Em 2022, cerca de 42% deles pensaram em abandonar a atividade, segundo pesquisa

 

Sasha Freemind na Unsplash

 

Juliano Spyer

Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros

 

Na semana passada, um interlocutor compartilhou comigo o desabafo de um pastor presbiteriano dos EUA que começa assim: "No domingo passado, preguei meu último sermão como pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Arlington Heights (um subúrbio de Chicago). Tomei a decisão de não apenas deixar meu cargo como líder da equipe pastoral mas de abandonar o pastorado por completo. Já não tenho o desejo de servir como pastor na igreja".

Ele não está sozinho. Em 2022, 42% dos pastores dos Estados Unidos pensaram em abandonar sua função e quase metade daqueles com até 45 anos considerou essa possibilidade. Os dados são do Barna Group, um instituto que pesquisa fé e cultura.
Esse fenômeno vem sendo chamado de "The Great Pastor Resignation" (a grande onda de demissão de pastores, em tradução livre). Tornou-se mais conhecido quando o jornal The New York Times publicou uma entrevista com Dan White Jr, um ex-pastor que hoje coordena o centro Kineo para cuidar de pastores vivendo crises de burnout.
White pastoreava uma igreja batista pequena no estado de Nova York quando foi diagnosticado com transtorno de estresse pós-traumático (Tept), o mesmo quadro neurológico de quem vive por muito tempo em zonas de guerra.

Pastores são líderes, mas, na prática, é como se eles fossem empregados de todos os membros de suas comunidades de fé, e essa pressão afeta o convívio familiar.

Além disso, os muitos escândalos noticiados pela mídia nas últimas décadas afetaram a imagem pública dos pastores. Em vez de serem vistos como pessoas que oferecem cuidado, hoje são percebidos com desconfiança. "Eu tinha muita idealização em relação ao meu trabalho", diz White, "e comecei a ter vergonha de contar que era pastor".

Mas a tensão nas igrejas se multiplicou por causa da polarização política e da pandemia de Covid-19.

"Percebemos que as redes sociais, os canais de TV a cabo e a disputa política têm tido mais impacto na formação e orientação de nossas congregações do que nossos próprios sermões", avalia White.

Isso também acontece aqui? As últimas eleições presidenciais deixaram feridas abertas entre membros de igrejas. Muitos deixaram de chamar uns aos outros de irmãos e irmãs em Cristo para usar termos como "comunista", "fascista" ou "assassino de bebês".

Interlocutores falam sobre pastores que temem desapontar e serem acusados por seus pares e congregantes por "ter pouca fé". Mas igrejas evitam falar publicamente sobre problemas de saúde mental entre pastores.

Considerando esse quadro de falta de dados, peço licença aos outros leitores para convidar pastores e pastoras a compartilhar anonimamente suas histórias sobre os desafios atuais de seu trabalho pelo email Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br