu coração, porque dele brota a vida" (Pr 4,23). Custodiar o coração: isso significa vigilar!

 

O segredo para estar vigilante é a oração

O Papa, dor por aqueles que morrem no Canal da Mancha, Belarus e no Mediterrâneo

E acrescentemos um ingrediente essencial: o segredo para estar vigilante é a oração. Pois Jesus diz: "Vigiai em todo momento orando" (Lc 21,36). É a oração que mantém acesa a lâmpada do coração. Especialmente quando sentimos que nosso entusiasmo esfriou, a oração reacende-o, porque nos traz de volta a Deus, ao centro das coisas. Ela desperta a alma do sono e a concentra no que importa, sobre o fim da existência. Mesmo nos dias mais movimentados, não negligenciamos a oração.

A oração do coração pode nos ajudar, repetindo frequentemente pequenas invocações. No Advento, acostumemo-nos a dizer, por exemplo: "Vem, Senhor Jesus". Repitamos esta oração ao longo do dia: a alma permanecerá vigilante! Fonte: www.vaticannews.va

 

"Certamente todos somos pecadores", disse o Papa no Angelus dominical. "Mas,quando vivemos sob o senhorio de Jesus, não nos tornamos corruptos, falsos, inclinados a encobrir a verdade. Não se leva uma vida dupla."

 

Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano

Após celebrar a missa na Basílica Vaticana por ocasião da Jornada Mundial da Juventude diocesana, o Papa Francisco se reuniu com fiéis e peregrinos na Praça São Pedro para o Angelus dominical.

Em sua alocução, acompanhado de dois jovens da diocese de Roma, o Pontífice comentou o Evangelho da Liturgia deste último Domingo do Tempo Comum, que culmina numa afirmação de Jesus: "Eu sou Rei".

Ele pronuncia estas palavras perante Pilatos, enquanto a multidão grita para o condenar à morte. Anteriormente, Jesus não queria que o povo o aclamasse como rei, mas o fato é que a realeza de Jesus é bastante diferente da mundana, como explicou o Papa:

“Ele não vem para dominar, mas para servir. Ele não vem com os sinais do poder, mas com o poder dos sinais. Não está vestido com insígnias preciosas, mas está despido na cruz.”

A sua realeza vai além dos parâmetros humanos, disse ainda Francisco. “Ele não é rei como os outros, mas que é rei para os outros.”

 

Aplausos ou serviço?

O Papa prosseguiu destacando que Cristo disse que é rei no momento em que a multidão está contra ele, mostra-se livre do desejo de fama e glória terrena.

“E nós - perguntemo-nos - sabemos como imitá-lo nisto? No que fazemos, em particular no nosso compromisso cristão, contam os aplausos ou o serviço?”

Jesus não só evita qualquer busca da grandeza terrena, como também torna livre e soberano o coração de quem o segue.

“O seu reino é libertador, não há nada de opressivo. Ele trata cada discípulo como um amigo, não como um súdito.”

Portanto, acrescentou o Papa, seguindo Jesus, não se perde, mas se ganha dignidade. Porque Cristo não quer ao seu redor servilismo, mas pessoas livres.

 

Pecadores sim, corruptos jamais!

O fundamento desta liberdade de Jesus vem da verdade. É a sua verdade que nos liberta:

“A vida do cristão não é uma recitação em que se possa usar a máscara que é mais conveniente. Porque quando Jesus reina no coração, ele liberta-o da hipocrisia, dos subterfúgios, das duplicidades.”

Certamente todos somos pecadores, reconheceu o Papa. Mas, quando vivemos sob o senhorio de Jesus, não nos tornamos corruptos, falsos, inclinados a encobrir a verdade. Não se leva uma vida dupla.

“Pecadores sim, corruptos jamais!”

O Pontífice concluiu pedindo a intercessão de Nossa Senhora para nos ajude a procurar todos os dias a verdade de Jesus, que nos liberta das escravidões terrenas e nos ensina a governar os nossos vícios. Fonte: https://www.vaticannews.va

Francisco iniciou o ciclo de catequeses sobre São José. "Nunca como hoje, neste tempo marcado por uma crise global com diferentes componentes, ele pode ser apoio, conforto e orientação para nós. Por isso decidi dedicar-lhe um ciclo de catequeses, que espero nos possa ajudar ulteriormente a deixar-nos iluminar pelo seu exemplo e pelo seu testemunho", disse o Papa na Audiência Geral.

 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco iniciou o ciclo de catequeses sobre São José, na Audiência Geral, desta quarta-feira (17/11), realizada na Sala Paulo VI, sobre o tema "São José e o ambiente em que viveu".

Francisco recordou que em "8 de dezembro de 1870, o Beato Pio IX proclamou São José padroeiro da Igreja universal".

Depois de 150 anos daquele evento, estamos vivendo um ano especial dedicado a São José, e na Carta Apostólica Patris corde recolhi algumas reflexões sobre a sua figura. Nunca como hoje, neste tempo marcado por uma crise global com diferentes componentes, ele pode ser apoio, conforto e orientação para nós. Por isso decidi dedicar-lhe um ciclo de catequeses, que espero nos possa ajudar ulteriormente a deixar-nos iluminar pelo seu exemplo e pelo seu testemunho.

A seguir, o Pontífice sublinhou que "na Bíblia há mais de dez personagens com o nome de José. O mais importante de todos é o filho de Jacó e Raquel, que, através de várias vicissitudes, de escravo, tornou-se a segunda pessoa mais importante no Egito depois do Faraó".

 

José tem fé na providência de Deus

O Papa explicou que "o nome José em hebraico significa “Deus aumente, Deus faça crescer”. É um desejo, uma bênção baseada na confiança na providência de Deus e refere-se especialmente à fecundidade e ao crescimento dos filhos. Este mesmo nome nos revela um aspecto essencial da personalidade de José de Nazaré. Ele é um homem cheio de fé em Deus, na sua providência. Ele crê na providência de Deus. Tem fé na providência de Deus. Toda a sua ação, narrada no Evangelho, é ditada pela certeza de que Deus “faz crescer”, “aumenta”, “acrescenta”, ou seja, que Deus providencia a continuação do seu plano de salvação. E nisto, José de Nazaré é muito parecido com José do Egito".

Segundo Francisco, "as principais referências geográficas que se referem a José, Belém e Nazaré, também desempenham um papel importante na compreensão de sua figura. O Filho de Deus não escolheu Jerusalém como o lugar de sua encarnação, mas Belém e Nazaré, duas aldeias periféricas, longe do clamor da crônica e do poder da época. Contudo, Jerusalém era a cidade amada pelo Senhor, a «cidade santa», escolhida por Deus para nela habitar. Ali, habitavam os doutores da Lei, os escribas e fariseus, os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo".

 

Deus se manifesta nas periferias geográficas e existenciais

"É por isso que a escolha de Belém e Nazaré nos diz que a periferia e a marginalidade são prediletas a Deus. Jesus não nasceu em Jerusalém, com toda a corte. Não. Ele nasceu na periferia. Viveu a sua vida até 30 anos naquela periferia, trabalhando como carpinteiro. Como José. Para Jesus, as periferias e a marginalidade são prediletas", disse ainda o Papa, acrescentando:

Não levar esta realidade a sério equivale a não levar a sério o Evangelho e a obra de Deus, que continua se manifestando nas periferias geográficas e existenciais. O Senhor age sempre escondido nas periferias. Na periferia da alma, nos sentimentos, nos sentimentos que talvez nos envergonha. Mas, o Senhor está ali para nos ajudar a ir adiante. O Senhor continua se manifestando nas periferias, geográficas e existenciais. Em particular, Jesus vai em busca dos pecadores, entra nas suas casas, fala com eles, chama-os à conversão. Jesus é repreendido por isso. "Olhem esse mestre", dizem os doutores da lei, "esse mestre que come com os pecadores, se suja". Mas também vai em busca daqueles que não praticaram o mal, mas que o sofreram: os doentes, os famintos, os pobres, os últimos. Jesus vai sempre em direção à periferia. Isso deve nos dar muita confiança, pois o Senhor conhece as periferias do nosso coração, as periferias de nossa alma, as periferias de nossa sociedade, de nossa cidade, de nossa família, aquela parte um pouco escura que nós não mostramos talvez por vergonha.

 

Olhar para aquilo que o mundo não quer

Segundo o Papa, "sob este aspecto, a sociedade daquela época não é muito diferente da nossa. Hoje, também há um centro e uma periferia. E a Igreja sabe que é chamada a anunciar a boa nova a partir das periferias. José, que é um carpinteiro de Nazaré e que confia no plano de Deus para a sua jovem noiva e para si mesmo, recorda à Igreja para fixar o olhar naquilo que o mundo ignora deliberadamente".

“José nos ensina a não olhar muito para as coisas que o mundo louva, mas a olhar para o ângulo, olhar para as sombras, para a periferia, para aquilo que o mundo não quer. Lembra a cada um que devemos dar importância ao que os outros descartam.”

"Neste sentido, ele é um mestre do essencial: nos lembra que o que é realmente valioso não atrai a nossa atenção, mas requer um discernimento paciente para ser descoberto e valorizado. Peçamos-lhe que interceda para que toda a Igreja possa recuperar este discernimento, esta capacidade de discernir e avaliar o que é essencial. Comecemos de novo a partir de Belém, comecemos de novo a partir de Nazaré", disse ainda Francisco.

 

São José, testemunha e protetor

Por fim, o Papa transmitiu "uma mensagem a todos os homens e mulheres que vivem nas periferias geográficas mais esquecidas do mundo ou que experimentam situações de marginalidade existencial". "Que encontrem em São José a testemunha e o protetor para quem olhar", disse o Pontífice, fazendo a seguinte oração:

São José,

vós que sempre confiastes em Deus,

e fizestes as vossas escolhas

guiado pela sua providência

ensinai-nos a não contar tanto com os nossos projetos

mas com o seu desígnio de amor.

Vós que viestes das periferias

ajudai-nos a converter o nosso olhar

e a preferir o que o mundo descarta e marginaliza.

Confortai quantos se sentem sozinhos

e apoiai quantos se comprometem em silêncio

para defender a vida e a dignidade humana. Amém.

Fonte: https://www.vaticannews.va

O Papa Francisco pede, a nós cristãos, que sejamos “construtores incansáveis de esperança; luz enquanto o sol se obscurece; testemunhas de compaixão enquanto ao redor reina a distração; presenças atentas na indiferença generalizada”. Homilia da Santa Missa celebrada por ocasião do 5° Dia Mundial dos Pobres neste domingo 14 de novembro

 

Jane Nogara - Vatican News

Neste domingo (14/11) em que a Igreja celebra o 5° Dia Mundial dos Pobres, na homilia da Santa Missa celebrada na Basílica de São Pedro o Papa Francisco falou sobre as imagens utilizadas por Jesus para nos dar esperança. Depois de falar sobre o Evangelho de Marcos (13, 24-28) no qual se recorda que “da total obscuridade, há de vir o Filho do Homem” disse:

Deste modo o Evangelho ajuda-nos a ler a história, captando dois aspetos dela: a dor de hoje e a esperança de amanhã. Por um lado, evocam-se todas as dolorosas contradições em que a realidade humana vive imersa em cada tempo; por outro, há o futuro de salvação que a espera, isto é, o encontro com o Senhor que vem para nos libertar de todo o mal”.

 

A dor e a esperança

Em seguida comentou dois desses aspetos, “com o olhar de Jesus”. Com relação ao primeiro aspecto comentou a dor de hoje. "Vivemos numa história marcada por tribulações, violências, sofrimentos e injustiças” e afirmou:

O Dia Mundial dos Pobres que estamos celebrando, pede-nos que não viremos o rosto para o outro lado, não tenhamos medo de olhar de perto o sofrimento dos mais frágeis. Para eles o sol frequentemente é obscurecido pela solidão, a lua de suas expectativas apaga-se e os sonhos caem na resignação e acaba abalada a própria existência. Tudo isso por causa da pobreza a que muitas vezes se veem constrangidos, vítimas da injustiça e da desigualdade duma sociedade do descarte, que corre apressada sem os ver e, sem escrúpulos, os abandona ao seu destino”.

Porém, disse Francisco:

Em contrapartida, existe o segundo aspeto: a esperança de amanhã. Jesus quer abrir-nos à esperança, arrancar-nos da angústia e do medo à vista da dor do mundo. Para isso assegura-nos: ao mesmo tempo que o sol se obscurece e tudo parece cair é precisamente quando Ele Se faz vizinho a nós”.

Porque, “a salvação de Deus não é só uma promessa reservada para o Além, mas cresce já agora dentro da nossa história ferida, abre caminho por entre as opressões e injustiças do mundo”.

 

O que Jesus nos pede, a nós cristãos?

Neste ponto o Papa perguntou o que se pede, a nós cristãos? E como resposta disse: “Nutrir a esperança de amanhã, curando a dor de hoje”. De fato, explicou, a esperança que nasce do Evangelho não consiste em esperar passivamente por um amanhã em que as coisas hão de correr melhor, mas em tornar concreta hoje a promessa de salvação de Deus: hoje, cada dia...

A nós, é-nos pedido isto: ser, entre as ruínas quotidianas do mundo, construtores incansáveis de esperança; ser luz enquanto o sol se obscurece; ser testemunhas de compaixão enquanto ao redor reina a distração; ser presenças atentas na indiferença generalizada”.

“Compete-nos”, disse ainda “especialmente a nós cristãos, organizar a esperança, traduzi-la diariamente em vida concreta nas relações humanas, no compromisso sociopolítico”.

 

Agir concretamente pelo bem

A partir da imagem simples que Jesus oferece a de folhas que desabrocham sem fazer ruído e estas folhas aparecem quando o ramo se torna tenro Francisco afirmou que aqui está a palavra que faz germinar a esperança no mundo e alivia a dor dos pobres: a ternura. Depende de nós superar o fechamento, a rigidez interior e deixar de pensar apenas em nossos problemas.

Jesus quer-nos ‘conversores de bem’: pessoas que, imersas no ar pesado que todos respiram, respondem ao mal com o bem (cf. Rm 12, 21). Pessoas que agem: partilham o pão com os famintos, trabalham pela justiça, elevam os pobres e devolvem-lhes a sua dignidade”.

Por fim encorajou todos com as palavras de Lucas: “Coragem, o Senhor está próximo! Também para ti há um verão que desabrocha no coração do inverno. Mesmo da tua dor, pode ressurgir a esperança”. Concluindo Francisco disse: “Levemos ao mundo este olhar de esperança. Levemo-lo com ternura aos pobres, sem os julgar. Porque lá, junto deles, está Jesus; porque lá, neles, está Jesus, que nos espera”. Fonte: https://www.vaticannews.va

 

(XXXIII Domingo do Tempo Comum – 14 de novembro de 2021)

 

«Sempre tereis pobres entre vós» (Mc 14, 7)

  1. «Sempre tereis pobres entre vós» (Mc 14, 7): estas palavras foram pronunciadas por Jesus, alguns dias antes da Páscoa, por ocasião duma refeição em Betânia na casa de Simão chamado «o leproso». Como narra o evangelista, entrou lá uma mulher com um vaso de alabastro cheio de perfume muito precioso e derramou-o sobre a cabeça de Jesus. Este gesto suscitou grande estupefação e deu origem a duas interpretações diversas.

A primeira delas é a indignação de alguns dos presentes, incluindo os discípulos, que, ao considerar o valor do perfume (cerca de 300 denários, equivalente ao salário anual dum trabalhador), pensam que teria sido melhor vendê-lo e dar o produto aos pobres. Segundo o Evangelho de João, é Judas que se faz intérprete desta posição: «Porque é que não se vendeu este perfume por trezentos denários, para os dar aos pobres?». E o evangelista observa: «Ele, porém, disse isto, não porque se preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão e, como tinha a bolsa do dinheiro, tirava o que nela se deitava» (Jo 12, 5-6). Não é por acaso que esta crítica dura sai da boca do traidor: é a prova de que, quantos não reconhecem os pobres, atraiçoam o ensinamento de Jesus e não podem ser seus discípulos. Recordemos, a este propósito, as palavras fortes de Orígenes: «Judas, aparentemente, estava preocupado com os pobres. (…) Se, agora, ainda houver alguém que tem a bolsa da Igreja e fala a favor dos pobres como Judas, mas depois tira o que metem lá dentro, então tenha parte juntamente com Judas» (Comentário ao Evangelho de Mateus 11, 9).

A segunda interpretação é dada pelo próprio Jesus e permite individuar o sentido profundo do gesto realizado pela mulher. Diz Ele: «Deixai-a. Porque estais a atormentá-la? Praticou em Mim uma boa ação» (Mc 14, 6). Jesus sabe que está próxima a sua morte e vê, naquele gesto, a antecipação da unção do seu corpo sem vida antes de ser colocado no sepulcro. Esta visão ultrapassa todas as expetativas dos convivas. Jesus recorda-lhes que Ele é o primeiro pobre, o mais pobre entre os pobres, porque os representa a todos. E é também em nome dos pobres, das pessoas abandonadas, marginalizadas e discriminadas que o Filho de Deus aceita o gesto daquela mulher. Esta, com a sua sensibilidade feminina, demonstra ser a única que compreendeu o estado de espírito do Senhor. Esta mulher anónima – talvez por isso destinada a representar todo o universo feminino que, no decurso dos séculos, não terá voz e sofrerá violências –, inaugura a significativa presença de mulheres que participam no momento culminante da vida de Cristo: a sua crucifixão, morte e sepultura e a sua aparição como Ressuscitado. As mulheres, tantas vezes discriminadas e mantidas ao largo dos postos de responsabilidade, nas páginas do Evangelho são, pelo contrário, protagonistas na história da revelação. E é eloquente a frase conclusiva de Jesus, que associa esta mulher à grande missão evangelizadora: «Em verdade vos digo: em qualquer parte do mundo onde for proclamado o Evangelho, há de contar-se também, em sua memória, o que ela fez» (Mc 14, 9).

  1. Esta forte «empatia» entre Jesus e a mulher e o modo como Ele interpreta a sua unção, em contraste com a visão escandalizada de Judas e doutros, inauguram um fecundo caminho de reflexão sobre o laço indivisível que existe entre Jesus, os pobres e o anúncio do Evangelho.

Com efeito, o rosto de Deus que Ele revela é o de um Pai para os pobres e próximo dos pobres. Toda a obra de Jesus afirma que a pobreza não é fruto duma fatalidade, mas sinal concreto da sua presença no nosso meio. Não O encontramos quando e onde queremos, mas reconhecemo-Lo na vida dos pobres, na sua tribulação e indigência, nas condições por vezes desumanas em que são obrigados a viver. Não me canso de repetir que os pobres são verdadeiros evangelizadores, porque foram os primeiros a ser evangelizados e chamados a partilhar a bem-aventurança do Senhor e o seu Reino (cf. Mt 5, 3).

Os pobres de qualquer condição e latitude evangelizam-nos, porque permitem descobrir de modo sempre novo os traços mais genuínos do rosto do Pai. Eles «têm muito para nos ensinar. Além de participar do sensus fidei, nas suas próprias dores conhecem Cristo sofredor. É necessário que todos nos deixemos evangelizar por eles. A nova evangelização é um convite a reconhecer a força salvífica das suas vidas, e a colocá-los no centro do caminho da Igreja. Somos chamados a descobrir Cristo neles: não só a emprestar-lhes a nossa voz nas suas causas, mas também a ser seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar através deles. O nosso compromisso não consiste exclusivamente em ações ou em programas de promoção e assistência; aquilo que o Espírito põe em movimento não é um excesso de ativismo, mas primariamente uma atenção prestada ao outro, considerando-o como um só consigo mesmo. Esta atenção amiga é o início duma verdadeira preocupação pela sua pessoa e, a partir dela, desejo de procurar efetivamente o seu bem» (Papa Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 198-199).

  1. Jesus não só está do lado dos pobres, mas também partilha com eles a mesma sorte. Isto constitui também um forte ensinamento para os seus discípulos de todos os tempos. As suas palavras – «sempre tereis pobres entre vós» – pretendem indicar também isto: a sua presença no meio de nós é constante, mas não deve induzir àquela habituação que se torna indiferença, mas empenhar numa partilha de vida que não prevê delegações. Os pobres não são pessoas «externas» à comunidade, mas irmãos e irmãs cujo sofrimento se partilha, para abrandar o seu mal e a marginalização, a fim de lhes ser devolvida a dignidade perdida e garantida a necessária inclusão social. Aliás sabe-se que um gesto de beneficência pressupõe um benfeitor e um beneficiado, enquanto a partilha gera fraternidade. A esmola é ocasional, ao passo que a partilha é duradoura. A primeira corre o risco de gratificar quem a dá e humilhar quem a recebe, enquanto a segunda reforça a solidariedade e cria as premissas necessárias para se alcançar a justiça. Enfim os crentes, quando querem ver Jesus em pessoa e tocá-Lo com a mão, sabem aonde dirigir-se: os pobres são sacramento de Cristo, representam a sua pessoa e apontam para Ele.

Temos muitos exemplos de Santos e Santas que fizeram da partilha com os pobres o seu projeto de vida. Penso, entre outros, no Padre Damião de Veuster, Santo apóstolo dos leprosos. Com grande generosidade, respondeu à vocação de ir para a ilha de Molokai – tinha-se tornado um gueto acessível apenas aos leprosos –, a fim de viver e morrer com eles. Lançando-se ao trabalho, tudo fez para tornar digna de ser vivida a existência daqueles pobres doentes e marginalizados, reduzidos à degradação extrema. Fez-se médico e enfermeiro, sem se preocupar com os riscos que corria, levando a luz do amor àquela «colónia de morte», como era designada a ilha. A lepra atingiu-o também a ele, sinal duma partilha total com os irmãos e irmãs pelos quais dera a vida. O seu testemunho é muito atual nestes nossos dias, marcados pela pandemia de coronavírus: com certeza a graça de Deus está em ação no coração de muitas pessoas que, sem dar nas vistas, se gastam concretamente partilhando a sorte dos mais pobres.

  1. Por isso precisamos de aderir com plena convicção ao convite do Senhor: «Convertei-vos e acreditai no Evangelho» (Mc 1, 15). Esta conversão consiste, primeiro, em abrir o nosso coração para reconhecer as múltiplas expressões de pobreza e, depois, em manifestar o Reino de Deus através dum estilo de vida coerente com a fé que professamos. Com frequência, os pobres são considerados como pessoas aparte, como uma categoria que requer um serviço caritativo especial. Seguir Jesus comporta uma mudança de mentalidade a esse propósito, ou seja, acolher o desafio da partilha e da comparticipação. Tornar-se seu discípulo implica a opção de não acumular tesouros na terra, que dão a ilusão duma segurança em realidade frágil e efémera; ao contrário, requer disponibilidade para se libertar de todos os vínculos que impedem de alcançar a verdadeira felicidade e bem-aventurança, para reconhecer aquilo que é duradouro e que nada e ninguém pode destruir (cf. Mt 6, 19-20).

Mas o ensinamento de Jesus aparece em contracorrente também neste caso, porque promete aquilo que só os olhos da fé podem ver e experimentar com certeza absoluta: «Todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou campos por causa do meu nome, receberá cem vezes mais e terá por herança a vida eterna» (Mt 19, 29). Se não se optar por tornar-se pobre de riquezas efémeras, poder mundano e vanglória, nunca se sará capaz de dar a vida por amor; viver-se-á uma existência fragmentária, cheia de bons propósitos mas ineficaz para transformar o mundo. Trata-se, portanto, de abrir-se decididamente à graça de Cristo, que pode tornar-nos testemunhas da sua caridade sem limites e restituir credibilidade à nossa presença no mundo.

  1. O Evangelho de Cristo impele a ter uma atenção muito particular para com os pobres e requer que se reconheça as múltiplas, demasiadas, formas de desordem moral e social que sempre geram novas formas de pobreza. Parece ganhar terreno a conceção segundo a qual os pobres não só são responsáveis pela sua condição, mas constituem também um peso intolerável para um sistema económico que coloca no centro o interesse dalgumas categorias privilegiadas. Um mercado que ignora ou discrimina os princípios éticos cria condições desumanas que se abatem sobre pessoas que já vivem em condições precárias. Deste modo assiste-se à criação incessante de armadilhas novas da miséria e da exclusão, produzidas por agentes económicos e financeiros sem escrúpulos, desprovidos de sentido humanitário e responsabilidade social.

Além disso, no ano passado, veio juntar-se outra praga que multiplicou ainda mais o número dos pobres: a pandemia. Esta continua a bater à porta de milhões de pessoas e, mesmo quando não traz consigo o sofrimento e a morte, todavia é portadora de pobreza. Os pobres têm aumentado desmesuradamente e o mesmo, infelizmente, continuará a verificar-se ainda nos próximos meses. Alguns países estão a sofrer gravíssimas consequências devido à pandemia, a ponto de as pessoas mais vulneráveis se encontrarem privadas de bens de primeira necessidade. As longas filas diante das cantinas para os pobres são o sinal palpável deste agravamento. Um olhar atento requer que se encontrem as soluções mais idóneas para combater o vírus a nível mundial, sem olhar a interesses de parte. De modo particular, é urgente dar respostas concretas a quantos padecem o desemprego, que atinge de maneira dramática tantos pais de família, mulheres e jovens. A solidariedade social e a generosidade de que muitos, graças a Deus, são capazes, juntamente com projetos clarividentes de promoção humana, estão a dar e darão um contributo muito importante nesta conjuntura.

  1. Entretanto permanece de pé uma questão, nada óbvia: Como se pode dar uma resposta palpável aos milhões de pobres que tantas vezes, como resposta, só encontram a indiferença, quando não a aversão? Qual caminho de justiça é necessário percorrer para que as desigualdades sociais possam ser superadas e seja restituída a dignidade humana tão frequentemente espezinhada? Um estilo de vida individualista é cúmplice na geração da pobreza e, muitas vezes, descarrega sobre os pobres toda a responsabilidade da sua condição. Mas a pobreza não é fruto do destino; é consequência do egoísmo. Portanto é decisivo dar vida a processos de desenvolvimento onde se valorizem as capacidades de todos, para que a complementaridade das competências e a diversidade das funções conduzam a um recurso comum de participação. Há muitas pobrezas dos «ricos» que poderiam ser curadas pela riqueza dos «pobres», bastando para isso encontrarem-se e conhecerem-se. Ninguém é tão pobre que não possa dar algo de si na reciprocidade. Os pobres não podem ser aqueles que apenas recebem; devem ser colocados em condição de poder dar, porque sabem bem como corresponder. Quantos exemplos de partilha diante dos nossos olhos! Os pobres ensinam-nos frequentemente a solidariedade e a partilha. É verdade que são pessoas a quem falta algo e por vezes até muito, se não mesmo o necessário; mas não falta tudo, porque conservam a dignidade de filhos de Deus que nada e ninguém lhes pode tirar.
  2. Impõe-se, pois, uma abordagem diferente da pobreza. É um desafio que os governos e as instituições mundiais precisam de perfilhar, com um modelo social clarividente, capaz de enfrentar as novas formas de pobreza que invadem o mundo e marcarão de maneira decisiva as próximas décadas. Se os pobres são colocados à margem, como se fossem os culpados da sua condição, então o próprio conceito de democracia é posto em crise e fracassa toda e qualquer política social. Com grande humildade, temos de confessar que muitas vezes não passamos de incompetentes a respeito dos pobres: fala-se deles em abstrato, fica-se pelas estatísticas e pensa-se sensibilizar com qualquer documentário. Ao contrário, a pobreza deveria incitar a uma projetação criativa, que permita fazer aumentar a liberdade efetiva de conseguir realizar a existência com as capacidades próprias de cada pessoa. Pensar que a posse de dinheiro consinta e aumente a liberdade é uma ilusão de que devemos afastar-nos. Servir eficazmente os pobres incita à ação e permite encontrar as formas mais adequadas para levantar e promover esta parte da humanidade, demasiadas vezes anónima e sem voz, mas que em si mesma traz impresso o rosto do Salvador que pede ajuda.
  3. «Sempre tereis pobres entre vós» (Mc 14, 7): é um convite a não perder jamais de vista a oportunidade que se nos oferece para fazer o bem. Como pano de fundo, pode-se vislumbrar o antigo mandamento bíblico: «Se houver junto de ti um indigente entre os teus irmãos (…), não endurecerás o teu coração e não fecharás a tua mão ao irmão necessitado. Abre-lhe a tua mão, empresta-lhe sob penhor, de acordo com a sua necessidade, aquilo que lhe faltar. (…) Deves dar-lhe, sem que o teu coração fique pesaroso; porque, em recompensa disso, o Senhor, teu Deus, te abençoará em todas as empresas das tuas mãos. Sem dúvida, nunca faltarão pobres na terra» (Dt 15, 7-8.10-11). E no mesmo cumprimento de onda se coloca o apóstolo Paulo, quando exorta os cristãos das suas comunidades a socorrer os pobres da primeira comunidade de Jerusalém e a fazê-lo «sem tristeza nem constrangimento, pois Deus ama quem dá com alegria» (2 Cor 9, 7). Não se trata de serenar a nossa consciência dando qualquer esmola, mas antes contrastar a cultura da indiferença e da injustiça com que se olha os pobres.

Neste ponto, faz-nos bem recordar as palavras de São João Crisóstomo: «Quem é generoso não deve pedir contas do comportamento, mas somente melhorar a condição de pobreza e satisfazer a necessidade. O pobre só tem uma defesa: a sua pobreza e a condição de necessidade em que se encontra. Não lhe peças mais nada; mesmo que fosse o homem mais malvado do mundo, se lhe vier a faltar o alimento necessário, libertemo-lo da fome. (…) O homem misericordioso é um porto para quem está em necessidade: o porto acolhe e liberta do perigo todos os náufragos, sejam eles malfeitores, bons ou como forem. Aos que se encontram em perigo, o porto acolhe-os, coloca-os em segurança dentro da sua enseada. Também tu, portanto, quando vês por terra um homem que sofreu o naufrágio da pobreza, não o julgues, nem lhe peças conta do seu comportamento, mas liberta-o da desventura» (Discursos sobre o pobre Lázaro, II, 5).

  1. É decisivo aumentar a sensibilidade para se compreender as exigências dos pobres, sempre em mutação por força das condições de vida. Com efeito, nas áreas economicamente mais desenvolvidas do mundo, está-se menos predisposto hoje que no passado a confrontar-se com a pobreza. O estado de relativo bem-estar ao qual se habituaram torna mais difícil aceitar sacrifícios e privações. Está-se pronto a tudo só para não ficar privado daquilo que foi fruto de fácil conquista. Deste modo, cai-se em formas de rancor, nervosismo espasmódico, reivindicações que levam ao medo, à angústia e, nalguns casos, à violência. Este não é o critério sobre o qual construir o futuro; também estas são formas de pobreza, para as quais não se pode deixar de olhar. Devemos estar abertos a ler os sinais dos tempos que exprimem novas modalidades de ser evangelizadores no mundo contemporâneo. A assistência imediata para acorrer às necessidades dos pobres não deve impedir de ser clarividente para atuar novos sinais do amor e da caridade cristã como resposta às novas pobrezas que experimenta a humanidade de hoje.

Faço votos de que o Dia Mundial dos Pobres, chegado já à sua quinta celebração, possa radicar-se cada vez mais nas nossas Igrejas locais e abrir-se a um movimento de evangelização que, em primeira instância, encontre os pobres lá onde estão. Não podemos ficar à espera que batam à nossa porta; é urgente ir ter com eles às suas casas, aos hospitais

e casas de assistência, à estrada e aos cantos escuros onde, por vezes, se escondem, aos centros de refúgio e de acolhimento… É importante compreender como se sentem, o que estão a passar e quais os desejos que têm no coração. Façamos nossas as palavras inflamadas do Padre Primo Mazzolari: «Gostaria de pedir-vos para não me perguntardes se existem pobres, quem são e quantos são, porque tenho receio que tais perguntas representem uma distração ou o pretexto para escapar duma específica indicação da consciência e do coração. (…) Os pobres, eu nunca os contei, porque não se podem contar: os pobres abraçam-se, não se contam» (Revista «Adesso», n.º 7, 15 de abril de 1949). Os pobres estão no meio de nós. Como seria evangélico, se pudéssemos dizer com toda a verdade: também nós somos pobres, porque só assim conseguiríamos realmente reconhecê-los e fazê-los tornar-se parte da nossa vida e instrumento de salvação.

Roma, São João de Latrão, na Memória de Santo Antônio, 13 de junho de 2021.

Francisco

Fonte: https://www.vatican.va

“É tempo que seja restituída a palavra aos pobres, porque durante demasiado tempo os seus pedidos não foram ouvidos”. Palavras de Francisco aos pobres em Assis nesta sexta-feira, 12 de novembro, recordando-lhes de manter a esperança e a resistência e que estas devem ser partilhadas

 

Jane Nogara - Vatican News

Por ocasião do Encontro de oração e testemunho da quinta edição do Dia Mundial dos Pobres o Papa Francisco foi a Assis nesta sexta-feira, 12 de novembro. Depois de ouvir os testemunhos de alguns presentes e do momento especial de oração o Papa dirigiu algumas palavras aos presentes.

Francisco iniciou agradecendo a presença de todos em Assis e recordando que a cidade de Assis “tem impresso o rosto de São Francisco” que recebeu o chamado para viver o Evangelho à letra. E disse que embora a sua santidade de alguma forma nos assusta porque parece impossível imitá-la, devemos recordar certos momentos da sua vida que valem mais do que os sermões. E falou dos pequenos sacrifícios os “fioretti” que o Santo fazia, que foram reunidos para mostrar a beleza da sua vocação: “somos atraídos por esta simplicidade de coração e de vida: é a própria atração de Cristo, do Evangelho”. O Papa recordou uma dessas passagens quando Francisco vivendo na pobreza extrema conseguia alguma coisa para comer embora fosse pouca ele sempre a considerava como “um tesouro do qual não se sentia digno”, e dizia:

“É precisamente isto que considero um grande tesouro, porque não há nada, mas o que temos nos foi dado pela Providência (...) Este é o ensinamento que São Francisco nos dá: saber contentar-se com o pouco que temos e partilhá-lo com os outros”

 

Homens e mulheres pedras vivas da Igreja

Ao recordar que o encontro se realizava na Porciúncula, uma das pequenas igrejas que São Francisco pensou em restaurar, o Papa disse: “Ele nunca teria pensado que o Senhor lhe pedisse para dar a sua vida para renovar não a igreja feita de pedras, mas a de pessoas, de homens e mulheres que são as pedras vivas da Igreja. E se estamos aqui hoje é precisamente para aprender com o que São Francisco fez”.

 

Marginalização espiritual

São Francisco “passava muito tempo nesta pequena igreja a rezar”, continuou o Papa, “recolhia-se aqui em silêncio e escutava o Senhor, o que Deus queria dele. Também nós viemos aqui para isto: queremos pedir ao Senhor que ouça o nosso grito e venha em nosso auxílio. Não esqueçamos que a primeira marginalização de que os pobres sofrem é espiritual”. O Papa recordou e agradeceu a todos os que ajudam os pobres, e disse que fica muito feliz quando “as pessoas param para falar e às vezes rezar com eles”.

Em seguida falou da acolhida.

“Acolher significa abrir a porta, a porta da casa e a porta do coração, e permitir àqueles que batem à porta de entrar. E que podem sentir-se à vontade, sem medo. Onde existe um verdadeiro sentido de fraternidade, existe também a experiência sincera de acolhimento”

 

A fraqueza pode se tornar uma força que melhora o mundo

Neste ponto do discurso o Papa falou sobre o encontro.

“Encontrar-se é a primeira coisa, ou seja, ir ao encontro uns dos outros com o coração aberto e a mão estendida. Sabemos que cada um de nós precisa do outro, e mesmo a fraqueza, se experimentada em conjunto, pode tornar-se uma força que melhora o mundo”

O Pontífice em seguida abordou a questão dos que afirmam que os responsáveis pela pobreza são os pobres.... além da “hipocrisia dos que querem se enriquecer para além das medidas, se coloca a culpa sobre os ombros dos mais fracos”. E para contrastar o Papa afirmou com veemência:

“É tempo que seja restituída a palavra aos pobres, porque durante demasiado tempo os seus pedidos não foram ouvidos. É tempo que se abram os olhos para ver o estado de desigualdade em que vivem tantas famílias. É tempo de arregaçar as mangas para restituir dignidade através da criação de empregos. É tempo que se volte a se escandalizar diante da realidade de crianças famintas, escravizadas, tiradas das águas quando naufragam, vítimas inocentes de todo o tipo de violência. É tempo que cessem as violências contra as mulheres e as mulheres sejam respeitadas e não tratadas como mercadoria. É tempo que se rompa o círculo da indiferença para retornar a descobrir a beleza do encontro e do diálogo”.

 

Coragem e sinceridade

Em seguida o Papa comentou os testemunhos das pessoas pobres agradecendo sua coragem e sinceridade. “Coragem, porque quiseram partilhar com todos nós, mesmo que façam parte da sua vida pessoal; sinceridade, porque se mostraram como são e abriram o seu coração com o desejo de serem compreendidos”.  

 

Esperança e resistência

“Percebi um grande sentido de esperança. A marginalização, o sofrimento da doença e da solidão, a falta de muitos meios necessários não os impediu de olharem com os olhos cheios de gratidão para as pequenas coisas que lhes permitiram de resistir”

Por fim o Papa falou sobre resistir além da esperança: “Esta é a segunda impressão que eu percebi e que deriva da esperança. O que significa resistir? Ter a força para continuar apesar de tudo. A resistir não é uma ação passiva, pelo contrário, requer coragem para empreender um novo caminho sabendo que dará frutos”.

Concluindo disse: “Peçamos ao Senhor que nos ajude sempre a encontrar a serenidade e a alegria. Aqui na Porciúncula, São Francisco ensina-nos a alegria que vem de olhar para quem está próximo como a um companheiro de viagem que nos compreende e nos apoia, tal como nós somos para ele ou ela”. Fonte: Fonte: https://www.vaticannews.va

 

Francisco volta a falar sobre a Conferência de Glasgow que está prestes a terminar, relançando a responsabilidade moral de enfrentar o grande desafio das mudanças climáticas para com as gerações presentes e futuras.

 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco enviou, nesta quinta-feira (11/11), uma carta aos católicos da Escócia por ocasião da Cop26, a Conferência da ONU sobre o Clima, que se conclui na sexta-feira, 12 de novembro, em Glasgow.

O Pontífice ressalta que não foi possível participar da Cop 26 e que sente muito por isso, mas ao mesmo tempo está feliz porque hoje os católicos escoceses se unem em oração pelas intenções do Papa e "por um resultado frutífero deste encontro, destinado a enfrentar uma das grandes questões morais de nosso tempo: a preservação da criação de Deus, que nos foi doada como um jardim para cultivar e como uma Casa comum para a nossa família humana".

 

Deus confiou o mundo aos nossos cuidados

"Imploramos os dons da sabedoria e força de Deus para aqueles que têm a tarefa de guiar a Comunidade internacional, à medida que procuram enfrentar este sério desafio com decisões concretas inspiradas na responsabilidade para com as gerações presentes e futuras. O tempo está se esgotando. Esta oportunidade não deve ser desperdiçada por medo de ter que enfrentar o julgamento de Deus por nossa incapacidade de sermos guardiões fiéis do mundo que Ele confiou aos nossos cuidados", ressalta Francisco na carta.

O Papa expressa aos católicos da Escócia o seu afeto no Senhor e os incentiva "a perseverar em sua fidelidade a Deus e à sua Igreja". Francisco saúda e reza pelos católicos escoceses e "suas famílias, pelos jovens, pelos idosos, os doentes e por aqueles que, de qualquer forma, estão sofrendo os efeitos da pandemia".

"Nestes tempos difíceis, que todos os seguidores de Cristo na Escócia renovem seu compromisso de serem testemunhas convincentes da alegria do Evangelho e de seu poder de levar luz e esperança a todos os esforços para construir um futuro de justiça, fraternidade e prosperidade, tanto material quanto espiritual".

Francisco conclui a carta, assegurando suas orações pelos católicos escoceses, suas famílias, suas paróquias e comunidades, e confiando-lhes à amorosa intercessão de Maria, Mãe da Igreja. Fonte: https://www.vaticannews.va

 

Uma fé sem dom e gratuidade é como um jogo bem jogado, mas sem gol. Uma fé sem obras de caridade nos torna tristes, disse Francisco ao comentar o Evangelho deste domingo.

 

Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano

“Um teste sobre a nossa fé”: assim o Papa comentou o Evangelho deste 28° Domingo do Tempo Comum, ao rezar com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro o Angelus dominical.

 O Evangelista Marcos narra o encontro de Jesus com um homem rico, do qual não se sabe nem a idade nem o nome. Neste “alguém”, disse o Papa, todos podemos nos reconhecer e nos permite fazer um “teste sobre a fé”.

O homem começa com uma pergunta: “Que devo fazer para ganhar a vida eterna?”. Eis a sua religiosidade, observou Francisco: um dever, uma fazer para obter. Mas esta é uma relação comercial com Deus. Ao invés, a fé não é um rito frio e mecânico. É questão de liberdade e de amor.

Então podemos fazer o primeiro teste: para mim, que é a fé? Se é principalmente um dever ou uma moeda de troca, estamos no caminho errado, porque a salvação é um dom e não um dever, é gratuita e não se pode comprar. O primeiro passo, portanto, é nos libertar de uma fé “comercial e mecânica”.

Na sequência, Jesus ajuda aquele “alguém” oferecendo-lhe a verdadeira face de Deus. O texto diz: “Jesus olhou para ele com amor”. Eis de onde nasce e renasce a fé: não de um dever ou de algo a fazer, mas de um olhar de amor a acolher. Não se baseia nas nossas capacidades e projetos. Se a sua fé está cansada e você quer rejuvenescê-la, o Papa indica:  

Busque o olhar de Deus: coloque-se em adoração, deixe-se perdoar na Confissão, fique diante do Crucifixo. Enfim, deixe-se amar por Ele.

Depois da pergunta e do olhar, há um convite de Jesus: “Vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres”.

“Talvez é isto que nos falte também a nós. Com frequência, fazemos o mínimo indispensável, enquanto Jesus nos convida ao máximo possível. Não podemos nos contentar dos deveres, preceitos e algumas orações. “A fé não pode se limitar aos “nãos”, porque a vida cristã è um “sim”; um “sim” de amor.

Uma fé sem dom e gratuidade é como um jogo bem jogado, mas sem gol. Uma fé sem obras de caridade nos torna tristes. “Que Nossa Senhora, que disse a Deus um 'sim' total, um 'sim' sem 'mas', nos faça saborear a beleza de fazer da vida um dom.”. Fonte: https://www.vaticannews.va

 

“Cada fechamento mantém à distância os que não pensam como nós. Isto é a raiz de tantos dos grandes males da história: do absolutismo que muitas vezes gerou ditaduras e de tanta violência contra os que são diferentes”. Palavras do Papa Francisco no Angelus deste domingo 26 de setembro

 

Jane Nogara - Vatican News

No Angelus deste domingo (26/09) o Papa Francisco destacou um breve diálogo entre Jesus e o apóstolo João que fala em nome de todo o grupo de discípulos (Mc 9, 38-41). João fala de um homem que expulsava o demônio em nome do Senhor, e o impediram de fazê-lo porque não fazia parte do grupo deles. Então o Papa recordou que Jesus convidou a não dificultar os que fazem o bem porque contribuem para a realização do plano de Deus, explicando:

"As palavras de Jesus revelam uma tentação e oferecem uma exortação. A tentação é a do fechamento. Os discípulos gostariam de impedir uma obra do bem só porque a pessoa que o fez não pertencia ao seu grupo".

“Cada fechamento mantém à distância os que não pensam como nós. Isto - como sabemos - é a raiz de tantos dos grandes males da história: do absolutismo que muitas vezes gerou ditaduras e de tanta violência contra aqueles que são diferentes”

 

Comunidades humildes e abertas a todos

Francisco colocou a questão em relação à Igreja recordando a todos “precisamos estar vigilantes também quanto ao fechamento na Igreja” e detalhou “o diabo, que é o divisor - é isso que a palavra "diabo" significa - sempre insinua suspeitas a fim de dividir e excluir. Ele tenta com astúcia, e pode acontecer como com aqueles discípulos, que chegam ao ponto de excluir até mesmo os que expulsaram o próprio diabo!”

Ponderando em seguida:

“Às vezes nós também, em vez de sermos comunidades humildes e abertas, podemos dar a impressão de sermos ‘os melhores da classe’ e manter os outros à distância; em vez de tentar caminhar com todos, podemos exibir nossa ‘licença de crentes’ para julgar e excluir”

 

Superar a tentação de julgar

“Peçamos a graça – continuou o Santo Padre - de superar a tentação de julgar e catalogar, e que Deus nos preserve da mentalidade do ‘nicho’, da mentalidade de nos guardarmos ciosamente no pequeno grupo dos que se consideram bons. O Espírito Santo não quer fechamentos; ele quer abertura, comunidades acolhedoras onde haja lugar para todos”.

 

Não compactuar com o mal

Francisco fala também da severidade de Jesus ao exortar contra o julgamento impróprio afirmando que “o risco é ser inflexível para com os outros e indulgente para com nós mesmos”. E que “Jesus nos exorta a não compactuar com o mal”.

“Se alguma coisa em ti é motivo de escândalo, corte-a! Jesus é radical, exigente, mas para nosso bem, como um bom médico. Cada corte, cada poda, é para crescer melhor e dar frutos no amor”

Então perguntemo-nos: o que há em mim que é contrário ao Evangelho? O que, concretamente, Jesus quer que eu corte em minha vida?”. Fonte: https://www.vaticannews.va