Olhar Jornalístico

Jornalistas protestam contra 'cárcere privado' e deixam cobertura da posse

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Publicado em 01 janeiro 2019
  • Jair Bolsonaro,
  • Palácio do Itamaraty,
  • posse do presidente Jair Bolsonaro
  • assessoria do Itamaraty

Grupo estrangeiro, que estava no Palácio do Itamaraty, reclamou da impossibilidade de circular livremente para cobrir a posse do presidente Jair Bolsonaro. Depois de denunciarem 'cárcere privado', foram autorizados a sair antes do horário previsto

As limitações impostas pela equipe responsável pela segurança da posse presidencial, que ocorre nesta segunda-feira, a partir das 14h, têm gerado uma série de dificuldades ao trabalho da imprensa. Jornalistas estão impedidos de transitar entre os prédios da Esplanada e da Praça dos Três Poderes e foram obrigados a chegar horas antes aos locais onde ocorrerão os eventos. Em certos pontos, como no Palácio do Planalto, os repórteres não têm acesso a água nem autorização para ir ao banheiro em determinados momentos. 
Para cobrir a transição da faixa presidencial, os jornalistas de veículos nacionais e internacionais tiveram de comparecer ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) a partir das 7h para pegarem ônibus que os levaram ao Planalto, Itamaraty e Congresso Nacional. Depois do transporte, são obrigados a permanecer nos locais até a hora do evento, sendo que alguns deles, como a recepção no Itamaraty, só ocorrerão à noite. 

A cobertura jornalística no Ministério das Relações Exteriores também começou tumultuada. Na chegada ao Palácio do Itamaraty, os jornalistas credenciados foram conduzidos ao piso inferior e colocados na sala San Tiago Dantas, onde deverão permanecer até as 17h, quando serão, então, guiados ao térreo para acompanhar a chegada de autoridades. 

O espaço, no entanto, não dispõe de janelas para que os profissionais possam ver o que acontece do lado de fora do palácio. A limitação pegou de surpresa alguns jornalistas estrangeiros. "No mapa, quando você vê o Palácio, acha que poderá filmar as coisas acontecendo na Esplanada. No fim, nos demos conta de que ficamos presos em uma sala de imprensa sem vidro, onde não podemos fazer nada para registrar a chegada de convidados", lamentou Fanny Marie Lotaire, da rede de tevê France 24.

Após muitas reclamações, três jornalistas da emissora e um jornalista da agência oficial de notícias da China deixaram o Palácio do Itamaraty. Deixar o local, porém, não foi fácil. Inicialmente, a assessoria do Itamaraty explicou que eles não poderiam sair do ministério até às 20h, quando saem os primeiros ônibus que levarão os jornalistas de volta ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Após críticas de que a reclusão imposta coloca a imprensa em uma situação de "cárcere privado", a comunicação do ministério conseguiu um ônibus para levar quem desejasse sair. "Prefiro ter minha liberdade de entrevistar qualquer pessoa passando na rua, mesmo que esteja vazia, do que ficar aqui", disse Fanny.

Falta de água 

Há informações, porém, de que as restrições não são para todos. Um grupo específico recebeu credenciais especiais de imprensa para circularem pelo Palácio do Planalto. O Correio viu o momento em que um comunicador, credenciado para o salão nobre, circulava pelo térreo com autorização da segurança. 

A Presidência da República alega que a restrição de circulação ocorre para preservar a segurança da cerimônia, mas a medida deixaram jornalistas em situação difícil. Até mesmo o lanche, como frutas e sucos, levados por alguns repórteres, foram recolhidos e jogados no lixo. A jornalista do Correio Simone Kafruni, que está no Palácio do Planalto, gravou um vídeo em que em que mostra as condições precárias a que estão submetidos os profissionais. Fonte: www.correiobraziliense.com.br

Diplomação de Zema: troca de socos

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Publicado em 20 dezembro 2018
  • Poder,
  • Diplomação de Zema
  • Palácio das Artes,
  • Troca de socos em BH

A diplomação do governador eleito, Romeu Zema (Novo), do vice-governador, Paulo Brant (Novo), dos senadores eleitos, Rodrigo Pacheco (DEM) e Carlos Viana (PHS), dos 77 deputados estaduais e 53 federais chegou a ser suspensa na noite desta quarta-feira (19) após troca de socos entre políticos. A cerimônia foi realizada no Palácio das Artes, no Centro da capital mineira... Fonte: https://g1.globo.com

OLHAR JORNALÍSTICO PLANTÃO: Defesa de Lula entra com pedido para soltar ex-presidente

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Publicado em 19 dezembro 2018
  • Luiz Inácio Lula da Silva,
  • Marco Aurélio Mello,
  • ministro do Supremo Tribunal Federal,
  • 12ª Vara Criminal da Justiça Federal de Curitiba
  • Marco Aurélio Mello concede uma liminar para libertar os condenados

Petição foi protocolada na Justiça Federal do Paraná pouco depois da liminar de Marco Aurélio.

Bela Megale e Silvia Amorim

BRASÍLIA e SÃO PAULO — Pouco depois do Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello conceder uma liminar para libertar os condenados em segunda instância que ainda têm recursos pendente de julgamento, a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou com um pedido de liberdade junto à 12ª Vara Criminal da Justiça Federal de Curitiba.

Parte superior do formulário

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No documento, Cristiano Zanin mais seis advogados de Lula solicitam "a expedição imediata de alvará de soltura diante da decisão liminar proferida nesta data na ADC 54/DF pelo eminente Ministro Marco Aurélio nos seguintes" citando o um trecho da decisão determinando a soltura dos condenados em segunda instância.

Na petição, Zanin destaca que o Lula "encontra-se enquadrado na moldura fática delineada" já que está cumprindo pena privativa de liberdade em razão de condenação não ter transitado em julgado. 

A defesa diz ainda que o encarceramento não está fundamentado em nenhuma das hipóteses previstas no art. 312 do Código de Processo Penal, aqueles que defendem a prisão preventiva quando o detento pode colocar risco à ordem pública ou atrapalhar as investigações.

Petistas próximos ao ex-presidente Lula mostraram cautela e evitaram comemorar a decisão do ministro do STF. A decisão pegou os principais dirigentes do partido de surpresa. Eles ainda não sabem se organizarão algum ato político  para o momento da soltura do ex-presidente.

- A gente só acredita quando estiver executada (a soltura) porque vai ter mil histórias ainda. É uma decisão surpreendente. Nenhum de nós estava na expectativa - afirmou Gilberto Carvalho, ex-chefe de gabinete de Lula na Presidência da República.

O pedido de soltura de Lula ganhou as redes sociais assim que defesa o registrou na Justiça. A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, usou sua página do Twitter para divulgar a iniciativa. "Acabamos de peticionar a solicitação do alvará de soltura para Lula. Abrimos mão do exame de corpo de delito", escreveu.

O senador Humberto Costa (PT-PE) destacou em uma postagem o pedido de dispensa do exame de corpo de delito para que Lula seja solto "o mais rapidamente possível". "A defesa do ex-presidente abriu mão do exame de corpo de delito para que Lula seja libertado o mais rapidamente possível", postou.

Assim como a defesa, ele cobrou o cumprimento imediato da determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello, de soltar todos os presos condenados em segunda instância no país. "A ordem do ministro Marco Aurélio é extremamente clara. Exigimos que ela seja cumprida, sem qualquer desrespeito ou afronta à decisão de um membro do STF", escreveu. Fonte: https://oglobo.globo.com

Condenado por difamação contra Jean Wyllys, Frota terá de picotar papel em fórum de SP

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Publicado em 18 dezembro 2018
  • Igreja e pedofilia,
  • Jean Wyllys,
  • deputado federal Jean Wyllys,
  • Condenado por difamação contra Jean Wyllys,
  • deputado federal eleito lexandre Frota
  • difamação e injúria
  • juíza Adriana Freisleben de Zanetti

Sentença foi determinada em substituição à pena de dois anos e 26 dias de prisão

SÃO PAULO - A Justiça Federal de Osasco condenou nesta terça-feira o deputado federal eleito lexandre Frota pelos crimes de difamação e injúria contra o deputado Jean Wyllys . Em abril do ano passado, Frota associou, em suas redes sociais, o crime de pedofilia a Wyllys.

Na ocasião, Frota publicou uma foto do deputado, a quem atribuiu a seguinte frase: "A pedofilia é uma prática normal em diversas espécies de animal (sic), anormal é o seu preconceito”. A frase, segundo Wyllys, nunca foi proferida por ele.

Frota foi condenado a picotar e destruir papel no fórum de São Paulo por dois anos e 26 dias, em jornada de cinco horas diárias. Além da prestação de serviço, Frota terá de pagar multa de R$ 295 mil ao deputado, segundo sentença da juíza Adriana Freisleben de Zanetti. Frota vai recorrer.

Jean Wyllys alega ser defensor dos direitos das minorias e jamais se posicionou a favor da prática do crime de pedofilia. A publicação, segundo ele, gerou "asco social nas pessoas que acreditaram nela". Em sua defesa, Frota alegou que Jean Wyllys estava utilizando a ação como “palanque eleitoral”, não tendo o acusado cometido qualquer delito.

Para o Ministério Público Federal, Alexandre Frota “imbuído de clara intenção difamatória, fabricou mentira extremamente grave com o objetivo de difamar o querelante e macular sua reputação, associando a sua imagem ao crime de pedofilia”. O MPF frisou ainda que, no decorrer do processo, Alexandre publicou diversas palavras, vídeos e imagens ofensivas ao autor.

De acordo com a juíza, ficou comprovado no processo que Jean Wyllys jamais proferiu as frases atribuídas a ele por Frota. “A frase foi criada com a finalidade de difamar Jean Wyllys, causando na comunidade cibernética o sentimento de repúdio por empatia emocional com as vítimas de pedofilia”, reforçou a magistrada. Fonte: https://oglobo.globo.com

Jesus num pé de goiaba

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Publicado em 17 dezembro 2018
  • CIMI,
  • Jesus num pé de goiaba
  • Damares Alves,

Jesus num pé de goiaba

O que espantou Damares não foi Jesus ter-se revelado a ela. Foi conseguir subir o pé de goiaba. Achei as declarações um pouco estranhas

Damares Alves, a mulher que Jair Bolsonaro escolheu para ministra dos Direitos Humanos, Mulher e Família, afirma ter visto Jesus Cristo subindo um pé de goiaba. Isso enquanto ela mesma se preparava para tomar veneno em cima da goiabeira: “Vi Jesus em cima de um pé de goiaba e foi incrível!”

 

O que Damares disse a Jesus, quando o viu avançando, lindo e loiro, para a goiabeira? Ela disse: “Não sobe, Jesus, você não sabe subir em pé de goiaba.” Todavia, para grande espanto de Damares, Jesus subiu. Conclui então a futura ministra: “Jesus é tão poderoso, tão poderoso, que conseguiu subir no pé de goiaba!”

O que mais espantou Damares, portanto, não foi Jesus ter-se revelado a ela em toda a sua infinita loireza. Foi conseguir subir o pé de goiaba. Achei as declarações da futura ministra um pouco estranhas. Primeiro: até pessoas como eu, que passaram as aulas de religião e moral a lerem gibis às escondidas, sabem que anjos, santos e divindades, particularmente as cristãs, sempre demostraram grande talento para subir em árvores. Um dos casos mais notórios é o de Nossa Senhora de Fátima, que gostava de aparecer aos pastorinhos em cima de uma azinheira.

Em segundo lugar, goiabeira é muito fácil de subir. Difícil é trepar em um eucalipto, por exemplo. Ou em um baobá. Isso sim, queria ver Jesus subir um baobá.

No quintal da minha casa também havia um pé de goiaba. Aos seis anos, eu já subia a goiabeira até aos ramos mais altos. Nunca encontrei Jesus por lá. Logo, deixei a goiabeira e comecei a escalar os abacateiros, árvores muito mais altas, com galhos distantes do solo, cuja escalada exige alguma coragem e um mínimo de destreza. Infelizmente, também não encontrei, entre a folhagem densa, nem Jesus, nem Nossa Senhora, nem sequer algum pequeno arcanjo extraviado. Acho que teria ficado satisfeito com o arcanjinho. No nosso quintal, os abacateiros só davam mesmo abacates. Em todo o caso, bons abacates.

Voltando à revelação de Damares Alves, também não consigo entender por que diabo uma pessoa que quer tomar veneno escala um pé de goiaba: para morrer mais pertinho do céu? Na esperança de que não morrendo do veneno, possa morrer da queda? Talvez a eficácia do veneno cresça à medida que o envenado vá subindo num pé de goiaba. Não sei.

Quanto a mim, comecei por escalar a goiabeira pelo mesmo motivo por que Sir Edmund Hillary decidiu escalar o Everest — “porque estava lá”. E também para comer goiabas. Mais tarde, a caminho da adolescência, passei a galgar o abacateiro para ver a vizinha, no quintal ao lado, tomando banhos de sol. Nas manhãs de domingo, a vizinha, uma jovem viúva, sem filhos, estendia uma toalha branca sobre a grama e deitava-se nela, nua e magnífica — a mulher mais linda do mundo. Era assim a minha missa.

Hoje, compro goiabas e deixo-as dissolvendo-se em perfume, na fruteira, para que me devolvam a memória daquelas manhãs de domingo. É certo que não vi Jesus. Mas palavra de honra que nunca senti a falta — cada qual escolhe os milagres que lhe fazem melhor. Fonte: https://oglobo.globo.com

A TRAGÉDIA DE CAMPINAS E JAIR BOLSONARO

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Publicado em 12 dezembro 2018
  • Tiros na igreja deveriam servir como aviso divino
  • A TRAGÉDIA DE CAMPINAS E JAIR BOLSONARO
  • Porte de armas,

AO VIVO- DIRETO DO RIO DE JANEIRO: Tiros na igreja deveriam servir como aviso divino. Artigo do Jornalista da Folha de São Paulo, Josias de Souza. Comentário do Frei Petrônio de Miranda, Padre Carmelita e Jornalista/RJ. (11 de dezembro-2018).

Vídeo: em voo, Lewandowski se irrita com crítica e pede prisão de homem

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Publicado em 04 dezembro 2018
  • Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney,
  • ministro do STF Ricardo Lewandowski
  • Ricardo Lewandowski
  • Eu tenho vergonha de ser brasileiro
  • Ministro chama a polícia federal em avião

O ministro do STF Ricardo Lewandowski não gostou de ouvir do passageiro que 'o STF é uma vergonha', e solicitou a presença da Polícia Federal na aeronave

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski se irritou nesta terça-feira (4/12), durante um voo, com um passageiro que criticou a Corte e o ameaçou de prisão.

Em um vídeo ao qual o Correio teve acesso, feito de dentro da aeronave, Lewandowski é visto na primeira fila do avião, olhando seu celular. Ouve-se, então, uma voz dizer: "Ministro Lewandowski, o Supremo é uma vergonha, viu? Eu tenho vergonha de ser brasileiro quando vejo vocês".

Lewandowski fica claramente incomodado e se dirige ao homem. "Você quer ser preso?", pergunta, virando-se, em seguida, para um comissário de bordo e pedindo a presença da Polícia Federal no voo. O homem, então, retruca: "Eu não posso me expressar? Chama a Polícia Federal, então".

Segundo pessoas que estavam no voo, que fazia a linha São Paulo—Brasília, nenhuma prisão foi feita. O Correio ainda tenta contato com o autor das críticas e com o ministro Lewandowski. Fonte: www.correiobraziliense.com.br

A difícil arte do encontro

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Publicado em 26 novembro 2018
  • A difícil arte do encontro
  • Maria Clara Lucchetti Bingemer

Maria Clara Lucchetti Bingemer*

Após as eleições, paira no ar uma sensação de depressão pós-parto. Tanto em vencedores como em vencidos. Os que tiveram seus candidatos eleitos esperam preocupados como se delineará a governabilidade. Os primeiros gestos, decisões, semeiam mais insegurança que firmeza. Desconcertam, angustiam. Parece que não se entende os rumos de um tempo diferente com outro estilo que começa.

Os que foram derrotados nas urnas se dividem. Alguns optam pela oposição, resistência e combate cerrados. Outros preferem esperar para verificar, pagar para ver ou até deixar que o adversário vencedor fracasse e mostre sua verdadeira cara. Apostam que a governabilidade inexistirá e então a incompetência de uma vitória indevida mostrará sua verdadeira face de ilegitimidade e incapacidade de responder aos desafios e responsabilidades concedidos pelas urnas.

Em todo caso, o que temos é um país dividido, desencontrado. Famílias se indispuseram ou até, em alguns casos, cortaram relações entre seus membros. Amizades de anos foram interrompidas e palavras de acusação e raiva pronunciadas onde antes reinava harmonia e companheirismo. Relações foram perdidas e parece muito difícil refazê-las. Em suma, o panorama nacional mostra um tremendo desencontro.

Enquanto isso, o papa Francisco fala da importância de construir uma cultura do encontro. Não se trata certamente de um discurso piedoso e fácil adotado pelo pontífice para dizer a todos que se amem e respeitem sem nenhuma dificuldade ou obstáculo. Longe disso. Para o papa, a cultura do encontro é um estilo de vida e uma atitude, fruto de uma experiência e um itinerário pessoal, agora proposta à Igreja e à sociedade como um todo.

Diante da cultura do fragmento, da desintegração e da divisão é importante, afirma o pontífice, não favorecer os que pretendem capitalizar o ressentimento, o esquecimento das relações vividas e desfrutadas, ou os que se deleitam em debilitar vínculos e laços. Esse seria, a seu ver, o caminho para superar os desencontros que sucedem na sociedade.

Tão importante é a construção da arte do encontro, que antes mesmo de Bergoglio o poetinha maior de nosso país, Vinicius de Moraes, disse: “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida.” Com sua imensa sensibilidade, queria o poeta ressaltar algo que é constitutivo e visceral no ser humano: sua vocação para a relação, para o afeto, o amor, aquilo que configura e realiza o que chamamos encontro.

Assim também parece entender o papa. Quando ainda era arcebispo de Buenos Aires, Argentina, várias vezes se empenhou em instar a seus compatriotas a superar os desencontros e refundar os vínculos sociais, políticos, na abertura e na esperança. Agora, desde o Vaticano, onde lidera a Igreja e fala também ao mundo, Francisco não se cansa de repetir esse convite, que consiste em abrir-se à alteridade do outro, aproximar-se, vincular-se, construindo com esperança uma nova mentalidade, um novo estilo de vida, uma nova cultura, onde seja possível o encontro, o diálogo e a comunhão.

Há que admitir que é muito difícil. A tentação do desânimo diante desta proposta vem carregada da pesada tinta da impossibilidade. Como dispor-se ao encontro e ao diálogo com quem parece querer conduzir o país na direção oposta daquela em que acreditamos? Como apostar em um possível consenso com pessoas e grupos que parecem falar outra língua, oposto idioma àquele em que acreditamos, que detém os códigos comunicacionais da justiça, do direito, da paz e da prosperidade?

Mais: como fazer esta busca de encontro, consenso e acordo se transformar em verdadeira cultura, que procura o que une em lugar do que divide, e não recua diante de nenhum gesto, atitude ou palavra que possa fazer acontecer a solidariedade e a comunicação? É duro acreditar que isso poderá ocorrer, sobretudo quando escrevo este artigo no momento seguinte à decisão que liquida com a presença dos médicos cubanos no Brasil e não há como não se pensar que uma represália política deixará na orfandade sanitária milhões de pessoas nos lugares mais pobres e vulneráveis do país.

É duro, porém mais que nunca necessário. O encontro pode acontecer, mesmo com dificuldade, quando há ao menos um objetivo comum. E este existe e está diante de nossos olhos. Todos queremos o bem do país. Todos queremos o povo brasileiro respirando com liberdade, esperança, vendo a perspectiva de um futuro melhor para seus filhos e netos. Enrijecer-se nas divisões certamente não ajudará o Brasil a conseguir esse objetivo.

O povo brasileiro, sempre inspirado na arte de sobreviver a toda impossibilidade, de esperar contra toda esperança e alegrar-se mesmo e sobretudo sem motivo algum, tem agora diante de si este desafio: tornar-se perito na arte do encontro. Aprofundar as divisões não nos levará longe. É preciso, é urgente desarmar espíritos e buscar possíveis consensos. Sem eliminar o respeito às diferenças, a resistência ao que é nefasto, a denúncia do indefensável. A difícil arte do encontro deve fazer-se ainda que em meio a esse mar de desencontros em que vivemos agora. O Brasil merece e precisa.

*Maria Clara Bingemer é professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio e autora de “Mística e Testemunho em Koinonia” (Editora Paulus), sua mais recente obra, entre outros livros.

Fonte: http://www.crbnacional.org.br

 

 

“As pessoas não acreditam mais em partido político, mas acreditam na igreja”

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Publicado em 26 novembro 2018
  • Igreja Universal do Reino de Deus,
  • estudos latino-americanos da Johns Hopkins
  • Governo Bolsonaro
  • economista Monica de Bolle,
  • Frente Parlamentar Evangélica
  • bispo Marcelo Crivella

Para Monica de Bolle, implosão das legendas gerou espaço político para os evangélicos. Diretora de estudos latino-americanos da Johns Hopkins comenta futuro Governo Bolsonaro

 A economista Monica de Bolle, professora da Universidade Johns Hopkins e pesquisadora do Instituto Peterson

Quando o bispo Marcelo Crivella (PRB) foi eleito para a prefeitura do Rio de Janeiro, a economista Monica de Bolle, PhD pela London School of Economics e diretora de estudos latino-americanos e mercados emergentes da Johns Hopkins University, passou a sentir uma “coceira”, como ela diz. A eleição de um quadro importante da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) para a prefeitura da segunda cidade mais rica do Brasil lhe pareceu simbólica. “Como a crença nos partidos caiu enormemente, mas a crença nas igrejas não, parece que isso está levando a uma coesão maior da frente parlamentar evangélica, que está se unindo a outros grupos para definir a agenda do futuro Governo Bolsonaro”, argumenta. “Isso talvez seja a história da implosão dos partidos políticos relacionados à corrupção. No Brasil, isso deu espaço para ser ocupado por um grupo que almejava um espaço político maior tendo em vista a eleição do Crivella no Rio de Janeiro, em 2016. Agora esses grupos veem esse espaço aberto porque as pessoas não acreditam mais em partido político mesmo. Elas vão acreditar no quê? Elas vão acreditar na igreja.”

A “coceira” de Monica aumentou em outubro deste ano, quando a Frente Parlamentar Evangélica (FPE) lançou o manifesto “O Brasil para os Brasileiros”, com uma detalhada agenda econômica e uma clara pauta de costumes, e oficializou apoio ao então candidato Jair Bolsonaro (PSL) às vésperas do segundo turno das eleições. “Dá uma sensação de que tem um movimento orquestrado por trás de uma religious right, parecido com o que tem aqui nos Estados Unidos, que almeja poderes maiores do que almejavam anteriormente e até maiores do que os daqui almejam”, diz. Em entrevista à Pública por Skype, ela fala da disposição das lideranças evangélicas para ditar os rumos do governo Bolsonaro, cujo exemplo mais recente foi o veto à nomeação do diretor do Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves, ao cargo de ministro da Educação, área que mereceu atenção especial no manifesto da FPE. Segundo o jornal O Globo, Bolsonaro sondou o pastor Silas Malafaia a respeito do nome do procurador Guilherme Schelb para encabeçar a pasta. “Ele não está falando, negociando com os partidos, então falou comigo. Eu falei que tem [aval]”, disse Malafaia. Apesar do lobby evangélico, o presidente eleito nomeou o professor Ricardo Vélez Rodríguez, também alinhado ao combate ao “marxismo cultural” e indicado pelo filósofo cristão Olavo de Carvalho, para assumir o ministério.

 

  1. O que é a religious righte quais as comparações possíveis com a Frente Parlamentar Evangélica?

 

  1. Os paralelos são muito claros. A religious right, aqui nos Estados Unidos, é uma certa fauna diversa, como são os movimentos evangélicos no Brasil, mas tem um elemento de fundamentalismo cristão que une esses políticos que estão todos dentro do Partido Republicano. Essa religious rightaqui consiste basicamente nesses “born again christians” [cristãos renascidos], que são os neopentecostais. Não são os protestantes tradicionais, como os luteranos ou batistas, mas os cristãos fundamentalistas. Eles estão no Partido Republicano há muito tempo, é o pessoal que tem a pauta dos costumes, adeptos do chamado movimento pró-vida e de movimentos contrários às pautas identitárias — movimentos anti-LGBT, antiminorias. O que é curioso é que o que está despontando na bancada evangélica e no futuro Governo Bolsonaro é muito semelhante com esse grupo de pessoas dos Estados Unidos. É o mesmo tipo de gente com o mesmo tipo de visão, muito calcada nos costumes, nos valores, a partir de um fundamentalismo religioso, mas com um componente ideológico adicional que aqui não existe, que é a história do marxismo cultural. Tudo é marxismo cultural agora no Brasil — as pessoas não sabem o que é marxismo, mas tudo é marxismo cultural. O próprio novo chanceler brasileiro [Ernesto Araújo, nomeado por Bolsonaro para encabeçar o Ministério das Relações Exteriores] é alguém que cita a globalização como anti-humana e anticristã [Araújo opõe-se ao que chama de “globalismo”, que, em suas palavras, é “a globalização econômica que passou a ser pilotada pelo marxismo cultural”].

O que me chamou muita atenção foi o manifesto que a bancada evangélica produziu no dia 24 de outubro, que é um plano de governo e, se o Bolsonaro tivesse tido a preocupação em preparar um plano de governo, é mais ou menos o que ele teria preparado — o documento vai muito na linha do que ele tem anunciado e feito já —, mas com esse componente de fundamentalismo cristão e ideologia religiosa claros porque no fim do documento tem toda aquela parte de Escola sem Partido e marxismo cultural. O que também chama atenção é que, pela primeira vez, eu vi a bancada evangélica apresentar uma proposta mais ampla: falam de reforma do Estado, falam de reformas econômicas. Isso me levou a comparar os dados do resultado do segundo turno em 2018 com os do segundo turno em 2014 e olhar, por exemplo, em nível municipal, como foram as votações do Bolsonaro e do Aécio Neves nos municípios em relação à proporção de autodeclarados evangélicos nesses municípios. Claramente os municípios com maior número de evangélicos são exatamente os municípios onde o voto no Bolsonaro foi acima de 60%, e isso não foi verdade em 2014 — nem para Dilma nem para Aécio. Com as indicações de ministros, com a história de Ministério da Família, que agora vai se chamar outra coisa, esse sujeito que vai ocupar o MRE com as coisas que disse, dá uma sensação de que tem um movimento orquestrado por trás de uma religious right meio parecido com o que tem aqui nos Estados Unidos, que almeja poderes maiores do que almejavam anteriormente e até maiores do que os daqui almejam, porque os daqui [dos EUA] estão basicamente no Congresso e têm outro tipo de pretensão. No Brasil, parece ser uma disposição para ocupar os espaços executivos. Isso já vem me chamando atenção desde a eleição do Marcelo Crivella [PRB] no Rio.

"O que está despontando na bancada evangélica e no futuro Governo Bolsonaro é muito semelhante com esse grupo de pessoas dos Estados Unidos"

 

  1. Você diz que nos Estados Unidos a articulação da direita religiosa se deu dentro da estrutura partidária, no caso o Partido Republicano, ao contrário do caso brasileiro, onde essa articulação se dá por fora dos partidos. Por onde passa a articulação dessa direita religiosa brasileira?

 

  1. Você tem 23 partidos, mais ou menos, que compõem a bancada evangélica, sendo que alguns têm mais presença do que outros. O PRB, por exemplo, tem um monte de deputados na bancada, o que não surpreende sendo o partido da Igreja Universal. Fora o PRB, tem o PR, o PP e o próprio MDB. Talvez seja um pouco cedo para afirmar isso, mas pela cara desse manifesto, pelo encaminhamento dessa transição de governo, [pelas] pessoas que o Bolsonaro já falou, que está indicando para cargos-chave, parece haver uma união dessa bancada evangélica, que talvez hoje esteja bem mais coesa do que já foi. Como houve uma diluição dos partidos no Brasil e como a crença nos partidos caiu enormemente, mas a crença nas igrejas não, por serem instituições em que ao menos boa parte da população vê que não há corrupção e que determinados valores estão mantidos, parece que isso está levando a uma coesão maior da Frente Parlamentar Evangélica, que está se unindo a outros grupos para definir a agenda do futuro governo Bolsonaro. E ele, por sua vez, acho que está muito confortável com isso porque muda o chamado jogo político no Brasil. O que a gente entendia como o chamado presidencialismo de coalizão é que o presidente, minoritário, tinha sempre o desafio de construir uma coalizão estável e, em um sistema muito fragmentado como é o sistema partidário brasileiro, isso era sempre muito complicado. Mas, se você de repente transforma isso num grupo de bancadas onde as legendas são só legendas e as pessoas que pertencem a determinadas legendas não estão necessariamente interessadas nas agendas dos seus partidos — até porque seus partidos não têm propriamente uma agenda —, mas na agenda da bancada, você passa de um regime onde a coalizão era construída nos partidos para um regime em que a coalizão é construída com o apoio da bancada. E a bancada evangélica é enorme: são 199 deputados na Câmara mais quatro parlamentares no Senado e com uma intercessão esquisita aí com a bancada ruralista. Essa costura com os evangélicos pode garantir de fato uma governabilidade que a gente não estava enxergando.

 

  1. No manifesto da FPE, nota-se entre as pautas econômicas propostas de cunho liberal como, por exemplo, o enxugamento e modernização do Estado. No entanto, muitas dessas grandes lideranças evangélicas estavam no palanque da Dilma em 2014, quando a presidente vinha de um governo que adotou outra prática econômica e não acenava para essas pautas na campanha. Por que essa adesão a esse receituário liberal?

 

  1. Eu acho que esse não é o ponto principal para eles. A agenda liberal na economia é meio que irrelevante para eles. Eles não estão preocupados com isso, se é liberal ou se não é liberal. A preocupação maior é: número um, ocupar espaços políticos — e eu acho que agora eles estão vendo um espaço enorme para isso, dada a diluição dos partidos —, essa é a primeira preocupação, então temos que entendê-los como a gente entende qualquer político; e, número dois, empurrar essa agenda de costumes à frente, fazer com que essa agenda seja implantada, coisa que eles nunca iam conseguir nos governos petistas, mas estar junto dos governos petistas atendia ao primeiro anseio, que era estar perto do poder para ganhar plataforma política. Isso eles conseguiram. Agora eles têm a chance de colocar em prática a agenda que de fato interessa para eles e que não tem nada a ver com a economia.

 

  1. As lideranças evangélicas podem assumir o papel que antes pertencia tradicionalmente ao MDB, de ser uma espécie de “fiador” da governabilidade, a partir da capilaridade das igrejas?

 

  1. Acho que sim. E acho que esse papel passa por duas coisas. A primeira é que muitas pessoas depositam confiança nas igrejas, dado que o número de evangélicos no Brasil cresceu muito nos últimos anos, e a segunda coisa é justamente pela capilaridade. As igrejas substituíram o MDB em termos de capilaridade. O que era o MDB antes, que ocupava os espaços regionais, essas igrejas têm um espaço muito, mas muito maior. A capilaridade fica em nível granular, desce para o bairro. Ela não fica só na prefeitura. Existe um potencial de substituição dessa capilaridade. Partindo do pressuposto de que eles estejam organizados dessa forma, porque como é uma fauna essa coisa dos evangélicos — você tem todo tipo de igreja, instituição e movimento religioso que a gente coloca nessa classificação de “evangélicos” —, mas supondo que eles estejam de fato atuando dessa forma coesa e estejam decidindo atuar apoiando uns aos outros, o projeto de hegemonia em termos de poder para eles tem um potencial de ser muito mais hegemônico do que qualquer projeto do MDB ou do PT. Porque é religião mesmo, não é outra coisa.

 

  1. Esse projeto de hegemonia vai dar aonde? Vai parar nessas pautas morais como o Escola sem Partido? "Claramente os municípios com maior número de evangélicos são exatamente os municípios onde o voto no Bolsonaro foi acima de 60%, e isso não foi verdade em 2014"

 

  1. Acho que não, acho que vai mais longe. Isso é que talvez seja a história da implosão dos partidos políticos relacionados à corrupção. Essa implosão, quando aconteceu na Itália, por exemplo, deu espaço para várias outras esquisitices na política, mas nenhuma delas foram esquisitices religiosas: apareceram outros partidos, apareceu o Berlusconi. Hoje em dia a Itália continua marcada pelos populismos diversos, é uma bagunça só. No Brasil, o que isso deu foi um espaço maior para ser ocupado por um grupo que já almejava ocupar um espaço político maior tendo em vista, por exemplo, a eleição do Crivella no Rio de Janeiro em 2016, que é bem sintomático desse processo. E agora esses grupos veem esse espaço aberto porque as pessoas não acreditam mais em partido político mesmo. Elas vão acreditar no quê? Elas vão acreditar na igreja.

 

  1. Outro componente desse governo Bolsonaro, que você deve estar vendo há mais tempo aí nos Estados Unidos com o Trump, que é esse “governo online”. Há um governo que se comunica diretamente com o seu eleitorado mais fiel — e inflamado — por meio das redes sociais. Isso não dificulta a moderação do discurso de Bolsonaro, sobretudo nessas pautas morais?

 

  1. Demais. Acredito nisso piamente. Esse meio de comunicação direta por meio de Twitter, WhatsApp, Facebook, seja lá o que for, dificulta, sim, a moderação. Quando o Trump se elegeu aqui, havia essa ideia de que “ah, mas a presidência é algo que tende a moderar o discurso, porque os presidentes enfrentam todo o peso da instituição da presidência, os contrapesos do Congresso, isso tende a modular o discurso e tudo mais”. Não foi absolutamente isso que a gente viu com o Trump, muito pelo contrário. Não mudou nada. Ele está pior do que estava quando entrou. Parte da razão para isso é exatamente esse canal direto de comunicação com a base nas redes sociais, que é onde o povo está preparado para reagir da forma mais instintiva possível. As pessoas não pensam, não tem um espaço reflexivo nas redes sociais, é totalmente reativo. Chega lá o presidente eleito e coloca um tweet meio inflamatório sobre uma determinada coisa, digamos, chamando o globalismo de marxismo cultural. Aí vem a turba inteira achando aquilo absolutamente correto, e "é isso mesmo, tem que acabar com o marxismo cultural". Começa aquela bagunça e aquele discurso que acaba validando o discurso político do presidente eleito. E ele se sente, portanto, com capital político para continuar fazendo aquilo. É uma maneira um tanto diferente de as coisas operarem no sistema político do que no passado. Sob esse ponto de vista, não vejo qualquer espaço para que discursos sejam moderados. Acho que eles tendem ou a ficar iguais, ou até a ficar um pouco mais radicais por conta dos temas que são levantados, sobretudo nessa pauta de costumes, que é algo que gera naturalmente esse tipo de reação. São coisas muito controvertidas.

 

  1. Talvez a pauta dos costumes seja o que tenha feito com que tanta gente se arregimentasse em torno do discurso do Bolsonaro. Se Bolsonaro, durante a campanha, anunciasse pautas mais técnicas — como a reforma da Previdência ou o ajuste fiscal, por exemplo —, talvez não tocasse tanta gente. Até onde vai essa crença de que o problema do Brasil são essas questões morais, naturalmente subjetivas, quando estamos diante de problemas objetivos mais graves, como as contas públicas, por exemplo?

 

  1. Se ficar só nisso, se o governo Bolsonaro não fizer as reformas que precisa fazer para que a economia volte a reagir, o desemprego continuar alto e as pessoas começarem a ver que os problemas permanecem os mesmos, a chance de que as pessoas se desiludam com esse discurso todo é enorme. O Brasil, diferentemente dos Estados Unidos, não tem solidez econômica nenhuma no momento. É bem possível, dado que existe hoje no Brasil uma vontade de vários segmentos e de vários lados de que o Bolsonaro dê certo simplesmente para acabar com o PT de vez — é um pouco essa a cabeça das pessoas atualmente no Brasil —, acho que vai haver um pouco de boa vontade em relação à paciência que segmentos de diferentes sociedades vão ter diante das reformas, e acho que a paciência vai se estender também para a qualidade das reformas. Então, por exemplo, se o Bolsonaro acabar fazendo uma reforma da Previdênciaque não resolva o problema da Previdência, mas que ele possa dizer que ele fez, mais ou menos como o Trump fez aqui em relação a algumas pautas, acho que vai ser o suficiente para os investidores e empresários que estão nesse mesmo barco de apoiar qualquer coisa para não ter o PT de volta. Vão apoiar, vão dar suporte, o que pode fazer com que a economia até melhore um pouco. Acho que não tem muito potencial de melhora muito grande, não, mas pode melhorar o suficiente para gerar o sentimento de que “ah, até que as coisas não estão mal assim”. O perigo maior que eu vejo é: a agenda que está colocada realmente é uma agenda super-retrógrada de costumes. Foi nisso que as pessoas acabaram votando. Concordo com essa visão. Ela resolve a situação do país? Não. Porém, como tem muita gente querendo que esse governo dê certo simplesmente para não ter a volta do PT ou algo parecido, é possível que o Bolsonaro tenha espaço para fazer algumas reformas, ainda que meio ruinzinhas, o que vai fazer com que todo mundo ache que era isso mesmo, estava tudo certo. E isso gera uma certa perpetuação de poder, né? E tem um clã para se perpetuar ali no poder, tem a família toda.

 

  1. Algumas pessoas, como o professor Pablo Ortellado (EACH-USP), por exemplo, fazem outro paralelo com os Estados Unidos. Ele cita o livro Culture wars: the struggle to define America(Guerras culturais: a batalha para definir a América, numa tradução livre), do sociólogo americano James Hunter. Nele, Hunter afirma que houve uma articulação dos setores religiosos dos Estados Unidos quando alguns movimentos sociais passaram a pautar as relações interpessoais. Por exemplo, quando o movimento feminista, após conquistar direitos civis para a classe das mulheres, como o voto, passou a enfatizar também o machismo do dia a dia, nas famílias, nas empresas, nas ruas etc. Segundo Hunter, houve reação conservadora a esse fenômeno articulada pelos segmentos religiosos católicos, protestantes e judaicos. Você acha que tem paralelos desse fenômeno no Brasil? "As igrejas substituíram o MDB em termos de capilaridade"

 

  1. Tem paralelos, sim. Para nós, brasileiros, esse fenômeno é muito mais recente, então ficou no ponto cego de muita gente, os nossos analistas e cientistas políticos não pegaram isso. E está ainda no ponto cego. Aqui nos Estados Unidos, as guerras culturais estão conosco há pelo menos uns 30 anos, senão mais. Já é algo que faz parte da política. Com a eleição do Trump, a gente viu uma certa ascensão desse conservadorismo que está muito associado a ele, toda essa pauta anti-imigração, antiminorias, anti-LGBT. As pautas são mais ou menos as mesmas, mas em resposta a isso a gente teve agora, nas eleições de meio de mandato, uma enorme tentativa [de reação] dessa população que se sentiu marginalizada por essa ascensão do conservadorismo. Teve o fato da Câmara ter voltado para as mãos dos democratas, mas não só isso: de os democratas voltarem a ter tanto espaço nos estados, não só nos governos estaduais, mas nas legislaturas. Você vê que o perfil das pessoas que ganharam esses mandatos são pessoas radicalmente opostas a essa pauta ultraconservadora. Então aqui, como as guerras culturais estão aí há muito tempo e a sociedade americana é muito fluida, muda muito, porque tem uma composição muito fluida, você acaba tendo um equilíbrio natural de forças. Um movimento se ergue e naturalmente você tem uma reação. Tem um efeito moderador nesse vai e vem que eu acho que não existe no Brasil. O contrapeso a essa onda conservadora está totalmente desarticulado. Onde esse movimento está? Nos progressistas. Quem são os progressistas? São as pessoas que se autoidentificam como centro-esquerda ou esquerda. Esse lado, no Brasil, está completamente desarticulado hoje.

 

  1. É possível que essa aproximação dos religiosos ou mesmo do ideário conservador com o poder vá além da estrutura governamental, do Executivo, e passe também para as instituições, como o Judiciário, o Ministério Público? Tivemos recentemente uma nota assinada por mais de 200 procuradores se colocando em favor do Escola sem Partido…

 

  1. Eu acho que já está muito presente, na verdade. Esse próprio manifesto em prol desse projeto é um exemplo disso. Fonte: https://brasil.elpais.com

Bolsonaro sofre ameaças de morte em vídeos na internet

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Publicado em 21 novembro 2018
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PF tenta identificar e localizar autores das ameaças. Indicações são de bandidos de alguma facção criminosa

Duas novas ameaças originadas na internet contra o presidente eleito, Jair Bolsonaro, estão na mira do serviço de inteligência da Polícia Federal (PF). Vídeos que circulam nas redes sociais mostram homens armados fazendo ameaças e falando em atirar em Bolsonaro.

As informações são do jornal Extra.

O vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente eleito, publicou mensagens no Twitter no começo deste mês advertindo para o risco de os ataques verbais serem menosprezados.

“Subestimar este tipo de ameaça diária contra todo brasileiro e tratá-los como vítimas é combustível do caos em nosso país. Bandido no Brasil deita e rola em cima de nossas leis e da Justiça! Se Deus quiser, isso acabará em breve!”, escreveu o vereador na rede social.

Em uma das ameaças, um homem exibe um fuzil em direção a uma rua escura sem mostrar o rosto. Em outra delas, um homem segura duas pistolas, posicionado em frente à câmera, e diz que o presidente eleito “vai entrar na

A PF tenta identificar e localizar os autores das ameaças. As indicações são de bandidos de alguma facção criminosa. A investigação busca descobrir se as declarações têm fundamento e integram algum plano de ataque ou se são apenas bravatas.

Em meio a essas circunstâncias, Bolsonaro avalia ir a São Januário no próximo domingo para acompanhar a partida entre Vasco e Palmeiras pelo Campeonato Brasileiro. A equipe de segurança, porém, procura demovê-lo da ideia. Fonte: www.metropoles.com

Presidente do PSL chama de 'coincidência' forte presença do DEM no governo Bolsonaro

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Publicado em 21 novembro 2018
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Presidente do PSL chama de 'coincidência' forte presença do DEM no governo Bolsonaro

Luciano Bívar afirmou que as recentes indicações de políticos do DEM para assumir ministérios no governo do presidente eleito não são motivadas por um sentimento partidarista. "Ele não vai diferenciar homem de mulher, preto de branco e nem partido político. Ele vai fazer uma equipe técnica".

O presidente do PSL (Partido Social Liberal), Luciano Bívar afirmou, em entrevista à CBN nesta quarta-feira (20), que a decisão do presidente eleito Jair Bolsonaro de indicar políticos do DEM para cargos de ministérios em seu governo é apenas "uma série de coincidências”. 
Com a nomeação do deputado federal Luiz Mandetta para o Ministério da Saúde, já são três os nomes de políticos do DEM no quadro de ministérios para o ano que vem. Junto a ele estão Onyx Lorenzoni, futuro chefe da Casa Civil, e Tereza Cristina, que assumirá a pasta da Agricultura. 

De acordo com Bívar, o presidente eleito não é motivado por um sentimento partidarista e está apenas buscando montar uma equipe técnica. "Ele não vai diferenciar homem de mulher, preto de branco e nem partido político", afirmou. 
Nesta quarta-feira, haverá uma reunião com os deputados do PSL em um hotel em Brasília para discutir o futuro da legenda nos próximos 4 anos. Com 52 deputados eleitos, o partido de Bolsonaro será a segunda maior bancada da Câmara, apenas atrás do PT. 

Em relação à possibilidade do PSL indicar um candidato à Presidência da Câmara, Bívar revelou que seu desejo pessoal é que fosse um político do seu partido, mas sabe que não será uma tarefa fácil.

"A maioria dos deputados do PSL são novos e não têm nem articulações históricas com outros parceiros. Se a gente não chegar a um denominador comum, é natural que temos que nos agrupar a outros partidos que tenham propostas e candidatos que sejam mais viáveis a ganhar", disse. 

Luciano Bívar afirmou ainda que, para a bancada do partido, as pautas essenciais do governo Bolsonaro são a reforma da Previdência e a reforma Tributária. Questionado sobre qual modelo de reforma da Previdência deve ser adotado, ele defendeu uma forma em que os direitos adquiridos sejam respeitados. Fonte: http://cbn.globoradio.globo.com

O Deus medieval que Trump e Bolsonaro tentam desenterrar

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Publicado em 20 novembro 2018
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O Brasil vai querer voltar à era dos reis e vassalos, dos castelos e muralhas, das guerras religiosas e dos medos da modernidade?

Segundo Ernesto Araújo, o futuro ministro brasileiro de Relações Exteriores, Donald Trump e Jair Bolsonaro são dois deuses chamados para salvar a decadente civilização ocidental e com ela os Estados Unidos e o Brasil. Tudo sob o manto protetor do Deus medieval da ira. No Brasil, o país com o maior número de cristãos no mundo, os políticos usam e abusam da religião. Deus de repente se tornou algo perigoso, encarnado no slogan do novo presidente brasileiro, o capitão Jair Bolsonaro: "Deus acima de todos".

No momento histórico em que os políticos brasileiros mais recorreram para sua sobrevivência aos votos das igrejas, nas últimas eleições, é curioso que tenham acabado se precipitando em sua maior crise de identidade. A velha política que se alimentava da religiosidade, sobretudo dos mais pobres, é hoje entregue a uma nova sacralização que coloca Deus no centro da sociedade. E não o Deus da liberdade e da compaixão, mas o Deus das armas, das velhas cruzadas religiosas.

Não é de estranhar que o capitão reformado eleito presidente do Brasil tenha escolhido para dialogar com o mundo um diplomata como Araújo, que pretende salvar o Ocidente voltando a colocar a religião cristã no centro da história. "Só Deus pode salvar o Ocidente", escreveu o futuro ministro de Relações Exteriores, e apresentou como o paladino dessa salvação o presidente norte-americano, Trump, o único que, segundo ele, "pode salvar o Ocidente". Os dois deuses, destinados, segundo o diplomata, a salvar a civilização ocidental em crise seriam nada mais e nada menos que Trump e Bolsonaro.

Vivemos, porém, em um mundo em plena evolução tecnológica, com os horizontes quase infinitos da inteligência artificial e com o Homo Sapiens prestes a dar um salto quântico na batalha final contra a doença, a fome e a violência no mundo. Restringir a rica e milenar cultura ocidental, com sua capacidade de "conduzir a história", na expressão de Lavisse, à volta dos deuses ao governo, com suas teologias castradoras e o peso do obscurantismo medieval, é ignorar o que representou para o mundo e representa ainda hoje a civilização ocidental. É a essa civilização que o mundo, e não apenas o Ocidente, deve as conquistas e os valores mais valiosos da história da humanidade.

Foi o Ocidente que elaborou todos os conceitos sobre os quais os Estados modernos são fundados, desde o Renascimento à Reforma protestante. Foi o Ocidente que elaborou os conceitos de democracia, do iluminismo, do humanismo, da arte e da cultura de vanguarda que nutriram gerações inteiras. Foi o Ocidente que forjou os conceitos da secularidade do Estado, das liberdades democráticas. Foi o Ocidente que sancionou os direitos humanos, incluindo o direito à liberdade, ao voto, ao respeito pelos diferentes e as minorias.

Querer hoje, no Brasil, voltar aos anos mais obscuros do Ocidente, proclamando como seus novos deuses políticos à la Trump ou Bolsonaro, é querer voltar aos tempos dominados pelos dogmas religiosos das igrejas que acorrentavam as consciências, convocavam para as guerras santas e impediam aproveitar a existência em liberdade, atemorizando com castigos e demônios, fogueiras e inquisições.

Será verdade que o jovem Brasil, que carrega em suas veias o sangue da miscigenação, da pluralidade de credos, do gosto pela vida desfrutado em liberdade, deseja ressuscitar os tempos sombrios e autoritários da Idade Média?

O Brasil vai querer voltar à era dos reis e vassalos, dos castelos e muralhas, das guerras religiosas e dos medos da modernidade? O Deus não manipulado pelo poder é aquele que proclamou que seriam felizes os semeadores da paz, e não da discórdia. O deus do Brasil, pelo que conheço deste país, só pode ser aquele dos braços abertos que acolhe sem perguntar em que você acredita, em quem você vota, qual é a cor da sua pele e como quer viver sua sexualidade e criar sua família. Difícil imaginar, apesar da crispação da sociedade, que o deus brasileiro seja o deus da ira. Não combina com o que sempre amou e sonhou. Fonte: https://brasil.elpais.com

Bolsonaro existe? Foi esfaqueado mesmo, ou é tudo ‘fake news’?

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Publicado em 15 novembro 2018
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  • Bolsonaro existe?

JUAN ARIAS

Hoje, pela primeira vez, a crônica cotidiana, a história que estamos vivendo, não é narrada exclusivamente pelo poder, como no passado.

Talvez a História nunca tenha estado tão insegura entre a verdade e a mentira. Nunca, nem mesmo o presente foi posto tanto em dúvida. Será que descobrimos, de repente, que a verdade no estado puro não existe e que tudo pode ser verdadeiro e falso ao mesmo tempo?

Vejamos o Brasil. Tudo parece ser uma coisa e o contrário. Há até quem chegue a perguntar a si mesmo se o capitão Jair Bolsonaro, que conseguiu 57 milhões de votos nas urnas não se sabe como, existe realmente ou é uma miragem. Coloca-se em dúvida até mesmo que tenha sido esfaqueado.

Em um mundo no qual até intelectuais chegam a pôr em dúvida a existência do Holocausto judeu, com um saldo seis milhões de pessoas — homens, mulheres e crianças — exterminadas nos campos de concentração, podemos ter a impressão de que a verdade não existe e não será possível conhecê-la.

Isso é positivo ou negativo? É verdade que dessa forma todos nos sentimos mais vulneráveis e inseguros ao não ser capazes de distinguir entre verdade e mentira. E, ao mesmo tempo, talvez tenhamos de nos acostumar a conviver em uma realidade mais complexa do que pensávamos, que nos obriga a estar mais vigilantes, já que os limites entre realidade e aparência, entre notícia e fake news, estão ficando cada vez mais tornam-se se fazem cada dia mais tênues e indefinidos.

O que sentimos hoje como uma inquietação, talvez porque estivemos séculos sentados tranquilos sobre nossas certezas, pode acabar sendo uma importante purificação. Durante séculos vivemos alimentados pelos dogmas que poder civil ou religioso nos impôs. Tudo era, sem que precisássemos nos preocupar em descobrir, branco ou preto, verdadeiro ou falso, bom ou mau, justo ou injusto. Era assim mesmo, ou será que tínhamos nos acostumado a conviver com a verdade imposta, o que nos dispensava da dúvida? As coisas eram como eram, porque sempre tinham nos ensinado assim. Teria dado muito trabalho colocá-las em discussão.

Sempre acreditamos nos livros de História, como se fossem textos sagrados que não pudessem ser discutidos. E se, na verdade, os livros de História nos quais bebemos durante séculos fossem, em sua maioria, uma grande fake news? Nós nos esquecemos de que, em grande parte, a História foi escrita pelos vencedores, nunca pelos perdedores. Como teriam escrito os mesmos fatos aqueles que perderam as guerras, as vítimas, os analfabetos que não podiam escrevê-la, mas que a sofreram em sua pele?

É melhor não sofrer tanto e aprender a conviver em um mundo que já não é nem será aquele em que nossos pais viveram

Será que estaria a salvo da contaminação das fake news  o grande livro da Humanidade, a Bíblia, escrita no espaço de mil anos por autores desconhecidos, que as Igrejas cristãs consideram ter sido inspirada por Deus e, portanto, verdadeira? E se descobríssemos que historicamente a Bíblia não resistiria a uma crítica séria? Ou será que alguém pode acreditar que existiram seus personagens mais famosos, como Abraão, Noé, Matusalém e Moisés?

E analisando apenas os quatro evangelhos canônicos que os católicos consideram inspirados por Deus, quanto neles há de histórico e quanto há de catequese religiosa ou política? Qual é a versão verdadeira sobre o julgamento e condenação à morte do profeta Jesus se entre as versões dos quatro evangelistas há inúmeras diferenças bem visíveis? Qual é a figura real de Jesus, a que é apresentada aos judeus da época, cuja morte é totalmente atribuída aos romanos, ou aquela narrada aos gentios e pagãos, em que se carrega nas tintas contra os judeus e fariseus?

Talvez a inquietude que todos sentimos hoje, na nova era em que a Humanidade entrou ao não saber se estamos lidando com notícias verdadeiras ou falsas nem o quanto isso pode condicionar a convivência política e social, se deva, no fim das contas, a algo positivo, embora seja preciso se recompor e recuperar a serenidade para entender que vivemos em um mar agitado, no qual é difícil distinguir um peixe vivo de um pedaço de plástico.

Essa positividade que alguns pensadores começam a farejar na situação angustiante que vivemos, na qual verdade e mentira convivem abraçadas, talvez nasça de algo novo e ao mesmo tempo positivo que não existia no passado. Hoje, pela primeira vez, a crônica cotidiana, a história que estamos vivendo, não é narrada exclusivamente pelo poder, como no passado. Não é narrada pelos que se consideravam donos da verdade e a impunham com a espada na mão, se fosse necessário. Todos os poderes, civis e religiosos, fizeram isso. Hoje, a crônica começa a ser escrita e filtrada também pelos de baixo, pela periferia, por aqueles que não têm mais poder do que o oferecido pelas redes sociais.

Isso sem dúvida levará, como já está ocorrendo, a crises de identidade e à quebra de velhos paradigmas de segurança, como o que os dogmas e as verdades oficiais ofereciam antes. Era tudo mais cômodo e causava menos angústia. Mas não éramos também mais escravos do pensamento único do poder? O fato de não termos de nos preocupar em saber se o que nos ofereciam como história era verdade ou não, ou se era só a verdade de uma parte e não da outra, dava-nos tranquilidade. Hoje, estamos no meio de um ciclone que parece arrastar tudo e não é estranho que nos sintamos inseguros, irritados e até com medo.

Tão inseguros que ainda há quem não saiba realmente quem é Bolsonaro ou se ele é uma invenção, ou se os médicos de dois hospitais de prestígio inventaram a história da facada. E Lula? E Moro? Como se escreverá amanhã a história atual do Brasil? Será que os historiadores de hoje conseguirão nos contar no futuro a verdade ou a fake news sobre o que está vivendo uma sociedade que se sente presa entre a verdade e o boato, entre o que ela gostaria que fosse e o que efetivamente é a realidade — que, afinal, tem possivelmente tem tantas caras e nuances quanto as cores do arco-íris.

É melhor não sofrer tanto e aprender a conviver em um mundo que já não é nem será aquele em que nossos pais viveram. E essa sim é uma verdade. Se opressora ou libertadora, só poderemos saber quando baixar a poeira dessa agitação em torno de verdade e falsidade ou de meias verdades e meias mentiras. O famoso filósofo espanhol Fernando Savater me lembrava de que “se o mundo parasse de mentir, acabaria despedaçado em poucos dias”. Às vezes, uma meia verdade pode salvar o mundo de uma catástrofe. Até a Igreja católica, com seus séculos de experiência em conduzir o poder, cunhou as famosas “mentiras piedosas”.

Para terminar, é verdade que Bolsonaro existe, com mais sombras do que luzes e mais incógnitas do que realidades. E também existe Lula, com toda sua história e todas suas contradições. O que não sabemos é como a História nos contará um dia este momento, que em outras colunas em já chamei de dor de parto, mais do que de funeral e morte. E em todo parto existe, ao mesmo tempo, dor e felicidade, ansiedade e esperança.

E, acima de tudo, a certeza de que a vida, com todas suas amarguras e crueldades, verdades e mentiras, é o único e o melhor que temos. Que no Brasil predomine, apesar de tudo, a cultura da vida e não a da morte. Essa é a grande aposta e a grande resistência. Para isso, todos deveríamos andar de mãos dadas. Fonte: https://brasil.elpais.com

Desilusões

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Publicado em 12 novembro 2018
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Se essa eleição presidencial por grande maioria provou alguma coisa é que nosso passado não tem mais nenhuma relevância política. A crônica é de Luis Fernando Verissimo, escritor, publicada por O Estado de S. Paulo, 08-11-2018.

Eis o texto.

“Desilusão, desilusão...” O samba Dança da Solidão, do grande Paulinho da Viola, cantado pela grande Marisa Monte, seria um fundo musical perfeito para estes estranhos tempos. Poderíamos chamá-lo de “leitmotiv” da nossa desesperança, se quiséssemos ser bestas. A desilusão começou quando? Dá para escolher. No fim da ditadura que o Bolsonaro diz que nunca existiu, quando Tancredo ia tomar posse como o primeiro presidente civil em 20 anos, mas os germes hospitalares de Brasília tinham outros planos? Depois viria o entusiasmo seguido de grande frustração com Collor, o Breve, tão bonito, tão moderno, tão raso, a desilusão com o PT e a desilusão com os políticos em geral, agravada com as revelações de que até grão senhores da Repúblicalevavam bola.

E a desilusão com o 7 x 1, e a desilusão com a seleção do Tite, e a desilusão com a votação maciça para presidente de um homem notoriamente despreparado para o cargo por eleitores desiludidos e iludidos. Agora os que claramente anseiam por heróis veem o Sergio Moro aceitar o Ministério da Justiça do novo governo, como recompensa (se não é, parece) por ter despachado o Lula para a cadeia ligeirinho e publicado a delação do Palocci contra o Lula dias antes da eleição. Até os mitos desiludem.

Por falar em escândalos... O samba do Paulinho também tem um verso que, ligeiramente adaptado, nos diz respeito. “Quando eu penso no futuro, não esqueço o passado.” Se essa eleição presidencial por grande maioria provou alguma coisa é que nosso passado não tem mais nenhuma relevância política. A ditadura foi esquecida, até os generais estão voltando. Bolsonaro pode ter razão, a ditadura pode nunca ter acontecido, o golpe de 64 pode ter sido apenas um movimento de tropas, como disse o Toffoli.

Foi tudo um delírio, vamos esquecê-lo. Rubens Paiva, Stuart Angel, Vladimir Herzog, Manoel Fiel Filho e as centenas de supostos desaparecidos podem voltar. Acabou a farsa. E façam suas apostas: o que vai ser esclarecido primeiro, o caso da bomba no Riocentro, do qual nunca se ouviu mais nada, ou o caso da Marielle, que também não? Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

Foram os evangélicos que elegeram Bolsonaro?

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Publicado em 08 novembro 2018
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  • secularização e diversidade religiosa no Brasil

 

“Não há dúvidas de que o voto evangélico desempenhou importante papel na vitória de Bolsonaro, especialmente por sua capacidade em atingir setores que na última eleição votaram mais na candidatura do PT à Presidência. A campanha de Bolsonaro assumiu tanto no discurso como em atos práticos uma preferência para com este segmento. Daí a afirmar de que a culpa ou o mérito recai sobre os evangélicos é um passo longo que ignora uma série de outros elementos da conjuntura que, felizmente, não é tão simples e dicotômica como algumas análises parecem desejar que fossem”.

A análise é de Alexandre Brasil Fonseca, sociólogo, professor associado da UFRJ e doutor em sociologia pela USP com pós-doutorado pela Universidade de Barcelona. É autor de “Evangélicos e Mídia no Brasil” e de “Relações e Privilégios: Estado, secularização e diversidade religiosa no Brasil”.

Eis o artigo.

Olhar os números e dados disponíveis sobre as eleições é um exercício que pode levar a inúmeras conclusões. Uma delas que têm aparecido em diferentes espaços é de que teriam sido os evangélicos os responsáveis pela vitória de Jair Bolsonaro como presidente do Brasil. Esse tipo de afirmação certamente soa como música nos ouvidos de pastores como Silas Malafaia e Magno Malta. Se fosse possível definir um tipo ideal do eleitor de Bolsonaro certamente ele seria evangélico, mas também teria que ser homem, residir em Santa Catarina, com isso poderia ser luterano, mas provavelmente imagino que seja batista. Certamente seria branco com idade em torno dos 30 anos, escolaridade de nível superior e renda acima de 10 salários mínimos. Essa figura está longe de ser o evangélico médio que povoa nosso cotidiano.

O demógrafo José Eustáquio Diniz Alves comparou a votação dos candidatos e a relação entre a proporção de católicos e evangélicos nos Estados. Há pontos fora da curva, particularmente na Região Sul e de forma destacada em Santa Catarina, Estado em que Bolsonaro obteve a segunda maior votação percentual e onde a presença evangélica (20%) é menor do que a média nacional encontrada no Censo de 2010 (22%). Situação que somente ocorre em outros dez Estados. Neste caso é importante lembrar que o fato de haver alguma associação não implica, necessariamente, em uma causa, questão sinalizada pelo autor em alguns momentos de seu artigo.

Sobre a presença evangélica nos Estados é interessante notar, por exemplo, que no segundo Estado com maior percentual de evangélicos, o Espírito Santo (33,1%), aconteceu a derrota do Senador Magno Malta do PR, líder evangélico no parlamento, candidato à reeleição e bastante próximo ao presidente eleito. Já no Piauí, estado com menor percentual de evangélicos no Brasil (9,7%), aconteceu a reeleição da deputada federal Rejane Dias, evangélica e filiada ao PT.

Evangélicos se tornaram um ator político e eleitoral importante no Brasil recente, disso não há dúvida e várias candidaturas levaram isso em consideração seriamente. A principal delas foi a de Jair Bolsonaro. O presidente eleito tem dialogando com várias lideranças do seguimento evangélico desde que deu início à sua campanha há alguns anos atrás. Conversas que envolvem grupos evangélicos variados, indo muito além daqueles que já habitavam o universo político-eleitoral. Certamente há identificações e alguma convergência de opiniões, mas não se pode ignorar que também há um conjunto de ações intencionais que são direcionadas tendo em vista um determinado público.

Outros candidatos fizeram périplos similares com menor ou maior consistência e competência. Tivemos várias idas de Meirelles do MDB a eventos de evangélicos no tempo em que atuou como Ministro e depois como candidato. Alckmin do PSDBtambém buscou esta frente intensamente, incluindo lideranças evangélicas e políticas em sua grande coligação. Marina da Rede também fez reuniões e mesmo o PSOL contou com o apoio dos “Evangélicos com Boulos”. Provavelmente o candidato que tenha mais tardiamente considerado de forma mais efetiva este segmento tenha sido exatamente Fernando Haddad do PT que, somente, na segunda semana do segundo turno participou de uma reunião específica com pastores e lideranças evangélicas.

Olhar os resultados das pesquisas em relação à religião e a votação de Bolsonaro de fato impressiona. Os dados do IBOPE divulgados no dia 27 de outubro dão números um pouco mais modestos, talvez pela coleta de dados ter ocorrido posteriormente à do Datafolha (divulgado no dia 25 de outubro). Pela análise das duas é correto afirmar que entre os 42 milhões de eleitores evangélicos Bolsonaro obteve cerca de 20 milhões de votos e Haddad 10 milhões. Brancos, nulos e abstenções teriam ficado em torno de 12 milhões, o que representaria cerca de 67% dos votos válidos de evangélicos para Bolsonaro, enquanto Haddad teria recebido 33%. Também é importante sublinhar que pelos levantamentos feitos pelo IBOPE no decorrer do segundo turno a campanha de Haddad virou, entre evangélicos, um pouco mais de 2 milhões de votos.

A diferença de votos entre os evangélicos foi praticamente a mesma diferença final geral obtida entre os candidatos. Considerar que a totalidade desta diferença se explica pela religião é algo totalmente desprovido de sentido e razoabilidade. É preciso observar o percentual a mais que o candidato obteve nos vários estratos oferecidos pelas pesquisas. Foi entre evangélicos, mas também na Região Sul, entre pessoas com nível superior e com renda acima de 5 salários mínimos que houve uma maior adesão à candidatura de Bolsonaro, com percentuais significativamente mais altos do que os obtidos na média da população.

Concordo com a afirmação de Eustáquio de que o voto evangélico foi fundamental para a eleição de Jair Bolsonaro, sendo que considero que sua importância se deu mais por aspectos qualitativos do que quantitativos. Uma primeira questão a sublinhar é que ao final a rejeição à Bolsonaro no segmento evangélico permaneceu em patamares baixos (28%), inferiores à média geral de 39% na população. Ainda mais devido ao fato de que, na média geral, houve um “empate técnico” das rejeições dos candidatos na reta final da campanha.

Outro fator é que a campanha direcionada aos evangélicos em vários níveis, inclusive na pauta dos valores, favoreceu o avanço de Bolsonaro em um segmento populacional em que este grupo é mais presente. Falo aqui de pessoas com escolaridade de nível médio (34% são evangélicos) e renda entre 2 e 5 salários mínimos (32% são evangélicos), grupos em que a vitória de Bolsonaro se efetivou exatamente por terem votado de forma distinta do que votaram na eleição de 2014. Nestas eleições tanto entre os mais pobres o PT manteve a liderança, como também manteve o baixo desempenho entre os mais ricos, a diferença se deu nos segmentos médios, os quais acabaram por dar a vitória ao candidato do PSL.

Portanto, é importante sublinhar que a religião não explica isoladamente o não-voto no PT, faz parte e fundamenta uma narrativa, mas não é suficiente. O PT ainda aparece como o partido preferido entre os evangélicos, como também para o conjunto da sociedade, partido que mais elegeu governadores e deputados federais e que tem à sua frente o desafio de se recolocar como oposição após anos em que ocupou o lugar de vidraça.

Para se relativizar ainda mais uma possível determinação do voto evangélico é um salutar exercício pensar que existiram motivações variadas que levaram, por exemplo, a cerca de 30% de pessoas LGBTI a votarem em Bolsonaro ou a um pouco menos da metade de pretos e pardos a também tomarem essa decisão. Existem motivos que perpassam a sociedade como um todo e que envolvem diversos segmentos. Nas análises é preciso incluir a associação com a crise por que passa o país e que é relacionada à questão da corrupção e às gestões do PT, por um lado e, por outro lado, que demarcam a identificação construída pela campanha de Bolsonaro de que este seria resposta para e negação da “velha política”. Neste sentido o resultado pífio de partidos históricos como PSDB e MDB - mesmo com recursos financeiros, estrutura e tempo de TV – são sintomáticos. Também há uma situação de grave insegurança pública que afeta o conjunto da população brasileira de forma emblemática. Ter um discurso enfático sobre essa questão foi uma das bandeiras de Bolsonaro e deve fazer parte do repertório de explicações que buscam compreender as motivações para o voto no candidato.

Lembro do título de um livro organizado pelo professor Wilson Gomes diante dos holofotes que foram direcionados para o neo pentecostalismo no final do século passado. Ao propor uma abordagem analítica e crítica sobre os fenômenos que vinham ocorrendo e que recebiam um conjunto de afirmações preconceituosas o autor afirmou que era importante ter em mente que os neopentecostais não representavam “nem anjos, nem demônios”.

Ao pensar no resultado eleitoral de 2018 penso ser temerário parabenizar lideranças evangélicas em relação à vitória do Bolsonaro, como também – a depender do gosto do freguês – apontar o dedo para o segmento afirmando ser este o “culpado” por esta vitória. A complexidade de fatores e as multivariadas explicações envolvidas não nos permitem ir tão longe. Ainda lembrando do texto de Gomes, penso ser possível afirmar sim uma “eficiência comunicativa” da campanha de Bolsonaro em relação aos evangélicos, grupo que reúne expressivo segmento populacional com significativa organicidade. E isto envolve tanto uma estratégia, mas passa também por convicções e pelo compartilhamento de visões de mundo e valores. Aqui é importante lembrar da necessidade e da importância de uma candidatura ter verossimilhança na campanha eleitoral, elemento que esteve muito presente em Bolsonaro e que foi pouco percebido, por exemplo, na campanha de Alckmin.

Questão que não ficou somente no discurso, mas que tem se manifestado concretamente em atos que reafirmam e reforçam o compromisso de Bolsonaro para com este grupo de eleitores. Situação que passa tanto pela escolha de seu lema de campanha, mas que também inclui ida a cultos, encontros com religiosos e mesmo a oração antes do seu primeiro discurso. Concretamente também temos entre os nomeados na equipe de transição a presença de, pelo menos, duas lideranças ligadas ao mundo evangélico com perfis distintos que dão bem a dimensão de como Bolsonaro tem atuado junto a amplos segmentos evangélicos, grupo que envolvem diferentes realidades, mas que se convencionou chamar de uma coisa só.

Há o Procurador da Fazenda e pastor da Igreja Cidade Viva Sérgio Queiroz, sua comunidade tem origem na Primeira Igreja Batista de João Pessoa e tem perfil de classe média e alta, possuindo Queiroz doutorado em teologia. O outro evangélico é Pablo Tatim, advogado que é membro da Diretoria e procurador da Igreja Assembleia de Deus Ministério da Restauração. Tatim foi chefe de gabinete do Ministro do Trabalho Ronaldo Nogueira, de quem era assessor parlamentar em seu mandado como deputado federal pelo RS. Atualmente desempenha o papel de Secretário Executivo do Ministério da Secretaria-Geral da Presidência, pasta que tem o deputado federal pelo DF Ronaldo Fonseca à frente. Além da relação com Tatim, tanto Nogueira como Fonseca têm em comum o fato de serem pastores da Assembleia de Deus e de não terem sido reeleitos.

A democracia prevê a participação social dos cidadãos e cidadãs de um país nos processos decisórios, neste sentido hoje se impõe aos partidos políticos considerar e promover discussões que tenham no horizonte as diferentes gramáticas e narrativas existentes na sociedade. Em relação aos evangélicos há uma enorme diversidade e fortes estruturas econômicas que envolvem empresas diversas que atuam junto ao segmento. Porém também há grupos e pessoas identificadas com a religião e que estão envolvidas em diferentes movimentos sociais, sejam de sem-terra; sem teto; de promoção e defesa dos Direitos Humanos, entre tantos outros. As esquerdas não podem cair no equívoco de crer que há uma indesejável divisão do Brasil entre “nós e eles” que coloca os evangélicos todos somente de um lado. Muitos pastores gostam de repetir e defender isto, mas como já pregou o, já aqui citado, Pastor Sérgio Queiroz é possível encontrar entre os primeiros e diretos assessores-discípulos de Jesus representantes tanto da extrema direita com da extrema esquerda daquela época. A diversidade e a descentralização são características centrais da comunidade evangélica, entender isso é um primeiro passo para quem tenha real interesse em estabelecer diálogo.

Afirmar uma “culpa evangélica” na eleição de Bolsonaro interessa especialmente àqueles que estão ao lado do presidente eleito e que empenharam tempo e recursos em apoio a ele. Pelos dados do IBOPE do dia 27 de outubro, pode-se afirmar, por exemplo, que percentualmente o desempenho de Bolsonaro foi mais significativo entre pessoas residentes na Região Sul e entre pessoas com renda superior a 5 salários mínimos. Se olharmos para a questão quantitativa, considerando quantos votos a mais da média da população que ele obteve em determinados segmentos, temos que entre pessoas que se declararam brancas e entre homens ele teve o volume mais significativo de votos. Nos dois casos, tanto no quantitativo de votos como no percentual, o segmento evangélico aparece na terceira posição.

Não há dúvidas de que o voto evangélico desempenhou importante papel na vitória de Bolsonaro, especialmente por sua capacidade em atingir setores que na última eleição votaram mais na candidatura do PT à Presidência. A campanha de Bolsonaro assumiu tanto no discurso como em atos práticos uma preferência para com este segmento. Daí a afirmar de que a culpa ou o mérito recai sobre os evangélicos é um passo longo que ignora uma série de outros elementos da conjuntura que, felizmente, não é tão simples e dicotômica como algumas análises parecem desejar que fossem.

Afirmar que a responsabilidade da vitória de Bolsonaro foi dos evangélicos pode ser cômodo e até mesmo prático, mas está longe de ser útil enquanto análise social e penso que seja ainda menos útil para a reflexão daqueles que foram às urnas com livros nas mãos. Vaticinar essa responsabilidade ignora uma série de anseios e desejos que povoaram expressiva parcela da população e desconsidera uma campanha que utilizou na sua narrativa um conjunto de informações relacionadas a valores, os quais – é preciso sublinhar pelo pitoresco que representa – se consolidaram a partir de uma estrutura de difusão de mentiras.

Entender o voto em Bolsonaro, passa por considerar estes elementos, mas também considerar a adesão consciente e os desejos e respostas que esta candidatura materializou, alcançando, entre tantos outros, uma significativa parcela dos evangélicos. Grupo que, curiosamente, já foi identificado – antes da chegada dos smartphones – exatamente como o “povo do Livro”. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

Mentiras e vídeos

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Publicado em 06 novembro 2018
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  • Fake News e Eleições de 2018,
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  • O fenômeno Bolsonaro
  • fenômeno Bolsonaro
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“É uma peculiaridade interessante da comunicação em nossos tempos: a mentira, a falsificação e o engano deliberado foram incluídos no rol dos bons costumes e das virtudes familiares. Imagino que o velho Gepeto iria perder o emprego, tantos são os Pinóquios que pululam pelo mundo. Tudo isso abençoado pelo Senhor, Saravá treis veis!”, constata Luiz Gonzaga Belluzzo, economista, em artigo publicado por CartaCapital, 06-11-2018. Segundo ele, “o pequeno fascismo desliza sorrateiro para a alma de cada indivíduo, sem ser percebido, ainda que continue a simular a defesa dos sacrossantos princípios da família, dos costumes e da religião”.

Eis o artigo.

O fenômeno Bolsonaro deu origem a um vendaval de interpretações. Sociólogos, economistas e cientistas políticos debruçaram-se sobre o personagem de gestos e falas tão agressivos quanto balbuciantes.

As considerações a respeito das características pessoais do então candidato, hoje eleito, abriram espaço para a avaliação de seu eleitorado. A palavra fascista foi distribuída com abusiva generosidade pelos adversários do capitão para marcar o lombo dos bolsominions.

Peço licença para modestas considerações. A guerra de fake news e vídeos nas redes sociais, todos reconhecem, teve um papel decisivo na formação das escolhas dos eleitores. Essas batalhas foram cuidadosamente preparadas nos laboratórios da malta rica e poderosa, daqui e de fora, em um exercício deliberado de controle dos espíritos machucados pelas incertezas da crise econômica aviada nos gabinetes dos mercados financeiros e executada nas retortas dos desenganos e das frustrações eleitorais de 2014.

A ascensão de Bolsonaro recebeu os favores do desencanto, do ressentimento e do ódio. O desencanto transmutou-se em ressentimento e o ressentimento decantou suas moléculas no ódio indiscriminado, “contra tudo isso aí”.

Nas precipitações químicas do desencanto para o ressentimento e do ressentimento para o ódio criou-se a cadeia de reações entre a mentira e a crença: o kit gay, o estupro da filha pelo candidato adversário e outras tantas ridicularias pousaram sem resistência nas consciências trôpegas e ansiosas dos brasileiros desamparados e desinformados. O truque consistiu em proclamar mentiras em nome dos bons costumes e dos valores familiares.

Essa é uma peculiaridade interessante da comunicação em nossos tempos: a mentira, a falsificação e o engano deliberado foram incluídos no rol dos bons costumes e das virtudes familiares. Imagino que o velho Gepeto iria perder o emprego, tantos são os Pinóquios que pululam pelo mundo. Tudo isso abençoado pelo Senhor, Saravá treis veis!

Em sua configuração atual, a sociedade dos mercados escancara a incapacidade de entregar o que promete aos cidadãos. A celebração do sucesso colide com a exclusão social; o desemprego tromba com a desigualdade de oportunidades.

Nesse ambiente competitivo, algozes e vítimas das promessas irrealizadas de felicidade e segurança assestam seus ressentimentos contra os “inimigos” imaginários, produtores do seu desencanto. Os inimigos são os outros: os imigrantes, os pobres preguiçososque preferem o Bolsa Família e recusam a vara de pescar, comunistas imagináriosetc.

As normas sociais da concorrência utilitarista que guiam o sujeito pós-moderno levam à morte o indivíduo iluminista de Adam Smith, aquele consciente de sua liberdade e empenhado na preservação de sua autonomia. Ele foi substituído por um indivíduo depressivo em seus insucessos e frustrações, sempre preocupado em retirar de si, com doses maciças de Prozac, a essência de todo o conflito.

A rejeição pós-moderna é mais profunda porque, de forma devastadora, erodiu os sentimentos de pertinência à mesma comunidade de destino, suscitando processos subjetivos de diferenciação e (des)identificação em relação aos “outros”. E essa recusa do outro vem assumindo cada vez mais as feições de um individualismo tosco, agressivo e antirrepublicano.

Na Genealogia da Moral, Nietzsche não hesita em afirmar que “grande perigo para os homens são os indivíduos doentios, não os maus, não os predadores. São os desgraçados, os destruídos, os vencidos de antemão – são eles, são os fracos que mais solapam a vida entre os homens, que envenenam e colocam em questão da maneira mais perigosa nossa confiança na vida e nos homens”.

Os aforismos de Nietzsche exclamam protestos contra as virtudes do cristianismo, contra o ressentimento e a má consciência dos fracos, permanentemente mergulhados na mediocridade da sociedade de massa.

A “psicologização” utilitarista da existência, diz Elisabeth Roudinesco, avassalou a sociedade e contribuiu para o avanço da despolitização, filha dileta do que Michel Foucault e Gilles Deleuze chamaram de “pequeno fascismo da vida cotidiana”, praticado e celebrado pelo indivíduo ressentido, ao mesmo tempo protagonista e vítima de um processo social que não compreende.

O pequeno fascismo desliza sorrateiro para a alma de cada indivíduo, sem ser percebido, ainda que continue a simular a defesa dos sacrossantos princípios da família, dos costumes e da religião. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

E agora, o que fazer com o Brasil de Bolsonaro?

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Publicado em 02 novembro 2018
  • Fernando Haddad,
  • Juan Arias,
  • presidente da República Jair Bolsonaro,

“A responsabilidade neste momento sombrio não é pequena para o PT e seu líder, Lula, que foi, em última instância, o grande derrotado das eleições. Bolsonaro, segundo não poucos analistas, é o fruto amargo dos erros do PT. Agora chegou o momento da reflexão e de colocar a democracia do país à frente dos estreitos interesses de partido”, escreve Juan Arias, jornalista, em artigo publicado por El País, 31-10-2018.

Eis o artigo.

O Brasil acordou no último domingo, 28, de um pesadelo. Descobriu que a maioria dos eleitores, mais de 55 milhões, tinha elegido democraticamente para presidente da República Jair Bolsonaro, um capitão da reserva, de extrema-direita, expulso do Exército e que se propõe, como “desígnio divino”, a acabar com a esquerda que governou o país durante 13 anos. Já fazia mais de 70 anos que isso não acontecia.

Para os outros 45 milhões que votaram no candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), Fernando Haddad, fica agora a tarefa de organizar uma frente de oposição democrática que impeça o novo presidente de levar a cabo as ameaças feitas durante a campanha eleitoral contra a democracia e a favor da tortura e da ditadura militar.

Em seu primeiro discurso, Bolsonaro não disparou um revólver, um gesto típico seu. Levantou o texto da Constituição jurando que seu Governo “será escravo dela”. E fez alarde de respeitar todas as liberdades. Jurou que será o presidente de todos os brasileiros. Também daqueles que não pensam como ele, daqueles a quem aconselhou o exílio antes que pudessem ser eliminados? Juntamente com a Constituição, também brandiu um exemplar da Bíblia, que segundo ele lhe permitirá “libertar o Brasil”.

Ninguém sabe como o país poderá ser guiado agora por um presidente de extrema direita, votado maciçamente pelos evangélicos, que estará cercado por generais do Exército em seu Governo e que tinha afirmado no Congresso que o Brasil “não é um país laico” e quem não gostasse poderia ir embora. Seu lema é “Deus acima de tudo”.

Portanto, cabe agora às forças progressistas e democráticas criar uma frente de oposição responsável que cuide para que o novo presidente cumpra seu juramento de não se afastar da Constituição e governar de acordo com os cânones das democracias modernas. O lógico seria que essa oposição fosse liderada por Fernando Haddad, que em poucas semanas foi capaz de conquistar 45 milhões de eleitores, muitos dos quais, embora não comungando com o PT, o apoiaram para tentar deter Bolsonaro. E ele o fez. Entusiasmou e manteve uma postura sem extremismos, sensata e de diálogo.

Não é, no entanto, esse tipo de oposição que parece querer hoje a parte mais radical do PT, que preferiria um confronto direto com o presidente-capitão. Foi esse radicalismoque impediu, já no primeiro turno das eleições, que fosse criada uma ampla frente democrática contra a extrema-direita, liderada por um candidato de centro-esquerda, uma vez que a rejeição de milhões de eleitores ao PT tinha sido o estopim que desencadeou o fogo da candidatura de Bolsonaro. Não foi possível porque nem o PTnem Lula – que é quem continua, da prisão, dirigindo o partido – permitiram. Preferiram a derrota a deixar que outra força de esquerda detivesse o perigo que se aproximava da democracia.

Haddad, que é visto pela ala esquerda do PT como um socialdemocrata, conseguiu, no entanto, amalgamar durante a campanha as maiores e mais responsáveis figuras políticas democráticas e progressistas do país dispostas a formar uma ampla frente de oposição para servir como contraponto à extrema direita do ex-paraquedista. Essa oposição democrática foi capaz de romper o clima de ódio e negatividade que permeava a sociedade. E conseguiu criar gestos simbólicos de resistência democrática e festiva, como ir às urnas com um livro ou flores na mão, como contraponto à paixão do novo presidente pelas armas.

Apenas uma oposição desse tipo, que sirva ao mesmo tempo para reunificar todas as forças democráticas fazendo-as dialogar e colaborar juntas, será capaz de cuidar para que o país não se veja despojado dos seus melhores valores democráticos, conquistados com tanto esforço depois da ditadura militar.

A responsabilidade neste momento sombrio não é pequena para o PT e seu líder, Lula, que foi, em última instância, o grande derrotado das eleições. Bolsonaro, segundo não poucos analistas, é o fruto amargo dos erros do PT. Agora chegou o momento da reflexão e de colocar a democracia do país à frente dos estreitos interesses de partido. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

Dom Leonardo Steiner: momento de reconciliação e diálogo nacional

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Publicado em 01 novembro 2018
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  • dom Leonardo Steiner,
  • Presidente Bolsonaro

Dom Leonardo Ulrich Steiner, Secretário-Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) fala ao Vatican News sobre as eleições presidenciais no Brasil, que deu a vitória ao candidato Jair Bolsonaro. Para Dom Leonardo o fato de as eleições terem corrido em um ambiente harmônico é um bom sinal “sinal de que os brasileiros querem um país com convivência mais fraterna, mais irmã!”.

Futuro do Brasil

Quanto ao futuro, do Brasil, depende de “como se comportará o Supremo Tribunal, o Executivo e o Legislativo, são os três poderes que devem ajudar o Brasil”. Porém, para o Bispo, “existe uma preocupação porque muitas das afirmações durante o tempo das eleições não eram favoráveis aos indígenas, quilombolas, pobres e aos direitos humanos”. Então tudo depende deste período pós eleição se muda a linguagem e as atitudes.

Reconciliação e comunhão

Dom Leonardo acredita que “como sociedade brasileira da qual a CNBB faz parte, agora temos um momento necessariamente de comunhão”. Recordando a nota da CNBB antes das eleições diz que foi falado de “reconciliação”,  várias entidades buscam isso neste momento. “Depois da eleição busquemos defender a democracia com a reconciliação”.

Democracia
Ao falar de democracia, diz o bispo “fala-se no sentido de que as pessoas possam participar ativamente, viver na liberdade, mas ao mesmo tempo ter políticas públicas em benefício de todos, essa é a tarefa de toda a sociedade”.

Tempo de estender a mão

Hoje no Brasil existe divisões mas também tensões, e não só na sociedade, mas nas nossas próprias famílias, por isso chegou o tempo de fazer um movimento “de estender a mão, saber ouvir! O tempo das eleições foi um tempo que não soube ouvir, havia a capacidade de agressão e não da palavra, não da escuta – diz o bispo – e esse tempo da escuta e da palavra deve vir agora.

Abrir-se ao diálogo

Ao comentar sobre qual seria o papel da Igreja para que este Brasil dividido possa se reencontrar, Dom Leonardo diz que não será uma tarefa fácil, depende da atitude dos governantes, evidenciado que “quando um governo assume precisa ouvir a sociedade, não se impor, senão os movimentos sociais começam a se manifestar ir às ruas e isso leva a tensões e divisões maiores ainda. Por isso o Governo precisa estender a mão e abrir-se ao diálogo”.

Papel da Igreja

Quanto ao papel da Igreja para diminuir as divisões, Dom Leonardo confirma que a CNBB “nunca indicou um candidato, mas foram indicados critérios para escolher um candidato. Tais critérios são a democracia, diálogo, opção pelos pobres, defesa da vida em todos os sentidos, não apenas a questão do aborto, mas fala-se de toda a abrangência que a palavra vida tem, inclusive a questão do meio ambiente. Porém, frisou Dom Leonardo, “como Igreja é preciso ajudar a articular para o diálogo e criar um movimento dentro do Brasil, para que possamos sentar todos juntos ao redor de uma mesa”. “É um trabalho difícil mas a Igreja não vai se furtar a esta tarefa que o Evangelho nos confia, de criarmos uma fraternidade. Fraternidade significa um rumo, um rumo que é de justiça, de verdade e de amor.

Mensagem ao novo Presidente

“Desejo a Bolsonaro um bom governo, que ele possa governar para os brasileiros, para todos os brasileiros, todos. Se ele o fizer, certamente terá feito um bom governo”. Fonte: http://www.cnbb.org.br

Com Bolsonaro, evangélicos passam do veto à proposição da agenda de costumes

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Publicado em 31 outubro 2018
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  • bispo Edir Macedo,
  • Religião e democracia no Brasil
  • Amy Smith,
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Presidente e bancada religiosa se beneficiariam com debate restrito à pauta de comportamento. Questões econômicas e de segurança tendem a se impor e podem transformar religiosos em "vidraça"

"Eu vim aqui mais para ouvir do que falar", disse o então pré-candidato à presidência Jair Bolsonaro diante de uma multidão de evangélicos na 26ª Marcha para Jesus, em maio, em São Paulo. Os organizadores calcularam em dois milhões de pessoas a quantidade de participantes do evento anual —a Polícia Militar não divulgou estimativa.  "Hoje é dia de consagração. Que o Senhor abençoe e proteja as nossas famílias. Nós amamos Israel", discursou brevemente, na ocasião, o hoje presidente eleito do Brasil, finalizando a curta intervenção com seu lema de campanha: "Brasil acima de tudo e Deus acima de todos". Meses depois, assim que teve sua eleição confirmada, Bolsonaro fez questão de, em sua primeira aparição pública, passar uma mensagem religiosa. Junto a seus apoiadores, inclusive, rezou, em uma imagem transmitida em rede nacional. Meio católico, meio evangélico, ele assumirá a Presidência da República no dia 1º de janeiro de 2019 com um apoio massivo do segundo grupo, que vem ampliando sua presença na política nacional eleição após eleição desde a década de 1980.

Um católico que frequenta a Igreja Batista há décadas, como ele mesmo se define, o presidente eleito neste domingo carrega para o Palácio do Planalto uma agenda religiosa que ainda não tinha encontrado tanta legitimidade no Executivo. É de se esperar, portanto, que os evangélicos deixem a posição de veto que ocuparam durante o Governo Dilma Rousseff para a de protagonistas, com a promoção de pautas. Isso não garante, contudo, apoio incondicional ao futuro Governo, ponderam estudiosos da relação entre política e religião no Brasil ouvidos pelo EL PAÍS. "O processo de politização da religião envolve ricos muito altos. Não se trata de uma força da religião na política apenas, mas de uma força da política na religião", analisa o sociólogo Roberto Dutra, professor da Universidade Estadual do norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf).

Durante a campanha, Bolsonaro recebeu o apoio público das maiores lideranças evangélicas do país. “De todos os candidatos, o único que fala o idioma do evangélico é Bolsonaro”, disse no início de outubro o pastor José Wellington Bezerra, presidente emérito da Assembleia de Deus, a maior congregação evangélica do Brasil. Responsável por celebrar o último casamento de Bolsonaro, com Michelle Firmo, em 2013, o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, esqueceu críticas antigas sobre o radicalismo do presidente eleito para embarcar na candidatura do PSL à Presidência. Já o bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, não se limitou a dizer que votaria em Bolsonaro. Sua emissora de televisão reservou 30 minutos exclusivospara o candidato enquanto seus adversários se enfrentavam em debate na Rede Globo.

A lista de apoiadores evangélicos conta ainda com o bispo Robson Rodovalho, criador da Sara Nossa Terra, e tem como grande unificador a bandeira de combate à "ideologia de gênero" e em favor da família tradicional, segundo a pesquisadora norte-americana Amy Erica Smith. Autora do livro Religion and Brazilian Democracy: Mobilizing the People of God (Religião e democracia no Brasil: mobilizando o povo de Deus), a ser lançado em abril próximo, Smith veio ao Brasil estudar organizações comunitárias, e descobriu nas igrejas os grupos mais organizados.

A pesquisadora lembra que o ativismo político dos evangélicos data da década de 1980, durante a Constituinte, e faz parte de uma estratégia para ampliar o poder de evangelização. "Os evangélicos achavam que as políticas públicas do Estado brasileiro estavam prejudicando sua capacidade para evangelizar. Queriam chegar ao poder para obter coisas como licenças para rádio". A mobilização rendeu, nesta eleição, uma ampliação da bancada evangélica do Congresso Nacional de 78 para 91 parlamentares na próxima legislatura, de acordo com as contas do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Segundo Roberto Dutra, é uma bancada muito renovada, mais nova e com perfil de atuação mais agressiva nas redes sociais. Amy Smith lembra, por outro lado, que os evangélicos ainda estão sub-representados no Congresso, porque eles já compõem cerca de 30% da população brasileira, mas passarão a representar apenas 15% do parlamento.

Protagonismo

"Tanto para Bolsonaro quanto para os parlamentares, é muito interessante que o debate fique restrito à questão da agenda de comportamento: o que eles chamam de ideologia de gênero, pauta gay, questões sobre cotas —para o que a esquerda contribui muito com essa linguagem da política identitária", diz o sociólogo. "Se o debate ficar preso nisso, a tendência é que essa bancada evangélica tenha um protagonismo muito grande e consiga vitórias expressivas em relação à redução da maioridade penal ou eliminação de qualquer terminologia e conceituação sobre gênero na educação. Mas a pauta não vai ser só essa".

Dutra diz que, embora Bolsonaro fuja do debate sobre economia e políticas sociais, essas questões serão, junto com a segurança pública, as mais importantes de seu Governo. "Quando a política social, o crescimento econômico e a segurança pública, para que ele não tem solução nenhuma, naufragarem, a bancada evangélica vai virar vidraça", prevê, acrescentando que, com uma agenda econômica liberal radicalizada, "não haverá fé que segure o apoio dos evangélicos". Amy Smith chama atenção especialmente para a questão da violência. "Se o governo for muito sangrento, e pode ser, talvez ele perca um pouco da popularidade dentro das comunidades evangélicas. Há um movimento evangélico minoritário, mas forte, que acredita que a repressão de bandidos não é algo cristão. A violência retórica o prejudica. Se enfocar na repressão da comunidade gay, mas não na violência, pode ser que tenha mais apoio”, analisa.

Outro risco para Bolsonaro é tentar se escorar demais na comunidade evangélica, que impulsionou parte de sua campanha mobilizada contra o material escolar anti-homofobia popularmente conhecido como "kit gay". "Esse uso da religião como meio para a política pode levar ao desgaste da imagem entre os evangélicos. O uso do púlpito não é bem visto", diz Dutra, para quem problemas no Governo Bolsonaro podem contribuir para fomentar lideranças progressistas de esquerda entre os evangélicos. "[Marcelo] Crivella faz um Governo muito mal avaliado no Rio [de Janeiro]. Só não repercutiu muito fortemente na eleição do Estado porque o debate foi nacionalizado. Logo, logo, todo mundo vai lembrar que a prefeitura do Rio esta muito mal administrada", diz.

De qualquer forma, a influência evangélica na política brasileira deve aumentar, aposta Amy Smith, tanto pela busca de espaço político das igrejas quanto pelo crescimento da comunidade religiosa. Esses movimentos podem até culminar na eleição de um presidente evangélico de fato, mas isso dependeria do estabelecimento de uma unidade que não existe. "Tem uma expressão que se diz entre os evangélicos: ‘irmão vota em irmão”. Mas isso não acontece", diz Smith. "No período Lula [2003-2010], os evangélicos aderiram ao Governo pela política social. Eles têm afinidade e uma relação muito grande com a educação. Aproveitaram oportunidades. São pobres, não são só evangélicos. São identidades múltiplas, de classes populares", resume Dutra. Fonte: https://brasil.elpais.com

“O dia seguinte às eleições não é um conto de fadas”

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Publicado em 29 outubro 2018
  • arcebispo de Belo Horizonte
  • dom Walmor Oliveira de Azevedo

Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo de Belo Horizonte (MG),

Concluído o processo eleitoral 2018, o arcebispo de Belo Horizonte (MG), dom Walmor Oliveira de Azevedo chama a atenção, em artigo, para um aspecto: “As eleições marcam o início de um novo ciclo, resultado da vontade dos cidadãos”. Para ele, as eleições não têm força mágica, com o poder imediato de tudo mudar, mas constituem um importante passo, na tarefa de se percorrer um longo caminho.

“Não se pode acreditar na solução imediata dos problemas, simplesmente porque determinado candidato venceu o pleito. O dia seguinte às Eleições não é um ‘conto de fadas’. Para vencer seus muitos desafios, o povo brasileiro necessita buscar respostas alicerçadas em um profundo humanismo, em princípios e valores fundamentais conforme exige o sistema democrático”, disse.

O religioso defende que é ilusória a possibilidade de se conquistar o bem comum fora dos trilhos da democracia, por meio de escolhas unilaterais ou imposições. “A participação cidadã, além de possibilitar a escolha dos representantes do povo nas eleições, assegura aos governados a prerrogativa de acompanhar e direcionar a atuação dos próprios governantes”, disse.

O sistema democrático, recorda dom Walmor, oferece mecanismos para que o poder do Estado não seja apropriado por interesses particulares ou objetivos ideológicos. “A partir das eleições é necessário renovar a compreensão de que uma autêntica democracia requer um Estado regido pelo Direito, sobre a base de uma rica concepção do ser humano, conforme ensina a Doutrina Social da Igreja Católica”, defende.

Compromisso com a democracia – Os eleitos, acima de tudo, têm o compromisso de defender a democracia, para além do mero respeito formal a determinadas regras. “É preciso aceitar, com convicção, os valores que inspiram os procedimentos democráticos: o zelo pelos direitos e pela dignidade humana, a busca do bem comum”, reforça. Sem o consenso sobre a importância desses valores, a democracia perde a sua estabilidade, defende dom Walmor.

Para o arcebispo de Belo Horizonte (MG) é perigoso quando os representantes do povo, nos três poderes, navegam no leito do relativismo ético que leva à manipulação de valores, que passam a ser negociados, em vez de serem compreendidos como critérios objetivos a serem respeitados. “Uma democracia sem princípios converte-se, facilmente, em totalitarismo, aberto ou dissimulado”, disse.

Dom Walmor defende que para se preservar o regime democrático é preciso agir em conformidade com a lei moral, que é soberana e sustenta o indispensável equilíbrio entre os poderes. Nesse horizonte, defende, espera-se competência humanística daqueles que exercem o poder. “Assim se legitima a autoridade perante o povo e se conquista credibilidade”, destaca.

Para corrigir as deformações do sistema democrático – a corrupção política, a traição de princípios morais e a inaceitável negociação da justiça social – dom Walmor aponta que os partidos políticos devem ser capazes de favorecer a participação cidadã, consolidando o entendimento da responsabilidade de todos pelos rumos da sociedade em um sistema democrático. “É exigido qualificado desempenho dos que ocupam cargos nos três poderes, mas também é indispensável a colaboração cidadã de cada pessoa na definição dos rumos do país”. Fonte: http://www.cnbb.org.br

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