Os sacerdotes devem ser mediadores do amor de Deus, não intermediários que pensam exclusivamente em seus próprios interesses. Esta é a advertência que o Papa Franciscofez durante a homilia da missa matutina de 09 de dezembro na capela da Casa Santa Marta, segundo indicou a Rádio Vaticano. A reportagem é de Domenico Agasso Jr e publicada por Vatican Insider, 09-12-2016. A tradução é de André Langer.
O Papa chamou a atenção para os “rígidos”, que sobrecarregam os fiéis com cargas que eles mesmos não carregam. Denunciou, além disso, a tentação do mundanismo, que transforma o sacerdote em funcionário e o torna “ridículo”. “Não é possível manter a rigidez por muito tempo, destacou o Bispo de Roma. É fundamentalmente esquizofrênica. Acabará parecendo rígido, mas por dentro será um desastre”. E também indicou que é preciso ter cuidado com o mundanismo: “Um sacerdote mundano, rígido, é um insatisfeito, porque tomou o caminho errado”. Um bom pastor sabe “brincar com as crianças”.

O Papa Bergoglio inspirou-se nas palavras com que Cristo, no Evangelho do dia, mostra a insatisfação constante do povo. As pessoas são como as crianças às quais se oferece uma coisa e elas não gostam, oferece-lhes o contrário e também não lhes agrada. Da mesma maneira, no terceiro milênio “há cristãos insatisfeitos (muitos) que não conseguem compreender o que o Senhor nos ensinou, não conseguem compreender a essência da revelação do Evangelho”.

Por isso, o Papa refletiu sobre os sacerdotes “insatisfeitos”, que “fazem tanto mal”. Passam o tempo sem estarem contentes, buscando constantemente novos projetos ou iniciativas “porque o seu coração está longe da lógica de Jesus” e por isso “se queixam ou vivem tristes”.

A lógica do Filho de Deus, ao contrário, deveria levar um sacerdote à “plena satisfação”. Trata-se da “lógica do mediador”, indicou o Papa. “Jesus – explicou – é o mediador entre Deus e nós. E nós devemos tomar este caminho de mediadores, não a outra figura que se parece muito com esta, mas que não é a mesma: intermediários”. Este último, “faz seu trabalho e recebe o seu pagamento, nunca perde”.

Pelo contrário, “o mediador perde a si mesmo para unir as partes, dá a vida, a si mesmo. Esse é o preço: a própria vida; paga com a própria vida, o próprio cansaço, o próprio trabalho, tantas coisas, mas (neste caso o pároco) para juntar o rebanho, para juntar as pessoas e levá-las para Jesus. A lógica de Jesus como mediador é a lógica de aniquilar-se a si mesmo”.

O sacerdote autêntico é “um mediador muito próximo do seu povo”, ao passo que o intermediário realiza o próprio trabalho, mas depois toma outro trabalho, “sempre como funcionário”, porque “não sabe o que significa sujar as mãos” nas chagas da realidade. Por isso, quando “o sacerdote muda de mediador a intermediário não é feliz, é triste”. E passa a vida buscando um pouco de felicidade na visibilidade, “fazendo sentir a autoridade”.
O Papa argumenta que Jesus dizia aos intermediários de sua época que “eles gostavam de passear pelas praças” para serem visto, chamar a atenção e atrair honras e elogios.
Além disso, “para tornarem-se importantes – advertiu Francisco –, os sacerdotes intermediários seguem pelo caminho da rigidez: tantas vezes, separados das pessoas, não sabem o que é a dor humana; perdem aquilo que aprenderam em suas casas, com o trabalho do pai, da mãe, do avô, da avó, dos irmãos... Eles perdem estas coisas”. São “rígidos – insistiu –, esses rígidos sobrecarregam os fiéis com muitas coisas que eles mesmos não carregam, como dizia Jesus aos intermediários de seu tempo. A rigidez. Chicote na mão com o povo de Deus: ‘Isto não se pode fazer, isto não se pode fazer...’”. E assim, “muitas pessoas que se aproximam buscando um pouco de consolação, um pouco de compreensão, acabam expulsas com esta rigidez”.

Mas, “não é possível manter a rigidez por muito tempo, destacou o Bispo de Roma. É fundamentalmente esquizofrênica. Acabará parecendo rígido, mas por dentro será um desastre”
E a mesma coisa acontece com o mundanismo: “um sacerdote mundano, rígido, é um insatisfeito, porque pegou o caminho errado”. O Papa contou: “há algum tempo, veio para me ver um monsenhor idoso da cúria, que trabalha, um homem normal, apaixonado por Jesus e me contou que tinha ido à Euroclero (loja que vende roupas e objetos litúrgicos, ndr.) para comprar algumas camisas e viu diante de um espelho um jovem... ele pensa que talvez tivesse uns 25 anos, o padre jovem ou (que estava) para tornar-se padre... diante do espelho, com uma capa grande, longa, com veludo, a corrente de prata e se olhava. E depois pegou o chapéu romano, o colocou e olhava. Um rígido mundano. E o sacerdote – é sábio o monsenhor, muito sábio – conseguiu superar a dor, com uma história de saudável humorismo e acrescentou: ‘E depois se diz que a Igreja não permite o sacerdócio às mulheres!’. De forma que o trabalho que faz o sacerdote quando se torna um funcionário cai no ridículo, sempre”.

Outra história do Pontífice: certa vez, uma pessoa lhe disse que “ela reconhecia os sacerdotes pelo comportamento com as crianças: se sabem ser carinhosos com uma criança, sorrir para uma criança, brincar com uma criança… Isto é interessante, porque significa que sabem abaixar-se, aproximar-se das pequenas coisas”.

Pelo contrário, o sacerdote intermediário “é triste, sempre com aquela cara triste ou muito séria, rosto sisudo. Tem o olhar sisudo, muito sisudo!”. Ao contrário, “o mediador é aberto: o sorriso, a acolhida, a compreensão, os carinhos”.

Francisco apresentou três figuras de “sacerdotes mediadores e não intermediários”, três ícones. Uma é o “grande” São Policarpo de Esmirna, que “não negocia a sua vocação e vai com coragem à pira, e quando o fogo o cerca, os fiéis que estavam ali sentiram cheiro de pão”; desta maneira “acaba um mediador: como um pedaço de pão para os seus fiéis”.

A segunda figura foi São Francisco Xavier, que acabou sua jovem vida na praia de Sancián, “olhando para a China”, para onde desejava, em vão, ir. E para concluir, São Paulo nas Três Fontes: “Nessa manhã, os soldados foram até ele, prenderam-no e ele caminhava sem se curvar”; estava consciente de que o estavam levando ao martírio, devido à traição de alguns membros da sua comunidade cristã, mas ele “lutou tanto, tanto, em sua vida, que se ofereceu ao Senhor como um sacrifício”.

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br