Pe. Josafá Carlos de Siqueira

Reitor da PUC-Rio

Ao prepararmos para a Campanha da Fraternidade de 2017, cujo tema é Biomas Brasileiros e Defesa da Vida, temos que reconhecer que a Igreja no Brasil, através da CNBB, tem se destacado nos últimos anos pela coragem em abordar as questões socioambientais na perspectiva da fé.

Três questões devem ser destacadas e reconhecidas. A primeira consiste no pioneirismo da Igreja Católica em abordar a temática socioambiental antes que a mesma fosse amplamente conhecida na sociedade brasileira. Basta lembrar a Campanha da Fraternidade de 1979, cujo tema era Preserve o que é de todos. Naquele momento, as questões do meio ambiente eram pouco conhecidas e divulgadas na imprensa, mas o profetismo da Igreja já apontava para uma problemática que mais tarde seria candente na sociedade nacional e internacional. Com o passar dos anos outras questões socioambientais foram incorporadas em diversas campanhas como: Fraternidade e a Terra (1986), Fraternidade e a Água (2004), Fraternidade e Amazônia (2007), Fraternidade e a vida no planeta (2011), Casa comum, nossa responsabilidade (2016), e neste ano de 2017, Fraternidade: Biomas Brasileiros e defesa da vida.

A segunda questão diz respeito ao profetismo da Igreja em abordar uma temática fundamental para a vida do planeta e de nosso país, pois as questões do meio ambiente não podem ser colocadas em lugar secundário no desenvolvimento do Brasil, mas, ao contrário, em lugar de destaque numa nação que graças ao Deus Criador, nos legou uma natureza rica e diversa. Meio Ambiente não é uma abordagem acadêmica e elitista, mas uma questão fundamental para o presente e o futuro de nosso país, pois somos guardiões de um dos patrimônios ecológicos mais ricos do planeta Terra, onde as riquezas dos recursos hídricos e da biodiversidade nos colocam em destaque no cenário internacional. O profetismo da Igreja nos ajuda a olhar estes dons naturais abundantes que Deus colocou em nossas mãos, evitando que estes sejam destruídos e deteriorados, gerando problemas e doenças para o nosso povo, principalmente os mais pobres. À luz da fé, este profetismo nos leva a ver, julgar e agir, tomando consciência dos problemas e ajudando-nos a buscar soluções razoáveis e sustentáveis.

A terceira questão se refere à visão integradora da abordagem socioambiental, onde os problemas ambientais estão profundamente articulados com as temáticas sociais. A tradição hermenêutica nos salmos e livros sapienciais da Bíblia oferece-nos uma visão integradora entre Deus, ser humano e a criação, visão esta que a Igreja Católica no Brasil tem procurado priorizar nas Campanhas da Fraternidade com temáticas socioambientais. Esta dimensão integradora entre o social e o ambiental, iluminada à luz da fé, foi bastante destacada na Encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco, sobretudo quando fala sobre a ecologia integral.

Preparando-nos para trabalhar e divulgar a Campanha da Fraternidade de 2017 em nossas paróquias, comunidades e instituições de ensino, não podemos esquecer o pioneirismo, o profetismo e a visão integradora da nossa Igreja Católica, que deseja contribuir para que o Brasil possa ser uma nação socialmente justa e ecologicamente consciente e sustentável, preservando a riqueza de nossos biomas e suas relações com as diferentes culturas de nosso país. Fonte: http://arqrio.org