Dom Rodolfo Luís Weber

Arcebispo de Passo Fundo (RS)

 

A solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo coroa o ano litúrgico da Igreja Católica. As leituras bíblicas oferecem três grandes cenários que conduzem os fiéis para a compreensão de Cristo Rei. No centro está a crucificação narrada por São Lucas 23, 35-43; num lado está a unção real de Davi por parte dos anciãos de Israel 2 Samuel 5,1-3; no outro lado está o hino cristológico com qual São Paulo introduz a Carta aos Colossenses 1,12-20. O conjunto é dominado pela figura de Cristo, o único Senhor, diante do qual todos somos irmãos. 

A compreensão de rei é bem ampla. A morte da rainha Elisabeth II do Reino Unido, ocorrido em 08 de setembro de 2022, ocupou amplo espaço nas conversas familiares e nas amplas reportagens. Foi possível conhecer melhor a família real e a sua função na sociedade. Para falar de Cristo Rei requer-se um esforço investigativo para compreender a realeza de Cristo que se difere do senso comum. Os textos bíblicos oferecem os elementos fundamentais. 

O acontecimento central é a cruz. Nela Cristo manifesta a sua realeza. É o último ato do seu reino terrestre e como que o primeiro gesto de seu Reino glorioso ao oferecer o perdão e o paraíso ao malfeitor crucificado ao seu lado. Diante da cruz confrontam-se duas atitudes opostas. Alguns personagens aos pés da cruz e um dos malfeitores crucificados, dirigem-se com desprezo a Jesus. “A outros salvou. Salve-se a si mesmo, se de fato, é o Cristo de Deus, o Escolhido!” Ao contrário, Jesus revela a própria glória permanecendo ali, na cruz como cordeiro imolado. O outro malfeitor, confessa-se pecador e pede; “Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado”. O cenário da crucificação constitui o momento da verdade. Em Jesus crucificado acontece a revelação de Deus Amor. A morte de Jesus na cruz é ato de amor por toda a humanidade. 

A segunda cena é o encontro das tribos de Israel em Hebron para encontrar-se com Davi. As tribos reconhecem que Davi já os dirigia e agora querem que ele os conduza como rei. Davi faz a “aliança com o povo, na presença do Senhor, e eles o ungiram rei de Israel”. Uma aliança humana, portanto, frágil, mas que é imagem do reinado de Cristo. 

O terceiro texto bíblico é um hino cristológico. São Paulo começa manifestando alegria e gratidão pelo fato de tornar os homens capazes de participar da luz, participarem do Reino de Deus. A seguir São Paulo descreve a realeza de Cristo. “Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, pois por causa dele foram criadas todas as coisas no céu e na terra, as visíveis e as invisíveis, tronos e dominações, soberanias e poderes. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele existe antes de todas coisas e todas têm nele a sua consistência. Ele é a Cabeça do corpo, isto é, da Igreja. Ele é o Princípio, o Primogênito dentre os mortos; de sorte que em tudo ele tem a primazia, porque Deus quis habitar nele com toda sua plenitude e por ele reconciliar consigo todos os seres, os que estão na terra e no céu, realizando a paz pelo sangue da sua cruz”.   

Este texto oferece uma síntese de verdade e de fé do mistério de Cristo. Ele se encarnou, assumindo a vida humana, foi morto, ressuscitou e foi constituído Rei do Universo. O hino ressalta a grande notícia de pacificar a terra: “realizando a paz pelo sangue da sua cruz”. Cristo Rei deseja construir com a humanidade “um reino da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino da justiça, do amor e da paz” (Prefácio da missa de Cristo Rei). Fonte: https://www.cnbb.org.br