Dom Aloísio A. Dilli

Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)

 

Caros diocesanos. A Igreja celebra Corpus Christi – Corpo de Cristo, solenidade que tem estreita ligação com a Quinta-feira santa, dia em que Jesus instituiu a eucaristia, o sacerdócio e ensinou o mandamento do amor, junto ao rito do lava-pés. No contexto das muitas e ricas celebrações da semana santa fica difícil valorizar toda riqueza que o mistério da eucaristia merece. Dentro deste contexto, a história da liturgia, a partir do séc. XIII, fez surgir o que nós celebramos em Corpus Christi, tendo como objetivo litúrgico agradecer pela eucaristia e realizar uma manifestação pública de fé na presença real e permanente de Jesus Cristo no Pão vivo descido do céu. Em Corpus Christi, esta atitude de gratidão se expressa, sobretudo, pela celebração da própria missa e, em seguida, pela procissão solene nas ruas com a Hóstia consagrada. Os enfeites nos caminhos públicos e corredores das igrejas, fazem parte desta gratidão e deste louvor.  

Mesmo com toda riqueza celebrativa e do significado da própria palavra Eucaristia, como ação de graças, devemos abordar outras dimensões que ela contém, sobretudo como ceia de comunhãosacrifício pascal e missão, pois a espiritualidade eucarística revela diversos aspectos em sua unidade indivisível: ela nasce numa Ceia que torna presente (memória) o Sacrifício da Cruz e a Ressurreição de Cristo (Páscoa), realizando a maior Ação de Graças possível para a salvação da humanidade, em todos os tempos, tornando-se fonte e ponto alto de toda evangelização. Portanto, viver uma espiritualidade de Jesus eucarístico, longe de qualquer devocionismo ou intimismo, significa comungar sua vida, entregue em sacrifício de amor, tornando-nos, com Ele e os irmãos, oblação e ação de graças ao Pai em nossa missão evangelizadora. Eucaristia e caridade (serviço), portanto, andam de braços dados e esta relação nos faz entender porque o evangelista João inclui o lava-pés (Jo 13) onde os demais evangelistas narram a instituição da Eucaristia. São Paulo não pensa diferente (1Cor 11, 17-22.27-34). A autenticidade de nossas celebrações eucarísticas será avaliada com este critério, afirma João Paulo II (MND 28). Por isso, faz-se coleta de caridade para os necessitados, nesse dia, pois comungar Jesus Cristo é também entrar em comunhão com os irmãos/ãs.  

Na solenidade de Corpus Christi desejamos louvar e agradecer a Jesus eucarístico pela sua presença entre nós neste sacramento e lhe oferecemos o que de melhor possuímos, através de precioso ostensório, dignos sacrários em nossos templos e ruas enfeitadas com belos símbolos religiosos. Contudo, não podemos esquecer o mais importante: acolhê-lo como divino hóspede em nossos corações, em nossa vida, e sermos sacrários vivos, portadores do Senhor na vida pessoal e familiar, em nossos ambientes de trabalho e de convivência na sociedade. Não basta viver o cristianismo apenas em nossos templos. 

Como então celebrar Corpus Christi no contexto de tantos irmãos/ãs que passam por necessidades, inclusive com fome? Vamos participar das celebrações, honrando o Senhor presente na eucaristia e, sobretudo, recebendo-o na comunhão e, após a missa em nossos templos, manifestemos publicamente nossa gratidão a Jesus Cristo por esta presença no Santíssimo Sacramento através da procissão em ruas de nossa cidade ou interior, recebendo sua bênção. Sugerimos também a colocação de sinais eucarísticos nesse dia, em nossas casas. Mas não deixemos de acolher o mesmo Senhor da eucaristia que se apresenta em nosso irmão/ã em necessidade (cf. Mt 25, 34ss). Participar da coleta de alimentos já é uma forma de ajuda: os tapetes da caridade são os mais lindos! Em nossa diocese faz-se neste evento também o lançamento da Romaria da Santa Cruz que, em 2022, será muito especial: vamos inaugurar o novo Altar-Monumento! Fonte: https://www.cnbb.org.br