“Esse problema, que (em seu âmbito) afeta o mundo inteiro, não pode depender do que pensam ou é conveniente a alguns homens em Roma e suas ‘redondezas’”. A reflexão é de José María Castillo, teólogo espanhol, em artigo publicado por Religión Digital, 02-12-2017. A tradução é de André Langer.

Eis o artigo.

É evidente que o Papa Francisco está mudando, em coisas muito sérias, o exercício do papado. Todos estão vendo isso. E certamente por isso, este Papa está encontrando tanta resistência e não poucos conflitos em determinados ambientes, com personalidades importantes e em algumas esferas de grande renome e poder no clero.

Não vou entrar em mais detalhes sobre este assunto, que é bastante delicado e merece um respeito cuidadoso. De qualquer forma, e aconteça o que for nos próximos anos, tenho a impressão bem fundada de que a partir do Papa Bergoglio o papado não mais será exercido como foi até o dia em que Bento XVI renunciou ao seu cargo. Será melhor? Será pior? Será diferente. Penso que isso é certo.

Mas a forma de viver e governar do Papa não é o de toda a Igreja. Pelo contrário. Há questões urgentes e inevitáveis que não podem esperar. No momento, limito-me a indicar algumas, que, por outro lado, estão à vista de todos. É importante e urgente atualizar a liturgia, o direito canônico, a vida religiosa, a teologia, a participação dos leigos na gestão das paróquias, nas dioceses, na cúria romana e muitas outras questões que estão aí e que todos veem. Por mais que haja aqueles que estão relutantes em ver o que é impossível esconder. Não exagero. Nem invento nada.

Em todo caso, a mudança mais urgente – parece-me – refere-se à renovação do clero. Cada dia que passa, há menos sacerdotes. E os poucos que vamos ficando (eu não me secularizei) estamos ficando, logicamente, todos os dias mais velhos. Os seminários, os noviciados, estão quase vazios ou foram fechados. Já existem muitas paróquias que não têm pároco. Ou o pároco que elas têm deve atender várias outras paróquias, que podem estar distantes uma da outra.

E isso deve encontrar – e em breve – alguma solução. Essa mudança está sendo preparada? Em que vai consistir? Não seria conveniente informar a Igreja sobre o que se está fazendo para resolver esse problema? É uma questão que diz respeito a todos os crentes no Senhor Jesus. E todos deveriam ter a oportunidade de contribuir com o seu ponto de vista. Por que não se dá esse passo? O trabalho está sendo feito “por baixo dos panos”? Por que está sendo escondido de nós o que seria bom dar a conhecer e oferecer a oportunidade de saber o que pensa, quer, precisa e espera quem tem necessidade da solução?
Muitos de nós se fazem essas perguntam. Ou, talvez, outras semelhantes, mas relacionadas com o mesmo problema de fundo. Esse problema, que (em seu âmbito) afeta o mundo inteiro, não pode depender do que pensam ou é conveniente a alguns homens em Roma e suas “redondezas”. Teremos logo uma resposta? E se parece indiscreto inclusive perguntar isso e contá-lo aos outros, então será preciso pensar em soluções que me parecem muito mais sérias.

Não quero dizer que devemos começar a buscar “Novos Paradigmas”. Não sei aonde isso leva. Refiro-me ao “projeto de vida” que Jesus nos deixou, ele que “renunciou à sua posição” e fez-se “escravo de todos”, “como um de nós”, de acordo com o que nos ensina o Novo Testamento. Se não estamos dispostos a fazer isso, por que continuamos a ponderar sobre o que não sabemos onde nos leva? Sempre acreditei que Jesus é a “encarnação de Deus”, a “revelação de Deus”, a “humanização de Deus”. Mas acreditar nisso é viver de acordo com o que isso representa e exige. Este é o caminho que eu vejo mais claramente. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br