Iniciamos hoje a caminhada do advento. Ao longo dos próximos dias, passo a passo, iremos preparar o caminho para que Jesus possa vir ao nosso encontro e nós possamos reconhecê-l’O e acolhê-l’O quando Ele chegar. A Palavra de Deus que escutaremos nestes dias vai ajudar-nos a balizar esse caminho. A liturgia deste primeiro domingo do advento diz-nos: “vigiai”, “estai atentos”, “não vos deixeis adormecer”. Seria dramático se, por comodismo, por desleixo, por indiferença, por distração, perdêssemos a oportunidade de acolher Aquele que vem libertar o mundo e imprimir um dinamismo novo à história dos homens.

 

EVANGELHO – Mateus 24, 37-44

 

INTERPELAÇÕES

Os evangelhos registaram, de diversas formas, uma das mais profundas preocupações de Jesus em relação aos seus discípulos: que eles, com o decorrer do tempo, deixassem enfraquecer o entusiasmo inicial, perdessem a capacidade de se sentirem provocados pelo Evangelho, se instalassem numa fé “morna” e numa religião rotineira, se acomodassem numa “zona de conforto” sem exigência nem risco, cedessem ao facilitismo e ao “deixa andar” da maioria. Por isso, Jesus não se cansava de recomendar-lhes: “vigiai”, “vivei despertos”, “estai sempre preparados”. Jesus tinha razão: o grande perigo que nos espreita é precisamente essa conformação e esse adormecimento que nos roubam a capacidade de sermos “sal da terra e luz do mundo”. O cansaço, a monotonia, a preguiça, o conformismo vão enfraquecendo a nossa decisão, o nosso compromisso, a nossa capacidade de dar testemunho profético e de nos empenharmos na construção do Reino de Deus. Enquanto discípulos de Jesus, enviados por Ele a anunciar e a construir o Reino de Deus, como nos sentimos: entusiasmados e comprometidos, ou acomodados e desanimados? Continuamos atraídos por Jesus e pelo seu projeto, ou vivemos distraídos por todo o tipo de questões secundárias? Ainda temos vontade de seguir atrás de Jesus e de viver ao seu estilo, ou vivemos tranquilamente e sem exigência, vogando simplesmente ao sabor da corrente?

“Vigiar” é, antes de mais, vivermos atentos a Deus. É procurarmos a cada instante escutar o seu chamamento, os apelos que Ele nos faz, os desafios que Ele constantemente nos deixa; é encontrarmos tempo e espaço para dialogarmos com Deus; é procurarmos compreender a vontade de Deus a nosso respeito e obedecermos àquilo que Ele nos pede; é não permitirmos que outros deuses tomem conta do nosso coração e da nossa vida. “Vigiar” é não perdermos de vista Jesus, esforçarmo-nos por viver ao seu estilo, segui-l’O sem hesitações no caminho do amor e do dom da vida; é insistirmos em ver a vida como Jesus a via, em olhar os nossos irmãos com o olhar de Jesus, em compreender o mundo com a compreensão de Jesus; é nunca desistirmos de sonhar com Jesus o “sonho” do Reino de Deus e empenharmo-nos a cada instante em torná-lo realidade; é deixarmo-nos interpelar constantemente pelo Evangelho, assentarmos a nossa vida de todos os dias sobre os valores que ele aponta. Deus é, a cada instante, o centro da nossa existência? Vivemos constantemente atentos ao caminho que Jesus nos aponta?

“Vigiar” é, também, “olhar com olhos de ver” o mundo que nos rodeia. Muitas vezes vivemos numa alegre inconsciência, anestesiados pelo nosso conforto e bem-estar, isolados no nosso pequeno mundo, sem repararmos nas realidades que nos cercam e sem nos preocuparmos com os problemas que afligem os nossos irmãos. Concentramo-nos apenas nos nossos interesses particulares, nas nossas preocupações pessoais, nos nossos projetos estreitos. Caminhamos indiferentes à sorte dos pobres, dos abandonados, dos “pequeninos”, daqueles cuja voz nunca se faz ouvir, daqueles que os acidentes da vida e a maldade dos homens atiraram para a berma da estrada da vida. Para não nos desgastarmos nem incomodarmos, preferimos ignorar tudo aquilo que desfeia o mundo e que traz sofrimento à vida dos homens. Jesus aprovaria uma opção deste tipo? Podemos alhear-nos das realidades do mundo e do sofrimento dos nossos irmãos como se isso não nos dissesse respeito?

Começamos hoje a nossa caminhada de advento. Não se trata de um “caminho” geográfico, mas sim de um “caminho” espiritual. Ao longo deste “caminho” preparamo-nos para acolher o Senhor que vem. Nesta primeira etapa do caminho do advento, a palavra-chave que a liturgia nos propõe é “vigiai”. Não podemos continuar distraídos, a perder tempo com coisas sem valor, a enterrarmo-nos na lama dos caminhos que não levam a nenhum lado, a deixar-nos enredar em interesses mesquinhos e fúteis. Se insistirmos em continuar a olhar para o chão, provavelmente iremos passar pelo Senhor que vem ao nosso encontro sem o reconhecer e sem o acolher. Talvez seja boa ideia fazermos uma lista das coisas que tolhem os nossos passos, que nos roubam a liberdade, que não deixam espaço no nosso coração para o Senhor que vem… Comprometemo-nos a elaborar essa lista? Iremos cortar da nossa vida tudo aquilo que nos impede de caminhar ao encontro de Jesus?

*Leia na íntegra. Clique no link ao lado- EVANGELHO DO DIA.