(*) Pe. Luciano Guedes

Catedrais, santuários, capelas, cerimoniais, novenas, procissões, liturgias e hinos! É possível sentir por toda parte e em cada representação de nossa fé católica a beleza, a grandeza e o mistério de Maria, a Virgem e Mãe da Igreja. Na experiência de nossa transitoriedade pelas estradas da vida, desponta um lugar no qual Nossa Senhora traduz nossa alegria, esperança ou dor.

Saúde, livramento, guia, amparo, desterro, milagre, luz, consolo, piedade… Em cada expressão de conforto, lá se revela uma oração que se eleva ao Céu, na confiança de que a Advogada, a Intercessora, a Mãe do Salvador apresente ao seu divino Filho, a gratidão e a prece de tantos filhos e filhas. Celebramos este ano dois grandes jubileus marianos: 300 de Nossa Senhora Aparecida no Brasil e 100 anos de Nossa Senhora de Fátima em Portugal. Quantas Marias irmãs, esposas, amigas nossas, trazem no nome a presença amorosa da Mãe de Deus!

O medievalista Jacques Le Goff afirmou em sua obra que por causa do culto mariano e de sua expansão, a dignidade da mulher foi preservada no processo civilizatório ocidental. Foi a visão beatífica da Virgem, a Nova Eva, explicada pelos místicos, esculpida pelos artistas e decantada na sinfonia de músicos e cantores que possibilitou ao feminino um lugar de reconhecimento e valor, tantas vezes negado pela dureza da história humana, argumenta ele.

Na percepção de Dom Luís Gonzaga Fernandes, Maria é verdadeiramente uma dimensão do catolicismo. Numa de suas falas sobre a Virgem, o grande mestre e pastor nos diz: “Essa Senhora privilegiada, totalmente subordinada e dependente do seu divino Filho, mas, inegavelmente incorporada ao seu mistério, termina dando fisionomia própria à comunidade dos discípulos, a cuja frente esteve já no Pentecostes. Desde os primórdios, ela irradiou no seio da Igreja sua graça e sua ternura. Nossa Igreja é a Igreja de Maria, Nossa Senhora” (Fala em 28.05.2000. Rietveld, João Jorge. A Palavra é filha do silêncio: antologia dos artigos de Dom Luiz Gonzaga Fernandes – 1981-2003: Maxgraf, 2011)

Não somente os literatos e religiosos narraram esta relação afetiva de Maria com o povo. A sensibilidade dos fiéis compreendeu desde séculos, partindo de suas necessidades e aspirações, esta ligação profunda de suas vidas com a Mãe de Jesus Cristo. Em cada devoção, título e cântico, em cada testemunho e graça que ouvimos, encontramos um olhar que se dirige à Virgem Maria como aquela que conhece as aspirações mais densas do coração humano, àquela para quem se confessa segredos indizíveis na serena convicção de ser Ela a boa Mãe que interpreta e responde as muitas aflições de nosso viver. Há em cada gesto de amor e devoção um suspiro do desejo humano por libertação que se projeta no infinito de Deus, ao mesmo instante em que encontra alívio para a peregrinação nesta terra, com a ternura de sua companhia.

Os campinenses também reconheceram a Virgem desde cedo ao dedicarem a sua Vila Nova aos cuidados da Imaculada Conceição. Nos próximos dias, celebraremos mais uma vez sua festa anual que prolonga no tempo nossa fé e tradição. Poderíamos dizer que como nas bodas em Caná da Galileia, narrada por João no Quarto Evangelho, Maria acompanha a celebração das núpcias entre Deus e o seu povo, nos caminhos luminosos ou tristes que marcam toda a experiência humana na terra. Quando dizemos “com minha mãe estarei, na santa glória um dia”, estamos dizendo: Nossa Senhora é a estrela da manhã, é a invicta Judite, é a esperança nossa de triunfar sobre o mal, sobre todas as limitações que nos convidam a abrir-nos para Deus, mirando o Alto onde Ela está.

(*) Pároco da Catedral Diocesana de Campina Grande

Fonte: https://paraibaonline.com.br