Frei Petrônio de Miranda, O. Carm, Convento do Carmo de Angra dos Reis/RJ.

Sábado, 12 de junho-2021.

 

“Quero ser uma outra Santa Teresinha do Menino Jesus”, afirmou Maria Cristina, em um encontro vocacional. “Sim, eu quero ser São João de Cruz”, disse o vocacionado jovem em um encontro para candidatos ao Carmelo. “Eu sei que o Carmelo é o meu céu na terra”, afirmou outro inocente e “imaculado” jovem.

Tais afirmações verídicas, relatam a inocência vocacional de jovens que buscam o Carmelo e as diversas ordens religiosas, congregações, seminários diocesanos e comunidades de vida. As intenções são boas e verdadeiras, mas inocentes- e o que é mais grave- alguns animadores vocacionais continuam alimentado tais ilusões vocacionais.

Talvez que você- também inocente religiosamente ou vocacionalmente- ainda não entendeu o X da questão do meu artigo.

Bem, no meu segundo CD; “Tempo do Carmelo”, tenho uma música que se chama, “Venha para o Carmelo”. Logo na primeira estrofe deixo bem claro o que de fato é a espiritualidade carmelitana: “Não somos anjos, somos humanos, não somos santos, somos humanos. A nossa humanidade, vai te ajudar crescer, subir no Carmelo, desta fonte vai beber”. Aqui retrato toda a nossa riqueza espiritual através da nossa humanidade a partir das nossas virtudes e limitações.

Conheço a história de um jovem- ex-frade carmelita- que, antes de entrar para o Carmelo- sem a orientação sincera e humana do formador- continuo a caminhar nas nuvens vocacionais. Digo, só falava em santidade, “Carmelo céu na terra”, sofrer para seguir Jesus Cristo... Essas trecaiadas toda. Depois de conviver 6 anos em um convento, viu o “outro lado da moeda”. Digo; mentiras, fofocas, ódio, jogo de interesses, acomodação- sim, porque muitas vezes o convento, mosteiros, seminário ou comunidade de vida, não passa de um belo Spa ou de uma grande Multinacional- onde tais jovens tem todos os direitos e mordomias e termina perdendo a sua própria indenidade- agora ele foge da Igreja e da MISSA igual o diabo foge da cruz. Se falar em padres ou vocação, este jovem entra em parafuso. A família não sabe mais o que fazer!

Talvez alguém “inocente” fique escandalizado quando falo das mazelas conventuais e seminarísticas. Bem, na verdade tem gente que finge não ver tais realidades que são humanas. Eu disse HUMANAS! É que muitas vezes fechamos os olhos para a nossa humanidade e “sacralizamos” a vida dos quatro muros das nossas Igrejas, conventos e seminários.   

No Documento; “RECOMENDAÇÕES PASTORAIS DA ASSEMBLEIA PLENÁRIA
DA PONTIFÍCIA COMISSÃO PARA A AMÉRICA LATINA- A FORMAÇÃO SACERDOTAL NOS SEMINÁRIOS, encontramos a seguinte orientação no N° 8: Nos Seminários e nas casas de formação sacerdotal é importante fomentar as equipes de vida, como outras formas de integração comunitária, que favoreçam o amadurecimento para a solidariedade, a capacidade para dar e receber, a correção fraterna, e que seja estímulo para superar o individualismo e o isolamento”. Ou seja, para se formar bom padre, religioso ou religiosa, a dimensão da humanidade é fundamental. Eu disse HUMANIDADE, não uma espiritualidade das nuvens ou descontextualizada.

Termino o meu OLHAR VOCACIONAL com uma citação do Sumo Pontífice, o Papa Francisco, na audiência do dia 10 de junho-2021 na Sala Clementina, no Vaticano, com alguns membros da Comunidade do Pontifício Seminário Regional Marchigiano Pio XI de Ancona. Ele afirmou: "A formação pastoral deve encorajá-los a ir com entusiasmo ao encontro das pessoas. Torna-se sacerdote para servir o Povo de Deus, para cuidar das feridas de todos, especialmente dos pobres. Disponibilidade aos outros: esta é a prova certa do seu sim a Deus, e nada de clericalismo. Ser discípulos de Jesus significa libertar-se de si mesmos e conformar-se aos seus sentimentos, Àquele que veio "não para ser servido, mas para servir". Belas palavras de encorajamento e discernimento para o verdadeiro seguinte a Jesus Cristo Pobre, humilde, Divino e Humano. E tenho dito!