"Muitas vezes acontece que não rezamos, ou não temos vontade de rezar, ou não sabemos ou rezamos como papagaios, com a boca, mas o coração distante. Este é momento de dizer ao Espírito Santo: Vem, vem Espírito Santo, aquece o meu coração", disse Francisco na Audiência Geral.

 

Vatican News

O Papa Francisco concluiu as catequeses sobre o tema da oração na Audiência Geral desta quarta-feira (17/03), realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico, intitulada "A oração e a Trindade".

O primeiro dom de cada existência cristã é o Espírito Santo. Não é um dos muitos dons, mas o Dom fundamental. O Espírito é o dom que Jesus prometeu nos enviar. Sem o Espírito, não há relação com Cristo e com o Pai. Porque o Espírito abre o nosso coração à presença de Deus e atrai-o para aquele “vórtice” de amor que é o coração do próprio Deus. Não somos apenas hóspedes e peregrinos no caminho sobre esta terra, somos também hóspedes e peregrinos no mistério da Trindade. Somos como Abraão, que um dia, acolhendo três caminhantes na sua tenda, encontrou Deus.

"Se realmente podemos invocar Deus chamando-o “Abbá-Pai”, é porque o Espírito Santo habita em nós; é Ele que nos transforma profundamente e nos faz experimentar a alegria comovente de sermos amados por Deus como verdadeiros filhos. Todo trabalho espiritual dentro de nós em relação a Deus é obra do Espírito Santo. Ele trabalha em nós para levar adiante a nossa vida cristã em direção ao Pai com Jesus", disse ainda o Papa. A seguir, acrescentou:

Esta é a obra do Espírito em nós. Ele “recorda-nos” Jesus e torna-o presente a nós, podemos dizer que é a nossa memória trinitária, a memória de Deus em nós, e o torna presente a Jesus, para que não seja reduzido a um personagem do passado, ou seja, o Espírito traz no presente Jesus em nossa consciência. Se Cristo estivesse apenas distante no tempo, estaríamos sozinhos e desorientados no mundo. Sim, recordaremos Jesus, distante, mas é o Espírito que o traz hoje, agora, neste momento em meu coração. No Espírito tudo é vivificado: está aberta aos cristãos de todos os tempos e lugares está aberta a possibilidade de encontrar Cristo. É aberta a possibilidade de encontrar Cristo. Não recordá-lo como um personagem histórico. Não. Ele atrai Cristo em nossos corações. É o Espírito que nos faz encontrar Cristo. Ele não está distante, está conosco: ele ainda educa os seus discípulos transformando os seus corações, como fez com Pedro, com Paulo, com Maria de Magdala, com todos os apóstolos.

Segundo o Papa, esta "é a experiência que tantos orantes viveram: homens e mulheres que o Espírito Santo formou segundo a “medida” de Cristo, na misericórdia, no serviço, na oração, na catequese. É uma graça poder encontrar pessoas assim: percebe-se que nelas pulsa uma vida diferente, o seu olhar vê “além”. Não pensemos apenas em monges e eremitas; também os encontramos entre pessoas comuns, pessoas que teceram uma longa história de diálogo com Deus, em momentos de luta interior, que purifica a fé. Estas humildes testemunhas procuraram Deus no Evangelho, na Eucaristia recebida e adorada, no rosto do irmão em dificuldade, e conservam a sua presença como um fogo secreto".

Francisco disse ainda que "a primeira tarefa dos cristãos é precisamente manter vivo este fogo, que Jesus trouxe à terra. E qual é este fogo? O Amor de Deus, o Espírito Santo. Sem o fogo do Espírito, as profecias extinguem-se, a tristeza suplanta a alegria, o hábito substitui o amor, o serviço transforma-se em escravidão. Vem-me à mente a imagem da lâmpada acesa ao lado do tabernáculo onde se conserva a Eucaristia. Até quando a igreja está vazia e a cai noite, quando a igreja está fechada, aquela lâmpada permanece acesa, continua a arder: ninguém a vê, mas arde perante o Senhor. Assim é o Espírito Santo em nosso coração, sempre presente como aquela lâmpada".

Muitas vezes acontece que não rezamos, ou não temos vontade de rezar, ou não sabemos ou rezamos como papagaios, com a boca, mas o coração distante. Este é momento de dizer ao Espírito Santo: Vem, vem Espírito Santo, aquece o meu coração. Vem e ensina-me a rezar, ensina-me a olhar o pai, a olhar o filho. Ensina-me o caminho da fé. Ensina-me como amar, sobretudo ensina-me a ter um comportamento de esperança. Invocar o Espírito continuamente para que esteja presente em nossa vida. Portanto, é o Espírito que escreve a história da Igreja e do mundo. Nós somos páginas abertas, disponíveis para receber a sua caligrafia. E em cada um de nós o Espírito compõe obras originais, porque nunca há um cristão que seja completamente idêntico a outro. No campo infinito da santidade, o único Deus, Trindade de Amor, faz florescer a variedade das testemunhas: todas iguais em dignidade, mas também únicas na beleza que o Espírito quis conferir a cada um daqueles a quem a misericórdia de Deus tornou seus filhos.

"Não nos esqueçamos: o Espírito está presente em nós, invoquemos o Espírito. Ele é o presente que deus nos deu. Espírito Santo não sei qual é o seu rosto, mas sei que você é a minha força, a minha luz, vem Espírito Santo", concluiu o Papa. Fonte: https://www.vaticannews.va

”Convido a um renovado e criativo impulso pastoral para colocar a família no centro das atenções da Igreja e da sociedade”. É convite do papa Francisco depois do Angelus ao recordar o início do Ano da Família "Amoris Laetitia" nesta sexta-feira dia 14

 

Jane Nogara - Vatican News

Neste domingo (14), após o Angelus, o Papa recordou a todos do "Ano da Família Amoris Laetitia":

“Na próxima sexta-feira, 19 de março, solenidade de São José, será aberto o Ano da Família Amoris Laetitia: um ano especial para crescer no amor familiar. Convido a um renovado e criativo impulso pastoral para colocar a família no centro das atenções da Igreja e da sociedade. Rezo para que cada família possa sentir em sua própria casa a presença viva da Sagrada Família de Nazaré, para que ela possa preencher nossas pequenas comunidades domésticas com amor sincero e generoso, uma fonte de alegria mesmo em provações e dificuldades”

O Ano da “Família Amoris laetitia” começa justamente no aniversário de 5 anos da Exortação Apostólica do Papa Francisco, ou seja, em 19 de março de 2021. Neste período serão promovidas várias iniciativas além de oferecer subsídios pastorais para se “reencantar pela mensagem do Papa” destinada às famílias. O Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida será o promotor dos eventos durante esse período. Fonte: Fonte: https://www.vaticannews.va

 

A cidade iraquiana de Mosul testemunhou neste domingo a oração do Santo Padre pelas vítimas da guerra. A cidade esteve sob domínio do Estado Islâmico por longos anos. Estima-se que cerca de meio milhão de pessoas, das quais mais de 120.000 cristãos, fugiram de Mosul, que em 2004 tinha 1.846.500 habitantes.

 

Vatican News

Após a breve acolhida no aeroporto de Erbil, o Papa Francisco deslocou-se em helicóptero para Mosul, para a oração em sufrágio pelas vítimas da guerra. Na pista de aterrissagem, o Santo Padre foi acolhido pelo Arcebispo de Mosul e Aqra dos Caldeus, Dom Najeeb Moussa Michaeel, O.P, pelo governador de Mosul e por duas crianças, que lhe ofereceram flores. Então, seguiu para Hosh al-Bieaa - a praça das 4 igrejas - siro-católica, armênio-ortodoxa, siro-ortodoxa e caldeia, destruídas entre 2004 e 2017 por ataques terroristas e pela guerra – para a cerimônia com a oração pelas vítimas da guerra.

 

A cidade de Mosul

A cidade de Mosul tem721.096 e é a capital administrativa do Governatorato de Nínive (Ninewah). Localiza-se 465 km a noroeste de Bagdá, na margem ocidental do Rio Tigre, de frente para os resquícios arqueológicos da antiga cidade assíria de Nínive, que remonta a 6.000 a.C.

 

Por 2500 anos, Mosul representou a identidade plural do Iraque, graças à coexistência, dentro das muralhas da Cidade Velha, de vários grupos étnicos, linguísticos e religiosos. Fundada no século 7 a.C., como parte do Império Assírio, Mosul foi importante centro comercial no período abássida, devido à sua posição estratégica, e alcançou o auge de sua influência no século 12 d.C., sob a dinastia de Zangid, cujo poder e cuja influência são hoje testemunhados por alguns prédios simbólicos, entre as quais a Grande Mesquita Al-Nouri e o famoso minarete inclinado de al-Hadba, com 44 metros de altura, chamado de "corcunda".

Foi então que em Mosul se estabeleceram as escolas de processamento de metais e pintura, que no século XIII deram lugar a uma florescente indústria artesanal, que continuaram por séculos. Durante os reinados das dinastias Mongol e Turca, bem como no primeiro período otomano, Mosul foi ulteriormente melhorada com a construção de numerosas mesquitas e madrassas, sobretudo em sua parte meridional.

A "cidade dos profetas", assim chamada devido à presença dos túmulos de cinco profetas muçulmanos, também conhecidos como Um Al-Rabi'ain, “a mãe das duas primaveras”, manteve ao longo do tempo sua arquitetura medieval e seu núcleo original, com edifícios islâmicos, cristãos, otomanos e uma mistura extraordinária de etnias e religiões, até ser ocupada por três anos do autoproclamado Estado Islâmico, entre junho de 2014 e julho de 2017.

Estima-se que cerca de meio milhão de pessoas, das quais mais de 120.000 cristãos, fugiram de Mosul, que em 2004 tinha 1.846.500 habitantes. A cidade passou por uma devastação sistemática, o que resultou na destruição de, entre outras coisas, de numerosas igrejas, do mausoléu de ‛Awn ad-dīn, de Nabī Yūnis (o mausoléu do profeta Jonas) e de uma seção da muralha da antiga cidade de Nínive, bem como de raros manuscritos e mais de 100.000 livros mantidos na Biblioteca, de achados arqueológicos e inúmeras estátuas presentes nas coleções do Museu de Nínive.

Em junho de 2017, o autoproclamado Estado Islâmico, cercado por forças governamentais, e com o controle somente da cidade velha, destruiu a mesquita de Mūr ad-dīn, lugar símbolo do Califado, que, no entanto, foi reconquistado poucos dias depois pelo exército iraquiano, juntamente com uma parte da área medieval da cidade. Em julho 2017, após nove meses de luta, Mosul foi libertada.

Hoje, graças também a cooperação internacional, está se trabalhando para a reconstrução da cidade para permitir o regresso dos refugiados. Em novembro passado, finalmente reabriu ao público o Museu Arqueológico, que abriga o que restou do patrimônio da antiga Nínive, fortemente empobrecido por saques e pela destruição pelo Isis.

Nos últimos meses, a Unesco também deu início às obras de restauração da Mesquita Al-Nuri e duas igrejas na parte antiga da cidade: a igreja dominicana de al-Saa'a, "Nossa Senhora da Hora", cuja torre do sino, com o relógio, presente da Imperatriz Eugenia, esposa de Napoleão III, representa um dos símbolos da cidade; e a catedral sírio-católica de al-Tahera. A reconstrução dos antigos prédios históricos de Mosul fazem parte de um programa da organização das Nações Unidas pela Educação, Ciência e Cultura, denominado “despertar o espírito de Mosul”, financiado pelos Emirados Árabes Unidos.

 

Arquieparquia de Mosul dos Caldeus

A Arquieparquia de Mosul dos Caldeus, (rest. Século XVIII como Eparquia particular da Igreja patriarcal de Babilônia dos Caldeus; ereta Eparquia sufragânea da Babilônia dos Caldeus em 24 de outubro de 1960; Arquieparquia em 14 fevereiro de 1967) tem 5.000 católicos; 7 paróquias; 1 igreja; 13 sacerdotes diocesanos (2 ordenados no ano passado); 3 seminaristas nos cursos filosófico e teológico; 1 membro de instituto religioso masculino; 6 membros dos institutos religiosos femininos; 5 institutos educacionais; 7 instituições de beneficência; 31 batismos no ano passado.

O Arquieparca de Mosul dos Caldeus é DomNajeeb Michaeel, O.P., nascido em Zakho, Eparquia de Amadiyah e Zaku, 9 de setembro de 1955; ordenado sacerdote em 16 de maio 1987; eleito em 23 de agosto de 2018; consagrado em 18 de janeiro de 2019.

 

Arquieparquia de Mosul dos Sírios

Arquieparquia de Mosul dos Sírios, (1790) tem 4.500 católicos; 13 paróquias; 2 igrejas; 22 sacerdotes diocesanos; 26 sacerdotes diocesanos regulares; 6 seminaristas nos cursos filosófico e teológico; 27 membros de institutos religiosos masculinos; 3 membros de institutos religiosos femininos; 2 institutos educacionais; 5 instituições de beneficência; 318 batismos desde 2016.

O arquieparca de Mosul dos Sírios é Dom Yohanna Petros Moshe, nascido em Qaraqosh, Archieparquia de Mosul dos Sírios, em 23 de novembro de 1943; ordenado sacerdote em 9 de junho de 1968; eleito em 26 de junho de 2010; consagrado em 16 de abril. Fonte: https://www.vaticannews.va

 

Um forte apelo marcou o primeiro pronunciamento do Papa no Iraque: “Venho como penitente que pede perdão ao Céu e aos irmãos por tanta destruição e crueldade. Venho como peregrino de paz, em nome de Cristo, Príncipe da Paz. Quanto rezamos ao longo destes anos pela paz no Iraque! São João Paulo II não poupou iniciativas, e sobretudo ofereceu súplicas e sofrimentos por isso. E Deus escuta; escuta sempre! Cabe a nós ouvi-Lo. Calem-se as armas! Limite-se a sua difusão, aqui e em toda a parte!”

 

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

O primeiro discurso do Papa Francisco em terras iraquianas foi no Palácio Presidencial, em Bagdá, e dirigido às autoridades, à sociedade civil e ao Corpo Diplomático.

Depois da cerimônia oficial de boas-vindas e da visita de cortesia ao presidente da República, Barham Ahmed Salih Qassim, o Pontífice expressou publicamente a sua gratidão por poder realizar esta Visita Apostólica, “longamente esperada e desejada” – visita esta que hoje se realiza enquanto o mundo está tentando “sair da crise pandêmica da Covid-19”.

Nas últimas décadas, afirmou, o Iraque sofreu os infortúnios das guerras, o flagelo do terrorismo e conflitos sectários muitas vezes baseados no fundamentalismo. De modo especial, o Pontífice citou os yazidis, “vítimas inocentes duma barbárie insensata e desumana”.

“Tudo isto trouxe morte, destruição, ruínas ainda visíveis… E não só em nível material! Os danos são ainda mais profundos, quando se pensa nas feridas dos corações de tantas pessoas e comunidades que precisarão de anos para se curar.”

 

A vez da harmonia

Hoje, acrescentou, o “Iraque é chamado a mostrar a todos, especialmente no Oriente Médio, que as diferenças, em vez de gerar conflitos, devem cooperar harmoniosamente na vida civil.”

O Santo Padre ressaltou os apelos da Santa Sé às autoridades competentes no Iraque, como noutros lugares, “para que concedam a todas as comunidades religiosas respeito, direitos e proteção”.

O reconhecimento da fraternidade universal é o elo capaz de permitir a superação dos conflitos, aliada à solidariedade que leva a praticar gestos concretos de cuidado e serviço.

“Penso naqueles que perderam familiares e entes queridos, casa e bens primários por causa da violência, da perseguição e do terrorismo; mas penso também em todas as pessoas que lutam diariamente à procura de segurança e dos meios necessários para sobreviver, enquanto aumentam desemprego e pobreza.”

Neste contexto, aumenta a responsabilidade de políticos e diplomáticos para contrastar o flagelo da corrupção, os abusos de poder e a ilegalidade.

“Mas não basta”, afirma o Santo Padre: é preciso edificar a justiça, aumentar a honestidade, a transparência e reforçar as instituições.

 

Calem-se as armas!

O Papa fez então um fervoroso apelo pelo fim da violência:

“Venho como penitente que pede perdão ao Céu e aos irmãos por tanta destruição e crueldade. Venho como peregrino de paz, em nome de Cristo, Príncipe da Paz. Quanto rezamos ao longo destes anos pela paz no Iraque! São João Paulo II não poupou iniciativas, e sobretudo ofereceu súplicas e sofrimentos por isso. E Deus escuta; escuta sempre! Cabe a nós ouvi-Lo. Calem-se as armas! Limite-se a sua difusão, aqui e em toda a parte!”

Cessem os interesses de parte, os interesses externos que se desinteressam da população local. Dê-se voz aos construtores, aos artífices da paz; aos humildes, aos pobres, ao povo simples que quer viver, trabalhar, rezar em paz!

Chega de violências, extremismos, fações, intolerâncias, disse ainda Francisco, pedindo que se dê espaço e voz aos artífices da paz, ao povo simples que quer viver, trabalhar, rezar em paz!

O Pontífice citou ainda o papel decisivo da comunidade internacional não só no Iraque, mas na vizinha Síria, que está prestes a completar 10 anos de conflito.

“Espero que as nações não retirem a mão amiga e construtora estendida ao povo iraquiano, mas continuem a operar em espírito de responsabilidade comum com as Autoridades locais, sem impor interesses políticos ou ideológicos.”

A religião, por sua vez, concluiu o Papa, deve estar ao serviço da paz e da fraternidade. “O nome de Deus não pode ser usado para justificar atos de homicídio, de exílio, de terrorismo e de opressão”, afirmou Francisco, garantindo a plena colaboração da Igreja Católica para a causa da paz. Fonte: https://www.vaticannews.va

O Papa chegou ao Iraque pouco antes do meio-dia desta sexta-feira, recebendo uma calorosa acolhida no Aeroporto Internacional de Bagdá.

 

Jackson Erpen - Vatican News

"Obrigado pelo seu testemunho. Que os muitos, demasiados mártires que vocês conheceram nos ajudem a perseverar na humilde força do amorGostaria de lhes trazer o carinho afetuoso de toda a Igreja, que está próxima de vocês e ao mortificado Oriente Médio e os encoraja a seguir em frente”, disse o Papa Francisco na mensagem aos iraquianos divulgada no dia anterior a sua viagem.

E como mensageiro de paz, o Papa Francisco chegou ao Iraque no final da manhã desta sexta-feira, 5 de março. O voo AZ 4000 da Alitália aterrissou no Aeroporto Internacional de Bagdá pouco antes das 12 horas, horário local.

O chefe do protocolo no Iraque subiu as escadas dianteiras do avião para saudar o Papa, antes de descer e ser recebido na pista pelo primeiro ministro Mustafa Abdellatif Mshatat, conhecido como Al-Kadhimi, e pelo Sr. Rahman Farhan Abdullah Al-Ameri, embaixador extraordinário e plenipotenciário do Iraque junto à Santa Sé, além de outras autoridades civis e religiosas. Duas crianças em vestes tradicionais ofereceram flores amarelas ao Papa, que durante todo o tempo usou máscara protetora. Na acolhida oficial não foram proferidos discursos.

Após a apresentação das delegações e a passagem pela Guarda de Honra, o primeiro ministro e o Pontífice dirigiram-se à Sala VIP do aeroporto, mas logo ao entrar no saguão do aeroporto, Francisco foi acolhido calorosamente por jovens vestindo vestes tradicionais, que cantavam músicas típicas em árabe, dançavam e acenavam bandeiras do Iraque e do Vaticano. Seguiu o encontro privado entre o Pontífice e o primeiro-ministro, com o auxílio de intérpretes.

Francisco ofereceu a Al-Kadhimi um Trítico, uma medalha de prata alusiva à viagem e uma edição especial da "Fratelli tutti". Do aeroporto, o Papa segue para o Palácio Presidencial.

 

Durante o voo Papa recebe Prêmio de Jornalismo Maria Grazia Cutuli

 Durante o voo, os jornalistas conferiram ao Papa Francisco o Prêmio de Jornalismo Maria Grazia Cutuli, intitulado à jornalista italiana morta há 20 anos no Afeganistão. Os jornalistas ficaram muito tocando pela última Mensagem do Papa para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, quando disse “a crise editorial corre o risco de levar a uma informação construída nas redações, diante do computador, nos terminais das agências, nas redes sociais, sem nunca sair à rua, sem «gastar a sola dos sapatos», sem encontrar pessoas para procurar histórias ou verificar com os próprios olhos determinadas situações. Mas, se não nos abrimos ao encontro, permanecemos espectadores externos, apesar das inovações tecnológicas com a capacidade que têm de nos apresentar uma realidade engrandecida onde nos parece estar imersos. Todo o instrumento só é útil e válido, se nos impele a ir e ver coisas que de contrário não chegaríamos a saber, se coloca em rede conhecimentos que de contrário não circulariam, se consente encontro que de contrário não teriam lugar.”  E o Papa dá o exemplo disso, como atesta essa viagem. Francisco que, como um "enviado especial", “gasta a sola” de seus sapatos pretos, sendo um exemplo para todos os jornalistas para fazer com seriedade este trabalho. 

 

Primeiro dia do Papa no Iraque

O primeiro compromisso oficial do Papa Francisco em terras iraquianas será a Cerimônia de boas-vindas no Palácio Presidencial, com a visita de cortesia ao presidente da República, Barham Ahmed Salih Qassim. Segue o encontro com as Autoridades, a Sociedade Civil e o Corpo Diplomático, no grande salão do Palácio Presidencial.

Após a saudação do presidente e o discurso do Santo Padre, Francisco dirige-se para a Catedral de Sayidat al-Nejat (Nossa Senhora da Salvação), distante 8,4 km, para o encontro com os bispos, sacerdotes, religiosos/as, seminaristas e catequistas.

Ao final, Francisco se desloca para a Nunciatura Apostólica de Bagdá, distante 3,3 km, onde passará a noite.

 

A capital, Bagdá

 A capital da República do Iraque, foi fundada em 762 pelo califa abásside al-Mansur, no local onde o curso do rio Tigre se aproxima ao Eufrates, em uma das áreas culturais mais antigas da humanidade, a Mesopotâmia.

A posição favorável para o comércio e a administração do território permitiu que a cidade crescesse e prosperasse até se tornar um dos centros culturais mais importante do mundo. Do esplendor alcançado pelos abássidas, ainda temos ecos nas histórias de "As Mil e Uma Noites", em grande parte ambientadas na cidade, que pelos maravilhosos palácios e jardins era conhecida como a "cidade da paz".

Foi ali que ele nasceu, como biblioteca privada do califa abássida Harun al Rashid (Harune Arraxide), a Bayt al-Haikma, a "Casa da Sabedoria", ampliada mais tarde por seu filho e sucessor al Ma'mun, um dos lugares de estudo mais conhecidos da história. Partindo de uma biblioteca privada, este lugar expandiu-se cada vez mais, tornando-se público e dando a oportunidade aos estudiosos de consultar mais de meio milhão de livros.  

A Bayt al Hikmah representou no mundo o mais importante centro de conhecimento por vários séculos. No entanto, não sobreviveu às devastações sofridas pela capital abássida: incêndios, guerras civis e, por fim, a invasão devastadora dos mongóis liderados pelo sobrinho de Genghis Khan, Hülegü. Com o fim do Califado, no século XIII, teve início a decadência de Bagdá.

Saqueada pelos mongóis em 1258, destruída por Timer em 1400, passou a fazer parte do Império Otomano em 1638, até o século XX, sendo ocupada posteriormente pelos britânicos, durante a Primeira Guerra Mundial.

Em 1932, com a independência, voltou a ser um importante centro cultural no mundo árabe, e na década de 1970, graças ao petróleo, conheceu um período de prosperidade, que terminou definitivamente após o conflito com o Irã, as Guerras do Golfo, a queda do ditador Saddam Hussein e ocupação militar em 2003.

Bagdá, cujo nome parece derivar do antigo persa "Bagh" e "Dad", ou "presente de Deus", pela forma perfeitamente circular do seu núcleo original, sempre foi definida como "Cidade Redonda". Ali, dentro de três círculos de muros concêntricos, Al-Mansur construiu seu palácio, o opulento Golden Gate Palace, com  uma cúpula verde mais de 40 m de altura, e a adjacente Grande Mesquita.

Na cidade atual, abundam os monumentos construídos por ordem de Saddam Hussein, para celebrar sua figura e suas vitórias. Entre os principais, o Arco de Mãos da Vitória, o Monumento ao Soldado Desconhecido, e o monumento Al-Shaheed, que comemoram a Guerra Irã-Iraque.

Hussein também mandou construir algumas mesquitas, entre as quais a mesquita Umm al-Mahare, ou "Mãe de todas as batalhas", na periferia, cujos minaretes têm a forma de fuzis Kalashkinov e mísseis Scud; a mesquita kazimayn, localizada a noroeste de Bagdá, típico exemplo de arte islâmica, onde são conservados os túmulos dos Imames venerados por muçulmanos xiitas. E no bairro de Bab al-Sheik, a mesquita al-Qadiriya, que já foi uma escola Alcorão.

Marcos de referência da capital, separados pelo rio Tigre, são o Santuário Khadhimiya e a Mesquita Abu Hanifa, em Adhamiya, uma das mais importantes mesquitas sunitas na capital; o Palácio de Saddam Hussein, construído por sua vontade em 1988 em uma colina no alto da cidade; o Museu Nacional iraquiano - fundado em 1926 pela arqueóloga e viajante britânica Gertrude Bell, conhecida como a "Rainha de Bagdá" - o qual, em 2003, após a invasão estadunidense, foi saqueado de suas preciosas antiguidades, que datam de mais de 5.000 anos; o zoológico construído em 1971, que em 2003 foi completamente devastado, mas agora acessível novamente; os bairros característicos de Karrada e Al Mansour; e o mercado histórico de Shorja, o maior souk ao ar livre da cidade, que remonta à era abássida. Fonte: https://www.vaticannews.va

"Jesus diz-nos com a sua vida até que ponto Deus é Pai", disse o Papa em sua reflexão na catequese da audiência geral desta quarta-feira (03/03) dedicada à oração e à Trindade: “É difícil para nós imaginar de longe o amor com que a Santíssima Trindade está repleta, e que abismo de benevolência recíproca existe entre Pai, Filho e Espírito Santo. Os ícones orientais deixam-nos intuir algo deste mistério que é a origem e alegria de todo o universo”, frisou Francisco

 

Raimundo de Lima - Vatican News

“No nosso caminho de catequeses sobre a oração, hoje e na próxima semana queremos ver como, graças a Jesus Cristo, a oração nos abre à Trindade, ao imenso mar de Deus-Amor.” Com essas palavras, o Papa Francisco introduziu sua catequese na audiência geral desta quarta-feira (03/03), na Biblioteca do Palácio, no Vaticano, dando continuidade a suas reflexões sobre a oração, discorrendo sobre a oração e a Trindade.

Foi Jesus que nos abriu o Céu e nos projetou para uma relação com Deus. É isto que o apóstolo João afirma na conclusão do prólogo do seu Evangelho: “Ninguém jamais viu a Deus: o Filho único, que está no seio do Pai, é que O deu a conhecer” (1, 18), destacou o Pontífice. "Jesus nos revelou a identidade, esta identidade de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo."

 

Senhor, ensina-nos a rezar

Francisco observou que realmente não sabíamos como se pudesse rezar: que palavras, que sentimentos e que linguagem eram apropriados para Deus.

“Naquele pedido dirigido pelos discípulos ao Mestre, que temos recordado frequentemente no decurso destas catequeses, há toda a hesitação do homem, as suas repetidas tentativas, muitas vezes infrutíferas, de se dirigir ao Criador: ‘Senhor, ensina-nos a rezar’ (Lc 11, 1)”.

O Papa observou que nem todas as orações são iguais e que nem todas são convenientes:

“A própria Bíblia atesta o mau resultado de muitas orações, que são rejeitadas. Talvez por vezes Deus não esteja satisfeito com as nossas orações e nós nem sequer nos apercebemos disso. Deus olha para as mãos daqueles que rezam: para as purificar não é necessário lavá-las, quando muito é preciso abster-se de ações malignas.”

A este ponto de sua catequese, o Santo Padre evidenciou que São Francisco rezava de forma radical: “nenhum homem é digno de te nomear”, lembrou, citando o “Cântico do Irmão Sol” do pobrezinho de Assis.

 

A pobreza da nossa oração

O Papa acrescentou que “talvez o reconhecimento mais tocante da pobreza da nossa oração tenha vindo dos lábios do centurião romano que um dia implorou Jesus que curasse o seu servo doente (cf. Mt 8, 5-13).

Sentia-se totalmente inadequado – observou Francisco: “não era judeu, era um oficial do odiado exército de ocupação. Mas a sua preocupação com o seu servo o faz ousar, e ele diz: ‘Senhor... eu não sou digno que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e o meu servo será curado’ (v. 8)”.

É a frase que também repetimos em todas as liturgias eucarísticas, disse o Pontífice, evidenciando que dialogar com Deus é uma graça: “não somos dignos dela, não temos o direito de a reivindicar, “manquejamos” com cada palavra e pensamento... Mas Jesus é uma porta que se abre”.

Porque deveria o homem ser amado por Deus ? – perguntou o Santo Padre, acrescentando que não há razões óbvias, não há proporção. A este ponto de sua catequese, fez uma observação pertinente:

“Em grande parte das mitologias não se contempla o caso de um deus que se preocupa com os assuntos humanos; pelo contrário, eles são irritantes e aborrecidos, completamente insignificantes.”

Até para Aristóteles, prosseguiu o Papa, Deus só pode pensar em si mesmo. No máximo, somos nós, humanos, que procuramos conquistar a divindade e ser agradáveis aos seus olhos. “Disto brota o dever de ‘religião’, com o corolário de sacrifícios e devoções a oferecer continuamente para ter como aliado um Deus mudo e indiferente.”

 

Dialogar com Deus é uma graça

“Não há diálogo. Foi somente Jesus, foi somente a revelação de Deus a Moisés antes de Jesus, quando Deus se apresentou; foi somente a Bíblia a abrir-nos o caminho do diálogo com Deus para nós. Lembramos: ‘Qual povo tem seus deuses próximos de si como tu tens a Mim próximo de ti?’ Esta proximidade de Deus que nos abre ao diálogo com Ele.”

Francisco ressaltou que um Deus que ama o homem, nunca teríamos acreditado nisto, se não tivéssemos conhecido Jesus. “É o escândalo que encontramos esculpido na parábola do pai misericordioso, ou na do pastor que vai em busca da ovelha perdida (cf. Lc 15). Histórias como estas não poderiam ter sido concebidas, nem sequer compreendidas, se não tivéssemos encontrado Jesus”, observou ainda.

Dito isso, Francisco propôs alguns questionamentos: “Que tipo de Deus está disposto a morrer pelas pessoas? Que tipo de Deus ama sempre e pacientemente, sem pretender por sua vez ser amado? Que Deus aceita a tremenda falta de gratidão de um filho que pede antecipadamente a sua herança e sai de casa a esbanjar tudo? (cf. Lc 15, 12-13)”.

 

Proximidade, compaixão e ternura: o estilo de Deus

Assim, Jesus diz-nos com a sua vida até que ponto Deus é Pai, frisou o Papa. “A paternidade que é proximidade, compaixão e ternura. Não esqueçamos estas três palavras que são o estilo de Deus: proximidade, compaixão e ternura. É a maneira de expressar a Sua paternidade conosco”, acrescentou, concluindo sua reflexão nesta catequese dedicada à oração e à Trindade:

“É difícil para nós imaginar de longe o amor com que a Santíssima Trindade está repleta, e que abismo de benevolência recíproca existe entre Pai, Filho e Espírito Santo. Os ícones orientais deixam-nos intuir algo deste mistério que é a origem e alegria de todo o universo.”

Acima de tudo, tínhamos dificuldade em acreditar que este amor divino se dilatasse, chegando até ao humano: somos o termo de um amor que não encontra igual na terra, disse o Papa, citando o Catecismo, que explica: “A santa humanidade de Jesus é, pois, o caminho pelo qual o Espírito Santo nos ensina a orar a Deus nosso Pai” (n. 2664).

“É a graça da nossa fé. Verdadeiramente não podíamos esperar uma vocação mais excelsa: a humanidade de Jesus pôs à nossa disposição a própria vida da Trindade”, disse por fim o Santo Padre. Fonte: https://www.vaticannews.va

 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

Na oração mariana do Angelus, deste II Domingo da Quaresma (28/02), o Papa Francisco refletiu sobre o Evangelho do dia, no qual Jesus transfigurou-se diante de três dos seus discípulos.

“Pouco antes, Jesus tinha anunciado que, em Jerusalém, iria sofrer muito, seria rejeitado e condenado à morte. Podemos imaginar o que deve ter acontecido então no coração de seus amigos, daqueles amigos íntimos, os seus discípulos: a imagem de um Messias forte e triunfante é colocada em crise, seus sonhos são partidos e a angústia aumenta ao pensar que o Mestre em que acreditaram seria morto como o pior dos malfeitores. Naquele momento, com aquela angústia da alma, Jesus chama Pedro, Tiago e João e os leva consigo para a montanha”, ressaltou o Pontífice.

 

Subir ao monte é aproximar-se um pouco de Deus

O Evangelho diz: “Ele os levou sobre uma alta montanha”.

Na Bíblia, a montanha sempre tem um significado especial: é o lugar elevado, onde o céu e a terra se tocam, onde Moisés e os profetas tiveram a experiência extraordinária de encontrar Deus. Subir ao monte é aproximar-se um pouco de Deus. Jesus sobe para o alto junto com os três discípulos e eles se detêm no topo da montanha. Aqui, Ele se transfigura diante deles. O seu rosto radiante e as suas vestes resplandecentes, que antecipam a imagem como Ressuscitado, oferecem àqueles homens assustados a luz, a luz da esperança, a luz para atravessar as trevas: a morte não será o fim de tudo, porque se abrirá para a glória da Ressurreição. Jesus anuncia a sua morte, os leva ao monte e mostra para eles o que acontecerá depois da ressurreição.

 

Ir além dos nossos esquemas e critérios deste mundo

Como exclamou o apóstolo Pedro, é bom ficarmos com o Senhor no monte, viver esta «antecipação» da luz no coração da Quaresma. É um convite para nos lembrar, especialmente quando passamos por uma prova difícil, e muitos de vocês sabem o que significa atravessar uma prova difícil, recordar que o “Senhor Ressuscitou e não permite que as trevas tenham a última palavra”, disse ainda o Papa, acrescentando:

Às vezes acontece que passamos por momentos de escuridão na nossa vida pessoal, familiar ou social, e tememos que não haja uma saída. Sentimo-nos assustados diante de grandes enigmas como a doença, a dor inocente ou o mistério da morte. No mesmo caminho de fé, muitas vezes tropeçamos quando encontramos o escândalo da cruz e as exigências do Evangelho, que nos pede para dedicar a vida ao serviço e perdê-la no amor, em vez de preservá-la para nós mesmos e defendê-la. Precisamos, então, de outro olhar, uma luz que ilumine em profundidade o mistério da vida e nos ajude a ir além dos nossos esquemas e além dos critérios deste mundo. Também nós somos chamados a subir a montanha, a contemplar a beleza do Ressuscitado que acende vislumbres de luz em cada fragmento da nossa vida e nos ajuda a interpretar a história a partir da vitória pascal.

 

Cuidado com a preguiça espiritual

“Mas tenhamos cuidado”, pois as palavras “de Pedro ‘é bom para nós ficarmos aqui’ não devem se tornar uma preguiça espiritual”, advertiu Francisco. “Não podemos permanecer na montanha e desfrutar sozinhos a beatitude deste encontro. O próprio Jesus nos leva de volta ao vale, entre os nossos irmãos e irmãs e na vida quotidiana”, frisou o Papa.

Devemos ter cuidado com a preguiça espiritual: nós estamos bem, com as nossas orações e liturgias, e isto é suficiente para nós. Não! Subir a montanha não é esquecer a realidade. Rezar nunca é fugir das fadigas da vida. A luz da fé não é para uma bela emoção espiritual. Não! Esta não é a mensagem de Jesus. Somos chamados a experimentar o encontro com Cristo para que, iluminados pela sua luz, possamos levá-la e fazê-la brilhar em todos os lugares. Acender pequenas luzes nos corações das pessoas; ser pequenas lâmpadas do Evangelho que levam um pouco de amor e esperança: esta é a missão do cristão.

O Papa concluiu, pedindo a Maria Santíssima “que nos ajude a acolher com admiração a luz de Cristo, a guardá-la e a partilhá-la”. Fonte: https://www.vaticannews.va

 

Ao comentar a cura do leproso, Francisco convidou os fiéis a "transgredirem" com o Evangelho: violar os nossos egoísmos para se "contaminar" com a dor e o sofrimento do outro.

 

Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano

Com os fiéis na Praça São Pedro pelo segundo domingo consecutivo, o Papa Francisco rezou o Angelus num domingo de sol e muito frio em Roma.

Antes da oração mariana, o Pontífice comentou o Evangelho deste VI Domingo do Tempo Comum, que narra a cura de Jesus a um leproso. Neste episódio contido em Marcos, Francisco identificou duas “transgressões”: o leproso que se aproxima de Jesus e Jesus que, movido por compaixão, o toca para curá-lo.

A primeira transgressão é a do leproso: naquele tempo, eram considerados impuros e eram excluídos da vida social, não podiam por exemplo entrar na sinagoga. A doença era considerada um castigo divino, mas, em Jesus, ele pode ver outra face de Deus: não o Deus que castiga, mas o Pai da compaixão e do amor, que nos liberta do pecado e jamais nos exclui da sua misericórdia. “A atitude de Jesus o atrai, o leva a sair de si mesmo e a confiar a Ele a sua história dolorosa”, comentou Francisco.

 

Um aplauso aos confessores misericordiosos

“Permitam-me aqui um pensamento a muitos bons sacerdotes confessores que têm esta atitude: atrair as pessoas que se sentem aniquiladas pelos seus pecados com ternura a compaixão... Confessores que não estão com o chicote nas mãos, mas recebem, ouvem e dizem que Deus é bom, que Deus perdoa sempre, que jamais se cansa de perdoar.”

Ao dizer estas palavras, o Pontífice pediu um aplauso - também ele aplaudindo - a todos os confessores misericordiosos.

A segunda transgressão é a de Jesus: enquanto a Lei proibia de tocar os leprosos, Ele se comove, estende a mão e o toca para curá-lo. Não se limita às palavras, mas o toca. Tocar com amor significa estabelecer uma relação, entrar em comunhão, envolver-se na vida do outro a ponto de compartilhar inclusive as suas feridas. Com este gesto, Jesus mostra que Deus não é indiferente, não mantém a “distância de segurança”; pelo contrário, se aproxima com compaixão e toca a nossa vida para curá-la.

“É o estilo de Deus: proximidade, compaixão e ternura. A transgressão de Deus: é um grande transgressor neste sentido.”

Hoje, lamentou o Papa, muitas pessoas ainda sofrem com esta doença e outras que vêm acompanhadas de preconceitos sociais e até mesmo religiosos. Mas ninguém está imune de experimentar feridas, falências, sofrimentos, egoísmos que nos fecham a Deus e aos outros.

 

Deus se "contamina" com nossa humanidade ferida

Diante de tudo isso, destaca Francisco, Jesus anuncia que Deus não é uma ideia ou uma doutrina abstrata, mas Aquele que se “contamina” com a nossa humanidade ferida e não tem medo de entrar em contato com as nossas chagas.

“Mas padre, o que está dizendo? Que Deus se contamina? Não o digo eu, mas São Paulo: fez-se pecado. Ele que não é pecador, que não pode pecar, fez-se pecado. Veja como Deus se contaminou para se aproximar de nós, para ter compaixão e para fazer compreender a sua ternura. Proximidade, compaixão e ternura”

Costumes sociais, reputação e egoísmos nos levam muitas vezes a disfarçar a nossa dor e impedir de nos envolver nos sofrimentos alheios.

Ao invés, Francisco convidou os fiéis a pedirem ao Senhor a graça de viver essas duas “transgressões” do Evangelho.

“Aquela do leproso, para que tenhamos a coragem de sair do nosso isolamento e, ao invés de permanecer ali com pena de nós mesmos ou chorando nossas falências, ir até Jesus assim como somos. E depois a transgressão de Jesus: um amor que leva a ir além das convenções, que faz superar os preconceitos e o medo de nos envolver na vida do outro. Aprendamos a ser transgressores como estes dois: como o leproso e como Jesus." Fonte: https://www.vaticannews.va

 

O Pontífice convida a renovar a nossa fé, “neste tempo de conversão”, a obter “a «água viva» da esperança” e receber “com o coração aberto o amor de Deus que nos transforma em irmãos e irmãs em Cristo”.

 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

Foi divulgada, nesta sexta-feira (12/02), a mensagem do Papa Francisco para a Quaresma deste ano sobre o tema “Vamos subir a Jerusalém. Quaresma: tempo para renovar fé, esperança e caridade”.

O Pontífice convida a renovar a nossa fé, “neste tempo de conversão”, a obter “a «água viva» da esperança” e receber “com o coração aberto o amor de Deus que nos transforma em irmãos e irmãs em Cristo”. Francisco recorda que “na noite de Páscoa, renovaremos as promessas do nosso Batismo, para renascer como mulheres e homens novos por obra e graça do Espírito Santo. Entretanto o itinerário da Quaresma, como aliás todo o caminho cristão, já está inteiramente sob a luz da Ressurreição que anima os sentimentos, atitudes e opções de quem deseja seguir a Cristo”.

 

Quem jejua faz-se pobre com os pobres 

“O jejum, a oração e a esmola, tal como são apresentados por Jesus na sua pregação, são as condições para a nossa conversão e sua expressão”, ressalta o Papa na mensagem.

De acordo com Francisco, o “jejum, vivido como experiência de privação, leva as pessoas que o praticam com simplicidade de coração a redescobrir o dom de Deus e a compreender a nossa realidade de criaturas que, feitas à sua imagem e semelhança, n'Ele encontram plena realização. Ao fazer experiência duma pobreza assumida, quem jejua faz-se pobre com os pobres e «acumula» a riqueza do amor recebido e partilhado. Jejuar significa libertar a nossa existência de tudo o que a atravanca, inclusive da saturação de informações, verdadeiras ou falsas, e produtos de consumo, a fim de abrirmos as portas do nosso coração Àquele que vem a nós pobre de tudo, mas «cheio de graça e de verdade»: o Filho de Deus Salvador”.

 

Dizer palavras de incentivo

"No contexto de preocupação em que vivemos atualmente onde tudo parece frágil e incerto, falar de esperança poderia parecer uma provocação. O tempo da Quaresma é feito para ter esperança, para voltar a dirigir o nosso olhar para a paciência de Deus, que continua cuidando de sua Criação, não obstante nós a maltratamos com frequência."

O Pontífice convida no tempo da Quaresma, a estarmos “mais atentos em «dizer palavras de incentivo, que reconfortam, consolam, fortalecem, estimulam, em vez de palavras que humilham, angustiam, irritam, desprezam». Às vezes, para dar esperança, basta ser «uma pessoa amável, que deixa de lado as suas preocupações e urgências para prestar atenção, oferecer um sorriso, dizer uma palavra de estímulo, possibilitar um espaço de escuta no meio de tanta indiferença».”

“No recolhimento e oração silenciosa, a esperança nos é dada como inspiração e luz interior, que ilumina desafios e opções da nossa missão; por isso mesmo, é fundamental recolher-se para rezar e encontrar, no segredo, o Pai da ternura”, ressalta o Papa.

 

Tempo para crer, esperar e amar

“A caridade se alegra ao ver o outro crescer; e de igual modo sofre quando o encontra na angústia: sozinho, doente, sem abrigo, desprezado, necessitado. A caridade é o impulso do coração que nos faz sair de nós mesmos gerando o vínculo da partilha e da comunhão. «A partir do “amor social”, é possível avançar para uma civilização do amor a que todos nos podemos sentir chamados. Com o seu dinamismo universal, a caridade pode construir um mundo novo, porque não é um sentimento estéril, mas o modo melhor de alcançar vias eficazes de desenvolvimento para todos».”

Segundo Francisco, “viver uma Quaresma de caridade significa cuidar de quem se encontra em condições de sofrimento, abandono ou angústia por causa da pandemia de Covid19. Neste contexto de grande incerteza quanto ao futuro, ofereçamos, junto com a nossa obra de caridade, uma palavra de confiança e façamos sentir ao outro que Deus o ama como um filho. «Só com um olhar cujo horizonte esteja transformado pela caridade, levando-nos a perceber a dignidade do outro, é que os pobres são reconhecidos e apreciados na sua dignidade imensa, respeitados no seu estilo próprio e cultura e, por conseguinte, verdadeiramente integrados na sociedade»”.

“Queridos irmãos e irmãs, cada etapa da vida é um tempo para crer, esperar e amar. Que este apelo a viver a Quaresma como percurso de conversão, oração e partilha dos nossos bens, nos ajude a repassar, na nossa memória comunitária e pessoal, a fé que vem de Cristo vivo, a esperança animada pelo sopro do Espírito e o amor cuja fonte inexaurível é o coração misericordioso do Pai”, conclui o Papa. Fonte: https://www.vaticannews.va


«Vamos subir a Jerusalém...» (Mt 20, 18).

Quaresma: tempo para renovar fé, esperança e caridade.

 

Queridos irmãos e irmãs!

Jesus, ao anunciar aos discípulos a sua paixão, morte e ressurreição como cumprimento da vontade do Pai, desvenda-lhes o sentido profundo da sua missão e convida-os a associarem-se à mesma pela salvação do mundo.

Ao percorrer o caminho quaresmal que nos conduz às celebrações pascais, recordamos Aquele que «Se rebaixou a Si mesmo, tornando-Se obediente até à morte e morte de cruz» (Flp 2, 8). Neste tempo de conversão, renovamos a nossa fé, obtemos a «água viva» da esperança e recebemos com o coração aberto o amor de Deus que nos transforma em irmãos e irmãs em Cristo. Na noite de Páscoa, renovaremos as promessas do nosso Batismo, para renascer como mulheres e homens novos por obra e graça do Espírito Santo. Entretanto o itinerário da Quaresma, como aliás todo o caminho cristão, já está inteiramente sob a luz da Ressurreição que anima os sentimentos, atitudes e opções de quem deseja seguir a Cristo.

O jejum, a oração e a esmola – tal como são apresentados por Jesus na sua pregação (cf. Mt 6, 1-18) – são as condições para a nossa conversão e sua expressão. O caminho da pobreza e da privação (o jejum), a atenção e os gestos de amor pelo homem ferido (a esmola) e o diálogo filial com o Pai (a oração) permitem-nos encarnar uma fé sincera, uma esperança viva e uma caridade operosa.

1-A fé chama-nos a acolher a Verdade e a tornar-nos suas testemunhas diante de Deus e de todos os nossos irmãos e irmãs

Neste tempo de Quaresma, acolher e viver a Verdade manifestada em Cristo significa, antes de mais, deixar-nos alcançar pela Palavra de Deus, que nos é transmitida de geração em geração pela Igreja. Esta Verdade não é uma construção do intelecto, reservada a poucas mentes seletas, superiores ou ilustres, mas é uma mensagem que recebemos e podemos compreender graças à inteligência do coração, aberto à grandeza de Deus, que nos ama ainda antes de nós próprios tomarmos consciência disso. Esta Verdade é o próprio Cristo, que, assumindo completamente a nossa humanidade, Se fez Caminho – exigente, mas aberto a todos – que conduz à plenitude da Vida.

O jejum, vivido como experiência de privação, leva as pessoas que o praticam com simplicidade de coração a redescobrir o dom de Deus e a compreender a nossa realidade de criaturas que, feitas à sua imagem e semelhança, n'Ele encontram plena realização. Ao fazer experiência duma pobreza assumida, quem jejua faz-se pobre com os pobres e «acumula» a riqueza do amor recebido e partilhado. O jejum, assim entendido e praticado, ajuda a amar a Deus e ao próximo, pois, como ensina São Tomás de Aquino, o amor é um movimento que centra a minha atenção no outro, considerando-o como um só comigo mesmo [cf. Enc. Fratelli tutti (= FT), 93].

A Quaresma é um tempo para acreditar, ou seja, para receber a Deus na nossa vida permitindo-Lhe «fazer morada» em nós (cf. Jo 14, 23). Jejuar significa libertar a nossa existência de tudo o que a atravanca, inclusive da saturação de informações – verdadeiras ou falsas – e produtos de consumo, a fim de abrirmos as portas do nosso coração Àquele que vem a nós pobre de tudo, mas «cheio de graça e de verdade» (Jo 1, 14): o Filho de Deus Salvador.

2-A esperança como «água viva», que nos permite continuar o nosso caminho

A samaritana, a quem Jesus pedira de beber junto do poço, não entende quando Ele lhe diz que poderia oferecer-lhe uma «água viva» (cf. Jo 4, 10-12); e, naturalmente, a primeira coisa que lhe vem ao pensamento é a água material, ao passo que Jesus pensava no Espírito Santo, que Ele dará em abundância no Mistério Pascal e que infunde em nós a esperança que não desilude. Já quando preanuncia a sua paixão e morte, Jesus abre à esperança dizendo que «ressuscitará ao terceiro dia» (Mt 20, 19). Jesus fala-nos do futuro aberto de par em par pela misericórdia do Pai. Esperar com Ele e graças a Ele significa acreditar que, a última palavra na história, não a têm os nossos erros, as nossas violências e injustiças, nem o pecado que crucifica o Amor; significa obter do seu Coração aberto o perdão do Pai.

No contexto de preocupação em que vivemos atualmente onde tudo parece frágil e incerto, falar de esperança poderia parecer uma provocação. O tempo da Quaresma é feito para ter esperança, para voltar a dirigir o nosso olhar para a paciência de Deus, que continua a cuidar da sua Criação, não obstante nós a maltratarmos com frequência (cf. Enc. Laudato si’32-33.43-44). É ter esperança naquela reconciliação a que nos exorta apaixonadamente São Paulo: «Reconciliai-vos com Deus» (2 Cor 5, 20). Recebendo o perdão no Sacramento que está no centro do nosso processo de conversão, tornamo-nos, por nossa vez, propagadores do perdão: tendo-o recebido nós próprios, podemos oferecê-lo através da capacidade de viver um diálogo solícito e adotando um comportamento que conforta quem está ferido. O perdão de Deus, através também das nossas palavras e gestos, possibilita viver uma Páscoa de fraternidade.

Na Quaresma, estejamos mais atentos a «dizer palavras de incentivo, que reconfortam, consolam, fortalecem, estimulam, em vez de palavras que humilham, angustiam, irritam, desprezam» (FT, 223). Às vezes, para dar esperança, basta ser «uma pessoa amável, que deixa de lado as suas preocupações e urgências para prestar atenção, oferecer um sorriso, dizer uma palavra de estímulo, possibilitar um espaço de escuta no meio de tanta indiferença» (FT, 224).

No recolhimento e oração silenciosa, a esperança é-nos dada como inspiração e luz interior, que ilumina desafios e opções da nossa missão; por isso mesmo, é fundamental recolher-se para rezar (cf. Mt 6, 6) e encontrar, no segredo, o Pai da ternura.

Viver uma Quaresma com esperança significa sentir que, em Jesus Cristo, somos testemunhas do tempo novo em que Deus renova todas as coisas (cf. Ap 21, 1-6), «sempre dispostos a dar a razão da [nossa] esperança a todo aquele que [no-la] peça» (1 Ped 3, 15): a razão é Cristo, que dá a sua vida na cruz e Deus ressuscita ao terceiro dia.

3-A caridade, vivida seguindo as pegadas de Cristo na atenção e compaixão por cada pessoa, é a mais alta expressão da nossa fé e da nossa esperança

A caridade alegra-se ao ver o outro crescer; e de igual modo sofre quando o encontra na angústia: sozinho, doente, sem abrigo, desprezado, necessitado... A caridade é o impulso do coração que nos faz sair de nós mesmos gerando o vínculo da partilha e da comunhão.

«A partir do “amor social”, é possível avançar para uma civilização do amor a que todos nos podemos sentir chamados. Com o seu dinamismo universal, a caridade pode construir um mundo novo, porque não é um sentimento estéril, mas o modo melhor de alcançar vias eficazes de desenvolvimento para todos» (FT, 183).

A caridade é dom, que dá sentido à nossa vida e graças ao qual consideramos quem se encontra na privação como membro da nossa própria família, um amigo, um irmão. O pouco, se partilhado com amor, nunca acaba, mas transforma-se em reserva de vida e felicidade. Aconteceu assim com a farinha e o azeite da viúva de Sarepta, que oferece ao profeta Elias o bocado de pão que tinha (cf. 1 Rs 17, 7-16), e com os pães que Jesus abençoa, parte e dá aos discípulos para que os distribuam à multidão (cf. Mc 6, 30-44). O mesmo sucede com a nossa esmola, seja ela pequena ou grande, oferecida com alegria e simplicidade.

Viver uma Quaresma de caridade significa cuidar de quem se encontra em condições de sofrimento, abandono ou angústia por causa da pandemia de Covid-19. Neste contexto de grande incerteza quanto ao futuro, lembrando-nos da palavra que Deus dera ao seu Servo – «não temas, porque Eu te resgatei» (Is 43, 1) –, ofereçamos, juntamente com a nossa obra de caridade, uma palavra de confiança e façamos sentir ao outro que Deus o ama como um filho.

«Só com um olhar cujo horizonte esteja transformado pela caridade, levando-nos a perceber a dignidade do outro, é que os pobres são reconhecidos e apreciados na sua dignidade imensa, respeitados no seu estilo próprio e cultura e, por conseguinte, verdadeiramente integrados na sociedade» (FT, 187).

Queridos irmãos e irmãs, cada etapa da vida é um tempo para crer, esperar e amar. Que este apelo a viver a Quaresma como percurso de conversão, oração e partilha dos nossos bens, nos ajude a repassar, na nossa memória comunitária e pessoal, a fé que vem de Cristo vivo, a esperança animada pelo sopro do Espírito e o amor cuja fonte inexaurível é o coração misericordioso do Pai.

Que Maria, Mãe do Salvador, fiel aos pés da cruz e no coração da Igreja, nos ampare com a sua solícita presença, e a bênção do Ressuscitado nos acompanhe no caminho rumo à luz pascal.

Roma, em São João de Latrão, na Memória de São Martinho de Tours, 11 de novembro de 2020.

Francisco

Fonte: http://www.vatican.va

“Rezar na vida cotidiana” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira. "A oração cristã infunde no coração humano uma esperança invencível: qualquer que seja a experiência que toque o nosso caminho, o amor de Deus pode transformá-la em bem", disse Francisco.

 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

“Na catequese anterior, vimos que a oração cristã está “ancorada” na Liturgia. Hoje evidenciaremos como da Liturgia ela regressa sempre à vida quotidiana: nas ruas, nos escritórios, nos meios de transporte. Nela o diálogo com Deus continua: quem reza é como o apaixonado, que traz sempre no coração a pessoa amada, onde quer que esteja.” Foi o que disse o Papa Francisco no início de sua catequese na Audiência Geral desta quarta-feira (10/02), realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico, sobre o tema “Rezar na vida cotidiana”.  

Segundo o Pontífice, “tudo é assumido neste diálogo com Deus: cada alegria torna-se um motivo de louvor, cada provação é ocasião para um pedido de ajuda. A oração é sempre viva, como o fogo das brasas, até quando os lábios não falam. Cada pensamento, embora aparentemente “profano”, pode ser permeado de oração. Até na inteligência humana há um aspecto orante; com efeito, ela é uma janela aberta para o mistério: ilumina os poucos passos que se nos apresentam e depois se abre para toda a realidade, que a precede e a supera”. A seguir, acrescentou:

Este mistério não tem rosto perturbador nem angustiante: o conhecimento de Cristo nos faz confiar que onde o nosso olhar e os olhos da nossa mente não podem ver, não há o nada, mas uma graça infinita. A oração cristã infunde no coração humano uma esperança invencível: qualquer que seja a experiência que toque o nosso caminho, o amor de Deus pode transformá-la em bem.

 

A oração é sempre positiva

Segundo o Catecismo da Igreja Católica, «aprendemos a orar em certos momentos, escutando a Palavra do Senhor e participando no seu mistério pascal. Mas a cada momento, nos acontecimentos de cada dia, o seu Espírito nos é oferecido para fazer brotar a oração. O tempo está nas mãos do Pai; é no presente que nós o encontramos; não ontem nem amanhã, mas hoje». “Eu encontro Deus hoje. Sempre existe o hoje do encontro”, disse ainda o Papa.

Não há outro dia maravilhoso do que o hoje que vivemos. As pessoas que vivem pensando sempre no futuro, será melhor, mas não vivem o hoje, são pessoas que vivem na fantasia, não sabem viver o concreto do real. O hoje é real. O hoje é concreto. A oração se realiza hoje. Jesus vem ao nosso encontro hoje, o hoje que estamos vivendo. É a oração que o transforma em graça, ou melhor, que nos transforma: apazigua a raiva, sustenta o amor, multiplica a alegria, infunde a força de perdoar. Às vezes parece-nos que já não somos nós que vivemos, mas que a graça vive e age em nós através da oração.

“É a graça que espera. Não se esqueçam: viver o hoje. Quando você estiver com raiva, insatisfeito, pare e diga: ‘Senhor, onde você está? Para aonde estou caminhando?’ O Senhor está ali e lhe dará a palavra justa, o conselho para ir adiante, sem este sulco amargo do negativo”, disse ainda Francisco. “A oração é sempre positiva, faz ir adiante. Cada dia que começa, se for acolhido na oração, é acompanhado de coragem, para que os problemas a enfrentar já não sejam obstáculos à nossa felicidade, mas apelos de Deus, ocasiões para o nosso encontro com Ele.”

A oração realiza milagres

“Rezemos sempre por tudo e por todos. Rezemos pelos nossos entes queridos, mas também por aqueles que não conhecemos; rezemos até pelos nossos inimigos, como a Escritura muitas vezes nos convida a fazer”, sublinhou o Papa.

A oração dispõe a um amor superabundante. Rezemos especialmente pelos infelizes, por quantos choram na solidão e perdem a esperança de que ainda haja um amor que pulse por eles. A oração realiza milagres; e então os pobres intuem, pela graça de Deus, que até na sua situação precária, a oração do cristão tornou presente a compaixão de Jesus: pois Ele olhou com grande ternura para as multidões cansadas e perdidas como ovelhas sem pastor. O Senhor é o Senhor da compaixão, da proximidade, da ternura. O estilo do Senhor é compaixão, proximidade e ternura.

 

É necessário amar cada pessoa

Segundo o Pontífice, “a oração nos ajuda a amar os outros, não obstante seus erros e pecados. A pessoa é sempre mais importante do que as suas ações, e Jesus não julgou o mundo, mas o salvou”.

A vida daquelas pessoas que sempre julgam os outros é ruim, que sempre condenam, julgam. É uma vida ruim, infeliz, pois Jesus veio para nos salvar. Abra o seu coração! Perdoa, justifica os outros, entenda. Fique próximo aos outros, tenha compaixão, ternura, como Jesus. É necessário amar cada pessoa, lembrando na oração que somos todos pecadores e ao mesmo tempo amados por Deus um por um. Amando assim este mundo, amando-o com ternura, descobriremos que cada dia e cada situação traz dentro de si um fragmento do mistério de Deus.

Francisco concluiu sua catequese, dizendo que “somos seres frágeis, mas sabemos rezar: esta é a nossa maior dignidade, é a nossa fortaleza. Coragem! Rezar em cada momento, em cada situação, porque o Senhor está próximo de nós. Quando uma oração está em sintonia com o coração de Jesus, obtém milagres”. Fonte: https://www.vaticannews.va

Evidenciando nossa condição humana, tão elevada em dignidade e, ao mesmo tempo, tão frágil, o Papa frisou no Angelus que Jesus responde a essa condição não com uma explicação, mas com uma presença amorosa que se curva, toma pela mão e levanta. Como já manifestado em outras ocasiões, Francisco lembrou que a única vez em que é lícito olhar as pessoas de cima para baixo é quando nos curvamos para ajudá-las a levantar-se

 

Raimundo de Lima - Vatican News

“Para a Igreja, cuidar dos doentes de todo tipo não é uma ‘atividade opcional’, algo acessório; não, é parte integrante de sua missão, como era da missão de Jesus: levar a ternura de Deus à humanidade sofredora.”

Foi o que disse o Papa no Angelus ao meio-dia deste V Domingo do Tempo Comum, em que o Santo Padre voltou a conduzir a oração mariana da janela do Palácio Apostólico, recitando-a com os fiéis reunidos na Praça São Pedro.

Comentando o Evangelho do dia (cf. Mc 1,29-39) que apresenta a cura, da parte de Jesus, da sogra de Pedro e depois de muitos outros doentes e sofredores que vão até Ele, Francisco observou que a cura da sogra de Pedro é a primeira de natureza física narrada por Marcos.

 

A predileção de Jesus pelas pessoas que sofrem

A mulher estava na cama com febre; a atitude e o gesto de Jesus para com ela são emblemáticos: "Aproximando-se, Ele a tomou pela mão e a fez levantar-se", observa o Evangelista. Há tanta doçura neste ato simples, que parece quase natural: "A febre a deixou e ela se pôs a servi-los", continuou o Papa. O poder de cura de Jesus não encontra nenhuma resistência; e a pessoa curada retoma sua vida normal, pensando imediatamente nos outros e não em si mesma - e isso é significativo, é um sinal de verdadeira "saúde"!

Aquele dia era um sábado. O povo da aldeia espera pelo pôr-do-sol e depois, acabada a obrigação do repouso, sai e traz a Jesus todos os doentes e os possuídos. E Ele os cura, mas proíbe os demônios de revelar que Ele é o Cristo.

Desde o início, observou o Santo Padre, Jesus mostra sua predileção pelas pessoas que sofrem no corpo e no espírito: é a predileção do Pai, que Ele encarna e manifesta com obras e palavras. Seus discípulos foram testemunhas oculares disso.

 

Levar a ternura de Deus à humanidade sofredora

Mas Jesus não queria que eles fossem meros espectadores de sua missão: envolveu-os, enviou-os, deu-lhes também o poder de curar os doentes e expulsar os demônios. E isto tem continuado sem interrupção na vida da Igreja até hoje, ressaltou.

O Pontífice acrescentou que para a Igreja, cuidar dos doentes de todo tipo não é uma "atividade opcional", algo acessório; não, é parte integrante de sua missão, como era da missão de Jesus: levar a ternura de Deus à humanidade sofredora.  Francisco frisou que seremos lembrados disso dentro de poucos dias, em 11 de fevereiro, Dia Mundial do Enfermo.

A realidade que estamos vivendo em todo o mundo por causa da pandemia torna esta mensagem particularmente atual, disse o Papa. A voz de Jó, que ressoa na Liturgia de hoje, torna-se mais uma vez intérprete de nossa condição humana, tão elevada em dignidade e, ao mesmo tempo, tão frágil. Diante desta realidade, a pergunta "por quê?" sempre surge em nossos corações.

 

Curvar-se para ajudar os outros a se levantar

A esta pergunta Jesus, o Verbo Encarnado, responde não com uma explicação, mas com uma presença amorosa que se curva, toma pela mão e levanta, como fez com a sogra de Pedro.

Como já manifestado em outras ocasiões, o Papa lembrou que a única vez em que é lícito de olhar as pessoas de cima para baixo é quando nos curvamos para ajudá-las a levantar-se.

Francisco concluiu a alocução que precedeu a oração mariana pedindo “que a Santíssima Virgem nos ajude a permitir que sejamos curados por Jesus - precisamos disso sempre, todos - para que, por nossa vez, possamos ser testemunhas da ternura regeneradora de Deus”. Fonte: https://www.vaticannews.va

 

"Cristo faz-se presente no Espírito Santo através dos sinais sacramentais: disto, para nós cristãos, deriva a necessidade de participar nos mistérios divinos. Um cristianismo sem liturgia é um cristianismo sem Cristo, totalmente sem Cristo”, disse o Papa na Audiência Geral.

 

Vatican News

“Rezar na liturgia” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira (03/02), realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico.

O Pontífice recordou que “na história da Igreja verificou-se repetidamente a tentação de praticar um cristianismo intimista, que não reconhece a importância espiritual dos ritos litúrgicos públicos. Muitas vezes, esta tendência reivindicou a presumível maior pureza de uma religiosidade que não dependesse de cerimônias externas, consideradas um fardo inútil ou prejudicial. O foco da crítica não era uma forma ritual particular, nem uma forma particular de celebração, mas a própria liturgia. Era a crítica contra a forma litúrgica de rezar”.

 

A oração dos cristãos passa por mediações concretas

Francisco disse que “na Igreja é possível encontrar certas formas de espiritualidade que não conseguiram integrar adequadamente o momento litúrgico. Muitos fiéis, embora participassem assiduamente nos ritos, especialmente na Missa dominical, hauriam alimento para a sua fé e a sua vida espiritual sobretudo de outras fontes, de tipo devocional. Nas últimas décadas, houve muito progresso. A Constituição Sacrosanctum concilium, do Concílio Vaticano II, representa o centro deste longo trajeto”. E acrescentou:

Reafirma de maneira completa e orgânica a importância da liturgia divina para a vida dos cristãos, que nela encontram a mediação objetiva exigida pelo fato de Jesus Cristo não ser uma ideia nem um sentimento, mas uma Pessoa viva, e o seu Mistério um acontecimento histórico. A oração dos cristãos passa por mediações concretas: a Sagrada Escritura, os Sacramentos, os ritos litúrgicos. Na vida cristã não prescindimos da esfera corpórea e material, porque em Jesus Cristo ela se tornou o caminho da salvação. Podemos dizer que agora devemos rezar com o corpo. O corpo entra na oração.

“Não existe espiritualidade cristã que não esteja enraizada na celebração dos mistérios sagrados. A liturgia, em si, não é apenas oração espontânea, mas algo cada vez mais original: é um ato que fundamenta toda a experiência cristã e, por conseguinte, também a oração. É acontecimento, é evento, é presença, é um encontro com Cristo.”

"Cristo faz-se presente no Espírito Santo através dos sinais sacramentais: disto, para nós cristãos, deriva a necessidade de participar nos mistérios divinos. Um cristianismo sem liturgia é um cristianismo sem Cristo, totalmente sem Cristo”, disse ainda o Papa.

 

A missa não pode ser somente “ouvida”

“Cada vez que celebramos um Batismo, ou consagramos o pão e o vinho na Eucaristia, ou ungimos o corpo de um enfermo com o Óleo sagrado, Cristo está ali! Ele está presente como quando curava os membros fracos de um doente ou quando, na Última Ceia, entregou o seu testamento para a salvação do mundo. A oração do cristão faz sua a presença sacramental de Jesus. O que nos é exterior torna-se parte de nós: a liturgia expressa isto também no gesto muito natural de comer.” A seguir, Francisco disse:

A Missa não pode ser somente “ouvida”, não é uma expressão correta. A missa não pode ser apenas ouvida, como se fôssemos apenas espectadores de algo que escorre sem nos envolver. A Missa é sempre celebrada, e não apenas pelo sacerdote que a preside, mas por todos os cristãos que a vivem. O centro é Cristo! Todos nós, na diversidade dos dons e ministérios, nos unimos na sua ação, porque ele é o Protagonista da liturgia.

“Quando os primeiros cristãos começaram a viver o seu culto, fizeram-no atualizando os gestos e a palavras de Jesus, com a luz e a força do Espírito Santo, para que a sua vida, alcançada por esta graça, se tornasse sacrifício espiritual oferecido a Deus. Esta abordagem foi uma verdadeira “revolução”. A vida é chamada a tornar-se culto a Deus, mas isto não pode acontecer sem a oração, especialmente a oração litúrgica. Que este pensamento nos ajude a todos. Quando vamos à missa aos domingos, vou para rezar em comunidade, rezar com Cristo que está presente. Quando vamos a uma celebração do Batismo, Cristo está ali presente que batiza. "Mas, Padre, está é uma ideia, um modo de dizer": isto não é um modo de dizer. Cristo está presente e na liturgia você reza com Cristo que está junto de você", concluiu o Papa. Fonte: https://www.vaticannews.va

 

Devemos nos aproximar da Bíblia sem segundas intenções, sem a instrumentalizar. O fiel não procura nas Sagradas Escrituras o apoio para a própria visão filosófica e moral, mas porque espera um encontro", disse o Papa na Audiência Geral.

 

Vatican News

“A oração com as Sagradas Escrituras” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral, desta quarta-feira (27/01), realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico.

“As palavras das Sagradas Escrituras não foram escritas para permanecer presas nos papiros, nos pergaminhos ou no papel, mas para serem recebidas por uma pessoa que reza, fazendo-as brotar no próprio coração. A palavra de Deus chega ao coração”, frisou o Papa.

 

A Bíblia não pode ser lida como um romance

“A Bíblia não pode ser lida como um romance”, disse ainda o Pontífice, citando o Catecismo da Igreja Católica que afirma: «A leitura das Sagradas Escrituras deve ser acompanhada de oração, para que seja possível o diálogo entre Deus e o homem». “A oração é um diálogo com Deus. Aquele versículo da Bíblia foi escrito também para mim, há muitos séculos, para me trazer uma palavra de Deus. Foi escrita para cada um de nós”, disse ainda Francisco, acrescentando:

Esta experiência acontece a todos os fiéis: uma passagem da Escritura, ouvida muitas vezes, de repente um dia fala-me e ilumina uma situação que estou vivendo. Mas é necessário que eu esteja presente nesse dia, no encontro com essa Palavra. Que eu esteja ali, ouvindo a palavra. Todos os dias Deus passa e lança uma semente no terreno da nossa vida. Não sabemos se hoje encontrará terra árida, silvas, ou terra fértil que faça crescer essa semente. Depende de nós, da nossa oração, do coração aberto com que nos aproximamos das Escrituras para que elas possam tornar-se para nós a Palavra viva de Deus. Deus passa continuamente.

 

Aproximar da Bíblia sem segundas intenções

Segundo o Papa, “devemos nos aproximar da Bíblia sem segundas intenções, sem a instrumentalizar. O fiel não procura nas Sagradas Escrituras o apoio para a própria visão filosófica e moral, mas porque espera um encontro; sabe que aquelas palavras foram escritas no Espírito Santo, e que por isso nesse mesmo Espírito devem ser acolhidas e compreendidas, para que o encontro se realize”.

Fico incomodado quando ouço cristãos que recitam os versículos da Bíblia como papagaios. Você encontrou o Senhor naqueles versículos? Não é um problema apenas de memória, mas de memória do coração, aquela o abre ao encontro com o Senhor. Aquela palavra, aquele versículo o leva ao encontro com o Senhor.

“A Bíblia não foi escrita para uma humanidade genérica, mas para nós, para mim, para você, para homens e mulheres em carne e osso. Homens e mulheres que tem nome e sobrenome. Como eu e você.”

"A Palavra de Deus, impregnada do Espírito Santo, quando é recebida com o coração aberto, não deixa as situações como antes. Muda alguma coisa. Esta é a graça, a força da Palavra de Deus”, disse ainda o Papa.

 

A Palavra inspira bons propósitos

A seguir, Francisco ressaltou que “a tradição cristã é rica em experiências e reflexões sobre a oração com a Sagrada Escritura”, e citou o método da “lectio divina”, nascido num ambiente monástico mas agora praticado por cristãos que frequentam as paróquias. “Trata-se primeiramente de ler a passagem bíblica com atenção, eu diria com “obediência” ao texto, a fim de compreender o que ele significa em si mesmo. Posteriormente entra-se em diálogo com a Escritura, para que aquelas palavras se tornem um motivo de meditação e oração: permanecendo sempre fiel ao texto, começo a perguntar-me o que ele “diz a mim”. Este é um passo delicado: não devemos resvalar para interpretações subjetivas, mas devemos fazer parte do caminho vivo da Tradição, que une cada um de nós à Sagrada Escritura. O último passo da lectio divina é a contemplação. Aqui as palavras e os pensamentos dão lugar ao amor, como entre os noivos que por vezes se olham em silêncio. O texto bíblico permanece, mas como um espelho, como um ícone a ser contemplado. E assim se há diálogo.”

Através da oração, a Palavra de Deus vem habitar em nós e nós habitamos nela. A Palavra inspira bons propósitos e apoia a ação; dá-nos força e serenidade, e até quando nos põe em crise, nos dá paz. Em dias “maus” e confusos, assegura ao coração um núcleo de confiança e amor que o protege dos ataques do maligno.

 

As Sagradas Escrituras são um tesouro inesgotável

“É assim que a Palavra de Deus se torna carne naqueles que a acolhem em oração”, sublinhou o Pontífice. “Em alguns textos antigos emerge a intuição de que os cristãos se identificam tão intimamente com a Palavra que, mesmo se todas as Bíblias do mundo fossem queimadas, um “molde” dela ainda poderia ser salvo através da marca que deixou na vida dos santos. Esta é uma expressão bonita”, ressaltou.

“A vida cristã é uma obra de obediência e ao mesmo tempo de criatividade. Um bom cristão deve ser obediente, mas deve ser também criativo. Obediente porque escuta a palavra de Deus e criativo porque há o Espírito Santo dentro que o impele a levá-la adiante. As Sagradas Escrituras são um tesouro inesgotável”, concluiu o Papa, concedendo a todos a sua bênção apostólica. Fonte: https://www.vaticannews.va

 

Na sua Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2021 o Santo Padre elogia a coragem dos jornalistas na denúncia de guerras e perseguições. Assinala a importância da comunicação digital e sublinha o valor da experiência pessoal para noticiar a realidade.

 

Rui Saraiva - Porto

O Papa Francisco publicou a sua Mensagem para o LV Dia Mundial das Comunicações Sociais. Como sempre nas proximidades do dia 24 de janeiro, memória litúrgica de S. Francisco de Sales, padroeiro da imprensa católica.

O Santo Padre dá como título à sua mensagem aos media: “Comunicar encontrando as pessoas onde estão e como são”. É o encontro aquilo que mais marca o desafio lançado pelo Papa aos jornalistas. Serem capazes de assumir a frase do Evangelho de João: “Vem e verás”, tal como “a fé cristã se comunicou a partir dos primeiros encontros nas margens do rio Jordão e do lago da Galileia” – escreve o Papa.

 

Ir ao encontro com a coragem dos jornalistas

 Para o Papa Francisco existe uma “crise editorial” que “corre o risco de levar a uma informação construída nas redações, diante do computador, nos terminais das agências, nas redes sociais, sem nunca sair à rua”. Desta forma, é importante os jornalistas estarem abertos ao encontro procurando verificar “com os próprios olhos”. “Se não nos abrimos ao encontro, permanecemos espectadores externos” – escreve o Papa na sua Mensagem.

“O próprio jornalismo, como exposição da realidade, requer a capacidade de ir aonde mais ninguém vai: mover-se com desejo de ver” – lembra Francisco enaltecendo a coragem de muitos jornalistas que se esforçam por narrar a realidade, mesmo que tenham que correr riscos:

“Temos que agradecer a coragem e determinação de tantos profissionais (jornalistas, operadores de câmara, editores, cineastas que trabalham muitas vezes sob grandes riscos), se hoje conhecemos, por exemplo, a difícil condição das minorias perseguidas em várias partes do mundo, se muitos abusos e injustiças contra os pobres e contra a criação foram denunciados, se muitas guerras esquecidas foram noticiadas” – frisa Francisco.

Para o Papa “seria uma perda não só para a informação, mas também para toda a sociedade e para a democracia, se faltassem estas vozes: um empobrecimento para a nossa humanidade” – salienta.

 

Atenção mediática aos mais pobres

O Santo Padre na sua Mensagem refere-se, em particular, ao tempo de pandemia que estamos a viver, sublinhando que “há o risco de narrar a pandemia ou qualquer outra crise só com os olhos do mundo mais rico”. Ou seja, o risco de que a atenção mediática possa ser regida pelos interesses dos mais ricos e poderosos. E o Papa exemplifica:

“Por exemplo, na questão das vacinas e dos cuidados médicos em geral, pensemos no risco de exclusão que correm as pessoas mais indigentes. Quem nos contará a expetativa de cura nas aldeias mais pobres da Ásia, América Latina e África? Deste modo as diferenças sociais e económicas a nível planetário correm o risco de marcar a ordem da distribuição das vacinas anti-Covid, com os pobres sempre em último lugar; e o direito à saúde para todos, afirmado em linha de princípio, acaba esvaziado da sua valência real” – diz o Papa não esquecendo quem sofre “no mundo dos mais afortunados”, sobretudo “o drama social das famílias decaídas rapidamente na pobreza” e que “fazem a fila à porta dos centros da Cáritas”.

 

Na web oportunidades e perigos

 O Papa refere que a web “pode multiplicar a capacidade de relato e partilha” apontando que com a internet há “muitos mais olhos abertos sobre o mundo”.

“A tecnologia digital dá-nos a possibilidade duma informação em primeira mão e rápida, por vezes muito útil; pensemos nas emergências em que as primeiras notícias e mesmo as primeiras informações de serviço às populações viajam precisamente na web. É um instrumento formidável, que nos responsabiliza a todos” – assinala Francisco.

O Santo Padre lembra que “potencialmente, todos podemos tornar-nos testemunhas de acontecimentos que de contrário seriam negligenciados pelos meios de comunicação tradicionais”. Ressalta que “graças à rede, temos a possibilidade de contar o que vemos, o que acontece diante dos nossos olhos, de partilhar testemunhos”.

Mas, existem também perigos e riscos como o de uma “comunicação social não verificável”. As imagens podem ser manipuláveis sendo necessária “uma maior capacidade de discernimento” e “um sentido de responsabilidade mais maduro, seja quando se difundem seja quando se recebem conteúdos”.

“Todos somos responsáveis pela comunicação que fazemos, pelas informações que damos, pelo controlo que podemos conjuntamente exercer sobre as notícias falsas, desmascarando-as. Todos estamos chamados a ser testemunhas da verdade” – escreve Francisco.

 

Nada substitui o ver pessoalmente

Na sua Mensagem dedicada aos media, o Papa salienta que “algumas coisas só se podem aprender, experimentando-as”. “O intenso fascínio de Jesus sobre quem O encontrava dependia da verdade da sua pregação, mas a eficácia daquilo que dizia era inseparável do seu olhar, das suas atitudes e até dos seus silêncios. Os discípulos não só ouviam as suas palavras, mas viam-No falar” – escreve o Papa.

O Santo Padre denuncia a “quantidade de eloquência vazia que abunda no nosso tempo” e lança o desafio de que os comunicadores cristãos usem o método utilizado na difusão da “boa nova do Evangelho” através de “encontros pessoa a pessoa, coração a coração: homens e mulheres que aceitaram o mesmo convite – «vem e verás”.

“Todos os instrumentos são importantes, e aquele grande comunicador que se chamava Paulo de Tarso ter-se-ia certamente servido do e-mail e das mensagens eletrônicas; mas foram a sua fé, esperança e caridade que impressionaram os contemporâneos que o ouviram pregar e tiveram a sorte de passar algum tempo com ele, de o ver durante uma assembleia ou numa conversa pessoal” – escreve o Papa lembrando S. Paulo.

O Papa Francisco conclui a sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais neste ano de 2021 com uma oração:

Senhor, ensinai-nos a sair de nós mesmos, e partir à procura da verdade. 

Ensinai-nos a ir e ver, ensinai-nos a ouvir, a não cultivar preconceitos, a não tirar conclusões precipitadas. 

Ensinai-nos a ir aonde não vai ninguém, a reservar tempo para compreender, a prestar atenção ao essencial,

a não nos distrairmos com o supérfluo, a distinguir entre a aparência enganadora e a verdade. Concedei-nos

a graça de reconhecer as vossas moradas no mundo e a honestidade de contar o que vimos.

O Dia Mundial das Comunicações Sociais foi estabelecido pelo Concílio Vaticano II através do decreto “Inter Mirifica” em 1963 e assinala-se no domingo antes do Pentecostes. Este ano será a 16 de maio.

Laudetur Iesus Christus

Fonte: Fonte: https://www.vaticannews.va

Papa: do verdadeiro encontro com Jesus nunca se esquece

"No início há um encontro, aliás, há o encontro com Jesus, que nos fala do Pai, nos faz conhecer o seu amor. E assim também em nós surge espontaneamente o desejo de comunicá-lo às pessoas que amamos: "Encontrei o Amor", "Encontrei o sentido da minha vida". Em uma palavra: "Encontrei Deus!""

 

Jackson Erpen - Vatican News

O projeto de Deus para cada um de nós é sempre um plano de amor. E ao seu chamado, devemos responder com amor, no serviço a Deus e aos irmãos.

Inspirado no Evangelho de João - que apresenta o encontro de Jesus com seus primeiros discípulos - o Papa também convidou a recordamos do momento do encontro derradeiro que tivemos com o Senhor, “para que a recordação daquele momento nos renove sempre no encontro com Jesus”. “Todo encontro autêntico com Jesus fica na memória viva”.

Da Biblioteca do Palácio Apostólico, também em observância às medidas adotadas pelo governo italiano para conter a difusão do coronavírus, Francisco começa sua reflexão descrevendo a cena de Jesus com dois de seus discípulos à beira do rio Jordão, um deles André. E foi o próprio João Batista – explicou - quem apontou o Messias para eles com estas palavras: "Eis o Cordeiro de Deus!"

Em resposta às perguntas que começaram a lhe ser dirigidas, cheias de curiosidade, Jesus não apresenta “um cartão de visitas”, mas os convida para um encontro: “Vinde e vede!” “Os dois o seguem e naquela tarde permanecem com Ele”:

Não é difícil imaginá-los ali sentados, fazendo perguntas a ele e, sobretudo, ouvindo-o, sentindo que seus corações se aquecem sempre mais, enquanto o Mestre fala.  Eles sentem a beleza das palavras que correspondem à sua maior esperança. E de repente descobrem que, à medida que escurece à sua volta, explode neles, em seus corações, uma luz que somente Deus pode dar.

 

Do verdadeiro encontro com Jesus não se esquece nunca

 Francisco chama então a atenção para a hora precisa deste encontro descrita por João:

Uma coisa que chama a atenção: um deles, sessenta anos depois, ou talvez mais, escreveu no Evangelho - “era por volta das quatro da tarde” - escreveu a hora. E isso é algo que nos faz pensar: todo encontro autêntico com Jesus fica na memória viva, nunca é esquecido. Você se esquece de tantos encontros, mas o encontro com Jesus verdadeiro permanece sempre. E tantos anos depois eles se recordavam também da hora, não puderam esquecer aquele encontro tão feliz, tão pleno, que havia mudado a vida.

 

Cada encontro com Jesus é um chamado de amor

 E quando eles saem e voltam para seus irmãos – continua explicando o Papa – “essa alegria, essa luz transborda de seus corações como um rio caudaloso”.

Então, um dos dois, André, diz a seu irmão Simão - a quem Jesus chamará Pedro quando o encontrar-: "Encontramos o Messias". Estavam certos que Jesus era o Messias:

Detenhamo-nos por um momento nesta experiência do encontro com Cristo que chama a estar com Ele. Cada chamado de Deus é uma iniciativa do seu amor. É sempre Ele que toma a iniciativa. Ele te chama. Deus chama à vida, chama à fé e chama a um estado particular de vida: “Eu te quero aqui”.

O primeiro chamado de Deus – explica Francisco – “é para a vida, com a qual nos constitui como pessoas; é um chamado individual, porque Deus não faz as coisas em série”.  

 

Projeto de Deus é sempre um plano de amor

 Depois – acrescenta – “Deus nos chama à fé e para fazer parte da sua família, como filhos de Deus. Por fim, Deus nos chama a um estado particular de vida: a doar-nos no caminho do matrimônio, no do sacerdócio ou na vida consagrada:

São formas diferentes de realizar o projeto de Deus, aquele que Ele tem para cada um de nós, que é sempre um plano de amor. Mas Deus chama sempre. E a maior alegria para cada crente (para cada fiel) é responder a este chamado, oferecer-se inteiramente ao serviço de Deus e dos irmãos.

Mas diante deste chamado do Senhor – observa o Pontífice - que nos chega “de mil maneiras”, mesmo “por meio de pessoas, acontecimentos felizes e tristes, às vezes a nossa atitude pode ser de rejeição - “Não...“tenho medo”... Recuso porque nos parece em contraste com as nossas aspirações; e também o medo, porque o consideramos muito exigente e incômodo: “Oh, não conseguirei, melhor não, melhor uma vida mais tranquila. Deus lá e eu aqui”:

 

O desejo do anúncio que brota do encontro com Jesus

 Mas o chamado de Deus é amor. Devemos procurar encontrar o amor que está por trás de cada chamado, e se responde a ele somente com o amor. Esta é a linguagem: da resposta a um chamado que vem do amor, somente o amor. No início há um encontro, aliás, há o encontro com Jesus, que nos fala do Pai, nos faz conhecer o seu amor. E assim também em nós surge espontaneamente o desejo de comunicá-lo às pessoas que amamos: "Encontrei o Amor", “encontrei o Messias”, “encontrei Jesus”, "encontrei o sentido da minha vida". Em uma palavra: "Encontrei Deus".

Que a Virgem Maria – foi o pedido do Papa ao concluir - nos ajude a fazer da nossa vida um hino de louvor a Deus, em resposta ao seu chamado e no cumprimento humilde e alegre da sua vontade. E acrescenta:

Mas recordemos isso: (para) cada um de nós, na sua vida, (houve) um momento em que Deus se fez presente com mais força, com um chamado. Recordemo-lo. Voltemos àquele momento, para que a memória daquele momento nos renove sempre no encontro com Jesus. Fonte: https://www.vaticannews.va

“No futuro do mundo e nas esperanças da Igreja há os “pequeninos”: aqueles que não se consideram melhores do que os outros, que estão conscientes dos próprios limites e dos seus pecados, que não querem dominar os outros, que em Deus Pai se reconhecem todos irmãos”, disse ainda Francisco.

 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

“A oração de louvor” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral, desta quarta-feira (13/01), realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico.

O Pontífice se inspirou “numa passagem crítica da vida de Jesus” para falar sobre a dimensão do louvor. “Depois dos primeiros milagres e da participação dos discípulos no anúncio do Reino de Deus, a missão do Messias sofre uma crise. João Batista duvida, e lhe faz chegar esta mensagem. João está na prisão: «És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?»

João Batista “sente esta angústia por não saber se errou no anúncio. Existem na vida momentos sombrios, momentos de noites espirituais e João está passando por esse momento. Há hostilidade nas aldeias perto do lago, onde Jesus tinha realizado muitos sinais prodigiosos. Naquele momento de desilusão, Mateus relata um acontecimento surpreendente: Jesus não eleva ao Pai uma lamentação, mas um hino de júbilo: «Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos». Em plena crise, em plena escuridão na alma de muitas pessoas, como João Batista,  Jesus bendiz o Pai, Jesus louva o Pai”.

Primeiramente, Jesus louva o Pai pelo que é: «Pai, Senhor do céu e da terra». “Jesus rejubila-se no seu espírito porque sabe e sente que o seu Pai é o Deus do universo e, vice-versa, o Senhor de tudo o que existe é Pai, “meu Pai”. O louvor brota desta experiência de sentir-se “filho do Altíssimo”. Jesus se sente filho do Altíssimo.”

Depois, “disso Jesus louva o Pai porque prefere os pequeninos. É o que Ele próprio experimenta, pregando nas aldeias: os “entendidos” e os “sábios” permanecem desconfiados e fechados, enquanto os “pequeninos” se abrem e acolhem a mensagem”. A seguir, acrescentou:

Também nós devemos nos regozijar e louvar a Deus porque as pessoas humildes e simples aceitam o Evangelho. Quando vejo as pessoas simples, pessoas humildes que vão em peregrinação a rezar, que cantam, que louvam, pessoas às quais que talvez faltam muitas coisas, mas a humildade faz com que louvem a Deus.

“No futuro do mundo e nas esperanças da Igreja há os “pequeninos”: aqueles que não se consideram melhores do que os outros, que estão conscientes dos próprios limites e dos seus pecados, que não querem dominar os outros, que em Deus Pai se reconhecem todos irmãos”, disse ainda Francisco.

O Papa ressaltou que “naquele momento de aparente fracasso, onde tudo é escuro, Jesus reza, louvando o Pai”.

A sua oração nos leva, também a nós leitores do Evangelho, a julgar de um modo diferente as nossas derrotas pessoais, julgar de modo diferente as situações em que não vemos claramente a presença e a ação de Deus, quando parece que o mal prevalece e não há maneira de o deter. Jesus, que tanto recomendou a oração de súplica, precisamente no momento em que teria motivos para pedir explicações ao Pai, ao contrário passa a louvá-lo. Parece uma contradição. Mas a verdade está ali.

“Para quem é útil o louvor? Para nós ou para Deus?”, perguntou o Papa.

“A prece de louvor é útil para nós”, disse ele. A oração de louvor “deve ser praticada não só quando a vida nos enche de felicidade, mas sobretudo nos momentos difíceis, momentos sombrios quando o caminho é íngreme. Aprendemos que através daquela escalada, daquele caminho cansativo, daquelas passagens desafiadoras, chegamos a ver um novo panorama, um horizonte mais aberto. Louvar é como respirar oxigênio puro, que nos purifica a alma e nos faz olhar distante, e a não permanecer  aprisionado no momento escuro, de dificuldade”.

Francisco concluiu, citando o “Cântico do irmão sol” ou “das criaturas” de São Francisco de Assis. “O Pobrezinho não o compôs num momento de alegria, de bem-estar, mas, pelo contrário, no meio das dificuldades. Francisco estava quase cego e sentia na sua alma o peso de uma solidão que nunca tinha sentido antes: o mundo não mudou desde o início da sua pregação, ainda há aqueles que se deixam dilacerar por disputas e, além disso, ele ouve aproximar-se os passos da morte. Poderia ser o momento de extrema desilusão e a percepção do próprio fracasso. Mas naquele instante de tristeza, naquele instante escuro Francisco reza: «Louvado seja, meu Senhor…». Reza louvando. Francisco louva a Deus por tudo, por todos os dons da criação e até pela morte, que ele corajosamente consegue chamar “irmã”. A irmã morte. Estes exemplos dos santos, dos cristãos e também de Jesus de louvar a Deus nos momentos difíceis nos abrem as portas de um caminho muito grande rumo ao Senhor. Nos purificam sempre. O louvor purifica sempre.

“Os Santos e as Santas mostram-nos que podemos louvar sempre, nos momentos bons e maus, porque Deus é o Amigo fiel, este é o fundamento do louvor. Deus é o Amigo fiel e o seu amor nunca desilude. Ele está sempre junto de nós, Ele nos espera sempre. Alguém disse é a sentinela perto de nós que nos faz ir adiante com segurança. Nos momentos difíceis e sombrios tenhamos a coragem de dizer louvado seja o Senhor e isso nos fará bem.” Fonte: https://www.vaticannews.va

 

"A nossa vida é marcada pela misericórdia que se pousou sobre nós. Fomos salvos gratuitamente. A salvação é grátis. É o gesto gratuito da misericórdia de Deus para conosco", disse o Papa no Angelus deste domingo.

 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco rezou a oração mariana do Angelus deste domingo (10/01), dia que a Igreja celebra o Batismo do Senhor, da Biblioteca do Palácio Apostólico.

 

Poucos dias atrás, na Solenidade da Epifania, Jesus foi visitado pelos Reis Magos. “Hoje, o encontramos como adulto nas margens do Jordão. A Liturgia nos faz dar um salto de cerca de trinta anos, trinta anos dos quais sabemos uma coisa: foram anos de vida escondida, que Jesus transcorreu em família, alguns anos no Egito, como migrante para fugir da perseguição de Herodes, outros em Nazaré, aprendendo a profissão de José, obedecendo aos pais, estudando e trabalhando”. A seguir, acrescentou:

É impressionante que a maior parte do tempo do Senhor na Terra foi passado desta maneira, vivendo a vida de todos os dias, sem aparecer. Pensamos que segundo os Evangelhos foram três anos de pregação, de milagres e muitas coisas. Os outros anos foram de vida escondida na família. É uma bela mensagem para nós: nos revela a grandeza do cotidiano, a importância aos olhos de Deus de cada gesto e momento da vida, mesmo o mais simples e escondido.

“Depois desses trinta anos de vida oculta, começa a vida pública de Jesus. E começa com o seu batismo no Rio Jordão. Jesus é Deus. Por que Jesus vai se batizar?”, perguntou o Papa. “O batismo de João consistia num rito penitencial, era um sinal da vontade de se converter, de ser melhores, pedindo o perdão dos pecados. Jesus certamente não precisava disso. De fato, João Batista tenta se opor, mas Jesus insiste. Por quê? Porque ele quer estar com os pecadores. Por isso, entra na fila com eles e realiza o mesmo gesto deles. E o faz com um comportamento do povo, com uma atitude do povo, que como diz um hino litúrgico, com a alma nua, sem cobrir nada, assim, pecador. Este é o gesto que Jesus faz e entra no rio para se imergir em nossa mesma condição. O batismo, de fato, significa precisamente “imersão”. No primeiro dia de seu ministério, Jesus nos oferece o seu “manifesto programático”. Segundo Pontífice, Jesus “nos diz que não nos salva do alto, com uma decisão soberana ou um ato de força, um decreto, não: Ele nos salva vindo ao nosso encontro e tomando sobre si os nossos pecados. É assim que Deus vence o mal do mundo: abaixando-se e assumindo”.

É também a maneira pela qual podemos elevar os outros: não julgando, não intimando, dizendo-lhes o que fazer, mas fazendo-se próximo, compadecendo, compartilhando o amor de Deus. A proximidade é o estilo de Deus em relação a nós. Ele mesmo disse isto a Moisés. Pensem: qual povo tem seus deuses tão próximos como vocês tem a mim. A proximidade é o estilo de Deus para conosco.

Francisco sublinhou que “depois deste gesto de compaixão de Jesus, acontece uma coisa extraordinária: os céus se abrem e a Trindade finalmente se revela. O Espírito Santo desce em forma de pomba e o Pai diz a Jesus: «Tu és o meu Filho amado»”.

Deus se manifesta quando a misericórdia aparece. Não se esqueçam disso. Deus se manifesta quando a misericórdia aparece, porque esse é o seu rosto. Jesus se torna o servo dos pecadores e é proclamado Filho; Ele se abaixa sobre nós e o Espírito desce sobre Ele. O amor chama o amor. É válido também para nós: em cada gesto de serviço, em cada obra de misericórdia que fazemos, Deus se manifesta, Deus pousa o seu olhar sobre o mundo. Isso vale para nós.

Segundo o Papa, “mesmo antes que façamos qualquer coisa, a nossa vida é marcada pela misericórdia que se pousou sobre nós. Fomos salvos gratuitamente. A salvação é grátis”.

É o gesto gratuito da misericórdia de Deus para conosco. Sacramentalmente, isto se realiza no dia do nosso Batismo, mas também os que não são batizados recebem a misericórdia de Deus sempre, porque deus está ali, espera. Espera que as portas de seus corações se abram. Se aproxima, permito-me dizer, nos acaricia com a sua misericórdia.

Francisco concluiu, pedindo a Nossa Senhora para que “nos ajude a salvaguardar a nossa identidade, ou seja, a identidade de ser “misericordiados” que está na base da fé e da vida”. Fonte: https://www.vaticannews.va

“Adorar o Senhor não é fácil, não é um dado imediato: requer uma certa maturidade espiritual, sendo o ponto de chegada dum caminho interior, por vezes longo. Não é espontânea em nós a atitude de adorar a Deus. É verdade que o ser humano precisa de adorar, mas corre o risco de errar o alvo; com efeito, se não adorar a Deus, adorará ídolos e, em vez de ser crente, tornar-se-á idólatra.”

Vatican News

Na Festa da Epifania, o Papa Francisco presidiu a celebração da Santa Missa na Basílica de São Pedro. Eis sua homilia na íntegra:

"O evangelista Mateus assinala que os Magos, quando chegaram a Belém, «viram o Menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, adoraram-No» (Mt 2, 11). Adorar o Senhor não é fácil, não é um dado imediato: requer uma certa maturidade espiritual, sendo o ponto de chegada dum caminho interior, por vezes longo. Não é espontânea em nós a atitude de adorar a Deus. É verdade que o ser humano precisa de adorar, mas corre o risco de errar o alvo; com efeito, se não adorar a Deus, adorará ídolos - não existe meio termo, ou Deus ou os ídolos, ou para usar uma palavra de um escritor francês: “Quem não adora a Deus, adora o diabo” - e, em vez de ser crente, tornar-se-á idólatra. É assim, aut aut.

Neste nosso tempo, há particular necessidade de dedicarmos, tanto individualmente como em comunidade, mais tempo à adoração, aprendendo cada vez melhor a contemplar o Senhor. Perdeu-se um pouco o sentido da oração de adoração, devemos retomá-lo, quer comunitariamente como na própria vida espiritual. Por isso, hoje, queremos aprender com os Magos algumas lições úteis: como eles, queremos prostrar-nos e adorar o Senhor. Adorá-lo seriamente, não como disse Herodes: "Diga-me onde é o lugar e irei adorá-lo". Não, essa adoração não está certo. Com seriedade!

Das leituras desta Eucaristia, recolhemos três expressões que podem ajudar-nos a entender melhor o que significa ser adorador do Senhor; ei-las: «levantar os olhos», «pôr-se a caminho» e «ver». Essas três expressões nos ajudarão a entender o que significa ser um adorador do Senhor.

A primeira expressão – levantar os olhos –, encontramo-la em Isaías. À comunidade de Jerusalém, pouco antes regressada do exílio e agora caída em desânimo por causa de dificuldades sem fim, o profeta dirige-lhe este forte convite: «Levanta os olhos e vê» (Is 60, 4). Convida-a a deixar de lado cansaço e lamentos, sair das estreitezas duma visão limitada, libertar-se da ditadura do próprio eu, sempre propenso a fechar-se em si mesmo e nas preocupações particulares. Para adorar o Senhor, é preciso antes de mais nada «levantar os olhos», ou seja, não se deixar enredar pelos fantasmas interiores que apagam a esperança, nem fazer dos problemas e dificuldades o centro da própria existência. Isto não significa negar a realidade, fingindo-se ou iludindo-se que tudo corre bem. Não. Mas olhar de modo novo os problemas e as angústias, sabendo que o Senhor conhece as nossas situações difíceis, escuta atentamente as nossas súplicas e não fica indiferente às lágrimas que derramamos.

Este olhar que, apesar das vicissitudes da vida, permanece confiante no Senhor, gera a gratidão filial. E, quando isto acontece, o coração abre-se à adoração. Pelo contrário, quando fixamos a atenção exclusivamente nos problemas, recusando-nos a levantar os olhos para Deus, o medo invade o coração e desorienta-o, gerando irritação, perplexidade, angústia, depressão. Nestas condições, é difícil adorar ao Senhor. Se isto acontecer, é preciso ter a coragem de romper o círculo das nossas conclusões precipitadas, sabendo que a realidade é maior do que os nossos pensamentos. Levanta os olhos e vê: o Senhor convida-nos, em primeiro lugar, a ter confiança n’Ele, porque cuida realmente de todos. Ora, se Deus veste tão bem a erva no campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao fogo, quanto mais não fará Ele por nós? (cf. Lc 12, 28). Se levantarmos o olhar para o Senhor e considerarmos a realidade à sua luz, descobrimos que Ele nunca nos abandona: o Verbo fez-Se carne (cf. Jo 1, 14) e permanece connosco sempre todos os dias (cf. Mt 28, 20). Sempre.

Quando levantamos os olhos para Deus, os problemas da vida não desaparecem, não, mas sentimos que o Senhor nos dá a força necessária para enfrentá-los. Assim, «levantar os olhos» é o primeiro passo que predispõe para a adoração. Trata-se da adoração do discípulo que descobriu, em Deus, uma alegria nova, uma alegria diferente. A alegria do mundo está fundada na posse dos bens, no sucesso ou noutras coisas semelhantes,  sempre com o "eu" no centro. Pelo contrário, a alegria do discípulo de Cristo tem o seu fundamento na fidelidade de Deus, cujas promessas nunca falham, apesar das situações de crise em que possamos chegar a encontrar-nos. Então a gratidão filial e a alegria suscitam o desejo de adorar o Senhor, que é fiel e nunca nos deixa sozinhos.

A segunda expressão, que nos pode ajudar, é pôr-se a caminho. Levantar os olhos [a primeira]; a segunda, colocar-se a caminho. Antes de poder adorar o Menino nascido em Belém, os Magos tiveram que enfrentar uma longa viagem. Lê-se em Mateus: «Chegaram a Jerusalém uns Magos vindos do Oriente. E perguntaram: “Onde está o Rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-Lo”» (Mt 2, 1-2). A viagem implica sempre uma transformação, uma mudança. A pessoa, depois duma viagem, já não fica como antes; há sempre algo de novo em quem viajou: os seus conhecimentos alargaram-se, viu pessoas e coisas novas, sentiu fortalecer-se a vontade ao enfrentar as dificuldades e os riscos do trajeto. Não se chega a adorar o Senhor sem antes passar pelo amadurecimento interior que nos dá o pôr-se a caminho.

É através dum caminho gradual que nos tornamos adoradores do Senhor. Por exemplo, a experiência ensina que a pessoa, aos cinquenta anos, vive a adoração com um espírito diferente de quando tinha trinta. Quem se deixa moldar pela graça, costuma melhorar com o passar do tempo: enquanto o homem exterior envelhece, diz São Paulo, o homem interior renova-se dia após dia (cf. 2 Cor 4, 16), predispondo-se cada vez melhor a adorar o Senhor. Deste ponto de vista, os falimentos, as crises, os erros podem tornar-se experiências instrutivas: não é raro servirem para nos tornar conscientes de que só o Senhor é digno de ser adorado, porque só Ele satisfaz o desejo de vida e eternidade presente no íntimo de cada pessoa. Além disso, com o passar do tempo, as provas e adversidades da existência – vividas na fé – contribuem para purificar o coração, torná-lo mais humilde e, consequentemente, mais disponível para se abrir a Deus. 

Também os pecados, também a consciência de ser pecadores, de encontrar coisas tão ruins. "Mas eu fiz isso ... eu fiz ...": se pegares isso com fé e arrependimento, com contrição, vai te ajudar a crescer. Tudo, tudo ajuda, diz Paulo, ao crescimento espiritual, ao encontro com Jesus, mesmo os pecados, mesmo os pecados. E São Tomás acrescenta: "etiam mortalia", também os pecados feios, os piores. Mas se o pegares com arrependimento, vai ajudá-lo nessa jornada para um encontro com o Senhor e a adorá-lo melhor.

Como os Magos, também nós devemos deixar-nos instruir pelo caminho da vida, marcado pelas dificuldades inevitáveis da viagem. Não deixemos que o cansaço, as quedas e os fracassos nos precipitem no desânimo; antes, pelo contrário, reconhecendo-os com humildade, devemos fazer deles ocasião de progredir para o Senhor Jesus. A vida não é uma demonstração de habilidades, mas uma viagem rumo Àquele que nos ama. Não precisamos mostrar a carta das virtudes que temos em cada etapa de nossa vida; com humildade devemos ir em direção ao Senhor. Olhando para o Senhor, encontraremos a força para continuar com renovada alegria.

E chegamos à terceira expressão: ver. Levantar os olhos, colocar-se a caminho, ver. Como se lê no Evangelho, «entrando em casa, [os Magos] viram o Menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, adoraram-No» (Mt 2, 11). A adoração era o ato de homenagem reservado aos soberanos, aos grandes dignitários. Com efeito, os Magos adoraram Aquele que sabiam ser o Rei dos judeus (cf. Mt 2, 2). Mas, na realidade, que viram eles? Viram um menino pobre com a sua mãe. E contudo estes sábios, vindos de países distantes, souberam transcender aquela cena tão humilde e quase deprimente, reconhecendo naquele Menino a presença dum soberano. Por outras palavras, foram capazes de «ver» para além das aparências. Prostrando-se diante do Menino nascido em Belém, exprimiram uma adoração era primariamente interior: a abertura dos escrinhos trazidos de prenda foi sinal da oferta dos seus corações.

Para adorar o Senhor, é preciso «ver» além do véu do visível, pois este muitas vezes mostra-se enganador. Herodes e os notáveis de Jerusalém representam a mundanidade, perenemente escrava da aparência. Veem e não sabem ver - não estou dizendo que não creem, seria muito - não sabem ver porque sua capacidade é escrava da aparência e à procura de atrativos: dá valor apenas às coisas sensacionais, aquilo que chama a atenção do vulgo. Entretanto, nos Magos, vemos um comportamento diferente, que poderíamos definir realismo teologal - uma palavra muito "alta", mas podemos dizer assim, um realismo teologal este percebe com objetividade a realidade das coisas, chegando enfim a compreender que Deus evita toda a ostentação. O Senhor está na humildade, o Senhor é como aquele menino humilde, foge da ostentação, que é precisamente o produto do mundanismo.

Esta forma de «ver» que transcende o visível, faz-nos adorar o Senhor muitas vezes escondido em situações simples, em pessoas humildes e marginais. Trata-se, pois, dum olhar que, não se deixando encandear pelos fogos de artifício do exibicionismo, procura em cada ocasião aquilo que não passa, procura o Senhor. Por isso, como escreve o apóstolo Paulo, «não olhamos para as coisas visíveis, mas para as invisíveis, porque as visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas» (2 Cor 4, 18).

Que o Senhor Jesus nos torne seus verdadeiros adoradores, capazes de manifestar com a vida o seu desígnio de amor, que abraça a humanidade inteira." Peçamos a graça para cada um de nós e para toda a Igreja, de aprender a adorar, de continuar a adorar, de exercer muito esta oração de adoração, porque somente Deus deve ser adorado. Fonte: https://www.vaticannews.va

Ao final do Angelus, ao renovar os "melhores votos" para este ano que acaba de começar, Francisco procurou ajudar a colocar a mão na consciência de cada cristão que vive este período nebuloso do coronavírus: se preocupar com os mais necessitados e trabalhar juntos pelo bem comum; evitando “a tentação de cuidar apenas dos próprios interesses, de continuar fazendo a guerra - por exemplo - de se concentrar apenas no perfil econômico, de viver hedonisticamente, ou seja, buscando apenas satisfazer o próprio prazer”.

 

Andressa Collet – Vatican News

Logo após a oração mariana do Angelus, como de costume, o Papa usa o espaço para convocar os fiéis a temas sensíveis e acontecimentos mundiais, por exemplo. Neste domingo (3), chuvoso na Cidade do Vaticano, mas resguardado na biblioteca do Palácio Apostólico devido às restrições da pandemia, Francisco fez um chamamento à responsabilidade individual para conter a disseminação da Covid-19.

Ao renovar os “melhores votos este ano que acaba de começar”, o Pontífice procurou ajudar a colocar a mão na consciência de cada cristão que vive este período nebuloso do coronavírus:

“Sabemos que as coisas vão melhorar na medida em que, com a ajuda de Deus, trabalhararemos juntos para o bem comum, colocando no centro os mais fracos e desfavorecidos. Não sabemos o que 2021 vai nos reservar, mas o que cada um de nós e todos nós juntos podemos fazer é de nos comprometer um pouco mais a cuidar uns dos outros e da Criação, a nossa Casa Comum.”

Além da preocupação com os mais necessitados, o Papa chamou para a responsabilidade de cada um diante de uma nova realidade imposta pela pandemia. Ao descrever “a tentação de cuidar apenas dos próprios interesses, de continuar fazendo a guerra - por exemplo - de se concentrar apenas no perfil econômico, de viver hedonisticamente, ou seja, buscando apenas satisfazer o próprio prazer”, Francisco relatou um fato que o deixou muito triste: “Li nos jornais algo que me entristeceu bastante: em um país, não me lembro qual, para fugir do lockdown e ter boas férias, mais de 40 aviões saíram naquela tarde. Mas essas pessoas, que são boas pessoas, não pensaram naquelas que ficaram em casa, nos problemas econômicos de tantas pessoas que o lockdown derrubou, nos doentes? Apenas, tirar férias e dar prazer a si mesmo. Isso me entristeceu muito.”

 

Nascimento é sempre promessa de esperança

O Papa, então, dirigiu uma saudação especial a quem começa o Ano Novo com maior dificuldade e realmente precisa de um encorajamento: “aos doentes, aos desempregados, àqueles que vivem em situações de opressão ou exploração”.

“E, com carinho, desejo saudar todas as famílias, especialmente aquelas em que há crianças pequenas ou que estão esperando um nascimento. Um nascimento é sempre uma promessa de esperança: estou próximo a essas famílias. Que o Senhor o abençoe.” Fonte: https://www.vaticannews.va