Dom Fernando Arêas Rifan

Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney 

 

Isso existiu, acreditem, por mais raro que seja! Foi São Tomás More, proclamado pelo Papa São João Paulo II padroeiro dos governantes e dos políticos.  

Nascido em Londres em 1478, estudou em Oxford e aos vinte e dois anos já era doutor em direito e brilhante professor, tornando-se logo um renomado intelectual, literato e político. Casou-se, teve quatro filhos, foi um excelente esposo e pai, vivendo sempre como virtuoso cristão. Dedicava-se à oração e à penitência e participava das Missas na Igreja paroquial. Foi eleito duas vezes para o Parlamento, Representante da Coroa, Juiz, Cavaleiro, Presidente da Câmara dos Comuns e Chanceler do Reino da Inglaterra. Estimado por todos pela sua integridade moral, caráter aberto e divertido, argúcia de pensamento e erudição extraordinária, sempre amigo dos pobres e necessitados, nunca aceitou propinas ou subornos no exercício de sua profissão. Em 1532, não querendo dar o seu apoio ao plano de Henrique VIII que desejava dissolver o próprio casamento para se casar com outra mulher e assumir o controle da Igreja na Inglaterra, opôs-se duramente a isso e pediu demissão do seu cargo. Retirou-se da vida pública, resignando-se a sofrer a pobreza e o abandono de muitos que, na prova, se revelaram falsos amigos. 

Recusou-se a comparecer aos cerimoniais de coroação da nova rainha, amante do rei. Constatando a firmeza irremovível com que ele recusava qualquer compromisso contra a própria consciência, o rei mandou prendê-lo, em 1534, na Torre de Londres, onde foi sujeito a várias formas de pressão psicológica. Mas Tomás More não se deixou vencer, resistindo aderir ao cisma do rei e defendendo a indissolubilidade do matrimônio. À pressão da sua família para que cedesse, ele respondeu: “Se tivesse duas almas, poderia arriscar uma delas, mas como só tenho uma, preciso salvá-la”. Na prisão escreveu o Diálogo do Conforto nas Tribulações.  

Foi condenado por alta traição a ser decapitado. Mesmo condenado, não perdeu o seu peculiar bom humor cristão, sua naturalidade e simplicidade. No dia da execução, pediu ajuda para subir ao cadafalso. E disse ao povo: “Morro leal a Deus e ao Rei, mas a Deus antes de tudo”. E abraçando o carrasco, disse: “Coragem, amigo, não tenhas medo! Mas como tenho o pescoço muito curto, atenção! Está nisso a tua honra!” E pediu para que não lhe estragasse a barba, porque ela, ao menos, não cometera nenhuma traição. Morreu no dia 6 de Julho de 1535. Foi beatificado em 1886 por Leão XIII e canonizado em 1935 por Pio XI. 

Nesse clima de corrupção e venalidade que invadiu o mundo político, possa o exemplo de S. Tomás More ensinar aos nossos governantes e políticos, atuais e futuros, que o homem não pode se separar de Deus, nem a política da moral, e que a consciência não se vende por nenhum preço, mesmo que isto nos custe caro e até a própria vida. O legítimo laicismo, que é a independência dos poderes da Igreja e do Estado, não isenta a “César” do dever de dar a Deus o que é de Deus.  Recomendo a todos o excelente filme, vencedor de seis Oscar, cujo título resume bem a vida de São Tomás More: “O homem que não vendeu a sua alma”.  Fonte: https://www.cnbb.org.br