As leituras que a liturgia do vigésimo nono domingo comum nos propõe recordam-nos a importância de manter com Deus uma relação estreita, uma comunhão íntima, um diálogo insistente, uma escuta atenta… O diálogo contínuo com Deus trará à nossa vida uma nova luz: permitir-nos-á compreender os silêncios de Deus, respeitar os tempos de Deus, entender o projeto de Deus, confiar sempre no amor de Deus.

 

EVANGELHO – Lucas 18,1-8: INTERPELAÇÕES

 

Porque é que Deus permite que tantos milhões dos seus filhos sobrevivam em condições tão degradantes, despojados da sua dignidade e dos seus direitos básicos? Porque é que os maus, os injustos e os violentos praticam arbitrariedades sem conta contra os mais débeis e, aparentemente, nenhum mal lhes acontece? Como é que Deus aceita que quase dez por cento da população mundial passe fome? Onde está Deus quando as ditaduras ou os imperialismos maltratam povos inteiros? Porque é que Deus deixa que determinadas doenças continuem a ceifar tantas vidas? Porque é que Deus não evita que as catástrofes naturais deixem por todo o lado um rasto de sofrimento e de morte? Será Deus insensível ao sofrimento que atinge os seus filhos que peregrinam no mundo e na história? O evangelista Lucas está convicto de que Deus não fica indiferente aos dramas e sofrimentos dos homens. Mais tarde ou mais cedo, no tempo oportuno, Ele irá intervir para fazer justiça aos seus filhos. Talvez a nossa impaciência tenha dificuldade em compreender o ritmo e o tempo de Deus; mas Deus acompanha a nossa vida, escuta os nossos gritos de aflição, sabe de que necessitamos e, na altura certa, irá atuar. Seremos capazes de confiar em Deus, de acreditar no seu amor, de nos fiarmos na sua bondade, de deixarmos a nossa vida nas suas mãos? Mesmo quando Deus não vai ao ritmo da nossa impaciência, confiamos n’Ele?

Como podemos manter a confiança em Deus? Como podemos acreditar n’Ele quando a lógica dos Seus planos nos escapa completamente? Jesus, a partir da sua própria experiência de Deus, propunha aos seus discípulos uma forma de chegarmos ao coração de Deus: é necessário viver em contínuo diálogo com Deus, numa constante escuta de Deus. Quando dialogamos com Deus, aprofundamos os laços com Ele, consolidamos a comunhão com Ele, aprendemos a confiar completamente n’Ele; quando escutamos Deus, começamos a perceber o seu projeto para o mundo e para os homens e sentimos vontade de nos envolvermos na concretização desse projeto; quando falamos com Deus descobrimos que Ele se interessa pelas nossas questões e que não fica indiferente diante daquilo que nos inquieta; quando questionamos Deus encontramos respostas para a maior parte das nossas dúvidas e incertezas; quando “tocamos” o amor e a misericórdia de Deus percebemos que Ele nunca nos abandonará e que nunca ficará indiferente à nossa sorte. Estamos dispostos a acolher a indicação de Jesus e a manter um diálogo frequente com Deus? Que lugar ocupa a oração na nossa vida? Sentimos que a oração nos aproxima de Deus e nos ajuda a entender o projeto de Deus para nós e para o mundo?

Como se processa o nosso diálogo com Deus? É um monólogo em que nos limitamos a atirar a Deus, de rajada, as nossas reivindicações e as nossas listas de pedidos, porque não temos tempo ou disposição para mais, ou é um diálogo franco, sincero, sem pressas, que é simultaneamente escuta e partilha, agradecimento e prece, obediência e confiança, conversa de Pai para filho e de filho para Pai? A nossa oração é uma simples descarga de palavras e de fórmulas que temos gravadas na nossa mente e que reproduzimos de forma mecânica para acalmar a nossa consciência, ou é uma partilha com Deus daquilo que nos preocupa e inquieta, daquilo que nos assusta e desafia, e também daquilo que enche a nossa vida de felicidade e de encanto? No nosso diálogo com Deus damos-Lhe espaço para falar, para nos contar os seus projetos, para nos dizer o que espera de nós? O nosso diálogo com Deus é constante, ou depende da nossa disposição, do nosso tempo disponível, dos interesses que temos em agenda?

Muitas vezes ficamos com a impressão de que Deus não dá importância aos nossos pedidos. Porque será? Será porque Deus não quer saber, ou será porque os nossos pedidos não fazem sentido à luz da Sua lógica? Às vezes pedimos a Deus coisas que nos compete a nós conseguir; deverá Ele favorecer a nossa preguiça? Às vezes pedimos a Deus coisas que nos parecem boas mas que, em última análise, têm efeitos negativos na construção da nossa vida; fará sentido Deus conceder-no-las? Às vezes pedimos a Deus coisas que são boas para nós, mas que implicam sofrimento e injustiça para os nossos irmãos; poderá Deus beneficiar-nos em prejuízo de outras pessoas?

*Leia a reflexão na íntegra. Clique no link ao lado- EVANGELHO DO DIA.