O padre Lino Allegri recebeu ataques de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro após citar as 500 mil mortes por Covid-19 durante uma missa. Por causa disso, pediu auxílio ao Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos.

 

Por G1 CE

O padre Lino Allegri comentou sobre os ataques verbais que sofreu na Paróquia Nossa Senhora da Paz, em Fortaleza, por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O primeiro desacato aconteceu no último dia 4 de julho, depois do pároco citar as 500 mil mortes por Covid-19 registradas no Brasil e pontuar o que ele considerou “descaso com a vacina e a pandemia”.

As ofensas disparadas contra os clérigos da igreja no Bairro Aldeota já aconteceram, por pelo menos, três fins de semana. Porém, além dos episódios presenciais, insultos via internet também estão acontecendo.

“Depois, nas redes sociais, em depoimentos desse encontro, a violência verbal era muito pesada. Isso não em relação a mim, mas ao pároco. Chamado com palavras de baixo calão, ofensivas, desrespeitosas. Isto cria uma situação muito constrangedora”, lamenta Lino Allegri.

O padre Lino Allegri relembra como os ataques começaram, após as críticas ao presidente. “Quando no final da missa entraram na sacristia, ou melhor, invadiram a sacristia, umas oito pessoas se queixando pela homilia que eu tinha feito. Porque, ao dizer deles, eu tinha desrespeitado o presidente, porque na pregação eu assinei o fato dos 500 mil mortos e o descaso do presidente em relação tanto à vacina, quanto à pandemia”, relembra o padre sobre a situação ocorrida no dia 4.

“Essas pessoas revoltadas chegaram na sacristia, dizendo que eu estava errado, e começaram então as agressões mais verbais, que eu deveria voltar para a Itália”, complementa padre Lino, originário do país europeu. Neste momento, outros membros da igreja conseguiram conciliar a discussão, que foi encerrada, mas a partir disso, houve outros ataques, especialmente, verbais.

 

Outras tentativas de intimidação

No fim de semana seguinte, o padre Lino não estava escalado para celebrar missas no local. Porém, durante a leitura de uma nota da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o nome dele e de um movimento social foram citados, o que revoltou um dos fiéis que estava presente

No dia 11 julho, um homem não identificado entrou na Paróquia Nossa Senhora da Paz e afirmou que o padre havia transformado a igreja em um "reduto da esquerda".

 

Terceiro fim de semana seguido

As tentativas de intimidação seguiram ainda no fim de semana seguinte. “No dia 18 a celebração estava mais carregada de tensão. Eu não estava, mas foram pessoas organizadas com a camisa com nome do presidente, com número 17 e uma presença ostensiva e intimidatória”, relembra padre Lino.

“Eu não temo pela minha integridade física. Eu pretendo ainda celebrar. Eu não celebrei no domingo, dia 18, que era o dia que eu deveria ter celebrado, por conselhos superiores — digamos assim — não celebrei, mas pretendo ainda. Não sei até quando, depende de muita coisa”, destaca o padre, que não celebra apenas na Paróquia da Paz, mas também em outras paróquias.

 

Apoio de outros fiéis

Apesar dos ataques, padre Lino agradece as mensagens de apoio que tem recebido de outros fiéis. “Tem muita gente da Paróquia da Paz, de classe média alta, como é comum lá, me apoiando. Isto, em certo sentido, até me comove e me dá força para pensar 'foi um fato lamentável mas, com isto, não vou mudar a minha vida'. Eu tive muito mais apoio do que contestação”, reforça o padre.

“O importante para superar essas situações que aparecem seria sentar e dialogar. Quem não sabe dialogar é quem grita. Se Deus nos deu a razão, é para que nós saibamos usá-la, sermos racionais e não violentos”, finaliza padre Lino.

 

Confira abaixo a nota da CNBB lida na Paróquia da Paz no dia 11 de julho:

 

Nota da CNBB diante do atual momento brasileiro

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB levanta sua voz neste momento, mais uma vez, para defender vidas ameaçadas, direitos desrespeitados e para apoiar a restauração da justiça, fazendo valer a verdade. A sociedade democrática brasileira está atravessando um dos períodos mais desafiadores da sua história. A gravidade deste momento exige de todos coragem, sensatez e pronta correção de rumos.

A trágica perda de mais de meio milhão de vidas está agravada pelas denúncias de prevaricação e corrupção no enfrentamento da pandemia da COVID-19. “Ao abdicarem da ética e da busca do bem comum, muitos agentes públicos e privados tornaram-se protagonistas de um cenário desolador, no qual a corrupção ganha destaque.” Apoiamos e conclamamos às instituições da República para que, sob o olhar da sociedade civil, sem se esquivar, efetivem procedimentos em favor da apuração, irrestrita e imparcial, de todas as denúncias, com consequências para quem quer que seja, em vista de imediata correção política e social dos descompassos.

Brasília, 9 de julho de 2021

Brasília, 9 de julho de 2021

 

  1. Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo de Belo Horizonte, MG, Presidente
    D. Jaime Spengler Arcebispo de Porto Alegre, RS, 1º Vice-Presidente
    D. Mário Antônio da Silva, Bispo de Roraima, RR, 2º Vice-Presidente
    D. Joel Portella Amado, Bispo auxiliar do Rio de Janeiro, RJ, Secretário-Geral

Fonte: https://g1.globo.com