Rafael Checa Curi. (Tradução: Elcias Ferreira da Costa)

             Para precisar melhor, proponhamos algumas descrições.

            Contemplar, em seu significado etimológico, quer dizer, "examinar e considerar profunda e atentamente uma coisa."

            Martin Buber suspeitou algo disso quando diz: "Contemplação é um encontro profundo e intuitivo com a pessoa." (3) (??)

            Este elemento intuitivo, como essencial ao ato contemplativo tem sido comprovado pela experiência psicológica. (4) (??)

            Alfaro definiu a contemplação como "o contato vivente de uma comunhão pessoal eu-tu, com o Absoluto."

            Já se debuxa a necessidade do encontro pessoal com Deus na experiência contemplativa cristã. E se precisam um pouco melhor os elementos constitutivos deste encontro, na descrição bastante generalizada de Crisógono de Jesus:

"Contemplação é uma simples olhada sobre a Verdade sob o influxo do amor". Ou nessa outra: "A contemplação infusa é uma intuição afetuosa das coisas divinas que resulta de uma influência especial de Deus na alma." 

            Continua tendo atualidade pela densidade de seu conteúdo e pela sua brevidade a que nos foi dada por São João da Cruz: "A contemplação é ciência de amor, é notícia infusa amorosa de Deus, que juntamente vai ilustrando e fascinando a alma." 

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 Podemos assim destacar os fatores que a integram:

 a) Uma ação especial de Deus: sua influência divina

  1. b) A atitude do homem: passividade ativa.
  2. c) O ambiente em que se desenvolve: obscuridade e inefabilidade.
  3. d) O meio: o conhecimento a nível de sabedoria.
  4. e) O dinamismo: o amor e o afeto.
  5. f) Objetivo: a união plena com Deus, no exercício da caridade ao próximo.

            Ao mesmo tempo distinguiríamos as diferenças qualitativas entre a atitude do homem diante de Deus, a nível pré-contemplativo e contemplativo: predomínio da atração unitiva a Deus na caridade, sobre o esforço purificador do pecado e da imperfeição; predomínio psicológico da sensação de passividade sobre a de atividade operante e penosa; predomínio da consciência intuitiva sobre a consciência discursiva, na dimensão oracional, como o aponta Vagagnini.

            Devemos, ademais, dizer que o momento contemplativo, em analogia com a atividade sensível, apresenta-se como uma oração progressiva, na seguinte ordem, que não é necessariamente cronológica:

            - Se a verdade do Reino é percebida pela inteligência, se falará de visão e de intuição.

            - O sentir interior virá, quando a acolhida da Palavra se prolongar em um movimento afetivo de aceitação.

            - Virá depois o gosto espiritual, quando a verdade do Reino se apresentar como alimento, cuja assimilação renovará a energia interior.

            Por último, se consumará a união, quando a aproximação de Deus se converter em um contato doce e potente como se as duas substâncias espirituais se tocassem: "O contato com Deus satisfaz grandemente e recreia a substância da alma." (São João da Cruz).